Balzac Obra-Prima Ignorada
Balzac Obra-Prima Ignorada
Balzac Obra-Prima Ignorada
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A PELA:.DEi''ONAGRO
A''C'OMÉDIA ~HUMANA :JESUS CRISTO EMó FLANDRES
DE
MELMÓTH;.'.APAZIGUADO
HONO RÉ DE B ALZ AC
MASSIMILLADONI
\ OBRA-PRIMA IGNORADA
[ntio(]âlkL]fL]QâtÇIEjg.oiâiáJly!gt$1à;à
Rónai
GAMBARA
A PROCURA
'\ DO',ABSOLUTO
xv Precedido de
/ Tradição de
COMES DAJSILVEIRA
ESTUDOS FILOSOFICOS e VIDAL DE OLIVEIRA
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Coh . 7 ilustrações fora .do texto
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1:.\?:.aovlaHia
EDITARA GLOBO
E': D; 1:.'r Õ:R A{.eG-:L 0 B O
SÃ0.PAULO RIOJDE JANEIRO - PÔRTO
'ALEGRE .!ú.' SÃO PAULO
KtO DB JANEIRO- PÔRTO ALEGRE -
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destinada à Mana de Medias, foi por éla 'Vendida nos dias -de sua
niiseria.
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A'OBRA-PRlbãA IGNORADA.
394 ES+U DOS F ILOSÓ F ICES
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A OBRA-PRIÀ{A IGNORADA 3»
-h, Mãos à obra.ll,:+ retntcou:lhe Potbus apresentandoqlhç
um
láplê ve.nllelho :e.:uma. :folha . .de papel. pele;de:moça,
+ comoo tom misturadodd pardoavermelhado'
e:de
;O-desconhecido..copiou . cêleremente a .ã/ar;a em.!poucos traços. ocre cakinado -aquece. a grisea triezã.. desta .'grande: sombra.lnâ qual
Ohl:.oh ! i ::: exclamou .g ancião. .;---:Como se chama: ? o' sangue se coagular'a ao invés de eircularl Rapaz, rapaz, o que
b.'.
O rapaz :escreveu ;por.::bai xo i N.i:JVico/as ;Pozrsdíí.' io
a(lui. té. estou mostrando,.nenhtiln mestre poderei. ensinaf=te. Sà-
ú=- Eiglaqui algotque'!nãoesta mal:para um Íitincipiante ..=.'afia--
móu !;ío :;Singular.! personagemg que tão3 alotit-adamente discorria.
Vejo*que;Êepbdç falar ;em;bintufa diante de ti.' Não te.censuroiúr
erres 'admirado a farta :de'jPorbüs. . apara todos: é 'úma j:obra-priãla,
.:..
Ej: l:MI
W$Fm::ü:!i:X
por:isto~que te estou deixando entrever. ;z' --' :.-h "'. '...:'=
ê?sõnlênte os: íníõiados nogímdig: prõíQndos arcanos* :da arte. podem Au mesmo tempo que falava, Q:.estranhoancião.tocava êm todos
descobrir- no que ela peca.'l#.'Uma.tez, porém, que:és :digno da liijão os pontos;dó :quadro;. aqui duasl)inceladas,. ali qmá. única. das sempre
é' i:afaz: de:*compreender,' vou :fazer-te' ver 'o .pouco. quemseria t)recibo tão .a propósito, .(Ue se di.ria umã nova pintil ra, mas 'uúa pintura
para:'complétaf a obra.l.!sabre bem os alhos e presta tôda allatenção, DanDâoa (le luz: .'lirBbalhava Com unl atdoi' tão. .apaixonado. ;qiie o
pois 'semelhante.ocasião de 'te instruires não: tornará jamais; :talvez, a suor.gotêjou= nal sua fronte .calva ; ia tão ràpidamente :com pequenos
se:! :apreserltat'. f ::-Tua;!paleta, . Pofbus ! movimentos tão: impacteQtes,'tão entrecortados:'que, l cara oy ji)vem
Porbus foi 'buscar a paletó :e.os pincéis..l O velhinho arregaçou Poussin, parecia haver no : '' 'personagem
' co:po daquele singela!. '-'- .- '-'---
,.üü
as mangas:com um cesto'de .fudeia convulsa, passou õ polegar ína demónio que atuãva :por sua! . mãos, tomarão.al; 'lfahtâsticamcnte
paletas.matizada e cheia .das tintas que Porbus llle :oferecia; ;arran: contra a vontade do homem,i;O brilho sobrenatural de deus olhai.
cou-lhe das mãos, mais .do que o recebeu;'uhl punhado cle pincéis de as convulsões (lue pareciam:.:o efeito de' uma 'resistência, 'dâvain
todos'os tamanhos,e sua barba,:5aparada
êm palita;'moveu-idesubi: àquela.:i(téia um sifnulacro de verdadetqtie devia 'atear' $õbreÍ uMa
tamente . por egforçoi ameaçadores que exprimiam õ 'prurido.de uma mlaginação moça - O ancião continuava; dizendo:
a'paixonadajfantasia. TtAo Mesmo tempo que enchia o pihçel de tinta, a,';t'-.= Paf.! .pãf ! . pari! . eis 'aqui ;como..disto se lambuza, rapaz !
resmtlíigava'entre dentes: VFtlham, minhas piliceladinhas:.'façam-mecrestar êste tom' glacial!
=- Estas cõrés:só:.prestam para serena.Qt:Fadaspela. janela, junto .4
titn:n felicidade inaudita, .nal companhia de Pois grandes:'artistas --=...j''iese;iquisesse deixar-me'+er sua 'BeZ/à .Noisellse,' eu lmdefia
daêios de bonomia. fazei:álgutnã pintura. elevadaLvasta e profunda: ha qual as .figura
seriam ''de.tamanho , natural.
Jovetn --. disse-lhe PorbüÉ, ao vê-lo- pasmado em. frente a um
=.=..Mlostrarminhalobra! 1--; disse o, ancião. emoci(içado.-=
quadro -= não olhe.,muito .essa tela, pois ficaria .desesperado-
Não ! não ! preciso aperfeiçpá-.la aindaP Ontem, ão entãideéei',' pen"
Eta o z4daíH. (iue Mabusel fêz pata sair da brisãf? na qual seus
bt:edores:o\ retiveram. durante muito .tetnpo.[ T Aquela figura apresett- sei tê:lá terminado:. : Os olhost dela pareciam-he únijdos, sua carne
estava agitada.;' :As tranças dos!:seus cabelos moviaÚl:se. ' Ela rcr
fava, efetivam,ente, :um tal poder de ;realidade,:. que INicolas Poussin
pirata !.''' Embora:.:eu.Êtenha achado' o l,]neio dek;realizar nuca tela
(i;iiüeçoti,::desde
.aquêle
:haomentn,
à i:o.4nl3reeüde$
. o .verdadeiro
.s:n- chata o relêvp e jas rotundidades da.natureza, hoje de banha, à luz,
tlad dls' t#qfuiás ,'palaylag dõxlncião: .' 'Êseê.-:'.çqntelrplaba'::oqua:ro
i'éconheci meti êrró: 'jAh l para ':chegar .4 êsseKresultado glolióso; es-
é:ót li;l : sàtiifeito,' úN sem..,'Fhtusiasmo.lparecéndi).dizer.: &."Fiz
tudei á fundo'os .grandes mestres ddéolorido, 'analisei: é ergui camada
bisa itielhoi !'?
por camadaos quadros do;l'iciano, êsserei:da luz ; como êssepintor
:l:.,: ]liá vida aí ,:e.-;comentou i--= meu pobre. mestre sobrepuj.ou soberano,-esbocei minha figura num -tom claro com }.uúa pasta fle
:se ; .falta, .poréip, ainda u+n pouclg .de .verdade no fundo :da: .tela.. .O xível e~abundante,
parqueüj:a
sombranada mais é do que um aci-
hb11:uéú esta: i)eü' :.vi+ó, iãi íev:atar-g4: e dirigir-sê. .para::jhós:.amas dente, guarda isso, -garoto! ': Depoisi:'voltei à linha .;obra b, por
b àt. ó 'céusó +etii:o due réspirãúos, Vemos..ç...$entiihoS, nãd...estão.+i. meio Hde .bacias-tintas e de :côres claras e translúcidas . cuja transpa-
Ademai$, .não há aí maia do qúe um homêh !'"'Orã,'6 único hanaem rência eu ia diminuindo gradualmente, reproduzi aslmais= .viga.rosas
saído.diretamente das mãos.de.,Deus devia tef .algo:üe divin(i, que sombras e até os ip4ii .rçb.uscadognegros; porquanto; as sombras dos
Ealtà.I' O próprio Mlabuse,'quando hão estava ébrios::dizia isso cheio pintores comuns;sãq..deÍoutra .hatufezal que.os: seus tons .claros ; é
de despeito. padeira,:é .bronze,'.é. tudo que quiserem,t plenos carne ná soma)r3.
Poussin: .Olhavam
:alternativamente para , o . ancião : er!.paul'lPorbus -Sente-se qtíe sc as -figuras dêles mudassem de posição,É::os ]tlgares
com unia curiosidadeinquieta.. .Aproximou-se.dêste como pára pet- sombreados não se clareariam e hão se tornariam luminosos. ;Evitei
guntarrlhe o Dome do: aãfitiião ;!á.pintor, porém, põs. ljm ..dedos;no$ êsse êrmo,Lno:;qual muitos dos. mais ilustres .lcaíram,;é:'êm m;m a'
lát)ios :com ar .de' m.istériO, e o , rapaz,. vivamente:,interessado, calou-se, alvura ;:sêlrealça: gob à opacidade da mais firme sombra;' «:Não fiz
esperando .,que, :cedo:.OH.Í tarde 'alguma. palavra. ; Ihe: . pérmijiri4'- .adivi- i:õmo uma'.porção' dé ignorantes quem
pensant desenllar corretaménte
nhar. o nome do ieu hospedeiro,:cuja :.riqueza. e t.alentos.eram stt pofqtte fazem um traço cuidadosamentenítido ; não, eu não assinaleí
fidetltanente . atestados pelo despeito quç: Porbus Ihe testemunhavà sêcaniente 'as bordas exte.riorcs da minha l figura 'é não fiz ressaltar
e pelas maravilllaá acumuladas ttaquela sala.
Poussin. ao ver :no sombrios ferro de madei.ra :de carvalho um 13) Giorgione; apc]ida dc: G:o-gio :Barbare]]i-'(1477-]51i).Ú$um dos
graniles :pintores'' dá::alta Renascença em Veneza:'autor de retratos ê.'Ccha8
lüagníficó retrato .tlê- Mulher.;excjaúou ! religiosas: e mitológicas ; a maioria das ;obras/que :se; Ihe atribuem! são. de
autenticidade duvidosa.
qoo EST anOS: FILOSÓ FIGOS A rOBIUÀ-PRIÀ[A IGNORA,DA; 401
7
até a 'menor minúcia anatõni:ca, .pot'que 'o corpo humano :não acaba que - aquêle .honieh ;'velho aíetavqlman.i íesiár pelas .falais belits;ten-
por,:linhas.' : Nisso. os -escultores podem aliroxiJüar-ic.: nláiÉ da t'©t- tativas da: arte; suâjlriqueza. suas maneiras, a deíef-ência:de: :llbiiltís
dade:do que nós:- ,A natureza comporta uma.série:det.curvas.queisQ por ; êle, 'aquela obfá: .l)ór= tanto ;..tenlpol -hlantidà ' eni ;segrêdo, 'iol)ra
envolvem' nulas nas .outras. Ü Rigorosamente «falando;' o desenho não de. paclêóc:p,:sbhl;tlúvida uma bbü ' dê.' génio,'sél:'Ée.;
devia'ljul#:ir
existe ! :Não. se ria. rapaz!..' Por :mais estranha :que Ihe :pareça essa pela cal)eçá:da r;rgfni (lue o jovem Poussin tãolfratlcamente .a(tnii-
aíinnaçãa, .algtlnl: dia v'ocê .Ihe:compreenderá as .razões..çíA linha .é rara,:é .que,bela ainda. mesmo'ante Q.,4dant de blabuse.'atestava'ia
o meia pelo. (luar o, homem áe'dá conta do';afeito;aa .luzilsõlire os impei ial ;..feitura :de. .tim dbs'. príhéipes: da arte? tudo .naquele ;ancião
obje.ta$;. pas, . na ...natureza,..
ehtle tudo é ,cheio;. .não..hâ+:linhas=.ié ultrapassava 'ós mini:tes da" natureza :humana.IP:O que.-:a: rica iiilagf-
modelando quélge .desenh.a,:isto. é.: que' se,destacamas ;.coi?asdo meio nação .dê 'Nicolns::Põltssit].: põ.de.a])reender de claro: :é dd percej)cível
enl-.que elas.. se:;acha]n.;.:.é
.;sàmepte 4}]djstribuição ; da::,lu4 blue..dá aa. ver' .+qttcla criar ura iobrênatüral, ' foi . uma imagem;Lcohpletã.;da
apareQcia ao: corpo.!:j Po;. isso não. ::fixei . .QS: traços, ::espalhem'sôbre natureza jartística,ll dessas:a]otlcadaJtaittre.;a ; à [tlttti]- sãolconíia(]os
s contornos' uma nuvem :de. me;ãi-tintas louras :e quentes que faz tantos'poderás. :e que cí)m demasiada"freqüencia dêles abusa. ârnls-
com qüe não:se possa com:.precisãocolocar.o.dado no Ittgar em quc tando ü fria razão. os ;burgueses e mesmo alguns amadora.s, através
êles '!:le confundem comi'n o .:'íut3do. $;1De .,perto, ,êsse trabalho parece de.mil estudas pddregolab.onde.para êles,.nada.há: ao passoque,
nebuloso e cago .que falto de precisão; mas a. dois passos: tudóÉjse brincalhona nas suas fantasias.'cessa
rapariga de asas brancas ali des-
afirma.'se detém,; sc destaca; o;corpo .gira,Las ';fo:Mas tornam:se cobre:: epopéiasi;'castelos, obras l;de arte. bNatnreza'l zolnbeteira ie
salientes. sente-se õ''ar cir('alar 'em tõrnó. IEntretanto, ainda- não boa,=fecünda 1.e:jpol)re l '? Assim,: pois;l' para o entusiasta :: Poussin,
estoúl:satisfeito.',tenho ' dúvidas.:;Seria. preciso:.talvez nãcl desenhlt aquêle ancião' tornara-sé. lmr '.uma.súbita i'ransfiguraçãi). a própria
um único .traço, talvez- fôsse pi'eferivel;. come'çar}u.ml figura .'pelo Arte. a arte caiu os: seusljsebaredos;seus ãr(]oi'es e':selas devaneios.
meio, dedicando-se primeiro às; saliências mais ..iluminadas, para pari' =--.1:Sim, meti'caro Porbus =.L volveu Frcnhofer .u. faltou-me até
sar ãepeis às porçoes npjs sombt:asl:..xqd'..ç assim"que, faz.;Q sq, agora encontrar uma:jmulher irrepreensível,ttnl'corpo cujos Contor-
êsse .di'Fino pintor do ;.uni verbo.? :':ó natureza.!' naturezas ! : que.m, jamais nos sejam'de ltülla lleleza perfeita, e cuja carnação.; . ltak --.: con-
te suta:eendeu nas tuas .'fugas! 'Olhem,i Q'''excessode ciSnçia, do. tlóuou . êle,. após tti)la .pausa '= .onde vivera essa .Vênus dos antigos,
mesmo ,Díodo que a ignorância; ;leva a uma negação. Não tehbo. impossível tle achar, tantas irêzes procü:ada; e da qualtencontramós
confiança na nainha ol)ra! apenas algumas belezas esparsas? . Ohl para ver um momento,:uma
O .ancião fêz uma pausa. depois prosseguiu : .Única vez, a natureza divinas completa, o ideal enfim. ©u daria«'tõíla
--ü Faá dez'anos, meu rapaz, que trabalho; mas o que são dez ã fninha fortuna. . í ; Alas irei p;ócurar:te nos .teus limbos, beleza
minguados :anos;: quando ! se trata de lutar: com :a.r;natureza? -,lgho- celestial.! Colho Orfeu, ts:'descereiàó'.inferno da'arte para dellá
trazer a vida.
ramos; o: tempo que o.-senhor -Pigmaliãoi+ empregou para:)fazer. â
única .estátua que cam:óhou.! --: Podemos
irÍemborá'idàqui-- dissePorbus:ça
::Poussin
; l:-
O :ãficiãó. mergulhou em 'profunda meditação( e permaneceu :de êle:não nos ouve ma:s, :hão nos'<vê" mais l
olhos f.ixó$: brincando maquinalmente. com uma?,'faca. -- Vamos ao seu are/ier!.'= ' p'opôs o rapazj'maravilhado.
- Oh! o velho ret:e soube defender-lhe a entrada.b Seus. te-
-..: Ei. lo .em conversação*com'.+ seu p/pífílo! :L;l:disso .Porbus
em ':voz baixa. souros estão por. demais bem guardados para que possamos::chegar
até.'êles. Não .'esperei tua opinião e tua íantasiãÍparai-tentar =o
Ap, ouvir tais palavras,' Nicolas..Poussin.sentiu:$esobra. ln: assaltóüdo;. mistério:
fltfõ'ncia de ümq inexl\licâvel: curiosidade . de .artista..: ;. Aquêle ancião
-- l-lá, então.:um mistério?
ab olhos ,t;roncos. atem'to e: estúllidç). que se, tornara. para: êles mais-. do
que .unl llomptD. afigurou:se-lhe. um.gênio.fantástico que vivesse numa 15).;, Or/e# : personagem Mitológica, músico .'dc üextraotdinário talento.
;sfé'rã .i desconhecida.'. .Êle despertava-lhe j m11 idéias confusas na Com I'$uaKlirac comovia. i:ãol só as pessoasàvivas+':mas ;.as ;ãferas8e; atév DS
all\la.; . O .fenõhleno moral dessa espécie de fascinação não pode. sér obj«tos-.;nanimadog./.:Tenílo sua esl)õsê.;.aninfa.. Euridiêe, sido' mordiilaf pbr
áeíinido üntó como..não o pode set .a emoção p.invocadapor ur'a uma'cobra no:t)fóprio: (l:a::das núpcias:Orl?u' deÉccuaoSlníernõ'e'.Com
osj;acentos de suã lira;comovi'u 'as divindadê$ infernais,'« Estes prometcraín-
:caução quê. leillbte a l)átrla no cotação de unl .exilado. O desprezo Jhe devolver a: esl)õsa. üue dc\.ia segui-lo .atéi,a terra, contallto q!:e éle. não
$.:.Ü {
se .,virá.sse : antlsgdc lá cllegart'm.$ blasà C)roeu;fnãoJ coube }donliilar : al curio-
14) ?Pignic/fão veráa nota-'144ijd: 4 Pf/f de:1Onagro. m sidade, virou-se c-viu' Eurídice pela :últiinla vez.
n U
i'-( {f g.,7' ;
i
A-:COBRA-PRIMAIGNOKJiDA
26T u'Pos ' F:iJ.os'Évl ços
manhã tive çoníiança ep qim! Posso ser up grande bomeml
.:- .Sim Ee iRgpondçBIP9fbqs..-='.Q -velllp Frplhgfer foj'.q,únlcp Crê,çGillette, seremo! ricos,3íelizes! '. Há ouro, nesses pincéis. .
bKjãiJ';ãê:
Mli$B.,l;i$i$:
:'$;.:1:;
T iljÓ-:Ç'
@$?41;!ÜKl:.dele,
W Mas ;calou-pé de repente.l:' Seu 'rosto lgravç ç vigoroso perdeu
11ÜilãÉÜ:ifÜ#Ç;$ iil U;mllê41Q;:$ quê-';çxpressãQ; 'ãe 41egriã, quando. . i:amparou a :imensidão das suas
e$pera1lças'
.com:+ # ççli(;cridadeIde sêls f$cursos.':l As p?regemestq-
vao'jÇcobertas ' dé sitpplês .papéis cheios"\lç esboços1.# lápis. Não
possuía senão quátrõ Itelas próprio: ' As tintas. çs@yam então muito
caras, .ç d pqbrç cabaz yia sua paleta.pouco tnãis ou,menos vaz:tp.
No sçiojdessa. miséria, êle possuía..le sentia: riquezas lngive:s no
coração,: ç: 4 '.êuperabundânciã de ;'u$ gêiiio dcyprador. : I'raz+do a
P:Íris:;po; um .dl; seus " amigos, gentil-homeiÊ?. gp talvez pejo seu
próprio :talento, êle ali veio encontrar sùbitamente.uma amante,uma
àessãi alÚ'as: nobres e Úcnerosas quê' 'irem. sofrer junto a um grande
ho;lçm, 'partilham deus:'trabalhos e se esforçam .por çompíeendet-lhes
h::E':::i=.'H:.\:=\U;g:'u:%
Ó ' sorriso'
=m.;;::.=
que''errava .'nos lábios del Gillette dourava: aquêle sótão e
rivalizavacom o brilho do ééu. O $ol nem semprebrilhava,'.ao
passo que. ela . sempre estava .ali, :interi(irizada. na . sua paixão,, presa
" sua felicidade,:ao seu sofrimento, consolando o gênio qüe trans-
bordava no amor antes de se apoderar da arte.
Ouve, Çillette, vem.
A obediente ç' alegre coça saltou sôbre os joelhos do pintor.
Era ela tôda graça, tôda beleza,.linda õom'ouma primavera,'ornada'
conatôdas as riquezas femininas e iluminando:as .c6m o fogo de uma
bela alnaa.
.-)Óh1l=êDeus! --;:: exclamou'. êle ;--. jamais) me atfeverei a
dizer-llle
-- Um: degrêdo? !:l!; perguntou ela. .L-. quero sabê-lo.
'/
Poussin perra.aneceiJpensativo.
í--.4NÓs penetraremos . lá 1l.-= . exclamou Poussin!:, que não ouvia --;;Fala de uma vez.
úa;s Pàlbus e 'de' mais nada duvidava.Ç.l.i IÜ :;: :P -J l :$ül = .'il . .: Gilletté..:: . : pobre coração amado !
Pnrbus sorriu. ante 'o> entusiasmo do jovem desconhecido,te -- Ohl .queres algutna coisa de mim.?
ruy-se dêle' convidando-o ã 'que õ fôsse .visitar.E. ü ;. ..:.
- . --'"'
-;.Sequeresqueeu. )bse ainda
. ..t pata 'ti,....como
. ho
. outro
.. dia.
/-- replicou êla com'üm arzinho ailayadogl -- jamais consenljrei cm
tal. 'porquê nesses :lnoúento$ \teus :l)llio$ ,não me dizem mais nada.
Não pensas mais :em mim, ê-contudo me olhas.
: - :Préferirias ver-nje. copiando uma outra mulher?
:-ü salve: J'disse Zela '-= se fôsse .bem feia.
=:. Pois bem :-- replicou Poüssin, epl tom:sel:lo ;:; sq pela
minha glória futura,; se; .p4m.nlc tomar: uh grande pintor, íõõn
pelo inQ.dp.çoÚ que .êle..mPyerÊ b trinco.
..- Que tens? . ::-: perguntou-lhe. 'i'"! &=%.':i: ;":"., ':..,«&-''« '.b: +-%h; p'í'4:
:..É.!=$'iàlÍ.,!iqã ,i:;HoduP;li,='TW; =% tamente que eu não',iria.
'4
E S T U D O S '.' É l L O SÓFICOS A } OBRA-PRIMA IGNORADA 405
11
Poussln inclinou ã .cabeça sõbfe o peito, comàl 'um homem .qtê Ç
:üi:etlíi::
QueFésagora'gUeeu
:'o-r'. '::- . " '' . ..:
UÜiÇé 1'%:i#:gFMg
. . -.".' -.':.-".',.
subméta meu íd61i).jjàs;lriaél 'hithdas é~;.às L.,
eu serei mais íel;z,ttalvez,..do que se tui-.
2.- Pérten<(i-higj.ãcás(i,quando me falas assim-? Oh! não, não
Ébu senãoLuma ci'lança: ! .'?;Vamos :--- acresceütoii, parecendo fazer
críticas estúpidas doÊ imbecis? Ah ! o :amar ;ii.;tlM Mistério), $ue. go umrlesfâtçn Violento :-' ê tlósso.amor morrer ei'se puser noj'.úeu
teh vida no fundo dosJcoíações, ;e tudo êste perdida?l qüandol.üm coração iim infitidável$artependiinento, , não será '+üa celebridade b
homem diz, nlcsihb .ao seio amig(i : . .I'A} está..à qlulherl áue aúó !" preço da 'minha .óí)ediência àos teus desejos?i. Entremos, será ainda
O zinciãó parecia . têr remoçado'; seus :olholi: . tina?lh .brilho;, e viver o esgarÉemprncomo uma récordpçãonatua paleta.
tinham vida ; aias faces pálidas, .esta:vam matizad?ê,.aç liitn v.ermelho Ad abriram a porta .da casa;o$ dais amantes:seênconttai'am
vivo, e suas.mãos tremiam." Porbus:,.espantado;
J:omJ.q Violência com, Porbusl o' qual;.gUtpreendido pêra beleza de Gillette, cujos. olhos
apaixonada cõw que' aquelas palavras' {büa. prof.çr.idaêr{.nãosabia estavam naquela moãtento rasos de lágrimas, segurou-a tôda trêNtila
o qm respondera üm.sentimentotão novo'comoproftindd' : ii'] mh& e; leváhda;ã :àntê oi;ancião, digne-lhe :
fer estava 'iió uso éía:+azãol ou louco.?K' Estaria êle:stlbjugado. por .uma
l-z veja, não Vale ela tôdas ãs obras-primas.l do Mundo ?
fantasia de artista, ou as idéias que êle êxprimirá: procederias dêsse Ft'enhófef; estremeceu. .' Gillette ali estava na ;atitude ingênua' e
smKular fan'atíslno :qüé lse' produz 'êm nós'.pela 'criação llábdtiosâ de simples : tlê ..üma jõirem àeotkiana inocente e medrosa; "raptada par
lll;='eraÀde obra?;.ll'Poder-Fe-ia-éspérat' transigir ttní diá '.êom'..'aquela bandidõÉ'ê apresentadaa;'algum úetcadór de escravos:j':Um ptidico
paixão estranha? rubor (Ídravaseü tóstd:; elã baixava"osolllosl âs tnãos pendiam:aos
Empolgado por todos êsses pénsamentoÉ: Porbug disso Qb;adeja(Z.: ladosj as fõfçás..parediâmabandona-la,e lágrimas protestavam contra
--: Mas não é umas mulher. por otxtrã mulher? f.jlião .ehtréga â viólêncla'feita ão seu pudor, }l Nesse momento, Poussin; -desesi)etado
Poussin sua.andante'àos olhares da:.senhor:?l por ter tirado do bótãó:aquêlebelo:tesouro,amaldiçoou-sea si próprio.
--:: Que amante? :---; respondeu.Frenho.íçr! í-+ ;Cedo .ou tardo cla Tornou-se mais amante do que artista,e mil escrúputo$torturaramilhe
p.traíra:i; A minha me será sempre .fiel ! o lcaraç4d qtzandd Viu os ôlho! rejuvenescidos do ancião, õ qual, por
üm üábitü :de ' bütüri despiu, par. àssint dizer, aquela moça; adivi-
ceifa nota: 34 de : # )PTZf ,;àr : OHagro
16)$ Carreggio
7
t A OBRA-pRIÀ{A-:IGNORADA 409
E ST.'U'D O S/ FIL O S.õ F'].C O S
'.*.
na sua tela! -.: exclamou Poussini
, rl;il:.=: Nada na minha telalÍj-= disso Ftenhofer, olhando alternad-
yamente os .dois':pintores e sêü. pretenso:'.quadro.
Que fêz você1-..: disse Porbus em voz baixa a Poussin.
iàZãi:K: ai;,exüs8'W
Ó' Velho segurou cona fõfçal;o .braço do rapaz e disse-lhe:
-.:-.Nada .]vês, labrego ! tratante ! patife ! desavergonhado l '.-;l:'au
que poisÉsubiste aqui? ' Meü bom.- Porbus.: disw êle virando-se
: Êl:1%:':='J==.='=;',.iü':*-««*.: I'.
l preciso íél {é. viyét .multo tempo coM .p:opria.ot)ra
e. a
Porbus. indeciso, não sê atreveu a. falar ; mas a ansiedadepin-
tada na fisionomia lívida do anciãoera tão cruel, que êle apontou
para a tela, dizendo:
--- ;v eja !
Frenhofer contenlploLt seu quadro um instante e cambaleo.u:
=.. Nada !!nada ! Z E 'têr' trabalhado dez anos!.
Sentou-se;le chorou.
-: .Sou pois um; imbecil,3jumlouco! nãa-tenho nem talento,
Qemcapacidade! Não sou senão~ um honacü rico que,-ao caminhar,
nada mais faz dó qlie caminhar! .l Não terei; pois,-.produzido nada!
Contenlplóu a tela .através dê.:suas lágrimas, .ergueu-se sübita-
naentccom orgulho, e lançou aos dois pintores' uln olhar fulgurante:
Pelo sanÉuc, pelo corpo, .pela cabeça: de Cristo.l :vocês são
uns ;nvejosos quem?melqberem .paper ;.crer que ela está estragada,
ma çóubarem ! :;:'Eu vejo-a! -- gritou,q --- ela é maravilhosa-
mente bela'. ;
longe êle desaparece..'Vejam! âlii.creio,' êle: é béh visív'el:.. i Naquele,:momento . Poussiit . ouviu b; pranto de Gillette, es(lua-
Cida num canto.
de:cõr clara.
Porbus batêtí no 'otnb'ro: .do anciãói vitaüdo-ge para .Pou$siü :
-= Que te«s, meu ,.«jo? perguntou-lhe a pintor, vaJtando
a gcr:uln apaixona(to
-- Sal)e qúe vemos nêle um bem grande pintor? -=- ai#bé: n
29
E s 'r u 1) 0 s ;': F l L o s 6 ricos
clip ::'ZC Inata-mel' .=: disse ela: ;--.k Eu .seria tÍÚa in game1:sei te
amasseainda, ue=ie despre/o-'l
l 'Admiro-te, e'-.i'lied causas
hurronJ 4 ARIA-te,.' ê; tremo que' já 'té odeio !
Enquanto: Poussin ouvia Gillette,'l;tenhofer: cobria sua -Cala-
ra'rnaç:com. uma: sarja.:verde, :com 'a séria tranqüiljdade; de um joa-
lheiro;:que ;'fechasse : suas gavetas .ao julga!:se ..na :companllia, de
hább'íé' }ladrõesi .':'DirigjÚ aos :dois bintorês túil ólhâr :pro.fundamente
diibiilittlado.'.'rêjileto de deslirêio':é. deXdescon
fiança, põ=los-silenció-
saliientefora de sua oficina.' comi;tunapresteza.convulsiva;depois,
à; poria kle ..$ua.!casal.disse:lhes :
-- .Adeus, meus amiguinhos.
Êsse À(leus . gelouí.os=dóis pintores;=j- No . ,4i! seguinte,. Porbus
i;quieto.. voltou . para .yet . l?.(enhoíeF, .e soube .quem êle'TlhorreFaçs à GÀMBARÀ'
Evite?:del#js de \eríquêinlado suas,telas.
Paria. janeiro.11;'!1832.
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Tradução de Vidas de. Oliveira
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