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BRASILEIRA
Liliane Nogueira Monteiro1
Introdução
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Graduada em História licenciatura pela Universidade Federal do Acre – UFAC.
[email protected]
negras femininas do Brasil. Elas servem de parâmetro e de “herança de tantas
outras ancestrais”. Claro que Discutir sobre a mulher negra no contexto da
literatura afro-brasileira é percorrer duas vertentes: a primeira, a das próprias
mulheres negras que produzem literatura, e ao mesmo tempo reescrevem na
história; e, a segunda, a da representação dessas mulheres na literatura. De
todo modo, é entender quem são o que produzem e como se comportam
mediante as relações de gênero e etnicidade que lhes são impostas no
contexto dessas produções. Diante de tal abordagem, as relações e discussões
de gênero (mulher negra) vêm acompanhadas das questões da raça e da
etnicidade, a literatura produzida por elas também passará pelo mesmo campo
de discussão.
Dessa forma, ao se pensar em um contexto geral da literatura e da
participação das mulheres, entende-se, segundo Schmidt e Navarro (2007)
que: a cultura literária constitui parte integrante do campo cultural e seu
desenvolvimento foi, até há pouco tempo, regulado e controlado
ideologicamente pela hegemonia patriarcal e seus pressupostos sobre
diferenças assimétricas e hierárquicas de gênero, o que significa dizer que as
mulheres que atuaram, no passado, no campo das letras, ficaram à margem da
literatura, esquecidas e silenciadas nas histórias literárias. Nesse sentido, uma
visada crítica às culturas literárias nacionais ilumina as conexões entre cultura
e poder, entre instituição intelectual e dominação, entre privilégio e exclusão
(SCHMIDT; NAVARRO, 2007, p. 85).
Para as mulheres negras ou brancas, a literatura foi por muito tempo
espaço de exclusão e muitas vezes de negação de sua participação. Essas
mulheres eram restritas aos espaços domésticos ou religiosos. Essas mesmas
mulheres eram vitimas de uma sociedade patriarcalista e sexista, enquanto os
homens eram quem dominavam as letras da literatura que circulavam. O sexo
feminino teve seus discursos negados e rejeitados à inclusão no cânone por
muitos anos. Em geral “a negação da legitimidade cultural da mulher, como
sujeito do discurso exercendo funções de significação e representação foi, no
contexto dessas literaturas, uma realidade que perdurou até, mais ou menos, a
década de 1970” (SCHMIDT; NAVARRO, 2007, p. 86). É fato que anterior a
1970 já existia literatura produzida por mulheres em vários países, mas é a
partir desse período que Rita Schmidt e Márcia Navarro concebem como sendo
o centro das discussões sobre essas literaturas, “quando houve uma
verdadeira explosão de investigações centradas na relação entre literatura e
mulher” (op. cit).
No que diz respeito à mulher negra no contexto da literatura brasileira,
podemos encontrá-la, bem como o negro no geral, de duas formas: primeiro
sendo representada, depois ela mesma se escrevendo e participando dessa
literatura. Portanto, temos sua representação e sua auto representação. “Se
antes as representações das mulheres negras estavam restritas a descrições
como as de Bernardo Guimarães com sua escrava branca, A Escrava Isaura
(1876); ou a imagem da mulata sensual de Aluísio de Azevedo em O cortiço
(1890), com sua Rita Baiana e a animalidade e falta de inteligência de
Bertoleza; ou em imagens poéticas como em “Essa negra fulô” (1958), de
Jorge de Lima, em que encontramos uma mulher negra lasciva e pronta aos
serviços sexuais do seu senhor, aos poucos essas imagens e estereotipias na
literatura nacional foram sendo reinventadas e resinificadas por meio da
produção de afrodescendentes, negros e negras no país que buscaram sua
identidade e autoafirmação por meio da literatura.”
Desta forma, muitas das imagens representadas da mulher negra na
literatura nacional eram, em sua maioria, fundadas nas ideologias racistas e
sexistas e, principalmente, com base em seu passado escravo. Essas
mulheres eram representadas a partir da imagem da negra vista como:
[...] coisa pau pra toda obra, objeto de compra e venda em razão de sua
condição de escrava. Mas é objeto sexual, ama de leite, saco de pancada
das sinhazinhas, porque, além de escrava, é mulher. Evidentemente, esta
maneira de viver a chamada ”condição feminina” não se dá fora da condição
de classe... e mesmo de cor (GIACOMINI, 1988, p. 87-88, Grifo da autora).
Desenvolvimento
A partir a década de 1970 foi que houve uma explosão da literatura que
tinham mulheres como vanguardistas. A partir desta década de fato foi que houve a
expansão da literatura negra propriamente dita, com produções tanto de mulheres
quanto de homens negros comprometidos com as causas da negritude. Buscando
sua auto representação e a quebra de imagens negativas essas mulheres acabam
se aglutinando em movimentos literários e passam assim a expressarem seus
próprios desejos poéticos, suas dores, lutas, histórias, anseios e memórias. Com
isso aos poucos essas mulheres vão se apresentando por suas próprias mãos e
rompem com os estereótipos literários que erram atribuídos a elas na historia e
tradição da literatura brasileira.
Com essa proposta de buscar essa autoafirmação da identidade feminina
negra pela linguagem literária, podemos elencar algumas poetisas negras quem vem
produzindo textos literários e por meio de suas produções tem conquistado novos
espaços e instigado uma revisão nos conceitos sobre o sujeito negro feminino
brasileiro. São essas vozes que surgem e novas imagens passam a existir, uma
poética construída agora sobre as próprias mãos, outrora amordaçadas, e pelas
vozes emudecidas de Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo e Carolina Maria
de Jesus. Para vencer as barreiras de gênero e da cor, que vão além de “sexo
frágil”, essas mulheres negras optaram pela escrita e produziram sua própria
literatura lírica, que relevam as subjetividades desse segmento social. A escrita da
mulher (escrita feminina) já traduz por sim só um significado particular, nesse
contexto essa mesma escrita assume conotações de gêneros sobre mulheres
brancas e negras, da escrita feminina e negra. A respeito da escrita das mulheres
negras, Miriam Alves concebe esta da seguinte forma:
Gosto de escrever, na maioria das vezes dói, mas depois do texto escrito é
possível apaziguar um pouco a dor, eu digo um pouco... Escrever pode ser
uma espécie de vingança, às vezes fico pensando sobre isso. Não sei se
vingança, talvez desafio, um modo de ferir o silêncio imposto, ou ainda,
executar um gesto de teimosa esperança. Gosto de dizer ainda que a
escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não
executa, é a senha pela qual eu acesso o mundo (EVARISTO, 2005a, p.
202).
Maria Firmina era sim uma mulher muito a frente do seu tempo, sempre
lutando por uma educação melhor e por melhores condições para os negros e as
mulheres e que ela seria a responsável pela composição do Hino da Abolição da
Escravatura. Maria Firmina morreu em 1917 aos 92 anos na cidade de Guimarães.
Teve em vida o privilégio de presenciar a Abolição da Escravatura e a Proclamação
da República. Porém, infelizmente, não pode presenciar o devido reconhecimento
dos críticos de sua época pelas suas obras e lutas. “Revelada” ao grande público
apenas na década de 1970, Maria Firmina dos Reis ainda é pouco presente na
historiografia da literatura canônica brasileira. É válida portanto, indubitavelmente,
toda a menção honrosa a memória dessa grande brasileira. Negra, nordestina,
pobre, bastarda, mulher.
E a nossa ultima e não menos importante escritora negra Carolina Maria
de Jesus, nascida em Sacramento (MG), Carolina mudou-se para a capital paulista
em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do
pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em
casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos
quais deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado
em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil
exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como
catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no
lixo. Ela é considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do
Brasil.
Considerações finais
Referências bibliográficas