Livro Frutas Nativas Embrapa PDF
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Frutas Nativas da
Região Centro-Oste do
Brasil
Editores Técnicos
1ª edição
1ª impressão (2006): 300
F 945 Frutas nativas da região Centro-Oeste / Roberto Fontes Vieira ... [et al.]
(editores). -- Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,
2006.
320 p.
ISBN 978-85-87697-44-8
Fabio Gellape Faleiro - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970,
Planaltina, DF; E-mail: [email protected], [email protected]
Fernanda Vidigal Duarte Souza - Embrapa Mandioca e Fruticultura, CP 007,
44380-000, Cruz das Almas- BA. E-mail: [email protected]
José Felipe Ribeiro - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970,
Planaltina, DF E-mail: [email protected]
Josué Francisco da Silva Junior - Embrapa Tabuleiros Costeiros, Av. Beira Mar,
3250, Praia 13 de Julho. CEP 49025-040 – Aracaju – SE. E-mail: josue@cpatc.
embrapa.br
Marcelo Fideles Braga - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73310-970,
Planaltina, DF; E-mail: [email protected], [email protected]
Márcia Aparecida de Brito - CNPq, Brasília, DF, E-mail: [email protected]
Sueli Matiko Sano - Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73301-970,
Planaltina, DF. E-mail: [email protected]
ABACAXI DO CERRADO......................................................................................26
ARAÇÁ...................................................................................................................42
ARATICUM.............................................................................................................64
BARU......................................................................................................................76
BURITI..................................................................................................................102
CAGAITA..............................................................................................................120
CAJUS DO CERRADO........................................................................................136
COCO-CABEÇUDO.............................................................................................154
GABIROBA...........................................................................................................164
JATOBÁ-DO-CERRADO......................................................................................174
MANGABA............................................................................................................188
MARACUJÁ-DO-CERRADO................................................................................216
MURICI..................................................................................................................236
PEQUI...................................................................................................................248
PÊRA-DO-CERRADO..........................................................................................290
JENIPAPO............................................................................................................304
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 1
HISTÓRICO
dos cerrados: araticum, baru, cagaita e jatobá” (ALMEIDA et al., 1987), “Cozinha
goiana” (ORTENCIO, 2000), cuja primeira edição foi publicada em 1967, e “Cerrado:
aproveitamento alimentar” (ALMEIDA, 1988) destacam a importância das espécies
nativas e descrevem receitas sobre o aproveitamento de frutas nativas da região
Centro-Oeste, com grande ênfase para o pequi, o buriti, o baru e o araticum.
A descrição botânica de várias espécies foi publicada em “Cerrado: espécies
vegetais úteis” (ALMEIDA et al., 1998). O destaque para o potencial latente destas
frutas foi observado após a convenção da biodiversidade realizada no Brasil em
1992, quando foi dada ênfase aos recursos genéticos autóctones e ao seu uso,
conferindo um valor agregado maior a espécies até então relegadas ao segundo
plano pelos melhoristas genéticos e agricultores. Até então, as informações sobre
as frutas nativas na região Centro-Oeste foram publicadas de forma dispersa. Em
1994, informações botânicas, agronômicas e nutricionais sobre 35 espécies das
frutas mais importantes para esta região foram reunidas em um livro (SILVA et al.,
1994), posteriormente ampliado e re-editado com 57 espécies (SILVA et al., 2001).
A mais conhecida divulgadora da cultura e dos costumes goianos, Cora
Coralina, na cidade de Goiás, GO, é conhecida por ter produzido os mais variados
doces de frutas da região. Recentemente, podemos citar algumas iniciativas de
processamentos, como as sorveterias de polpas de frutas nativas estabelecidas em
Goiânia, GO; em Uberlândia, MG e em Brasília, DF; as polpas congeladas de frutas
nativas, produzidas em Montes Claros, MG, e as barras de cereais, produzidas
em Pirinópolis, GO. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, através da Feira
da Pequena Agricultura Familiar, que acontece em Brasília, DF, desde 2004, tem
trazido oportunidade para a comercialização e a divulgação de produtos regionais
brasileiros, onde se verifica o grande potencial existente quanto aos sabores, cores
e aromas de frutas nacionais, com seu valor nutritivo desconhecido.
Atualmente, graças ao desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que
viabilizaram a sua utilização em bases econômicas, a região se transformou em
um importante pólo de produção de alimentos no país. Entretanto, muitos produtos
agrícolas, como as frutas nativas, tradicionalmente utilizadas pela população local
ainda não foram inseridas no contexto do agronegócio brasileiro, seja por aspectos
sócio-culturais, forma de exploração extrativista, falta de tecnologia para a produção
em escala ou mesmo pelo desconhecimento do seu potencial de aproveitamento. O
grande desafio das espécies autóctones envolve a produção e a comercialização,
onde esforços pontuais aprimoram o conhecimento e possibilitam o avanço deste
novo mercado.
A região Centro-Oeste do Brasil abrange 3 biomas: o Cerrado, o Pantanal e
parte de Floresta Amazônica (Figura 1). Da área total dos biomas cerrado e pantanal,
predominantes na região Centro-Oeste, apenas 16,8% foram consideradas áreas de cerrado
não antropizado, através do uso de imagens de satélite.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 1
Categorias
Abacaxi-do-cerrado
Pêra-do-cerrado
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Coquinho
Mangaba
Gabiroba
Maracujá
Jenipapo
Araticum
Cagaita
Jatobá
Murici
Araçá
Pequi
Buriti
Baru
Caju
Conhecimentos disponíveis 2 1 1 2 1 2 2 1 2 1 2 3 1 1 3 2
Importância Social 1 1 2 2 3 1 3 3 3 1 1 2 1 2 3 1
Importância ambiental 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
Conservação
Necessidade de conservação de 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
germoplasma
Melhoramento realizado 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Variabilidade genética 3 3 3 3 2 3 3 3 3 2 2 3 3 3 3 3
Uso e Manejo
Uso múltiplo da espécie 2 2 2 2 3 2 2 3 2 2 2 2 2 2 3 1
Uso Consorciado com pastagem 1 1 2 3 1 2 3 1 1 3 3 1 1 1 2 1
Alternância de produção de 3 3 1 1 3 3 3 3 2 3 3 1 3 2 2 1
frutos**
Densidade no ambiente de 1 3 2 2 3 3 3 3 3 2 1 2 1 3 1 1
ocorrência
Freqüência ou distribuição 1 2 2 1 3 1 2 2 3 3 2 1 2 3 3 1
Necessidade de manejo no 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2 2 3 3 1 3 3
cerrado
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 1
Categorias
Abacaxi-do-cerrado
Pêra-do-cerrado
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Coquinho
Mangaba
Gabiroba
Maracujá
Jenipapo
Araticum
Cagaita
Jatobá
Murici
Araçá
Pequi
Buriti
Baru
Caju
Potencial para Cultivo
Facilidade de obtenção de 2 3 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 3 2 1
sementes
Facilidade de propagação por 1 3 2* 3 2* 3 3 1 3 3 3 3 2* 1 1* 3
semente
Facilidade de propagação 3 1 2 2 1 1 3 1 1 3 3 3 3 1 2 1
assexuada
Presença de mudas no campo 2 3 1 3 3 3 2 1 3 3 2 1 1 1 1 2
Taxa de estabelecimento pós- 3 3 2 3 3 3 3 3 2 3 3 1 3 2 2 3
plantio
Potencial de produção de frutos 3 3 1 3 3 3 2 3 3 2 3 2 1 3 3 3
por planta
Tolerância a pragas e doenças 2 1 1 3 3 3 1 3 1 2 3 2 1 2 1 2
Conhecimento sobre práticas 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 2 1 2 1 1 1
culturais
Potencial de adaptação ao cultivo 3 3 1 1 1 1 3 3 2 2 3 3 3 1 1 3
Comercialização
Facilidade de transporte e 2 1 2 3 3 1 2 3 1 3 3 1 3 2 2 1
armazenamento
Extensão da safra 2 3 2 2 3 1 1 2 1 1 2 2 2 2 3 1
Tecnologia de processamento 1 1 2 2 2 2 3 2 2 2 3 2 3 1 2 1
Padrões de qualidade para 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 2 2 2 1 2 1
processamento
Valor nutricional 1 2 2 2 3 1 2 2 2 2 2 2 2 2 3 1
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 1
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ABACAXI DO CERRADO
Francisco Ricardo Ferreira
Alessandra Pereira Fávero
José Renato Santos Cabral
Fernanda Vidigal Duarte Souza
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FAMÍLIA
O abacaxi do cerrado pertence à ordem Bromeliales, família Bromeliaceae,
subfamília Bromelioideae. Com aproximadamente 50 gêneros e cerca de 2000
espécies, esta é a maior família de distribuição natural restrita ao Novo Mundo,
com exceção da Pitcairnia feliciana (Aug.Chev.) Harms e Mildbr, nativa da Guiné.
As bromeliáceas possuem um grande poder adaptativo, visto que o hábito de
comportamento pode variar de terrestre a epífita, vegetam em vários tipos de
habitat, desde ambientes com sombreamento total àqueles expostos a pleno sol,
sob umidade elevada a condições extremamente áridas, desde o nível do mar até
altitudes elevadas, e em clima quente e tropical úmido a frio e subtropical seco.
Distribuem-se por ampla área geográfica, desde o centro dos Estados Unidos até as
regiões norte da Argentina e do Chile (SMITH, 1934). As bromeliáceas caracterizam-
se pelo talo curto, uma roseta de folhas estreitas e rijas, inflorescências terminais
racemosas ou paniculadas, flores hermafroditas, actinomórficas, trímeras, com boa
diferenciação entre cálice e corola, seis estames, ovário súpero a ínfero, trilocular,
com placenta axilar e numerosos óvulos, frutos tipo cápsulas ou bagas, sementes
pequenas, nuas, aladas ou pilosas, com endosperma reduzido e um pequeno
embrião. A maioria das espécies é epífita, outras são rupícolas ou terrestres.
Desenvolveram estruturas e mecanismos particularmente adaptados para
absorção, armazenamento e economia de água e nutrientes, que são: (i) estrutura
da roseta foliar, (ii) habilidade de absorver água e nutrientes através das folhas
e raízes aéreas, (iii) tecido aqüífero especializado das folhas com habilidade de
armazenar água, (iv) tricomas multicelulares que refletem a radiação, (v) espessa
cutícula, (vi) localização dos estômatos em sulcos limitando a evapotranspiração e,
(vii) metabolismo CAM (crassulacean acid metabolism), que é o metabolismo ácido
das crassuláceas, uma via metabólica para síntese de carboidratos, que algumas
espécies apresentam, principalmente plantas de folhas suculentas, como é o caso
das bromeliáceas. Essas espécies abrem os estômatos a noite, período em que
absorvem o dióxido de carbono, armazenando-o sob a forma de ácido málico, o
qual é transformado em glicose pelo efeito da luz solar durante o dia (FERREIRA
et al., 2005).
O sistema radicular não é bem desenvolvido e sua função é principalmente
voltada para a fixação da planta. As bromeliáceas são divididas em três subfamílias:
a Pitcarnioideae, a Tillandsioideae, e a Bromelioideae. As Pitcarnioideae são
geralmente terrestres, com as margens das folhas armadas, flores hipógenas e
epígenas, cápsulas secas e deiscentes contendo sementes nuas ou com apêndice,
adaptadas à dispersão eólica. As Tillandsioideae incluem mais espécies epífitas,
com a margem das folhas lisas, flores geralmente hipógenas, e cápsulas deiscentes
e secas contendo muitas sementes plumosas, adaptadas à dispersão eólica. As
Bromelioideae, foco de maior atenção neste trabalho, são as mais numerosas. Estão
dispersas desde o leste brasileiro até a bacia amazônica. São preferencialmente
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ASPECTOS ECOLÓGICOS
O A. ananassoides é nativo principalmente nas condições de vegetação de
cerrado. As regiões de coleta de A. ananassoides têm como principais características
sua ocorrência em latossolos, argissolos ou neossolos, em depressões, planaltos
ou planícies, altitude entre 0 a 800m e temperatura média de 23 a 27˚C ( Fávero et
al. 2006).
RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. O Brasil é um dos principais centros de
diversidade genética de Ananas e Pseudananas. Portanto, ocorre uma ampla
variabilidade genética desses dois gêneros nas condições brasileiras. O Ananas
ananassoides tem ocorrência generalizada em varias regiões do Brasil, assim como
em outros paises circunvizinhos, sendo, portanto, a espécie com maior diversidade
do gênero Ananas.
O Ananas ananassoides pode ser propagado de forma sexuada, através de
sementes ou de forma assexuada, através de mudas. Na natureza, a maior parte
das populações é monoclonal, porém algumas são policlonais e existem, também,
as populações de origem seminífera, apresentando grandes variações morfológicas
atribuídas principalmente à origem sexual (DUVAL et al., 1997).
Devido a sua adaptação a diferentes tipos de condições climáticas, o Ananas
ananassoides está amplamente distribuído na natureza, o que confere maior alento
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abacaxi em 1940, na Guiné, composto por cultivares importadas. Esse banco foi
transferido inicialmente para Costa do Marfim, em 1958, e posteriormente, em 1985,
uma duplicata do banco foi instalada na Martinica.
Ao longo do tempo, houve a conscientização por parte dos melhoristas para
a necessidade de se ampliar a diversidade genética para que se aumentasse a
eficiência dos programas de melhoramento. Essa conscientização surgiu em vários
países. Surgiu também a necessidade do estabelecimento de parcerias no trabalho
de pesquisa, de coleta e de conservação dos recursos genéticos. Nas últimas
décadas, várias parcerias permitiram uma ampliação importante dos recursos
genéticos disponíveis.
Uma primeira parceria entre a Universidade Central de Venezuela e o
CIRAD-FLHOR, com a colaboração do IPGRI (International Plant Genetic Resources
Institute), propiciou a execução de quatro expedições de coleta na Venezuela,
resultando em uma centena de clones silvestres e cultivares tradicionais que foram
mantidos na Venezuela e na Martinica (LEAL et al. 1986).
Em 1989, a EMBRAPA iniciou uma parceria com o CIRAD-FLHOR, dentro
de um projeto financiado pela Comunidade Européia. Seis expedições de coleta
foram organizadas: no Amapá (junho-julho/1992), Acre e Norte do Mato Grosso
(setembro-outubro/1992), Guiana Francesa (março-abril/1993), Amazonas (Rio
Negro em julho-agosto/1993, Rio Solimões em novembro-dezembro/1993) e Sul
e Sudeste do Brasil (maio-junho/1994). Foram coletados 413 acessos de espécies
silvestres e clones de cultivares tradicionais.
Desde 1997, uma nova parceria reúne a EMBRAPA, o FONAIAP (Venezuela),
o CIRAD-FLHOR e a Universidade do Algarve (Portugal) em um projeto comum
de avaliação de germoplasma de abacaxi, visando à obtenção a médio prazo de
variedades melhoradas, com apoio da União Européia. Este projeto teve como
objetivo em curto prazo a caracterização morfológica, agronômica e molecular
do material vegetal coletado recentemente, com destaque para a pesquisa que
visa à identificação de fontes de resistência às doenças e pragas importantes,
como a fusariose, a mancha negra, a broca Strymon basilides (Geyer) e vários
nematóides.
Além das parcerias estabelecidas e voltadas para a coleta de germoplasma,
outras formas de enriquecimento das coleções vêm sendo conduzidas, dentre elas,
o intercâmbio bilateral entre países tem proporcionado a ampliação da variabilidade
genética disponível para os diferentes programas de melhoramentos desenvolvidos
ao redor do mundo.
Graças a esse esforço que foi empreendido para alavancar os programas
de melhoramento de abacaxi, foi possível resgatar e conservar, mais de uma
centena de acessos de Ananas ananassoides, muitos dos quais foram coletados
em condições de cerrado. Todo esse material vem sendo mantido em campo, no
BAG da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas – BA.
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VALOR NUTRICIONAL
São poucos os estudos de composição nutricional de Ananas ananassoides.
Os dados de caracterização e avaliação de germoplasma têm mostrado que se
trata de uma planta com frutos com altos teores de açucares, com alta acidez e,
provavelmente, rica em vitamina C e em elementos minerais. Como o Ananas
ananassoides é geneticamente muito próximo do abacaxi cultivado (Ananas
comusus), pode-se supor que os dados da composição química de ambos possam
ter alguma semelhança. Neste particular, Medina et al. (1978) dão mais detalhes
da composição do fruto de abacaxi, confirmando que é um fruto rico em vitaminas,
especialmente vitamina C e também muito rico em potássio.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 2
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
A exploração de Ananas ananassoides para obtenção de fruto é ainda
incipiente, portanto, do ponto de vista econômico, é uma atividade pouco expressiva.
Já do ponto de vista social, esta atividade, quer seja extrativista quer seja através de
pequenos plantios, tem importância relevante, tendo em vista a sua peculiaridade
de fixar o homem no campo e oferecer formas alternativas de emprego e renda,
alem de prover uma fonte alternativa de alimentação saudável.
Para a exploração de Ananas ananassoides como planta ornamental, pode-
se trabalhar com ótimas perspectivas, tendo em vista que o Produto Interno Bruto
do negócio envolvendo flores e plantas ornamentais, no Brasil, está estimado em
US$ 1,2 bilhões. Este mercado vem crescendo cerca de 20% ao ano no Brasil.
Atualmente, o cultivo e a comercialização de plantas ornamentais, principalmente as
tropicais vem se expandindo na região Nordeste, com destaque para os Estados de
Pernambuco, Ceará e Bahia, em função da sua beleza, exuberância e durabilidade
das suas flores. Dentre as plantas tropicais utilizadas como ornamentais, o abacaxi
vem se destacando. Atualmente, a espécie Ananas lucidus está sendo cultivada
no Estado do Ceará e suas inflorescências exportadas para a Europa; a espécie
Ananas bracteatus apresenta grande potencial pela beleza da inflorescência e da
coroa, ambos parentes silvestres de Ananas ananassoides. A produção de mudas
de qualidade foi possível graças ao desenvolvimento, realizado pela Embrapa, de
protocolos para a propagação in vitro tanto do Ananas lucidus como da variedade
porteanus (CORRÊA, 1952; CAVALCANTE et al., 1999). O Ananas ananassoides
objeto deste estudo, ainda pouco explorado para o agro-negócio ornamental,
apresenta um grande potencial, tendo em vista a sua enorme diversidade
genética.
O mercado de flores e plantas ornamentais representa um importante
papel social e na geração de empregos, pelo fato de ser a atividade agrícola que
pode proporcionar maior rentabilidade por área cultivada, retorno financeiro mais
rápido e é praticada, essencialmente, em pequenas áreas de agricultura familiar.
Há espaço no mercado mundial para maior participação de flores não tradicionais,
o que favorece as espécies de clima tropical e, no país, encontram-se microrregiões
excepcionalmente favoráveis (LAMAS, 2002).
A produção de abacaxi ornamental é ainda muito pequena, mas o mercado
é crescente, principalmente o mercado exportador, dentre outros fatores, pela maior
longevidade das inflorescências, quando comparadas com as flores comumente
utilizadas, como as rosas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O abacaxi do cerrado, Ananas ananassoides, a única espécie do
gênero Ananas nativo nas condições de vegetação de cerrado, é uma espécie
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 2
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Frutas do Brasil, 7)
38
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 2
39
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
ARAÇÁ
João Emmanoel Fernandes Bezerra
Ildo Eliezer Lederman
Josué Francisco da Silva Junior
Carolyn Elinore Barnes Proença
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
INTRODUÇÃO
As plantas conhecidas popularmente por “Araçá” ou “Araçazeiro” são
mirtáceas de ampla disseminação no território nacional. Por essas denominações
são encontradas inúmeras espécies do gênero Psidium produtoras de frutos
comestíveis. Psidium guineense Swartz apresenta importância destacada não
somente para a Região Centro-Oeste, mas também para grande parte do Brasil.
Entre as várias utilizações dos araçazeiros destacam-se o aproveitamento
doméstico dos frutos e da madeira, além do uso da raiz, casca e folhas na medicina
popular. Acredita-se que o incentivo ao consumo in natura e o cultivo dessas
frutas, juntamente com a produção artesanal e agroindustrial de alimentos poderão
beneficiar muitas comunidades locais.
Apesar dos vários tipos de aproveitamento que podem ser oferecidos pelas
diversas espécies, os araçazeiros ainda não possuem expressão econômica no
contexto da fruticultura nacional, não existindo, inclusive, pomares comerciais.
A ausência de informações agronômicas, aliada às ameaças de extinção
em áreas remanescentes, torna necessária a sua conservação, bem como o
desenvolvimento de pesquisa em recursos genéticos e melhoramento, propagação
vegetativa, nutrição mineral e adubação, práticas culturais e processamento
industrial.
TAXONOMIA
A família Myrtaceae reúne cerca de 102 gêneros e 3.024 espécies,
distribuídas e cultivadas em diversos países de climas tropical e subtropical, no
entanto quatro gêneros se destacam como os mais importantes entre as fruteiras de
interesse econômico – Feijoa, Eugenia, Myrciaria e Psidium (MANICA et al., 2000).
O gênero Psidium é originário das Américas Tropical e Subtropical e é
constituído de cerca de 100 espécies de árvores e arbustos (Landrum e Kawasaki,
1997), das quais a mais importante é a goiabeira (P. guajava L.). O gênero engloba
também inúmeras outras espécies produtoras de frutos comestíveis, madeireiras
e ornamentais, com grande potencial para exploração comercial. Entre essas
espécies, os araçazeiros são merecedores de maior atenção, especialmente devido
a algumas características específicas de seus frutos, como sabor exótico, teor
elevado de vitamina C e boa aceitação pelos consumidores (MANICA et al., 2000;
PIRES et al., 2002).
Ainda existe grande confusão quanto à nomenclatura científica das espécies
de Psidium (CORRÊA, 1978; MEDINA, 1988; MATTOS, 1993; THE UNIVERSITY
OF MELBOURNE, 2004; IPNI, 2004; LANDRUM, 2005; MISSOURI BOTANICAL
GARDEN, 2005; USDA-ARS-GRIN, 2005), com algumas espécies necessitando de
confirmação sobre a sua utilização pois, segundo Mattos (1993), foram estudadas
apenas através de material botânico herborizado (ramos e flores). As espécies que
ocorrem na Região Centro-Oeste podem ser visualizadas na Tabela 1.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
DESCRIÇÃO
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45
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P s i d i u m GO
maranhense
O. Berg
Psidium riparium P. paraense Goiaba-da-praia, PA, TO, GO
Mart. ex DC. O. Berg, P. a r a ç á - d a - m a t a
sieberianum
O. Berg, P.
thyrsodeum
(Kuntze) K. Schum.
P s i d i u m A r a ç á - d a - m a t a DF, GO
canum Mattos
Psidium lourteigii GO
D. Legrand
Psidium macedoi GO (endêmico de
E. Kausel Niquelândia)
P s i d i u m GO
turbinatum Mattos
Fontes: Pio-Corrêa, 1978; Medina, 1988; Mattos, 1993; The
University of Melbourne, 2004; IPNI, 2004; Landrum, 2005;
Missouri Botanical Garden, 2005; USDA-ARS-GRIN, 2005
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. Informações sobre a erosão genética
em araçazeiros em todo o Brasil são indisponíveis, no entanto presume-se que
essas espécies estão com acentuada perda de genes, em função da devastação
dos ecossistemas nos quais as populações ocorrem de forma nativa. A coleta de
germoplasma faz-se necessária, uma vez que, seguramente, muito tem sido perdido
em função da destruição desses ecossistemas. Os recursos conservados ex situ
são praticamente inexistentes, exceção se faz a poucas coleções ativas mantidas
em instituições de pesquisa do país e coleções didáticas em algumas universidades
e organizações estaduais de pesquisa agropecuária.
Conservação de germoplasma. As sementes de P. guineense não devem
ser armazenadas, uma vez que têm sua qualidade fisiológica reduzida, com perdas
significativas no vigor e germinação (Cisneiros et al., 2003), o que faz com que
o seu germoplasma ex situ seja obrigatoriamente conservado a campo. Nesse
sentido, apenas duas coleções de germoplasma são conhecidas no país, a de P.
guineense, no IPA e a de P. cattleyanum, na Embrapa Clima Temperado. A primeira
foi implantada na Estação Experimental de Itapirema, em Goiana, PE, a partir de
1989, com 108 acessos propagados por semente e mantidos sob condições de
campo. A grande maioria desses genótipos (104 acessos) é proveniente da Ilha
de Itamaracá, PE, e apenas quatro têm como procedência a UNESP-FCAV de
Jaboticabal, SP (SILVA, 1999; SILVA JUNIOR et al. 1999).
A segunda coleção é constituída de oito acessos (Raseira, 1999) implantados
também em campo, a partir de 1985, na sede da Embrapa Clima Temperado, em
Pelotas, RS. O germoplasma foi coletado principalmente nos arredores de Pelotas e
Rio Grande, no Planalto Central do Rio Grande do Sul (Ijuí e Passo Fundo) e no Sul
51
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
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Com base nesses dados, os frutos de araçá não podem ser considerados
alimentos calóricos, pois apresentam valor energético de apenas 44,5 kcal/100
g. Segundo Caldeira et al. (2004), o araçá pode ser considerado uma boa fonte
de minerais quando comparados com frutos mais comumente consumidos pela
população, como a maçã, a pêra e o abacaxi. Os teores de minerais do araçá
coletado em Mato Grosso do Sul encontram-se na Tabela 3.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CRONQUIST, A. The evolution and classification of flowering plants. 2. ed.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 3
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
ARATICUM
José Teodoro de Melo
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
FAMÍLIA
Annonaceae. Essa família possui 132 gêneros e cerca de 2300 espécies
sendo a mais diversificada e próspera família da primitiva ordem Magnoniales. As
principais características da família, segundo Joly (1975) são: plantas lenhosas
(árvores ou arbustos), com folhas inteiras de disposição alterna dística, sem
estípulas. As flores são isoladas ou reunidas em inflorescências, grandes ou
pequenas, hemicíclicas, hermafroditas, diclamídeas, com perianto diferenciado
em cálice e corola, em geral trímeros (3 sépalas e 3 pétalas) carnosos. Estames
muito numerosos, dispostos espiraladamente. Ovário súpero com carpelos muito
numerosos dispostos em geral espiraladamente, livres entre si (raramente soldados)
apocárpicos, com um a muitos óvulos. Fruto apocárpico baciforme (raramente seco
capsular e com frutículo separado, como em Xilopia). Semente caracteristicamente
com endosperma ruminado. Segundo Mendonça et al. (1998), essa família está
representada no bioma cerrado por 45 espécies, destacando pelo seu potencial
frutífero os gêneros Annona L., Duguetia St. Hil e Rollinia St. Hil.
DESCRIÇÃO
Árvore de 4 a 8m de altura, com tronco geralmente tortuoso de 20 a 30cm
de diâmetro, revestido por casca áspera e corticosa; folhas alternas simples; flores
axilares, com pétalas engrossadas e carnosas (LORENZI, 1998). Fruto com cerca de
15cm de diâmetro, 2kg de peso, oval arredondado, externamente marrom claro com
polpa creme amarelada firme, sementes numerosas, elípticas e marrom escuras
(ALMEIDA et al., 1998) (Figuras 1 e 2).
a) b)
FIGURA 2. a) Detalhe das flores e da casca de araticum (Foto: José Felipe Ribeiro;
b) Aspecto do fruto e da polpa de araticum (Foto: José Antônio da Silva).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
ASPECTOS ECOLÓGICOS
Planta decídua, heliófita, típica do cerrado, principalmente de terrenos
elevados. Produz anualmente grande quantidade de sementes dispersas por
animais (LORENZI, 1998). A densidade do araticum varia de acordo com a região
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
RECURSOS GENÉTICOS
Ainda existem áreas onde são encontradas populações de araticum que
podem ser usadas para coleta de germoplasma. Um bom exemplo é a área do
Exército existente no município de Formosa-GO, onde a Embrapa Cerrados tem
realizado expedições de coleta e ao mesmo tempo marcado várias matrizes. De
acordo com Ribeiro et al., (2000), a julgar pela variabilidade fenotípica encontrada
nos frutos (peso, forma e volume) e na polpa (cor, consistência e sabor), pode se
inferir que há grande variabilidade genética no ambiente de ocorrência natural. A
semente apresenta comportamento ortodoxo, podendo, portanto ser conservada
em condições de banco de germoplasma – semente. Entretanto, devido ao tipo
de dormência apresentado pelas mesmas, a exposição à temperatura de –20oC
pode resultar em desenvolvimento de dormência secundária. Telles et al., (2003),
observaram em populações naturais de araticum um valor significativo para o
coeficiente de endogamia total, decorrente de uma estruturação genética em
nível populacional, sendo as populações constituídas por indivíduos com grau
de coancestria acima da média. Como conseqüência, uma significativa parcela
da variabilidade genética total encontra-se entre as populações locais, estando
as diferenças interpopulacionais associadas, possivelmente,à posição geográfica
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
VALOR NUTRICIONAL
Comparando o valor nutricional do araticum com o da manga, Almeida et
al. (1987) encontraram maiores valores de hidratos de carbono, cálcio e fósforo.
Comparado com outras frutas do cerrado, o araticum apresentou baixo teor de
vitamina C, porém maior do que algumas frutas cultivadas como banana d’água e
maçã argentina.
O araticum, se comparado com outras frutas, pode ser considerado uma
boa fonte de lipídeos e de fibras dietéticas (Tabela 1). Os lipídeos da polpa são
especialmente interessantes para o consumo in natura, devido à presença do ácido
linolênico (Tabela 2), que é um ácido graxo essencial, ou seja, não é sintetizado
pelo organismo humano e deve ser ingerido através da dieta (AGOSTINI et al.,
1995). Além disso, a polpa de araticum é uma boa fonte de ferro e de pró-vitamina
A. A polpa apresenta nove carotenóides, com predominância do beta-caroteno, que
é o principal carotenóide pró-vitamina A. Os araticuns procedentes de diferentes
populações nativas no sul de Minas Gerais apresentaram teores satisfatórios de
pró-vitamina A, que variaram entre 70 e 253 retinol equivalente por 100g de polpa
(AGOSTINI et al.,e 1996).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
Os dados de produtividade e preço de araticum não são oficialmente
disponíveis, porém alguns produtores dão algumas informações. De acordo com
Solano Antônio Bento Filho (comunicação pessoal), produtor de Itararé, SP, o
preço, na safra de 2000, chegou a cinco reais por fruto. O produtor Jorge Razuk
(comunicação pessoal) de Padre Bernardo, GO, distante cerca de 9 km de Brasília,
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O araticum apresenta algumas peculiaridades que podem ser consideradas
como fatores positivos para que se torne uma fruteira cultivada. Entre esses pontos,
podemos destacar: a) o tamanho e as características físicas do fruto atraem o
consumidor; b) já dispõe de mercado, ainda que seja local, sendo vendido em
feiras e sacolões; c) os frutos já são explorados por pequenas indústrias de doces,
sorvetes e outros produtos alimentícios; d) embora seja espécie nativa, já dispõe de
razoável conhecimento gerado pelas pesquisas, principalmente sobre a produção de
mudas; e) apresenta boa produção de polpa e facilidade de uso em despolpadeiras
já existentes para outras frutas, principalmente Annonaceas.
Entre as necessidades de pesquisa, podemos destacar os seguintes
pontos: a) os frutos são altamente perecíveis, podendo dificultar a comercialização;
b) produção irregular, com anos de alta e de baixa produtividade; c) os frutos e as
sementes são muito atacados por broca-do-fruto (Cerconota anonella) e da semente
(Bephratelloides pomorum); d) as sementes possuem alto grau de dormência, o que
pode dificultar a produção de mudas em grande escala.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOSTINI, T. S.; CECCHI, H. M.; BARRERA-ARELLANO, D. Caracterização
química da polpa e do óleo de marolo. Archivos Latinoamericanos de Nutricion,
Caracas, VE, v. 45, n. 3, p. 237-241, 1995.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 4
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 5
BARU
Sueli Matiko Sano
Márcia Aparecida de Brito
José Felipe Ribeiro
NOME COMUM. O nome comum varia com o local, sendo mais conhecido como
baru (Figura 1) nos estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Distrito Federal;
cumbaru em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; barujo, coco-feijão ou
cumaru no Mato Grosso.
Figura 1. Galhos com frutos imaturos de baru (Dipteryx alata Vog). (Foto: S.M.
Sano).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 5
FAMÍLIA
Esta espécie pertence à família Leguminosae, com cerca de 18.000
espécies, agrupadas em três subfamílias com características florais bastante
distintas: Caesalpinoideae, Mimosoideae e Faboideae. Nesta última subfamília, de
ampla distribuição, com aproximadamente 482 gêneros e 12.000 espécies, inclui-
se o gênero Dipteryx. As plantas lenhosas deste grupo são mais representadas
nas regiões tropicais, enquanto as herbáceas, que possuem características mais
avançadas, são mais difundidas nas regiões temperadas (BARROSO, 1991).
DESCRIÇÃO
Árvore com altura média de 15 m, podendo alcançar mais de 25 m. O
formato da copa varia de alongada (Figura 2a) a arredondada, de 6 a 11 m de
diâmetro. A casca do tronco é lisa, de cor cinza-claro (Figura 2b) ou creme, com
estrias transversais, apresenta placas de formato irregular descamantes, deixando
reentrâncias de cor creme (Figura 2c).
a)
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b) c)
Figura 2. a) Árvore adulta de baru (Dipteryx alata Vog.)(Foto:
N.O. Paes); b) Tronco acinzentado com estrias e placas
descamantes deixando (c) reentrâncias de cor creme.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 5
a) b)
Figura 3. a) Sementes do baru e aspecto geral do fruto cortado,
da polpa e do caroço (Foto: J. A. Silva); b) Fruto comido pelo
gado apresentando endocarpo duro e sementes com fissuras no
tegumento. (Foto: C. Cherne).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 5
ASPECTOS ECOLÓGICOS
O barueiro apresenta frutos maduros durante a estação seca no Cerrado,
sendo uma espécie importante para alimentação de aves, quirópteros, primatas e
roedores nessa época (MACEDO et al., 2000). A dispersão dos frutos é barocórica
(por gravidade) e também zoocórica. Neste ultimo caso os morcegos retiram os frutos
das árvores e levam para pouso de alimentação deixando cair no caminho (MACEDO
et al., 2000). Os caroços ou frutos com mesocarpo consumido parcialmente são
encontrados no local de pouso, como a mangueira. Os bovinos ingerem o fruto inteiro
e eliminam o caroço, tanto sob árvores, quanto nas áreas onde permanecem para
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CONSERVAÇÃO GENÉTICA
1Comunicação pessoal de Dr. Lázaro Chaves, da Univ. Fed. de Goiás, através de e-mail, 20/06/2005
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VALOR NUTRICIONAL
A polpa é, na sua maioria, composta de carboidratos (amido, 38%; fibra,
29,5% e açúcar, 20,2%), enquanto a amêndoa contém mais lipídios (40,2%), seguida
de proteínas (29,6%) e carboidratos (27,3%), como pode ser observado na Tabela
2. O valor calórico da polpa (310 Kcal) é menor que a amêndoa (561 Kcal), devido a
maior proporção de lipídios e proteínas na última (VALLILO et al., 1990).
O óleo das sementes tem cerca de 80% de insaturação (VALLILO et al., 1990;
TOGASHI e SCARBIERI, 1994; TAKEMOTO et al., 2001) tendo predominância dos
ácidos graxos oléico e linoléico (Tabela 3). Esse óleo é semelhante ao óleo de oliva
pelo grau de insaturação, índices de iodo e refração, mas difere na composição dos
ácidos graxos (VALLILO et al., 1990). Nesse aspecto e em tocoferóis, é semelhante
ao óleo de amendoim (TAKEMOTO et al., 2001). É recomendado para o consumo
humano por conter ácido graxo essencial (ácido linoléico), ausência de ácido com
anel ciclopropênico e baixa acidez (VALLILO et al., 1990), mas é suscetível à
oxidação devido ao alto grau de insaturação. A composição de ácidos graxos obtidos
pelos três autores são muito similares para sementes de origens diferentes.
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Vallilo et al. (1990), embora esses resultados não sejam comparáveis por terem sido
realizados em condições distintas
TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA
2
proprietário rural de Padre Bernardo, GO.
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IMPORTÂNCIA SOCIO-ECONÔMICA
Dados oficiais sobre a produção e comercialização dos produtos provenientes
do extrativismo de baru não existem, até o momento. É um mercado com muito
potencial, embora a oferta encontre-se restrita a algumas cidades próximas à
área de produção como Pirenópolis, GO, Alto Paraíso, GO, Colinas do Sul, GO e
Brasília, DF, além de Goiânia, GO, Campo Grande, MS, Formosa, GO, Diorama,
GO e Mateiros, TO. A amêndoa torrada é comercializada em feiras, ou em lojas de
produtos naturais, com possibilidade de crescimento em conjunto com a expansão
da indústria do ecoturismo, como tem sido observado em Pirenópolis, GO.
A amêndoa de baru como substituto das nozes é alternativa interessante, e
vem sendo usado na elaboração do pesto (molho italiano para massas), podendo
atender a restaurantes e ao mercado externo, grande consumidor de nozes. A
amêndoa tem sido utilizada na composição de cereais matinais na forma de barras,
bombons, bolos e licores.
O preço de comercialização é muito variável, dependendo da região
e da produção. Em Pirenópolis, GO, a semente de baru crua foi comercializada
por R$16,00/kg. Neste local foi comercializada 400 sacas de 45kg de fruto,
correspondendo à uma tonelada. O preço da amêndoa torrada, em embalagens de
50 g, varia de R$2,00 a R$3,50.
Produtos derivados da semente de baru, como licor (Baruzetto), o molho pesto,
barra de cereais e biscoito integral de baru (unidade de 100g) são comercializadosa
R$25,00 (garrafa), R$9,00 (vidro), R$2,00 e R$3,00, respectivamente, em Brasília,
DF. Outros produtos como, a semente de baru torrada (100 g) são encontrados
nas lojas de produtos naturais por R$6,00, e trufa de baru, com preço no atacado
de R$ 14,00 (cestinha com 10 unidades). Esses preços variam com as lojas
comerciais, produção do ano e os processos de industrialização, como torragem e
salgamento3.
A demanda por produtos oriundos de espécies nativas e de sabor exótico
3
Informações sobre empresas que comercializam este e outros produtos do Cerra-
do na região podem ser encontrados no http://cerradobrasil.cpac.embrapa.br/ no
ícone produtos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os aspectos positivos para que os produtos de baru sejam ampliados
na cadeia de comercialização em escala regional, a curto prazo, são a alta
produtividade, a facilidade no transporte e armazenamento dos frutos e a qualidade
do produto. Como alimento, a amêndoa é rica em proteínas, lipídios insaturados,
fibras e minerais essenciais. O fruto amadurece na época seca e alimenta várias
espécies da fauna do Cerrado, sendo classificado como uma espécie chave. Pode
ser explorado como um produto que favorece a conservação da biodiversidade,
quando manejado adequadamente.
Os aspectos negativos para o comércio são a irregularidade na produção de
frutos, e a necessidade de uso de substâncias que retardam a oxidação dos óleos.
O barueiro é espécie promissora para cultivo, pois possui alta taxa de
germinação de sementes e de estabelecimento de mudas, fruto comestível, madeira
durável, ornamental e usada na medicina. Além disso, a queda de folhas, rica em
nitrogênio e cálcio, promove a manutenção da matéria orgânica e nutrientes no
solo, beneficiando espécies, que possuem raízes menos profundas. A longo prazo,
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 6
BURITI
Renata C. Martins
Paulo Santelli
Tarciso S. Filgueiras
NOMES COMUNS: Em tupi-guarani buriti quer dizer dembyriti – palmeira que emite
líquido (Figura 1), sendo conhecido pelos índios como um indicador potencial da
presença de água. Nome que sofreu poucas modificações até chegar ao termo
atual: buriti. Há ainda quem o conheça por miriti, carandá-guaçú, carandaí-guaçú,
muriti, palmeira-buriti, palmeira-dos-brejos, mariti, bariti, meriti. Também designada
como árvore da vida, servindo como fonte de sustento para antigas tribos indígenas,
sendo assim até os dias atuais em muitas regiões do Brasil.
O topônimo buriti é extremamente comum em todo o Brasil. No Distrito
Federal, Kirkbride e Filgueiras (1993) registram a ocorrência de 16 topônimos com
esse nome, incluindo, dentre outros, córregos, fazendas e chácaras. O Palácio do
Governador do Distrito Federal é chamado de “Palácio do Buriti”, como também
a praça situada em frente ao Palácio. Nessa praça, um único exemplar de buriti
(alusão ao poema “Buriti solitário”, do poeta Cruz e Souza) ornamenta o local.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 6
FAMÍLIA
ARECACEAE C. H. Schultz-Schultzenstein, Naturliches System des
Pflansenreichs 317. 1832 (nome alternativo conservado). PALMAE Jussieu, Genera
Plantarum 37. 1789 (nome conservado).
As palmeiras são plantas monocotiledôneas de distribuição principalmente
nos trópicos e subtrópicos úmidos e uma das poucas do grupo com hábito
arborescente. A família tem aproximadamente 189 gêneros e 3000 espécies
(UHL e DRANSFIELD, 1999). Henderson et al., (1995) estimam a presença de 67
gêneros e 550 espécies para a América; no Brasil ainda são escassas as coleções e
estudos em populações nativas. Os primeiros estudos sobre as palmeiras do Brasil
são de Martius (1882) na célebre Flora Brasiliensis. De igual importância para o
conhecimento das palmeiras brasileiras são os estudos de J. Barbosa Rodrigues
(1903), sintetizados na obra Sertum Palmarum Brasiliensium.
As palmeiras ocorrem naturalmente em diferentes ambientes, são cultivadas
em jardins, canteiros e nas avenidas das cidades. Fornecem alimento para diversos
animais, como macacos, tucanos, papagaios, muitos mamíferos, peixes e insetos,
representando para muitos o principal alimento de suas dietas.
Para as culturas indígenas na Amazônia as palmeiras são consideradas
as plantas mais importantes (Henderson et al., 1995); na região do Cerrado não é
muito diferente, indígenas, kalungas e brancos também fazem uso dos produtos das
palmeiras nas suas diversas formas: construção, alimentação, artesanato, rituais e
medicina (MARTINS et al., 2003 a; NASCIMENTO et al., 2003).
DESCRIÇÃO
O Gênero Mauritia está representado por palmeiras muito grandes,
solitárias ou raramente em grupos e contém duas espécies (HENDERSON et al.,
1995); Mauritia carana A.Wallace, que ocorre nos estados do Amazonas e Roraima
(LORENZI et al., 2004; HENDERSON et al., 1995) e Mauritia flexuosa, amplamente
distribuída na América do Sul.
Mauritia flexuosa L.f. Planta dióica, inerme ou armada com pequenos acúleos
nos folíolos, 2-25m alt. Estipe solitária, aérea. Folhas cerca de 14 por indivíduo
com aproximadamente 3,5m de comprimento, costopalmadas. Pecíolo 0,6-2,8m de
comprimento. Brácteas pedunculares numerosas, tubulares, dísticas, envolvendo
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 6
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ASPECTOS ECOLÓGICOS
Fenologia. O buriti é uma espécie dióica. As plântulas são de crescimento
lento e os indivíduos levam muitos anos para atingir a maturidade sexual,
reprodutiva. Quase nada se sabe sobre a proporção de plantas femininas em relação
às masculinas na natureza. Entretanto, contagens preliminares efetuadas pelos
autores no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, em Minas Gerais, sugerem
que as plantas masculinas são em número maior que as femininas. Na região
do Cerrado, o buriti floresce nos meses de março a maio, mas apresenta frutos
durante quase todo ano. O buritizeiro ocorre naturalmente com maior freqüência em
áreas inundadas, sendo comum encontrar 60 a 70 buritizeiros femininos e 75 a 85
buritizeiros masculinos por hectare (CYMERYS et al., 2005). Prada (1994) estudou a
espécie na Estação Biológica de Águas Emendadas, Distrito Federal, relacionando
a produção de frutos com a ocorrência de frugívoros associados à dispersão dos
mesmos. Segundo Prada (1994), a espécie representa um importante fornecedor
de alimento para a fauna, principalmente pela grande oferta de frutos durante quase
todo ano.
Importância ambiental. Presentes nas veredas e matas de galeria, os
buritis são indicadores ecológicos da presença de água na superfície, como também
de solos mal drenados e encharcados. São freqüentemente associados com a
existência de nascentes e poços d´água.
As populações de M. flexuosa (Buriti) têm sofrido forte pressão antrópica
no Cerrado, devido à expansão das lavouras de monocultura e agropecuária,
com a destruição de nascentes e veredas. Todas as espécies nativas, e aqui se
incluem as palmeiras, estão inseridas em um contexto ecológico, cada qual em
seu ambiente de origem, com suas funções e importância em seu ecossistema
específico, relacionadas com o ambiente e a fauna da região. A procedência dos
produtos do extrativismo precisa ser conhecida, a fim de que sejam respeitadas às
regras botânicas e ecológicas do desenvolvimento sustentável.
O buriti é, normalmente, coletado por profissionais “apanhadores” (PALLET,
2002). É fundamental que a coleta respeite o meio ambiente. Pela lei brasileira,
é necessário que haja comprovação de manejo, através da apresentação de um
plano de exploração – “plano de manejo” – junto ao IBAMA, o organismo nacional
que controla a exploração sustentável destes recursos. O respeito às novas regras
de biopropriedade é firmado através de termos de compromisso para com os
proprietários tradicionais do recurso natural. Estes proprietários devem garantir
a implantação de regras de acesso à biodiversidade e as modalidades de uma
distribuição justa das vantagens esperadas de sua exploração (PALLET, 2002).
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RECURSOS GENÉTICOS
Trata-se de uma espécie que foi incipientemente domesticada na época de
contato (CLEMENT, 2001). A erosão genética ocorre à medida que as populações
naturais desaparecem, sem que se obtenham amostras de sua variabilidade.
Como se trata de uma espécie de ampla distribuição, espera-se que existam
grandes variações, tanto no aspecto morfológico, quanto anatômico, fisiológico e
de estrutura genética. O fato de a espécie ser dióica (plantas de sexos separados),
torna a variabilidade dentro da população ainda mais plausível. Neste contexto, a
conservação in situ e ex situ torna-se prioritária.
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Figura 5: Biombo de buriti. Tom das Ervas, Alto Paraíso, GO. Foto: R.C.Martins.
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Figura 8: Parede de casa com pecíolo de buriti. Urucuia, MG. Foto: G.Damasco.
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VALOR NUTRICIONAL
O buriti é uma das fontes vegetais mais ricas em pró-vitamina A (frutos
do Piauí apresentaram 6.490 retinol, equivalente por 100g de polpa). A cenoura,
tradicionalmente conhecida como uma das principais fontes de pró-vitamina A na
dieta, apresenta valores entre 620 e 800 RE/100g. O potencial vitamínico do buriti
é reflexo do elevado teor de beta-caroteno presente (AGOSTINI-COSTA et al.,
1994; RODRIGUEZ-AMAYA, 1996). O doce de buriti foi empregado com sucesso
na reversão de quadros clínicos de xeroftalmia em crianças entre 4 e 12 anos,
sugerindo sua possível utilização em programas de intervenção para combater a
deficiência de vitamina A (MARIATH et al., 1989).
Além do potencial pró-vitamina A, o buriti é uma boa fonte de ferro, de
cálcio, de óleo e de fibras. O óleo é rico em ácidos graxos monoinsaturados,
principalmente ácido oléico (Tabela 2), mas o principal apelo é a sua coloração
laranja-avermelhada, que se deve ao elevado teor de carotenóides, principalmente
beta-caroteno (AGOSTINI-COSTA et al., 1994; BARRERA-ARELLANO et al., 1995;
ALMEIDA, 1998).
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IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
A despeito da importância que o extrativismo desempenha na formação
econômico-social do Cerrado, praticamente inexistem informações na literatura.
Provavelmente em função da primazia da lavoura e pecuária, percebe-se que, na
maioria das atividades extrativistas, a utilização dos recursos vegetais representa
uma atividade de importância econômica secundária (HOMMA, 1993).
No estudo da oferta de produtos do buriti, identifica-se na região Centro-
Oeste a comercialização de produtos originados das folhas para o artesanato e dos
frutos, para alimentação e cosmética. Entretanto, não existem dados suficientes
sobre a utilização do buriti para uma análise da economia extrativa da espécie.
Recentemente o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)
reconheceu alguns produtos derivados do pecíolo do buriti passíveis de
patenteamento. Em 2004, em Belém, 100 ml do óleo foram vendidos por R$ 5,00;
o quilo da polpa atingiu R$ 8,00; e um paneiro com 15 frutos custou R$ 1,00. Entre
1997 e 1998, 20 frutos custavam R$ 0,50 (CYMERYS et al., 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as plantas úteis presentes no Bioma Cerrado, o Buriti destaca-se
por sua significativa oferta de produtos e importância ambiental. Mesmo estando
presente em Áreas de Proteção de Permanente (APP), segundo o Código Florestal
Brasileiro, as veredas estão sendo ameaçadas devido à ocupação irracional desses
ambientes. É freqüente observar lavouras e queimadas próximo as veredas, tendo
como conseqüência á perda de água, morte de buritis e comprometimento das
novas gerações da espécie (Figura 10).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 6
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CAGAITA
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FAMÍLIA
A cagaiteira pertence à família Myrtaceae, subfamília Eugenioideae, tribo
Eugeniinae. O nome da família vem do termo grego myrtos que quer dizer perfume.
A família é representada no Cerrado por 14 gêneros, com 211 espécies, sendo
considerada uma das 10 famílias mais representativas desse bioma, que contribuem
com cerca de 51% da sua riqueza florística. Dentro do gênero Eugenia, podem-se
encontrar cerca de 50 espécies, que apresentam hábitos que variam desde ervas
até árvores, ocupando praticamente todas os tipos fitofisionômicos do Cerrado
(FERREIRA, 1972; MENDONÇA et al., 1998).
A família Myrtaceae compreende cerca de 3.500 espécies, subordinadas
a cerca de 100 gêneros, que apresentam dois centros principais de diversidade, a
América tropical e a Austrália. Poucas espécies ocorrem nas regiões temperadas.
Segundo a maioria dos autores, as Myrtaceae estão divididas em três tribos: Myrciinae,
Eugeniinae e Pimentinae; seis subfamílias: Eugenioideae, Myrtoideae, Plinioideae,
Cryptorhizoideae, Aemenoideae e Myrcioideae. A sistemática das Myrtaceae é um
problema difícil de solucionar. Somente um levantamento cuidadoso das espécies,
em cada região, aliado a estudos de biossistemática, poderá esclarecer e delimitar
os taxa (BARROSO, 1991).
DESCRIÇÃO
A cagaiteira é uma árvore de altura mediana (4m a 10m) de tronco e ramos
tortuosos, com uma casca suberosa e fendada bem característica, com folhas novas
membranáceas e folhas adultas coriáceas, glabras ou quase glabras nas duas faces,
opostas-cruzadas, de ovaladas a elípticas, decíduas durante o florescimento (Figura
2a). Suas flores vistosas formam panículas fasciculadas e são brancas, delicadas
com quatro pétalas, com cálice de quatro lacínios ovados e ciliados (Figura 2b). Seus
estames são muito exertos e claros. Seus frutos são bagas globosas, suculentas,
de cor amarelo clara e de sabor agradável a levemente ácido (Figuras 1 e 3). Suas
sementes são elipsóides e achatadas (RIZZINI, 1971).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 7
a) b)
Figura 2. Eugenia dysenterica DC, árvore (a) e galho florido (b). Foto R. V. Naves.
Figura 3. Ramo de cagaiteira com frutos verdes e “de vez” (Foto: L. J. Chaves).
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ASPECTOS ECOLÓGICOS
Fenologia. A maior freqüência da floração da cagaiteira ocorre no mês de
agosto (Heringer e Ferreira, 1974). A floração branca é abundante e ocorre com
a planta totalmente desprovida de folhas, dando um efeito altamente ornamental
à planta. A floração, porém, é rápida e as folhas novas avermelhadas começam
a brotar, mudando a coloração geral da planta à distância. Os frutos crescem
rapidamente em atmosfera ainda seca e caem maduros no fim de setembro e início
de outubro. Em alguns anos, todo o processo de floração e frutificação se dá com
ausência total de chuvas, sendo que a planta utiliza-se de reservas acumuladas e
água buscada do subsolo. Ribeiro (1991) caracterizou o padrão de frutificação da
cagaiteira como curto, com o fruto não permanecendo na árvore por mais de 14 a 16
semanas. A frutificação é abundante e os frutos são consumidos por vários animais
silvestres e domésticos. O morcego é um importante dispersor de sementes, uma
vez que carrega o fruto para se alimentar em pontos diferentes da planta mãe.
A planta possui grande resistência ao fogo, provavelmente, porque na época de
incidência de queimadas, ela já perdeu toda a sua folhagem, além de apresentar
casca espessa e suberosa.
Em um trabalho de caracterização de frutos e árvores de cagaita de dez
populações da região sudeste de Goiás, Silva et al. (2001) encontraram uma variação
de 4,1 m a 11,0 m na altura de plantas adultas, com média de 6,5 m. O peso de um
fruto variou de 2,9 g a 41,9 g, com média de 12,7 g. O número de sementes por fruto
variou de 1 a 6, com média de 1,7, enquanto o peso médio da semente ficou em 1,31
g, com variação de 0,07 g a 3,58 g. Houve uma tendência das plantas apresentarem
maior altura e diâmetro de copa em áreas de pastagem em comparação com áreas
pouco antropizadas. Este fato se deve, provavelmente, à menor competição por luz
nas áreas abertas.
Distribuição e estrutura das populações. A distribuição espacial das
plantas de cagaita se dá preferencialmente em agregados, com subpopulações
geograficamente descontínuas, mesmo em áreas preservadas (CHAVES e NAVES,
1998). No trabalho de Naves (1999), em uma das áreas foram encontrados 162
indivíduos em um hectare, mostrando a formação de subpopulações densas da
espécie. Mesmo na área core do Cerrado, podem ser percorridas grandes extensões
sem que seja observada a ocorrência da espécie, como é o caso da região sudoeste
de Goiás (Figura 4). Já no vale do Araguaia e no nordeste de Goiás a espécie
apresenta distribuição mais contínua.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 7
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 7
de cagaiteira, com 75 sementes por matriz, sem qualquer tratameto, Silva (1999)
obteve uma taxa de emergência média de 89,5%, com variação de 86,2% a 92,3%
entre subpopulações. Souza et al. (2001) verificaram uma emergência média de
80,6% com início aos 18 dias após a semeadura, prolongando-se até 160 dias.
RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. Apesar do grande sucesso atual da
agricultura no Cerrado e de sua incontestável contribuição para o desenvolvimento
da região, o custo ambiental desta atividade tem sido muito elevado. Isto decorreu,
principalmente, da visão dos agricultores e até dos técnicos vindos de outras regiões,
de que o Cerrado era pobre em recursos vegetais e que, portanto, a substituição
da vegetação nativa por espécies cultivadas não traria nenhuma perda, em termos
de recursos naturais. Só mais recentemente, alguma atenção está sendo dada
ao problema da erosão genética e da perda de biodiversidade, decorrentes do
desmatamento indiscriminado. A cagaiteira, certamente, é uma das espécies que
tem sofrido acentuada erosão genética, uma vez que seu ambiente de ocorrência é,
em geral, propício para a agricultura mecanizada. Em áreas de pecuária, é comum
que indivíduos da espécie sejam mantidos em meio à pastagem. As árvores nestas
condições apresentam um grande desenvolvimento, formando copas volumosas
que fornecem sombra para o gado. O fruto é muito apreciado pelos animais, que os
consomem logo que caem ao solo.
Em Goiás, grandes populações da espécie podem, ainda, ser encontradas
in situ nas regiões do vale do Araguaia e nordeste do estado, em condições
relativamente boas de conservação. Por razões de altitude, tipo de solo e topografia,
estas áreas são preferidas para atividades pecuárias, que são menos impactantes
para a espécie em comparação com as culturas anuais.
O tamanho efetivo de uma população estruturada em subpopulações é
função direta do número de subpopulações conservadas e função inversa do valor
de FST de Wright, que mede a proporção da variabilidade entre subpopulações
(VENCOVSKY e CROSSA, 1999). Com os valores de FST estimados para a espécie
(TELLES et al., 2003; ZUCCHI et al., 2003) o número de subpopulações requerido
para manter um tamanho efetivo adequado supera uma centena. Acredita-se que
poucas subpopulações da espécie estejam preservadas em reservas públicas, como
por exemplo, no Parque Nacional de Brasília – DF, no Parque Estadual de Terra
Ronca – GO e no Parque Nacional Grande Sertão Veredas – MG. Assim sendo,
a única forma de se manterem tamanhos efetivos adequados, na conservação in
situ, seria contar com as reservas legais das propriedades particulares. O manejo
adequado de reservas para fins de manutenção de biodiversidade, incluindo o
manejo do fogo, precisa ser melhor entendido. A simples preservação em áreas de
proteção integral, tende a provocar uma modificação da fitofisionomia do Cerrado
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 7
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VALOR NUTRICIONAL
A cagaita é um fruto suculento, sendo considerado uma boa fonte de vitamina
C (18–72mg/100g), vitamina B2 (0,4mg/100g), cálcio (172,8mg/100g), magnésio
(62,9 mg/100g) e ferro (3,9 mg/100g). O óleo da polpa da cagaita apresenta,
aproximadamente, 28% de ácidos graxos saturados, principalmente ácido palmítico
(24%); 50% de ácidos graxos monoinsaturados, principalmente ácido oléico (36%);
e 22% de poliinsaturados, principalmente ácido linolênico (12%), que é um ácido
graxo essencial, isto é, não é sintetizado pelo organismo e precisa ser ingerido
pela dieta (FRANCO, 1992; ALMEIDA, 1998). O teor de sólidos solúveis totais ou
Brix (8,2%) e acidez titulável (0,7%) conferem à cagaita boas qualidades gustativas
(OLIVEIRA JÚNIOR et al., 1997; ALMEIDA, 1998; BRITO et al., 2003).
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transplantio para o campo, com incremento médio de 0,38 m por ano (AGUIAR,
2004).
Um sistema que poderia se tornar sustentável em longo prazo seria o plantio
da cagaiteira em espaçamentos maiores (10m x 10m, ou mais), intercalando-se
culturas anuais nos primeiros anos e pastagem a partir do quarto ou quinto ano.
Com esta idade as plantas seriam pouco danificadas pelos animais. Em inúmeras
situações podem ser observadas plantas remanescentes do Cerrado nativo em
pastagens plantadas, convivendo perfeitamente bem com gramíneas dos gêneros
Brachiaria e Andropogon e produzindo em abundância, além de fornecerem sombra
para o gado. Outras espécies frutíferas nativas poderiam também ser incorporadas
ao sistema, como o baru e o pequi, por exemplo, que também convivem bem com
pastagens cultivadas.
IMPORTÂNCIA SÓCIO–ECONÔMICA
Estimativas de receita bruta para a exploração comercial de cagaita,
baseada na venda de geléia, levam a valores de R$ 2.250,00 por hectare explorado
(BRITO et al., 2003). Este valor pressupõe uma produção média de 1.250 frutos
por planta, com aproveitamento de 75% e uma densidade de 30 plantas/ha, em
condições naturais e um valor de venda do produto a R$ 3,00 por unidade de 250g.
Como a maior parte das despesas no processo seria decorrente de mão de obra,
pode-se concluir que tal forma de exploração adequa-se perfeitamente ao sistema
de agricultura familiar, desde que se disponha de áreas com ocorrência natural da
espécie. Há que se levar em conta, contudo, que o mercado para este tipo de produto
é ainda bastante restrito. Assim, qualquer programa de fomento a tal atividade teria
de ser acompanhado de incentivos à demanda a fim de evitar queda de preços por
excesso de demanda, como ocorreu com o palmito de guariroba (Syagrus oleracea
Becc), por exemplo.
Quanto aos plantios em sistema agrícola, não se dispõe de dados para
embasar estimativas seguras de receita. A maior restrição, neste caso, seria o longo
tempo para o início de produção e a baixa produtividade de plantas jovens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cagaiteira é uma das espécies do Cerrado com bom potencial para o
aproveitamento em sistemas de produção agrícola. Como fatores favoráveis podem
ser destacados: produção elevada e relativamente estável no decorrer dos anos;
potencial do fruto para produtos processados; boa convivência com pastagens, o
que poderá facilitar o cultivo em sistemas silvipastoris; alta tolerância a estresses
hídricos, edáficos, bióticos e ao fogo, permitindo a adaptação a diferentes ambientes
e emprego na recuperação de áreas degradadas; facilidade de produção de mudas
130
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAJUS DO CERRADO
NOMES COMUNS: O nome caju é oriundo da palavra indígena “acaiu”, que, em tupi,
quer dizer “noz que se produz”. Uma variedade de nomes populares ou comuns tem
sido atribuída aos pequenos pedúnculos de cajus procedentes de quatro espécies
do gênero Anacardium que se encontram distribuídas no bioma cerrado, e que
serão descritos no item a seguir1.
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FAMÍLIA
A família Anacardiaceae compreende 74 gêneros e 600 espécies tropicais
e subtropicais, distribuídas em 5 tribos. A tribo Spondiadeae inclui 17 gêneros de
distribuição tropical, como as fruteiras do gênero Spondias L.; a tribo Semecarpeae
é representada por 5 gêneros distribuídos nas regiões tropicais do oriente; a tribo
Dobineae está formada por apenas 2 gêneros distribuídos na Ásia tropical; a maior
tribo, a Rhoeae, é formada por 40 gêneros de distribuição cosmopolita, como os
gêneros Astronium Jacquin e Rhus L.; a tribo Anacardiaceae é formada por 8 gêneros,
que inclui fruteiras tropicais como o gênero Anacardium L. e o gênero Mangifera L.
O gênero Anacardium envolve 10 espécies que são nativas no Panamá, na Guiana
Francesa, na Amazônia, no Brasil Central e no Nordeste brasileiro (MITCHELL e
MORI,1987).
DESCRIÇÃO
O A. othonianum Rizzini (Figura 3) apresenta porte arbóreo, com altura
entre 3 e 6 m (RIZZINI, 1969). No cerrado goiano, foi observada a presença de
plantas adultas com altura variando entre 0,90 m e 7,60 m, com média de 2,75
m (NAVES, 1999). A espécie apresenta tronco com 1-2 m de altura e 20-40 cm
de diâmetro. As folhas coriáceas medem 12-17 cm x 8-11 cm, apresentam base
subcordata, são glabras e apresentam pecíolos 4-8 mm. Panículas amplas
medem 15-25 cm x 15-20 cm, pedicelos 2-3 mm. Frutos 15-20 mm x 12-15 mm
(RIZZINI, 1969). As flores dos cajueiros são hermafroditas e unissexuais, sendo
que as masculinas aparecem no início da floração, e as hermafroditas no fim. O
fruto é um aquênio, cujo pedúnculo se desenvolve em pseudofruto, que tem forma
variada e cor indo de amarela a vermelha (FERREIRA, 1973; PAULA e HERINGER,
1978). A combinação do fruto (castanha) e do pseudofruto constitui o “duplo fruto”
característico do gênero.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 8
praticamente em todo o mundo tropical (Paiva et al., 2003). Apesar do potencial para
o cultivo do cajueiro em grande parte do território brasileiro, 96% da área plantada
no país encontra-se no Nordeste (A. occidentale), especialmente nos estados do
Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte (RAMOS et al., 1996).
ASPECTOS ECOLÓGICOS
O A. othonianum (caju-de-árvore-do-cerrado) foi encontrado em altitudes
entre 380m e 1100m, ocorrendo, porém, em maiores densidades, em altitudes acima
de 790m (NAVES, 1999). Esta é uma espécie bastante produtiva; suas sementes
germinam com facilidade. Entretanto, suas folhas apresentam-se, normalmente,
bastante atacadas por fungos (FERREIRA, 1973). Floresce entre junho e outubro;
os frutos, entre 200 e 600 por planta, pesam entre 5 e 10g e são colhidos entre
setembro e outubro a partir do segundo ou terceiro ano. As flores são polinizadas
por abelhas e vespas (MENDONÇA et al., 1998). Tolera bem os períodos de secas
e os solos pobres (pH 4,5-6,5).
Naves (1999), estudando 50 áreas de 1,0ha de cerrado pouco antropizado
em Goiás, verificou que o A. othonianum (caju-de-árvore-do-cerrado) ocorreu em
19 delas, enquanto que a cagaita (Eugenia dysenterica D.C.) ocorreu em 10, a
mangaba (Hancornia speciosa Gomez) em 32, o araticum (Annona crassiflora Mart.)
em 37 e o pequi (Caryocar brasiliense Camb.) em 46 das áreas de observação. O
mesmo autor observou que o A. othonianum ocorre de forma significativa em solos
concrecionários e ocorre em maior densidade com o aumento da acidez do solo,
além de apresentar maiores áreas basais do tronco com a diminuição da saturação
de alumínio. A preferência desta espécie por ambientes concrecionários, muitas
vezes associados aos solos com maiores declividades, faz com que tenha elevado
potencial para exploração, preservação e manejo de grandes áreas do cerrado.
Os arbustos de A. humile (caju-do-campo) florescem entre os meses de julho
e setembro e são polinizados por abelhas e por borboletas; os frutos são consumidos
por mamíferos (MITCHELL e MORI, 1987; SANTOS, 2004; MENDONÇA et al.,
1998). Apresenta acima de 80 flores por inflorescência e uma relação aproximada
de 4:1 entre flores masculinas e hermafroditas (RIBEIRO et al., 1986). Do ponto de
vista ecológico, o A. humile está em vantagem competitiva em relação à maioria
dos subarbustos, arbustos e árvores baixas dos cerrados do Brasil Central, por
apresentar raízes profundas (freatófitas) e por ser subterrânea a maior parte da
biomassa caulinar. Por estas mesmas características, está entre as espécies melhor
protegidas contra a seca e o fogo (LOPES NARANJO e ESPINOZA de PERNIA,
1990).
O A. humile desenvolve-se formando espaços entre esta espécie e outras
espécies que se desenvolvem ao seu redor; os extratos aquosos de caules e folhas
desta espécie sugerem a presença de agentes alelopáticos (PERIOTTO, 2003).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 8
RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. As perdas da variabilidade genética,
causadas pela atividade humana, são expressivas e se devem, principalmente,
às destruições de habitats naturais de populações de plantas. Esse fato destaca
a importância da pesquisa e dos procedimentos voltados à conservação dos
recursos genéticos no ecossistema tropical. A devastação da flora natural na região
nordeste e centro-oeste trouxe graves conseqüências ao cajueiro, reduzindo as
populações e, consequentemente, sua variabilidade. Os impactos ambientais são
imensuráveis e, a exemplo de outras fruteiras, além da perda de variabilidade é,
também, preocupante o desaparecimento de espécies animais que dependem de
seus frutos para sobreviverem. Esse impacto é de difícil avaliação monetária (PAIVA
et al., 2003).
O cajueiro, como espécie predominantemente alógama, com alto grau
de heterozigose, necessita de grandes amostras para representar a variabilidade
contida nas populações naturais. Por este motivo, a atividade de conservação de
germoplasma tem custo elevado (PAIVA et al., 2003).
Conservação de germoplasma. O banco de germoplasma de cajueiro
(BAG-cajueiro) é mantido no campo experimental de Pacajus, pertencente à Embrapa
Agroindústria Tropical, localizado no município de Pacajus, litoral leste do Estado
do Ceará, a 55 Km de Fortaleza. A coleção de germoplasma de caju consta de 621
acessos, sendo 565 da espécie cultivada Anacardium ocidentale L. e 56 de outras
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150
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 8
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
COCO-CABEÇUDO
Renata C. Martins
Paulo Santelli
Tarciso S. Filgueiras
Nome científico. Butia capitata (Mart.) Becc var. capitata. Sinonímias botânicas:
Butia nehrlingiana L.H.Bailey, B. capitata var. elegantissima (Chabaud) Becc., B.
capitata subsp. eucapitata Herter, B. capitata var. erythrospatha (Chabaud) B.
capitata var. lilaceiflora (Chabaud) Becc., B. capitata var. pulposa (Barb.Rodr.)
Becc.
154
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
FAMÍLIA
ARECACEAE C. H. Schultz-Schultzenstein, Naturliches System des
Pflansenreichs 317. 1832 (nome alternativo conservado). PALMAE Jussieu, Genera
Plantarum 37. 1789 (nome conservado).
As palmeiras são plantas monocotiledôneas de distribuição principalmente
tropical e subtropical e uma das poucas do grupo com hábito arborescente. A família
tem aproximadamente 189 gêneros e 3000 espécies (UHL e DRANSFIELD, 1999).
HENDERSON et al., (1995) estimam a presença 67 gêneros e 550 espécies para
a América. No Brasil ainda são escassas as coleções e estudos em populações
nativas. Os primeiros estudos sobre as palmeiras do Brasil são de Martius (1882)
na Flora Brasiliensis. De igual importância para o conhecimento das palmeiras
brasileiras são os estudos de J.Barbosa Rodrigues (1903), sintetizados na obra
Sertum Palmarum Brasiliensium.
Palmeiras ocorrem naturalmente em diferentes ambientes, são cultivadas
em jardins, canteiros e nas avenidas das cidades. Fornecem alimento para diversos
animais, como macacos, tucanos, papagaios, muitos mamíferos, peixes e insetos,
representando para muitos o principal alimento de suas dietas.
Para as culturas indígenas na Amazônia as palmeiras são consideradas as
plantas mais importantes (HENDERSON, 1995). Na região do Cerrado não é muito
diferente. Indígenas, kalungas e brancos também fazem uso dos produtos das
palmeiras nas suas diversas formas: construção, alimentação, artesanato, rituais e
medicina (MARTINS et al., 2003a).
DESCRIÇÃO
Butia é um gênero subtropical, ocorrendo principalmente no sul da América
do Sul, cresce em áreas abertas no Brasil, entretanto muitas espécies estão se
tornando raras na região do Cerrado devido a ocupação desordenada (HENDERSON
et al., 1995; MARTINS et al., 2003 a,b). O gênero contém oito espécies (Glassman,
1979), extremamente variáveis e pouco estudadas. Para a região do Cerrado são
citadas B.archeri, B.capitata e B.purpurascens (HENDERSON et al., 1995).
Butia capitata é uma planta monóica, de 1 a 4 m de altura. Estipe solitária,
aérea, coberta pelos resquícios das bainhas foliares. Folha pinada, fortemente
arqueada, verde-azulada, com até 2m compr. Pecíolo com pequenos dentes nas
margens. Inflorescência ramificada em primeira ordem, cerca de 1m compr. Fruto
ovóide, 1,8-3,5 x 1,2-2,2 cm, amarelo ou alaranjado (Figura 2), aromático, suculento;
epicarpo liso, fibroso; mesocarpo carnoso, amarelado, de sabor adocicado;
endocarpo duro, lenhoso; semente 1, macia, tecido interno branco, oleaginoso e
nutritivo (CORREA, 1931; HENDERSON, 1995; LORENZI et al., 2004).
155
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
ASPECTOS ECOLÓGICOS
Trata-se de uma planta com frutos duros, cujas sementes demoram longo
tempo para germinar. As plântulas crescem lentamente e as plantas levam entre
oito e dez anos para atingir a maturidade sexual, reprodutiva. A floração ocorre no
período de primavera e verão, com pico em novembro e dezembro. Frutos maduros
ocorrem de novembro a maio, com pico em fevereiro, com produção de uma a seis
infrutescências/planta. A oferta de frutos ocorre por sete meses (Rosa et al., 1998).
O coco-cabeçudo faz parte da paisagem do Cerrado e da cultura de
certas populações humanas dentro da região do Cerrado. Em certos locais, é elo
importante da corrente econômica que mantém populações rurais isoladas ou
marginalizadas pela sociedade de consumo. Na época da safra, ele representa
a obtenção de renda para adquirir outros produtos não disponíveis diretamente
da natureza. Onde ocorrem grandes populações do coco-cabeçudo, o manejo
adequado dessas plantas representa a possibilidade de uso contínuo de suas
diferentes partes, ou seja, o aproveitamento de suas folhas, frutos e estipes velhas
e mortas.
Os frutos são fontes de alimento para muitos animais da fauna nativa
brasileira, especialmente do Cerrado. Alimentam-se de seus frutos especialmente
os roedores e os pássaros. As folhas são, também, fontes de alimentos para vários
animais nativos ou introduzidos, como o gado. Muitas aves constroem ninhos
entre suas folhas. Quando ocorrem em grande número, as populações naturais
dessa espécie servem de abrigo e proteção para a fauna. Apresenta características
ornamentais notáveis, com grande potencial para uso no paisagismo de regiões
tropicais e subtropicais.
Observações de campo indicam que a distribuição de Butia capitata é do
tipo agregado. De um modo geral as palmeiras são pouco coletadas, sendo raros
os exemplares depositados nos herbários.
RECURSOS GENÉTICOS
A erosão genética desta espécie ocorre na mesma medida em que as
áreas, que possuem populações nativas vão sendo devastadas, sem que sejam
preservados os indivíduos que representam esta variabilidade. Como se trata,
especificamente, de uma espécie com distribuição relativamente ampla, espera-se
156
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
VALOR NUTRICIONAL
A polpa do coquinho apresenta apenas 0,5% de óleo, com predominância
dos ácidos graxos palmítico (31,0%), oléico (32,7%) e linoleico (24,6%). A semente
apresenta 43,7% de óleo, com predominância de ácidos graxos de cadeia curta,
como o caprílico, o cáprico e o láurico (GROMPONE, 1985). O principal carotenóide
da polpa amarela do coquinho é o beta-caroteno (1,9 mg/100g), que representa
58% dos carotenóides totais. A atividade pró-vitamina A da polpa é de 347 retinóis
equivalentes/100g de polpa. Do ponto de vista nutricional, a polpa do coquinho
destaca-se como uma boa fonte de vitamina C e pró-vitamina A (FARIA et al., 2005).
O rótulo da polpa congelada de coquinho, comercializada na região de Montes
Claros, MG, informa composição segundo a Tabela 1.
158
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
INFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS
Palmeiras como o coco-cabeçudo (Butia capitata) e o buriti (Mauritia
flexuosa), dentre outras, sempre foram plantas que tiveram destaque como fontes de
alimento local e regional e, também, são geradoras de renda. Os frutos são coletados
principalmente por jovens e mulheres, entretanto quando é para comercializar ou
fazer óleo e sabão, os homens participam da coleta e ajudam no processamento.
O processamento é artesanal e normalmente é realizado pelas mulheres. Os
frutos fornecem, além da renda externa pela comercialização de alguns produtos,
alimentos ricos, óleos comestíveis, remédios e “madeira”.
Embora a maioria da produção extrativista esteja direcionada para o
consumo próprio, palmeiras como coco-cabeçudo e buriti sempre fizeram parte de
uma pauta orientada para o mercado. Entretanto este mercado ou é apenas local,
gerando pouca demanda, ou não atende às exigências do mercado regional que
demanda qualidade relacionada com a aparência e cuidados sanitários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo o Seminário Plantas do Futuro realizado em Brasília (2005), a
Butia capitata é uma espécie de importância para a Região Centro-Oeste do Brasil,
destacando as seguintes características: a) multiplicidade de usos; b) elevada
densidade no ambiente de ocorrência; e) elevada freqüência de adultos produtivos,
com alta produtividade de frutos aproveitáveis; e) tolerância a pragas e doenças; f)
boa resistência dos frutos ao transporte e ao armazenamento; g) grande importância
social e ambiental. Entre os principais fatores que limitam a exploração da espécie,
foram citados: a) dificuldade de propagação por semente e assexuada; b) ausência
de dados sobre práticas culturais; c) ausência de padrões de qualidade para o
processamento do fruto.
Nas áreas onde ocorrem palmeirais de Butia capitata percebe-se uma importante
relação etnobotânica estabelecida. Estas áreas estão cada vez mais raras, sem que se tenha
realizado estudos sobre a biologia, ecologia e fitoquímica da espécie. Considerando os produtos de
Butia capitata como fonte geradora de renda, práticas sustentáveis devem ser adotadas para a
continuidade das populações.
159
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 9
161
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
GABIROBA
Amanda Caldas Porto
Ana Paula Soares Machado Gulias
164
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
FAMÍLIA
A Gabiroba pertence a família Myrtaceae. A família inclui cerca de 130
gêneros e 4000 espécies com distribuição predominantemente pantropical e
subtropical, concentrada na região neotropical e Austrália (SOUZA e LORENZZI,
2005).
Myrtaceae representa uma das maiores famílias da flora brasileira, com 23
gêneros e aproximadamente 1000 espécies (SOUZA e LORENZZI, 2005).
DESCRIÇÃO
Subarbustos ou arbustos de 0,3 m até 2 m de altura; ramos amarelados.
Folhas opostas, simples, inteiras com pontuações translúcidas, ápice agudo,
base obtusa, membranáceas, levemente avermelhadas quando novas; coriáceas,
oblongas com face ventral pruinosa e dorsal amarelada, quando adultas. Flores
axilares isoladas, pedicelos glabros; brancas; pentâmeras; dialipétalas; sépalas
triangulares, agudas, ciliadas; pétalas ovais, conchiformes; androceu com muitos
estames, anteras pequenas, rimosas; ovário ínfero, placentação axial, estigma
165
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
captado. Fruto globoso, bacáceo, 2,0 a 2,5 cm de diâmetro, seis lóculos; poupa
amarelada quando madura. Sementes pequenas, discóides, reniformes, pardas
(FERREIRA, 1972).
ASPECTOS ECOLÓGICOS
A gabiroba é uma planta caducifólia. Seu florescimento ocorre de modo
bem intenso, por um curto período de tempo (ALMEIDA et al, 1998), de agosto a
novembro, com pico em setembro. Frutifica de setembro a novembro (SILVA et al.,
2001). Espécie final de sucessão (secundária tardia ou clímax) e suporta inundação,
sendo uma espécie importante para a reposição de mata ciliar (DURIGAN e
NOGUEIRA, 1990)
A planta é polinizada por abelhas do gênero Bombus (ALMEIDA, et al, 2000.),
embora seja comum encontrar grande quantidade de outros insetos visitando suas
flores, o que contribui para o aumento da produção de gabiroba (ALMEIDA, 2000).
Os frutos de gabiroba são repositórios naturais de moscas-das-frutas nos
Cerrados do estado de Goiás, principalmente para os gêneros Anastrepha, com
grande potencial para criação e multiplicação de inimigos naturais dessas moscas.
A A. sororcula é a espécie de mosca-das-frutas mais freqüente no estado de Goiás
e pode ser considerada praga potencial desta frutífera (FELIPE et al, 2002).
166
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
167
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
VALOR NUTRICIONAL
O fruto da gabiroba apesar de não ser uma das principais fontes de vitamina
C, como o caju que contém 219,7 mg de vitamina C, apresenta quantidade razoável
(33 mg) de acido ascórbico. Valor próximo do apresentado pela laranja Bahia, que
é de 47 mg e maior quantidade de Vitamina C recomendada pela FAO/OMS para
ingestão diária adulto, que é 30 mg (FRANCO, 1999)(Tabela 1).
Apesar de não ser considerado um alimento rico em Ferro como o Fígado
com 12,10 mg, a gabiroba contém valores apreciáveis de Ferro 3,2 mg. Apresenta
mais ferro que alimentos como os peixes a pescada por exemplo contém 1,06 mg e
a sardinha 1,3 mg (FRANCO, 1999).
A associação da vitamina C com o ferro, no fruto da Gabiroba é extremamente
benéfica, já que a presença da vitamina C melhora a absorção do ferro.
equivalente
Proteína
Energia
Fósforo
Niacina
Retinol
Lipídio
Cálcio
Vit. B2
Vit. B1
Ferro
Fibra
Vit.C
(Kcal.) (g) (g) (g) (g) (mg) (mg) (mg) (mcg) (mg) (mg) (mg) (mg)
64 1,6 1,0 13,9 0,8 38 3,2 29 30 0,04 0,04 33 0,5
Fonte: ENDEF (1981).
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
No estado do Goiás, uma caixa com frutos de gabiroba é comprada pela
pequena empresa de sorvetes e picolés de frutas nativas do cerrado, Sabor do
Cerrado, ao custo de R$ 30,00 (Lima, 2004).
A comunidade da cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul, promove todo
ano no mês de novembro, época de frutificação da espécie, o Festival da Guavira
(Campomanesia sp.), com o intuito de resgatar a cultura e história da comunidade.
A escolha da fruta como nome do festival surgiu da necessidade de conservação
dos recursos naturais, devido à substituição do Cerrado por pastagens. O evento é
organizado por representantes do comércio local e do sindicato rural, em parceria
com a Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Estado de
Cultura, Esporte e Lazer. O festival envolve concurso para eleger o melhor “Guaviral”
da Região, apresentações musicais, teatro, dança, palestras que abordam temas
ambientais e sociais, exposições de artes plásticas e praça de alimentação com
comidas típicas e os mais diversos produtos derivados da Guavira. Além disso, são
promovidos cursos de culinária que ensinam a fazer pratos e doces com a fruta.
As crianças participam ativamente do evento, através das escolas que, todo ano,
antes do festival, promovem um concurso de redação, cujo tema é a Guavira. Os
proprietários rurais e a população local estão aderindo cada vez mais ao cultivo da
fruta devido ao incentivo, tornando esse plantio uma fonte de renda para muitas
famílias (REIS, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo o Seminário Plantas do Futuro, realizado em Brasília em 2005, a Gabiroba é
uma espécie que tem boas perspectivas de produção comercial no bioma Cerrado devido a sua
grande densidade, freqüência e distribuição no ambiente de ocorrência. Apresenta facilidade de
propagação natural, grande disponibilidade de sementes, precocidade para o início da produção,
grande extensão de período produtivo da planta, grande variabilidade genética, ainda existente, e,
principalmente, grande aceitação no mercado, devido ao seu sabor aromático e adocicado. Porém,
apresenta pequena extensão da safra, pouca tolerância a pragas e doenças e baixa resistência ao
transporte e armazenamento, depois da coleta.
É importante que se faça a coleta de germoplasma, visando a conservação da espécie
e a seleção de populações mais resistentes à pragas e doenças, ao transporte e armazenamento,
além do desenvolvimento de técnicas mais eficientes de propagação assexuada e de padrões de
qualidade para o processamento pós-colheita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M. J. O. F.; NAVES, R. V.; XIMENES, P. A. Influencia das abelhas
(Apis melífera) na polinização da Gabiroba (Campomanesia spp.). Pesquisa
Agropecuária Tropical, Goiânia, GO, v. 30, n. 2, p. 25-28, 2000.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 10
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
JATOBÁ-DO-CERRADO
Juliana Pereira Faria
Sueli Matiko Sano
Tânia da Silveira Agostini-Costa
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
FAMÍLIA
Esta espécie pertence à família Fabaceae, também conhecida como
Leguminosae, que é uma das maiores famílias botânicas, apresentando ampla
distribuição geográfica. São aproximadamente 18.000 espécies e mais de 650
gêneros. No bioma cerrado estão distribuídos 101 gêneros, 777 espécies e
143 variedades, sendo que Leguminosae é a família mais bem representada
na composição e na estrutura da comunidade vegetal presente neste bioma
(MENDONÇA et al., 1998; FIDELIS e GODOY, 2003). Uma característica da família
é apresentar fruto tipo legume, também conhecido como vagem (há exceções).
Grande parte das espécies desta família apresenta simbiose de suas raízes com
bactérias do gênero Rhizobium, com as quais fixam nitrogênio da atmosfera, uma
característica ecológica de extrema importância. Esta característica parece ser
responsável pelo predomínio da família Leguminosae no Cerrado (KOES et al.,
1994; FIDELIS e GODOY, 2003). Também são de grande importância econômica
pela produção de alimentos.
Esta família divide-se em três subfamílias botânicas com características
distintas. A subfamília Faboideae, também conhecida como Papilionoideae, é
constituída por 430 gêneros e aproximadamente 12.600 espécies de ampla
distribuição pelo mundo. É considerada a subfamília mais evoluída dentre as
leguminosas e, também, a de maior importância econômica, incluindo espécies
como a soja (Glycine max), o feijão (phaeseolus vulgaris) e a ervilha (Pisum
sativum), entre outras. A subfamília Mimosoideae é constituída por 60 gêneros
e aproximadamente 2.500 espécies de ampla distribuição geográfica; exemplo,
o Ingá (Inga sp.). A subfamília Caesalpinoideae é constituída por 152 gêneros e
aproximadamente 2.800 espécies distribuídas nas regiões tropicais e subtropicais.
O jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa Mart.), que ocorre no
cerrado, no cerradão e nos campos, e o jatobá-da-mata (Hymenaea stilbocarpa
Mart.), que ocorre nas matas secas do Planalto Central, pertencem à subfamília
Caesalpinoideae. Várias espécies descritas foram consideradas como variedades
do Hymenaea stigonocarpa Mart.: H. stigonocarpa var. brevipetiolata N.F. Mattos;
H. stigonocarpa var. olfersiana (Hayne) Kuntze; H. stigonocarpa var. pubescens
Kunth. A espécie de maior porte, H. courbaril, ocorre nas matas de galeria e é mais
empregada para exploração da madeira (MENDONÇA et al., 1998; SILVA JÚNIOR,
2005).
DESCRIÇÃO
Árvore de até 10 m de altura com casca do tronco áspera. Folhas são
alternas, com estípulas caducas, bifolioladas; folíolos subsésseis, limbo ovado-
reniforme com glândulas, cerca de 13 cm de comprimento e 3 cm de largura,
ápice obtuso, base assimétrica, arredondada (HERINGER & FERREIRA, 1975).
Inflorescência cimeira terminal, bracteada, podendo chegar até 30 flores. Flores
175
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
com cerca de 2 a 3,5 cm, corola alva, actinomorfa com 5 pétalas; 10 estames;
ovário súpero, unilocular, um estigma, um estilete, simples; com disco nectarífero.
Fruto tipo legume indeiscente, cerca de 15 cm de comprimento e 5 cm de largura,
oblongóide, de cor castanho-avermelhado brilhante quando maduro. O endocarpo
de cor creme é farináceo, envolve 3 a 6 sementes de cerca de 2 cm de diâmetro,
globóides ou achatados, de cor castanho-avermelhadas. A densidade da madeira é
de 0,975 g/cm3 possui alburno largo em torno de 6 cm; cerne de coloração marrom-
avermelhada; textura média de 160μ; grã direita; superfície sem brilho e áspera ao
tato; madeira dura ao corte; cheiro e gosto indistintos (LIMA & MARCATI, 1994).
O jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa Mart.) é uma planta com 4 a
6 metros de altura, que produz frutos com comprimento entre 6 e 18 cm e diâmetro
entre 3 a 6 cm. O jatobá-da-mata (Hymenaea stilbocarpa Mart.) possui 8 a 10 metros
de altura, com frutos de comprimento entre 6 a 20 cm e diâmetro entre 4 a 8 cm
(SILVA et al., 2001).
ASPECTOS ECOLÓGICOS
A floração ocorre de outubro a abril, alcançando o ápice entre dezembro e
março. A frutificação ocorre entre os meses de abril e julho (ALMEIDA et al., 1998),
sendo que os frutos maduros podem ser encontrados a partir de julho.
Apresenta nectários extraflorais em folhas não completamente expandidas,
que deixam de funcionar nas folhas adultas (PAIVA & ISAIAS, 1996 apud ALMEIDA
et al., 1998).
Nos levantamentos fitossociológicos no Distrito Federal, foram registrados
cerca de 18 indivíduos/ha em cerradão distrófico, (RIBEIRO et al.,1985) e 5
indivíduos/ha em cerrado sentido restrito de interflúvio (FONSECA & SILVA JÚNIOR,
2004). No Estado de São Paulo, a densidade foi menor do que no Distrito Federal,
tanto em cerradão (8 indivíduos/ha) em Luís Antônio (PEREIRA-SILVEIRA et al.,
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
RECURSOS GENÉTICOS
A análise genética de populações de Hymenaea spp. através de
microssatélites apresentou alto coeficiente de endogamia, e o estudo está sendo
ampliado para maior número de indivíduos nos vários biomas para nortear os
programas de coleta e conservação in situ e ex situ (SUGANUMA & CIAMPI, 2001).
Plantios de progênies meias-irmãs de sete matrizes localizados em Formosa, GO,
implantadas na Embrapa Cerrados em 1991, mostraram que a progênie que teve
maior crescimento em altura, também, apresentou maior diâmetro de caule, e de
ramificações (SANO & FONSECA, 2003a).
As sementes de jatobá são ortodoxas e, por isso, são conservadas com
facilidade em bancos de germoplasma convencionais a -20oC (19 acessos estão
conservados no Laboratório de Sementes da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia). Como apresentam dormência física, a aceleração do processo de
germinação e feita por escarificação mecânica da semente com lixa, alcançando-
se taxas de germinações iguais ou superiores a 80% (SALOMÃO et al., 2003;
SALOMÃO et al., 2005).
178
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
VALOR NUTRICIONAL
A caracterização química e centesimal da farinha do jatobá-do-cerrado foi
realizado por Silva (1997), cujos resultados são apresentados a seguir. O material
apresentou baixo teor de lipídios (4%), amido (3,1%) e de proteínas (6,2 %),
mas, alto conteúdo de açúcares (34,28 %) e de fibra insolúvel (36,4 %), mais do
que solúvel (12,6 %). Segundo a autora, o teor de proteínas da farinha de jatobá
apresentou diferença marcante em relação à maioria das outras leguminosas, mas
a digestibilidade in vitro foi semelhante (60 %). Essa diferença no teor de proteína
pode ser explicada pelo fato da parte comestível do jatobá ser o endocarpo, enquanto
que, nas outras leguminosas, a parte utilizada é a semente. A proteína da farinha de
jatobá apresentou deficiência em vários aminoácidos, quando comparada com as
necessidades de aminoácidos sugerida pela FAO (FAO-WHO, 2002) para crianças
de 2-5 anos. A digestibilidade in vitro da proteína de jatobá foi considerada baixa,
porém semelhante aos níveis de digestibilidade das leguminosas cruas.
O teor de minerais foi elevado para o potássio (1121 mg/100 g), destacando-
se, também, o magnésio (125 mg/100 g), que supera o valor encontrado no feijão
(22 mg/kg) e na soja (26 mg/kg), mas o cálcio (134 mg/100 g) foi inferior ao teor
encontrado em ambas. Os outros minerais encontrados foram o fósforo (96 mg/
100g de massa seca), o zinco (1,36 mg/100g de massa seca), o ferro (1,2 mg/100g
de massa seca) e o sódio (7 mg/100g de massa seca). Foi encontrado alto teor
de tanino (2987 mg/100g, expresso em equivalentes de catequina), no entanto, a
atividade inibidora de tripsina foi baixa (5,4 UTI/mg) e de pouca significância em
termos nutricionais (Almeida, 1998).
O teor de tocoferóis totais (15,7 mg/100g), determinado por Silva (1997),
foi bastante significativo, principalmente, em se tratando de um fruto farináceo, não
oleaginoso. Os óleos vegetais e as amêndoas são considerados as principais fontes
de tocoferóis, ou vitamina E, especialmente alfa-tocoferol e gama-tocoferol, cujos
valores podem variar entre 7-120 mg/100g (MACHLIN, 1991). Já o valor de ácido
ascórbico ou vitamina C (8,5 mg/100g) pode ser considerado baixo, se comparado
com outras frutas. Segundo Franco (1992) o jatobá possui, ainda, pró-vitamina A (30
mcg/100g), tiamina ou vitamina B1 (40mcg/100g), riboflavina ou vitamina B2 (40mcg/
100g) e niacina ou vitamina PP (0,5 mg/100g).
180
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
O jatobá in natura pode ser encontrado à venda nas beiras de estrada, e a
farinha é comercializada nas feiras, como excelente complemento alimentar para
esportistas. Como existem várias espécies de Hymenaea distribuídas pelo país,
são encontradas diferentes cores, aromas e qualidades de farinha, dependendo
da origem. A farinha do jatobá-do-cerrado (H. stigonocarpa) possui aroma suave,
sendo mais adocicado e de cor amarelado. No Ceasa-DF, agosto de 2005, verificou-
se a comercialização de três unidades de jatobá in natura por R$ 1,00; ou bandeja,
contendo aproximadamente 350g, por R$ 2,50; enquanto pacote de 300g de
farinha de jatobá foi comercializada por R$ 5,00. Por apresentar um bom potencial
alimentar, a exploração econômica por extrativismo ou por cultivo pode ser viável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na alimentação, o jatobá apresenta-se como um fruto farináceo, rico em
carboidratos, fibras e minerais, com forte potencial para o enriquecimento da farinha
tradicional na fabricação de pães, bolos e biscoitos. São várias as espécies de
Hymenaea, cuja variedade de cores, sabores, aroma e valor nutricional do fruto
farináceo não estão devidamente caracterizados por espécie ou variedade. No
entanto, os frutos da espécie do cerrado (H. stigonocarpa) destacam-se por apresentar
aroma suave, sabor adocicado e coloração mais clara, com melhor aceitação
pelo consumidor. O jatobá apresenta alta freqüência de distribuição no cerrado,
facilidade de propagação, por semente e assexuada, facilidade de estabelecimento
pós-plantio, alta freqüência de adultos produtivos e frutos resistentes, que facilitam
o transporte e o armazenamento.
Observações não sistemáticas apontam o longo período juvenil da espécie
e a ocorrência de brocas nos frutos como alguns dos principais problemas que
limitam a exploração comercial da espécie H. stigonocarpa. Para que o uso e a
produção comercial sejam sustentados, é importante que seja feita uma avaliação
e seleção das plantas mais produtivas, resistentes e com capacidade de frutificação
precoce.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, S. P. Frutas nativas do cerrado: caracterização físico-química e fonte
potencial de nutrientes. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (Ed.). Cerrado: ambiente
e flora. Planaltina, DF: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 247-285.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 11
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
MANGABA
Ailton Vitor Pereira
Elainy Botelho Carvalho Pereira
Josué Francisco da Silva Júnior
Dijalma Barbosa da Silva
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
DESCRIÇÃO
A mangabeira é uma árvore de porte médio, com 2 a 10 m de altura, podendo
chegar até 15 m, e copa ampla, às vezes mais espalhada que alta (LEDERMAN
et al., 2000), sendo que as mangabeiras do Cerrado possuem de 4 a 6 m de
altura e de diâmetro da copa (SILVA et al., 2001). As folhas são simples, alternas
e opostas, de forma e tamanho variado, são pilosas ou glabras e curto-pecioladas.
As flores são hermafroditas, brancas, em forma de campânula alongada (tubular). A
inflorescência é do tipo dicásio ou cimeira terminal com 1 a 7 flores (ALMEIDA et al.,
1998), ocorrendo até 10 flores por ápice. Os frutos são do tipo baga, de tamanho,
formato e cores variados, normalmente, elipsoidais ou arredondados, amarelados ou
esverdeados, com pigmentação vermelha ou sem pigmentação, com peso variando
de 5 a 50 g no Nordeste (AGUIAR FILHO et al., 1998) e de 30 a 260 g no Cerrado
(SILVA et al., 2001), conforme ilustrado nas Figuras 1 e 2.
189
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
adaptação da espécie a diversos ambientes, vegetando e produzindo normalmente
em latitudes de 20° Sul (clima frio durante o inverno) até 10° Norte (clima quente
o ano todo), desde o nível do mar (clima mais quente) até altitudes de 1500 m no
Planalto Central (clima mais ameno com período de inverno seco).
190
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
ocorrência natural em ambientes marginais para a agricultura, a conservação e
o enriquecimento dessas áreas com mangabeiras poderia representar uma boa
alternativa para a valorização desses ambientes e a sua exploração racional e
sustentada pelas populações locais que dependem deles para sobreviver.
RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. O gênero Hancornia é considerado
monotípico e, por isso, sua única espécie é Hancornia speciosa Gomes. De acordo
com Monachino (1945) são aceitas as seis variedades botânicas citadas abaixo.
No entanto, estudos mais aprofundados devem ser realizados acerca da origem
e ocorrência dessas variedades no país e sua participação na formação das
populações nativas.
• H. speciosa Gomes (variedade típica) ou H. speciosa var. speciosa
• H. speciosa var. maximiliani A. DC.
• H. speciosa var. cuyabensis Malme
• H. speciosa var. lundii A. DC.
• H. speciosa var. gardneri (A. DC.) Müell. Arg.
• H. speciosa var. pubescens (Nees et Martius) Müell. Arg.
Em estudo das mangabeiras dos Estados de Goiás e Tocantins, com base
em caracteres morfológicos, Rizzo e Ferreira (1990) verificaram a existência de
três variedades botânicas da espécie: H. speciosa var. speciosa, H. speciosa var.
pubescens e H. speciosa var. gardneri. A variedade speciosa tem folhas glabras, com
pecíolo de 9 a 15 mm de comprimento e limbo foliar com até 6 cm de comprimento
e 2 cm de largura, e está presente na divisa com a Bahia, o Piauí e o Maranhão.
A variedade gardneri também possui folhas glabras, enquanto a pubescens tem
folhas pilosas. Ambas apresentam pecíolos de 3 a 5 mm de comprimento e limbo
foliar de 6 a 12 cm de comprimento e 3 a 6 cm de largura, frutos maiores e de
coloração verde predominante, estando presentes em todo o Estado de Goiás.
A variedade speciosa também ocorre na Costa Atlântica do Brasil, e é bastante
diferente das demais quanto ao porte da planta e seu aspecto geral, apresentando
ramos finos e pendentes, folhas miúdas com pecíolo mais longo, frutos menores
e com manchas avermelhadas típicas, quando maduros. Segundo Chaves e
Moura (2003), na divisa entre o nordeste de Goiás e a Bahia existem plantas com
características intermediárias, levando à hipótese de hibridação entre as variedades
que apresentam florescimento simultâneo.
A mangabeira é auto-incompatível e, portanto, uma planta alógama, exigindo
genótipos diferentes da espécie e polinizadores específicos para que ocorra a
fecundação cruzada e a produção de frutos (DARRAULT e SCHLINDWEIN, 2003).
Esses autores concluíram que: “a) o aumento da freqüência de polinizadores
191
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
leva a uma taxa de frutificação mais alta, frutos maiores e com mais sementes; b)
os polinizadores da mangabeira são de diferentes grupos taxonômicos, como
Sphingidae, abelhas (Euglossini), Hesperiidae e Nymphalidae (Heliconius); c) cada
espécie de polinizador tem uma demanda ambiental particular, como alimento para
a prole e os adultos, plantas hospedeiras para lagartas e locais de acasalamento e
nidificação; d) considerando apenas os recursos florais utilizados pelos esfingídeos,
por exemplo, H. speciosa compartilhou visitantes florais com pelo menos 32 espécies
de plantas (DARRAULT e SCHLINDWEIN 2002); e) para o incremento da produção
de mangabas é necessário que cultivos dessa planta sejam estabelecidos em locais
que sustentem populações fortes de polinizadores; f) é favorável que a plantação
esteja inserida em uma matriz de vegetação natural com alta heterogeneidade
ambiental e elevada diversidade de plantas que forneçam: (1) alimento para os
polinizadores adultos em períodos em que a mangabeira não estiver florida; (2)
sítios de nidificação para abelhas; (3) fontes de alimento para larvas (pólen para
larvas de abelhas e folhas para larvas de borboletas e esfingídeos) e (4) recursos
florais, como perfumes e resinas, para manutenção de Euglossini.
No litoral nordestino, a erosão genética é grande por causa da expansão
imobiliária e das lavouras de cana-de-açúcar, coco, entre outras. Na região de
cerrado, a erosão genética está ocorrendo mais nos planaltos mecanizáveis, onde
a vegetação nativa vem sendo devastada para o estabelecimento de lavouras ou
pastagens. Entretanto, nas áreas acidentadas as mangabeiras nativas estão mais
preservadas e menos ameaçadas.
Conservação de germoplasma. Devido às sementes recalcitrantes e às
dificuldades de micropropagação e conservação in vitro, o germoplasma de
mangabeira deve ser conservado in vivo, na forma de coleções de plantas vivas
mantidas ex situ ou através de conservação in situ, em áreas de preservação
permanente ou reservas. Atualmente, existem coleções de mangabeiras, mantidas
ex situ na Embrapa Cerrados e na Universidade Federal de Alagoas, há um Banco de
Germoplasma mantido na Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba,
além de áreas de conservação in situ mantidas pela Embrapa Tabuleiros Costeiros
(BARREIRO NETO, 2003; SILVA JUNIOR, 2003). De acordo com informação
pessoal do Professor Dr. Lázaro José Chaves, outro Banco encontra-se em fase
de implantação na Universidade Federal de Goiás, tendo sido coletadas sementes
de mais de 100 matrizes distribuídas nos estados de Goiás, Tocantins, Bahia, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul. Noventa progênies de meio-irmãos oriundas dessas
matrizes foram plantadas no campo no último trimestre de 2005. Em função do
interesse pelo seu cultivo e melhoramento e devido ao risco de erosão genética,
torna-se necessário e urgente o trabalho de coleta, conservação, avaliação e
intercâmbio de germoplasma da espécie. É importante considerar que a coleta de
germoplasma deve ser bem planejada para permitir o plantio rápido das sementes
antes da perda de sua viabilidade, bem como haver local adequado para o plantio
192
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
das sementes coletadas. A coleta pode ser feita por meio de sementes ou através
de garfos ou hastes para a enxertia (por garfagem ou borbulhia de placa com janela
aberta). A enxertia apresenta pegamento superior a 90% e é o único método viável de
clonagem da mangabeira, até o momento. Representa um atalho no melhoramento
de espécies perenes, pois elimina a segregação genética e permite a fixação
de caracteres agronômicos desejáveis em qualquer etapa do melhoramento. As
coleções de clones selecionados diretamente da natureza servirão de base para o
melhoramento da espécie.
Estudos sobre a conservação in vitro ou em forma de criopreservação são
fundamentais, considerando a vulnerabilidade e demanda de espaço das coleções
vivas.
193
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
pesquisas para melhorar as propriedades da borracha da mangabeira (PINHEIRO,
2003).
VALOR NUTRICIONAL
A polpa de mangaba pode ser considerada uma boa fonte de ferro, manganês,
zinco e vitamina C (Tabela 1). A associação do ferro com a vitamina C, ou ácido
ascórbico, é uma característica importante na composição da fruta, uma vez que
esta vitamina aumenta a biodisponibilidade de ferro, ou seja, a vitamina C aumenta
a absorção de ferro pelo organismo. O teor de taninos, que são compostos fenólicos
polimerizados de natureza química bastante variada, também é considerado elevado.
Os compostos tânicos estão associados à adstringência de algumas frutas como
a banana, o caju, a goiaba e o caqui. Estes compostos fenólicos, presentes em
alimentos como o chá verde, o chá preto, a uva e o vinho, estão sendo associados
ao potencial antioxidante destes alimentos e à prevenção do desenvolvimento de
doenças crônico-degenerativas. Entretanto, quando presentes em quantidades
excessivas, os taninos podem ser responsáveis pela complexação de proteínas e
minerais, diminuindo o valor nutricional da dieta. A natureza química dos taninos e
dos demais compostos fenólicos da mangaba ainda não foi estudada.
Segundo Almeida (1998), a mangaba apresenta pequenos teores de lipídios
(0,3-1,5%), que são ricos em ácido palmítico (29%); oléico (12%), linoleico (18%)
e linolênico (8%). O teor de lipídios presentes na polpa da mangaba é insuficiente
para a extração comercial dos mesmos, mas, o elevado teor de ácidos graxos
poliinsaturados enriquece o potencial nutricional da fruta. Na polpa da mangaba,
estes ácidos graxos são representados pelo ácido linoléico e, especialmente, pelo
ácido linolênico, que são considerados essenciais para o organismo humano.
194
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
TECNOLOGIA E PROCESSAMENTO PÓS-COLHEITA
195
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
formas de microorganismos.
• Envasamento. A polpa pasteurizada cai no tanque da envasadora automática,
que enche 1500 embalagens plásticas de 100 g de polpa por hora. As
embalagens são esterilizadas durante o seu processo de fabricação e, ao
envasar, a polpa passa por uma lâmpada germicida que reforça o processo
de higienização.
• Congelamento. As polpas são colocadas em bandejas de forma adequada
e congeladas a – 20 °C (sem flutuações de temperatura, para evitar a
cristalização e a depreciação da qualidade).
• Armazenamento. É feito em sacos plásticos, com capacidade para 10
polpas de 100g, que são acondicionados em caixas plásticas na câmara
de armazenamento, a uma temperatura de – 18 °C, tendo validade de um
ano.
• Controles e análises. Os dados de produção são anotados numa planilha,
constando lote, data, peso da fruta, peso da polpa, teor de sólidos
solúveis totais, quantidade de polpas produzidas, teste sensorial, local de
armazenamento. A polpa de mangaba da empresa modelo, avaliada neste
estudo, apresentou rendimento de 85 a 90% e os seguintes resultados físico-
químicos e microbiológicos, em relação aos padrões fixados pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (indicados entre parênteses):
sólidos solúveis = 16,6 °Brix (≥ 8,0), açúcares totais = 5,47 (≤ 10), acidez
(% de ácido cítrico) = 1,55 (≥ 0,70), bolores e leveduras (UFC/g) < 10 (≤
103), salmonela ausente em 25 g (ausente), coliforme fecal < 0,03/g.
Embora tenha boa qualidade, a polpa de mangaba possui um pouco de látex
que dificulta a limpeza das máquinas e dos equipamentos. Vários produtos foram
experimentados, sem sucesso, para a retirada do látex: ácido nítrico, soda cáustica
líquida, cloro e detergente neutro. O método tradicional que usa óleo vegetal e bucha
foi o mais eficiente, porém, a lavagem das tubulações do pasteurizador é difícil. A
criação de um produto de limpeza adequado seria uma contribuição importante,
bem como a criação de variedades com menor teor de látex no fruto maduro, pois
facilitariam o processamento da polpa e aumentariam o seu mercado (Aragão,
2003).
196
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
sementes consiste numa leve maceração com água corrente em peneiras, até
a remoção da mucilagem, que tem efeito prejudicial na germinação. Como são
recalcitrantes, as sementes de mangaba não podem ser secas, e devem ser
semeadas imediatamente ou até dois dias após a sua extração do fruto. Caso a
semeadura não seja imediata, as sementes despolpadas podem ser embaladas em
sacos de plástico e armazenadas durante um mês na gaveta inferior da geladeira,
em temperatura próxima a 10°C (PARENTE et al., 1988). Depois de despolpadas,
as sementes ainda ficam um pouco pegajosas e, para facilitar a semeadura, podem
ser submetidas a uma leve secagem superficial à sombra, sobre folhas de papel
absorvente, de um dia para o outro, e misturadas com areia ou vermiculita, finas e
secas (PEREIRA e PEREIRA, 2003).
Mudas. São oriundas de sementes (pés-francos) e podem ser enxertadas
por borbulhia ou garfagem (PEREIRA et al., 2002, 2003). Como recipientes, são
utilizados tubetes ou sacos de plástico (Figura 3a,b). Devido ao tamanho reduzido
(19 cm de altura, 5 cm de diâmetro interno e capacidade para 280 cm3 de substrato),
os tubetes são utilizados para a produção de mudas pés-francos. Os sacos plásticos
podem ser de tamanhos variados, em função do tipo de muda e do tempo de
permanência no viveiro. Na Região Nordeste, a mangabeira produz duas safras
por ano e as condições climáticas são favoráveis ao plantio de mudas, com quatro
ou seis meses de idade, as quais podem ser produzidas em sacos de 12 x 18 cm
(VIEIRA NETO, 2001), 14 x 16 cm, 18 x 25 cm ou 9 x 29 cm (Lederman et al., 2000),
18 x 25 cm (Aguiar Filho et al., 1998). Na Região de Cerrado, entretanto, devido ao
longo período seco (abril a setembro), a safra é anual. As mudas são produzidas
em sacos de 20 x 30 cm em um ano, para que o plantio ocorra no início da estação
chuvosa (PEREIRA e PEREIRA, 2003). Para mudas em tubetes, o substrato deve ser
à base de casca decomposta de árvore ou fibra de coco, com a menor condutividade
elétrica possível (< 1,5 mS/cm), ou à base de solo arenoso (com menos de 15% de
argila), seguindo as condições naturais em que a mangabeira ocorre. A adubação
deve ser feita com adubo de liberação lenta (osmocote ou similares), na dose de
6 g por litro de substrato. Para mudas em sacos plásticos, o substrato pode ser o
solo arenoso ou, de preferência, a areia grossa de rio não peneirada, adubada com
10% (em volume) de esterco bovino bem curtido mais o adubo de liberação lenta
na dose de 3 g por litro de substrato. Embora mais caros, os adubos de liberação
lenta são recomendados devido à alta porosidade, permeabilidade e capacidade de
lixiviação dos substratos, associados às regas freqüentes. As formulações devem
ser completas em macro e em micronutrientes e devem ter liberação lenta em
período equivalente ao de permanência das mudas no viveiro, de seis meses ou
mais (PEREIRA e PEREIRA, 2003).
197
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 3. Mudas de mangabeira oriundas de sementes, produzidas em sacos
plásticos (a) e em tubetes (b); Mudas enxertadas por borbulhia (c, d) e por
garfagem (e, f). Fotos de Ailton Vitor Pereira.
198
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
de textura arenosa a média, em covas com dimensões mínimas de 30 cm x 30 cm
x 30 cm e capacidade para 27 litros de solo (Figura 4).
Calagem. Como a mangaba é bastante tolerante a solos ácidos, a calagem
não visa à correção da acidez, mas apenas ao fornecimento de cálcio e de magnésio
para as plantas, bastando apenas à elevação da saturação por bases a 30% ou, no
máximo, a 40%. Estudos já realizados em solos ou substratos arenosos ou franco-
arenosos (pobres e ácidos) mostraram efeitos prejudiciais da calagem na dose de
2 t/ha ou superior (VIEIRA NETO, 1995; ARAÚJO e FRANCO, 2000; PEREIRA e
PEREIRA, 2003).
Adubação. Deve-se evitar o uso de esterco na cova de plantio ou limitá-lo,
no máximo, a 10% do volume da cova, para evitar a podridão-de-raízes e a morte
das mudas. A adubação química de plantio deve ser proporcional ao volume da
cova e, em se tratando de solos de textura média, Pereira e Pereira (2003) sugerem
a adição de, no máximo, 300 mg de fósforo, 200 mg de potássio, 10 mg de zinco, de
manganês e de cobre, e 1 mg de boro para cada litro de solo. Em solos arenosos,
os autores limitam essas doses a, no máximo, 50%. Entretanto, há necessidade de
estudos de nutrição e adubação de formação e produção do mangabal em diferentes
condições de solo e clima.
(a) (b)
(c)
199
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
(e) (f)
Figura 4. Plantio de mudas de mangabeira: tubetes (a,b), sacos plásticos (c,d,e,f).
Fotos de Ailton Vitor Pereira
200
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
201
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
202
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
(a) (b)
Podridão da raiz principal ou xilopódio (a) e morte das mudas (b)
203
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
204
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
até o quarto ano. Comportamento semelhante tem sido observado nas mangabeiras
plantadas na região do Cerrado.
O surgimento das inflorescências nas ponteiras dos ramos indica que o
potencial de florescimento e frutificação da mangabeira depende do número de
ramos. Daí, a necessidade de pesquisas com podas para aumentar o número de
ramos.
Na região do Cerrado, também prevalece a atividade extrativista, registrando-
se apenas um plantio comercial com 800 plantas adultas, até o momento. A produção
das mangabeiras nativas do Cerrado é variável: até 188 frutos/planta (REZENDE
et al., 2002) e de 100 a 400 frutos/planta (SILVA et al., 2001). Recentemente, na
Embrapa Cerrados, foram avaliadas matrizes com até 2200 frutos numa única
safra, pesando até 120 g/fruto e contendo até 40 sementes/fruto (Figura 7). Nos
Tabuleiros Costeiros e na Baixada Litorânea do Nordeste, também predomina a
atividade extrativista, mas já começam a surgir os primeiros plantios desta fruteira,
sendo o potencial de produção estimado em 10 a 12 t/ha, a partir do quinto ano
depois do plantio (VIEIRA NETO, 2001) e de 100 kg/planta/ano ou 20 t/ha/ano,
estabilizando a produção após o décimo ano (AGUIAR FILHO et al., 1998). Esses
números evidenciam o potencial de produção da espécie, ainda pouco explorado
pela pesquisa.
205
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
A mangaba é uma fruta muito apreciada e, durante o período de safra, faz
parte da dieta das pessoas do campo e da cidade, sendo o seu consumo mais
difundido na região Nordeste do Brasil. A sua exploração extrativista está associada
aos pequenos agricultores e constitui fonte de renda para a família. Como a oferta
do produto é insuficiente para atender a demanda, cujo potencial real ainda não é
conhecido, deduz-se que o seu cultivo em pomares caseiros poderia contribuir para
ampliar a renda familiar e gerar mais empregos.
Segundo Aragão (2003), a polpa de mangaba de uma empresa em Sergipe
é comercializada de três formas: venda direta ao consumidor na própria fábrica;
venda ao consumidor através de entrega em domicílio, lanchonetes, residências,
hospitais, hotéis, etc.; venda na rede de supermercados através de distribuidora.
A polpa de mangaba é a que apresenta maior vendagem na empresa (19,7%),
praticamente igual a de cajá (19,5%), sendo ambas muito mais vendidas do que
as demais: ameixa (9,0%); graviola (8,5%); goiaba (7,1%); acerola (5,9%); manga
(5,1); maracujá (4,9%); umbu (4,7%); cacau (3,6%); caju (2,7%); açaí (2,2%);
abacaxi (1,5%); cupuaçu (1,3%); pitanga (1,3%); jenipapo (0,8%); morango (0,7%);
tamarindo (0,7%); mamão (0,2%) e umbu-cajá (0,2%).
Segundo Lederman e Bezerra (2003), a comercialização da mangaba no
Nordeste é direcionada para as Centrais de Abastecimentos (CEASAs), as grandes
redes de supermercados, as indústrias de processamento da polpa e as feiras e os
mercados públicos, sendo que nem os estados maiores produtores, como Sergipe,
Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte dispõem dessas informações, mas apenas
algumas centrais de abastecimento. Segundo os autores, o Censo Agropecuário
realizado pelo IBGE, em 1996, registrou a produção nacional de 1.492 t de mangaba,
com um valor de R$ 448.172,00. Essa produção deve se referir aos Estados do
Nordeste, pois na região de Cerrado a produção é comercializada nas margens
de estradas e não tem sido mensurada. Segundo os autores, a quantidade de
mangaba comercializada na Ceasa – Recife e os preços praticados no período de
1993 a 2002 são apresentados na Tabela 1. A produção de frutos variou de ano
para ano, mas não se observou tendência de queda ou crescimento da oferta que
variou de 322 a 590 t/ano. Os preços médios caíram nos últimos três anos para
valores abaixo de R$1,00/ kg, o que pode ser atribuído mais ao fator de correção
aplicado para efeito de atualização dos valores, do que ao aumento na oferta de
frutos (Lederman e Bezerra, 2003).
206
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
Tabela 1. Frutos de mangaba comercializados na CEASA do Recife e preços
praticados de 1993 a 2002.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o Seminário Plantas do Futuro – Região Centro-Oeste, realizado
em Brasília, em junho de 2005, com base em dezenas critérios utilizados na
avaliação, a mangabeira foi listada entre as espécies prioritárias para exploração e
pesquisa, sendo destacados os seguintes aspectos:
Pontos que estimulam a exploração da cultura:
• Grande aceitação e consumo da fruta e da polpa no Nordeste. Porém, no
Cerrado, é menos consumida, provavelmente por falta de divulgação e oferta;
• Polpa pouco calórica: 47 a 60 calorias/100 g;
• Alto potencial de produção de frutos: > 100 kg/planta ou > 10 t/ha/ano;
• Alta variabilidade genética para melhoramento;
207
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
• A clonagem por enxertia permite grande atalho no melhoramento genético da
espécie;
• Das espécies frutíferas do Cerrado, o pequi e a mangaba são as mais
estudadas, sendo que a mangaba já foi objeto de um simpósio em dezembro de
2003 (Embrapa, 2003), sendo as publicações compiladas numa base de dados
em CD-Rom (Embrapa, 2003), em livro (Silva Júnior e Lédo, 2006) e uma série
de publicações técnicas e científicas referenciadas no final deste capítulo;
Interesses ambientais e comerciais favorecem seu cultivo ou extrativismo
sustentável;
• Já existem alguns plantios pioneiros no Cerrado e no Nordeste;
• A espécie pode ser cultivada em solos marginais (acidentados, arenosos,
pedregosos).
Pontos que limitam a exploração da cultura:
• Fruto altamente perecível (vida curta pós-colheita, maturação rápida e
amolecimento, casca delicada e frágil e comestível, queda no chão provoca
danos e sujeira);
• Ponto de colheita difícil de determinar;
• Látex na polpa dificulta a limpeza das máquinas de beneficiamento;
• Uma safra rápida por ano e alternância de produção (no Cerrado);
• Muitas pragas e doenças, ainda sem controle efetivo em pomares.
Ações e pesquisas prioritárias:
• Coleta, conservação, avaliação e intercâmbio de germoplasma;
• Melhoramento - avaliação e seleção de clones com casca mais resistente e cor
mais atraente, frutos com ponto de colheita bem definido, frutos mais persistentes
na árvore, frutos mais firmes e com vida mais longa, frutos maduros com menos
látex na polpa;
• Adubação e nutrição mineral;
• Podas de formação e produção;
• Estudos de polinização para aumentar a produção de frutos;
• Controle de pragas e doenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
208
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. 464 p.
209
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
FERREIRA, E. G.; SILVA, H.; BOSCO, J.; AGUIAR FILHO, S. P.; SILVA, A. Q.
Estudo de plantas nativas e cultivadas de plantas cultivadas de mangabeiras no
Litoral Paraibano. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BOTÂNICA, 7., 1996, Nova
Friburgo, RJ. Resumos... Nova Friburgo: Sociedade Botânica do Brasil, 1996. p.
354.
210
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
211
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
T. G. Caracterização de ambientes com alta densidade e ocorrência natural de
mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 17., 2002, Belém. Anais... Belém: Sociedade Brasileira de
Fruticultura, 2002. 1 CD-ROM.
212
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 12
mangabeiras (Hancornia speciosa Gomes), em diferentes substratos. Agrotrópica,
Itabuna,v. 12, n. 3, p. 173-180, 2000.
213
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
MARACUJÁ-DO-CERRADO
Marcelo Fideles Braga
Nilton Tadeu Vilela Junqueira
Fabio Gellape Faleiro
Tania S. Agostini-Costa
Luis Carlos Bernacci
216
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
217
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a) b)
Figura 2. a) Passiflora alata Curtis ou maracujá-doce; b) Passiflora nitida HBK
ou maracujá suspiro.
FAMÍLIA
As espécies de maracujá pertencem á família Passifloraceae, que é composta
por 19 gêneros, sendo, o gênero Passiflora, o de maior expressividade, com cerca
de 400 espécies americanas (BRAGA e JUNQUEIRA, 2000; OLIVEIRA et al., 1994;
SOUZA e MELETTI, 1997; CERVI, 1997; BERNACCI et al., 2005). O número de
espécies no Brasil é de 111 a 150, sendo que o maior centro de diversidade genética
deste gênero localiza-se no Centro-Norte do Brasil (OLIVEIRA et al., 1994; SOUZA
e MELETTI, 1997). O maracujazeiro-azedo ou maracujá amarelo é a espécie mais
cultivada no Brasil e pertence à espécie Passiflora edulis Simmonds, que inclui,
também, o maracujá-roxo. Por ter frutos amarelos, recebe, também, denominação
de P. edulis Simmonds f. flavicarpa Degener. A segunda espécie mais cultivada no
Brasil é a Passiflora alata Curtis ou maracujá-doce. A espécie Passiflora edulis,
conhecida como maracujá-roxo, é muito cultivada na Austrália, África e Sudeste
Asiático. Estima-se que juntas, as espécies P. edulis f. flavicarpa e P. edulis ocupam
mais de 90 % da área cultivada com maracujá no mundo.
218
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
DESCRIÇÃO
Passiflora cincinnata Mast. Sinônimo de P. corumbaensis (CERVI, 1997).
Também denominada de maracujá-do-cerrado, maracujá-mochila, maracujá-
tubarão e maracujá-de-vaqueiro, esta espécie trepadeira apresenta grande
variabilidade quanto ao tamanho e formato do fruto (Figura 3a). Seus frutos pesam
de 30 a 250 gramas e permanecem com a casca verde ou ligeiramente amarelada
quando maduros. Podem ser utilizados para a confecção de doces (Figura 7a),
geléias e sucos. Os frutos possuem polpa bastante ácida e com coloração variando
de amarelo-claro a creme, quando maduro (Figura 3b). As flores são ornamentais,
geralmente roxa-escuras, mas existem variedades com flores rosa, lilás e branca
(Figuras 4a, 4b e 4c). É uma espécie resistente à antracnose, tolera bem a seca e
ao fogo e tem boa conservação após a colheita. Sua safra coincide com o período
de entressafra do maracujá amarelo comercial, fato que pode torná-lo muito
interessante para os programas de melhoramento do maracujá-azedo comercial,
visando à obtenção de frutos em períodos de entressafra e eliminar o problema da
sazonalidade na indústria e no mercado. Geralmente é comercializado em feiras
livres de algumas cidades do interior da Bahia, Minas Gerais e Goiás.
219
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a)
b)
Figura 3. Passiflora cincinnata Mast.: a) variação no formato e no tamanho de
frutos; b) Fruto maduro e flor roxo-escuro.
220
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a)
b) c)
Figura 4. Flores lilás (a), branca (b) e azul-claro (c) de P. cincinnata.
221
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a)
b)
Figura 5. Passiflora setacea: a) folhas e frutos; b) frutos maduros.
222
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
por patógenos do solo, bem como a algumas doenças da parte aérea da planta, como
a antracnose, verrugose e septoriose, além de apresentar tolerância à virose do
endurecimento do fruto, causada pelo vírus CABMV e/ou PWV. No Distrito Federal,
a colheita de frutos dessa espécie ocorre de setembro a outubro, ou seja, durante
o período de entressafra do maracujá-azedo comercial, fato que a torna importante
para os programas de melhoramento. Por ser compatível e cruzar facilmente com
o maracujá-azedo comercial (P. edulis f. flavicarpa) gerando híbridos férteis, essa
espécie já vem sendo utilizada como fonte de resistência a doenças no programa
de melhoramento do maracujazeiro-azedo da Embrapa Cerrados. Pode também
ser utilizada como porta-enxerto para a espécie comercial, conforme relatado por
Chaves et al. (2004) e Braga et al. (2004). A principal limitação ao seu cultivo em
escala comercial tem sido as dificuldades encontradas para propaga-la por sementes
ou por estaquia.
Os mercados maiores desconhecem essa espécie, sendo necessário um
estudo de aceitação por parte dos consumidores e atacadistas. Por outro lado, no
mercado de Brasília, há uma grande demanda por doces e sorvetes produzidos
a partir de frutos dessa espécie. Estas características desejáveis fazem com que
a P. setacea seja a espécie prioritária em estudos com passifloras silvestres do
Cerrado.
Passiflora serrato-digitata Linn. Sinônimo de P. serrata, P. digitata, P.
palmata Lodd., P. cearensis Barbosa Rodrigues (CERVI, 1997). Também conhecida
como maracujá-de-cobra, maracujá-de-boi, maracujá-de-cinco-pernas, essa espécie
trepadeira apresenta frutos muito parecidos com os da P. cincinnata. São bastante
uniformes quanto ao formato e ao tamanho, pesam em torno de 40 a 130 gramas
e medem de 4 a 6 cm de diâmetro. Geralmente são arredondados ou ligeiramente
ovalados (Figura 6a e 6b). Possuem polpa de coloração creme-amarelada quando
maduros (Figura 6b). Suas flores são esverdeadas por fora, sépalas e pétalas
arroxeadas, corona com cílios longos de cor violeta escuro (Figura 6a) e abrem pela
manhã.
223
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a)
b)
Figura 6. Flores e frutos (a) e frutos maduros (b) de Passiflora serrato-digitata.
224
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
ASPECTOS ECOLÓGICOS
A P. cincinnata floresce de janeiro a abril e os frutos amadurecem de
setembro a novembro. A taxa de germinação das sementes ocorre na faixa dos 3%,
quando retiradas de frutos já amarelados. A produção por planta é muito variável
de acordo com a procedência do acesso. Há acessos muito produtivos e de frutos
grandes, cujas plantas, com dois anos de idade, podem produzir até 15 kg de frutos/
planta/ano em condições de cultivo. As flores são decorativas (Figura 7b), abrem-
se pela manhã e são polinizadas por insetos, principalmente pela mamangava
(Xyllocopa spp.).
Esta espécie ocorre em baixa densidade nos tipos fisionômicos compostos
por vegetação primária. No entanto, após desmatamentos ou queimadas, essa
espécie pode surgir em densidades de até 60 plantas/ha. Propaga-se por brotos
emitidos a partir de raízes ou caules subterrâneos, o que a torna tolerante às
queimadas e à seca. Por outro lado, não suporta inundações por mais de 60 dias e,
nestas condições, se torna altamente susceptível ao fungo Fusarium solani.
Em seu ambiente natural, as plantas sobrevivem por muito tempo, apesar de
suas folhas serem apreciadas por bovinos. No Distrito Federal, algumas populações
descobertas em 1990, sobrevivem até hoje, principalmente a partir de brotações de
225
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
226
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
227
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
a)
b)
Figura 7. P. cincinnata: doces de frutos encontrados em feiras e mercados de beiras
de rodovias de Goiás e Bahia (a); potencial ornamental (b).
228
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
VALOR NUTRICIONAL
Não há informações sobre o valor nutricional de frutos das espécies
mencionadas como maracujá-do-cerrado. A P. setacea vem despertando interesse
de pesquisadores por apresentarem propriedades soníferas, baseadas em
conhecimentos populares, mas ainda não há resultados definitivos. A polpa de
maracujá-azedo (P. edulis f. flavicarpa) pode ser considerada uma boa fonte de
vitamina B1 (150 μg/100g), vitamina B2 (100 μg/100g), vitamina PP (1,5mg/100g) e
ferro (1,6 mg/100g) (FRANCO, 1992).
TECNOLOGIA PÓS-COLHEITA
Os frutos da P. cincinnata e P. serrato-digitata têm boa resistência pós-
colheita, podendo permanecer em ótimo estado por mais de 20 dias após a colheita,
em condições ambientais. Geralmente são utilizados para confecção de doces,
sucos, geléias e sorvetes. Os frutos da P. setacea são mais sensíveis e permanecem
em boas condições até uma semana depois de colhidos no chão. A partir desse
período começam a murchar e podem ser infectados pelo fungo Colletotrichum
gloeosporioides, causador de antracnose, cladosporiose e outros (Junqueira et al.
2005). Os frutos são muito aromáticos, doces, podendo apresentar até 20 ºBrix e
pesam de 30 a 126 gramas.
229
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
230
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
INFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS
Por serem rústicas, tolerantes a pragas e doenças e por apresentarem
boa produtividade, estas espécies poderão, num futuro próximo, adquirir grande
importância social e ambiental por gerar emprego e renda em áreas marginais para
a agricultura convencional e dispensar o uso de defensivos agrícolas.
Frutos, geléias e doces dos frutos destas três espécies, geralmente, são
comercializados em feiras livres e em pequenos mercados de beira de estradas.
O doce é muito saboroso, de bela aparência e normalmente é vendido no varejo
por R$ 8,00 a R$ 10,00 a barra de 500 gramas. Nas feiras livres da cidade de
Barreiras, BA, e Montes Claros, MG, os frutos de P. cincinnata misturados com os
de P. serrato-digitata são vendidos ao preço de R$3,00 a R$5,00 por kg. Preços
similares são praticados nos municípios de Pirapora, MG, João Pinheiro, MG, e
Chapada Diamantina, BA, para os frutos de P. setacea.
Quanto à periodicidade de oferta, frutos da P. setacea e da P. cincinnata,
geralmente, são ofertados de agosto a novembro, enquanto os P. serrato-digitata
podem ser ofertados de maio a novembro. Por outro lado, produtos processados
podem ser ofertados em qualquer época do ano.
Quanto à aceitação pelo consumidor, os frutos da P. setacea têm maior
potencial por apresentarem melhor aparência, serem mais aromáticos e mais
saborosos. No entanto, para colocá-los em mercados maiores é necessário um
trabalho de divulgação e de marketing, como é feito com qualquer outra fruta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre as três espécies descritas, a P. setacea tem despertado grande interesse
por parte da comunidade científica, por apresentar rusticidade, resistência à seca, às
pragas e às doenças em campo, floração em períodos de entressafra do maracujá
231
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
232
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 13
JUNQUEIRA, N. T. V.; LAGE, D. A.da C.; BRAGA, M. F.; PEIXOTO, J. R.; SILVA,
D. M.; BORGES, T. A.; KRAHL, L. L.; ANDRADE, S. R. M. de. Reação de doenças
e produtividade de um clone de maracujazeiro-azedo propagado por estaquia e
enxertia em estacas de passiflora silvestre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 18., 2004, Florianópolis, SC. Anais ... Jaboticabal: Sociedade
Brasileira de Fruticultura, 2004.
233
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
MURICI
Graziella Garritano
Camila Lopes Jorge
Ana Paula Soares Machado Gulias
NOMES COMUNS: Orelha-de-veado, orelha-de-burro, murici-rasteiro, murici-
pequeno, douradinha-falsa, muriciaçu, murici-branco, murici-casendo, murici-de-
chapada, murici-de-tabuleiro, murici-grande, murici-guaçu (CAMARGOS et al.,
2001), muricizão (SILVA JÚNIOR, 2005), embirici, murici-da-mata (CORRÊA, 1984)
(Figura1).
DESCRIÇÃO
Árvore ou arbusto hermafrodita, medindo de 4 a 6 m, tronco freqüentemente
tortuoso com diâmetro de até 17 cm, retidoma de cor cinza-claro, com fissuras
descontínuas e sinuosas que formam placas irregulares (SILVA JÚNIOR, 2005).
Copa com ramos terminais de crescimento nodular (Figura 2). Folhas de 14-20 cm
de comprimento por 6-12 cm de largura, coriáceas, pilosas em ambas as faces,
simples, opostas, obovatas a suborbiculares. Estípulas intrapeciolares ou axilares.
Figura 2. Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Foto: Projeto CNBBC cedidas por
J. F. Ribeiro.
237
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
Inflorescência racemo terminal (Figura 3). Flores com cerca de 1,5 cm de
diâmetro, dispostas em espigas alongadas, zigomorfas, pediceladas; 5 sépalas com
4 pares de glândulas na base; corola amarela ou alaranjada após polinização; 5
pétalas, livres, ungüiculadas; 10 estames, desiguais, filetes unidos na base; anteras
rimosas, amarela. Fruto de até 2 cm de diâmetro, drupa globosa, glabra, mesocarpo
carnoso; de polpa suculenta e adocicada; amarelo na maturação. Semente de até
0,5 cm de diâmetro, uma a três por fruto.
238
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
Os dados utilizados para a elaboração do mapa foram obtidos em levantamentos
nos herbários: CEN (Embrapa/ Cenargen), UB (Universidade de Brasília), UFMT
(Universidade Federal de Mato Grosso), RB (Jardim Botânico do Rio de Janeiro).
Foram amostradas 89 exsicatas.
ASPECTOS ECOLÓGICOS
Árvore “sempre verde” de densidade variável, dependendo da fitofisionomia
e da região. Henriques (1993) verificou crescimento vegetativo nessa espécie de 10
a 20 cm de distância entre caules. Em um levantamento fitossociológico realizado
pelo SEINF/SEPLAN (2005), B. verbascifolia esteve ricamente presente no cerrado
de encosta da vegetação do Estado do Tocantins.
A floração ocorre entre agosto e dezembro em áreas de cerrado (SILVA
JÚNIOR., 2005) e entre agosto e novembro na região Centro Sul (LORENZI, 2002).
Em um estudo realizado por Fielder et al. (2004) sobre os efeitos de incêndios
florestais na estrutura e composição florística de uma área de cerrado sensu stricto
foi constatado que a espécie foi uma das primeiras a florir logo após as queimadas,
pois apresenta folhas densamente pilosas agrupadas no ápice dos ramos, que
protegem as gemas apicais. Os principais vetores de polinização são abelhas de
médio e grande porte dos gêneros: Centris, Epicharis e Bombus, responsáveis pela
coleta de pólen e óleo. São freqüentes, também, abelhas pequenas dos gêneros
TrigonaI, Apis, Augochloropsis, Tetragona, Paratetrapedia e outros (BARROS,
1992).
A frutificação ocorre entre outubro e fevereiro em áreas de cerrado1 (SILVA
JUNIOR., 2005) e a partir de dezembro observa-se a maturação dos frutos na
região Centro Sul (LORENZI, 2002). A produção de frutos é alta e irregular, porém
caem facilmente e são alvos de predadores (Almeida et al., 1998). A dispersão das
sementes é feita por aves e por outros animais (SILVA JÚNIOR, 2005).
A taxa de germinação é de 3%, sendo que, quando imersas em ácido
giberélico (2g/l por 24 horas), há aumento dessa taxa (SILVA JÚNIOR, 2005).
Adaptado a solos com presença de alumínio, o murici suporta bem o clima do
cerrado.
Diferentemente de outras espécies, não foi observada em B. verbascifolia
a ocorrência de vassoura-de-bruxa, que danifica as flores e impede a formação dos
frutos. Dianese et al. (1995) encontraram o fungo Phyllosticta associado em folhas
de B. verbascifolia, causando lesões marrons circulares de formato irregular.
A planta é parasitada por cerca de 21 espécies de larvas de lepidóptera,
dentre as quais pode se destacar: Cerconata achatina Zeller, Gonioterma indecora
Zeller, G. exquisita Duckworth e Timocratica melanocosta Becker (Oecophoridae)
1Almeida et al. (1998) observaram que a frutificação ocorre geralmente de outubro
a fevereiro, nas regiões de cerrado, sendo que a presença de frutos maduros se dá
por um período de dois meses.
239
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
(ANDRADE et. al., 1999). De acordo com Southwood (1986), a predação ocorre,
na maioria das vezes, em folhas maduras da planta, por apresentarem pequenas
quantidades de pêlos na superfície foliar, em comparação com as folhas jovens. Em
um estudo feito por Diniz & Morais (2002) observou-se que as flores e os botões
florais foram predados por Thecla ca. caninius Druce (Lycaenidae).
Os taninos (grupo químico de compostos poliidroxifenólicos), que são
naturalmente encontrados em árvores de B. verbascifolia, possuem a capacidade
de adsorver metais dissolvidos em água, aglutinando-os por precipitação no meio.
Assim, é de grande utilidade como floculante, para tratamento de água e esgoto
(SILVA, 1999).
240
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
RECURSOS GENÉTICOS
A espécie apresenta taxa de autogamia, sendo citada por Barros (1992)
como cleistogâmica e de elevado índice de compatibilidade o que, além de facilitar a
polinização cruzada, favorece a variabilidade genética dentro das populações. Uma
boa estratégia para a preservação da espécie seria a conservação in situ por meio
de Unidades de Conservação.
VALOR NUTRICIONAL
O murici é uma boa fonte de energia por apresentar alto teor de gordura
(Ministério da Saúde, 2002). O fruto destaca-se como fonte de ferro, fibra, carboidrato
e vitamina C (Tabela 1). Apresenta maior teor de vitamina C do que o brócolis, a
laranja-bahia, a laranja-pêra e o limão, sendo seu teor comparável ao da couve-
manteiga (92 mg). A associação do ferro e da vitamina C é benéfica, pois, segundo
Franco (1999), a absorção do ferro é potencializada pela presença dessa vitamina.
2 A espécie apresentou poder calorífico superior acima da média e pode ser consi-
derada como uma das prioritárias para uso, plantio e manejo energético do cerrado
(Fellfili et al., 2004) e está entre as 18 espécies listadas por Ratter et al. (1996) que
ocorrem com ampla distribuição no Brasil Central, para esse fim.
241
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
Carboidrato
equivalente
Proteína
Energia
Niacina
Retinol
fósforo
Lipídio
Cálcio
Vit. B2
Vit. B1
Ferro
Vit.C
fibra
(Kcal) (g) (g) (g) (g) (mg) (mg) (mg) (mcg) (mg) (mg) (mg) (mg)
61-66 0,9- 1,2- 11,2- 2,2 19- 2 17 7 0,04 0,02 84 0,4
1,4 1,3 14,4 33
Fonte: ENDEF, 1981; Franco, 1999.
242
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 14
Em um trabalho realizado por Souza et al. (2003), foi comprovada a
elevada taxa de sobrevivência e a notável adaptabilidade do murici em neossolo
quartzarênico (solos arenosos), evidenciando-se seu alto potencial para o cultivo no
solo do litoral do Ceará.
Tratos culturais. De acordo com um estudo feito por Gomes (1983), as
plantas de B. verbascifolia estão livres da utilização de defensivos agrícolas, o que,
além de baratear os custos de produção, tornam o murici uma fruta de consumo
seguro, no que diz respeito às contaminações por parte desses defensivos.
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
A caixa do murici é comercializada no valor de R$ 25,00. Seu rendimento
por hectare chega a R$ 13.500,00 (Comunicação pessoal obtida com Felipe Ribeiro
– Embrapa, 2005).
Por se tratar de uma espécie de múltiplas funções, apresenta potencial para
geração de renda para as famílias da região Centro-Oeste, por meio de produção
de corantes, móveis, alimentos in natura, mel e do seu uso medicinal.
A espécie pode ser uma alternativa rentável e ecologicamente desejável
para o uso, o manejo e a conservação do solo, viabilizando e proporcionando às
famílias assentadas alternativas para a produção de alimentos, além da geração de
renda extra, por meio da venda de produtos semiprocessados (Souza et al., 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O homem regional aprendeu a dar ao fruto do murici variadas utilidades,
muitas delas comuns desde tempos bastante antigos. O fruto possui a casca e a
polpa de um amarelo intenso, é rico em vitamina C e tem sabor e cheiro característico.
É uma espécie de elevado potencial econômico e de fácil cultivo, não requerendo
grandes cuidados nos tratos culturais. Pode ser usada como planta ornamental e,
também, no uso, manejo e conservação do solo em áreas assentadas.
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dez. 2003.
246
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
PEQUI
Paulo Sérgio Nascimento Lopes
Ailton Vitor Pereira
Elainy Botelho Carvalho Pereira
Ernane Ronie Martins
Rogério Carvalho Fernandes
248
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
FAMÍLIA
A família Caryocaraceae possui apenas dois gêneros: Caryocar L. e
Anthodiscus G. Mey.
DESCRIÇÃO
O Caryocar brasiliense é uma árvore que pode atingir acima de 10 m de
altura (Figura 2) ou ter porte pequeno por causa da baixa fertilidade do solo ou de
fatores genéticos (Figura 3). O caule possui casca espessa e os ramos são grossos
e angulosos.
a) b)
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
Figura 3. Pequizeiro anão florido (a) e frutificado (b) oriundos da Região Sul de
Minas Gerais. Foto a: Ailton Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira; Foto
b: Nilton Tadeu Vilela Junqueira
250
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Figura 10. Caroços de pequi com endocarpo com espinhos (esquerda) e sem
espinhos (direita), encontrados na região de Montes Claros, MG. Foto: Paulo
Sérgio Nascimento Lopes.
255
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
ASPECTOS ECOLÓGICOS
Fenologia. Fenologia é o estudo da ocorrência de eventos biológicos
repetitivos, suas causas bióticas e abióticas e da inter-relação entre fases
caracterizadas por esses eventos numa mesma e em diferentes espécies (LIETH,
1974). Esse ramo da ecologia estuda as causas e as manifestações dos fenômenos
de floração, frutificação e de queda e brotamento de folhas nas plantas, denominadas
fenofases (FOURNIER, 1976).
As observações fisiológicas permitem prever a época de reprodução das
árvores, seu ciclo de crescimento vegetativo, deciduidade e outras características
importantes para o manejo da flora (FOURNIER, 1976).
Gribel (1986) estudou a fenologia de pequizeiros na região do Distrito
Federal, durante o período de junho de 1983 a maio de 1985. Os resultados
encontram-se a seguir:
256
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
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RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade e erosão genética. A exploração extrativista, com
coleta intensiva dos frutos prejudicando a regeneração natural do pequizeiro, e o
uso do Cerrado como principal área de expansão agrícola do país são as principais
causas da erosão genética dessa espécie, sendo necessários trabalhos que visem
a sua conservação, in situ e ex situ. Quando ocorre a extinção de populações de
uma determinada espécie, genes únicos, que são a reserva adaptativa da espécie
diante das mudanças ambientais, também são eliminados (ARAÚJO, 2000).
A quantificação dos riscos de erosão genética de uma espécie se baseia
na atribuição de notas à existência ou inexistência de um fator de risco, além de
sua eventual severidade, reversibilidade e duração. Tais fatores de risco podem
ser ponderados e constituir um índice cuja magnitude representa o maior ou menor
risco de erosão genética de uma espécie (GUARINO, 1995; MARTINS, 2000).
Para o pequizeiro, não existe metodologia para a seleção e quantificação
dos fatores de risco de erosão genética. Souza e Martins (2004), em seu trabalho
de erosão genética em Dimorphandra mollis considerou os seguintes fatores de
risco: a) distribuição do táxon; b) propensão a incêndios; c) extensão e grau de
uso do hábitat e da espécie; d) pressão da atividade agrícola sobre o hábitat; e)
disponibilidade de terras agricultáveis; e f) distância ao maior centro populacional, a
estradas principais e a projetos de desenvolvimento.
Para o pequizeiro, os principais fatores de risco de erosão genética são
o extrativismo predatório (coleta de quase todos os frutos, principalmente os de
maior valor econômico, com caroço grande e polpa espessa) e o desmatamento
de áreas de Cerrado, os quais prejudicam a regeneração natural e a dispersão dos
genótipos, diminuindo ou exterminando as populações de espécies polinizadoras e
dispersoras.
Melo Júnior (2003) encontrou no pequizeiro elevados índices de diversidade
(heterozigosidade, número de alelos por loco polimórfico e porcentagem de locos
polimórficos), similares ou superiores aos da maioria das espécies tropicais. O autor
sugere, por meio da estimação efetiva de tamanho populacional, um valor mínimo
para coleta de germoplasma de pelo menos 82 indivíduos (matrizes), para garantir a
manutenção da variabilidade genética das sementes. A alta diversidade encontrada
evidencia o grande potencial da espécie para conservação e futuros programas de
melhoramento. Identificou-se também que a variabilidade dentro das populações é
maior do que a variabilidade entre populações (MELO JÚNIOR, 2003; LOPES et al.,
2004).
Conservação de germoplasma. Embora tenha o corte proibido (Portaria
Nº 54, de 05/03/1987 - IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal),
a fiscalização deficitária não impede que o pequizeiro ainda seja uma das muitas
espécies a “tombar” ante a devastação do Cerrado, para o plantio de pastagens,
culturas anuais, reflorestamentos, etc. O corte, somado ao extrativismo intenso, que
259
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
260
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
alimentar (39,97%), o que sugere potencial para uso como alimento funcional. Para
essa finalidade, são necessários estudos qualitativos mais avançados quanto à
determinação de carboidratos totais, taninos e saponinas (BARBOSA e AMANTE,
2002). A “castanha” (semente), é comestível e utilizada na fabricação de paçoca e
óleo branco (POZO, 1997). Contudo, o principal produto do pequizeiro é a polpa
(mesocarpo interno) que fica aderida ao caroço utilizado principalmente na culinária
regional, predominantemente, nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal (Blumenschein e Caldas, 1995) (Figura
12). O mesocarpo interno contém óleos que são utilizados como condimentos, na
fabricação de licores, na indústria de lubrificantes e de cosméticos (sabão, sabonete
e cremes) e na tradição popular para tratar problemas respiratórios (PEIXOTO, 1973;
EMBRAPA-CPAC, 1987, citada por ARAÚJO, 1994; ALMEIDA e SILVA, 1994).
261
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
VALOR NUTRICIONAL
A “casca” do fruto do pequizeiro, processada em farinha, apresenta valores
de lipídios, proteínas, carboidratos totais e fibra alimentar de, respectivamente, 1,54;
5,76; 50,94 e 39,97% (BARBOSA e AMANTE, 2002).
A literatura apresenta teores elevados de carotenóides totais para o
pequizeiro, apesar de serem bastante variáveis. Os teores de carotenóides totais
variaram entre 6,75 a 11,34 mg por 100g, em função do grau de maturação dos frutos
(OLIVEIRA et al., 2004). Ramos et al. (2001), trabalhando com pequis procedentes
de MS, encontraram valores médios de 23,11 e 15,41 mg de carotenóides totais
por 100g de polpa crua e cozida, respectivamente. Alguns autores apontam o
fruto do pequizeiro como fonte potencial de vitamina A (CARVALHO e BURGUER,
1960; FRANCO, 1982; VILELA, 1998; RODRIGUES et al., 2004), porém Azevedo-
Meleiro e Rodriguez-Amaya (2004) e Ramos et al. (2001), utilizando separação
cromatográfica, verificaram que os principais carotenóides presentes na polpa do
pequi (anteraxantina, zeaxantina, violaxantina, e luteína) não possuem atividade
pró-vitamina A. Segundo estes autores, os carotenóides pró-vitamínicos, presentes
em menores quantidades, forneceram valores pró-vitamina A entre 54 e 500
RE/100g. A cenoura apresenta valores pró-vitamina A entre 620 e 800 RE/100g.
Entretanto, mesmo sendo destituídos de atividade pró-vitamina A, os principais
carotenóides presentes na polpa do pequi parecem desempenhar importante função
antioxidante.
A polpa de pequi contém de 70,9 a 105 mg/100 g de vitamina C, valores
acima da laranja, goiaba, banana d’água e maçã argentina, sendo o valor máximo
superior ao suco de limão (FRANCO, 1982; SANO e ALMEIDA, 1998; RODRIGUES
et al., 2004). A polpa de pequi apresenta teores de lipídeo e proteína que variam de
20 a 27% e 2,2 a 6,0%, respectivamente. Já na amêndoa, o teor de gordura variou
de 23,8 a 28,7% e o de proteína de 9,7 a 20,3% (VILELA, 1998; RODRIGUEZ, et al.,
262
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
2004; OLIVEIRA, et al., 2004). A polpa e a amêndoa do pequi contêm 267,9 e 317
Kcal/100 g, respectivamente, constituindo uma fonte rica em calorias (RODRIGUES
et al., 2004).
Em 100 gramas de polpa de pequi encontram-se, ainda, 0,030 mg de vitamina
B1, 0,463 mg de vitamina B2, 0,387 mg de niacina (FRANCO, 1982), podendo ser
considerado uma boa fonte de vitamina B2. Quanto aos minerais, cem gramas de
polpa de pequi apresentam 0,4 mg de Cobre, 1,6 mg de ferro, e 2,1 mg de sódio
(HIANE et al., 1992, citados por ALMEIDA et al., 1998), podendo ser considerado
boa fonte de ferro.
263
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
Figura 13. Semeadura correta do caroço com a ponta para baixo (a) gera plântulas
normais com perfeito alinhamento da raiz com o caule (b). Fotos: Ailton Vitor
Pereira.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
(em volume) de esterco de gado bem curtido, não devendo incorporar calcário e
adubos químicos. Dependendo do desenvolvimento das mudas, podem ser feitas
adubações nitrogenadas em cobertura, na dose de 50 a 100 mg de N/saco/mês,
visando melhorar o estado vegetativo e a soltura da casca dos porta-enxertos.
O viveiro pode ser instalado a pleno sol ou com até 50% de sombra feita
com tela sombrite ou bambu e palha, porém, as mudas a pleno sol crescem mais
rápido e atingem o ponto de enxertia mais cedo.
a) b)
Figura 14. a) Sementeira com leito de areia, camada de vermiculita cobrindo os
caroços e plântulas no estádio ideal para o transplante ou repicagem; b) na frente:
mudas de pequi em sacos plásticos arranjados em fileiras duplas. Fotos: Ailton
Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira.
Verifica-se, pelas observações de campo, a necessidade de controle das
regas e da utilização de substratos e recipientes que permitam a drenagem do
excesso de água de chuva ou de irrigação, evitando o encharcamento, a incidência
de podridão-das-raízes e a morte das mudas. As regas devem ser diárias durante
a germinação e depois da repicagem das mudas até seu perfeito estabelecimento,
podendo ser reduzidas ou espaçadas depois dessa fase. Devem ser diárias nos
dias secos e mais quentes e reduzidas ou espaçadas nos dias nublados e mais
frescos.
Diversas pragas foram constatadas, atacando raízes (cupins subterrâneos),
folhas (formigas cortadeiras, lagartas de várias espécies e pulgões) e caules (broca
do caule).
Entre as doenças, destacam-se em importância a ferrugem foliar (causada
pelo fungo Cerotelium sp.), o mal-do-cipó que ataca folhas e caules (causado
pelo fungo Phomopsis sp.) e a podridão-de-raízes (causada pelo encharcamento
prolongado do solo e pelo fungo Cylindrocladium clavatum)”.
267
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
o pegamento dos enxertos e deve ser feita mais rápido possível, evitando
sujar ou soprar as superfícies internas da janela e da placa, bem como sua
exposição prolongada ao sol.
• A verificação do pegamento e a abertura dos enxertos de borbulhia são
feitas quatro semanas depois da enxertia, realizando-se, em seguida, a
decapitação dos cavalos logo abaixo do segundo nó de gemas situado acima
do enxerto pego, para induzir sua brotação e desenvolvimento (Figura 15b
e c).
• Para o desenvolvimento dos enxertos, há necessidade de desbrotas
periódicas para eliminação de ramos ladrões (não originados do enxerto),
durante a fase de viveiro e depois do plantio da muda no campo”.
a b
c d
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271
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Figura 17. Broca do caule do pequizeiro: lagarta e danos causados (a,b); casulo
feito em parte da folha enrolada (c), e adulto montado com alfinete (d). Fotos:
Ailton Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira.
272
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a b
c d
273
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Figura 19. Mini-lagarta do broto apical: danifica tecidos tenros dos brotos e folhas
novas, comprometendo o crescimento das mudas e plantas jovens. Fotos: Ailton
Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
Figura 20. Morte das mudas de pequizeiro por podridão-de-raízes. Fotos: Ailton
Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira.
Figura 21. Mal-do-cipó: sintomas nas folhas de mudas (a), no caule de mudas (b)
e nos ramos da árvore (c). Sintomas da ferrugem foliar em mudas de pequizeiro
(d). Fotos: Ailton Vitor Pereira e Elainy Botelho Carvalho Pereira.
275
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
Colheita. Os frutos devem ser colhidos maduros, logo depois da sua queda
no chão, procedendo-se à eliminação dos caroços danificados por praga (broca do
fruto), doença (podridão-do-fruto) e animais (Pereira et al., 2002a).
A coleta do fruto imaturo na árvore (colheita de vara) é uma prática ainda
realizada pelos extrativistas estimulados pelos altos preços dos frutos no início da
safra. Com tal prática, porém, corre-se o risco de cortar frutos que não tenham
alcançado a maturação, podendo levar a alterações na sua composição química.
276
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
Importância social. Durante a safra de verão do pequi, a colheita e a
comercialização mobilizam 50% da população rural e representam 54,7% da renda
anual desses trabalhadores (POZO, 1997; ALENCAR, 2000). A renda obtida com a
venda do pequi, além de contribuir com as despesas diárias da família, serve para
cobrir gastos relacionados com as lavouras e representa um considerável reforço
na economia do agricultor familiar (POZO, 1997).
A qualidade da alimentação regional melhora com o consumo do pequi,
devido ao valor nutricional, especialmente associado ao valor calórico e ao teor de
vitamina A, e à facilidade de aquisição, devido à boa oferta e aos baixos custos.
Tal é a sua importância no norte de Minas Gerais, que o pequi é conhecido como a
“carne dos pobres” e foi apelidado de “esteio do sertão” (RIBEIRO, 2000).
Custo. Uma dúzia de caroços de pequi, no início e no final da safra, é
vendida a R$ 4,00, sendo que no pico da safra cai para R$ 0,50 centavos. Um litro
de óleo de pequi, na época da safra, é vendido por R$ 4,00, podendo chegar até R$
10,00 ou R$ 13,00 na entressafra (POZO, 1997).
Locais de venda. Os responsáveis pela comercialização do pequi são,
muitas vezes, os próprios extrativistas que vendem diretamente ao consumidor
às margens das estradas ou a atacadistas que, por sua vez, os revendem aos
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação do pequi, se feita de forma adequada, não apenas proibindo
o seu corte, mas preservando a vegetação ao seu redor, por si só já traz benefícios,
com a preservação do Cerrado.
A possibilidade de se utilizar o pequizeiro em sistemas agroflorestais, no
enriquecimento de áreas do cerrado, na recuperação de áreas degradadas e na
arborização de pastagens, representa uma excelente alternativa para o combate à
degeneração das áreas de Cerrado que ainda resistem aos impactos antrópicos.
A exploração sustentada dos pequizeiros nativos tem grande potencial,
porém, são necessários estudos para reduzir os impactos do extrativismo e propor
formas de plantio e manejo que privilegiem o aumento da oferta de frutos, com
inclusão social e sem colocar em risco o ecossistema Cerrado.
279
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANJOS, J. R. N.; CHARCHAR, M. J. d´A; KIMOTO, A. K. Ocorrência de antracnose
causada por /Colletrotrichum acutatum/ em pequizeiro no Distrito Federal.
Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2002. (Embrapa Cerrados. Documentos, 61).
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Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v. 27, n. 1, p. 96-98, 2002.
ALENCAR, G. Pequizeiros enfrentam riscos de extinção. Hoje em Dia, Belo
Horizonte, 13 fev. 2000. p. 07.
ALMEIDA, S. P. de; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. P. Cerrado:
espécies vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. 464 p.
ALMEIDA, S. P. de; SILVA, J. A. Piqui e Buriti: Importância alimentar para a
população dos cerrados. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1994. 38 p. (EMBRAPA-
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ANDERSEN, O.; ANDERSEN, V. U. As frutas silvestres brasileiras. Rio de
Janeiro: Globo, 1988. 203 p.
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brasiliense Camb. around Montes Claros, MG, Brasil. 1994. 175 p. Tese
(Doutorado) - University of Oxford, Oxford.
ARAÚJO, M. A. R. Conservação da biodiversidade de MG: em busca de uma
estratégia para o século XXI. Belo Horizonte: UNICENTRO Newton Paiva, 2000.
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of the carotenoids of tropical fruits by HPLC-DAD and HPLC-MS. Journal of Food
Composition and Analysis, San Diego, US, v. 17, p. 385-396, 2004.
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brasiliense). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 17., 2002,
Belém, PA. Anais... Belém: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2002. 1 CD-ROM.
BARRADAS, M. M. Informações sobre floração, frutificação e dispersão do piqui
Caryocar brasiliense Camb. (Caryocaraceae). Ciência e Cultura, São Paulo, SP, v.
24, n. 11, p. 1063-1068, 1972.
BARRADAS, M. M. Morfologia do fruto e da semente de Caryocar brasiliense (piqui),
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1-4, p. 69-95, 1973.
280
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PÊRA-DO-CERRADO
Juliana Pereira Faria
Tânia S. Agostini-Costa
Nilton T. V. Junqueira
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
FAMÍLIA
Mirtaceae. Esta é uma das maiores famílias da América do Sul e Central,
ocorrendo na região neotropical e subtropical, com cerca de 3.000 espécies,
destacando-se frutíferas como a goiabeira (Psidium guajava) e a pitangueira
(Eugenia uniflora). Na região dos cerrados ocorrem cerca de 200 a 250 espécies
(PROENÇA, 1993).
DESCRIÇÃO
Em seu ambiente natural, a planta tem porte arbustivo de até um metro de
altura. Sob condições de cultivo, as plantas com 12 anos de idade podem atingir até
três metros de altura (Figura 2). Suas flores são brancas e aromáticas. Segundo Silva
et al. (2001), os frutos maduros apresentam seis a dez centímetros de comprimento
por quatro a sete centímetros de diâmetro, pesam entre 60 e 90 gramas, possuem
casca amarela, polpa branca, mole, aromática e ácida com duas a quatro sementes
(Figura 1). Cada planta produz de seis a 18 frutos em ambiente natural. Almeida et
al. (1998) relatam que, em pequena escala, houve produção de sete a dez frutos
por planta. Segundo Andersen e Andersen (1989), os frutos têm sabor agradável
e de aroma muito intenso. No entanto, segundo Junqueira, N.T.V. (comunicação
pessoal) o sabor varia conforme a distribuição geográfica da espécie. As plantas das
populações encontradas no Distrito Federal produzem frutos maiores, muito ácidos
e não muito aromáticos. Por outro lado, os frutos colhidos de plantas localizadas no
extremo sul do Estado de Minas Gerais são menores, menos ácidos, aromáticos e
de sabor agradável (Figura 3).
291
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
ASPECTOS ECOLÓGICOS
A maturação dos frutos ocorre de outubro a dezembro. Cada quilograma de
sementes contém cerca de 330 unidades. As sementes recém-coletadas apresentam
taxa de germinação em torno de 90% no período de 40 a 60 dias (SILVA et al., 1991;
293
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
RECURSOS GENÉTICOS
A grande variabilidade interpopulacional verificada (tamanho e acidez do
fruto, tamanho das folhas e porte da planta) sugere que E. klotzschiana é uma
espécie com alta taxa de endogamia e restrição ao·fluxo gênico o que, segundo
Robinson (1998), resulta em forte desequilíbrio na fixação de alelos de uma espécie.
Assim, os locos portadores de menores efeitos, sob o ponto de vista adaptativo,
podem ser fixados, tornando a espécie mais frágil à seleção natural e levando-a a
escassez em campo. Além disso, a marginalidade na distribuição geográfica levaria
à redução do fluxo gênico e, conseqüentemente, à menor diversidade genética
(RODRIGUES, 1999).
A variabilidade genética intrapopulacional é menor quando comparada à
interpolulacional. Não existe correlação entre distância genética e geográfica, uma
vez que a variabilidade genética entre os indivíduos da espécie independe de sua
coleta. A variação genética encontrada entre os indivíduos das diferentes áreas de
coleta é muito alta, sugerindo uma restrição dessa espécie ao fluxo gênico e uma
alta taxa de endogamia (RODRIGUES, 1999).
Existe uma grande variabilidade de germoplasmas disponíveis para coleta,
embora não exista registro de bancos de germoplasma para esta espécie. As
sementes das espécies de Eugenia nativas no Cerrado brasileiro são recalcitrantes,
o que inviabiliza sua conservação em câmara fria. O material vegetativo e reprodutivo
pode ser conservado in vitro ou em condições criogênicas (Salomão et al., 2003).
294
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
FIGURA 6. Fruto sadio e fruto atacado pela podridão branca causada por
Cylindrocladium sp. Foto: Nilton Junqueira.
• Mancha parda. Causada pelo fungo Phloeosporella sp., essa doença ataca
as folhas. Os sintomas são caracterizados pelo aparecimento de lesões
circulares com até 1 cm de diâmetro, marrom-escuras na face adaxial ou
superior das folhas, e marrons púrpuras na face abaxial ou inferior (Figura
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
FIGURA 7. Mancha parda causada por Phloeosporella sp. Foto: Nilton Junqueira.
• Mancha de alga. É causada pela alga Cephaleuros mycoidea. Ocorre
com bastante freqüência nas folhas mais velhas de pereiras-do-cerrado
cultivadas ou silvestres. Não chega a provocar queda de folhas, mas
pode reduzir a taxa de fotossíntese. Os sintomas são caracterizados por
manchas amareladas com aspecto ferruginoso e pulverulento com até 01
cm de diâmetro (Figura 6). Às vezes, as manchas se coalescem, ocupando
área considerável da superfície foliar (JUNQUEIRA et al., 2003).
298
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
Muito apreciada pelo formato e aparência, a pêra-do-cerrado é consumida in
natura e, também, na forma de doces, geléias e sucos, diversificando e enriquecendo
a dieta da população rural.
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pêra-do-cerrado (Eugenia klotzchiana Berg) é uma fruta de bela aparência
e de boa duração pós-colheita. Segundo consenso entre especialistas presentes
no Seminário Plantas do Futuro, realizado em Brasília, 2005, a espécie apresenta
facilidade de propagação por semente e estabelecimento pós-plantio, assim como
precocidade de produção. Por outro lado, a freqüência de distribuição da espécie,
a densidade no ambiente de ocorrência e a freqüência de adultos produtivos são
baixas, limitando a disponibilidade de frutos para o consumo. Para que seja possível
a exploração econômica sustentada desta espécie, é preciso que haja uma avaliação
e seleção de populações ou variedades que apresentem características comerciais,
como boa produtividade, resistência a doenças e produção de frutos com melhor
sabor (maior doçura e menor acidez). As técnicas de produção de mudas e de tratos
culturais precisam ser avaliadas; a caracterização do valor nutricional da fruta,
ainda não conhecido, também é importante para favorecer a divulgação comercial
da mesma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, S. M.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies
vegetais úteis. Planaltina, DF: EMBRAPA-CPAC, 1988. p. 187-189.
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Globo, 1988. 203 p. (Coleção do Agricultor. Fruticultura).
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de frutos de sete espécies fruteiras nativas do cerrado da Região Geoeconômica
do Distrito Federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 8., 1986,
Brasília, DF. Programas e resumos... Brasília: Sociedade Brasileira de Fruticultura;
EMBRAPA, 1986. p. 59.
JUNQUEIRA, N. T. V.; SANTIAGO, D. V. de R.; JUNQUEIRA, L. P.; SILVA, D. M. da.
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Federal. Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v. 8, p. s277, 2003.
MACHADO, J. W. B.; PARENTE, T. V.; LIMA, R. M. Informações sobre germinação e
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Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, BA, v. 8, n. 2, p. 59–62, 1986.
PROENÇA, C. Myrtaceae da região dos cerrados. In: ENCONTRO DE BOTÂNICOS
DO CENTRO-OESTE, 2., 1993, Brasília, DF. Anais... Brasília: SBB; CNPq;
EMBRAPA, 1993. p. 30.
ROBINSON, T. H. Managing pesticide waste and packaging. Farnham: The British
Crop Protection Council, 1998. 228p. (BCPC. Symposium Proceedings, 70).
300
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 16
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 17
JENIPAPO
Dijalma Barbosa da Silva
Antonieta Nassif Salomão
Paulo Cezar Lemos de Carvalho
Maria Magaly V. da Silva Wetzel
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Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 17
FAMÍLIA
DESCRIÇÃO
Planta de porte arbóreo atingindo de 6 a 25m de altura, com diâmetro
de até 60cm, copa arredondada e densa (Figura 2A). Folhas simples, opostas e
pecioladas com lâmina verde brilhante de 8 a 30cm de comprimento por 3 a 17cm
de largura, obovadas ou elípticas, glabras com margem lisa (Figura 2B). O tronco
é cilíndrico, reto, com casca lisa, espessa, cinzento-esverdeada com manchas de
cor cinza mais claras (Figura 2C). As flores brancas quando novas e amareladas,
posteriormente, ocorrem em inflorescências subcimosas, terminais ou subterminais
e liberam fragrância suave, característica da espécie. A corola é tubular, branca
amarelada, de 1,2cm de comprimento, com 5 lóbulos amplamente estendidos. O
cálice é verde, tubular-cilíndrico e sem lóbulos (Figuras 3 A e B). Os frutos são bagas
globosas de 10 a 15cm de comprimento por 7 a 9cm de diâmetro de cor parda,
casca, membranosa, fina e enrugada contendo de 50 a 80 sementes por fruto, que
pesam de 200 a 500g (Figura 3C). As sementes de 8,5mm de comprimento por
7mm de largura são fibrosas e achatadas, elipsoides, discoides, e escuras após a
secagem (Figura 3D), pesando em torno de 8,5g/100 unidades (CORRÊA, 1978;
GENIPA... 2005; VILLACHICA et al., 1996; SOUZA et al., 1996; LORENZI, 1992).
Na região do cerrado a planta atinge porte menor (6 a 8m). Produz de 200 a 1000
frutos por planta com 6 a 10 cm de comprimento por 4 a 7cm de diâmetro, pesando
de 90 a 180g, apresentando em média 120 a 160 sementes por fruto. As sementes
pesam em média 5g/100 unidades (SILVA et al. 2001).
305
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 17
Figuras 2A-C. 2A. Planta adulta de jenipapo em estação chuvosa; 2B. Detalhe das folhas;
2C. Detalhe do tronco. Fotos cortesia Cláudio Bezerra.
306
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 17
Figuras 3 A-D. 3A. Botões florais. 3B. Flores abertas. 3C. Frutos (Cortesia Cláudio
Bezerra (3A, 3B e 3C)). 3D. Sementes (Cortesia Antonieta N. Salomão)
307
Frutas Nativas da Região Centro-Oeste do Brasil Capítulo 17
ser encontrada tanto no interior da mata primária como nas formações secundárias.
Silva et al. (2001) citam que na região do cerrado, o jenipapo ocorre principalmente
em áreas de mata seca, cerradão e mata de galeria. Segundo Prudente (2002),
existe divergências entre autores, em relação ao centro de origem do jenipapo.
Provavelmente, a espécie é originária da região noroeste de América do Sul e
encontra-se distribuída desde a Florida, México, América Central, Ilhas do Caribe
até o Paraguai, Argentina, Equador, Peru, Bolívia e Brasil (GENIPA... 2005). No
Brasil, ocorre desde o norte, próximo a Guiana e Marajó, até os estados de Alagoas,
Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso,
Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Norte, Sergipe e São Paulo (CORRÊA, 1978).
ASPECTOS ECOLÓGICOS
O jenipapo é uma planta semidecídua, heliófita e caducifólia. Em estudo
de anatomia comparada de Genipa americana L., Machado (2000) observou que a
folha de sol apresenta cutícula e parênquima paliçádico mais desenvolvidos que a de
sombra, bem como, maior número de estômatos, maior espessura da lâmina e maior
teor de tanino. Crestana (1993) avaliou o comportamento reprodutivo de G.americana
L. em uma mata ciliar da Estação Ecológica de Moji-Guacu, SP, verificando que
a espécie apresenta dioicia, com ântese diurna, sendo melitófila, polinizada por
abelhas grandes: Bombus morio e Epicharis rustica flava, e se reproduz por alogamia.
Sebbenn (1997), estudando a estrutura genética, sistema reprodutivo, distribuição
genética espacial, fluxo gênico e o tamanho efetivo populacional de duas populações
naturais de Genipa americana L., situadas na mata ciliar do Rio Mogi Guaçu, SP, a
partir de eletroforese de isoenzimas, encontrou uma alta taxa de heterozigose entre
os indivíduos revelando-se como uma espécie com potencial para a conservação
in situ. Neste ciclo reprodutivo 81,6% das plântulas foram geradas por cruzamento,
sendo 61,7% entre não aparentados e 19,9% aparentadas. A estimativa do tamanho
efetivo populacional mostrou que a melhor estratégia para a coleta de sementes é
a partir de um número maior de matrizes distribuídas aleatoriamente na população.
Esta estimativa também mostrou que a área mínima viável para a conservação
in situ da população de G. americana L é de 24,7 hectares. Corrêa (1978) cita
que o jenipapo é uma espécie não gregária, apresentando indivíduos esparsos,
raramente mais que dois por hectare. Em condições naturais a germinação é lenta
e do tipo faneroepígea (os cotilédones são fotossintetizantes na plântula, apesar de
morfologicamente diferentes do primeiro par de folhas).
O ciclo fenológico tem duração aproximada de um ano, com duas fases
bem marcadas. Uma, de pouca atividade vegetal, que ocorre de fevereiro a julho
e outra que se caracteriza principalmente pela queda de folhas (Figura 4a) e inicio
de brotação (CRESTANA,1993). No ápice da estação seca, quando os frutos
encontram-se em fase de amadurecimento (Figuras 4 A, B e C) é possível observar a
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Figuras 4 A-C. 4A. Árvore sem folhas durante a estação seca. 4B. Frutos
em desenvolvimento. 4C. Fruto de vez (esq) e fruto maduro (dir). Fotos
cortesia Cláudio Bezerra
Devido a sua rusticidade, adaptação a vários tipos de clima e solo, vasta
distribuição geográfica e crescimento rápido, o jenipapo apresenta grande potencial
para sua utilização em atividades agro-florestais econômicas e ecológicas. Além
da exploração comercial, a planta contribui com a oferta de alimentos para a fauna
silvestre, dentre estes: cotia, capivara e pássaros diversos. A influência da saturação
hídrica do solo e do sombreamento no crescimento de plantas jovens de espécies
de matas ribeirinhas do estado de São Paulo foi estudada por Andrade (2001),
constatando que pelo fato do jenipapo ser uma planta heliófita, semidecídua, seletiva
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RECURSOS GENÉTICOS
Variabilidade genética. Até meados do século passado, a região centro-
oeste, era considerada como marginal para a produção agrícola. A partir dos anos
60, com a transferência da capital federal para Brasília, a construção de estradas e
a adoção de uma política de interiorização e de integração nacional, esta região foi
inserida no contexto de produção de alimentos e energia. Assim, de uma pequena
atividade agrícola de subsistência e criação extensiva de gado, a região passou a
contribuir com grande parte da produção de grãos e a abrigar um número representativo
do rebanho bovino do país. Como conseqüência, algumas áreas da região foram
devastadas com grande redução de sua biodiversidade e consequentemente,
muitas espécies de ocorrência local sofreram grandes perdas genéticas. Apesar
de ter sua ocorrência em áreas não preferenciais para a agricultura e protegidas
por leis, o jenipapo também tem sofrido perdas de variabilidade genética, causadas
pela atividade humana predatória e irresponsável. Porém, até o momento não se
conhece a dimensão desta perda que pode ser amenizada pela ampla distribuição
geográfica da espécie. A grande variabilidade genética evidenciada pela forma dos
frutos, espessura da polpa e constituintes químicos denota o grande potencial para
uso em trabalhos de melhoramento de plantas.
Conservação de germoplasma. O Diretório de Coleções de Germoplasma
da América Latina e Caribe (KNUDSEN, 2000), registra a conservação a campo
de apenas 11 acessos de G. americana L. dispersos em 9 instituições da América
Latina, sendo que no Brasil, consta o registro de apenas 2 acessos conservados pela
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Figuras 5A-B.A. Índios pintados com pigmento extraído de jenipapo (Cortesia Leide R. M.
Andrade). B. Pigmento azul-violeta em frutos verdes de jenipapo (Cortesia Cláudio
Bezerra)
Alimentar. O jenipapo raramente é consumido tal como se encontra na
natureza. É servido passado na frigideira com manteiga e depois adoçado com
bastante açúcar e pó de canela. O fruto maduro presta-se para compotas, doces
cristalizados, sorvetes e refrescos; se colocado em infusão de álcool, prepara-se
dias depois um saboroso licor; e, se submetido à fermentação, tem-se um vinho
também muito apreciado (GOMES, 1982; SILVA et al., 2001).
Aromático. Das flores muito aromáticas se extraem óleos essenciais.
Madeireiro. A madeira dura, flexível e fácil de trabalhar é utilizada em
marcenaria, fabricação de cabo de machado, tamanco, construções rurais e para a
produção de lenha e carvão. A casca, rica em tanino se utiliza para curtir couro.
Forrageiro. Folhas e frutos são consumidos pelo gado.
Medicinal. A polpa dos frutos é usada pelos indígenas como repelente de
insetos, podendo ter ação bactericida e germicida (provavelmente devido a seu
conteúdo de fenol). A casca em infusão é emprega no tratamento de gonorréia. O
fruto verde tem propriedades adstringentes, antiinflamatórias e anti-anêmicas. Às
flores se atribui propriedades tônicas e febrífugas e a goma que exuda do tronco
se usa contra as enfermidades oftálmicas em forma de colírio (GENIPA... 2005).
No Brasil se utiliza os frutos como diurético e digestivo e contra enterite, hidropisia,
asma e anemia. A raiz se usa como purgativo e a casca no tratamento de úlceras
de origem escorbútica, doenças venéreas, além de combater a anemia e o inchaço
do fígado e do baço. Os princípios ativos são manita, genipina, cafeína, taninos,
acído tartárico, sais de cálcio e ferro e vitaminas B1, B2 e C (VIEIRA, 1992). Ueda
et al. (1991), observaram que a genipina extraída dos frutos e folhas do jenipapo
promoveu redução de tumores em cultura de células cancerígenas.
Pescaria. Quando maduros os frutos exalam odor característico da
espécie, bastante atrativo para peixes, por isso, são usados como isca de pesca,
principalmente, para pacu.
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VALOR NUTRICIONAL
Dentre as fruteiras nativas da região Centro Oeste o jenipapo é destacado
como fonte de proteína (teor > 5g/100g), fibra (teor > 3g/100g), ferro (teor > 2,1mg/
100g), e vitamina C (teor > 9mg/100g) (Tabela 1). Tradicionalmente, na zona rural da
região do cerrado onde a planta ocorre, os frutos de jenipapo (Figuras 6 A e B) são
administrados às crianças como suplementação da deficiência de ferro. Sugere-se
que produtos a base de jenipapo façam parte da composição da merenda escolar.
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IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
Na indústria caseira, graças a seu potencial para processamento, os frutos
de jenipapo são bastante utilizados na fabricação de alimentos para consumo
humano, na forma de suco, refresco, licor, vinho, sorvete, doce em calda, doce
cristalizado e compota, assegurando ganhos financeiros para incalculável número
de famílias. Desta maneira, até mesmo a exploração extrativista é de inegável
importância para a economia das regiões produtoras, não somente como fonte
de alimento, mas, principalmente, por garantir centenas de empregos no mercado
informal e renda para centenas de famílias de baixa renda (PRUDENTE, 2001).
Além disso, devido ao alto teor de ferro pode ser utilizado no enriquecimento da
alimentação regional e na prevenção desta deficiência, principalmente para as
crianças. Os frutos de jenipapos, bem como seus derivados têm sido normalmente
comercializados em feiras livres das cidades próximas ao local de ocorrência. Wong
1995, citado por Silva et al., 1998, sugere que os frutos de jenipapo, em condições
comerciais, devem apresentar teores de sólidos solúveis entre 18 e 20º Brix;
acidez total titulável entre 0,20 e 0,40%, e teor de vitamina C entre 1,0 e 2,0mg de
ácido ascórbico/100g. Considerado como bebida nobre na Europa no século 19 (A
ÁGUA... 2005) tem sido comercializado no Brasil em recipientes de 300ml, 500ml,
750ml e 1000ml, a um preço variável de R$10,00 a R$20,00. Na região do nordeste
é um produto essencial durante as festas juninas, cujo preço da dose de licor varia
de R$2,50 a R$5,00. O produto também é comercializado através da internet e
exportado para alguns países como Portugal e África do Sul (DESTAQUES... 2005;
AQUI... 2005). Não foram encontradas informações oficiais sobre a produção e a
comercialização de frutos e produtos derivados do jenipapo. Uma empresa do ramo
de cosméticos sediada em Rio Branco (AC) vem negociando com comunidades
indígenas a extração do pigmento azul do jenipapo bem como o fornecimento e o
processamento do urucum para aplicação na formulação de cosméticos. Os índios
Yawanawa, no Acre foram os primeiros a fazer um contrato com esta empresa.
Teriam recebido US$ 150 mil por seu trabalho no fornecimento de urucum. Já os
índios Guarani-Kayowa, do Mato Grosso do Sul, teriam obtido US$ 51 mil dólares
na extração do azul do jenipapo (AMAZÔNIA... 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jenipapo é uma planta da qual quase tudo é aproveitado. Seja como
alimento, pigmento, madeira ou medicamento. Por ser uma planta rústica, resistente
à seca e de fácil adaptação a vários tipos de climas e solos, apresenta larga
distribuição em quase todo território brasileiro se constituindo numa espécie com
potencial para cultivo comercial e uso em sistemas agro-florestais. Os produtos feitos
base de jenipapo possuem grande aceitação popular e são bastante demandados
no mercado interno e externo. De acordo com Prudente (2001), apesar do potencial
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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desenvolvimento pós-seminal. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v.
35, n. 3, p. 609-615, 2000.
ANDRADE, A. C. S. Influência da saturação hídrica do solo e do sombreamento
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