SEPE 2018 Trabalho Completo Ana e Thalita
SEPE 2018 Trabalho Completo Ana e Thalita
SEPE 2018 Trabalho Completo Ana e Thalita
Nesse interim, onde espaços são altamente valorizados e outros são deteriorados,
alguns grupos da sociedade sofrem as consequências dessa dinâmica buscando exatamente as
áreas deterioradas como alternativa de sobrevivência. A esse respeito, Maricato (2015, p. 62)
esclarece que “Nessas áreas ditas ‘deterioradas’, está à única alternativa de os pobres
vivenciarem o ‘direito à cidade’, pois de um modo geral, eles são expulsos dela”.
Formado na década de 1940, a partir da criação da Sociedade Imobiliária de
Anápolis Ltda., o bairro Jundiaí é o locus sobre o qual se construirão as discussões deste
trabalho. Considerando, por um lado, que este bairro foi planejado em 1943 por João Alves
Toledo1, dentro da lógica do que o urbanismo denomina como cidades e bairros-jardins, e, de
outro, que o mesmo projeto foi, em grande parte, descaracterizado – no que diz respeito
especialmente às áreas livres de uso público propostas pelo desenho original, que pouco a
pouco foram indevidamente apropriadas, cedidas, vendidas e loteadas.
O que esta pesquisa anseia por responder é: de que maneira o espaço urbano do
bairro Jundiaí é organizado, considerando-o um objeto em constante transformação? Tal
questionamento gera o principal objetivo do trabalho, que consiste em cartografar as
diferentes dinâmicas sócio-espaciais presentes no bairro Jundiaí e caracterizá-las de acordo
com as suas especificidades.
Buscando alcançar o nosso objetivo e responder o nosso questionamento torna-se
necessário o entendimento de alguns conceitos como os de tempo e espaço, paisagem, espaço
público, rugosidades e, por fim, formas e conteudos.
O presente trabalho está organizado em cinco seções: a primeira introduz a
discussão a respeito das constantes transformações no espaço urbano e como essas
transformações são marcadas por desigualdades sócio-espaciais; a segunda seção discute os
conceitos e categorias utilizados para a compreensão da realidade do Bairro Jundiaí como:
tempo e espaço, paisagem, rugosidades, formas e conteudos; a terceira apresenta a
metodologia utilizada na elaboração do trabalho partindo de trabalhos de campo, revisão
bibliográfica e análise de manchetes de jornais sobre o Bairro Jundiaí bem como a elaboração
1
Engenheiro e urbanista vindo de São Paulo para projetar o bairro.
Referencial Teórico
Ao buscarmos compreender a organização territorial, o que implica entender sua
dinâmica social, envolvendo as ações e a produção de objetos e suas transformações
constantes, é importante considerar alguns elementos que são indissociáveis de pesquisas que
envolvam o entendimento das dinâmicas e processos sociais, bem como, territoriais.
Ao considerarmos a realidade do bairro Jundiaí ou qualquer outra realidade
urbana devemos considerar as questões que envolvem o tempo e o espaço na construção da
densidade técnica de um território. Nesse sentido, considera-se aqui o conceito de espaço
segundo Milton Santos, que define:
O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes
objetos; não entre estes especificamente, mas para os quais eles servem de
intermediários. Os objetos ajudam a concretizar uma série de relações. O espaço é
resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos,
naturais e artificiais. (SANTOS, 1997, p.71)
As categorias analíticas descritas por Santos (2006), se fazem muito uteis para a
presente pesquisa no momento em que, ao analisarmos a paisagem do bairro Jundiaí
conseguimos identificar as diferentes dinâmicas presentes em um mesmo território; a
configuração territorial nos permite perceber a existência das diferentes regiões que o bairro
abriga, permitindo identificar a divisão territorial do trabalho existente, o espaço
constantemente produzido e que também é produtivo, e as rugosidades que, no caso do bairro
Jundiaí, se configuram mais como barreiras ao avanço do capital do que como preservação do
passado; e, por fim, ficam nítidas as diferentes formas e conteúdos que abrigam-se no bairro.
Mas, ainda podemos considerar o espaço sob outra perspectiva sem abandonar a
anterior. Isso por que as ciências sociais exigem do pesquisador diferentes olhares, a partir de
diferentes perspectivas, para que as dinâmicas sociais sejam percebidas de uma forma mais
ampla. Pois uma coisa é pensar o bairro Jundiaí a partir do olhar do frequentador do Parque
Metodologia
Os caminhos percorridos para fundamentar a presente pesquisa consistiram na
pesquisa bibliográfica, buscando autores que trabalham a questão das transformações do
espaço e das dinâmicas sociais. E também trabalhos de campo realizados no Bairro Jundiaí
nos dias 26/06/2018, 02/07/2018 e 09/07/2018. No dia 26, o trabalho de campo foi realizado
no período vespertino; no dia 02 o trabalho foi realizado no período noturno; e no dia 09, no
Resultados e Discussões
Desde o início, o discurso entorno da criação do bairro Jundiaí é o de que seria um
grande investimento, tanto em questões econômicas de valorização do lote e imóvel
construído, quanto de que seria um lugar muito bom para se morar com a família. A Figura 1
ilustra uma propaganda de vendas de lotes no Bairro Jundiaí no Jornal “O Anápolis” em 1945,
cuja manchete ilustra bem o ideal de um futuro promissor para o bairro.
O bairro passou a crescer a cada dia mais e a atrair investimentos, o que deu início ao
processo de verticalização do bairro, iniciado na década de 70, e intensificado a partir dos
anos 2000. Abaixo se apresentam duas propagandas (Figuras 2 e 3) publicadas no Jornal “O
Anápolis”, uma do ano 2000 e a outra de 2001, pelas quais é possível ter uma dimensão da
Universidade Estadual de Goiás – Campus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas.
Av. Juscelino Kubitschek, 146 - Jundiaí - Anápolis-GO. CEP 75.110-390. Fone: (62) 3328-1128.
[email protected]; http://www.sepe.ccseh.ueg.br página: 5
ANAIS - Seminário de Pesquisa, Pós-Graduação, Ensino e Extensão do CCSEH – IV SEPE
A UNIVERSIDADE PUBLICA NO CONTEXTO DAS CRISES DO
CAPITALISMO – 10 a 12 de setembro de 2018
ISSN 2447-9357
rapidez e da facilidade que o capital teve para penetrar no território do bairro. Sendo possível
visualizar que em apenas um ano quatro empreendimentos verticais já estariam em fase final.
Fonte: Jornal O Anápolis, 2000/ Museu Histórico Fonte: Jornal O Anápolis, 2000/ Museu Histórico
Alberico Borges de Carvalho. Alberico Borges de Carvalho.
Desde então, o que foi profetizado para o bairro foi se realizando, mas, de forma
desigual, fazendo com que existam, dentro do mesmo território, áreas altamente valorizadas e
também áreas deterioradas (que passam a ter diferentes usos nos diversos horários, como
abrigar a população em situação de rua, por exemplo); áreas que divergem em termos de
conteúdo social, de dinâmicas, finalidades funcionais, etc.
Nesse sentido, nos apropriamos dos pensamentos de Milton Santos para buscar
cartografar as diferentes dinâmicas presentes no bairro Jundiaí. Onde o autor trabalha a ideia
de “Zonas Luminosas” e “Zonas Opacas” para diferenciar os territórios mais ricos dos mais
pobres. Desta forma, para Santos (1997, p.41):
Na cidade, hoje, a "naturalidade" do objeto técnico — uma mecânica repetitiva, um
sistema de gestos sem surpresa — essa historização da metafísica, crava no
organismo urbano, áreas "luminosas", constituídas ao sabor da modernidade e que se
justapõem, superpõem e contrapõem ao resto da cidade onde vivem os pobres, nas
zonas urbanas "opacas". Estas são os espaços do aproximativo e não (como as zonas
luminosas) espaços da exatidão, são espaços inorgânicos, abertos e não espaços
racionalizados e racionalizadores, são espaços da lentidão e não da vertigem.
O autor contrapõe a rapidez e o fluxo intenso das áreas mais dinâmicas ao tempo
lento das áreas onde vivem os mais pobres. Essa contraposição é perceptível no bairro
Jundiaí: enquanto a “Zona Luminosa” é rápida, dinâmica e brilhosa, a “Zona Opaca” é
silenciosa, calma e até mesmo escura. A respeito dos pobres, Santos (2006, p. 221) esclarece
que:
Foram identificadas sete zonas no bairro Jundiaí, sendo que algumas delas
possuem um elemento polarizador envolvido na dinâmica da região. Também evidenciamos
os limites oficial e não-oficial do bairro Jundiaí, já que foi identificado que a percepção da
2
Quando caracteriza-se aqui em alto, médio ou baixo padrão, refere-se aos aspectos físicos (construtivos,
qualitativos, quantitativos e tecnológicos) e funcionais (arquitetônicos, de projetos, paisagísticos e
funcionais) das edificações, conforme IBAPE/SP (2011).
Conclusão
Ao aproximarmos da bibliografia adequada ao estudo das questões urbanas, foi
possível abordar melhor os conceitos utilizados na leitura do objeto de estudo, o bairro
Jundiaí. Além disso, o acesso ao histórico do bairro, documentado principalmente pelos
jornais e revistas da época, deu-nos a compreensão da imagem que desde o início foi
construída, carregada de uma ideia de progresso, qualidade de vida e consequente valorização
imobiliária.
Este processo, no entanto, não ocorreu de forma homogênea na totalidade do
bairro, mas, como constatam os resultados, foram formadas regiões que diferem-se
mutuamente em diversos aspectos: nível econômico da população, padrão construtivo,
dinâmicas espaciais e sociais, paisagens urbanas, entre outros. Tais constatações apenas foram
possibilitadas pelos trabalhos de campo realizados no bairro em dias e horários diferentes, e
que ampliaram significativamente a análise das desigualdades sócio-espaciais aqui descritas.
O conjunto das atividades realizadas, resultaram então, num exercício de
cartografia, cuja finalidade é expressar graficamente a presença de regiões que diferenciam-se
sócio-espacialmente, classificadas aqui segundo sua intensidade luminosa, conforme Santos
(2006).
Algumas das regiões apresentadas possuem um pólo que, na maioria das vezes,
caracteriza as dinâmicas que ali são estabelecidas. Estes, pólos configuram relações que
extrapolam os limites da região e do próprio bairro, sendo frequentados por pessoas
provenientes de outras partes da cidade, como o Parque Ipiranga, a Santa Casa e a Feira
coberta, por exemplo, que abraçam realidades sociais bem diferentes, e que são elementos
determinantes da configuração territorial em seu entorno.
As regiões denominadas como de Alta Luminosidade são caracterizadas por seu
dinamismo tanto durante o dia como à noite. São dotadas de imóveis de alto padrão
construtivo, destinados a uma população mais abastada, além de serviços urbanos de
qualidade, como calçamento, iluminação e limpeza pública em dia, por exemplo. As Zonas de
Média Luminosidade apresentam padrão construtivo mediano, dos quais predominam as
residências e alguns comércios populares, ainda capazes de gerar certo movimento em
diferentes períodos do dia, mas em menor intensidade que as zonas anteriormente descritas.
Já a Zona Pouco Luminosa, que compreende o bairro Jundiaí Industrial, é
marcada por residências de baixo a médio padrão, poucos estabelecimentos comerciais de
caráter popular e tradicional, além de galpões industriais, alguns em pleno funcionamento
Referências