Psicologia Tomista e Direcao Espiritual
Psicologia Tomista e Direcao Espiritual
Psicologia Tomista e Direcao Espiritual
FUNDAMENTAÇÃO PSICOLÓGICA NA
DIREÇÃO ESPIRITUAL
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Direção Espiritual é um termo que atualmente está na moda. Se, por um lado,
o hedonismo reinante em nossos dias afasta multidões da autêntica busca espiritual,
por outro, o vazio existencial provocado pelo mesmo hedonismo aguça a busca dos
“fins últimos”. Essa reinvestida do ser em busca de si mesmo, quando honesta e
sincera, estimula leituras, vivências e a procura de orientação. Um considerável
número de pessoas busca suas respostas na direção espiritual.
Este ministério também é conhecido por outros nomes, como aconselhamento
espiritual, orientação espiritual ou outros. Utilizaremos indistintamente quaisquer
destes termos. Não é o caso, neste momento, de dedicar espaço para a escolha do
termo ideal. Há outros objetivos mais emergentes, relacionados ao conteúdo ou às
bases antropológicas, filosóficas, sociológicas e psicológicas desta prática. Quanto
ao conteúdo doutrinário não há o que discutir: no âmbito católico a doutrina é Jesus
Cristo, sua vida, morte e ressurreição, núcleo da História da Salvação.
Neste artigo realizou-se uma pesquisa bibliográfica com dois fins:
primeiramente, aferir se a literatura sobre direção espiritual dá relevância aos
aspectos emocionais, ou psicológicos, tema que foi abordado no item 2.2.1. Apurada
a importância da dimensão emocional na prática da direção espiritual, passou-se ao
estudo da finalidade principal deste artigo: buscar, na bibliografia, a fundamentação
teórica mais adequada para embasar as orientações no campo da vida emocional ou
psicológica dos orientandos.
No item 2.2.2, a partir da bibliografia sobre orientação espiritual, constatou-se
que a base conceitual psicológica utilizada atualmente na direção espiritual é a
psicologia moderna. Partiu-se da desconfiança de que esta psicologia não ofereceria
as respostas mais adequadas em consonância com a fé católica. As psicologias
hodiernas foram formadas sobre fundamentações modernistas, caracterizadas por
uma postura anticristã desde a sua origem. A filosofia, a psicologia e as ciências
modernas são frutos do renascimento, do iluminismo, do positivismo, do marxismo e
de outros “ismos” que buscam superar os valores cristãos que fundaram a
sociedade ocidental (Echavarria, 2005).
Verteu-se, então, a pesquisa para um conhecimento anterior ao
renascimento: idade média e período clássico. Não foi encontrado em vernáculo
literatura adequada que indicasse outros caminhos. As principais fontes sobre a
“psicologia” anterior ao renascimento foram encontradas nos idiomas inglês e
espanhol, notadamente em Brennan e Echavarria. Alguns textos bem recentes
contribuíram para a compreensão do tema, mas não fizeram acréscimos a estes dois
autores. O item 2.2.3 apresenta, em linhas muito sintéticas, a “psicologia” tomista.
O termo psicologia é colocado entre aspas porque na época de Santo Tomás
e de Aristóteles o termo ainda não havia sido cunhado com o sentido atual. Falava-
se em estudo da alma ou psyque.
Nas considerações finais, fez-se um comparativo breve entre a psicologia
aristotélico-tomista e as psicologias modernas. Opinou-se sobre qual seria o sistema
mais adequado para a direção espiritual no âmbito católico.
A dimensão cognitiva
Para o conhecimento de uma abordagem psicológica há que se considerar
em que teoria do conhecimento ela está ancorada. A Psicologia Tomista entende
que a essência do conhecimento humano é uma possessão imaterial da forma do
objeto conhecido. O conhecimento é construído com base no conhecimento sensível
e na inteligência.
O conhecimento sensível possui duas grandes fontes de coleta de dados:
os sentidos externos, compostos pelos cinco sentidos externos: tato, visão, audição,
gosto, olfato e os sentidos internos, os quais merecem uma pequena explanação:
sentido comum – é a fonte, a raiz dos sentidos externos, ele capta a sensação e
lhe dá sentido, por exemplo o olho vê mas não entende, o sentido comum junta
todas as percepções e consegue distinguir, por exemplo o branco, do amargo;
imaginação ou fantasia – recebe a percepção unificada pelo sentido comum, para
reter, conservar e formar uma imagem (ou fantasma) do que está sendo conhecido.
Estes dois são chamados sentidos formais, são os responsáveis pela captação das
formas sensíveis.
Os sentidos internos possuem ainda dois sentidos chamados intencionais: o
sentido cogitativo ou estimativo e a memória. A estimativa ou cogitativa é o sentido
responsável por ordenar as intenções, os valores de nocividade, inocuidade ou
capacidade de prazer da coisa percebida, que pode ser material ou imaterial. A
memória conserva os objetos e as suas intenções.
Inteligência é o segundo fator básico na teoria do conhecimento tomista.
Para Santo Tomás “o intelecto é a faculdade mais alta da alma humana” (Ibidem) e a
dimensão intelectual é a mais própria do homem. O autor considera que a
inteligência é profundamente incompreendida pela visão moderna, que a coloca
como subordinada a fatores biológicos, uma mera adaptação do indivíduo ao meio,
através dos mecanismos de assimilação e acomodação, como no modelo
construtivista de Piaget.
O entendimento é um ato que brota da plenitude. Através do intelecto ou
razão conhecemos a dimensão mais profunda da realidade. Este conhecimento no
homem é universal e prescinde da matéria, o homem transcende as necessidades
vitais de seu organismo e tem a capacidade de exercer um olhar desinteressado
sobre a realidade. A isso se chama contemplação, cujo objeto próprio é a essência
das coisas materiais.
O conhecimento começa pelos sentidos, o intelecto encontra seu objeto nas
imagens (fantasma), sobre as quais exercerão atividade a cogitativa, a memória, a
vontade, a prudência e todas as faculdades que se queira utilizar.
O intelecto é o centro da personalidade, o que proporciona a noção de “eu”, é
o que dirige a conduta e é a instância capaz de captar a razão final, que contém em
si todos os fins particulares e, em função do fim, ordenar a ação junto com a
vontade.
A dimensão afetiva
Santo Tomás fala em potências apetitivas, estas geram atos que a psicologia
moderna chama de emoções. Pode-se dizer que os apetites estão por detrás das
emoções, são as potências que as possibilitam. Apetites são a tendência para algo
motivado por um desejo. Há três grandes potências apetitivas: a natural, sensitiva e
a volitiva.
O apetite natural está ligado à vida vegetativa. O apetite sensitivo divide-se
em concupiscível, ou tendência para bens necessários e fáceis de obter; e
irascível, tende para bens de aquisição árdua. Por fim, a potência volitiva refere-se
ao exercício da vontade.
Os atos produzidos pelo apetite sensitivo produzem alterações corporais e
são denominados paixão. Em termos contemporâneos, sentimentos são os atos
que produzem menor alteração corporal e emoções os que produzem alterações
mais intensas.
Cavalcanti Neto (2012, pg.151), apresenta a seguinte classificação tomista das
emoções, com base na síntese de Brenan (1965):
3. METODOLOGIA
Este artigo foi escrito com base em pesquisa bibliográfica. Buscou-se apresentar
suscintamente os princípios filosóficos das psicologias modernas e da psicologia
aristotélico-tomista e traçar alguns marcos comparativos entre elas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRENNAN, R.E. Thomistic Psychology. New York: The Macmillan Company, 1952.
_______ Psicologia General. Madrid: Ediciones Morata, 1965.
MORAIS, D.X.; CONGIUNTI, L.; MATOS, R.G. Estudo de Temas Tomistas. Maringá:
Editora Vivens, 2014.