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Revista Dia-logos, v. 10, n. 01, p.50-59, jan.-jun.

2016

HISTÓRIA SOCIAL E ARQUIVOS: BREVES CONSIDERAÇÕES


SOBRE OS NOVOS USOS E APROPRIAÇÕES

Leandro Coelho de Aguiar**

Resumo: Para Hebe Castro, a história social seria uma especialidade com problemas e
métodos próprios, cujo problema central seria as reflexões acerca da constituição dos
atores históricos coletivos, os comportamentos e relações entre os diversos grupos que
formam as estruturas sociais. Diante deste aspecto é que se pretende chamar atenção
acerca das mudanças de perspectivas e apropriações dos arquivos públicos, possibilitando
pensá-los enquanto instituições construídas dentro de interações políticas e relações de
poder no espaço e no tempo, devendo, para além de simples depósito de prova de uma
“verdade”, ser também entendidos como possíveis objetos de estudo da História.
Palavras-chave: História dos Arquivos – patrimônio documental – Escrita da história

Abstract: To Hebe Castro, the social history would be a specialty in trouble and own
methods, and whose main problem would be the reflections about the constitution of
collective historical actors, behaviors and relationships between the various groups that
form the social structures. In the face of this is that if you want to draw attention about
the change in perspective and appropriations of public files, allowing think them as an
institution built within political interactions and power relations in space and time and
must, in addition to simple proof of deposit a "truth", also be understood as possible
objects of study of history.

Keywords: History of the Archives – Documentary heritage – Writing of the history

*
Doutorando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Professor Assistente do curso de Arquivologia da Universidade Federal do
Amazonas.

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O ofício do historiador vem passando por inúmeros processos, que podem ser
entendidos como perda - ou crise - de sua identidade para alguns, ou como um processo
contínuo e natural de amadurecimento da área para outros. Fato é que esse processo
histórico do próprio fazer historiográfico vem merecendo observações de importantes
teóricos da área.
Cardoso e Vainfas organizaram dois importantes trabalhos na recente
historiografia brasileira, Domínio da História1 e Novos domínios da História2, e que
servem de referência aos estudos de teoria e metodologia da ação do historiador,
possibilitando um panorama geral dos estudos e campos de investigação na história até
início do século XXI. Especificamente no texto introdutório do livro de 2012, Cardoso
possibilita pensar estes diferentes processos do fazer histórico ao buscar definir as
modalidades básicas da epistemologia da história moderna.
Para Cardoso, é possível dividir o pensar historiográfico em três modalidades:
reconstrucionista, construcionista e desconstrucionista. O autor ainda ressalta, primeiro,
não ser possível afirmar que acham apenas estes três modelos, mas que estas seriam
“modalidades básicas ou principais”. Assim como o fato de que não são excludentes, pelo
contrário, “agem umas sobre as outras, podem mesclar-se até certo ponto e, em função
das trocas e debates, afastam-se do que seria, em cada uma delas, um estado mais ‘puro’”3.
Fato é que essa divisão proposta por Cardoso serve como um recurso
metodológico pertinente para este trabalho, ao possibilitar de forma didática, elencar e
observar as principais tendências da historiografia, possibilitando assim, uma análise
acerca das mudanças dos usos e apropriações das fontes documentais arquivísticas, e do
próprio arquivo, enquanto local de abrigo desta documentação. Não será o foco aqui
descrever pormenorizadamente cada uma destas três modalidades, mas sim, realizar um
duplo trabalho, isto é, de contextualiza-los no tempo-espaço e de compreendê-los dentro
da perspectiva dos novos usos e apropriações dos arquivos pela historiografia.
O reconstrucionismo, seria o princípio da história enquanto campo científico
moderno. Já vinha se formando desde o século XVII e vai se consolidar no século XIX,
com Ranke, denominando-se de “escola metódica”, por buscar sua profissionalização
através de regras, métodos centrados na manipulação rigorosa e imparcial das fontes
primárias, acreditando assim, ser possível um conhecimento verdadeiro.

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Como chamou atenção Albuquerque Junior4, tratava-se de um período em que o


“paradigma realista metafísico tenta tornar a história uma ciência da verdade exata de leis
universais”5. Em outras palavras, através dos seus métodos científicos a história
conseguia reconstruir a verdade.
Duas foram as escolas importantes deste modelo, a francesa (positivista) e a alemã
(historicista), que estavam particularmente interessadas na dimensão política do fazer
histórico.
Já em meados do século XIX, acontecem importantes críticas ao fazer histórico
baseado no indutivismo empirista (o que seria a base do reconstrucionismo), passando a
prevalecer um caráter hipotético-dedutivo ao método científico. Esse novo caráter
científico, foi uma das bases da segunda modalidade explicitada por Cardoso, o
construcionismo.
O construcionista, além de sua característica hipotético-dedutivo, possui outro
princípio muito importante que o difere totalmente do reconstrutivismo, a concepção de
que o sujeito cognoscente intervém ativamente no processo de construção do
conhecimento por ele produzido. Em outras palavras, o historiador não só produz o
conhecimento histórico, como tal produção é resultado de suas intervenções, através de
seu conhecimento adquirido previamente, na delimitação dos dados e fatos utilizados
enquanto fonte, resumindo, seria o “lugar social” descrito por Michel de Certeau6, onde
tais princípios negam a ideia de “neutralidade” e “verdade histórica”.
Todavia, cabe ressaltar ao fato, como fez Cardoso, de que tal intervenção do
historiador “não anula a reinvindicação de objetividade quanto ao processo de
conhecimento, mas sim torna necessário que se leve em conta o caráter ativo do sujeito
epistêmico”7. Acerca desta forma de pensar, Adam Schaff tem um excelente pensamento,
para quem, a história sempre será reescrita “porque os critérios de valoração dos
acontecimentos passados variam com o tempo e, por conseguinte, a percepção e seleção
dos fatos históricos mudam para modificar a própria imagem da história”8.
Inúmeras foram as tendências que compartilham desta premissa construcionista,
lógico que cada uma com suas especificidades. De acordo com Pizzetti (2003) as
principais seriam: as de matrizes francesas (generalizada com nome de escola dos
Annales), as anglo-saxônicas, de inspiração marxista (History Workshop, Labour
History), a norte-americana (Herstory) e a alemã (Neue Sozialgeschichte).
Por fim, pode-se observar a terceira e última modalidade, o desconstrutivismo –
ou pós-moderna. Para Cardoso – que vê de forma crítica tal perspectiva histórica – uma

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das bases desse pensamento pós-moderno vem das considerações de Friedrich Nietzsche,
para quem a razão seria vontade de poder, onde um pensamento ou teoria não passaria de
uma interpretação e escolha das coisas dentro de uma determinada realidade. Em outras
palavras, Nietzsche criticava o discurso de que a razão/conhecimento não seria a única
via de explicação, pois a própria razão não passa de um discurso, que só teria sentido
dentro das suas lógicas racionais, abrindo assim a possibilidade de pensar que tudo é
relativo.
Ter em mente esta perspectiva baseada no pensamento de Nietzsche, e outros
como Foucault, Lacan e Heidegger, ajuda a compreender um dos principais percursores
do modelo desconstrutivista na construção do conhecimento histórico, Hayden White,
para quem o discurso histórico tem que ser visto como uma interpretação do passado
construído pelo historiador, podendo variar de contexto para contexto, mas que tem como
princípio ser um modo narrativo de representação. De acordo com Cardoso, a noção de
discurso como padrão de significado torna-se central para a concepção de conhecimento
histórico pós-moderno.
Para Albuquerque Junior, que demonstra ter um posicionamento mais aceitável
do paradigma pós-moderno no fazer histórico, a base do pós-modernismo tem seu início
já com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, onde,

Todas as promessas das filosofias da história do século 19, de uma história


teleológica, atravessada pela razão, em direção à civilização, ao progresso, à
liberdade e à fraternidade são calcificadas junto com milhares de japoneses9

Assim sendo, Albuquerque Junior busca relativizar toda construção


historiográfica calcada no cientificismo e o racionalismo moderno, chamando atenção de
que tudo não passa de narrativas e que, ao perceber tal situação, o historiador de hoje
conseguirá passar a observar seus textos, não como verdade absoluta, mas como
construção narrativa em um determinado lugar e tempo histórico.
Acerca destes três modelos interpretativos da prática historiográfica -
reconstrucionista, construcionista e desconstrucionista –, cabe ressaltar que não podem
ser vistos como processos evolutivos da prática historiográfica, nos quais um iria se
sobrepondo ao outro até que o anterior deixasse de existir, pelo contrário, como bem
chamou atenção Vainfas no texto que fecha o Novos Domínios da História, é bem
possível que estes modelos coexistam dentro do fazer historiográfico, “por vezes de forma
harmoniosa e coerente, outras vezes de maneira desconexa”, corroborando com o próprio

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Cardoso, deixando a entender o caráter hibrido do que comumente chamamos de Nova


História, “a meio caminho do construcionismo e do desconstrucionismo”10.
O objetivo de utilizar o modelo proposto por Cardoso e de chamar atenção às
ponderações de Vainfas é justamente o de observar alguns dos diferentes processos de
criação do fazer histórico, que em tese ajuda a compreender também a sua ligação com a
concepção de documento e de fonte histórica, o que nos remete ao objetivo deste artigo,
observar os arquivos - enquanto locais de guarda documental - ao longo deste processo
do fazer historiográfico, já adiantando, não apenas enquanto local de guarda dos
documentos, mas também, enquanto objeto de estudo.
Quando Vainfas chama atenção ao fato de que nas últimas décadas tem havido um
retorno aos documentos e à pesquisa arquivística onde a ênfase do estudo recai sobre a
análise da documentação que ali se encontra (não apenas pela corrente neo-historicista,
mas também pelos próprios construcionistas através da influência mútua devido a
convivência destes diferentes modelos), torna-se importante então realizar um trabalho
de reflexão sobre as reais permanências e mudanças desta perspectiva metodológica do
fazer historiográfico junto aos arquivos.
O próprio autor chama atenção acerca dos retornos – que alguns veem como
renovação - de alguns campos tradicionais da historiografia, como é o caso da história
das relações internacionais, agora mais próxima do conceito de globalização do que dos
Estados nacionais; da nova história da guerra, que trabalha numa perspectiva
sociocultural das batalhas e até dos conflitos contemporâneos ligados ao tempo presente;
da biografia histórica, que, mesmo com fortes tendências de suas perspectivas
tradicionais, acaba tendo uma forte mudança com os estudos biográficos; e da nova
história política, deixando de lado as narrativas tradicionais e se aproximando da ciência
política.
Fato é que estes retornos não ficaram segregados ao campo do debate
historiográfico, mas também se ampliaram naturalmente para os dilemas metodológicos
dos usos dos documentos “tradicionais” e dos arquivos. Acerca do pensamento dos
historiadores do início do século XX sobre o uso e da importância dos documentos para
a história, o trecho a seguir, retirado de um dos primeiros manuais didáticos sobre estudos
históricos do Brasil, consegue sintetizar bem o pensamento da época:

A História se faz com documentos. Documentos são trações que deixaram os


pensamentos e os atos dos homens do passado. Entre os pensamentos e os atos
dos homens, poucos há que deixam traços visíveis ... [...]. Por falta de

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documentos, a História de enormes períodos do passado da humanidade ficará


sempre desconhecida. Porque nada supre os documentos: onde não há
documentos não há História11.

Este modo de pensar do século XIX e início do XX está centrado em dois


paradigmas fundamentais na época: “a História como a ciência da reconstituição do
passado e o documento impresso e/ou manuscrito como a fonte fidedigna, inquestionável,
das informações obtidas”. Uma visão baseada na perspectiva cientificista que era a base
do pensamento positivista e historicista (ou do modelo Reconstrucionista, descrito por
Cardoso), onde “iniciava-se o trabalho pela pesquisa nos arquivos em busca da verdade
propriamente dita, que emergiria impoluta dos documentos consultados”12.
O século XX marcou uma profunda alteração social, principalmente com os
avanços tecnológicos e questionamentos dos resultados das duas guerras mundiais.
Pizzetti13 chama atenção ao fato de que no pós-guerra pairou-se sobre a sociedade a crise
do “positivismo comtiano ou spenceriano que seguramente suportava a ideia de uma
evolução progressiva da humanidade”, onde a crise destes grandes paradigmas
evolucionista provocou o fim da “idade da fé no progresso humano”, dando início “a era
do pensamento frágil”14.
Um período de efervescência social que refletiu no próprio fazer histórico, onde
“ninguém se atrevia mais a escrever história universal”15, dando abertura ao surgimento
do que Cardoso chamou de modelo construcionista, tanto nas práticas científicas quanto
nas suas práticas metodológicas, principalmente com o aumento da produção de
informação e de tipos de documentos, possibilitando assim novos questionamentos dos
historiadores. Esta nova característica do fazer histórico possibilitou a realização de
importantes reflexões também acerca do conceito de “documento histórico” e assim o
próprio papel dos arquivos.
Duas coisas tornam-se necessário dizer. Em primeiro lugar, que o modelo
desconstrucionista, como exposto por Cardoso, foi realmente importante dentro de uma
perspectiva mais teórica de pensar o fazer historiográfico, mas que, como chamou atenção
Vainfas, pouco influenciou nas práticas de pesquisa no fazer histórico. Em segundo lugar,
que seguindo esta compreensão acima mencionada, justifica-se então que o modelo
desconstrutivista acaba influenciando pouco nesta analise acerca das novas possibilidades
e apropriações dos arquivos pela historiografia. Pois o foco acabou sendo a comparação
entre a visão da historiografia tradicional e a nova história social, que se aproxima com o
modelo construcionista proposto por Cardoso.

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O próprio conceito de história social passou por transformações e mudanças de


sentido ao longo das práticas e modelos historiográficas. Eric Hobsbawm apresenta um
modelo explicativo do entendimento da expressão história social pela historiografia até
fins do século XX, dividindo em três períodos históricos16.
Entre 1930 e 1940, com foco nos costumes e tradições nacionais e muito ligado
ao modelo reconstrucionista rankiano da história política tradicional. Dentro deste
momento começou também a se despontar aquilo que se chamou escola dos Annales que
se deslocava para uma “história econômica social”, que, mesmo dando ênfase para seu
viés econômico, o social se encontrava presente e servia de oposição à historiografia
tradicional.
Entre 1950 e 1960, a história social, fortemente influenciada pelos Annales da
primeira geração, já enquanto especialidade se encontrava forte dentro de uma nova
postura historiográfica. Dentro de uma concepção estruturalista, ligada a antropologia de
Lévi-Strauss, cresceu dentre o fazer historiográfico campos como história econômica,
demográfica, e das mentalidades enquanto possibilidade de compreender problemas e
questões sociais da época.
Por fim, no pós-1970, onde a crise do estruturalismo e a expansão do
entendimento de que as realidades sociais não são possíveis de serem explicados em
modelos preestabelecidos, a história social passou, com forte influência da antropologia
cultural, a buscar responder às novas questões com ênfase na construção de identidades e
relações sociais, principalmente das “pessoas comuns”, criando assim uma fragmentação
de temas e objetos dos estudos históricos.
Uma importante definição de história social é proposta por Castro, sob a égide de
Ernest Labrousse, para quem a história social seria uma especialidade com problemas e
métodos próprios, cujo problema central se volta para as reflexões acerca da constituição
dos atores históricos coletivos, os comportamentos e relações entre os diversos grupos
que formam as estruturas sociais. Todas estas mudanças na forma de pensar o fazer
histórico, agora pautado na história social, possibilitou significativas mudanças e
aberturas de temas, objetos e fontes.
Para Falcon17 uma importante vertente desta nouvelle histoire seria a temática
ligada a concepção de poder, ou poderes, os saberes enquanto poderes e as instituições
enquanto prática de poderes. Sem sombra de dúvida, Foucault foi um dos maiores
expoentes do estudo deste novo objeto, que, podendo se transpor tanto para uma nova
história política quanto para a história social, teve sua obra Microfísica do poder sendo

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um dos marcos do pensar o poder enquanto objeto de estudo, ao pensar as múltiplas


possibilidades das relações dos poderes em lugares cotidianos, como família, escola,
prisão, hospital, fábrica e, puxando para o objeto deste artigo, as instituições, mais
especificamente os arquivos públicos estaduais.
Outra possibilidade nesta nova história seria, como descreveu Ana Canas Delgado
Martins18, o estudo da história administrativa institucional e mais especificamente a
história das práticas e instituições arquivísticas. A autora, que esteve no Brasil em 1997
integrando uma missão técnica de arquivistas e historiadores portugueses com objetivo
de “identificar a documentação criada por órgãos da administração central no período
colonial, existentes em instituições brasileiras”, centrando naquele primeiro momento na
documentação que veio para o Brasil com a Corte portuguesa em 1808 e aqui permaneceu.
Tal pesquisa documental foi a base de sua tese em Portugal, a qual virou livro19.
Dentre as várias dificuldades encontradas pela missão portuguesa nos arquivos do
Brasil, Martins chama atenção o fato da existência de lacunas “deixada pela ausência de
história custodial e arquivística bem como da história administrativa e biográfica dos
organismos e dos indivíduos ou famílias, o que não permite a total reconstituição das
séries documentais”20. A autora cita José Honório Rodrigues, historiador e presidente do
Arquivo Nacional do Brasil entre 1958 a 1964, para quem tais “ausências” e limitações
são provocadas devidas “à profunda indiferença pelos arquivos em ambos os lados do
Atlântico”21.
Como foi apresentado inicialmente, este artigo tem como objetivo refletir algumas
considerações acerca das novas possibilidades de apropriações dos arquivos, enquanto
lugar de guarda dos documentos, pela historiografia contemporânea, principalmente na
história social.
Inicialmente buscou-se observar as mudanças do próprio pensar e fazer
historiográfico ao longo da modernidade, em decorrência dos próprios questionamentos
da sociedade. Tais mudanças de paradigmas sociais influenciaram não apenas o pensar
historiográfico como também suas práticas e metodologias, no estudo em questão, dos
usos e apropriações dos arquivos pela historiografia.
Assim sendo, pode ser observado que os arquivos, enquanto lugar de guarda de
documentos que corroboram uma ação e que se transformam, aos olhos dos historiadores,
possíveis fontes de pesquisa para suas indagações, também se coloca como possível
objeto de estudo por este historiador na atual historiografia, deixando o estigma de um

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lugar de guarda da verdade, para serem analisados e refletidos enquanto instituição e


objeto dentro de um processo de formação social.
Por fim, buscou chamar atenção para duas possibilidades de apropriações dos
arquivos enquanto objeto de estudo. Primeiro dentro de uma perspectiva das relações de
poderes na construção da própria sociedade. Em segundo lugar, da perspectiva da própria
análise crítica e reflexiva, das estruturas e dos documentos guardados pelos mesmos,
numa tentativa de explicar possíveis escolhas e ausências dos seus acervos.

NOTAS DE REFERÊNCIA

1 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínio da História: ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
2 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012.
3 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 3.
4 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 53-65.
5 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 54.
6 Certeau, Michel de. Operação histórica. In: LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre (Org.). História: novos
problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 17- 48.
7 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 5
8 SCHAFF, 1974, p. 326, apud CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Novos domínios
da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 8.
9 ALBURQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. In: Albuquerque
Junior, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007, p. 56.
10 Cardoso, Ciro Flamarion; Vainfas, Ronaldo (Org.). Novos domínios da História. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. p. 320.
11 SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & Documento e Metodologia de
pesquisa. – 2° ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 16-17.
12 SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & Documento e Metodologia de
pesquisa. – 2° ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 16-17. p. 16. (Destaque em negrito nosso).
13 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
14 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
15 PIZETTI, Silvia. Os fundamentos epistemológicos e metodológicos do conhecimento histórico.
Algumas reflexões entre passado e futuro. Revista História Social, n. 10, 2003, p. 25.
16 CASTRO, Hebe. História Social. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínio
da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 45-60.
17 FALCON, Francisco. História e Poder. CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Domínio da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 61-90.
18 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006.
19 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.
20 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.
21 MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e Arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Torre do Tombo
/ Ministério da Cultura (Portugal), 2006. Introdução.

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Revista Dia-logos, v. 10, n. 01, p.50-59, jan.-jun. 2016

Recebido em: 19/02/2016

Aprovado em: 07/07/2016

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