Acidentes Industriais Ampliados
Acidentes Industriais Ampliados
Acidentes Industriais Ampliados
FREITAS, CM., PORTO, MFS., and MACHADO, JMH., orgs. Acidentes industriais ampliados:
desafios e perspectivas para o controle e a prevenção [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,
2000, 312 p. 1-7. ISBN: 978-85-7541-508-5. Available from: doi: 10.747/9788575415085. Also
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Carlos Machado de Freitas
Marcelo Firpo de Souza Porto
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E D I ' r O R A
FIOCRUZ
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ISBN: 85-85676-72-8
Copidesque:
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Supervisão editorial:
Walter Duarte
Catalogação-na-fonte
Centro de Informação Científica e Tecnológica-
Biblioteca Lincoln de Freitas Filho
2000
EDITORA FIOCRUZ
Rua Leopoldo Bulhões, 1480, térreo - Manguinhos
21041-210 - Rio de Janeiro - RJ
TelsL: (21) 598-270i / 598-2702
Telfax: (21) 598-2509
Às vítimas diretas e indiretas dos acidentes industriais, particularmente os
trabalhadores e as populações vizinhas às indústrias.
A todos aqueles que se dedicam ao estudo e ao desenvolvimento de ações para a
prevenção e o controle de tais acidentes.
Autores
Alvaro Bezerra de Souza Jtínior
Programa de Planejamento Energético da COPPE / Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro
Bruna de Marchi
Institute of International Sociology (IsIG), Mass Emergencies
Programme (PEM) - Gorizia, Itália
E. L. Quarantelli
Centro de Pesquisa de Desastres da Universidade de Delaware - Delaware, EUA
Francisco J. C. M. Duarte
Programa de Engenharia de Produção / Coordenação dos Programas
de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro
Hugo Prado-Monje
Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da
Saúde (OPAs/OMS), Washington, D.C., EUA
Jeromy Ravetz
Research Methods Consultancy Ltd. - Londres, Inglaterra
Roque Puiatti
Ministério do Trabalho - Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul
Silvio Funtowicz
European Comission Joint Research Centre, Institut e for Systems,
Informatics, and Safety Ispra, Itália
Tom Dwyer
Departamento de Ciência Política da Universidade
de Campinas (UNICAMP), Campinas
Organizadores
SUMARIO
PA RT E I I - C E N Á R I O S
4. O Acidente Industrial Ampliado de Seveso: Paradigma e Paradoxo ..............129
5. A Experiência do Movimento Sindicai na Análise de Acidentes
Químicos Ampliados ........................................................ ........................................ 149
6. 'Seguura Peão!' - Alertas Sobre o Risco Técnico Coletivo Crescente
na Indústria Petrolffera (Brasil, anos 90) 169
PREFACIO
,~--
/-kCIDENTES k, dUIMICOS:A SUPERANDO A DICOTOMIA ENTRE
AMBIENTE INTERNO E EXTERNO
A edição deste livro tem, entre suas origens, a implantação, em 1992, de uma
linha de pesquisa por mim coordenada, inicialmente orientada para o estudo de
ambientes internos de trabalho. Foi desenvolvida por meio de um projeto integrado
interdisciplinar sobre 'Indústria Química e Saúde do Trabalhador no Rio de Janeiro',
no Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da
Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (FIoCRçZ). Os
projetos "Situações de Risco no Complexo Industrial Químico: análises empíricas e
construção de modelos teórico-metodológicos' e 'Estudo de Situações de Risco no
Complexo Industrial Químico: uma abordagem propositiva' deram-lhe continuidade.
Constata-se, em todos, a busca da interdisciplinaridade na interface das ciências
sociais e humanas, da ergonomia contemporânea e do tratamento epidemiológico,
no âmbito da saúde coletiva. Tiveram ainda como premissas fundamentais a
participação e o controle público, tanto como estratégia de conhecimento quanto de
representação dos interesses em jogo.
A saúde do'trabalhador é, por natureza, um campo interdisciplinar e
multiprofissional. A análise dos processos de trabalho, por seu caráter multifacetado,
toma a interdisciplinaridade uma exigência intrínseca que necessita "ao mesmo tempo,
preservar a autonomia e a profundidade da pesquisa em cada área envolvida e de
articular os fragmentos de Conhecimento, ultrapassando e ampliando a compreensão
pluridimensional dos objetos".1 A integração interdisciplinar das vertentes
epidemiológica, tecnológica e social propicia diagnosticar um quadro de doenças e
acidentes específicos relacionado às características gerais do processo de produção
e às tendências tecnológicas e organizacionais de certos processos de trabalho. As
dinâmicas políticas, econômicas e sociais - história e nível de organização dos
trabalhadores, atuação do Estado diante do problema, situação socioeconômica das
empresas e setores produtivos analisados, entre outros fatores - contextualizam e
explicam esse quadro. Essa visão ampliada e processual permite uma maior
aproximação da gênese dos riscos industriais e o estabelecimento das estratégias
possíveis para a transformação dos processos de trabalho, bem como das propostas
2
MACHADO, J. M. H. A Heterogeneidade da Intervenção: alternativas e processos de vigilância em saúde do
trabalhador, 1996. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Ensp/Fiocruz.
3 HAGUENAUER, L. O complexo químico brasileiro, organização e dinâmica interna. Texto para discussão
n~ 86. Pão de Janeiro: Instituto de Economia Industrial da UFRJ, 1986.
para propiciar um envolvimento efetivo dos trabalhadores nos levantamentos iniciais
e em seus desdobramentos. À medida que o PST foi deslanchando uma atuação
ampla de vigilância, com o suporte técnico dos pesquisadores, os entraves não
demoraram a surgir. Duas situações diferentes são ilustrativas nesse sentido.
O caso da contaminação por mercúrio em uma fábrica de cloro-soda, de capital
nacional, que vem se notabilizando pela gravidade da contaminação ocupacional e
ambiental pelo mercúrio ocasionada por seu processo de fabricação obsoleto, é
exemplar. A investigação partiu de uma solicitação do sindicato ao CESTEH e ao PST/
SES-RJ. O estudo efetuado, nas dimensões clínico-epidemiológica,4 tecnológica/
ambientals, 6, 7 e social,s, 9 apontou, desde o início, para diagnósticos e propostas
políticas mais abrangentes, dentro de um espectro de possibilidades técnicas e
institucionais bastante dinâmico e conflitivo.
A análise internacional das tendências tecnológicas na produção de cloro-soda
colocou em discussão a própria tecnologia eletrolítica utilizada na empresa analisada.
Celebrou-se um Acordo de Mudança de Tecnologia, entre as autoridades sanitárias
e ambientais do governo de estado, a indústria, a Assembléia Legislativa, com a
participação do sindicato dos trabalhadores e representantes das comunidades ao
redor da fábrica, pautado na substituição por uma tecnologia ecologicamente mais
adequada,'o viável política e economicamente, que eliminasse definitivamente o
mercúrio na produção do cloro.
A s d i fi c u l d a d e s s u b s e q ü e n t e s à p r o m u l g a ç ã o d o A c o r d o , c o n t u d o ,
demonstraram a importância - e também a fragilidade, no caso em questão -7 das
estruturas políticas, econômicas e institucionais que davam suporte à proposta.
Análises provenientes das ciências sociais11, !2 identificaram os desencontros
4 FERREIRA, H. P. Perigo Silencioso: um estudo da intoxicação de trabalhadores por vapor de mercúrio numa
indústria de cloro-soda, Rio de Janeiro, 1994. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Ensp/Fiocruz.
s FREITAS, N. B. B. Controle Social do Risco e da Saúde dos Trabalhadores: o caso da indústria de cloro-soda, 1994.
Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Ensp/Fiocruz.
6 PORTO, M. F. S. Trabalho Industrial, Saúde e Ecologia - avaliação qualitativa de riscos industriais.com dois
estudos de caso na indústria química, 1994. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Coope/UFRJ.
MATTOS, U. A. O. & GONÇALVES, C. L. Q. Mudança tecnológica e o impacto da saúde do trabalhador:
estudo de caso numa indústria química do Rio de Janeiro. Anais do I Congresso Latino-Americano de
Engenharia Industrial. Florianópolis, 1993. p. 464-468.
8 MEL~~A.I.S.C~C~ntracenadeDiferentes:asaúded~traba~hadorc~m~pr~ticas~~ia~eapercepçã~dastraba~hadares~
1993. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: PUC.
9 THEDIM-COST A, S. M. F. Mercúrio: perigo e silêncio, 1995. ~ssertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Er~sp ]Fiocruz.
'o PORTO, M. F. S. Trabalho Industrial, Saúde e Ecologia - avaliação qualitativa de riscos industriais com dois
estudos de caso na indústria química, 1994. Tese de Doutorado, Rio de Janeiroi Coope/UFRJ.
u MELO, A. I. S. C. Contracena de Diferentes: a saúde do trabalhador como prática social e a percepção dos
trabalhadores, 1993. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: PUC.
12
THEDIM-COSTA, S. M. F.. Mercúrio: perigo e silêncio, 1995. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Ensp /
Fiocruz.
existentes, tanto em nível das práticas e conflitos (inter)institucionais quanto do
próprio movimento social. O significado simbólico do "estar doente" diante de um
quadro de crise econômica e de medo do desemprego, aliado ao recuo de alguns
atores sociais nas estratégias previamente definidas, determinaram uma mudança
de posturas desfavorável com relação aos objetivos sanitários inicialmente
pretendidos. Algumas lideranças sindicais e das comunidades passaram
sistematicamente a defender as posições da empresa, pressionada pelas crescentes
dificuldades conjunturais financeiras e pelo acaloramento da discussão pública em
torno do elevado nível de contaminação entre os trabalhadores expostos ao maior
grau de risco. Tal recomposição política fragilizou a continuidade do Acordo e
permitiu a prorrogação do prazo de mudança de tecnologia anteriormente negociado,
além da perda de controle sobre procedimentos clínicos e sanitários previstos.
As repercussões dessa atuação, no entanto, extrapolaram o espaço local. A
utilização da célula de mercúrio na produção de cloro-soda, recolocada em suas
dimensões tecnológica, setorial e internacional, passou a ser objeto de debate no
âmbito regional e nacional. A notoriedade da ação desenvolvida nessa empresa
tomou o CESTEH interlocutor junto a instituições reguladoras nacionais e entidades
de classe patronais e de trabalhadores, como a Fundação Jorge Duprat Figueiredo
(FUNDACENI~RO), a Associação Brasileira da Indústria de Álcalis e Cloroderivados
(ABICLOR) e a Confederação Nacional dos Químicos (CNQ) sobre os métodos de
diagnóstico e controle da exposição ao mercúrio na indústria de cloro-soda, inclusive
13 MINAYO G~MEZ, C.; CARVALHO, S. M. T. M. & PORTO, M. F. S. Por uma ecologia do trabalho. In:
LEAL, M. C. et al. (Org.) Saúde, Ambiente e Desenvolvimento: processos e conseqüências sobre as condições de
vida. São Paulo: Hucitec/Abrasco, 1992. p. 79-98.
14 CONTI, L. Ecologia, Capital, Trabalho e Meio Ambiente. São Pa~lo: HuciteC, 1991.
i5 TAMBELLINI, A. T. Interdisciplinaridad y formación de recursos humanos para el área de salud dei
trabajador e ecologia humana. In: ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE SALUD. Lo biológico y lo
social - su articulación en la formación del personal de salud. OPS, Washington, D.C., 1994. p. i21-142.
Desenvolvimento mais gerais. Novos atores sociais, conceitos e temáticas, como
agências ambientais, comunidades de risco, desenvolvimento sustentável e ISO 14000
fazem parte deste universo, perante o qual a área de saúde dos trabalhadores não
pode eximir-se. Neste movimento, um eixo de investigação foi configurando-se,
tendo por objeto central os denominados acidentes químicos maiores ou ampliados,
definidos como "os eventos agudos, tais como explosões, incêndios e emissões,
individualmente Ou combinados, envolvendo tuna ou mais substâncias perigosas
com potencial de causar simultaneamente múltiplos danos ao meio ambiente e à
saúde dos seres humanos expostos".16
Os primeiros passos foram dados com a participação em audiências públicas -
e seus desdobramentos - promovidas pela Comissão de Energia, Ciência e Tecnologia
da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, bem como com a elaboração de relatórios
técnicos capazes de fundamentar ações, por intermédio da Curadoria do Meio
Ambiente e do Ministério Público do Trabalho.
Nesse percurso, foram se aprofundando questões sobre os acidentes químicos
ampliados, entre as quais cabe mencionar: a percepção e comunicação de riscos; as
políticas regulatórias, de controle e prevenção; os planos de emergência em regiões
contendo instalações de risco; a análise das estatísticas nacionais e internacionais de
acidentes químicos ampliados; o papel dos trabalhadores e das comunidades na
formulação dessas políticas
Diante da inexistência de uma política nacional voltada ao controle deste tipo de
acidente, elaboraram-se diversas publicações, inclusive dissertações e teses,17,16,19 com
o intuito de incorporar a temática no interior da saúde pública brasileira. Alguns
eventos foram marcos significativos nessa direção. O Seminãrio '10 Anos de Bhopal:
o acidente qunmco maior em questao, organizado pelo CESTEH, em 1994, estabeleceu
essa discussão no estado do Rio de Janeiro, aglutinando representantes de setores
governamentais, acadêmicos, sindicais e empresariais. Em 1995, a Confederação
Nacional dos Químicos - da Central Única dos Trabalhadores (CUT) -, promoveu,
com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a organização técnica
do CESTEH e a presença dos principais sindicatos dos setores químico, petroleiro e
petroquímico, o 'I Seminário Nacional sobre Acidentes Químicos Maiores'.2o O CESTEH
Os Organizadores
INTRODUÇÃO
Ti p o s d e E v e n t o s A B B / A C C / A D D / A E E/A
explosão e incêndio e emissào 25 20,7% 09 0,36 103 4,12 03 0,12 164 6,56
Fontes: Theys, 1987; Glickman et al., 1992; WHO, 1992. Sevá Filho, 1993; Kletz, 1988.
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DOS ACIDENTES INDUSTRIAIS
AMPLIADOS
EXPLOSÕES
INCÊNDIOS
EMISSÕES
Acidentes com mais Total de óbitos Acidentes com mais de Total de lesionados Aci
N~ de acidentes de 50 óbitos 100 lesionados 2.00(
Países
Cen~Ms 38 62 1 10 349 8 16 57 2.783 4
Países
Periféricos 2 1 38 9 90 3.932 92 12 43 71.580 96
ASPECTOSTEORICOSE
ME:rODOLOGIÇOS
P E R S P E C T I VA S PA R A U M A A N Á L I S E
I N T E R D I S C I P L I N A R E PA R T I C I PAT I VA D E A C I D E N T E S 1
( A I PA ) NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA'DE PROCESSO .t
qualificação e
organização máquinas diversas média
2- trabalho com freqüência;
« , metal-mecânico sindical variada, em postos de
maqumas
sendo maior nas trabalho específicos gravidade média
grandes empresas
A P E R S P E C T I VA I N T E R D I S C I P L I N A R
A PERSPECTIVA PARTICIPATIVA
Responsabilizar as Vítimas sugere uma desagradável - e talvez consciente -
classe de vi6s, já que, muitas vezes, o trabalho real requer que os trabalhadores
ignorem as precauções de segurança visando ~ alta produção, ao cumprimento'dos
prazos estabelecidos e à manutenção de seu emprego (Perrow, 1984). Porém, quando
ocorre um acidente e trabalhadores morrem ou são lesionados, considera-se que foi
por falhas suas que o fato aconteceu. Mudar o foco de análise, considerando a
organização real do trabalho e seu papel nesse processo - o que obriga a ir além da
imagem dominante do funcionamento das indústrias -, faz-se urgente e necessário
neste contexto. Esta mudança de foco implica não só parar de responsabilizar os
trabalhadores pelos acidentes em que são vítimas, mas também incorporá-los de
modo efetivo nas análises de acidentes e definição de estratégias de controle e
prevenção dessas ocorrências, já que têm a experiência diária do modo real de
operação e não do prescrito.
Para que o processo de produção seja estudado precisamente-como de fato é, e
não como planejado, devem-se incorporar as e xperiências dos operadores que
diariamente trabalham Com os equipamentos, mediante sua participação nas análises
de riscos e de acidentes, bem como na formulação de estratégias de controle e
prevenção. Essa participação pode contribuir para que ocorram mudanças tanto na
visão dos trabalhadores sobre as causas dos acidentes, já que eles são concretamente
envolvidos no trabalho quotidiano de prevenção, como no aumento das habilidades ~
e oportunidades para maior compreensão de que as questões de segurança podem
ser gerenciadas mediante sua participação na resolução dos" problemas. Nesta
perspectiva, aumentar as habilidades e oportunidades de participação dos
Acidenies Industriais Ampliados
59
Acidentes Industriais Ampliados
Abordagens Sociotécnicas
/ SOCIAL ~ Psicologia Organizacional /TI~CNoI.Óc.IC&
/ sociolog~~ -\ < . . > /-/G~/-,~ã~~~- \
~ . ~ A I P A / E p i d e ~ o s i ç ã o
~ Pslcodinamica do Trabalho
[ Clínica Médica i
ç E To ~ C ° ò l ô i g i a J
Causas
/ ~ ~ L O C A L
Subjacentes ( "~" (nível das empresas/v )
(Gerenciais/ ~ ~ . o c a l d e t r a b a l ~
Organizacionais)
1 [ SITUAÇÕES DE RISCOI,
Causas
Imediatas EVENTOS DE RISCO
!
I I
l
Efeitos à Saúde f""~omponentes~"~
~demiológicos ...J
... Análise Interdisciplinar e Participativa..
FASE ESTRUTURAL
FASE OPERACIONAL
Trabalhadores
Epidemiologia, Psicologia, Clínicas
Médicas, Toxicologia, Ecologia Aplicada
Manutenção em
Intensificação das atividades de manutenção
paradas
causas imediatas dos acidentés encontramos, por exemplo, itens relacionados aos
fatores humanos (relativos a operação, manutenção, inspeção, testes ou calibração
de equipamentos), às falhas de componentes (tubulações, bombas, válvulas, reatores,
fomos, compressores, agitadores/misturadores, componentes elétricos, instalações
para vapor, água, energia elétrica, resfriamento etç.) e de manutenção (desgaste de
equipamentos, corrosão interna e externa), reações inesperadas e cargas eletrostáticas.
Para as causas subjacentes, as principais encontram-se relacionadàs às omissões
gerenciais e organizacionais, incluindo-se aí a ausência de uma cultura de segurança;
uma organização de segurança inadequada; a não-observância de procedimentos
de segurança predeterminados (por exemplo: reter ou acelerar a produção);
procedimentos relacionados à operação e à manutenção insuficientes ou obscuros;
insuficiente supervisão das atividades de operação e manutenção; baixo nível de
treinamento dos trabalhadores; problemas de segurança em relação aos trabalhadores
terceirizados; e falhas na clarificação de acidentes anteriores e no necessário
aprendizado organizacional e gerencial. Além destes, incluem-se os problemas
relacionados à inadequação do projeto, os quais não consideram a aplicação adequada
de códigos/práticas sustentáveis Para o processo; o processo analisado
inadequadamente do ponto de vista da segurança, de modo que perigos não tenham
sido identificados; erros de projeto (omissões, aplicações impróprias de códigos/
práticas); falhas na aPlicação de princípios ergonômicos no projeto da interface
homem-máquina, entre outros. Estes fatores causativos, imediatos e subjacentes,
são também situados de acordo com os modos de operação (normal, armazenamento,
manutenção/modificação, carregamento/descarregamento, início das atividades,
parada, regeneração, espera, operações intermitentes e não-padronizadas) e as
atividades relacionadas às unidades envolvidas no acidente (operações físicas tais
como centrifugação, resfriamento/aquecimento, destilação, secagem, extração,
filtração, bombeamento de líquidos/compressão de gases, fusão, mistura,
bombeamento, separação de fases, vaporização, entre outros; e operações químicas,
tais como síntese de amônia, reatores, cloração, hidrogenação, nitração, oxidação,
polimerização e pirólise). Além destas, existem duas outras formas de classificação,
sendo uma referente ao tipo de acidente (explosão, incêndio e vazamento nas suas
diversas formas) e outra ao tipo de indústria.
É importante considerar que, além de incluir os fatores técnicos na origem das
causas imediatas, esta classificação permite contextualizar os acidentes por
intermédio das causas subjacentes, predominando entre eles os de origem gerencial
e organizacional. Este tipo de classificação parte do pressuposto de que a
compreensão dos diferentes aspectos organizacionais e gerenciais deve ser realizada
nas análises de acidentes, de modo a permitir capturar profundamente os níveis de
causalidade que conduziram aos eventos básicos do modo de falhas.
... Análise Interdisciplinar e Participativa...
META DECISÕES
processos, procedimentos, NÍVEL
estrutura, cultura ORGANIZACIONAL
DECISÕES EM
CASOS ESPECÍ~FICOS
NÍVEL DE
AÇÕES E DECISÕES
EFEITOS sobre a
confiabilidade dos EVENTOS BÁSICOS
(falha de componentes
equipamentos
e fatores humanos)
Legenda:
EI: eventos básicos na seqüência do acidente
decisões e ações que influenciaram a probabilidade do eventoE,
õ~:: fatores organizacionais que influenciaram as decisões e as ações
Fonte: Paté-Cornell, 1993.
Acidentes Industçiais Ampliados
Q u a n d o a p r e o c u p a ç ã o p r i m á r i a é m a n t e r o fl u x o d e p r o d u ç ã o e
simultaneamente reduzir os custos, a conseqüência acaba sendo realizar o menor
número de intervenções de manutenção e formalização de procedimentos
operacionais, de modo que a produção não possa ser interrrompida. Nesta
perspectiva, os procedimentos de segurança tornam-se uma parte rara em toda a
lógica do processo produtivo e apenas paliativos, transformando-se em alvos fáceis -
e vulneráveis às políticas de contenção de recursos das empresas. Isto conduz à
redução de seus efetivos, do tempo de treinamento e à diminuição das possibilidades
de compra de peças ou de produtos de manutenção (Wynne, 1988; Kletz, 1993; Paté-
Cornell, 1993; Wisner, 1996):
CONCLUSÃO
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UMA ABORDAGEM ERGONÔMICA DA
CONFIABILIDADE E A NOÇÃO DE MODO
DEGRADADO DE FUNCIONAMENTO
1Os tecidos social e industrial compreendem os suportes sociais e técnicos que contribuem direta ou indi-
retamente ao funcionamento e à manutenção dos dispositivos técnicos e, assim, ao domínio de uma
tecnologia. O tecido social fornece suportes como o aparelho de formação e o contato com grupos profis-
sionais e orientação técnica. O tecido industrial fornece a infra-estrutura técnica, ou seja, a rede rodoviá-
ria, as peças de reposição e as empresas de manutenção e reparos (RuBIO, 1990).
Acidentes Ind.striaJs Amp]indos
É sempre útil frisar que o termo ergonomiarecobre vanos" ' significados," " " desde a
formulação de conhecimentos sobre a pessoa humana úteis para o desenvolvimento
de produtos - o que constitui o paradigma clássico da ergonomia - a uma vertente
contemporânea cujo foco se dá na situação de trabalho e que, por isso mesmo, engloba
os conhecimentos clássicos, com a necessidade de compreensão do contexto em que
a atividade humana se concretiza. Nesta última acepção, busca-se entender a
atividade de uma pessoa em situação, construída diante de uma lista de
determinantes que podem ser evidenciados, o que orienta e seleciona o emprego
dos conhecimentos clássicos, ao mesmo tempo em que chama a atenção para outros
constituintes da situação de trabalho que aquela abordagem não pôde ou optou por
não poder considerar (Vidal, 1991).
..Abordagem Ergonômica da Confiabilidade...
IGNIÇÃO
I , Meio de propagação: O
Processo de Trabalho
~ V Í T I M A ~ .
J \Barreiras
I -
f
Coatividades
Fronteiras
Sucessões
Atividades esporáticas
Fatores
F~ Experiência
profissional
J ,[ Atitude em relação
Humanos ao trabalho
~ Estado psicológico
e fisiológico
t Evento
disparador
~
Previsível? ]
(ignição)
I
. Controlável? I
Embora ainda preso a uma repartição dicotômica entre fatores técnicos e fatores
humanos, tendo ao,fundo uma formulação do trabalho corno interação perceptiva
e motora do ser humano com o maquinismo, Faverge (1967) aponta alguns
. . . . A b o r d a g e m E r g o n õ m i c a d a C o n fi a b i l i d a d e . . .
3 Trata-se de uma apropriação de uma figura de semântica - usar uma palavra no lugar de outra, em
sentido figurado - feita por WINSEMIUS (1967) e significa o uso de uma ferramenta para outras finalidades
que não as previstas inicialmente (alicates como martelos, facas como chaves de fenda e assim por diante).
Acidentes Industriais Ampliados
O papel positivo dos operadores para a confiabilidade dos sistemas pode ser
claramente identificado quando eles adaptam os procedimentos previstos ao contexto
real de trabalho ou, então, quando eles elaboram procedimentos originais (quando
se trata de situações pouco familiares) em tempo hábil para manter o funcionamento
eficiente e seguro das instalações).
A atividade de controle em uma indústria de processo contínuo não deixa
dúvidas quanto à importância dos operadores para a confiabilidade desses
sistemas. São eles que tomam as decisões finais que conduzem às paradas das
instalações ou a uma posição segura diante das perturbações. A atividade dos
operadores condiciona a confiabilidade ao menos em termos dos objetivos
perseguidos (Leplat & De Terssac, 1991).
Diferentemente dos estudos já tradicionais sobre os aspectos humanos da
confiabilidade ou de confiabilidade humana, a reflexão-sobre confiabilidade, aqui,
não é voltada para a capacidade humana de execução de procedimentos prescritos
ou de erros Sempre de caráter imediato e individual associados a essa atividade dita
de execução. As situações de trabalho em geral, e particularmente nos processos
contínuos, são marcadas por imprevistos e incertezas. Não existe uma relação simples
homem-tarefa, em que a confiabilidade seria assegurada pela obediência restrita às
normas estabelecidas pela organização prescrita do trabalho.
Devido à ineficiência relativa dos procedimentos prescritos e à impossibilidade
de um domínio técnico perfeito do processo, os operadores são levados a elaborar
modos operatórios originais, muitas vezes contraditórios às normas prescritas,
«
constituindo dessa forma a organização real do trabalho. Assim, o que está em jogo
para a segurança e a eficiência do processo é sobretudo a capacidade de mobilização
das iniciativas individuais ante o inesperado, o que implica a efetividade da dimensão
coletiva e a cooperação entre os operadores.
/
7000
6500
.~ 6000
~~ 5500
2 1 ~ i i
E 5000
4500
4000 .I I i , 1
i
]i
87 88 89 90 91 92
1987 15
1988 (1) 75
1989 (2) 68
1990 (3) 41
1991 (4) 27
1992 (5) 79
TOTAL
(1) Durante 1988, houve parada programada de 73 dias para introdução do Sistema Digital
de Controle Distribuído (SDCD).
(2) Em 1989, urna greve dos operadores foi responsável por 61 dias parados.
(3) Em 1990, 31 dias de parada devem-se à explosão da caldeira de CO, situada ao lado da
unidade de craqu#amento e operada a partir da mesma sala de controle.
(4) Em 1991, 19 dias de parada foram necessários para sanar perdas de catalisador no
regenerador e recompor as chincanas no fundo da fracionadora principal.
(5) Em 1992, 55 dias de parada corresponderam à parada programada para manutenção.
6% não identificada
70/0 outra unidade
operação
44%
4% carga
equipamentos
21%
utilidades
10%
instrumentação
14000-
12000-
10000-
8000-
6000-
4000-
2000-
C
S O N D
meses do ano
Acidentes Industriais Ampliados
Em segundo lugar, como se trata de água da baía, seu nível oscila de acordo
com amaré. Nas marés baixas pode ocorrer a chamada maré 0-0, com a água do
canal ficando no limite de sucção das bombas, o que pode acarretar a diminuição
do envio de água para as unidades de produção; Essas marés são previstas com
antecedência pela Marinha e representam dificuldades importantes para a operação
da unidade com altos níveis de carga.
Durante as marés 0-0, além da queda da pressão de água, outro fenômeno
perturbador é a obstrução das telas dos filtros de água da unidade devido a
peixes e crustáceos oriundos da baía. Essa obstrução também ocorre,
independentemente da maré 0-0, quando há grande mortalidade de peixes em
conseqüência da poluição da baía.
Além dos filtros de ~gua, outro equipamento freqüentemente obstruído pelas
impurezas da água são os trocadores de calor que, nessas situações, perdem muito
rendimento, ou seja, diminuem a capacidade de condensação, É necessário, quando
isso ocorre, a injeção de água no sentido contrário para desobstrução dos tubos dos
trocadores. Esse procedimento, constantemente realizado "pelos operadores, é
conhecido como back-wash (BW). No mês de janeiro de 1992, foram registrados nos
relatórios de turno até 10 BW por turno, com um total mensal de 125 BW (em média
quatro por dia). Nos meses de inverno, a freqüência é menor.
Além do procedimento de BW, outra manobra normalmente utilizada para fazer
face à baixa pressão de água de refrigeração é a utilização da água do sistema de
incêndio da refinaria. Diversas mangueiras de incêndio são conectadas nos hidrantes
e nos trocadores de calor para aumentar a vazão de água e, portanto, melhorar o
rendimento dos trocadores. A conexão das diversas mangueiras nos diversos hidrantes
e trocadores de calor demanda um trabalho considerável dos operadores de campo.
A degradação dos equipamentos é tambêm compensada pelos operadores do
Sistema Digital de Control'e Distribuído (SDCD) na sala de controle. Diversas
intervenções são realizadas com o objetivo de recuperar a normalidade e a
..Abordagem Ergonômica da Confiabilidade...
Forno
Conversor
Torre dest.
Comp. t. dest.
P. fria
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Intervenções
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P. fria
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Intervenções
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8h
I
8hl0m
I
8h20m
I
8h30m
I
4h40m
I
8h50m
I
9h
|
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Organizational Design and Management. Londres: Elsevier Science, 1994. p. 613-617.
A PRODUÇÃO SOCIAL DO ERRO - O CASO DOS
ACIDENTES AMPLIADOS
Tom Dwyer
Vila Socó, San Juan Ixhuatepec. Os dados estatísticos parecem fortalecer ainda mais
esta primeira impressão. No período de 1974 a 1987, dois terços dos acidentes
químicos ampliados se produziram em países de primeiro mundo, mas apenas 8%
das mortes ocorreram nestes países, em que cada acidente resultou em uma média
de nove mortes, enquanto nos países de periferia a média gira em torno de 190
mortes (Freitas, 1996). A partir desta última observação, uma hipótese suplementar
se sugere. Por causa da maior eficácia de arranjos feitos 15ara conter os efeitos de
acidentes e por causa da eficácia de políticas de remoção de populações ameaçadas
e de tratamento de vítimas, acidentes idênticos terão conseqüências sobre a vida
humana e o sistema ecológico menores no primeiro do que no ierceiro mundo. A
tese de doutoramento de Freiras (1996) trata de maneira muito competente aspectos
desses arranjos e políticas, prestando atenção especial ao caso brasileiro.
10 acidente de Courrières, França, resultou na morte de 1.101 mineiros em 1906: o de Monongha, EUA, matou 361 em
1907: e o da Universal Colliery em Senghenydd. Grã-Bretanha, matou 439 pessoas em 1913.
A Produção Soc&l do Erro...
Em uma sociedade moderna, este último tipo de poder corresponde, pelo menos
em parte, ao poder disciplinar Sobre o qual Foucault (1986) escreveu. O exercício
deste poder na área de segurança em locais de trabalho concretos é identificado ao
trabalho daqueles profissionais que agem em torno da questão: engenheiros, mé¿icos,
técnicos, psicólogos, ergonomistas.
Acidentes Industriais Ampliados
Uma idéia básica pode ser derivada de Etzioni (1961) e Galbraith (1989): na sua
vida em sociedade, as pessoas mantêm diversos papéis; agindo dentro destes, elas
entram em relacionamentos interdependentes mas desiguais com outras. Na medida
em que um ator inferior recusa.se a agir conforme os desejos do ator superior, este
último recorre ao recurso de poder, empregando incentivos e punições, para
'provocar intencionalmente o comportamento desejado', Os atores superiores
também buscam organizar o mundo material e social para que ele seja aceito pelos
atores inferiores como é apresentado a eles, desta forma exercem poder
(condicionado.) sem se sentir necessidade de recorrer aos dõis outros tipos.
Do mesmo modo em que os diversos tipos de poder são exercidos na sociedade
como um todo, eles também se exercem dentro de instituições e grandes organizações
e na vida do dia-a-dia, É justamente na vida, no trabalho cotidiano, que acidentes
são produzidos e prevenidos. Para prevenir um importante número entre eles não é
necessário abolir o capitalismo nem fortalecer o aparelho do Estado, mas estimular
tuna inversão de relações de poder no m'vel micro e, no caso examinado neste capítulo,
em locais de trabalho onde os riscos de acidentes ampliados
p
se apresentam: Para
*
poder falar de maneira concreta dos locais de trabalho, e preclso recorrer a estudos
que permitam 'ver' as relações sociais qúe produzem os erros que:podem resultar
em acidentes ampliados, pouco freqüentes mas muito destrutivos.
Na matriz teórica a ser empregada neste texto, amplamente divulgada em outras
publicações (Dwyer, 1989, 1991), três tipos de poder são conceitualizados em locais
de trabalho, e estes se ar ticulam em três níveis de relações sociais: recompensa, comando
e organização, e em um nível não-social - o do indivíduo-membro. A relação social é
a maneira na qual o relacionamento entre pessoas e seu trabalho é gerenciada.
No geral, sabe-se muito pouco sobre como o quadro legal influencia o tratamento
dado à segurança dentro das empresas e como elas respondem a exigências internas
para enfrentar os desafios propostos. Galli (1997) analisa questões de segurança do
trabalho e do meio ambiente no pólo petroquímico de Cubatão (SP) e, mesmo sendo
um estudo locàl, traz uma luz a respeito da situação mais geral; Ele relata que a
partir de 1991 tentou-se, com a assessoria da Organização Internaeional de Trabalho
(OIT), instalar um sistema de controle de riscos de acidentes ampliados neste pólo
petroquímico. Membros de várias empresas da região participaram do I Simpósio
Internacional para Prevenção de Riscos de Acidentes Maiores (SIPRAM). O objetivo
foi cumprir aConvenção n° 170 da OIT "que estabelece regras para o uso de produtos
químicos no trabalho" (Galli, 1997:109). A partir desse evento formou-se uma
comissão cOmposta de membros dos governos estadual e municipal, engenheiros
das indústrias e um representante dos trabalhadores. Galli descreve o processo:
As reuniões contaram principalmente com a presença dos representantes da indústria
e do governo. A participação do representante dos trabalhadores foi muito pequena,
restringindo-se apenas às primeiras reuniões. Após dois anòs de reuniões e de muitos
esforços, as reuniões foram se rareando, e essa iniciativa foi dando lugar a vários
programas, principalmente programas de mitigação, já existentes no pólo, até se acabar
por completo em 1993. (Galli, 1997:110)
Em seu estudo, Galli (1997) levantou dados iniciais em quatro plantas, em 1996,
e observou a adesão ao programa desenvolvido a partir do SIPRAM em apenas duas
delas. Das duas que não aderiram, uma não tinha "iniciado nenhum estudo de análise
de risco como havia sido requisitado pelo governo municipal através do programa
Sn~RAM" (Gal!i, 1997:115). Na outra, uma série de exigências do governo municipal
tinha levado a empresa a fazer suas primeiras análises de risco. O poder público,
porém, nunca chegou a verificá-las nem a exigir a implementação de planos de ação.
Dessas primeiras observações, já é possível levantar a hipótese de que tais locais
de trabalho seriam estruturados de tal maneira a apresentar maior nível de
descontrole de riscos do que aqueles locais de trabalho que respondem às exigências
do governo, Na medida em que no terceiro mundo o Estado é menos a ,tuante como
controlador de riscos industrias e ambientais do que no primeiro mundo, poder-se-
ia esperar que, comparando a mesma indústria no primeiro mundo e no terceiro
mundo, maiores-danos seriam produzidos neste último. É interessante notar qué na
segunda planta, filial de uma empresa multinacional, a decisão de implantar a
segurança sistêmica foi tomada na matriz. Uma pergunta se impõe: este tipo de
iniciativa poderia ser mais eficaz do que a eventual adesão ao projeto envolvendo
análises de risco e ações preventivas patrocinado pelo governo?
É preciso observar que as análises de risco são normalmente conduzidas na
base de padrões calcuiados no primeiro mundo. Por exemplo: os padrões para
resistência e vida útil de tubulações são desenvolvidos na base do pressuposto de que
Acidentes Industriais Ampliados
NíVEL DE ORGANIZAÇÃO
Treinamento de pessoal foi desde sempre considerado uma maneira para reduzir
a falta de qualificação. Para um empresário do setor de construção civil, colocava-se a
questão da diminuição dos índices de acidentes através do treinamento e da educação
dos operários. Para este empresário, entretanto, em um ramo em que se constroem
estradas, metrôs, túneis, barragens elétricas e outras grandes estruturas, isto era
praticamente impra~cável pelas dificuldades de motivá-los e treiná-los (Costa, 1976).
As conseqüências da falta de qualificação sobre a produção de acidentes são
bem conhecidas em todos os setores da economia. Um relato de clássico livro sobre
acidentes do trabalho no País é bastante ilustrativo:
Era meu primeiro dia de serviço... Fui limpar a máquina que estava operando. Era
uma descaroçadora de algodão. Caiu a trava, e a garra desceu e pegou meu braço
direito. No hospital me amputaram embaixo do cotovelo. Depois me disseram que a
trava costuma cair sozinha. (Cohn et al., 1985:01)
Galli (1997) destacou a importância da falta de qualificação na planta principal
de sua investigação. Trabalhadores mais experientes estavam se aposentando e seus
substitutos eram trabalhadores mais novos. Sobretudo em situações de emergência,
havia uma reduçâo no nível médio de qualificações para as tarefas a serem
executadas. Além do mais, 'Era previsto um treinamento de área mais longo, mas
com a necessidade de pessoal para completar o quadro da operação o treinamento
foi encurtado'. Uma Outra fonte de falta de qualificação tinha sido introduzida em
tempos recentes, a política gerencial estava substituindo operadores especialistas
por operadores generalistas. Os operadores perceberam que essa política estava
reduzindo qualificações de maneira perigosa, 'há grande rotatividade de tarefas,
todos têm que conhecer a planta toda, então quando alguma parte do processo é
modificada e as pessoas não tomam conhecimento, pode gerar uma situação de
risco (Galli, 1997:145).'
Sujeitos à relação social de falta de qualificação, trabalhadores acabam
ignorando ou subestimando riscos, tratando-os de maneira inadequada e assim
introduzindo novos perigos no local de trabalho. Um acidente que provocou
ferimentos sérios em um operador teve a seguinte análise, de acordo com Galli (1997):
O relatório oficial desse acidente apontou a falta de quaI~'cação do operador.., e também
deseu par e instrutor... A recomendação de segurança foi aumentar o treinamento de
ambos os operadores, o que faz sentido, mas somando-a aos comentários do chefe do
departamento pode-se supor que a estratégia de treinamento não é geral e sim pontual,
concentrando-se após a ocorrência de acidentes, enquanto por outro lado há uma
estratégia geral de redução de qualificação. (Galli, 1997:137)
Além de resultar em perigos específicos, a falta de qualificações leva também à
produção de desorganização no local de trabalho. Por falta de conhecimentos, um
trabalhador não completa sua tarefa de maneira adequada, e um próximo
A Produção Social do Erro...
trabalhador, por ignorar este fato, acaba produzindo um acidente. Observa-se que o
emprego de tecnologias pós-industriais em indústrias está associado à produção
sistemática de desorganização porque o nível de complexidade e interligação de
sistemas é de tal ordem que os operadores não conseguem ter acesso às informações
das quais precisam para trabalhar em segurança. As origens de desorganização
podem ser organizacionais, como aconteceu no acidente da nave espaciat Challenger,
ou sistêmicas, como no caso do acidente de Three Mile Island, em que conhecimentos
adequados a respeito dos processos não estavam disponíveis, de modo a permitir
uma compreensão adequada, em tempo real, da série de eventos que provocaram o
acidente. Na planta investigada por Galli (1997), um tipo extremamente perigoso de
desorganização era visto como sendo causado pelo enxugamento de quadros. De
acordo com Galli, um operador diz: "Eles enxugaram o quadro de operadores e o
serviço aumentou, então os operadores têm que se virar. Se o cara está apressado
não dá para fazer o controle fino dos computadores, e então o tanque fica
transbordando" (Galli, 1997:143).
Nesta situação, qualquer faísca poderia levar a um acidente ampliado. O
operador acrescenta: "Eles falam que foi erro operacional" (Galli, 1997:143). Os chefes,
responsáveis pela coordenação das atividades de vários grupos de trabalhadores e
do relacionamento entre o sistema técnico e os diversos sistemas sociais operando,
não se dão conta da desorganização reinante. "Outro dia, o chefe de operação me
perguntou por que eu,ta fazer a medição manual se tinha medição eletrônica; ora,
Porque a medição eletrônica não funciona, ele nem estava-a par" (Galli, 1997:144).
No estudo de Galli (1997), um acidente devido à desorganização tinha ferido
gravemente três operadores e resultado em um vazamento. A autora
entrevistou os colegas das vítimas e descobriu um estado de desorganização
crônica. Porém, nesse caso, contrastando com o anterior, o relatório oficial da
empresa ignorou o papel dessa reIação social na produção do acidente. O
equipamento não tinha o necessário dreno, o serviço era urgente e havia muita
pressa, os membros do grupo de trabalho não tinham conhecimentos das ações de
seüs colegas, não existia um instrumento capaz de verificar se o filtro estava
pressurizado. O acidente foi identificado pelo Departamento de Segurança como
sendo falha do operador, no que um trabalhador respondeu: "as investigações
dos acidentes vão até onde dá paraculpar o operador" (Galli, 1997:140).
Trabalho rotineiro também foi identificado como produtor de perigos. Assim,
certas tarefas foram vistas como não tendo a variedade necessária para que o ser
humano possa trabalhar em segurança. No estudo de Galli (1997), muitos operadores
entrevistados identificaram os perigos dessa relação social: "quando tudo está normal
o operador perde a concentração, fica menos observador dos procedimentos e percebe
menos o risco" (Galli, 1997:144). Os profissionais de segurança também identificaram
Acidentes Industriais Ampliados
NíVEL DE RECOMPENSA
Dizemos que o "nível de recompensa' produz acidentes por meio de fatores como
incentivos financeiros e simbólicos, excesso de carga horária e incapacidade de
trabalhadores malnutridos de executar tarefas com segurança. Estes fatores acabam
motivando os trabalhadores a se expor ao perigo porque intensificam ou porque
'extensificam" (aumentam horários além de suas capaçidades, por exemplo) seu
relacionamento com o trabalho. Para exemplificar, na sociedade pré-industrial, o dia
trabalhado - sobretudo em época de colheita - era com freqüência muito longo e em
A Produção Social do Erro...
certas épocas trabalhava-se sem ter nutrição adequada. Vários estudos atestam a
importância geral da relação social de extensão de trabalho. (Possas, 1981:170), por
exemplo, observou uma "elevada correlação entre freqüência dos acidentes e o número
de horas trabalhadas, de 0,70 ao nível de significância de 0,5%... o que aponta para a
importância da fadiga na determinação do acidente do trabalho". Em seguida, ela
chama a atenção para "a necessidade de uma análise em maior profundidade do
problema das horas extras na determinação do acidente do trabalho" (Possas, 1981:174).
Melhado et al. (1983) constataram um relacionamento entre o fato de que operários na
construção civil excedem suas capacidades físicas por trabalharem sem tomar o café-
da-manhã e o aumento significativo de acidentes entre 9 e 11 horas da manhã.
Galli (1997) observou que o nível de recompensa tinha pouco peso na planta
em que se aprofundou seu estudo. Ela constatou a importância da relação de
trabalho extra, relação que se manifestou na forma de um excessivo horário de trabalho.
Em todos os turnos investigados, a autora observou este fenômeno. Nas palavras
de um operador: "Se faltar alguém, a gente tem que dobrar o turno, não tem opção...
Na dobra de turno a gente se sente muito mais cansado, numa situação de
emergência isto pode ser perigoso" (Galli, 1997:129). Os perigos de dobrar o turno
são amplamente reconhecidos pelos trabalhadores que, no entanto, aceitam
trabalhar para poder perseguir seus interesses financeiros, como pode se verificar
na seguinte fala: "Quando falta um operador, você é obrigado a dobrar o turno, o
que você acaba aceitando porque ganha mais, mesmo se muitas vezes você está
cansado" (Galli, 1997:~48). Quando se consultam manuais de segurança, poucas
referências são feitas à extensão de trabalho como produtora de acidentes, e
raramente ela consta de maneira explícita em formulários que visem a analisar as
causas de acidentes.
NÍVEL DE COMANDO
NÍVEL DE INDIVíDUO=MEMBRO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PARTE li
CENARIOS
O ACIDENTE INDUSTRIAL AMPLIADO DE SEVESO:
PARADIGMA E PARADOXO
'SEVESO"
A JDIRETWA SEVESO'
Uma das características mais marcantes do caso de Seveso foi que nem os
residentes, nem as autoridades locais e regionais tinham qualquer suspeita de que a
planta industrial estava tornando-se uma fonte de riscos. Não dispunham ainda de
nenhuma informação precisa acerca do tipo de processo produtivo e das substâncias
químicas envolvidas. Como registrou o prefeito (Rocca, 1992), a indústria foi, durante
30 anos, apenas fonte de reclamações ocasionais por parte dos moraclores vizinhos
preocupados com aromas desagradáreis- Além disto, em Seveso, assim como em
Flixborough, mudanças no processo industrial da planta foram realizadas
comprometendo a segurança, porém não foram comunicadas às autoridades
responsáveis pela segurança e saúde pública (Otway & Amendola, 1989:).
Quando a Diretiva Seveso estava sendo esboçada, o processo para se chegar a
uma proposta de Diretiva relacionada aos perigos de acidentes ampliados foi longo
e complexo, envolvendo problemas técnicos e políticos. Estes foram resolvidos
mediante a extensão de consultas entre as diferentes partes e instituições. Uma
proposta final foi finalmente apresentada pela Comissão ao Conselho em julho de
1979. As opiniões requeridas do Parlamento Europeu e do Comitê Econômico e
Social foram expressas em 1980 e duraram mais de dois anos de posteriores consultas
ediscussões, antes que a Diretiva fosse finalmente adotada em 24 de junho de 1982.
O prazo final para a implementação pelos Estados membros (15 na época) daquele
período foi em 8 de janeiro de 1984.
A Diretiva 82/501/EEC, adotada pelo Conselho em 24 de junhode 1982, logo
tornou-se amplamente conhecida como a 'Diretiva Seveso, a despeito da Oposição
dos residentes de Sevèso, os quais reclamaram formalmente às autoridades em
Bruxeias. Embora o acidente na ICMESA, em 1976, seja considerado o evento iniciador
para a Legislação da União Européia, deve-se ter em conta que, conforme observam
Myers & Read (1992),
... o desastre de 1974, em Flixborough, iniciou as reações para este mesmo fim.
Atualmente, a estrutura legal para a implementação desta Diretiva no Reino Unido
( a denominada regulamentação Control of lndustrial Major Hazards - CIMAH) é baseada
em atos e ações que seguem as recomendações das investigações dó acidente de
Flixborough. (Myers & Read, 1992)
Antes da Diretiva, as mdustnas "
noS diferentes Estados membros eram sujeitas
a obrigações de vários níveis de severidade. A submissão do relatório de segurança
por parte da empresa responsável pela instalação perigosa, por exemplo, não era
obrigatória em todos os países. Como foi expresso no Preâmbulo da Diretiva,
disparidades na provisão de informações já aplicáveis ou sendo preparadas nos
Estados membros poderiam criar condições desiguais de competição e ainda afetar
o funcionamento do mercado comum. Por esta razão, foi enunciado que o propósito
..A
global da intervenção da Comunidade Européia era prevenir acidentes " ampliados
S
I Científico I
I ILegal
[ Morai
Social
[__ Institucional
[ _ Propriedade
[ _ Situacional
O Acidente Industrial Ampliado de Seveso...
Reconheciment° Amplificaçã°
Publicidade Compartilhamento t
I Segredo
R e c u s a Confidencialidade
Desprezo
1
Assim, a recusa refere-se não a um ato de manutenção do segredo, porém à forma
mais extrema de desprezo de uma possibilidade, nomeadamente a recusa a admitir que os
problemas decorrentes de um acidente possam existir, ou ainda a dar alguma notícia a
respeito disto, O desprezo ordinário reconhecerá essa possibilidade, porém (assim como
para muitos eventos no futuro distante) assinalará para tal um baixo valor, de modo a não
lhe dar proeminência, considerando que isto pode ser negligenciado para os propósitos de
políticas públicas. Referimo-nos ao reconhecimento de uma incerteza contingente como
uma apreciação balanceada; e, por contraste, a amplificação é uma ênfase, talvez ainda
uma ênfase acentuada da significância do problema.
Correspondente às interpretações, têm-se as políticas relacionadas à
comunicação. Em um extremo, encontra-se o segredo, o caso extremo da
'confidencialidade'; no meio, então, tem-se a publicidade, com sua forma extrema
sendo o compartilhamento. Naturalmente, existem muitas variações e nuanças em
qualquer política de comunicação.
No acidente de Seveso, a complexidade dos problemas de comunicação no
contexto de uma incerteza severa foi reconhecida, se não completamente gerenciada,
somente no início das últimas semanas da fase aguda. Antes do acidente, ninguém
do lado de fora da planta industrial, nem os residentes, nem ãs autoridades públicas e
O Acidente Industrial Amplfado de Seveso...
da saúde, tinham alguma idéia de que havia um perigo de tal magnitude. O acidente
e o vazamento causaram incredulidade, seguida por alarme e espanto. O
comportamento inicial da empresa conduziu a uma subseqüente suspeição acerca
de seus motivos: enquanto quase imediatamente foram lançadas várias instruções
sobre medidas de precaução, ao mesmo tempo encobriam oconhecimento da
substância tóxica envolvida (Rocha, 1980, 1992) Somente cerca de 10 dias depois,
quando a empresa confirmou que o vazamento incluía dioxina (Pocchiari, Silano &
Zapponi, 1987), as autoridades e também o público tomaram consciência de que
havia um risco realmente grave. Ainda assim, era impossível avaliar o perigo com
qualquer precisão Houve um conjunto de temores genuínos, acerca de doenças em
geral e, em particular, acerca de crianças com malformações. A amplitude de doenças
e óbitos de ar6mais de muitas espécies era um funesto sinal. As autoridades tiveram
seus próprios e severos problemas para tomada de decisão sob incercetezas, incluindo
a definição dè diferentes zonas poluídas, dos programas de evacuação dos residentes
ameaçados e da disposição final domaterial contaminado.
Desde o início do acidente as incertezas situacionais eram salientes; decisões
tiveram de ser tomadas, algumas vezes sob condiç5es de grande urgência, diante
da completa ausência de informações científicas, as quais poderiam orientar e
distinguir entre as corretas e as erradas. Agindo com precaução, os investigadores
da magistratura local fecharam o local oito dias após o acidente. Este era um caso
¢ .
em que a incerteza ci entlhca, sendo mmto grande, era completamente proeminente.
Também, na ausência de uma preparação prévia ou consulta, era natural que uma
incerteza societal fosse também severa Como conseqüência, as incertezas legais e
morais foram também severas; assim, o diretor-técnico (de nacionalidade Suíça) da
ICMESA foi preso quando se encontrava em uma reunião de trabalhadores 20 dias
após o acidente, junto com o diretor de produção (o último foi também preso, e
cerca de quatro anos depois assassinado por terroristas).
Um dos aspectos incomuns desse acidente foi o aparente baixo nível de incertezas
relacionadas à propriedade. Embora a provisão de informações relevantes tenha
sido completamente retardada, não houve no início a necessidade de as autoridades
governamentais utilizarem meios legais para forçar a empresa a divulgar a
informação O fato de a fábrica da ICMESA já ter sido confiscada -teria tornado
claramente imprudente para as autoridades da região de Givaudan reter informações
sobre os contaminantes, e isto foi observado na época que a ameaça da di0xina já
p .
h
avia sldo tornada pubhca pela imprensa antes de ser oficia lmente confirmada. Mais
tarde, e fora do sítio contaminado de Seveso, as incertezas envolvendo a propriedade
foram importantes, particularmente em conexão com a disposição dos barris
contendo materiais tóxicos coletados durante a operação de limpeza De 1982 em
diante, histórias sobre ocultamento e erros na disposição dos resíduos começaram a
circular, e ainda não terminaram.
Acidentes Industriais Ampliados
O PARADOXO DE 'SEVESO'
da população afetada são utilizados como evidências em outros casos menos diretos de
poluição e também para uma revisão em andamento da regulamentação (Schneider,
1992). Dessa forma, 'Seveso' continua a ser estendido, com seu único evento de
contaminação atmosférica (em conjunto com o último contato cbm objetos contaminados),
como um modelo apropriado para situações de longa e contínua contaminação, a ser
debatido entre cientistas e tomadores de decisões.
A toxicologia, necessariamente, faz diversas extrapolações em suas inferências:
de animais para seres humanos, de altas doses para baixas doses, de doses agudas
para crônicas. Em qualquer caso dado, tais inferências resultam deuma derivação
do modelo dose-resposta, sobre o qual as bases do 'limite seguro' são definidas.
Existem largas incertezas inerentes a qualquer avaliação deste tipo, embora o debate
crítico e o desenvolvimento de metodologias sejam realizados em torno do progresso
real na ciência (Vineis, 1990). Acidentes em larga escala, com bons monitoramentos
s~bseqüentes, são muito úteis para a ciência, porque constituem um fonte mais
realística de dados. Entretanto, sua interpretação não é destituída de problemas; a
história dos dados de Hiroshima é um exemplo de séria reavaliação dos parâmetros
básicos (Marshall, 1992).
O status de 'Seveso' como um desastre de dioxina pode possivelmente conduzir
ao uso dos dados em um çaminho paradoxal. Como vimos, 'Seveso' foi
imediatamente percebido como um desastre, porém está longe de ser aceito como
tal se consideramos as conseqüências para a saúde a longo prazo. Pode haver uma
tendência de se fazer uma inferência simplista: "Seveso' foi um inofensivo desastre
de dioxina, portanto outras emissões de dioxina não são necessariamente danosas.
Tal argumento tem sido colocado em jogo em Arkansas, onde a evidência de 'Seveso'
foi utilizada para justificar a segurança de um proposto incinerador de resíduos
tóxicos, o qual iria emitir dioxina em quantidades similares às estimadas em Seveso
(Schneider, 1992). Assim, tem-se o paradoxo científico de "Se'¢eso': um evento
primeiramente aceito como um desastre (com grandes conseqüências para as políticas
públicas regulamentadoras) é utilizado como suposta evidência para segurança.
'Seveso', como um símbolo, pode tornar-se crescentemente complexo: sua conotação
original de ameaça é agora desafiada por uma de tranqiiilização. Paradoxalmente,
a recuperação de 'Seveso' pode ser utilizada como asserção de uma limitada
responsabilidade, com suas possíveis conseqüências para ações na Justiça e como
empecilho à necessária recuperação em qualquer outro lugar contaminado.
Entretanto, como os cientistas sabem, é necessário aparecer somente uma única
patologia longamente retardada no processo de monitoramento para que a
ressonância negativa original de 'Seveso'possa ser restaurada . E então a recuperação
de 'Seveso', aparentemente bastante completa hoje, pode imediatamente ser posta
em questão. Mesmo no presente, a ausência de evidências conclusivas de câncer,
O Acidente Industrial Ampliado de Seveso...
seja entre as vítimas que tiveram cloroacne como efeito imediato ou as outras vitimas,
pode ser explicada em termos do 'pequeno tamanho da população, com outros
aspectos do curto período de acompanhamento' (Bertazzi et al., 1993).
nos casos da chuva ácida e das mudanças climáticas globais. Atualmente, considera-
se que o sistema tecnol6gico é global, complexo e até certo ponto altamente inter-
relacionado. A linha que separa as 'boas' e as 'm~s' coisasproduzidas pelo sistema
é agora sinuosa e indistinta. A implementação dessa consciência ecológica nas práticas
industriais e regulamentadoras se encontra agora a caminho. Esta nova consciência
ecológica inclui não somente a interconexão dos 'maus' efeitos do sistema industrial,
mas também o caráter convencional da distinção tradicional entre o que é 'produzido
pelo homem" e o que é "natural'. Em algumas partes do sistema total, a entropia
decresceu drasticamente no nível local (como na manufatura de artefatos), enquanto
ainda vem crescendo mais drasticamente em nível global (mediánte a poluição e os
rejeitos). Os acidentes industriais e a recuperação a partir deles não podem ser vistos
de modo isolado daspatologias do sistema industrial total, que é em si mesmo um
subsistema do planeta. Contradições dentro dos subsistemas, e entre estes e outros
componentes do sistema total, constituem a chave para sua compreensão. Assim,
fomes e enchentes, por exemplo, podem ser agora não mais diferentes em qualidade
dos súbitos eventos denominados 'acidentes industriais'.
Para o entendimento do processo de 'recuperação' proveniente desses eventos
não desejados, eles devem ser concebidos como ocorrendo'dentro do sistema total.
Assim, usualmente não existe um absoluto corte de alimentos, mesmo nas áreas de
'fome', o que levanta a questão de até que ponto uma sociedade pode sofrer rupturas
sem que tenha meios minimamente adequados para lidar com o problema. Agora, é
conhecido que 'socorros para a fome' simplistas podem, em algumas ocasiões,
contribuir mais para impedir a recuperação de uma situação de fome do que
promovê-la. Similarmente, no caso dos desastres industriais, a recuperação de uma
comunidade toma lugar não somente na esfera societal, mas também (como tem-se
visto) na sua dimensão moral, e eqüitativamente importante nos seus aspectos
ecológicos como um todo. Assim, a recuperação da comunidade existe como parte
de um amplo processo, envolvendo todos os elementos do ecossistema total.
O SÍMBOLO PARADOXAL
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A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO SINDICAL NA
ANÁLISE DE ACIDENTES QUíMIcos AMPLIADOS
No dia 15 de julho de 1992, uma explosão seguida de incêndio iria tornar público
um processo que vinha se delineando há algum tempo na indústria Petroquímica
União S.A~ (PQU), primeira central de matérias-primas petroquímicas do País: o
sucateamento dos equipamentos e a diminuição do quadro de pessoal - reflexo
imediato e concreto do Programa Nacional de Desestatização (PND) iniciado no
Governo Collor de Mello.
O rompimento de uma linha na saída de'um Forno de Preaquecffnento da Unidade
de Hidrodessulfurização de Nafta e Reforma Catalítica, por onde circulavam nafta e
hidrogênio aquecidos e sob pressão, foi a causa da explosão seguida de incêndio: "O
produto em combustão atingiu a plataforma dos equipamentos vizinhos (...) onde
estavam sendo efetuados trabalhos de manutenção elétrica, pintura e refratamento de
linhas do sistema de preaquecimento de ar" (Galli, Possebom & Olle, 1992:05).
Dez pessoas foram atingidas. O acidente custou a vida de um trabalhador de 26
anos que exercia a função de eletricista de manutenção e veio a falecer um dia após
o acidente. Outros dois trabalhadores-de firmas empreiteiras também sofreram
queimaduras graves no corpo. Os demais, sete trabalhadores de firmas empreiteiras,
sofreram luxaç6es após saltarem dos andaimes e plataformas em que se encontravam
no momento do acidente. Além disso, os custos da interdição determinada pelo juiz
resultaram em prejuízos de cerca de US$ 30 milhões declarados pela empresa e
US$16,5 milhões declarados pelos seus principais clientes - resultado da imprevista
falta de suprimento de matérias-primas.
Tinha início também um dos mais vigorosos processos de intervenção social e
do Estado em uma empresa petroquímica no Brasil, materializado em iniciativas
como: ação civil pública movida pelo Sindicato dos Químicos e Petroquímicos do
ABC e a Promotoria de Justiça de Acidentes do Trabalho de Santo André; fiscalização
e interdição de áreas pela Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo (DRT/SP) e
Justiça Cível; forte mobilização dos trabalhadores da empresa, em conjunto com as
entidades ecológicas e de moradores da região; investigações internas pelos membros
da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CruA), da Comissão Especial de
Investigação das Causas do Acidente (constituída pela direção da empresa), das
seguradoras da empresa, da Polícia Técnica, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar
e outros - tudo com o mais completo e rigoroso acompanhament0 da imprensa
local e regional.
A Petroquímica União S.A. (PQU), cenário deste processo, localiza-se na região
do ABC paulista. Com menos de 600 empregados atualmente e 1.210 na época do
A Experiência do Movimento Sindicai.,.
As CAUSAS DO ACIDENTE
foram apontadas. Todas essas falhas caracterizavam uma situação grave de risco,
principalmente para os trabalhadores da empresa e os das empreiteiras.
Os dois laudos técnicos juntados aos autos apresentaram recomendações que
tinham por objetivo corrigir as irregularidades e desconformidades apontadas, e
muitas delas foram executadas imediatamente, outras no decorrer de prazos
definidos conjuntamente pelas partes (sindicato, empresa e Mlrusteno
. . p - ubhco),
. na
forma de acordo.
Além destes, outro processo de investigação foi conduzido por engenheiros da
Divisão de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST) da DRT/SP, acompanhado pelo
d i r i g e n t eod sindicato
" " "
na fabrica e o engenheiro do sindicato. O roteiro de investigação
adotado pelo órgão fiscalizador foi baseado nas numerosas irregularidades apontadas
nos depoimentos dos trabalhadores no Ministério Público Cada uma das enuncias
d " "
foi investigada e diversas recomendações foram feitas com o sentido de corrigir as
falhas existentes
Desta maneira, a pauta de investigaçãodos tecmcos
" " da DRT/SP se diferenciava
daquela mais ampla, empreendida pelos peritos judiciais e assistentes técnicos nos
autos da Ação Civil Pública do Ministério Público. A participação do sindicato nas
duas instâncias capacitou-o a negociar de forma global um conjunto de medidas de
engenharia e organizacionais que garantissem o retorno da segurança na fábrica.
Acidentes Industriais Ampliados
. garantia de acesso dos trabalhadores e seus representantes na CIPA aos resultados das
inspeções dos equipamentos;
" publicação trimestral do direito previsto na alínea a, no boletim Acontece, editado e
distribuído pela empresa;
permanência de equipes de manutenção e bombeiros nos turnos, na forma apontada
pelos peritos judiciais em agosto de 1992, na época da desinterdição da fábrica;
ampliação da pauta das reuniões mensais para quaisquer assuntos relacionados à
segurança e à saúde dos trabalhadores;
manutenção de nível elevado de treinamento para empregados próprios e de terceiros,
com especial ênfase para as Paradas Gerais;
execução de 55 Recomendações de Inspeção de Equipamentos, remanescentes de 1992,
até o término da Parada Geral XIII, em 31/5/94;
" realização da pintura de todos os eqmpamentos e instalações de acordo com a NR-26,
em 36 meses;
garantia de visita mensal de técnico e dirigentes do sindicato à empresa, desde que esta
seja informada previamente em até cinco dias;
informação sobre os riscos do parque industrial, do lado de fora dos muros da empresa,
voltado para as ruas do Jardim Sônia Maria;
estipulação de multa no valor de 20% de cada item descumprido.
A Experiência do Movimento Sindicai.,.
ANÁLISES E REFLEXÕES
Entretanto, ainda que dentro dos seus limites metodológicos - ação pontual
sobre questões específicas levantadas pelos trabalhadores - o Ministério do Trabalho
atuou em conjunto com os representantes dos trabalhadores e sua assessoria técnica
e, refletindo um momento político histórico que se construía, dèterminou a
continuidade do processo investigativo por meio das 'visitas' mensais do sindicato
à empresa - repassando parte de suas atribuições aos afores sociais envolvidos.
No caso estudado, é possível identificar ainda uma ação sindical coordenada e
em sintonia com os princípios conceituais que caracterizam o modelo operário
italiano, segundo Oddone et al. (1986): " " ~ consensual ', a "não-defegação"
a vahdaçao
e a noção de "grupo homogêneo". Em primeiro lugar, c be a aqm destacar o papel de
vanguarda que o conjunto dos operadores de processo adquiriu no movimento.
Este grupo era constituído em sua maior parte por operários experientes,
conhecedores do processo e da fábrica - que ajudaram a "partir' (colocar em operação)
em 1972 e acompanharam sua evolução tecnológica e degradação por todos estes
anos.Constitun:am-se,
" " assim, um verdadeiro 'grupo homogêneo' que distinguia seus
interesses dos demais trabalhadores da empresa - em determinado momento do
processo, intervinham como grupo de interesse nas assembléias, em contraposição
aos seus colegas da manutenção e das áreas administrativas (estes últimos mais
.
suscetíveis aos argumentos da empresa quanto à confiabilidade das me&das tomadas
. .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vezes três mil metros abaixo do solo, ou abaixo do piso do mar. Em seguida,
comprovar ou í~ão a existência dos hidrocarbonetos. Depois decidir entre 'tampar',
abandonando os pOços ou deixando em stand by, ou 'completar' tais poços, neste
caso imobilizando na rocha, com cimento, as tubulações de aço concêntricas por
onde o poço será posteriormente manobrado - com passagens para água, vapor,
" cabos elétricos, injeção de gás - e por onde escoará a mistura multifásica de
hidrocarbonetos líquidos e gasosos, de água com sais e de cascalho. Para completar
os poços é necessário ainda empregar explosivos para 'canhonear a rocha' no entorno
da seção final do poço e induzir o escoamento da mistura.
Montar conexões: montar as 'conexões' de cada poço com suas instalações terrestres ou
subaquáticas: árvores de natal, conjuntos de válvulas de cabeça de poço, manifolds
(conjuntos de válvulas controlando vários poços); assentar, montar e alinhar tubulações,
com trechos flexíveis (sob o mar) e trechos rígidos, com bitolas de até 24 polegadas, no
mar, e de até 40 polegadas, em terra. Estes tipos de trabalho são feitos por 'navios
especiais" (pipe-layers, equipados com robôs de filmagem e de intervenção, ROVs e RCVs)
e em geral recorrendo a aquanautas, petroleiros subaquáticos ou 'mergulhadores
profissionais', os quais por sua vez também farão os consertos, as trocas e algumas das
manobras operacionais de toda essa rede submarina, ano após anos, durante sua 'vida
útil' - e a vida do mergulhador é bem mais curta que a vida da rede submarina de
escoamento, por exemplo, no litoral Norte Fluminense.
Instalar unidades marítimas industriais de produção e processamento: no caso do off-
shore, deve-se construir,r ebocar ate o local definitivo e instalar as urudades
i - mantimas
,
'certificações' periódicas ou porque alguém achou por bem alterar o ser poínt,
colocando-o acima ou abaixo do especificado. São os operadores, muito mais do ~
que os engenheiros, que se desdobram e se esforçam quando ocorrem e se
multiplicam as 'emergências', chamadas, pela empresa, de 'ocorrências anormais'
e, em alguns casos, de 'não-conformidades'. Por exemplo: os episódios de alteração
geométrica, estrutural ou de descontrole de máquinas motrizes, térmicas,
termoquímicas e elétricas.
Tais tipos de eventos - ou melhor, de mecanismos de risco - envolvem alterações
bruscas em geral, ou de muita amplitude, nos fltt,xos de vazão ou na densidade, na
viscosidade dos fluidos, e também variações signifícativas nas pressões e nas
temperaturas dos materiais em processo, nos recipientes e nas máquinas. Há
probabilidade de ocorrerem rompimentos de linhas, conexões, vasos, reservatórios,
travamentos de válvulas, cavitação e perda de potência de bombas.
A m a i o r i a d a s p l a t a f o r m a s , d a s U P G N s e d a s r e fi n a r i a s b r a s i l e i r a s t e m
[ [
Um jargão cada vez mais freqüente nas refinarias é a 'reversão das Fluid Cathalytic
Cracking (FCC)' ou Unidades de Craqueamento Catalítico de gasóleo em leito
fluidizado. Os vários episódios a cada ano de operação são típicos de uma instalação
que 'balança', cujos parâmetros operacionais oscilam bruscamente, ou saem das
faixas habituais. A situação exige a disposição das equipes para pilotar 0
desbalanceamento dos diferenciais de pressão, as variações bruscas das temperaturas,
dos fluxos de água e vapor, É preciso também modular e adequar as variações de
carga a ser processada, assim como do ar soprado e da água bombeada para as
caldeiras acopladas a essas FCCs. Dentre os efeitos da reversão, tem-se o conhecido
fumaceamento das cham'més (que é um dos itens de observação prioritária para os
operadores dessas unidades e os do painel de vapor das casas de força)com a emissão
de nuvens de pó catalisador gasto na atmosfera, fenômeno conhecido dos bairros
vizinhos das refinarias.
Nas atividades de exploração e produção, os kicks de sobrepressão (bolhas de gás)
perturbam e ameaçam a perfuração de poços. Os blow outs (bolhas ainda mais perigosas,
quase uma erupção) podem ser em parte neutralizados pelos robôs de boca de poço, os
Blow Out Preventers (BOPs); isto se estes, por sua vez, tiverein um bom projeto e se
funcionarem corretamente. Por exemplo: nos dois maiores acidentes no off-shore brasileiro,
na Plataforma Central de Enchova, Bacia de Campos (RJ) - o primeiro em 1984, resultando
no óbito de cerca de 40 trabalhadores e o segundo em 1988, resultando na destruição
completa da plataforma --, o BOP não funcionou como deveria.
O 'atolamento' das redes coletoras de águas servidas e das bacias e dos
separadores das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) e das Estações de
Tratamento de Despejos Industriais (ETDIs) é o jargão usado quando estas estações
não conseguem dar conta de sua função. Isto'porque precisam tratar águas de
drenagem de petróleos com carga maior de fenóis ou de sulfetos, ou águas mais
ácidas; ou quando têm de receber também os volumes extras de águas pluviais em
dias muito chuvosos, ou volumes extras resultantes das demais emergências, como
o fato de atolar por excesso de espuma ou de água de incêndio.
A desmontagem, quase uma substituição geral das partes das grandes unidades
industriais, após o período previsto de campanha operacional, em gerai de dois a
três anos, é chamada de 'parada de manutenção'. Se, nesta parada, os gerentes e
fOrnecedores decidem fazer alguma modificação relevante na configuração anterior
- por exemplo, aumentando-se os diâmetros das tubulações, ou alterando-se geometrias
ou calibres dos vasos, das tubulações, dos risers de ligação entre vasos -, aí a parada é
chamada de revamp. O fato de as paradas e revamps ocorrerem em uma ou algumas
unidades de uma refinaria - que é uma instalação multifábricas - simultaneamente
com a continuidade da operação das demais unidades é determinante no risco global
da indústria petrolífera. Muitas linhas e ligações entre as partes que funcionam e as
partes que vão ser mexidas devem ser raqueteadas, ou seja, bloqueadas; e depois de
Acidentes Industriais Ampliados
O C O N C E I TO D E R I S C O T É C N I C O C O L E T I V O E U M A H I E R A R Q U I Z A Ç Ã O D A S
SITUAÇÕES DE Risco ASSOCIADAS A INDÚSTRIA PETROLÍFERA NO BRASIL
O risco técnico coletivo é para nós uma expressão conce!tual, uma ferramenta
de análise desta e de outras situações tecnológicas, industriais e também em âmbito
regional (Sevá Filho, 1988, 1989, 1997; Barbosa & Sevá Filho, 1992). É de 'origem
tecnológica' para diferenciá-lo de um risco natural típico (uma erupção vulcânica
ou um tufão, por exemplo), Mesmo quando um raio atinge um tanque de combustível
e provoca um incêndio, alguma falha técnica ou organizacional houve.
Por diversos fatores, o 'risco técnico' é intrínseco e muito característico da
indústria do petróleo:
porque é atacada a epiderme da terra, interferindo na geomorfologia e na mecânica do
subsolo, inclusive do subsolo marinho;
" porque se trabalha com hidrocarbonetos que evaporam, se incendeiam ou explodem e
com compostos químicos que contêm ou se transformam em substâncias tóxicas para
os homens, sua água, seus alimentos;
porque são operados sistemas e máquinas que podem desencadear acidentes poderosos,
os quais chegam a matar e ferir várias pessoas ao mesmo tempo.
Justamente por serem sistemas complexos, materializações de tecnologias de
alto risco, sabe-se que a ocorrência ou não de acidentes e a sua gravidade dependem
diretamente dos seus padrões reais de funcionamento e do preparo de seus
trabalhadores, além do estágio preciso de depreciação técnica. E justamente por
serem 'intrínsecos', tais eventos de risco são 'probabilísticos' e sempre acontecem
em alguma instalação. Deviam estar sendo previstos e combatidos sem trégua e não
tolerados, muito menos induzidos pelas próprias empresas, que deveriam ser
responsáveis pela totalidade dos efeitos dos seus empreendimentos. Também chega-
se até esta situação por causa das relações sociais e hierárquicas de produção, que
excluem os operadores e mantenedores do equipamento de uma participação efetiva
Acidentes Industriais Ampliaãos
Nos quadros sinóticos, são citadas as instalações e as vizinhanças sob efeitos e riscos da atividade
petrolífera; e após três asteriscos (***) alguns eventos marcantes ou típicos ali ocorridos, É importante
observar que não foram avaliadas, por falta de informações mais precisas, as demais situações já
mencionadas no item 'Atividades técnicas e tipos de riscos na indústria petrolffera'. Estas, igualmente,
incluem riscos técnicos afetando trabalhadores e vizinhos de regiões produtoras e de dutos e refinarias
em estados do Nordeste (do Ceará até Sergipe), no Amazonas, no Espírito Santo, no Paraná em Santa
Catarina e no Rio Grande do Sul.
'... Alertas Sobre o Risco Técnico Coletivo...
Q u a d r o S i n ó t i c o 4 - M a c a é e l i t o r a l n o r t e fl u m i n e n s e ( R J )
Quadro Sinótico 5 - Trechos dos vales do ParaSa do Sul e do Alto Tietê (SP)
Terminal Tebig, entre Angra dos Reis e Mangaratiba, calado de 25 m, bombeio para
Reduc e Regap. ***Dezenas de marés negras, algumas explosões, incêndios e
naufrágios de embarcações.
185
Aczdentes Industriais Ampliados
Dois temas aqui enfatizados são pouco divulgados, pouco debatidos fora das
corporaçôes produtivas e fora de algumas instâncias parlamentares e jurídicas. No
entanto, estão no 'centro da luta política na indústria do petróleo':
- os riscos intrínsecos e variados da cadeia produtiva petrolffera;
" toda a estrUtura de organizaçao e de segurança da produção com a participação dos
trabathadóres.
O que se comprova, sobretudo nas instalações off-shore mais recentes, é uma
estratégia de dificultar a filiação sindical às entidades regionais em terra e nacionais
Acidentes Industriais Ampliados
Mas outras avaliações sobre o mesmo problema aqui tratado, e que possam ser
não aderentes a tais operações ideológicas refinadas da indústria petrolffera,
apontarão cada vez mais claramente a demonstração aqui apenas demonstrada. A
indústria internacional do petróleo e do gás, suprindo 60% da energia primária
comercial de todos os tipos, e ainda em fase de expansão, vai escalando patamares
sucessivos, mais altos, de risco técnico coletivo.
No Brasil, coletividades humanas já foram vítimas de alguns dos maiores
acidentes industriais no ranking internacional e no circuito do petróleo: REDU (RJ),
em 1.972, com 38 trabalhadores mortos em uma explosão em uma esfera de GLP;
Pojuca (BA), em 1982, com número de mortos variando entre dezenas a uma centena
por conta do incêndio e explosão em um comboio de trerh que tranportava
combustíveis e descarrilou; Plataforma de Enchova (RJ), em 1984 e 1988, resultando
o primeiro acidente na morte de aproximadamente 40 trabalhadores e o segundo na
destruição da plataforma; Vila Socó (SP), em 1984, com um número de cerca de 500
óbitos resultantes do incêndio que teve seu foco em um oleoduto que vazava,
atingindo toda uma favela. Além destes acidentes, conhecidos e noticiados pela
grande imprensa, deve-se lembrar que na indústria .do petróleo vivem '150 mil
petroleiros' na ativa, que se acidentam, adoecem e se desgastam cada vez mais.
Menos de terça parte desses petroleiros são assalariados da maior empresa, a
PETROBRAS; metade provavelmente nem é sindicalizada. Os sindicatos de petroleiros,
I°
GUARAREMA \
"~«~
ILHABELA
~í~~
SÃO SEBASTIÃO-"
~
~Gãs Natural, produção, suprimento atual e previsto:
[-~~] gasoduto vindo da Reduc, RJ via V.Redonda. RJ e Vaie Paraiba SP até Guararema,
~',] gasoduto em obras, lig.Guararema-Paulinia; gasoduto Bolívia. trecho Bauru-S.Carlos
*Paulinia; + [ ,,'] derivação projetada p/Cudtiba via região Sorocaba.
Plataforma produtora de GN, Me rluza, 80 km.sul Santos, [ ]gasoduto submartngL
atéPr.ala Grande + t~ho terrestrç -[~] UPGN Cubatão,dai pt i~ds. cons. GN Cubatâo[ ~~
+ P'Mu, petroquimí ,ca, s, L;apuava L~]~ P,/cítygate COMGAS + [~_] gasômetro ( centro SP)
irl i ilrr i ] I I
V.REDONDA
REZENDE
[~] Refinaria REDUC ( Petrobrás), Duque de Caxias, recebe óleo cru pelo duto vindo [ ~ ] Uni
de Macaé, e pe!ò duro vindo do terminal marítimo TEBIG, Mõnsuaba, canal Leste, I, Grande, [ i] Indl
Ugada à Ilha do Governador, e terminais da Ilha ri'Agua [{~l] ,ilha redonda ~ ,Galeão [ ]; Pirahy pap
dt,~0 de petróleo para MG, duros de derivados ligando MG via J, Fora, com V.RedondaíSP Alcalis e S«
[-Çr~J city-g«
[ .~] Refinar~ MANGUINHOS ( Peixoto de Castro/Wal) rec. óleo cru no porto RJ / duto.
] Construção t montagem plataformas, Vedome, Jäcuecanga, pro×. Angra dos Reis, [ t ] Ind
Pia-['afÕrmas e navios sonda em manutenção/montagens, fundeados Baía de Guanabãra, CSN, V. Rt~
prox. ilhas oceânicas ( do Pai, da Mãe, Rãsa). [ ] Outros portos prox. BH; e
(MBR, Manga~iba), containeres e carga geral ( Sepetiba~ e centro do Rio) us. térmica
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PARTE III
PLANE3AMENTO
PRINCIPAIS CRITÉRIOS PARA JULGAMENTO DA
GESTÃO DE DESASTRE E APLICAÇÃO NAS
SOCIEDADES EM DESENVOLVIMENTO*
E. L. Quarantelli
diferentes dos desastres, tal como estes o são das emergências do dia-a-dia, e de
várias maneiras exigem uma gestão um tanto diferente (Quarantelli, 1994).
Os 10 princípios gerais de gestão de desastre serão apresentados, pois considera-
se que a avaliação da gestão de um desastre tem de usar vários critérios além daqueles
aplicados no planejamento da prontidão.
A GESTÃO DE DESASTRES
Por razões que não parecem totalmente claras, nem sempre é explicitamente
reconhecido ou aceito que o planejamento e a gestão dos desastres comunitários são
dois processos diferentes. Talvez isto se deva ao fato de que os mesmos funcionários
públicos da comunidade em geral estejam envolvidos em ambas as atividades. Ainda
assim, em certas linhas, a diferença seria óbvia. Os pesquisadores, por exemplo, em
geral reconheçem que o planejamento de uma pesquisa é diferente da gestão de um
projeto que se apóie naquela pesquisa. Sob outro aspecto, só recentemente a Agência
Federal de Gestão de Emergência (Federal Emergency Management Agency - FEMA)
nos Estados Unidos começou a enfatizar o desempenho sobre os critérios do
planejamento na avaliação das repartições de gestão de emergências regionais.
Aparentemente, a diferença não é óbvia para todos.
Deixando esse problema de lado, a boa gestão de desastres comunitários pode ser
avaliada fundamentalmente em termos de determinados critérios derivados da pesquisa.
Muita da referência bibliográfica relevante no que tange a esses tópicos é mais implícita
do que explícita, embora bastante extensa. Coletivamente, indica que a gestão é boa se
forem atendidos os 10 critérios a seguir, os quais se relacionam seqüencialmente um ao
outro. Deve-se observar, também, que embora parte do planejamento possa, de forma
geral, ser avaliado antecipadamente, um julgamento específico sobre a gestão só poderá
ser feito após o impacto do desastre. Contudo, saber o que constitui uma boa gestão
pode ser útil até para os funcionários operacionais no meio de uma crise gerada por
desastre - e naturalmente, finda a ocasião, esse conhecimento pode ser usado para fazer
as mudanças para enfrentar os futuros desastres.
A seguir, apresentam-se os 10 critérios para uma boa gestão de desastres.
2O2
..Critérios para Julgamento da Gestão de Desastre...
Ou.tra resposta é mobilizar recursos que chegam, inclusive pessoal, prevendo-se tarefas
maiores. Estas ações alteram o padrão das tarefas; modificam os padrões previamente
estabelecidos de tomada de decisão, relacionamento de autoridades e canais de fluxo
de informações; criam novas fronteiras organizacionais. Além de criar mudanças internas,
o escopo das tarefas e as suas incertezas levam as organizações a se envolverem com
outras organizações com as quais não estavam familiarizadas (Quarantelli, 1985b; para
outros aspectos, vide Dynes, Quarantetli & Kreps, 1981:41-43).
Na realidade, todos os grupos que aparecem em uma crise comunitária podem
ser classificados como umdos quatro tipos possíveis. Eles estão indicados na página
a seguir:
As quatro possibilidades demonstradas derivam da consideração do fato de
que algumas organizações comunitárias têm tarefas dentro do período de crise que
são essencialmente as mesmas que empreendem durante os períodos de rotina ou
...Critérios para Julgamento da Gestão de Desastre...
antes do impacto. Outros grupos, porém, têm basicamente tarefas novas. Além disso,
algumas organizações mantêm um conjunto similar de relacionamento social interno
do dia-a-dia na ocasião do desastre, enquanto outras desenvolvem um conjunto
completamente novo. Uma classificação cruzada dessas dimensões de tarefas e
relacionamentos fornece a tipologia apresentada anteriormente (Quarantelli, 1967).
TAREFAS
NÃO I~EGULARES
REGULARES
Tipo II Tipo IV
NOVOS Organizações Grupos
Expandidas Emergentes
objetivos diferentes. Por exemplo: as repartições públicas, por lei e por tradição,
precisam considerar uma ocasião de desastre e as demandas que cria a partir da
perspectiva da comunidade maior. As organizações do setor privado têm,
necessariamente, uma perspectiva bem mais estreita, avaliando o próprio
envolvimento sobretudo do ponto de vista de colidir a ocasião com seu
funcionamento e lucratividade ~e têm muito menos flexibilidade no uso de
seu pessoal e recursos do que as repartições governamentais.
Finalmente, a coordenação também é difícil entre organizações que trabalham
em tarefas comuns, porém novas. Mesmos as repartições locais, acostumadas a
trabalhar juntas, como a polícia e o corpo de bombeiros, podem encontrar
dificuldades quando, de repente, tentam integrar suas atividades na realização de
tarefas novas relacionadas a desastres, como feridos em massa. Embora policiais e
bombeiros possam estar acostumados a recolher alguns corpos em acidentes de
trânsito ou incêndio, um número maior, em um desastre de grande porte, colocará
problemas de coordenação. Em parte é a novidade de muitas tarefas relacionadas
ao desastre que gera relacionamentos tensos entre organizações que, antes,
trabalharam juntas em harmonia. Da mesma forma, nas operações diárias, pode
haver um desenvolvimento gradual, quase sempre na base do erro e do acerto, de
um relacionamento de trabalho cooperativo entre dois grupos envolvidos na
realização de um objetivo comum. Mas esses desenvolvimentos calmos de
relacionamentos cooperativos são uma impossibilidade, dadas as demandas
imediatas durante a fase de crise de um desastre comunitário.
Muitas outras questões na gestão de desastre discutidas anteriormente
dependem, em grande parte, de como lidam os funcionários-chave com o problema
geral de integração das reações organizacionais e comunitárias a um desastre. Um
bom começo está na ênfase à cooperação, em oposição ao controle ou em insistir
que 'alguém tem de estar no comando'. As três áreas específicas de problema que
mencionamos só podem ser parcialmente tratadas mediante um planejamento
anterior ao impacto. Grande i~arte vai depender não .apenas do exercício de tato e
sensibilidade dos ftmcionários-chave envolvidos, mas dadisposição de não enfatizar
as reivindicações organizacionais de liderança nem as demandas territoriais,
acentuando as ações necessárias para o bem maior da comunidade. Apelo a símboJos
maiores e a interesses humanitários são capazes de levar pessoas e grupos a
cooperarem, em especial na ocorrência de um desastre comunitário de altas
proporções. A boa gestão de desastre pode ser julgada a partir dos tipos de esforços
empreendidos na coordenação e na relativa ausência dos problemas mencionados.
...Critérios para Julgamento da Gestão de Desastre,.,
1
boa razão para se deixar de prever o provave, tal como o aparecimento da emergencla.
Naturalmente 6 deveras importante não partir do princfpio de que os fenômenos
emergentes sejam necessariamente disfuncionais, ruins ou de qualquer forma
inadequados para a ocasião de crise. Há uma forte tendência entre os administradores
de desastre no sentido de pensar que, como não planejaram ou não estão controlando
alguns fenômenos, isso pode não ser bom. Raramente é assim. No geral, o novo
comportamento ou grupo pode representar a forma mais eficiente de lidar com um
problema, o que não equivale a dizer que a emergência sempre represente a melhor
solução; mas ela representa, sim, um esforço para solucionar problemas e, na pior
das hipóteses, costuma ser um tanto eficaz.
Na realidade, os planejadores e atendentes podem considerar as circunstâncias
e para que fins, na realidade, desejam facilitar determinados tipos de emergência.
Um caso é o uso de vòluntários individuais que, como já observamos, em geral são
mais um problema do que uma ajuda. Apresentar-se como voluntário é um
comportamento emergente de pessoas. Mas pode ser interessante tentar facilitar a
apresentação de voluntários emergentes por grupos (a saber: clubes, associações de
bairros, grupos religiosos etc.). A vantagem estaria em que os membros de referidos
grupos operariam com pessoas conhecidas, com as quais compartilham determinadas
normas e valores (Dynes & Quarantelli, 1980). Assim, os responsáveis pela gestão
do desastre poderiam tratar com 'líderes' já existentes de referidos grupos e deixar
que eles proprlo " S
liderem os participantes.
Nosso ponto gerai é que haverá emergência nos desastres. Assim, o
comportamento precisa se mesclar, da melhor maneira possível, com outras
atividades relevantes. Se isto for feito, a gestão do desastre na situação provavelmente
será boa pelas razões indicadas.
Uma das características notórias das sociedades modernas é que elas dispõem
de sistemas de comunicação de massa complexos, com diversos meios de divulgação.
...Critérios para Julgamento da Gestão äe Desastre...
Pode-se afirmar, Com certeza, que sociedades desenvolvidas, aquelas que são
altamente industrializadas e urbanizadas, não poderiam existir sem as informações
fornecidas por referidos sistemas. Porém, para nossos objetivos, a importância dos
sistemas de comunicação de massa modernos é que afeta qualquer desastre
comunitário, inclusive seus efeitos - e o que será necessário na ocasião é cada vez
mais dependente daquiloque fornece este sistema. Em muitos aspectos, a visão que
todos - incluindo os responsáveis pela gestão da emergência - têm de um desastre
é cada vez mais a "realidade', conforme apresentada por televisão, rádio e jornais. O
que sabem os cidadãos sobre um desastre, seus efeitos e problemas depende muito
do teor das notícias divulgadas pelos meios de comunicação.
Assim, uma boa gestão do desastre encoraja o desenvolvimento de padrões
de relacionamentos que sejam aceitáveis e benéficos às organizações presentes,
aos grupos da mídia e aos cidadãos em geral. Um indicador desse relacionamento
é o padrão cooperativo da interação entre os funcionários de organizações e da
comunidade e os representantes da mídia. Uma indicação adicional é que os
cidadãos acreditam que estão recebendo do sistema de comunicação de massa
local um quadro relativamente correto daquilo que está acontecendo. Ademais,
onde esses relacionamentos são bons, a imprensa fica satisfeita com a qualidade
de informações que são tansmitidas pelos responsáveis que, por sua vez, desejam
difundir determinadas informações relevantes sobre o desastre. Naturalmente,
como é responsabilidade deles, a reunião inicial dos dados do que está ocorrendo
depende dos responsáveis pela gestão das diversas organizações a agirem na
emergência. Se não fornecerem informações relevantes, a mídia poderá divulgar,
não intencionalmente, notícias que não sejam corretas e informativas o suficiente.
Se não houver satisfação de todos os três setores - funcionários, imprensa e
cidadãos - a gestão do desastre não é tão boa quanto deveria ser. E, ainda mais
importante do que a satisfação, é que todos os três segmentos da comunidade estejam
obtendo as informações de que necessitam, de forma que todos possam agir
adequadamentè. Parte disto resulta do fato de que, em muitas sociedades ocidentais,
as normas no mundo do jornalismo praticamente ditam um relacionamento adverso
entre imprensa e funcionários do governo.
Além disso, há a necessidade de considerar o futuro com relação à área dos
meios de comunicação. Ela encontra-se em estado de extremo' fluxo e mudança.
Quais são as implicações para o planejamento e a gestão do desastre, por exemplo,
de se trazer estações remotas via cabo à comunidade local? Têm-se observado casos
de audiências em uma região dos Estados Unidos a receber alertas de tornado 0u de
inundação para uma área em torno da estação transmissora original, em outra parte
do país e, de forma contrária, deixando de receber o próprio alerta para a comtmidade
local, porque estão ligados com uma estação remota.
Acidentes Industriais Ampliados
Algumas histórias são exemplos que levantam questões ainda mais interessantes.
Em um caso recentemente estudado no local pelo DRC, a reportagem em campo sobre
um incidente de emissão de tóxico perigoso pelo canal de televisão local foi utilizado
pelo chefe de ocorrências do corpo de bombeiros para tomar decisões sobre o fato. Ao
mesmo tempo, aquele funcionário era entrevistado por um repórter sobre o que estava
acontecendo. E ainda em um outro desastre, hóspedes presos em seus quartos durante
um incêndio em umprédio alto de hotel eram informados do andamento do incêndio
e instruídos quanto ao que deveriam fazer (incluindo a evacuação) pela reportagem
local feita por canais de televisão.
Muitas das tecnologias mais novas, dos telefones celuIares aos satélites diretos
e aos videocassetes intervêm de novas manéiras na transmissão do comunicador
inicial aos destinatários da informação. Claramente temos o fenômeno aqui diferente
do que normalmente é tido como certo na visão tradicional do uso dos meios de
comunicação em desastres. Assim, apesar de os critérios de nosso avanço no sistema
de comunicação de massa serem, sem dúvida, válidos como medida de uma boa
gestão de desastre, claro está que referida gestão no futuro (é preciso pensar aqui
em termos de anos e não de décadas) terá de levar em conta a revolução da
comunicação de massa que está ocorrendo.
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IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE RESPOSTA P
Diante dessa situação, algumas iniciativas vêm sendo tomadas por indústrias
do setor químico e petroquímico brasileiro no sentido da estruturação de planos de
atendimento a emergências extemas. Uma dessas iniciativas, bastante ilustrativa
das dificuldades inerentes à implantação de processos semelhantes no Brasil,
encontra-se em andamento no Pólo, Industrial de Campos Elíseos, situado no
município de Duque de Caxias (RJ).
com a Associação das Indústrias Químicas dos Estados Unidos e o Conseltio Europeu
das Federações da Indústria Química, com o objetivo de alertar e preparar as
comunidades residentes próximo a áreas industriais para possfveis acidentes com
conseqüências externas.
O Processo APELL, tal como formulado originalmente, tem dois objetivos básicos
(ABIQUIM, 1990):
criar e/ou aumentar a conscientização da comunidade quanto aos possíveis perigos existentes
na fabricação~ no manuseio e na utilização de materiais perigosos e quanto às medidas
tomadas pelas autoridades e a indústria no sentido de proteger a comunidade local;
"desenvolver, com base nessas informações, e em cooperação com as comunidades locais,
planos de atendimento para situações de emergência que possam ameaçar a segurança
da coletividade.
Envolvendo e integrando representantes da indústria, do poder público e
da comunidade local, o APELL enfatiza nas suas diretrizes a necessidade de uma
forte ligação entre as responsabilidades do governo local e aquelas da indústria
(ABIQUIM, 1990). Para isso, é proposta a formação de um Grupo Coordenador, no
qual devem ter assento representantes dos diferentes grupos (indústria, poder público
e comunidade local), cuja finalidade él i esenvolver
d 1 uma proposta unificada e
coordenada para o planejamento do atendimento a situações de emergência e troca
de informações com a comunidade local" (ABIQUIM, 1990).
Capitaneado desde o seu início pela REDÜC/PETROBRAS, O Processo APELL-Campos
Elíseos buscou, no seu princípio, seguir essas diretrizes, estabelecendo um Grupo
Coordenador e subordinando a ele várias subcomissões responsáveis pelo tratamento
das questões técnicas relacionadas ao desenvolvimento do processo, tais como análise
de risco, meio ambiente, transportes, intercomunicações, serviço social e saúde,
relações coma comunidade etc. Esta estrutura baseava-se na estrutura funcional
proposta para a implantação do Processo APELL em Ctibatão (SP), cujo lançamento
havia se dado em 1989.
A iniciativa da REDuC/PETROBRAS, acompanhada por algumas outras empresas
do pólo, de implantar um sistema de resposta para emergências externas na sua
^ . integrava um cenário em que o disaarso predominante era o do
área de influencla
resgate da 'dívida social' com as comunidades locais, incluindo aspectos relacionados
à segurança e ao meio ambiente. Dentro deste contexto, outros projetos foram
alavancados pela refinaria na mesma época: reforma e ampliação de escolas;
instalação de cursos profissionalizantes; arborização de áreas internas e externas à
refinaria; atividades de recreação para crianças; incentivo à integração dos
funcionários com a comunidade local. Além destes projetos, a PETROBRAS, por
intermédio da sua subsidiária BR Distribuidora, financiou a construção do posto de
saúde de Campos Elíseos como parte de um acordo firmado com o governo estadual,
que previa a construção de cinco postos de saúde na Baixada Fluminense em troca
da cessão de terrenos no município do Rio de Janeiro.
..Sistemas de Resposta para Emergências...
Um dos fatores que mais fortemente contribuíram para esse quadro foi a omis-
são do poder público que, no âmbito municipal, foi marcado por uma profunda crise
política e administrativa entre os anos de 1993 e 1996, permanecendo absolutamente
ausente do processo durante todo este período. Em face do compromisso assumido
com a comunidade, a REDUC/PETROBRAS continuou arcando com a responsabilidade
pela condução e o custeio integral do processo, o que acarretou diversos inconvenien-
tes. Em primeiro lugar, deve-se lembrar que a característica mais importante de um
sistema de resposta para emergências é a participação, de forma plenamente integra-
da, de representantes das empresas, do poder público e das comunidades locais.
Ao assumir o comando contínuo do processo, a REDuC/PETROBRAS, além de in-
centivar a acomodação e a falta de participação das outras empresas e do poder
público, expõe-se a um desgaste excessivo por não poder corresponder sozinha às
expectativas por ela própria criada, por vezes em razão de inevitáveis circunstânci-
as internas à empresa. Importante é ressaltar que, apesar de a refinaria constituir a
indústria de maior porte da região em termos de capacidade instalada e área ocupa-
da, os riscos de acidentes ampliados não se encontram restritos a ela, porém distri-
buídos por várias outras.
A falta de participação do poder público, em particular, torna o problema qua-
se insolúvel. Determinadas ações externas no caso de um acidente severo, tais como
a coordenação e as garantias necessárias a uma evacuação segura da população,
interdição e controle de tráfego, infra-estrutura de atendimento a feridos, entre ou-
tras, são atribuições típicas de órgãos públicos (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros,
Polícia Militar, rede hospitalar etc.). Estes órgãos podem até mesmo contar, no de-
sempenho destas tarefas, com o apoio e a colaboração de empresas, indivíduos e
outros organismos não-governamentais. Sua presença é, porém, indispensável para
respaldar, legitimar e até mesmo viabilizar ações desse tipo.
: Durante o ano de 1997, dois fatos novos criaram a expectativa de solução para
alguns dos problemas que impediam ao Processo APELL-Campos Elísios a consecu-
ção dos seus objetivos:
a proposta de constituição de uma figura jurídica com representantes das empresas, poder
público e comunidades, a qual, com base em um estatuto e orçamento próprios, fosse a
entidade responsável pelo sistema de re, sposta para emergências extemas do pólo;
a retomada da Defesa Civil Municipal de Duque de Caxias e sua reintegração ao processo.
Algumas reuniões foram realizadas, envolvendo representantes das empresas, do
poder público e das comunidades, porém nada de concreto foi decidido.
O ACIDENTE NA PETROFLEX
228
..Sistemas de Resposta para Emergências...
DIFICULDADESNO AMBITO
^ DO PODER PÚBLICO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
p
- medidas de proteção de medlcos e respondentes;
-localização de antídotos e outras drogas;
o localização de laboratórios segundo os tipos de análises que fazem.
Além disto, os CITs devem estar preparados para outras tarefas, como, por
exemplo, a participação ativa no planejamento da resposta para acidentes amplia-
dos e a educação do pessoal que atuará na resposta de emergência. Incluem-se ain-
da a orientação na formação de estoques de fármacos e antídotos, além da coorde-
nação das atividades de acompanhamento das vítimas.
Para que os CITs atuem convenientemente em acidentes ampliados, é funda-
mental que sejam contatados com rapidez após a ocorrência do evento, È)essa for-
ma, o CIT terá tempo para organizar as informações sobre os produtos químicos
envolvidos e estruturar-se para prestar auxilio efetivo, divulgando informações tanto
às equipes de resposta quanto à mídia (rádio e televisão) local e nacional. Esse tra-
balho é fundamental para evitar a disseminação de informações falsas que podem
prejudicar as atividades de resposta.
A integração el~tre os centros que lidam com informações toxicológicas em todo o
mundo é uma forma efetiva de troca de iIfformações e experiências que pode contribuir
muito para a melhor atuação nos acidentes ampliados'(Kul]ing, 1988; Kulling, 1990).
A atuação policial durante as atividades de resposta pode variar de acordo
com o planejamento e a preparação local. No Reino Unido, por exemplo, a polícia
.tem o dever de controlar e coordenar as atividades de resposta, o que advém de
fatores históricos e se apóia na lei que a coloca como esponsavel
r pela proteção da
vida e da propriedade (Payne, 1990).
No Reino Unido, em geral, as áreas primárias de responsabilidade da polícia
são (Payne, 1990):
salvamento de vidas, junto com outros serviços de emergência;
a coordenação dos serviços de resposta de emergência;
a proteção e a preservação da cena do acidente;
" a investigação do acidente, junto com outras instituições;
a identificação das vítimas;
a restauração da normalidade.
Dependendo do tamanho e da localização do acidente, podem-se estabelecer
três níveis de comando e controle da polícia (Payne, 1990):
ponto de controle avançado, que é o primeiro controle a ser estabelecido no local do
desastre e serár esponsavel pela distribuição do pessoal de resposta e pela segurança;
posto de controle do acidente, que controlará.e coordenará a direção e a investigação do
acidente, sendo central de contato para todos os serviços de emergência e de especialistas;
sala de acidentes ampliados, nível de atividades só ecessano
n " " em acidentes de grande
porte, que requeiram grande efetivo e logística, sendo esponsavel
r pelo controle geral
da resposta ao acidente.
Acidentes Industriais Ampliados
CONCLUSÃO
de 88 hospitais britânicos, Cooke (1992) concluiu que mais da metade dos médicos
responsáveis não recebem treinamento e não participam de exercícios. Verificou
também que a maioria dos planos de acidentes britânicos ignora a necessidade de
equipes médicas para cuidados imediatos no local do acidente.
Em outro trabalho, Thanabalasingham, Beckett & Murray (1991) avaliam as
condições para resposta do serviço médico de emergência na Inglaterra a partir de
um acidente ocorrido durante o transporte de um produto químico altamente
corrosivo, o etildiclorosilane, derramado em importante rodovia nas proximidades
a ^ " de roupas protetoras adequadas para a polícia e
de Londres. Verificam a usen«a
para o pess0al do serviço de emergência médica; e também a.inexistência de
material para descontaminação tanto no sítio do acidente quanto nos hospitais. A
discussão a respeito da preparação dos sistemas de atendimento de emergência
para acidentes ampliados vem ocorrendo principalmente em países centrais e
remete obrigatoriamente os países periféricos a um problema anterior, ou seja, o
atendimento de emergência em situação cotidiana. Afinal de contas, paralelamente
à preocupação com a solução para o problema do despreparo do sistema de
emergência para atendimento a acidentes ampliados, é preciso solucionar os atuais
problemas no atendim~nto médico de emergência ròtineira.
Não é possível desvincular a política de controle dos acidentes ampliados de
outras questões que determinam que a população, em especial a mais carente, esteja
exposta a maiores riscos ao habitar em regiões próximas às grandes indústrias; ou
que seja mais suscetível aos efeitos da exposição a produtos químicos tóxicos devido
às piores condições de nutrição, moradia e saneamento, a ter menos acesso ao sistema
de saúde, educação e, é claro, ao mercado de trabalho. Dessa forma, não há como se
esquivar das questões pertinentes à utilização do solo urbano, à saúde, à éducação,
"" etc., determinadas, em última instância, pela política econômica e
à reforma agrana
pelo modelo de desenvolvimento adotados pelo País.
Existe a necessidade de que o poder público assuma efetivamente a
responsabilidade pela saúde da população no tocante ao risco representado pela
manipulação de produtos químicos tóxicos. Neste Sentido, um passo fundamental
consistiria na implantação de planosd e emergenaa
^ " nas regiões próximas a instalações
com riscos de acidentes ampliados, a fim de definir papéis e responsabilidades de
todos os setores envolvidos na resposta de emergência, variando em cada região
que for implantado de acordo com as características locais.
Espera-se que sejam dados os passos decisivos para que indústria e poder público
assumam suas responsabilidades nesse processo, que não deve esperar a correncla
O ^ "
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAYNE, W. G. Ilnmediate response: major incidents - the police response. In: MURRAY, V.
(Ed.) Major Chemical Disasters: medical aspects of management. Londres: Royal Society of
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Royal Society of Medicine, 1990. p. 149-157.
PARTE IV
ESTRATEGIAS INSTITUCIONAIS
CONTROLE
AS METODOLOGIAS DE ANÁLISES DE RISCOS E SEU
PAPEL NO LICENCIAMENTO DE INDÚSTRIAS E
ATWIDADES PERIGOSAS
SITUAÇÀO NO BRASIL
1254
...Metodologias de Andlise de Riscos e seu Papel...
diplomas legais mais rígidos como a Lei Federal n~ 6.938/81, a Resolução Conama
na 001/86 e a Constituição Federal de 1988.
No Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento, onde os aglomera-
dos residenciais crescem rapidamente e muitos se localizam geralmente nas proxi-
midades de áreas industriais, são muitos os problemas oriundos da poluição nesses
locais. Da mesma forma, a ocorrência de acidentes' envolvendo produtos químicos
tem despertado a preocupação não só dos órgãos governamentais, mas também da
sociedade e da própria indústria, que tem sua imagem abalada quando da ocorrên-
cia desses episódios.
Particularmente no estado de São Paulo, segundo dados da Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), no período compreendido entre 1978
e 1997 foram atendidas 2.456 ocorrências envolvendo a liberação acidental de pro-
dutos químicos. O Gráfico 1 mostra a evolução desses acidentes no período e as
Tabelas 2 e 3 apresentam, respectivamente, a distribuição percentual desses aciden-
tes por tipo de atividade e classe de produtos envolvidos (CETESB, s/d).
Esses dados demonstram a necessidade de se buscar cada vez mais 'ferramentas'
preventivas, de modo que possam ser evitados episódios críticos da poluição aciden-
tal, os quais trazem impactos significativos não só para a saúde da população como
também para o patrimônio, público e privado, e o meio ambiente como um todo.
450
4Q0
350
3OO,
250- .
200, ~~2 0 »8 ~ 1~8 9 2 ~1¡ 53 6 0 "
168
100150'.
~ 9 ~ í ) 5
5 0 1 0 v. ~ 6 1 ; 1 7 3 ! 5! 2 i i ! | | | ! ! i | |
Ano
Acidentes Industriais Amplfados
ATIVIDADE
PERCENTUAL
Transporte rodoviário
38%
Transporte marítimo 11%
Residência
10%
Posto de abastecimento
8%
Não identificada
7%
Indústria
6%
Duros
5%
Comércio
4%
Armazenamento 3%
Rede de água/esgoto
3%
Outras
3%
Fenômeno natural 1%
Transporte ferroviário 1%
CLASSE DE RISCO
PERCENTUAL
Líquidos inflamáveis
39%
Substâncias não identificadas
18%
Corrosivos 14%
Gases
12%
Substâncias não classificadas
4%
Resíduos
4%
Outras ocorrências
4%
Substâncias tóxicas
3%
Sólidos inflamáveis
1%
Oxidantes 1%
Explosivos
1%
...Metodologias de Análise de Riscos e seu Papel ..
ASPECTOS LEGAIS
IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS
Essa etapa tem por finalidade analisar as possíveis conseqüências geradas pelas
hipóteses acidentais caracterizadas na fase de identificação dos perigos, bem como
a vulnerabilidade das pessoas e do meio ambiente a esses impactos (CETESB, 1994).
Para a identificação das seqüências acidentais e a definição das tipologias dos
acidentes, normalmente emprega-se a técnica denominada 'Análise de Árvores de
Eventos (AAE)'.
A análise das conseqüências deve ser realizada por meio da utilização de
modelos de cálculo para a simulação dos fenômenos decorrentes das hipóteses
Acidentes Industriais Ampliados
yí. =f requencla
, , ^
de ocorrência do evento i;
Cyconseqüência j associada ao evento i, normalmente expressa
em termos de mortes.
Para que o risco possa ser calculado, devem ser utilizadas 'ferramentas'
adequadas para a determinação das freqüências de ocorrência dos eventos
considerados. A técnica normalmente empregada para tal é a 'Análise de Árvores
de Falhas (AAF)', cujas taxas de falhas dos equipamentos envolvidos e as
probabilidades de ocorrerem erros operacionais são extraídas de bases de dados de
confiabilidade ou de estudos específicos constantes da bibliografia internacional. Já
a estimativa das conseqüências decorrentes das hipóteses acidentais consideradas é
extraída da análise de vulnerabilidade realizada na etapa anterior (CETESB, 1994).
O risco calculado deve então ser comparado com critérios previamente definidos
para a avaliação quanto à sua tolerabilidade ou não e a definição das medidas a
serem implementadas para a sua redução, caso necessário.
...Metodologias de Análise de Riscos e seu Papel...
conscientização;
integração;
apoio da direção;
documentação;
controle.
CONCLUSÃO
Os estudos de análise de riscos propiciam uma série de importantes subsídios
para a gestão ambiental e de segurança de uma instalação ou atividade industrial, já
que produzem como resultados, entre outros, os que Se seguem (CETESB, 1994):
" conhecimento detalhado da instalação;
identificação dos perigos existentes em uma planta industrial;
avaliação dos possíveis danos às instalações e impactos aos trabalhadores, à comunida-
de externa e ao meio ambiente;
- subsídios para a implantação de ações para melhorias e aperfeiçoamento dos proces-
sos industriais;
-reduçãodas tarifas de seguros para os riscos transferidos.
Da mesma forma que para os administradores das empresas, também para os
órgãos governamentais os estudos de análise de riscos têm sido reconhecidos como
'ferramentas' de grande importância no processo de controle ambiental. No entan-
to, independentemente da adoção desses estudos como parte integrante da política
ambiental de governo, 'redundando em exigências técnicas para a implantação de
melhorias nas indústrias, estas devem considerar esses estudos como instrumentos
de gestão de seus negócios, já que a ocorrência de um acidente ampliado certamente
acarretará uma série de transtornos a uma empresa, como por exemplo (CETESB, !994):
" perda de vidas humanas;
impactos ao meio ambiente;
danos à saúde da população;
perda de equipamentos, instalações e paralisação de processos produtivos, com os con-
seqüentes prejuízos econômicos;
pagamento de indenizações a terceiros afetados pelo acidente,
danos psicológicos à comunidade;
, desgaste da imagem da empresa perante a opinião pública com a conseqüente perda de
mercado.
Por fim, deve ser lembrado que cabe a quem desenvolve atividades considera-
das perigosas gerenciar os riscos delas decorrentes; assim, a indústria deve gerenciar
os seus riscos implementando as seguinte ações (CETESB, 1994):
identificar as situações perigosas relacionadas às suas atividades e gerenciar os riscos.
delas decorrentes para os trabalhadores, a população circunvizinha é o meio ambiente;
..Metodologias de Análise de Riscos e seu Papel.,.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PROGRAMAS INTERNACIONAIS
desenvolvidos programas de apoio aos países, para que eles possam se preparar
para não só prevenir, mas também para enfrentar acidentes ampliados envolvendo
(2) Curso Regional sobre Planejamento, Prevenção e Resposta aos Acidentes Químicos
na América Latina e no Caribe (novembro de 1993, Tlaxcala, México).
Dezessete países da região participaram deste evento. A finalidade do curso foi
discutir os aspectos principais que se dexTe ter em mente na preparação e na respos-
ta do setor da saúde aos desastres causados por substâncias quflnicas (Machín, 1993).
Neste curso foram revistos Os estudos de caso de calamidades recentes, como
por exemplo as explosões de Guadalajara, México, e em grupos de trabalho revisa-
ram-se as melhores metodologias de resposta, inclusive o uso de bases de dados
sobre substâncias químicas e os contatos com os centros de emergências, a fim de
obter uma informação rápida sobre como manejar acidentes de substancias quími-
cas perigosas (Machín, 1993).
(3) Em 1996, foi realizado na Cidade do México o Simposio Regional sobre Preparativos
para Emergencias y Desastres Químicos: un reto para el siglo XXI, evento do qual
participaram representantes de 30 países da região da América Latina e do Caribe e que
teve os seguintes objetivos:
. apresentar as metodologias e os instrumentos para prevenção, preparação e
resposta a emrgências com substâncias químicas;
- capacitar os participantes na a_plicação dessas metodologias e estruturar planos
de resposta a acidentes dessa natureza;
. trocar experiências e informações sobre os mecanismos de auxilio internacional e
as formas como eles podem ser acessados.
No decorrer do simpósio, al6m das palestras e dos debates técnicos ocorridos, fo-
ram realizados exercícios simulados e diferentes trabalhos em grupo, resultando numa
série de recomendações, as quais vêm norteando a implementação de ações no âmbito
do programa. Dentre as principais recomendações, cabe destacar as seguintes:
identificar o problema e estabelecer as necessidades;
formação de equipe:
-identificar os atores principais;
° integrar o grupo de trabalho em diferentes níveis (naõonal, estadual e municipal);
Acidentes Industriais Ampliados
Legislação:
-
naSe leis,, sobre
speclfico sobre aprevenção
prevençãodededesastres recomendou-se a inclusão de um capítulo
riscos qu'm~cos;"
- a legislação existente nos países sobre o tema deve ser revisada com a finalidade ti
se detectar a necessidade de elaboração e implementação de novas leis e alteração
das existentes, contemplando o rigor requerido pelo tema a "
cldentes qumucos;
- propor aos poderes legislativos a criação de normas e a eliminação -
daquelas con-
sideradas.inadequadas à luz da visão atual sobre o assunto.
" Prevenção e mitigação de e ^ "
mergenclas:
implementär a metodologia Apell, incluindo a participação do governo, da indústria e
da comunidade;
promover a criação de centros de controle e a capacitação de seus integrantes;
reforçar a consciência de risco, incluindo estudos para a análise e a avaliação dos
riscos de acidentes e de mecanismos para a comunicação desses riscos;
implementar inventário de recursost'ecmcos," humanos e tecnológicos;
- estabelecer mecanismos gerais para o controle de emergências;
realizar reuniões em todos os níveis para informar a sociedade sobre os riscos e o
manejo adequado de emergências.
""
" Preparativos e specíficos para atendimento a ^ " e desastres qumucos:
emergenclas . .
. fortalecer os planos existentes sobre riscos químicos;
elaborar mapas de riscos;
implementar mecanismos de comunicação de riscos, promovendo a informação
ao público;
desenvolver programas de capacitação e educação segundo o nível de
responsabilidade;
Situação na América Latina e Caribe...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANÁLISE E REGISTRO DE ACIDENTES -
A EXPERIÊNCIA DOS PAÍSES NÓRDICOS*
Ronald Wennersten
*:Tradução: Carlos Machado de Freitas; revisão técnica: Jorge Mesquita Huet Machado.
Acidentes h~dustriais Ampliados
, . i
mediante o registro desses acidentes, de modo que os torne efetivamente dlsporuve s
em conexão com análises de riscos. Assim, pode-se prevenir que conduzam a
acidentes químicos ampliados alterando o projeto, treinando os operadores,
modificando as instruções de operação etc.
Muitos acidentes ocorrem em conexão com incidentes durante a produção, de
maneira que o seu registro pode ser bastante útit na prevenção de acidentes (D66s
& Backstr6m, 1993). O registro de incidentes é também importante pelo fato de que
estes provocam efeitos em outras áreas. Portanto, um bom gerenciamento de
incidentes conduzirá a uma produção mais efetiva, melhor qualidade e menos
impactos ambientais (Kjellén, 1996).
Quando se lida com incidentes menores, a classificação do potencial de
conseqüências para cada um deles deve, deste modo, incluir não somente os efeitos
sobre os trabalhadores, mas também sobre a qualidade, o meio ambiente, o
equipamento, a-capacidade de produção etc.
Diante desse conhecimento, duas grandes tendências para o registro de
incidentes têm sido desenvolvidas. A primeira é a coleta de registro de incidentes e
acidentes em diferentes ramos industriais que apresentem condições e tradições
similares. Este tipo de sistema se encontra ainda muito focado nas lesões relacionadas
ao trabalho. Deste modo, experiências podem ser transferidas para empresas em
que certo tipo de acidente ainda não tenha ocorrido.
A segunda tendência está na direção de sistemas de registros integrados, nos
quais até os desvios menores são registrados, incluindo a classificação do potencial
de conseqüências relacionado. Assim, um verdadeiro modo integrado de lidar com
segurança, saúde, meio ambiente e qualidade é desenvolvido. O registro diário e a
análise de desvios menores na produção também criam uma atmosfera de
aprendizado contínuo para as equipes de produção em que os operadores estão
ganhando mais e mais responsabilidades. A massa de registro de incidentes menores
também cria uma base de dados mais confiável para mensurar a performance da
segurança no sistema de gerenciamento da própria segurança.
Outro importante fator é, naturalmente, o aumento da consciência sobre o
crescimento dos custos para incidentes e acidentes. Na Noruega, por exemplo, o SmrrEF
(Gerenciamento Industrial, Departamento de Segurar~~ça e Confiabilidade) levou a cabo
um estudo dos custos de acidentes na indústria daquele país. O estudo demonstrou
que os acidentes industriais custam à sociedade cerca de US$ 3 bilhões por ano. O
estudo incluiu os acidentes que causaram lesões em seres humanos, danos para os
bens materiais e perda de tempo na indústria.
...AExperiência dos Países Nórdicos
PADRÕES/CÓDIGOS E LEIS
O S I S T E M A N A C I O N A L D E C O N T R O L E P A R A S E G U R A N Ç A « E, S A Ú D E D O S
TRABALHADORES
Em poucas empresas as folhas desses manuais têm sido trocadas por bases de
dados em que somente acidentes de trabalho relacionados com lesões são registrados.
Tanto para o desenvolvimento de estratégias preventivas como para análises de
riscos, a utilização dessas informações acaba sendo dè valor bastante limitado por
conta da ausência de um modelo apropriado para a descrição de causas.
O Sistema de registro de incidentes mais desenvolvido é o utilizado pela indústria
nuclear, que tem adotado um modo mais sistemático de definir a seriedade dos
incidentes. A escala INES relaciona incidentes numa escala que vai de 1 a 7. Por
exemplo: nos níveis de 4 a 7, são classificados como acidentes. No caso de um
incidente no nível 1, a classificação é de um incidente menor, afetando somente a
operação da planta. Na Suécia, incidentes são registrados pelo Swedish Nuclear
Power Inspectorate (SKI). Neste caso, a avaliação primária da escala de um incidente
é realizada na planta nuclear, para então ser avaliada pelo SKI e somente então chegar
a uma avaliação final. A maioria dos incidentes registrados no SKI está abaixo da
escala e é classificada como 0. Para se ter uma idéia dos níveis, um exemplo de um
incidente no nível 2 foi registrado somente em 1977 na planta nuclear de Ringhals 4.
Este incidente foi registrado como: fechamento de válvulas de espuma de bombeamento
nas linhas de sucção durante a fase de partida após o refluxo.
Na indústria de processo químicO e na indústria off-shore, diversos sistemas mais
avançados de registros integrados de incidentes têm sido desenvolvidos. Estes sistemas
serão discutidos a seguir.
nhar a performance, para provar que os controles operacionais são efetivos e para
demonstrar conformidade com objetivos e metas. Monitoramento e mensuraçã0 re-
sultam da necessidade de serem comparados aos requisitos legais e outros requeri-
mentos paradeterminar se estão de acordo com eles.
O registro tradicional de acidentes é, entretanto, pobremente reconhecido como
um fonte de informações para o monitoramento da performance de segurança. Mais e
mais companhias se dão conta de que grandes quantidades de incidentes triviais são
o melhor espelho da atual situação da empresa. O problema é, naturalmente, ter to-
dos esses incidentes registrados. A experiência demonstra que somente empresas que
efetivamente utilizam as informações provenientes dos relatórios de incidentes para
um trabalho prevenfivo mantêm nível sustentável de registro de incidentes. O limita-
do tempo para as campanhas de registro de incidentes usualmente tem um efeito
duradouro reduzido. Somente quando as pessoas vislumbram que a informação so-
bre incidentes pode ser utilizada para aumentar o nível de segurança aceitam registrá-
los como rotina diária, É também reconhecido que o nível de registro pode permane-
cer ou falhar dependendo da atitude do gerente sènior da empresa.
Em muitas indústrias de processo, os supervisores são substituídos pelos opera-
dores de turno. Os operadores também têm mais responsabilidades no que concerne
a manutenção, reparo, planejamento etc. Rotinas para registro e investigação de inci-
dentes têm provado serem um efetivo modo para o contínuo aprendizado e mudan-
ças necessárias para aumentar a segurança. Por meio de discussões regulares de des-
vios que ocorrem na planta, as equipes de turno podem desenvolver modos de opera-
ção da planta melhorando gradualmente as técnicas e a organização.
Somente dois dos mais amplamente utilizados serão discutidos aqui. Dispõem
de muitos dos aspectos e das características dos outros sistemas.
O SISTEMA SYNERGI
Ausência de Eventos
Causas ] Incidente
Controle Básicos Imediatas
Perdas [
Inadequado
Sistema
Fatores
Pessoais I
Atos/Práticas
Fora dos
Padrões Perdas e
Padrões Fatores Evento Danos
. Requeri- Relacionados Condições Indesejados
mentos Sistema/ Fora dos
Tarefa Padrões
INCIDENT
[NG I ime
0o-;-~n0.-.........~=............lyõa-aän.....i.............i,a-a;;~p;:..........1...............i
,Sond,o ]sA, I, F, om li~t-
~.~ia~¿t...........ID,,,i,,gh«~tí.gof~..C-boil«,.~.~»,o.io.i.m~oi,cui~tio,pip«òc~u=d.P~.~
' l[ragmenl~ wele scallcred in lhe n~¿re~l 6-7 m~l¿~~ ol lh~ ~oom.
il
[Heating o[ boiler
lDISTUReANCE REPORT
INCIDENT: Valve VI open while,filling tank
A. Reactant A is prematurely added to reactor.
O PIA (Information System for Work Related Injuries in the Paper and Putp
Industry) tem sido desenvolvido em cooperação entre sistemas de seguros gerais e
um consórcio da indústria de papel e de tecidos. Os registros de diferentes plantas
industriais são enviados para uma base de dados central que posteriormente pode
acessar informações.
As indústrias suecas de explosivos desenvolvem um sistema de cooperação em
que vem utilizando o Incident como ferramenta para registros, em que mesmo
incidentes menores são registrados. Quando um incidente ocorre em uma indústria,
um relatório é enviado para a autoridade central, o Serviço Nacional da Suécia de
Inspeção de Explosivos e Inflamáveis. As autoridades distribuem o relatório como
um arquivo de base de dados para todas as outras indústrias relacionadas. Essas
indústrias podem importar o relatório para suas bases de dados e utilizá-los em
conexão com o trabalho preventivo, análises de riscos etc.
...A Experiência dos Países Nórdicos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Antuérpia, Bélgica, 1995.
A PREVENÇÃO E OS TRABALHADORES --
ASPECTOS COMPARATIVOS DA LEGISLAÇÃO DOS EUA,
DA GRÃ-BRETANHA E DA HOLANDA
Roque Puiatti
O DESENVOLVIMENTO DA LEGISLAÇÃO
Logo ap6s o acidente ampliado de Bhopal, a OSHA iniciou, em cooperação com
a EPA, um projeto denominado Chemical Special Emphasis Program (ChemSEP)
para inspeção de instalações sujeitas a acidentes ampliados. Um dos mais importantes
benefícios deste programa foi a avaliação das práticas de prevenção e mitigação de
acidentes ampliados utilizadas pelas empresas. Isto ajudou a OSHA a desenvolver
novas abordagens na inspeção e nas formas de punições.
Esta e muitas outras experiências contribuíram para que a OSHA desenvolvesse
e publicasse, em julho de 1990, uma proposta de legislação para proteção dos
trabalhadores, contendo obrigações para a gestão de riscos em processos que utilizam
substâncias químicas perigosas. A proposta enfatizava a aplicação do controle
gerencial no processo de produção, armazenagem e manuseio de produtos químicos,
com base na experiência e nos resultados do ChemSEP. A OSHA realizou diversas
audiências públicas para discussão da proposta, recebendo mais de 200 comentários
e sugestões, o que resultou nufn consolidado demais de quatro mil páginas.
Logo após a OSHA publicar sua proposta de legislação (1990), o Congresso norte-
americano aprovou (e o presidente sancionou) o Clean Air Act Amendments (CAAA).
Esta lei requeria do Secretário de Estado do Trabalho, em coordenação com a EPA,
A Prevenção e os Trabalhadores..
OBJETIVOS DO PSM
O principal objetivo do PSM é a prevenção de acidentes ampliados, de natureza
química e petroquímica, especialmente dentro das instalações, que possam expor
os trabalhadores a riscos de segurança e saúde. O PSM é uma pró-ativa identificação,
avaliação e mitigação de acidentes ampliados que possam ocorrer como resultado
de falhas no processo, em procedimentos e equipamentos.
O PSM é composto por uma lista de 137 substâncias que podem causar grave
a c i d e n t e q u í m i c o , s e j a p o r t o x i c i d a d e , i n fl a m a b i l i d a d e o u r e a t i v i d a d e ,
conseqüentemente colocando em perigo os trabalhadores.
Acidentes Industriais Ampliados
TREINAMENTo
A implementação de um efetivo programa de treinamento é um dos mais
importantes passos para a segurança dos trabalhadores. De acordo com o PSM,
todo trabalhador direta ou indiretamente envolvido no processo deve receber
informações sobre os riscos, os procedimentos operacionais, emergências etc:
Reciclagens devem ser desenvolvidas, no mínimo, a cada três anos, ou em menor
tempo, após consulta aos trabalhadores.
: ' A Análise de Riscos do Processo é uma das bases do PSM. É um meio formal e
sistemático de identificar, avaliar e controlar os riscos envolvendo substâncias
químicas. A OSHA requer que o empregador use qualquer uma das metodologias a
seguir descritas, considerada apropriada, ou outra equivalente. As metodol0gias
são: What-if, Check-list, Hazard and Operability Studies (HAZOP), Failure Mode and
Effects Analysis (FMEA), Fault Tree Analysis (FTA).
Na implementação da Análise de Risco houve uma progressividade dè prazos
para implementação, que foram: no mínimo 25% das análises elaboradas até o
segundo ano de vigência do PSM e a Análise de Riscos do Processo completada até
o quarto ano. Deveriam ser elaboradas por um grupo de especialistas em engenharia
e na operação do processo e, obrigatoriamente, por pelo menos um trabalhador
"^ " no processo a ser avaliado. A cada cinco anos, no mínimo, Anahse
com experlencla
a ""
de Riscos deve ser reavaliada.
A Prevenção e os Trabalhadores...
PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS
CONTRATADAS
INVESTIGAÇÃO DE INCIDENTES/ACIDENTES
AUDITORIA DE SEGURANÇA
PENALIDADES
A LEGISLAÇÃO DA GRÃ-BRETANHA
APUCAÇÃO
ATIVIDADES ABRANGIDAS
RELATÓRIO DE SEGURANÇA
externos à instalação.
INFORMAÇõES AO PÚBLICO
PENALIDADES
A LEGISLAÇÃO DA HOLANDA
OCCUPATIONALSAFETYREPORT(OSR)
Com os acidentes ampliados na refinaria da Shell Pernis (1968) e a explosão da
planta de propileno de Beek (1975), aumentou a preocupação para com o tema na
Holanda. Como resultado, em 1979, o Safety Act 1934 incorporou a norma do
Occupational Safety Report (OSR) - P172-1E e P172-2E. Posteriormente, em 1981, foi
integralmente incorporada pelo Working Environment Act.
OBJETIVOS DO OSR
DELIMITAÇÃO DA INSTALAÇÂO
FATOR DE DESIGNAÇÃO
QUANTIDADES LIMITES
A base para estabelecer as quantidades limites deve ser a área dentro da qual
os trabalhadores estão seriamente em perigo como conseqüência de um repentino
vazamento da substância. Para cada classe de substâncias existe uma quantidade
mínima, em haso de um repentino vazamento (sob condições de referência), os
riscos para os trabalhadores não ultrapassam uma distância de mais de 100 m do
ponto do vazamento.
As condições de referência são:
" a substância está sendo processada (não armazenada);
a instalação é situada em área aberta;
" a substância presente está na fase líquida e abaixo do seu ponto de ebulição.
Com base no cálculo das conseqüências, as substâncias são divididas em quatro
categorias com suas quantidades timites:
substâncias inflamáveis (10.000 kg);
substâncias explosivas (referência: 1.000 kg de TNT);
" substâncias extremamente tóxicas (1 kg);
substâncias tóxicas (referência: 300 kg de cloro).
A Prevenção e os Trabalhadores...
FATOR DE CORREÇÃO
CONDIÇÕES
FATOR DE CORREÇÃO
1. Substância estocada
0,01
2. Instalação situada dentro de edifício (armazém)
10
3. Substância na fase líquida
X
- temperatura de processo acima do ponto de ebulição
1 - 10
- temperatura de processo abaixo do ponto de ebulição
0,1 -1
4. Substância presente na forma líquida refrigerada, em
Y (máx. 4)
condições atmosféricas
Substância presente na forma refrigerada, sob pressão
X + Y - 1 (máx. 4)
5. Substância na fase gás
10
6. Substância na fase sólida (somente pó)
0,01
X e Y são variáveis:
FATOR DE FASE
ou alternativamente
A > - F, c o m A = Q x O / G
em que:
Q = quantidade de substâncias (ou grupo de substâncias) presentes na instalação (kg);
O = fator total de correção;
G = quantidade limite da substância (ou grupo de substâncias) (kg);
A = fator de designação
F = fator de fase vigente
De acordo com Husmann & Ens (1989:22-23), "Na Holanda, em torno de 400
instalações estão enquadradas na primeira fase; 300 dessas instaIações, dentro das
chamadas "Seveso' empresas, É estimado que quando a fase final for concluída, em
torno de 2 mil ou 3 mil instalações estarão enquadradas'.
CONTEÚDODOOSR
O conteúdo do OSR, de acordo com o Labour Conditions Act, deve incluir:
" descrição da instalação e das substâncias utilizadas;
" descrição do processo;
descrição da organização;
descrição e análise dos riscos;
descrição das medidas de emergência.
A Prevenção e os Trabalhadores...
PENALIDADES
ASPECTOS COMPARATIVOS
desastre amplia- instalação referida na rigosas estão presen- cia química acima de
do Diretiva, envolvendo tes em quantidades limite especificado
uma ou mais subs- iguais ou superiores * Processo que envol-
tâncias perigosas, aci- às previstas no Ane- ve líquidos ou gases
* Tubulações fora ma de limite especifi- xo I da Diretiva inflamáveis em ma
Exceções * Instalações nu- * Instalações nucleares *Riscos por radiações * Instalações nucleares
c l e a r e s e d e e de processamento ionizantes e de processamento
mineração
Instalação para depó- h~stalação para
sito de resíduos tóxi- depósito de resídu-
cos os tóxicos
Lei geral de segurança Health and Safety Health and Safety at Working Environmental
, e saúde Act 1970 Work Act 1974 Act 1981
Legislação de PSM (1992) Cr~AH (1984) OSR (1979)
prevenção de acidentes
ampliados
OSHA HSE Labour Inspectorate
Órgão de fiscalização
CAAA Diretiva de Seveso Diretiva de Seveso
Legislação nacional ou
internacional
Bhopal (1984) e Flixborough (1974) Beek (1975)
Acidente ampliado Phillips 66 (1989)
m a r c o
baseada somente
baseada somente na baseada na quantidade
na quantidade
quantidade da(s) da(s) substância(s)
Abordagem geral da(s)substância(s) substância(s) acrescida de fatores de
risco
Quadro 3 - Comparação
de documentação e aspectos gerais
Estados Unidos Grã-Bretanha Holanda
Relatório de segurança
detalhado
Atualização do relatório
A cada três anos ou A cada quinto ano ou
de segurança ou Somente os estudos
quando houver grande quando houver grande
de análise de riscos
documentação
alteração na instalação alteração na instalação
Participação dos
trabalhadores
Submeter o relatório de
segurança ao 6rgão de
fiscalização 4 ,]
Notificação específica de
acidentes ampliados 4 4.
Plano de emergência
interno "/ 4 ,/
Plano de emergência
externo q
Informação ao público
4 *
Auditoria
A cada três anos
COMPARAÇÕESG~RA~S
O processo de elaboração da legislação destes três países inicia-se ou acelera-se após a
ocorrência de acidentes ampliados: na Grã-Bretanha, Flixborough (1974); na Holanda,
Beek (1975); e nos Estados Unidos, por Bhopal (1984) e Phillips 66 (1988). Este processo
foi precedido de Relatórios (Reports) na Grã-Bretanha, ou programas (ChemSEP) nos
Estados Unidos. Este tipo de procedimento possibilitou discussões e consensos sobre
os diversos assuntos relativos ao tema da prevenção de acidentes ampliados.
A fiscalização da legislação nestes três países é feita pelo Ministério do Trabalho ou por
órgãos análogos. Na Grã-Bretanha, pelo Health and Safety Executive (HSE); na Holanda,
pelo Ministry of Social Affairs and Employment; e nos Estados Unidos, pela
Occupational Safety and Health Administration [OsHA). Também a inspeção das insta-
lações é realizada por inspetores de segurança e saúde no trabalho.
- A participação dos trabalhadores é uma importante característica das legislações holan-
desa e norte-americana. Na Holanda, o Conselho de Fábrica deve ser consultado, par-
ticipar e receber cópia do Occupational Safety Report. Nos Estados Unidos, os traba-
lhadores devem ser constiltados no desenvolvimento dos estudos de análise de riscos e
nos planos de prevenção de acidentes ampliados e também na investigação de aciden-
tes. Na Grã-Bretanha, aspectos de participação dos trabalhadores em questões de segu-
rança e saúde estão previstos em outras legislaçòes.
Aspectos na implementação, que consideram a "realidade econômica' das empresas,
foram ressaltados na Holanda (fator de fase) e nos Estados Unidos (progressividade na
elaboração dos estudos de análise de riscos).
Uma das mais importantes similaridades é no que diz respeito ao plano de emergên-
cia interno, pois os requisitos são similares nos três países. Os Relatórios de Seguran-
ça (Safety Report) têm também similaridades em muitos aspectos na Holanda e na
Grã-Bretanha.
A auditoria é obrigatória somente nos Estados Unidos e a cada três anos.
Na Diretiva de Seveso, a quantidade limite de substâncias foi definida com bases econô-
micas e políticas. Não seguem estudos técnicos ou científicos (Marshall, 1987). Como
resultado disso, existem quantidades limites definidas incorretamente e este é um dos
mais críticos aspectos da Diretiva de Seveso. Tentando resolver este problema é que a
'Seveso II' foi desenvolvida. No entanto, para minimizar o problema na definição de
quantidades limites, a abordagem norte-americana adotou o sistema desenvolvido pelo
estado de Delaware (Turner-Described Gaussian Dispersion Model).
A Grã-Bretanha é o único dos três países onde a legislação de segurança e saúde requer
a elaboração e a implementação de plano de emergência interno e informação para o
público. Na Holanda, isto está inserido no External Safety Report e nos Estados Unidos,
no Chemical Accident Prevention Release.
Em todas as legistações internacionais (a Diretiva de Seveso, a Convenção 174 e a 'Seveso II')
e na norte-americana, na britânica e na holandesa, estão definidas claramente as res-
ponsabilidades das empresas na implementação de medidas preventivas para evitar a
ocorrência de acidentes ampliados.
A Prevenção e os Trabalhadores...
CONCLUSÃO
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Cartão Supremo 250g/m2 (capa)
Fotolitos: Laser vegetal (miolo)
Engenho e Arte Editoração Gráfica (capa)
Impressão e acabamento: Millennium Print
Rio de Janeiro, abril de 2000