Modelo Relatório Final de Crime de Furto

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SANDRA MARA DOBJENSKI

MODELO RELATÓRIO FINAL DE DELEGADO DE POLÍCIA – DE INQUÉRITO


POLÍCIAL – CRIME DE FURTO

RELATÓRIO

Inquérito Policial nº: ---------

Instaurado em: ______/______/______

Processo nº ______ Vara ______

Natureza: Infração Penal: FURTO (ART. 155 DO CP)


Autor: ______

Vítima: ______

Excelentíssimo Sr. Dr. Juiz,

A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE ______, representada neste ato pelo Delegado


de Polícia que este subscreve, no uso de suas atribuições legais e regulamentares
conferidas pelo artigo 144, §4º, da Constituição Federal da República, que
estabelece que “Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais, exceto as militares” e Artigo 4º e seguintes do Código
de Processo Penal Brasileiro e demais dispositivos legais correlatos,
respeitosamente reporta-se a Vossa Excelência ofertando o presente

RELATÓRIO FINAL DE INQUÉRITO POLICIAL

Expondo, para tanto, os seus substratos fáticos e jurídicos e as providências de


polícia judiciária adotadas no caso em epígrafe.
SANDRA MARA DOBJENSKI

I - DOS FATOS

O presente Inquérito Policial foi instaurado mediante notícia crime imediato por meio
de Portaria, devido ao fato de haver chegado ao conhecimento desta Autoridade de
Polícia Judiciária os fatos abaixo relatados.

Foi apresentada nesta Distrital uma ocorrência em que a Polícia Militar deteve
______, ora denominado autor, pela prática do delito previsto no artigo 155, caput do
Código Penal, que subscreve que “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel, se configura em no delito de FURTO”.

Segundo o condutor da ocorrência, o policial ______, ele estava efetuando


patrulhamento de rotina pela circunscrição desta Delegacia de Polícia, quando foi
abordado por um cidadão pedindo apoio devido a uma suposta prática do crime de
furto.

Ato contínuo, os milicianos dirigiram-se até o estabelecimento no qual os fatos


haviam ocorrido e lá se depararam com o autor do delito. Sem perder tempo, os
policiais abordaram o suspeito e efetuaram sua revista pessoal. Com ele foram
encontrados dois relógios e uma carteira.

O condutor informou, outrossim, que o suspeito não ofereceu qualquer resistência e


apenas se defendeu dizendo que havia, de fato, furtado um relógio e uma carteira,
pois o outro relógio já era de sua propriedade. Diante disso, foi-lhe dada “voz de
prisão” e todos foram conduzidos até esta Unidade Policial.

O funcionário do estabelecimento comercial mo qual se deram os fatos também foi


ouvido por esta Autoridade e informou que estava efetuando seu trabalho atendendo
os clientes da loja, inclusive o senhor ______, quando se distraiu ao atender uma
ligação telefônica. A testemunha afirma que, nesse momento, o autor aproveitou de
seu descuido e subtraiu dois relógios e uma carteira de seu estabelecimento.

Assim que a testemunha percebeu a falta dos relógios, ela passou a indagar o autor
sobre o fato. Diante de suas indagações, o autor devolveu um dos relógios e os dois
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começaram a discutir. Tal imbróglio fez com que a testemunha chamasse os


policiais militares que passavam pela rua. Já com o apoio dos agentes da lei, eles
encontraram outro relógio e uma carteira em posse do autor, ______. Por
derradeiro, a testemunha salientou que os objetos subtraídos não perfazem a
quantia de ______ reais.

Após, foi ouvida a vítima, ______. Ele informou que é proprietário do


estabelecimento onde se deram os fatos, mas que não se encontrava no local no
momento do ocorrido. A vítima afirma que os objetos subtraídos pelo autor
perfazem, no máximo, a quantia de ______ reais. Ademais, a vítima fez questão de
salientar que não tinha o interesse de acionar a polícia, pois conhece o autor dos
fatos e sabe que se trata de uma pessoa boa, mas com deficiência mental.

Por fim, o autor dos fatos foi ouvido por esta Autoridade Policial e afirmou que
estava na loja para tentar trocar um relógio que havia comprado lá anteriormente e
que, no momento em que o vendedor se distraiu, ele se apossou de dois relógios e
uma carteira, sendo que um dos relógios foi devolvido incontinenti. Em seguida, ele
informou que o vendedor passou a indagá-lo sobre o outro relógio, ocasião em que o
policial militar interveio e o abordou, encontrando os demais objetos subtraídos. Ele
salientou, por derradeiro, que sofre de epilepsia e que vem recebendo cuidados
médicos devido a esta doença.

Em estreita síntese, foram estes os fatos ocorridos e apresentados nesta Delegacia


de Polícia. Passamos agora a fundamentação do nosso convencimento.

II - DO DIREITO

Como é cediço, na teoria do delito há duas correntes que se destacam ao definir o


crime. Conforme a teoria tripartida do crime, a qual nos filiamos, o delito se configura
com a ocorrência de um fato típico, ilícito e culpável. Assim, sempre que se constatar
a ausência de um desses requisitos, não haverá crime.
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Nesse ponto, devemos destacar que, seja qual for à teoria adotada, o fato típico,
primeiro elemento do delito, deve ser analisado para que se possa constatar a
ocorrência de uma infração penal. Configurando-se a existência de um fato típico,
passa-se posteriormente a análise de sua ilicitude. Caso contrário, se restar
comprovada a ausência de tipicidade da conduta, o fato não poderá ser acoimado
de criminoso, dispensando-se, de pronto, a análise da ilicitude.

O fato típico, por sua vez, possui os seguintes elementos: conduta, resultado, nexo
de causalidade e tipicidade. Com relação a este último elemento do fato típico, qual
seja, a tipicidade, a doutrina ensina que ela se divide em tipicidade formal ou legal e
tipicidade material.

A tipicidade formal seria apenas a subsunção de um fato a um tipo previsto no


Código Penal. Por outro lado, a tipicidade material se caracteriza naquelas condutas
consideradas mais graves pelo Direito e que ferem os bens jurídicos mais
importantes.

O Direito Penal tem por finalidade a proteção dos bens tidos como mais importantes
dentro de uma sociedade, sendo que o princípio da intervenção mínima assevera
que nem todo bem é passível de proteção por parte do estado, assim como nem
toda lesão a um bem jurídico é significante a ponto de merecer a repressão penal.
Em síntese, a tipicidade material defende que apenas as lesões mais graves aos
bens jurídicos mais importantes é que merecem a proteção do Direito Penal.

Dito isto, salienta-se a importância do princípio da insignificância dentro do Direito.


O referido princípio só demanda a força repressora do Direito Penal naquelas lesões
mais graves aos bens jurídicos mais importantes. Assim, não se pode falar em crime
quando se tratar de infrações de bagatela, pois, nesses casos, não é possível se
constatar a presença da tipicidade material, essencial para o conceito moderno de
crime.

O professor Luiz Flávio Gomes fornece o conceito de crime insignificante, definindo-


o como “infração bagatelar ou delito de bagatela ou crime insignificante expressa o
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fato de ninharia, de pouca relevância. Em outras palavras, é uma conduta ou um


ataque ao bem jurídico tão irrelevante que não requer a (ou não necessita da)
intervenção penal. Resulta desproporcional a intervenção penal nesse caso. O fato
insignificante, destarte, deve ficar reservado para outras áreas do Direito” GOMES
(2009, p.15).

Não se pode olvidar que a aplicação do princípio da insignificância é defendida pelo


próprio Supremo Tribunal Federal sempre que presentes os seguintes vetores:
ausência de periculosidade social da ação; mínima ofensividade da conduta do
agente; inexpressividade da lesão jurídica causada; e a falta de reprovabilidade da
conduta.

Desse modo, se vislumbra clara a aplicação do referido princípio no presente caso,


visto que a conduta do agente apresentou ausência de periculosidade, uma vez que
se trata de um crime em que não há violência ou grave ameaça a vítima nem à
sociedade. A ofensividade da conduta foi mínima, pois não causou maiores danos a
vítima. A lesão ao bem jurídico (patrimônio) foi inexpressiva, tanto que a vítima nem
queria acionar a polícia, pois seu prejuízo foi irrelevante, o que comprova também a
falta de reprovabilidade da conduta.

Nesse diapasão, encontramos amparo na jurisprudência:

EMENTA: PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES


CUJA PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO
DEPOLÍTICA CRIMINAL. CONSEQÜENTE DESCARACTERIZAÇÃO DA
TIPICIDADEPENAL, EM SEU ASPECTO MATERIAL. DELITO DE FURTO.
CONDENAÇÃOIMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS
DE IDADE. “RESFURTIVA” NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61%
DO SALÁRIOMÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR). DOUTRINA.
CONSIDERAÇÕES EM TORNO
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DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. CUMULATIVA OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE,


DOSREQUISITOS PERTINENTES À PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO E
AO “PERICULUM IN MORA”. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA. (HC 84412 MC/SP)

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO SIMPLES. PRETENSÃO DE


APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE
TIPICIDADE MATERIAL. TEORIA CONSTITUCIONALISTA DO DELITO.
1- Reconhece-se a aplicação do princípio da insignificância quando verificadas
a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social
da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada.
2- No caso, não há como deixar de reconhecer a mínima ofensividade do
comportamento do paciente, que tentou subtrair 6 (seis) pacotes de chocolate
e 17 (dezessete) barras de chocolates, avaliados globalmente em R$ 94,19
(noventa e quatro reais e dezenove centavos), sendo rigor o reconhecimento
da atipicidade da conduta
3- Segundo a jurisprudência consolidada nesta Corte e também nos Supremo
Tribunal, a existência de condições pessoais desfavoráveis, tais como maus
antecedentes, reincidência ou ações penais em curso, não impedem a
aplicação do princípio da insignificância.
4- Ordem concedida a fim de, aplicando o princípio da insignificância, absolver
o paciente do crime de que cuida a ação penal nº 050.05.091434-0 que tramitou
perante a 21ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo/SP.

III – CONCLUSÃO

Frente ao exposto, em razão da oitiva de todas as testemunhas, bem como pela


declaração da vítima e do autor dos fatos, esta Autoridade Policial formou seu
convencimento no sentido de não ratificar a “voz de prisão” dada pelo policial militar,
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por entender que o delito do artigo 155 do Código Penal (FURTO) não se configurou
em virtude da aplicação do princípio da insignificância, que exclui a tipicidade
material do fato e afasta o próprio crime.
É mister destacar que os objetos subtraídos foram apreendidos por esta Autoridade
de Polícia Judiciária e serão submetidos a exame pericial.
Por fim, em não havendo outras diligências essenciais à comprovação dos fatos e
de suas circunstâncias, dou por encerrado este Inquérito Policial, remetendo-o,
tempestivamente, a este douto Magistrado para sua apreciação.

É o relatório.

_______, ______ de ______ de ______.

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Delegado de Polícia

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