SEPE 2018 Trabalho Completo Ana e Thalita

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ANAIS - Seminário de Pesquisa, Pós-Graduação, Ensino e Extensão do CCSEH – IV SEPE

A UNIVERSIDADE PUBLICA NO CONTEXTO DAS CRISES DO


CAPITALISMO – 10 a 12 de setembro de 2018
ISSN 2447-9357

O BAIRRO JUNDIAÍ EM ANÁPOLIS – GO: DESIGUALDADES SÓCIO-


ESPACIAIS

Thalita Aguiar Siqueira1,


Ana Laura Lopes Cabral2,
Marcelo de Mello3,
Milena D’Ayala Valva4
1 (Pós- graduanda do Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado -
TECCER da Universidade Estadual de Goiás - UEG).
2 (Pós- graduanda do Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado -
TECCER da Universidade Estadual de Goiás -UEG).
3 (Professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) - orientador).
4 (Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) - orientadora).

Resumo: o espaço urbano é notadamente marcado por complexidades, tais complexidades se


evidenciam na paisagem dos bairros da cidade. Um único bairro pode ser marcado por grande
diferenciação de paisagens e dinâmicas, como é o caso do Bairro Jundiaí em Anápolis – GO.
O Bairro Jundiaí teve início na década de 1940, e foi um bairro planejado a partir de um ideal
de oferta de qualidade de vida e valorização econômica, mas a descaracterização do projeto
inicial abre caminho para as contradições hoje presentes no bairro. Nesse sentido o objetivo
deste trabalho é propor uma identificação de regiões para o Bairro Jundiaí que privilegie suas
diferenciações, quanto a dinâmicas territoriais e de conteúdo social. Para alcançar tal objetivo
realizamos diversos trabalhos de campo no bairro Jundiaí além de pesquisas em bibliografias
que privilegiem discussões sobre a desigualdade sócio-espacial, bem como a história e
dinâmica do bairro Jundiaí. Como resultado apresentamos uma regionalização do bairro
Jundiaí que considera tanto a dinâmica territorial quanto o conteúdo social do bairro e
também diversas considerações a respeito da dinâmica do bairro.

Palavras-chave: Regionalização. Paisagem. Diferenciações.

Introdução (Problemática e Objetivos)

O espaço urbano é notoriamente marcado pela desigualdade sócio-espacial: há


áreas que são bem servidas de equipamentos e infraestrutura urbana, espaços públicos de
qualidade e outras áreas que são marcadas por carências diversas. Há vários motivos que
explicam essa diferenciação sócio-espacial, como o jogo de interesses do capital que,
contando com o apoio do Estado, alimentam processos como o de segregação. Para Santos e
Silveira (2001) há territórios que são marcados por uma maior fluidez e outros pela fixidez. A

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esse respeito os autores esclarecem que:
O uso do território é marcado, de um lado, por uma maior fluidez, com menos
fricções e rugosidades e, de outro, pela fixidez, dada por objetos maciços e grandes e
também pelos microobjetos da eletrônica e da informática, cujas localizações devem
ser adequadas e precisas, a expansão desse meio-técnico-cientifico-informacional é
seletiva, com o reforço de algumas regiões e o enfraquecimento relativo de outra.
(SANTOS E SILVEIRA, 2001, p.102).

Nesse interim, onde espaços são altamente valorizados e outros são deteriorados,
alguns grupos da sociedade sofrem as consequências dessa dinâmica buscando exatamente as
áreas deterioradas como alternativa de sobrevivência. A esse respeito, Maricato (2015, p. 62)
esclarece que “Nessas áreas ditas ‘deterioradas’, está à única alternativa de os pobres
vivenciarem o ‘direito à cidade’, pois de um modo geral, eles são expulsos dela”.
Formado na década de 1940, a partir da criação da Sociedade Imobiliária de
Anápolis Ltda., o bairro Jundiaí é o locus sobre o qual se construirão as discussões deste
trabalho. Considerando, por um lado, que este bairro foi planejado em 1943 por João Alves
Toledo1, dentro da lógica do que o urbanismo denomina como cidades e bairros-jardins, e, de
outro, que o mesmo projeto foi, em grande parte, descaracterizado – no que diz respeito
especialmente às áreas livres de uso público propostas pelo desenho original, que pouco a
pouco foram indevidamente apropriadas, cedidas, vendidas e loteadas.
O que esta pesquisa anseia por responder é: de que maneira o espaço urbano do
bairro Jundiaí é organizado, considerando-o um objeto em constante transformação? Tal
questionamento gera o principal objetivo do trabalho, que consiste em cartografar as
diferentes dinâmicas sócio-espaciais presentes no bairro Jundiaí e caracterizá-las de acordo
com as suas especificidades.
Buscando alcançar o nosso objetivo e responder o nosso questionamento torna-se
necessário o entendimento de alguns conceitos como os de tempo e espaço, paisagem, espaço
público, rugosidades e, por fim, formas e conteudos.
O presente trabalho está organizado em cinco seções: a primeira introduz a
discussão a respeito das constantes transformações no espaço urbano e como essas
transformações são marcadas por desigualdades sócio-espaciais; a segunda seção discute os
conceitos e categorias utilizados para a compreensão da realidade do Bairro Jundiaí como:
tempo e espaço, paisagem, rugosidades, formas e conteudos; a terceira apresenta a
metodologia utilizada na elaboração do trabalho partindo de trabalhos de campo, revisão
bibliográfica e análise de manchetes de jornais sobre o Bairro Jundiaí bem como a elaboração

1
Engenheiro e urbanista vindo de São Paulo para projetar o bairro.

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de um mapa temático da regionalização do bairro; a quarta seção apresenta os resultados
obtidos e as consequentes discussões geradas a partir destes; por fim, a quinta seção
compreende a conclusão do conjunto das etapas anteriores.

Referencial Teórico
Ao buscarmos compreender a organização territorial, o que implica entender sua
dinâmica social, envolvendo as ações e a produção de objetos e suas transformações
constantes, é importante considerar alguns elementos que são indissociáveis de pesquisas que
envolvam o entendimento das dinâmicas e processos sociais, bem como, territoriais.
Ao considerarmos a realidade do bairro Jundiaí ou qualquer outra realidade
urbana devemos considerar as questões que envolvem o tempo e o espaço na construção da
densidade técnica de um território. Nesse sentido, considera-se aqui o conceito de espaço
segundo Milton Santos, que define:
O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes
objetos; não entre estes especificamente, mas para os quais eles servem de
intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é
resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos,
naturais e artificiais. (SANTOS, 1997, p.71)

Assim, consideraremos o espaço como um conjunto de sistemas de objetos e


sistemas de ações. Ainda conforme Santos (2006, p. 12):
A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos
e sistemas de ações podemos reconhecer suas categorias analíticas internas. Entre
elas estão a paisagem, a configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, o
espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas-conteúdos.

As categorias analíticas descritas por Santos (2006), se fazem muito uteis para a
presente pesquisa no momento em que, ao analisarmos a paisagem do bairro Jundiaí
conseguimos identificar as diferentes dinâmicas presentes em um mesmo território; a
configuração territorial nos permite perceber a existência das diferentes regiões que o bairro
abriga, permitindo identificar a divisão territorial do trabalho existente, o espaço
constantemente produzido e que também é produtivo, e as rugosidades que, no caso do bairro
Jundiaí, se configuram mais como barreiras ao avanço do capital do que como preservação do
passado; e, por fim, ficam nítidas as diferentes formas e conteúdos que abrigam-se no bairro.
Mas, ainda podemos considerar o espaço sob outra perspectiva sem abandonar a
anterior. Isso por que as ciências sociais exigem do pesquisador diferentes olhares, a partir de
diferentes perspectivas, para que as dinâmicas sociais sejam percebidas de uma forma mais
ampla. Pois uma coisa é pensar o bairro Jundiaí a partir do olhar do frequentador do Parque

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Ipiranga; outra coisa é pensar esse mesmo bairro a partir do olhar dos habitantes da rua que
frequentam as regiões da Praça Dom Emanuel ou da Feira coberta; e, ainda outra coisa é o
olhar do morador tradicional deste mesmo Bairro.
Desta forma, para Merleau-Ponty (1989, p.59), “O espaço existe em si, ou, ante, é
o em – si por excelência, sua definição é ser em si. Cada ponto do espaço existe, e é pensado
ai onde existe, um aqui, outro ali; o espaço é a evidencia do onde, orientação, Polaridade,
envolvimento são nele fenômenos derivados, ligados à minha presença”.
Tudo que acontece no espaço e o espaço em si, o ser espaço está relacionado a
presença de alguém, às suas ações, os objetos à sua volta, ao seus pensamentos, sendo o
mesmo espaço um espaço concreto, abstrato e subjetivo. Sendo assim, é preciso deixar que o
espaço e suas relações falem por si só, “Já não se trata de falar do espaço e da luz, e sim de
fazer falarem o espaço e a luz que aí estão” (MERLEAU´-PONTY, 1989,p.62).
O exposto acima nos revela a importância da noção de espaços luminosos e
espaços opacos descritos por Milton Santos.
“Num mesmo pedaço de território, convivem subsistemas técnicos diferentemente
datados, isto é, elementos técnicos de épocas diversas” (SANTOS, 2006, p. 25). Essa é a
noção de Milton Santos, que nos leva a pensar nos elementos que distinguem as diferentes
temporalidades de um dado território e, também, a noção de rugosidades, que nos levam a
entender duas questões importantes: a primeira se refere às barreiras impostas ao avanço do
capital hegemônico por meio de antigos sistemas técnicos que ainda permanecem no
território; e a segunda é a noção de destruição criativa.
Para Harvey (1996), “Se o modernista tem de destruir para criar, a única maneira
de representar verdades eternas é um processo de destruição passível de, no final, destruir ele
mesmo essa verdade.” (HARVEY, 1996, p.26).
“Os espaços assim requalificados atendem sobretudo aos interesses dos atores
hegemónicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às novas
correntes mundiais.” (SANTOS, 2006, p.160).

Metodologia
Os caminhos percorridos para fundamentar a presente pesquisa consistiram na
pesquisa bibliográfica, buscando autores que trabalham a questão das transformações do
espaço e das dinâmicas sociais. E também trabalhos de campo realizados no Bairro Jundiaí
nos dias 26/06/2018, 02/07/2018 e 09/07/2018. No dia 26, o trabalho de campo foi realizado
no período vespertino; no dia 02 o trabalho foi realizado no período noturno; e no dia 09, no

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período matutino, a fim de verificar as diferentes dinâmicas que se apresentam nestes
diferentes períodos.
Também foram feitas visitas no Museu Histórico Alberico Borges de Carvalho
nos dias 03 e 04 de julho, a fim de buscar informações sobre o bairro Jundiaí em revistas e
jornais de décadas passadas.

Resultados e Discussões
Desde o início, o discurso entorno da criação do bairro Jundiaí é o de que seria um
grande investimento, tanto em questões econômicas de valorização do lote e imóvel
construído, quanto de que seria um lugar muito bom para se morar com a família. A Figura 1
ilustra uma propaganda de vendas de lotes no Bairro Jundiaí no Jornal “O Anápolis” em 1945,
cuja manchete ilustra bem o ideal de um futuro promissor para o bairro.

Figura 1: Propaganda de venda de lotes no loteamento do Bairro Jundiaí - 1945

Fonte: Jornal O Anápolis, 1945/ Museu Histórico Alberico Borges de Carvalho.

O bairro passou a crescer a cada dia mais e a atrair investimentos, o que deu início ao
processo de verticalização do bairro, iniciado na década de 70, e intensificado a partir dos
anos 2000. Abaixo se apresentam duas propagandas (Figuras 2 e 3) publicadas no Jornal “O
Anápolis”, uma do ano 2000 e a outra de 2001, pelas quais é possível ter uma dimensão da
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rapidez e da facilidade que o capital teve para penetrar no território do bairro. Sendo possível
visualizar que em apenas um ano quatro empreendimentos verticais já estariam em fase final.

Figura 2: Propaganda de Lançamento de Figura 3: Propaganda dos Empreendimentos em


residencial vertical no bairro Jundiaí - 2000 fase final no Bairro Jundiaí – 2001

Fonte: Jornal O Anápolis, 2000/ Museu Histórico Fonte: Jornal O Anápolis, 2000/ Museu Histórico
Alberico Borges de Carvalho. Alberico Borges de Carvalho.

Desde então, o que foi profetizado para o bairro foi se realizando, mas, de forma
desigual, fazendo com que existam, dentro do mesmo território, áreas altamente valorizadas e
também áreas deterioradas (que passam a ter diferentes usos nos diversos horários, como
abrigar a população em situação de rua, por exemplo); áreas que divergem em termos de
conteúdo social, de dinâmicas, finalidades funcionais, etc.
Nesse sentido, nos apropriamos dos pensamentos de Milton Santos para buscar
cartografar as diferentes dinâmicas presentes no bairro Jundiaí. Onde o autor trabalha a ideia
de “Zonas Luminosas” e “Zonas Opacas” para diferenciar os territórios mais ricos dos mais
pobres. Desta forma, para Santos (1997, p.41):
Na cidade, hoje, a "naturalidade" do objeto técnico — uma mecânica repetitiva, um
sistema de gestos sem surpresa — essa historização da metafísica, crava no
organismo urbano, áreas "luminosas", constituídas ao sabor da modernidade e que se
justapõem, superpõem e contrapõem ao resto da cidade onde vivem os pobres, nas
zonas urbanas "opacas". Estas são os espaços do aproximativo e não (como as zonas
luminosas) espaços da exatidão, são espaços inorgânicos, abertos e não espaços
racionalizados e racionalizadores, são espaços da lentidão e não da vertigem.

O autor contrapõe a rapidez e o fluxo intenso das áreas mais dinâmicas ao tempo
lento das áreas onde vivem os mais pobres. Essa contraposição é perceptível no bairro
Jundiaí: enquanto a “Zona Luminosa” é rápida, dinâmica e brilhosa, a “Zona Opaca” é
silenciosa, calma e até mesmo escura. A respeito dos pobres, Santos (2006, p. 221) esclarece
que:

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Por serem "diferentes", os pobres abrem um debate novo, inédito, às vezes
silencioso, às vezes ruidoso, com as populações e as coisas já presentes. É assim que
eles reavaliam a tecnoesfera e a psicoesfera, encontrando novos usos e finalidades
para objetos e técnicas e também novas articulações práticas e novas normas, na
vida social e afetiva. Diante das redes técnicas e informacionais, pobres e migrantes
são passivos, como todas as demais pessoas. É na esfera comunicacional que eles,
diferentemente das classes ditas superiores, são fortemente ativos.

Buscamos, então, cartografar estas deferentes dinâmicas presentes no Bairro


Jundiaí, partindo do pressuposto de que no bairro existem regiões luminosas e as
classificamos quanto à intensidade: Alta Luminosidade, Média Luminosidade, Pouca
luminosidade e regiões Opacas. Nesse sentido, a Figura 4, é o mapa resultante desta
cartografia do Bairro Jundiaí.

Figura 4: Mapa da regionalização do Bairro Jundiaí - 2018

Fonte: SIQUEIRA, T.A; CABRAL, A.L.L.

Foram identificadas sete zonas no bairro Jundiaí, sendo que algumas delas
possuem um elemento polarizador envolvido na dinâmica da região. Também evidenciamos
os limites oficial e não-oficial do bairro Jundiaí, já que foi identificado que a percepção da

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população em relação aos limites do bairro é diferente do limite oficial. A seguir,
descrevemos as características de cada uma das zonas Identificadas:
1 Região de Alta Luminosidade: A primeira zona de Alta Luminosidade é uma zona
marcada por uma intensa dinâmica em todos os períodos do dia: durante o dia funcionam
diversas lojas e à noite predominam os bares frequentados pela elite anapolina, que conferem
luminosidade à essa região. Esta região é polarizada pelo Sesc, que tem funcionamento diurno
e também noturno. Esta região é também caracterizada por empreendimentos de alto padrão2
e é a área mais verticalizada do bairro.
2 Região de Intensa Luminosidade: A segunda zona de Alta Luminosidade também é muito
dinâmica nos diferentes períodos do dia. Seu elemento polarizador é o Parque Ipiranga, cujo
entorno é (ou vem sendo) marcado por empreendimentos de alto padrão, onde a população
mais empobrecida não tem acesso, pela carência de transportes públicos e também por
questões estéticas e morais que os intimidam e repelem.
3 Região Opaca: A zona Opaca possui um relativo movimento de carros e pessoas durante o
dia por conta de pequenos comércios, sendo polarizada pela Santa Casa de Misericórdia e o
Feirão coberto. À noite ela é marcada pelo silêncio e a falta de brilho. Essa zona é
frequentemente habitada pelas pessoas em situação de rua.
4 Região Pouco Luminosa: A zona Pouco Luminosa foi demarcada em uma área conhecida
como Jundiaí Industrial. Essa área é um misto de residências de baixo a médio padrão,
pequenos comércios e indústrias. Durante o dia essa região tem um constante movimento de
veículos e pessoas trabalhando; à noite é uma região calma e silenciosa.
5 Região de Média Luminosidade: Essa é a primeira zona de Média Luminosidade, que é
marcada por construções de médio padrão. Ela é polarizada pela OSEGO, e sua dinâmica é
intermediária, como uma espécie de área de transição entre as demais zonas.
6 Região de Média Luminosidade: A segunda zona de Média Luminosidade é marcada por
residências de baixo a médio padrão, possuindo um relativo movimento diurno (por conta do
pequeno comércio) e noturno (devido a pequenos bares e restaurantes existentes na região).
7 Região de Média Luminosidade: A terceira região de Média Luminosidade se configura
por uma área que vai além dos limites oficiais do Bairro Jundiaí, também considerada uma
área de transição, que está em processo de verticalização. Também possui alguns bares que
funcionam à noite.

2
Quando caracteriza-se aqui em alto, médio ou baixo padrão, refere-se aos aspectos físicos (construtivos,
qualitativos, quantitativos e tecnológicos) e funcionais (arquitetônicos, de projetos, paisagísticos e
funcionais) das edificações, conforme IBAPE/SP (2011).

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Conclusão
Ao aproximarmos da bibliografia adequada ao estudo das questões urbanas, foi
possível abordar melhor os conceitos utilizados na leitura do objeto de estudo, o bairro
Jundiaí. Além disso, o acesso ao histórico do bairro, documentado principalmente pelos
jornais e revistas da época, deu-nos a compreensão da imagem que desde o início foi
construída, carregada de uma ideia de progresso, qualidade de vida e consequente valorização
imobiliária.
Este processo, no entanto, não ocorreu de forma homogênea na totalidade do
bairro, mas, como constatam os resultados, foram formadas regiões que diferem-se
mutuamente em diversos aspectos: nível econômico da população, padrão construtivo,
dinâmicas espaciais e sociais, paisagens urbanas, entre outros. Tais constatações apenas foram
possibilitadas pelos trabalhos de campo realizados no bairro em dias e horários diferentes, e
que ampliaram significativamente a análise das desigualdades sócio-espaciais aqui descritas.
O conjunto das atividades realizadas, resultaram então, num exercício de
cartografia, cuja finalidade é expressar graficamente a presença de regiões que diferenciam-se
sócio-espacialmente, classificadas aqui segundo sua intensidade luminosa, conforme Santos
(2006).
Algumas das regiões apresentadas possuem um pólo que, na maioria das vezes,
caracteriza as dinâmicas que ali são estabelecidas. Estes, pólos configuram relações que
extrapolam os limites da região e do próprio bairro, sendo frequentados por pessoas
provenientes de outras partes da cidade, como o Parque Ipiranga, a Santa Casa e a Feira
coberta, por exemplo, que abraçam realidades sociais bem diferentes, e que são elementos
determinantes da configuração territorial em seu entorno.
As regiões denominadas como de Alta Luminosidade são caracterizadas por seu
dinamismo tanto durante o dia como à noite. São dotadas de imóveis de alto padrão
construtivo, destinados a uma população mais abastada, além de serviços urbanos de
qualidade, como calçamento, iluminação e limpeza pública em dia, por exemplo. As Zonas de
Média Luminosidade apresentam padrão construtivo mediano, dos quais predominam as
residências e alguns comércios populares, ainda capazes de gerar certo movimento em
diferentes períodos do dia, mas em menor intensidade que as zonas anteriormente descritas.
Já a Zona Pouco Luminosa, que compreende o bairro Jundiaí Industrial, é
marcada por residências de baixo a médio padrão, poucos estabelecimentos comerciais de
caráter popular e tradicional, além de galpões industriais, alguns em pleno funcionamento

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(como do Brejeiro, que gera um elevado fluxo de caminhões) e outros abandonados, como
rugosidades na paisagem, ou admitindo novas funções não-industriais. É uma região que
parece estar em intensa transformação.
Por fim, a região considerada como a Zona Opaca, caracteriza-se por uma intensa
dinâmica diurna, especialmente em função da Santa Casa de Misericórdia, que atende à uma
população bastante heterogênea, além da Feira coberta, que atrai comerciantes e produtores
rurais das bordas da cidade, proporcionando dinâmicas sociais ricas em diversidade. Esta
região comporta-se como acolhedora de pessoas em situação de rua, principalmente à noite,
quando reduzem-se significativamente as dinâmicas desta zona.
Sem a pretensão de dar por encerradas as discussões iniciadas aqui, podemos
considerar que a cartografia apresentada para o bairro Jundiaí é um ponto de partida para
futuros estudos envolvendo este território da cidade de Anápolis. Este produto é, portanto, o
primeiro passo de pesquisas mais aprofundadas a respeito das desigualdades sócio-espaciais
presentes neste bairro.

Referências

HARVEY, D. Condição Pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.


São Paulo: edições Loyola. 1996.
IBAPE/SP. Norma para avaliação de imóveis urbanos. Instituto Brasileiro de Avaliações e
Perícias de Engenharia de São Paulo, 2011. Disponível em: www.ibape-
sp.org.br/arquivos/norma-de-avaliacoes-de-imoveis-urbanos.pdf.
MARICATO, E. Para entender a crise urbana, 1° ed. São Paulo: Expressão Popular, 2015.
MERLEAU-PONTY, M. Textos selecionados (Os pensadores). São Paulo: Nova Cultural,
1989.
SANTOS, M. A Natureza de espaço: técnica e tempo, Razão e emoção. 4° ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. 5ª ed. São Paulo: HUCITEC, 1997.
SANTOS, M. Técnica, espaço e tempo: globalização e meio técnicocientífico informacional.
3 ed. São Paulo:HUCITEC, 1997.
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
Rio de Janeiro: RECORD, 2001.

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