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Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

Antunes, A. & Júlio-Costa, A. 1


PROJETO GRÁFICO E CAPA: Barbra Rio Lima
FOTO DA CAPA: freepik.com

Proibida a reprodução total ou parcial


deste livro, por qualquer meio e sistema,
sem o prévio consentimento dos autores.

Direitos reservados por:


Andressa Moreira Antunes
Annelise Júlio Costa
Cartilha iLumina

GUIA PARA PAIS:


7 princípios para entender e agir com os filhos

ANDRESSA ANTUNES
ANNELISE JÚLIO-COSTA

Belo Horizonte, 2017


Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

GUIA PARA PAIS:


7 princípios para entender e agir com os filhos

A missão de ser pai e mãe não é nada fácil! Ora se usa a intuição
para lidar com os filhos, ora se procura dicas na internet, mas fato é
que, normalmente, se aprende a partir de muitas tentativas e erros.
Será que há um método para lidar com os filhos? Há um jeito mais fá-
cil de manejar as birras, de fazer com que eles obedeçam, de fazer o
dever de casa sem os dois morrerem de estresse? Vamos mais longe,
será que é real ser aquele que assume o papel de dizer não e ao mesmo
tempo ter momentos super divertidos com os filhos?
Existe um método e é possível, sim, fazer tudo isso - e até um pouco
mais. Porém, já adiantamos uma coisa: isso só acontecerá com muito
empenho. É difícil, é desgastante no começo, é cansativo, mas é a úni-
ca via para aprender uma forma mais assertiva de lidar com os filhos.
Se estiver disposto a isso, continue lendo a cartilha. A partir de agora,
vamos apresentar os 7 princípios que lhe auxiliarão a lidar com crian-
ças de 2 a 10 anos.

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Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

PRINCÍPIO Nº 1:
O cérebro da criança não é como o cérebro de um adulto

Muitas vezes esperamos da criança o raciocínio e atitude de adul-


tos frente às obrigações e atividades do dia-a-dia.

Vamos pensar juntos, se eu tenho uma atividade a ser cumprida,


o que eu espero de mim? Que eu faça tudo corretamente, dentro do
prazo estipulado e sem ninguém me lembrar disso. Faço porque sei que
se eu não executar, posso ter algum problema no futuro. Eu tenho uma
visão a longo prazo que faz com que eu não pense apenas no meu con-
forto imediato.
Esta é a forma de agir de um adulto quando lida com situações que
envolvem planejamento, manejo de tempo, postergação da recompen-
sa (fazer uma coisa chata no momento atual para ganhar algo no futuro)
e autorregulação do comportamento. As atividades do nosso dia-a-dia
envolvem todas essas habilidades, já tinha notado isso? Perceba como
é complexo! Muitas vezes esperamos que as crianças façam suas obri-
gações sem ninguém mandar e sem supervisão, basicamente exigimos
todas essas habilidades das crianças. Será que é realista esperar que
elas consigam? Não! A explicação para isso é o desenvolvimento cere-
bral. O cérebro se desenvolve até os 21 anos de idade e durante a in-
fância uma região chamada de lobo frontal ainda não está totalmente
amadurecida. Logo, habilidades ligadas a essa região ainda estão em
desenvolvimento. Adivinha quais são as habilidades? Todas as descritas
acima.

Muitas vezes esperamos da criança uma atitude de adulto para re-


solver seus problemas e conflitos.

Quando você tira o tablet da criança, quando é negado algo para


ela ou quando ela não consegue algo que gostaria, o que acontece? Va-
mos trocar de pergunta: o que você gostaria que acontecesse? Talvez
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Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

que ela reagisse com menos intensidade e de forma mais controlada,


minimamente parecido com a gente. O choro poderia ser mais curto e
baixo, ela poderia entender que é para o bem dela o que você fez e que
muitas vezes as coisas não saem como queremos. Basicamente, gosta-
ríamos que ela regulasse suas emoções, que conseguisse ver além dela
e das suas vontades.
Olha, isso não é nada fácil, e quanto mais nova a criança mais difícil
é para ela. Primeiro porque entender e agir sobre os sentimentos é algo
complexo que envolve habilidades que ainda estão em desenvolvimen-
to durante a infância. Segundo, porque as crianças são mais imediatis-
tas, então só existe o agora. Não ter o que eles querem no presente é
frustrante e lidar com isso é algo que se aprende com o tempo e depen-
de muito de vocês, pais e mães!

PRINCÍPIO Nº 2:
A criança não nasce sabendo,
os pais que guiam a sua aprendizagem

Ser passivo na arte de ser pai ou mãe não existe! Deixar que a crian-
ça aprenda sozinha oferece a chance de ela aprender errado! “Pregui-
ça” é uma palavra que não pode existir no dicionário dos pais quando se
trata de educar um filho.
Se você não ensina à criança, não espere que ela saiba! Se você não
ensina a escovar dentes, sentar à mesa para comer sem o tablet, dar
bom dia para o porteiro, não espere que ela faça tudo isso sozinha. Mas
você pode dizer: - Eu ensino! Já disse várias vezes o que ela tem que fa-
zer, mas ela não me escuta! Caro pai ou mãe, o que temos para te dizer
é que você não ensinou. Ensinar envolve ser compreendido, não é ape-
nas falar, mas dizer de uma forma que o outro entenda. Ensinar envol-
ve um método e para cada coisa que você quer ensinar, há uma forma

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mais eficiente. Ensinar envolve prática, você precisa treinar os bons há-
bitos com seu filho. Ensinar envolve dar o suporte adequado para que
o aprendiz aprenda.

• O que é ser compreendido pela criança?

Primeiro, é entender o vocabulário e nível de linguagem da criança


para dar ordens compatíveis com esse nível. Imaginemos uma criança
de 3 anos que fala usando frases de duas palavras. Para essa criança é
muito mais fácil compreender frases curtas. Se você tentar dar instru-
ções ou ordens longas (ex.: - Filho, você não pode quebrar o brinque-
do, ele custa caro e a mamãe fica triste com isso. É importante você
aprender a dar valor às coisas, não é todo mundo que pode ter o que
você tem), correria o risco de ela não compreender totalmente o que foi
dito. Nas situações em que você precisa ser totalmente compreendido,
deverá falar frases mais curtas e com palavras mais frequentes no vo-
cabulário da criança (ex.: - Filho, quebrar brinquedo não! Brincar assim
[demonstrar o jeito certo de brincar]).
Segundo, para ensinar é necessário entrar no mundo da criança.
Você precisa fazer com que o que você fala faça sentido no mundo dela.
Use exemplos dos filmes e jogos que ela gosta, fale dando exemplos de
coisas que já aconteceram com ela.

• O que é ter um método de ensino?

É pensar em estratégias e tentar criar uma forma de avaliar se o que


você quis ensinar foi aprendido. Você pode se questionar: - A criança
conseguir fazer sozinha o que foi ensinado não é a melhor evidência de
que ela aprendeu? Correto! Porém, alcançar 100% de êxito é algo de-
morado. Então, é preciso aprender a observar os pequenos avanços e
as pequenas conquistas. É importante reconhecer o esforço ainda que
o resultado final não seja satisfatório. Para isso, você precisa treinar a
sua capacidade de observação:

1. Tente ver os comportamentos da criança de forma isolada (ex.:

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Ela não consegue fazer xixi no vaso)


2. Observe o padrão desse comportamento: frequência com que
acontece, quando e onde (ex.: normalmente ela faz xixi cinco ve-
zes ao dia, nos horários x ela nunca vai ao banheiro, sempre faz
xixi pela casa)
3. Observe se esse comportamento exige etapas (ex.: Ela precisa ir
ao banheiro, abaixar a roupa, sentar no vaso, usar o papel higiêni-
co, jogar no lixo, dar descarga, subir a roupa e lavar as mãos)

Se entendemos detalhadamente toda essa dinâmica do comporta-


mento, conseguimos reconhecer as pequenas mudanças decorrentes
do ensino (ex.: se ela deixa de fazer xixi pela casa e passa a fazer no ba-
nheiro, ainda que não seja no vaso, isso já é um sucesso!).

• O que é dar um suporte adequado?

É auxiliar no processo de aprendizagem, supervisionando e orien-


tando. Quando você quiser ensinar atividades mais complexas, como
fazer o dever de casa, é necessário dar muito suporte no início e, gra-
dualmente, retirar esse apoio. Assim, você garante que a criança apren-
derá corretamente. Vamos tomar como exemplo o dever de casa. No
início, você ajudará seu filho a organizar o material e olhará quais são
as atividades, permanecerá com ele durante todo o dever, conferirá
se tudo foi feito corretamente e depois o ajudará a guardar o material.
Após um período com esse padrão de supervisão, você passará a ajudar
apenas no começo e final do dever e, depois disso, auxiliará apenas na
etapa final.

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PRINCÍPIO Nº 3:
Faça o que eu faço! Os pais são os principais modelos do filho

O seu filho vai copiar o seu comportamento, então garanta que você
será um bom exemplo. As crianças têm uma capacidade de imitação
gigantesca e é isso que garante que elas aprendam a lidar com diferen-
tes situações e demandas. As primeiras e principais referências de imi-
tação da criança são os pais, então se preocupe com isso! Não adianta
ensinar a não bater, se você bate nela. Se quer ensinar a falar baixo, fale
também. Se te preocupa o tempo que seu filho fica no celular, olhe se o
tempo que você gasta com essa atividade também não está exagerado...

PRINCÍPIO Nº 4:
Crie um piloto automático saudável para a criança

Todos nós vivemos no piloto automático. Dificilmente paramos para


pensar na nossa rotina diária, apenas fazemos. Não é um problema vi-
ver assim, pelo contrário, nos economiza tempo e esforço! Todavia, é
preciso garantir que o piloto automático seja saudável, especialmente
para as crianças. Elas precisam ter horário para comer, tomar banho,
acordar e dormir, fazer dever de casa e brincar. Por isso:

• Regra nº 1: Crie uma rotina para a criança.

Sistematize os horários e garanta que todas as atividades estejam


adequadas para a idade. Evite fugir da rotina. As rotinas podem variar
caso a caso, conforme hábitos e necessidades familiares, mas o impor-
tante é a consistência dos acontecimentos semanais.
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Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

• Regra nº 2: Deixe a rotina visível.

Faça um quadro de horários e coloque a sequência de todas as ati-


vidades (ex.: Acordar, trocar de roupa, tomar café e escovar os dentes).
Quando a rotina está esquematizada em um quadro, é mais fácil para a
criança visualizar o que é esperado dela.

PRINCÍPIO Nº 5:
Preste atenção no bom comportamento do seu filho

Mostre para o seu filho que ele está no caminho certo, reconheça
o esforço dele. Elogie-o, abrace e mostre sua satisfação com ele. Não
espere grandes eventos para agir dessa forma, reforce o bom compor-
tamento cotidiano.
Com a labuta do dia-a-dia você pode correr o risco de dar tanta
atenção para os problemas de comportamento que não reconhecerá
o bom comportamento do seu filho. Muitos pais acham que é obriga-
ção da criança se comportar bem e que o seu papel é disciplinar o mau
comportamento. Ao pensar assim você apenas ensina à criança o que
não fazer e não mostra o caminho das pedras, ou seja, o que ela deve
fazer.

10 Antunes, A. & Júlio-Costa, A.


Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

PRINCÍPIO Nº 6:
Compreenda o mau comportamento
e não deixe-o sair impune da história

Observação 1: Frequentemente o mau comportamento tem uma


função, ou seja, há um ganho com ele:

1. Chamar atenção - ex.: começar a gritar quando você está ao tele-


fone; enrolar para fazer o dever para ficar mais tempo com a mãe
2. Ganhar algo (ter acesso a privilégios) - ex.: começar a chorar para
ficar mais tempo na TV
3. Fugir de atividades - ex.: começa a fazer bagunça no dever de
casa para você liberá-lo dessa obrigação

Nessas situações, a melhor coisa é não deixar a criança conseguir o


que quer. Mantenha o controle da situação!
Observação 2: Algumas vezes a criança se comporta mal porque
está com fome, sono ou tédio. Faça de tudo para não chegar nesse pon-
to crítico, mas se chegar, apenas evite gerar novos problemas.
Observação 3: Algumas crianças têm problemas de comportamen-
to, pois possuem uma dificuldade elevada de manejar suas emoções e
regular seus comportamentos. Isso acontece com crianças com Trans-
torno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno do Espectro
Autista, Transtorno de Ansiedade, entre outros. Nestes casos, procure
um psicólogo. Há uma modalidade de intervenção conhecida como
treinamento de pais ou coaching parental que lhe ensinará estratégias
mais assertivas para manejar o comportamento da criança.
Observação 4: Estipule regras básicas (não bater, não quebrar brin-
quedo, não xingar etc.) e crie consequências imediatas para o descum-
primento delas. Preferencialmente, use a cadeira do pensar (um mi-
nuto para cada ano da idade da criança). O objetivo dessa estratégia
é criar uma consequência negativa para o comportamento da criança
que aconteça logo depois que ela se comportou mal. A cadeira do pen-

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Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

sar é uma dose equilibrada de punição que fará com que a criança en-
tenda limites e regras.

PRINCÍPIO Nº 7:
Tenha tempo para seu filho, brinque e curta com ele

Mais importante que ter muito tempo com o seu filho, é ter tempo
para interagir com qualidade. Tire um momento para dar total atenção
para ele (coloque o celular no silencioso, deixe a pilha de roupas ou as
vasilhas na pia), brinque e se divirta com ele. Quinze minutos diários de
atenção exclusiva para seu filho não sobrecarregam sua rotina de ativi-
dades. Entre no mundo dele, sem regras de adultos. Apenas se divirta,
pois uma hora a infância passa, mas as memórias permanecem!

12 Antunes, A. & Júlio-Costa, A.


Guia para pais: 7 princípios para entender e agir com os filhos

CONCLUSÃO

Não existe fórmula mágica para educar os filhos, e estes 7 princí-


pios estão longe de ser um manual de instrução. Fique atento(a) a estas
pequenas coisas que podem fazer a diferença na qualidade de intera-
ção entre pais e filhos, além de te trazer mais felicidade! O princípio
bônus que deixamos é: NINGUÉM É PERFEITO! A missão de educar os
filhos está difícil? Procure ajuda antes que o problema se torne maior.
Entenda que isso não significa fracasso ou incapacidade! Muito prova-
velmente existem fatores relacionados à criança, família ou mesmo do
ambiente que estão dificultando o dia-a-dia e um profissional da psico-
logia pode te ajudar, afinal ele estudou para isso. =)
Lembre-se que seu filho não precisa de uma super-mãe ou um su-
per-pai, e sim de pais dispostos a encarar o que vier pela frente, tendo o
foco sempre na felicidade.

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ANDRESSA ANTUNES

É psicóloga, mestre e doutoranda em saúde da criança e do adolescente


pela UFMG. Atua nas áreas de neuropsicologia, terapia cognitivo-comportamen-
tal infantil e treinamento de pais. O seu trabalho é voltado para os transtornos
do desenvolvimento e síndromes genéticas, especialmente na idade pré-esco-
lar. Andressa é membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
(SBNp). Além disso, é professora em diversos cursos de Neuropsicologia, Terapia
Cognitivo-Comportamental e Pedagogia pelo Brasil. É conferencista em diferen-
tes congressos nacionais e autora de livros e capítulos, além de artigos nacionais
e internacionais.
Entre em contato: neuropsicoterapiabh.com

ANNELISE JÚLIO-COSTA

É psicóloga e farmacêutica, mestre e doutoranda em Neurociências pela


UFMG. Atua nas áreas de neuropsicologia (avaliação e reabilitação), terapia cog-
nitivo-comportamental infantil e treinamento de pais. O seu trabalho é voltado
para os transtornos do neurodesenvolvimento e síndromes genéticas em crian-
ças em idade escolar, adolescentes e jovens adultos. Além disso, presta assesso-
ria escolar para pais e assesoria para profissionais da área de neuropsicologia em
início de carreira em relação à questões técnicas e de gestão na montagem de
um consultório/clínica. Annelise é membro da diretoria da Sociedade Brasileira
de Neuropsicologia (SBNp). Além disso, é professora em diversos cursos de Neu-
ropsicologia, Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Brasil. É conferencista em
diferentes congressos nacionais e internacionais e autora de livros e capítulos,
além de artigos nacionais e internacionais.
Entre em contato: neuropsicoterapiabh.com

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