Oficio N 1322020 PDF PDF

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Ofício PJ n. 132/2020 Congonhinhas, 03 de março de 2020.

Procedimento Administrativo nº MPPR-0041.20.000141-4


(Favor mencionar em sua resposta este número e o número do ofício)

Excelentíssimo Senhor Prefeito,

Cumprimentando-o cordialmente, sirvo-me do presente para


encaminhar a Recomendação Administrativa nº 01/2020, sobre a aquisição de
insumos da área da saúde.

Sem mais para o momento, aproveito a oportunidade para externar


meus protestos de elevada estima e distinta consideração.

NATHALIA GALVAO Assinado de forma digital por


NATHALIA GALVAO ARRUDA
ARRUDA TORRES TORRES RAIMONDO:31029044830
RAIMONDO:31029044830 Dados: 2020.04.03 16:51:20 -03'00'

NATHÁLIA GALVÃO ARRUDA TORRES RAIMONDO


Promotora de Justiça

Ao Excelentíssimo Senhor
VALDINEI APARECIDO DE OLIVEIRA
DD. Prefeito de Congonhinhas
Congonhinhas – Paraná

___________________________________________________________________________________
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CONGONHINHAS/PR
Avenida São Paulo, n.º 332, Congonhinhas, CEP: 86.320-000
Fone/Fax (43) 3554-1165 – e-mail: [email protected]
Promotoria de Justiça de Congonhinhas (PR)

RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 01/2020

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,


por intermédio da Promotora de Justiça da Comarca de Congonhinhas/PR, no uso
de suas atribuições constitucionais e legais, com fundamento nos artigos 127,
caput, e 129, incisos II, da Constituição Federal; e artigo 27, inciso II, da lei nº
8.625/93, no bojo de Procedimento Administrativo nº MPPR-0041.20.000141-4, e

CONSIDERANDO que, nos termos do art. 127, caput, da


Constituição Federal, “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”;

CONSIDERANDO que, dentre outras, é função


institucional do Ministério Público “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos
e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia”, consoante dispõe o art. 129,
inciso II, da Constituição Federal;

CONSIDERADO a natureza do direito social à saúde,


que, nos termos do art. 196 da Constituição Federal, é a “saúde direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”;

CONSIDERANDO que, em 30 de janeiro de 2020, a


Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto da doença causada
pelo Coronavírus (COVID-19) constitui Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional (ESPII);

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CONSIDERANDO que a ESPII é considerada, nos


termos do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), “um evento extraordinário
que pode constituir um risco de saúde pública para outros países devido a
disseminação internacional de doenças; e potencialmente requer uma resposta
internacional coordenada e imediata”;

CONSIDERANDO que o Ministério da Saúde, em


3.02.2020, através da Portaria GM/MS nº 188/20204, nos termos do Decreto
7.616/20111, declarou “emergência em saúde pública de importância nacional”, em
decorrência da infecção humana pelo Coronavírus, considerando que a situação
atual demanda o emprego urgente de medidas de prevenção, controle e contenção
de riscos, danos e agravos à saúde pública;

CONSIDERANDO que, em 11 de março de 2020, a


Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia para o Coronavírus, ou
seja, momento em que uma doença se espalha por diversos continentes com
transmissão sustentada entre humanos;

CONSIDERANDO a instauração, neste órgão do


Ministério Público, de procedimento administrativo para acompanhar e fiscalizar a
aquisição de insumos na área da saúde neste Município, em decorrência da
pandemia de Coronavírus (Covid-19);

CONSIDERANDO que, em razão das medidas adotadas


para conter a transmissão do vírus e o agravamento dos casos no âmbito dos
serviços públicos de saúde, tem sido determinante que Municípios realizem
dispensa de licitação para a aquisição de insumos de saúde (álcool em gel,
máscaras, etc.), procedimento este autorizado pelo artigo 4º da Lei nº 13.979/2020,
que prevê:

1
Este diploma também institui a Força Nacional do SUS, como “programa de cooperação voltado à execução
de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência
à população” (art.12), competindo ao Ministério da Saúde “convocar e coordenar a FN-SUS para atuar nos
casos de declaração de ESPIN e em outras situações de emergência em saúde pública” (art.13, II), dentre outras
atribuições.
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Art. 4º Fica dispensada a licitação para aquisição de


bens, serviços e insumos de saúde destinados ao
enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus de
que trata esta Lei.

§ 1º A dispensa de licitação a que se refere o caput deste


artigo é temporária e aplica-se apenas enquanto
perdurar a emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus.

§ 2º Todas as contratações ou aquisições realizadas com


fulcro nesta Lei serão imediatamente disponibilizadas em
sítio oficial específico na rede mundial de computadores
(internet), contendo, no que couber, além das
informações previstas no § 3º do art. 8º da Lei nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011, o nome do contratado, o
número de sua inscrição na Receita Federal do Brasil, o
prazo contratual, o valor e o respectivo processo de
contratação ou aquisição.

CONSIDERANDO que, em alguns casos, os entes da


Administração Pública têm se deparando com o superfaturamento de preços dos
insumos por parte de fornecedores, o que desautoriza a aquisição dos produtos
mediante dispensa de licitação, por ilegalidade na justificativa apresentada quanto
ao preço de mercado (artigo 26, inciso III, da Lei nº 8.666/1993) e contrariedade ao
interesse público;

CONSIDERANDO que a observância do preço adequado


na aquisição de produtos pela Administração Pública é objeto de tutela em diversos
dispositivos da Lei de Licitações, caracterizando inclusive crime sua elevação
arbitrária pelo particular (artigo 7º, § 8º e 9º; artigo 15; artigo 24, inciso XXXIV; artigo
43, inciso IV; artigo 44, § 3º; artigo 55, inciso III; e artigo 96, inc. I);

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CONSIDERANDO que, nessas hipóteses, diante do


reconhecido enfrentamento de emergência de saúde pública em âmbito
internacional, deflagra-se a possibilidade de a Administração Pública se valer do
instituto da requisição administrativa, para evitar danos ao erário e preservar os
interesses da coletividade;

CONSIDERANDO que a requisição administrativa é


modalidade de intervenção estatal na propriedade privada por meio da qual o
Estado utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares em situação de perigo
público iminente;

CONSIDERANDO que o artigo 5º, inciso XXV, da


Constituição da República de 1988, dispõe que “no caso de iminente perigo público,
a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano”;

CONSIDERANDO que o artigo 170, inciso III, da


Constituição da República estabelece que “A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: (…) III – função social da propriedade”;

CONSIDERANDO que a Lei nº 8.080/1990, a qual


“dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”, assim prevê em seu
artigo 15:

Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as
seguintes atribuições: (…)

XIII – para atendimento de necessidades coletivas,


urgentes e transitórias, decorrentes de situações de
perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de

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epidemias, a autoridade competente da esfera


administrativa correspondente poderá requisitar bens e
serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas,
sendo-lhes assegurada justa indenização;

CONSIDERANDO que o artigo 1.228, § 3º, do Código


Civil disciplina que “O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem
como no de requisição, em caso de perigo público iminente”;

Resolve expedir a presente RECOMENDAÇÃO


ADMINISTRATIVA ao Município de Congonhinhas/PR, por meio dos
Excelentíssimos Senhores Prefeito do Município e Secretário Municipal de Saúde,
bem como a quem venha lhes suceder ou substituir nos seus respectivos cargos, a
fim de que observem o seguinte:

I – Caso necessária a aquisição, por licitação ou


dispensa de licitação, de bens, serviços e insumos de saúde destinados ao
enfrentamento da pandemia Coronavírus (Covid-19), sejam cumpridos os requisitos
legais e, quanto à dispensa de licitação, aqueles do artigo 26, parágrafo único, da
Lei nº 8.666/1993 e artigo 4º da Lei nº 13.979/2020;

II – Dentre esses requisitos legais, promova-se a


adequada justificativa para a compra e a ampla pesquisa de preços 2;

III – Após o cumprimento das formalidades legais, caso


verificado manifesto sobrepreço nos itens pesquisados e resistência do particular
em promover o fornecimento pelo justo e real preço de mercado, delibere
motivadamente quanto à adoção da requisição administrativa, na forma do artigo
5º, inciso XXV, da Constituição da República de 1988; artigo 1.228, § 3º, do Código
Civil; e artigo 15, inciso III, da Lei no 8.080/1990;

2
Dentre outros, sugere-se: Banco de Preços em Saúde (http://bps.saude.gov.br/login.jsf); Código BR
(http://www.saude.gov.br/gestao-do-sus/economia-da-saude/banco-de-precos-em-saude/catalogo-de-materiais-
catmat); ComprasNet (https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/comprasnet-mobile), Menor
Preço (https://compras.menorpreco.pr.gov.br); Painel de Preços( http://paineldeprecos.planejamento.gov.br).
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IV – Optando-se pela requisição administrativa, sua


execução deve ocorrer em procedimento administrativo próprio, de forma
fundamentada, e mediante a fixação do justo preço, que deve ser posteriormente
pago ao particular;

V – Insira cópia desta Recomendação Administrativa no


Portal da Transparência do Município a fim de lhe conferir ampla publicidade, pois
aborda matéria de interesse coletivo (artigo 8º, caput, da Lei nº 12.527/2011);

O descumprimento das medidas recomendadas poderá


implicar responsabilização por ato de improbidade administrativa (Lei nº
8.429/1992), sem prejuízo da apuração da prática de eventual crime, representação
perante o Tribunal de Contas do Paraná e adoção das providências judiciais
necessárias para compelir o Município a cumprir a legislação em vigor.

Fica estabelecido o prazo de 10 (dez) dias para


manifestação das autoridades destinatárias quanto às medidas adotadas para
cumprir esta recomendação, a partir do seu recebimento, devendo a resposta estar
instruída com a correspondente comprovação documental.

EFICÁCIA DA RECOMENDAÇÃO: Esta recomendação


dá ciência e constitui em mora os destinatários supramencionados quanto às
providências enunciadas, podendo implicar na adoção de todas as providências
administrativas e judiciais que se mostrem cabíveis.

Congonhinhas/PR, 03 de abril de 2020.


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