Resumo Expandido Sefic - MESTRADO
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RESUMO
O artigo realiza uma reflexão dialógica entre a experiência da docência no Ensino
Religioso e a pesquisa sobre política educacional. Ele apresenta a experiência de um
professor de ensino religioso para sustentar a reflexão político-pedagógica e realiza uma
discussão sobre essa experiência no contexto de desvalorização do Ensino Religioso
como área do conhecimento e como área de formação docente como resultado da
ausência de normas nacionais para a licenciatura em Ensino Religioso.
1 INTRODUÇÃO
Através do diálogo entre a experiência da docência no Ensino Religioso e a pesquisa
sobre essa disciplina, o artigo tem a pretensão de oferecer alguns elementos teórico-
práticos necessários para enfrentar três questões específicas do Ensino Religioso no
contexto da LDB: 1) Como o Ensino Religioso contribui para a distinção republicana
entre o dever da família e o dever do estado com a educação no campo do conhecimento
religioso? 2) Quais seriam as implicações didáticas da disciplina Ensino Religioso
inspiradas nos valores republicanos da liberdade e da solidariedade? 3) Como o Ensino
Religioso pode e deve contribuir para a plenitude da personalidade, para o exercício
democrático e para o trabalho?
Diante do cenário educacional no qual o Ensino Religioso se insere, com suas
contradições e indefinições, é urgente, enquanto pesquisa, discutir sobre a formação e a
habilitação do docente para esta disciplina escolar. Não parece adequado para os
padrões pedagógicos atuais que docentes de qualquer licenciatura sejam habilitados para
lecionar essa disciplina, descaracterizando e desvalorizando uma área de conhecimento
que precisa desenvolver a epistemologia científica sobre diversidade religiosa,
pluralidade de conhecimentos e sobre o diálogo fraterno entre diferentes teorias e
crenças religiosas nas salas de aula do Ensino Fundamental.
Na atual conjuntura da Educação Básica brasileira, o Ensino Religioso e seus docentes
podem contribuir, especificamente, no combate e na prevenção de atentados impetrados
contra a democracia por movimentos fundamentalistas religiosos e incapazes de
reconhecer os valores republicanos da tolerância e da dignidade humana em quem não
partilha da crença considerada como única, verdadeira e legítima pelo fundamentalismo.
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2 REVISÃO
A pesquisa em educação constata que o Ensino Religioso é uma disciplina polêmica,
pois a sua oferta obrigatória para as escolas de Ensino Fundamental, mas de frequência
optativa para os estudantes. Essa solução normativa da LDB, pretendia atender, ao
mesmo tempo, de um lado, o caráter obrigatório e universal desta etapa da Educação
Básica e, de outro, pretendia assegurar o princípio constitucional da liberdade de crença
e religião. Resultou que essa solução tornou-se insatisfatória quando o Conselho
Nacional de Educação foi solicitado em 1999 para autorizar e reconhecer diversos
pedidos de cursos de Licenciatura no Ensino Religioso, conforme a argumentação do
Parecer haveria uma contradição entre a liberdade de religião e a obrigatoriedade da
educação, justificando a conclusão do CNE, através do Parecer nº 97/99 sobre a
“impossibilidade de criação de diretrizes curriculares nacionais para a orientação desses
cursos” (AMARAL, et. al., 2017, p 277). Conforme essa diretriz da política
educacional, quanto à disciplina escolar do Ensino Religioso,
Por outro lado, estes mesmos autores constaram na sua pesquisa a existência de “cursos
de Licenciatura em Ciências da Religião em oito universidades públicas brasileiras”,
cinco em universidades estaduais (Maranhão, Montes Claros/MG, Pará, Rio Grande do
Norte, Vale do Acaraú em Sobral/CE) e em três universidades federais (UFJF, UFPB e
UFS) (AMARAL, et. al., 2017, p. p. 277-278). As informações sobre licenciaturas de
Ensino Religioso em universidades privadas serão pesquisadas na continuidade na
pesquisa de mestrado. Em Santa Catariana, existem duas licenciaturas em IES
municipais: Curso de Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino Religioso na
Universidade Regional de Blumenau/FURB, e no Centro Universitário Municipal de
São José/USJ, além do curso oferecido pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó/ UNOCHAPECÓ (OLIVEIRA; KOCH, 2012, p. 469-470).
Esse fato cria um problema de direito. O Art. 48 da LDB estabelece que os “diplomas
de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional como
prova da formação recebida por seu titular”. Ora, as IES que expedem diplomas de
Licenciatura em Ensino Religioso são reconhecidas, portanto, estes diplomas são
válidos no país, no entanto, seus portadores, de direito, mas não de fato, só ministram
aulas de Ensino Religioso apenas naqueles sistemas de ensino que aceitam essa
licenciatura. Em termos práticos, o licenciado em Ensino Religioso pode ingressar no
magistério público apenas nos municípios e estados que realizam concursos específicos
para o Ensino Religioso?
3 METODOLOGIA
A metodologia realiza uma revisão documental tendo como base a Lei de Diretrizes e
Bases Nacional (LDB), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Constituição
Federal de 1988. As referências teóricas principais são Harry Brighouse, Pedro Ruedell
e Sérgio Junqueira entre outros.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Diante do complexo cenário educacional onde está inserida a disciplina Ensino
Religioso, com suas contradições e indefinições, faz-se urgente que a pesquisa na área
da Educação discuta sobre a formação e a habilitação do docente para esta disciplina
escolar. Não parece adequado para os padrões pedagógicos atuais que docentes de
qualquer licenciatura sejam habilitados para lecionar essa disciplina, como é o caso do
Rio Grande do Sul. Esse fato descaracteriza ou até mesmo desvaloriza uma área de
conhecimento que precisa desenvolver uma epistemologia científica peculiar sobre a
diversidade religiosa, a pluralidade de conhecimentos e sobre o diálogo fraterno entre
diferentes teorias e crenças religiosas nas salas de aula do Ensino Fundamental. Na atual
conjuntura brasileira, o Ensino Religioso e os seus docentes podem contribuir,
especificamente, no combate e prevenção de atentados impetrados contra a democracia
por fundamentalistas religiosos incapazes de reconhecer em quem não partilha de sua
determinada crença, os valores da tolerância (LDB, art. 4º, inciso IV) e da dignidade da
pessoa humana (Constituição Federal, art. 1º, inciso III).
Este desafio para o Ensino Religioso está inserido no contexto político brasileiro e
mundial de crise de reconhecimento e de valorização popular da democracia e do estado
de direito. Nas primeiras décadas deste segundo milênio, as igrejas e religiões
ecumênicas estão sendo violentamente tensionadas pela radicalização do
fundamentalismo religioso que atenta contra o princípio jurídico da dignidade da pessoa
humana pactuado em 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada
pelos países que derrotaram o nazi-fascismo da Alemanha, Itália e Japão. O
fundamentalismo religioso parece ter recrudescido no Brasil, considerando o número de
candidatos que se apresentaram ao processo eleitoral de 2018 buscando o voto do eleitor
pela autodeclaração do candidato como liderança religiosa. O Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) registrou vários títulos religiosos como "nome de urna" de 568
candidatos. Reportagem do site de notícias UOL (PRAZERES, 2018) encontrou nos
registros do TSE, 524 candidatos autointitulados pastor(a), irmão(ã), apóstolo(a),
missionário(a); 24 candidaturas adotaram títulos de religiões afro-brasileiras como pai,
mãe, Babalorixá. Vinte candidatos registraram-se como clérigos católicos, adotando o
título de padre ou frei(ra). A religião parece ter contribuído para acirrar uma disputa
eleitoral já, por si mesma, polarizada. Poucos dias antes do primeiro turno, uma notícia
internacional mostrava a recusa da comunidade científica internacional contra o
fundamentalismo religioso, em um cenário religioso muito mais trágico e sangrento que
o brasileiro. Denis Mukwege e Nadia Murad ganharam o Prêmio Nobel da Paz de 2018
“pelos seus esforços para pôr fim às violências sexuais nos conflitos armados”
provocados por extremistas religiosos na República Democrática do Congo e na Síria
(PRÊMIO, 2018).
Com base na argumentação construída ao longo do artigo, parece plausível formular
algumas respostas para as três perguntas formuladas na introdução. Como o Ensino
Religioso contribui para a distinção republicana entre o dever da família e o dever do
estado com a educação, especificamente, no campo do conhecimento religioso? A
contribuição específica do Ensino Religioso parece ser o conhecimento científico acerca
da distinção e, ao mesmo tempo, relação entre a educação privada propiciada pela
família e a educação pública propiciada pelo Estado. Ou nas palavras de Cury,
retomando os conceitos do primeiro artigo da LDB, diferenciando entre a educação
família como sendo “educação lato sensu” e, “de modo bastante abrangente, e a
educação escolar (stricto sensu) em instituições próprias” (2018, p. 316).
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Quais seriam as implicações didáticas da disciplina Ensino Religioso que se inspiram na
liberdade e na solidariedade? As experiências do docente de Ensino Religioso que serão
descritas e sistematizadas na dissertação, parece que justificam a suspeita de que um
bom recurso didático disponível para esta disciplina é o estímulo ao diálogo entre os
alunos envolvendo as suas famílias em relação ao convívio religioso que realizam na
sociedade. Apesar da polarização religiosa que parece predominar na atual conjuntura
política brasileira, os relatos a serem inseridos na dissertação apontam para
possibilidades de um convívio social capaz de valorizar a liberdade e a solidariedade
entre distintas experiências religiosas, especialmente, quando partem de experiências
concretas vivenciadas pelos estudantes e/ou suas famílias.
Como o Ensino Religioso pode e deve contribuir para a plenitude da personalidade, para
o exercício democrático e para o trabalho? Para o desenvolvimento da personalidade
basta lembrar os clássicos estudos construtivistas sobre a formação moral em Durkheim
e Piaget, pouco explorados na produção analítica sobre as políticas educacionais. Para o
exercício democrático, as contribuições do ensino religioso apontam para o
desenvolvimento do apreço pela tolerância nos alunos e nas suas famílias. A
contribuição do Ensino Religioso para o trabalho parece necessitar de uma pré-
condição, qual seja, a própria formação para o trabalho com a disciplina ainda é uma
questão não resolvida.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Daniela Patti do; OLIVEIRA, Renato José de; SOUZA, Evelin Christine
Fonseca de. Argumentos para a formação do professor de ensino religioso no projeto
pedagógico do curso de Ciências das Religiões da UFPB: que docente se pretende
formar? Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 98, n. 249, p. 270-
292, maio/ago. 2017. Disponível em:
http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/2628/pdf, acesso e, 13/10/2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm, acesso em
09/10/2019.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm, acesso em 090/10/2019.
BRIGHOUSE, Harry. Sobre Educação. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
CURY, Carlos Roberto Jamil. A formação de professores e laicidade no ensino
superior. Revista de Educação Pública, Cuiabá/MT, v. 27, n. 65/1, p. 311-327,
maio/ago. 2018. Disponível em:
http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/download/658
1/4266, acesso em 09/10/2019.
OLIVEIRA, Tania Alice. A influência das políticas públicas na formação do professor
brasileiro e sua relação com o Ensino Religioso. Revista Pedagógica, Chapecó/SC, v.
20, n. 44, p. 66-86, mai./ago 2018. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.22196/rp.v20i44.4455, acesso em 10/09/2018.
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PRAZERES, Leandro. Evangélicos puxam alta de 11% do número de candidaturas com
nome religioso Leandro Prazeres. UOL, Brasília, 25/08/2018. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/08/25/candidaturas-de-
religiosos-crescem-11-em-2018-evangelicos-lideram-ranking.htm.
PRÊMIO Nobel da Paz contra o estupro como arma de guerra. Entrevista com Denis
Mukwege e Nadia Murad. Revista IHU on-line, São Leopoldo, 06 Outubro 2018.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/583473-premio-nobel-da-paz-contra-o-
estupro-como-arma-de-guerra-entrevista-com-denis-mukwege-e-nadia-murad.
RODRIGUES, Edile Maria Fracaro; PEROBELLI, Rachel de Morais Borges;
JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. O caráter pedagógico e epistemológico do
Ensino Religioso. Religare, João Pessoa/PB, v. 8, n. 2, p. 181-192, out. 2011.
Disponível em:
http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/religare/article/download/12500/7248,
acesso em 09/10/2019.
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