Texto 02 Conceitos Petrofisica

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AGG 209 – INTRODUÇÃO À PETROFÍSICA

AULA 1

O QUE É PETROFÍSICA?

O termo “petrofísica” foi introduzido por Archie (1950) para descrever “o estudo das
propriedades físicas das rochas que dizem respeito à distribuição de fluidos em seus
espaços porosos”. Atualmente denomina-se Petrofísica todo o conjunto de disciplinas que
tratam das propriedades físicas das rochas e minerais, tanto da matriz quanto de seus
espaços porosos, e dos fluidos constituintes e intersticiais.

A Petrofísica estuda todos os aspectos teóricos e experimentais referentes à determinação


das propriedades físicas das rochas, bem como as causas de suas variações no tempo e no
espaço. Ela vai além do estudo clássico de caracterização de reservatórios, podendo ser
empregada em problemas que vão da geo-engenharia e da geologia ambiental até a
determinação de estruturas de grande escala na litosfera terrestre.

DOS DADOS GEOFÍSICOS AOS MODELOS GEOLÓGICOS

A interpretação dos dados geofísicos é feita em três etapas (ver esquema abaixo).
Inicia-se o processo com a aquisição de dados, que são corrigidos e calibrados, fornecendo
uma carta ou um perfil geofísico. A seguir, esses dados são interpretados de modo a
fornecer uma distribuição das propriedades físicas do meio. A relação entre as grandezas
obtidas nos métodos geofísicos (campo de gravidade, campo magnético, diferença de
potencial elétrico etc.) e as diferentes propriedades físicas do meio estudado (densidade,
susceptibilidade magnética, condutividade etc.) é dada pelas equações fundamentais de
cada método geofísico. Por fim, a distribuição de propriedades físicas determinada
anteriormente é transformada numa outra distribuição de propriedades, relevantes para um
dado problema geofísico ou geotécnico. Essa última etapa depende de modelos teóricos ou
de relações empíricas estabelecidas a partir dos estudos petrofísicos.

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DADOS OBTIDOS NO CAMPO DISTRIBUIÇÃO DA PROPRIEDADE FÍSICA MODELO:REPRESENTA A GEOLOGIA OU
PARÂMETRO DE INTERESSE

EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS
RELAÇÕES EMPÍRICAS
DE CADA MÉTODO

Para exemplificar tomemos o exemplo de um levantamento elétrico, no qual a resistividade


do meio é obtida a partir de medidas de diferença de potencial elétrico entre dois pontos.
Dependendo do tipo de ensaio de campo pode-se obter um perfil, um mapa ou mesmo uma
representação tri-dimensional da distribuição de resistividades de uma certa área. Essa
propriedade não é de interesse direto para estudos hidrogeológicos, geotécnicos ou para
estudos de contaminação. Mas outras propriedades derivadas da resistividade o são, como a
porosidade, a salinidade ou a concentração de contaminantes dissolvidos na água. O caso
da relação entre resistividade (R) e porosidade (Φ) é clássico, tendo sido definido por
Archie ainda em 1942:
a
R0 = Rw .F = Rw .( )
Φm
Onde R0 e Rw são as resistividades da rocha saturada e da água, respectivamente. A primeira
é medida em campo, a segunda é obtida em medidas de laboratório. F é o “fator de
formação”, que é controlado pela porosidade (Φ), pelo fator a (relacionado à “tortuosidade”
dos espaços porosos) e o expoente m que é chamado de “expoente de cimentação”. Tanto a
quanto m são definidos empiricamente. Note que para obter a propriedade desejada
(porosidade) a partir da propriedade determinada pelo método geofísico (resistividade) é
necessário fornecer informações adicionais, advindas do conhecimento geológico, tais
como o coeficiente de cimentação e a tortuosidade.
Do mesmo modo que utilizamos uma propriedade física (resistividade) para
determinar uma outra propriedade física (porosidade), podemos utilizar a distribuição de
uma propriedade física para formular um modelo geológico. Nesse caso, as informações
geológicas a serem fornecidas são ainda mais importantes para uma boa interpretação. Para
elaborar um modelo geológico realista a partir dos dados geofísicos, deve-se levar em conta
como a propriedade física medida é afetada por diferentes fatores, incluindo o tipo de rocha

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aflorante e o contexto geológico da área estudada, a composição mineral das diferentes
camadas, pressão, temperatura etc.

AMOSTRAGEM PARA ESTUDOS PETROFÍSICOS

A tarefa mais difícil no estudo de propriedades físicas é a escolha de uma amostra


adequada, que seja de fato representativa do contexto geológico ou geofísico de uma área.
Para planejar uma amostragem deve-se considerar: as dimensões da área de interesse (uma
área pequena, uma cidade, um estado, toda a Terra?), a variabilidade espacial da
propriedade física de interesse (meio homogêneo ou heterogêneo), a variabilidade
direcional da propriedade física de interesse (meio isotrópico ou anisotrópico) e as
características geológicas do objeto de estudo.

As principais considerações a serem feitas são:


• Ruído de amostragem. Uma boa amostragem deve representar as variações
espaciais e direcionais da propriedade física de interesse. Uma distribuição
inadequada das amostras pode levar a erros de representatividade, ou ruídos de
amostragem. Por exemplo, meios estratificados amostrados na horizontal,
representando apenas uma camada.

• Ruído geológico. As rochas apresentam uma grande variabilidade nos valores de


suas propriedades físicas. Para algumas propriedades físicas, como a resistividade
ou a susceptibilidade magnética, as variações para um mesmo tipo de rocha podem
ser de várias ordens de grandeza. Essa variação é denominada ‘ruído geológico’.
Portanto, é necessário obter um número significativo de amostras de modo a obter
um valor médio (e um desvio) representativo da propriedade física de interesse.

• Coleta e manipulação da amostra. Durante a coleta e transporte da amostra até o


laboratório, deve-se tomar todas as precauções para evitar contaminações e para que
as condições originais sejam preservadas (orientação tridimensional, pressão,
umidade etc.).

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• Escala de amostragem. O tamanho e a forma das amostras devem ser suficientes
para que elas sejam representativas do meio geológico de interesse e, ao mesmo
tempo, adequados às medidas de laboratório.

Dentro deste item é interessante introduzir os conceitos de heterogeneidade e de


anisotropia. Os corpos geológicos são homogêneos num considerado volume se as suas
propriedades são iguais independentemente do ponto amostrado. Um corpo rochoso
heterogêneo deve ser amostrado de tal forma que as diferentes porções sejam representadas.
As rochas são isotrópicas se as suas propriedades são iguais em todas as direções num certo
volume. Nesse caso, as propriedades físicas podem ser tratadas como escalares.
Propriedades anisotrópicas, que variam de acordo com a orientação da medida, requerem
um tratamento mais sofisticado e devem ser estudadas como tensores. Investigações da
anisotropia mostram a forte correlação desse fenômeno com propriedades estruturais e
texturais das rochas (foliação, lineação, fratura, estratificação etc.).
Um outro aspecto relevante é a diferença de escala entre os estudos petrofísicos e os
levantamentos geofísicos. Em geral, os dados petrofísicos são obtidos em amostras com
dimensões de centímetros ou mesmo milímetros. Os dados geofísicos, por outro lado,
representam objetos de grandes dimensões, da ordem de dezenas de metros a quilômetros.
Levantamentos em poços (logs) correspondem às escalas intermediárias entre os dados de
laboratório da petrofísica e os dados de levantamentos geofísicos de campo. Portanto, ao
efetuar uma amostragem petrofísica deve-se ter em mente a escala do trabalho geofísico.

MINERAIS E ROCHAS VISTOS PELA PETROFÍSICA

Quando vistas pelo prisma da Petrofísica as rochas podem ser classificadas


convenientemente levando-se em conta os principais fatores que afetam as propriedades
físicas das rochas. Esta classificação é diferente daquela classicamente empregada na
Geologia, e que veremos em maior detalhe no Capítulo seguinte. As propriedades físicas
das rochas são fortemente condicionadas pela percentagem e composição dos seus
constituintes (matriz mineral e fluidos), incluindo a porosidade e a saturação em fluidos.

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Outros fatores importantes são: a geometria do corpo rochoso, ou a sua estrutura e textura,
incluindo o tamanho dos grãos constituintes, arranjo dos componentes e forma dos poros; a
interface entre os diferentes constituintes (ex. cimentação e efeitos ‘membrana’) e as
condições termodinâmicas (pressão litostática, esforços tectônicos e temperatura). Com
base nesses elementos, para a petrofísica, uma rocha pode ser:
• Monominerálica ou poliminerálica;
• Apresentar fluidos (quais?) distribuídos em seu espaço poroso (geometria?);
• Consolidada ou inconsolidada;
• Homogênea ou heterogênea;
• Isotrópica ou anisotrópica.

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