Plano de Ensino Do Curso de Liberdade Bruno Augusto

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PLANO DE ENSINO

Curso de formação Professor: Bruno Augusto da Costa


em Filosofia Política: Curso: Liberdade Disciplina: Filosofia Política
Liberdade Carga Horária: 42 Horas. Nº Aulas Semanais: 1 aula de 3 Horas.
Turno: Noturno Ano: 2021

EMENTA

Tendo em vista a profusão de debates contemporâneos a respeito do tema da liberdade é necessário


oferecer as narrativas à perspectiva filosófica. Nesse sentido, expor algumas bases fundamentais a
respeito da liberdade que são oriundas do liberalismo e do marxismo, enquanto redutos de categorias
que fomentam o contexto político atual. De direita à esquerda, os filósofos modernos elaboraram
diferentes concepções a respeito do tema, os quais têm sido assunto tradicional na história desde a
antiguidade. Dada esta riqueza conceitual o conteúdo a seguir são apenas recortes de um tema deveras
longo e complexo muito longe da exaustão de reflexão. A política é uma das disciplinas filosóficas que
fomentam as narrativas sobre o poder e a organização da sociedade. Este curso tem como objetivo
apresentar elementos da meditação a cerca da liberdade em três pensadores, e para tal realizou-se a
revisão bibliográfica a partir das contribuições de John Stuart Mill (1806-1873), Antonio Gramsci
(1891-1937) e Isaiah Berlin (1909-1997). Foram interpretadas as categorias de “liberdade civil ou
social” de Mill; “necessidade-liberdade” e “liberdade-disciplina” de Gramsci; e “liberdade negativa” e
“liberdade positiva” em Berlin. O fio condutor do curso ocorre em ordem cronológica e reflete a
categoria por distintas linguagens teóricas.

OBJETIVO GERAL

 Este curso de formação política objetiva fundamentar a liberdade a partir da perspectiva da


filosofia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Interpretar a liberdade civil na filosofia liberal clássica de John Stuart Mill.


 Interpretar a liberdade-necessidade e liberdade-disciplina na filosofia marxista de Antonio
Gramsci.
 Interpretar a liberdade positiva e liberdade negativa na filosofia liberal de Isaiah Berlin.

Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

PRIMEIRA PARTE – INTRODUÇÃO

Semana 1 – O que é liberdade para a filosofia política?


Semana 2 – Contexto histórico de origem da liberdade para os Liberais Clássicos.
Semana 3 – O pensamento de John Stuart Mill em linhas gerais.
Semana 4 – Liberdade Individual em John Stuart Mill.
Semana 5 – Exibição e debate sobre o filme “Germinal”

SEGUNDA PARTE – DESENVOLVIMENTO

Semana 6 – Contexto histórico de origem da liberdade para os marxistas.


Semana 7 – O pensamento de Antonio Gramsci em linhas gerais.
Semana 8 – Liberdade-disciplina e liberdade-necessidade em Antonio Gramsci.
Semana 9 – Exibição e debate do filme “Saló, os 120 dias de Sodoma.“

TERCEIRA PARTE – CONCLUSÃO

Semana 10 – Contexto histórico de origem da liberdade no liberalismo contemporâneo.


Semana 11 – O pensamento de Isaiah Berlin em linhas gerais.
Semana 12 – Liberdade negativa e liberdade positiva em Isaiah Berlin.
Semana 13 – Exibição e debate sobre o documentário “O dilema das redes”.
Semana 14 – Conclusão sobre a liberdade para a política e a ameaça fascista.

METODOLOGIA DE ENSINO

 O curso será ofertado na modalidade remota por meio de lives.

RECURSOS DIDÁTICOS

 Internet
 Livros
 Cinema
 Debate

AVALIAÇÃO

 Elaboração de uma dissertação para cada uma das três partes do curso;
 Participação das lives;
 Participação dos debates.

Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
REFERÊNCIA BÁSICA

BERLIN, I.. Quatro Ensaios sobre a Liberdade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981.
GERMINAL. Direção: Claude Berri. [S.I.]: Renn Productions; France 2 Cinéma; DD Productions;
Nuova Artisti Associati, 1993. 1 DVD (160 min).
GRAMSCI, A.. Cadernos do Cárcere. Volume 1: Introdução ao estudo da filosofia; A filosofia de
Benedetto Croce. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
GRAMSCI, A.. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.
MARX, K. Teses sobre Feuerbach. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm. Acesso em 26 de out. de 2020.
MILL, J. S.. Ensaios sobre a Liberdade. Disponível em:
http://filosofia.com.br/figuras/livros_inteiros/263.txt. Acesso em 26 de out. de 2020.
SALÓ, OS 120 DIAS DE SODOMA (Salò o le 120 giornate di Sodoma). Direção: Pier Paolo Pasolini.
Itália: 1975. Cópia Digital (116 min.): color. Legendado. Port.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BERNARDO, João. Labirintos do Fascismo – Na encruzilhada da ordem e revolta. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/diversos/labirintos-do-fascismo.pdf>. Acesso em
27 de julho de 2020.
MUSSOLINI, Benito; TRÓTSKI, Leon. A Doutrina do Fascismo/ Fascismo – O que é e como
combatê-lo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2019.
PASOLINI, Pier Paolo. Escritos corsários. São Paulo, Editora 34, 2020.
__________________. Poemas de Pier Paolo Pasolini. São Paulo, Cosac & Naify, 2015.
PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007
POULATZAS, Nicos. Fascismo e Ditadura: a III Internacional face ao fascismo. VOL. II. Porto,
Portucalense Editor, 1972.
REICH, Wilhelm. Psicologia de Massas do Fascismo. São Paulo, Martins Fontes, 2001
RÜSEN, Jörn. Razão histórica - Teoria da História I: os fundamentos da ciência histórica.
Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2001.
___________. Reconstrução do passado – Teoria da História II: os princípios da pesquisa
histórica. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2007a.
Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
___________. História viva - Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico.
Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2007b.
TOGLIATTI, Palmiro. Lições sobre o Fascismo. São Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas,
1978.
KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. Rio de Janeiro, Edições do Graal, 1977.

ANEXO I – Material de referência para as lives:

1. John Stuart Mill: “liberdade civil ou social”

O pensador inglês John Stuart Mill, na obra “Ensaios sobre a Liberdade” (1859), explica a liberdade
humana como uma primeira instância ou esfera de ação que descreve a concepção da liberdade. Afirma:
“Ela compreende, primeiro, o domínio interno da consciência; liberdade de pensamento e sentimento;
absoluta liberdade de opinião e sentimento sobre todos os assuntos, práticos ou especulativos, científicos,
morais ou teológicos.” (MILL, 2020, p. 6). Trata-se de percepções íntimas, representações, sentidos e
posturas individuais. Possui modo prescritivo, uma vez que subjacente ao “domínio interno” estão os valores
e costumes baseados nos tipos de “consciência” que existem anteriormente, no entanto é experimentada
apenas por uma parcela livre nesses termos. Com isso, a experiência coletiva com a liberdade resulta na
constatação de um status de liberdade, porque os sujeitos são mais ou menos livres segundo as estâncias das
próprias consciências individuais. 1
Seguindo a exposição, Mill escreve: “Em segundo lugar, o princípio requer liberdade de gostos e
objetivos: construir os planos de nossa vida para que se adaptem ao nosso caráter, fazer como gostamos,
sujeitos às consequências que possam surgir.” (MILL, 2020, p. 6). Para o autor, as pessoas devem ser livres
mesmo que outras não concordem com suas condutas. Como consequência é também inevitável os conflitos
das vontades que são particulares e variadas. Em certa perspectiva é possível afirmar que a liberdade de
“gostos e objetivos” vai contra a predestinação social, embora Mill já aponte obstáculos da divergência. O
pensador opõe-se a lógica do poder aristocrático de que a liberdade deveria ser uma benesse estabelecida
pelo nascimento ou pela função exercida na sociedade.
Mill é reconhecido como liberal clássico e utilitarista, ele defende: “Em terceiro lugar, a partir desta
liberdade de cada indivíduo, segue-se a liberdade, dentro dos mesmos limites, de associação dentre

1
É tendência da filosofia burguesa o sua noção de sujeito entendida como universal. As concepções de liberdade aparecem na
dependência do tipo particular de consciência a que se referem seus autores.
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indivíduos; liberdade para unir-se, por qualquer propósito que não envolva danos a outros.” (MILL, 2020, p.
6). O filósofo pensa a liberdade no nível pessoal, seus interesses individuais é que levam a associação por
meio dos propósitos comuns. Ele estabelece como limite que a pessoa não deve ser obrigada a integrar
determinado grupo e que a associação requer a maior idade legal estabelecida pelo Estado. Conclui sobre os
três pontos: “Nenhuma sociedade na qual estas liberdades não sejam, no todo, respeitadas, é livre, qualquer
que seja sua forma de governo; e nenhuma será completamente livre se não houver liberdade absoluta e
irrestrita.”. (MILL, 2020, p. 6). Essa liberdade é “absoluta e irrestrita” no tocante em que está harmonizada à
“consciência” ou ao “caráter” valorativo da sociedade em questão.
Destaca-se que esta esfera de liberdade é contraposta aos padrões da Idade Média europeia e
significa uma verdadeira ruptura conceitual, institucional e de direito propiciada por forças políticas como o
positivismo, as filosofias liberais precedentes e as revoluções burguesas2. Mill considera que pensadores
destas tradições políticas promoveram reformulações abstratas, buscaram solucionar os problemas sociais
por meio de ideias filosóficas que prescindiram das experiências históricas concretas, o que resultou em
restrições das liberdades individuais, não em sua ampliação. A ”liberdade civil ou social” surge da dialética
entre as visões de mundo aristocrática e burguesa e ocorreu por meio de conflito entre a autoridade e a
liberdade que marcou a narrativa da filosofia política europeia da Grécia Antiga até a modernidade. No
feudalismo, o poder monárquico constitui proteção, mas ao se orientar para o poder absoluto tornou-se
despótico. Esclarece Mill: “Na história antiga, na Idade Média, em um grau reduzido, através da longa
transição do feudalismo até a época atual, o indivíduo era por si só um poder; e se ele tivesse ou grandes
talentos ou uma alta posição social, ele detinha um poder considerável.” (MILL, 2020, p. 29). Nesse sentido,
o poder na modernidade deve ser universalizado à medida que a liberdade individual também precisa ser
ampliada.
2. Antonio Gramsci: “necessidade-liberdade” e “liberdade-disciplina”

O italiano Antonio Gramsci pensa a liberdade3 de maneira concatenada à necessidade. Esta relação se
estabelece através da proposição de que a humanidade deve arquitetar o próprio destino. É por meio da
vontade e das lutas políticas que se pleiteia a superação das contradições da realidade conformada pelos

2
John Stuart Mill desenvolveu sua concepção de liberdade como governo limitado a partir das reflexões de pensadores como John
Locke.
3
No “Dicionário Gramsciano”, organizado por Guido Liguori e Pasquale Voza encontra-se o verbete “liberdade” redigido por
Rocco Lacorte. A editora do livro é a Boitempo e foi editado em 2017.
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antagonismos socais. Explica o filósofo comunista4 em tom estratégico em “Concepção Dialética da
História”: “A crítica, portanto, deve traduzir a especulação em seus termos reais de ideologia política, de
instrumento de ação prática; mas a própria crítica terá a sua fase especulativa, que assinalará o seu apogeu.”.
(GRAMSCI, 1989, p. 57). Não se trata da “necessidade-liberdade” como algo predeterminado na sociedade,
mas como um fenômeno que surgirá da crítica e antítese especulativa da ideologia dominante.
Para o pensador: “A questão é a seguinte: se este apogeu não será o início de uma fase histórica de
um novo tipo, na qual, necessidade-liberdade existindo organicamente compenetradas, não mais existirão
contradições sociais e a única dialética será a ideal, de conceitos e não mais de forças históricas.” .
(GRAMSCI, 1989, p. 57). Esta concepção não opera com referência apenas no que está situado na fase
histórica, mas sim no que por ação dialética deve ser conquistado. No “Caderno 6”, que compõe os
“Cadernos Miscelâneos”, em “Introdução ao estudo da filosofia” (1932-1933), Gramsci apresenta
apontamentos sobre temas variados, o militante conceitua a “liberdade-disciplina”:
“O conceito de liberdade deve ser acompanhado pelo de responsabilidade que gera a
disciplina, e não imediatamente a disciplina, que neste caso se compreende como imposta de
fora, como limitação forçada da liberdade. Responsabilidade contra arbítrio individual: só é
liberdade aquele “responsável”, ou seja, “universal”, na medida em que se propõe como
aspecto individual de uma “liberdade” coletiva ou de grupo, como expressão individual de uma
lei.”. (GRAMSCI, 1999, p. 234)
A liberdade está, portanto, em movimento dialético. Não é uma categoria fixa e determinada, mas
um fenômeno a ser inventado em um vir a ser emancipador. As ideias de liberdade modificam, como alteram
as relações sociais e transformam as necessidades humanas. É natural da própria acepção de liberdade
exigir o repertório do que há de ser livre, pois toda liberdade é liberdade para alguma coisa. Seu propósito
transcende a si mesma e decorre acompanhado de outros que lhe fornecem as substâncias e atualizações do
que é ser liberto. “Revela-se, assim, que o conceito de “necessidade” histórica está estreitamente ligado ao
de “regularidade” e de “racionalidade”.”. (Gramsci, 1989, p. 122). Pensar filosoficamente a liberdade a
partir desta lógica é entender que seu desdobramento está sujeito a “racionalidade” da conjuntura em que foi
engendrada. Sendo assim funciona como produto da herança das “racionalidades” disponíveis no corpo
social. Os seres humanos são livres de acordo como se compreende o desenvolvimento histórico das
“necessidades” contrapostas entre a liberdade e a autoridade, entre revolução e a conservação, ou entre
esquerda e direita, para melhor alcunhar a polaridade política hodierna.
Elucida Gramsci: “A “necessidade”, no sentido “especulativo abstrato” e no sentido “histórico
concreto”: existe necessidade quando existe uma premissa eficiente e ativa, cujo conhecimento nos homens

4
Em um texto sobre liberdade é imperativo frisar que Antonio Gramsci em sua biografia foi político fundador e dirigente do
Partido Comunista da Itália. É também vítima do fascismo e elaborou boa parte de sua filosofia desde o cárcere do regime de
Mussolini.
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se tenha tornado operante, ao colocar fins concretos à consciência coletiva e ao constituir um complexo de
convicções e de crenças que atua poderosamente como as “crenças populares”.” (GRAMSCI, 1989, p. 57).
Não basta que a liberdade seja oferecida como ideia peculiar nos discursos políticos. É exigido que a
liberdade porte existência material. Que ela seja de fato uma realidade social palpável, não mero estratagema
fundamentado na cultura e assentado como um ideal sem garantia de efetividade. Ilustra o pensador:
Na premissa devem estar contidas, já desenvolvidas, as condições materiais necessárias e
suficientes para a realização do impulso da vontade coletiva; mas é evidente que dessa
premissa “material”, quantitativamente calculável, não pode ser afastado um certo nível de
cultura, isto é, um conjunto de atos intelectuais, e destes (como seu produto e conseqüência),
um certo complexo de paixões e de sentimentos imperiosos, isto é, que tenham a força de
induzir à ação “a todo custo” (Gramsci, 1989, p. 122).
Assim, a liberdade gramsciana é aquela descendente das “Teses sobre Feuerbach” em que Karl Marx
(1818-1883), por exemplo, coloca que: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras
diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”. (MARX, 2020, p.1). A liberdade só pode surgir
genuinamente se ela for reinventada, não acolhida, ingênua e facilmente, através de um pacote de definições
reacionárias ou conservadoras já deliberadas a priori. No marxismo, a prática filosófica implica que a atitude
intelectiva deve caminhar lado a lado do anseio pelas mudanças sociais. Aspira à renúncia do modo de
produção burguês, seus valores, direitos e modos de vida. “A questão de saber se ao pensamento humano
pertence a verdade objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática”. (MARX, 2020, p.1).
Como que se ao conhecer as frações da totalidade social fosse possível também transformá-la, com isso
liberar a humanidade do encarceramento condicionante das ideias preconcebidas e modo de produção social
derivado delas.
3. Isaiah Berlin: “liberdade negativa” e “liberdade positiva”

O filósofo russo-britânico Isaiah Berlin publicou, originalmente, o ensaio “Dois Conceitos de


Liberdade” em 1958. Berlin foi um pensador liberal e realizou a análise das ideias de “liberdade negativa” e
“liberdade positiva” atento tanto a campo de concepção das categorias, quanto as crises e exemplificações
históricas. Não é apenas a linguagem a respeito da liberdade que aparecem em suas elaborações reflexivas,
mas também as influências históricas de acontecimentos como a Guerra Fria. Escreve: “Somente um
materialismo histórico muito vulgar é que nega o poder das idéias e afirma que os ideais representam meros
interesses disfarçados.”. (BERLIN, 1981, p.134). A crítica do autor aos elementos filosóficos do marxismo
pode ser interpretada como luta política no aspecto cultural, mas também resultou da produção de sínteses
com esse ramo filosófico opositor. É característica da narrativa da Filosofia Política essa relação de ideias
contrapostas e que, todavia, pertencem ao mesmo escopo da democracia europeia.
Para Berlin, a “liberdade negativa” é aquela que irá delimitar área em que o sujeito ou um grupo de

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sujeitos devem ter a permissão de serem ou fazerem sem a interferência de outras pessoas, ou seja: até que
ponto alguém deve ser governado? “Os homens em grande parte são interdependentes e a atividade de
nenhum homem é tão completamente privada, que nunca venha a obstruir as vidas dos outros de uma forma
ou de outra.”. (BERLIN, 1981, p.137). Esse acontecimento é de fácil constatação, visto que os grupos
humanos são produzidos por interesses divergentes, a ponto de que a ascensão da liberdade de alguns, pode
ser de fato o decréscimo da liberdade de outros. Desta forma, a liberdade tornar-se negativa, pois é
produzida por meio da não interferência na vida dos indivíduos. Para que essas pessoas pudessem ter
liberdade no aspecto negativo é suficiente não interferir em suas condutas ou posturas. Esta é a “liberdade
de...” alguma coisa. Explica Berlin:
A defesa da liberdade consiste na meta “negativa” de contrapor-se à interferência. Ameaçar um
homem com perseguição, a não ser que ele se submeta a um tipo de vida em que ele não exerce
qualquer escolha de suas metas, deixar-lhes aberta apenas uma porta, fechando todas as outras,
qualquer que seja a perspectiva nobre que tal porta ofereça ou por mais benevolente que seja os
motivos daqueles que se encarregam disso, é pecar contra a verdade segundo a qual ele é um
homem, um ser com uma vida própria a ser vivida. (BERLIN, 1981, p. 138)
Já a “liberdade positiva” para este pensador liberal é aquela que aborda “o que” ou “quem” é a
origem das interferências e controles que agregam poder para definir o que sujeito é ou realiza. Seu aspecto
primordial vista refletir por quem os indivíduos são governados. Esta definição defende o aspecto da
“liberdade para...” alguma coisa. “O sentindo “positivo” da palavra “liberdade” tem origem no desejo do
indivíduo de ser seu próprio amo ou senhor. Quero que minha vida e minhas decisões dependam da mim
mesmo e não de forças externas de qualquer tipo.”. (BERLIN, 1981, p.142). Esta posição tem como central
a ação da responsabilidade. O ser humano só possui liberdade à medida que é potente para escolher os fins e
valores que deseja. Esclarece Berlin: “como no caso do ego “positivamente” livre; essa entidade pode ser
alcançada ao nível de alguma entidade superpessoal um Estado, uma classe, uma nação ou a própria marcha
histórica, considerada como um sujeito de atributos mais “verdadeiros” do que o ego empírico.”. (BERLIN,
1981, p. 144).
Ao explicar a “liberdade negativa”, Berlin ordena três pontos questionamento sobre a liberdade
individualista. Ele considera que John Stuart Mill confundiu dois tipos diferentes de conceitos, o primeiro,
que defende que toda coerção é má e que o oposto da interferência é bom. “O outro é que os homens devem
procurar descobrir a verdade ou aperfeiçoar um certo tipo de caráter que Mill aprova – crítico, original,
imaginativo, independente, não conformista até o nível da excentricidade. (BERLIN, 1981, p. 140). Para
Berlin, a liberdade individualista pode surgir tanto em sociedades disciplinadas, a exemplo daquelas
organizadas por meio do alto teor religioso e militar, como em grupos mais tolerantes ou indiferentes. O
segundo questionamento tem base na crítica de que a liberdade individualista é moderna. Trata-se de uma
invenção recente e que diz respeito a História do Ocidente e sua hegemonia política. “A predominância
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desse ideal tem sido mais uma exceção que uma regra.” (BERLIN, 1981, p. 141). Na terceira questão,
Berlin enfatiza que este tipo de liberdade não é só compatível com o autogoverno ou a ausência de governo.
O autoritário de tendências liberais é capaz de assegurar a liberdade pessoal quando é de seu interesse. “O
déspota que deixa a seus súditos uma ampla área de liberdade pode ser injusto ou estimular a desigualdade,
preocupar-se pouco com a ordem, virtude ou conhecimento.” (BERLIN, 1981, p. 141). Esta característica
do conceito é de grande importância para a crítica do pensador. Argumenta:
Alguns filósofos dotados de visão otimista a respeito da natureza humana e da crença da
possibilidade da harmonização dos interesses humanos, tais como Locke ou Adam Smith e.
sob certos aspectos, Mill, acreditavam que o progresso e harmonia social podiam existir lado a
lado com a manutenção de ampla área para a vida privada além de cujos os limites nem o
Estado nem qualquer outra autoridade deveriam ter permissão de passar. (BERLIN, 1981, p.
135)
A liberdade de escolha assume um papel articulador nas convicções liberais de Berlin. É por meio
desta categoria que o autor categoriza as produções de “liberdade negativa” e “liberdade positiva”, as quais
não são essencialmente antíteses e sim complementares. A condição humana é marcada por finalidades
diversas, situações de conflito, incompatibilidades culturais e materiais, assim as distintas espécies de
liberdade agregam aspectos, em sua visão, corretos e incorretos. Por isso o tema é tão caro para a filosofia de
um modo geral. Afirma Berlin: “Somos escravizados por déspotas – instituições, crenças ou neuroses – que
só podem ser eliminados ao passarem por um processo de análise e de entendimento. Somos prisioneiros de
espíritos malignos de nós mesmos.” (BERLIN, 1981, p. 150).

4. Conclusão e a ameaça fascista:

O fascismo é interesse, objeto e tema de vários trabalhos no âmbito da História, da Filosofia Política,
da Psicologia e do pensamento sobre a arte. Há muito por refletir sobre suas representações difundidas ao
longo do século XX, uma vez que o fascismo manifesta-se na forma de arte e mobiliza desejos, saberes e
poderes que o contexto contemporâneo também visa compreender. A presente conclusão está dividida em
três etapas. A primeira contém introdução com a contextualização da temática e a descrição do aparato
teórico-metodológico adotado nesta investigação. Esta etapa é generalista é visa trazer elementos
fundamentais do debate sobre o fascismo clássico. A segunda etapa é de aprofundamento e desenvolvimento
teórico e visa fornecer ao discurso os subsídios conceituais da Filosofia Política e da Psicologia. Esta etapa
realiza revisão bibliográfica sobre o Estado burguês, enquanto categoria percussora do nazifascismo, e
reflete a importância da ideologia na produção das subjetividades. A terceira etapa é analítica e conclusiva. A
partir da reflexão, sobretudo, da película “Saló 120 dias de Sodomia”, e de outros documentos de
sustentáculo busca-se observar o fascismo segundo Pier Paolo Pasolini (1922 — 1975). Obra estudada no
Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
decorrer no curso.
Para o historiador e filósofo Jörn Rüsen (1938), à luz do livro “Razão histórica - Teoria da História I:
os fundamentos da ciência histórica”: “A consciência histórica é, pois, guiada pela intenção de dominar o
tempo que é experimentado pelo homem como ameaça de perder-se na transformação do mundo e dele
mesmo.” (RÜSEN, 2001, p.60). De forma que cabe ao especialista das ciências históricas preservar as
nuances do passado mediante a interpretação crítica dos documentos. É tanto por consequência, como por
ação, que a filosofia produz-se através das narrativas, que são impulsionadas pela inquietação científica e a
necessidade humana de aprofundamento nas noções de temporalidade e de espacialidade. Nesse sentido é
por estes critérios apriorísticos, de inserção no tempo e espaço, que o artista italiano Pier Paolo Pasolini
destaca-se como um arcabouço de memória peculiar à história do fascismo.
Segundo Pasolini, a cumplicidade e a aceitação entre os velhos fascismos e os novos surgiram com:
“a ideia de que o pior mal do mundo é a pobreza, e que, portanto, a cultura das classes pobres deve ser
substituída pela cultura da classe dominante.” (PASOLINI, 2015, p.117)5. Pasolini é considerado um dos
principais cineastas do planeta e sua biografia revela a vida de intelectual subversivo e artista multifacetado.
Foi poeta, dramaturgo, romancista, ensaísta e crítico. Sua maior influência é o antagonismo político que
contrapôs subjetividades e movimentos culturais do século XX. Pasolini foi testemunha direta da disputa
ideológica entre o fascismo e o comunismo e viveu no auge da Guerra Fria. Nasceu na Bolonha, em 5 de
março de 1922 e foi o primeiro filho de uma professora do ensino básico e de um oficial militar. “Acontece
que, nos casos de “ditadura” em que a pequena burguesia funciona como força social e como classe reinante,
se assiste a um processo de substituição, relativa, mas por vezes radical, da antiga burguesia, por membros
da pequena burguesia”. (POULATZAS, 1972, p.32), explicou o filósofo marxista grego Nicos Poulatzas
(1936 — 1979), na obra “Fascismo e Ditadura: a III Internacional face ao fascismo”. Pasolini pertenceu,
economicamente, a classe pequeno-burguesa italiana, que de maneira genérica defendeu os valores morais
tradicionais do fascismo, mas encontrou oposição ideológica entre parte dos indivíduos que buscavam a
superação das ideias nacionalistas e patrióticas dominantes no decorrer da Segunda Guerra Mundial. A
resistência ao nazifascismo permanece em Pasolini como pressuposto e pode ser destacada em diferentes
obras literárias e cinematográficas do autor. É a partir da resistência a extrema direita que ele organiza sua
crítica à burguesia moralmente fascista, à política conservadora conduzida pelo viés católico e à sociedade
padronizada de massa do capitalismo. Em “Ampliação do “esboço” sobre a revolução antropológica da
Itália”, texto de 11 de julho de 1974, que é derivado de uma entrevista, Pasolini descreve:

5
A citação pertence ao trabalho “Os jovens infelizes”, que abre o volume póstumo de “Lettere luterane” (Cartas Luteranas),
publicado pela primeira vez em 1976. Pasolini reuniu neste livro textos políticos veiculados em jornais italianos ao longo de 1970.
Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
A ânsia do consumo é uma ânsia de obediência a ordem não anunciada. Cada um na Itália
sente a ânsia, degradante, de ser igual aos outros no consumir, no ser feliz, no ser livre: porque
esta é a ordem que inconscientemente recebeu, e à qual “deve” obedecer, sob pena de se sentir
diferente. Nunca a diferença foi um delito tão pavoroso quanto neste período de tolerância. A
igualdade não foi de fato conquistada, mas é uma “falsa” igualdade recebida de presente.
(PASOLINI, 2020, p. 95).

O presente curso não tem a pretensão de sistematizar ou organizar possíveis acepções, mas a partir da
análise das fontes expor o fascismo com base no fenômeno estético que é o cinema. Inicialmente é
necessário frisar que a temática, como elemento cultural complexo, não se figura apenas ao modo de
governo, ideologia ou modelo socioeconômico, mas tal qual o impulso subjetivo e coletivo da estrutura
humana transportado para a esfera social, pública e política. A cultura material aqui examinada tem a função
de revelar, empiricamente, esta subjetividade através da arte. Jörn Rüsen, na obra: “História viva - Teoria da
História III: formas e funções do conhecimento científico” apontou a relação entre estética e retórica para
historiadores. Para ele, o elemento estético proporciona a percepção do saber sensível e histórico. “É estético
o plano pré-cognitivo da comunicação simbólica, sobre a qual têm de se basear constructos cognitivos como
o conhecimento e o saber, na medida que influenciam culturalmente a vida de uma sociedade ou de um
indivíduo.” (RÜSEN, 2007b, p.29).
Por outro lado e de ponto importante para esta reflexão, o médico e psicanalista austríaco Wilhelm
Reich (1897 — 1957) entende a influência do fascismo a partir de sua Psicologia Política, como um “fator
subjetivo da história”, aquele fator que trata “da estrutura do caráter do homem numa determinada época e
da estrutura ideológica da sociedade que ela forma.”. (REICH, 2001, p. 15). No entendimento de Reich: “À
medida que desenvolvem as ideologias, os homens se transformam; é no processo de formação das
ideologias que vamos encontrar o seu fundo material.” (REICH, 2001, p. 74), ou seja, a estrutura do
fascismo caracteriza-se pelo pensamento metafísico que provém de uma base econômica. Há uma política
fascista que se dirige tanto aos valores e aos costumes do indivíduo, quanto existe uma política fascista que
se manifesta no campo social mais amplo: família, religião, escola, universidade, trabalho, quartel, tribunal,
mídia, partido...
O fascismo é um dos acontecimentos políticos mais significativos da História Contemporânea e
como tal serviu-se dos símbolos para promover a coesão das classes e a dominação na perspectiva da
subjetividade. O líder do Partido Fascista, Primeiro Ministro e “Dulce” (chefe supremo da Itália) Benito
Mussolini (1883 — 1945) discursou6 em 20 de Setembro de 1922: “a função do fascismo é realizar um todo
orgânico das massas trabalhadoras com a nação, para que possa amanhã dispor delas, quando a nação tiver

6
Este trecho foi retirado do livro “Labirintos do Fascismo”, de autoria do militante político e ensaísta português João Bernardo
(1946). Por sua vez, ele cita tb: SANTARELLI, Enzo (1981) Storia del Fascismo, 2 vols., Roma: Editori Riuniti. Pg 311.
Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
necessidade das massas, tal como o artista tem necessidade da matéria bruta para forjar as suas obras-
primas.”. (BERNARDO, 2015, p.1132). O fascismo então imagina seus mitos e os impõe como a única
realidade possível, assim em um nível estritamente propagandista e imagético, torna insustentável a
existência do contrassenso. Por este motivo se desenvolveu esteticamente no formato de celebração, de
festivais, de paradas e desfiles. “Nós criámos o nosso mito”, anunciou 7 Mussolini em Nápoles, poucos dias
antes da “Marcha sobre Roma”:
O mito é uma fé, uma paixão. Não é necessário que seja uma realidade. Ele é uma realidade
pelo facto de ser um punho, de ser uma esperança, de ser fé, de ser coragem. O nosso mito é a
nação, o nosso mito é a grandeza da nação! E a este mito, a esta grandeza, que queremos
transformar numa realidade completa, subordinamos tudo o resto. (BERNARDO, 2015,
p.1132).

Enquanto ficção, o fascismo torna-se real à medida que subordina as massas a sua própria liturgia. Os
aspectos principais da mitologia fascista envolvem o culto a masculinidade, o amor à violência, a apologia
da morte, o fascínio pelos heróis artificiais e demagógicos, o interesse sádico de dominação junto ao
paradoxal prazer masoquista da submissão, e a exaltação do espírito radical e revolucionário que tem como
alvo manter a tradição e o belicismo. Em a “Doutrina do Fascismo”, publicado pela primeira vez em 1932,
Mussolini coloca que: “O Estado fascista é um padrão internamente aceito de regra de conduta, uma
disciplina da totalidade da pessoa, permeia a vontade não menos que permeia o intelecto.”. (MUSSOLINI,
2019, p.19). Seu movimento enquanto conteúdo cultural é idiossincrático em todos os países em que se
estabeleceu, mas organiza-se, essencialmente, como modo de autoritarismo burguês sustentado pelas massas
pequeno-burguesas. O cientista político e historiador americano Robert O. Paxton (1932), no livro: “A
anatomia do fascismo” coloca que o fascismo se apresenta com a seguinte imagem primária:
um demagogo chauvinista discursando bombasticamente para uma multidão em êxtase; fileiras
disciplinadas de jovens desfilando em paradas; militantes vestindo camisas coloridas e
espancando membros de alguma minoria demonizada; invasões surpresas ao nascer do sol e
soldados de impecável forma física marchando por uma cidade capturada. (PAXTON, 2007,
p.23)

O fascismo é demagógico, uma vez que adotou narrativas anticapitalistas e antiburguesas e quando
alcançou o poder por vias democráticas não cumpriu suas ameaças. “O fascismo vê no espírito imperialista,
na tendência das nações a se expandir — uma manifestação de sua vitalidade.”. (MUSSOLINI, 2019, p.37).
Muitos se dedicaram a debater a importância do imperialismo para o entendimento do fenômeno do
fascismo. Palmiro Togliatti (1893 — 1964) é um exemplo e foi membro político e revisionista do Partido
Comunista Italiano. Em 1935 ele ministrou aulas para operários italianos exilados em Moscou, as quais

7
João Bernardo, em “Labirinto do Fascismo”, também indica as seguintes fontes: Antologiado em Ch. F. Delzell (org. 1971) e G.
S. Spinetti (org. 1938) 69. Ver também M. D. Irish (1946) 93, W. Laqueur (1996) 25 e D. Sassoon (2012) 127.
Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.
culminaram na obra “Lições sobre o fascismo”. Ele explica:
dadas as relações de classes e dada a necessidade para os capitalistas de garantir os seus
próprios lucros, a burguesia deve encontrar formas para exercer uma forte pressão sobre os
trabalhadores. Por outro lado os monopólios, isto é, as forças dirigentes da burguesia, se
concentram ao máximo e as antigas formas de governo tornam-se obstáculos ao seu
desenvolvimento. A burguesia deve voltar-se contra o que ela mesma criou, pois o que foi para
ela um elemento de desenvolvimento tornou-se hoje um obstáculo à conservação da sociedade
capitalista. É por isso que a burguesia deve tornar-se reacionária e recorrer ao fascismo.
(TOGLIATTI, 1978, p.4).

Reich afirma que: “Existe uma relação essencial entre a estrutura econômica da sociedade e a
estrutura psicológica das massas dos seus membros.”. (REICH, 2001, p. 22). No sentido de que a ideologia
dominante é sempre a ideologia da classe dominante, ao passo que diante da crise capitalística, a alternativa
política prática adotada pelo subalterno está em reforçar o que lhe é estrutural. Daí o pacto entre as formas
sociais reacionárias, aquelas que são contrárias ao progresso ou a transformação do modo de produção da
sociedade capitalista. O filósofo marxista brasileiro Leandro Konder (1936 — 2014), no livro “Introdução
ao Fascismo”, conclui que:
O fascismo é um movimento chauvinista, antiliberal, antidemocrático, antissocialista,
antioperário. Seu crescimento num país pressupõe condições históricas especiais, pressupõe
uma preparação reacionária que tenha sido capaz de minar as bases das forças potencialmente
antifascistas (enfraquecendo-lhes a influência junto as massas). (KONDER, 1979, p.21)

Trabalho produzido como componente avaliativo da Disciplina Seminário VIII para Mestrado de Filosofia da Universidade
Federal de Uberlândia, ao Professor Doutor José Benedito de Almeida Júnior.

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