Sequencia Didática Racismo
Sequencia Didática Racismo
Sequencia Didática Racismo
Leandro Regis
Florianópolis/SC
2019
FICHA TÉCNICA DO PRODUTO EDUCACIONAL.
Registro: eduCAPES.
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Apresentação Análise Geral Da Apresentação Dos Vídeos
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Produto Educacional E Sequência Didática: Considerações Finais Relativas À Aplicação
O Que São? Da Sequência Didática: Uma Formação
7 Histórica E Indispensável
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Prática Social Inicial Do Conteúdo,
Problematização E Instrumentalização:
Relato Da Primeira E Segunda Aulas
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Subtemas Para Os Vídeos a Serem
Produzidos Pelos Estudantes
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Entre a Catarse e a Prática Social Final
Do Conteúdo: Terceira E Quarta Aulas: A
Apresentação Dos Vídeos Produzidos Pelos
Alunos E Alunas
APRESENTAÇÃO
Este produto educacional é uma adaptação do texto presente na Dissertação a qual este
encarte está vinculado, tendo em vista a perspectiva de possibilitar a apreciação de forma concisa
e didática do produto ora realizado. Dessa forma, este encarte objetiva expor o desenvolvimento
da sequência didática efetuada junto ao IFSC – Câmpus Gaspar, nas turmas de 4ª fase dos
Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio de Química e de Informática. Eram ao todo, em
ambas as turmas, 63 alunos matriculados nessa fase do curso, no segundo semestre de 2018.
A sequência didática aqui apresentada, trata da temática do racismo e trouxe à tona esse
debate por intermédio da disciplina de História. Ao abordar essa temática vislumbrou-se ampliar
a consciência histórica dos estudantes a respeito dessa mazela que se entremeia no tecido social
ao longo do tempo, e que se mantém viva atualmente, manifestando-se de maneiras diversas.
Trabalhar a formação do pensamento crítico é um dos determinantes do que é chamado
Ensino Médio Integrado. A valorização da integração entre saberes técnicos-profissionais e
formação humanística perpassa a oferta de se realizar atividades que tencionam os sujeitos
a compreender características que tornam nossa sociedade ainda tão desigual, e uma destas
marcas, é o racismo. Nesse sentido, mostramos adiante o processo desde a produção até a
aplicação das atividades.
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PRODUTO EDUCACIONAL E SEQUÊNCIA DIDÁTICA: O QUE SÃO?
A definição de etnia e de raça possui uma pluralidade de sentidos, pois seus conceitos
foram determinados de maneira diferente ao longo da história, contudo, não nos cabe, nesse
momento, detalhar tal esquema.
No entanto, como característica geral, o termo raça é usado para a diferenciação entre
os seres humanos a partir de pressupostos morfo-biológicos, isto é, à partir de distinções como
o formato do nariz, do crânio, cor da pele, etc. Em outra ponta, mas no mesmo sentido, o termo
etnia se constrói com base nas propriedades sócio-culturais, históricas e psicológicas, ou seja,
ancestralidade em comum, religião em comum, mesma cultura, etc. Isso dá a dimensão de que
podemos ter várias etnias sob uma mesma “raça” (MUNANGA, 2003).
O racismo está vivamente presente em nosso cotidiano sob um paradigma estigmatizante
vinculado, por exemplo, à cor da pele, em especial, pela própria construção histórica da
sociedade brasileira, num processo de hierarquização entre brancos e negros, sendo os brancos,
a “raça superior” e os negros, a “raça inferior”. Esse assombro se modula como um problema
para o desenvolvimento de uma coletividade que pensa caminhar para a convivência digna,
justa e pacífica entre os sujeitos.
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Adstrito ao racismo estruturalmente conectado à desvalorização do povo negro,
subsidiado pela história escravocrata do Brasil, existe em paralelo à esta situação, outra
substância que permeia as ramificações envolvidas na discriminação racial: as chamadas teorias
racialistas. Essas teorias se compuseram, de maneira genérica, pela perspectiva da cientificidade
como justificativa para embasar a hierarquização entre distintos grupos humanos.
As teorias racialistas se originaram na Europa, por intermédio de estudiosos como,
Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882); Herbert Spencer (1820-1903) e Houston Stewart
Chamberlain (1855-1927).
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Em nosso país, temos como demonstração de articuladores de teorias racialistas pessoas
como: Sílvio Romero (1851-1914); Nina Rodrigues (1862-1906) e; Oliveira Vianna (1883-
1951).
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A influência das teorias racialistas, no Brasil, embora com sutilezas distintas daquilo
que estava em voga na Europa, repetiam o discurso da superioridade dos “homens brancos”
perante o povo afrodescendente que vivia em terras brasileiras.
Podemos verificar que as teorias racialistas ainda deixam marcas no cotidiano social
brasileiro, isso está posto tendo em vista que:
A afirmação acima descrita, nos dá a medida de como essas teorias seguem, ainda que
tenham sido suplantadas no próprio espectro da Ciência, na sociedade brasileira, e em conjunto
com a herança de desvalorização dos negros por conta da escravatura, a manter estruturas
racistas que vão desde as chacotas “sem maldade” à explicitude dos subempregos e da violência
– em suas mais variadas formas - sofridas por negros e negras. Essa triste realidade não é
diferente na região onde se situa a instituição em que ocorreu a atividade proposta.
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A reportagem que trata do preconceito em Gaspar nos fornece a passagem aqui transcrita:
“eu trabalhava como pedreiro em uma casa na rua Sete e a dona da casa falou para o meu patrão
não deixar eu e os colegas sozinhos na casa dela, pois como éramos negros, poderíamos roubar
alguma coisa”.
Interessante observar a fala, na reportagem, daquele que sofre o preconceito: “isso me
deixou muito sentido. Sou um homem honesto e a cor da minha pele não tem relação com meu
caráter”, segue o personagem... “as pessoas falam que não existe preconceito, mas na minha
opinião existe sim. Acho que ele só está mascarado por causa da Lei”.
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A VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA E DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA:
DIALOGANDO COM A LEGISLAÇÃO
Tratar da temática do racismo não pode deixar de passar pelo o que afirma a Constituição
Federal do Brasil (1988):
Posto isso, verificamos do que se trata a Lei Federal nº 12.519 de 10 de novembro de 2011.
Ao observarmos o seu Artigo 1º, temos a seguinte redação:
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Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras
(1860 – 1937) / Acervo do Museu Antônio
Parreiras, Niterói.
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PENSANDO A SISTEMATIZAÇÃO PARA A SEQUÊNCIA DIDÁTICA:
UMA POSSIBILIDADE
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Reunião com o professor
Mateus para planejar a
sequência didática.
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Assim, defendemos como base para o desenrolar do processo de aplicação desta
sequência didática, a didática baseada no pressuposto pedagógico de Saviani (2012), chamada
de pedagogia histórico-crítica.
1º
passo
podem ser comuns a alunos e professores.
Embora, não se possa perder de vista que o
professor tenda a ter mais elaboradamente a
visão da totalidade da realidade.
Prática Social
2º
Envolve saber que questões precisam ser
resolvidas acerca de determinado assunto
passo junto ao conhecimento fundamental a ser
compreendido.
Problematização
3º
passo
levam a certos fenômenos sociais se realizarem
ou não, tal apropriação pode ser estimulada –
transmitida pelo professor – ou este fornecer
elementos para os estudantes buscarem tais
Instrumentalização apropriações.
4º
É o momento em que os conhecimentos
cientificamente elaborados se entrecruzam com
passo as práticas sociais, elevando o entendimento
acerca dos eventos sociais.
Catarse
É o momento em que os estudantes têm a
possibilidade de concretizar, embasados nos
passos anteriores, as pressupostos que visam
5º
passo
rever/remodelar todo o conjunto de ações
perante os fenônemos sociais. Tal concretude
não se restringe apenas às ações empíricas, mas,
também, no próprio pensamento reelaborado à
Prática Social partir de todo o suporte dado pela pedagogia
histórico-crítica.
Fonte: Escola e Democracia (SAVIANI, 2012)
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Com a intenção de se apresentar de forma prática a proposta da pedagogia histórico-
crítica, esboçaremos adiante, baseados no autor José Luiz Gasparin (2003) e no seu livro: Uma
didática para a pedagogia histórico-crítica, aporte didático para a consecução deste produto
educacional.
Uma possibilidade de debater o racismo junto ao ensino de História, tendo como base a
pedagogia histórico-crítica
Dimensões trabalhadas:
Conceitual: o que é o dia da consciência negra? O que são as teorias racialistas?
Sócio-histórica: como que a escravidão e as teorias racialistas ainda influenciam o racismo
cotidiano?
Econômica: por exemplo; o tratamento no âmbito profissional.
Política: ações governamentais para minimizar/erradicar o racismo.
Cultural: o cotidiano de inferiorização do povo negro e a necessária valorização de sua cultura.
Filosófica: A compreensão e a superação do racismo relaciona-se à formação humana dos
sujeitos.
Ações didático-pedagógicas:
- Exposição oral;
- Diálogo com os alunos e produções dos
próprios alunos (vídeos).
- Recursos humanos e materiais;
- Vídeos;
- Noticias de jornais;
Instrumentalização
- Letras de música;
- Legislação.
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Síntese mental do aluno:
Perceber que o racismo se manifesta em
diferentes ambientes, se apoia em teorias
longíquas, mas que persistem em formatos,
ora explícitos, ora implícitos e dissimulados.
A prática racista se estrutura com base na
percepção histórica da escravidão, e das teorias
racialistas que buscaram legimitar o racismo
por meio da ciência. Perceber que tais teorias
já foram suplantadas e que a escravidão deve
Catarse ser recordada enquanto atrocidade humana
realizada baseada em pensamentos arcaicos de
hierarquização humana.
Expressão da síntese:
- Diálogo e associação à prática social final do
conteúdo.
Nova postura:
- Participar de momentos voltados ao combate
ao racismo.
- Conhecer como o racismo se manifesta em
diversas situações do dia-a-dia.
- Valorizar, por meio de música, poesia, etc.: a
cultura Afro-brasileira.
- Respeitar, conviver e aprender com negros e
negras.
Ações dos alunos:
- Produzir vídeos que demonstram o racismo
Prática Social Final hoje.
do Conteúdo - Procurar refletir o racismo para auxiliar no
combate a tal mazela social: no cotidiano social
em geral e no profissional.
- Entender e valorizar o conhecimento histórico
como parte de uma formação integral.
Fonte: Proposta elaborada pelo autor a partir dos passos pedagógicos propostos por Gasparin (2003).
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Planejamento por aulas; objetivos; atividades e materiais utilizados
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3ª e 4ª aulas – Catarse e Prática Social Final do Conteúdo
Avaliação
A avaliação proposta pelo professor Mateus se deu de forma totalizante, desde os diálogos em
sala à apresentação dos videos e debates intercalados, sob os seguintes critérios: atendimento à
proposta da discussão, criatividade e produção dos alunos.
Fonte: o autor em conjunto com o professor Mateus (2018).
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Com a finalidade de efetivação das aulas a partir do planejamento, os materiais utilizados
foram, basicamente: o questionário – 1ª parte; a projeção de slides para delinear os conteúdos
a serem trabalhados em sala; a orientação para que os estudantes pudessem elaborar vídeos
acerca da temática do racismo; a apresentação dos vídeos elaborados pelos estudantes; a letra
da música Lavagem Cerebral de Gabriel O Pensador.
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Questionário – 1ª parte: dados gerais e dados de aproximação dos
alunos com relação ao debate acerca do racismo
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Ao se observar o questionário e as respostas, temos a dimensão da importância de
se debater o racismo no âmbito escolar. Alguns pontos chamam a atenção: todos os alunos
respondentes entendem que o ensino de História vincula-se à sua vida, na perspectiva de
entenderem o que acontece no mundo à sua volta; a grande maioria lembra-se de ter visto
notícias que tratavam de casos de racismo, bem como já presenciaram algum ato de preconceito
étnico-racial ou conhecem alguém que tenha sofrido algum tipo de preconceito racial. Por fim,
praticamente todos os alunos e alunas concordam que debater esse tema no ambiente escolar, se
faz importante e, claramente nas aulas de História também, pois reflete nas suas relações sociais
como um todo e podem refletir em suas relações profissionais, ao ter de lidar com pessoas que
não são da mesma origem histórica, cultural ou dar cor de pele que a sua.
Após o questionário, demos seguimento a aula, com os slides propostos e criados
junto ao professor Mateus. Desde aí sucedeu-se um debate aberto com os discentes acerca das
temáticas que iam se desenrolando no decorrer das aulas.
Esse diálogo foi norteado por intermédio da apresentação de slides, que tiveram por
proposta direcionar as discussões entre o professor Mateus e os estudantes ao longo das duas
primeiras aulas. Neles se encontram os assuntos que viabilizaram o debate acerca: do Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra; de Zumbi dos Palmares e da Lei Áurea e; das
teorias racialistas que subsidiaram o imperialismo europeu e chegaram até o Brasil. Também,
por intermédio da exposição feita em sala, foram apresentados vídeos e reportagens que
demonstram como o racismo se manifesta atualmente, em nossa sociedade.
Mosaico de apresentação dos slides, que incluem materiais como: leis, vídeo-
reportagens, notícias etc., trabalhados em sala de aula
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A apresentação dos slides entremeado pelos debates entre professor e estudantes, permitiu as
seguintes discussões:
Rememorar quem foi Zumbi dos Palmares e a sua importância na luta contra a
escravidão. Por consequência, o dialogar a respeito do Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra se faz importante em uma região - como a que se situa o IFSC -
Câmpus Gaspar - que possui traços marcantes de racismo - poucos casos noticiados
- perante ao que ocorre de forma velada.
Perceber como os negros e negras eram tratados pouco tempo antes da Lei Áurea, ao
se observar anúncios de jornal que tratavam essas pessoas como objetos/propriedades
fugidos de seus donos.
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SUBTEMAS PARA OS VÍDEOS A SEREM PRODUZIDOS PELOS ESTUDANTES
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ENTRE A CATARSE E A PRÁTICA SOCIAL FINAL DO CONTEÚDO: TERCEIRA E
QUARTA AULAS: A APRESENTAÇÃO DOS VÍDEOS PRODUZIDOS PELOS
ALUNOS E ALUNAS
A elaboração dos vídeos pelos alunos se mostrou muito interessante, os fez pesquisar
acerca do tema sem que houvesse, se assim podemos afirmar, a obrigatoriedade de transitar
entre diferentes campos do saber. Entretanto assim o fizeram, tendo em vista: o emprego da arte
em vídeos apresentados em formato de teatro; ao recorrer à música e à poesia para explicitar
ideias; trabalhar com imagens, etc., também, a Língua Portuguesa, posto que, em muitos vídeos,
houve a exibição de citações e, também, do diálogo entre personagens.
Com relação às mulheres negras, a grande questão percebida é que, além de sofrerem
por serem mulheres, ainda são estigmatizadas por serem negras, o que eleva as dificuldades
desses seres humanos de terem garantidos e respeitados os seus direitos, bem como, terem
as mesmas oportunidades de tratamento e trabalho das mulheres brancas. Os vídeos com o
tema Mulheres Negras insinuaram diálogos que remeteram às condições das mulheres negras,
especialmente no tocante à violência sofrida pelas mulheres em geral e, sendo que as negras,
a sofriam ainda mais, por conta de sua condição histórica: sempre ocupando as posições de
menor valor, vistas mais como objetos sexuais, dentre outros fatores que as fazem ter que
ser ainda mais fortes no que se refere a luta para poderem viver de forma digna. Outra coisa
que não passou desapercebido em relação à mulheres negras, foi algo relacionado às teorias
racialistas, relativo à branquitude e os padrões de beleza, como exemplos: a questão de alisar
os cabelos e de se vestir no padrão social estabelecido pela “sociedade branca”. Em meio às
apresentações, foi relembrado o preconceito sofrido pela moça que denunciou sua chefia, em
um dos vídeos apresentados pelo professor Mateus e por mim, no ambiente de trabalho, por
manter características de beleza afrodescendente.
Isso demonstra que precisamos de consciência para buscarmos, ao mesmo tempo,
reconhecer a mulher como um ser humano digno e pleno de capacidade, e que deve haver
igualdade de condições em todos os aspectos da vida, entre “brancas” e “negras”.
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Mosaico com imagens retiradas a partir dos vídeos produzidos pelos alunos e alunas com a
temática: Juventude Negra.
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Mosaico com imagens retiradas a partir dos vídeos produzidos pelos alunos e alunas com a
temática: Negros e Trabalho
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Mosaico com imagens retiradas a partir dos vídeos produzidos pelos alunos e alunas com a
temática: Haitianos.
Este é um tema bastante corriqueiro nos últimos anos, também na região onde se localiza
o IFSC – Câmpus Gaspar, tendo em vista a chegada dos haitianos sobreviventes do terremoto
catastrófico ocorrido em 2010 e, igualmente, fugindo do caos político e econômico pelo qual
atravessa o Haiti há décadas.
Os vídeos que trataram de levantar a questão dos Haitianos, foram na mesma direção
daquilo que foi levantado nos vídeos que tratavam do tema negros e trabalho. Nesse caso, com
o agravante do problema relacionado a xenofobia – um preconceito direcionado a imigrantes.
Em uma região que possui um histórico de racismo com os próprios negros e negras brasileiras,
ser negro e estrangeiro torna o indivíduo ainda mais discriminado. Tudo isso se junta a toda
tristeza pelas tragédias naturais e os problemas sociais que assolam o Haiti - a terra natal dessas
pessoas.
Como as próprias imagens retiradas das apresentações trazidas pelos alunos mostram,
os haitianos, apesar de muitos terem formação educacional elevada, sofrem para arrumar um
emprego que venha a equivaler sua capacidade intelectual e profissional junto à atividade
exercida nos postos de trabalho oferecidos a eles.
Ao trazer o debate a respeito dos haitianos e os problemas vivenciados por eles no Brasil
e, por consequência, na região de Gaspar, fica claro que ainda temos uma cultura de desvalorizar
o “outro”, ainda mais se esse “outro” for de fora do Brasil, nos esquecendo que grande parte do
habitantes da região onde se situa o IFSC – Câmpus Gaspar, isto é, a própria cidade de Gaspar
e as que estão ao seu redor, foram colonizadas por pessoas que vieram, em grande maioria de
países da Europa, ou seja, também eram estrangeiras quando chegaram à Gaspar e região.
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Mosaico com imagens retiradas a partir dos vídeos produzidos pelos alunos e alunas com a
temática: Convivência Social.
Este tema é mais abrangente e traz um pouco de todos os outros já elencados, mas aqui
se acrescentaram questões como as piadinhas que são faladas, os olhares lançados de desprezo
e asco aos negros, a situação de serem vigiados por onde vão, etc. Neste sentido, os vídeos
se caracterizaram por uma análise mais generalista, que envolve fatores provenientes desde
as desconfianças sofridas por cidadãos negros e negras ao entrarem em um estabelecimento
qualquer e, ainda que nada de errado tenham feito, são seguidos pelos seguranças, passando
por relações amorosas interrompidas por famílias preconceituosas, até o simples fato de algum
negro ou negra estar correndo na rua e já se associar tal imagem à perspectiva de ter havido
algum delito.
Ao se discutir a Convivência Social fica claro que o preconceito étnico-racial perpassa os
variados âmbitos da vida: o próprio social, o cultural, o político, o profissional – falando do caso
específico de cursos que, além de ofertarem o ensino básico, ofertam o ensino profissionalizante
concomitantemente sob um mesmo currículo.
Ao final das aulas de apresentação dos vídeos, foi distribuído para todos os alunos e para
o professor Mateus, uma cópia da letra da música: Lavagem Cerebral, composta pelo artista
Gabriel “O Pensador”. Esta música ficou como mensagem de reflexão sobre o tema do racismo
em uma linguagem “mais próxima” da realidade dos jovens.
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Música Lavagem Cerebral: Gabriel O Pensador
Racismo preconceito e discriminação em geral Que ainda recebe o salário
É uma burrice coletiva sem explicação E o pão de cada dia graças ao negro
Afinal que justificativa você me dá para um povo que Ao nordestino e a todos nós
precisa de união Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
Mas demonstra claramente O preconceito é uma coisa sem sentido
Infelizmente, Preconceitos mil Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
De naturezas diferentes Me responda se você discriminaria
Mostrando que essa gente Um sujeito com a cara do PC Farias
Essa gente do Brasil é muito burra Não você não faria isso não...
E não enxerga um palmo à sua frente Você aprendeu que o preto é ladrão
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de Muitos negros roubam mas muitos são roubados
forma mais consciente E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Eliminando da mente todo o preconceito Porque se ele passa fome
E não agindo com a burrice estampada no peito Sabe como é:
A “elite” que devia dar um bom exemplo Ele rouba e mata um homem
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento Seja você ou seja o Pelé
Num complexo de superioridade infantil Você e o Pelé morreriam igual
Ou justificando um sistema de relação servil Então que morra o preconceito e viva a união racial
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da Quero ver essa musica você aprender e fazer
discriminação A lavagem cerebral
Não tem a união e não vê a solução da questão O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
Que por incrível que pareça está em nossas mãos É o que pensa que o racismo não existe
Só precisamos de uma reformulação geral O pior cego é o que não quer ver
Uma espécie de lavagem cerebral E o racismo está dentro de você
Não seja um imbecil Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Não seja um Paulo Francis Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante E desde sempre não para pra pensar
O quê que importa se ele é nordestino e você não? Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
O quê que importa se ele é preto e você é branco? E de pai pra filho o racismo passa
Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos Em forma de piadas que teriam bem mais graça
todos mestiços Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Se você discorda então olhe pra trás Transmitindo a discriminação desde a infância
Olhe a nossa história E o que as crianças aprendem brincando
Os nossos ancestrais É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
O Brasil colonial não era igual a Portugal Qualquer tipo de racismo não se justifica
A raiz do meu país era multirracial Ninguém explica
Tinha índio, branco, amarelo, preto Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo
Nascemos da mistura então porque o preconceito? que é uma herança cultural
Barrigas cresceram Todo mundo é racista mas não sabe a razão
O tempo passou... Então eu digo meu irmão
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor Seja do povão ou da “elite”
Uns com a pele clara outros mais escura Não participe
Mas todos viemos da mesma mistura Pois como eu já disse racismo é burrice
Então presta atenção nessa sua babaquice Como eu já disse racismo é burrice (x4)
Pois como eu já disse racismo é burrice E se você é mais um burro
Dê a ignorância um ponto final:Faça uma lavagem Não me leve a mal
cerebral. É hora de fazer uma lavagem cerebral
Negro e nordestino constróem seu chão Mas isso é compromisso seu
Trabalhador da construção civil conhecido como peão Eu nem vou me meter
No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento Quem vai lavar a sua mente não sou eu
ou que lava o chão de uma delegacia É você.
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Fonte: Gabriel O Pensador (1992/1993).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS RELATIVAS À APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA
DIDÁTICA: UMA FORMAÇÃO HISTÓRICA E INDISPENSÁVEL
A sequência didática trabalhada no contexto das turmas de Química e de Informática,
que estavam na 4ª fase, no segundo semestre de 2018, demonstrou:
Conceitualmente: os alunos, com base nos diálogos das aulas e na elaboração de seus vídeos
puderam perceber a importância do debate com base histórica para explicar fenômenos do
tempo presente. A ação de serem levados a refletir as circunstâncias do racismo atual enquanto
estrutura fundamentada em teorias que dividem os humanos em grupos hierarquizados e na
escravidão como parte do processo de desvalorização de negros e negras, os encaminhou para
uma compreensão mais aprofundada dessa mazela social. Dessa forma, puderam perceber que
as notícias que lhes chegam trazendo casos de racismo ou as piadas corriqueiras contadas na
família ou em um círculo de amigos, tem uma dimensão historicamente profunda e enraizada
no fato de que uma pessoa ser negra a faz, na visão de muita gente, ser alguém que, por ter uma
pigmentação de pele escura, deva ser menos valorizada.
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Sócio-historicamente: compreenderam que a abolição da escravidão não significou uma real
melhoria nas condições de vida de negros e negras e, com as teorias racialistas contemporâneas
à Lei Áurea, a situação dos afrodescendentes se manteve difícil, pois a correlação entre ser
um povo que permaneceu durante muito tempo escravizado e tratado como objeto e às teorias
racialistas que, por mais obtuso que possa parecer, se revestiram de ciência, em fins do século
XIX e início do século XX, subjugou os negros às escalas mais baixas da evolução humana.
Por outro lado, se aperceberam que se deve valorizar a Cultura e a História Afro-brasileira,
visto que ela está marcada pela luta pela dignidade e pelo tratamento igualitário entre brancos e
negros, bem como, essa cultura de origem africana possui uma vasta riqueza, seja ela poética,
musical, etc.
Filosoficamente: puderam perceber que somente uma formação humana integral é capaz de
permitir aos sujeitos pensarem e agirem de forma consciente e reflexiva para que o futuro seja
trilhado com maior respeito entre as pessoas e maior dignidade e justiça social.
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Essas dimensões são passíveis de serem apreendidas quando embasadas em uma
concepção de ensino integrado, na medida em que a formação dos sujeitos necessita de uma
perspectiva totalizante.
Quanto aos debates ocorridos em sala, decorrentes dos materiais apresentados aos
alunos e aqueles apresentados pelos alunos, ficou perceptível que o processo educacional pode
e deve permear as diversas nuances da vida, a omnilateralidade contida naquilo que é a própria
vida. Diante de perspectivas educacionais que se põem a serviço do capital, como é o caso
da Lei 13.415/2017, existe o risco de se perder de vista a formação humana ampliada, dando
lugar a uma espécie de cultura da empregabilidade, em que as disciplinas da educação básica
subsistem em meio às profissionalizantes, e estas é que garantirão o futuro emprego dos alunos,
numa ideia de que estar empregado seria o suficiente para se viver num mundo tão complexo.
Nesse contexto, a História enquanto componente curricular se mostra imprescindível
ao abrir espaços para discutir as realizações históricas que levam os seres humanos a terem
determinados comportamentos - como é o caso do racismo - seja a nível local ou global.
Arrolado na possibilidade de desvelar os comportamentos construídos historicamente
e que ainda permanecem vivos na sociedade atual, vislumbrou-se a ampliação da consciência
histórica, isto é, a interpretação do passado, para assim descobrir o que causa determinado fato
no presente e como isso pode ser trabalhado para que seja modificado no futuro.
Tais questões encontram eco naquilo que Young (2007) chama de conhecimento
poderoso, ou seja, quando a escola fornece o conhecimento cientificamente elaborado e o faz
correlacionar ao conhecimento prático cotidiano que as pessoas carregam consigo, no intuito de
interpretarem o passado a fim de planejarem o futuro (RÜSEN, 2001), por meio de um ensino
de História comprometido com a formação humana e ampla dos sujeitos, uma formação política
(PLÁ, 2012), os colocando enquanto sujeitos-históricos que podem e devem depreender da
realidade suas nuances mais profundas a fim de entendê-las e modificá-las em benefício coletivo.
Acepções como essas prosperam quando imersas em uma conjuntura de educação que
valorize a integralidade do sujeito enquanto ser humano que observa mas, também, age no
contexto social em que se insere. Essa presunção se apóia na integração entre trabalho, ciência
e cultura, como fontes de formação de indivíduos capazes de se constituírem integralmente
em direção à novas práticas sociais, assim como nos preconiza Ramos (2010), num contexto
escolar em que as facetas entremeadas pelo currículo permitam a inclusão de debates a respeito
de pessoas e culturas marginalizadas (ARROYO, 2013), como é o caso da História e da Cultura
Afro-brasileira.
A reflexão feita acerca do racismo, pelos alunos e pelos demais envolvidos, faz pensar a
respeito da educação como ponte para transformações necessárias no mundo atual e no mundo
vindouro, em que toda prática seja teorizada e toda teorização seja aprofundada e praticada. A
práxis social necessária a fim de não cometermos os mesmos erros do passado, no intuito de
emoldurar um novo futuro sem preconceitos de qualquer espécie, por meio de uma valorização
humana irrestrita.
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Para finalizar este encarte, registra-se o texto abaixo, que foi retirado de
um dos vídeos produzidos pelos estudantes. Uma poesia, que foi criada por um
dos discentes que participaram das atividades e que nos leva à intensas reflexões.
Este breve texto tem como intuito encerrar este produto educacional, primeiramente,
por ser fruto da produção de um estudante e, segundo, por conter elementos importantes na
discussão de uma formação humana integral: quem somos? De onde viemos? E o que podemos
fazer para melhorar o mundo em que vivemos, superando preconceitos e quaisquer outras
mazelas que irrompem em meio às desigualdades?
40
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, U. C. Valeu Zumbi. Fundação Cultural Palmares [site]. 2006. Disponível em:
http://www.palmares.gov.br/?page_id=7730. Acesso em: 15 out. 2018.
41
_______. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”,
e dá outras providências. Brasília, DF: 10 jan. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.
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