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Resumo: Para Hebe Castro, a história social seria uma especialidade com problemas e
métodos próprios, cujo problema central seria as reflexões acerca da constituição dos
atores históricos coletivos, os comportamentos e relações entre os diversos grupos que
formam as estruturas sociais. Diante deste aspecto é que se pretende chamar atenção
acerca das mudanças de perspectivas e apropriações dos arquivos públicos, possibilitando
pensá-los enquanto instituições construídas dentro de interações políticas e relações de
poder no espaço e no tempo, devendo, para além de simples depósito de prova de uma
“verdade”, ser também entendidos como possíveis objetos de estudo da História.
Palavras-chave: História dos Arquivos – patrimônio documental – Escrita da história
Abstract: To Hebe Castro, the social history would be a specialty in trouble and own
methods, and whose main problem would be the reflections about the constitution of
collective historical actors, behaviors and relationships between the various groups that
form the social structures. In the face of this is that if you want to draw attention about
the change in perspective and appropriations of public files, allowing think them as an
institution built within political interactions and power relations in space and time and
must, in addition to simple proof of deposit a "truth", also be understood as possible
objects of study of history.
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Doutorando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Professor Assistente do curso de Arquivologia da Universidade Federal do
Amazonas.
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O ofício do historiador vem passando por inúmeros processos, que podem ser
entendidos como perda - ou crise - de sua identidade para alguns, ou como um processo
contínuo e natural de amadurecimento da área para outros. Fato é que esse processo
histórico do próprio fazer historiográfico vem merecendo observações de importantes
teóricos da área.
Cardoso e Vainfas organizaram dois importantes trabalhos na recente
historiografia brasileira, Domínio da História1 e Novos domínios da História2, e que
servem de referência aos estudos de teoria e metodologia da ação do historiador,
possibilitando um panorama geral dos estudos e campos de investigação na história até
início do século XXI. Especificamente no texto introdutório do livro de 2012, Cardoso
possibilita pensar estes diferentes processos do fazer histórico ao buscar definir as
modalidades básicas da epistemologia da história moderna.
Para Cardoso, é possível dividir o pensar historiográfico em três modalidades:
reconstrucionista, construcionista e desconstrucionista. O autor ainda ressalta, primeiro,
não ser possível afirmar que acham apenas estes três modelos, mas que estas seriam
“modalidades básicas ou principais”. Assim como o fato de que não são excludentes, pelo
contrário, “agem umas sobre as outras, podem mesclar-se até certo ponto e, em função
das trocas e debates, afastam-se do que seria, em cada uma delas, um estado mais ‘puro’”3.
Fato é que essa divisão proposta por Cardoso serve como um recurso
metodológico pertinente para este trabalho, ao possibilitar de forma didática, elencar e
observar as principais tendências da historiografia, possibilitando assim, uma análise
acerca das mudanças dos usos e apropriações das fontes documentais arquivísticas, e do
próprio arquivo, enquanto local de abrigo desta documentação. Não será o foco aqui
descrever pormenorizadamente cada uma destas três modalidades, mas sim, realizar um
duplo trabalho, isto é, de contextualiza-los no tempo-espaço e de compreendê-los dentro
da perspectiva dos novos usos e apropriações dos arquivos pela historiografia.
O reconstrucionismo, seria o princípio da história enquanto campo científico
moderno. Já vinha se formando desde o século XVII e vai se consolidar no século XIX,
com Ranke, denominando-se de “escola metódica”, por buscar sua profissionalização
através de regras, métodos centrados na manipulação rigorosa e imparcial das fontes
primárias, acreditando assim, ser possível um conhecimento verdadeiro.
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das bases desse pensamento pós-moderno vem das considerações de Friedrich Nietzsche,
para quem a razão seria vontade de poder, onde um pensamento ou teoria não passaria de
uma interpretação e escolha das coisas dentro de uma determinada realidade. Em outras
palavras, Nietzsche criticava o discurso de que a razão/conhecimento não seria a única
via de explicação, pois a própria razão não passa de um discurso, que só teria sentido
dentro das suas lógicas racionais, abrindo assim a possibilidade de pensar que tudo é
relativo.
Ter em mente esta perspectiva baseada no pensamento de Nietzsche, e outros
como Foucault, Lacan e Heidegger, ajuda a compreender um dos principais percursores
do modelo desconstrutivista na construção do conhecimento histórico, Hayden White,
para quem o discurso histórico tem que ser visto como uma interpretação do passado
construído pelo historiador, podendo variar de contexto para contexto, mas que tem como
princípio ser um modo narrativo de representação. De acordo com Cardoso, a noção de
discurso como padrão de significado torna-se central para a concepção de conhecimento
histórico pós-moderno.
Para Albuquerque Junior, que demonstra ter um posicionamento mais aceitável
do paradigma pós-moderno no fazer histórico, a base do pós-modernismo tem seu início
já com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, onde,
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NOTAS DE REFERÊNCIA
1 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínio da História: ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
2 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012.
3 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 3.
4 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 53-65.
5 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 54.
6 Certeau, Michel de. Operação histórica. In: LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (Org.). História: novos
problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 17- 48.
7 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 5
8 SCHAFF, 1974, p. 326, apud CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios
da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 8.
9 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 56.
10 Cardoso, Ciro Flamarion; Vainfas, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 320.
11 SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & Documento e Metodologia de
pesquisa. – 2° ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 16-17.
12 SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & Documento e Metodologia de
pesquisa. – 2° ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 16-17. p. 16. (Destaque em negrito nosso).
13 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
14 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
15 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
16 CASTRO, Hebe. História Social. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínio
da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 45-60.
17 FALCON, Francisco. História e Poder. CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Domínio da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 61-90.
18 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006.
19 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.
20 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.
21 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.
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