Rompendo o Silêncio - Carlos Alberto Brilhante Ustra
Rompendo o Silêncio - Carlos Alberto Brilhante Ustra
Rompendo o Silêncio - Carlos Alberto Brilhante Ustra
Sobre a obra:
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Rompendo o Silêncio
Carlos Alberto Brilhante Ustra
Edição
supervirtual
Fonte Digital
Digitalização da edição em pdf
ROMPENDO
O
SILÊNCIO
OBAN
DOI/CODI
29 Set 70 — 23 Jan 74
AGRADECIMENTOS
Joseíta:
Não fosse a tua coragem;
Não fosse a tua fé na certeza de que conseguiríamos
obter os dados que mostrassem aos brasileiros o que um
grupo de pessoas mal intencionadas e muito bem apoiadas,
fizeram para nos atingir e indiretamente atingir o Exército;
Não fosse o teu trabalho de dias e dias de pesquisas em
bibliotecas, em livros, em jornais e em documentos;
Não fosse o auxílio que me deste, lendo e corrigindo os
textos deste livro;
Não fosse o teu incentivo e a tua vontade férrea,
auxiliando-me a vencer etapas;
Não fosse o teu despreendimento, vendendo algumas
jóias que possuías para auxiliar a financiar essa
edição; Não fosse o teu papel de companheira, mais uma
vez, te colocando ao meu lado para juntos aguardarmos
serenamente toda a avalanche de reações que certamente
haverão de desencadear sobre nós, após a publicação deste
livro;
Não fosse todo esse apoio recebido de ti, este livro não
seria possível
Desejo agradecer:
Patrícia e Renata
A CALÚNIA
A CARTA AO PRESIDENTE
BETE MENDES
Memória
O amargo reencontro
Quinze anos mais tarde,
deputada reconhece em Montevidéu
militar que a torturou
REVISTA VEJA — 21 Ago 85
política
Denúncia de torturas surpreende amigos de Brilhante
Ustra
A RAZÃO — SANTA MARIA — RS
Ustra, o coronel torturador,
some da embaixada brasileira
ZERO HORA — 18 Ago 85
Repercussão no Uruguai
La Mañana
MONTEVIDEO, DOMINGO 18 DE AGOSTO DE 1985
Gran repercusión
tiene en Brasil
el caso de
agregado militar en Uruguay
Brasil Cesa Agregado
Militar en Uruguay
Acusado de Tortura
EL PAIS — 17 Ago 85 — MONTEVIDEO
Theodomiro, de volta:
“Faria tudo outra vez”
JORNAL DO BRASIL — 06 SET 85
REVISTA VEJA
JORNAL DO BRASIL — 07 SET 85
Ustra reaparece e
trabalha na polícia
JORNAL DE BRASÍLIA 12 Jul 86
A MORTE DE MARIGHELLA
A IMPORTÂNCIA DO MINIMANUAL
CARLOS LAMARCA
(Cid, Cláudio, Paulista)
ATENTADO AO QG DO II EXÉRCITO
Danos causados ao QG do II Exército
pelos “chamados subversivos” da VPR
A brutalidade dos “jovens idealistas” da VPR,
contra um cidadão desarmado
Soldado PM — Garibaldo de Queiroz — (São Paulo)
Face a esse quadro todo, chegara a hora de empregar as
Forças Armadas.
Transcrição da Revista AFINAL — Edição Especial — 05/03/85:
O SONHO!
“O dever de todo revolucionário é fazer a revolução!
Criar dois, três, muitos vietnames”.
Iniciou-se o treinamento.
UM HERÓI É SEPULTADO
O CORTEJO
O
ELOGIO
EM BOLETIM ESPECIAL
UM EXEMPLO
NAÇÃO AFRONTADA
A VIÚVA E A ÓRFÃ
O SEPULTAMENTO
O enterro de Irlando de Sousa Regis, no Caju, teve grande
acompanhamento de seus companheiros
O MORTO
CURSOS NO EXTERIOR
AS MEDIDAS PRELIMINARES
TREINAMENTO BÁSICO
—TÁTICA GUERRILHEIRA
O observador, o mensageiro, a coluna guerrilheira, o
acampamento, a marcha, o ataque, a emboscada, marchas.
—TIRO
— Apresentação do armamento, limpeza, conservação,
medidas de segurança, tiro.
— Fuzis: AD, FAL, AK, GARAND.
— Metralhadoras: MG52 e USI
— Bazuca, morteiro e canhão 152mm.
—COMUNICAÇÕES
Os meios de comunicações usados pela guerrilha em sua
fase de implantação.
—TOPOGRAFIA
Leitura de mapas; uso de bússola e do binóculo;
orientação.
—ORGANIZAÇÃO DO TERRENO
Construção de abrigos indíviduais e coletivos. Espaldões
para metralhadoras e morteiros.
—POLÍTICA
O Comissário Político, semanalmente, fazia uma palestra.
TREINAMENTO AVANÇADO
O REGRESSO
O PONTO
1. GENERALIDADES
O APARELHO
1. O APARELHO
“O APARELHÃO”
OS CONDI
Os CONDI tinham por finalidade facilitar aos
Comandantes de ZDI a coordenação de ações e a obtenção
da necessária cooperação por parte das mais altas
autoridades civis e militares, com sede nas respectivas
áreas de responsabilidade.
OS CODI
Os CODI tinham a atribuição de garantir a necessária
coordenação e a execução do planejamento das medidas de
Defesa Interna, nos diversos escalões de Comando. Tinham,
também, a finalidade de facilitar a conjugação de esforços
da Marinha, Aeronáutica, SNI, DPF, Secretaria de Segurança
Publica (Policia Civil e Polícia Militar).
O combate ao terrorismo e à subversão só teve êxito, a
partir do momento em que, cumprindo a “Diretriz
Presidencial de Segurança Interna”, os Comandantes
Militares de Área baixaram normas centralizando as
Informações de Defesa Interna e determinando que todas as
Operações de Informações fossem realizadas através de um
único órgão e, sob um comando único, que era o
Comandante do DOI.
OS DOI
Os DOI tinham a atribuição de combater diretamente as
organizações subversivas, de desmontar toda a estrutura de
pessoal e de material delas, bem como de impedir a sua
reorganização.
Os DOI eram órgãos eminentemente operacionais e
executivos, adaptados às condições peculiares da Contra-
subversão.
Em cumprimento à Diretriz Presidencial de Segurança
Interna, o Êxercito Brasileiro criou os seguintes DOI, no
segundo semestre de 1970:
DOI/CODI/I Exército — Rio de Janeiro
DOI/CODI/II Exército — São Paulo (em substituição à
OBAN)
DOI/CODI/IV Exército — Recife
DOI/CODI/Comando Militar do Planalto — Brasília
NO DOI/CODI/II EXÉRCITO
29 SET 70-23 JAN 74
A BANDEIRA
A Bandeira do Brasil, hasteada diariamente,
no lugar de maior destaque do DOI/CODI/II Exército
O PESSOAL
NOTA DO AUTOR:
— Pessoal
Chefe: Oficial da Polícia Militar ou Delegado da Polícia
Civil;
4 Agentes: Sargentos do Exército ou da Polícia Militar,
Investigadores da Polícia Civil, Cabos ou Soldados da Polícia
Militar;
Motorista: Sargento, Cabo ou Soldado da Polícia Militar.
— Viaturas
Uma C-14, ou um Opala, ou uma Kombi, todas equipadas
com rádio receptor-transmissor. A viatura era escolhida de
acordo com a missão recebida.
— Armamento
Cada homem dispunha de um revólver 38 ou pistola
9mm; de um fuzil FAL; de uma espingarda calibre 12;
granadas de mão ofensiva e defensas; granadas fumígenas;
granadas de gás lacrimogêneo.
— Proteção
Colete à prova de balas.
BATISMO DE SANGUE
O DRAMA
TRISTE DESPEDIDA
(Transcrito do Jornal “O GLOBO” — 05/04/71)
GUERRA É GUERRA
O INTERROGATÓRIO
A SEÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
A SUA MORTE
O SEPULTAMENTO
O cabo Sylas Bispo Feche, morto por terroristas, foi enterrado como
herói
UM COMBATE NA RUA
VÍTIMAS DO TERROR
NOTA DO AUTOR:
— Os nomes são citados por completo.
— Os grifos são do autor.
O ABANDONO DE UM COMPANHEIRO
TERRORISTAS ASSASSINAM
INDUSTRIAL EM EMBOSCADA
Transcrito da Folha de São Paulo — 16 Abr 71
METRALHADORAS
A REPULSA AO ASSASSINATO
Henning Albert Boilesen
NOTA DO AUTOR:
— Toda a matéria a respeito foi transcrita do jornal
“FOLHA DE SÃO PAULO”, de 16 Abr 71.
— O assassinato de HENNING ALBERT BOILESEN foi
praticado por duas Organizações Terroristas que atuaram
“Em Frente” Ação Libertadora Nacional (ALN) Movimento
Revolucionário Tiradentes (MRT)
BRASÍLIA (O GLOBO)
— Por determinação do Chanceler Mário Gibson Barboza,
um representante do Itamarati no Rio visitou ontem o
Embaixador da Grã-Bretanha, Sir David Hunt, para lhe
apresentar condolências pelo assassinato do marinheiro
DAVID CUTHBERG, vítima dos terroristas.
O Embaixador Inglês enviou a Brasília mensagem em
que manifesta seu agradecimento pelo gesto do Chanceler.
Na mensagem, Sir David Hunt comunica oue transmitiu as
condolências do Governo Brasileiro ao Almirante David
Williams, Comandante da Força-Tarefa que visita o Rio.”
AS ORGANIZAÇÕES RESPONSÁVEIS
OS ASSASSINOS
A EXECUÇÃO DE UM INOCENTE
OTAVINHO
Otavinho e o Velho Expedito
COMO O MATARAM
NOTA DO AUTOR:
Participaram do assassinato os seguintes
terroristas:
Matéria extraída da Folha de São Paulo, 27 fev 73
O SEPULTAMENTO
(Folha de São Paulo, 27 fevereiro 1973)
HOMENAGENS PÓSTUMAS
EM BRASÍLIA
NO 16.° GAC
UM BRINQUEDO MACABRO?
BRINQUEDO MACABRO
MOACYR O. FILHO
Editor de Política
AEROPORTO I
AEROPORTO II
Em 1983, eu servia no Estado-Maior do Exército, em
Brasília. De acordo com a minha antigüidade no posto de
Coronel entrei na faixa dos oficiais que seriam submetidos à
apreciação para uma missão no exterior.
Existe uma Portaria Ministerial que regula a seleção de
todos os candidatos que vão representar o nosso Exército
em outros países. São quesitos básicos para contagem de
pontos:
Tempo como Oficial de Estado-Maior
Entrei para a Escola de Estado-Maior, ainda como
Capitão, quando a maioria faz Estado-Maior já como Major.
2. Organizações onde serviu como Oficial de
Estado-Maior
Servi, sempre, em Unidades que contavam muitos
pontos.
3. Vivência no Território Nacional
Servi em quatro dos seis comandos existentes na época.
4. Instrutor
Fui instrutor da Escola Nacional de Informações (EsNI),
por um ano.
5. Condecorações
Tenho as três condecorações do Exército para as quais
são atribuídos pontos:
a) Medalha do Pacificador com Palma (pelo cumprimento
do dever com risco de vida);
b) Ordem do Mérito Militar (Grau Oficial);
c) Medalha Militar de Ouro (30 anos de serviço).
6. Comando
Comandei o 16.° GAC em São Leopoldo, no Rio Grande
do Sul de Jan de 1978 a Jan de 1980.
7. Arregimentação
Possuo mais de oito anos de arregimentação como
Oficial Superior.
Quando o Estado-Maior fez a seleção entre mais de 50
candidatos, de acordo com o número de pontos, eu estava
em 3.° lugar.
Portanto, não é verdade que tenham me designado para
representar o nosso Exército no Uruguai como recompensa
pelos meus serviços prestados no DOI. O que certos setores
da esquerda propalam a este respeito é falso. Todas as
seleções que o Estado-Maior realiza são muito sérias. São
avaliados todos os quesitos constantes da Portaria
Ministerial. Ainda de acordo com essa Portaria, o Estado-
Maior indica para o Ministro do Exército, com base neste
método seletivo, três nomes para cada vaga existente,
Na ocasião, iriam vagar as aditâncias do Peru, Equador,
Portugal, Itália e Uruguai. O Estado-Maior do Exército enviou
ao Ministro os 15 primeiros nomes selecionados nesta
contagem de pontos, onde eu ocupava o terceiro lugar.
O que a esquerda radical, por revanchismo, não se
conforma até hoje, é que o Ministro Walter Pires tenha me
escolhido entre os cinco a serem nomeados e que o
Presidente João Figueiredo tenha referendado esta escolha.
Na realidade, nenhuma dessas duas autoridades se deixou
pressionar pela orquestração esquerdista.
Logo após ter assumido as minhas funções no Uruguai, o
senhor Jair Krischke, Conselheiro do Movimento de Justiça e
Direitos Humanos, durante o Jornal Nacional da Rede Globo,
no horário reservado às notícias do Rio Grande do Sul,
aventou a hipótese de minha participação no “seqüestro”
dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Dias. A imprensa
fez ampla divulgação da notícia.
Para me acusar Jair Krischke usou dos seguintes
argumentos:
1.° — Eu comandara o DOI/CODI/II Exército;
2.° — Era amigo do Delegado Pedro Carlos Seelig que,
segundo ele, participara deste “seqüestro”;
3.° — Era amigo do Cel Átila Rohrsertzer que, também,
segundo ele, estava envolvido;
4.° — Eu comandava o 16.° GAC, em São Leopoldo, que
estava muito próximo de Porto Alegre.
Realmente eu comandei o DOI/CODI/II Ex, sou amigo do
Delegado Pedro Carlos Seelig e do Cel Atila Rohrsetzer e na
ocasião comandava o 16.° GAC. Porém não participei desse
alegado seqüestro: dele só tomei conhecimento através da
imprensa. Jamais vi, ou estive em contato com Lilian
Celiberti e Universindo Dias.
Não seria leviandade do Conselheiro de um Movimento
que defende os Direitos Humanos caluniar uma pessoa
baseado apenas naqueles quatro argumentos, declarando
ao país inteiro ter razões de sobra para acreditar que eu
participara daquele “seqüestro”?
Quem hoje, nesta país, não acredita que eu, de fato,
tenha participado “daquela ação”?
Creio que esse Conselheiro guando fez esse escândalo,
mais para se promover, não pensou que ao me caluniar
estava, também, atingindo toda uma família.
Onde estão, Sr. Jair Krischke. os Direitos Humanos da
minha esposa, das minhas filhas e dos meus demais
parentes? E eu, também não tenho os meus Direitos
Humanos respeitados pelo seu Movimento?
Ou a calúnia não viola os Direitos Humanos?
BETE MENDES
A “ROSA” NA VAR-PALMARES
HISTÓRICO DA VAR-PALMARES
ORGANIZAÇÃO DA VAR-PALMARES
2. ÁREAS DE ATUAÇÃO
2. A PRISÃO DO LÍDER
3. AS DEMAIS PRISÕES
“O ESTADO DE S. PAULO”, 17 de outubro 1970 — Pag. 12)
OS JOVENS E A SUBVERSÃO
A CARTA DE UM PAI
Ilmo. Sr.
Major Carlos Alberto
Brilhante Ustra
Capital
Prezado amigo:
Como posso agradecer-lhe? Como posso agradecer a
todas as Autoridades Militares? Como posso agradecer à
sábia orientação do Governo que, em tão pouco tempo para
tão imensa dimensão do problema, está catalizando a nossa
juventude, conscientizando-a para a verdadeira luta pela
legítima emancipação econômica e social brasileira?
Creio que jamais conseguirei transmitir todo o meu
reconhecimento. Acho que somente outros pais que, como
eu, viveram o drama de ter uma filha ou um filho, ainda
crianças, maldosa, implacável, fria e vergonhosamente
aliciadas pelos sequazes da subversão é que poderão
compreender-me.
Que acontece a um pai quando certa noite ele abre a
porta de sua casa e vê diante de si uma equipe de busca
que veio para prender sua filha?
Que pensamentos lhe acodem ao cérebro e ao coração?
Que tantas e estranhas perguntas ele se faz?
É um pesadelo ou realidade? E por que essa sinistra
realidade?
É realmente a minha filha que procuram?
Mas ainda agora ela era uma criança, magrinha, frágil,
de grandes olhos curiosos, engatinhando os primeiros
passos, balbuciando as primeiras palavras, rabiscando os
primeiros desenhos, tentando as primeiras letras,
conseguindo as primeiras notas, vencendo com incrível
força de vontade todos os obstáculos para colocar-se
sempre como a primeira da classe — do primário ao
colegial, acompanhando sempre todas as limitações do
nosso orçamento doméstico e sempre procurando
corresponder a todos os investimentos feitos para a sua
educação!
É mesmo a minha filha que procuram?
Mas ela teve sempre tanto senso de responsabilidade,
acreditou sempre que só o trabalho e o esforço contínuo e a
persistência é que ajudam a vencer na vida! Mas ela
sempre foi dedicada à família, sempre ajudou os irmãos em
tudo que podia! Como, se ela dizia que queria ser alguém
para poder ajudar todos nós, todo o mundo, todo o Brasil!
Como, se ela dizia que o nosso País teria de ser grande,
desenvolvido, rico, respeitado! Como, se ela dizia que para
isso era preciso muito estudo, muito trabalho, muita
cooperação! Quanto fervor em tudo que ela dizia! Quanto
brilho nos seus olhos — nos seus grandes olhos curiosos!
E, ultimamente, quanto espírito de sacrifício, quanta
renúncia, quanta recusa a novas roupas, a um sapato novo,
ao cabeleireiro, à manicure, às diversões mais comuns!
É mesmo a minha filhinha que procuram?
Hoje, passado quase um ano desde aqueles tenebrosos
dias de setembro, posso pensar mais calmo e
confiantemente.
E quanta coisa afinal compreendo!
Como minha pobre filha foi enganada! Utilizaram todo o
seu senso de responsabilidade, toda a sua persistência,
toda a sua força de vontade, toda a sua crença no trabalho,
todo o seu grande — imenso e generoso esforço, todo o seu
fervor, todo o brilho — de seus grandes olhos curiosos —
para fazê-la acreditar que o caminho da subversão era o
único para ajudar todos nós, todo mundo, todo o Brasil —
para o nosso País ser grande, desenvolvido, rico, respeitado.
Tenho diante de mim dois retratos de minha filha: um do
ano passado e outro bem recente; um dos tempos
tumultuosos em que estava sendo iludida e outro em que
ela, agora livre, aproveita com toda a sua sinceridade a
maravilhosa oportunidade que lhe concederam.
A menina inflamada, de cabelos descuidados, sem
pintura, que se negava a ir à manicure, que só usava “blue-
jeans”, que recusava roupas novas e um novo sapato, foi
substituída por uma moça, madura, adulta, tranqüila, de
cabelos cuidados e unhas pintadas, embora sem exagero;
que briga com a costureira quando o vestido não sai direito,
que é exigente na escolha do modelo do sapato novo, que
voltou ao antigo namorado e pretende ficar noiva nos
próximos meses.
Como sempre, confiante, responsável, trabalhosa,
persistente.
Mas agora compreendo como existe mais de um
caminho para a busca da verdade, agora entendo o valor da
tolerância, agora assimilando todo o esforço do Governo
para eliminar etapas, engolir atrasos e construir mais
depressa o Brasil Grande. Como ela entendeu finalmente o
espírito da luta pelo nosso mar de 200 milhas; a guerra pelo
nosso café solúvel; a batalha dos fretes marítimos; a
necessidade da ocupação a curto prazo dos nossos grandes
espaços vazios através de projetos grandiosos tal como a
Transamazôníca; o valor do incrível progresso de nossas
telecomunicações; a inadiável urgência da alfabetização em
massa; a necessidade de dar agora prioridade à formação
de técnicos, para ocorrer às exigências da expansão da
indústria e racionalizar a agricultura.
O grande fator responsável por essa gradativa, porém
firme revisão de idéias verificada nos últimos doze meses
deve-se, indubitavelmente, à série de leituras orientadas
pelo Tenente-Coronel Ary Rodolpho Carracho Horne, na 5a.
Secção do 2.° Exército em São Paulo, que se propôs — e
conseguiu — mostrar à minha filha “o outro lado do
Governo”.
Hoje, minha filha está espontaneamente disposta e
preparada para engajar-se no “Projeto Rondon”, a fim de
conhecer de perto a verdadeira e dramática dimensão dos
problemas de nossa infra-estrutura social e juntar-se
definitivamente aos esforços do Governo na busca de
soluções.
Estes dois retratos de minha filha, que tenho diante de
mim, contam toda essa história.
A grande oportunidade que lhe foi concedida está sendo
aproveitada em todos os seus sentidos, durante todos os
segundos.
Após a libertação, ela liquidou o restante do curso
colegial, passando com notas muito boas, fez um mês de
cursinho intensivo e logo na primeira tentativa foi aprovada
no exame vestibular da USP, ingressando no Depto. de
Geografia da Faculdade de Filosofia. O primeiro semestre da
Universidade ela também o venceu com notas altas e agora
cursa o 2.° semestre.
O crédito de confiança que por seu intermédio, prezado
amigo, as Autoridades concederam à minha filha está sendo
integralmente correspondido.
Aguardamos agora o julgamento final com serenidade.
Enfrentaremos juntos, ela e eu, o pronunciamento da
Justiça, dispostos a acolher a melhor decisão que houver por
bem ser apresentada.
Eu estarei ao lado de minha filha em qualquer
circunstância.
É muito possível que tudo isto tenha sido causado por
mim, e apenas por mim.
É muito possível que eu não tenha sido melhor pai do
que me propus a ser em todos estes vinte e dois anos de
casado.
Talvez se eu estivesse mais presente, mais atuante, tudo
fosse diferente.
Talvez se eu tivesse tido mais tempo para me dedicar à
minha família eu pudesse ter dado muito maior assistência
à minha filha.
É possível. É muito possível.
Não quero eximir-me de qualquer responsabilidade.
Direi apenas que de todas as funções do mundo a do pai
é a mais difícil.
Tenho procurado desempenhá-la da melhor maneira
possível.
Mas, para isso, que tempo livre temos nós todos, pais,
além daquele que nos toma o trabalho e a obrigação
imperiosa de prover ao sustento da família?
Vivemos todos numa selva de asfalto, onde a luta pela
própria vida é travada em todos os cantos, vinte e quatro
horas por dia. E nada sobra para poder olhar o horizonte.
Mas tudo passará, se Deus assim o quiser.
Muito obrigado pois, caro amigo, pela infatigável
assistência dispensada à minha filha e a todos os
meninos e meninas envolvidos no episódio.
Tenho certeza de estar falando não apenas em
meu nome, mas em nome de todos os outros pais.
Recebemos uma nova oportunidade e tudo estamos
fazendo para honrá-la.
Por favor, faça desta carta o uso que achar mais
recomendável.
É a minha palavra de gratidão ao amigo e a todas as
Autoridades quê lutam para reaver a juventude do Brasil.
Um grade abraço
C.S.
(O grifo é do autor)
NOTA DO AUTOR: Conheci o Dr. C.S., no período em
que sua filha esteve presa. O termo amigo, que usa,
é apenas em decorrência do tratamento dispensado à
sua filha.
OS OUTROS JOVENS
.....................................
...............(O GRIFO É DO AUTOR)................
A INGRATIDÃO
Assinado por:
1a. INSTÂNCIA
NOTA DO AUTOR:
— letra “c” do Art. 429 do CPPM: “Não existir prova deter
o acusado concorrido para a infração Penal”.
— Art. 7.° do DL 898/69: “Na aplicação deste Decreto-Lei
ou Juiz, ou Tribunal, deverá inspirar-se nos conceitos básicos
da Segurança Nacional definidos nos artigos anteriores.
2a. INSTÂNCIA
Considerando que a sentença apelada bem aprecia a
situação dos absolvidos, não sendo possível, porém, como
fundamento absolutório o Art. 7.°, da Lei de Segurança
Nacional, que não define, aliás, o arrependimento eficaz
previsto no Art. 31 do CPM, melhor se ajustando a
hipótese da letra “e” do Art. 439 do CPPM.
(O GRIFO É DO AUTOR)
NOTA DO AUTOR:
— Art. 31 do CPM: “O agente que, voluntariamente,
desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados”.
— Letra “e” do Art. 439 do CPPM: “Não existir prova
suficiente para a condenação”.
1986
DE SIMPATIZANTE A QUADRO
(Trechos da entrevista ao Jornal “O PASQUIM” de 27/02 a 27/03/86)
NOTA DO AUTOR:
Segundo a linguagem usada pelas Organizações
Subversivo-Terroristas, existiam os Simpatizantes, os Apoios
e os Quadros.
Simpatizantes eram os que embora concordassem com a
linha política das Organizações, não mantinham contato
direto com elas.
Apoios eram aqueles que embora não fossem membros
das Organizações, as auxiliavam sob os mais variados
aspectos como: dinheiro, locais para esconderijos,
transporte, documentos, etc...
Quadros eram os membros efetivos e atuantes das
Organizações.
NO AEROPORTO DE CARRASCO
NO CONGRESSO NACIONAL
Descendo as escadarias da Assembléia Legislativa chamo o meu
motorista, pois já estava atrasado. É deste momento que a Revista
“VEJA”, de 21 Ago 85, publica a foto acima.
A “ROSA”
A DESPEDIDA DO PRESIDENTE
Sábado, 17 de agosto.
Às 07:30 horas somos despertados por um telefonema
internacional. Era minha mãe, aflita, que quase sem poder
se explicar, perguntava o que acontecera entre eu e uma
atriz, pois as rádios estavam anunciando que eu havia sido
exonerado do cargo pelo Presidente Sarney e que
retornaria, imediatamente, ao Brasil. Tento tranqüilizá-la,
dizendo que é de praxe a exoneração de um Adido, seis
meses antes de findar a sua missão. Reafirmo que tudo
estava em ordem e que nada de anor mal acontecera.
Antes do café, abro o jornal “EL PAIS” e, pasmo, leio:
Fico atônito!
Minha mulher, calma, me diz: — recorte este artigo do
jornal, mande para a BETE MENDES que ela desmentirá.
O telefone toca novamente. É meu irmão, o Cel Renato
Brilhante Ustra que, do Rio de Janeiro, me conta todo o
caso: as manchetes de jornais, a ida da Deputada à
televisão, sua carta ao Presidente...
Joseíta e minha irmã Gláucia, estavam incrédulas.
Vou à Chancelaria, entro em contato com os meus chefes
em Brasília e recebo orientação: permanecer calado, não
atender repórteres, aguardar instruções.
Sábado e domingo o telefone não pára de tocar. São
amigos, de todas as partes, solidários comigo.
Raciocino. Sirvo de “bode expiatório”, em mais uma
tentativa para denegrir a imagem do Exército. A Deputada
era a pessoa indicada para toda a trama, pois eu não
poderia, por força do Regulamento Disciplinar do Exército, ir
para a imprensa desmenti-la e nem mesmo processá-la por
calúnia, já que como Deputada possuía imunidades
parlamentares.
DESMENTINDO A DEPUTADA
(EX-ROSA)
“JORNAL DO BRASIL”
17 Ago 85
“FOI UM CHOQUE. NÓS NOS RECONHECEMOS”
JORNAL “O GLOBO”
17 Ago 85
REVISTA “VEJA”
21 Ago 85
“O AMARGO REENCONTRO”
TRECHOS EXTRAÍDOS
Transcrito da Folha de São Paulo, 18/02/87, página A-27 — Vidal
Cavalcante — Do Banco de Dados e da Redação da Folha.
OS PAIS
NOTA DO AUTOR:
BETE MENDES tinha na época, 21 anos e 5 meses,
portanto não era menor, mas como se pode verificar, foi
dado a ela o mesmo tratamento dos menores, não
publicando nem mesmo o seu nome na imprensa.
Peço à Deputada que prove que foi torturada. E
prove que seus pais e parentes também foram presos
e torturados.
AS DECLARAÇÕES DE “MAX”
PALAVRAS FINAIS
BIBLIOGRAFIA
SUMÁRIO
Primeira parte
ALÉM DE UMA CALÚNIA, UMA INGRATIDÃO
1. A calúnia
2. A carta do Presidente
3. Algumas manchetes da época
4. O comunicado do Ministro do Exército
5. A Carta de Bete Mendes ao Ministro do Exército
6. Minha volta ao Brasil
7. Algumas manchetes de 1986
Segunda parte
A ESCALADA DO TERROR
1. Meu objetivo: ECEME
2. Marighella: o ideólogo do terror
a. A morte de Marighella
b. A importância do Minimanual
3. Carlos Lamarca
4. O assalto ao Hospital Militar
5. Atentado ao QG do II Exército
6. A morte do Capitão Chandler
7. O seqüestro do Embaixador Americano
8. Meu destino: São Paulo
9. Seqüestro do Cônsul-Geral do Japão
10. O sonho!
11. Um herói é sepultado
a. O cortejo
b. O elogio em Boletim Especial
c. Um exemplo
12. Nação Afrontada
13. O seqüestro do Embaixador da Alemanha Ocidental
14. O seqüestro do Embaixador Suíço
Terceira parte
TREINAMENTO, TÁTICA E CONDUTA DO INIMIGO
1. Cursos no Exterior
a. As medidas preliminares
b. Treinamento básico
c. Treinamento avançado
d. O regresso
2. O ponto
3. O aparelho
4. Normas de conduta individual
5. A conduta durante o interrogatório
6. “O aparelhão”
7. Como o jovem era usado
Quarta parte
A CONTRA-OFENSIVA
1. Uma estrutura se arma contra o terror
2. No Rio Grande do Sul um outro modelo
3. No DOI/CODI/II Exército
4. A Bandeira
5. O pessoal
6. Ao DOI uma estrutura dinâmica
7. A Seção de Busca e Apreensão
Batismo de Sangue
8. Major morto em choques com terroristas
a. O drama
b. Triste despedida
9. A melhor defesa é o ataque / Emboscada e contra
emboscada
10. A corrida contra o tempo
11. Guerra é guerra
12. O interrogatório
13. A Seção de Investigação
14. Seus documentos... Uma rajada
a. A sua morte
b. O sepultamento
c. Os assassinos do Cabo Feche
15. Um combate na rua
16. Nossa vida: uma contínua tensão
Quinta parte
TERRORISMO: NUNCA MAIS
1. Vítimas do terror
2. O “justiçamento” de um quadro — “Vicente”
Trecho do panfleto deixado no local do fuzilamento
3. O abandono de um companheiro
4. Terroristas assassinam industrial em emboscada
a. Metralhadoras
b. A repulsa ao assassinato
5. Terroristas mataram marujo da Flotilha Inglesa
a. Suspensa visitação aos navios
b. Pesar pela morte do marinheiro
c. As organizações responsáveis
6. A execução de um inocente
7. Mataram o meu amigo
a. Otavinho
b. Como o mataram
c. O sepultamento
d. Homenagens póstumas
8. Ações armadas praticadas em São Paulo
9. Em Brasília
10. No 16.° GAC
Sexta parte
A ORQUESTRAÇÃO
1. Um brinquedo macabro?
Bia e suas amigas
2. Aeroporto l
3. Aeroporto II
4. O seqüestro dos uruguaios
Sétima parte
BETE MENDES — A “ROSA” NA VAR-PALMARES
1. Histórico da VAR-PALMARES
2. Linha política da VAR-PALMARES
3. Organização da VAR-PALMARES
a. Organograma do Comando Nacional
b. Áreas de atuação
c. Organograma do Comando Regional de São Paulo
4. A desarticulação da Regional de S. Paulo
a. Desbaratada a VAR-PALMARES Paulista
b. A prisão do líder
c. As demais prisões
d. A ação de “expropriação” que ficou no plano
5. Os jovens e a subversão
a. A carta de um pai
b. Os outros jovens
6. O envolvimento de Elizabeth Mendes de Oliveira —
“ROSA” — com a VAR-PALMARES
a. Trechos das declarações prestadas no DOI/CODI/II
Exército
b. Trechos do Relatório do Inquérito 526/70
c. Trecho do Auto de Qualificação e Interrogatório
d. Resumo do depoimento de Bete Mendes perante a
Justiça
e. O arrependimento de Bete Mendes
f. Relatório da Sentença de Bete Mendes
g. A ingratidão
h. A absolvição de Bete Mendes
i. 1986 — De simpatizante a quadro
Oitava parte
A DEPUTADA EM MONTEVIDÉU
1. No aeroporto de Carrasco
2. As homenagens ao nosso Presidente
a. Recepção do Presidente Uruguaio
b. No Congresso Nacional
3. A “Rosa”
a. A colônia brasileira cumprimenta o Presidente
b. Recepção ao Presidente Uruguaio
c. A Despedida do Presidente
d. Foi um choque: fui usado
Nona parte
DESMENTINDO A DEPUTADA
1. Quem são eles deputada?
2. O amigo morto a pancadas
3. O encontro que não houve
4. Palavras contra palavras
5. Trinta, não. Dezoito deputada
6. Um ano, não! Dezoito dias
7. A VAR-PALMARES e as Ações Armadas
8. Presidente: “fui torturada por ele”
a. Os pais
b. A advertência dos pais
c. A declaração da representante do Juizado de
Menores
d. As declarações de MAX
Décima parte
ENCERRAMENTO
Palavras Finais
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Março 2003