Psicolinguística 01
Psicolinguística 01
Psicolinguística 01
Unidade 1
1
Wilhelm Maximilian Wundt foi um médico, filósofo e psicólogo alemão. É considerado um dos fundadores da
moderna psicologia experimental.
2
Filósofo e psicólogo norte americano, considerado, ao lado de Charles Sanders Peirce um dos fundadores do
pragmatismo. Ele escreveu livros influentes sobre a jovem ciência da psicologia, as variedades da experiência
religiosa e do misticismo e a filosofia do pragmatismo.
3
Psicologo alemão e primeiro autor na psicologia a desenvolver testes de inteligência.
4
Psicólogo americano que esteve na origem do condicionamento operante, sustentado mais tarde por Skinner.
5
Burrhus Frederic Skinner foi um autor e psicólogo estadunidense. Ele conduziu trabalhos pioneiros em
psicologia experimental e foi o propositor do Behaviorismo Radical, abordagem que busca entender o
comportamento em função das interrelações entre história filogenética e ambiental do indivíduo.
comportamento animal. Assim, rejeitando mecanismos mentais, ele aplicou genericamente
esse modelo à aprendizagem, à aquisição de linguagem e ao comportamento social humano.
6
Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, Barão von Humboldt, funcionário do governo, diplomata,
filósofo, fundador da Universidade de Berlim (hoje, Humboldt-Universität). É principalmente conhecido como
um lingüista alemão que fez importantes contribuições à filosofia da linguagem, à teoria e prática pedagógicas e
influenciou o desenvolvimento da filologia comparativa.
Na disciplina “introdução aos estudos linguísticos”, ministrada no primeiro semestre,
foram descritas as contribuições de dois lingüistas muito importantes que absorveram as
idéias de Humboldt. Saussure e Chomsky partem de algumas concepções humboldianas para
criar suas dicotomias sobre seu objeto de estudo.
A partir de agora recordaremos alguns dos conceitos de Saussure que muito contribuiu
para o desenvolvimento da ciência linguística.
Como foi visto na disciplina acima citada, Saussure é considerado o pai da linguística
e que, a partir de suas concepções sobre língua e linguagem, a corrente estruturalista foi
instaurada, delimitando o objeto e método da lingüística enquanto ciência autônoma. Como
bem salienta Viotti:
É no contexto desses estudos histórico-comparativos que Saussure lança suas
idéias sobre a língua e sobre a linguagem. A partir desse momento, os estudos
lingüísticos começam a adquirir um caráter mais profundo e abstrato. Eles
deixam de se concentrar na comparação de manifestações externas de várias
línguas, e passam a se interessar pela língua como um sistema de valores
estruturado e autônomo, que é subjacente a toda e qualquer produção
lingüística, seja ela feita em português, em inglês, em francês, em ASL, em
libras, ou em qualquer outra língua. Aí a lingüística passa a ser concebida
como uma ciência: ela não só descreve fatos lingüísticos, mas busca uma
explicação coerente para sua ocorrência.
Como podemos verificar a corrente estruturalista, vista anteriormente na Psicologia de
Wundt, repercutiu também nos estudos lingüísticos. Saussure tenta, assim, compreender a
língua estudando as partes internas do fenômeno lingüístico, isolando, pois a estrutura
(langue) de sua matéria (parole). Segundo Peterfalvi (1970:22)
O signo é, para Saussure, uma entidade bifacial psicológica, que compreende
um significante e um significado. Para a linguagem vocal humana, o
significante é uma “imagem acústica” e o significado um “conceito”. No
domínio extralingüístico, há um referente que corresponde ao conceito (por
exemplo, a árvore é um objeto, oposta ao conceito “árvore”) e por outro lado
ao significante corresponde a realidade material de sua realização (o
significante é, por exemplo, a imagem genérica do som b interiorizada pelo
sujeito, que cumpre distinguir a realidade acústica desse som efetivamente
emitido). Referente e realidade material do significante não fazem parte,
portanto, do signo propriamente dito.
Para Saussure, o conceito suscita no cérebro um fenômeno inteiramente psíquico e
isso é possível porque a língua é antes de tudo um sistema representado no cérebro dos
interlocutores. Embora afirme a existência do fenômeno material, a propriedade psicológica é
que será considerada em sua teoria.
A corrente estruturalista também teve seus representantes nos Estados Unidos: Edward
Sapir (1884-1939)7 e Leonard Bloomfield (1887-1949)8. Este último recebeu influência da
psicologia da linguagem de Wundt, no entanto, numa abordagem completamente
contraditória, em 1933, ele publicou um segundo livro com cunho totalmente behaviorista
(Scliar-Cabral, 1991).
Assim se definiam as duas ciências que originaram a nova disciplina cientifica, mas,
embora houvesse psicólogos que se baseavam nas teorias linguísticas e linguistas que
adotavam os princípios teóricos da psicologia, o diálogo entre as duas não se efetivava.
Segundo Baliero Jr. (2003:173):
Na Psicologia, os estudos buscavam estabelecer as relações entre a
organização do sistema lingüístico e a organização do pensamento, por meio
do recurso à teoria e à pesquisa lingüística (...) Na Lingüística, por outro lado,
já havia uma busca anterior pela teoria psicológica, especialmente por meio
dos introdutores do método histórico em Lingüística, entre os quais Hermann
Paul, que tentaram apoiar no associacionismo psicológico suas explicações
para as mudanças linguísticas.
A solidificação das duas áreas, enquanto ciências que se interessavam pelos aspectos
da linguagem verbal, induzia à busca de uma linguagem comum entre ambas, mas isso não se
efetivou de forma consistente em parte pela ascensão do comportamentalismo em Psicologia e
o conseqüente abandono dos métodos instrospectivos e, por outro lado pelo fato de
estruturalistas como Bloomfield (1933) eliminarem a semântica do escopo da pesquisa
lingüística (Scliar-Cabral, 1991; Baliero Jr., 2003).
No próximo capítulo vamos entender como, finalmente, as duas áreas somaram seus
esforços num momento histórico-geográfico específico que lhes serve como pano de fundo e
como mola propulsora ao desenvolvimento de novas reflexões sobre a linguagem verbal.
Unidade 2
O nascimento da Psicolinguística
7
Edward Sapir foi um antropólogo e linguista alemão de origem judaica.
8
Leonard Bloomfield é considerado o fundador da lingüística estrutural norte-americana.
Como vimos a concepção avant la lettre da nova disciplina se originou no seio das
duas ciências que lhes deu origem. Como o momento histórico exigia o desenvolvimento de
novos mecanismos de comunicação e, portanto, de novas abordagens sobre a linguagem
verbal, psicólogos e linguistas resolveram dialogar e iniciar uma cooperação. Podemos dividir
esse desenvolvimento histórico em dois momentos que veremos neste capítulo.
2.1 O registro
Para contextualizar um pouco sobre os fatos históricos e as mudanças que sofria a
sociedade naquela época, podemos citar o fato de que após a Segunda Guerra Mundial havia
uma necessidade premente de desenvolver o conhecimento sobre os sistemas da informação.
Assim, a denominada “teoria da informação” que desenvolvia mecanismos de transmissão
mecânica de mensagens contribuiu para a mudança do quadro dos estudos da comunicação.
Elaborada por Shanon e Weaver, em 1949, essa teoria consistia em resolver problemas
levantados pelas telecomunicações (Peterfalvi, 1970:25).
Os termos ‘transmissor’, ‘codificação’, ‘canal’, ‘receptor’ e ‘descodificação’, dentro
dessa teoria, eram transformações das vibrações do ar provocadas por sinais sonoros em sinais
elétricos (codificação) que passavam por um canal e eram reconvertidas em vibrações
passíveis de serem percebidas por um receptor (descodificação). Assim, adotando os termos e
o esquema idealizado pelos técnicos da informação, Osgood e seus colaboradores propuseram
um novo esquema aplicado à comunicação humana em que haveria um input ou estímulo
auditivo ao qual o indivíduo é exposto, um receptor que se trata do sistema perceptivo que
“decodifica” o estímulo, uma destinação e uma fonte que correspondem ao componente
cognitivo do sujeito. Por fim, o transmissor “codifica” aquilo que quer dizer em forma de
comportamentos motores que resultam no output do sistema, ou seja, sua resposta (ibidem, p.
26-7).
Nesse contexto, a colaboração interdisciplinar entre psicólogos e lingüistas foi
principalmente motivada pelo aumento do acervo de pesquisas e teorias que viabilizaram a
tentativa de união das duas áreas que, nesse momento, recebiam forte influência da Teoria da
Informação. Devido essa interdisciplinaridade, a Psicolinguística é, simultaneamente,
psicologia e lingüística e trata-se de uma disciplina científica relativamente nova que se
consubstanciou em dois importantes seminários, onde se reuniram alguns representantes da
psicologia, da lingüística e da antropologia.
Foi uma longa gestação até o marco que aconteceu num seminário de verão da
Universidade de Cornell em 18 de junho a 10 de agosto de 1951. Nesse encontro, alguns
especialistas concluíram que ela estava pronta para vir à luz do mundo científico. Assim, seu
registro como ciência autônoma se firmou em outro encontro de verão na Universidade de
Indiana em 1953.
Os estudiosos responsáveis pelo seu nascimento foram Psicólogos como C.E Osgood,
J. B. Caroll, G. A. Miller e lingüistas como T.E. Sebeok, F.G. Lounsbury. Dessa colaboração
originou-se um livro: Psycholinguistics, o qual lançou as bases programáticas e a tentativa de
síntese das teorias multidisciplinares que as embasaram.
Dadas essas noções, a psicolingüística, tomando como base a historicidade que é
pertinente ao seu aparecimento, justifica sua importância por vir de encontro às tendências e
necessidades que se manifestaram nas ciências humanas da década de 50.
Unidade 3
Função conativa seu uso serve para influenciar a pessoa com quem se está falando,
ou para provocar algum efeito prático
Outro nome de destaque dessa escola é Jakobson (1896-1982)10 que ampliou a tríade
de Bühler, definindo os atores e contexto das mensagens e introduzindo mais três tipos de
funções da linguagem:
- Função referencial ou denotativa (corresponde à função cognitiva) está centrada no
referente;
- Função emotiva ou expressiva, centrada no destinador (ou emissor) da mensagem;
- Função conativa, que se orienta para o destinatário;
9
Karl Bühler foi um psicólogo e psiquiatra alemão. Membro da escola de Würzburg, estudou os mecanismos do
pensamento e da vontade e dedicou-se à psicologia da forma.
10
Roman Osipovich Jakobson foi um pensador russo que se tornou num dos maiores lingüistas do século
XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e arte.
Função fática centrada no contato (físico ou psicológico); manifesta o desejo e a
necessidade de comunicar;
Sugestão de leitura
11
Nikolay Sergeyevich Trubetzkoy foi um lingüista russo cujos preceitos formaram o núcleo do Círculo de
Praga de lingüística estrutural. Ele é amplamente considerado o fundador da morfofonologia.
A linguagem verbal12 é um conjunto de conhecimentos representados no cérebro de
quem fala ou sinaliza, são estruturas e processos subjacentes ao ato de produzir e de entender
uma língua como o inglês, francês, libras, ASL, etc. A separação dicotômica entre a
“langue/competência” e a “parole/performance” deixou de considerar os comportamentos
abertos expressos no uso de uma língua para se concentrar a esses processos subjacentes
acima descritos. Assim, a psicolinguística explica o uso concreto da língua – sua performance
ou desempenho lingüístico, segundo a concepção de Chomsky (Garnham, 1968: 4).
Com um novo enfoque para com a linguagem, a psicolinguística, da mesma forma que
a sociolingüística e a análise do discurso (conversacional) tem contextualizado seus dados e
usado a fala espontânea como base de dados, exigindo uma adequação metodológica para sua
análise.
São inúmeros os tipos de conhecimento que interagem na comunicação real – o
conhecimento da fonologia, da sintaxe, da semântica, da pragmática, das convenções sociais,
do mundo físico, da personalidade, etc. Para que houvesse um rompimento em estudar a
língua como algo estático e estrutural, fruto também de uma visão racionalista que encerra a
língua em modelos fechados, a psicolingüística necessitou também uma metodologia
interdisciplinar, justificada pela necessidade histórica e pela redescoberta do objeto língua,
revista agora sob um ângulo da dinamicidade e complexidade. De acordo com Slama-Cazacu
(1979:37):
Tornava-se necessário que, ao abordar a linguagem dentro de uma perspectiva
diretamente ligada à realidade, aparecesse claramente sua finalidade social (a
comunicação) e seus determinantes sociais bem como a importância do papel
desempenhado pelo sistema de signos utilizado (o “código”) em especial, o
sistema verbal, lingüístico, ou a “língua”. Em conseqüência, o estudo
psicológico deveria recorrer também a uma analise dos fatos da língua criados
pela atividade da linguagem e utilizados durante esta atividade.
Com vistas a desenvolver o novo enfoque, os métodos de análise e descrição
precisavam mudar. Como bem salienta Scliar-Cabral (1991:9),
No que diz respeito ao objeto da psicolingüística, é exatamente o enfoque
diferente para com a linguagem que demarcará as fronteiras às vezes tênues
que a separam das duas ciências que lhe deram origem (...) e no seu seio, as
12
Para este espaço, faço aqui uma distinção dos termos língua e linguagem verbal: devido ao uso polissêmico do
termo língua, que tanto pode ser o órgão musculoso situado na cavidade bucal, como sinônimo de idioma ou
ainda princípios subjacentes à mente. Assim, nesse trabalho utilizaremos o termo linguagem verbal para designar
o conhecimento de regras que o falante/sinalizante tem armazenado na sua mente e língua equivalente ao código
oral ou sinalizado. Fala ou sinalização é um comportamento observável, produção de sons significativos.
diversas subdivisões, determinadas pelo aprofundamento e pela
especificidade, mas igualmente pela heterogeneidade dos vários subcampos
que a compõem. Com efeito, a abrangência da psicolingüística, decorrente dos
processos heteróclitos envolvidos na recepção e produção das mensagens,
obriga a uma especialização de seus cientistas, com a utilização de métodos
diferentes, decorrentes não só do subcampo objeto de investigação quanto,
também (...) das teorias epistemológicas que endossam.