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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO PSICOLÓGICO-

PSIQUIÁTRICO EM SAÚDE MENTAL:


CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE UM TEXTO
EXEMPLAR

1
Aline Frollini Lunardelli Lara
Universidade de Mogi das Cruzes - SP

Este trabalho discute a relação entre ideologia e o conhecimento


produzido na Psiquiatria, a fim de desvelar o que está oculto em um texto
considerado científico. O material analisado trata da prevenção primária
de distúrbios psíquicos que produzem “desajustamento social”. A análise
centra-se no próprio conceito de prevenção como ideologia, numa
perspectiva crítica que busca as lacunas que garantem e legitimam o
poder político dos que detêm o conhecimento hegemônico na área da
saúde mental.
Descritores: Psiquiatria. Psicologia. Ideologia. Saúde mental. Ajusta-
mento social.

N os cursos de graduação em Psicologia, os alunos entram em contato


com diversas abordagens teóricas que fundamentam a prática do pro-
fissional psicólogo. Como regra, essas teorias fazem parte do discurso com-
petente, na acepção de Chauí (2001b), ou seja, de um conhecimento que, por
ser produzido em determinados lugares sociais e pelos únicos autorizados a

1 Psicóloga, Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo


Instituto de Psicologia - USP. Docente do curso de Pedagogia da Universidade de
Mogi das Cruzes - SP. Endereço eletrônico: [email protected]. Endereço
para correspondência: Avenida Otacílio Tomanik, N.º 1054, Apto. 64, Jardim
Bonfiglioli, CEP 05363-101, São Paulo-SP.

Psicologia USP, 2006, 17(1), 35-52 35


Aline Frollini Lunardelli Lara

falar sobre os fenômenos do mundo físico, social e psicológico, tornam-se


hegemônicos e silenciam outras falas.
Uma aparente diversidade teórica esconde fundamentos filosóficos
muitas vezes comuns. No entanto, uma questão que pouco é levantada e
sobre a qual pouco se reflete nesses cursos é a das bases epistemológicas e
ético-políticas da ciência psicológica. Quanto ao compromisso político, nem
todas as concepções psicológicas têm como foco a questão da autonomia
dos indivíduos, das possibilidades de resistência à opressão e à manipulação
das consciências nas sociedades contemporâneas. Ao invés disso, muitas
destas concepções nascem e se desenvolvem a partir de objetivos essencial-
mente contrários à possibilidade de humanização dos homens. Por isso
mesmo, seu compromisso político precisa ser explicitado.
Este artigo analisa um texto adotado em cursos de formação em Psico-
logia: “Um Modelo Conceptual para Prevenção Primária”, capítulo do livro
Princípios de Psiquiatria Preventiva, de Gerald Caplan (1980), publicado
pela primeira vez em 1964. Caplan, psiquiatra, na época da publicação do
livro, era professor da Escola de Saúde Pública e Diretor do Programa de
Saúde Mental Comunitária da Universidade de Harvard. O livro é fruto de
suas experiências em ambulatórios psiquiátricos e hospitais gerais, bem co-
mo de sua participação em programas de Psiquiatria comunitária e como
consultor de programas comunitários de saúde pública e mental em mais de
dez países. Segundo Felix (1980),
Este livro é não só uma cartilha para o assistente comunitário de saúde mental – é
uma Bíblia. Deve ser lido por todos os residentes psiquiátricos e profissionais
ligados à saúde mental, bem como pelos que se encontram em treinamento para
essa profissão e por quantos estão empenhados na elaboração de programas
comunitários de saúde mental. (p. 9)

A reflexão terá como ponto de partida os conceitos de prevenção, ide-


ologia e de discurso competente.

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

O texto de Caplan organiza-se ao redor de três eixos: conceituação de


prevenção primária; conceituação de crise como explicação para as pertur-
bações mentais; desenvolvimento de um modelo de prevenção primária a
partir do conceito de crise.
A proposta do autor é prevenir momentos de crise e intervir nestas si-
tuações, com o objetivo de evitar que o transtorno mental se instale e se cro-
nifique. Para desenvolver esta proposta, ele sugere a prevenção primária, na
qual se trabalha com as dimensões física, psicossocial e sociocultural da vida
das pessoas.
À primeira vista, o texto pode deixar a impressão de que estamos tra-
tando de um modelo de prevenção em saúde mental que considera não ape-
nas o indivíduo portador da enfermidade, mas também todos os aspectos
sócio-culturais ou a unidade biopsicossocial na produção da doença mental.
Entretanto, uma análise crítica do material revela que o indivíduo continua
sendo o locus da produção da saúde ou da doença, do sucesso ou do fracasso
pessoal-social, como será visto a seguir.
No decorrer do texto, as definições de saúde e de doença referem-se à
possibilidade de adaptação ou desadaptação individual: “Esta abordagem ba-
seia-se no pressuposto de que muitas perturbações mentais resultam de ina-
daptação e desajustamento, e que, pela alteração do equilíbrio de forças, é
possível conseguir uma adaptação e um ajustamento saudáveis” (Caplan,
1980, p. 42).
Para determinar os fatores que levam ao aparecimento da doença men-
tal, o autor compara características da população doente e da população sa-
dia:
Se a pessoa nasceu num grupo favorecido em uma sociedade estável, seus papéis
sociais e as mudanças esperadas destes ao longo de sua vida irão proporcionar-lhe
oportunidades adequadas para um saudável desenvolvimento da personalidade. Se,
por outro lado, a pessoa pertence a um grupo desfavorecido ou sociedade instável,
poderá encontrar seu progresso bloqueado e ser privada de desafios e
oportunidade. Isso terá um efeito negativo em sua saúde mental. (p. 47, grifos
nossos)

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Aline Frollini Lunardelli Lara

As palavras destacadas fazem parte de um articulado ideário que loca-


liza o sucesso ou fracasso social numa classe específica, causadora e propa-
gadora de distúrbios mentais e sociais: uma classe abstratamente designada
como “desfavorecida”.
O termo prevenção, de origem médica, é utilizado com freqüência em
espaços especializados e leigos. No dicionário, prevenir é: “antecipar; prepa-
rar; chegar antes de; evitar; prever; dispor de modo que evite dano ou mal;
impedir que se realize; dizer ou fazer antes que o outro diga ou faça; realizar
antecipadamente; ir ao encontro de; atalhar; avisar, informar com antece-
dência; influenciar; dispor; preparar-se; precaver-se” (Ferreira, 1963, p.
972). Prevenção remete ao verbo prever, que significa “ver antecipadamen-
te; calcular; pressupor; predizer; conjeturar; profetizar; fazer conjeturas; re-
flexionar; calcular” (p. 972).
A prevenção primária, de acordo com Caplan (1980), implica em lidar
com algo que ainda não aconteceu, com o objetivo de antecipar um mal para
que ele possa ser evitado. Em resumo, alguns indivíduos podem possuir
características responsáveis por seu adoecimento. Além disso, saúde mental
é adaptação dos indivíduos. Caberia ao psiquiatra a manipulação de algumas
circunstâncias de vida da população para efetivar tal adaptação.
Os elementos constitutivos da Psiquiatria preventiva estão presentes
em todo o texto de Caplan: as mudanças do objeto de estudo, o objetivo do
tratamento, o sujeito a ser tratado, quem é o responsável pela cura e o novo
espaço de atuação dos profissionais de saúde mental. Deve-se atuar, de a-
cordo com o autor, na comunidade, saindo dos consultórios privados para
atender a população, pois o foco de intervenção não é o indivíduo. Tem-se
por objeto promover a saúde mental e as equipes de profissionais habilitados
são responsáveis por isto.
É importante ressaltar que, neste modelo, os fundamentos dos conceitos
de prevenção, de saúde x doença mental estão na harmonia do sujeito visto
como unidade biopsicossocial e, portanto, na adaptação da população aos
modelos de produtividade e obediência, garantindo sua condição saudável.

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

Se, antes, falava-se de adaptação x desadaptação dos indivíduos, o


discurso passou a ser com relação a muitas pessoas. É necessário, assim,
para o autor, intervir nas comunidades, com o objetivo de impedir, evitar, que
as condições perniciosas destas se manifestem causando a doença mental.
A adaptação e o ajustamento dos indivíduos seriam necessários para
que se evitasse a doença mental. O modelo da Psiquiatria preventiva conse-
guiria, trabalhando com toda a população e não apenas com alguns indiví-
duos, garantir que doenças mentais fossem evitadas em grande escala. Vale
ressaltar que o compromisso ideológico-político das idéias psiquiátricas,
representadas pelo texto de Caplan e pela noção de prevenção, não se refere
à promoção da saúde mental de todos os indivíduos, mas somente daqueles
que já possuírem condições favoráveis para que isto aconteça. Os trechos a
seguir ilustram as intenções da proposta do autor:
O primeiro, que inclui atributos tais como idade, sexo, classe sócio-econômica e
grupo étnico, não pode ser manipulado, porquanto envolve, por assim dizer, fatores
do destino individual (Caplan, 1980, p. 41, grifos nossos).

Certos indivíduos podem ter uma posição tão afortunada ou antecedentes tão
privilegiados que, mesmo sem o nosso programa, não cairiam doentes. Outros
indivíduos podem ser tão desfavorecidos por sua situação idiossincrática que
nenhuma melhoria do quadro comunitário geral seria suficiente para impedir que
eles adoeçam. (p. 44, grifos nossos)

Quanto mais rica for sua herança cultural, mais complexos serão os problemas que
a pessoa terá provavelmente sido ensinada a dominar. Quanto mais estável for sua
sociedade, mais provável é que esta a tenha dotado de instrumentos perceptivos,
recursos para resolver problemas e todo um conjunto de valores que a guiem
sempre que tenha de enfrentar as dificuldades da vida. Por outro lado, sociedades
em transição – e isto aplica-se a muitas em nossa era atual de rápida transformação
tecnológica – têm escassas probabilidades de desenvolver métodos bem-ensaiados
para lidar com novos problemas com que um indivíduo se defronte, e este ver-se-á
obrigado a confiar mais em seus próprios recursos. (p. 47)

De acordo com Caplan, são os momentos de crise psicológica que po-


dem desequilibrar a condição de saúde dos indivíduos. Crises podem ser
“mudanças agudas do padrão de comportamento que ocorrem de tempos em
tempos no transcurso da vida de uma pessoa” (p. 49).

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À crise é também associada, segundo o autor, a idéia de descontinui-


dade, ruptura no padrão de funcionamento do sujeito. Ela pode trazer ao
indivíduo uma oportunidade de crescimento da personalidade ou um perigo
de crescente vulnerabilidade ao distúrbio mental.
A prevenção é necessária para que se neutralizem as condições perni-
ciosas que determinam a doença mental. Neste sentido, a pessoa em crise
pode ser uma dessas condições e é necessário “trabalhar” com ela. É preciso,
entretanto, que profissionais especializados sejam os responsáveis pela cura,
pois os leigos geralmente estão em crise. De acordo com o autor,
Quanto mais sensível e talentosa for tal pessoa em questões interpessoais, mais
potente ela pode ser como foco patogênico na comunidade, e mais pessoas em
crise ela empurrará na direção errada. Acode-nos à mente a analogia com um
agente portador de doença. (p. 64)

A análise do modelo de prevenção primária de Caplan (1980) remete-


nos à história da Psiquiatria no Brasil. Segundo Costa, a história da Psiquia-
tria é a história social das idéias psiquiátricas. Esta não pode ser compreen-
dida sem o jogo de interesses políticos e ideológicos que a constituem. Isto
significa que
enunciamos nossas “doutrinas científicas” sempre a partir de quadros prévios de
interesse (Marx-Habermas); ou de determinados jogos de linguagem
(Wittgenstein); ou de determinados jogos de verdade (Michel Foucault); ou de
determinados sistemas de convicções sociais, onde realizamos aquilo que
utilmente desejamos, em um dado momento histórico (Richard Rorty); ou de
determinados sistemas de dominação, onde o instituinte é reificado em instituído,
por força dos interesses de classe (Marx-Merleau-Ponty-Lefort-Marilena Chauí),
ou enfim, de determinadas configurações imaginárias, que direcionam o saber, em
função do narcisismo de pequenas diferenças (Freud) etc. (Costa, 1989a, p. 11,
grifos originais)

As idéias psiquiátricas, de acordo com o autor, foram produzidas ao


longo da história com compromissos político-ideológicos distantes da pro-
blemática da saúde mental. Isto pôde ser observado nos três momentos pelos

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

quais passou a Psiquiatria no Brasil: o do discurso organicista, o preventivista


e o psicoterápico.
No primeiro momento, situado na década de 30, buscou-se encontrar
os elementos orgânicos constitutivos dos indivíduos como explicação para
os transtornos mentais. Foi a época das noções de higiene psíquica e racial,
na qual as práticas eugênicas triunfaram. Acreditava-se que existia uma na-
tureza humana e a decifração das leis de hereditariedade permitiriam a rege-
neração dos doentes mentais.
A Psiquiatria preventivista, da década de 60 e, mais fortemente, da dé-
cada de 70, trouxe como proposta a possibilidade de retirar os atendimentos
dos consultórios privados e dos asilos para levá-los à comunidade. Seu obje-
to de estudo era a saúde mental e não a doença, seu objetivo era a prevenção
da doença mental, o sujeito de tratamento passou a ser a coletividade e não
mais os indivíduos, os profissionais não eram somente os psiquiatras, mas as
equipes comunitárias, e o espaço de tratamento passou a ser a comunidade.
Um novo conceito de personalidade também foi adotado; o indivíduo tornou-
se a unidade biopsicossocial.
Já o discurso psicoterápico, está presente na atualidade, propondo o
tratamento individualizado, de volta aos consultórios, agregando os conhe-
cimentos da Psicologia, na multiplicidade de seus campos teórico-práticos.
Os dois primeiros discursos, organicista e preventivista, serão mais de-
talhadamente analisados. A princípio, apenas o momento da prevenção po-
deria ser foco de nossa atenção, uma vez que o texto de Caplan se refere
primordialmente a este assunto. Porém, como se verá, o discurso organicista,
que parecia superado, também está explicitamente presente na proposta des-
se autor.
Iniciemos pela prevenção. De acordo com Costa (1989b), a Psiquiatria
preventiva deve ser compreendida também como um discurso ideológico
porque veio atender às necessidades de prestígio para uma classe – os psi-
quiatras – que perdiam espaço para a Sociologia e para a Psicologia, enten-
dendo a doença mental como uma doença do psiquismo e não do soma. A-
lém disso, a prática destas ciências não se fundamentava exclusivamente nos

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métodos das ciências naturais, como a Psiquiatria, que foi perdendo o lugar
de sua especificidade.
O modelo de atuação da Psiquiatria preventiva foi, então, adaptado,
principalmente, da Sociologia. O próprio conceito de unidade biopsicossoci-
al teve esta origem. Os indivíduos passaram a ser analisados a partir desta
síntese que deveria se constituir de forma harmoniosa, determinando que a
saúde estaria relacionada à adaptação das dimensões biológica, psicológica e
social.
A idéia de prevenção da Psiquiatria preventiva é de inspiração nitidamente
sociológica. Foi porque a Psiquiatria tomou emprestado à sociologia o critério
adaptação-desadaptação, como meio de avaliação do comportamento normal e
patológico, que a idéia de prevenção tornou-se possível. Todavia, para que o
conceito sociológico se tornasse compatível com o conceito psicológico, também
contido na noção de unidade biopsicossocial, este último teve que sofrer reduções e
mutilações até se conformar completamente ao primeiro. (Costa, 1989b, p. 30,
itálico original)

O texto de Caplan, assim, insere-se no auge do discurso preventivista,


analisado criticamente por Costa (1989b). Mas, por que foi assinalado que é
também representativo do discurso organicista, teoricamente, abandonado há
muito tempo? Talvez, uma única citação do autor justifique esta indagação:
Vale assinalar que aquilo a que os epidemiologistas chamam “fatores do
hospedeiro”, notadamente as qualidades dos membros de uma população que
determinam sua vulnerabilidade ou resistência às tensões ambientais, são
constituídos por dois grupos de atributos. O primeiro, que inclui atributos tais
como idade, sexo, classe sócio-econômica e grupo étnico, não pode ser
manipulado. O segundo grupo, incluindo atributos tais como a força do ego, a
habilidade para a solução de problemas e a capacidade para tolerar a angústia e a
frustração, é habitualmente fixo, mas pode ter sido modificado no passado,
mediante uma alteração da experiência do indivíduo ou de seus pais. Fatores
cromossômicos situam-se na fronteira entre esses dois grupos. Quando soubermos
mais a seu respeito, talvez seja possível intervir eugenicamente para modificar
padrões genéticos numa população e, assim, aperfeiçoar a dotação constitucional
fundamental de seus membros. (pp. 41-42, grifos nossos)

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

Neste trecho, verifica-se de forma clara e nada sutil qual seria a finali-
dade última do autor caso a Psiquiatria estivesse de posse de tais conheci-
mentos para sanar as doenças mentais da população. Parece que estamos
diante de questões apresentadas por psiquiatras do final do século XIX e
início do século XX, analisadas por Schwarcz (2002).
A autora apresenta, no capítulo referente às Faculdades de Medicina
do país do início do século XX, a expectativa da Psiquiatria em regenerar a
sociedade brasileira, por meio de uma depuração racial, utilizando-se de
programas eugênicos. A doença mental, vista como um problema social,
deveria ser tratada pelos médicos. Assim, a Medicina passa a ter um impor-
tante papel político (entendido como exercício de poder numa sociedade
dividida, desigual e injusta) no cenário brasileiro.
Naquela época, de acordo com Schwarcz (2002), havia a associação
linear entre a doença mental, a pobreza e a criminalidade. Além disso, como
ressaltado na introdução deste dossiê, os negros e mestiços eram sempre os
portadores das características presentes nos distúrbios mentais. A solução?
Regenerar a população, eliminando os degenerados:
Assim para a melhoria da raça poderia ser vantajoso cruzar com extranhos normaes
os individuos francamente mestiços e degenerados quando haja esperança de
regeneração da prole por esse meio; mas para os profundamente degenerados
melhor seria deixa-los reproduzir entre si e extinguir-se a mesquinha geração por
esterilidade e mortandade precoce resultante da progressiva decadencia. Dessa
relação natural grande proveito resultaria para as famílias possuidoras de boas
qualidades, as quaes se perpetuariam entre si, livres dos germes dos males que lhes
innocularia a fatal mistura dos abastardados. Lucraria a espécie... (Gazeta Médica
da Bahia, 1925, p. 161, citado por Schwarcz, 2002, p. 216)

Será possível encontrar elementos desta proposta eugênica da década


de 20 no texto de Caplan de 1980? Creio que sim, quando o autor argumenta
que, apesar de inúmeras tentativas e propostas de intervenção na população
que poderá desenvolver distúrbios mentais, existirão aqueles indivíduos que
se tornarão doentes, por características idiossincráticas, que não são passí-
veis de manipulação.

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Caplan não sugere que a Medicina impeça o cruzamento dos sadios


com os doentes, nem apresenta uma intervenção orgânica naqueles que pos-
suem genes portadores da degeneração. Mas, nem é preciso que o faça. Sua
proposta não elimina os doentes. Estes serão excluídos de qualquer possibi-
lidade de saúde porque o conhecimento científico produzido pela Medicina
e, especialmente pela Psiquiatria, coloca-os como doentes em potencial e,
portanto, sem qualquer possibilidade de ser outra coisa, se não aquela de-
terminada pelo médico. O autor vai além do organicismo, uma vez que a
eugenia é uma proposta política, fascista, que tem no organicismo uma mera
justificativa pseudocientífica.
Conclui-se, desta maneira, que as idéias de Caplan só podem ser com-
preendidas ao se considerar os elementos preventivistas e organicistas pre-
sentes em seu conteúdo. Outros fatores, no entanto, são fundamentais para a
análise do texto. A seguir, serão discutidos aqueles que o caracterizam como
um discurso ideológico.

O conceito de ideologia, por sua vez, tal como proposto pelo materia-
lismo histórico, possibilita uma crítica ao texto de Caplan. Segundo Chauí
(2001a), o discurso ideológico é uma representação imaginária do real, que
ocorre por meio dos princípios de abstração e inversão, no qual as contradi-
ções não são explicitadas. Quais as lacunas existentes no texto em questão?
A princípio, observa-se que ele transmite a idéia de que os indivíduos
são os únicos responsáveis por sua condição de saúde ou doença e nascem
inseridos em uma determinada classe social, porque naturalmente deve ser
assim, como afirma o autor, ao falar sobre as condições de vulnerabilidade
às quais estão submetidos alguns indivíduos.
Há duas questões a serem consideradas neste trecho. Em primeiro lu-
gar, fatores como idade e sexo são tidos como equivalentes à classe socioe-
conômica, são inerentes ao indivíduo. Ou seja, a classe socioeconômica é
dada com o nascimento, faz parte da constituição individual. A segunda
questão diz respeito à idéia de destino e de imutabilidade da condição social.

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

Isto significa que, se algumas pessoas nasceram com menos possibilidades


de humanizar-se, isto é um atributo do sujeito, como a cor de seus olhos; já
está determinado desde que nasceu e, portanto, morrerá com ele. A não ser
que tenha sorte e suas oportunidades de desenvolver-se como homem ocor-
ram por meio da bondade de alguém ou dos conhecimentos psicológicos que
poderão salvá-lo da inevitável condição de ser um doente mental!
O discurso articulado sobre a possibilidade de alguns adoecerem, e
outros não, impede o questionamento sobre tais condições, uma vez que é
possível fazer a correspondência proposta pelo autor. Assim, por uma rápi-
da, imediata e simples observação, percebe-se que a população mais pobre,
que possui menos recursos físicos, intelectuais e culturais (de acordo com
padrões estabelecidos pela classe que domina) é a mais acometida por doen-
ças, sejam mentais ou não. Logo, o raciocínio é imediato: estas pessoas têm
mais chances de tornarem-se doentes; são doentes em potencial.
O que se oculta neste caso é o motivo desta situação. Não há o questi-
onamento e a explicitação – porque se houvesse, não estaríamos falando de
ideologia – das razões que tornam grande parte da população pobre também
doente. Ocorre uma inversão: o efeito é tomado como causa, o determinante
como determinado, o resultado como o início do processo. Assim, se os in-
divíduos possuem características favoráveis ou desfavoráveis, é esta condi-
ção que determinará sua possibilidade de serem saudáveis. Mas, como estas
“características” foram produzidas? São elas que determinam a doença ou
foram determinadas pela forma de organização da sociedade? Por que sem-
pre há populações doentes, desviantes, anormais? A resposta seria simples-
mente que é natural ser assim? Ou, ao contrário, que é importante para o
funcionamento da lógica do capital que alguns sejam os responsáveis por
sua doença e nunca se curem?
As próprias definições sobre os doentes já indicam quem serão os es-
colhidos para possuírem saúde. Os trechos de Caplan, destacados anterior-
mente, mostram que, independentemente de qualquer circunstância, as pes-
soas que vivem em ambientes instáveis, inadequados, desfavorecidos não

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poderão progredir. O fracasso social é determinado por suas condições idi-


ossincráticas.
Outra lacuna encontrada neste discurso ideológico é a condição de
produção da doença mental e a própria definição de anormalidade, compor-
tamento desviante e problemático. O que é considerado como doença mental
hoje, não o foi sempre. O conhecimento produzido pela Medicina e pela
Psicologia sobre a doença mental é tomado como o determinante do proces-
so histórico, ao invés de ser compreendido como determinado por ele. Isto
significa que o conhecimento aparece sem vínculo com o contexto histórico
e político no qual foi produzido.
Poderíamos também refletir sobre outras questões dissimuladas no
discurso sobre o doente. A miséria de cada indivíduo aparece como miséria
de condição e não de posição, como se as pessoas fossem doentes por sua
condição desfavorável e, portanto, pobre. Oculta-se que a miséria é de posi-
ção na hierarquia da sociedade de classes.
Isto ilustra, ainda, como o entendimento da realidade se dá por meio
da experiência imediata de quem produz este conhecimento psiquiátrico;
trata-se do conceito de abstração presente no discurso ideológico. O que se
observa é o dado aparente e imediato de que as pessoas que possuem a ca-
pacidade de resolver seus conflitos vivem em condições/sociedades favorá-
veis. Logo, aquelas que vivem em ambientes desfavoráveis não resolvem
conflitos. Tem-se, assim, uma representação imaginária do real, que não
pode ser compreendida somente como falsa ou ilusória, porque é ela que
aparece como verdadeira à experiência imediata.
Todos os elementos constitutivos deste discurso ideológico ocultam as
contradições presentes na sociedade de classes que produz e reproduz con-
flitos políticos e, portanto, de poder. As contradições são vistas como natu-
rais e não como sociais. Estas podem ser observadas não só naquilo que
denominamos de incoerências da própria articulação do discurso, mas tam-
bém, e principalmente, no conflito inerente entre aquele que ocupa o lugar
do saber e, assim, produz e organiza o conhecimento sobre aquele indivíduo
analisado e julgado à luz da ciência.

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

Os aspectos levantados até este momento da análise sobre o texto de


Caplan (1980) constituem-se como o desvelamento ou a explicitação de
algumas lacunas do discurso ideológico sobre saúde/doença mental. Um
outro conceito importante, sobre o qual o autor estrutura seu trabalho, é o de
crise.
A crise é compreendida, dessa forma, como fator negativo, que desa-
grega, desarmoniza, mesmo considerando que possa trazer o crescimento da
personalidade dos indivíduos. Todavia, deve-se questionar em qual sentido o
conceito de crise pode ser definido como ideológico.
Segundo Chauí (2001a), geralmente, nos discursos oficiais dominan-
tes, crise é entendida como descontinuidade, ruptura, desarmonia entre o que
é aceitável para uma sociedade e a forma como os indivíduos pensam e a-
gem. Rompe-se o funcionamento adequado das coisas e das idéias. Há uma
relação entre o termo crise e desvio, e estas noções determinam como o
mundo dever ser. Se houve uma crise, deixou-se de agir e pensar da forma
comum, usual.
Caplan argumenta, em concordância com os discursos oficiais, que a
crise psicológica é uma quebra do padrão de funcionamento dos indivíduos
e pode ser benéfica quando as pessoas possuem condições favoráveis para
lidarem com o desequilíbrio, ou causar sérios prejuízos, e até distúrbios
mentais, quando o sujeito não possuir características que o levem à resolu-
ção do conflito. Nos dois casos, o desejável é que a crise seja resolvida, te-
nha uma solução.
Para Chauí (2001a), conceber a crise nestes termos faz parte de um
determinado modo de pensamento, no qual a idéia de contradição não pode
estar presente. Quando os conflitos ou as crises aparecem, são as contradi-
ções da sociedade que se manifestam. A contradição é expressa tanto na luta
de classes, sobre a qual a sociedade capitalista se constituiu, como, neste
caso específico, é expressa pela distância entre a possibilidade de saúde de
uns e de doença de outros e pela própria idéia oculta de que alguns devem
ficar doentes para que o funcionamento do todo se mantenha inalterado,
dentro do padrão estabelecido por quem define critérios de normalidade.

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A crise é imaginada, então, como um movimento da irracionalidade que invade a


racionalidade, gera desordem e caos e precisa ser conjurada para que a
racionalidade anterior, ou outra nova, seja restaurada. A noção de crise permite
representar a sociedade como invadida por contradições e, simultaneamente, tomá-
las como um acidente, um desarranjo, pois a harmonia é pressuposta como sendo
de direito, reduzindo a crise a uma desordem fatual, provocada por enganos,
voluntários ou involuntários, dos agentes sociais, ou por mau funcionamento de
certas partes do todo (...) Tal representação permite, assim, imaginar o
acontecimento histórico como um desvio. (Chauí, 2001a, p. 37)

Por que, então, é fundamental agir, com uma proposta de prevenção


primária em saúde mental, com a finalidade de interromper a crise, tratar do
indivíduo que vive o desequilíbrio? Quais são os objetivos de uma interven-
ção exatamente nos momentos de crise? Por que é necessário impedir que o
conflito se estenda, provocando a desarmonia do padrão ideal de funciona-
mento?
Talvez porque a crise represente perigo. O perigo da explicitação das
contradições, ou seja, se o conjunto dos indivíduos, se a coletividade “doente”,
compreender que não é a portadora dos desvios, que não possui condições
idiossincráticas prejudicadas ou desfavoráveis. A idéia de crise é tão comba-
tida porque se ela for a manifestação das contradições da sociedade de clas-
ses, pode, de fato, haver o entendimento dos fatores que produzem as condi-
ções que oprimem muitos e favorecem poucos.
Não é por acaso que a noção de crise é privilegiada pelos discursos autoritários,
reacionários, contra-revolucionários, pois neles essa noção funciona em dois
registros diferentes, mas complementares. Por um lado, a noção de crise serve
como explicação, isto é, como um saber para justificar teoricamente a emergência
de um suposto irracional no coração da racionalidade: a “crise” serve para ocultar a
crise verdadeira. Por outro lado, essa noção tem eficácia prática, pois é capaz de
mobilizar os agentes sociais, acenando-lhes com o risco da perda da identidade
coletiva, suscitando neles o medo de desagregação social e, portanto, o medo da
revolução, oferecendo-lhes a oportunidade para restaurar uma ordem sem crise,
graças à ação de alguns salvadores. (Chauí, 2001a, p. 37, itálico original)

Tratar a crise como algo negativo, desagregador, que acontece no e


por causa do indivíduo é totalmente permitido em nossa sociedade para que
o indivíduo seja contido. A crise é ruim para cada pessoa e é ela a responsá-

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

vel por sua condição crítica. Logo, o sujeito deve ser tratado e deve acreditar
que ele é o seu pior agente patológico. O médico é sua possibilidade de cura.
O doente deve ser submisso ao médico, mesmo porque, o “doutor” tem co-
nhecimentos que ele não possui.
É o conhecimento científico a serviço da legitimação da impossibili-
dade de humanização dos indivíduos. É a justificativa dos motivos pelos
quais a maioria das pessoas deve ocupar uma posição desprivilegiada na
sociedade de classes. É preciso compreender, então, como a ciência se cons-
titui no discurso capaz de determinar o lugar dos indivíduos na sociedade
capitalista.

Por fim, façamos algumas considerações sobre o texto como discurso


competente. Sabe-se que a ciência desempenha uma função fundamental na
determinação das condutas humanas, pois produz conhecimentos sobre di-
versos aspectos da vida dos indivíduos, seja no âmbito da saúde, da educa-
ção, do trabalho, do direito, dentre outros. Todas as formas de relacionamen-
to do homem com o contexto onde está inserido ocorrem por meio de vários
discursos que orientam a maneira como ele deve agir pelo fato de ser um
discurso competente (Chauí, 2001b).
Discurso competente significa que um conhecimento específico é legí-
timo e autorizado para falar sobre as coisas e sobre as pessoas. Desta manei-
ra, não é o discurso do doente mental, mas sobre o doente mental, ou seja,
não é o homem quem fala de si, mas alguém que fala sobre ele e, neste caso,
o psiquiatra é autorizado a falar sobre os doentes mentais.
O texto de Caplan pode ser considerado como um exemplo do discur-
so competente produzido pela medicina psiquiátrica. Nele, os interlocutores
já foram identificados pela separação daqueles que são competentes para
falar sobre e daqueles que devem ouvir o que os competentes têm a dizer a
respeito de si. O que é dito deve servir como a explicação mais precisa sobre
as condutas humanas, com a finalidade de prevenir que algumas pessoas

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escolhidas sofram de distúrbios mentais. Também deve determinar quem


serão aquelas que inevitavelmente adoecerão.
A que serve, então o discurso competente? Para Chauí (2001b), ele é o
responsável pelo projeto de dominação e de intimidação social e política que
é organizado por uma determinada classe social para conter outra.
Muitos conhecimentos são produzidos e autorizados a explicar o ho-
mem em suas diversas dimensões. O texto de Caplan é apenas um exemplo
de um conteúdo autorizado e legítimo sobre saúde mental. Conteúdo que
responsabiliza uma classe, possuidora da miséria de posição na hierarquia
social, por sua doença e impossibilidade de cura, propondo um modelo de
intervenção que um dia poderá alcançar seu objetivo máximo (como já ocor-
reu em outros momentos da história): o de eliminar barbaramente aqueles
que desarmonizam o mundo em que vivemos. Ainda isto não será feito. Não
desta maneira. Por enquanto, o objetivo é apenas produzir as condições que
deixarão grande parcela dos homens à margem de qualquer possibilidade
real de humanização ou, como neste caso, de saúde.
É fundamental considerar o fato de que estamos falando de uma situa-
ção de contradição. Nela reside a possibilidade de transformação que, neste
momento histórico, se faz pela resistência à ordem existente. A resistência se
constrói e se consolida também pela reflexão dos conteúdos produzidos pela
Psicologia e por outros campos do conhecimento sobre saúde mental, desve-
lando o caráter opressor e justificador das desigualdades neles contido. Para
tanto, é necessário construir outros discursos competentes essencialmente
críticos e que assumam um novo posicionamento político e, exatamente por
isso, sejam éticos.

Lara, A. F. L. (2006). The psychological production and psychiatric


knowledge in mental health: considerations from an exemplar text.
Psicologia USP, 17 (1), 35-52.

Abstract: This paper discusses the relation between ideology and the
knowledge produced by psychiatry, for the purpose of uncover what is

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A Produção do Conhecimento Psicológico-Psiquiátrico em Saúde Mental...

occult in a text that is considered scientific. The analyzed material is


concerned with primary prevention of psychic disturbs which produce
“social inadaptation”. The analysis is centered on the own concept of
prevention as ideology, in a critical view that seeks the lacunas that
guarantee and legitimate the State power of the ones who keep the
hegemonic knowledge in the area of mental healthy.

Index terms: Psychiatry. Psychologia. Ideology. Mental helth. Social


adjustment.

Lara, A. F. L. (2006). La construction des connaissances psychologiques-


psychiatriques en santé mentale: des réflexions à partir d’un texte
exemplaire. Psicologia USP, 17 (1), 35-52.

Résumé : Ce travail discute le rapport entre idéologie et les connaissances


résultantes de la psychiatrie, afin de dévoiler ce qui est caché dans un texte
considéré scientifique. Le matériel analysé traite de la prévention primaire
aux désordres psychiques produisant le « dérèglement social ». L’analyse
est centrée sur le concept même de prévention en tant qu’idéologie, dans
une perspective critique cherchant les lacunes qui garantissent et qui
légitiment le pouvoir politique de ceux qui détiennent les connaissances
hégémoniques dans le domaine de la santé mentale.

Mots-clés: Psychiatrie. Psycologie. Idéologie. Santé mentale. Adaptation


sociale.

Referências

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Princípios de Psiquiatria preventiva (pp. 40-69). Rio de Janeiro: Zahar.
Chauí, M. (2001a). Crítica e ideologia. In M. Chauí, Cultura e democracia: o discurso
competente e outras falas (9a ed., pp. 15-38). São Paulo: Cortez.
Chauí, M. (2001b). O discurso competente. In M. Chauí, Cultura e democracia: o
discurso competente e outras falas (9a ed., pp. 3-13). São Paulo: Cortez.
Chauí, M. (2003). O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense.

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Aline Frollini Lunardelli Lara

Costa, J. F. (1989a). Prefácio a esta edição. In J. F. Costa, História da Psiquiatria no


Brasil: um corte ideológico (4a ed. rev. e ampl., pp. 9-20). Rio de Janeiro: Xenon,
1989.
Costa, J. F. (1989b). Psiquiatria preventiva e representação da doença mental. In J. F.
Costa, História da Psiquiatria no Brasil: um corte ideológico (4a ed. rev. e ampl.,
pp. 21-38). Rio de Janeiro: Xenon.
Felix, R. H. (1980). Apresentação. In G. Caplan, Princípios de Psiquiatria preventiva
(p. 9). Rio de Janeiro: Zahar.
Ferreira, A. B. de H. (1963). Pequeno dicionário da Língua Portuguesa (10a ed.). Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira.
Schwarcz, L. M. (2002). As faculdades de medicina ou como sanar um país doente. In
L. M. Schwarcz, O espetáculo das raças: cientistas, instituições e a questão racial
no Brasil – 19870-1930 (pp. 189-238). São Paulo: Companhia das Letras.

Recebido em: 24.03.2006


Aceito em: 3.04.2006

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