Martyn Lloyd-Jones - O Sob Re Natural Na Medicina.
Martyn Lloyd-Jones - O Sob Re Natural Na Medicina.
Martyn Lloyd-Jones - O Sob Re Natural Na Medicina.
D. M. Lloyd-Jones
Editora PES
www.semeadores.net
D. M. Lloyd-Jones *
*
D. M. Lloyd-Jones, M.D., M.R.C.P., anteriormente pastor da Capela de Westminster. Antes
de entrar no ministério, Dr. Lloyd-Jones havia sido primeiro cirurgião assistente do Sir
Thomas Horder (posteriormente Lorde Horder) na sua equipe médica no Hospital São
Bartolomeu, como também no seu consultório particular.
Um Interesse Especial no Assunto
Eu mesmo tenho lutado com este problema por
muitos anos. Acho que de todas as perguntas que me
foram feitas durante os anos, nenhuma tem sido feita
mais freqüentemente do que esta. Fui subitamente
confrontado pela questão em 1928. Estivera no
ministério cristão durante uns doze meses — isto é,
havia sido pastor de uma igreja — e eu tinha ido pregar
numa pequena cidade no Vale de Glamorgan.
Terminado o último culto, aproximaram-se de mim dois
pastores locais que me perguntaram se eu estaria
disposto a voltar outra vez, com o propósito de liderar
uma conferência sobre a questão da "cura pela fé".
Fiquei um tanto surpreso com o pedido, já que vinha de
pessoas de uma comunidade agrícola, onde não se
costuma encontrar esse tipo de questão, portanto
perguntei-lhes por que tinham interesse nesse assunto.
Responderam, dizendo que um pastor pentecostal
havia estado lá pouco antes da minha visita, liderando
um trabalho missionário por dez dias. Tinham decidido
apoiá-lo e haviam de fato feito isso. Como resultado
desse trabalho missionário por dez dias, sessenta e seis
pessoas foram convertidas. Os pastores continuaram,
dizendo que estava claro para eles que as conversões
não foram devido à pregação. "Então foram devido a
quê?" perguntei. "Bem", disseram, "as conversões
foram devido às curas". Várias pessoas haviam sido
curadas durante as reuniões, e os pastores atribuíam os
sessenta e seis convertidos a isso. Eles mesmos não
acreditavam na "cura pela fé", mas ficaram
impressionados com os resultados da campanha e
ficaram pensando se, talvez, não houvesse algo de
errado com suas próprias perspectivas teológicas sobre
o assunto. Queriam, portanto, essa conferência; e, um
pouco relutante, concordei em estar presente.
Por alguma estranha razão, esqueci
completamente a minha promessa e, já que não recebi
nenhuma comunicação deles, a tal conferência saiu dos
meus pensamentos. Nove meses mais tarde, porém,
recebi outro convite para pregar naquela área e o
aceitei. Enquanto viajava de trem àquele lugar, eu me
lembrei de tudo e fiquei um tanto receoso de como
seria recebido, especialmente por esses pastores! No
entanto, olhando a congregação e notando que os dois
irmãos estavam aí, vi aliviado que eles pareciam como
de sempre. Ao terminar o culto, vieram à frente para
falar comigo. Antes que pudessem dizer qualquer coisa,
comecei com "Bem, estou convencido de que vocês são
dois bons crentes". Responderam: "Por que diz isso?"
Expliquei: "Porque obviamente vocês têm a graça para
perdoar". "O que quer dizer?" — perguntaram. Lembrei-
lhes que haviam me pedido para liderar uma
conferência sobre a "cura pela fé" e que eu não havia
feito isso. Sorriram, dizendo: "Não temos mais interesse
nesse assunto". "E por que não?" indaguei. "Bem", me
disseram, "nenhuma das pessoas alegadamente
curadas continuou curada, e nenhuma das sessenta e
seis pessoas alegadamente convertidas permaneceu na
fé; então não temos mais interesse na cura pela fé".
Devo confessar que pensei então que isso encerrava a
questão.
Interesse Contemporâneo
Entretanto, de fato não encerrou o assunto para
mim; e desde então sempre estive enfrentando esse
problema específico. Além disso, sinto que nestes
últimos anos a questão tem se tornado muita mais
aguda. Há certos fatores novos que têm me obrigado a
pelo menos reconsiderar toda essa questão; portanto
estou expondo os meus pensamentos, merecedores ou
não, para vocês. Hoje em dia, há um novo interesse em
fenômenos. Existe, também, o assim chamado
"Movimento Carismático", no qual fala-se muito sobre a
cura miraculosa além de certas outras manifestações.
Demais disso, há uma recrudescência do que
devemos chamar de possessão demoníaca. Estive
recentemente numa reunião de pastores onde fiquei
surpreendido com o número de homens que se
levantaram para contar sobre casos de possessão,
casos que senti obrigado a aceitar como genuínos.
Também tenho encontrado esse problema noutras
formas. Para muitos pastores surge a séria questão de
como distinguir entre a doença mental e a possessão
demoníaca, e como se deve lidar com tais casos. Um
livrete, publicado pela Fraternidade Missionária Oriental
sob o título Roaring Lion,1 trata especificamente dessa
questão de possessão demoníaca. Considero-o um
excelente livrete. Também me foi dito que o famoso
livro de Nevins sobre Demon Possession 2 está prestes a
ser republicado após estar esgotado durante muitos
anos. Tudo isso indica um novo interesse no assunto.
Também há o livro pelo teólogo alemão, Dr. Kurt
Koch, sobre o Revival in Indonesia,3 no qual são
registrados vários casos de cura miraculosa. Dr. Kurt
Koch é uma pessoa equilibrada, um bom teólogo com
uma boa mente científica, e ele é cauteloso nas suas
afirmações. De fato, às vezes, tem-se o pressentimento
de que ele é cauteloso demais. Seu livro Christian
Counselling and the Occult,4 por exemplo, demonstra
uma grande cautela ao aceitar afirmações como fatos
verídicos. Ele escruta, testa e examina cada relatório.
Ele faz esse relatório sobre o que ele tem visto em duas
1
Roaring Lion (Leão que ruge), Robert Peterson, O.M.F., 1968.
2
Demon Possession (Possessão demoníaca), John L. Nevins, 1897.
3
Revival in Indonesia (Reavivamento na Indonésia), Kurt Koch, Kregel
Publications.
4
Christian Counselling and the Occult (Aconselhamento cristão e o oculto), Kurt Koch,
Kregel Publications, Grand Rapids, U.S.A., 1965.
visitas à Indonésia, onde, durante os últimos cinco ou
seis anos, o país tem conhecido um notável avivamento
espiritual.
1
Catholic Pentecostalism (Catolicismo Pentecostal), Kevin e Dorothy
Ranaghan, Paulist Press: Deus Books, Paramus, New Jersey.
O outro grupo consiste daqueles que tendem a
rejeitar tudo isso "in toto" (totalmente). Consideram
que este assunto não merece muita discussão, que
vimos ouvindo sobre isto durante muitos anos, e que o
quanto menos tenhamos a ver com isto, melhor.
Os Fatos Aparentes
São essas algumas das maneiras em que as
pessoas têm rejeitado a própria possibilidade de curas
miraculosas hoje em dia. Essas atitudes são o que é
necessário reconsiderar-se, a meu ver. Ao revê-las,
parece claro que, primeiramente, devemos enfrentar os
fatos. Certamente não é científico rejeitar os fatos; e
nem faz parte do nosso propósito, como cristãos, fazer
isso. Obviamente tem havido uma tendência para fazer
isso. Olhem o exemplo de Kathryn Kuhlman. Creio que,
por mais de vinte anos, ela tem sido a pastora de uma
igreja batista em Pittsburgh. Ela é bem conhecida tanto
de pastores naquela cidade quanto de profissionais
médicos, alguns dos quais são presbíteros em igrejas
famosas. Esses não são entusiastas loucos, mas
1
The Bible as History (A Bíblia como história), Werner Keller, Hodde and
Stoughton, 1956
homens sensatos e equilibrados. Não pertencem a
alguma seita estranha ou maluca; ao contrário, são
presbíteros de bom senso. No entanto, eles admitem
francamente que podem confirmar as afirmações de
pessoas com doenças orgânicas, de seu conhecimento,
que têm sido curadas e que é esse conhecimento que
os tem convencido a apoiar o trabalho da Dra. Kathryn
Kuhlman. No seu segundo livro God can do it again,1
publicado em 1969, há casos de curas que são
certificados por médicos, cujos nomes, qualificações
médicas e cargos hospitalares são devidamente
anotados. De fato, em um ou dois dos casos, os
próprios médicos foram os curados.
Com respeito a essas testemunhas, francamente
estou nesta posição: não posso dizer que são
mentirosas e nem acredito que estão enganadas. Tudo
que se conhece sobre essas pessoas ou que se
descobre sobre elas sugere que são testemunhas de
confiança, e que não têm razão para relatar esses fatos,
ou apóia-los, a não ser porque acreditam mesmo que
são fatos e sentem-se obrigados a contá-los.
Também temos o caso de Harry Edwards,o
espiritualista neste país. Não concordo com algumas
das opiniões teológicas de Dr. Leslie Weatherhead,
porém estou disposto a aceitar algumas de suas
afirmações como fatos. Ele tem dito claramente que,
tendo observado Harry Edwards pessoalmente durante
vários dias, está convencido de que novamente há
doenças orgânicas que foram curadas.
No entanto, para mim, o que tem me
impressionado mais no decorrer dos anos foi um
livrinho que li há muitos anos escrito por Alexis Carrel,
um homem cujo nome é familiar em relação à solução
1
God can do it again (Deus pode fazê-lo novamente), Kathryn Kuhlman,
Marshall, Morgan & Scott, 1969.
Carrel-Dakin que foi usada no tratamento cirúrgico de
cortes e feridas logo após a Primeira Guerra Mundial.
Ele escreveu também um famoso livro intitulado
The Phenomenon of Man 1 Bem, Alexis Carrel escreveu
um livrete 2 sobre o assunto da cura miraculosa no qual
ele conta algo que aconteceu na sua própria
experiência. Ele era católico romano, mas não era
praticante. Entretanto, ficara interessado em Lourdes e
as alegações a respeito dela, e decidira visitar e
investigar por si mesmo.
Nesse livrete, Carrel conta como viajou de trem a
Lourdes e como, a bordo, examinou uma pessoa doente
com tuberculose miliar. Começara como tuberculose
intestinal, porém havia chegado então a essa fase
terminal. Descreveu o abdômen distendido e assim por
diante. Examinou o paciente a bordo do trem e sentiu
que esse estava "in extremis". Duvidava até de que o
paciente chegasse a Lourdes vivo. No entanto, no
próximo dia, Carrel viu com seus próprios olhos essa
pessoa sendo curada. Viu aquele abdômen inflamado
aos poucos diminuir e desinchar; e pôde examinar o
paciente posteriormente e não pôde encontrar prova de
qualquer doença. Foi então ao Departamento Médico
que existe em Lourdes, provido de raios X e tudo o mais
que se pudesse desejar, e portanto sem chegar a
conclusão alguma com respeito a uma explicação, ele
simplesmente declarou os fatos. Há também o exemplo
de Dorothy Kerin que foi súbita e dramaticamente
curada durante as últimas fases de tuberculose em 4 de
fevereiro de 1912. A história, bem autenticada,
encontra-se relatada nos seus dois livros, The Living
Touch e Fulfilling.3 Digo então que, se simplesmente
1
Man the Unknown (O Homem, esse Desconhecido), Alexis Carrel, Hamish
Hamilton, 1950
2
Journey to Lourdes (Viagem a Lourdes), Alexis Carrel, Harpers NY, 1939
3
The Living Touch (O toque vivo) e Fulfilling (Realizando-se), D. Kerin,
Justin Powys
dizemos que não acreditamos nisso, adotamos uma
atitude não-científica. Temos que enfrentar os fatos; se
esses concordam ou não com as nossas teorias é outro
assunto. É errado rejeitar os fatos, por qualquer que
seja a razão.
1
Miracles: Yesterday and Today (Milagres: ontem e hoje), B.B. Warfield,
Eerdman, Michigan, 1953. Publicado primeiro como Counterteit Miracles
(Milagres forjados), Scribner, 1918
milagres foram realizados em certas circunstâncias
estranhas e extremas. Há o famoso partidário
Alexander Peden. Parece-me incontestável que aquele
homem tinha o poder de presciência e profetizou coisas
que chegaram a acontecer posteriormente. Os registros
são autênticos e poderão ser lidos nos dois grandes
volumes de "Biografias Seletas", editadas para a
Sociedade Wodrow que lidam com esse tipo de história.
Portanto, jamais estive satisfeito com essa simples
exclusão, supostamente bíblica, de toda a possibilidade
de milagres, e o ensino de que tudo isso terminou com
os apóstolos, com a confiante conclusão de que tudo
aquilo que alega ser miraculoso agora deve
necessariamente ser espúrio — ou um enorme exagero
ou uma mentira.
Esse ponto de vista também parece-me
extremamente perigoso porque significa que está
sendo apresentado um tipo de novo
dispensacionalismo. Quais partes das Escrituras
aplicam-se a nós? Será que o livro de Atos tem
qualquer mensagem para nós além de seu relato
histórico? Adotando-se essa atitude, fica claro que a
maior parte de 1 Coríntios não teria nada para nos
comunicar. Noutras palavras, creio que aqueles que
adotam esse ponto de vista têm sido culpados,
inconscientemente, de introduzir uma nova espécie de
deismo. A nossa tendência tem sido a de excluir Deus
das atividades de hoje em dia. Temos afirmado que isso
não pode acontecer porque todo fenômeno acabou na
era dos apóstolos. Com certeza, essa é uma atitude que
não temos o direito de adotar. Não tem fundamento
bíblico nem histórico; estamos simplesmente fazendo
uma declaração dogmática. Parece resolver nossos
problemas. Podemos descartar os relatórios que
ouvimos e as alegações que são feitas; e faz com que
sintamo-nos felizes. Mas será que é certo? Será que é
verdade? Sugiro que chegou a hora de reexaminar tudo
isso, caso que nos encontremos defendendo essa forma
de deismo, e especialmente à luz de certas declarações
que encontramos nas Escrituras.
1
Pastor Hsi Sra. Howard Taylor, O.M.F., 1900 (última edição 1969).
feitas. Ainda estou lidando com aqueles que rejeitam
todas as alegações. Não estou considerando, no
momento, o caso daqueles que têm chegado a
acreditar, e estão tão impressionados pelos fenômenos
que capitulam e tendem a abandonar toda
consideração teológica.
O Inesperado na Medicina
Deixem-me contar-lhes mais uma história que
incidentalmente me lembra de um dos maiores erros da
minha vida no sentido médico! Estava pregando numa
pequena capela no Vale de Glamorgan pela primeira
vez em 1928, numa terça-feira à noite e numa quarta-
feira à tarde e à noite. Antes de partir para casa, eu
estava jantando com a idosa senhora com quem
estivera hospedado — ela era realmente uma anciã
merecedora desse título, verdadeira tirana na sua
comunidade local. De repente, inclinou-se sobre a mesa
durante a refeição e perguntou: "Será que o senhor
faria um favor para uma velha?" Eu disse: "Sim, se
puder, ficarei feliz em fazê-lo." "Então", disse ela, "viria
pregar novamente no ano que vem nestas reuniões?"
"Está bem", respondi, "virei". Continuamos comendo.
Logo, inclinou-se novamente e perguntou: "Olhe, será
que o senhor faria outro favor para uma velha?"
Respondi: "Bem, depende qual o favor". "Oh, está tudo
bem", ela disse, "o senhor é capaz de fazê-lo".
Perguntei: "O que é?" "O senhor promete vir e pregar
nestas reuniões todo ano que ambos estivermos vivos?"
Ela já havia me dito que tinha setenta e nove anos, sua
pele era mais como papel pergaminho do que pele, e
eu na minha esperteza cheguei à conclusão de que não
havia nenhum risco em concordar com seu pedido,
portanto fiz o contrato.
Isso aconteceu em 1928. Acredite ou não, tive que
ir para pregar naquele lugar todo ano até 1939; e se
não fosse pela Segunda Guerra Mundial e a retirada
daquela senhora para outro lugar no País de Gales, por
causa de um aeroporto vizinho, teria sido obrigado a ir
até 1942, quando ela morreu! Mas eis a razão da
história: acho que, por volta de 1936, essa pobre
senhora sofreu um terrível ataque de bronquite e
pneumonia bronquial. Não existiam antibióticos
naqueles dias e estava ainda no início do uso das
drogas sulfanilamidas. Ela estava desesperadamente
doente. Dia e noite enfermeiras eram responsáveis por
ela. Mandaram chamar todos os parentes, e estavam
todos convencidos, incluindo os médicos, de que ela
estava morrendo. Uma madrugada, por volta das 3
horas, de repente ela levantou-se na cama e disse: "Dê-
me aquele calendário, aquele almanaque na parede".
Todos pensaram, é claro, que isso fosse parte de seu
delírio. Contudo, ela insistiu em ter o calendário e
deram-no a ela. Ficou olhando e virando as páginas
para lá e para cá durante uns momentos. Isso era típico
do delírio, é claro. De repente, ela disse às enfermeiras
e aos parentes: "Ele estará aqui daqui a seis semanas".
Tinha calculado a data da minha visita anual. A partir
daquele momento, começou a melhorar!
Noutras palavras, estou tentando mostrar que há
tantos fatores que tendemos a ignorar, que podem
influenciar esse delicado mecanismo da saúde e da
doença. E nessa categoria eu colocaria "fé". Quero dizer
fé de qualquer tipo. Se essa visão é correta, qualquer
tipo de fé pode ter efeito. Não devemos limitar esses
fatores. Não mencionei as pessoas que parecem ter um
"dom de cura" natural. É algo que não compreendo;
porém está claro para mim que tantos são os fatores
que podem causar doenças quanto os que podem
produzir curas. Não somente fé cristã, mas qualquer
tipo de fé, fé em personalidades "carismáticas", fatores
psicológicos, forte emoção, choque, a atividade de
espíritos maus — qualquer um desses fatores pode
surtir efeito.
A Oração da Fé
Devo dizer só mais uma coisa sobre o significado
de "fé" no termo "cura pela fé". Lembram que na
Epístola de Tiago se diz que "a oração da fé salvará o
doente" (Tiago 5:15). Também há a declaração no
Evangelho de Marcos "E Jesus, respondendo, disse-lhes:
tende fé em Deus; porque em verdade vos digo que
qualquer que disser a este monte: ergue-te e lança-te
no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se
fará tudo aquilo que diz, tudo o que disser lhe será
feito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes, orando,
crede que o recebereis, e tê-lo-eis" (Marcos 11:22-24).
Todos conhecemos pessoas que têm tentado chegar-se
a essa "fé". Isso, acredito, é errado. Creio que a "fé" a
que se referem nosso Senhor e Tiago como "a oração
da fé", é novamente uma fé "dada". Coloco-a na
mesma categoria que a "comissão" que foi dada aos
apóstolos e a outros que, em minha opinião, têm feito
milagres desde a era dos apóstolos. Não é
experimentar, não é anunciar no domingo que haverá
uma reunião de cura na próxima quinta-feira. Não cabe-
lhes dizer isso porque não sabem de fato se isso
acontecerá. Todo milagre verdadeiramente feito por
Deus é "dado"; e "a oração da fé" é dada. Ninguém
pode produzir isso sozinho; ou possui ou não possui tal
fé. Em parte, depende da espiritualidade geral de um
homem e sua fé geral em Deus, e ainda mais depende
da Sua soberana vontade.
Fenômenos Espíritas
Por último, quero que tomem cuidado. Já devem
ter chegado a todos nós pessoas que foram curadas,
alegadamente, numa reunião espírita, ou como
resultado da atividade dum líder espírita. Em tais casos,
sugiro que é muito errado e tolo dizer, ou dar a
entender, à pessoa diante de você que ela não tem sido
curada! Às vezes, têm havido a tendência de alguns
fazerem isso. Espero que esteja claro que espíritas
podem produzir certos resultados; porém acredito que
nesse ponto temos de advertir as pessoas muito
seriamente. Com certeza não devemos fazê-las ficarem
doentes novamente a fim de mantermos correta a
nossa doutrina! No entanto, o que devemos fazer é
precavê-las que, tendo se submetido naquela ocasião a
um poder que acreditamos ser de espíritos maus, elas
devem tomar muito cuidado para que esses poderes
malignos não aproveitem de sua submissão.
Kurt Koch, em seu livro Christian Counselling and
the Occult, está sempre esclarecendo este ponto, que é
óbvio. Se, a qualquer momento, alguém render-se,
inadvertidamente, a um poder invisível, está
procurando encrencas. A Bíblia nos manda provar "os
espíritos" e testá-los. Ela reconhece a realidade, a
influência e o poder de espíritos maus. Como
evangélicos, temos subestimado, tragicamente, o poder
de espíritos maus. O apóstolo Paulo não tinha dúvida
sobre o assunto — "Porque não temos que lutar contra
a carne e o sangue, mas sim contra os principados,
contra as potestades, contra os príncipes das trevas
deste século, contra as hostes espirituais da maldade,
nos lugares celestiais" (Efésios 6:12). Temos que lidar
com isso e, portanto, devemos acautelar essas pessoas
que, uma vez que têm se submetido por razões de
saúde, há a possibilidade de que correm mais riscos de
ataques subseqüentes da parte dessas influências e
desses poderes.
A Atitude Bíblica
Concluo dizendo isto: devemos continuar usando
os meios habituais no tratamento da enfermidade e da
doença. O meio usual de Deus para lidar com a doença
é através destes meios e métodos — através das
habilidades terapeutas que Ele tem dado a homens e
através das drogas farmacêuticas que Ele tem colocado
em tanta abundância na natureza, e assim por diante.
Respondendo à "oração de fé" é possível que Ele
escolha responder à parte dos meios comuns.
Entretanto, além disso, devemos lembrar que há outro
fator que vimos, não devemos nos surpreender com o
mesmo, de fato devemos estar alertas com respeito a
ele. Não devemos deixar que nossa teologia seja
perturbada, nem devemos abandonar nossas posições
bíblicas por causa de quaisquer fenômenos. Temos que
avaliar e testar todos esses fenômenos. Devemos
explicá-los, se for possível, pelas várias maneiras que
temos visto, posto que é mais fácil fazê-lo hoje em dia,
talvez, do que em anos atrás. Entretanto, ainda
devemos acreditar que "para Deus tudo é possível".
Deus pode fazer milagres hoje, assim como Ele
tem feito no passado. Talvez devêssemos até esperar
isso dEle, já que os tempos estão enegrecendo e as
forças do mal parecem estar emergindo de maneira
extraordinariamente agressiva e potente. Não devemos
descartar, dogmaticamente, como costumávamos a
fazer, a manifestação e a demonstração do poder de
Deus para curar doenças, ou para fazer qualquer coisa
que é de Seu desejo e de Sua vontade. A antiga
exortação do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses é
duradoura: "Não extingais o Espírito. Não desprezeis as
profecias; examinai tudo. Retende o bem" (1
Tessalonicenses 5:19-21). Não devemos ficar
amedrontados nem nos tornar crédulos sem qualquer
ressalva; no entanto, igualmente não devemos
"extinguir o Espírito" nem sermos culpados de reduzir o
poder de Deus à medida do nosso entendimento.