Das Memórias Negras Na Amazônia

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Júlio Cláudio da Silva; João Marinho da Rocha

Das memórias negras na Amazônia:


resistência e luta quilombola no
Andirá, Barreirinha-AM, Brasil

Júlio Cláudio da Silva*


João Marinho da Rocha**

Resumo
Este texto evidencia processos sociais recentes de emergências étnico-raciais
na Amazônia. Toma como objeto, as experiências de seis comunidades qui-
lombos do rio Andirá, Barreirinha-AM, fronteira com o Estado do Pará. Após
cerca de quinze anos de intensas mobilizações e lutas, construíram e politiza-
ram uma memória étnica relativa aos mundos do cativeiro, conseguindo com
reconhecimento enquanto “remanescentes de quilombo” em 2013, estando
agora no aguardo das titulações de seus territórios tradicionais ocupados
desde os fins do século XIX.
Palavras chave: Memória; Quilombola; Amazônia.

Abstract
This text highlights recent social processes of ethnic-racial emergencies in
the Amazon. After about fifteen years of intense mobilizations and struggles,
they have built and politicized an ethnic memory related to the worlds of cap-
tivity, achieving with the support of the indigenous peoples of the Andar Riv-
er, Barreirinha-AM, bordering the state of Pará. Recognition as “remnants
of quilombo” in 2013, and are now awaiting the titling of their traditional
territories occupied since the late nineteenth century.
Key words: Memory; Quilombola; Amazônia.

O presente artigo dedica-se a refletir acer- nos remete as possibilidades de romper


ca da utilização da metodologia da Histó- com as memórias cristalizadas nos regis-
ria Oral e das Memórias Negras, no Baixo tros produzidos pelos religiosos, viajantes
Amazonas. O uso das fontes orais na Ama- naturalistas entre outros, agentes sociais
zônia, para a escrita da História da região, externos a região, que ao fim e ao cabo, ofi-

* Professor de História da Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Doutor em História social pelo


PPGH/UFF. E-mail: [email protected]
* Professor de História da Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Doutorando do Programa de Pós-
graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia-PPGSCA/UFAM. E-mail: [email protected]

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cializaram equívocos e mitos sobre a natu- Quando se trata de escravidão na Amazônia,


reza, o homem e as culturas desta região. o mais comum é iniciar com uma ressalva. A
Por outro lado a História Oral possibilita a maioria dos trabalhos assegura que o uso da
escravidão negra foi pouco significativo na
escrita da História em diálogo com os sujei-
economia da amazônica do século XVII e pri-
tos locais. meira metade do século XVIII (...) agregan-
Na Amazônia, em geral e no Leste do do-se ainda a existência de uma abundante
Estado do Amazonas ou Baixo Amazonas população indígena passível de engajamento
em particular (municípios de Boa Vista do na produção através de formas de trabalho
Ramos, São Sebastião do Uatumã, Uruca- compulsório (SAMPAIO, 2011 p.15).
rá, Nhamundá, Parintins e Barreirinha), há Sobre a “opção” historiográfica pelo apa-
uma visibilidade, no âmbito nacional e in- gamento da presença negra na Região Ama-
ternacional, de uma cultura marcadamen- zônia, Sampaio (1997) identifica dois mo-
te indígena. Parte deste fenômeno se deve mentos.
ao espetáculo cultural promovido, a partir O primeiro se atém às reduzidas propor-
do festival folclórico de Parintins (Bumbás ções numéricas, e como isso impactou pou-
Garantido e Caprichoso). Isto se liga com co na economia regional, não tendo por isso,
questões apontadas por estudiosos quan- muita relevância na discussão historiográfi-
do tratam das culturas negras na região, a ca acerca da mão-de-obra. Fazem parte des-
exemplo de Funes (1995), ao salientar que se movimento Pereira (1949) e Reis (1989).
situações como essa, faz com que a escravi- Tais questões numéricas e puramente eco-
dão negra e as culturas de matrizes africanas nômicas, atreladas aos anseios compara-
se deslocassem a um plano menor, consti- tivos da Plantation/escravidão nordestina
tuindo um vazio na historiografia regional, para com a Amazônia, acabaram ensejando
fato evidente quando se busca estudos sobre entendimentos da desconsideração dessa
as comunidades negras rurais, quilombolas presença negra relevante na Região, “em
ou não, que se constituíram ao longo da His- especial, no Amazonas” (SAMPAIO, 1997).
tória. Nesse sentido a História Oral se apre- Contrapondo Reis e Veríssimo, Funes,
senta como uma metodologia fundamental (1996, p. 470), afirma que o escravo africano
para a produção de fontes privilegiadas para foi encontrando meios de superar as adver-
a escrita da História desses atores sociais. sidades e adaptar-se a uma nova sociedade,
tornando o seu cotidiano e sua convivência
Da presença negra na Amazônia mais suportável. Negros e indígenas dividi-
A escravidão negra na Amazônia esteve en- ram os mundos de trabalho na Amazônia.
volvida até pouco tempo numa discussão O segundo momento historiográfico,
historiográfica que tendeu a enfatizar os pelo contrário, “vêm mostrando realidades
números de escravos trazidos para a região, diferenciadas, ajudando a jogar por terra
extremamente reduzido e, portanto, “insig- décadas de silenciamento sobre a presença
nificantes” sempre comparando às demais africana na região” (SAMPAIO, 1997). Fa-
regiões do país. Está insistência auxiliou zem parte estudos como os de Acevedo-Ma-
em processos de apaziguamento da presen- rin, (1985); Funes (1995); Gomes, (1997);
ça negra durante a colonização e além dela, Bezerra Neto (2001; 2009); Chambouleyron
compondo os processos sociais da Amazônia (2004; 2006); Acevedo e Castro (2004;
nos séculos XIX e XX. 2006), dentre outros. A leitura atenta des-

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ses estudos aponta outros caminhos para determinadas. Se hoje existem territórios
lermos o mundo da escravidão na Amazô- quilombolas é por que em um momen-
nia, não apenas na perspectiva dos números to histórico dado um grupo se posicionou
aproveitando uma correlação de forças
evidenciados nas baixas entradas de escra-
políticas favoráveis e institui um direito
vos na Amazônia, quando comparados as que fez multiplicar os sujeitos sociais e as
demais regiões monocultoras do país. disputas territoriais. (RESENDE-SILVA,
A mão de obra negra, mesmo em redu- 2008, p. 5-6).
zida quantidade numérica se comparada ás
Funes, (1995), ao falar sobre o Oeste Pa-
demais áreas de plantation, foi fundamen-
raense, afirma que os rios (Curuá, Erepecu-
tal para economia da região. Em seu estudo
ru e Trombetas) acabaram também sendo
sobre a elite mercantil do Amazonas, Patrí-
rios “dos pretos e das pretas” que subiram o
cia Sampaio surpreendeu-se ao notar que a
Rio Amazonas fugindo das fazendas de gado
mão-de-obra escrava, embora relativamente
e das lavouras de cacau de Santarém, Óbi-
escassa na região de Manaus, foi fundamen-
dos e Alenquer na segunda metade do século
tal na composição das fortunas durante o
XIX. Ainda Funes (1995, p. 470), alerta para
terceiro quartel do século XIX. A discussão
o fato de que “na Amazônia a escravidão ne-
acerca do trabalho indígena, segundo a au-
gra não foi tão expressiva, em termos quan-
tora, fez com que os historiadores não per-
titativos, quanto nas regiões açucareiras,
cebessem o papel desempenhado pelos ne-
mineradoras ou cafeicultoras. Todavia, (...)
gros de ganho, pelas vendedoras, pelos pe-
o negro constituiu parcela significativa da
dreiros, carpinteiros, sapateiros lavradores
mão-de-obra, em especial na agropecuária,
e serviçais domésticos, na cidade de Manaus
serviços domésticos e atividades urbanas”.
e seus arredores (GOMES, 2003).
Esses negros buscavam nos contatos
Ainda no século XIX, tais sujeitos cons-
com os povos indígenas as saídas para cons-
truíram espaços de identidades e o que Al-
trução de seus múltiplos espaços de liber-
meida (2008) chama de “territorialidades
dades e identidades, amocambando-se em
específicas”, marcadas por seus modos de
lagos distantes ou acima das cachoeiras. A
vida, uso do território e liberdades que se fi-
presença de índios amocambados junto aos
zeram à revelia dos controles do Estado Im-
negros fugidos aparece com frequência, em
perial e Republicano. Formaram territórios relatórios de chefes das províncias Pará e
iter étnicos, por exemplos, para além das Amazonas do final do século XIX, formando
cachoeiras do Rio Trombetas -PA (ACEVE- “comunidades interétnica” (GOMES; QUEI-
DO; CASTRO, 1998) e para além das águas ROZ, 2003).
“bravas” do Rio Andirá-AM (ROCHA, 2016), É importante aqui apontar as fugas como
nas calmarias das cabeceiras do Matupiri. uma estratégia dos negros para furarem os
Atualmente, recorrem à memória e a tradi- espaços da escravidão. Como tal, havia con-
ção, construídas a partir de suas demandas textos e tempos propícios para as mesmas
atuais de reivindicantes, buscam dialogar acontecerem. O tempo privilegiado estava
as memórias sobre o cativeiro no Andirá e associado ás “água grande” e ao tempo das
sustentar suas demandas frente ao Estado festas de santos. No período das cheias dos
brasileiro, pois, rios aumentava, consideravelmente, as pos-
As territorialidades são instituídas por su- sibilidades de locomoção para as cabeceiras
jeitos sociais em situações historicamente aproveitando-se dos muitos furos e paranás,

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por exemplo, e o segundo pelas possibilida- quanto remanescentes quilombolas. Fazem


des de maiores contatos com outros sujeitos parte daquelas iniciativas as monografias de
em mesma condição de subalternidade em conclusão do curso de História, (MOURÃO,
busca de construção de outros espaços para 2010; CAMPOS, 2010; GOMES, 2010)1, as-
a liberdade que neste caso são o que o Es- sim como os projetos de Iniciação Científica
tado chamou de quilombo. Funes (1996, p. desenvolvidos no segundo semestre de 2013
474) aponta que o “tempo de festa, tempo e primeiro semestre de 2014, bem como os
de cheia, tempo da castanha- é esse o tempo TCC`s defendidos em 2014 (SOUZA, 2013;
da fuga” PONTES, 2013; BRAS, 2013; GUERREIRO,
Não dá mais para ler a presença negra 2013). Os referidos trabalhos fizeram parte
na Amazônia apenas pelo viés da quantida- dos primeiros esforços para a construção e
de numérica, pois, “aplicado à Amazônia, reunião de acervos orais sobre as comunida-
todo procedimento em busca do conheci- des quilombolas do Rio Andirá.2
mento torna-se plural” (FREITAS, 2012, Como frutos dessas pesquisas foram es-
p.39). Em nossas pesquisas buscarmos não critos quatro artigos apresentados em con-
somente considerar os dados estáticos em gressos especializados nas discussões sobre
si, mas também os múltiplos significados fontes orais e produção de conhecimentos
da presença negra. Nesse sentido estamos e preservação de acervos orais (ROCHA,
interessados em perceber como a presença 2013; 2014) e (SILVA, 2013; 2014). Rocha
negra se articularam aos espaços e mundo e Silva continuam o aprofundamento dessas
amazônicos e aqui construir novos espaços pesquisas de modo articulado aos estudos
de liberdades e territorialidades específicas. de mais três pesquisas de iniciação científica
(GAIA, 2015; MARQUES, 2015; TRINDA-
Dos quilombolas do Andirá DE FILHO, 2015) e o TCC escrito por Janete
(2015). Todos os estudos realizados promo-
As comunidades quilombolas do Rio Andi-
veram significativos diálogos entre as narra-
rá, situadas no Município de Barreirinha, no
tivas orais dos moradores das comunidades
Estado do Amazonas, lutam há mais de dez
sobre os processos construção da identida-
anos para receberem o título de quilombo-
de étnico-racial e os trabalhos que versam
la e a posse definitiva da terra. A primeira
acerca da questão negra na região (FUNES,
titulação foi obtida no ano de 2013. Diver-
1995); (GOMES, 1999); (SAMPAIO, 1997,
sos aspectos desse processo de luta política
2011, 2012); (FARIAS JÚNIOR, 2013).
e mobilização social, protagonizado pelos
As análises dos estudos das narrativas
quilombolas do Matupiri, foram registrados
orais dos sujeitos de Santa Tereza sobre pro-
e analisados em trabalhos de conclusão de
cessos de construção da identidade étnico
curso desenvolvido por acadêmicos do Cen-
-racial, necessariamente, nos conduz para as
tro de Estudos Superiores de Parintins, des-
leituras da História da escravidão no Baixo
de 2010.
Amazonas, a partir das comunidades negras
Os trabalhos sobre os quilombolas do
1 As pesquisas citadas foram realizadas sob orien-
Matupiri, produzidos a partir do Centro de tação dos professores Georgio Ítalo Ferreira de
Estudos Superiores de Parintins, da Univer- Oliveira, Rooney Barros e Monica Xavier de Me-
sidade do Estado do Amazonas, buscaram de deiros.
2 As pesquisas receberam orientação dos profes-
modo geral, registrar os percursos daquelas sores Júlio Claudio da Silva e João Marinho da
comunidades pelo seu reconhecimento en- Rocha e foram financiadas pela FAPEAM.

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do Rio Andirá. São atores sociais que cons- Cavalcante (2011) ao tratar das fugas de
truíram seus espaços de liberdades entre escravos no período Imperial ilumina o flu-
comunidades ditas ribeirinhas e indígenas xo dos negros no Grão-Pará, especialmente
Sateré-Mawé. Nesse sentido esses estudos entre os atuais Estados do Pará e Amazonas.
compõem uma rede de conhecimentos so- Seu texto “Fugindo, ainda que sem moti-
bre a temática negra na Amazônia, a partir vos: escravidão, liberdade e fugas escravas
do Baixo Amazonas. no Amazonas Imperial”, analisa jornais da
A historiografia recente sobre a questão cidade de Manaus e traz ricas informações
do negro no Amazonas vem preenchen- sobre os intensos contatos entre os escravos
do um vazio sobre a temática e aos poucos fugidos do oeste paraense para Amazonas
decretando o “fim do silêncio” (SAMPAIO, no final do século XIX.
2011) ao indicar as múltiplas marcas da cul- Segundo Cavalcante muitos negros em
tura negra no Estado. Também com Farias fuga optavam por adentrar as margens di-
Júnior (2013), que realizou importante estu- reitas do Rio Amazonas como o Paraná do
do junto às comunidades negras Tambor, no Ramos e o Andirá, por onde parecia ter me-
Município de Novo Airão-AM. Este dialoga nos controle estatal, haja vista que as mar-
como os pressupostos do projeto Nova Car- gens esquerdas, com os rios Trombetas,
tografia Social da Amazônia – PNCSA/UEA, Erepecuru e Curuá estavam intensamente
analisa “os processos sociais” das comuni- “vigiadas” pela presença do Estado colonial,
dades do Rio Tambor frente as suas reivin- da existência conhecida de comunidades
dicações de identidade coletiva quilombola de negros fugidos que buscaram as “águas
num contexto de luta pela permanência nas bravas”, as cabeceiras dos rios, onde tam-
terras após regulamentação de áreas de con- bém construíram seus territórios/espaços e
servação permanente. determinaram suas fronteiras à revelia da-
Para o Estado do Amazonas os estudos quelas impostas pelo Estado (FUNES, 1995;
de Sampaio (1997; 2011; 2012) iluminam a GOMES, 1997).
escravidão negra no século XIX, com desta- As análises dos jornais realizadas por Ca-
que para a cidade de Manaus. Como e por valcante (2011) indicam basicamente dois
que entraram, por onde e como foram dis- centros de fugas nesta parte da Amazônia:
tribuídos. Contudo, ainda são poucos os es- o primeiro de Santarém ou Óbidos e o se-
tudos no Estado do Amazonas que se preo- gundo de Manaus. Do primeiro há relatos
cuparam com os processos pós-abolição e da subida dos fugidos pelo Rio Amazonas
principalmente formação de comunidades e do segundo, ou subiam para o Rio Negro,
quilombolas. Destacamos aqui o trabalho de ou desciam adentrando o Rio Madeira em
Farias Júnior (2013), que tem estudado as certos casos ou seguindo as correntezas do
comunidades no Rio dos Pretos, em Novo Rio Amazonas e adentrando as Vilas de Ega
Airão, quilombo do Tambor. Este autor ana- (atual cidade de Maués), Vila Bela da Impe-
lisou os “processos sociais de reivindicação ratriz (atual cidade de Parintins) e Freguesia
da identidade coletiva enquanto comuni- do Andirá (próximo a atual cidade de Bar-
dades remanescentes de quilombo, frente a reirinha).
uma ‘situação social’ de conflito, ocasionada Nessa luta por reconhecimentos como
pela implantação de uma unidade de con- comunidades de remanescentes de quilom-
servação de proteção integral”. bo, tais comunidades de todo Brasil se arti-

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culam para acessar seus direitos, indicados positivo legal” (MATTOS, 2005, p.106).
no âmbito da ressignificação do termo qui- Ao se referir a esses novos grupos étni-
lombo, do artigo 68 do Ato das Disposições cos, que tradicionalmente ocuparam suas
Constitucionais Transitórias (ADTC) da terras, Almeida (1998, p.17), afirma que:
constituição federal de 1988. Tal artigo con- Há situações históricas peculiares em que
fere direitos territoriais aos remanescentes grupos sociais e povos percebem que há con-
de quilombo que estejam ocupando suas dições de possibilidade para encaminhar
terras, sendo-lhes garantida a titulação de- suas reivindicações básicas, para reconhecer
finitiva pelo Estado brasileiro (O’DWEYER, suas identidades coletivas e mobilizar forças
em torno delas e ainda para tornar seus sa-
2005). “Ali se nomeava e se atribuía direitos
beres práticos um vigoroso instrumento ju-
a um heterogêneo conjunto de comunidades rídico-formal.
de predominância negra que, salvo raras ex-
ceções, não se pensavam em qualquer me- Esse contexto reivindicado socialmente
dida como ‘remanescentes das comunida- abriu, portanto, possibilidades para a bus-
des de quilombos’ (BRANDÃO et all,2010, ca dos direitos diferenciados de grupos ét-
p.78)”. Sua aprovação proporcionou uma nicos-raciais que foram criados na forja da
“revisão histórica e mobilização política, história colonial, marginalizados e esqueci-
que conjugava a afirmação de uma identida- dos na construção da nação e ressurgidos no
de negra no Brasil à difusão de uma memó- contexto multiculturalista do final do século
ria da luta dos escravos contra a escravidão” XX. Apresentando-se enorme desafio para
(MATTOS, 2005, p 106). historiadores, antropólogos e cientistas so-
É também nesse contexto que o termo ciais engajados em torno da questão (MON-
“quilombo” deixa suas limitações históricas, TEIRO, 2006).
a partir do modelo de Palmares, forjado no Nesse cenário de possibilidades de busca
contexto da colonização, onde o conselho ul- por acessar direitos e (re) afirmação da Iden-
tramarino definiu quilombo como “toda ha- tidade étnico-racial no Brasil, vale ressaltar
bitação de negros fugidos, que passassem de a atuação dos movimentos sociais, com des-
cinco, em parte despovoada, ainda que não taque para os movimentos negros que:
tenha ranchos levantados e nem se achem Buscam formas concretas de expressões
pilões nele”. Esta definição influenciou toda culturais para interpretá-las dentro de uma
uma pesquisa histórica da temática qui- perspectiva mais ampla. (...). Ao integrar em
lombola até a década de 1970 (SCHIMITT, um todo coerente as peças fragmentadas da
história da África (negra) – candomblé, qui-
2002).
lombos, capoeira- os intelectuais constroem
Dentro desse cenário de possibilidades e uma identidade negra que unifica os atores
dispositivos legais, é que serão encampadas que se encontravam anteriormente separa-
lutas por todo país por reconhecimento das dos. A identidade é neste sentido elemento
terras de remanescentes de quilombo. So- de unificação das partes, assim como funda-
mam-se a isso outras questões, pois, “além mento para uma ação política (...) (ORTIZ,
2006, p. 141).
da referência étnica e da posse coletiva da
terra, também os conflitos fundiários viven- Para Almeida (2012) foi no início da dé-
ciados no tempo presente aproximavam o cada de 1990 que ocorreram às chamadas
conjunto das ‘terras de preto’, habilitando “quebradeiras de coco babaçu”. Em outras
-as a reivindicar enquadrar-se no novo dis- palavras, foi nos primeiros anos de imple-

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mentação da “Constituição Cidadã” que os luta por reconhecimento, a luta foi o seguin-
“quilombolas” colocaram as suas pautas de te, começou em 2005, quando teve a pri-
reivindicações, em meio a um ambiente de meira pesquisa aqui dentro da comunidade.
Veio uma professora, uma pesquisadora por
forte efervescência política e mobilização
nome Ana Felícia, ela veio pesquisar aqui
social. porque ela viu no histórico que existia negro
No início da década de 90 foram às chama- no Amazonas, e a onde ela foi indicada, foi
das “quebradeiras de coco babaçu” e os “qui- no Andirá. Ai, ela chegou aqui, conversou
lombolas” que se colocaram na cena política com o pessoal que foram contando que a
constituída, consolidaram seus movimentos gente tinha sangue de negro, porque o nos-
e articularam estratégias de defesa de seus so princípio tinha vindo da África. Ai, foi que
territórios, juntamente com outros povos começou a ter o levantamento da procura
dos negros né. Ai, chegou à conclusão que
e comunidades tradicionais, tais como os
hoje nós somos reconhecido. Essa luta foi
“castanheiros” e os “ribeirinhos” (...). Além
muito grande, tá sendo até hoje muito gran-
destes começaram a se consolidar no últi-
de essa luta.3
mo lustro, as denominadas “comunidades
de fundos de pasto” e dos “faxinais”. Estes Outro aspecto pertinente nos esforços
movimentos, tomados em seu conjunto, rei-
de pesquisa sobre construção da identidade
vindicam o reconhecimento jurídico-formal
de suas formas tradicionais de ocupação e
quilombola no Matupiri a partir do Centro
uso dos recursos naturais (ALMEIDA,1998, de Estudos Superiores de Parintins da Uni-
p.19). versidade do Estado do Amazonas é sobre as
posturas metodológicas com as fontes orais.
As comunidades passam a se articular
Em sua predominância, os estudos ampa-
em torno de elementos que os unisse na bus- ram-se nos procedimentos da História Oral
ca de acessar seus direitos. Para isso acio- (ALBERTI, 2013; ALBERTI, 2004; MEIHY,
nam os mais variados elementos e entidades 2005; MEIHY e YOLANDA, 2011).Este ar-
externas. Essa questão legal se consolidou tigo indica uma reflexão acerca de como as
quando o decreto 4.887, de 20/11/2003, re- narrativas orais vem sendo utilizadas por
gulamentou que a caracterização dos rema- pesquisadores da UEA para compor narra-
nescentes das comunidades dos quilombos tivas históricas acerca dos processos inde-
será atestada mediante auto-identificação nitários quilombolas na região do Matupiri,
da própria comunidade. Barreirinha –AM.
Tais comunidades, por sua vez, passam
a ser compreendidas também como grupos Das memórias no Andirá
étnicos-raciais, segundo critérios de auto
Os colaboradores que concederam as entre-
atribuição, com trajetória histórica própria,
vistas que constituem o corpus documental
dotados de relações territoriais específicas,
sobre a História dos quilombolas do Matupi-
com presunção de ancestralidade negra re-
ri definem-se como descendentes, bisnetos
lacionada com a resistência á opressão his-
ou netos dos pioneiros nascidos na comuni-
tórica sofrida (ALMEIDA, 1998).
dade no século XIX. Suas narrativas recupe-
Nos primeiros anos do século XXI as co-
ram as memórias, compartilhadas entre as
munidades negras rurais do Matupiri, em diá-
famílias, de geração á geração sobre as suas
logo intenso com as experiências das outras
origens e experiências, que remetem a uma
partes do país, especialmente do Oeste Pa-
raense, também iniciaram seus processos de: 3 Maria de Lourdes, agricultora, 53 anos.

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memória do cativeiro. Ao mesmo tempo cabeceira) igual a um peixinho [...]. A vovó


revelam práticas culturais, que remetem a disse que eles vieram no tempo da cabana-
experiência do período escravista como can- gem da guerra, vinha uma lancha atirando e
eles com medo fugiram pra cá com medo e se
tos e danças. Essas memórias são acionadas
esconderam aqui.7
como capital simbólico para afirmação da
identidade quilombola. Os primeiros moradores foi a minha mãe,
minha vô, meus tios, meus avôs, que ainda
O London é uma dança muito simples mais existiam no ...quando, logo que vieram pra
elas são coreografadas, ao mesmo tempo ela essa comunidade. Primeiro morador foi
se torna simples, mas bem “ótica”, na forma eles...meu avó primeiro era o Francisco Ca-
do bailado, no decorrer da dança são duas bral, outro pai da minha mãe era Domingo
filas. O maior momento dessa dança é o de- Freitas, a minha vó era Maria Tereza Albina
safio, quando sai um cavaleiro de lá e fica de- de Castro...esse povo que tão aqui já chega-
safiando o outro até errar o passo. 4 ram depois de nós construir a comunidade.8
O jaçanã ele tem uma participação mais bem Ao longo das diversas narrativas sobre
agitada né, porque no London não existe a
a origem das comunidades quilombolas do
caixinha (...). é só instrumental, ai fica mais
bem agitado (...) tem o mesmo processo do Matupiri, são recorrentes as menções á atua-
boi apresenta o pai Francisco e mãe Catirina, ção de Dona Tereza na constituição daquele
a diferença que a figura do boi é um jaçanã 5. grupo quilombola. Esta memória comparti-
lhada ganha relevo, entre outros fatores, por
A garcinha ela é tipo a pastorinha, são dois
cordões, mas tem a participação das mulhe- apontar para o protagonismo feminino no
res, existe alguns meninos que brincam, são interior desta comunidade. Um protagonis-
os pretinhos. Ai elas sai por figura, cada item mo que encontra ainda repercussão, quando
vai lá e se apresenta no meio do cenário, ate observamos o papel desempenhado pelas
chegar no ultimo membro do cordão. A figu- lideranças femininas no processo de luta e
ra mais importante é são Jorge cavaleiro que
mobilização para a conquista do reconheci-
é representado por um rapaz e a dançarina
dele, então eles fazem um momento muito mento como quilombolas (ROCHA e SILVA,
especifico nessa dança da garcinha. Cada 2015, p 103).
brincadeira dessas uma musica “garça, linda Dona Rosa Lolita, em entrevista concedi-
garcinha que nasce na natureza e há de ser da no ano de 2015, apresenta outra narrati-
rainha.6 va sobre as origens da comunidade.
Em seu processo de construção de me-
Rosa Lolita:
mória Cilda de Castro situa-se na mesma li-
Eu sei um pouco que é que a minha, a mãe
nhagem da família que deu origem ao núcleo
da minha avó era eles que eram descendente
comunitário de Santa Teresa do Matupiri.
de quilombo, que eles vieram, eles contavam
meu pai Manoel Colares, minha mãe era Te- que eles vieram fugidos de lá né, ai vieram
rezita, neta da dona Tereza, primeira mora- pra cá entraram nesta cabeceira e começa-
dora daqui, eles vieram fugidos, entraram ram a fazer a (bom dia)...comunidade aqui
nessa cabeceira do Matupiri, e foi ela que ai começou essa comunidade era só aquela
colocou esse nome, porque era pequena (a pontinha aonde hoje estão festejando a festa
de São Sebastião, ai eles começaram a fazer
4 Entrevista com a Sr. Ademir Belém, 42 anos, essa comunidadezinha lá, veio o pessoal do
agricultor, Abril de 2010. Apud (SILVA, 2010)
5 IDEM 7 Entrevista com a Sra. Cilda de Castro 60 anos
6 Entrevista com a Sr. Ademir Belém, 42 anos, Apud (MOURÃO 2010).
agricultor, Abril de 2010. Apud (SILVA, 2010) 8 IDEM

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Júlio Cláudio da Silva; João Marinho da Rocha

Itucuara, fizeram ai e surgiram algumas ca- Uma terceira versão revelada por Dona
sas, mais ainda não era mesmo comunidade, Eduarda e Dona Benedita, sobre as origens
ai depois que ingressou mais algumas famí- das comunidades quilombolas do Matupiri,
lias, ai começaram a se organizar disseram
as remete a uma experiência ligada ao cati-
que iam fazer um barracão pra fazer uma
igreja, ai chamaram o padre, o padre veio e veiro, mas, sobretudo, à Cabanagem.
achou que deveria formar uma comunidade, Segundo Eduarda Trindade,
ai formaram essa comunidade, ai tinha essa
O finado meu avô chegou pra cá inicio de
minha avó que o nome dela era Maria Tere-
...assim de ... de turma né... aí ele veio embora
za, ai depois apareceu mais um outro que era
pra cá... que vieram né... aí não teve uma cor-
o irmão dela que era o seu Teodoro, depois
rida que... que ... pois é... essa cabanagem...
o seu Manoel Benedito Rodrigues, então fo-
nesse tempo... é desse tempo que eu nasci, aí
ram esses ai que foram os primeiras pessoas
chegou pra cá... aí se agradou da finada mi-
a formar essa comunidade.9
nha avó já e ficou por aí... Na turma né... que
Também Lorença da Silva ao ser indaga- turma que eles vieram não contaram não...
só ele contou que era...do... da África. (...) 11
da sobre as origens da comunidade quilom-
bola do Lago do Matupiri, se remete a uma Segundo Dona Benedita,
memória do cativeiro, para construir a sua
[...] pra não querem morrer né fugiram...
narrativa. tempo da cabanagem que eles fugiram de
eles fugiram e eram escravos, fugiram de noi- lá de ...vieram embora pra cá, ficaram por
te. A dona Tereza veio na barca com a família aqui... eles atravessam na baiacu dentro do
dela, já no Rio Andirá o vento ficou tão forte barranco disque... só sei que passaram pra
que alagou a canoa. Ai ficou só ela a mãe dela cá, não sei como né, nunca andei por ai não
e o pai dela e outro irmão dela, passaram um pode dizer assim que era historia lá...só sei
dia no Rio Andirá com a canoa de boca pra que acertaram pra cá e vieram embora den-
baixo[...] até chegar na praia do Açu. Quan- tro do barranco... Eram quatro a modo esses
do eles chegaram vinha um pessoal que “ma- que vieram fugido é ... Quatro homem e duas
tava”. Ai, pegaram o pai dela que não podia mulher ... Passaram. 12
mais andar, já estava todo entravado, pega-
Esta hipótese sobre o surgimento das
ram e mataram ele penduraram uma banda
no galho a cabeça colocaram no sol e outra comunidades a partir da construção de um
banda no outro lugar [...]. Após isso ela veio espaço para abrigar homens e mulheres em
remando e chegou seis horas da tarde aqui, fuga, em decorrência dos combates esta-
não tinha ninguém.10 belecidos a partir da Cabanagem, sugere a
As narrativas das senhoras Cilda de Cas- possibilidade do surgimento dessas comuni-
tro, Rosa e Lorença Enedina revelam uma dades, ligarem-se a processo de mobilização
descrição detalhada sobre a origem do sur- e luta mais amplo. Um processo sacudiu o
gimento da comunidade. Nela a família Cas- Império Brasileiro e cujos desdobramentos,
tro é descrita como pertencente ao núcleo em certa medida, atingiram o Baixo Amazo-
familiar fundador da comunidade. nas. Por outro lado o processo de luta e mo-
bilização, estabelecido nessas comunidades,
9 Entrevista com o Sra. Rosa Lolita 46 anos agri- nas primeiras décadas do século XX, dialoga
cultora realizada pelo acadêmico da universida-
de do estado do Amazonas Carlos Alberto Trin- 11 Entrevista com a Sra. Eduarda Trindade, 71
dade para o projeto de Iniciação Cientifica/PAIC anos, aposentada, Abril de 2010. Apud (SILVA,
2015. 2010).
10 Entrevista com a Sra. Lorença da Silva 90 anos 12 Entrevista com a Sra. Benedita Ribeiro, 56 anos,
Apud (MOURÃO 2010). agricultora, Abril de 2010. Apud (SILVA, 2010.)

Revista África(s), v. 03, n. 06, p. 131-143, jul./dez. 2016 139


Das memórias negras na Amazônia: resistência e luta quilombola no Andirá, Barreirinha-AM, Brasil

e articula-se com o processo de mobilização pecial no Amazonas. Tomamos como foco


negra que agitou o Brasil e atingiu Brasí- os processos de emergências étnicas qui-
lia, quando da elaboração da Constituição lombola que vêm ocorrendo há pelo menos
de 1988. Esta mobilização dos movimen- quinze anos neste Estado. Focamos os pro-
tos quilombolas garantiu o reconhecimento cessos de construção de memórias das cinco
dessas comunidades previstas no artigo 68 comunidades do Rio Andirá no município
da Constituição. Dispositivo este que ali- de Barreirinha, que em 2013 receberam da
mentou e tem alimentado os movimentos Fundação Cultural Palmares a titulação de
sociais quilombolas na luta pelo reconheci- remanescentes de quilombo. A partir da-
mento de seus direitos a terra. quele registro no Diário Oficial da União as
comunidades passaram a ser denominadas
Considerações finais Quilombo do Matupiri. Neste momento eles
A intenção deste artigo foi iniciar uma refle- passam pelo processo de demarcação de
xão no âmbito do grupo de pesquisa históri- seus territórios específicos. As análises das
ca do Amazonas GEHA, acerca da produção narrativas orais dos sujeitos do quilombo
do conhecimento na Amazônia. Uma produ- foram pautados na metodologia da História
ção que escute, contextualize e por fim ana- Oral e evidenciam, dentre outras questões,
lise as vozes dos sujeitos. A partir de como que aqueles sujeitos passam a ressignificar
constroem suas memórias sobre seu passa- suas práticas socioculturais e atribuir novos
do e o que narram para compor as Histórias e variados sentidos e significados que, ao
sobre si. que tudo indica, dão conta de sua ancestrali-
Nossa postura dialogou com os indicati- dade. O fazem ao lado de outros processos e
vos de Torres (2005, p.185) sobre o ofício do formas de espaços e tempos de sociabilida-
antropólogo diante da Amazônia. Segundo des que auxiliam na pertença Étnica cons-
ela, este “deve se preocupar mais em definir truída para sua nova identificação.
processos individuais e específicos, expli- Os estudos feitos a partir das fontes orais
cando a dinâmica dos grupos e das frontei- evidenciam e/ou favorecem a visualização
ras, do que burilar conceitos”. Tais indicati- de sujeitos e grupos sociais historicamente
vos também são pertinentes para a pesquisa silenciados. Sendo, portanto, um contra-
histórica, especialmente quando se trata de ponto as pesquisas que resultam no silêncio,
comunidades quilombolas na Amazônia, por exemplo, sobre os negros no Amazonas.
a exemplo dessas cinco que se apresentam Assim como iluminam os lugares de onde
como tais no Rio Andirá. esses atores sociais negros falam, agora,
Nisso, podemos analisar as “filhas do sobre seus processos de luta por reconheci-
Andirá” como sujeitas que constroem sua mento, como é o caso das mulheres da as-
história pautadas numa memória étnica que sociação quilombola de Barreirinha. As me-
foi politizada e é cotidianamente atualizada mórias de lutas por reconhecimento dessas
e materializada no estabelecimento de cer- mulheres são trazidas neste texto à luz dos
ta identidade étnico-racial diferenciada que demais movimentos sociais e organizações
exige outras posturas por parte das comuni- que articularam acesso aos direitos a grupos
dades. étnicos como remanescentes quilombolas,
Este texto promoveu uma reflexão sobre estabelecidos nas leis do país a partir das úl-
as questões do negro na Amazônia, em es- timas duas décadas do século XX. Com isso

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Júlio Cláudio da Silva; João Marinho da Rocha

intentamos destacar os papeis dessas lide- ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terra de
ranças femininas, que estiveram à frente da quilombo, terras indígenas, “babaçuais
livre”, “castanhais do povo”, faixinais e
federação quilombola do município de Bar- fundos de pasto: terras tradicionalmente
reirinha e aparecem como figuras centrais ocupadas. – 2.ª ed, Manaus: PGSCA–UFAM,
nas narrativas quilombolas do Matupiri. 2008.
É a partir desse universo de entrelaça- ALMEIDA, Wagner Berno de. Cartografia
mentos de memórias, locais e regionais, social dos povos e comunidade tradicio-
construídas sobre a sua ancestralidade, das nais da Amazônia. Plano de curso ministrado
práticas cotidianas e das manifestações so- no Centro de Estudos Superiores de Parintins-
CESP/UEA, Julho a Dezembro de 2012.
cioculturais que os sujeitos do Matupiri in-
dicam os elementos que devem compor a BARTH, Friedrik. Etnicidade e o conceito de
cultura. Antropolítica, n. 19. Niterói: UFF, p.
sua nova identificação étnica no Rio Andirá.
15 – 30, 2005.
Este novo contexto de emergências étnicas
permite e exige para sua validação que as BATISTA, Djalma. O complexo da Amazô-
nia: análise do processo de desenvolvi-
vozes da Amazônia possam construir suas mento. Manaus: Valer-EDUA-INPA, 2007.
próprias narrativas históricas que comporão 2ª ed.
o novo pensamento social da e sobre região,
BEZERRA NETO, José Maia. Por todos os
que aliás, vive em constante (re) construção. meios legítimos e legais: as lutas contra a
Em outras palavras, compreender como escravidão e os limites da abolição (Brasil,
a comunidade do Matupiri se diz, se auto Grão-Pará, 1850-1888). Tese de Doutoramento.
PUC/SP, 2009.
identifica quilombola, passa antes de tudo
por reconhecer e entender os inúmeros pro- CAMPOS, Sabrina Coelho, Memória e luta:
cessos e formas de conhecimentos por eles narrativas dos remanescentes de qui-
lombos de Santa Teresa do Matupiri, São
acionados e utilizados. Essa é uma atividade Pedro e Trindade. Monografia em História.
não localizada no Andirá, mas que se liga a UEA. Parintins. 2010.
um contexto maior pelo qual novas identi-
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