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A ARTE DE
CULTIVAR HORTALIÇAS
MARIO PUIATTI
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Reitor
Demetrius David da Silva
Vice-Reitora
Rejane Nascentes
Diretor
Francisco de Assis de Carvalho Pinto
Conselho Editorial
Andréa Patrícia Gomes
João Batista Mota
José Benedito Pinho
José Luiz Braga
Tereza Angélica Bartolomeu
Bibliotecária responsável
Renata de Fátima Alves
CRB6/2875
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SIGNIFICADO DOS ÍCONES
Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresentado você vai
encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo de chamar a sua atenção
para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, como apresentamos a
seguir.
Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-
os com a sua prática profissional e cotidiana.
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SUMÁRIO
8 Conceituações e características da olericultura
Mario Puiatti
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Às vezes, acrescentam-se outras adjetivações às olerícolas, tais como plantas de ciclo curto
e que requerem tratos culturais intensivos. Todavia, nem todas as hortaliças têm ciclo cultural
curto; em média, o ciclo cultural varia de três a quatro meses. Nesse contexto, o rabanete
(Raphanus sativus) é campeão de ciclo cultural curto, sendo colhido apenas 25 a 35 dias após
semeado, dependendo do clima e da variedade.
No entanto, existem hortaliças consideradas perenes, como é o caso do aspargo (Asparagus
officinalis), cujo ciclo cultural pode ultrapassar 12 anos, e outras com ciclo cultural em torno
de nove a 10 meses, como é o caso das culturas do taro (Colocasia esculenta), denominado de
inhame no centro-sul do Brasil, e da batata-baroa, baroa, mandioquinha-salsa ou mandioquinha
(Arracacia xanthorrhiza) (Figura 1.1).
Figura 1.1. À esquerda, cultura do rabanete após 12 dias de semeado e do taro e da baroa com sete meses
após o plantio. À direita, raízes tuberosas de rabanete colhidas após 28 dias da semeadura; cormo e cormelos
de taro após nove meses de plantio, e raízes tuberosas de baroa colhidas aos 10 meses após plantio. Fotos:
Mario Puiatti
Olericultura → Hortaliças
Fruticultura → Fruteiras
Floricultura → Flores
Jardinocultura → Plantas ornamentais
Horticultura
Fitotecnia Viveiricultura → Mudas em geral
(Hortus)
Condimentares → Condimentos
Medicinais → Medicinais
1.3. Uso intensivo dos fatores solo, mão de obra, insumos agrícolas e água:
• Solo:
Diz-se que, no cultivo de hortaliças, há o uso intensivo do solo. Existem duas razões
principais para que isso ocorra: uma delas é que as hortaliças apresentam, em sua maioria,
ciclo cultural relativamente curto (três a quatro meses); a segunda é que existe grande número
de espécies de hortaliças e, dentro de uma mesma espécie, muitas variedades ou cultivares
adaptadas às variações do clima ao longo das estações do ano. Dessa forma, em uma mesma
área de solo poderá haver o cultivo com hortaliças de diversas espécies, variedades e/ou
cultivares de uma mesma espécie, ao longo do ano. Portanto, o solo não fica sem ocupação
com culturas olerícolas, ou seja, na exploração de hortaliças não há Ano Agrícola, como ocorre
com cereais, mas sim a maximização do uso da terra com vários cultivos com hortaliças ao
longo do ano.
Variedade (var.): pode ter dois significados. Um deles é quando duas espécies, muito
semelhantes, diferem entre si em alguma característica, normalmente relativa à reprodução;
nesse caso, se refere à variedade botânica. Exemplo: o repolho pertence à espécie Brassica
oleracea var. capitata (com cabeça), enquanto que a couve comum à espécie Brassica oleracea
var. acephala (sem cabeça). O outro emprego para o termo variedade (var.) seria no aspecto
diferencial relativo a materiais propagativos comercializados por empresas ou utilizados
pelos agricultores, dentro de uma mesma espécie e/ou variedade botânica. Exemplo:
tomate var. Santa Cruz; tomate var. Santa Clara; alface var. Regina etc.
Cultivar (cv.): é um termo derivado da junção de partes das palavras da língua inglesa
cultivated variety (= variedade cultivada). É empregado com significado semelhante ao
de var. comercial; todavia, mais recentemente, tem sido utilizado para indicar variedade
com interesse comercial (marca) com registro e direito à exploração comercial do produto.
Como tal, é registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conforme
Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, que instituiu a Lei de Proteção de Cultivares. Para mais
informações, veja Serviço de Proteção de Cultivares, em http://www.agricultura.gov.br/.
Ano agrícola: refere-se à produção ou safra agrícola (normalmente de grãos), que é aquela
obtida em um ano que, no caso de culturas de época quente, como milho, soja, arroz, etc., se
inicia na primavera e termina no outono/inverno do ano seguinte.
Além de gerar renda ao longo do ano, essa característica é importante no tocante ao uso
social da terra, ou seja, a terra sendo útil como fornecedora de alimentos para a população.
Por outro lado, embora interessante em termos de gerar renda e produção de alimentos, o
uso intensivo de máquinas e de equipamentos não bem dimensionados para o preparo do
solo, associado à umidade de solo não adequada para o tipo de trabalho, pode resultar em
sérios problemas ambientais, tais como: compactação de solo, disseminação de fitopatógenos
de solo e de plantas daninhas, além da perda de solo por erosão em área com topografia
acentuada (Figura 1.2).
A perda de solo por erosão em locais de maior declive é um problema grave no Brasil.
Essa erosão ocorre devido ao “pé-de-grade” e/ou “pé-de-arado” (Figura 1.2), originado pelo
uso de arado e de enxada rotativa trabalhados no solo à mesma profundidade. Sob elevada
precipitação pluvial, a água infiltra na comada de solo revolvida e, como essa não consegue
infiltrar através da camada de solo impermeável, após saturação dessa camada revolvida, ela
é arrastada para as partes mais baixas do terreno. Dessa forma, a camada de solo mais fértil é
removida e “vai pro brejo”, literalmente. A implantação de cultivos olerícolas pelo sistema de
“plantio direto” (assunto abordado no capítulo 8), tem sido uma medida eficaz para evitar esse
problema.
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Figura 1.2. Erosão laminar em solo de topografia acidentada cultivado com cebola instalada por semeadura
direta em São José do Rio Pardo, SP. Note o “pé-de-grade” e/ou “pé-de-arado” (solo compactado abaixo da
camada de solo arada). Fotos: Gentileza do eng. agr. José Maria Breda Júnior
• Mão de obra:
No cultivo de hortaliças são utilizados muitos tratos culturais, manuais e artesanais difíceis
e, muitas das vezes, impossíveis de serem mecanizáveis. É o caso de culturas que exigem
tutoramento, como a do tomate de mesa, pepino, pimentão, ervilha hortícola, feijão de vagem,
etc. Por serem realizados manualmente, implicam em elevado gasto de mão de obra. Estima-
se, no cultivo do tomateiro com frutos destinado ao consumo in natura (tomate de mesa), o
gasto médio de 350 DH/ha; na cultura do alho, apenas na operação de implantação da cultura,
há um gasto estimado de 30 DH/ha (Figura 1.3).
Embora esse gasto com mão de obra contribua para com o aumento do custo de produção,
o cultivo de hortaliças se torna importante atividade no aspecto social, por gerar, além de
alimentos e renda, postos de trabalho evitando o fluxo das pessoas para as cidades (veja
capítulo 3).
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Tratos culturais: são todas as práticas realizadas durante o cultivo de determinada cultura,
por exemplo: tutoramento, podas, amarrio, amontoa, etc. (veja capítulo 9).
Figura 1.3. Acima, implantação da cultura de alho no Cerrado brasileiro com plantio todo manual; abaixo,
toalete em cebola no próprio campo (esquerda) e de alho no packing house. Note a grande quantidade de
mão de obra envolvida nessas atividades. Fotos: Acima, gentileza do eng. agr. Marco Antônio Lucini; abaixo,
Mario Puiatti
Packing house: construção, galpão ou abrigo onde os produtos hortícolas são recebidos do
campo, limpo, classificados e embalados para serem transportados para a comercialização.
• Insumos agrícolas:
O cultivo de hortaliças envolve o uso de tecnologias avançadas com a utilização de produtos
(insumos agrícolas) de elevado valor. Dentre eles, pode-se mencionar: sementes híbridas e
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material propagativo vegetativo de elevada sanidade; defensivos agrícolas (agrotóxicos ou
pesticidas); fertilizantes minerais e orgânicos; telas agrícolas; substratos agrícolas e bandejas
de isopor e plásticas, dentre outros.
Em razão da grande resposta das olerícolas à utilização desses insumos, principalmente de
material propagativo e fertilizantes, e da suscetibilidade delas ao ataque de insetos pragas e de
patógenos, normalmente há elevado investimento por unidade de área cultivada, resultando
em alto custo de produção, como pode ser visualizado na Tabela 1.1.
• Água:
As hortaliças, pela própria definição, são espécies essencialmente herbáceas, ou seja, de
consistência tenra, apresentando elevado conteúdo de água em seus tecidos. Além disso,
em seu cultivo, são empregadas elevadas populações de plantas por unidade de área fato
que, associado à elevada à taxa de crescimento dessas espécies, proporciona alto índice de
área foliar (IAF) resultando em grande perda de água para a atmosfera pela transpiração.
Além dessa, ocorre perda de água do solo para a atmosfera por evaporação. Ao somatório
da perda de água para a atmosfera pela transpiração (das plantas) mais pela evaporação (do
solo) denomina-se de evapotranspiração, conceito importante relacionado ao manejo da
irrigação das culturas.
Outra característica das hortaliças é a de terem sistema radicular pouco profundo. Essa,
associada às características anteriores, leva à necessidade do suprimento frequente de água
ao longo do ciclo que, via de regra, não é atendida pelas chuvas que, diga-se de passagem, em
grande volume e/ou por período prolongado de dias, pode levar à perda das culturas (Figura
1.4).
Portanto, a água é insumo fundamental no cultivo de hortaliças e, sem ela para irrigação,
é praticamente impossível cultivá-las. Assim, aqueles que pretendem empreender nessa
atividade deverão observar, antes de iniciarem o empreendimento, se há disponibilidade de
água na propriedade agrícola em quantidade e qualidade suficientes para proceder a irrigação
das culturas.
Índice de área foliar (IAF): é a razão entre a área total das folhas de uma planta / área de solo
disponível à planta.
Em média, as hortaliças demandam durante o ciclo de cultivo lâmina d’água entre 300 e 500
mm (300 e 500 L/m2). No tocante à qualidade, não basta se prender apenas às características
físicas (partículas minerais e/ou orgânicas) e químicas (pH, condutividade elétrica e sais e
dissolvidos), mas, sobretudo, quanto à presença de metais pesados e de microrganismos
danosos ao ser humano. Nesse aspecto, o cultivo de hortaliças nos “cinturões verdes” (veja
capítulo 2) tem sido grandemente afetado, forçando os olericultores a migrarem para áreas
mais distantes dos centros consumidores.
• Elevada produtividade:
As hortaliças são muito exigentes quanto aos insumos mencionados, porém são altamente
responsivas a eles, podendo apresentar elevada produtividade.
No Brasil, a produtividade média das mais de 50 espécies de hortaliças cultivadas com
maior expressão é de 23,7 t ha-1 (veja capítulo 3). O tomateiro tutorado (tomate destinado ao
consumo in natura ou de mesa) é uma das hortaliças mais produtivas; cultivado a campo, no
Brasil, produz até 150 t ha-1 (correspondendo a 10 kg/planta). Na Holanda, em casa de vegetação
toda climatizada, com fertirrigação, enriquecimento com CO2, luz suplementar e complementar,
ciclo de 12 meses, produz 35 cachos/planta podendo alcançar o equivalente a 600 t ha-1 (60 kg
m-2 ou 40 kg/planta).
...]
Fatores abióticos: são os fatores relacionados ao clima, tais como: geada, chuvas, granizo,
calor ou frio em excesso para determinada espécie.
Fatores bióticos: são aqueles devidos a outros seres vivos, como fungos, bactérias, vírus e
nematoides fitopatogênicos, além da competição com outras espécies vegetais consideradas
plantas invasoras ou daninhas.
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos): Programa do governo federal que visa promover
a segurança alimentar e nutricional da população mais carente de forma a permitir o acesso
a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem comprometer o acesso a outras
necessidades importantes.
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Figura 1.4. Danos causados por fatores bióticos e abióticos em hortaliças. De cima para baixo e da
esquerda para a direita: incidência de doenças foliares em tomateiro com detalhe do ataque da requeima
(Phytophthora infestans) na haste; destruição total de cultura comercial de tomate por vários patógenos
em razão do excesso de chuvas; sistema radicular de planta de pepino tomado por nematoide de galhas
(Meloidogyne sp.), cultura do pepino destruída pela mancha zonada (Leandria momordicae) e cultura do alho
22 no sul do Brasil dizimada por chuva de granizo; frutos de tomate perfurado pela broca pequena dos frutos
(Neoleucinodes elegantalis), de pimentão danificado pelo ataque de ácaro rajado (Tetranychus urticae) e de
melão pelas brocas das cucurbitáceas (Diaphania nitidalis e D. hyalinata). Fotos: granizo em alho, gentileza do
Eng. Agr. Marco Antônio Lucini; demais, Mario Puiatti
*Sinal + significa lucro; sinal – prejuízo. **Foram suprimidos os centavos para “despoluir” a tabela.
***Corresponde aos cultivos de maio a julho, de setembro a novembro e de fevereiro a abril, respectivamente.
Fonte: Agrianual, 2018 (adaptado)
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Se observar detalhadamente nos dados apresentados na Tabela 1.1, pode-se visualizar
muitas das características que foram mencionadas nesses seis itens anteriores. Por exemplo:
pode-se observar que os dados de produtividade e de custo de produção das hortaliças são
muito mais elevados que dos cereais. Também, naquele ano a batata, dependendo da época de
cultivo, propiciou desde lucro de R$14.124,00/ha (cultivo de inverno) a um prejuízo da ordem
de R$7.466,00/ha (cultivo das águas); o mesmo pode ser observado quanto à cebola que, para
um mesmo sistema de cultivo (convencional) em São Paulo que deu lucro de R$18.016,00/ha e
em Itajaí-SC deu prejuízo de R$9.609,00/ha. Tudo isso como resultado da lei de mercado, com
elevação dos preços devido à frustação da produção ou queda dos preços devida ao excesso
de produção e de oferta.
1. EXPLORAÇÃO DIVERSIFICADA
Nesse tipo de exploração, há cultivo de grande número de espécies olerícolas em área
relativamente pequena, normalmente menor que 10 hectares (Figura 2.1). Portanto, há
grande diversificação de espécies olerícolas cultivadas e, normalmente, utilização de mão de
obra familiar.
Figura 2.1. Exploração diversificada de hortaliças em horta próxima de cidade. Pequena área física com
grande número de espécies olerícolas exploradas. Fotos: Mario Puiatti
É um tipo de exploração que ocorre próximo aos grandes centros consumidores, nos
chamados cinturões verdes. Devido à localização próxima ao consumidor final, há preferência
pelo cultivo de hortaliças herbáceas (uma forma de classificação das hortaliças que será vista
no capítulo 4), ou seja, folhas, hastes e inflorescências, que são órgãos mais perecíveis. Exemplo
típico é a região de Mogi das Cruzes, em São Paulo.
Os cinturões verdes, com o passar dos anos, tendem a se deslocar para regiões mais distantes
dos centros consumidores (interiorização). Além da escassez de água de qualidade aceitável
e em quantidades necessárias para o cultivo de hortaliças, conforme abordado no capítulo
anterior, esse deslocamento é acelerado pela pressão financeira exercida pela especulação
imobiliária. Infelizmente, são áreas de solo fértil, propícias ao cultivo de alimentos, em especial
as hortaliças, que se transformam em exuberantes condomínios com residências luxuosas.
A comercialização dessas hortaliças normalmente é realizada com varejistas em áreas
destinadas aos produtores rurais (MLP) nas Ceasas ou Ceagesp. Também pode haver a venda
direta aos consumidores em feiras livres e/ou entrega em residências (delivery).
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Cinturões verdes: no presente caso, se refere às áreas de cultivo ao redor das cidades com
produção de hortaliças mais perecíveis.
Perecível: adjetivo que qualifica aquilo que dura pouco, ou seja, que se deteriora, acaba ou
deixa de existir.
Varejistas: são comerciantes que adquirem os produtos hortícolas diretamente dos
produtores rurais e/ou de atacadistas e os vendem, posteriormente, em “mercadinhos” e/
ou em feiras livres aos consumidores finais (donas de casa, restaurantes e lanchonetes).
Atacadistas: são comerciantes que tem lojas (box) dentro das Ceasas ou Ceagesp, e que
adquirem os produtos hortícolas diretamente dos produtores rurais, em grande volume, e
os vendem posteriormente aos varejistas.
MLP (Mercado Livre do Produtor): área em galpão aberto nas laterais, existente nas Ceasas e
Ceagesp, alugada aos produtores rurais cadastrados, os quais comercializam a sua produção
diretamente com os varejistas (veja comercialização no capítulo 10).
Ceasa (Central de Abastecimento S.A.): empresa de economia mista do governo federal, sob
a supervisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), existente nos
estados do Brasil. Tem como função concentrar em um único local de comercialização os
produtos alimentícios vindos do campo (hortaliças, frutas e cereais).
Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo): empresa pública
federal, sob a forma de sociedade anônima, vinculada ao MAPA, que atua no estado de
São Paulo, e que corresponde às Ceasas, que existem em outros estados, mas exercendo as
mesmas funções.
2. EXPLORAÇÃO ESPECIALIZADA
Aqui surge a figura do especialista no cultivo de determinadas espécies de hortaliças.
Como tal, dedicam-se ao cultivo de poucas espécies, normalmente de uma a três espécies
olerícolas. São agricultores mais aceitos às inovações tecnológicas, visão empresarial em
grande escala com emprego de tecnologias mais avançadas, tais como: o cultivo sob pivô
central e mecanização em diversas etapas do cultivo. Isso lhes permite cultivar áreas mais
extensas, podendo chegar a 400 ha/ano, ou mais, apenas com uma hortaliça (Figura 2.2).
Devido ao elevado volume, comparado à exploração diversificada, os produtos obtidos
são comercializados no atacado, nas centrais de abastecimento (Ceasas e Ceagesp). Por serem
grandes áreas de cultivo, são localizadas mais distantes dos centros de comercialização.
Em razão disso, preferencialmente são exploradas aquelas menos perecíveis que toleram
transporte por distâncias maiores, que são as hortaliças tuberosas e algumas hortaliças fruto.
Exemplo de exploração especializada são os cultivos com tomate de mesa, batata, alho,
cebola e cenoura no Alto Paranaíba, MG, no oeste paulista, no Cerrado goiano e na Chapada
Diamantina, na Bahia.
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Figura 2.2. Exploração especializada de hortaliças. Grandes áreas de cultivo com alho e cenoura no
município de São Gotardo - MG, no Alto Paranaíba. Fotos: Mario Puiatti
O motivo é que nesse tipo de exploração o cultivo é feito sob contrato prévio com a
agroindústria de alimentos visando fornecer matéria-prima para processamento, de acordo
com a capacidade operacional instalada da agroindústria.
O grau de mecanização é até mais elevado que o anterior, comparável à produção de
grãos. O volume de produção é grande e a custo unitário mais reduzido possível (economia de
escala). Exemplo desse tipo de exploração são os cultivos no oeste paulista e no cerrado de GO
e MG, com tomate indústria, batata indústria (Figura 2.3), ervilha (petit-pois), mostarda, milho
verde, páprica, etc.
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Figura 2.3. Exploração industrial de hortaliças. À esquerda, área de cultivo de tomate destinado à indústria
no município de Morrinhos-GO; à direita, colheita mecanizada de batata destinada à indústria no município
de Araxá- MG. Fotos: à direita, Mario Puiatti; à esquerda, gentileza do prof. Fernando Luiz Finger
Fitopatógenos: são seres vivos microscópicos que se alimentam da planta, tais como fungos,
bactérias, vírus e nematoides fitopatogênicos.
Lixiviação: translocação dos nutrientes ao longo do perfil para camadas mais profundas do
solo, podendo alcançar o lençol freático.
Vazio sanitário: é um período em que os produtores de determinada região não podem ter
em suas propriedades plantas vivas de determinada espécie como medida de se evitar o
aumento dos insetos pragas e/ou de fonte de inóculo de fitopatógenos. Essa prática é muita
utilizada no Brasil pelos produtores de soja como forma de evitar a proliferação do fungo
causador da ferrugem asiática na cultura.
Figura 2.5. Exemplo de exploração em ambiente protegido, no sudeste do Brasil, de melão tipo cantaloupe
e pimentões coloridos (acima); abaixo, melancia sem semente, pepino japonês e tomate tipo grape. Note o
cultivo na vertical das plantas de melão e de melancia com os frutos colocados dentro de redinhas de nylon.
Fotos: Mario Puiatti
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Alface e morango são outras hortaliças cujo cultivos em ambiente protegido têm se
expandido no Brasil, nos últimos anos, devido às dificuldades de cultivo em ambiente aberto
em determinados locais e época (Figura 2.6). No Norte, o cultivo a céu aberto é dificultado
praticamente durante todo o ano, devido às fortes chuvas e calor excessivo; o mesmo ocorre
no Sudeste e Sul do Brasil, no período de verão. Geadas, no inverno, têm sido o fator proibitivo
do cultivo em ambiente aberto no Sul e em algumas localidades do Sudeste do Brasil.
A maior área coberta contínua com estufas no mundo (“mar de estufas”) é o Campo
de Dalías, localizado na região de Almeria, na Espanha. São cerca de 50.000 ha contínuos
cultivados, principalmente tomates e pimentões, além de pepinos, melões, abobrinha, alface
e frutas, com produção anual de cerca de 2 milhões de t.
SAIBA MAIS: Imagens diversas podem ser vistas na internet como, por exemplo, no
link: encurtador.com.br/drJU4
Figura 2.6. Cultivo em ambiente protegido de alface tipo americana em solo, em Morrinhos (GO) e de
morangueiro em sacos (bags) sobre suporte elevado preenchido com substrato comercial em Barbacena
(MG). Fotos: Mario Puiatti
Hidroponia: é um termo originário de das palavras de origem grega, hidro (= água) e ponia
(= trabalho). Hidroponia é uma técnica de cultivo de plantas, na qual o solo é substituído por
uma solução constituída de elementos minerais essenciais aos vegetais diluídos em água.
Coleto: corresponde ao ponto de encontro da raiz com o caule da planta.
Aeroponia: é um tipo de hidroponia no qual as plantas são mantidas suspensas, presas pelo
coleto, e as raízes recebem, a determinados intervalos de tempo, uma névoa de solução
nutritiva emitida por nebulizadores.
O cultivo em solução nutritiva pode ser em contentores (vasos, jardineiras, baldes, etc.) ou
no sistema de lâmina recirculante denominado de NFT (Nutrient Film Technique – Técnica do
Fluxo Laminar de Nutrientes). Quando em contentores, como a solução nutritiva fica estanque,
há a necessidade de sistema de injeção de ar na solução para permitir que as raízes possam
utilizar o oxigênio no seu processo respiratório.
Esses dutos devem ter declividade (desnível) de cerca de 3%; a solução nutritiva é
bombeada na porção mais elevada dos dutos, a determinados intervalos de tempo, e caminha
por gravidade, passando pelo sistema radicular das plantas até chegar ao final do duto; o
restante da solução, que não foi absorvida pelas plantas, é dispensado dentro de uma caixa
até ser recirculada novamente.
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Figura 2.7. Cultivo sem solo em ambiente protegido. Acima, à esquerda, cultivo de tomate em calhas
preenchidas com argila expandida (cinesita) e fertirrigadas; à direita, cultivo de alface em hidroponia no
sistema NFT; abaixo, produção de “tubérculos semente” de batata no sistema NFT. Fotos: Mario Puiatti
Figura 2.8. Exploração de hortaliças exóticas ou de produtos diferenciados. Acima, à esquerda, frutos de
melancia sem sementes, melão amarelo e minimoranga. Note que o fruto de melancia é um pouco menor
que o de melão, sendo comercializado inteiro (sem partir), e o da minimoranga pouco maior que um
tomate. Detalhe da porção interna do fruto de melancia “sem sementes”, com a presença de apenas uma
semente completa e de várias que têm somente o tegumento (são desprovidas de embrião). Sementes
completas ocorrem esporadicamente. Centro, frutos de tomate tipos gold (esquerda) e grape (direita); abaixo,
à esquerda, fruto minitomate, de pepino africano (Cucumis metulliferus), comercializado na Europa como
kiwano e alface adensada para corte de folhas pequenas (baby leaf). Fotos: Mario Puiatti
Figura 2.9. Exemplos de algumas hortaliças não convencionais (HNC). Da esquerda para a direita, de cima
para baixo: maxixinho (Coccinia grandis), ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), bertalia ou bertalha (Basella alba),
maná cubiu ou cubiu (Solanum sessiliflorum), quiabo de metro (Trichosanthes cucumerina L. var. anguina),
yacon ou batata yacon (Polymnia sonchifolia), peixinho ou lambarizinho da horta (Stachys lanata), azedinha
(Rumex acetosa), capuchinha (Tropaeolum majus), açafrão da terra (Curcuma longa), beldroega (Portulaca
oleracea) e serralha (Sonchus oleraceus). Fotos: Mario Puiatti
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8. EXPLORAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MATERIAL PROPAGATIVO
Esse tipo de exploração está relacionado com atividade suporte, são chamados
“sementeiros”. Pode estar relacionado à produção de material de propagação seminífera
(sementes botânicas) ou vegetativa (propagação assexuada), tais como produção de mudas
de batata (“batata-semente”) e mudas de morango (estolão ou estolho), assunto a ser abordado
no capítulo 7.
No caso das sementes botânicas, elas são produzidas por empresas especializadas, muitas
das quais de capital multinacional. Voltado à propagação vegetativa existem produtores
e laboratórios especializados e cadastrados para exercer essa atividade, que no Brasil,
basicamente existe voltado à produção de mudas de morangueiro e de batata-semente com
sanidade elevada, especialmente livres de viroses e de bactérias.
Esses materiais propagativos têm gerado déficit na nossa balança comercial, pois o Brasil é
grande importador de sementes de hortaliças, especialmente, de batata-semente e de mudas
de morangueiro (veja capítulo 3).
Figura 2.10. Exploração da produção de mudas de hortaliças (Viveiricultura). Viveiro de produção de mudas
de tomate destinadas à exploração industrial no estado de Goiás. Foto: Gentileza da eng. agr. Lucimar
Andrade de Lima
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10. EXIGÊNCIAS DO MERCADO CONSUMIDOR DE HORTALIÇAS
Independentemente do tipo de exploração, o mercado consumidor de hortaliças está
cada dia mais exigente em termos de qualidade, preço, regularidade da oferta (constância) e
respeito ambiental. Em suma: o produtor de hortaliças deve buscar produtos diferenciados, a
preços competitivos e sem agressão ao ambiente.
Radicais livres – EROs ou ROS - Espécies Reativas de Oxigênio (EROs), tradução da língua
inglesa de Reactive Oxygen Species (ROS): são formas de oxigênio energeticamente mais
reativas que o oxigênio molecular, geradas naturalmente pelo metabolismo celular, e que
reagem com outras substâncias, podendo gerar uma série de reações em cadeia causando
danos às células (estrese oxidativo), especialmente em membranas celulares e até mesmo do
DNA (ácido desoxirribonucleico). Os radicais livres mais comuns são: superóxido (O2-.); hidroxila
(·OH); peróxido de hidrogênio (H2O2) e oxigênio singleto (1O2).
Na Tabela 3.1 são apresentados dados do IBGE, compilados por pesquisadores da Embrapa
Hortaliças, referentes aos aspectos de produção, área cultivada e valor com as principais
olerícolas no Brasil no ano de 2014. O Brasil produziu naquele ano cerca de 17,8 milhões de t
de hortaliças, no valor de R$23,3 bilhões, em área cultivada de 752 mil ha, com produtividade
média de 23,7 t/ha. Em ordem decrescente, tomate, batata, melancia e cebola são as quatro
hortaliças com maiores volumes em produção; em valor, tomate, batata, cebola e melancia; em
área: batata, melancia, tomate e cebola; em produtividade, tomate, cenoura, batata e melão.
Melão e melancia são hortaliças fruto (frutas) adaptadas ao cultivo em regiões secas e
quentes, como é o caso do Nordeste do Brasil, cujo cultivo se dá principalmente nos estados do
Rio Grande do Norte e Ceará, com mais de 75% da produção sendo exportada para a Europa,
aproveitando a janela deixada pela Espanha durante o inverno europeu (Figura 3.1).
Capsicums: se refere às espécies do gênero Capsicum que engloba várias espécies dentro da
família botânica das solanáceas (mesma da batata e do tomate). Nesse gênero estão contidos
os pimentões e as pimentas (veja capítulo 4).
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Figura 3.1. Importância econômica das hortaliças. Paletes com caixas de melão em packing-house em fazenda
de Mossoró-RN, aguardando para serem exportadas para a Europa (ao lado) e detalhe do destinatário com
código de barras (acima). Fotos: Mario Puiatti
Os postos de trabalho gerados podem ser diretos ou indiretos como as atividades suporte
à produção, de comercialização ou, mais recentemente, de processamento mínimo de
hortaliças (alface, cenoura, couve, brócolis, repolho, etc.). Portanto, além de gerar ocupação no
campo, evitando problemas sociais nas cidades, a olericultura traz renda para as propriedades
e municípios, fornecendo alimento saudável tanto para os cidadãos das cidades como para os
próprios produtores.
46
Figura 3.2. Importância social das hortaliças. Detalhe do envolvimento de mão de obra no transplante
manual de mudas de cebola para o campo, no oeste paulista. Foto: gentileza do eng. agr. José Maria Breda
Júnior
5. VALOR NUTRICIONAL
Embora, às vezes, chamadas de “mato”, as hortaliças são fundamentais para a nossa saúde,
pois são importantes fontes de proteínas, lipídeos, carboidratos, fibra alimentar, cinzas,
minerais e de vitaminas (B1, B2, B6, Niacina e vitamina C). Algumas também apresentam efeito
medicinal e outras atividades de alimento funcional.
A composição química dos alimentos, hortaliças no caso, pode variar com fatores do
ambiente de cultivo (local, época, solo, manejo, etc.) e da constituição genética (variedade
ou cultivar). Em razão disso, um grupo de especialistas brasileiros da área de alimentos,
desenvolveu o projeto Taco (Tabela Brasileira de Composição de Alimentos), coordenado pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA) da Unicamp, com financiamento do
Ministério da Saúde (MS) e do extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS). Essa tem como iniciativa proporcionar dados de grande número de nutrientes
em alimentos nacionais e regionais obtidos por meio de amostragem representativa e
análises realizadas por laboratórios com competência analítica comprovada por estudos
interlaboratoriais, segundo critérios internacionais.
Com base na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, são listadas, a seguir, aquelas
hortaliças que mais se destacam, em relação às demais, quanto aos componentes químicos.
Assim tem-se:
47
• Energéticas: alho, batata, baroa, batata doce, batata (frita), inhame, coentro
(desidratado), couve manteiga (refogada), taro.
• Fonte proteica: abóbora cabotian ou cabotiá (tetsukabuto), agrião, alface lisa, alho,
almeirão, batata (frita), beterraba, brócolis, inhame, catalonha, cebola, cebolinha,
coentro (desidratado), couve manteiga, couve-flor, espinafre, taro, manjericão,
mostarda (folha), salsa, serralha, taioba, tomate extrato, vagem.
• Lipídeos: almeirão, couve-manteiga e espinafre (refogados), batata (frita) e coentro
(desidratado).
• Carboidratos: abóbora cabotiá (tetsukabuto), alho, baroa, batata doce, batata (frita,
cozida, sauté), beterraba, inhame, coentro (desidratado), taro e tomate (extrato).
• Fibra alimentar: todas são boa fonte com destaque maior para batata (frita), inhame,
coentro (desidratado), couve-manteiga e taioba.
• Cinzas: aipo, alho, almeirão, baroa, batata frita, beterraba, inhame, catalonha, cenoura,
coentro (desidratado), couve-manteiga, espinafre, manjericão, mostarda (folha), salsa,
serralha, taioba, tomate (extrato, purê, molho).
• Cálcio: agrião, aipo, almeirão, brócolis, catalonha, cebolinha, chicória, coentro
(desidratado), couve-manteiga, espinafre, manjericão, mostarda (folha), salsa, serralha
e taioba.
• Magnésio: cebola, coentro (desidratado), espinafre, manjericão e salsa.
• Manganês: beterraba, coentro (desidratado), couve-manteiga, nabo, salsa
• Fósforo: agrião, alho, batata (frita), brócolis, coentro (desidratado), couve-flor, taro,
mostarda (folha), salsa, serralha.
• Ferro: agrião, almeirão, catalonha, coentro (desidratado), manjericão, mostarda (folha),
salsa, serralha, taioba, tomate (extrato, molho, purê).
• Sódio: batata (frita), beterraba, tomate (extrato, molho, purê).
• Potássio: alho, baroa, batata (frita), beterraba, catalonha, chicória, coentro
(desidratado), couve-manteiga, taro, tomate (extrato).
• Cobre: aipo, catalonha, alho, baroa, coentro (desidratado), salsa, serralha, tomate
(extrato) e taro.
• Zinco: alho, coentro (desidratado), salsa e serralha.
• Tiamina (B1): alho, couve-manteiga e batata (frita).
• Riboflavina (B2): agrião, almeirão, brócolis, serralha e taioba.
• Piridoxina (B6): abóbora, acelga, aipo, alho, batata, catalonha, cebola e salsa.
• Niacina: almeirão, baroa, batata doce, batata (frita), catalonha, cenoura e tomate
(extrato e purê).
• Vitamina C: acelga, batata doce, batata, brócolis, coentro (desidratado), couve
manteiga, couve-flor, mostarda (folha), pimentões (verde, amarelo, vermelho) e tomate
(cru).
5.1. Além de nutrir o nosso organismo, as hortaliças podem exercer efeito funcional
Como visto no item anterior, as hortaliças são fonte de diversas substâncias que têm a
função de nutrir as células do nosso corpo (efeito nutricional). Todavia, algumas delas, além
de fornecer nutrientes responsáveis por alimentar as células, apresentam compostos ou
substâncias que exercem efeitos protetivos em nosso organismo. Esses efeitos, normalmente,
estão relacionados à proteção das células contra agentes potencialmente causadores de
danos desencadeadores de doenças. Em função dessa característica de proteção que esses
alimentos apresentam, eles têm sido denominados alimentos funcionais.
Alimentos funcionais: são produtos que contêm em sua composição alguma substância
biologicamente ativa que, ao ser adicionada a uma dieta usual, desencadeia processos
metabólicos ou fisiológicos, resultando em redução do risco de doenças e manutenção da
saúde.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido à ação desses
compostos ainda estarem sendo submetidos à comprovação científica, ela tem preferido
utilizar a denominação de “Alimentos com Alegações de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde”.
SAIBA MAIS: Para mais informações sobre esse assunto, consulte em: http://
www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno.htm. Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcionais e/ou de Saúde.
Portanto, o brasileiro precisa melhorar seu hábito alimentar. Esse é um trabalho que deve
ser realizado com as crianças. A educação alimentar deveria ser prática obrigatória nas escolas.
Algumas escolas tentam fazê-la, mas as professoras enfrentam grande resistência por parte
das crianças, que não encontram exemplo e respaldo em suas casas.
4
Classificação
das
hortaliças
53
1. CLASSIFICAÇÃO: BASES E IMPORTÂNCIA
A classificação das plantas consiste em agrupar indivíduos que apresentam características
em comum. Tem como função agrupar as espécies identificando e catalogando informações
geradas a respeito delas. Dessa forma, ela nos ajuda a entender as diferenças e as semelhanças
que existem entre indivíduos, ou grupos de indivíduos, e a forma diferenciada de como
devemos trata-los. Quando realizada corretamente, a classificação pode resultar no uso
eficiente da informação para manejar as plantas.
Portanto, a classificação taxonômica, após 1990, inicia-se com Domínio e, para os vegetais,
continua em níveis de detalhamento até variedade botânica (var.) ou grupo.
Na classificação taxonômica, a espécie (gênero + epíteto específico) é a unidade
taxionômica básica. Todavia, são empregadas outras unidades taxonômicas, além de gênero
e espécie, como: classe, família, variedade botânica, grupo, clone, linhagem e cultivar, que
complementam ainda mais a informação. Assim, temos:
• Família: Consiste na reunião de plantas de gêneros semelhantes, na aparência ou em
caracteres técnicos (botânicos).
• Gênero: Consiste no agrupamento de espécies afins, filogeneticamente ou
estruturalmente.
• Espécie: É a unidade taxionômica básica. Engloba indivíduos muito similares capazes
de se entrecruzar e que são, mais ou menos, distintamente diferentes em características
morfológicas ou outras (normalmente partes reprodutivas) de demais espécies do
mesmo gênero.
• Variedade botânica (var.), subespécie (subsp.) e grupo: É a subdivisão de uma
espécie, consistindo de uma população com características morfológicas distintas. Ex.:
Brassica oleracea var. capitata (repolho); Brassica oleracea var. acephala (couve-comum
ou couve de folha). Em alguns casos, tem sido utilizado subespécie (subsp.), como é o
caso da batateira, Solanum tuberosum subsp. tuberosum e Solanum tuberosum subsp.
andigena.
• Em alguns casos, tem sido usado o termo grupo com o mesmo sentido de var.;
todavia, grupo não é tão distinto quanto a var., uma vez que espécies dentro de um
55
mesmo grupo podem se entrecruzar, como é o caso dos melões, Cucumis melo grupo
Cantalupensis (melão tipo cantaloupe ou melões cheirosos) e Cucumis melo grupo
Inodorus (melões sem cheiro).
• Cultivar: No sentido agronômico o termo variedade comercial tem sido substituído
por cultivar (cv.), de origem inglesa, originado da junção dos termos cultivated variety
(cultivar). É um grupo de plantas cultivadas, dentro de uma espécie e/ou variedade
botânica, muito semelhantes entre si e que se distinguem de outros grupos de plantas
por características de relevância agronômica e comercial. Com base nessa linha de
pensamento, é que surgiu a Lei de Proteção de Cultivares (04/1997), que dá o enfoque
ao aspecto comercial do produto vegetal e direitos de cobrança de royalty por parte
do detentor do registro. Mais detalhes em: Serviços de Proteção de Cultivares no site
http://www.agricultura.gov.br/.
• Clone: É o conjunto de plantas geneticamente idênticas originárias de uma única
planta matriz propagada assexuadamente. Alho, batata, gengibre, inhame, morango,
mandioquinha-salsa e taro são exemplos de hortaliças propagadas de forma assexuada.
Nesse caso, o que chamamos de var. ou cv., na realidade é clone.
• Linhagem: Grupo ou população de plantas uniformes, reproduzidas sexuadamente,
normalmente autopolinizadas, sendo propagadas por semente. Na prática, as
linhagens são utilizadas em processo de melhoramento de plantas, nos quais as
linhagens potencialmente portadoras de atributos de interesse comercial são cruzadas
entre si, obtendo-se as cultivares híbridas de interesse agronômico.
Na classificação taxonômica, classe (mono e dicotiledônea), família botânica e espécie
(gênero + epíteto específico) têm sido as unidades mais úteis. Na Tabela 4.1, são listadas cerca
de 82 espécies (17 monocotiledôneas e 65 espécies dicotiledôneas), de 18 famílias botânicas
das hortaliças de maior expressão de cultivo no Brasil.
Observe, na Tabela 4.1, que, para algumas famílias botânicas, existe mais de uma
denominação, como da família Alliaceae, por exemplo. Nesse caso, o que está contido dentro
do parênteses (Amarilidaceae/Liliaceae) se refere à antiga classificação.
* Essa é a nova classificação do tomateiro, que era classificada como Lycopersicon esculentum.
Figura 4.1. Cebola e morangueiro apresentam resposta ao fotoperíodo; cebola somente bulbifica sob dias
longos e morangueiro emite estolões (mudas) sob dias longos e flores sob dias curtos. Cucurbitáceas, como
meloeiro (esquerda) e abobrinha (direita), são indiferentes (dias neutras) para florescer, embora sob dias
longos aumenta a proporção de flores masculinas/flores hermafroditas (meloeiro) ou femininas (abobrinha).
Fotos: Mario Puiatti
2.3. Classificação das plantas com relação aos elementos do clima para completar o
ciclo de vida ou biológico
De acordo com a resposta das hortaliças aos elementos do clima para completar o seu
ciclo de vida ou biológico (nascer, crescer, florescer, reproduzir e senescer), as hortaliças são
classificadas em bienal ou bianual, anual e perene.
• Hortaliça bienal ou bianual:
São aquelas hortaliças que, para passarem da fase vegetativa para a fase reprodutiva,
necessitam de um período sob baixas temperaturas (vernalização). Essas espécies são ditas
como responsivas a termoperiodicidade estacional, ou seja, a variação de temperatura ao
longo das estações do ano provocada pelo movimento de translação da terra. Alho, cebola,
beterraba, brássicas (repolho, couve-flor, brócolis, etc.), cenoura e morango são exemplos de
hortaliças bienais (Figura 4.2).
62
Figura 4.2. Exemplo de hortaliças bienais. De cima para baixo, brócolis, couve-flor e cebola. Da esquerda para
a direita: na 1ª coluna, antes de receberem o estímulo de frio (vernalização) para entrar na fase reprodutiva;
coluna central, após recebimento do estímulo para florescer (inflorescências imaturas de brócolis e couve-
flor); coluna da direita hastes florais de brócolis já com flores abertas, iniciando alongamento das hastes
florais em couve-flor e umbela em cebola. Fotos: Mario Puiatti
63
• Hortaliça bienal ou bianual:
Cuidado com o termo bienal ou bianual, pois esse subentende o envolvimento
de dois anos. Isso é verdadeiro para o hemisfério norte, onde as baixas
temperaturas ocorrem na mudança do ano civil. No hemisfério sul, que é
o caso do Brasil, naturalmente as baixas temperaturas ocorrem no meio do
ano civil e uma hortaliça bienal poderá crescer, florescer, frutificar e senescer
sob condições de campo dentro de um mesmo ano civil.
• Hortaliças anuais:
São aquelas que passam da fase vegetativa para a fase reprodutiva por elementos outros
do clima, que não seja a baixa temperatura. A alface, por exemplo, é uma espécie anual
que passa da fase vegetativa para a reprodutiva por efeito de temperatura elevada e/ou de
fotoperíodo longo (Figura 4.3).
Figura 4.3. Alface é um exemplo típico de hortaliça anual que é induzida a passar da fase vegetativa para a
reprodutiva sob condições de dias longos e/ou de temperaturas elevadas. Da esquerda para a direita: planta
no estado vegetativo, alongando o caule e planta em pleno florescimento. Fotos: Mario Puiatti
• Hortaliças perenes:
As hortaliças perenes são semelhantes às anuais, ou seja, passam da fase vegetativa
para a reprodutiva por efeito de fatores outros que não sejam baixas temperaturas. Todavia,
enquanto as hortaliças anuais, assim como as bianuais, morrem após reproduzirem, as
hortaliças perenes têm vários ciclos vegetativos e reprodutivos até completarem o ciclo de
vida ou biológico (senescerem). Exemplo de hortaliça perene é o aspargo que pode viver mais
de 10 anos vegetando e florescendo até morrer.
64
Ciclo biológico: corresponde ao o período de tempo no qual a planta completa o seu ciclo de
vida (senesce), deixando descendentes, que podem ser sementes ou estruturas vegetativas
propagativas (assunto a ser abordado no capítulo 7). Portanto não se deve confundir ciclo
cultural com ciclo biológico, pois quase sempre diferem um do outro, estando o ciclo cultural
compreendido dentro do ciclo biológico.
Como na anterior, a classificação das hortaliças em resposta aos elementos do clima para
completar o seu ciclo de vida ou biológico é útil na definição de cultivo de algumas espécies
para certa época de cultivo em determinada região, para se evitar frustração daquilo que se
espera. Pode-se tomar como exemplo a cultura da cebola, que é uma planta bienal (é induzida
a florescer sob baixas temperaturas). Se durante o cultivo a temperatura estiver muito baixa, a
planta poderá florescer consumindo as reservas que estavam sendo armazenadas no bulbo e,
assim, não produzir bulbos comerciais.
Portanto, o conhecimento da resposta das plantas à temperatura e ao fotoperíodo é
bastante útil na definição de cultivo de algumas espécies, variedade ou cultivar dessa espécie,
e a época a se cultivar em determinada região. Esse assunto será abordado com maior
profundidade no capítulo 5.
• Hortaliças herbáceas:
A parte explorada normalmente situa-se acima do solo; são tenras e suculentas. Pode ser
folha (folhosas), hastes ou talos e flores e inflorescência.
65
- Folhosas: agrião, acelga, aipo (salsão), alface, almeirão, cebolinha, chicória, coentro,
couve, couve-chinesa, couve-de-bruxelas, couve-tronchuda, espinafre, mostarda, repolho,
rúcula, salsa e taioba, dentre outras.
- Talos e hastes: aspargo, aipo, agrião, alho-porró.
- Flor: alcachofra.
- Inflorescências: couve-flor, couve-brócolis, couve-brócolos, brócolo, brócolos, brócoli
ou brócolis (todas essas grafias são aceitas; brócolo vem de brocco em italiano = broto).
• Hortaliças tuberosas:
São aquelas cuja parte explorada, normalmente, se desenvolve dentro do solo. São ricas em
carboidratos. Podem ser tubérculo, rizoma, cormo/cormelo, rizóforo, bulbo ou raiz tuberosa.
- Tubérculo: batata
- Rizoma: açafrão, araruta, gengibre,
- Rizóforo: inhame (Dioscorea spp., denominado de cará no centro-sul do Brasil).
- Cormo/cormelo: mangarito, taioba e taro (Colocasia esculenta, denominado de inhame
no Centro-sul do Brasil);
- Bulbo: cebola e alho.
-Raiz tuberosa: batata-doce, beterraba (hipocótilo), cenoura, couve-rábano,
mandioquinha-salsa (ou baroa), nabo, rabanete, yacon ou batata-yacon.
Figura 4.4. Da esquerda para a direita, acima: cormelos de taro, rizoma de gengibre e raízes tuberosas de
mandioquinha-salsa; abaixo: rizóforos de inhame, tubérculos de batata e raiz tuberosa de yacon. Fotos: Mario
Puiatti
• Hortaliças fruto:
Utiliza-se o fruto ou infrutescência, imaturo ou maduro, no seu todo ou em parte. Algumas
apresentam o que chamamos de dupla aptidão, ou seja, podem ser consumidas nos estádios
66
de desenvolvimento imaturo ou maduro, como é o caso de algumas abobrinhas/abóboras.
Essa classificação tem utilidade limitada, por ser ambígua, devido à duplicidade de forma
ou maneiras que algumas hortaliças são preparadas e usadas. Da taioba, por exemplo, se
utiliza a folha (hortaliça herbácea), mas o cormo e cormelos também podem ser consumidos
(hortaliça tuberosa); abóbora se consome o fruto (hortaliça fruto), mas as hastes também
são consumidas em algumas regiões (hortaliça herbácea). Todavia, essa classificação é muito
empregada no processo de comercialização, como cotação de produtos nas CEASAs, além de
estudos em pós-colheita.
Como se pode observar nesta tabela, ainda faltam muitas informações da pesquisa a
respeito da sensibilidade das hortaliças à salinidade - muitas ainda estão incompletas ou há
desencontros de informação. Todavia, essa classificação, embora também limitada, é muito
importante em termos de aproveitamento de áreas, com problema de salinidade e/ou da
possibilidade de utilização de águas salinas no cultivo de determinadas hortaliças.
Salinidade: orresponde à condutividade elétrica (CE) ao passar uma corrente elétrica pela
solução do solo. É medida em deciSiemens/metro (dS/m); quanto maior a leitura, mais
sais estão presentes na solução do solo. A classificação das hortaliças quanto à tolerância
é feita em relação a um valor limite, a partir do qual há prejuízos na produtividade e no
percentual de perda da produtividade, por unidade de dS/m, a partir daquele valor limite.
Aspargo, por exemplo, tem valor limite de 4,1 dS/m; acima desse valor, perde apenas 2%
de produtividade de incremento em dS/m. Já a cenoura tem valor limite de apenas 1,0
dS/m; acima desse, perde 14% em produtividade por unidade de dS/m. Portanto, aspargo é
considerado tolerante e a cenoura sensível à salinidade.
Acidez do solo: O critério para essa classificação é semelhante ao da salinidade, embora não
haja um nível de detalhamento semelhante àquele, se baseia nas perdas em produtividade
dos trabalhos científicos conduzidos com variação do pH do solo.
Figura 4.5. Acima, Boro (B) em couve-flor. À esquerda, queima das bordas e curvatura das folhas devido
à toxidez de B em plantas na fase inicial de crescimento; à direita, medula oca ou podridão da medula
causada pela deficiência de B na planta. Abaixo, deficiência de cálcio em frutos de tomate e de melancia
(podridão apical) e queima das bordas das folhas de alface (tip burn). Fotos: Mario Puiatti
71
A deficiência de B causa a podridão da medula e de Mo causa supressão do crescimento
do limbo foliar (“folha chicote”) em couve-flor. A deficiência de S reduz o sabor e o aroma
(pungência) em alho e cebola; a de Ca causa podridão apical em frutos de tomate, melancia e
pimentão, além da queima dos bordos das folhas em alface (tip burn).
Todos esses distúrbios - mas, principalmente, a deficiência de Ca - causam perda de valor da
hortaliça, impedindo a sua comercialização. Vale lembrar que a disponibilidade dos nutrientes
na solução do solo está relacionada diretamente com o pH do solo, consequentemente, com
a prática da calagem do solo.
Crescimento e desenvolvimento: Embora, no dia a dia, sejam usados como sinônimos, nos
sentidos biológico e fisiológico esses termos não tem o mesmo significado. Crescimento
está relacionado com alternações facilmente mensuráveis durante o ciclo de vida de uma
planta, como altura, peso, diâmetro, volume, etc. Já desenvolvimento se refere às alterações,
às vezes, quase imperceptíveis, pelas quais a planta passa nos estádios até completar o seu
ciclo de vida, como mudanças bioquímicas e fisiológicas, que levam a planta a passar do
estádio vegetativo para o estádio reprodutivo, por exemplo.
Fatores climáticos: são fatores físicos capazes de modificar o clima, ou seja, irão interferir
nos elementos climáticos. Podem ser externos ou internos. Fatores externos: flutuações
na quantidade de energia emitida pelo sol e variações na órbita terrestre e no seu eixo
de rotação. Fatores internos (regional ou local): latitude, altitude, relevo, maritimidade
(presença de mar), correntes oceânicas, continentalidade, massas de ar, rotação da Terra,
estações do ano, vegetação, concentração de CO2 e de poeira atmosférica, etc.
Elementos climáticos: são grandezas meteorológicas que comunicam ao meio atmosférico
suas propriedades e características peculiares. Os principais são: temperatura, umidade,
chuva, vento, nebulosidade, pressão atmosférica, etc., os quais podem ser medidos de
forma instantânea. Os elementos climáticos variam ao longo do tempo e são influenciados
pelos fatores climáticos. Portanto, o clima de uma região e o tempo local, quantificados
pelos elementos climáticos, são determinados pelos fatores climáticos.
Tempo: É o estado da atmosfera com respeito aos elementos climáticos temperatura,
umidade, movimento do ar e de outros fenômenos meteorológicos, por um curto período
de duração.
Clima: É a média comportamental do tempo, num local específico, sobre um período de
muitos anos. Portanto, o clima exerce influência sobre as condições do tempo. Pode ou
poderá predeterminar se determinada espécie olerícola irá crescer e se desenvolver em certo
local e época, ou seja, o crescimento e desenvolvimento de uma planta são dependentes
diretamente das condições do tempo durante o seu ciclo de vida.
Os elementos do clima, temperatura e umidade relativa, e o fator luz (radiação) são os que
mais influenciam o crescimento e desenvolvimento das hortaliças.
1. TEMPERATURA
A temperatura exerce profundo efeito sobre todos os organismos vivos, favorecendo ou
limitando o crescimento deles, além influenciar na distribuição das plantas na face da Terra.
A temperatura em determinado local é dependente dos fatores climáticos, em especial da
quantidade de energia (radiação) solar incidente.
Embora a Terra seja considerada uma esfera em rotação e a fonte de energia seja o Sol, a
75
distribuição global da radiação e, consequentemente, da temperatura, varia de acordo com as
condições geográficas. Devido à inclinação do eixo da Terra, formando um ângulo de 23o27’
com o plano de sua órbita ao redor do Sol (Plano da Eclíptica), porções de Terra recebem
diferentes quantidades de insolação (radiação solar), variando com a latitude e época do ano
(estações). Assim, cada latitude recebe uma porção de insolação ao longo do dia e do ano,
fazendo com que a temperatura varie ao longo do dia (24 horas) e das estações do ano.
Por essas razões, o mapa de temperatura não é uniforme ao redor da Terra. A zona
equatorial é consistentemente quente, enquanto que regiões polares consistentemente frias,
comparadas com latitudes intermediárias. Além disso, a temperatura em qualquer ponto sobre
a Terra é influenciada por outros fatores climáticos, como a proximidade de outras massas de
terra ou de água (continentalidade e maritimidade), correntes oceânicas, massas de ar, relevo,
vegetação, etc.
Figura 5.1. Exemplo de uso correto (à esquerda) e inadequado (à direita) de cultivares de couve-flor. Ambas,
com a mesma idade, foram cultivadas no mesmo local no período de verão; a cultivar de verão (foto à
esquerda) teve as suas necessidades em frio atendidas para induzir ao florescimento, enquanto que esse
frio não foi suficiente para atender à demanda do cultivar de inverno (à direita), permanecendo no estado
vegetativo. Fotos: Mario Puiatti
Ainda que o frio possa levar ao florescimento das plantas, no alho, ele é importante
para diferenciar os bulbilhos (dentes) e tem sido técnica empregada para produção de alho
nobre no Cerrado brasileiro utilizando o frio artificial. Esse processo, embora chamado pelos
produtores de vernalização do alho-semente, não visa à produção de flores pelo alho, mas
sim à formação de bulbo. Consiste em colocar o alho-semente em câmara fria (2-4ºC) durante
certo período de tempo (45 a 65 dias) antes do plantio. O frio recebido na câmara somado ao
frio do ambiente de cultivo atende à demanda em frio pelo cultivar de alho para diferenciar as
gemas que darão origem aos bulbilhos.
Alho nobre: são variedades que produzem pouco bulbilhos (dentes) por bulbo, por exigirem
mais frio para diferenciar os bulbilhos. Os bulbilhos são grandes e, consequentemente, os
bulbos também o são, daí, serem preferidos pela dona de casa e, consequentemente, mais
valorizados no mercado.
Embora utilizada com sucesso por agricultores do Alto Paranaíba e Planalto Central, onde a
temperatura é mais amena (sobretudo, a noturna, devido à altitude elevada), é uma técnica de
alto risco, pois excesso ou carência de frio, associado a outros fatores durante o cultivo, poderá
79
levar a distúrbios fisiológicos (Figuras 5.2 e 5.3). Assim, o período de tempo em que o alho-
semente deve permanecer na câmara fria depende, além da variedade de alho: da origem
dela, do manejo da irrigação e da nutrição nitrogenada, das condições climáticas que irão
ocorrer após o plantio - essa última impossível de ser controlada.
Figura 5.2. Em alho o frio é fundamental para diferenciar as gemas que irão formar os bulbilhos e,
consequentemente, o bulbo. Foto da esquerda: bulbo da extremidade esquerda de planta que recebeu
quantidade de frio insuficiente (“charuto”); bulbo à direita, quantidade de frio adequada; bulbos ao meio,
quantidade de frio intermediária, mas não suficiente para formar um bulbo adequado (“pescoço grosso”).
Foto da direita: no bulbo da direita e centro, a planta recebeu quantidade de frio adequada; bulbo da
esquerda planta recebeu frio em excesso formando bulbo “sorriso” devido aos superbrotamento ou
pseudoperfilhamento. Foto da esquerda: gentileza do eng. agr. Marco Antônio Lucini; da direita, Mario
Puiatti
Charuto e “pescoço grosso”: quando a planta de alho e/ou de cebola não recebem,
respectivamente, frio ou fotoperíodo longo suficientes para indução à bulbificação. No caso
de “charuto”, como o nome indica, praticamente não dá para distinguir bulbo (diâmetro do
bulbo praticamente igual ao do pseudocaule ou pescoço).
Figura 5.3. Planta de alho que recebeu frio adequado (a esquerda) e em excesso (centro e à direita),
ocorrendo o superbrotamento ou pseudoperfilhamento. Fotos: Mario Puiatti
O processo de vernalização pode ser artificial; ou seja, a planta e/ou parte de reserva dela
pode ser submetida a baixa temperatura em câmara fria e depois plantada no campo para
obter sementes. Essa técnica é muito utilizada por empresas produtoras de sementes de
hortaliças bienais, como é o caso de cenoura, beterraba, cebola e repolho (Figura 5.4).
Figura 5.4. Vernalização artificial. À esquerda: raízes tuberosas de cenoura após permanecerem em câmara
fria (4º-6°C), durante 20 dias, com as brotações crescendo a partir do caule na porção superior. À direita:
“cabeça” de repolho com emissão de raízes, a partir do caule cortado (parte superior), após 15 dias em câmara
fria (4-6°C). Fotos: Mario Puiatti
Figura 5.5. Escaldadura em frutos de moranga híbrida tipo tetsukabuto, de tomate industrial e de pimentão
indicando a temperatura (45,4ºC) no fruto de pimentão. Fotos: Mario Puiatti
Epigenética: é a ciência que trata do estudo de modificações que ocorrem no genoma, mas
que não alteram a sequência do DNA. Todavia, são herdadas ou passadas às novas gerações.
2. LUZ
A luz solar (energia radiante) é requerida pelas plantas para a realização da fotossíntese;
por conseguinte, é outro componente do ambiente essencial para a vida das plantas. A luz
pode ser medida em termos de qualidade (comprimento de onda), quantidade ou duração
(fotoperíodo) e intensidade (irradiância).
Figura 5.6. Espectro eletromagnético da luz solar com o espectro de luz visível em destaque.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radia%C3%A7%C3%A3o_eletromagn%C3%A9tica
Figura 5.7. Acima, à esquerda, planta de alface em estado vegetativo; à direita, em estado reprodutivo
induzido por dias longos. Centro, à esquerda, batateira florida sob dias longos, e à direita início da
tuberização (emissão dos estolões apontadas pela caneta) beneficiada por dias curtos; abaixo, à esquerda,
flores de moranga (Cucurbita maxima), feminina (parte de cima, com presença de ovário ínfero) e masculina
abaixo (ausência de ovário); a direita flor feminina (primeira abaixo) e masculinas (demais acima) em
melancia. Fotos: Mario Puiatti
2.3. Intensidade de Luz (irradiância)
Intensidade é a quantidade de radiação que atinge a superfície de um plano. Ela se altera
com a elevação (altitude), latitude e estação do ano, além de outros fatores, como fumaça,
poeira, gases, CO2, ozônio e vapor d’água, comumente presentes na atmosfera.
Relacionado às plantas, nos interessa a radiação que é ativa na fotossíntese, aquela
compreendida entre 380 nm (ultravioleta - UV) até 780 nm (vermelho distante). Diz-se que
essa é a Radiação Fotossintética Ativa (RAF), que, em fisiologia de plantas, é medida µmol m-2
s-1 (micromoles de fótons por metro quadrado de folha por segundo).
A solarização é comum de ocorrer quando plantas que estavam sob restrição de luz são
expostas à radiação solar plena de forma abrupta. Isso ocorre, por exemplo, quando em
consorciação de plantas, há a retirada das plantas que estavam promovendo o sombreamento,
expondo à radiação plena as plantas que estavam abaixo do dossel (Figura 5.8).
Figura 5.8. Da esquerda para a direita: acima solarização em folhas de mangarito (Xanthosoma riedelianum),
cultivadas em consorciação com milho verde expostas à radiação solar direta, imediatamente após o corte
da parte aérea de plantas de milho, e em folhas de taro (Colocasia esculenta) no verão. Abaixo, solarização
(escaldadura) em frutos de melancia, moranga tetsukabuto e pimentão. Fotos: Mario Puiatti
Portanto, para cada hortaliça, deve-se observar a exigência e tolerância dessa à intensidade
de radiação incidente para determinado local e época de cultivo. Hortaliças com maior
exigência em irradiância (acima de 1.000 µmol m-2 s-1) são: milho verde, cucurbitáceas (melão,
melancia, abóboras), berinjela, fabáceas, batata, tomate, batata-doce.
A maioria das hortaliças tem exigência intermediária (entre 600 e 800 µmol m-2 s-1). Espinafre
e agrião têm menor exigência e podem até ser cultivadas sob restrição de luz. Aspargo branco
também deve ser cultivado com as hastes protegidas da luz. A ausência de luz, nesse caso, se
deve ao fato de que para a síntese de clorofila há necessidade de luz; como, para essa olerícola,
não se deseja estrutura esverdeada devido às clorofilas, evita-se a incidência de luz cobrindo
as hastes.
87
Exemplo interessante de manejo da intensidade luminosa tem sido o uso de diferentes
tipos de malhas para reduzir a irradiância no cultivo de folhosas, como o da alface, em locais
com elevada irradiância no verão tornando as folhas mais tenras (Figura 5.9).
Figura 5.9. Cultivares de alface cultivadas sob tipos de telas redutoras de intensidade luminosa. Da esquerda
para a direita: acima, controle a céu aberto e sob malha ChomatiNet 30%; abaixo, malhas Aluminet 40% e
Aluminet 30%. Fotos: Mario Puiatti.
3. ÁGUA
3.1. Ciclo hidrolítico
Água é essencial para os processos vitais. Na Terra, está sob três fases: líquida, gasosa ou
sólida. A conversão de uma fase para a outra (ciclo hidrolítico) é dependente da temperatura,
que, por sua vez, é sustentada pela energia solar.
A evaporação, a partir de reservatórios de água e do solo, e a transpiração, a partir da
superfície das plantas, irão constituir a fase de vapor. Quando transformada em líquido ou
sólido, cai na superfície da terra como chuva, neve ou granizo. Quando ocorre condensação
sobre a superfície das folhas forma o orvalho.
88
3.2. Umidade do ar
Uma das formas de se medir a umidade presente na atmosfera (atm) é pela umidade
relativa (UR), que é um importante fator para o crescimento e desenvolvimento das plantas,
por causa da forte influência que exerce sobre a transpiração. A baixa UR tende a aumentar
a transpiração, enquanto a alta UR tem efeito oposto. Alta UR, embora leve à economia de
água, pode exercer efeito negativo no cultivo de muitas hortaliças, por favorecer o aumento
na incidência de doenças provocadas por fitopatógenos (bactérias e fungos), (Figura 5.10).
Figura 5.10. Condensação do vapor d’água durante a noite formando o orvalho em folhas favorece o
crescimento dos fungos Phytophthora infestans (parte de cima) e Leandria momordicae (parte de baixo),
causadores, respectivamente, da mela ou requeima em tomateiro e da mancha zonada em pepineiro. Fotos:
Mario Puiatti
Outro aspecto relacionado à UR é o orvalho que pode resultar da perda de calor, a partir
da superfície das folhas, por radiação, durante a noite. O ponto de orvalho é a temperatura na
qual o vapor de água está no ponto de saturação. Se a temperatura no ponto de orvalho estiver
acima de 0°C, o vapor d’água condensado é líquido, formando o orvalho, que pode favorecer o
crescimento de fitopatógenos (Figura 5.10). Entretanto, se a temperatura da superfície estiver
abaixo de 0°C, geada ou gelo é formado por sublimação do vapor, causando grandes danos à
maioria das hortaliças, especialmente nas hortaliças de época ou estação quente.
Figura 5.11. Cacho (penca) de tomate com frutos apresentando o distúrbio fisiológico “podridão apical”
ou “fundo preto” causado pela deficiência de cálcio. À esquerda, frutos inteiros com sintomas externos e, à
direita, os respectivos frutos cortados longitudinalmente, mostrando os danos nos tecidos internos nos frutos
afetados. Fotos: Mario Puiatti
Além de atuar no transporte de água e minerais, a transpiração exerce a função de
resfriamento das folhas, que é especialmente importante em clima onde as temperaturas do
ar são muito altas (vide injúria por alta temperatura).
Ao somatório da perda de água da superfície do solo (evaporação) com a
perda de água da superfície cuticular das folhas das plantas (transpiração),
denomina-se de evapotranspiração. A evapotranspiração é expressa
como a taxa de perda d’água a partir de uma área e, essa medição, é útil
na estimativa de requerimento de água para o crescimento das plantas
(quanto irrigar). Temperatura, UR, vento, área foliar, estádio da planta, tipo e
superfície do solo, são fatores que influenciam a evapotranspiração.
Figura 5.12. À esquerda, estrutura tuberosa de beterraba com anéis de coloração esbranquiçada, devido
à deficiência na síntese de pigmentos (betacianina), em função de temperaturas altas e/ou estresse hídrico
por deficiência durante o cultivo. Centro e à direita, rachadura em frutos de melancia e de tomate durante
o desenvolvimento promovido pelo excesso de suprimento de água após passar por período de estresse
hídrico por deficiência. Fotos: Mario Puiatti
ÉPOCA E/
HORTALIÇA HÁBITO CULTIVAR OU LOCAL DE FENOLOGIA RAZÃO
CULTIVO
Figura 6.1. Instrumentos que podem ser utilizados para a coleta de amostras de solo para análises
laboratoriais. Da esquerda para a direita: enxada, enxadão, pá reta, trado tipo caneca, facão, trado holandês,
trado tipo sonda, marreta, balde para coleta e homogeneização das amostras simples e sacos plásticos
(dentro do balde) para acondicionar as amostras compostas. Foto: Mario Puiatti
Os laboratórios têm uma ficha que deverá ser preenchida informando detalhes da
área, cultivos anteriores e cultivo a ser realizado. Essas informações ajudam os técnicos a
entenderem os resultados da análise e servem de base para sugestão de possíveis adubações
a serem realizadas.
98
1.8. Frequência da amostragem
A frequência de amostragem do solo dependerá da intensidade de utilização (cultivos)
desse solo. O ideal seria realizar a amostragem e análise antes de todo cultivo. Todavia, por
razões práticas e de custo, no cultivo de hortaliças se recomenda fazê-la pelo menos uma vez
ao ano.
1617 Gleba da grota 6,5 171,5 210 8 8,1 1,0 0,0 3,30
99
SB CTC(t) CTC(T) V m ISNa MO P-rem Zn Fe Mn Cu B S
cmolc/dm3 % dag/kg mg/L mg/dm3
9,67 9,67 12,97 75 0 0,36 3,7 37,8 18,7 56,0 54,2 2,0 0,3
pH em água, KCl e CaCl - Relação 1:2,5 CTC (t) - Capacidade de Troca Catiônica Efetiva
CTC (T) - Capacidade de Troca Catiônica a pH
P - Na - K - Fe - Zn -Mn - Cu – Extrator Mehlich 1
7,0
Ca -Mg -Al - Extrator: KCl - 1mol/L V= Índice de Saturação por Bases
H + Al – Extrator Acetato de Cálcio 0,5mol/L - pH
m= Índice de Saturação de Alumínio
7,0
B - Extrator água quente ISNa - Índice de Saturação de Sódio
S - Extrator - Fosfato monocálcico em ácido Mat. Org. (MO) Oxidação: Na2Cr2O7 4N + H2SO4
acético 10N
SB = Soma de Bases Trocáveis P-rem= Fósforo Remanescente
RESULTADOS DA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA E CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL DE
AMOSTRAS DE SOLOS
Referência do Areia Areia Classificação Tipo de
Argila Silte
Cliente Grossa Fina Textural Solo*
................................%................................
Franco
Gleba da grota 36 23 32 9 2
Argilosa
Método da pipeta; *Tipo 1 = Arenoso; Tipo 2 = Textura média; Tipo 3 = Argiloso.
------------------------------------------------
Ciclano de Tal
Engenheiro Agrônomo
NC = T (Ve – Va)/100
sendo:
T = CTC a pH 7,0 (dada pela análise de solo);
Va = Saturação por bases atual do solo (também fornecida pela análise);
Ve = Saturação por bases desejada para a cultura a ser explorada (com base em tabela,
que, para o meloeiro, é de 80%).
Portanto, substituindo os valores, temos:
NC = 12,97 (80 - 75)/100
NC = 0,6485 t/ha de calcário com PRNT de 100%
Figura 6.2. Modelo de implemento utilizado na aplicação de calcário (calagem). Foto: Mario Puiatti
Cerca de 10 dias antes do plantio, fazer a aração e nova gradagem. Segue-se a abertura de
sulcos ou covas ou levantamento de canteiro, conforme a espécie a ser cultivada, e a adubação
de plantio ou de fundação.
Figura 6.3. Adubação de plantio ou de fundação: à esquerda distribuição de adubo mineral e à direita de
adubo orgânico (esterco de bovino) no sulco de plantio. Fotos: Mario Puiatti
Figura 6.4 Fertirrigação com fitas gotejadoras em casa de vegetação, em meloeiro cultivado em solo
(esquerda) e em morangueiro (direita) cultivado em sacos contendo substrato (bags). Fotos: Mario Puiatti
Nesse capítulo serão abordados aspectos dos dois métodos de propagação das hortaliças,
a propagação seminífera ou por sementes, também denominada de sexuada, e a propagação
vegetativa ou assexuada.
Figura 7.2. Da esquerda para a direita: sementes de solanáceas (tomate e pimentão); sementes de brássicas
(couve-flor e repolho) e de aliácea (cebola). Todas as sementes estão com a cor natural, exceto as sementes
de repolho (azul) que estão com a coloração alterada devido a tratamento químico. Fotos: Mario Puiatti
Figura 7.3. Da esquerda para a direita, “sementes” de cenoura (esquizocarpo), alface (aquênio) e de
beterraba (glomérulo). Exceto sementes de alface, as demais estão com coloração alterada por tratamento
com produtos químicos. Foto: Mario Puiatti
Figura 7.4. A cebola (Allium cepa) é propagada por sementes, mas também pode ser propagada pelos
bulbos pequenos (bulbinhos) obtidos especialmente para plantio fora da época convencional, no sistema
denominado de “cultura de bulbinho”. Foto: Mario Puiatti
• Bulbo tunicado: ocorre em cebola. Apresenta escamas externas secas e membranosas
que protegem as escamas internas carnosas de lesões e dessecação. As escamas
carnosas são contíguas e concêntricas, de maneira a dar certa solidez à estrutura. A
gema apical poderá apresentar dormência em grau variado com a cultivar (Figura 7.4).
• Bulbo composto: alho apresenta bulbo composto por bulbilhos. Os bulbilhos são
originados de gemas axilares de folhas e surgem após determinado crescimento da
planta. Essas gemas têm um meristema e um conjunto de folhas modificadas sobre
um caule achatado (disco ou prato). Após maturação, há formação de uma camada de
abscisão entre o caule da planta mãe e o caule na base de cada bulbilho. Em alho, o
bulbilho é o material propagativo uma vez que o alho não produz semente botânica.
Os bulbilhos apresentam dormência, cujo grau varia com o clone de alho, e pode
demorar de dois a cinco meses para brotar (Figura 7.5).
• Tubérculo: tipo especial de estrutura de caule modificado, intumescido, que funciona
como órgão de armazenamento subterrâneo. Um tubérculo tem todas as partes
de um caule típico, porém é mais “inchado”. Dentre as hortaliças, tem-se a batata
(Solanum tuberosum) e os inhames (Dioscorea spp. - “carás”) como exemplos de
tubérculos. Esses também apresentam dormência, que, tal qual os bulbos, deve ter
dado início à superação para poder ser plantado. Em razão da estrutura morfológica,
alguns botânicos estão denominando a estrutura de reserva de inhame de “rizóforo”
ou “porção espessada do rizóforo” (Figura 7.5).
113
Figura 7.5. Propagação vegetativa. Da esquerda para a direita, bulbo de alho com bulbilhos, tubérculos de
batata e de inhame (Dioscorea spp.) utilizados na propagação dessas culturas. Fotos: Mario Puiatti
• Rizoma: estrutura de caule especializado nos quais o eixo principal da planta cresce,
normalmente, na horizontal, abaixo da superfície do solo. Apresenta nós e entrenós;
em cada nó se insere uma bainha foliar envolvendo o caule e formando a folhagem
da planta ao expandir-se; ao desintegrarem-se, essas folhas, deixam uma cicatriz no
ponto de inserção identificando o nó, dando aparência de segmentada. Ao redor dos
nós se desenvolvem raízes adventícias e pontos de crescimento lateral (gemas).
Embora se considere que rizomas não têm dormência verdadeira, essas estruturas
apresentam repouso muito forte que pode ser confundido com dormência. Açafrão
(Curcuma domestica ou C. longa), gengibre (Zingiber officinale) e araruta (Maranta
arundinacea) são exemplos de hortaliças que têm rizomas, os quais, além de usados na
alimentação e/ou como condimento, são utilizados na propagação comercial dessas
culturas (Figura 7.6).
Nas cebolinhas de folha japonesa (Allium fistulosum) e chinesa - nirá - (Allium tuberosum),
os rizomas ocupam o lugar dos bulbos como estrutura de armazenamento, os quais
são separados da touceira na obtenção das “mudas”.
Figura 7.6 Propagação vegetativa. Da esquerda para a direita: acima, cormelos de taro e de taioba; abaixo,
rizomas de açafrão, araruta e gengibre utilizados na propagação dessas culturas.
Foto: Mario Puiatti
Figura 7.7. Propagação vegetativa. Da esquerda para a direita: brotações basais (“mudas”) de alcachofra,
brotações axilares de couve e rizóforos de yacon utilizados na propagação dessas culturas. Fotos: Mario
Puiatti
115
O morangueiro (Fragaria x ananassa), planta perene cultivada como anual,
na fase de crescimento vegetativo (sob dias longos e temperaturas elevadas)
apresenta estolão ou estolho, que são utilizados na propagação. Os estolhos
são caules oriundos de brotações laterais, longos, apoiados sobre o solo e
que, de espaço em espaço, formam gemas com raízes e folhas, assegurando
a propagação vegetativa (mudas), (Figura 7.8).
Figura 7.8. À esquerda, segmentos de ramas de batata-doce colocados para pré-enraizamento; à direita,
estolho de morangueiro utilizados na propagação dessas culturas. Fotos: Mario Puiatti
Figura 7.9. “Touceira” de uma planta de mandioquinha-salsa (batata baroa ou baroa) constituída de
coroa (parte central) e de rebentos ao seu redor; a esquerda, detalhe de rebento (propágulo) utilizado na
propagação da cultura. Foto: Mario Puiatti
Sementes: se semeia não se planta. Quando semeamos (as sementes, logicamente) em local
que não o de cultivo definitivo, as mudas (plantas ainda pequenas) originadas das sementes
são transferidas para o local temporário (transplantação indireta) ou para local de cultivo
definitivo (transplantação direta); a essa operação de mudança do local onde a muda originada
da semente estava para outro local, denomina-se de transplante das mudas. Entenda-se por
local de cultivo definitivo aquele no qual a hortaliça completará o seu ciclo cultural.
Esse sistema tem sido ampliado trazendo inúmeras vantagens, como economia de hora/
máquina, preservação do solo, manutenção da matéria orgânica, economia de água, etc.
Exemplo de sucesso com implantação de cultivos olerícolas pelo método de “plantio direto”
tem sido obtido com as culturas da cebola, beterraba e repolho em São José do Rio Pardo-SP
(Figura 8.2).
120
Figura 8.1. Implantação de cultivo de cebola no oeste paulista pelo sistema de semeadura direta. À
esquerda, preparo do solo com rotocanteirador após o solo ter sido arado e gradeado; a direita máquina
(semeadora de precisão) fazendo a semeadura. Fotos: Gentileza do eng. agr. José Maria Breda Júnior
Figura 8.2. Implantação de cultivo de hortaliça pelo sistema de “plantio direto” em São José do Rio Pardo, SP.
À esquerda, máquina adaptada para “plantio” (semeadura) direto de cebola na palhada de milho. À direita,
detalhe de plântulas de cebola e de restos de palhada em campo implantado por esse método. Fotos:
Gentileza do eng. agr. José Maria Breda Júnior
121
O sistema de implantação por semeadura direta e/ou por plantio direto é obrigatório para
hortaliças que são prejudicadas pelo transplante das mudas, que pode ser por:
a) dano na estrutura de interesse comercial, como é o caso da cenoura;
b) dificuldade de pegamento das mudas, como são os casos do feijão-vagem, ervilha,
milho verde, milho doce, etc.
Figura 8.3. Deformações em raiz tuberosa de cenoura cultivada em solo argiloso. Foto: Mario Puiatti
Pegamento: Termo utilizado para designar que a muda transplantada se adaptou ao local em
que foi transplantada e que continuará a crescer e a se desenvolver normalmente até a planta
completar o seu ciclo cultural ou de vida.
Proporção 2:2:1 (v:v:v): corresponde às partes, em volume, de cada material utilizado para
fazer a mistura que dará origem ao substrato
Figura 8.4. Sementeira para produção de mudas de hortaliças: à esquerda, vazia; no centro, preenchida com
a mistura de solo, terriço e esterco de gado bovino curtido, e à direita marcador de madeira para marcação
dos sulcos onde serão depositadas as sementes de hortaliças. Fotos: Mario Puiatti
O manejo da irrigação deve ser cuidadoso, frequente, mas com baixo volume, até
próximo o transplante das mudas para o local de cultivo, quando se procede à aclimatação ou
endurecimento das mudas, como abordado no capítulo 5.
Figura 8.5. Implantação de cultivo pelo sistema de semeadura com transplantação direta. À esquerda,
canteiro recém-semeado coberto com sapê; à direita, canteiro com mudas de cebola com 20 dias após
semeadura. Fotos: Mario Puiatti
124
Nesse sistema de implantação do cultivo, as mudas contendo, em média, quatro folhas
definitivas, são transplantadas para o local de cultivo definitivo com raiz nua. O fato de a raiz
estar nua promove grande estresse pós-transplante, exigindo mais cuidados com manejo da
irrigação. Além disso, por razões de competição por luz, durante a formação das mudas na
sementeira, devido ao espaço físico limitado, as mudas ficam estioladas (caule fino e alongado).
Isso as torna mais frágeis às condições adversas pós-transplante.
Raiz nua: as raízes das mudas não têm nenhuma proteção (torrão) ao serem retiradas da
sementeira para serem transplantadas para o campo de cultivo.
Esse método de instalação dos cultivos pode ser utilizado para as brássicas (repolho,
brócolis, couve-flor), solanáceas (tomate, pimentão, berinjela, jiló), além daquelas hortaliças,
cuja implantação dos cultivos por semeadura direta é opcional (beterraba, tomate indústria,
cebola, alface e couve-chinesa).
Esse método não deve ser utilizado para cucurbitáceas (abóboras, morangas, melão,
melancia e pepino), porque essas espécies têm o sistema radicular muito sensível às injúrias
provocadas pelo transplante. Para essas espécies, preferencialmente, faz-se instalação por
semeadura direta ou transplante de mudas produzidas em recipientes.
Como as plântulas são muito tenras (com pouca matéria seca), deve-se proceder irrigação
imediatamente, de forma a reduzir o espaço vazio entre raiz e solo. Também deve-se fazer essa
operação em dias nublados e/ou no final da tarde e proceder a cobertura das plântulas com
malha ou ramos de alecrim do campo para atenuar a radiação incidente sobre elas (Figura 8.6).
O alecrim tem uma vantagem: com o passar dos dias, as folhas vão secando e soltando dos
ramos, expondo as plântulas gradativamente à irradiância de forma natural (“aclimatação”).
Figura 8.6. Acima, à esquerda, tábua de repicagem com o “chucho”. À direita, plântulas de repolho no viveiro
recém-repicadas, cobertas com malha sombrite. Abaixo: à esquerda, plântulas de repolho e de tomate
recém-repicadas, protegidas com ramos de alecrim do campo; à direita, mudas de pimentão com duas folhas
definitivas, após 15 dias de repicadas. Fotos: Mario Puiatti
126
Pode-se utilizar esse método para hortaliças dicotiledôneas (veja capítulo 4), que têm
o sistema radicular estimulado pela repicagem. Dentre elas, tomate, repolho, couve-flor e
brócolis são as mais beneficiadas por apresentarem grande emissão de raízes adventícias ao
serem repicadas à profundidade maior do que encontravam no leito de sementeira.
Raízes adventícias: são todas as raízes que não se originam da radícula do embrião ou da
raiz principal por ela formada.
a) Método do copinho de papel jornal: Nesse método, cortam-se tiras de papel jornal
com largura de 15 cm e comprimento de 40 cm. Com auxílio de um molde com diâmetro
de 5-8 cm (garrafa de vidro, pedaço de madeira roliço ou, preferencialmente, tubo de
PVC de 50 mm), enrola-se a tira de papel jornal ao longo desse molde, deixando-se cerca
de 5-6 cm para ser dobrado formando o fundo do copinho (Figura 8.7).
Figura 8.7. Acima, sequência de feitura do copinho de papel jornal. Abaixo, à esquerda, copinhos de papel
jornal após preenchidos com substrato, colocadas as sementes e cobertos com sapê; à direita, mudas de
tomate nos copinhos com duas folhas definitivas, 10 dias após a semeadura. Fotos: Mario Puiatti
Como substrato para preenchimento dos copinhos, pode-se utilizar a mesma mistura que
128
é feita para o enchimento do leito do viveiro ou acrescentar solo mais argiloso, para evitar que
o torrão do copinho se esboroe (desmanche) na operação de transplante.
Esse método pode ser utilizado para todas as hortaliças que permitem o transplante de
mudas por proporcionar mudas vigorosas (tanto parte aérea quanto as raízes) e pegamento
facilitado, devido ao torrão que protege o sistema radicular do estresse do transplante. Todavia,
em razão dos custos referentes aos gastos com mão de obra para feitura e enchimento dos
copinhos, esse método tem sido utilizado por agricultores familiares e somente para solanáceas
(tomate, pimentão e jiló; especialmente para tomate de mesa) e cucurbitáceas (abóboras,
melancia e melão). Para solanáceas utiliza-se copinho com 8 x 6 cm (altura x diâmetro); para as
cucurbitáceas, em razão do crescimento mais exuberante e da fragilidade do sistema radicular,
são copinhos de 10 x 8 cm (altura x diâmetro).
Figura 8.8. À esquerda e ao centro, produção de mudas de tomate de mesa pelo método barrela. À direita,
mudas de tomate de mesa no estádio para transplante para o campo de cultivo (com 4 folhas definitivas)
produzidas, respectivamente, pelos métodos barrela e do copinho de papel jornal. Fotos: Mario Puiatti
Figura 8.9. Bandeja de isopor de 128 células (esquerda) e detalhe do formato piramidal invertido das células
(direita). Fotos: Mario Puiatti
Figura 8.10. Formação de mudas de hortaliças em bandejas de isopor. Acima plântulas de couve-flor
(esquerda) e de beterraba (direita); abaixo plântulas de meloeiro com uma folha completa (esquerda) e
detalhe (direita) do sistema radicular formando uma “rede”, abarcando o substrato em forma pirâmide
invertida. Fotos: Mario Puiatti
Figura 8.11. Formação de mudas de tomate industrial em bandejas plásticas de 450 células em Goiás. Fotos:
Gentileza do eng. agr. Lucimar Andrade de Lima
Figura 8.12. Formação de mudas em cubos de matérias porosos. À esquerda, mudas de tomate de mesa
produzidas em espuma fenólica; à direita, transplantadas para cubos de lã de rocha destinadas ao cultivo em
casa de vegetação. Fotos: Gentileza do eng. agr. Weber Vladmir Murtha
Quando possível, esse plantio pode ser realizado com máquinas, como é o caso da batata,
ou todo manual, como o alho (Figura 8.13).
Figura 8.13. Implantação de cultivos de olerícolas propagadas de forma vegetativa. À esquerda, cultura da
batata realizada de forma mecânica; à direita, a de alho realizada manualmente. Fotos: da esquerda, Mario
Puiatti; da direita, gentileza do eng. agr. Marco Antônio Lucini.
Vários fatores vão interferir na escolha do sistema de implantação dos cultivos, além do
método de formação das mudas. Dentre eles, estão:
-Inerentes à espécie: Se ela permite ou não o transplante de muda;
-Inerentes ao solo: Se o solo permite a emergência das plântulas com facilidade ou não;
-Inerentes à disponibilidade e manejo da água de irrigação: A semeadura/plantio
direto é uma sementeira em grande escala; como tal, deve ter irrigação diária e em pequeno
volume. É possível e viável fazê-lo?
-Inerentes às espécies e densidade de plantas daninhas infestantes: O banco de
sementes de plantas daninhas no solo é grande? As espécies de plantas daninhas são de fácil
controle ou não? A olerícola é de crescimento rápido competindo com as plantas daninhas ou
não?
-Inerentes à disponibilidade e qualificação da mão de obra: Mão de obra tem sido fator
estrangulador da atividade; qual método demandará mais mão de obra?
-Inerentes ao maquinário disponível e à eficiência operacional: Existe maquinário
(implementos) disponíveis ou não? É mais compensatório econômica e tecnicamente utilizar
maquinário ou não?;
-Inerentes à produção ou disponibilidade de mudas (viveirista): a atividade de produção
de mudas de hortaliças tem propiciado mudas de excelente qualidade e custo compensatório.
Verificar se é mais vantajosa a aquisição de mudas do que fazer uso da semeadura direta:
-Inerente ao custo da semente: Sementes caras devem ser utilizadas com racionalidade;
via de regra as mudas são produzidas em bandejas e a implantação por transplante de muda;
-Inerentes à disponibilidade de área de cultivo: quando a área de cultivo é restrita, a
instalação por transplantação de mudas torna-se opção mais viável.
Tratos
9
culturais
utilizados na
olericultura
136
1. INTRODUÇÃO
Denominam-se tratos culturais todas as atividades que são realizadas durante o cultivo das
hortaliças, ou seja, o manejo cultural. São vários, os tratos culturais realizados; a quantidade
e o tipo de trato cultural varia com a espécie de hortaliça, tipo de propagação, sistema de
implantação e de condução e nível de tecnologia empregado nos cultivos.
A seguir são apresentados os principais tratos culturais.
1.1. Semeadura
Consiste no ato de se semear, ou seja, de se depositar a semente no solo ou substrato
apropriado para dar início ao processo de germinação, originando a plântula e, posteriormente,
a muda que resultará na futura planta. Portanto, a semeadura somente é empregada para
espécies de propagação seminífera (veja capítulos 7 e 8). A semeadura não deve ser muito
profunda. Existe uma regra geral de que a profundidade deve ser, no máximo, o dobro do
maior diâmetro da semente.
A semeadura pode ser realizada diretamente no local de cultivo (semeadura direta e
plantio direto) ou em sementeira, semeada em sementeira e repicada para viveiro ou semeada
em bandejas, barrela ou espuma fenólica e, depois, transplantando-se a muda para o local de
cultivo definitivo.
Figura 9.1. Acima, à esquerda, cultivo de cenoura no campo evidenciando excesso de plantas (fileira
superior) e falhas (fileira de baixo), devido à falta de precisão na semeadura ou por impedimento físico de
solo à emergência das plântulas (superior a direita). Abaixo, à esquerda, desbaste manual no campo do
excesso de plantas de cenoura; à direita, plântulas de pimentão na bandeja com seta indicativa do desbaste
realizado via corte com tesoura do excesso de plântulas. Fotos: Mario Puiatti
138
Portanto, a operação de desbaste de plantas está relacionada com a falta de
precisão da semeadura, que pode ser provocada por falta de equipamento
apropriado para a semeadura ou, mesmo, por receio do produtor em ocorrer
falhas (ausência de plantas) no local semeado. Essas falhas podem ser
devidas à não germinação das sementes, decorrente da baixa germinação,
ou por problemas físicos de solo, que poderão impedir a emergência das
plântulas (Figura 9.1). Assim, o custo de produção e aumentado pelo gasto
esnecessário de sementes e de mão de obra com o posterior desbaste
(retirada) do excesso de plântulas
1.5. Pré-enraizamento:
No caso de espécies propagadas de forma vegetativa, em que se utiliza porções de caule,
é comum se promover o pré-enraizamento dessas estruturas antes de serem plantadas no
local de cultivo definitivo. Essa prática tem como objetivo principal o melhor pegamento e
continuidade de crescimento e desenvolvimento das mudas transplantadas. Além disso,
permite economizar mão de obra e água com a prática da irrigação e controle de plantas
invasoras na área de cultivo, além do fato da área de cultivo poder estar sendo cultivada
enquanto as mudas estiverem sendo enraizadas.
O pré-enraizamento de hastes é muito utilizado na obtenção de mudas de couve de
folha ou couve comum. Nesse caso, como forma de ampliar o sistema radicular, as hastes
são dispostas no sulco e recoberta a maior porção possível delas, de onde sairão as raízes
adventícias (Figura 9.2).
139
Figura 9.2. Mudas (hastes) de variedades de couve comum disposta no viveiro para pré enraizamento. Foto:
Mario Puiatti
1.6. Escarificação:
A ação física das partículas d’água das irrigações e/ou chuvas promove a desagregação
das partículas de solo, formando uma “crosta” impermeável aos gases e à água na camada
superficial do solo, dificultado a emergência das plântulas. A operação de quebra dessa crosta
denomina-se de escarificação do solo. Ela é importante por permitir a troca dos gases presentes
dentro do solo, perto das raízes, com os gases da atmosfera. Além disso, é importante por
permitir a infiltração da água no solo (Figura 9.3).
Figura 9.3. À esquerda, crosta formada na superfície do solo devido à ação da água de irrigação, com
detalhe da plântula de cenoura emergindo na rachadura; centro: solo sendo escarificado com detalhe do
escarificador (à direita). Fotos: Mario Puiatti
1.7. Enxertia:
É uma técnica que tem sido utilizada em hortaliças das famílias solanácea (tomate,
principalmente) e cucurbitáceas (pepino, principalmente). Seu objetivo é associar alguma
característica importante do sistema radicular da planta, que servirá de cavalo (porta-enxerto)
com características desejáveis do cavaleiro (enxerto), (Figura 9.4).
140
Figura 9.4. Enxertia em mudas de tomate de mesa utilizando como cavaleiro Solalanum lycopersicum (cv.
produtiva) e como cavalo variedade com sistema radicular resistente a nematoides. Sequência, da esquerda
para a direita: corte da parte aérea do cavalo; corte e tranferência da parte aérea do cavaleiro sobre o
cavalo; fixação da parte aérea do cavaleiro sobre o cavalo com clips de enxertia e muda enxertada em pleno
crescimento. Fotos: Gentileza da eng. agrônoma Flávia Maria Alves
SAIBA MAIS: Para ter mais detalhes sobre enxertia em mudas de hortaliças, consulte:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782003000600028
Figura 9.5. Transplante de mudas de hortaliças. À esquerda e centro, transplante mecanizado de mudas de
tomate, com detalhe da alimentação do sistema, após liberação da muda no solo e de como a muda ficou
transplanta. À direita, transplante manual de mudas de cebola (acima) e de mudas de pepino (abaixo) ao lado
da fita gotejadora. Fotos: transplante mudas de cebola em São José do Rio Pardo, gentileza do Eng. Agr. José
Maria Breda; demais, Mario Puiatti
1.9. Tutoramento:
As hortaliças, por definição, são plantas herbáceas. Além disso, são suscetíveis à
fitopatógenos, principalmente a parte aérea. Isso implica em cultivá-las sem o contato direto
da parte aérea com o solo, que é onde se encontram muitos microrganismos fitopatogênicos.
Para isso utilizam-se suportes (tutores), que podem ser bambu ou fios de nylon (fitilho),
colocados na vertical ou horizontal, para conduzi-las com a parte aérea sem contato com o
solo. Essa técnica é chamada de tutoramento (Figura 9.6).
142
Figura 9.6. Tipos de tutoramento: da esquerda para a direita, acima, tutoramento tipo cerca cruzada ou “V”
invertido com bambu em tomate de mesa e em ervilha, e tutoramento na vertical com bambu amarrado
a arame em tomate de mesa. Centro: tutoramento com fitilho na vertical em tomate e melão e com estaca
baixa de bambu na vertical em pimentão. Abaixo, tutoramento de tomate com estacas de bambu na vertical
e fincadas no solo e com fitilhos na horizontal em pimentão. Fotos: Mario Puiatti
143
São exemplos de olerícolas em que se usa tutoramento: tomate de mesa, pepino e melão
em ambiente protegido, pimentão, inhame (cará), ervilha de vagem e feijão-vagem de hábito
de crescimento indeterminado.
Portanto, o tutoramento tem como objetivo evitar o contato direto da parte aérea com
o solo, reduzindo a incidência de doenças e facilitando o controle de patógenos e de insetos
pragas, prolongando a vida útil da planta (ciclo cultural) e proporcionando frutos com melhor
aspecto e qualidade.
Figura 9.7. À esquerda, planta de tomate de mesa tutorada com bambu indicando o amarrio da planta
ao tutor (seta acima do laço com fita branca de nylon em formato de oito deitado) e cicatriz na axila foliar
(seta de baixo) devida à desbrota (retirada de brotação lateral). À direita, poda apical ou capação (seta) em
tomateiro de mesa. Fotos: Mario Puiatti
1.12. Amontoa:
Consiste em se chegar do solo à base das plantas. É uma prática imprescindível no cultivo
da batateira como forma de proteger os tubérculos da incidência da luz, o que pode levar à
síntese de clorofila (esverdeamento) e de um alcaloide tóxico aos humanos, que é a solanina
(Figura 9.8). Além de proteger os tubérculos da luz, a amontoa favorece o crescimento dos
tubérculos por proporcionar condições físicas de solo mais favoráveis. Tem ainda a função de
incorporar os adubos aplicados em cobertura do solo (adubos nitrogenados e potássicos).
Figura 9.8. Detalhes do implemento “frezadora”, tracionado por trator, em operação realizando a amontoa
em batateira e de tubérculo de batata com esverdeamento devido exposição à luz a solar. Fotos: Mario
Puiatti
Esverdeamento: tubérculo é caule modificado e, assim como todo caule, se exposto à luz,
pode sintetizar clorofila. O problema maior em tubérculos de batata não seria a clorofila
em si, que promove o esverdeamento, mas sim a síntese do alcaloide solanina que ocorre
concomitantemente com a síntese de clorofila.
Figura 9.9. De cima para baixo, da esquerda para a direita: flores unissexuais masculina e feminina em melancia
e flor de pepino sendo visitada por abelha melífera; cacho de tomate contendo flores hermafroditas; flores
unissexuais masculinas de abóbora menina brasileira (polinizadora) e de abóbora híbrida (note ausência
de pólen nessa). Flor feminina de abóbora híbrida tipo tetsukabuto na antese (abertura floral) apta para ser
polinizada ou receber a aplicação de fitohormônio sintético e fruto em desenvolvimento após 25 dias da
aplicação do fitohormônio sintético no estigma da flor a esquerda. Ovário de abóbora híbrida que irá abortar
devido à ausência de polinização (verde pálido a esquerda) e ovário que vingará resultando em fruto (verde vivo
a direita). Fotos: Mario Puiatti
148
1.14. Penteamento:
Hortaliças que têm caule rastejante, como as cucurbitáceas, quando cultivadas sem
tutoramento (rasteira) podem crescer desordenadamente, dificultando tratos culturais
que envolvam o caminhamento dentro da cultura, como nas pulverizações. A operação de
movimentação das ramas dessas plantas, promovendo o direcionamento de crescimento
e liberando áreas de trânsito na cultura ou liberando sulcos de irrigação, denomina-se
penteamento (Figura 9.10).
Figura 9.10. Plantas com caule rastejante, como abóboras (esquerda), as vezes, necessitam do
direcionamento de suas ramas (penteamento) para facilitar os tratos culturais. Foto: Mario Puiatti
Figura 9.11. Frutos de melão amarelo cultivados no nordeste do Brasil no sistema rasteiro. O fruto da
esquerda (com a seta) não recebeu giro adequado durante o cultivo, ficando com a “barriga branca” ou
“mancha de encosto”. Foto: Mario Puiatti
1.16. Mulching:
Consiste na cobertura de solo, que pode ser produto natural (palha de feijão, bagaço-de-
cana, palhas ou capim seco) ou com filme plástico agrícola. O uso de mulching com produto
natural tem sido uma prática cultural muita utilizada em cultivos com hortaliças, sobretudo no
sistema de agricultura familiar e/ou agricultura orgânica. Quanto ao mulching agrícola (filme
plástico), existem no mercado filmes de diferentes colorações, sendo os mais comuns, preto,
branco e prateado (Figura 9.12).
150
Figura 9.12. Acima, uso de “mulching” com produto natural (palha de feijão) para cobertura do solo na cova
de melancia (à esquerda) e de abóbora (à direita); centro, à esquerda mulching com filme preto em pimentão
e, à direita, em alface cultivada no inverno. Abaixo, à esquerda, mulching com filme preto em meloeiro
cultivado em Mossoró- RN. À direita, em pesquisa com filmes preto e transparente em meloeiro cultivado
tutorado a campo, em Viçosa-MG. Fotos: Mario Puiatti
O mulching tem como função manter a umidade do solo mais uniforme reduzindo a
perda de água para a atmosfera por evaporação e os gastos com irrigação. Além disso, evita o
contato da parte aérea diretamente com o solo, o que reduz doenças e exerce controle sobre a
emergência de muitas plantas daninhas, diminuindo gastos com mão de obra nas capinas ou
com produtos químicos (herbicidas) para o seu controle.
Figura 9.13. Acima, na sequência, escaldadura em frutos de moranga/abóbora híbrida tipo tetsukabuto
(cabotiá); abaixo, início de dano em fruto de melão ‘pele de sapo’, cobertura de frutos de melão com restos de
TNT (Tecido Não Tecido) e cobertura de frutos de melancia com papel como forma de evitar a escaldadura.
Fotos: Mario Puiatti
Figura 9.14. Acima, irrigação por microaspersão em alface (esquerda) e por pivô central nas culturas da
cebola do alho (direita) e de tomate indústria no Cerrado (ao lado). Fotos: Mario Puiatti
Não se recomenda a irrigação por aspersão para a cultura do tomate de mesa em função
do umedecimento das folhas favorecer a incidência de microrganismos fitopatogênicos. Esse
raciocínio pode ser aplicado também para as culturas da batata e do tomate indústria; todavia,
dada a grande extensão de cultivo com esses dois últimos, outros sistemas de irrigação são
pouco praticados, embora, para tomate indústria, em algumas localidades se utilize o sistema
de irrigação por sulcos ou mesmo a localizada (gotejamento).
g) Irrigação localizada: é realizada com o uso de mangueiras ou fitas plásticas contendo
153
gotejadores ou emissores espaçados, de acordo com a cultura (Figura 9.15). Esse sistema é o
mais indicado, principalmente para culturas nas quais se deve evitar o molhamento da parte
aérea, como é o caso do tomateiro de mesa e meloeiro, bem como para aquelas com maiores
espaçamentos entre linhas, como é o caso das cucurbitáceas.
É muito eficiente, pois não há perda de água por deriva causada pelo vento, e a perda
por evaporação é menor. A irrigação é localizada evitando o molhamento excessivo da área
e, consequentemente, contribuindo para minimizar os problemas de fitopatógenos e com
plantas daninhas.
Infelizmente, esse sistema é relativamente caro em razão da quantidade de tubulações
empregadas (mangueiras ou fitas gotejadoras) e da mão de obra nas operações de colocação
e de retirada dessas tubulações, respectivamente, no início e no final de cultivo.
Figura 9.15. Irrigação por gotejamento (fertirrigação) em meloeiro cultivado a campo (a esquerda) e em
morangueiro cultivado em sacos com substrato em ambiente protegido. Fotos: Mario Puiatti
Figura 9.16. Infestação por plantas daninhas nas culturas da couve-flor e brócolis (esquerda) e de cebola de
cabeça (centro e à direita). Fotos: Mario Puiatti
154
Assim, tem-se que controlar a ocorrência delas durante o cultivo das hortaliças. Isso pode
ser realizado mecanicamente, com o uso de enxada, ou quimicamente, com herbicidas. A
utilização de mulching é uma prática que, além de manter a umidade do solo mais uniforme,
pode auxiliar em muito no controle da incidência de plantas daninhas. No mercado, são
encontrados diversos tipos de mulching (Figura 9.17).
Figura 9.17. Avaliação da infestação por plantas daninhas no cultivo de cebolinha de folha. Na sequência,
de cima para baixo e da esquerda para a direita: plantas mantidas no limpo com capinas manuais; uso de
mulching vegetal (palha de milho); filme plástico branco; filme plástico preto; papel semicraft e sem controle
de plantas daninhas. Fotos: Mario Puiatti
Figura 9.18. Acima fitotoxicidade (intoxicação) em plantas de moranga híbrida japonesa e de quiabeiro
(direita) causada pela deriva do herbicida Glifosato (Roundup) durante a aplicação próximo às culturas.
Abaixo, à esquerda, fitotoxicidade em plântulas de cebola causada pela aplicação na cultura do herbicida
Oxadiazon (Ronstar), mesmo sendo seletivo para essa cultura. Fotos: Mario Puiatti
Figura 9.19. Controle fitossanitário em hortaliças. Acima, à esquerda, o uso de TNT na cultura do meloeiro em
Mossoró-RN para evitar o dano foliar (à direita) causado pelo minador de folhas (Liriomyza huidobrensis). Centro, à
esquerda, em exploração especializada no Alto Paranaíba, com pulverizador tratorizado aplicando fungicida em
cenoura; à direita, em exploração diversificada, aplicação de inseticida com aparelho costal manual em tomateiro
de mesa para controle da broca pequena do tomate (Neoleucinodes elegantalis – dano abaixo, à direita); à
esquerda, frutos de melão tipo Charanteau perfurado pela broca das cucurbitáceas (Diaphania hyalinata e
D. nitidalis). Abaixo, mosca das frutas (Anastrepha sp.) fazendo postura em frutos de abobrinha (esquerda) e
moranga híbrida tipo tetsukabuto (direita). Fotos: do TNT acima, gentileza da eng. agr. e profa. Maria Zuleide de
Negreiros; demais, Mario Puiatti
157
Cura: consiste num processo de perda natural do excesso de água presente nos tecidos das
plantas de alho e cebola (especialmente nos bulbos), quando elas são colhidas (retiradas do
solo).
Toalete: consiste em dois cortes - o corte da parte aérea cerca de 1 cm acima do bulbo e o
das raízes rente ao bulbo, denominadas pelos agricultores, respectivamente, de “cabelo” e
de “barba”.
Figura 9.20. Acima, à esquerda, cebola colhida na região do Alto Paranaíba-MG, disposta sobre o solo
no processo de “cura de campo ou ao sol”; à direita, trabalhador procedendo a prática da “toalete” no
próprio campo com tesoura (detalhe abaixo, à esquerda) para bulbos “toaletados”, que terão comercialização
imediata (caixa ao centro). Abaixo a direita, cebola em réstia (trança), prática “artesanal” muito utilizada no
passado e que hoje é prática inviável de ser realizada, devido ao elevado custo da mão de obra para sua
feitura. Fotos: Mario Puiatti
Colheita, 10
classificação,
embalagem,
conservação e
comercialização das Photo by Buenosia Carol from Pexels
hortaliças
160
Nos capítulos anteriores, foram abordados os temas relacionados ao cultivo das hortaliças
até chegar à colheita. Neste capítulo, serão abordados aspectos igualmente importantes, mas
que ocorrem após essa fase. São eles: a colheita, a classificação, embalagem, conservação pós-
colheita e comercialização das hortaliças.
O empreendedor olerícola tem que entender que não basta apenas produzir
com qualidade, respeitando o ambiente e o consumidor. Ele tem também
que saber como classificar seu produto, como acondicioná-lo na embalagem
apropriada e a forma de conservar ao máximo possível a qualidade das
hortaliças depois de colhidas, além de saber como comercializar.
1. PONTO DE COLHEITA
Há grande número de espécies olerícolas exploradas comercialmente no Brasil. Cada
espécie, variedade botânica e mesmo cultivar, dentro de uma mesma espécie, tem as suas
peculiaridades no tocante ao cultivo, o ponto em que deverá ser colhida e a forma como será
consumida (Figura 10.1).
Figura 10.1. Ponto de colheita de hortaliças. Em destaque dois frutos de abóbora da mesma espécie
(Cucurbita moschata), ambos no ponto de colheita, sendo que o fruto maior é de variedade destinada ao
uso de frutos maduros (‘Canhão’) e o menor, na base desse, é da abobrinha ‘Menina brasileira’, variedade
destinada ao consumo de frutos imaturos. Foto: Mario Puiatti
Portanto, a espécie de hortaliça, seu metabolismo pós-colheita e forma como será utilizada
no consumo irão definir o ponto de colheita da estrutura ou órgão vegetal.
161
1.1. Aspectos a serem observados para definir o ponto de colheita das olerícolas:
O produtor deve atentar para os seguintes aspectos no momento de definir se a hortaliça
está ou não no ponto de colheita:
• O produto deve ser colhido com tamanho, formato e/ou cor característico da espécie
e/ou variedade e adequado às exigências do consumidor;
• O ponto de colheita deve permitir que o produto colhido tenha os atributos de
qualidade (cor, sabor, aroma e textura) compatíveis com a exigência do consumidor;
• O produto deve ser colhido no estádio que permita manter os atributos de qualidade
especificados acima por maior período de tempo possível pós-colheita.
Na tabela 10.1 é apresentado, de forma resumida, o ponto de colheita mais comum para
as hortaliças.
Cebola Plantas maduras, com 2/3 das plantas estaladas (Figura 10.4).
Folhas na sua máxima expansão, com a cor verde viva, característica da variedade,
Cebolinha
sem sinais de senescência.
163
Ciclo em dias da semeadura e amostragem das raízes. Raízes com máximo
enchimento em todo o seu comprimento, com tamanho e formato característicos da
Cenoura
variedade ou cultivar, sem sinais de início de pendoamento (alongamento do caule)
e de lignificação excessiva da raiz tuberosa.
Folhas na sua máxima expansão, com folíolos tenros, com a cor verde viva,
Coentro característica da variedade, sem sinais de amarelecimento e de florescimento
(pendoamento).
Couve- Planta com máximo tamanho de cabeça, sem sintomas de alongamento do caule e
chinesa de amarelecimento de folhas.
Couve- Folhas na sua máxima expansão, todavia tenras, com a cor verde viva, característica
comum da variedade, sem sinais de amarelecimento.
Inflorescência imatura, no seu tamanho máximo, todavia com superfície uniforme,
Couve-flor compacta e sem sinais de alongamento das hastes florais, com coloração branca a
ligeiramente creme.
Ciclo do plantio; senescência da parte aérea; tubérculos no seu tamanho máximo
Inhame
característico da variedade.
Fruto imaturo, no seu tamanho máximo, todavia com coloração ainda
Jiló verde característica da variedade ou cultivar, sem murchamento ou sinais de
amarelecimento.
Dias da antese; frutos maduros, coloração externa verde brilhante; gavinha próxima
ao fruto seca; barriga passa de branca para creme ou alaranjada; som oco ao se bater
Melancia
com as costas dos dedos com fruto túrgido (pela manhã); teor de SS igual ou acima
de 10% (amostragem).
Folhas na sua máxima expansão, com folíolos tenros, com a cor verde viva,
Salsa característica da variedade, sem sinais de amarelecimento e de florescimento
(pendoamento).
Ciclo do plantio; senescência da parte aérea; cormelos no seu tamanho máximo
Taro
característico da variedade.
Frutos para mesa: Frutos com coloração externa variando de “cor de cana” a
completamente vermelha, dependendo do mercado consumidor.
Tomate
Frutos para indústria: Coloração do fruto externa e interna completamente
vermelha; solubilização da pectina (amolecidos) (Figura 10.4).
Fruto imaturo: Significa que o fruto ainda está em fase de crescimento e de desenvolvimento;
ou seja, se deixado na planta, ele ainda passará por várias transformações, aumentado peso
e sofrendo alterações na sua composição. Nesse período, ocorrem alterações na resistência
dos tecidos, no sabor no metabolismo de carboidratos culminando, na maioria dos frutos,
com alterações visuais na coloração externa e interna. Sementes de frutos imaturos ainda
não estariam fisiologicamente maduras, ou seja, não estariam viáveis para serem utilizadas
na propagação da espécie.
Estouro da cabeça: em repolho, na fase de fechamento da cabeça, as folhas vão se sobrepondo
umas sobre as outras. A força exercida de dentro para fora da cabeça pelas novas folhas
em formação é tão forte, que promove a cisão das folhas, surgindo uma rachadura. A esse
fenômeno denomina-se de “estouro da cabeça” (Figura 10.2)
Mancha de encosto: refere-se à coloração, inicialmente esbranquiçada (daí também
chamada de “barriga branca”), da porção dos frutos que ficam em contato com o solo. Essa
coloração esbranquiçada é devida à ausência de formação do pigmento clorofila, que não
é sintetizado na ausência de luz. Com a passagem do fruto para a fase final de maturação,
normalmente é expressa nessa porção, uma coloração amarelado-alaranjada devida aos
pigmentos carotenoides (Figura 10.3)
165
Figura 10.2. Ponto de colheita das brássicas couve-flor, brócolis de cabeça única e de repolho. As estruturas
da coluna da esquerda estão no ponto de colheita com superfície da inflorescência (couve-flor e brócolis) e
da cabeça (repolho) uniforme e compacta (repolho); da direita, estruturas passadas do ponto começando a
alongar as hastes florais (couve-flor e brócolis) e com estouro da cabeça em repolho. Fotos: Mario Puiatti
166
Figura 10.3. Acima, frutos de moranga híbrida tipo Tetsukabuto (kabotiá) e de melancia, ambos com mancha
de encosto alaranjada evidenciando estarem no ponto de colheita. Abaixo, à esquerda, alface no ponto de
colheita e, à direita, já passada do ponto. Fotos: Mario Puiatti
Figura 10.4. Ponto de colheita de hortaliças. À esquerda, campo de cebola de cabeça no oeste de São Paulo,
com as plantas estaladas (detalhe à direita), indicativo do ponto de colheita em cebola. Fotos: Gentileza do
eng. agr. José Maria Breda Júnior
167
Cor de cana: diz-se que os frutos de tomate estão cor de cana quando iniciam a mudança
de coloração de verde para amarelada, cor essa característica de colmos de cana-de-açúcar
quando maduros.
Planta estalada: para cebola, utiliza-se o termo “estalada” para indicar aquelas plantas em
que a parte aérea tombou sobre o solo (Figura 10.4). Não se utiliza o termo tombamento,
em de ser utilizado para designar a morte de plântulas, que ocorre em muitas hortaliças,
causada por fungos de solo (normalmente Pythium sp.) que, ao danificar a região do coleto
das plântulas, causa o tombamento das partes aéreas. O estalo se deve ao processo de
secamento natural (senescência) da porção do pseudocaule, que é formado pelas bainhas
foliares, com grande parte das folhas (limbo foliar) ainda verdes. Assim, o pseudocaule não
suporta o peso das folhas e a parte aérea da planta tomba sobre o solo.
2. COLHEITA
A colheita da maioria das hortaliças é realizada de forma manual, especialmente as
herbáceas (folhosas, hastes e inflorescência) e muitas hortaliças fruto. Além da fragilidade
dessas estruturas, muitas têm colheitas parceladas, como é o caso do tomate de mesa,
pepino, pimentão e morango, dentre outras, característica que, mesmo se tivesse máquinas
disponíveis, inviabilizaria a colheita mecânica. Essas colheitas parceladas e manuais são uma
das razões da elevação do custo de produção, conforme já discutido em capítulos anteriores.
Dentre as hortaliças fruto, o tomate explorado para a indústria de processamento é exceção,
o qual é, atualmente, colhido na sua totalidade com máquinas, o mesmo acontecendo com
batata destinada à indústria de processamento (Figura 10.5). No caso do tomate, a máquina
recolhe toda a parte aérea das plantas (hastes, folhas e frutos). Ela é levada até a parte interna
da máquina, onde os frutos, separados do restante, são levados e dispensados em caminhão,
que vai acompanhando a colheitadeira e o restante das plantas é dispensado sobre o solo.
No caso da batata para a indústria, o processo é semelhante, somente que a máquina arranca
também a parte subterrânea e os tubérculos são carreados por uma esteira, separando-os do
solo e da parte aérea os quais são dispensados em caminhão que acompanha a colheitadeira.
Para batata destinada ao mercado in natura e cebola, a colheita é semimecanizado, ou seja,
o implemento tracionado por trator passa a lâmina sob as plantas arrancando os tubérculos
e os bulbos, respectivamente, e deixando-os sobre o solo onde se procede a catação manual
posteriormente (Figura 10.5).
Cenoura e beterraba cultivadas em áreas extensas, como alto Paranaíba e Planalto Central,
também são colhidas com máquinas que arrancam as plantas. Elas são conduzidas ao interior
da máquina por sistema de correias, enquanto a parte aérea é seccionada e descartada sobre
o solo, ao passo que a parte tuberosa é conduzida por esteira até o caminhão ou caçamba do
trator, que segue ao lado da colheitadeira. As estruturas tuberosas são levadas até o packing-
house, onde, após lavadas, são classificadas e acondicionadas nas embalagens.
168
Na cultura do alho, a colheita pode ser pelo arranquio manual ou
mecanizado, em processo semelhante ao da cenoura e beterraba, todavia,
sem corte da parte aérea. As plantas são arrancadas do solo, atadas pela
parte aérea formando feixes (molhos), os quais são deixados sobre o solo
para recolhimento após a cura de campo.
Figura 10.5. Acima, colheita mecanizada de tomate indústria (esquerda) e de batata indústria (direita).
Abaixo, cebola sobre o solo no processo de cura (à esquerda), após ser arrancada mecanicamente com o
implemento (à direita) utilizado para arranquio de batata para consumo in natura. Fotos: colheita de batata
indústria, gentileza do prof. Fernando Luiz Finger; demais, Mario Puiatti
3.1. Classificação
A Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000, instituiu a classificação de produtos vegetais,
seus subprodutos e resíduos de valor econômico e deu outras providências. Essa Lei é
regulamentada pelo Decreto nº 6268, de 22 de novembro de 2007.
169
De acordo com o Art. 3º da Lei nº 6.268, entende-se por classificação o ato de determinar
as qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto vegetal, com base em padrões oficiais,
físicos ou descritos. Em seu Parágrafo único, desse Art., está: “Os padrões oficiais de produtos
vegetais, seus subprodutos e resíduos de valor econômico serão estabelecidos pelo Ministério
da Agricultura e do Abastecimento”.
Esses “padrões oficiais” estão estabelecidos na Portaria Nº 381, de 28 de maio de 2009, cuja
ementa é a seguinte: “Estabelece os critérios e os procedimentos técnicos para a elaboração,
aplicação, monitoramento e revisão do padrão oficial de classificação de produtos vegetais,
seus subprodutos e resíduos de valor econômico, e aprovar o modelo de estrutura do
regulamento técnico que define o referido padrão”. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/
sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=20151.
Em seu Anexo diz que os produtos vegetais serão classificados em Grupos, Classes ou
Calibres e respectivas subdivisões, Tipos ou Categorias, conforme o caso, observadas as
peculiaridades de cada produto vegetal.
Para cada hortaliça, existe uma portaria que disciplina a classificação. Assim, por exemplo,
o tomate de mesa tem a Portaria Nº 85, de 06 de março de 2002, estabelece Regulamentos
Técnicos de Identidade e Qualidade para a Classificação
Figura 10.6. Melão produzido por empresa privada em Mossoró, RN. Caixa destinada à exportação para
Portugal e Holanda, com identificação com código de barras. Fotos: Mario Puiatti
171
Portanto, a Legislação é bastante detalhada e, às vezes, até difícil de ser colocada em
prática devido às variações que os produtos olerícolas podem apresentar de um cultivo para
o outro. Diferentemente da linha de produção de uma indústria, os produtos vegetais são de
natureza biológica, com grande interação com o ambiente de cultivo.
As embalagens têm sido motivo de muita polêmica, devido a muitas delas não
atender à principal função, que é de proteção dos produtos. Muitos estudos
estão sendo realizados para definição de tamanho, forma e material das
embalagens destinadas às hortaliças. Todavia, não tem sido fácil encontrar
um tipo de embalagem que contemple aspectos de proteção e higiene dos
produtos e do meio ambiente, além de custo, com a aceitabilidade por parte
dos produtores, transportadores e comerciantes.
A famosa caixa “K”, embora contestada e proibida em muitos mercados por não atender
os quesitos de dimensões e de higiene, ainda continua a ser utilizada para muitas hortaliças
(Figura 10.7).
Caixa “K”: o “k” vem de “kerosene” da língua inglesa. No início do século passado, o Brasil
importava querosene para iluminação pública. A querosene em lata era acondicionada
em caixas de madeira (caixa K), as quais passaram a ser utilizadas para embalagem de
hortaliças. Essa importação acabou, mas o Brasil continuou a fabricar as caixas com as
mesmas dimensões para acondicionar hortaliças.
172
Figura 10.7. Diversidade de embalagens utilizadas em hortaliças. Sacos têm sido utilizados para
acondicionar batata, cebola e abóbora híbrida; engradados para folhas e inflorescências (repolho, couve-flor,
brócolis, alface, couve-comum, couve chinesa) e a caixa K praticamente para as demais. Fotos: Gentileza da
eng. agrônoma Andréa Cristina Thoma
Figura 10.8. Injúria por congelamento (freezing) em cultivar de alface melhorada para o cultivo de verão em
condições tropicais e armazenada em 0ºC. Foto: Mario Puiatti
De modo geral, as hortaliças herbáceas são mais perecíveis que as hortaliças fruto, e
essas mais que as hortaliças tuberosas (vide capítulo 4). Todavia, isso dependerá de cada
espécie, estrutura e do estádio de desenvolvimento dela quando for colhida. Por exemplo:
acondicionadas em condições de temperatura e umidade ideais, a abóbora verde terá vida
máxima de prateleira de duas semanas. Essa mesma abóbora, quando madura, poderá
permanecer em boas condições por até cinco semanas. A cenoura, com as folhas, terá vida
máxima de 14 dias, mas somente a raiz tuberosa poderá durar até seis semanas.
Contudo, nessa vida de prateleira, deve-se considerar a temperatura e UR ideais para as
referidas estruturas. Porém, em condições ambiente, no período de verão, a abobrinha verde
conserva, no máximo, por dois dias em condições aceitáveis. Se armazenada em temperatura
abaixo de 5ºC, poderá ocorrer injúria por frio (chilling).
Couve-flor, brócolis, Injúria mecânica; Perda da cor verde; Abscisão de flores; Perda de
alcachofra água.
Abobrinha, quiabo, feijão- Colheita após ponto ideal de colheita; Perda de água; Injúria
vagem, aspargo mecânica; Taxa respiratória elevada; Injúria por frio.
Injúria mecânica; Ponto de colheita inadequado; Perda de água;
Tomate, melão, melancia
Injúria por frio; Alterações na composição química.
Figura 10.9. Murcha em alface, murcha e amarelecimento em brócolis e salsa e detalhe da condensação de
água na porção do pedúnculo de tomate dentro da embalagem plástica, devido à perda de água do fruto por
transpiração. Gentileza do prof. Fernando Luiz Finger; demais, Mario Puiatti
Com relação à perda em peso, a massa de matéria fresca das hortaliças varia grandemente,
de acordo com a estrutura e o estádio de desenvolvimento no qual a estrutura ou órgão é
colhida. Assim, pode-se fazer a seguinte abordagem relativa aos órgãos de interesse comercial:
• Folhas: Têm poucas reservas de carboidratos; elevada superfície específica; alta taxa
respiratória; alta suscetibilidade a danos mecânicos e infecção por microrganismos.
• Hastes: Comparadas às folhas, tendem a ter mais reservas de carboidratos, menor
relação superfície/volume e, embora com maior taxa respiratória, têm maior potencial
de armazenamento que as folhas.
• Flores e inflorescências: Pouca reserva de carboidratos; alta taxa respiratória e grande
relação superfície/volume. Produtos altamente perecíveis.
• Frutos: apresentam grande variação morfológica. Também variam quanto ao padrão
respiratório (climatéricos e não climatéricos). Têm taxa respiratória relativamente
alta, baixa relação superfície-volume e grau variado de ponto de consumo (Figura
10.10).
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Figura 10.10. Exemplos de frutos climatéricos (coluna esquerda – tomate e melão grupo Cantalupensis)
e não climatéricos (coluna da direita – pimentão e melão amarelo, grupo Inodorus). Frutos de tomate na
sequência do amadurecimento (desde imaturo até vermelho profundo). Pimentão é cv. destinada a frutos
maduros (vermelho). Melão tipo Charentais, que tem como característica a abscisão do pedúnculo do fruto
quando totalmente maduro (última foto à esquerda com a camada de abscisão sendo formada ao redor do
pedúnculo), o que não ocorre com melão amarelo. Fotos: Mario Puiatti
Todavia, o uso de baixa temperatura deve ser bem monitorado, pois, se baixar
de um mínimo tolerado por aquela estrutura da hortaliça, o frio poderá
provocar injúria nos tecidos (injúria por frio – chilling ou por congelamento
- freezing), levando à perda do produto.
Figura 10.11. Detalhe CEAGESP: Entreposto Terminal São Paulo (ETSP). À esquerda, vista externa do MLP
(prédio central) e, à direita, a parte interna onde, em determinados dias da semana, funciona também como
feira-livre (“varejão”).
Fonte: encurtador.com.br/gisxV
Figura 10.12. Melão produzido por empresa privada em Mossoró, RN. Da esquerda para a direita: no alto,
tanque com água e detergente para a recepção dos frutos e máquina de higienização. Centro, saída dos
frutos da máquina de lavagem e higienização, classificação, embalagem e identificação dos frutos. Abaixo,
paletização das caixas e armazenamento em câmara fria de melão destinado à exportação, com detalhe da
temperatura de armazenamento para cada tipo de melão. Fotos: Mario Puiatti
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