Mercado Cervejeiro
Mercado Cervejeiro
Mercado Cervejeiro
Cervejeiro
Me. Filipe Bortolini
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; BORTOLINI, Filipe.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Mercado Cervejeiro. Filipe Bortolini. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019.
184 p. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
“Graduação - EAD”. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
1. Mercado. 2. Cervejeiro. 3. EaD. I. Título.
Design Educacional Débora Leite; Head de
ISBN 978-85-459-1730-4 Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 680
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Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
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Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
http://lattes.cnpq.br/4585220021975796
A História da Cerveja
15
O Mercado Europeu
de Cervejas
43
O Mercado de
Cervejas nos
Estados Unidos
79
O Mercado de
Cervejas no Brasil
115
Oportunidades
no Mercado Atual
151
29 Módulo de refrigeração
165 Brewpubs
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Me. Filipe Bortolini
A História da Cerveja
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Compartilhar o conhecimento existente sobre as origens • Discorrer sobre a invenção dos geradores de frio e o im-
da cerveja na antiguidade. pacto na produção de cervejas lager e na disseminação
• Esclarecer os primeiros passos da evolução do processo do mercado de cerveja.
de produção de cerveja e dos ingredientes utilizados. • Apresentar a história da criação do estilo pilsen, que do-
• Descrever a importância do estudo de Louis Pasteur na mina a indústria cervejeira atual, e as invenções dos equi-
descoberta das leveduras e seu metabolismo e os impac- pamentos que hoje são padrão no mercado.
tos na indústria cervejeira.
Origens na
Pré-História
UNIDADE 1 17
produção é feita tanto a partir da maceração de habitavam a região do sul da Mesopotâmia, hoje
frutos quanto a partir da maceração e infusão de Iraque (NELSON, 2005). Em sítios arqueológicos
cereais ou raízes. Esse fato embasa a tese de que o no Egito foram encontradas receitas registradas
vinho e a cerveja se confundem com a existência em paredes de túmulos datados de 2.650 a 2.180
humana desde seus primórdios. a.C (VENTURINI FILHO, 2018).
Alguns povos, como os nativos americanos, Na antiga Babilônia, já eram comercializados
não se limitavam somente a cereais. A raiz de 20 estilos, inclusive de cervejas leves e até cer-
mandioca era utilizada na América do Sul, en- vejas de alta qualidade, descritas por eles como
quanto o milho era empregado na América Cen- de exportação, que eram enviadas para o Egito
tral e do Norte. Os primeiros exploradores euro- (MÜLLER, 2002). Estudando a história, desco-
peus relatavam que a maceração do milho e da bre-se que o rei Hamurabi promulgou um tipo
mandioca era feita mastigando-se e cuspindo-se de direito do consumidor, que também abrangia
o bolo alimentar numa tigela. Esse mingau de essas bebidas. O Código de Hamurabi, de 1760
amido rapidamente ficava doce pela inversão do a.C., incluía várias leis que regulamentavam a fa-
amido em açúcares, graças ao efeito da diástase bricação, a venda e até o consumo de cerveja, com
da saliva, e era deixado fermentar. Nossos nativos direitos e deveres dos taverneiros e seus clientes.
chamavam essa bebida de cauim (PROUS, 2006). Conforme a lei, a morte era o castigo para quem
Os primeiros cervejeiros da humanidade foram, vendesse uma cerveja estragada ou adulterada
provavelmente, os sumérios, que 6.000 anos a.C. (NOBLE, 2009).
18 A História da Cerveja
No Egito, no período do Reino Antigo (2.700 segredo. Desse modo, deveria ser levado pelo fa-
a 2.500 a.C.), a cerveja já era conhecida e consu- raó em sua jornada pós-morte para que pudesse
mida, como pode-se atestar por pinturas e relevos ser empregada por ele quando retornasse à vida.
encontrados em escavações (VENTURINI FI- A gravura a seguir deve ser interpretada ini-
LHO, 2018). A cerveja não era elaborada a partir ciando na linha inferior, na sequência da esquerda
de trigo e cevada, mas, curiosamente, com o pão para a direita. Ela mostra um homem partindo pão
feito desses cereais (MÜLLER, 2002). Presume-se e outro colocando os pedaços numa peneira com
que todo o pão que sobrasse era convertido em água. Segue-se um homem pisoteando o pão para
matéria-prima para a elaboração de cerveja. amassá-lo e diluí-lo na água. À direita há dois ho-
Uma pintura encontrada no túmulo do faraó mens lavando ânforas e as untando internamente.
Quenamon mostra a sequência de elaboração de Na linha central, um homem enche pequenas ânfo-
cerveja a partir de pães. O fato dessa sequência ras, as quais serão esvaziadas num recipiente maior
ter sido colocada no túmulo do faraó mostra a por outro homem, enquanto um terceiro segura
elevada importância que a bebida tinha durante uma peneira. Na linha superior são representados
seu reinado e, provavelmente, que essa técnica de homens armazenando a cerveja sobre prateleiras,
elaboração se constituía em um bem guardado para fermentação.
UNIDADE 1 19
Desenvolvimento
na Época Medieval
20 A História da Cerveja
minavam genericamente de cervisa ou cerevisa, e venenosas que deveriam ser evitadas. Observe
isto é, bebida feita de cereais. Surgem, então, no que, até então, era comum que se adicionasse ervas
mundo de idiomas neo-latinos, os termos cer- ou cogumelos venenosos na cerveja, causando
veja ou cerveza. Na Itália, apesar de ser o berço intoxicações e até a morte de pessoas.
do latim, a cerveja é chamada de birra pelo fato
que as tribos germânicas, dominadas pelos ro-
manos, chamavam sua bebida de birr ou pirr.
Atualmente, em inglês, cerveja se diz beer e, em
alemão, Bier. Lúpulo (Humulus lupulus) é angiosperma, da es-
Com certa segurança histórica, pode-se afir- pécie Humulus lupulus, da família Cannabaceae,
mar que o hábito de consumo de cerveja e de sua de difícil cultivo e de regiões frias da Europa, Ásia
produção difundiu-se em regiões conquistadas Ocidental e América do Norte. É uma planta diói-
pelos romanos, que não eram propícias ao cultivo ca (flores masculinas e femininas), perene, herbá-
de uva. Já a elaboração e o consumo de vinho de- cea, que cresce brotos no início da primavera e
senvolveram-se nas regiões próprias à viticultura. definha como um rizoma endurecido no inverno.
Por meio do historiador Plínio, sabemos que, Sendo uma trepadeira, tem capacidade de cres-
na Gália e na Espanha, elaborava-se “cerevisia” cer em torno de 4,6 a 6,1 metros.
(NELSON, 2005). Ele narra que os celtas, os ger- Os cones das plantas femininas são agrupados
manos, os trácios e os citas elaboravam e consu- em cachos, que possuem uma vértebra com vá-
miam a bebida. Em seus relatos, ele descreve que a rias dobras, sobre as quais se fixam brácteas e
elaboração era feita a partir de trigo, cevada, aveia bractéolas. Nelas, forma-se glândulas onde são
ou centeio, com adição de mel, zimbro, cogumelos, produzidos os grânulos de lupulina, que contêm
cascas de árvores e outras ervas aromáticas. as substâncias que geram as substâncias de in-
O lúpulo silvestre era adicionado aleatoria- teresse cervejeiro.
mente, como uma das ervas condimentares, uma Fonte: Venturini Filho (2018).
mistura conhecida como “gruit”. Porém, somente
no século VIII é que se tem registros da utilização
de lúpulo cultivado. O uso sistemático de lúpulo
na elaboração de cerveja, a fim de torná-la mais Em torno dessa época, surgiram as Corporações
saudável e estável, é atribuído a Hildegarda de Bin- de Ofício, ou guildas, que eram organizações
gen (1098-1179), uma monja beneditina que vi- comerciais que elaboravam regras e ditavam a
veu na Alemanha (SMITH, 2014). Ela possuía conduta dos praticantes de uma determinada
grandes conhecimentos profissão. Elas funcionavam como uma espécie
sobre plantas medi- de união de mestres, e só era permitido abrir um
cinais e práticas de negócio se ele estivesse vinculado a uma corpo-
cura de doen- ração de ofício. Cada corporação possuía suas
ças, e escreveu regras próprias e um brasão que as identificava
estudos sobre – a cerveja também teve a sua (HEILBRONER;
as ervas tóxicas MILBERG, 2009).
UNIDADE 1 21
Na gravura a seguir, vê-se um cervejeiro me-
dieval em seu trabalho. Ele está fervendo o mosto
numa panela, provavelmente feita de cobre, com
aquecimento a fogo de lenha. Acima dele está o
símbolo da corporação dos mestres cervejeiros,
formado por dois triângulos superpostos, que,
para os alquimistas da época, significava “álcool”.
Apesar da semelhança, a estrela de seis pontas não
é a Estrela de Davi, símbolo religioso do judaísmo.
Os alquimistas aceitavam apenas quatro ele-
mentos básicos, que eram: a Terra, a Água, o Fogo
e o Ar. O fogo era representado por um triângulo
com a base para baixo e a ponta para cima, e a
água era representada por um triângulo com a
base para cima e a ponta para baixo. A água, para
os alquimistas, era um elemento contrário ao fogo,
pois o apagava. O álcool na alquimia era a “água
que queima”. Portanto, o símbolo do álcool era
um triângulo da água sobre o triângulo do fogo,
que resultava nessa estrela. Muitas cervejarias da Figura 2 - Cervejeiro medieval
Europa ainda têm esse símbolo e, no Brasil, as Fonte: adaptado de Brockhaus (1955).
cervejarias Antarctica e Brahma utilizavam-no
em seus rótulos.
Ainda tratando de símbolos e crenças, vale des-
tacar, também, a figura do Rei Gambrinus que,
segundo a lenda surgida na fronteira da França
com a Holanda, teria sido o inventor da cerveja.
Desse modo, apesar de sua existência nunca ter
sido de fato comprovada, Gambrinus tornou-se o
patrono dos cervejeiros (MÜLLER, 2002).
No ano de 1040, o monastério beneditino de
Weihenstephan, fundado no ano de 738, em Frei-
sing, na Alemanha, recebe oficialmente o direito
de produzir cerveja e de ensinar o ofício a outros
monges. Não se tem registros da elaboração de
cerveja nesse monastério antes de 1040, mas tudo
leva a crer que, já pelo ano de 750, era fabricada Figura 3 - Rei Gambrinus
cerveja no local. Fonte: Resto de Coleção (2012, on-line)1.
22 A História da Cerveja
É certo que, de 1040 até os dias de hoje, a cerve- mas muitas cervejarias começaram a utilizar outras
jaria jamais deixou de funcionar, sendo, por isto, matérias-primas, burlando, assim, o fisco.
considerada a cervejaria mais antiga do mundo A fim de coibir a sonegação, o Duque Guilher-
em funcionamento. O monastério deu lugar a me IV da Baviera promulgou, a 23 de abril 1516,
uma universidade que, atualmente, abriga, entre a “Reinheitsgebot”, a “Lei da Pureza da Cerveja”,
outros cursos, o de graduação em cervejaria e tec- a qual está vigente até os dias de hoje. Por essa
nologia de alimentos. lei, a cerveja só poderia ser produzida a partir de
Na Alemanha e na Baviera, eram igualmente cevada, de água e lúpulo. Como não se conhecia a
produzidas cervejas a partir de vários ingredientes levedura como um ingrediente, esta não foi men-
e contendo diferentes ervas. Com o aumento do cionada no decreto.
número de cervejarias e o consequente aumen- Em 1906, a “Lei da Pureza” foi estendida para
to de consumo, as autoridades viram na cerveja todo o país, apesar dos protestos da indústria cer-
uma boa fonte de renda por meio da cobrança vejeira. Logo após o encerramento da Segunda
de impostos. Guerra Mundial, o decreto foi alterado e seu texto
No caso de Weihenstephan, sendo ela uma cerve- incorporado às leis tributárias aplicadas à cerveja
jaria monástica, os impostos eram a favor da Igreja. (Biersteuergesetz). Entre as alterações realizadas
No caso das cervejarias pertencentes a nobres, os estavam a permissão para o uso de maltes de
impostos eram para o rei; e no caso das cervejarias outros cereais nas cervejas de alta fermentação.
pertencentes a plebeus, toda a arrecadação era di- Nas cervejas de baixa fermentação permaneceu
recionada para o estado. O controle dos impostos a limitação para a utilização apenas do malte de
era feito por meio do consumo de malte e cevada, cevada, água e lúpulo.
UNIDADE 1 23
As cervejas produzidas na Europa, com ex-
ceção da Baviera, eram de alta fermentação. A
técnica de fermentar e maturar a baixas tempe-
raturas tem registro, pela primeira vez, no ano de
1500, no monastério de Weihenstephan. Isso era
possível com o auxílio de ambientes refrigerados
com o uso de gelo coletado durante o inverno
e armazenado nos porões das cervejarias. Aos
poucos, as demais cervejarias bávaras adotaram
esse método.
Em 1812, o padre jesuíta B. Scharl descreve,
pela primeira vez, o procedimento de fabricação
de baixa fermentação. O método, porém, não era
totalmente controlável, pois, até então, não havia
conhecimento consolidado sobre leveduras, tam-
pouco a distinção entre as várias cepas.
Além das técnicas de baixa fermentação, as
cervejarias, em sua maioria, não sabiam que le-
vedura exatamente estavam utilizando, nem do-
minavam as técnicas de assepsia. Dessa forma,
havia muita perda de cerveja por simplesmente
estarem deterioradas, azedas ou intragáveis por
outras razões de contaminação. Relatos da época
dão conta que, por volta de 1800, até 50% da pro-
dução era descartada.
24 A História da Cerveja
Louis Pasteur
e a Cerveja no
Século XIX
UNIDADE 1 25
Monsieur Bigo atribuía isto ao que, na época, ocorria normalmente. Ao examiná-las no micros-
chamavam de “a coisa” estragada. A “coisa” (“das cópio, percebeu que haviam diferentes partículas,
Zeug” em alemão) era, na verdade, a levedura, mas que uma delas aparecia apenas nas amostras
que, na época, retirava-se do fundo das cubas de problemáticas. Supôs, assim, que essas partículas
fermentação para reutilização. Achava-se que a tal deveriam ser as responsáveis pela contaminação.
“coisa” era uma borra mineral, e jamais se havia Descobriu, então, as bactérias ácido-láticas, que
considerado a possibilidade de que fosse consti- matam as leveduras responsáveis pela fermen-
tuída por organismos vivos. tação de álcool, interrompendo o processo e ge-
O jovem Louis Pasteur começou sua pesquisa rando odores desagradáveis e sabores ácidos na
com rigor científico, separando amostras de tan- bebida (POLLARD, 2010).
ques com problema e tanques onde a fermentação Isso não bastava para resolver o problema
do cervejeiro. Assim, Pasteur inventou meios de
cultura líquidos, pelos quais conseguiu separar
diferentes cepas de levedura (RENNEBERG et
al., 2011). Além disso, ele demonstrou que, para
evitar problemas na produção, além de se utilizar
cepas puras, era necessário sanitizar os tanques,
as tubulações e os recipientes da cerveja (VAL-
LERY-RADOT; TYNDALL; HAMILTON, 2015).
Tudo isto não era feito até então (ALPHIN; VERS-
TRAETE, 2003).
26 A História da Cerveja
As descobertas de Pasteur não terminaram nes- Após encerrar seus estudos com a cerveja, Pas-
te ponto. Percebendo que o processo de fermenta- teur ainda manteve seu interesse por processos
ção era produzido por organismos, ele imaginou fermentativos. Na metade dos anos de 1860, ele
que, aquecendo o líquido até uma determinada resolveu problemas semelhantes na indústria de
temperatura, ele poderia matar os organismos vinho francesa, mas, mais importante que isso,
indesejados. Assim, depois de resfriado, o líquido ele teve a intuição de que, se uma bactéria era res-
poderia receber as leveduras que se desejava utili- ponsável pela fermentação lática, talvez micróbios
zar, da mesma forma como se fazia normalmente. específicos fossem os causadores de doenças es-
Dessa forma, descobriu o sistema de estabilização pecíficas. Desse modo, deu-se início à medicina
microbiológica de alimentos por meio do aqueci- moderna (POLLARD, 2010).
mento, processo que hoje, em sua homenagem, re- Com toda a justiça, Louis Pasteur, pode ser
cebe o nome de pasteurização (POLLARD, 2010). considerado um dos maiores cientistas de todos
As grandes cervejarias, em quase sua totalidade, os tempos.
pasteurizam seus produtos para a venda. Fazem
isso como forma de garantir a estabilidade da cer-
veja, de aumentar o prazo de validade e de dispen-
sar a necessidade de armazenamento refrigerado.
UNIDADE 1 27
Carl Linde e a
Modernização
das Cervejarias
28 A História da Cerveja
fermentação, eram os principais consumidores, nia voltava a seu estado gasoso e, no processo,
com demandas muito acima dos consumidores retirava calor do ambiente. O motor, em seguida,
privados e da indústria da carne. A Drehersche repetia o ciclo, convertendo a amônia novamente
Brewery, em Klein-Schwechat, perto de Viena, em líquido e assim por diante. Essa compressão
por exemplo, usava mais de 31.500 barris de gelo, é melhor feita fora da área refrigerada, por que a
aproximadamente um quilo de gelo por litro de compressão libera calor (DORNBUSCH, 1998).
cerveja vendido (DIENEL, 2004). Seus estudos foram financiados, principalmen-
Além da inconsistência na disponibilidade, o te, por Gabriel Sedlmayr, mestre-cervejeiro da cer-
gelo natural trazia grandes problemas para a sani- vejaria Spaten, de Munique, que foi o primeiro
tização da produção, uma vez que levava germes cliente e a primeira cervejaria a instalar o novo
para a fermentação e para os depósitos. Flutua- equipamento, em 1873, ainda antes da definição
dores de cobre cheios de gelo eram usados para pela amônia.
regular as temperaturas de fermentação, porém A cervejaria, que na época já era uma das maio-
vazamentos e mesmo a submersão completa dos res da cidade, viu no invento a possibilidade de
flutuadores aconteciam comumente. Os velhos produzir cerveja de baixa fermentação, com alta
porões usados para armazenamento eram refri- qualidade, durante todos os meses do ano. Com a
gerados, colocando-se o gelo em contato direto máquina, era possível manter as temperaturas sob
com os barris, num ambiente úmido e propenso controle mesmo durante o verão, quando o gelo
a mofo. Com a adoção das máquinas de refrige- acondicionado nos porões terminava. O uso do
ração, os cervejeiros começaram a utilizar flu- gerador de frio, aliado à aplicação das leveduras
tuadores de água gelada que usavam mangueiras específicas recentemente lançadas por Pasteur, fi-
para bombear. Em 1895, o gelo natural era usado zeram a cervejaria ter um grande e rápido sucesso.
em Munique apenas para o transporte da cerveja
(DIENEL, 2004).
O princípio básico da refrigeração é simples:
uma vez que o frio é a ausência de calor, para res-
friar alguma substância, basta retirar o calor. O
calor pode ser obtido ao se comprimir um meio;
e descomprimi-lo ou evaporá-lo em seguida faz
com que o calor seja rapidamente absorvido do
ambiente. Esse princípio, aplicado a um recipiente
de fermentação, geraria um sistema de frio cer-
vejeiro, porém era necessário definir qual seria o
refrigerante ideal a ser usado.
Após testar diversas substâncias, Linde optou
pela amônia, devido a sua rápida expansão, e cha-
mou seu invento de “máquina de frio de amônia”.
Linde utilizou um motor elétrico para comprimir
gases de amônia até um estado líquido para, após, Módulo de refrigeração
UNIDADE 1 29
Assim, em pouco tempo, todas as grandes cerve-
jarias instalaram compressores de frio para con-
trolar a temperatura de fermentação e resfriar
as adegas de guarda. Em torno de 1890, Linde
já havia vendido 747 máquinas de refrigeração
para cervejarias e armazéns de armazenamento a
frio (OLIVER; COLICCHIO, 2012). Atualmente,
em todo o mundo, as cervejarias têm instalações
de frio, mesmo as que produzem cervejas de alta
fermentação.
Linde continuou inovando e inventando novos
dispositivos até sua morte, em 1934, aos 92 anos.
Ele criou, entre outros, equipamentos para liquefa-
ção de ar, para a produção de oxigênio puro, nitro-
gênio e hidrogênio (OLIVER; COLICCHIO, 2012).
30 A História da Cerveja
As Pilsens e
a Indústria
Contemporânea
UNIDADE 1 31
Entretanto, a qualidade da cerveja produzida de lúpulo e um amargor marcante, mas sem ser
passava por muitos altos e baixos, sendo que um adstringente (WALLER, 2011). Era um produto
dos piores momentos aconteceu no ano de 1838. completamente diferente das cervejas de alta fer-
Indignados com a baixa qualidade da cerveja, os mentação, produzidas até então em Pilsen, que
cervejeiros da cidade reuniram-se na praça cen- eram escuras, turvas, sem espuma, com sabor aze-
tral e declararam 36 barris de cerveja impróprios do, aroma de vegetais cozidos e sem gás carbônico.
para consumo. Em seguida, com a ajuda dos ha- O sucesso foi estrondoso, tanto que, atualmen-
bitantes da cidade, despejaram todo o conteúdo te, cerca de 95% das cervejas do mundo são do es-
dos barris na rua, em protesto (WALLER, 2011). tilo Pilsen. Contudo, como foi possível produzir tal
As autoridades, então, fecharam as cerveja- cerveja inovadora? Josef Groll analisou, primeira-
rias e decidiram construir uma cervejaria nova, mente, a água do local e descobriu que se tratava de
no estado da arte, aos moldes das cervejarias de uma água “mole”, com uma quantidade menor que
Munique. Martin Stelzer (1815–1894), contrata- 50 partes por milhão de sólidos dissolvidos. A água
do para projetar e construir a cervejaria, viajou retirada do solo de Pilsen é o mais próximo que se
longamente por toda a Bavária para encontrar pode chegar naturalmente de uma água destilada.
o mestre cervejeiro ideal. Ele encontrou, assim, Uma água desse tipo é ideal para a fabricação de
o alemão Josef Groll (1813-1887), que estudara cervejas claras e bastante lupuladas, por que alguns
em Weihenstephan, e teve a certeza de que Groll íons, tais como os sulfatos, acentuam o caráter do
produziria uma cerveja de alta qualidade (OLI- lúpulo. Para esta água, Groll pôde elaborar uma
VER; COLICCHIO, 2012). receita que utilizava uma maior quantidade de
Diz-se que Groll era grosseiro, sem modos e lúpulo (CARPENTER, 2017).
que seu próprio pai se referia a ele como “o ho-
mem mais rude da Bavária”. Entretanto, devia ser
um excelente cervejeiro, pois quando foi contrata-
do para trabalhar em Pilsen, tinha apenas 29 anos
de idade. Até hoje não se sabe se foram os bávaros
que ficaram mais felizes com a sua partida ou os
checos com a sua chegada (CARPENTER, 2017).
Naquela época, a Bavarian Lager, uma cerveja
marrom, era o estilo mais vendido na Europa, e
Groll foi contratado com o objetivo de recriar
uma cerveja desse estilo na nova cervejaria, a Bür-
ger Brauerei (cervejaria dos cidadãos). Ele contra-
tou auxiliares e fabricantes de barris bávaros para
auxiliá-lo e trouxe leveduras da Bavária consigo
(OLIVER; COLICCHIO, 2012).
Em 4 de outubro de 1842, ele lançou no mer-
cado sua nova cerveja, que era dourada, clara, bri-
Figura 6 - Josef Groll
lhante, tinha espuma consistente e estável, aroma Fonte: Wikipedia ([2018], on-line)5.
32 A História da Cerveja
Além disso, a cervejaria já vinha dotada de profundas adegas
cavadas no arenito, que garantiam ambientes refrigerados com gelo
natural, durante todo o ano. Assim, ele pôde produzir sua cerveja
com baixa fermentação e fazer a maturação no frio, de forma lenta
e sob pressão, garantindo farta dissolução de gás carbônico e, assim,
a formação de espuma. Some-se a isto a utilização de maltes claros
e lúpulos Saaz da Bohemia, conhecidos pelo fino aroma e amargor
suave, mas pronunciado (WALLER, 2011).
Entretanto, a grande revolução na arte de fabricar cerveja deu-se
há poucos anos, com a introdução dos tanques cilindro cônicos com
a consequente utilização do sistema unitank. Isto é, da fermentação e
maturação no mesmo tanque, com a separação da levedura sem ne-
cessidade de trasfega (transferência entre tanques). Esta tecnologia
teve consequências importantes na redução de etapas de fabricação
e simplificou enormemente o processo. Além disso, permitiu uma
redução significativa da absorção de oxigênio, diminuindo o risco
de oxidação e a produção de sabores indesejados nos produtos.
Além do uso desses tanques, hoje muito empregados pelas mi-
crocervejarias, o avanço na tecnologia deu-se mediante utilização
de cromatografia gasosa. Trata-se de uma técnica pela qual se pode
identificar, quase por completo, os componentes voláteis e não volá-
teis gerados na fermentação. Assim, foi possível conhecer e estabe-
lecer formas de monitorar a redução de componentes secundários
indesejados na cerveja.
A introdução do CIP (“Cleaning in place” ou “limpeza no local”,
em tradução livre) possibilitou que o processo cervejeiro pudesse
ocorrer em equipamentos absolutamente saneados. Isso garantiu
que as cepas puras das diferentes leveduras pudessem fermentar
livres de contaminações por bactérias, fungos e leveduras selvagens.
Outrora, e estamos falando de 20 ou 30 anos atrás, manter sua fá-
brica saneada era resultado de muito esforço e do uso de produtos
químicos que hoje, felizmente, não são mais autorizados, como o
formol, por exemplo.
Outra importante novidade que, de certa forma, influenciou a
história recente da cerveja foi a introdução de novos cultivares de
lúpulo. Essas novas variedades são frutos de intensas pesquisas e
do cruzamento dirigido de diversos lúpulos, em busca de novos
aromas e sabores. Assim, temos, hoje, opções que eram totalmente
desconhecidas ou inexistentes há menos de duas décadas.
UNIDADE 1 33
Durante os últimos quarenta anos, verificou- para o grande fenômeno cervejeiro mundial das
-se o surgimento de grandes grupos cervejeiros últimas décadas: as cervejarias artesanais, ou em
por meio da compra de cervejarias regionais por inglês as craft breweries.
empresas maiores. Esse movimento deu origem a Estas cervejarias oferecem ao consumidor
alguns poucos grupos cervejeiros, multinacionais sabores, aromas e qualidade, que devolvem ao
que oferecem cervejas de qualidade, produzidas apreciador da cerveja o prazer de degustar uma
em mega instalações, mas que raramente “encan- bebida com caráter local, regional ou mesmo com
tam” o consumidor. A venda em grandes volumes o toque pessoal do mestre cervejeiro. Deve-se às
é sustentada por farta publicidade, fortalecendo o cervejarias artesanais o renascimento das cervejas
binômio imagem-produto. Diante da dificuldade de alta fermentação, que estavam restritas a algu-
de ajustar o processo para cervejas de estilos es- mas áreas da Europa e do Reino Unido.
peciais, as grandes cervejarias oferecem poucos Graças às microcervejarias artesanais, o apre-
estilos ao mercado. ciador de cerveja tem à sua disposição estilos de
Por outro lado, a disponibilização de tecno- cerveja de trigo, de centeio, de aveia e de trigo
logia cervejeira em farta literatura, a existência sarraceno, entre outras possibilidades. Também
de cursos acessíveis, a simplificação dos proces- graças às cervejarias artesanais, são oferecidas ao
sos de elaboração pelo emprego de unitanks, a mercado cervejas de diferentes estilos, cada um
disposição moderna de equipamentos em um com suas variações, sua própria história e sua ori-
plano, a grande oferta de equipamentos por em- gem. Outra contribuição interessante das cerveja-
presas locais, o uso de barris kegs e a populariza- rias artesanais, na história da cerveja, é a criação
ção do uso de growlers (recipientes retornáveis) de trabalho e renda para jovens empreendedores,
envasáveis em qualquer local abriram caminho tanto do setor cervejeiro como gastronômico.
34 A História da Cerveja
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1. Relacione as colunas:
1) Louis Pasteur.
2) Carl Linde.
3) Josef Groll.
35
2. Sobre a “Lei da Pureza”, promulgada pelo Duque Guilherme IV da Baviera, na
Alemanha, em 23 de abril 1516, é correto afirmar que:
(Marque as afirmações como verdadeiras ou falsas).
( ) A lei foi criada com o objetivo de coibir a sonegação fiscal.
( ) Por esta lei, a cerveja só poderia ser produzida a partir de cevada, água e lúpulo.
( ) Como a levedura atua só no processo de fermentação e depois é retirada, ela
não foi considerada como um ingrediente.
( ) A lei continua em vigor até os dias atuais, sendo vedado qualquer produto quí-
mico como conservante ou flavorizante na fabricação de cerveja na Alemanha.
Assinale a alternativa correta:
a) V-F-F-V.
b) V-V-F-V.
c) F-F-V-V.
d) F-V-F-V.
e) V-V-V-F.
36
FILME
37
ALPHIN, E. M.; VERSTRAETE, E. Germ Hunter: A Story about Louis Pasteur. Minneapolis: Lerner Publishing
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REFERÊNCIAS ON-LINE
39
1. C.
2. B.
3. D.
40
41
42
Me. Filipe Bortolini
O Mercado Europeu
de Cervejas
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Relatar brevemente a forma como o mercado de cervejas • Relatar o estado atual do mercado de cervejas artesanais
europeu se desenvolveu. no local.
• Descrever os estilos característicos da região. • Discutir as tendências do mercado local e o que se espera
• Compartilhar dados de tamanho de mercado, quantidade para os próximos anos.
de cervejarias, volumes e consumos.
Histórico de
Desenvolvimento
UNIDADE 2 45
Somente a partir do século XIX, as regiões europeias tipicamente vinícolas começam a registrar um aumento
do mercado de cervejas, graças às descobertas de Louis Pasteur. Seus estudos comprovaram que a assepsia e
o uso de cepas puras de levedura garantiam cervejas estáveis (ALPHIN; VERSTRAETE, 2003). A cerveja, ao
contrário do vinho, não tem graduação alcoólica capaz de conferir-lhe estabilidade microbiológica. Assim,
essa estabilidade somente era possível pelo uso de cepas puras de levedura, de criteriosa limpeza e assepsia
dos equipamentos e da pasteurização (VALLERY-RADOT; TYNDALL; HAMILTON, 2015).
A invenção da máquina geradora de frio, por Carl von Linde, possibilitou que se pudesse produzir
cerveja de baixa fermentação em qualquer região, mesmo que desprovida de gelo natural retirado de lagos
congelados (DIENEL, 2004). Pasteur e Von Linde abriram o caminho para a expansão do mercado cerve-
jeiro europeu por meio da possibilidade da construção de cervejarias em qualquer região. Itália, Espanha,
Portugal e regiões viníferas da França tornaram-se, assim, importantes mercados cervejeiros desde então.
UNIDADE 2 47
Importância da água
A água responde por mais de 90% da constituição de uma cerveja, tendo grande influência na sua
qualidade. A “água mole”, ou seja, com poucos minerais, é bastante adequada para a produção de
cervejas claras, como as Pilsen. Já uma “água dura”, com bastante minerais, é adequada para cervejas
escuras, como as Stouts. As quantidades de minerais podem sempre ser ajustadas, porém, adicionar
minerais é muito mais fácil que extraí-los. Assim, é melhor ter uma água mole e ajustá-la com uso
de sais à base de sulfatos e cloretos, de fácil aquisição, de acordo com a necessidade.
Fonte: adaptado de Palmer e Kaminski (2013).
Leveduras selvagens
Existem centenas de espécies de leveduras, cada espécie com milhares de cepas, vivendo no solo, em
insetos e crustáceos, em animais e em plantas. As leveduras podem ser carregadas pelo vento e, com
isso, cair em novos lugares, inclusive dentro de um fermentador de cerveja. Em geral, os cervejeiros
não querem leveduras nativas em suas cervejas, e as chamam de “leveduras selvagens”. Alguns usam
esse termo para qualquer cepa que não tenha sido colocada intencionalmente pelo cervejeiro. Outros
consideram como “leveduras selvagens” apenas as leveduras que não são específicas para cerveja.
Fonte: White e Zainasheff (2010).
UNIDADE 2 49
ESTILOS
POPULARES
Amargor
Teor
(IBUS)
alcoólico Unidades
(ABV) Internacionais Fermentação Sabor
de Amargor
Alemanha
German Pils 4,6%
~ 22 ~ 40 Baixa Acre de lúpulo.
SRM 3,5-6 5,3%
Weizenbier 4,3%
~ 8 ~ 15 Alta
Refrescante, final seco, notas
SRM 2-6 5,6% de banana e cravo.
Berliner 2,8%
Weiss ~
3,8%
3~8 Alta Levemente ácido.
SRM 2-3
3,8%
~ 25 ~ 4 0 Alta
Amargor, ésteres frutados, sabor de lúpulo, Best Bitter
4,6% terroso, frutado, maltado com final seco. SRM 8-16
4,6%
~ 30 ~ 50 Alta
Amargor com maltes de pão, nozes e toffee.
Sabor de lúpulo floral, terroso, resinoso e frutado.
Strong Bitter
6,2% SRM 8-18
5,0% Sabor de lúpulo com amargor, frutado, malte com English India
~ 40 ~ 60 Alta Pale Ale
7,5% características de pão, biscoito, tostado e toffee.
SRM 6-14
4,0%
~ 20 ~ 70 Alta
Sabores de café e chocolate até torrado forte, Stout
8,0% com amargor torrado mais intenso e amargor alto. SRM 22-40
Bélgica
Witbier 4,5%
~ 8 ~ 20 Alta Frutado,
Frutado refrescante
refrescan e com um final ácido e seco. Aroma
SRM 2-4 5,5% de coentro, picante ou apimentado ao fundo.
Trapista 4,8%
~ 15 ~ 45 Alta O sabor vai de frutado e doce-maltado à ricamente maltado
e alcoólico.
SRM 3-22 12,0%
Belgian 4,8% Suave, maltado com tostado, biscoito, noz, leves notas de
~ 20 ~ 30 Alta
Pale Ale 5,5% caramelo e mel. Lúpulo, herbal ou floral. Final seco a equilibrado.
SRM 8-14
Lambics 5,0%
~ n.d. * Selvagem Bastante acidulado, moderadamente funky, com acidez.
SRM 3-7 6,5%
*não definido
UNIDADE 2 51
Fonte: adaptado de Deutschland (2018, on-line) , BJCP (2015), Mestre Cervejeiro (2016, on-line) e Mestre Cervejeiro (2016, on-line) .
Após conhecer os estilos populares de cervejas presentes na Alemanha, Reino Unido
e Bélgica, iremos ver agora o histórico e comerciais derivados de cada um dos estilos.
ALEMANHA
German Pils
Weizenbier
Munich Helles
Kölsch
Histórico: original da Renânia, que possui essas duas especia- Comerciais derivadas:
lidades cervejeiras: a Kölsch de Colônia e a Alt de Düsseldorf. Früh Kölsch, Gaffel Kölsch,
Segundo a “Convenção da Kölsch”, apenas 24 cervejarias de Mühlen Kölsch.
Colônia e das imediações diretas podem produzir Kölsch.
Alt
de framboesa ou
UNIDADE 1 53
Histórico: a famí-
lia das British Bitter surgiu das English Pale Ales como um
produto do barril no final dos anos 1800. O uso de malte Cris- Adnams Southwold Bitter,
tal bitters tornou-se maciço após a Primeira Guerra Mundial. Brains Bitter, Fuller’s
Tradicionalmente servida mais fresca e com baixa pressão. O Chiswick Bitter, Greene King
membro com menos densidade da família das British Bitters, IPA, Tetley’s Original Bitter,
normalmente conhecido pelos consumidores como "Bitter", Young’s Bitter.
algumas cervejarias se referem ao estilo como Ordinary Bitter
para distingui-lo de outros membros da família.
Comerciais derivadas:
Best Bitter
Strong Bitter
Histórico: as Strong Bitters podem ser vistas como uma ver- Comerciais derivadas:
são com maior densidade do que as Best Bitter (embora não Bass Ale, Highland Orkney
necessariamente "mais premium", já que a Best Bitter são tra- Blast, Samuel Smith’s Old
dicionalmente feitas com os melhores ingredientes). As Pale Ale Brewery Pale Ale, Shepherd
britânicas são, geralmente, consideradas premium, com uma Neame Bishop’s Finger,
intensidade de exportação e amargas, algo que se aproxima Shepherd Neame Spitfire,
das Strong Bitters, mas reformulado para ser engarrafada West Berkshire Dr. Hexter’s
(incluindo aumento nos níveis de carbonatação); enquanto as Healer, Whitbread Pale Ale,
British Pale Ales modernas são consideradas Bitters engarra- Young’s Ram Rod.
fadas, historicamente os estilos eram diferentes.
Porter
Histórico: seu surgimento se deu no século XVIII, sendo o pre- Comerciais derivadas:
ferido dos trabalhadores dos portos, chamados de “porters”, Fuller’s London Porter,
cujo apelido deu nome ao estilo. A Porter evoluiu de uma cer- Nethergate Old Growler
veja Brown Ale jovem e doce, popular na época. Tornou-se um Porter, RCH Old Slug Porter,
estilo muito popular, amplamente exportado a partir de 1800, Samuel Smith Taddy Porter.
mas decaindo pouco antes da Primeira Guerra Mundial até
desaparecer na década de 50, sendo reintroduzido em mea-
dos da década de 70, com o início da era da cerveja artesanal.
Stout
Histórico: surgiu como uma variação das Porters. Dentro do Comerciais derivadas:
estilo existem variações Oatmeal Stouts (com aveia), Sweet Samuel Smith’s Oatmeal Stout,
Stouts (com açúcar, lactose e/ou chocolate), e as Russian Im- Young’s Double Chocolate
perial Stouts, Dry Stout ou Irish Stouts. Stout (Sweet Stout), Guinness
(Dry Stout), Courage Imperial
Russian Stout (Imperial Stout).
UNIDADE 1 55
BÉLGICA
Witbier
Trapista
Histórico: esse estilo contempla Trapist Single, com aromas Comerciais derivadas:
remetendo a frutas cítricas ou de caroço. Belgian Dubbel, com La Trappe Blond, Chimay
aromas remetendo a chocolate e frutas secas. Belgian Tripel, Rouge, Westmalle Tripel,
que remete a aromas de frutas amarelas. Belgian Dark Strong Rochefort 10, Orval.
Ale, com alto teor alcoólico e aromas complexos remetendo à
tosta, frutas passas e licor.
Saison
Reino Unido
Strong
Bitter
Porter
Stout
Ordinary Bitter
Alemanha
English
India
Pale Ale Bélgica
Weizenbier
Best Bitter
Alt
Berliner
Witbier
T
Saison Weiss
ra
Lambics
Pils
Munich
Helles
Kölsch
Fonte: adaptado de Deutschland (2018, on-line)1, BJCP (2015), Mestre Cervejeiro (2016, on-line)2 e Mestre Cervejeiro
(2016, on-line)12.
UNIDADE 1 57
Cenário Cervejeiro
Atual na Europa
Alemanha 93.652
Polônia 42.603
Reino Unido 42.282
Espanha 38.134
Holanda 24.912
França 22.000
República Checa 21.272
Romênia 16.600
Itália 16.415
Bélgica N.d - Não determinado
Quadro 1 - Dez países com maior consumo de cerveja per capita na Europa
9 Eslovênia 78 80
10 Bulgária 74 75
Total Média 91,5 93,4
UNIDADE 2 59
Outro ponto interessante a ser observado em relação ao consumo de cervejas na Europa é em relação
aos lugares em que ele é realizado, como nos mostra a Figura 2. Observa-se que, na Irlanda, 64% da
cerveja consumida é comprada em bares e restaurantes. Na Estônia, ao contrário, 93% das cervejas é
comprada em lojas ou supermercados. Na Alemanha, que tem o segundo maior consumo per capita
mundial, 82% da cerveja é comprada em lojas e supermercados, e apenas 18% é consumida em bares
e restaurantes. Isso demonstra que o hábito de consumir cerveja tem participação forte na rotina dos
lares alemães e estonianos.
Portugal 69 31
Espanha 67 33
Irlanda 64 36
Malta 64 36
Grécia 61 39
Chipre 55 45
Reino Unido 46 54
Luxemburgo 45 55
Bélgica 42 58
Croácia 40 60
Suíça 39 61
República Checa 36 64
Itália 36 64
Eslovênia 35 65
Holanda 34 66
Hungria 30 70
Eslováquia 29 71
Áustria 28 72
Dinamarca 23 77
Bulgária 20 80
França 20 80
Suécia 20 80
Noruega 19 81
Alemanha 18 82
Romênia 15 85
Polônia 14 86
Estônia 7 93
Finlândia Não informado
Letônia Não informado
Lituânia Não informado
Turquia Não informado
UNIDADE 2 61
Cervejarias Artesanais
na Atualidade Europeia
UNIDADE 2 63
Quadro 3 - Quantidade de microcervejarias por país
País 2018
1 França 450
2 Suíça 115
3 Reino Unido 100
4 Suécia 41
5 República Tcheca 38
6 Eslovênia 33
7 Alemanha 29
8 Romênia 19
9 Dinamarca 18
10 Hungria 14
Lituânia 31 Noruega
Estônia 30 Estônia
Grécia 25 Letônia
Romênia 20 Reino
Turquia 8 Unido Holanda
Alemanha
Bulgária 7
República
Chipre 1 Checa Eslováquia
Itália
Bulgária
Portugal Espanha
Turquia
Grécia
Chipre
Malta
UNIDADE 2 65
Em termos de empregos diretos gerados por cer- em um total de 27.561. Nos demais países, os
vejarias e microcervejarias, a Alemanha detém números não são tão altos quanto na Alema-
os maiores números. Mesmo tendo uma quan- nha, Reino Unido e Polônia, porém, também
tidade menor de cervejarias que o Reino Unido, são significativos. O Quadro 5 traz mais dados
a Alemanha gera 60% mais empregos diretos, sobre os empregos.
Todos esses números são significativos e de- pujante, entretanto, passa por crises significa-
monstram o tamanho do mercado europeu, tivas, inclusive a própria Alemanha. As micro-
que é bastante significativo, tanto em volumes cervejarias artesanais, porém, estão dando novo
de produção e faturamento quanto em estilos impulso nesses locais e, inclusive, criando novos
típicos e métodos de produção singulares. Boa mercados, como, por exemplo, na França e na
parte dos países que fazem parte desse mercado Espanha.
UNIDADE 2 67
jarias artesanais continuam se multiplicando, mas das redes de pubs, da falha em atender o mercado
tanto os consumidores quanto os revendedores premium (chamado por alguns de gentrificação) e
estão cada vez mais exigentes quanto a comprar da competição dos supermercados, que oferecem
algo realmente artesanal. Produtos da cervejaria bebidas a preços com os quais os pubs não podem
londrina Beavertown estão sendo retirados das competir (WARNER, 2018, on-line)6.
lojas independentes e boicotados pelos consumi- Na Alemanha, está havendo, também, um forte
dores após a venda de parte de seus negócios para aumento do consumo de cervejas artesanais que
a Heineken (DAWKINS, 2018, on-line)4. fogem aos padrões das cervejas típicas alemãs.
Também há uma tendência ao crescimento do Esse movimento, mais uma vez, traz a discussão
consumo de drinks feitos com cerveja e de bebidas em relação à permissão de exceções à Lei da Pu-
híbridas. Um exemplo disso são uísques da Glenfi- reza. Em alguns estados alemães, é possível obter
ddich envelhecidos em barris usados para cervejas autorização para cervejas que não obedeçam o
IPAs e as cidras e lagers da Curious Brewery, fermen- decreto de 1.516, e estilos como Gose e Berliner
tadas por meio da reutilização de leveduras de vinho. Weisse gozam de status especial e de uma auto-
A preocupação dos consumidores com o meio- rização excepcional, como “cervejas especiais” ou
-ambiente também está levando a um aumento “especialidades”. A Baviera, que abriga a metade
das vendas de cerveja em latas, que atualmente já das cervejarias alemãs, não permite exceções, te-
respondem por 25% do mercado. Também outras mendo a adição de aromas artificiais, corantes e
bebidas estão migrando para a lata, tal como vi- estabilizantes (DEUTSCHLAND, 2016, on-line)7.
nhos e espumantes. Além disso, os consumidores Porém, a flexibilização da Lei da Pureza pode
querem produtos que sintam que valem o valor ser fator decisivo para reverter a situação atual
pago, que estejam alinhados com suas visões éticas do mercado de cervejas alemão, que passa por
e políticas, que sejam transparentes e bons para uma grave crise. A demanda por cerveja no país,
eles. Mais conscientes em relação aos efeitos do que conta com mais de 6.000 rótulos diferentes,
consumo excessivo de álcool, os consumidores está em queda desde o começo dos anos noventa,
estão optando cada vez mais por produtos com com o consumo doméstico caindo mais de 25%.
baixo teor alcoólico ou sem álcool, refletindo num O consumo per capita teve seu recorde em 1976,
crescimento de 57% na vendas desse segmento em e vem caindo desde então, gerando excesso de
dois anos. Entretanto, também estão interessados capacidade e intermináveis guerras de preço entre
em experiências novas e que enriqueçam suas as grandes cervejarias. Essa guerra fica evidente ao
vidas, mesmo que precisem pagar mais caro por perceber-se que dois terços das cervejas vendidas
isso (THE DRINKS BUSINESS, 2018, on-line)5. nos supermercados são oferecidas com desconto.
Em relação ao Brexit, há quem veja pontos O envelhecimento da população e a mudança de
positivos para as microcervejarias, uma vez que estilo de vida também são fatores que afetam o
produtos de outros países tendem a ficar mais cenário atual (STORBECK, 2018, on-line)8.
caros ou mesmo indisponíveis. Por isso, e também A cidade de Dortmund, por exemplo, era
pela postura dos que votaram a favor do Brexit, responsável, na década de 70, por 10% de toda
espera-se que haja uma procura maior por cer- a produção de cerveja alemã e gerava 8.000 em-
vejas locais. Já o mercado de brewpubs continua pregos. Hoje em dia, as grandes marcas da época,
sofrendo, com mais de 2.300 pubs fechados desde tais como Kronen e Ritter, são propriedade da
2012. É o resultado de fatores como a otimização Radeberger, o maior grupo cervejeiro do país.
70
LIVRO
71
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1. D.
2. B.
3. A.
74
75
76
77
78
Me. Filipe Bortolini
O Mercado de Cervejas
nos Estados Unidos
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Relatar brevemente a forma como o mercado de cervejas • Relatar o estado atual do mercado de cervejas artesanais
americano se desenvolveu. no país.
• Descrever os estilos característicos do país. • Discutir as tendências do mercado americano e o que se
• Compartilhar dados de tamanho de mercado, quantidade espera para os próximos anos.
de cervejarias, volumes e consumos.
Histórico de
Desenvolvimento
UNIDADE 3 81
A importância da cerveja na cultura america- mas tomou força entre numerosas outras religiões
na, e que a torna a bebida nacional por excelência, que proibiam desde sempre o consumo de álcool,
fica evidenciada na frase atribuída a Benjamin assim como outras denominações que pregavam
Franklin, filósofo, físico e estadista, nascido em o comedimento.
1706, que teria dito “Beer is the proof that God Na medida em que integrantes dessas religiões
loves us and wants us to be happy” (Cerveja é a ganhavam prestígio e destaque na sociedade e na
prova de que Deus nos ama e nos quer felizes). política, suas vozes foram mais ouvidas. Uma lei
Apesar de jamais ter dito tal frase, sabe-se que de 1893 conseguiu proibir a venda de bebidas nas
ele, que é um dos chamados “Pais da Nação” por tavernas, bares e salões. Contudo, ficou restringida
seu importante papel na independência e na re- a alguns estados.
dação da constituição americana, era um grande Porém, em 1917, foi promulgada a 18ª emen-
apreciador de cervejas (THE FRANKLIN INSTI- da da Constituição dos Estados Unidos, também
TUTE, 2018, on-line)1. chamada de “O Nobre Experimento“ ou “Prohi-
Um dos mais importantes eventos que marcou bition”, que proibia a produção, o transporte e
a história da cerveja nos Estados Unidos foi a cha- a venda de bebidas alcoólicas (SHEARS, 2014).
mada “Lei Seca”. Como consequência do consumo Com a lei, pretendia-se reduzir o crime e a cor-
exagerado de cerveja e destilados, principalmente rupção, resolver problemas sociais, reduzir os
por imigrantes recém-chegados de países devas- impostos cobrados para cobrir custos de prisões
tados por guerras e fome, houve uma reação mo- e albergues e melhorar a saúde e a higiene no
ralizante, que recrudesceu sentimentos religiosos país (MOSS, 2016, on-line)2. Como mostra a
e patrióticos. O movimento começou pequeno, história, o experimento falhou completamente
em algumas comunidades religiosas e puritanas, em todos os pontos.
UNIDADE 3 83
A estampa a seguir retrata a capa do New York Times de 7 de Abril de 1933, dia em que, após qua-
torze anos de proibição, a produção legal de cervejas foi retomada. A capa descreve que a cerveja com
3,2% de álcool de limite podia, finalmente, ser vendida. Além disso, descreve que um caminhão de uma
cervejaria foi entregar cerveja na Casa Branca, portando um cartaz com os dizeres “President Roosvelt,
the first real beer is yours” (Presidente Roosvelt, a primeira cerveja de verdade é para você). Mais tarde,
cervejas de outras graduações alcoólicas puderam ser produzidas e vendidas.
UNIDADE 3 85
Estilos Característicos
da Escola Americana
UNIDADE 3 87
ESTILOS POPULARES DA ESCOLA CERVEJEIRA AMERICANA E EXEMPLOS COMERCIAIS
American Lager
Ales Lupuladas
Descrição: Este talvez seja o estilo definitivo da escola ameri- Exemplos comerciais:
cana. As IPAs americanas um dia já foram apenas uma versão Founders All Day IPA (Session
das tranquilas IPAs inglesas, porém com lúpulos resinosos IPA), Stone IPA (American IPA),
norte-americanos em vez dos originais ingleses. A Anchor Brooklyn Blast! (Imperial IPA),
Liberty, lançada em 1975, é considerada a primeira Ame- Shipyard Black IPA.
rican IPA. Hoje, as IPAs americanas têm aroma e amargor
mais intensos do que a Anchor Liberty, que se enquadraria
melhor no estilo American Pale Ale.
Na busca por mais aroma, mais amargor, mais de tudo,
acabou nascendo a intensa Imperial IPA ou Double IPA. E
se dá pra fazer algo novo a partir das IPAs, porque não uma
IPA com maltes torrados? Assim surgiu o estilo conhecido,
erroneamente, como Black IPA, e por aí vai, com inúmeras
variações de IPA, como Session IPA (menor teor alcoólico),
New England IPA (turvas e frutadas), Brett IPA (fermentadas
com Brettanomyces).
Wood-Aged Beers
UNIDADE 1 89
Pumpkin Ale
UNIDADE 3 91
Tabela 1- Marcas mais vendidas no segmento premium em 2018
O market share das cinco maiores cervejarias e marcas importadas mudou significativamente entre
2008 e 2018. Desde 2008, mais de 10% do volume vendido passou dos grandes fabricantes para cer-
vejarias menores e marcas importadas, conforme mostra a Tabela 2.
Tabela 2 - Market share das principais cervejarias e importadoras
Tanto o segmento premium quanto sub-premium tiveram quedas de faturamento e volume em 2018,
mas o segmento super-premium, puxado pelas cervejas artesanais, vem crescendo nos últimos anos.
Outro segmento que vem ajudando a compensar a queda no volume é o de importados, que evoluiu
muito nos últimos 20 anos. Entretanto, o perfil das importações vem mudando. Antigamente, as
importações estavam relacionadas com estilos que não existiam nos EUA e com uma proposta de
autenticidade e conexão com o lugar de origem da cerveja.
Hoje em dia, as cervejarias artesanais conseguem reproduzir muitos desses estilos localmente e os
brewpubs possuem uma proposta, ou mesmo uma “mística”, que compensa a questão da origem (JA-
COBSEN, 2019, on-line)7. Desse modo, a especialidade dos importados está se perdendo (MARKET
WATCH, 2015, on-line)8.
%
% Mudança
% Mudança
Marcas importadas Vendas em US$ sobre ano
Market Share sobre ano
anterior
anterior
%
% Mudança %
Mudança
Marcas artesanais Vendas em US$ sobre ano Market
sobre ano
anterior Share
anterior
Com o fim da Lei Seca, em 1933, novas cervejarias foram abertas rapidamente e, em um ano, já ha-
via 756 cervejarias ativas. Contudo, as maiores companhias continuaram investindo para expandir,
usando eficiência produtiva e marketing para pressionar as pequenas cervejarias. Assim, o número de
cervejarias encolheu rapidamente, caindo para 407, em 1950, e 230, em 1961. Em 1983, eram apenas
80 cervejarias, comandadas por apenas 51 companhias independentes. Na época, o escritor britânico
Michael Jackson observou que a maioria produzia o mesmo estilo: lagers claras, mais leves que uma
UNIDADE 3 93
pilsen, com pouco lúpulo e brandas no paladar e que todas tinham, praticamente, o mesmo sabor
(CRAFTBEER, [2018], on-line)10.
A Figura 5 ilustra a evolução do número de cervejarias nos EUA, onde fica evidente o crescimento
exponencial a partir do início dos anos 90, impulsionado pelas microcervejarias e brewpubs.
Para definir o porte das cervejarias artesanais do mercado cervejeiro americano, são usadas quatro
classificações: microcervejaria, brewpub, empresa de contract brewing (cervejaria cigana) e cervejaria
artesanal regional. Para as demais cervejarias, há, ainda, as classificações de cervejaria regional e de
grande cervejaria. O Quadro 1 explica cada um dos segmentos.
Quadro 1 - Definição de porte de cervejarias nos EUA
Porte Definição
Microcervejaria Produz menos que 1.760.000 litros por ano com 75% ou mais da produção
(Microbrewery) vendida fora da cervejaria.
Uma empresa que contrata uma cervejaria para produzir sua cerveja. Tam-
Cervejaria cigana
bém pode ser uma cervejaria que contrata outra cervejaria para produzir
(Contract Brewing
mais cervejas. A contratante cuida do marketing, vendas e distribuição de
Company)
sua cerveja, geralmente deixando a produção e o envase para a contratada.
Cervejaria
artesanal regional Uma cervejaria independente regional com a maioria de seu volume em
(Regional craft cervejas tradicionais ou inovativas.
brewery)
Cervejaria regional
Uma cervejaria com produção anual entre 1.760.000 e 704.000.000 de litros.
(Regional brewery)
Grande cervejaria
Uma cervejaria com produção anual maior que 704.000.000 de litros.
(Large Brewery)
Fonte: adaptado de Brewers Association ([2018], on-line)12.
Entre 7 milhões
6 41 0,7% 318.556.194 1,6%
e 11,7 milhões
UNIDADE 3 95
Apesar do número reportado de cervejarias em atividade em 2017 ser de 6.372, segundo dados da
Brewers Association, já são 10.115 permissões de operação concedidas pelo TTB (Alcohol and To-
bacco Tax and Trade Bureau), o que indica que mais cervejarias devem entrar no mercado em breve.
O Quadro 2 mostra a distribuição de cervejarias com permissão de operação por estado, em 2018.
Quadro 2 - Número de cervejarias com licença de operação em 2018 nos EUA
Apesar de 36% da população não consumir álcool, o consumo de cerveja nos EUA gira em torno de
75 litros per capita/ano. Porém, entre 2000 e 2015, o share da cerveja no mercado de bebidas alcoólicas
passou de 58% para 49%, mesmo com o percentual de consumidores permanecendo estável em 65%
por mais de 70 anos (AMERICA’S BEER DISTRIBUTORS, 2018, on-line)6. Apesar disso, ela ainda é a
bebida preferida, conforme mostra o Quadro 3.
O mercado de cerveja artesanal parece dar seus A distribuição também passa por mudanças
primeiros sinais de desaceleração, demonstran- significativas. O número de distribuidores tradi-
do, desde 2016, os primeiros sinais de saturação. cionais de cerveja caiu de 4.595, em 1980, para em
Ainda que o interesse pelo produto permaneça, a torno de 3.000, em 2018. Entretanto, o número de
proliferação de cervejarias e de opções oferecidas novos entrantes no mercado de distribuição de
já atende a necessidade dos consumidores, dando bebidas teve um grande crescimento, com mais
início a uma nova era de competição (JACOB- de 20.000 estabelecimentos licenciados (AME-
SEN, 2018, on-line)7. RICA’S BEER DISTRIBUTORS, 2019, on-line)6.
UNIDADE 3 97
Cervejarias Artesanais
nos Estados Unidos
UNIDADE 3 99
O ano de 1978 é outro marco na história da locais com cervejas cheias de sabores e tradições
cerveja artesanal americana. Até então, a produção do velho mundo europeu. Assim, foram forjando
de cerveja caseira era proibida nos EUA, apesar da o que seria o caráter único da cerveja americana
produção de vinho ser permitida. Tal proibição, (BREWERS ASSOCIATION, 2018, on-line)13.
entretanto, parecia mais um descuido dos legisla- Nesse período, surgem a Sierra Nevada (1980),
dores na época do final da Lei Seca, e o governo com sua multipremiada Pale Ale, a Boston Beer
sempre adotou uma postura de “fechar um olho” Company (1984), fabricante da mundialmente
em relação aos cervejeiros caseiros. Apesar de ser famosa pela Samuel Adams e Goose Island (1988),
uma lei não efetiva, ela era nociva, pois dificultava hoje parte do grupo AB Inbev.
a obtenção de matérias-primas e a abertura de lojas Na década de 90, o número de cervejarias arte-
especializadas. Assim, em 1976, representantes de sanais saltou de 284, em 1990, para 1.564, em 1999.
clubes de cervejeiros caseiros e lojas de insumos É nessa época que surgem as cervejarias interes-
para vinho iniciaram um movimento pela legaliza- sadas em fazer algo “autenticamente americano”,
ção e, em 25 de agosto de 1978, o senado americano em vez de apenas retocar estilos do velho mundo.
aprovou a lei sem divergências (ACITELLI, 2013). Começam, então, as experiências com “cervejas
Em 23 dezembro de 1981, Bert Grant ingres- extremas”, altamente lupuladas, super-alcoólicas
sou com um pedido de abertura do que seria o e/ou repletas de ingredientes excêntricos.
primeiro brewpub americano desde a época da Com essa proposta, surgem cervejarias como
proibição. No início do ano seguinte, ele inicia a a Dogfish Head, aberta em 1995, uma das pionei-
operação da “Yakima Brewing and Malting Com- ras no uso de ingredientes como damascos, algas,
pany”, no lobby da antiga ópera de Yakima, produ- ervas, especiarias e até lagostas cozidas em suas
zindo cerca de 500 litros por batelada (ACITELLI, cervejas. Também surge a Stone Brewing, em 1996,
2013). Assim, no início da década de 80, começam famosa por rótulos extremamente lupulados como
a surgir os primeiros brewpubs. De forma inci- a Arrogant Bastard e a Ruination, e a Russian River,
piente e quase desapercebidos, eles exploravam em 1997 (GOLDFARB, 2017, on-line)14.
a união da produção da própria cerveja com um Contudo, desse ponto até quase o final dos
ambiente culinário, o que na Inglaterra já era uma anos 2000, houve uma parada no crescimento,
velha tradição. Alguns copiavam o modelo das com a quantidade de cervejarias artesanais en-
Gasthof Brauereien (Cervejarias Restaurante) do trando em queda e chegando a 1.517, em 2007.
interior da Alemanha e da Áustria, instalando-se Esse “estouro de bolha” foi provocado pela euforia
em locais de férias e turismo. Porém, a grande de investidores e pelo mercado financeiro que vi-
explosão das cervejarias artesanais e micro cer- ram no mercado de cerveja artesanal um caminho
vejarias ainda estava por ocorrer. fácil para ganhar dinheiro. Desse modo, muitas
A década de 80 foi época dos pioneiros das das cervejarias surgidas no final da década de 80
microcervejarias, num momento em que os ex- ao final da década de 90 foram abertas a toque de
perts da indústria recusavam-se a reconhecer sua caixa, geralmente produzindo cervejas ruins que
existência. Eles, contudo, emergiram com sua pai- eram, em geral, produzidas por cervejarias ciganas
xão e uma visão, servindo as suas comunidades e enviadas o mais rápido possível para as lojas.
Apesar dessa redução no volume total produzido lume, ante 3% de crescimento da média das ar-
nos EUA, em 2018, é importante notar que a pro- tesanais americanas.
dução e a venda de cervejas artesanais aumentaram, Se por um lado o mercado de cervejas, nos Es-
em 2019, ambas 3,9% em relação a 2017. Com isso, tados Unidos, continua crescendo, mesmo que em
já correspondem por 13,2% da produção total e ritmo menor, graças às cervejarias artesanais, não
24,16% do faturamento total do mercado (BRE- está descartado que grandes grupos continuem
WERS ASSOCIATION, 2019, on-line)9. a comprar artesanais, mantendo-as, na maioria
Isto levou a Anheuser-Busch InBev comprar a dos casos, com a mesma filosofia de gestão. Os
Goose Island e mais 10 cervejarias artesanais. A varejistas têm dado preferência para marcas arte-
MillerCoors comprou 4 artesanais, e a Heineken sanais escaláveis, enquanto os consumidores ame-
adquiriu a Lagunitas. Nos últimos 12 meses, en- ricanos, em geral, dizem não se importar se uma
tre 2017 e 2018, as artesanais adquiridas pela cervejaria artesanal for comprada por uma grande
Anheuser-Busch Inbev cresceram 6,8% em vo- indústria cervejeira (AMORIM, 2018, on-line)15.
UNIDADE 3 101
Tendência
de Mercado
MILLENIALS
EXPERIMENTAM
58%
DO TOTAL DE
5.1
MARCAS
DIFERENTES
CONSUMIDORES
POR MÊS
DE CERVEJA
15 %
ARTENASAL TEM
MENOS DE 35 ANOS
EXPERIMENTAM
MAIS DE 10
MARCAS POR MÊS
OS MILLENIALS NO MERCADO
DE CERVEJA ARTESANAL
Figura 8 - Comportamento de consumo de cerveja artesanal pelos millenials
Fonte: Stanley (2018, on-line)16.
UNIDADE 3 103
Em relação às embalagens, as latas estão ga- Minessota, mas, em 2017, cortou 10% da equipe,
nhando cada vez mais espaço, ainda que as vendas fechou a distribuição em seis estados, e planeja
em garrafa sejam a maioria. Isso é resultado de que reduzir a produção também em 10%, tudo isso en-
o consumidor já não percebe grandes diferenças quanto busca focar no mercado local (SWARTZ,
de qualidade entre as cervejas envasadas em latas e 2018, on-line)17.
garrafas. As pequenas cervejarias artesanais estão Os Estados Unidos são, de fato, o berço do re-
conduzindo essa mudança de percepção, envasan- nascimento da cerveja artesanal nos dias atuais, e
do rapidamente seus rótulos de alta qualidade em servem como fonte de inspiração e influência para
latas (STANLEY, 2018, on-line)16. todos os países que estão iniciando um processo
Hoje, dominado em sua quase totalidade pelas semelhante. O mercado cervejeiro americano já
ales, o mercado de cerveja artesanal deve assistir passou por diversos ciclos, desde a época da cor-
um crescimento significativo das lagers nos pró- rida de ouro, quando possuía mais de 4.000 cerve-
ximos anos. As lagers agradam aos consumido- jarias ativas, passando pela extinção completa do
res que desejam cervejas com sabor, porém com mercado formal com a Lei Seca e chegando à nova
menor graduação alcoólica e perfil de sabor mais fase em que se encontra agora. O crescimento ob-
limpo. Há, entretanto, preocupação de parte das tido nesses últimos 30 anos é resultado do esforço
microcervejarias artesanais de que a produção de das microcervejarias, cervejeiros caseiros, lojas de
estilos semelhantes aos estilos mainstream pos- insumos, lojas especializadas, instituições de ensi-
sam prejudicar a reputação da cerveja artesanal no e sommeliers. Todos eles trabalharam juntos de
(SWARTZ, 2018, on-line)17. forma organizada ou espontânea para disseminar
Outra tendência que deve manter-se para os a cultura da cerveja artesanal e criar um público
próximos anos é a do consumo na própria cerve- interessado e disposto a buscar novas experiências
jaria ou brewpub, valorizando os negócios locais. sensoriais e gastronômicas. Para isso, desafiaram
Enquanto as pequenas cervejarias mantiverem os padrões de consumo e de formas de divulga-
o foco nas suas comunidades, deve haver bas- ção e venda, iniciando uma verdadeira revolução,
tante espaço para crescimento. Contudo, caso a que pegou de surpresa as grandes cervejarias, que,
maioria resolva começar a distribuir, será difícil até então, reinavam absolutas. Assim como em
encontrar espaço para todos nos supermercados qualquer mercado, houve fases de estagnação e
e bares. Essa situação, aliás, já está acontecendo, e de fechamento de cervejarias, naturais dentro de
as cervejarias artesanais de maior porte nos EUA um mercado que está iniciando. E, mesmo em um
já estão passando por dificuldades. A Smuttyhou- cenário favorável, não basta a paixão pela cerveja:
se Brewing, de Nova Hampshire, inaugurada em é necessário ter competência e capacidade para
1994, e uma das mais conhecidas microcervejarias gerir o negócio. Há indicações de que, em 2016, um
do país, foi levada à leilão em 2018, após expandir novo ciclo tenha se iniciado, com ritmos de cres-
sua capacidade de produção para 8,8 milhões de cimento menores e uma tendência à priorização
litros e suas vendas estacionarem em 4,1 milhões dos mercados locais, e os próximos anos tendem
de litros. Já a Summit Brewing, fundada em 1986, a ser bastante desafiadores para as mais de 6.300
tornou-se a segunda maior microcervejaria de cervejarias em atividade hoje.
105
3. A história recente da cerveja artesanal nos EUA começa no ano de 1965, quando
____________ adquire a cervejaria _______________, pelo valor menor que o de um
carro usado. Muitos, entretanto, consideram que o verdadeiro renascimento foi
com ______________ e a abertura da ____________________, que, apesar de ter ficado
de portas abertas por apenas seis anos, inspirou muitos cervejeiros caseiros a
iniciarem um negócio próprio.
106
LIVRO
107
ACITELLI, T. The audacity of hops: the history of America’s craft beer revolution. Chicago: Chicago Review
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2
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em: 08 nov. 2018.
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nov. 2018.
nov. 2018.
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Me. Filipe Bortolini
O Mercado de
Cervejas no Brasil
PLANO DE ESTUDOS
Estilos Cervejarias
característicos artesanais no Brasil
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Relatar brevemente a forma como o mercado de cervejas • Relatar o estado atual do mercado de cervejas artesanais
se desenvolveu no Brasil. no Brasil.
• Descrever os estilos característicos no Brasil e suas re- • Discutir as tendências do mercado local e o que se espera
giões. para os próximos anos.
• Compartilhar dados de tamanho de mercado, quantidade
de cervejaria, volumes e consumos.
Histórico de
Desenvolvimento
UNIDADE 4 117
cidade de Petrópolis e região. Em pouco tempo, zendo a manutenção de câmaras frias. Com a crise
o produto ficou conhecido na região, e era uma de desvalorização da moeda em 1893, a empresa
das cervejas preferidas da corte de Dom Pedro II ficou à beira da falência; o alemão Antonio Zer-
(DIAS, 2006, on-line)8. renner e o dinamarquês Adam Ditrik Von Bülow,
Em 1868, chega em São Paulo o cervejeiro Lou- ambos naturalizados brasileiros e sócios da Antarc-
is Bücher, nascido em Wiesbaden, na Alemanha. tica, optaram por trocar seu crédito por uma parti-
Logo após estabelecer-se na cidade, ele abre uma cipação maior nos negócios, tornaram-se acionistas
pequena fábrica, produzindo cerveja com o uso majoritários, assumindo o controle dos negócios.
de arroz, milho e outros cereais. Em 1882, Bücher Os dois reestruturaram a empresa, focando na
associa-se a Joaquim Salles, que era proprietário produção de cervejas e refrigerantes e, com isso,
de um abatedouro de suínos no bairro da Água após recuperar-se da crise, a companhia cresceu
Branca. O estabelecimento, que tinha o nome de rapidamente. Em 1905, a Antarctica adquiriu o
“Antarctica”, possuía uma “máquina de fazer gelo” controle da Cervejaria Bavária, localizada no bair-
que contava com capacidade ociosa. Surge, as- ro da Mooca, em São Paulo. Em 1911, foi fundada
sim, em 1888, a “Antarctica Paulista – Fábrica de a primeira filial em Ribeirão Preto; e em 1912, foi
Gelo e Cervejaria”, a primeira fábrica de cerveja lançada a Soda Limonada Antarctica.
no país com tecnologia adequada para a produção Em 1913, a empresa iniciou a fabricação de
de cervejas de baixa fermentação. A cervejaria, que geladeiras, chamadas de “Perfeitas”, para uso co-
ficou sob direção de Bücher, produzia entre 1.000 mercial e residencial (DIAS, 2006, on-line)9. Em
e 1.500 litros/dia, e logo passou a produzir 6.000 1914, foi criado o Theatro Cassino Antarctica, na
litros/dia (SANTOS, 2003). Com isso, surgem as Rua do Anhangabaú, em Ribeirão Preto (NETO;
primeiras cervejas pilsen do mercado, lançadas FRANÇA, 2009). Em 1920, a empresa vende ao
com a marca Antarctica. clube de futebol Palestra Itália (hoje Palmeiras),
O fato de se dar uma marca para a cerveja foi por 500 contos de réis, boa parte do terreno do
de grande importância, pois, até aquele momen- Parque Antarctica, que já era referência para prá-
to, as fábricas não atribuíam nomes aos produ- ticas esportivas, especialmente o futebol. O va-
tos, uma vez que eram vendidos em barris ou lor cobrado foi muito menor que o valor real do
em garrafas sem rótulos – nos poucos casos em terreno, entretanto, o contrato de venda previa a
que se usava essa embalagem exclusividade de comercialização dos produtos da
(DIAS, 2006, on-line)9. Em 1891, Antarctica por 99 anos (SOCIEDADE ESPORTI-
a empresa muda de nome para VA PALMEIRAS, [2018], on-line)10.
“Companhia Antarctica Paulista” Em 1931, a marca começa a patrocinar pro-
e torna-se uma sociedade gramas de rádio – mídia que teve grande cres-
anônima (SANTOS, 2003). cimento nessa época. Em 1944, são feitos novos
A empresa manteve a investimentos para modernização e expansão. Na
diversificação de negó- década de 60, inicia-se uma fase de aquisições,
cios com os produtos com a compra da Bohemia, em 1961; da Polar e da
do abatedouro, da Cervejaria de Manaus, em 1972; e da Serramalte,
cervejaria (que tam- em 1980. Em 1979, inicia-se a exportação para os
bém produzia refri- Estados Unidos e, em seguida, para Europa e Ásia
gerantes) e também fa- (DIAS, 2006, on-line)9.
UNIDADE 4 119
comprar cerveja, o comerciante era obrigado a Schincariol foi lançada em 1989 e, em 10 anos,
comprar, também, os refrigerantes fabricados pe- chegou a abocanhar 10% do mercado nacional
las cervejarias, fechando o mercado para a Coca- (PEZZOTTI, 2017, on-line)14.
-Cola. Assim, Gonçalves arriscou todo o capital Nos anos de 1990, a Antarctica e a Brahma
que dispunha para montar uma cervejaria e, em continuaram competindo como as duas maiores
nove meses, colocou no mercado a primeira gar- cervejarias do país. A Antarctica inovou em di-
rafa de Kaiser. versas embalagens e estilos, lançando, em 1991,
Após 700 mil litros de cerveja fabricados para a Kronenbier, a primeira cerveja sem álcool do
chegar à fórmula ideal, foi construída uma cer- mercado brasileiro; a Antarctica Pilsen Extra
vejaria em Divinópolis (MG), que tinha eficiên- (mais forte e com sabor marcante); e a Antarc-
cia muito superior às demais fábricas brasileiras, tica Pilsen Extra Cristal, a primeira cerveja com
muitas delas centenárias. Foi ela que introduziu a garrafa transparente. Em 1994, é lançada a An-
fermentação em tanques fechados, que reduzia em tarctica Bock e também duas novas embalagens
30% o consumo de energia e mão de obra, além para a Antarctica Pilsen: a garrafa long neck e a
de resultar em um produto de melhor qualidade. embalagem com seis unidades de latas. Em 1995,
A Kaiser foi lançada em 1982 e obteve tamanho outras marcas da Antarctica também são lançadas
sucesso que outros envasadores de Coca-Cola, em garrafas long neck.
que também estavam sofrendo com a política de A Brahma, no mesmo período, passava por
venda casada, construíram linhas para cerveja e um processo de expansão e modernização, com a
licenciaram a marca para produção. construção de novas fábricas e a exportação para
Já em 1983, foram construídas duas fábricas a Argentina, iniciada em 1992. Em 1993, é inaugu-
em Mogi-Mirim (SP) e em Nova Iguaçu (RJ) e, rada, na Argentina, a primeira fábrica da Brahma
nessa época, a Heineken passou a dar assistência fora do território nacional e são lançadas as em-
à Kaiser. Em 1984, a Coca-Cola Internacional en- balagens long neck e da tampa twist, que dispensa
trou na sociedade, comprando 10% da cervejaria, o uso de abridor. Em 1995, é lançada a Brahma
considerando que, no país, esse movimento era Bock; em 1996, a Malzbier em garrafa long neck;
necessário para o desenvolvimento dos negócios. em 1998, a Brahma Extra em garrafa long neck e,
Em 1987, foi inaugurada a unidade de Jacareí (SP), no ano seguinte, são lançadas as embalagens em
que reforçou o abastecimento de São Paulo e de lata de 473 ml (DIAS, 2006, on-line)9.
todo o Vale do Paraíba (DIAS, 2006, on-line)12. Em meio aos acontecimentos envolvendo a
Em 1989, a Schincariol, de Itú (SP), fabrican- Antarctica e a Brahma, em 1993, um grupo de
te do refrigerante Itubaína, que já gozava de boa empresários decide comprar um terreno perto do
popularidade, resolveu comemorar os 50 anos Km 51 da BR 040, na região de Petrópolis (RJ) e
da fundação da empresa, fundada no quintal de montar uma cervejaria, aproveitando as condições
casa por Primo Schincariol, em 1939, e lançou favoráveis do local. Assim, em 1994, é lançada a
uma cerveja, expandindo seus negócios para cerveja Itaipava, que fica bastante conhecida no
esse mercado (DIAS, 2011, on-line)13. A Cerveja estado do Rio de Janeiro. Em 1998, já sob contro-
UNIDADE 4 121
Em 2011, a japonesa Kirin Holdings comprou
a empresa por US$ 2,65 bilhões, dando nascimen-
to à Brasil-Kirin. Entretanto, após uma série de
erros estratégicos, os japoneses fracassaram no
mercado brasileiro. Em fevereiro de 2017, a Kirin
vendeu a Brasil-Kirin para o Grupo Heineken
pelo valor de US$ 704 milhões. A Heineken, en-
tão, torna-se a segunda maior cervejaria brasileira
(MANZONI JR., 2017, on-line)20.
Em 2002, outra grande cervejaria brasileira
passa para o controle de uma marca estrangeira:
a Kaiser e sua família de produtos, então com 15%
de participação no mercado brasileiro, é comprada
pelo grupo canadense Molson. Em 2004, os novos
donos resolvem remodelar os produtos, lançando
a Kaiser Novo Sabor. Em pouco tempo, a marca
começa a perder mercado, caindo para 8,5% de
participação, sendo superada pela Schincariol e
sua Nova Schin. Em 2006, a empresa vende 68%
de participação para a mexicana Femsa, dona das
marcas Sol e Tecate, que promove uma mudança
de posicionamento na marca, trazendo de volta
o garoto-propaganda “Baixinho” e mudando as
embalagens e logotipos.
Entretanto, a estratégia não foi suficiente para
recuperar o mercado perdido. Em 2010, a Femsa
foi adquirida pela Heineken, e a Kaiser passa a
fazer parte do portfólio do grupo holandês. Em
2011, nova mudança na marca, com novo sabor,
nova identidade visual e novo slogan, “Cerveja
bem cervejada” (DIAS, 2016, on-line)12. Ainda
assim, a marca estava estacionada em 5% de par-
ticipação no mercado, em 2014 (BOUÇAS, 2016,
on-line)21.
UNIDADE 4 123
Assim, as cervejas artesanais chegaram para como referência para a formação de juízes e tam-
atender ao público que busca novos sabores e bém para o julgamento de cervejas em concursos
experiências, trazendo uma diversidade de es- realizados por todo o mundo. A seguir veja as
tilos diferentes. Esses estilos, entretanto, são re- características do estilo conforme descrito no guia
produções de estilos clássicos das escolas alemã, do BJCP.
americana, inglesa e belga. Como se trata de um
mercado muito recente, ainda não houve uma
criação de uma identidade nacional ou de um
conjunto de estilos, técnicas ou insumos caracte-
rísticos que justifique a definição de uma escola
cervejeira brasileira. BJCP – Beer Judge Certification Program – é uma
Em 2015, entretanto, cervejeiros caseiros de organização sem fins lucrativos, formada em
Santa Catarina se reuniram para criar um estilo 1985, nos Estados Unidos, “para promover alfa-
que fosse adequado ao clima brasileiro e que in- betização cervejeira e apreciação da verdadeira
cluísse ingredientes locais. Assim, surgiu o estilo cerveja, e para reconhecer habilidades na de-
Catharina Sour, que define uma cerveja ácida, leve gustação e avaliação de cervejas”. Foi descrito na
e refrescante com adição de frutas (CORDEIRO, imprensa como um “programa de estudo prático
2018, on-line)23. Em 2016, a Associação Catari- criado para ensinar aspirantes a entusiastas de
nense de Cervejas Artesanais (ACASC) realizou cerveja sobre a essência de todo tipo de cerveja”.
um workshop que contou com a participação de O BJCP certifica e qualifica julgadores de cerveja
mais de vinte cervejarias, que começaram a pro- por meio de um processo de examinação e mo-
duzir o estilo profissionalmente (FIGUEIREDO, nitoramento. Para ser um membro, é necessário
2018, on-line)24. submeter-se ao exame do BJCP.
Em 2017, o estilo começou a ganhar maior Fonte: BJCP (2017, on-line)27.
projeção, com algumas cervejarias produzindo
mais de um rótulo do estilo, variando a receita
com diferentes tipos de frutas e especiarias. A cer- Enquanto não surgem novos estilos nacionais,
vejaria Lohn Bier, de Lauro Muller, por exemplo, os estilos de outras escolas dominam o gosto dos
possui sete rótulos diferentes de Catharina Sour, brasileiros e as linhas de produção das cervejarias
que contam com adições de manga, butiá, ber- artesanais. As grandes cervejarias e suas American
gamota, uva, jabuticaba, guaraná e, até mesmo, Light Lagers continuam sendo o estilo mais con-
café. Finalmente, em 2018, o estilo foi reconhecido sumido pelo grande público. Entretanto, entre o
pelo Beer Judge Certification Program (BJCP), a público consumidor de cerveja artesanal, há uma
mais importante instituição de juízes de cerve- gama maior de estilos preferidos.
ja do mundo (MACEDO, 2018, on-line)25. Com Um estudo realizado pelo clube de assinaturas
isso, tornou-se o primeiro estilo genuinamente Clube do Malte, divulgado no início do ano de
brasileiro a ser reconhecido no guia, que é usado 2018, revela dados interessantes sobre os estilos de
Como vemos, a India Pale Ale, que é o estilo com amargor mais destacado entre os estilos citados, lidera
com boa vantagem a preferência do público entrevistado na pesquisa. Ao que parece, nesses poucos
anos de cerveja artesanal no país, o brasileiro já desenvolveu um alto nível de aceitação às cervejas
mais lupuladas. Isso é positivo, pois possibilita a exploração de mais estilos, inclusive de cervejas mais
extremas, como os estilos Imperial IPA ou Imperial Stout.
UNIDADE 4 125
ESTILO
Catharina sour Teor alcoólico Amargor
Fermentação
(ABV) (IBUS)
4,0%
Brasil
~ 2~8 Alta
5,5%
SRM
Aparencia
2
A cor pode variar com base na fruta usada, mas geralmente é
bastante clara. A clareza pode variar de bastante clara à turva,
dependendo da idade e do tipo de fruta utilizada. Sempre
efervescente. A espuma é de média à alta, com boa retenção,
3 variando de branco a tons coloridos, dependendo da fruta.
4
Sabor
5
O sabor de frutas frescas domina de um nível médio a alto, com suporte da
acidez láctica limpa (baixa a média-alta, mas sempre perceptível). A fruta
deve ter um caráter fresco e não parecer cozida, geleia ou artificial. O sabor de
malte está frequentemente ausente, mas pode fornecer um baixo sabor de
6 grãos ou pão. No entanto, o malte nunca deve competir com a fruta ou a
acidez. O amargor de lúpulo é abaixo do limiar sensorial. Final seco com um
final de boca limpa, azeda e frutada. Não deve ter nenhum caráter de lúpulo,
notas acéticas ou diacetil. Sabores funky e de Brettanomyces são
7 inapropriados.
Aroma
O caráter da fruta deve ser imediatamente perceptível e
reconhecível em um nível médio a alto. Uma acidez láctica limpa
deve ser detectável em um nível baixo a médio, em apoio à fruta.
O malte é tipicamente ausente, mas pode estar presente em um
nível baixo, como um caráter de pão, caráter de fermentação
limpa requerido. Sem notas selvagens ou funky na fermentação,
sem caráter de lúpulo e sem álcool nítido.
126 O Mercado de Cervejas no Brasil
Historico
Originário do estado brasileiro de Santa Catarina,
em 2015, como colaboração entre cervejeiros
artesanais e homebrewers para criar uma cerveja
com ingredientes locais e que fosse adequada
para o clima quente. O estilo se espalhou para
outros estados do Brasil e em outros lugares, e é
um estilo popular tanto comercialmente quanto
em competições de cervejeiros caseiros
UNIDADE 4 127
R$ 12 1,2
27 BILHÕES MILHÕES
MILHÕES de investimento de pontos de
de empregos (de 2004 a 2017) venda no país
Das três grandes cervejarias que dominam o pessoa, em 2016, mesmo número estimado para
mercado brasileiro, a AmBev responde por 67% 2018 (ALVARENGA, 2017, on-line)51. Entretan-
do total de vendas, seguida pela Heineken que, to, o número de cervejarias registradas no Minis-
com a aquisição da Brasil Kirin, em 2017, passou tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
a ter uma fatia de 17,4%, e pelo Grupo Petrópolis (MAPA) cresceu 91% no mesmo período, sal-
com, aproximadamente, 14,1% de participação tando de 356 estabelecimentos, em 2014, para
(BOUÇAS, 2017, on-line)32. 900, em 2018 (MARCUSSO; MÜLLER, 2019)
Nos anos de 2015, 2016 e 2017, o consumo e 1000, em 2019 (MELZ, 2019, on-line)33. A Fi-
per capita de cerveja nacional diminuiu, caindo gura 3 demonstra o crescimento do número de
de 67,8 litros/pessoa, em 2014, para 60,7 litros/ cervejarias desde 1985.
UNIDADE 4 129
Gráfico 1: Total de cervejarias por ano
1.000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Figura 3 - Total de cervejarias registradas no MAPA por ano no Brasil
Fonte: Müller e Marcusso (2018, on-line)33.
Esse crescimento foi impulsionado principalmente pela abertura de empresas de pequeno porte,
microcervejarias e brewpubs (bares que produzem sua própria cerveja) (MARCUSSO; MÜLLER,
2017). Além disso, apesar das vendas totais de cerveja terem caído 1,7%, em 2017, em relação a 2016,
o faturamento total cresceu 1,6%, devido ao aumento do consumo de cervejas premium e artesanais,
confirmando a tendência de beber menos, mas melhor (ALVARENGA, 2018)30. Não é a toa que a
AmBev investiu na aquisição das microcervejarias Colorado e Wäls e está utilizando estratégias das
cervejarias artesanais para se inserir nesse mercado (ROSA, 2018, on-line)53.
Dos 889 estabelecimentos registrados, 80% estão localizados nas regiões Sul (384) e Sudeste (361),
sendo que o Rio Grande do Sul (186) e São Paulo (165) lideram em quantidade de cervejarias. Na
Figura 4, percebe-se claramente essa concentração.
Cervejarias por UF no Brasil
200 100%
180 90%
160 80%
140 70%
120 60%
100 50%
80 40%
60 30%
40 20%
20 10%
0 0%
RS SP MG SC PR RJ GO ES PE MT BA CE RN MA PA MS DF AM PB TO AL AP SE RR PI RO
UNIDADE 1 131
Os números apresentados pelo estudo do MAPA cervejarias ciganas, não há um CNAE específico
contribuem com informações importantes sobre para esse negócio, nem um número preciso de
a situação atual do mercado cervejeiro nacional. quantos desses estabelecimentos estão em fun-
Entretanto, os números acima não contemplam cionamento atualmente.
as cervejarias ciganas, uma vez que apenas fábri- Também surgem, cada vez mais, bares e res-
cas tem registro de estabelecimento produtor e, taurantes especializados em cerveja artesanal,
portanto, são as responsáveis pelo registro dos oferecendo diversas opções de produtos tanto
produtos produzidos. Além disso, não existe um em chope quanto em garrafas ou latas. Além da
CNAE específico para a atividade de cervejaria venda direta de chope para consumo no local,
cigana, o que dificulta a identificação e a obtenção esses estabelecimentos podem ter um faturamen-
de uma estimativa adequada de quantas empresas to adicional com a venda de cervejas por meio
desse modelo existem no Brasil. de garrafões de vidro (os chamados growlers) ou
Outro modelo de negócio que tem crescido em garrafas PET. Existem, inclusive, equipamen-
bastante no Brasil é o de Brewpub, tais como tos específicos para o enchimento de growlers
Cervejaria Nacional, Goose Island e 3 Brasseurs, e garrafas PET por contrapressão, reduzindo o
todos em São Paulo. Nesse formato, a cerveja é desperdício de bebida, o tempo de enchimento, e
produzida para venda exclusiva dentro do es- aumentando a segurança da operação e a vida útil
tabelecimento direta ao consumidor final, e há do produto. São exemplos desses equipamentos
uma forte sinergia com a alimentação e o entre- os growler stations e as torneiras enchedoras de
tenimento. Entretanto, assim como no caso das PET da marca PEGAS.
UNIDADE 4 133
Ambas seguem um modelo semelhante ao do distribuição no Brasil. A chegada do primeiro
Bavarian Park, no sentido de ter a produção de container, carregado com diversas variedades de
cerveja para consumo no próprio estabelecimen- lúpulos, foi uma vitória para as microcervejarias,
to, acompanhada pela gastronomia de uma cozi- uma vez que o único fornecedor que possuíam
nha própria. Esse modelo, que hoje comumente anteriormente vendia apenas a variedade de lú-
chamamos de brewpub, foi o modo como se ini- pulo Cluster.
ciaram, também, muitas das cervejarias inaugura- Com o fermento, a situação não era melhor.
das na sequência, tais como a Cervejaria Quinta Para poder produzir, as microcervejarias precisa-
Estação, em Caxias do Sul (RS) e a Factory Beer, vam contar com a boa vontade de outras cerve-
em São Leopoldo (RS), abertas em 1998 (QUINTA jarias que cediam parte das leveduras utilizadas
ESTAÇÃO, [2018], on-line37; FACTORY BEER, para que fossem reutilizadas. Era comum a situa-
[2018], on-line)38. Em 1999, surgem a Cervejaria ção de que, após iniciar o fabrico, o mestre-cer-
Backer / Três Lobos, em Belo Horizonte (MG) e vejeiro saia de carro para buscar a levedura em
a Bier Site, em Carazinho (RS) (CERVEJARIA outra cervejaria, a mais de cem quilômetros de
BACKER, [2018], on-line39; (CERVEJARIA distância, correndo contra o tempo para chegar
BIERSITE, [2018], on-line)40. Algumas delas tam- o mais rápido possível com a levedura armaze-
bém funcionavam como casas noturnas. nada em recipientes fora da temperatura ideal
de conservação.
Entretanto, em 1998, participando de um con-
gresso organizado pela Hop Growers of America,
associação dos plantadores de lúpulo dos EUA,
Tenha sua dose extra de
conhecimento assistindo ao Werner Emmel foi contatado pela DCL Yeast, que
vídeo. Para acessar, use seu gostaria de saber se ele teria interesse em testar
leitor de QR Code. uma novidade: o fermento desidratado. A prin-
cípio, Werner não acreditou que tal coisa pode-
ria funcionar, e descartou a possibilidade. Porém,
Nessa época, entretanto, não existiam as facilida- após uma segunda tentativa no mesmo dia e de
des que se têm hoje para a aquisição de equipa- muita insistência do pessoal da DCL Yeast, ele
mentos, insumos e conhecimentos sobre o pro- resolveu dar uma chance ao produto.
cesso cervejeiro. Nessa época, Werner Emmel, O primeiro teste, realizado com uma cepa da
mestre-cervejeiro formado em Weihnstephan, na levedura de baixa fermentação S-23, obteve re-
Alemanha, e que havia trabalhado por 25 anos sultados excelentes e, assim, a WE Consultoria
na Brahma, começa a prestar consultoria para o tornou-se representante exclusiva da marca Fer-
startup das microcervejarias que estavam inician- mentis para o Brasil. A chegada das leveduras lio-
do no mercado, com a empresa WE Consultoria. filizadas foi um divisor de águas no mercado, uma
Durante seu contato com os clientes, percebeu a vez que, com elas, nenhuma cervejaria dependia
dificuldade que havia para a aquisição de insu- de outra para poder produzir. Isso permitiu que
mos, principalmente o fermento e o lúpulo. Por mais e mais cervejarias surgissem, produzindo
isso, entrou em contato com a empresa Hopunion, cervejas de excelente qualidade.
fornecedora de lúpulos americanos e europeus Em 1999, surgem outras duas microcerveja-
e firmou um contrato de exclusividade para a rias que, hoje, são bastante conhecidas: a Cerve-
UNIDADE 4 135
as tradicionais, a aceitação foi crescendo, assim várias medalhas para seus mais de 30 rótulos. No
como o negócio. Hoje, a Green Cow tem quatro início de 2013, os irmãos Rodrigo e Marcelo Fer-
medalhas conquistadas em concursos nacionais e raro, junto com os sócios Fausto Blanco e Ulisses
internacionais, a cervejaria possui diversos outros Bragaglia, vão para o Bairro Anchieta com a Cer-
rótulos premiados e, em 2017, precisou mudar-se vejaria Irmãos Ferraro. No final do mesmo ano,
para um espaço maior, ainda no Bairro Anchieta Humberto Frölich também abre no bairro a Cer-
(RODRIGUES, 2017, on-line)45. vejaria Babel. Nos anos seguintes foram abertas e
Em 2010, os sócios Filipo Andreolla e Giulia- fechadas outras cervejarias, e hoje estima-se que
no Vacaro dão início às atividades da Cervejaria existam em torno de 15 instaladas ou em insta-
Baldhead, na Zona Sul de Porto Alegre (RS), após lação na vizinhança.
reformar a cozinha de uma casa do pai de Giu- Em Santa Catarina, uma das pioneiras foi a
liano. Dois anos depois, mudam-se para o Bairro microcervejaria Eisenbahn, inaugurada em 2002
Anchieta, a duas quadras de distância da Seasons. após cuidadosa pesquisa realizada nos Estados
A mudança foi motivada, principalmente, pela ne- Unidos e Europa pelos irmãos e sócios Juliano e
cessidade de cooperação entre as microcervejarias Bruno Mendes. Ambos visitaram mais de 100 cer-
para a aquisição de matérias-primas em grandes vejarias e, para produzir cervejas de alta qualidade,
quantidades e para a melhoria da logística (FRA- contrataram o mestre-cervejeiro alemão Gerhardt
GA, 2015, on-line)44. Em 2012, Maurício Chaulet Beutling, com mais de 30 anos de experiência.
também se estabelece no Bairro Anchieta com a Desde o início, a cervejaria prezou por respeitar
Cervejaria Lagom. a Lei de Pureza Alemã, excluindo o uso de con-
No início de 2013, Christian Bonotto, Fernan- servantes, milho e arroz. Em seis anos, a produção
do Jaeger, André Bettiol e os irmãos Alex Ribeiro saltou de 15.000 litros/mês para 350 mil litros/mês
e Márcio Santos eram sócios de uma importadora e, em 2008, a cervejaria foi comprada pelo Grupo
de cervejas, que ainda hoje traz cerca de 150 rótu- Schincariol (hoje Brasil Kirin/Heineken) (DIAS,
los de países como Alemanha, Bélgica e Noruega. 2010, on-line)47.
Entretanto, sentiam a necessidade de não apenas Hoje, o estado conta com diversas microcer-
trazer cervejas importadas, mas também fomentar vejarias, muitas delas premiadas e reconhecidas
o mercado nacional. Em julho de 2013, produzem nacionalmente e internacionalmente. Entre as que
as primeiras levas na Cervejaria Saint Bier, em se destacam estão a Bierbaum, de Treze Tílias; a
Forquilhinha (SC), enquanto calculam o inves- Opa Bier, de Joinville; a Schornstein, de Pomerode;
timento necessário para ter uma fábrica própria. a Saint Bier, de Forquilhinha; a Bierland, de Blu-
Como a aceitação da cerveja foi boa, os sócios menau; a Cervejaria Blumenau, de Blumenau; a
aceleraram o início das operações para conseguir Lohn Bier, de Lauro Miller; e Phare, de Garopaba.
iniciar a produção para o verão e, em janeiro de No Paraná, o grande destaque é a Cervejaria
2014, a cervejaria iniciou as atividades no Bairro Bodebrown, fundada em 2009 pelo pernambuca-
Anchieta, quase ao lado da Cervejaria Seasons no Samuel Cavalcanti e pela paranaense Andrea
(GAÚCHAZH, 2014,on-line)46. Cordeiro Pinto. Sempre inovadora, a marca já
Desde então, a Tupiniquim foi eleita por três recebeu diversas premiações em concursos na-
anos consecutivos (2015 a 2017) a melhor cerve- cionais e internacionais, sendo, inclusive, eleita
jaria do Brasil no Festival Brasileiro da Cerveja, a melhor cervejaria do Brasil por dois anos con-
realizado em Blumenau (SC), além de receber secutivos (2013 e 2014) no Festival da Cerveja
UNIDADE 4 137
Tendências
de Mercado
UNIDADE 4 139
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
140
3. A Catharina Sour é o primeiro estilo brasileiro a integrar o BJCP, guia que é re-
ferência mundial para a formação de avaliadores de cervejas e utilizado como
referência em concursos cervejeiros de diversos países.
Esse estilo é caracterizado por:
I) Baixo amargor, corpo leve, álcool moderado e carbonatação moderadamente
alta.
II) Utilização exclusiva de frutas tropicais em sua receita.
III) Alta acidez, equilibrada pelo uso de maltes caramelados, que contribuem
com o dulçor da fruta.
IV) A técnica mais comum de produção é a acidificação na panela, usando alguma
cepa de Lactobacillus, seguida por um fermento neutro.
141
LIVRO
142
CAMARGOS, M. A.; BARBOSA, F. V. Da fusão Antártica/Brahma à fusão com a Interbrew: uma análise da
trajetória econômico-financeiro estratégica da Ambev. Revista de Gestão, São Paulo, v. 12, n. 3, Jul–Set, p.
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53
146
1. E.
2. B.
3. C.
147
148
149
150
Me. Filipe Bortolini
Oportunidades
no Mercado Atual
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Falar sobre a implementação de uma cervejaria como • Avaliar as oportunidades existentes na organização de
oportunidade de negócio. eventos cervejeiros e na utilização de Beer trucks para
• Definir o conceito de cervejaria cigana e as possibilidades venda de cervejas.
no mercado. • Apresentar alternativas de negócio relativas à prestação
• Analisar a oportunidade de unir a gastronomia e a produ- de serviços para o mercado cervejeiro.
ção de cerveja e as vantagens fiscais e financeiras desse
formato.
Microcervejaria
UNIDADE 5 153
Para cervejas claras, geralmente é estimado um ciclo de 15 dias,
sendo meio dia para limpeza e enchimento, sete dias de fermenta-
ção, sete dias de maturação e mais meio dia para esvaziamento e
limpeza. Dessa forma, seriam possíveis dois ciclos de tanque por
mês. Se forem produzidos estilos especiais, que precisam de mais
tempo de ocupação, recomenda-se considerar ciclos de 21 dias
para fermentação, o que resulta em 1,42 ciclos dos tanques por mês.
Assim, para vender 10.000 litros por mês, a cervejaria precisará
produzir 12.500 litros (12.500 * 20% = 2.500, e 12.500 – 2.500 =
10.000), o que significa ter uma capacidade de, aproximadamente,
8.800 litros úteis de espaço nos fermentadores (12.500 / 1,42 =
8802). Sabendo a quantidade a ser produzida mensalmente e o
espaço necessário na adega de fermentação, pode-se determinar
o tamanho dos equipamentos de brasagem e dos fermentadores.
Esse tamanho irá influenciar na necessidade de calor e frio e nos
tempos de processo.
Por fim, é necessário avaliar se, com o valor com o qual a cerveja
pode ser vendida, na quantidade que se espera vender, o empreen-
dimento poderá dar resultado.
Tendo as quatro perguntas respondidas, já temos uma boa base
para começar a planejar os demais aspectos relativos à operação,
tais como canais de venda, políticas de venda, equipe necessária
UNIDADE 5 155
Cervejaria
Cigana
UNIDADE 5 157
tabilizar o negócio. Em geral, esse é um modelo
de operação em que o retorno para as fábricas é
mais rápido e fácil do que a produção dos rótulos
Tenha sua dose extra de próprios. Isso se dá, pois as fábricas costumam
conhecimento assistindo ao receber dos ciganos o valor total dos produtos
vídeo. Para acessar, use seu
ou serviços no momento da retirada da produção
leitor de QR Code.
na fábrica (muitas vezes recebem parte antes da
produção, para aquisição de insumos, e o restante
na retirada dos produtos). Assim, a fábrica não
Como a maioria dos proprietários de cervejarias precisa se preocupar com venda, transporte e co-
ciganas (e mesmo de muitas fábricas) começam o brança de clientes, obtém retorno rápido e seguro,
negócio como uma atividade secundária e movi- e diminui sua necessidade de capital de giro.
dos pela paixão pela cerveja e a vontade de sair da Outro ponto a ser considerado é que, tendo
área onde estão atuando, é comum que ocorram um volume maior de produção, pode-se também
percalços no início das operações devido ao des- negociar melhores preços e prazos de pagamento
conhecimento de questões técnicas e, principal- com os fornecedores. Com isso, a fábrica pode
mente, de negócio. Assim, iniciar como cervejaria conseguir reduzir o custo de produção dos seus
cigana pode ser uma boa escola para quem quer rótulos próprios e também reduzir sua necessida-
montar uma fábrica própria e uma alternativa de de capital de giro. E, como a produção adicional
menos arriscada para quem precisa entender o ocupa horas ociosas da fábrica, ela não vai reque-
mercado e avaliar o resultado do negócio antes de rer aumento de custos fixos (como a contratação
largar a área de atuação profissional atual. de pessoal adicional ou horas-extras), permitindo
Estando livres de preocupações relativas à que esses custos sejam diluídos numa quantidade
operação e gestão da produção, as cervejarias ci- maior de litros produzidos e, consequentemente,
ganas podem investir seus esforços nas áreas de possibilitando também uma redução nos preços
marketing, publicidade, vendas e distribuição de e/ou aumento das margens de lucro.
seus rótulos. Em geral, antes de entrar no mercado, Além disso, a parceria com a marca terceiri-
é comum pensar que o desafio está na produção, zada pode render maior exposição para a con-
porém, rapidamente, percebe-se que a área comer- tratada, uma vez que a contratante estará abrindo
cial é a que mais demanda tempo e esforço de uma novos mercados e, provavelmente, levando a con-
cervejaria. Lembre-se: é possível automatizar toda tratada junto com seus rótulos. Isso pode ser um
a produção de modo que uma fábrica inteira pos- facilitador para a negociação da fábrica com es-
sa ser operada por apenas uma pessoa. Entretanto, tabelecimentos que revendem bebidas, pois pode
é impossível automatizar uma equipe de vendas e oferecer uma carta maior de rótulos, permitindo
o relacionamento pessoal com os clientes. que o cliente tenha variedade sem precisar tratar
Para as microcervejarias contratadas, trata-se com diversos fornecedores.
de um negócio interessante, pois pode-se apro- Ainda no aspecto de exposição, não se pode
veitar espaços de ociosidade entre as produções esquecer das participações em concursos e das
próprias para produzir outros produtos e ren- premiações que podem ser obtidas por cervejarias
UNIDADE 5 159
da venda. Assim, é preciso avaliar o quanto a dis- do tanto por cervejeiros interessados em terceiri-
tância da fábrica e o tipo de produto produzido zar quanto pelas fábricas que têm capacidade para
impactarão nos custos de transporte. Se os produ- trabalhar nesse modelo. Por isso mesmo, é uma
tos forem pasteurizados, o transporte é facilitado, forma de negócio que ainda tem muito potencial
porém, se precisarem permanecer em cadeia fria, e oportunidades a serem exploradas.
há impactos nas tarifas. O investimento inicial para esse tipo de negó-
Apesar de todos os pontos positivos e do cons- cio varia de acordo com o volume mensal que se
tante crescimento desse modelo de negócio nos pretende produzir e com os equipamentos que o
últimos anos, ainda há receio e muitas dúvidas, cigano optar por adquirir. Para um volume mensal
tanto das fábricas quanto das cervejarias ciganas de 2.000 litros, o investimento pode variar entre
em relação a como trabalhar nesse formato. Em R$ 80 mil e R$ 180 mil, dependendo da opção por
geral, o principal receio das fábricas é com a res- aquisição de barris inox ou barris descartáveis,
ponsabilidade técnica, uma vez que deverá res- da aquisição ou não de um carro de entregas e
ponder por quaisquer problemas que aconteçam do investimento em marketing para divulgação.
com o produto. Já os cervejeiros ciganos costumam
ficar preocupados com a propriedade das receitas
e das marcas. É claro que é necessária uma rela-
ção de confiança mútua para que se possa iniciar Cervejaria Cigana Suricato Ales
qualquer negociação; mas é imprescindível para Nascida em 2015 como cervejaria cigana, pelas
evitar quaisquer problemas imprevistos ou dis- mãos dos cervejeiros caseiros Estêvão Chitto e
cussões futuras sobre “certo” ou “errado”, que se faça Lucas Meneghetti, foi premiada em concursos
um contrato bem redigido e que trate de todas as caseiros. Então, Lucas fundou o Roister, uma mis-
situações possíveis e de como proceder caso elas tura de bar, restaurante e cervejaria na capital
aconteçam, antes que elas realmente aconteçam. gaúcha. Estêvão se juntou com Marcos Kalsing
Por exemplo, o que acontece se houver proble- para criar a Suricato.
ma na produção e o produto não sair de acordo Hoje, com mais dois sócios, Pedro Rockenbach e
com o esperado? Ou caso o cervejeiro cigano não Felipe Amaral (responsável pela identidade visual
produza na data marcada ou não consiga pagar o da marca), a Suricato produz cerca 8 mil litros
serviço no momento da retirada? Se a forma como mensais, com grande parte produzida pela Cer-
proceder nesses casos estiver combinada desde o vejaria Dádiva, que fica em Várzea Paulista, cerca
início, o encaminhamento das soluções torna-se de 40 quilômetros de São Paulo capital.
mais rápido e menos traumático para todas as O futuro promete bons frutos, com planos de
partes. Caso não esteja, as discussões podem ser fábrica própria, mas sem deixar a produção ter-
não amigáveis e se estender por um longo tempo ceirizada de lado. Nem a singularidade das cer-
ou, inclusive, virar caso de justiça, que é algo que vejas Suricáticas.”
já aconteceu no Brasil. Adaptado da matéria da Gazeta do Povo, escrita
A produção de cerveja no formato de terceiri- por Luís Celso Jr., 2019.
zação é um modelo ainda novo e pouco conheci-
UNIDADE 5 161
áreas de zoneamento comercial e zoneamento de ser tratada. Desse modo, é possível que, com
misto, ou seja, dos lugares onde está, de fato, o uma boa argumentação com o poder municipal,
público consumidor. seja obtida a permissão para a instalação em locais
Alguns municípios, entretanto, possuem le- cujo zoneamento, originalmente, não permitiria
gislações específicas para tratar essas questões. A tal situação.
cidade de Porto Alegre (RS) aprovou o Decreto E não é raro que empreendedores cometam
19.525, de 4 de setembro de 2016 (PORTO ALE- o erro de não buscar a certidão de zoneamento
GRE, 19.525/16), o qual dispõe sobre a caracteri- antes de investir no negócio. Em 2017, em uma
zação, o processo de aprovação e o licenciamento cidade próxima a São Paulo, houve o caso de um
de brewpubs, inclusive atribuindo um código da investidor que, vendo o grande consumo de cer-
atividade de brewpub no Plano Diretor. vejas artesanais na área central, decidiu por mon-
A “lei do brewpub”, de Porto Alegre, apesar de tar um brewpub em um prédio próximo à praça
permitir a instalação em locais de zoneamento central, junto aos demais bares da região. Após
misto, estabelece limitações para a atividade. Es- alugar o prédio e comprar os equipamentos, ele
tando enquadrado nela, o estabelecimento não foi até a prefeitura municipal para encaminhar
pode produzir mais que 10 mil litros mensais, a documentação para a abertura do negócio. O
bem como não pode realizar engarrafamento pedido, entretanto, foi negado pelo fato da área
industrial (growlers e crowlers são permitidos). ser de zoneamento misto e não permitir o esta-
Por se tratar de legislação federal, continua sen- belecimento de empreendimentos industriais. O
do necessária a obtenção de registro produtor empresário foi obrigado, então, a retirar-se do
junto ao MAPA, porém, atendidas as condições local e ir para um local afastado do centro, onde
descritas na lei, fica-se isento de obtenção de li- era permitida a instalação de fábricas. Com isso,
cenciamento ambiental. o plano de negócio foi inviabilizado, e a fábrica
Já no caso do Rio de Janeiro, o Decreto Munici- passou por grandes dificuldades, sendo colocada
pal nº 40.935, de 19 de novembro de 2015, aborda à venda no final de 2018.
o assunto de forma mais genérica, tratando das O brewpub, por vender a cerveja no próprio
microcervejarias e permitindo a comercialização local de produção, apresenta uma série de vanta-
de comidas e bebidas nas fábricas que possuírem gens em relação às microcervejarias. A primeira
licença para atividade de bar (LOPES, 2016, on- delas é a eliminação da logística, uma vez que a
-line)5. Assim, é recomendado, caso se tenha inte- cerveja não sai do local. A segunda é a redução do
resse em iniciar um negócio desse tipo, procurar custo de investimento em equipamentos, especial-
a prefeitura com antecedência para consultar o mente em barris, uma vez que, como no caso do
setor responsável sobre a possibilidade de insta- brewpub Les 3 Brassueurs, de São Paulo, a cerveja
lação do brewpub na zona desejada. pode ser servida diretamente dos tanques de fer-
Muitas vezes, justamente por ainda serem pou- mentação/maturação. A terceira, caso sirva a cer-
cos os lugares com microcervejarias instaladas, os veja diretamente dos tanques, é a eliminação do
encarregados da aprovação não têm experiência espaço necessário para estoque refrigerado para
prévia na aprovação desse tipo de estabelecimento armazenamento em barris, que impacta tanto no
e desconhecem o fato de que o impacto ambiental consumo energético quanto no valor de aluguel
e a quantidade de resíduos gerados é baixa e fácil ou no custo de construção.
Figura 4 - Bar com vista para equipamentos de fabricação no brewpub Cervejaria Nacional em São Paulo (SP)
Fonte: Pritsch ([2018], on-line)7.
UNIDADE 5 163
Uma quarta vantagem, e talvez a mais significativa nesse modelo
de negócio, é a venda direta para o público, de forma varejista. Essa
situação, além de permitir o contato direto com os frequentado-
res, configura uma venda para consumidor final, o que dispensa o
brewpub do pagamento da parte do ICMS referente à Substituição
Tributária (ST). Por exemplo, uma microcervejaria que vende sua
cerveja para um estabelecimento revendedor, além de ter que ven-
der com uma margem menor, ainda precisa recolher o imposto
equivalente à venda que será realizada para o consumidor final, ou
seja, ela substitui todos os elos da cadeia. Assim, no caso de uma
cervejaria que não esteja enquadrada no SIMPLES e que venderia
um litro de uma cerveja por R$ 10,00, o valor final se tornará R$
13,98 com a inclusão da ST.
É claro que, para suportar a venda nesse valor e com essa margem, é necessário o desenvolvimento
de outras atividades mais complexas que a operação rotineira da microcervejaria. Também há um maior
custo com aquisição de equipamentos para a montagem de uma cozinha, a contratação de pessoal espe-
cializado para as funções e a decoração e a manutenção do ambiente onde o público será atendido. Tudo
isso resulta num custo fixo alto e numa complexidade de gestão bastante desafiadores.
Entretanto, assim como em qualquer negócio, com planejamento e preparo adequados, aumenta-se
bastante a probabilidade de sucesso. Pelo exemplo dos EUA, vê-se que se trata de um modelo de ne-
gócio atraente e lucrativo. Os brewpubs, inclusive, podem ser a resposta para o questionamento que se
faz quanto à existência de espaço no mercado nacional para tantas cervejarias. É fato que, se todas as
microcervejarias instaladas optarem por competir por espaço em gôndolas de supermercado e lojas es-
pecializadas, não haverá espaço para todos. Engarrafar e mandar a cerveja para pontos distantes também
pode ficar difícil, uma vez que, com os custos de frete, a microcervejaria perde competitividade, ainda
mais se a comparação for com as marcas artesanais compradas por grandes cervejarias, que possuem
canais de distribuição exclusivos. Porém, se os brewpubs conseguirem estabelecer-se de forma adequada
e com foco nas suas cidades e regiões, provavelmente haverá ainda bastante espaço para todos.
O investimento para esse tipo de empreendimento varia de acordo com os serviços prestados, a
capacidade de atendimento, o nível de sofisticação da decoração e dos pratos e cervejas. Assim, po-
de-se partir de um modelo mais simples que terceirize a produção e sirva apenas petiscos, com um
investimento ao redor de R$ 100 mil, até um modelo completo, com cozinha e produção própria que
pode chegar R$ 1,5 milhão.
Eventos e
Beer Trucks
Para participar do evento, é claro, é necessário ção. Desse modo, é preciso analisar com cuidado
deslocar-se até o local, levando os barris a serem o quanto vale a pena a participação em grandes
servidos e a equipe que atenderá ao público. Isso eventos, pois eles exigem grande esforço e nem
resulta em custos de deslocamento, horas extras sempre deixam lucro ao final.
e alimentação para os atendentes e, nos casos em Há quem justifique o prejuízo na participação
que o evento é em um local distante, custos de como “investimento para divulgação da marca”,
hospedagem. Por fim, além das taxas referentes porém, sem apresentar indicadores consistentes
ao espaço, também é comum que seja cobrado do quanto essa divulgação foi efetiva. Por exem-
um percentual sobre as vendas realizadas durante plo, digamos que uma microcervejaria resolva
o evento que, em geral, varia de 10% a 20% do participar de um evento onde estarão 30 cerveja-
faturamento bruto. rias presentes, sendo que a taxa de participação, já
Como as vendas costumam ser feitas por meio incluso o estande básico, seja de R$ 1.500,00 para
de fichas de valor ou de terminais digitais, esse va- um dia de evento em uma cidade vizinha. Vamos
lor já é retido pelos organizadores do evento antes supor que o custo de melhoria nos estandes, des-
do repasse dos valores às cervejarias. Esse repasse locamento até o local, hospedagem, alimentação
não é feito imediatamente ao final do evento, mas e horas extras da equipe seja de mais R$ 1.500,00,
sim em prazo definido no contrato de participa- gerando um total de R$ 3.000,00 de custos.
UNIDADE 5 167
Vamos supor que, vendendo para o consumidor consumindo igualmente de todas as cervejarias, e
final no evento, a cervejaria tenha uma margem mé- isso apenas para empatar as contas, ou seja, para
dia de R$ 15,00 por litro, já descontado o percentual quem participa do evento, é preciso avaliar muito
do faturamento a ser pago para os organizadores. bem o formato e o potencial de vendas antes de
Apenas para compensar os custos de participação optar pela participação.
no evento, será necessário vender 200 litros de cer- Para quem organiza também há custos e ris-
veja, – arredondando, 7 barris de 30 litros –, que já cos, uma vez que está sob a responsabilidade da
é uma quantidade bastante significativa. organização o aluguel do espaço, a segurança, a
Entretanto, é preciso lembrar que há outras divulgação, a limpeza, a gestão da realização do
29 cervejarias no evento, que, para empatar as evento e a captação do público participante. O de-
contas, também precisam vender 200 litros. Isto safio de definição de formato está justamente em
é, para que todos consigam compensar os custos como equilibrar todos esses fatores de modo a que
de participação, é necessário que o evento venda, todos saiam lucrando. Um dos eventos que mais
pelo menos, 6.000 litros de cerveja, com todos os tem obtido sucesso nesse sentido é o evento Ceva
participantes vendendo, no mínimo, 200 litros no Total, realizado no Shopping Total, em Porto
cada um. Supondo que cada participante con- Alegre (RS) e organizado pela Matinê Cervejeira.
suma, em média, 1,5 litro de cerveja durante o No evento, circulam cerca de 10 mil pessoas, em
evento, serão necessárias 4.000 pessoas no evento, espaço amplo e de fácil acesso.
Figura 6 – 9ª Edição do evento Ceva no Total, em 2018, no Shopping Total, em Porto Alegre (RS)
Fonte: o autor.
UNIDADE 5 169
Figura 7 - Beer truck adaptado em carreta de transporte de cavalos, da cervejaria Dead Dog, de Niterói (RJ)
Fonte: Somos todos cervejeiros (2016, on-line)9.
Figura 8 - Bicicleta adaptada para servir chope, da BarNaBike, do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Somos todos cervejeiros (2016, on-line)9.
Figura 10 - Kombi adaptada para beer truck com enchimento de growlers, da Growler Brasil, de Curitiba (PR)
Fonte: Somos todos cervejeiros (2016, on-line)9.
UNIDADE 5 171
O growler é um recipiente de vidro, cerâmica ou alumínio, que pode possuir tampa de rosca ou de
pressão, com presilha. Ele pode ser enchido em cervejarias ou bares, de modo que o consumidor
possa levar para consumir em casa, no churrasco com os amigos etc. Os modelos, em geral variam
de um a cinco litros, e podem ter diversos formatos. O nome growler foi atribuído em referência
ao barulho que o gás carbônico da cerveja faz quando a tampa do growler é aberta. Como alguém
achou que esse barulho lembrava o rosnar de um cachorro, e o verbo rosnar, em inglês, é “to growl”,
eis que surgiu o nome growler.
Fonte: Komar (2017, on-line)10.
Para iniciar o negócio, porém, é preciso consul- entre outras exigências. Além disso, podem ficar
tar a legislação municipal para ver se há alguma em apenas 14 pontos definidos, das 6h à meia-noi-
regulamentação para a atividade de beer truck. te, não podem comercializar produtos típicos de
Se não houver, é preciso verificar qual seria a lei pequenos ambulantes (cachorro-quente, pipoca
pertinente ao licenciamento de comércio ambu- ou churros), nem salgadinhos, doces ou alimentos
lante (NOBRE, 2017, on-line)11. congelados ou pré-prontos; mas, principalmente:
Em Porto Alegre, por exemplo, os beer trucks não podem comercializar bebidas alcoólicas, ou
enquadram-se na lei dos food trucks, que recebem seja, em Porto Alegre, beer trucks só podem operar
Alvará de Funcionamento com validade de um em eventos ou locais privados, estando impedidos
ano. As normas para a atividade gastronômica de realizar o livre comércio na rua.
itinerante, instituídas pela Lei nº 12.006, de 11 de O investimento para montar um beer truck
fevereiro de 2016, estão regulamentadas no De- varia de acordo com o ano e modelo do veículo
creto 19.568, de 29 de novembro de 2016 (SCHI- adquirido e com o tipo e a quantidade de equipa-
FINO, 2016, on-line)12. mentos que se deseja ou se necessita colocar para
Segundo a lei, os food trucks precisam ter placas atendimento de exigências para regulamentação.
de Porto Alegre, respeitar as dimensões definidas Porém, com cerca de R$ 40 mil, é possível mon-
em lei, ter equipamentos necessários à atividade tar uma boa estrutura, o que é um investimento
que garantam autonomia em relação à energia elé- muito menor se comparado à montagem de um
trica, dois reservatórios de água (limpa e utilizada), bar ou brewpub (OLIVA, 2016, on-line)13.
UNIDADE 5 173
Não é incomum que, em pequenas fábricas, solda, têm pouco ou nenhum conhecimento sobre
o dono seja um cervejeiro caseiro que adquiriu tecnologia cervejeira. Desse modo, não sabem,
equipamentos sem conhecimento técnico sóli- por exemplo, qual o nível de permeabilidade ideal
do sobre como esses equipamentos devem ser para um fundo falso de uma tina de clarificação,
construídos e o que é necessário para operá-los. qual a relação ideal de altura e diâmetro das tinas
Desse modo, acabam adquirindo equipamentos e panelas, ou mesmo qual a velocidade de rotação
que, apesar de não inviabilizarem a produção de ideal para o agitador na panela de mostura.
cerveja, acabam tornando o processo mais demo- Muitas vezes, acabam reproduzindo concei-
rado e custoso, tanto em termos de horas traba- tos utilizados na fabricação de cerveja caseira, re-
lhadas quanto no rendimento final da produção. produzindo os conceitos de fabricação amadora
Equipamentos com sistema de limpeza CIP em panelas maiores. Assim, também na área de
(cleaning in place) mal projetados podem exigir formação técnica para fabricantes e na própria
trabalho de um funcionário da cervejaria para fabricação de manutenção de equipamentos há
que seja feita a correta sanitização. Tudo isso gera oportunidades.
custos adicionais e perda de produtividade. Um Uma grande dificuldade enfrentada pelas
equipamento mais caro, que demore mais tempo microcervejarias é, justamente, na venda e dis-
para ser pago, mas que tenha um custo de pro- tribuição de seus produtos. Como geralmente a
dução menor, ao término do pagamento, estará administração, a venda e a produção da cerveja é
quitado. Um equipamento mais barato, que tenha conduzida pelos próprios sócios, há uma grande
um custo de produção maior, quando terminar de dificuldade em conseguir dar a atenção adequa-
ser pago, vai continuar tendo um custo de produ- da a cada parte. Assim, há também uma grande
ção maior. E esse custo acompanhará a cervejaria carência de profissionais que atuem na área de
para sempre, diminuindo sua margem e compro- vendas especializadas, tanto como funcionários
metendo sua lucratividade. das cervejarias quanto como representantes ou
Contudo, equipamentos mal projetados ad- distribuidores. A distribuição de cervejas arte-
quiridos por cervejeiros mal informados também sanais apresenta desafios, e são comuns casos de
são resultado do baixo nível de conhecimento e distribuidoras que fecharam pouco tempo após
formação cervejeira das indústrias que os cons- abrirem, mesmo com o crescimento acelerado do
troem. Para dar sustento à velocidade com que o mercado e a grande quantidade de microcerveja-
mercado cervejeiro cresceu e ao número de cer- rias interessadas em aumentar suas vendas.
vejarias que abriram suas portas nos últimos anos, No caso de uma conhecida distribuidora de
surgiram vários fornecedores de equipamentos Porto Alegre (RS), que fechou as portas em mea-
para cervejarias. dos de 2017, a dificuldade se deu tanto em relação
Grande parte desses fabricantes, porém, são às microcervejarias quanto em relação aos clien-
metalúrgicas que atuavam em outros ramos (tais tes atendidos. Em relação às microcervejarias, o
como leite, vinho, entre outros) e que, com a crise problema foi a falta de planejamento de produção
econômica, viram no mercado cervejeiro uma das fábricas, ocasionando falta de produtos para a
oportunidade para manter seus negócios. Esses distribuidora, que acabava, por sua vez, deixando
fabricantes, entretanto, apesar de entenderem de desatendidos os clientes que havia lutado para
UNIDADE 5 175
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
176
3. Em relação aos beer trucks:
I) Exigem investimento menor que o necessário para montar uma microcer-
vejaria ou brewpub.
II) É preciso verificar se existe legislação específica no município onde se deseja
atuar.
III) São proibidos de vender bebidas alcoólicas em lugares públicos em todos
os municípios brasileiros.
IV) Devem ser, exclusivamentes, montados em veículos da marca Volkswagen
Kombi.
177
LIVRO
178
DEPEC. Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos. Indústria de bebidas. Bradesco, 2017. Disponível
em: <https://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_industria_de_bebidas.pdf>. Acesso
em: 29 nov. 2018.
PORTO ALEGRE. Decreto n° 19.525, de 4 de setembro de 2016. Dispõe sobre a caracterização, o processo
de aprovação e o licenciamento de brewpubs no município de Porto Alegre, incluindo no anexo 5.2 da Lei
Complementar nº 434, de 1º de dezembro de 1999 a atividade 2.1.3.19 brewpub. 2016. Disponível em: <http://
www2.portoalegre.rs.gov.br/netahtml/sirel/atos/Decreto%2019525>. Acesso em: 29 nov. 2018.
179
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DIPOV/anuario-da-cerveja-no-brasil-2018>. Acesso em: 23 jan. 2020.
2Em: <https://gramado.blog.br/o-que-fazer/conheca-cervejaria-edelbrau-em-nova-
petropolis/>. Acesso em: 28 nov. 2018.
7Em: <https://www.rangoetrago.com.br/melhores-bares-cervejeiros-de-sao-paulo-eap-
delirium-brewdog-e-cervejaria-nacional/>. Acesso em: 29 nov. 2018.
8Em: <http://www.allbeers.com.br/2013/08/fotos-do-ipa-day-brasil-2013-3-parte.html>.
Acesso em: 29 nov. 2018.
9Em: <http://g1.globo.com/especial-publicitario/somos-todos-cervejeiros/noticia/2016/09/
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Em: <https://blog.clubedomalte.com.br/curiosidades-cervejeiras/o-que-e-o-growler/>.
10
Em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smic/default.php?p_noticia=190568&DECRE-
12
Em: <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2016/06/jovem-cria-beer-truck-apos-
13
23 jan. 2020.
15
Em: <https://books.google.com.br/books/about/Contabilidade_Gerencial_14ed.
html?id=42M3AgAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_
esc=y#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 03 dez. 2018.
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1. E.
2. D.
3. B.
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182
183
CONCLUSÃO
Olá, aluno(a),
Aqui, encerramos nossos estudos sobre o mercado cervejeiro. No decorrer do conteúdo,
passamos por diversos séculos de história, analisando o desenvolvimento de tecnologias
e mercados, e entendendo como as cervejas artesanais surgiram e o que está acontecendo
nos principais países onde esse movimento microcervejeiro ocorre.
Como você deve ter observado, cada lugar analisado tem histórias e características
próprias, que determinam os estilos produzidos, os insumos utilizados, as técnicas de
fabricação e as preferências dos públicos locais. Não há fórmula mágica para um negócio
acontecer ou ter sucesso nesse ramo. É necessário entender onde se está inserido e como
é possível criar um modelo de negócios que atenda às necessidades do público local.
Nós falamos, também, sobre oportunidades de empreendimento e de tendências
de mercado. Então, lembre-se: abrir uma microcervejaria é apenas uma das inúmeras
oportunidades que existem no mercado nacional, que ainda é muito recente e, com isso,
carente de conhecimento, tecnologias, insumos e de prestadores de serviço qualificados.
A cerveja artesanal encontra-se, hoje, num momento de crescimento típico de um
mercado que está em seus primeiros anos. Muitas microcervejarias estão abrindo suas
portas sem que haja um correto planejamento e uma preparação técnica adequada. Com
isso, vemos muitos produtos com custos elevados e, mesmo assim, de baixa qualidade,
para citar apenas dois dos muitos problemas possíveis.
O mercado precisa, assim, de pessoas qualificadas que possam iniciar seus negócios
de forma organizada e que possam produzir com qualidade, contribuindo para a con-
solidação desse segmento e para a ampliação do mercado. Assim, espero que essa leitura
tenha sido uma ótima experiência para você, e que as informações aqui compartilhadas
possam contribuir para ampliar sua visão de mercado. Espero, também, que você possa
levar os assuntos aqui discutidos ao conhecimento de mais pessoas, ajudando, assim, na
criação de um mercado e de um público consumidor cada vez mais exigente e esclarecido.