Volume I PDF
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1ª edição
Florianópolis
UFSC / LABSOLAR
Agosto de 2019
Dedicatórias
No plano acadêmico, o autor dedica este livro a seu ilustre ex-professor e ex-orientador
da COPPE/UFRJ, Dr. Affonso Carlos Seabra da Silva Telles, com o qual conviveu e
muito aprendeu sobre os fundamentos da termodinâmica clássica, quando aluno de
mestrado e doutorado, naqueles anos de singular florescimento da pesquisa de ciências
de engenharia naquela instituição.
O autor dedica este livro também a seu colega Prof. Dr. Manfred Groll, que quando
professor do IKE / Universidade de Stuttgart, colaborou ativamente em projeto de
cooperação internacional apoiado pelo então BMFT - Ministério de Ciência e
Tecnologia da Alemanha e pelo CNPq, do qual resultou a implementação do
Laboratório de Tubos de Calor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC.
No plano familiar, o autor oferece seu trabalho, com afeto, a sua dedicada e laboriosa
esposa Maria da Graça D'Ávila Colle e a seus pais (in memorian), José Colle, um
criativo inventor empírico e Angelina Scotti Colle, incentivadora na educação e
inabalável em sua fé cristã.
Agradecimentos
O autor externa também seu grato reconhecimento pelo apoio prestado pelo CNPq no
período de elaboração deste livro, durante o qual o autor foi bolsista na categoria 1A.
Prefácio do autor
A maioria dos professores que por muito tempo lecionam uma disciplina na universidade,
condensa suas notas de aula em um livro. Não poderia ser diferente para um professor de
termodinâmica. Por essa razão, existem muitos textos publicados nessa disciplina, cujo
conteúdo aborda os fundamentos e aplicações à engenharia. Em se tratando de livros-texto
de engenharia, a maioria dos mesmos é normalmente voltada para aplicações, com ênfase
em exemplos e exercícios numéricos, razão pela qual o rigor formal é relegado a segundo
plano, em benefício de uma teoria mais voltada para a solução imediata de problemas, diga-
se de passagem, geralmente elementares. Esse texto é mais voltado a apresentação de um
formalismo amparado nos fundamentos matemáticos da termodinâmica.
A termodinâmica é o ramo da ciência que nos mostra de forma mais contundente e lógica,
o significado de uma teoria baseada em campos descritos por funções escalares e vetoriais,
sobretudo no tocante a existência de relações formais entre as variáveis dependentes e
independentes, necessárias para descrever estados de equilíbrio ou processos. A propósito,
E. F. Obert em seu clássico texto intitulado “Concepts of Thermodynamics”, endereça seu
prefácio com a frase “Dedicated to the perplexed student who inquires: What are the
independent variables?”. Sua dedicatória é, pois, muito pertinente. Alunos de física e
engenharia que cursaram o cálculo infinitesimal, via de regra, não compreendem o real
significado matemático das funções de várias variáveis e menos ainda o significado físico
que estas funções e suas derivadas parciais possam ter. Bem por essa razão, nesse texto
procura-se enfatizar a teoria funcional que fundamenta a termodinâmica clássica, à luz da
teoria de funções de várias variáveis, razão pela qual notas de cálculo são agregadas em
apêndice. A termodinâmica, como o leitor verificará, é a ciência que estabelece correlações
analíticas não-triviais entre derivadas parciais, as quais estabelecem relações diretas entre
fenômenos aparentemente independentes.
O livro é dividido em seis volumes, um dos quais contendo dois apêndices. O volume I
contempla o equilíbrio térmico, os fundamentos da temperatura e a teoria de equações de
estado. O volume II contempla os fundamentos da existência de energia interna e os
desdobramentos formais desta sobre a Primeira Lei da Termodinâmica e as propriedades
termodinâmicas. O volume III contempla os fundamentos da Segunda Lei da
Termodinâmica traduzidos em termos da função entropia e seus desdobramentos sobre os
limites de conversão da energia térmica para outras formas de energia. Esse volume
contempla também a Terceira Lei da Termodinâmica e suas implicações no zero absoluto
além do que, uma introdução ilustrativa da termodinâmica estatística. O volume IV
contempla a Primeira e a Segunda Leis para sistemas abertos, com ênfase no teorema de
Gouy-Stodola e sua aplicação em exemplos analíticos ilustrativos. O volume V é dedicado a
dinâmica de gases, com ênfase ao formalismo termodinâmico da teoria de choque normal.
Nesse volume, o formalismo termodinâmico desenvolvido por Landau&Lifshitz para o
escoamento de Fanno, em seu clássico texto Fluid Mechanics (1959), é estendido para o
escoamento de Rayleigh através de um teorema formulado pelo autor a partir do qual,
desigualdades intrínsecas a Segunda Lei são derivadas, independentemente das
desigualdades da Segunda Lei formuladas por esses autores com base na adiabática de
Hugoniot.
Durante a elaboração deste livro, o autor contou com o valioso trabalho de Rosângela Avi
de Sousa e Carolina Maria Coelho, no tocante a tarefa de digitação do texto e sua
organização, bem como de elaboração das figuras ilustrativas. O autor contou com a
valiosa colaboração dos bolsistas de graduação Vinicius Kramer Scariot e Luiz Henrique
Silva Junior pelo paciente e abnegado trabalho de revisão da redação dos volumes e dados
dos exercícios respectivos. No tocante a programação e computação dos exemplos
analíticos ilustrativos no ambiente do software EES, o autor contou com a inestimável
colaboração do doutorando e mestre Eng. José Miguel Cardemil Iglesias, do mestre e
doutorando Allan Ricardo Starke, dos bolsistas de graduação Gustavo M. Hobold,
Guilherme de Lima Gonçalves, André de Carvalho, Sérgio Fernando Hess de Souza Filho,
Alexandre Magno Bernardo Fontoura e do mestre Eng. Marcelo Wendel. Por fim, o autor
agradece, em particular, aos colegas do Departamento de Engenharia Mecânica, Prof. Júlio
César Passos e Prof. António Fábio Carvalho da Silva pelos comentários construtivos.
ÍNDICE
A termodinâmica é o campo do conhecimento das ciências naturais que estuda a relação entre as
formas de energia existentes no universo, suas leis de conversão, bem como os limites de
conversibilidade de uma forma de energia para outra. A mecânica clássica, como sabemos, exclui
o interior dos corpos como objeto de investigação. Nessa mecânica, um corpo é considerado
rígido e indeformável e apenas a relação entre forças e movimentos decorrentes é considerada.
Na termodinâmica, diferentemente, o efeito da energia interna dos corpos na análise dos
fenômenos físicos e principalmente químicos é tão importante quanto os efeitos da energia
cinética e potencial considerados na mecânica clássica.
O reconhecimento da ciência pelas sociedades civilizadas foi decorrente de seu sucesso. Como
tal, também foi o sucesso da termodinâmica, reconhecida, sobretudo depois que alguns inventos
trouxeram à tona o significado e o impacto prático da energia do vapor. A invenção da máquina a
vapor por James Watt1, no contexto de um projeto financiado inicialmente pelo Dr. Roebuck e
mais tarde por Mathew Boulton, projetou as ciências térmicas como ramo promissor da
engenharia. A invenção do ciclo de refrigeração por compressão química de solução de água e
amônia e do ciclo por compressão mecânica de vapores, viabilizou a tecnologia da refrigeração e
sua disseminação em larga escala, tanto na modalidade de instalações fixas quanto móveis. Esses
inventos possibilitaram a produção em escala na agroindústria, produção de bens de consumo e
equipamentos, abrindo perspectivas para um rápido e robusto desenvolvimento econômico,
figurando Liverpool na Inglaterra como o epicentro de uma grande transformação que se
denominou de revolução industrial. A tecnologia de refrigeração foi a causa principal da
transformação ocorrida na agroindústria, o que beneficiou a expansão dos centros urbanos
industrializados. A invenção dos ciclos de combustão interna Otto (movido à gasolina) e Diesel2
na Alemanha, ao final do século XIX, viabilizou o desenvolvimento dos sistemas de transporte
motorizados, que, paralelamente ao uso de máquinas à vapor na inovação ferroviária de então e
na navegação, supriram os meios mecânicos de transporte, indispensáveis à expansão das
economias industrializadas. Os sistemas de propulsão da aviação, em particular a turbina de jato,
são notáveis invenções termodinâmicas, cujo desenvolvimento atual ainda nos surpreende. Os
avanços da termodinâmica produzem desdobramentos visíveis no cotidiano, de fornos de micro-
1
James Watt (1736-1819) – Inventor escocês de sólida formação técnica que aperfeiçoou a máquina a vapor,
invenção tecnológica considerada fundamental para a Revolução Industrial.
2
Rudolf Diesel (1858 – 1913) – Engenheiro mecânico alemão, inventor do primeiro motor de explosão,
originalmente projetado para operar com óleo vegetal. Sua invenção foi particularmente significativa para a indústria,
transporte ferroviário e naval, sobretudo como advento do óleo combustível, subproduto de refino de petróleo,
denominado em sua honra de óleo Diesel.
2
Quando Isaac Newton publicou seus Principia, pensava-se que a teoria mecânica do mundo havia
sido consumada. Segundo essa mecânica, supostamente, os planetas têm orbitas estáveis e
eternamente imutáveis. Em outras palavras, era considerada verdadeira a afirmação de que o que
presentemente é, sempre foi e sempre será imutável. Decorre dessa mecânica que não poderia ter
havido criação e, portanto, um criador ou até mesmo um estado inicial do universo, o que
contraria a lógica filosófica e inclusive a própria Bíblia, a qual sustenta consistentemente, ter sido
o mundo criado em estágios organizados a partir de um suposto projeto. Quando a
termodinâmica estabeleceu as bases teóricas para compreender as estrelas e, portanto antever seu
destino, a mecânica celeste de Newton provou-se incompleta. Uma concepção válida do mundo,
presentemente não pode descartar a hipótese de o estado atual do universo ser o resultado de
uma seqüência de crises, caos e organização, da qual resultou nosso planeta, nossas vidas e
supostamente nossa própria capacidade de indagar sobre nossa origem e destino. Presentemente,
tudo se passa como se a nós fosse revelada uma linguagem universal com a qual dialogamos com
a natureza, racionalmente, na esperança de que este mundo venha a ser para a humanidade, mais
conhecido e ao mesmo tempo, menos aflitivo. Aprendemos também que neste mundo não há
movimento sem causa, não há possibilidade de vida sem dissipação de energia e que todos os
processos têm como causa uma transferência de energia associada a perdas irreversíveis. Essa
irreversibilidade será estudada, muito embora limitadamente, no escopo dos volumes
subsequentes ao presente.
O estudo da termodinâmica pode ser conduzido segundo dois pontos de vista de abordagem, a
saber, os pontos de vista micro e macroscópico.
O ponto de vista macroscópico, por outro lado, prescinde de uma teoria microscópica. Uma
teoria macroscópica, por conseguinte não muda, mesmo que as teorias microscópicas sejam
mudadas ou até mesmo rejeitadas. A descrição macroscópica pode ser formulada em termos de
poucos parâmetros, os quais são sugeridos diretamente por nosso senso de percepção. Esses
parâmetros podem ser medidos diretamente. Exemplos de tais parâmetros são o volume, a
temperatura ordinária, a pressão e o número de mols dos elementos constituintes da matéria
estudada.
5
F. W. Sears, An Introduction to Thermodynamics, the Kinetic Theory of Gases, and Statistical Mechanics, Addison-Weley
Publishing Company, 1952.
5
O conhecimento de uma função derivada de uma teoria microscópica pode resultar numa
significativa redução de trabalho experimental. Um exemplo numérico simples pode ilustrar o
que foi afirmado. Com efeito, imagine-se o caso de determinar uma função para o calor
específico molar à volume constante de sólidos cristalinamente puros, cv , dependente da
cv ( X ) / R a1 a2 X a3 X 2 a4 X 3 a5 X 4
de modo que este reproduza exatamente o valor numérico do calor específico. A equação
precedente ajustada aos pontos dados nos dá as equações que seguem,
cv ( X j ) / R a1 a2 X j a3 X 2j a4 X 3j a5 X 4j ; j 1,2 ,..,5
na qual X j ; j 1,2 ,..,5 representa a variável independente tabelada. Obtém-se desse modo um
sistema de equações algébricas, constituído de tantas equações quantos forem os dados utilizados,
cujas incógnitas são os coeficientes numéricos. A curva do polinômio ajustado passa
obrigatoriamente pelos pontos dados. A figura 1.1 ilustra três ajustes polinomiais. O primeiro
polinômio, do terceiro grau, cuja curva correspondente é tracejada, foi ajustado nos pontos 0,0,
0,2, 0,4 e 0,6 e o segundo, também do terceiro grau, cuja curva correspondente é traço-
6
Max Planck (1888 – 1947) – Físico alemão, considerado o pai da mecânica quântica e um dos físicos mais
importantes do século XX. Recebeu o prêmio Nobel de Física em 1918, por suas contribuições a teoria da radiação
de corpo negro.
7 Ludwig Boltzmann (1844 – 1906) – Físico austríaco que notabilizou-se por seus trabalhos pioneiros no campo da
termodinâmica estatística.
6
pontilhada, foi ajustado para os pontos 0,0, 0,2, 0,6 e 0,8. O terceiro polinômio, representado pela
curva pontilhada, desta vez do quarto grau, foi ajustado em todos os pontos dados. A curva
representada pela linha contínua corresponde a função,
cv / R 3 exp( 1 / X ) / X 2 exp( 1 / X ) 1
2
que foi obtida por Einstein8, utilizando uma teoria da termodinâmica estatística de sua autoria3.
Essa correlação foi corroborada experimentalmente. Observa-se na figura, que os polinômios
apresentam considerável discrepância a partir de X 0,6 , não refletindo, portanto, o
comportamento assintótico do calor específico. Pode-se mostrar que mesmo que o número de
pontos experimentais seja aumentado, tais discrepâncias vão prevalecer para valores de X
relativamente elevados.
X cv / R
0,0 0,0000
0,2 0,5122
0,4 1,8267
0,6 2,3923
0,8 2,6381
Fig. 1.1 – Dados experimentais do calor específico de um sólido como função da temperatura e
curvas de ajuste polinomial de terceiro e quarto graus. A curva de linha contínua representa a
correlação de Einstein.
O alcance da termodinâmica estatística é muito maior que aquele sugerido no singelo exemplo
numérico dado. O físico J. C. Maxwell9, por exemplo, utilizando a teoria cinética dos gases ideais,
desenvolveu uma função de distribuição de velocidades moleculares da qual resultou a equação
8
Albert Einstein (1879 – 1955) – Físico teórico alemão, notabilizado por seus trabalhos sobre a teoria da relatividade
restrita e geral, efeito fotoelétrico e a teoria do calor específico dos sólidos. Recebeu o prêmio Nobel de Física em
1921.
9 James Clerk Maxwell (1831 – 1879) – Físico-matemático britânico, nascido em Edimburgo, Escócia. É considerado
como um dos maiores cientistas da humanidade. Notabilizou-se em várias áreas do conhecimento científico,
particularmente por seus trabalhos sobre a unificação da teoria eletro-magnética e a teoria cinética dos gases. Seus
trabalhos tiveram desdobramentos na teoria da relatividade restrita e no desenvolvimento da mecânica quântica.
7
A organização da teoria da termodinâmica, tal qual uma teoria física, requer a definição de
sistema. Um sistema é definido como uma porção do espaço sujeita a observação ou análise
termodinâmica.
O pistão que pode ter movimento de translação, do que resulta deformação normal ou rotação,
neste caso, resultando deformação tangencial ou cisalhante. A fronteira é indicada pela linha
interrompida.
Exemplo 1.5.3.: Seringa de injeção com fronteira constituída de superfícies reais e virtuais.
Neste exemplo tem-se uma confluência decorrente da redução da área da seção transversal. O
fluido é impelido pelo pistão cuja velocidade é V1 e sai deste com velocidade V2 maior que V1 .
Um sistema desse tipo é também denominado de volume de controle e sua fronteira, real ou virtual,
de superfície de controle.
A fronteira de um sistema fechado ou aberto é definida em função dos parâmetros que se deseje
determinar. Em princípio, a extensão do volume ocupado pelo sistema, tanto quanto a geometria
de sua fronteira, podem ser arbitrariamente escolhidas, todavia sem perder de vista os objetivos
da análise e as incógnitas do problema termodinâmico. Fronteiras demasiadamente amplas
podem reduzir o foco do problema, enquanto que fronteiras demasiadamente reduzidas podem
resultar na exclusão de informações indispensáveis para a solução do problema.
um estado além do qual, não é mais possível através de observações macroscópicas, detectar
qualquer evolução a partir deste estado. Por exemplo, um copo contendo gelo e água, posto num
ambiente de temperatura constante, depois de um intervalo de tempo suficientemente longo,
atingirá o mesmo estado de equilíbrio de outro copo com água quente, proveniente de um forno.
Outro exemplo é o caso de um cilindro contendo ar quente, confinado por um pistão sobre o
qual repousam pesos fixos. O ar tenderá ao equilíbrio, desde que as condições exteriores ao
sistema não mudem. Sistemas multicomponentes, contendo números de mols N1 , N 2 ,..., N r de
seus componentes químicos constituintes, igualmente tendem ao equilíbrio.
definida no espaço dos números reais R 2 . Sejam dois pontos especificados pelas coordenadas
(0,0) e (1,1) . A diferencial é claramente exata, pois ela é a diferencial da função ( x 2 y 2 ) / 2 . A
integral dessa diferencial nos dá,
(1,1)
(1,1) x2 y 2
(0,0) x dx y dy
2
1
(0,0)
1 1
(1,1) (1, 0 ) (1,1) x2 y2
(0,0) ( x dx xy dy ) (0,0) ( x dx xy dy ) y 0
(1,0) ( x dx xy dy ) x 1
2 0 2
1
0
1
(1,1) 1 x 2 x3 1 1
(0,0) 0
2
( x dx xy dy ) ( x dx x dx )
2 3 0 2 3
Como pode ser verificado, à cada caminho de integração, corresponde um resultado numérico
diferente. Essa última integral é, portanto, dependente do caminho. Recorde-se do cálculo
infinitesimal, que a toda função F ( x , y ) está associada uma diferencial exata e vice-versa e que, a
condição necessária e suficiente para que uma forma diferencial X dx Y dy seja exata é que
X Y F F
e, portanto, X e Y . Para o primeiro exemplo dado, X x e Y y , a
y x x y
X x Y y
condição é satisfeita, uma vez que 0 e 0 . Nos segundo exemplo, X x
y y x x
X x Y xy
e Y xy , de onde 0 e y , de modo que a condição não é satisfeita. O
y y x x
leitor deve ter aprendido do cálculo infinitesimal, que uma forma diferencial pode não ser exata e,
no entanto ser integrável. Se for integrável, ela admite um fator de integração ( x , y ) , de modo
que a forma diferencial ( X dx Y dy ) torna-se exata. Nesse caso, a função deve satisfazer a
( X ) ( Y )
equação , a partir da qual, como pode ser verificado, resulta a seguinte equação
y x
diferencial parcial em termos do fator de integração ,
Y X
X Y
y x x y
recozimento). Dependendo da maneira segundo a qual o fio de cobre é tratado após recozido, o
fio pode mudar suas propriedades mecânicas e tornar-se frágil. Se dobrarmos um fio recozido
várias vezes, ele pode tornar-se quebradiço. Se um fio recozido for trefilado (for estirado ao
passar por buchas de redução de diâmetro), os cristais serão alinhados desordenadamente com
preferência de orientação na direção longitudinal, resultando em um fio mais elástico. As
propriedades mecânicas dos metais, em geral, dependem da história dos processos de
beneficiamento destes. Pode-se dizer que nesse caso o metal adquire uma memória mecânica.
Os estados de equilíbrio determinados por propriedades termodinâmicas, tanto quanto estados
determinados também pela história de processos, enquadram-se na ótica científica do
determinismo10. Entretanto, mais complexos são os sistemas constituídos de matéria animada.
Esses sistemas não são caracterizados somente pelas propriedades termodinâmicas correntes. É
reconhecido na biologia molecular que todo ser animado é dotado de um projeto. A única
exceção fora da matéria animada cabe aos cristais puros. Esse projeto tem a propriedade
intrínseca de preservar a estrutura viva, através de suas performances, de sorte a transmitir a seu
sucessor todas as características do projeto. Essa propriedade denomina-se teleonomia11. O nível
teleonômico de uma espécie dada corresponde à quantidade de informação que deve ser
transferida, por indivíduo, em média, para assegurar à geração seguinte o conteúdo específico de
invariância reprodutiva. Resulta dessa propriedade, que a matéria animada não pode atingir o
equilíbrio no sentido termodinâmico através de processos governados somente por propriedades
termodinâmicas macroscópicas (se é que pode através de quaisquer outros fatores de natureza
físico-química ou biológica!), mesmo porque a matéria animada é cognitiva e, por conseguinte, é
capaz de alterar os resultados do processo, se este não for aquele que favorecer a propriedade de
invariância reprodutiva. Da capacidade de mudar processos, resultam maiores chances de
sobreviver e legar ao sucessor as características para agregar longevidade ao projeto, num mundo
competitivo e em permanente transformação. Afirmar que seres animados possam coexistir em
algum tipo de estado de equilíbrio, de molde termodinâmico, determinado por parâmetros físicos,
químicos, biológicos e sócio-econômicos (no caso dos seres humanos) é, por conseguinte, ser
incoerente. Nesse contexto, o homem, como portador do projeto de maior complexidade entre
todos os seres vivos, que lhe agrega o atributo único de observador científico do mundo, ao
estudar a si próprio através de sua própria ciência, não pode ser enquadrado simplesmente como
10 Determinismo é a doutrina que afirma ser todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas,
causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio, logo, destituído de liberdade total
de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte. Existe liberdade , mas esta liberdade é condicionada a
natureza do evento em um determinado instante. A mecânica newtoniana, por exemplo, é uma ciência
determinística.
11
Ao leitor interessado é sugerida a leitura da obra científica “O acaso e a necessidade”, de Jacques Monod, Ed.
Vozes, Petrópolis, 2006.
14
Uma propriedade específica é definida como a razão entre uma propriedade extensiva e a massa
associada a esta. Por exemplo, o volume específico de um sistema homogêneo, definido por
v V / m 1 / é uma propriedade específica. Conclui-se portanto que uma propriedade
específica é necessariamente intensiva. A recíproca não é verdadeira. É o caso, por exemplo, da
temperatura empírica ou ordinária. Num sistema termodinâmico não-homogêneo, a massa, bem
como as propriedades termodinâmicas intensivas não são uniformemente distribuídas ao longo
do espaço ocupado pelo sistema. A cada volume finito V está associada uma massa
proporcional, m . Define-se o volume específico médio por vm V / m . Seja xˆ ( x1 , x2 , x3 ) um
ponto interior ao volume V . Podemos ter inúmeros volumes médios de sistemas contendo o
ponto x̂ . O volume específico local ou pontual é definido pelo limite v( xˆ ) lim V / m .
m0
12
A tragédia humana decorrente do marxismo foi precisamente o resultado da imposição de uma doutrina política
assentada na crença em uma teoria filosófica de molde newtoniano e, portanto determinística, considerada como
válida para interpretar cientificamente a história. Tal imposição desconsiderou a existência do projeto teleonômico
humano, cuja arquitetura única, provou-se capaz de sintetizar crenças religiosas, racionalizar filosofias e produzir arte
e ciência, como meios de suporte para compreender a vida. A negação da verdadeira natureza humana e a exclusão
da moral como atributo humano pelos sistemas de governos marxistas, resultou no extermínio de milhões de seres
humanos, sobretudo no leste europeu e na Ásia.
15
posição em relação ao plano do Equador e para cada altitude dada. Para dois pontos x̂1 e x̂2
distintos e para um mesmo valor numérico do tempo t , em geral ( xˆ1 , t ) é diferente de
( xˆ2 , t ) . A figura 1.6 ilustra diferentes histórias de ( xˆ , t ) . Na figura, x̂2 corresponde a maior
altitude que x̂1 , razão de a massa específica ( xˆ2 , t ) ser menor que ( x̂ 1 ,t ) .
x2 y 2
( x, y, t ) o 1 (1 e t / to ) / 2
9 4
onde to é uma constante positiva cuja dimensão física é a mesma do tempo. Para t 0 resulta,
x2 y 2
( x , y ,0 ) o 1
9 4
zero, pode-se verificar que é maior que o . Curvas para constante maior que o são
x2 y2 x2 y2
representadas pela equação / o 1 C 2 ou equivalentemente 2 2 1 , onde
9 4 a b
17
x2 y2
( x, y, ) ( x, y ) o 1 / 2
9 4
x2 y2
2 / o 1 C2
9 4
Nesse caso, para todo valor numérico de constante e maior que o / 2 , é fácil de verificar que
resultam também elipses com eixo maior a 3C e eixo menor b 2C . Para t 0 qualquer,
pode-se escrever,
x2 y2
2 / o (1 e t / to ) 1 Ct2
9 4
anterior, resultam elipses, neste caso, com a 3Ct e b 2Ct . Sugere-se ao leitor que elabore um
programa computacional e construa gráficos para visualizar o comportamento das curvas de
constante, para cada valor numérico do tempo.
Para um sistema não-homogêneo, pode-se escrever dm dV , o que não significa, como já foi
observado, que seja uma derivada. Um exemplo ilustrativo de sistema não-homogêneo é o
caso da atmosfera terrestre, cuja massa específica do ar seja supostamente governada por uma
equação do tipo o e ( r ro ) , onde ro é o raio da superfície da terra e é uma constante que
tem a dimensão física do inverso do comprimento. A massa elementar contida numa casca
esférica de espessura dr , cujo volume elementar é dV 4 r 2 dr , é, portanto, dm 4 r 2 dr .
Segue-se que,
dm 4 o e ro e r r 2 dr
Por outro lado, é sabido que a espessura da camada de ar na atmosfera é de ordem de 30km.
Como praticamente não existe ar para r ro 30km , a integral de m pode ser aproximada com
precisão pela equação,
18
m dm 4 o e ro e r r 2 dr
ro ro
Essa integral converge e seu resultado, obtido através da regra de integração por partes, pode ser
expresso pela equação m 4 o (ro2 / 2ro / 2 2 / 3 ) .
A definição de processo quase-estático não pode ser utilizada para investigar cientificamente o
comportamento de uma população de humanos sujeita a uma perturbação, mesmo no contexto
de uma termodinâmica generalizada. Com efeito, teríamos que definir primeiramente um tempo
de relaxação associado aos parâmetros de estado considerados relevantes na investigação. E o
que seria o tempo de relaxação de um sistema constituído de uma população humana, se
indivíduos do grupo resolvessem discutir, num ambiente de liberdade, o alcance e o impacto das
próprias variáveis de perturbação de suas vidas, no contexto da investigação em curso?13
13
Para avaliar estados de populações humanas, por exemplo, seria necessário haver um nivelamento de conteúdo de
conhecimento individual das informações, condição fundamental para que, por meio de plebiscitos, se obtenha uma
resposta objetiva e estatisticamente válida. Todavia, tal nivelamento, sobretudo quando se trata de questões de
natureza política, filosófica e religiosa, se afigura impossível, até porque indivíduos diferenciam-se uns dos outros,
quanto a capacidade de cognição, de iniciativa e da própria educação. Por essas razões, o plebiscito não deve ser
aceito como método científico ou como procedimento válido de consulta e menos ainda, de investigação, no tocante
a questões que exijam conhecimento especializado, até mesmo para entender estas.
20
1kmol de O2, ou seja, 32kg. Claro está que v ( 1 / 32 )m3 / kg e o volume molar é
r r
m mj N jM j
j 1 j 1
x1 x2 ... xr 1 , de onde se conclui que as frações molares não são independentes. A fração
mássica é analogamente definida por w j m j / m . Segue-se também que w1 w2 ... wr 1 .
As frações molares e mássicas são relacionadas. Com efeito,
r r
w j m j / m m j / mk N j M j / N k M k
k 1 k 1
r
w j ( N j / N )M j / ( N k / N )M k
k 1
r
w j M j x j / M k xk
k 1
Analogamente tem-se,
r r
x j N j / N N j / N k (m j / M j ) / mk / M k
k 1 k 1
r
x j ( w j / M j ) / wk / M k
k 1
nos permite distiguir contundentemente as bases molar e mássica é o caso de uma solução
orgânica contendo um solvente (2) com M 2 100 e um soluto (1) com M 1 10.000 . Mols da
ordem de 10.000 são até moderados para o caso de polímeros. Supondo-se w1 0,5 resulta
w2 1 w1 0,5 e x1 (0,5 / 10.000) /(0,5 / 10.000 0,5 / 100) 0 ;
x2 ( 0,5 / 100 ) /( 0,5 / 10.000 0,5 / 100 ) 1 . Esses resultados nos mostram que mesmo para
uma proporção de 50% de cada componente, a fração molar de (2) é aproximadamente 100%.
Como M 2 é muito menor que M 1 , para a mesma quantidade de massa de (1) e (2), caberão
muito mais unidades molares do componente (2) na massa, que unidades molares de (1). Esse
exemplo numérico ilustra um caso prático em que a fração mássica mostra-se mais adequada que
a fração molar ao expressar-se numericamente a proporção de soluto e solvente. Essa é a razão
pela qual na termodinâmica de soluções poliméricas adota-se a base mássica, muito embora a
termoquímica, compreensivelmente, adote a base molar na análise estequiométrica.
Na figura 1.7 (a), ilustrando o caso de apenas uma dimensão, a unidade de p é igual a unidade de
força por unidade de comprimento. Cada força resultante é numericamente igual a área de um
retângulo elementar. Na figura 1.7 (b) é mostrado como uma força distribuída pode ser reduzida
a uma força concentrada de igual resultante. Se P for uma força uniformemente distribuída e
centrada em xo , então essa força é expressa por P px , onde p representa à altura de um
retângulo de área numericamente igual a P e x o comprimento de sua base. Quanto menor for
x para P fixa, maior será p e mais concentrada será a força centrada em xo . A mesma
definição é válida para o caso de uma força distribuída numa área A . À toda distribuição de
força P corresponde uma função densidade de força p , tal que p lim P / A , ou seja,
A 0
ilustrativo, é o caso da distribuição de força variável com x e uniforme com y , expressa por
b b
P p( x , y )dx dy gh e x dx dy g hb e x dx g hb /
0 0 0 0 0
Observe-se que g hb / tem a dimensão física de força, pois hb / tem a dimensão física do
volume. Suponha-se que V hb / e P gV sejam conhecidos. Segue-se que P / gV .
Considerando-se h e b conhecidos, pode-se calcular da equação hb / V , onde h pode
ser interpretada como a altura, b o comprimento de um dos lados da base e a 1 / o
comprimento do outro lado da base de um paralelepípedo de volume V hb / abh .
Portanto, dados P e V , a distribuição de peso p hg e x / a é determinada. Tudo se passa
como se a massa originalmente concentrada em um paralelepípedo de volume V e peso P , fosse
distribuída na direção x , sobre uma faixa de largura b , segundo a densidade de distribuição de
peso p( x , y ) . Sugere-se ao leitor obter a expressão analítica de P , desta vez para a distribuição
23
Um outro exemplo ilustrativo é o caso de uma força distribuída governada pela equação
2
( x xo )2 / a 2
p( x , y ) g h e / , onde é uma constante real arbitrária. O leitor poderá
constatar que para cada valor numérico de especificado, a função dada representa uma curva
que lembra o perfil de um sino, simétrico em relação à xo , tal qual a curva de distribuição de
erros de Gauss. Como pode ser verificado, quanto maior for o valor numérico de mais
concentrada será a distribuição de forças na vizinhança do ponto xo . A integral de p para o caso
de intervalos finitos, pode ser obtida somente através de integração numérica. Para intervalo
infinito, o peso total distribuído na faixa de largura b e no intervalo de x , qual seja (,) , é
expresso pela integral que segue,
b b
P p( x , y )dx dy dx dy / ghb
2
( x xo )2 / a 2 2
( x xo )2 / a 2
gh e e dx /
0 0
P ghba
2
2
e d / ghba
1.6.2 - Tensão
Inicialmente vamos definir o que seja a tensão. Forças vetoriais distribuídas sobre uma superfície
resultam em tensão. Essas forças podem ser representadas geometricamente pelo que se
denomina de tubo de forças, cuja resultante é F̂ , tal como ilustrado na figura 1.8.
24
Considere-se que existe uma diferença conceitual entre um vetor força F̂ resultante das forças
distribuídas sobre a área A e um vetor de força aplicado pontualmente. O vetor unitário n̂ é
perpendicular a superfície no ponto central da superfície elementar de área A . Ele é aqui
introduzido para orientar a superfície e referenciar vetores em cada ponto desta. A resultante F̂
pode ser decomposta em duas forças ortogonais, uma tangencial, expressa por FT Fˆ sen e
outra normal, perpendicular a superfície expressa por FN F̂ cos , onde é o ângulo
formado entre o vetor n̂ e F̂ . A componente normal da força resultante corresponde a uma
pressão sobre a superfície, isto é, uma força por unidade de área que é defninida por
m FN / A , a qual é denominada de tensão de compressão média.
Se a resultante de força for de tração, m é denominada de tensão de tração média. A tensão cisalhante
definida por lim m lim FN / A e a tensão cisalhante local ou pontual é definida por
A0 A0
lim m lim FT / A . Note-se que quando A tende a zero, F̂ tende também a zero,
A0 A0
esse elemento de fluido uma força devido a sua massa, dP̂ ĝ dm , onde ĝ é a aceleração
dx p dx
p( x , y , z ) p( x , y , z )
2 x 2
dy p dy
p( x , y , z ) p( x , y , z )
2 y 2
dz p dz
p( x , y , z ) p( x , y , z )
2 z 2
Sendo a pressão p igual a uma força normal elementar dF dividida pela área elementar dA ,
resulta que dF pdA . A força elementar devida à pressão na direção de z é expressa por,
dFz pdAz p dxdy . O balanço de forças nessa direção nos dá a expressão que segue,
p( x , y , z dz / 2 ) p( x , y , z dz / 2 )dx dy g z dx dy dz 0
Substituindo-se os termos de pressão por suas respectivas expressões diferenciais precedentes
vem,
p dz p dz
p z 2 p z 2 dx dy g z dx dy dz 0
p
g z dx dy dz 0
z
p
Sendo o produto dx dy dz distinto de zero, necessariamente tem-se, g z . Fazendo-se
z
semelhantemente o balanço de forças nas direções de x e y , chega-se as equações respectivas,
p p
gx e g y . Essas três equações escalares podem ser reduzidas a equação vetorial
x y
que segue,
p gˆ (1.1)
p ˆ p ˆ p ˆ
p i j k
x y z
27
representa o campo vetorial gradiente da pressão. Do cálculo infinitesimal e vetorial pode-se escrever
a diferencial que segue,
p p p
dp dx dy dz p dxˆ
x y z
No caso particular de o eixo z ser escolhido na direção vertical à superfície terrestre resulta que,
g x g y 0 e g z g . Nesse caso, a equação (1.1) reduz-se as equações escalares
p p p
gx 0 , gy 0 e g . Como as derivadas de p relativamente a x e y
x y z
p dp
são identicamente nulas conclui-se que p p (z ) e, por conseguinte, g . A
z dz
variação da pressão correspondente a variação dz é expressa como segue,
dp
dp dz g dz
dz
p2 z2
p2 p1 dp g dz
p1 z1
p2 p1 g ( z 2 z1 ) g ( z1 z 2 )
28
dF p L dz ( po g z ) L dz
H
F ( po g z ) L dz po LH g LH 2 / 2
0
29
14
Evangelista Torricelli (1608 – 1647) – Físico matemático italiano, educado em Roma no estudo das ciências sob a
orientação do monge Benedetto Castelli. Descobriu o princípio de funcionamento do barômetro, construindo
também um barômetro de coluna de água.
30
pressão ainda adotada é o baria (bar), equivalente a 105 Pa , de modo que patm 1,01325bar .
Tubo “U”: Um tubo U é um tubo de vidro encurvado em forma da letra U, com duas colunas
longas. Tal dispositivo pode ser utilizado para medir a pressão, tanto para p patm , quanto para
a situação de vácuo. A figura 1.12(a) ilustra o tubo operando como um manômetro e a figura
1.12(b), o tubo operando como vacuômetro.
situação, proporcional a altura da coluna do lado direito. No caso (b), onde p patm ,
condições dinâmicas de operação. A teoria dos erros associada a esses instrumentos e o acervo
tecnológico respectivo é documentada pela ISO – International Organization for Standardization
(http://www.iso.org/iso/home.htm).
Segundo o que foi apresentado, o estado de equilíbrio termodinâmico requer para sua descrição,
um determinado número de parâmetros macroscópicos associados ao sistema. No caso de
sistemas cujas substâncias são susceptíveis aos efeitos do volume, da pressão e dos números de
mols N1 , N 2 ,..., N r , de seus componentes químicos constituintes, o estado de equilíbrio é
caracterizado por valores estacionários de p , V , N1 , N 2 ,..., N r , os quais são independentes do
processo segundo o qual o estado considerado é atingido. A figura 1.13 ilustra um sistema aberto
dessa natureza, particularizado para componentes químicos gasosos.
33
Para uma substância gasosa, os estados são determinados pelas pressões sobre vários pistões,
cada um dos quais acionados para injetar ou remover os gases constituintes, através de
membranas permeáveis apenas a cada gás constituinte. Um pistão impermeável é utilizado para
variar o volume do sistema, mantendo-se constante os números de mols na situação em que as
válvulas respectivas a cada componente químico são mantidas fechadas. O papel de cada pistão
associado a cada componente químico é tão somente variar o número de mols. Tal sistema está
em contato com um dispositivo térmico utilizado para variar também a temperatura.
manipuladas independentemente, sem que o estado de equilíbrio do sistema não perturbado seja
substancialmente alterado em curto lapso de tempo. A figura 1.14 ilustra o caso. Aumentando-se
p A , por exemplo, VA diminuiria sem alterar pB e VB . O mesmo ocorrerá com alteração de pB .
Uma parede adiabática é na verdade uma idealização, necessária para o desenvolvimento da
teoria.
Termostato:
Um termostato é um dispositivo que tem a propriedade de, macroscopicamente, identificar o
equilíbrio térmico. Um exemplo de termostato rudimentar pode ser construído com um bulbo de
vidro ligado a um tubo de pequeno diâmetro, tal qual um termômetro clinico, que opere com
mercúrio. Ao colocarmos o termostato em contacto com um corpo, o volume do mercúrio irá
variar sempre que o termostato não estiver em equilíbrio térmico com o corpo, acusando uma
variação conseqüente da altura da coluna de mercúrio. Supondo-se ser o termostato o sistema C ,
utilizando-se a Lei Zero da Termodinâmica é possível saber se dois sistemas A e B estão em
equilíbrio térmico. Para tanto basta por o termostato C em contacto com os sistemas A e B ,
separadamente. Se as alturas da coluna de mercúrio forem iguais, como resultado do contato do
termostato com os sistemas A e B , os sistemas estarão em equilíbrio térmico, uma vez que a
altura da coluna decorre da variação do volume do mercúrio no bulbo e este por sua vez é uma
propriedade termodinâmica extensiva associada ao sistema C . Outro termostato pode ser
construído, simplesmente conectando-se um tubo em U a um balão metálico, tal como o
manômetro mostrado na figura 1.12. Nesse caso, o equilíbrio térmico pode ser identificado,
medindo-se a altura da coluna de mercúrio do tubo em U ou a pressão através de qualquer
manômetro.
Isoterma:
A seguir vamos demonstrar a existência de um parâmetro físico macroscópico associado ao
equilíbrio térmico. Com efeito, sejam os sistemas A e B , cujos estados de equilíbrio térmico
36
sejam caracterizados pela pressão e o volume, como ilustrado na figura 1.14, todavia separados
por uma parede diatérmica e dotados externamente de parede adiabática. O equilíbrio térmico
dos sistemas pode ser identificado por um termostato.
A experiência nos mostra que para um estado (1) do sistema A , especificado pelo par ( p 1 A , V1 A ) ,
(10), existem inúmeros estados de A em equilíbrio térmico com tal estado dado, como por
exemplo, os estados (11), (12) e (13), de modo que esses estados constituem a curva 2 A , distinta
de 1A . A manipulação dos parâmetros desses sistemas, com o auxílio de um termostato, nos
permite construir experimentalmente, várias curvas representativas dos possíveis estados de
equilíbrio de A e B , tais que a cada curva da família de curvas de A corresponda uma única
curva da família de curvas de B e vice-versa.
f A ( p A , VA , A ) 0 (1.2)
f B ( pB ,VB , B ) 0 (1.3)
Entretanto, como cada isoterma da família de A corresponde uma única isoterma da família de
B , as constantes A e B devem ser correlacionadas, ou seja, A e B devem ser funções de
um parâmetro comum AB . Por conseguinte, pode-se escrever A A ( AB ) e B B ( AB ) .
Essa conclusão nos assegura a validade da propriedade simétrica (ii), uma vez que se A está em
equilíbrio térmico com B , B estará em equilíbrio térmico com A , pois cada isoterma de A e de
B estão relacionadas a um mesmo parâmetro. Do equilíbrio térmico dos sistemas A e C ,
resulta analogamente que as isotermas de C correspondentes as isotermas de A devem ser
representadas por uma função implícita da forma f C ( pC ,VC , C ) 0 e pelas mesmas razões
15
Um exemplo ilustrativo da primeira função implícita referida é x ln( y / x) 0 , para x 0 , de onde se pode
obter y e x / x . Para todo valor numérico de maior que zero resulta uma função decrescente com x
positivo. Note-se que o parâmetro não pode ser explicitado, de modo que não é possível obter uma expressão do
tipo f ( x, y ) 0 . Um exemplo ilustrativo da segunda função implícita é xy 0 .
38
f ( p, V , ( )) 0 (1.4)
construa gráficos das duas famílias de funções para o caso particular de 2 e 3 , ou seja,
significa que se possa explicitar como função de e vice-versa. Por exemplo, para 2e
Pelo que foi exposto, as condições de equilíbrio térmico de A , B e C podem ser representadas
pelas equações que seguem
Para cada valor numérico de particular, existe uma única isoterma pertencente a cada família
de isotermas de A , B e C . Essas isotermas representam todos os estados de equilíbrio térmico
possíveis de A , B e C para esse valor de .
39
( p ,V , N1 , N 2 ,..., N r ) (1.6)
de modo que o número de parâmetros intensivos independentes é igual a r 1 , uma vez que uma
das frações molares pode ser explicitada em função de r 1 frações independentes. Pelo que foi
apresentado pode-se concluir que a temperatura é uma propriedade termodinâmica, além do que,
intensiva.
Substância termométrica: é toda substância que tenha pelo menos uma propriedade termométrica.
Um exemplo é o mercúrio, metal líquido na temperatura ambiente, cuja propriedade
40
Escala Fahrenheit: Nessa escala, cuja substância termométrica é também o mercúrio, a temperatura
do ponto de gelo é de 32 graus e do ponto de vapor é 212 graus. Segue-se que o número de graus
entre o ponto do gelo e o ponto do vapor é igual a 180.
Relação entre escalas ordinárias: Como as temperaturas das escalas ordinárias Celsius e Fanrenheit são
supostamente proporcionais em relação à variação do volume da substância termométrica, pode-
(X ) (X g ) C 0 F 32
se escrever a relação de proporções que segue: , onde
( X v ) ( X g ) 100 0 212 32
C F 32 C F 32
Da relação linear acima, segue-se que ou . A correlação linear dessas
100 180 5 9
C F
escalas nos permite correlacionar diretamente os tamanhos de graus, pois de onde
5 9
resulta que F 1,8C , ou seja, a cada variação de 1oC corresponde uma variação de
temperatura na escala Fanrenheit igual a 1,8oF. Esse resultado é óbvio, uma vez que a relação
entre 180 e 100 é 1,8.
Padrão do grau: Uma escala ordinária de temperatura não pode ser utilizada para estabelecer o
padrão da temperatura. Com efeito, a correlação da variação do volume do mercúrio com a
temperatura foi determinada experimentalmente utilizando a própria escala, cujo grau é
determinado por esta correlação, em princípio, desconhecida. A experiência nos ensina que na
realidade, o volume do mercúrio não varia proporcionalmente a temperatura, para diferentes
valores da temperatura. Em outras palavras, a conhecida equação de dilatação do volume,
V Vo (1 ) não é correta, pois a variação do volume do mercúrio, segundo esta equação, é
considerada linear com a temperatura. Outro fator que impossibilita a determinação do padrão é
a precisão construtiva do termômetro. Em princípio, tubos capilares não são perfeitamente
iguais, uma vez que seus diâmetros e a própria geometria variam no processo construtivo do
aparelho. Esses fatores impossibilitam a escolha de um termômetro absoluto, qual seja, um
termômetro cujo grau independa da precisão construtiva do aparelho, tanto quanto da substância
termométrica utilizada. A necessidade de se estabelecer um padrão absoluto para a temperatura
42
levou Sir Willian Thomson (Lord Kelvin) a desenvolver uma escala absoluta de temperatura, a
partir das Leis de Gay-Lussac e Boyle-Mariotte, cujo desenvolvimento será apresentado a seguir.
Nesse aparato, calor é entregue ao gás de modo a produzir o deslocamento do pistão, sobre os
quais pesos fixos são depositados. Para cada valor numérico da temperatura ordinária, o volume
16
Technische Thermodynamik, Ed. Vieweg, Braunschweig, 1978.
17
Louis Joseph Gay-Lussac (1778 – 1850) – Físico-químico francês, notabilizado por suas contribuições na teoria
dos gases ideais. Enunciou a lei básica que estabelece que num processo à pressão constante, um gás se expande
proporcionalmente a sua temperatura, lei conhecida pelo nome de Lei de Charles.
43
Segundo essa figura, a dependência do volume com a temperatura pode ser expressa pela equação
da reta V V0 1 , onde é uma constante. Para cada valor numérico da pressão, um
volume V 0
V0 ( p ) do gás é determinado, o qual corresponde ao intercepto da reta com o
V V0 ( p)1 (1.7)
O experimento foi realizado para temperaturas maiores que zero. Da extrapolação das retas
ajustadas constatou-se que para todas as isóbaras o volume do gás é nulo para 273,15C .
Em outras palavras, todas as retas convergem para um mesmo ponto no eixo da abscissa.
Todavia, o estado correspondente a V 0 não é fisicamente possível, uma vez que um gás é
constituído de moléculas cujos volumes não podem ser reduzidos a zero. Entretanto, impondo-se
a condição V 0 resulta V0 1 273,15 0 de onde se conclui que 1 273,15 C . Esse
coeficiente é independente do valor numérico da pressão particular de teste. Segue-se que
V V0 1 / 273,15 V0 273,15 273,15 . Em termos do volume específico v V / m
v f ( p )T (1.8)
18
Robert Boyle (1627 – 1691) – Filósofo irlandês, notabilizado por seus trabalhos na física, química e filosofia
natural.
45
pv g (T ) (1.9)
pv RT (1.10)
A equação (1.10) é conhecida como equação de Clapeyron19 na forma específica referida a base
19
Benoît Paul-Émile Clapeyron (1799 – 1864) – Engenheiro e físico francês, considerado um dos fundadores da
termodinâmica. Reunindo as leis experimentais de Boyle–Mariotte, Charles, Gay-Lussac e Avogrado, estabeleceu as
relações analíticas entre as variáveis de estado de gases ideais.
46
p1V1 p2V2 pV
mR (1.11)
T1 T2 T
T2 p 2
(1.12)
T1 p1 V
Essa equação nos mostra que a razão das temperaturas é igual a razão das pressões de estados de
igual volume.
baixas. Por conseguinte, para V constante, resulta que o produto pv presente em uma equação
de um gás real qualquer, deve obedecer o limite, lim pv RT ou equivalentemente,
m 0
Segue-se da equação (1.12) que para qualquer gás real confinado inicialmente num recipiente de
volume V constante, resulta a equação que segue
T2 p2
lim (1.13)
T1 m0 p1 V
Foram essas conclusões obtidas dos experimentos aqui analisados que levaram Lord Kelvin20 a
propor o termômetro de balão de gás ideal como mostrado na figura 1.22.
em relação a V0 . Nesse caso, mercúrio é descarregado para C , deslocando-se C para baixo até
20
Willian Thomson – Lord Kelvin (1824 – 1907) – Físico-matemático e engenheiro britânico – irlandês, notabilizado
por suas contribuições na teoria da eletricidade e termodinâmica. Desenvolveu a teoria e os experimentos dos quais
resultaram a escala de temperatura absoluta, originalmente formulada por Gay-Lussac.
48
Mergulhando-se o balão num banho de água em ebulição à 1atm, isto é, no ponto de vapor,
resultará uma altura hv . Como a pressão correspondente ao ponto do vapor irá aumentar,
mercúrio será deslocado para a coluna do lado direito e portanto mercúrio deve ser descarregado
de C para o tubo, afim de compensar o deslocamento. A pressão do gás no ponto do vapor é
expressa por
como ilustrado na figura 1.23. A seguir, retira-se massa de gás do balão e repete-se a operação,
sempre mantendo-se o nível V0 e plota-se os resultados. Note-se que o nível V0 assegura que o
volume do gás permaneça constante, enquanto que a massa de gás tenderá a zero depois de
49
sucessivas operações de descarga de massa, o que foi feito no experimento, utilizando-se uma
bomba de vácuo rudimentar. O resultado numérico da seqüência de experimentos é mostrado na
figura 1.23.
O resultado singular do experimento é que cada curva obtida para qualquer gás real
particularmente utilizado como fluido de trabalho, tende assintoticamente a uma reta, que
intercepta o eixo da ordenada no mesmo ponto de intersecção, a menos dos erros experimentais,
à medida que a pressão tende a zero. A extrapolação dessa reta-limite, resulta por conseguinte na
razão de pressões que segue
p
lim v 1,36609 0 ,00004 (1.16)
m0 p
g V0
Tv pv
lim 1,36609 0 ,00004 (1.17)
Tg m 0 p
g V0
50
Kelvin definiu a magnitude do grau de sua escala igual à adotada por Celsius, de modo que o
número de graus no intervalo de temperatura compreendido entre o ponto de gelo e o ponto de
vapor seja igual a cem unidades, ou seja, Tv Tg 100 . Da equação (1.17) resulta
Tv 373,15K . Repetindo-se o experimento, desta vez para o ponto tríplice e para o ponto do
vapor como ponto de referência conhecido, resulta para a temperatura do ponto tríplice
Tt 273,16 K .
Utilizando-se o termômetro de Kelvin, outros pontos fixos de substâncias puras podem ser
determinados. Por exemplo, a temperatura de fusão do zinco puro à 1atm, determinada por uma
seqüência de experimentos para o ponto do zinco (considerando a pressão igual a 1atm) e o
ponto do gelo, este último de temperatura já conhecida, é expressa pela razão que segue
TZn pZn
lim 2 ,535823 (1.18)
Tg m 0 p
g Vo
Medições mais precisas realizadas com um termômetro de Kelvin, no ponto tríplice da água,
resultaram na conclusão de que a temperatura tríplice da água é igual a 273,16K. Esse valor
numérico foi aceito como ponto fixo para a Escala Prática Internacional de Temperatura - 1968
(IPTS 68). A temperatura de qualquer outro ponto fixo pode ser determinada através de
medições com o termômetro de Kelvin, pela equação que segue
51
p
T 273,16 K lim (1.19)
m 0
pt Vo
21
M. W. Zemansky, Calor e Termodinâmica (tradução da obra intitulada Heat and Thermodynamics), Ed. Guanabara
Dois, 1978.
22
R. G. Eckert e R. J. Goldstein, Measurements in Heat Transfer, Second Edition, Hemisphere Publishing Corporation
/ McGraw-Hill Book Company, 1976.
52
Re Reo F ( ) ou como uma função implícita do tipo ( , Re / Reo ) 0 , onde Reo é a resistência
Por exemplo, para a faixa de temperatura compreendida entre 273,15K e 630,74o C (ponto de
solidificação normal do antimônio), a temperatura de um termômetro padrão de referência
termométrica da escala IPTS-68 (International Practical Temperatura Scale – 1968), é expressa
como T68 ( K ) 68 ( o C ) 273,15 , onde 68 é calculada através da equação,
Re ( ) Re (0 o C )(1 A B 2 )
68 , muito embora a precisão alcançada por um termômetro desse tipo é da ordem de 0,01o C .
resulta que dVAB AB d , isto é, também a voltagem será infinitesimal e neste caso,
proporcional a diferencial da temperatura, onde AB é denominado de coeficiente de Seebeck. A
voltagem resultante é normalmente muito pequena e por esta razão é expressa em microvolt
( V ) . A equação anterior pode ser integrada entre uma temperatura de referência R ,
correspondente a um ponto fixo e uma temperatura , de modo que V AB ( ) AB d .
R
especializada da ASTM (1974)23. Por exemplo, um termopar muito comum é construído com
cobre e constantan (liga de cobre e níquel). A função VAB para esse termopar, classificado pela
ASTM como do tipo T , calibrado para medir temperaturas entre 0oC e 400oC é um polinômio da
forma que segue,
A Tabela 1.2 contém temperaturas de referência para calibração em temperaturas mais elevadas
que as temperaturas constantes da Tabela 1.1. Um histórico das escalas de temperatura pode ser
encontrado na referência de Eckert e Goldstein22.
23
ASTM (American Society for Testing and Materials) Manual on the Use of Thermocouples in Temperature Measurement,
1979.
55
Tabela 1.1 – Pontos fixos da Escala Prática Internacional de Temperatura (IPTS 68)
Fases líquida e de vapor da água à 1,01325 bar (ponto de ebulição 373,15 100
da água)
Fases sólida e líquida do zinco à 1,01325 bar (ponto de 692,73 419,58
solidificação do zinco)
Fases sólida e líquida da prata à 1,01325 bar (ponto de 1235,08 961,93
solidificação da prata)
Fases sólida e líquida do ouro à 1,01325 bar (ponto de 1337,58 1064,43
solidificação do ouro)
Uma substância pura é por definição qualquer substância que tenha composição química constante.
Essa definição é adotada no contexto da termodinâmica. Ela é distinta das definições adotadas na
química, quais sejam, de elemento químico composto homogeneamente de átomos e de
substância química, composta homogeneamente de moléculas.
A transição de fase pode ser estudada através de dois processos distintos, o isobárico e o
isotérmico como segue:
Fig. 1.25 – Sistema cilindro-pistão para ilustrar a transição de fase líquido-vapor: (a) processo
isobárico e (b) processo isotérmico
Moléculas mais próximas da superfície do fundo do cilindro recebendo energia térmica, movem-
se e através de interações intermoleculares transferem sua energia para as moléculas vizinhas.
Esse fenômeno de transferência de energia continua até que certa temperatura-limite seja
58
atingida, a partir da qual surge a fase de vapor. O diagrama p T mostrado na figura 1.26 ilustra
os estados de equilíbrio do processo. O processo isobárico é representado por retas horizontais.
Se o líquido inicialmente encontrar-se no estado A1 , a temperatura-limite correspondente ao
Se calor adicional for entregue ao líquido no estado B1 , as moléculas deste, absorvendo energia
adicional a que já possuem neste estado, adquirem energia cinética, forçando o pistão para cima e
o resultado é um aumento do volume e a ocorrência de bolhas de vapor que se organizam numa
fase homogênea e distinta da fase líquida que lhe dá origem. Na transição de fase a temperatura
permanece constante, embora o sistema continue recebendo calor. Quando toda a massa de
líquido se transformar em vapor, calor adicional resultará numa expansão do vapor e no aumento
da temperatura deste. O estado C 1 representa a fase de vapor nessa condição. Se o experimento
for repetido, para uma pressão p 2 constante e maior que p 1 , constata-se que a temperatura-
limite resultante T2 será maior que T1 . A figura 1.26 mostra os estados respectivos ao segundo
experimento, neste caso, representados pelos pontos A 2 , B 2 e C 2 . Dados de um terceiro
experimento são também apresentados na figura. Os resultados são análogos àqueles obtidos do
experimento correspondente ao estado A1 . A conclusão é que para cada pressão dada, existe uma
sistema perde calor, a temperatura diminui gradativamente, até que ocorre o início da formação
da fase líquida correspondente ao estado B1 . Enquanto o sistema perde calor, a temperatura
transformado em líquido, retirando-se calor do sistema a temperatura diminui, até atingir o estado
A1 . O processo de transição de fase de líquido para vapor é denominado de vaporização e seu
Constata-se experimentalmente que a transição de fase somente pode ocorrer num intervalo de
temperatura determinado, limitado inferiormente pela temperatura tríplice, para a qual, as fases
sólida, líquida e de vapor podem coexistir em equilíbrio, e a temperatura crítica, acima da qual a
transição de fase líquido-vapor não mais ocorre. Os resultados dos experimentos isobáricos são
ilustrados no diagrama T v como mostrado na figura 1.27.
O processo correspondente ao segmento que une A1 e B 1 é uma curva quase vertical, cuja
variação de volume do líquido é muito pequena. O leitor deve lembrar que em geral, líquidos
sujeitos a pressão constante se dilatam muito pouco com a temperatura. Os estados
representados por B no diagrama p T correspondem a qualquer estado entre o estado de
líquido saturado e o estado de vapor saturado. Os estados representados por C correspondem a
vapor superaquecido. Observe-se que entre os estados B e C , o volume do fluido sofre uma
expansão muito maior que o volume do líquido sub-resfriado, com o aumento da temperatura.
Para cada pressão dada, na transição de fase, existem portanto dois volumes específicos, o
volume do líquido saturado vl e o volume do vapor vv . A conclusão final dos experimentos
estado de pressão relativamente elevada, representada na figura 1.28 pelo estado D1 , cuja
temperatura é T1 .
constante maior que T1 , resultados análogos são obtidos, isto é, a pressão de transição de fase
será p 2 maior que p 1 , e o estado F 2 será alcançado para uma pressão menor que p 2 .
Conforme nos mostra a figura 1.28, um líquido no estado D , cuja pressão é superior a pressão
de saturação para uma temperatura dada, é sub-resfriado. Ele pode ser denominado mais
adequadamente, por óbvias razões, de líquido comprimido. O vapor superaquecido pode ser
definido também como aquele vapor que subsiste numa pressão menor que a pressão de
62
saturação para uma temperatura dada. Os estados ilustrados na figura 1.28 podem ser melhor
compreendidos no diagrama p v ilustrado na figura 1.29, onde é mostrada a região
correspondente a fase de líquido comprimido ( LC ) .
os estados E 1 e F1 observa-se que o volume do vapor varia sensivelmente mais que o volume do
líquido, resultado não surpreendente, uma vez que vapores são mais compressíveis que líquidos.
Para cada temperatura dada, está associado apenas um valor numérico de vl tanto quanto um
único valor número para vv . A relação funcional entre p e T na transição de fase é única e
63
pode-se, portanto escrever psat psat (T ) ou Tsat Tsat ( p) , funções que representam lugar
1 ( V2 V1 )
m (1.20)
V1 ( T2 T1 ) p
1 V
lim m lim
T 0 T 0 V T
p
1 V
(1.21)
V T p
1 v
(1.22)
v T p
64
v
no volume específico. Para o caso particular de um gás ideal, v RT / p , R / p e, por
T p
conseguinte, R / pv 1 / T . A equação (1.22) pode ainda ser expressa em função das
derivadas parciais da pressão em relação a temperatura e o volume, através da identidade do
cálculo infinitesimal como segue,
v p p
T p T v v T
Essa identidade pode ser mais conveniente, quando a pressão é expressa como função do volume
e da temperatura numa equação de estado, assunto a ser tratado em secção subseqüente.
v
absoluto, muito maior para líquido que para vapor superaquecido e que é o inverso desse
T p
coeficiente.
1 V2 V1
kTm (1.23)
V1 p2 p1 T
1 V
é definido por kT lim kTm lim . Sendo a função V ( p ,T ) diferenciável,
p 0 p 0 V p T
resulta que
1 V
kT (1.24)
V p T
ou em termos de v( p ,T ) ,
1 v
kT (1.25)
v p T
A equação acima pode ser expressa como função da derivada da pressão em relação ao volume,
v p
pois, do cálculo infinitesimal, 1 , o que nos permite calcular kT utilizando a
p T v T
equação de estado na forma p p( v ,T ) . Uma identidade muito útil no formalismo da
termodinâmica é a relação entre a derivada da pressão em relação a temperatura num processo à
volume constante. Segundo o cálculo diferencial, pode-se escrever,
p p T v v
T v v T v p T p p T
p
/ kT
T v
v RT RT
Para o caso particular de um gás ideal vem, 2 e, portanto
p T p p p
kT RT / p 2v 1 / p .
p v
Observe-se que 1 / é o coeficiente angular ao longo de uma curva isoterma no
v T p T
diagrama p v mostrado na figura 1.29. Para líquidos comprimidos, o valor absoluto desse
coeficiente é normalmente elevado, algumas ordens de grandeza superior aos valores respectivos
66
v
a vapores superaquecidos. Segue-se que o valor absoluto da derivada é muito maior para
p T
vapores que para líquidos comprimidos e, por conseguinte, o mesmo verifica-se para kT . Os
coeficientes e kT tem comportamento menos diferenciados para a região super-crítica, onde o
fluido pode em certas condições comportar-se como líquido ou como um vapor superaquecido.
V V
dV dT dp
T p p T
As equações (1.21) e (1.24) nos permitem escrever essa expressão na forma, dV VdT kTVdp
ou ainda na forma que segue,
dV
dT kT dp (1.26)
V
Por conseguinte, a variação relativa do volume é o resultado de duas variações relativas, uma
decorrente do efeito da temperatura, que é proporcional a e outra, relativa ao efeito de pressão
que é proporcional a kT . Para pressões relativamente baixas em relação a pressão crítica, e kT
para líquidos comprimidos são muito menores que e kT para vapores superaquecidos.
Diferentemente do vapor, o líquido nesse estado pode ser considerado como incompressível.
Na transição de fase o sólido, de volume específico vs , libera moléculas que passam a formar a
fase de vapor, com volume específico vv . A cada temperatura corresponde uma pressão de
saturação e vice-versa, tanto quanto únicos valores numéricos para vs e vv . O processo nesse
67
Qualidade ou título: A proporção entre as massas de líquido e vapor saturado é parametrizada pela
razão de massa de vapor e a massa total, como segue, x mv /( m l mv ) . Essa fração
denominada de título, define também o volume específico das duas fases em equilíbrio. Com
68
V Vl Vv m l vl mv vv
v (1 x)v l xvv
adotada para a saturação sólido-vapor. Nesse caso substitui-se v l pelo volume específico da fase
Fração volumétrica: De utilidade prática tanto quanto o título, é a fração volumétrica definida por
y Vv / V . Essa fração é relacionada com o título, uma vez que Vv m v vv e V mv e, portanto
em relação a x não é linear. Por exemplo, no caso de vv ser muito maior que v l e x 0,5 ,
unidade. A fase de vapor, embora corresponda a 50% da massa total, ocupa um volume por
unidade de massa muito maior que o volume ocupado pelo líquido por unidade de massa. Para as
substâncias que se comportam semelhantemente a água, à pressões muito menores que a pressão
crítica, vv é muito maior que v l . O mesmo acontece com o vapor em relação ao sólido na
vapor saturado corresponde a x 1 . Segue-se que as curvas para x entre o zero e a unidade têm
como ponto comum o ponto crítico. Para traçar uma curva de x constante no diagrama p v é
suficiente escolher vários valores da pressão de saturação com seus respectivos volumes v l e vv ,
de modo que para cada pressão dada v( p ) (1 x)v l ( p ) xvv ( p ) . Essa equação expressa
claramente o volume em função da pressão dada. O leitor pode facilmente construir tal curva
utilizando uma tabela de propriedades termodinâmicas ou um software especializado. A figura
1.31 mostra o diagrama p v para água, ilustrando curvas de título constante.
Fig. 1.31 – Diagrama p v para a água ilustrando isotermas e curvas de título constante
Uma conclusão importante sobre o que foi exposto trata da relação entre as propriedades
termodinâmicas nos vários estados possíveis de uma substância pura. Nas regiões de líquido
comprimido e de vapor superaquecido, duas propriedades termodinâmicas independentes são
necessárias para determinar um estado. No diagrama p v , por exemplo, a localização de um
ponto na região de vapor superaquecido exige a especificação da pressão e do volume específico.
Especificadas essas variáveis independentes, uma única isoterma passa pelo ponto
correspondente. Pode-se escrever, portanto, que T T ( p, v) . Conclusão semelhante é válida
para o estado de líquido comprimido. No diagrama T v , a especificação de T e v determina
um estado, tanto para a região de vapor superaquecido quanto para a região de líquido sub-
resfriado (comprimido). Em outras palavras, especificados valores numéricos de T e v , uma
única isóbara passa pelo ponto dado. Pode-se também escrever que p p (v, T ) .
70
Fig. 1.32 – Superfície termodinâmica da água (figura reproduzida e adaptada do texto "Advanced
Engineering Thermodynamics" de A. Bejan, 2a. edição, John Wiley, 1997)
71
Como foi mostrado, na saturação basta especificar apenas uma variável independente, qual seja
p ou T e não ambas, uma vez que p e T são correlacionadas. Observe-se que x não é uma
propriedade termodinâmica, mas tão somente uma relação de proporção de massas
correspondentes as fases em equilíbrio. A superfície termodinâmica permite-nos visualizar,
segundo os três eixos perpendiculares, o diagrama p v , que pode ser traçado no plano de corte
na direção perpendicular ao eixo de T , o diagrama T v , traçado no plano de corte
perpendicular ao eixo de p e o diagrama p T , traçado no plano de corte perpendicular ao eixo
de v . Todas as substâncias puras têm superfícies termodinâmicas similares à superfície
termodinâmica da água. Entretanto, a água apresenta comportamento especial na transição de
fase sólido-líquido, o que a distingue das substâncias puras em geral.
No caso de substâncias compressíveis simples, uma equação de estado é uma função implícita do
tipo f ( p, v, T ) 0 , que deve possuir a característica de explicitação das propriedades
termodinâmicas p , v e T , isto é, que permita explicitar cada propriedade termodinâmica em
função das outras duas propriedades. Segundo o teorema das funções implícitas do cálculo
infinitesimal, a propriedade de explicitação é assegurada pelas seguintes condições:
f
(i) 0 , condição necessária para a existência da função p p (T , v) ,
p
f
( ii ) 0 , condição necessária para a existência da função T T ( p, v) e
T
f
( iii ) 0 , condição necessária para a existência da função v v( p, T ) .
v
Outra condição importante que uma equação de estado deve satisfazer é a condição de
estabilidade, segundo o qual, um aumento de pressão à temperatura constante resulta uma
72
p
diminuição de volume, isto é, 0 . Essa condição deve ser satisfeita para as fases sólida,
v T
líquida e de vapor superaquecido (gasosa).
O ponto crítico, por sua vez, sugere a existência de um ponto de inflexão, pois para temperatura
imediatamente abaixo da temperatura crítica, a isoterma é horizontal na transição de fase líquido-
vapor. Por conseguinte, uma equação de estado deve satisfazer as condições do cálculo
p 2 p
infinitesimal para um ponto de inflexão, quais sejam 2 0 . Essa condição
v T Tc v T Tc
pode ser relaxada em favor de outras condições mais fracas, quando se deseje que a equação de
estado seja mais precisa em estados pertencentes a regiões de especial interesse prático afastadas
do ponto crítico.
Deve-se fazer uma distinção entre a equação de Clapeyron expressa na base mássica e esta
equação expressa na base molar. Substituindo-se v V / m na equação precedente pode-se
escrever pV mRT . A massa do gás é relacionada ao número de mols e ao mol pela equação
m MN , de modo que a equação anterior pode ser escrita na forma pV NMRT . Definindo-
precedente resulta a forma intensiva molar p v R T . Uma vez que R é uma constante para
todos os gases ideais, as equações de Clapeyron na base molar são válidas para todos estes gases.
f
A equação implícita de Clapeyron satisfaz a condição (i). Com efeito, v 0 , o que assegura
p
a existência da função explicita p p (v, T ) RT / v . A equação satisfaz a condição (ii), pois
73
f
R 0 e, portanto, T T ( p, v) pv / R . Ela satisfaz também a condição (iii), pois
T
f
p 0 e, portanto, v v( p, T ) RT / p . Tal equação também satisfaz a condição de
v
estabilidade. Com efeito,
p RT d 1 RT RT 1 p
RT 2 0
v T v v T dv v v v v v
uma vez que p 0 e v 0 . Esse resultado nos mostra particularmente, que o coeficiente
angular ao longo da isoterma é numericamente igual a ordenada do ponto dividida por sua
abscissa com sinal negativo. Na verdade esse resultado reflete uma propriedade da hipérbole
eqüilátera, cuja equação é p RT / v , onde T é considerada constante. Entretanto, a equação
p
não satisfaz as condições da inflexão no ponto crítico, visto que a derivada é sempre
v T
negativa. Uma equação de gás ideal, por conseguinte, não admite ponto crítico, o que demonstra
ser o gás ideal um modelo que não reflete a realidade do comportamento das substâncias puras.
Embora a equação de gás ideal represente um modelo muito restritivo, ela fornece bons
resultados para vapores saturados à pressões relativamente baixas em relação a pressão crítica.
Por exemplo, o desvio do volume específico calculado por essa equação, para vapor saturado
seco de água a 100oC é de 1,6% em relação ao volume específico real.
para explicar as forças intermoleculares foi proposto por Lennard-Jones, segundo o qual a
energia potencial intermolecular de duas moléculas é expressa por E (r ) [(ro / r )12 2(ro / r )6 ] ,
a qual, como pode ser verificado, anula-se para r ro / 21 / 6 . A força, tal como na teoria do campo
dE
gravitacional ou do campo elétrico, é a derivada da função potencial expressa por F (r ) .
dr
A figura 1.33 ilustra as curvas de E (r ) e F (r ) .
O trabalho mecânico necessário para deslocar uma molécula de sua posição especificada pelo raio
r em relação a outra molécula, até a uma distância infinita em relação a essa molécula é igual a
E (r ) F (r ) dr . Como se pode verificar, a energia potencial atinge um valor mínimo e igual
r
dE
a para r ro , raio para o qual 0 , ou seja, F (r ) 0 . A figura 1.33 ilustra essa
dr
condição.
24
Hirschefelder, J. O., C. F. Curtiss, and R. B. Bird: Molecular Theory of Gases and Liquids, John Wiley & Sons, Inc.,
New York, 1954.
75
p R T B (T ) 2 C (T ) 3 (1.27)
A equação de Bird e Spotz, como se pode constatar, é uma equação expressa em potências de
1 / v , cujos fatores de ponderação do volume sobre a pressão são B ( T ) e C (T ) . Tal equação é
denominada de equação do virial25. Essa denominação é justificada pelo fato de os parâmetros
25
Num sistema constituído por várias partículas, cada qual sujeita à ação de uma força, o virial é a metade da média
do produto escalar das forças pelo vetor posição da respectiva partícula.
76
A função B (T ) traduz macroscopicamente o efeito das forças de interação entre duas moléculas
sobre a pressão do gás. A função C (T ) , por sua vez, traduz os efeitos da interação entre uma
molécula e duas moléculas vizinhas sobre a pressão do gás. A equação de Bird-Spotz mostrou-se
válida para gases monoatômicos e bi-atômicos, para temperaturas elevadas e também
temperaturas moderadamente baixas em relação a temperatura crítica, neste caso, para pressões
77
relativamente baixas em relação a pressão crítica. Uma descrição detalhada da teoria da equação
do virial pode ser encontrada no texto de Prausnitz26. A equação de Bird-Spotz deu origem a uma
vertente de investigação da qual resultaram equações de virial generalizadas da forma que segue,
n
p RT Bi (T ) i 1
i 1
A convergência de um gás real para um gás ideal pode ser visualizada graficamente na figura 1.36,
onde estados de vapor d’água superaquecido são plotados num diagrama de pv / T versus
(o C ) .
Fig. 1.36 – Curvas isóbaras de pv / T em função da temperatura em graus Celsius, para vapor
d’água superaquecido (figura reproduzida do texto "Thermodynamik", Vol. 1, de K. Stephan e F.
Mayinger, Springer-Verlag, 1992)
A forma do virial nos mostra claramente que se o volume ocupado por um gás real tende ao
infinito à temperatura constante, a equação do gás real deve reduzir-se a equação de Clapeyron,
visto que os termos respectivos aos coeficientes do virial, tendem mais rapidamente a zero que o
26John M. Prausnitz, Rudiger N. Lichtenthaler, and Edmundo Gomes de Azevedo, Molecular Thermodynamics of Fluid-
Phase Equilibria, 3rd Edition, Prentice Hall International Series in the Physical and Chemical Engineering Sciences,
1998.
78
primeiro termo da equação, o qual corresponde a pressão de gás ideal. Pelo exposto, segue-se que
lim( pv ) p lim( pv ) v RT . Esse limite é constatado na figura 1.36, uma vez que as curvas
v p 0
( p A / V 2 )(V B) mRT 0
Substituindo-se V mv , é fácil demonstrar que essa equação pode ser reduzida a forma explícita
que segue
p RT /(v b) a / v 2 (1.29)
V B mRT /( p A / V 2 )
Para T constante, o limite dessa equação quando p tende ao infinito é claramente B , para todo
valor numérico de V fixo. Em outras palavras, quando o volume se aproxima de B , a pressão
aumenta, por decorrência da prevalência de forças de repulsão intermoleculares. O termo A /V 2 ,
27
Johannes Diderik van der Waals (1837 – 1923) – Físico holandês, notabilizado por seus trabalhos sobre forças que
atuam entre as moléculas de um gás real, pelos quais foi agraciado com o prêmio Nobel em 1910.
79
A equação (1.29) nos permite expressar a equação de Van der Waals como segue,
a
f ( p ,v ,T ) p 2 ( v b ) RT 0
v
f
Para a condição (i) essa equação nos dá, (v b) . Sendo V B resulta que v b , de modo
p
que essa derivada é distinta do zero. Por conseguinte, o teorema da função implícita nos garante a
existência da função p p (v, T ) . Com efeito, p RT /(v b) a / v 2 . A condição (ii) é expressa
f
na forma R 0 , de onde se pode escrever, T ( p a / v 2 )(v b) / R . A condição (iii),
T
por sua vez nos dá a expressão,
f a 2a
p 2 3 ( v b) (1.30)
v v v
f
v 3 (v b ) RT v 3 2a (v b) 2
v
f
Sendo v maior que b , a condição de derivada nula, 0 , implica na equação que segue,
v
RT v 3 2a(v b) 2 0
80
Essa equação algébrica, de terceiro grau, admite pelo menos uma raiz real, senão três. Por
conseguinte, a condição de existência da função v v( p, T ) é violada, uma vez que para
determinados valores de T pode existir mais de um volume correspondente. A mesma conclusão
f
seria obtida se a equação (1.30) fosse utilizada para expressar 0 . Nesse caso essa equação
v
pode ser escrita como uma equação algébrica do terceiro grau da forma que segue,
p v 3 av 2a(v b) 0
p RT 2a
3
v T ( v b) 2
v
Essa derivada não é necessariamente não-nula. Com efeito, pode-se escrever a expressão
precedente na forma que segue,
p
v 3 (v b) 2 RT v 3 2a(v b) 2
v T
p
Sendo que v b , 0 implica RT v 3 2a(v b) 2 0 . Essa equação algébrica, como
v T
vimos, admite pelo menos uma, senão três raízes reais para v .
A equação de Van der Waals satisfaz a condição de limite de gás ideal. Com efeito, da equação
(1.29) pode-se escrever T ( p a / v 2 )(v b) / R , cujo numerador claramente tende a pv
a RT a
pv RT (v b) 2b
vb v
2
v
81
Tomando-se o limite dessa equação para v tendendo ao infinito resulta que lim( pv RT ) 0 ,
v
A condição respectiva a inflexão no ponto crítico pode ser verificada impondo-se as condições
p 2 p
2 0 . Essas condições, como pode ser demonstrado, são respectivamente
v T Tc v T Tc
Adicionalmente,
a 27 R 2Tc2 / 64 pc (1.34)
b RTc / 8 pc (1.35)
R 8 pc vc / 3Tc (1.36)
uma equação cúbica em v , pois ela pode ser escrita na forma ( pv 2 a )(v b) TR v 2 0 ou
equivalentemente,
pv 3 ( pb RT )v 2 av ab 0 (1.37)
Essa equação, por outro lado, pode ser expressa como uma cúbica em Z . Basta para tanto,
substituirmos v ZRT / p na equação (1.37), de modo que os coeficientes da equação cúbica em
Z passem a ser funções de p e T . Definam-se variáveis reduzidas por pr p / pc , Tr T / Tc e
p 2 27 pr 27 pr2
Z 3 1 r Z Z 0 (1.38)
8 Tr 64 Tr2 512 Tr3
Essa equação é notável, pois sugere que o desvio de um gás real em relação a um gás ideal possa
ser avaliado apenas em função das variáveis reduzidas pr e Tr . O limite da equação (1.38) para
3
pr 2 (3vr 1) 8Tr (1.39)
vr
A figura 1.37 ilustra as isotermas de Van der Waals num diagrama de coordenadas reduzidas,
plotado com dados numéricos da equação (1.39). Observe-se nessa figura que para a isoterma
83
Tr 0,9 existem três volumes específicos distintos, a saber, v Ar , vCr e vEr , correspondentes a
uma mesma pressão dada.
A figura nos mostra também, que o coeficiente angular das curvas isotermas para as quais T Tc
p
( Tr 1 ), qual seja , é nulo nos pontos de máximos e mínimos locais B e D . Entre esses
v T
pontos, o coeficiente angular é positivo e, por conseguinte a condição de estabilidade é violada.
O desdobramento da equação de Van der Waals, da qual resultam as equação, (1.38) e (1.39)
suscitou na primeira metade do século XX o princípio dos estados correspondentes, segundo o qual,
supõe-se que todos os gases reais podem ser representados por uma equação generalizada de Z
como função de pr e Tr . Esse princípio estabelece que todos os estados de equilíbrio de
diferentes gases reais podem ser representados num lugar geométrico comum, num diagrama
84
Embora não mostrado na figura 1.38, para temperaturas relativamente elevadas em relação a
temperaturas crítica, Z cresce com a pressão, todavia com valores numéricos maiores que a
unidade. Para temperaturas moderadamente baixas em relação à temperatura crítica, Z tende a
unidade quando a pressão diminui, porém, para valores numéricos menores que a unidade. Esse
comportamento de Z pode ser comprovado, fazendo-se um gráfico em diagrama semi-
logaritmico com dados da equação (1.38). Existe, por conseguinte um valor numérico de Tr
particular para o qual Z não varia com pr , na condição-limite de pr 0 . Em outras palavras,
Z
para essa temperatura particular, 0 para pr 0 , ou seja, o coeficiente angular de Z é
pr Tr
nulo para pressão nula. A curva correspondente a essa temperatura é denominada de isoterma de
Z
Boyle. Derivando-se a equação (1.38) em relação a pr , fazendo-se e pr iguais a zero e
pr Tr
vE vC vE
vA
( p ps )dv ( p ps )dv ( p ps )dv 0
vA vC
(1.40)
vv
vl
( p ps )dv 0 (1.41)
v b 1 1
ps ( vv v l ) RT ln v a 0 (1.42)
v l b vv v l
a
ps 2 (vv b) RT 0 (1.43)
vv
ps a (v l b) RT 0 (1.44)
v 2l
formado pelas equações (1.42), (1.43) e (1.44), em princípio pode ser resolvido em termos de ps ,
v l e vv , para cada valor numérico de T especificado. Para várias substâncias puras, dentre os
quais o vapor d’água, a solução do sistema oferece bons resultados para pressões relativamente
altas em comparação com a pressão crítica. Entretanto, os resultados se desviam dos dados
experimentais, à medida que a pressão se afasta da pressão crítica. Sugere-se ao leitor fazer um
exercício numérico para resolver as equações (1.42) - (1.44) e comparar os resultados com dados
reais da tabela de propriedades termodinâmicas.
1.9.4.3 - Meta-estabilidade
Outro fato notável da equação de Van der Waals, é que seu comportamento na região de
transição de fase prediz a meta-estabilidade. Quando por exemplo, água líquida comprimida é
87
p RT /( v b ) a / v 2 ( RT / v )( 1 b / v b 2 / v 2 b 3 / v 3 ...)
a / v 2 RT / v ( bRT a ) / v 2 b 2 RT / v3 ...
onde B (T ) bRT a e C (T ) b 2 RT .
p R T / v ( R T Bo Ao Co / T 2 ) / v 2 ( R T b a ) / v 3 a / v 6
2
(1.47)
c( 1 / v 2 )e / v / v 3T 2
89
Z Z c pr vr / Tr (1.48)
para todos os gases reais, o fator de compressibilidade pode ser expresso em função de pr e Tr
na forma Z Z c pr vr ( pr ,Tr ) / Tr , onde Z c pc vc ( pc ,Tc ) / RTc , o que nos sugere que o
princípio dos estados correspondentes possa ser representado por uma equação generalizada do
tipo
Z Z ( Z c , pr ,Tr ) (1.49)
modo que v pode ser calculado através da expressão de definição de Z . Na equação (1.49), Z c
passa a figurar como um novo parâmetro molecular. Entretanto, mesmo uma correlação como a
expressa pela equação (1.49) provou-se insuficiente para representar todos os gases reais,
sobretudo os fluidos fortemente polares como a água e a amônia e também hélio, nitrogênio e
neônio. Por outro lado, é possível construir uma correlação generalizada, em que se considere o
parâmetro Z c em segundo plano, em favor de uma correlação média de Z que represente uma
ampla classe de fluidos puros. A carta de compressibilidade de Nelson e Obert28 representa o
lugar geométrico de uma tal correlação. Nessa carta é introduzida a definição de pseudo-volume
reduzido como segue,
28
L. C. Nelson e F. Obert, Generalized PvT properties of gases, Trans. ASME, Vol. 76, 1954, pp. 1057-1066.
90
Na carta de Nelson e Obert são apresentadas curvas de vr constante, de modo que para cada par
de variáveis pr e Tr , vr é determinado, o que nos permite calcular v da equação (1.50). A
variável vr pode ser estimada através dessa carta com um erro de cerca de 5%. A principal
vantagem desse novo parâmetro é o fato de pc e Tc poderem ser determinadas
experimentalmente com mais precisão do que o volume crítico.
Uma abordagem em que Z c é posto num segundo plano, em adição a pr e Tr , foi proposta por
Pitzer (1955)29. Pitzer constatou que fluidos apolares, isto é, cujas moléculas exibem campo de
força com simetria esférica, tais como o metano, ocupam lugar geométrico comum no diagrama
pr Tr , restrito a região de saturação. Exemplos desses gases de moléculas relativamente pesadas
são argônio, neônio e xenônio. Os dados de saturação para outros fluidos que não os apolares
foram configurados por Pitzer no diagrama mostrado na figura 1.39.
29
K. S. Pitzer, “The volumetric and thermodynamic properties of fluids. I. Theoretical basis and virial coefficients”,
J. Am. Chem. Soc., Vol. 77, 1955, pp. 3427-3433.
91
As curvas mostradas nessa figura diferem umas das outras, todavia, tendo em comum o ponto
crítico, visto que neste ponto as variáveis reduzidas são iguais a unidade, independentemente do
fluido particular. Os fluidos apolares foram denominados por Pitzer de fluidos simples.
Note-se que para pr 0,1 o parâmetro resulta nulo. Na figura 1.39 é mostrado também o
desvio correspondente a um fluido de Van der Waals, isto é, aquele fluido cuja pressão de
saturação reduzida, para T 0,7Tc é calculada através das equações (1.42), (1.43) e (1.44), de que
resulta 0,302 . A Tabela 1.4 mostra os fatores de compressibilidade críticos e fatores
acêntricos para os diferentes gases considerados por Pitzer. Note-se nessa tabela que alguns
fluidos têm fator de compressibilidade crítico muito próximos um do outro ou até mesmo
idênticos e, no entanto, os fatores acêntricos para tais fluidos mostram-se distintos. Essa
diferenciação nos sugere que a expressão (1.49) realmente não é adequada para representar uma
correlação geral para gases reais, uma vez que ela não contém o fator acêntrico como parâmetro
independente. Do ajuste analítico de Z contra dados experimentais reduzidos de pr , Tr , Z e ,
concluiu-se que Z pode ser expresso por uma correlação linear em da forma que segue
onde Z o é o fator de compressibilidade para fluidos simples e Z1 é a correção deste fator para
fluidos polares.
92
2
Z pr vr / Tr 1 B / vr C / vr D / vr c4 ( / vr )e / v r / vr Tr3
2 5 2 2
(1.53)
vr v /( RTc / pc ) . Note-se que o denominador de vr é o mesmo adotado por Nelson e Obert. A
Tabela 1.5 apresenta dois conjuntos de valores numéricos para as constantes empíricas, o
primeiro dos quais, construído a partir de observações do comportamento generalizado de
fluidos simples e o segundo, aplicável a um fluido de referência, o qual representa uma classe de
fluidos de comportamento mais complexo, no conjunto dos fluidos estudados. No segundo
conjunto, diferentemente do primeiro, a constante c3 , como vemos, não é nula.
30
R. C. Reid, J. M. Prausnitz e T. K. Sherwood, The Properties of Gases and Liquids, 3ed., McGraw-Hill, NY, 1977.
31
B. I. Lee e M. G. Kesler, A generalized thermodymanic correlation based on three-parameter corresponding states, AIChE J.,
Vol. 21, 1975, pp.510-527.
93
e Kesler. Esses dados constam das Tabelas A.18 do Apêndice. A Tabela de Z 1 exclui a região de
saturação, uma vez que para esta região seria necessária uma tabela para cada valor numérico do
fator acêntrico.
Uma teoria detalhada sobre equações de estado, apresentando critérios de validação destas, bem
como sua origem e referência bibliográfica respectiva é apresentada por E. F. Obert32. Uma
extensa compilação sobre equações de estado para quarenta e quatro substâncias de uso corrente
na engenharia mecânica, acompanhada de referências bibliográficas relacionadas a tais equações,
bem como de tabelas de propriedades termodinâmicas computadas a partir destas equações é
32
E. F. Obert, Concepts of Thermodymanics, Mc Graw Hill Book Company, New York, 1960.
94
apresentada por W. C. Reynolds33. Nessa referência é enfatizado que todas as equações de estado
de gases reais, em princípio, podem ser escritas na forma do virial qual seja, p RT F ( , T ) ,
F dB 2 dC 3
é finito. Por outro lado, a derivada parcial ... , preserva a ordem da
T dT dT
F
função em relação a e, por conseguinte, lim é também finito.
2
0 T
Z p / R T 1 ( B ( T ) / R T ) ( C ( T ) / R T ) 2 ...
Z p / RT 1 B( T ) C( T ) 2 ...
Z
em relação a à T constante, obtém-se B (T ) C (T ) ... . Tomando-se o limite
T
Z
dessa equação para tendendo a zero, resulta que B(T ) . Essa equação é também
T 0
adotada como uma restrição, para temperaturas selecionadas, no ajuste de equações de estado de
gases reais, como alternativa a imposição das condições respectivas ao ponto crítico. Por outro
lado pode-se escrever as identidades que seguem,
Z Z p Z Z
B (T ) ( RT )T RT / pc
T 0 p T p 0
T 0 p T p 0
pr Tr pr 0
Considerando-se que para a temperatura de Boyle a derivada parcial de Z é nula, resulta que para
esta temperatura particular B (T ) 0 . Pelo exposto, pode-se definir a temperatura de Boyle como
a temperatura para a qual o segundo coeficiente do virial é nulo. Com efeito, a figura 1.34 nos
mostra que a curva de B cruza o eixo da variável T evidenciando a temperatura de Boyle.
A teoria aqui apresentada tem por objetivo tão somente mostrar ao leitor as características mais
gerais das equações de estado, bem como as diferenças entre as principais equações, tanto quanto
o seu alcance. Os progressos computacionais alcançados, sobretudo nas últimas três décadas, no
tocante a termodinâmica, facilitaram enormemente o acesso aos dados de equações de estado e,
por conseguinte, as propriedades termodinâmicas. A disponibilidade comercial de software de
baixo custo justifica a omissão de uma apresentação mais detalhada sobre a teoria de equações de
estado. Nesse particular, é digno de nota mencionar a base de dados e software afim EES34, a
qual contém uma compilação de equações de estado. Uma base de dados mais robusta de
propriedades termodinâmicas de substâncias puras de interesse da engenharia é a base de dados
de referência padrão do NIST - National Institute of Standards and Technology 35.
A teoria de mistura de gases ideais é um tópico precedente à teoria de mistura de gases reais.
Como foi observado anteriormente, moléculas de gases ideais interagem somente durante
colisões entre estas. Em outras palavras, tais moléculas não interagem por ação à distância. É, por
conseguinte plausível conjeturar, que para pressões relativamente baixas e temperaturas
relativamente elevadas, uma mistura de gases ideais deve se comportar como um gás ideal,
contanto que moléculas de gases ideais distintos também não interajam por ação à distância.
Entretanto, em certas condições de temperatura e pressão, uma mistura de gases ideais pode não
resultar em um gás ideal. Por exemplo, uma mistura de hidrogênio e oxigênio pode ocasionar
uma reação de combustão explosiva, da qual resulta vapor d’água, não necessariamente um gás
ideal. Por outro lado, uma mistura de oxigênio e nitrogênio na temperatura ambiente, pode
comportar-se tal qual um gás ideal, até mesmo para pressões da ordem de 60atm. Na
circunstância de uma mistura de gases ideais se comportar como gás ideal, como será visto a
seguir, esta mistura é governada por uma equação de Clapeyron, na qual a pressão é a soma das
pressões que os gases exerceriam se ocupassem o mesmo volume com a mesma temperatura da
mistura.
pV NR T (1.54)
p v RT (1.55)
Suponha-se que gases ideais 1,2,..., r sejam confinados em cilindros através de pistões, de modo
que cada gás ocupe igual volume V e igual temperatura T , como ilustrado na figura 1.40.
Fig. 1.40 – Pressões parciais de gases ideais ocupando igual volume e igual temperatura
p jV N j R T ; j 1,2,..., r (1.56)
r r
( p j )V ( N j ) R T NR T (1.57)
j 1 j 1
36 Josiah Willard Gibbs (1839 – 1903) – Físico-químico teórico e matemático norte-americano. Foi um dos mais
notáveis cientistas da termodinâmica. Publicou trabalhos sobre a teoria do equilíbrio de misturas, graças aos quais a
teoria geral do equilíbrio de fases de sistemas multi-componentes foi estabelecida. Essa teoria teve desdobramentos
na tecnologia de refino de petróleo, tecnologia metalúrgica e na moderna tecnologia de novos materiais.
37 John Dalton (1766 – 1844) – Químico, meteorologista e físico inglês. Realizou um extenso trabalho sobre a teoria
atômica da matéria. Na termodinâmica estabeleceu as leis que governam misturas de gases ideais.
97
r
onde N N j é o número total de mols na mistura. Supondo-se que e a mistura desses gases,
j 1
a ocupar igual volume V e igual temperatura T se comporte tal qual um gás ideal, segue-se que,
pV NR T (1.58)
r
Comparando-se essa equação com a equação (1.57) tem-se, pV ( p j )V , de onde vem,
j 1
r
p pj (1.59)
j 1
Essa equação nos mostra que a pressão exercida por uma mistura de gases ideais é igual a soma
das pressões que estes gases exerceriam se cada um ocupasse o mesmo volume V à temperatura
T . Por essa razão, a pressão p j é denominada de pressão parcial do gás ( j ) e p é denominada
de pressão total. Dividindo-se a equação (1.57) membro a membro pela equação (1.58) chega-se a
expressão,
p jV / pV N j R T / NR T
da qual obtém-se a relação p j p N j / N . Sendo a fração molar do gás ( j ) definida pela razão,
pj yj p ; j 1,2,..., r (1.60)
Essa equação nos mostra que a pressão parcial de cada gás é proporcional a pressão total,
segundo sua respectiva fração molar na mistura. Por definição, a constante R da mistura é
relacionada à constante universal R através da equação R MR , onde M é o mol da mistura.
r
Na secção 1.5.9 é demonstrada a equação m N j M j . A equação precedente e a equação
j 1
r r
m NM nos dão, M M j y j , de modo que se pode escrever, R R / M j y j .
j 1 j 1
98
Fig. 1.41 – Volumes molares de gases ideais para igual pressão e temperatura
Para cada gás particular pode-se portanto expressar a equação de Clapeyron como segue,
pV j N j R T ; j 1,2,..., r (1.61)
Admitindo-se que a a mistura dos gases se comporte como um gás ideal segue-se que,
pV N R T (1.62)
V j / V N j / N y j ; j 1,2,..., r (1.63)
99
e também, V j y jV ; j 1,2,..., r . Verifica-se, portanto, uma analogia com a pressão parcial, uma
vez que cada gás ( j ) contribui na mistura com um volume V j proporcional ao volume total da
V j y jV V y j V , pois
j 1 j 1 j 1
y
j 1
j 1 . Por essa razão V j é denominado de volume parcial
j 1,2,..., r . Por conseguinte, o volume molar de cada gás participante da mistura é igual ao
volume molar da própria mistura.
Composição volumétrica:
Na prática é usual referir-se a composição volumétrica de um gás para p e T especificados. A
fração volumétrica do gás é expressa pela razão V j / V . Da equação (1.63) resulta que V j / V y j ,
Para efeito de aplicações termodinâmicas correntes, o ar (seco) pode ser considerado como
composto basicamente de O2, N2 e Ar. A massa molecular do ar como uma mistura, calculada
9
pela equação M y j M j é igual a 28,97, número esperadamente mais próximo da massa
j 1
100
Ar úmido:
O ar úmido é o ar que contém vapor d’água. A água líquida, quando exposta ao ar seco num
ambiente fechado à pressão atmosférica evapora, umidificando o ar. O processo de evaporação
cessa somente quando o ar torna-se saturado de vapor d’água. O vapor d’água saturado à
temperatura ambiente, comporta-se como um gás ideal, conforme já foi constatado através do
valor numérico de Z , computado com dados da tabela de saturação respectiva. O vapor que
abandona o líquido, saturado, ao difundir-se no ar torna-se superaquecido. Conclui-se portanto
que a mistura de ar seco e vapor d’água nas condições ambientes pode ser considerada tal qual
um gás ideal. O fenômeno da umidificação pode ocorrer também a partir da água na fase sólida.
É o caso da neve quando esta libera vapor d’água para o ar atmosférico. Para efeito de análise,
admite-se que o gelo e o líquido não contêm gases dissolvidos. Considera-se também que quando
o ar úmido e a fase condensada estão em uma dada pressão e temperatura, o equilíbrio entre a
fase condensada e seu vapor não é influenciado pela presença de outros gases ou particulados
presentes no ar. Por conseguinte, quando o equilíbrio entre a fase condensada e seu vapor é
atingido, a pressão parcial do vapor no ar torna-se igual a pressão de saturação correspondente à
temperatura dada. As hipóteses aqui admitidas são consideradas suficientemente rigorosas, para
efeito de aplicação da teoria decorrente, na engenharia de ar-condicionado e de desumidificação
na indústria, assim como também na meteorologia.
Define-se o ponto de orvalho de uma mistura de ar e vapor d’água, como o estado para o qual o
vapor condensa-se ou solidifica-se quando o ar é resfriado à pressão constante. O processo de
que resulta o ponto de orvalho é mostrado na figura 1.42. O ar, na pressão total pT e
temperatura T , é resfriado à pressão constante. Considerando-se que a composição molar da
mistura não varia durante o processo, segundo a Lei de Dalton, a pressão parcial do vapor d’água
no ar pv , permanece constante durante este processo, do estado (1) até o estado (2), para o qual
Se para uma dada temperatura, a pressão do vapor na mistura for igual a sua pressão de
saturação, o ar é denominado de ar saturado. Observe-se na figura 1.42, que para a temperatura T1
superior a To , a pressão de saturação é a pressão do estado (4) e para a temperatura T1 , inferior
a T1 e igual pressão parcial do estado (1), a pressão de saturação é a pressão do estado (4´), que é
menor que a pressão de saturação correspondente ao estado (4). Na circunstância de a
temperatura do ar atingir a temperatura de orvalho, a figura nos mostra também que a pressão do
vapor iguala-se a sua pressão de saturação, estado em que o ar torna-se saturado.
Define-se a umidade relativa como a razão entre a pressão parcial do vapor no ar e a pressão de
saturação deste, considerando-se estados de igual temperatura e pressão total, como segue,
pv / ps (T ) (1.64)
à pressão constante, o estado de saturação correspondente ao estado (1) será o estado (3).
Define-se a umidade absoluta como a razão entre a massa de vapor d’água contida em certo
volume V do ar úmido, m v e a massa de ar seco ma contida no mesmo volume, para uma mesma
m v / m a ( pv V / R v T ) /( pa V / R a T ) ( pv / pa )( M v / M a )
Sendo M v / M a 18,015 / 28,97 0,622 , essa expressão é reduzida a equação que segue,
0,622 p v / p a (1.65)
0 ,622 ps ( T ) / p a (1.66)
0 ,622 ps ( T ) /( p T ps ( T )) (1.67)
Essa equação nos mostra que para p T constante, a umidade absoluta é uma função de duas
variáveis independentes, quais sejam, e T . Essa correlação nos permite construir curvas da
umidade relativa como função da temperatura para constante, conforme ilustrado na figura
1.43. Note-se que como ps (T ) é crescente com a temperatura, o denominador da equação (1.67)
decresce com esta, de modo que a umidade absoluta aumenta com a temperatura. A figura 1.43
nos mostra que a partir do estado (1) mostrado na figura 1.42, o estado (4), correspondente a
umidade relativa de 100%, pode ser alcançado através de um processo isotérmico à temperatura
T1 . O estado (2), para o qual a temperatura é igual a temperatura de orvalho, pode ser alcançado
através de um processo à pressão total constante, como mostrado na figura 1.42, em que a
umidade absoluta é também constante. Observe-se na figura 1.43, que num processo isotérmico
em que a umidade absoluta é reduzida, também será reduzida a umidade relativa, o que pode ser
constatado por inspeção da equação (1.67). Nessa figura, o estado (5), como também mostrado
na figura 1.42, pode ser alcançado através de um processo isotérmico, cuja temperatura é menor
103
que a temperatura de orvalho. Esse estado também pode ser alcançado através de um processo
em que a umidade relativa seja constante e igual a 100%.
Segundo a Lei de Dalton, para uma temperatura T dada, as pressões parciais dos gases na
mistura contida no compartimento A são expressas como seguem,
p 1 A N 1 A R T / VA (1.68)
p 2 A N 2 A R T / VA (1.69)
104
Fig. 1.44 – Sistemas compostos de misturas de gases ideais separados por um pistão
semipermeável ou impermeável
pA p1A p 2 A (1.70)
p1B N 1B R T / VB (1.71)
p 2 B N 2 B R T / VB (1.72)
pB p 1B p 2 B (1.73)
Admitindo-se que a parede externa do sistema composto seja impermeável, o total do número de
mols de cada componente da mistura deve ser constante, de modo que prevalecem as equações
que seguem,
N1 A N1B N1 (1.74)
N2 A N2B N2 (1.75)
105
Considere-se um estado inicial particular (I), na situação em que o pistão seja impermeável e em
que as pressões dos dois sistemas sejam idênticas. Sendo as misturas gases ideais, elas obedecem
as equações que seguem
p A ( N1 A N 2 A ) R T / VA (1.76)
pB ( N1B N 2 B ) R T / VB (1.77)
( N1 A N 2 A ) / VA ( N1B N 2 B ) / VB (1.78)
Para que as pressões sejam iguais no estado inicial, basta que a soma dos números de mols de
cada compartimento seja proporcional, com igual fator, ao respectivo volume. Suponha-se a
seguir que o pistão seja considerado permeável apenas ao gás (1). Nesse caso, a experiência nos
ensina que as moléculas do gás (1) do compartimento de maior pressão parcial deste gás irão
deslocar-se cineticamente para o compartimento de menor pressão parcial, até que o sistema
composto atinja o estado de equilíbrio (II), para o qual p1IIA p1IIB . Nesse estado, as equações
N N
p 2 A 2 B R T (1.81)
VA VB
Supondo-se que a pressão no estado inicial de A e B seja igual a po , a equação (1.78) nos dá,
po ( N1 A N 2 A )R T / VA ( N1B N 2 B )R T / VB
RT po RT po
Considerando-se que no estado inicial, e , a equação (1.81)
VA N1 A N 2 A VB N1B N 2 B
pode ser escrita na forma que segue,
N2 A N2B
p po
N
1A N 2A N1B N 2B
p ( y2 A y2 B ) po (1.82)
A diferença de pressão ocasionada pelo fato de o pistão ser impermeável ao componente (2),
pode ser reduzida, permitindo-se o deslocamento do pistão, de sorte a variar os volumes VA e
VB , contanto que seja adotada a condição de volume total constante expressa pela equação que
segue.
107
VA VB Vo (1.83)
Nesse caso, o pistão móvel deve ser considerado impermeável a ambos componentes, de sorte a
preservar os parâmetros do estado de equilíbrio (II). Um estado de equilíbrio (III) pode ser
atingido de modo que as pressões totais de A e B resultem iguais. Para esse estado, a equação
(1.78) pode ser escrita como segue
VBIII c III Vo /(1 c III ) , onde c III ( N1IIB N 2 B ) /( N1IIA N 2 A ) . Os passos dos quais resultam os
estados (II) e (III) podem ser repetidos na mesma ordem. Para o passo j 3 , correspondente ao
caso de pistão fixo e permeável ao componente (1), as equações (1.79), (1.80) e (1.83) nos
permitem escrever o que segue
de onde
Note-se que os números de mols são aqueles correspondentes ao passo j 2 , para o qual o
pistão é considerado impermeável. Para o passo correspondente a pistão móvel impermeável,
têm-se as seguintes equações
108
Note-se que N A , N B , y A e yB são calculados somente para os estados de ordem par, enquanto
que c , VA e VB são calculados somente para os estados de ordem ímpar.
Nesta seção serão apresentados alguns exercícios analíticos bem como suas soluções. O objetivo
desses exercícios é ilustrar parte da extensão da teoria, consolidar a teoria das equações de estado
e também enfatizar alguns aspectos numéricos da solução das equações resultantes das condições
de equilíbrio térmico e mecânico. Particular ênfase é devotada a dependência funcional dos
parâmetros considerados.
N1B 0,75 e N 2 B 0,5 , de modo que a equação (1.78) seja satisfeita. No estado inicial tem-se,
N 2 N 2 A N 2 B 0,75 0,5 1,25 . A seguir, suponha-se que o pistão seja permeável somente
ao gás (1). No estado de equilíbrio (II), conforme as equações (1.79) e (1.80) ou equivalentemente
as equações (1.85) e (1.86) tem-se, N1IIA 1,25 1 / 2 0,625 e N1IIB 1,25 1 / 2 0,625 . As
y2 B 0,5 / 1,25 0 ,4 . Da equação (1.82) tem-se p / po 0,2 . Para o estado (III), da equação
(1.90) tem-se c III (0,625 0,5) /(0,625 0,75) 0,8182 . A equação (1.91) nos dá,
VBIII / Vo c III /(1 c III ) 0,8182 / 1,8182 0,450005 . A equação (1.89) nos dá,
p / po 0,10101 . À medida que se executa cada dois passos de cálculo em sequência, um dos
quais considerando o pistão permeável e outro considerando o pistão impermeável, a pressão
osmótica diminui, conforme nos mostra a Tabela 1.7 que segue.
A tabela nos mostra que enquanto a pressão osmótica tende a zero, os parâmetros tendem a
valores-limite. Por exemplo, VA / Vo tende a 0,6, enquanto que VB / Vo tende a 0,4. Entretanto,
esse limite pode ser determinado a partir do estado (1) impondo-se diretamente as condições de
igualdade de pressão parcial do componente (1) e pressão total para A e B . Com efeito, para o
estado final procurado, a igualdade das pressões parciais resulta nos números de mols calculados
pelas equações (1.85) e (1.86), de modo que
N1 A N1V A / Vo (1.93)
110
c ( N1 A N 2 A ) /( N1B N 2 B ) (1.95)
V A Vo /(1 c) (1.96)
VB c Vo /(1 c) (1.97)
V A / Vo ( N1 A N 2 A ) /( N1 N 2 ) (1.98)
VB / Vo ( N1B N 2 B ) /( N1 N 2 ) (1.99)
N1 A N1 ( N1 A N 2 A ) /( N1 N 2 )
N1 A N1 N 2 A / N 2
N1B N 2 ( N1B N 2 B ) /( N1 N 2 )
N1B N1 N 2 B / N 2
111
Um meio mais simples de obter essas relações é impor a igualdade das pressões parciais de A e
B no estado de equilíbrio procurado. Com efeito, fazendo-se p 0 na equação (1.81) obtém-
evidenciados na Tabela 1.7. Note-se que no estado inicial N1 A 0,5 e N1B 0,75 e no estado
final N1 A 0,75 e N1B 0,5 , do que se conclui que 0 ,25 mol do gás (1) migrou para A , o que
explica o aumento do volume de A em relação a seu volume no estado inicial.
dp g dz p g dz / RTo
p z
po
dp / p ( g / RTo ) dz
zo
p po e ( g / RTo )( z zo ) (1.100)
2 p( r ) dr dz sen( d / 2 ) 2 p( r ) dr dz d / 2
visto que, sen( d / 2 ) d / 2 . Note-se que duas forças devem ser consideradas, uma de cada
lado do elemento de volume. A força decorrente da aceleração centrípeta é expressa como
2r dV 2r r dr d dz . Fazendo-se o balanço de forças na direção do raio central do
elemento de volume resulta
113
p dr
Simplificando-se d e substituindo-se p (r dr / 2) p (r ) na equação anterior vem,
r 2
p dr dr p dr dr
p(r ) r p r p (r )dr r dr 0
2 2
r 2 2 r 2 2
p
Levando-se em consideração também o gradiente da pressão em z expresso por g na
z
p p
expressão da diferencial, dp dr dz vem,
r z
114
dp g dz 2r dr (1.101)
do líquido em contato com a atmosfera é igual a po . Suponha-se que o conjunto seja submetido
p po g (h z ) 2r 2 / 2 (1.102)
A pressão, por conseguinte é uma função da altura z a partir da base do cilindro e do raio r . Da
equação (1.102) pode-se expressar z na forma que segue
z( r ) ( po p ) / g h 2r 2 / 2 g (1.103)
O lugar geométrico dos pontos definidos por z e r , para os quais p po , segundo a equação
parabolóide de revolução paralelo aquele respectivo a p po . Como pode ser constatado através
da equação (1.103), a distância medida na direção de z entre pontos do parabolóide respectivo a
38
No caso de o fluido ser considerado viscoso, tensões cisalhantes decorrentes da viscosidade ocorrerão na
superfície do fundo do tanque, inibindo o escoamento do fluido na direção radial induzido pela força centrífuga. Na
superfície livre do líquido a força centrífuga induz o movimento radial do fluido, todavia numa situação em que não
atuam forças viscosas, de modo que o fluido, como um todo, é forçado a circular no sentido horário, no espaço
compreendido entre r 0 e r a , enquanto é submetido a um movimento de rotação ao redor do eixo vertical,
com a velocidade angular do tanque.
115
V a 2 (h 2 a 2 / 4 g )
V a 2 H o a 2 (h 2 a 2 / 4 g )
zo (r ) H o 2r 2 / 2 g 2a 2 / 4 g (1.104)
H é maior que H o . Isto é esperado, visto que a superfície do líquido, originalmente plana e
horizontal, é transformada em um parabolóide de revolução, resultante do deslocamento do
líquido para o fundo do tanque no seu centro. Esse deslocamento é compensado pela ascensão
do líquido na parede cilíndrica, como conseqüência da força centrífuga. Existe uma velocidade
angular crítica para a qual h 0 , isto é, para a situação particular em que o parabolóide toca o
fundo do recipiente, no ponto de raio nulo. Nesse caso deve-se ter, h H o 2 a 2 / 4 g 0 , de
z( r ) ( po p ) / g H o 2( r 2 a 2 / 2 ) / 2 g (1.105)
( po p ) / g H o 2a 2 / 4 g 0
se obtém p po g h . Esse resultado poderia ser obtido diretamente da equação (1.102). Essa
equação, que expressa a pressão resultante no fundo do tanque devida a coluna de líquido de
altura h , para r 0 , está em conformidade com a equação da hidrostática já demonstrada.
p p 2r
derivada da pressão em relação à r é expressa pela equação, 2r e sua derivada
r RTo
p pg
em relação a z é expressa pela equação, g . Segue-se que a diferencial da
z RTo
pg p 2r
pressão nos dá, dp dz dr ou equivalentemente a equação que segue,
RTo RTo
g 2r
dp / p dz dr (1.106)
RTo RTo
gz 2r 2
A integral dessa diferencial nos dá, ln p ln C , onde ln C é uma constante a
RTo 2 RTo
determinar. Essa equação pode ser escrita na forma exponencial que segue,
39
No caso de fluido viscoso confinado entre as duas paredes do tanque, forças viscosas inibirão o movimento do
fluido ocasionado pela força centrífuga atuante nas paredes superior e inferior do tanque. Como as forças viscosas
não atuam na superfície horizontal posicionada na altura média do tanque, pelo efeito da força centrífuga, resultarão
dois núcleos de circulação do fluido, sendo que o núcleo superior circulará no sentido anti-horário, enquanto que o
núcleo inferior circulará no sentido horário, no espaço limitado entre o raio r 0 e r a .
117
gz 2r 2
p( r , z ) C exp (1.107)
RTo 2 RTo
Entretanto, a massa do gás m contida no tanque deve ser constante, independentemente de sua
velocidade angular. Para o caso particular de a velocidade angular ser nula, essa equação nos dá,
gz
p Co exp , onde Co é uma constante a determinar. Por outro lado,
RTo
gz
( z ) p / RTo Co exp / RTo
RTo
A constante Co pode ser determinada admitindo-se por exemplo que para z H o a pressão é
gH o
conhecida e igual a po . Segue-se que nesse ponto deve-se ter, po Co exp , de onde
RTo
gH o
obtém-se, Co po exp . Das equações de p e tem-se respectivamente as expressões,
RTo
g( H o z )
p po exp (1.108)
RTo
g( H o z )
( z ) ( po / RTo ) exp (1.109)
RT o
Ho a a Ho Ho
m 2 ( z )r dr dz 2 r dr ( z ) dz a 2 ( z )dz
0 0 0 0 0
gH o gH o
m ( po a 2 / g )1 exp exp (1.110)
RTo RTo
Por outro lado, para a situação do cilindro em rotação, a massa total é expressa pelas identidades,
Ho a Ho a
m 2 ( r , z )r dr dz ( 2 / RTo ) p( r , z )r dr dz
0 0 0 0
Ho a gz 2r 2
m ( 2 / RTo ) 0 C exp exp r dr dz (1.111)
0
RTo 2 RTo
gH o 2a 2
m C( 2 RTo / 2g )1 exp exp 1 (1.112)
RTo 2 RTo
gH o 2a2
C ( po a 2 2 /2 RTo )exp exp 1
RTo 2 RTo
g( H o z ) 2r 2 2a 2
p ( po a 2 2/ 2 RTo ) exp exp exp 1 (1.113)
RTo 2 RTo 2 RTo
Note-se que nessa equação z deve ser menor que H o . A função correspondente ao lugar
geométrico dos pontos de igual pressão, pode ser obtida da equação (1.113) por logaritmação, do
que resulta a equação que segue,
2r 2 RT 2 RT p 2a 2
z Ho o ln 2 2o exp 1 (1.114)
2 g g a po 2 RTo
119
RT 2 RT p 2a 2
ho H o o ln 2 2o exp 1
g a po 2 RTo
2a 2 2a 2 2 RTo 2 RTo
lim exp 1 2 2 exp 2 2
2
2 RTo 2 RTo a a
0
g( H o z )
lim p po exp
0
RTo
Pode-se demonstrar que no centro do cilindro a pressão é menor que po , enquanto que na
2a 2
parede correspondente a r a a pressão é maior que po . Com efeito, definindo-se ,
2 RTo
pode-se ver que a função /( e 1 ) aparece como fator na equação (1.113) para o caso de
Fig. 1.46 – Elemento de volume de casca esférica posicionado no raio r e submetido a gradientes
de pressão, onde a aceleração gravitacional é g
dV ( r )3 ( r )3 d / 3 ( r dr / 2 )3 ( r dr / 2 )3 d / 3
dP g dV g r 2 dr d (1.115)
De acordo com a figura 1.46, a resultante das forças que atuam perifericamente na superfície
lateral do tronco de cone e na direção de seu raio central é expressa pela equação que segue,
periférica do tronco de cone é dAL dA dA a r a r . Essa área pode ainda ser
escrita segundo as identidades,
dAL ( a )2 r / a ( a )2 r / a d ( r )2 r / a d ( r )2 r / a
dFL p( r )d ( r )2 ( r )2 p( r )d ( r dr / 2 )2 ( r dr / 2 )2
Desdobrando-se os binômios chega-se a equação que segue
dFL 2 p( r )r d dr (1.116)
Por outro lado, a força que atua sobre a área superior do elemento de volume é expressa pela
equação,
p( r dr / 2 ) ( a )2 p( r dr / 2 ) d ( r )2 p( r dr / 2 ) d ( r dr / 2 )2
122
p( r dr / 2 ) d ( r dr / 2 )2 p( r dr / 2 ) d ( r dr / 2 )2 dFL dP 0
Substituindo-se nessa equação dP e dFL por suas respectivas expressões (1.115) e (1.116)
obtém-se a equação que segue,
p( r dr / 2 ) ( r dr / 2 ) 2
p( r dr / 2 ) ( r dr / 2 )2 d
(1.117)
2 p( r )r d dr g r dr d 0
2
dp dr
Simplificando-se d , substituindo-se p( r dr / 2 ) p( r ) na equação (1.117),
dr 2
desdobrando-se os binômios e cancelando-se os termos contendo ( dr )2 e ( dr )3 chega-se a
dp
equação r 2 dr g r 2 dr 0 , de onde resulta
dr
dp
g 0 (1.118)
dr
p po KM ( 1 / r 1 / ro ) (1.119)
1 / r 1 / ro ( ro r ) / ro r r / ro r
Como r ro r vem,
r / ro r r / ro ( ro r ) r / ro2 ( 1 r / ro ) r / ro2
123
Os fluidos de A e B são considerados como gases ideais. Três situações de equilíbrio distintas
são possíveis, como será mostrado a seguir.
VB VA (1.121)
onde mB RB / mA RA e TB / TA . Adicionalmente
VA VB Vo (1.122)
VA / Vo 1 /( 1 )
VB / Vo /( 1 ) .
Para cada valor numérico de , obtém-se um único valor numérico para VA / Vo e, por
conseguinte, para VB / Vo , para um valor fixo de . Reciprocamente, para cada valor numérico
Fig. 1.48 – Razões de volumes correspondentes a estados de equilíbrio mecânico possíveis, para
0,5 (—) e 1,0 (---)
VA / Vo 1 /( 1 )
VB / Vo /( 1 )
Por conseguinte, para cada valor de existe apenas um valor para VA / Vo e conseqüentemente
Suponha-se inicialmente que o sistema composto de A e B , de volume VAI e VBI contém massa
m 1 de um gás (1), à temperatura To . O compartimento C é ocupado com massa m 2 de gás
Para uma pressão inicial pI e temperatura To , da equação de Clapeyron vem, pIVAI mA I R1To ,
Dividindo-se essa equação pela equação de Clapeyron respectiva ao sistema C resulta a equação
que segue
Resolvendo-se as equações (1.124) e (1.125) em VCII e VBII resultam as equações que seguem
VCII Vo /( 1 ) (1.126)
Essa equação pode ainda ser escrita na forma p B p IVCI /( Vo VB ) . Dividindo-se o numerador
p B p I ( VCI / Vo ) /( 1 VB / Vo ) (1.130)
p pI ( VAI VBI ) /( VA VB )
Da equação (1.123) pode ser expressa na forma ( VAI VBI ) / VCI . Dividindo-se o
(1.133), VBII / VC pela equação (1.126) e VBII / Vo pela equação (1.127). Da equação (1.128) vem
A equação (1.130) nos mostra que pB / pI pode ser expressa em função de VB / Vo . Pela mesma
Como pode ser verificado por inspeção, a equação (1.133) nos mostra que a pressão de B
aumenta com o volume VB no processo isotérmico, conforme ilustrado na figura 1.50 (b).
A figura nos mostra que o processo isotérmico em B não segue a equação de uma hipérbole
eqüilátera. Isso acontece pela razão de que a massa de B varia enquanto o processo isotérmico
ocorre e, por conseguinte, B não pode se comportar como um sistema, cuja massa deve ser
130
constante. Por outro lado, A e B constituem-se num sistema, uma vez que para cada estado de
equilíbrio, a soma das massas dos compartimentos A e B é igual a m 1 . Por essa razão, a pressão
correspondente, varia segundo a equação (1.132), que é a equação de uma hipérbole eqüilátera. A
curva de pressão de A e B é ilustrada na figura 1.50 (a).
equação (1.126) vem VCII / Vo 1 /( 1 5,25 ) 0 ,16 e, portanto, VBII / Vo 1 0 ,16 0 ,84 . Da
no intervalo compreendido entre 0,2 e 0,84, enquanto que ( V A VB ) / Vo deverá variar entre
0,84 e 4,2. A razão das pressões deverá variar entre a unidade e 5,0. As curvas mostradas na figura
1.50 foram construídas com dados deste exemplo numérico.
seção ApB , sendo que ApA / ApB é um parâmetro fixo. Por conseguinte, a relação dos
Os dois sistemas estão em equilíbrio mecânico, de modo que deve-se impor a igualdade
p AI ApA pBI ApB , ou seja,
pBI p AI (1.135)
A condição de rigidez do eixo é traduzida pela equação do deslocamento dos pistões na forma
( VA VAI ) / ApA ( VBI VB ) / ApB . Multiplicando-se ambos os membros dessa equação por
V AI / Vo 1 /( 1 ) (1.140)
VBI / Vo / ( 1 ) (1.141)
calor seja entregue ao sistema A enquanto que calor é retirado do sistema B de modo que neste
o processo seja isotérmico à temperatura TBI . Entretanto, as equações (1.135), (1.136), (1.137) e
(1.138) são válidas para qualquer estado de equilíbrio, correspondente a temperaturas TA e TB .
Como o leitor bem pode demonstrar, essas equações nos permitem escrever o que segue
VB VA TB / TA (1.142)
figura 1.52 ilustra curvas de VAI / Vo e VBI / Vo em função de para valores constantes de e
TA / TAI .
Fig. 1.52 – Razão dos volumes dos sistemas A e B como funções de para 5
133
TA / TB X /( 1 X ) (1.145)
onde X VA / Vo . Essa equação nos mostra que a temperatura de A aumenta com X para TB
constante, como ilustrado na figura 1.53.
/ Y ( TA / TAI ) /( 1 Y ) (1.146)
134
f B ( 1 Y ) ( TA / TAI )Y f A (1.147)
Essa equação nos mostra que a solução na condição de equilíbrio para TA dada, corresponde a
intersecção das duas retas num diagrama de pressão de equilíbrio como função de Y . Conforme
o leitor pode verificar, as equações (1.137) e (1.138) nos permitem escrever as equações da
pressão de cada sistema em função de Y como segue
Essas equações foram normalizadas, dividindo-se as pressões de cada sistema pela pressão de A
no estado inicial e considerando-se a equação (1.135). A representação gráfica dos processos
isotérmicos respectivos a A e B pode portanto ser visualizada em diagrama normalizado e
conjugado para os quais X Y 1 .
Caso (a1): Neste caso TBI 500 K e, portanto 1 e 1 . Da equação (1.140) resulta
da qual vem,
135
O estado de equilíbrio (I) é definido pelo ponto A1 representado pelo par de coordenadas
( 5Y II , p AII / po ) ( 0 ,25 , 2 ,0 ) .
Caso (a2): Neste caso TBI 350 K e, portanto TBI / TAI 350 / 500 0,7 . Das equações
pelo ponto A2 cujas coordenadas são ( 0 ,411765 , 0 ,85 ) . Para o estado (II) tem-se
X II 0,810811 e Y II 0,037838 , de onde resulta pBII / po 1,85 , de modo que o estado (II)
representado pelo ponto B 2 tem para coordenadas ( 0 ,18919 , 1,85 ) . A isoterma correspondente
Caso (a3): Neste caso TBI 700 K e, portanto 700 / 500 1,4 . Das equações respectivas
representado pelo ponto A3 cujas coordenadas são ( 0 ,583335 , 1,2 ) . Para o estado (II) tem-se
Os pontos de intersecção das curvas correspondem aos estados de equilíbrio inicial e final. Note-
se que as razões dos volumes no estado inicial, conforme a figura 1.52, dependem de TAI e . A
figura nos mostra que o aumento de resulta no aumento da vazão VBI / Vo . Note-se também
que embora a isoterma de A vista na figura 1.55 seja uma curva crescente com VB , isto é, com
ZB 1 P / Y Q / Y 2 (1.150)
pB Z B mB RBTBI / VB (1.151)
p A mA RATA / VA (1.152)
138
( TA / TAI ) / VA Z B / VB ou ainda,
( TA / TAI ) /( VA / Vo ) Z B /( VB / Vo )
( TA / TAI ) /( 1 Y ) Z B / Y (1.153)
( TA / TAI ) /( 1 Y ) ( 1 P / Y Q / Y 2 ) / Y
f A ( TA / TAI )Y 3 ( Y 2 PY Q )( 1 Y ) f B (1.154)
g A ( TA / TAI )z ( 1 z ) ( P / z Q 2 / z 2 )( 1 z ) g B (1.155)
( TA / TAI ) /( 1 z ) ( 1 P / z Q 2 / z 2 ) / z (1.156)
O polinômio do lado direito da equação (1.154) é uma função cúbica em Y que possui
obviamente a raiz Y 1 / . Em particular, para Y 0 a função f B reduz-se a f B Q . As
outras duas raízes da função f B devem necessariamente ser raízes da equação do segundo grau
Boyle, conforme nos mostra a figura 1.36, B( TBI ) 0 e, por conseguinte, Y2 P é negativa.
pB / p AI ( mB RB / Vo )( TBI / p AI ) 1 P / z Q 2 / z 2 / z (1.157)
p A / p AI ( mA RA / Vo )( TA / p AI ) /( 1 z ) (1.158)
mB RB / Vo mA RA / Vo p AI ( VAI / Vo ) / TAI
A equação (1.154) deve ser resolvida também para o estado inicial, para o qual TA TAI . Nesse
caso essa equação toma a forma particular que segue
Considere-se o exemplo numérico para o qual o fluido em A seja um gás ideal e o fluido B
dióxido de carbono. Nesse exemplo, 5 , 3 , TAI TBI 350 K , de modo que 1 e
140
pBII p AII 5 450 2.250kPa , de modo que pBII / po 2.250 / 1.000 2 ,25 . Para o caso
P bo ( mB / Vo )B ( T ) / M B
Q bo2 ( mB / Vo )2 C ( T ) / M B2
para TA TAII 2.100 . A solução da equação (1.159), para o estado (I) resulta em Y I 0,1489 ,
de onde têm-se,
pBI 5 p AI 978,14kPa
pBI / po 0,978
Y II 0,063678
p BII / po 2,201 .
A figura 1.56 (a) ilustra os pontos de intersecção das funções f A e f B expressas pela equação
(1.154), correspondentes as raízes da equação associados aos estados de equilíbrio (I) e (II). A
figura 1.56 (b) ilustra a intersecção das funções g A e g B expressas segundo a equação (1.155),
nos pontos correspondentes as raízes associadas aos estados considerados, em diagrama
normalizado.
Fig. 1.56 – (a) Estados de equilíbrio (I) e (II) correspondentes as soluções da equação (1.154) e
(b) Mesmos estados de equilíbrio correspondentes as soluções da equação (1.155)
B o o par ( 0 ,3333 , 2 ,25 ) . Os pontos correspondentes a solução de gás real, A 1 e B1 tem por
coeficiente do virial ser negativo para a temperatura de B dada. Nessa situação particular, as
forças de atração intermolecular são dominantes, o que explica a contração do volume. Em
outras palavras, o pistão é forçado na direção de B por conseqüência dessas forças. A diferença
em relação ao volume aumenta com a temperatura de A , o que é compreensível, pois este
aumento corresponde a um aumento da pressão de B , aumentando conseqüentemente o desvio
do gás em relação ao gás ideal.
ideal à temperatura T1 e pressão p 1 num volume V1 . O pistão atua sobre uma roda dentada
através de uma cremalheira no eixo do pistão, como mostrado na figura 1.58. A roda dentada, de
raio a , move uma haste rígida de comprimento b , na extremidade da qual é engatada uma esfera
de peso P . O gás recebe calor e se expande deslocando o pistão e, portanto o peso, de um
ângulo . No estado inicial 0 de modo que a pressão p 1 é igual a pressão externa somada a
figura 1.58, o balanço das forças em relação ao eixo da roda dentada, desconsiderando-se o peso
143
da haste, é expresso por P b sen F a , onde F é a força tangencial à roda, que é igual a força
exercida pelo eixo do pistão.
conseguinte,
Pb V V1
p p1 sen (1.160)
aA aA
p p
onde p 1 po Pp / A p , para V V1 .
p / p 1 1 sen( 1 ) (1.161)
que assegurem ser menor que a unidade. No estado inicial, p 1V1 mRT1 e para um estado
T / T1 ( p / p 1 )( V / a A p ) / V1 / a A p )
T / T1 ( p / p 1 ) / 1 (1.162)
A temperatura do gás pode ser expressa como função de , substituindo-se p / p 1 expressa pela
T / T1 1 sen( 1 ) / 1 (1.163)
resulta
p máx / p 1 1 (1.164)
T 2 / T1 ( 1 )( 1 / 2 ) / 1 (1.165)
T2 / T1 1 sen( 3 1 ) 3 / 1 (1.166)
( 1 )( 1 / 2 ) 3 1 sen( 3 1 ) (1.167)
Note-se que 2 satisfaz trivialmente essa equação. Por outro lado, a temperatura máxima para
, isto é, para 1 , corresponde ao estado (4) para o qual d T / d 0 . Derivando-
se a equação (1.163) e igualando-se o resultado a zero obtém-se
Uma vez resolvida essa equação em 4 , a temperatura máxima, conforme a equação (1.163) é
expressa como segue
Tmáx / T1 1 sen( 4 1 ) 4 / 1 (1.169)
p / p 1 ( T / T1 ) 1 / (1.170)
A figura 1.59 ilustra a curva de pressão calculada através da equação (1.161) e também as curvas
isotermas T T2 e T Tmáx , calculadas através da equação (1.170) e os pontos correspondentes
aos estados notáveis, para 1 1,0 e 0,5 . Para esses dados, 2 2 ,5708 , 3 4 ,3853 ,
4 3,4448 , T2 / T1 3,8562 e Tmáx / T1 4,5502 . A figura nos mostra também, que existe
outra raiz da equação (1.167), que não foi calculada, à exemplo de 3 , correspondente ao ponto
1 6 .
146
normalizado.
Note-se na figura 1.59, que o gás se expande até que a temperatura atinja T4 Tmáx do estado (4),
após o qual, a queda de pressão faz com que a temperatura do gás seja reduzida. Se o volume
continuar a expandir-se a partir do estado (3), a temperatura do sistema irá aumentar, todavia
147
oscilando, conforme ilustra a figura 1.60, enquanto que a pressão normalizada continuará a
oscilar, com centro de oscilação situado sobre a reta horizontal de ordenada 1 , atingindo seu
valor mínimo igual a 1 e seu máximo máximo igual a 1 , de acordo com a função
sen( 1 ) . Entretanto, o gráfico da temperatura poderá não ter sentido físico para valores
muito elevados da razão T / T1 , uma vez que dependendo da temperatura inicial, a temperatura
pode atingir valores fisicamente incompatíveis com a condição de integridade das moléculas do
gás ideal, por conseqüência da dissociação molecular. Por exemplo, para T1 300 K , uma razão
Fig. 1.61 – Sistema contendo dois gases ideais separados por pistão móvel e permeável ao
componente (1)
No estado inicial, a temperatura do sistema é igual a To . O volume total ocupado pelas misturas
gasosas é igual a Vo . O pistão é permeável ao componente (1) e como vimos na teoria, ele estará
sujeito a diferença de pressão osmótica, de acordo com a equação (1.81), qual seja,
p ( N 2 A / VA N 2 B / VB )R To (1.171)
148
onde VA VB Vo . Para cada valor do volume VA está associada uma diferença de pressão. O
sistema é submetido a um processo isotérmico, durante o qual a pressão varia com o
deslocamento do pistão. Eliminando-se VB em favor de VA na equação (1.171) tem-se
p N 2 A / VA N 2 B /( Vo VA )R To (1.172)
p y2 A / X A y2 B /( 1 X A )N 2 R To / Vo (1.173)
Como o fator dessa equação tem a unidade da pressão, pode-se escrever essa equação na forma
adimensional que segue
pVo / N 2 R To y2 A / X A y2 B /( 1 X A ) (1.174)
A equação (1.174) admite um valor de X A para o qual a diferença de pressão se anula, ou seja,
y2 A / X A y2 B /( 1 X A ) 0 , de onde se obtém
X Ar ( y2 A / y2 B ) /( 1 y2 A / y2 B ) (1.175)
Seja um estado inicial para o qual X A X Ao e cuja diferença de pressão associada seja igual a
po . Dividindo-se a equação (1.174) membro a membro por si própria respectiva a po , resulta
a equação normalizada que segue
A figura 1.62 ilustra a razão das pressões expressa pela equação (1.176), para X Ao 0,5 ,
X Ao 0,6 , X Ao 0,7 , y2 A 0,5 e y2 B 0,1 . Para esses valores numéricos particulares obtém-se
X Ar 0,833 .
No estado inicial (1), a água encontra-se à 200 o C , na fase de líquido saturado. Calor é entregue
ao sistema e o fluido muda de fase e se expande segundo um processo isobárico. Quando o
volume do fluido é igual a 0,1m 3 , o pistão toca numa mola elástica linear, cuja constante de
proporcionalidade de força é igual a 45,14kN / m . A partir desse estado, a mola atua sobre o
pistão, exercendo sobre este uma força proporcional a seu deslocamento. O processo continua
até o estado para o qual a temperatura do vapor atinge 800 o C . O volume do fluido na condição
de vapor saturado seco a 200o C é igual a 0,2m3 . Determinar a pressão e o volume para os quais
o fluido atinge o estado de vapor saturado seco e também a pressão e o volume para o estado
cuja temperatura é de 800 o C . A área do pistão é igual a 0,1m 2 e a pressão atmosférica externa é
igual a po desconhecida.
150
Fig. 1.63 – Sistema contendo água saturada, cujo pistão atua sobre uma mola elástica linear, a
partir de um estado definido por V2 0,1m 3
vv1 0 ,12736m3 / kg . No estado para o qual a mola começa a atuar, V V2 mv2 . Entretanto,
200o C . Da tabela respectiva tem-se p1 1553,8kPa . Entre os estados (1) e (2) o processo é
como segue,
p Ap po Ap Pp k ( V V2 ) / Ap
p po Pp / Ap ( k / Ap2 )( V V2 )
p p2 ( V V2 ) (1.177)
onde k / Ap2 45,14 / 0,01 4514kPa / m3 . O estado (3) é o estado para o qual o fluido é
A pressão p3 é uma função decrescente do volume V3 , uma vez que quando p aumenta, o
Fig. 1.64 – Diagrama p v para a água (não está na escala real) ilustrando a reta correspondente
a pressão decorrente da atuação da mola elástica linear.
T3 p3 ps ( T3 ) Vv 3 m vv 3 V3 (Eq. 1.177)
200 p2 0,2 0,1
205 1723,0 0,180917 0,137483
210 1906,3 0,163957 0,178089
Note-se que, para T3 205o C , o volume calculado pela equação (1.177) para p3 1723,0kPa é
menor que o volume Vv 3 m vv 3 , enquanto que para T 210o C , o volume calculado por essa
(1.177) admitem um valor numérico de V3 , para o qual elas se igualam. Para determinar a
solução, a função ps ( Vv 3 ) é aproximada por uma reta que passa pelos dois pontos
A equação (1.177) para os dados especificados pode ser escrita como segue
p3 1861,301kPa .
p4 p2 ( V4 V1 ) (1.180)
figura, T1 25o C e 1 60% . A pressão de saturação a 25o C , de acordo com dados da Tabela
Estado (4): Neste caso tem-se, T 4 T1 25o C e 4 100% . A equação (1.67) nos dá,
Estado (7): Neste caso tem-se, T 7 T1 25o C e 7 80% . A equação (1.67) nos dá,
Estado (8): Neste caso tem-se, T 8 T1 25o C e 8 40% . A equação (1.67) nos dá,
(b) Uma sala de aula hermética, de dez metros de comprimento, sete metros de largura e três
metros de pé-direito, contém ar à 25o C , pressão de 101,325kPa e umidade relativa igual a 20%.
Uma bandeja contendo água destilada a 25o C é colocada no interior da sala. Depois de algum
tempo, mediu-se a massa na bandeja e constatou-se que esta foi reduzida de 0 ,3kg , enquanto que
a temperatura da sala permaneceu constante. Determinar a massa de vapor contida no ar, a
umidade absoluta, a umidade relativa e a pressão total deste. À 25o C , como vimos,
ps 3,17kPa . A expressão de definição de umidade relativa nos dá,
O volume da sala é igual a 210m3 . Segundo a Lei de Dalton, a massa de ar seco no estado (1)
pode ser obtida da equação de Clapeyron, expressa na base mássica, de modo que se pode
escrever,
A massa de vapor no estado (1), conforme a definição de umidade absoluta é expressa como
segue,
pT 2 pa pv 2
em que,
Tem-se, portanto,
Note-se que a massa de ar seco é constante e por esta razão também a pressão parcial do ar.
Conclui-se, portanto que o aumento da pressão total do ar deve-se somente ao aumento da massa
de vapor d’água neste.
(c) Considere-se o exemplo (b), na circunstância de o ar no estado final de equilíbrio (3) à 25o C
ser saturado, isto é, 3 100% . Determinar a massa de água evaporada da bandeja para que o ar
atinja esse estado. Nesse caso tem-se,
Como vemos, essa massa é maior que a massa evaporada de 0 ,3kg considerada no estado (2)
respectivo ao exemplo (b). A pressão total da sala é expressa pela equação,
pT 3 pa pv 3
pT 3 100,691 3,17 103,861kPa . Essa pressão é levemente superior a pressão pT 2 , o que era
esperado.
157
( 1m3 109 mm3 ) é, por conseguinte, aproximadamente igual a 2,7 1016 . O diâmetro de uma
molécula situa-se ao redor de 3 10 10 m . Se imaginarmos o volume normal ocupado pelo gás,
dividido em células cúbicas contendo uma molécula no centro geométrico de cada célula, o
volume correspondente a cada célula seria igual a 22,4 / 6,0251 1026 3,7 1026 m3 . A aresta
dessa célula é igual a raiz cúbica desse número o que nos dá, 3,34 109 m . Comparando-se esse
número com o diâmetro da molécula, conclui-se que a distância entre moléculas é da ordem de
40
O autor tomou como base, quase que fielmente, a teoria cinética apresentada no livro de F. W. Sears, An
Introduction to Thermodynamics, the Kinetic Theory of Gases, and Statistical Mechanics, Addison-Weley Publishing Company,
1952.
158
onze vezes o diâmetro destas. A segunda hipótese pode ser justificada pela constatação
experimental de que a pressão exercida por um gás confinado num reservatório esférico é
uniforme ao longo da superfície desse reservatório. Admitindo-se a hipótese de que a pressão na
superfície resulte da variação da quantidade de movimento linear das moléculas durante o choque
destas contra a parede, pode-se concluir que a distribuição de velocidades independe da direção.
O fato de essa pressão ser uniforme nos faz supor também que a distribuição das moléculas por
unidade de volume nesse reservatório seja uniforme, o que justifica a terceira hipótese.
Suponha-se uma região de volume infinitesimal, sub-região da região ocupada pelo gás. Esse
volume não pode ser muito pequeno em comparação a escala de diâmetro das moléculas.
Entretanto, um cubo de aresta de comprimento igual a 0,001mm nas condições normais de
temperatura e pressão, como pode ser verificado, pode conter aproximadamente 3 107
moléculas. Nessa ordem de grandeza do elemento volumétrico, que como vemos é muito menor
que a ordem de grandeza dos aparatos correntes de laboratório, pode-se admitir que a massa do
gás é continuamente distribuída no volume, de sorte que a teoria pode ser formulada fazendo-se
uso do cálculo diferencial e integral. Admitindo-se que todas as direções da velocidade das
moléculas sejam igualmente verossímeis, isto é, que a distribuição de velocidades tenha simetria
esférica, pode-se visualizar essas moléculas sobre uma superfície esférica em cada instante. Com
efeito, para cada molécula com sua velocidade vetorial em determinado tempo dado, prolongue-
se sua trajetória virtualmente sobre uma superfície esférica de raio r , como ilustrado na figura
1.65.
Como vemos nessa figura, em dado instante, a cada molécula corresponde um ponto sobre essa
superfície, qual seja, o ponto de cruzamento de sua trajetória retilínea com esta. Por conseguinte,
o número de pontos sobre a superfície é igual ao número de moléculas do gás distribuídas
uniformemente sobre esta, pela razão de que essas moléculas são uniformemente distribuídas no
espaço limitado pela região que confina o gás. Para n moléculas, define-se a densidade molecular
do gás no volume V da região pela razão, n / V . O número de moléculas por unidade de volume
e por unidade de área da superfície esférica considerada é igual a ( n / V ) /( 4 r 2 ) . Segue-se que o
número de moléculas por unidade de volume contido em um elemento de área dAe dessa
Note-se que o produto sen d d dAe / r 2 é o ângulo sólido compreendido nos intervalos
demonstrar, é igual ao número dessas moléculas contidas nesse cilindro. Deve-se entretanto
considerar que outras moléculas com velocidades no intervalo de tempo especificado, são
provenientes de outras direções que não aquelas da direção considerada. Estas certamente não
fazem parte daquelas presentes no volume elementar dV .
Fig. 1.67 – Cilindro elementar contendo as moléculas provenientes da direção definida por e
que se chocam na superfície de área dA
Deve-se considerar também que existem moléculas oriundas de igual direção definida por e ,
as quais não atingirão a superfície considerada no intervalo de tempo dt , ou porque atingem a
superfície em tempo menor ou porque não a atingem, por moverem-se mais lentamente que as
moléculas que atingem a superfície no intervalo de tempo referido. Note-se que para cada direção
especificada pelos ângulos e e seus intervalos elementares respectivos, estão associados
pontos representativos de moléculas na superfície elementar de área dAe na superfície esférica,
cuja densidade é expressa pela equação (1.183). Essa equação nos permite concluir que esses
pontos podem também estar representados na superfície de uma esfera de raio unitário, sobre a
qual o elemento de área correspondente a dAe é igual a sen d d . As moléculas que atingem o
topo do cilindro, oriundas de uma direção especificada, são aquelas que seguindo trajetórias
paralelas nesta direção, estão representadas em superfícies elementares da esfera referida.
Transcorrido o intervalo de tempo dt , as moléculas que se situam no topo do cilindro, oriundas
da direção definida por e e cujas velocidades situam-se no intervalo v ,v dv , deslocam-se
todas de uma distância igual a v dt na direção da superfície da base do cilindro e efetivamente se
chocam contra esta. Por conseguinte, o número de choques no intervalo de tempo dt é igual ao
162
1 1
dn( v )sen d d dV v dt dn( v ) cos sen d d dA (1.184)
4 V 4 V
O número de choques por unidade de área e unidade de tempo é obtido dividindo-se essa
equação membro a membro por dA dt e multiplicando-se essa membro a membro por V , de
onde resulta a expressão,
1
v dn( v )sen cos d d
4
O total de choques por unidade de área e de tempo respectivo as moléculas oriundas de todas as
direções limitadas no hemisfério definido pelos intervalos 0 / 2 e 0 2 , é igual a
integral da expressão precedente nesses intervalos, a qual como se pode verificar, nos dá,
v dn( v ) / 4 . O número total de choques devido a todas as velocidades das moléculas que
convergem a área dA é igual a integral 0 v dn( v ) / 4 . Entretanto, essa integração somente pode
ser levada a efeito conhecendo-se a expressão da diferencial dn( v ) . Essa diferencial é
necessariamente expressa na forma, dn( v ) g ( v )dv , uma vez que a variável independente dessa
é v , onde g ( v ) é uma função presumivelmente contínua e positiva, além do que, g ( 0 ) 0 e
g ( ) 0 , uma vez que nenhuma molécula pode permanecer em repouso assim como também
nenhuma molécula pode ter velocidade infinita. É plausível supor que entre esses limites, essa
função tenha um máximo. Por outro lado, o número total de moléculas contadas com
vimos, é igual a quatro vezes o número total de choques, é diretamente relacionada a média
integral da velocidade no intervalo considerado, definida pela expressão,
v v dn( v ) dn( v ) , que em termos de g ( v ) dos dá,
0 0
1
n 0
v v g ( v )dv (1.185)
163
Essa média, como veremos na secção 3.18 do Volume III, é uma média estatística no intervalo
1
0 ,
e sendo 0
g ( v )dv n ou seja,
n 0
g ( v )dv 1 , a função g ( v ) nada mais é que uma
Fig. 1.68 – Composição das componentes da velocidade de moléculas que se chocam contra a
superfície de área dA
164
1 1
2mv cos v dn( v )sen cos d d dA dt mv 2dn( v )sen cos 2 d d dA dt
4 V 2 V
A variação da quantidade de movimento linear devida aos choques de moléculas com velocidades
v no intervalo v ,v dv , oriundas de todas as direções limitadas pelo hemisfério definido pelos
intervalos 0 / 2 e 0 2 , é igual a integral da expressão precedente nesses
1
intervalos, que como se pode verificar, nos dá, mv 2 dn( v ) dA dt . A variação da quantidade de
3V
movimento linear devida a todas as moléculas com velocidades no intervalo 0, é expressa
pela integral,
m
3V
0
v 2 dn( v ) dA dt . Denotando-se por dF a força resultante da variação da
m
dF dt
3V 0
v 2 dn( v ) dA dt
Por outro lado, a pressão média p resultante da força dF sobre a superfície de área dA é igual a
razão dF / dA , de modo que a expressão precedente nos permite escrever o que segue,
m
p
3V 0
v 2 dn( v ) (1.186)
Como vemos, a integral dessa equação é ponderada pela diferencial dn( v ) g ( v )dv , de modo
que,
0
v 2 dn( v ) v 2 g ( v ) dv
0
v 2 v 2 g ( v ) dv dn( v )
0 0
de onde vem41,
v 2 v 2 g ( v ) dv n (1.187)
0
A raiz quadrada dessa integral é denominada de média quadrática da velocidade. A equação (1.186)
nos permite expressar a pressão média em termos da equação (1.187) como segue,
1
p mn v 2 (1.188)
3V
Entretanto, a pressão de um gás ideal é relacionada ao volume ocupado por este pela equação de
Clapeyron na forma, p NR T / V . Comparando-se essa equação com a equação (1.188) e
1 3
mn v 2 NR T (1.189)
2 2
A média da energia cinética das moléculas do gás é definida pela mesma equação da média
quadrática expressa pela equação (1.187), multiplicando-a membro a membro por mn / 2 . Por
conseguinte, a identidade (1.189) nos revela que a média estatística da energia cinética das
moléculas do gás ideal considerado é diretamente proporcional a temperatura absoluta deste. A
equação (1.189) pode também ser expressa na forma,
1 2 3 N
mv R T
2 2 n
41 Deve-se distinguir entre as médias integrais, ( f )2 e f 2 ou seja, entre f e f 2 , de uma função f definida no
1 1 ( b2 a2 ) 1
intervalo a , b . Com efeito, por exemplo, para f x , f
b b
b a a b a a
f dx x dx (a b) e
2( b a ) 2
1 b 2 1 b 2 ( b3 a 3 ) 1 1 1
f2
ba a
f dx
ba a
x dx
3( b a )
. Para a 0 e b 1 tem-se, f 2 , f e ( f )2 .
3 2 4
166
1 2 3 R
mv T
2 2 N A
1 2 3
mv kT (1.190)
2 2
v3 é expressa pela identidade, mv 2 / 2 m( v12 v22 v32 ) / 2 , conclui-se que cada componente da
velocidade da molécula contribui na média da energia cinética com a parcela kT / 2 . Essa
interpretação foi corroborada por Maxwell em sua pioneira teoria estatística de distribuição de
velocidade molecular de gases monoatômicos, que foi posteriormente generalizada por
Boltzmann, cuja teoria confirma a equação (1.190), tal como demonstrado na secção 3.18 do
Volume III. Elementos da função de distribuição de Maxwell são apresentados também no
Volume II, com a finalidade de interpretar microscopicamente o calor específico.
comunicante conforme a figura 1.69(a). Inicialmente o tubo de área Aa contém água destilada e o
tubo de área Ao contém um óleo de massa específica desconhecida, a determinar. A altura das
colunas de água e óleo é igual a h . Os tubos estão conectados por uma tubulação contendo uma
válvula que é mantida fechada no estado inicial. A válvula é aberta e água flui para o tubo
contendo óleo de modo que toda a coluna de óleo é deslocada de uma quantidade H , enquanto
que a altura da coluna de água é reduzida de uma quantidade h , conforme mostrado na figura
1.69(b).
167
No estado de equilíbrio mostrado na figura, a diferença entre a altura da coluna de óleo e altura
da coluna de água é h e a altura da coluna de óleo é ho . Determinar a correlação para
1.13.3 - Um iceberg de volume Vs flutua numa região polar onde a massa específica da água
5MPa 10 15 20 30
0,0009995m3/kg 0,0009972 0,0009950 0,0009928 0,0009886
a) Desenvolver uma equação da diferença de pressão em função da altura de modo que esta
incorpore a variação da massa específica com a pressão.
b) Através de método de cálculo iterativo, se for o caso, calcular a pressão na cota de
profundidade dada, considerando duas equações de ajuste para a massa específica com a pressão,
quais sejam:
b1) a e ( p p a ) , onde a 1 / va , va 0 ,001002m3 / kg , pa 0 ,101325MPa e é uma
constante a ser ajustada pelo métodos dos mínimos quadrados. Uma aproximação razoável é
ajustar a exponencial calculando , de modo que a equação seja satisfeita para o ponto
correspondente a pressão de 30 MPa . Dessa condição obtém-se 0,00044878 / MPa .
b2) A massa específica é ajustada através da equação simétrica de uma reta que passa pelos
pontos correspondentes a superfície do lago e o ponto correspondente a pressão p 1 a ser
explícita de p1 como função de z 1 e no caso (b2) obtém-se uma equação implícita logarítmica
que pode ser reduzida a uma expressão exponencial.
Respostas:
Caso (b1): p 1 p a ln 1 a g( z 1 z a ) / ; p 1 29,65964MPa
Caso (b2): p 1 ( Ap a B ) exp g( z 1 z a ) A B / A ;
A ( 1 a ) /( p1 p a ) kg / m3 MPa ; B ( a p1 1 p a ) /( p1 p a ) kg / m3 MPa ;
p 1 29 ,65883MPa
1.13.5 - Um tambor cilíndrico, aberto em seu topo, de raio igual a 30cm e altura de 1m , gira ao
redor de seu eixo com velocidade angular constante. No estado de repouso, o tambor é carregado
de líquido até a metade da sua altura. Utilizando as equações (1.102), (1.103) e (1.104) da teoria
pertinente,
a) Determinar a velocidade angular-limite para a qual o fluido atinge a borda superior do tambor.
b) Determinar a altura do fluido no centro do tambor, para uma velocidade angular igual a
metade da velocidade angular-limite, aludida no item (a).
c) Plotar as curvas de pressão constante para a velocidade angular especificada no item (b).
1.13.6 - Um tambor cilíndrico e hermético, de raio igual a 10cm e altura de 50cm , em repouso,
com eixo de rotação orientado verticalmente, contém ar na pressão de 200kPa e temperatura de
300 K . O tambor é posto a girar ao redor de seu eixo. Tomando como base a equação (1.114) da
teoria pertinente, ilustrar graficamente as curvas de pressão constante para diferentes velocidades
de rotação. Utilizando a equação (1.113) da mesma teoria, verificar se o comportamento da
pressão, em função do raio, corrobora a análise apresentada na teoria, que demonstra ser a
pressão no centro do cilindro menor que a pressão inicial e na sua periferia, maior que esta.
170
1.13.7 – Fazer curvas do desvio da pressão em relação a pressão aerostática expressa pela equação
(1.120) e a pressão expressa pela equação (1.110), em função do raio. Estimar a diferença
percentual do desvio, para o caso de r 30km na atmosfera terrestre, supondo-se que a
temperatura da camada de ar seja uniforme e igual a 298,15K . Considere ro 6.378km e
equação ( pe pb ) / pe 1 exp ( g o / RTo )( r )2 /( ro r ) , onde r r ro , r ro e pb
1.13.8 - O termômetro de balão de gás de Kelvin é utilizado para determinar o ponto de fusão do
zinco na pressão de 1,01325bar . Para tanto o experimento considera o ponto de ebulição da
água. Sucessivas medições de pressão do gás no balão, para diferentes gases o limite da razão da
pressão referente ao ponto do zinco e da pressão referente ao ponto do vapor, na condição de
gás rarefeito, resultou em 1,8564 0,0002 . Determinar a temperatura de fusão do zinco e as
incertezas associadas.
c 7 ,929290 10 11 .
a) Fazer um gráfico da resistência elétrica do termômetro como função da temperatura no
intervalo de temperatura considerado.
b) Fazer uma tabela de comparação da temperatura, para valores numéricos desta no intervalo de
temperatura considerado, substituindo o valor numérico na segunda correlação, calculando W e
substituindo o valor calculado na primeira correlação. Definir o desvio percentual por
( T dada T calculada pela primeira correlação ) 100 / T dada .
1.13.11 - Considere-se o exercício analítico (1.11.8) do texto, onde o pistão é conectado à coroa
dentada através de uma cremalheira. Nesse exercício, a coroa dentada, de raio a , é engastada
num eixo no qual está engastada uma roldana de raio igual a c , cujo centro de rotação é
posicionado a uma distância igual a b do centro da roldana. A figura 1.71 ilustra a roldana numa
posição dada pelo ângulo . A cremalheira move a coroa pelo lado esquerdo desta, de modo que
quando o pistão sobe a roldana gira no sentido horário, suspendendo o peso P . O peso da
roldana é igual a Po . Como vemos nessa figura, d c b cos e o deslocamento do centro da
roldana, enquanto esta gira, é y bsen . O deslocamento do pistão é x a .
a) Provar que a pressão do gás no cilindro é expressa pela equação
p p 1 b( P Po ) cos / aAp , onde ( V V1 ) /( aAp ) , p1 po Pp / Ap Pc / aAp , sendo
que para 0 , V V1 .
b) Provar que a pressão máxima atingida pelo gás é igual a pmáx p 1 b( P Po ) / aAp .
172
1.13.12 - Ar é confinado num cilindro a 150o C e pressão de 500kPa . O volume ocupado pelo
ar é de 0,5m3 . O ar é comprimido através de um pistão sobre o qual atua um peso, conforme
mostrado na figura 1.72. O pistão é limitado superiormente através de um esbarro. O diâmetro
do pistão é igual a 25cm . O peso atua sobre o pistão de modo que ambos imprimem ao gás uma
pressão de 300kPa . A pressão atmosférica exterior é igual a 100kPa e a temperatura 25o C . O
conjunto é exposto ao ambiente de modo que o sistema é resfriado lentamente até que a
temperatura deste seja igual a temperatura ambiente.
173
Determinar:
a) A temperatura para a qual o pistão começa a descer.
b) O volume ocupado pelo ar quando este atingir a temperatura ambiente.
c) A distância percorrida pelo pistão no processo.
Respostas: (a) 65,37o C ; (b) 0,44037m3 ; (c) 1,2147m
c) Para a amônia:
c.1) v 0,5m3 / kg ; T 30o C
d) Para o nitrogênio:
d.1) p 500kPa ; T 300 K . Estimar o valor numérico do volume específico.
e) Para o sódio:
e.1) T 1.250 K ; v 0,5m3 / kg
1.13.14 - Um tanque rígido e indeformável cujo volume é igual a um metro cúbico contém um
quilograma de água, em equilíbrio no ponto tríplice. Através de um experimento, foi possível
determinar com precisão o volume total ocupado pelas fases sólida e líquida, do que resultou
0,1% do volume total.
a) Determinar as massas das fases sólida, líquida e de vapor.
b) Denotando a fração de volume total das fases sólida e líquida por z , o volume total ocupado
pelas três fases por V e a massa total por m, obter a equação
ms ( 103 1 / vv )z 1 / vv V m /( 103 vs 1 ) . Mostrar através dessa equação, que na
formulação deste exercício, os dados iniciais V , z e m são condicionados. Resolver o item (a)
para outros dados compatíveis.
Resposta do item (a): ms 0,053374kg ; ml 0,941779kg e mv 0,004846kg
1.13.15 - Um tanque rígido e indeformável contém 2kg de água cuja temperatura é igual a
150o C e cujo título é igual a 50% . O tanque é provido de uma válvula de descarga. A válvula é
aberta e o vapor d’água é descarregado para a atmosfera até que a pressão final do tanque seja
igual a pressão atmosférica, no presente caso, de 100kPa . A temperatura final é igual a
temperatura inicial. A seguir, uma bomba de vácuo é utilizada para extrair vapor, até que o
sistema atinja um estado para o qual a pressão é de 5kPa e a temperatura é igual a temperatura
inicial. Determinar:
a) O volume do tanque.
b) A massa de água descarregada para a atmosfera.
c) A massa extraída com a bomba de vácuo.
Respostas: (a) 0,39387m3 ; (b) 1,7966kg ; (c) 0 ,19332kg .
175
1.13.16 - Um tanque cilíndrico rígido e indeformável de volume igual a 0,5m3 é carregado com o
fluido refrigerante R134a saturado a 10o C , de modo que ao final do processo de carga o
líquido saturado ocupe 50% do volume do tanque. O tanque é provido de duas válvulas de
descarga A e B , conforme mostrado na figura 1.73. A válvula inferior é aberta, permitindo a
descarga do refrigerante, segundo um processo quase-estático, de modo que a temperatura
permaneça constante, até que o volume do líquido seja reduzido a 30% do volume inicial deste.
Determinar:
a) O título no estado inicial e final de equilíbrio.
b) A massa de fluido descarregada.
c) A massa de fluido descarregada na situação de o refrigerante ser descarregado através da
válvula superior, no caso, na fase de vapor saturado.
d) Porque razão a massa descarregada não é igual a massa correspondente a variação de volume
do líquido saturado? Justifique quantitativamente as respostas.
Sugestão: como se pode verificar, a redução do volume de líquido, V V1 V2 é igual a
Respostas: (a) x1 0,007513 , x2 0,04117 ; (b) 230 ,37kg ; (c) 230 ,37kg .
176
1.13.18 - Dois tanques esféricos A e B são conectados através de uma válvula, conforme
mostrado na figura 1.74. O volume do tanque A é igual a 1m3 e o volume do tanque B é igual a
dez vezes o volume do tanque A (a figura não segue a proporção dos volumes). O tanque A
contém água saturada a 30o C com título de 90% e o tanque B está vazio. A válvula é aberta e
o fluido escoa até o estado de equilíbrio para o qual a temperatura do conjunto é igual a
temperatura inicial do tanque A . Determinar as massas de água de A e B no estado de
equilíbrio final.
1.13.19 - Um tubo de vidro é utilizado para análise química. O tubo contém R134a a 40o C e é
selado. Deseja-se saber qual é a pressão no interior do tubo, mas não se pode medi-la
diretamente. Entretanto, quando o tubo é resfriado lentamente até a temperatura de 10o C ,
aparecem pequenas gotículas de líquido na parede deste. Determinar a pressão do fluido no
estado inicial dado.
Resposta: 247 ,24kPa .
177
volume deste.
1.13.21 - Tanques rígidos devem ser projetados para armazenar precisamente 20kg de CO2 a
300 K e pressões de 0 ,5MPa , 1MPa e 2 MPa . O volume de cada tanque deve ser previamente
calculado antes da fase de elaboração do projeto mecânico destes.
a) Calcular os volumes dos tanques, V10 , V20 e V30 respectivos as pressões dadas, admitindo que
o gás se comporte como um gás ideal.
b) Determinar o desvio percentual em relação aos volumes calculados no item (a) por admitir a
hipótese adotada, utilizando a equação de estado de Bird-Spotz, a qual pode ser expressa na
forma, p RT / v B( T ) / v 2 C( T ) / v 3 , onde B( T ) bo B* ( T * )RT / M e
Respostas:
0,5MPa 1MPa 2 MPa
V1 1 V2 2 V3 3
(a) 2,267 ─ 1,134 ─ 0,567 ─
(b1) 2,210 2,51 1,075 5,20 0,507 10,52
(b2) 2,211 2,47 1,076 5,07 0,509 10,23
(c) 2,210 2,52 1,075 5,12 0,506 10,66
(d) 2,211 2,47 1,076 5,03 0,507 10,48
1.13.22 - A fim de consolidar o significado do equilíbrio térmico, responder aos itens que
seguem:
(a) Construir curvas isotermas para os gases argônio e nitrogênio, utilizando para o segundo gás a
equação de Benedict-Webb-Rubin (BWR) (1.47), para os casos particulares de T Tc e T 2Tc ,
(c) Provar que o limite da equação objeto do item (b), para v tendendo ao infinito é T pv / R .
1.13.23 - Uma garrafa rígida e indeformável, de volume igual a um litro, contendo ar com
umidade relativa de 40% na temperatura de 40o C e pressão igual a 101,325kPa , deve ser
primeiramente resfriada até que o ar atinja a temperatura de orvalho, estado para o qual, como
sabemos, a umidade relativa é de 100% . A seguir, a garrafa é resfriada até atingir 0,01o C e
posteriormente até 10o C . Supondo-se o volume da garrafa constante determinar,
180
(a) A temperatura de orvalho e a pressão total do ar, com o auxílio dos dados da tabela de
saturação do vapor d'água.
1 273,15 T2
Sugestão: Obter a equação ps ( T2 ) pT1 , onde T2 é expressa em grau
0,622 1 T1
centígrado. Resolver essa equação utilizando o método iterativo de substituição sucessiva,
conjugando-a com uma equação de reta de interpolação de dados da tabela de saturação do vapor
d’água, ajustada entre as temperaturas de 20o C e 25o C . Inicializar o processo com T2 40o C .
(b) A temperatura de orvalho e a pressão total do ar, desta vez ajustando para interpolação no
intervalo de temperatura entre 20o C e 25o C da tabela de saturação da água, a equação de
Antoine (que é demonstrada no Volume III), ln ps ( T ) A / T B , onde A e B são constantes
a determinar e T é expressa em grau Kelvin. Nesse caso obter a equação implícita,
1 T2
T2 A / ln pT B e resolvê-la por substituição sucessiva, inicializando o
1
0,622 1 T1
processo com T2 313,15K . Com base num gráfico ilustrativo do processo iterativo, justificar
porque a temperatura no caso (b) é levemente superior a temperatura respectiva ao caso (a).
(c) A umidade absoluta do ar e sua pressão total, na situação em que o ar seja resfriado até a
temperatura T3 273,16 K ( 0 ,01o C ) , enquanto que este permaneça saturado.
Sugestão: Obter a equação,
( ma RvT3 / V )32 ma RaT3 / V ps (T3 273,15 ) 3 0, 622 ps ( T3 273,15 )) 0
Note-se que o volume ocupado pelo ar, a rigor não é igual a V . Ele deve ser subtraído do
volume da fase de líquido V 3 ma3v 3 , onde ma pT1V /( Ra 1Rv )T1 . Entretanto, após o
Respostas:
(a) 1 0 ,01869117 ; T2 22,728o C e pT2 95,736kPa (para a sexta iteração).
181
Nota: Esse exemplo numérico nos serve para explicar o fato de uma garrafa plástica frágil
contendo ar, ao ser resfriada, sofrer contração de volume durante o processo de resfriamento, na
condição de a pressão externa à esta manter-se igual a pressão do ar no estado inicial.
1.13.24 – Foi demonstrado na teoria pertinente, que a equação de Van der Waals pode ser
reduzida à equação implícita polinomial cúbica (1.38) e também à expressão adimensional (1.39),
em termos das variáveis reduzidas pr , Tr e vr . A condição de compensação de áreas expressa
pela equação (1.41), da qual se obtém a equação (1.42), pode também ser expressa em termos das
variáveis reduzidas.
(a) A partir da equação (1.41), expressa em termos das variáveis reduzidas, obter a equação que
segue,
8 3v 1 1 1
psr vvr vr Tr ln vr 3 0
3 3 vr 1 vvr vr
estados de líquido e de vapor saturado e pressão psr , são expressas como seguem,
3
psr 2 3 vr 1 8Tr 0
vr
3
psr 2 3 vvr 1 8Tr 0
vvr
(b) Resolver essas equações em termos das incógnitas psr , vr e vvr utilizando o software EES,
Respostas: (b) e (c) – Tabela com alguns valores numéricos calculados e dados respectivos
reduzidos do metano.
Equação de Van der Waals Dados reduzidos do metano
Tr
psr vr vvr psr vr vvr
0,9 0,647 0,6034 2,349 0,5343 0,5315 3,909
0,8 0,3834 0,5174 4,172 0,2522 0,4609 8,92
0,7 0,2005 0,4672 7,811 0,09741 0,4188 22,56
(d) 0,302
183
Índice Remissivo
A
Adiabática - 33, 34, 36, 126, 128
Amagat - 100
B
base mássica - 21, 74, 97, 140, 158
base molar - 19, 21, 74, 91, 98
Benedict-Webb-Rubin - 91, 182
Bird-Spotz - 79, 140, 143, 181
Boyle-Mariotte - 43, 45
C
campo escalar - 16
choques moleculares - 163
Clapeyron - 7, 43, 47, 52, 74, 75, 80, 81, 98, 101, 104, 128, 129, 130, 134, 141, 142, 158, 168
coeficiente de compressibilidade - 66, 70, 96
coeficiente de dilatação térmica - 65, 70
D
Dalton - 98, 103, 105, 106, 158
E
equação de estado - 65, 66, 67, 72, 73, 74, 90, 91, 102, 140, 156, 181
equação do virial - 78, 79, 90, 140
equilíbrio térmico - 35, 36, 37, 38, 39, 40, 111, 128, 182
escala de temperatura - 43, 45, 48, 52
escala Kelvin - 43, 52
escala prática - 56
evento físico - 15
experimento isotérmico - 45, 62, 66
F
fator de compressibilidade - 84, 91, 94, 95, 96, 156
forças distribuídas - 21, 24
G
Gay-Lussac - 43, 46, 47, 48
L
Lee-Kesler - 95, 181
M
meta-estabilidade - 89
mistura de ar seco e vapor - 103
184
P
parede diatérmica - 35, 36, 128
pressão absoluta - 30, 32
pressão efetiva - 30, 32
pressão hidrostática - 25, 28, 51
propriedade termodinâmica - 12, 14, 15, 16, 19, 32, 36, 40, 41, 73
R
Redlich-Kwong - 90
T
temperatura absoluta - 48, 52, 160, 169
temperatura empírica - 14, 40, 41, 43
teoria cinética - 6, 160
termômetro de resistência - 53, 54, 174
termopar - 54, 55, 174
transição de fase - 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 68, 69, 70, 73, 74, 87, 89
V
Van der Waals - 80, 81, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 93, 94