Dissertação para Defesa Final Com Numeração
Dissertação para Defesa Final Com Numeração
Dissertação para Defesa Final Com Numeração
(1804-1978)
Universidade Federal do Piauí
Centro de Ciências da Natureza
Programa de Pós- Graduação em Arqueologia
Teresina
2016
Jéssica Gadelha Morais
Orientador:
Teresina
2016
Jéssica Gadelha Morais
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Prof. Dra. Maria do Amparo Alves de Carvalho-UFPI
Orientador/Presidente
_________________________________
1º Examinador
_________________________________
2º Examinador
_________________________________
3º Examinador (suplente)
Para os meus pais Maria Gorete Ferreira Gadelha e Elias Filho Morais e para minha
irmã Geicyane Gadelha Morais. Amo vocês. Também não poderia deixar de dedicar
à meu amado avô Elias Marcolino Morais que já não está fisicamente entre nós,
mas que nos acompanha todos os dias em nossos corações.
AGRADECIMENTOS
1
Localiza na Praça Bona Primo, 188.
As professoras doutoras Jacionira Coêlho Silva, Francisca Verônica e
Viviane Pedrazzane pelas contribuições dadas durante a banca de qualificação
deste trabalho.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia que
utilizando da enorme bagagem de conhecimentos que possuem apontaram as
fragilidades e as potencialidades dos trabalhos em andamento, e com isso nos
apresentaram possibilidades distintas de conduzirmos nossas pesquisas.
Ao professor e amigo mestre e doutorando Domingos Alves de Carvalho
Júnior que sempre se colocou a disposição para ler minhas produções textuais
recomendando ajustes e novas leituras.
Aos colegas de turma e de instituição que muitas vezes compartilhamos
das mesmas inquietações em especial a minha querida amiga Gabriela, que me
acolheu tão bem nesse novo espaço de produção de saber acadêmico e inclusive
abriu para mim as portas de sua casa, e ao querido Mauro pela generosidade do ato
de compartilhar bibliografias e o dom da sua arte de ilustrar.
A minha família que sempre me apóia e que confia nos trabalhos que
venho desenvolvendo, em especial a minha mãe que me acompanhou em todas as
etapas da pesquisa de campo, portanto esse trabalho é tão meu quanto dela. Amo
você.
Ao meu namorado Diego Rocha que sempre me apóia com palavras de
encorajamento e motivação.
Aos meus amigos de longa jornada Jadson Teixeira, Roniel Ibiapina, Ana
Claudia, Anadília Ribeiro e Antônio Serezo, José Sergio e Sâmara.
As minhas companheiras de trabalho na Universidade Estadual do Piauí,
Simone e Izamara.
A todos meu sincero agradecimento.
“Nesse campo, mesmo sem o cheiro da terra e o som da colher de pedreiro,
trabalha-se também com o documento material, quer seja pelos vieses dos textos.” Aqui nõa
está faltando uma parte do texto?
(José Reis)
Então, a morte existe, ela é parte da vida, é angustiante, não se sabe nunca
quando ela vai ocorrer. Eu só peço que ela seja indolor. Não sei se será.
Ninguém sabe como e quando vai morrer. Pessoalmente, tenho mais medo
do sofrimento que leva à morte do que da morte propriamente dita.
Se não é possível ter a pretensão utópica de sobreviver como pessoa física,
é possível ter a aspiração de viver na memória, começando por conviver
com a memória dos que se foram. Isso tem alguma materialidade?
Nenhuma. Isso é científico? Não é. Mas é uma maneira de você acalmar
sua angústia existencial. "Os mortos queridos vivem dentro de nós. Os que
morreram continuam a nos influenciar. Nós é que não podemos mais
influenciá-los".
(Fernando Henrique Cardoso)
RESUMO
This thesis aims to investigate the Santo Antônio Cemetery highlighting the potential
contained in its collection as a tool to weave reflections of the funerary heritage Piauí.
The same is located 80 km from the capital Teresina in the city of Campo Maior -
Piauí, your choice is attributed to the fact that it had probably been the first necropolis
of the city.Research is done through description and interpretative analysis of their
artifacts and funerary trousseau whose emphasis is on the tombstones because of
the variety of information that add. In it, it is found the iconographic elements
(drawings, prints, signs and etc.) and graphics (written text) that reveal or hide the
story from the dead to the living, that is, identifying possible changes in death
representation and can be regarded as documents (information sources) that allow
different analyzes of the community to which they belong.The methodological route
came from research in loco to the survey data per unit of graves through preparation
and filling techniques chips whose work inventories conducted by Castro (2014) was
of crucial importance; documentary research with consulting Tombo books of the
Parish of Campo Maior No. 1 and 2 of baptism, marriage, and death records; and
literature consisting of the survey of publications on cemeterial studies by the
approach of history and historical archeology including the survey of the local
production on the Santo Antonio cemetery.Attitudes and representations of death,
being related topics, were also addressed. Among the authors that stand out for such
publications are Reis (199); Lima (1994); Borges (2002); and Grassi (2014) among
others presented throughout the article.
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................13
21 PATRIMÔNIO FÚNEBRE: UM LEGADO DA CULTURA DA MORTE
SOB O OLHAR DA ARQUEOLOGIA HISTÓRICA .......................................22
21.1 Sobre o patrimônio ....................................................................................27
21.2 Um destino, múltiplas histórias: Arqueologia histórica e outros
diálogos possíveis nos cemitérios convencionais........................................34
21.3 Arqueologia das práticas mortuárias..........................................................44
32 APRESENTANDO A “PRINCESA DAS CAMPINAS”: SOBRE SUA ORIGEM
E SUAS PRÁTICAS MORTUÁRIAS
.............................................................................................................................48
32.1 Mudança de endereço da morte .................................................................57
32.2 A Irmandade de Santo Antônio ..................................................................65
43 CEMITÉRIO SANTO ANTÔNIO: UM DIÁLOGO ENTRE SEU ACERVO
MORTUÁRIO E AS PALAVRAS
..............................................................................................................................81
43.1 Conhecendo seu acervo mortuário ...........................................................89
43.1.1 Sepultamento de crianças .......................................................................100
43.1.2 Fotografias cemiteriais..............................................................................103
54 CONVERSANDO COM AS LÁPIDES...........................................................111
54.1.1 Lápides do século XIX..............................................................................113
54.1.2 Sepultamento individual do século XIX....................................................113
54.1.3 Sepultamento coletivo do século XIX.......................................................132
54.1.4 Sepultamento coletivo mesclando sepultamentos do XIX COM O XX...133
54.2 Lápides do século XX ................................................................................139
54.2.1 Período de 1900-1950..............................................................................140
54.2.2 Período de 1951-1978..............................................................................159
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................162
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................165
APÊNDICE ...................................................................................................173
13
1. INTRODUÇÃO
tantas outras como célebres da política que acabaram sendo homenageadas com a
nomeação de ruas, avenidas, praças e escolas da região.
Por conta das transformações naturais e culturais as marcas e os indícios
históricos do cemitério em questão vêm sofrendo um processo de degradação
acelerado. E por esta razão se torna importante inventariá-lo, auxiliando dessa forma
na preservação desse rico patrimônio. Nesta investigação o objetivo principal é
destacar o potencial contido em seu acervo como instrumento que estimula a
reflexões sobre o patrimônio funerário piauiense.
Essa não é a primeira pesquisa realizada sobre o cemitério Santo
Antônio. Em 2012 Jordelson Carvalho de Araújo desenvolveu seu projeto de
conclusão de curso denominado de “A morte contada em vida: um olhar sobre o
espaço cemiterial como fonte histórica no Cemitério Irmandade em Campo Maior”.
Nesse projeto o autor discorre sobre as correntes historiográficas e como cada uma
delas tratou a fonte de informação, desde a Escola Positivista até chegar a Escola
dos Analles, em que há diversificação dos objetos que passam a ser utilizados como
importantes ferramentas na construção histórica de uma época. Nesse contexto, ele
analisa a importância do cemitério como fonte histórica sobre os aspectos da
sociedade campo maiorense, selecionando alguns túmulos, os mais ricos em
detalhes e ornamentos, ao tempo em que relega os mais simples, não buscando
entender os seus não ditos que também se constituem em informação.
Em 2013, Celson Gonçalves Chaves escreveu “O cemitério da Irmandade
Santo Antônio”, aqui nessa obra ele tenta criar um banco de dados, contendo
informações históricas sobre o campo santo e a sociedade que o margeia. Para isso,
ele analisa a distribuição tumbalística, referindo-se a uma divisão geográfica do
espaço entre ricos e pobres, as imagens angelicais, o patriarcalismo dos homens
sisudos, entre outros aspectos, destacando o estado que se encontra algumas
lápides. Tal como o trabalho de Araújo, ele faz uma seleção de alguns túmulos,
possivelmente baseado nos mesmos critérios.
Além desses estudos existem também outras produções nas quais o
cemitério em vez de ser o protagonista aparece como pano de fundo, como no
romance histórico “Pedra Negra” de Halan Kardec Ferreira Silva (2012), no qual o
cemitério é citado logo no início do livro com o enterro do major. A obra refere-se a
um romance entre padre Hermínio e Mocinha, relacionamento ilícito do qual resultou
15
um filho que não chegou a nascer, e de uma relação conturbada entre o major e o
padre que só se encerra com a morte do primeiro.
Outra abordagem sobre o cemitério Santo Antônio é o trabalho de
conclusão de curso de Nara Kerliane de Carvalho Soares (2013) que estuda o
processo de sacralização da alma da menina Maria Lúcia Andrade que faleceu com
7sete anos de idade e desde então é considerada santa pela população. Portanto a
autora estuda um túmulo em específico.
O referido cemitério é mencionado ainda no inventário do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) realizado em 2008, que consistiu
no levantamento do patrimônio histórico da cidade, entre eles consta uma breve
descrição do cemitério abordando a localização, a área do terreno, o uso original e
atual, o proprietário, a técnicas construtivas, os materiais empregados e a data
aproximada de sua construção. De acordo com este inventário, essa data remete ao
final do século XIX, mas, com base no preenchimento das fichas de registro tumular,
realizado durante as pesquisas de campo, percebe-se que ele é do inicio do século
XIX, uma vez que o primeiro sepultamento data de 1804.
A presente pesquisa se configura como sendo de: cunho material,
compreendendo a etapa de campo e laboratório; bibliográfica; e documental. A
pesquisa de campo adota como metodologia a prospecção de reconhecimento ou de
superfície, entendida como uma forma de detecção arqueológica não intrusiva.
Bicho (2006) em seu Manual de Arqueologia Pré-Histórica afirma que “quando se
fala de prospecção aquilo que se procura não é o sitio arqueológico, mas sim um ou
mais elementos, ou seja, os constituintes do sítio. Destes três são detectáveis pela
visão humana: os artefatos, estruturas, e solos antrópicos” (BICHO, 2006, p.92).
No que diz respeito à prospecção arqueológica do período histórico em
muitos casos o constituinte principal é a estrutura. No entanto, no presente estudo
toma-se tanto os artefatos como as estruturas, respectivamente definidas por Orser
Jr (1992) como “itens feitos ou modificados como resultado da ação humana” e
“qualquer evidência de presença humana que não pode ser removida do sitio, mas
que fornece informações abundantes sobre as atividades desenvolvidas no sitio”
(ORSER JR, 1992, p.31-33).
No âmbito da arqueologia independentemente do período, pré-histórico
ou histórico, prospectar consiste em investigar e avaliar o que se tem como objeto
de estudo, embora no primeiro seja freqüente recolherem-se os artefatos
16
3
Os inventários realizados por Castro (2014) principalmente em cemitérios no Sul e Sudeste do Brasil
tem sido referência para muitos países. A autora é Licenciada e Bacharel em História (UDESC),
mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFSC) e Doutora em História Cultural (UFSC), tendo
recentemente publicado dois livros, In Frieden: inventários dos cemitérios de imigrantes alemães de
São Martinho e Ruhe Sanft: inventários dos cemitérios de imigrantes alemães de São Martinho Alto,
ambos do ano de 2014. A ficha inventarial por ela utilizada é composta de informações sobre a
localização, tipos de ornamentos, número de sepulturas e sepultados registrados, estado de
conservação, modelos tumulares, materiais construtivos, ritos e etc. Além de banco de imagens e
transcrição de epitáfios.
18
foi elaborada para eles (consultar apêndice) em busca de confrontar com a relação
de sepultados elaborada a partir da coleta individual por sepulturas/sepultamentos.
Todos os livros listados foram localizados na Secretária Paroquial da
Catedral de Santo Antônio. No seu acervo não foram encontrados os primeiros
documentos de batizados, casamentos e de óbito 5. As atas da mesa da Irmandade
de Santo Antônio também não foram encontradas, o que é lastimável já que o
cemitério foi em algum momento pertencente a esta irmandade.
Outra importante fonte foié a história oral que auxilia no levantamento de
dados desta investigação a partir de entrevista com a zeladora do cemitério, dona
Alcelina da Silva Neta mais conhecida como Xuxa, um oficio que passou de sua
mãe, dona Tereza, para ela. A relação que Xuxa tem com o cemitério se iniciou
ainda aos sete anos de idade, uma menina que cresceu ali, casa e cemitério lado a
lado, como se um fosse quintal do outro. Tal relação permanece até hoje.
Através do contato com os trabalhos citados no início desta pesquisa, foi
possível perceber que ainda há um vasto campo a ser pesquisado. A proposta ora
apresentada foi é de fazer uma descrição do seu acervo como um todo e selecionar
alguns de seus elementos para proceder à investigação. Dentre algumas questões
desse trabalho destaca-se a seguinte: de que forma o cemitério Santo Antônio
através de sua arquitetura fúnebre e dos seus artefatos podem informar sobre como
viviam as sociedades do passado? Desta questão surgiramem outras, tais como: em
Em que medida, sob o viés investigativo, o acervo fúnebre revela a história da
sociedade local? Em que consiste essa arquitetura fúnebre nessa sociedade? O que
chegou aos nossos dias como acervo e o que ele representa para a história local?
A dissertação está dividida em seis capítulos. quatro capítulos, além de
introdução e considerações finais. A introdução apresenta o objeto de estudo,
contém os procedimentos metodológicos adotados em campo e laboratório,
menciona alguns autores que deram suporte teórico, além de delinear o plano de
trabalho. Não há necessidade de colocar o destaque em negrito para os capítulos.
Você pode colocá-los no início de parágrafos.
No primeiro capítulo denominado Patrimônio fúnebre: um legado da
cultura da morte sob o olhar da Arqueologia Histórica é apresentado uma
discussão sobre a morte e sua representação, mostrando que ela sempre esteve
5
Conversando com Marcos Paixão, um pesquisador e apaixonado pela história local, ele atribui essa
ausência a um incêndio que teria ocorrido e destruído boa parte dos documentos.
20
presente na vida cotidiana de homens e animais, mas que somente os primeiros são
capazes de estabelecer relações simbólicas com a mesma, produzindo uma
materialidade fúnebre, ou seja, objetos específicos voltados para sua hora última.
Isso se evidencia desde quando a espécie Neandertal passa a enterrar seus entes
queridos em grutas ou cavernas e se estende até os dias atuais nas sociedades
ocidentais cristãs, onde o sepultamento ocorre nos cemitérios extramuros
secularizados ou religiosos, sendo estes o assunto primordial dessa dissertação,
com ênfase em um cemitério do início do século XIX, o cemitério Santo Antônio em
Campo Maior – Piauí, evidenciado nos demais capítulos. A trajetória do homem
diante da morte é apresentado através do olhar de Àries ( 2000).
Em seguida na tentativa de elucidar as características que conferem o
cemitério como fonte geradora de conhecimentos com os grupos sociais em sua
diversidade, a pesquisa inicia-se com a discussão desses espaços enquanto
patrimônios da sociedade onde estão localizados, mostrando que mesmo que um
cemitério não esteja dentro da política de patrimonialização, ou seja, tenha sido
selecionado pelas instituições de preservação, ainda assim ele se constitui como
referência a identidade e a memória dos grupos sociais.
Através de autores como Castro (2008), Gonçalves (2007),,Velho (2007),
Fonseca (2000; 2005) entre outros é apresentada a evolução semântica do termo
patrimônio apontando que o significado atual é imposto pela modernidade ocidental
marcado pelo pensamento cartesiano que rotula e divide o saber. A partir do diálogo
com À luz de Latour (1994), Kuhn (1992) e Costa (2010) foié possível perceber que
a divisão entre os campos de conhecimento (Arqueologia, História, Arqueologia
Histórica e etc) e as diversas modalidades de patrimônio (artístico, histórico,
religioso, arquitetônico, e fúnebre e etc) sãoé uma construção histórica. Portanto
esses autores mostram que a separação entre sujeitos e coisas, mundo natural e
mundo social resulta da vontade humana de compreender o mundo.
É nesse contexto que emerge a Arqueologia Histórica com uma série de
ramificações a exemplo da arqueologia das práticas funerárias. A Arqueologia
Histórica é uma subdisciplina da Arqueologia e conforme Orser Jr (1992)
corresponde a expansão do capitalismo e esta vinculada a formação do mundo
moderno. Trata-se de um campo multidisciplinar, que interage com diferentes tipos
de fontes, proporcionando uma melhor compreensão do passado.
21
11
Diz que a decomposição dos cadáveres produzia gases ou eflúvios pestilenciais, que atacavam a
saúde dos vivos.
28
A morte é um fim igual para todos, mas cada sociedade, cultura e tradição
religiosa prevê diferentes concepções, sentidos, rituais e manifestações a este
momento e experiência. Para Carvalho Júnior et al (2011), se a morte é um fim igual
(Vc não tem acesso ao texto original?) para todos por outro lado, a maneira de
sepultar e onde sepultar os mortos não é igual nas distintas sociedades. Isso pode
ser determinado, entre outras causas, pelo prestigio social, econômico e religioso de
12
Esse tipo de cemitério possibilita a edificação de jazigos sobre as sepulturas encomendados pelos
familiares e estar disposto em quadras e lotes. Outras características a ele atribuídas é a presença de
muro delimitando o seu terreno e de um cruzeiro central.
29
14
Ele também institui o instrumento do tombamento que visa regulamentar a proteção dos bens
culturais no país, explicita os valores que justificam a proteção pelo Estado de bens moveis e imóveis,
e busca resolver a questão de propriedades desses bens.
15
Aqui merece uma nota explicativa sobre o Cemitério do Batalhão explicando o referido acontecimento.
16
O Cemitério do Batalhão está inscrito no Livro Histórico e de Belas Artes.
32
incorporadas (por quem?) e a noção de patrimônio foi ampliada com a idéia de bem
cultural. Para Segundo Fonseca (2005) esse foi é um momento em no qual houve
que há uma noção mais abrangente de memória social, onde se buscoua a
participação da comunidade no processo de identificação e proteção do patrimônio
cultural. A renovação ocorrida teve coube a Aloísio de Magalhães como um dos
seus protagonistas, ele que era artista e designer, marcou sua passagem ao propor
uma definição do patrimônio brasileiro, na qual abarcasser a diversidade cultural,
religiosa e étnica no país. Com essa medida redirecionou o patrimônio brasileiro, até
então visto como pedra e cal, para a noção de bem cultural.
De acordo com Abreu (2007, p.275) “o conceito antropológico de cultura
firmou-se como o condutor de iniciativas relativas ao patrimônio, consagrando a
noção de patrimônio cultural”. Assim como a expressão patrimônio o termo cultura
também foi ressemantizada. Historicamente a sua concepção assumiu dois
significados. O primeiro se referia as artes, as ciências, portanto se liga ao processo
de auto-aperfeiçoamento humano. No segundo momento ela dá deu uma virada
guinada em direção à antropologia, passando a ser pensada fundamentalmente
como expressão da alma coletiva, englobando uma ampla gama de artefatos
(imagens, ferramentas, casas. e etc.) e práticas (conversar, ler, jogar e etc.).
Desnecessário colocar etc.)
Para Santos (1994) ao referir-se ao conceito de cultura considera que, por
cultura se entende muita coisa, em torno desse conceito existehá uma variação de
sentidos e significados, pois a culturaela é a representação da multiplicidade
humana em suas diversas formas de existência, como a linguagem, a vestimenta, a
alimentação, a morte entre outras formas de expressão. Todas as formas de
expressão humana, sejam materiais e/ou imateriais expressam formas específicas
de construir sua cultura, restringi-la é ignorar a multiplicidade dos aspectos da
produção humana. Consoante ao pensamento de Santos (1994), Velho (2007, p.
250) compreende a cultura como “um fenômeno abrangente que inclui todas as
manifestações materiais e imateriais, expressas em crenças, valores, visões de
mundo existentes em uma sociedade”.
É, portanto somente na segunda metade do século XX que ficou evidente
a ampliação da noção de patrimônio. Foi nesse período que houve a conversão de
objetos comuns em bens patrimoniais. “Começavam a ser introduzidas nos
patrimônios as produções dos esquecidos pela história factual, mas que passaram a
34
terra por debaixo das unhas, mas ainda sim uma arqueologia que “escava” nas
palavras (documentos escritos) e nas coisas (documento material) o maior tesouro
que existe, o conhecimento.
É preciso compreender que assim como as divisões de modalidades de
patrimônio são construções históricas, a divisão dos campos do conhecimento
citadas por Brandão (2012) também são, logo nem sempre elas conheceram
fronteiras tão bem delimitadas.
Um desses campos de saber é Arqueologia Histórica, fruto da distinção
que se faz entre a arqueologia do período pré-histórico e a do período histórico
consagradas em alguns continentes do globo terrestre, entre os quais a América,
Oceania e África Subsaariana. Neles a Arqueologia Histórica corresponde à
arqueologia Pós-medieval da Europa.
Vários autores procuraram defini-la: Prous (1992, p.543) a define como o
estudo de vestígios que evidenciam influência européiaeuropeia, para o qual se
dispõe de documentos escritos; Funari (2007) afirma que hoje comumente ela é
definida como estudo dos vestígios materiais de sociedades com registros escritos;
De acordo com Zarankin e Senatore (2002), a Arqueologia Histórica, principalmente
no que se refere à literatura mais recente, vem sendo caracterizado como o estudo
da formação do mundo moderno a partir da expansão européiaeuropeia, coincidindo
desta maneira, com a consolidação do sistema capitalista e de uma nova ordem
social. Na América esta arqueologia esta relacionada ao período posterior ao
contato entre índios e europeus chegados ao Novo Mundo. Para Orser Jr (2000) ela
é o estudo da materialidade em termos culturais dos efeitos do mercantilismo.
No caso especifico do Brasil convencionou-se como marco cronológico
1500 d.C. Mas como já foi mencionado esses conceitos, em especial o destes dois
últimos Zarankin e Senatore(2002) e Orser Jr(2000), não são aceitos por todos os
estudiosos, que alegam que eles sintetizam ou homogeneízam a chegada do
europeu no Novo Mundo. Por exemplo, o marco cronológico estabelecido para o
Brasil é problemática, porque em Porto Alegre, Manaus ou qualquer outro estado
atual do país a presença do europeu não foi no mesmo ano, do que ocorreu em
Porto Seguro (BA).
41
Ela é uma cidade histórica fundada quando o “Brasil” ainda era colônia de
Portugal. Vários atrativos estão incrustados em sua paisagem, alguns, na verdade
muito poucos permaneceram intactos pelas transformações exigidas pela demanda
da sociedade que surgiue e outros elementos desapareceramu por completo em
virtude da ação das intempéries, vindo a perecer os seus materiais construtivos, ou
52
18
Monumento em forma de pilastra ou coluna construído de pedra e argamassa, segundo Melo (1983)
era erigidos em todas as vilas e cidades como um símbolo de autonomia. Em Campo Maior ele existiu
até 1844, quando já bastante deteriorado foi demolido.
19
Local em que depois da batalha o major e suas tropas acamparam. A época distava três
quilômetros do centro da Vila de Campo Maior.
20
Merece uma nota explicativa....
21
Nota explicativa sobre ele......
53
com termo foral concedido por D. Manuel I em 1512. Com terras férteis e
próprias para a criação de gado, banhada pelo rio Tejo na separação do
direito de Castelo Branco, na fronteira da Espanha, Campo Maior, vila e
sede do conselho de Portalegre, possivelmente assemelhava-se à Campo
Maior do Piauí (Bitorocara). (LIMA, 1995, p.72)
22
Significando templo-sede da freguesia.
58
indicação bibliográfica que afirma ter havido um cemitério por traz da Igreja matriz.
Eu sempre ouvi essa história. Penso que não seja apenas impressão.
O que se sabe da gênese da cidade é que ela foi iniciada em torno da
igreja matriz de Santo Antônio. A renda econômica nela investida provinha da
criação de gado que atendia também a outros mercados como o da Bahia (feira
Capoeme) e de Pernambuco. Com a concorrência da carne charqueada
riograndenserio-grandense houve o declínio dessa atividade econômica a levando a
dividir espaço com outros tipos de atividades como o extrativismo vegetal, sobretudo
da carnaúba23, e posteriormente o comércio, atividade hoje predominante.
Referenciar autores. Veja a tese da Júnia. Terezinha Quieroz. Odilon Nunes.
De vila ela é elevada à condição de cidade somente em 28/12/1889.
Tendo como referência a época em que ela é elevada a vila já são mais de 250 anos
de existência com diversidade de histórias que podem ser contadas a partir de seus
diferentes aspectos, de diferentes elementos que integram a sua paisagem. Entre
eles optou-se por falar sobre seu patrimônio edificado, particularmente o cemitério
Santo Antônio.
Silva Filho em sua obra Carnaúba, Pedra e Barro (2007) diz que esse
cemitério é uma das edificações mais importantes na implantação de Campo Maior
juntamente com a Igreja Santo Antônio (matriz), a câmara, a cadeia, a Igreja do
Rosário e o mercado. na implantação de Campo Maior na margem direita do Rio
Surubim. Portanto, se partiu-see do pressuposto de que ele se contituié uma fonte a
mais para contar a história da cidade, e que o seu estudo a partir do viés
arqueológico auxilia na preservação desta fonte histórica.
23
Seu nome científico é Copernica Prunicera, popularmente conhecida como árvore da vida, pois
dela tudo se aproveita, oferecendo muitas utilidades ao homem. Seus frutos são ricos em nutrientes
para a ração animal, o tronco é uma madeira de qualidade para construções, as palhas para a
produção artesanal, adubação do solo e extração da cera usada na composição de remédio,
cosmético, produção alimentícia e outrosetc.
59
24
Pessoa que possui conhecimento dos escritos antigos e a arte de decifrá-los.
61
25
Entende-se por cemitério extramuros aqueles que estão fora dos limites de uma povoação.
62
que Correa (1989) considera como processo de inércia cuja área correspondente é
a área cristalizada, ou seja, áreas que mantém a “permanência de certos usos em
certos locais, apesar de terem cessado as causas que no passado justificaram a
localização deles” (CORREA, 1989, p.76). O processo de inércia preserva
simultaneamente a forma e o conteúdo, principalmente devido aos quatro fatores
fundamentais que o autor cita, mas dá ênfase somente ao último, destacando:
26
Este documento não possui data, portanto se usa como referencia a data de abertura do Livro de Tombo
deque é 1883.
67
corpo e a alma dos seus entes queridos falecidos, lembrandoapontando que no dia
do juízo final a ausência dos vivos para com seus mortos poderá ser cobrada.
Chama a atenção ainda a recomendação para a criação de mais cemitérios
devidamente murados. O muro, segundo o bispo, com finalidade bem especifica e
definida, salvaguardar os mortos de qualquer profanação sacrílega.
Talvez atendendo a essas recomendações tenha sido feita a petição dos
paroquianos de Campo Maior do Piauí para a criação de um cemitério na localidade
denominada Bom Jesus, atendendo o cemitério pelo mesmo nome do lugar, sendo
autorizado pelos superiores com a caondiçãodesde de que os moradores
mativessem-no em boas condições mantendose achasse em condições, como por
exemplo, ser limpa e asseada sua capela e estar à mesma provida dos paramentos
sagrados e outros objetos necessários e decentes. Além do mais o pároco deveria
responsabilizar-se pelos termos de óbito dos que ali adquirissem sepultura. Um
detalhe importante é que, nem todos os cemitério eram bentos como expressa a
autorização:
A área que não deveria ser benta corresponde àquela destinada para
pessoas que a igreja não permitia sepultura em sagrado, mas não especifica que
pessoas são essas. Possivelmente, os não católicos, excomungados, supliciados,
suicidas, e dentre outros. A capela parece ter a função de nela se realizar a
encomendação dos corpos, e o enterro deveria ser realizado de forma gratuita. .
Em síntese, em locais como Rio Janeiro e Salvador foram práticas
higienistas e sanitaristas responsáveis pelo deslocamento do território dos mortos,
dando origem aos cemitérios extramuros (privados ou públicos) e com a expansão
urbana elas voltam a fazer parte do seio dos vivos. Em algumas cidades brasileiras,
como ocorreu em Florianópolis, após a reurbanização os cemitérios são removidos
para outros locais.
69
Nas cidades piauienses a regra parece ter sido desde cedo o cemitério.
Em Campo Maior, conforme aponta a data gravada na lápide de um túmulo já em
1804 o cemitério Santo Antônio estava incrustado na paisagem da cidade o que lhe
confere uma singularidade de implantação quando comparada com outras
localidades do país.
Antes de abordar a cultura material do cemitério se buscou um pouco de
sua história. As notícias que se tem sobre ele são escassas e chegam quase que
exclusivamente através dos termos de visita pastoral registradospastoral registrado
nos Livros de Tombo, e dos livros de registro de óbito. Numa tentativa de investigar
sobre Ainda em busca de sua história foi feito um levantamento da produção
acadêmica local, cujo cemitério aqui pesquisado também tenha sido abordado.
27
Ideias ultramontadas merece uma explicação....
28
A determinação para a criação desse bispado data de 20 de fevereiro de 1901, mas provavelmente
por desinteresse do Bispado do Maranhão somente em 1903 através da bula Supremum Catolicam
Eclesiam é que se tomou conhecimento da vitória da autonomia do Bispado do Piauí
71
29
Nota explicativa sobre os motivos que levaram a demolição da igreja.
72
Da instalação de Campo Maior como vila em 1762 até 1873, data dos
primeiros registros de óbitos encontrados, há uma perda de informação de 111 anos.
Já nas primeiras páginas do Livro de Tombo é mencionado o atraso de registros e
até mesmo a ausência de livros da Paróquia, como no relato seguinte:.
acolhesse ou então construíremter sua própria igreja, e ainda ter aprovado seu
estatuto ou compromissos pelas autoridades eclesiásticas. Cabia àa Mesa de
Consciência e Ordens, situada em Portugal, deferir ou indeferir seus compromissos.
Com a transferência da corte para sua colônia na América Portuguesa a referida
mesa também foi transferida.
Nascimento (2006, p.28) afirma que “uma irmandade ou uma confraria
religiosa pode, grosso modo, ser compreendida como uma união de oração e uma
sociedade de socorro”. Ela se sustenta na tríade piedade e vida litúrgica, caridade e
sociabilidade. Cada irmandade possuía seus estatutos, seus funcionários,
assembleias e orçamento próprio.
Tais compromissos que dependiam da aprovação da Mesa de
Consciência e Ordens consistiam em regularizar a administração da Irmandade,
presidida por uma mesa (juízes, presidentes, provedores ou priores) e composta por
escrivães, tesoureiros, procuradores, consultores e mordomos que realizavam
diversas tarefas, estabelecer a condição social ou racial exigida dos sócios, e seus
deveres e direitos. Entre os direitos, em especial, estava o enterro decente para si e
para a família, com acompanhamento de irmãos e irmãs de confraria, e sepultura na
capela da irmandade.
Melo (s/d) atribui a regularização das irmandades de Campo Maior ao Pe.
Manuel Covette ainda no século XVIII, e segundo o autor além da Irmandade de
Santo Antônio havia ainda a do Santíssimo Sacramento, a das Almas e
posteriormente a do Rosário. Ele ressalta,
O pedido parece ter sido atendido, uma vez que na visita de 1921, os
visitadores apontam ter sido sucessivamente visitados pelo Apostolado da Oração,
pelos Vicentinos, pelas filhas de Maria, pelo comercio, pela mocidade, pelas
senhoras da cidade, pelas cearenses aqui domiciliadas e pelas crianças. Ainda em
1916 é citado o Apostolado da Oração do Sagrado. Coração de Jesus.
De 1934 tem-se noticias da Obra das vocações, encontradas em:
entre os bens de seu patrimônio está o cemitério (da Irmandade) de Santo Antônio,
nele eram realizados os sepultamentos dos seus mortos.
Ainda nos termos das visitas pastorais na paróquia de Santo Antônio,
uma datada de 10 de fevereiro de 1883 e o outro do dia 07 de julho de 1906,
apresentam indícios de que o cemitério da Irmandade Santo Antônio, como o próprio
nome denota, esteve em seu primeiro momento sob a propriedade e administração
da igreja, era extramuro e religioso, e depois passou a ser de propriedade da
prefeitura municipal, não se tornando necessariamente responsabilidade da
administração pública. Somente muito tempo depois ele passou a ser de fato lugar
de umana prática secular.
Com a mudança de proprietário podem ter sido feitas alterações no que
se refere ao nome do campo santo. Cemitério da Irmandade de Santo Antônio é
como a Igreja o denominava, hoje a população local o conhece como cemitério
velho, visto que o mesmo foi fechado para sepultamentos e outros foram surgindo
na cidade. Chaves (2013, p. 13) afirma que “há um outro nome para o cemitério, São
Vicente de Paulo, sustentado talvez por alguma lei municipal”, o que não deixa de
poder ter sido uma indicação da igreja ao novo proprietário(gestor municipal) ou uma
atitude independente da municipalidade baseada em associação existente na
paróquia, no caso a associação São Vicente de Paulo, criada em 1906, suspensas
suas atividades por algum período(não determinado) e retomadas em 1921 ou
anteriormente.
A igreja matriz ao longo de sua existência com certeza assistiu inúmeros
sacramentos (casamentos, batismos) e trezenas ao santo padroeiro, quanto aos
sepultamentos tanto na matriz como em outras igrejas e capelas da cidade não se
sabe se foi prática comum ou se foi uma prática restrita a determinado segmento da
sociedade, aos párocos ou qualquer outra função religiosa, como também aos que
tiveram iniciativa particular em erguer as capelas a exemplo do filho de Bernardo de
Carvalho Aguiar, o coronel Miguel de Carvalho Aguiar construtor da Capela de
Nossa Senhora da Conceição de Barras onde foi enterrado conforme disposição
testamentária.
Embora não se saiba se os sepultamentos nas igrejas e capelas da
cidade tivessem sido ou não uma prática comum, documentos mencionam o
77
30
O documento não menciona a quem pertencia tais crânios.
78
Aos vinte nove dias do mez de dezembro do anno de mil novecentos e três
a sete horas da noite falleceu nesta cidade de Campo Maior, freguesia de
Santo Antonio o revereno vigário collado desta mesma freguesia. P e Manoel
Félix Cavalcante de Barros, sendo sepultado no dia seguinte as doze horas
do dia, na capella mor da Igreja matriz desta cidade, em assistência de
sacerdote, o seu corpo foi acompanhado e assistido ate descer a tumba por
grande multidão de pessoas de ambos os cexos. Contava oitenta e cinco
annos de idade, sendo já cesentaannos de parocho desta freguesia. Para
constar fiz este assento, que asseguro.
Campomaior, 30 de janeiro de 1904. Pe José Paulino de Miranda,
Encarregado da Freguesia (LIVRO DE TOMBO DA FREGUESIA DE
CAMPO MAIOR N° 1883, 10 de fevereiro).
Em boa ordem achamos a igreja matriz que embora pequena está limpa, e
em bom estado seus ornamentos, alfaias e mais objetos de culto divino,
como também archivo parochial e cemitério público onde celebrávamos
missa e fizemos preces pelos fieis defunctos (LIVRO DE TOMBO, 1906, p.
13).
O que na prática ele descreve como minuciosa, o mesmo não pode ser
dito na hora de redigir o termo, o visitador é breve em suas palavras pouco
descrevendo os locais por quais visitou. Em 1921, o cemitério vem seguido da
expressão “parochial” e depreende-se que ele seja da paróquia, mas sem
referenciar o proprietário e o gestor.
Oliveira que passa ao seu lado esquerdo (pra pessoa que esta posicionada de frente
para o cemitério) conduzindo a uma praça atrás da matriz e a Rua Coronel Eulálio
Filho que passa por trás do cemitério. Um aspecto em comum entre elas, além do
que já foi citado é o fato de levarem o nome de pessoas que ali jazem. Vale ressaltar
que várias outras ruas da cidade receberam o nome de um dos seus sepultados.
e o único portão de entrada está voltado para a direção em que o sol nasce (o leste),
como pode ser visualizado na planta baixa do inventário do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Fig.8).
orientação das sepulturas que “corresponde a algo bem mais genérico, quais as
ideias de nascente e poente, vida e morte”.
O terreno onde ele está situado muito provavelmente tenha sido doado
por um dos irmãos da irmandade, cabendo a estes ainda providenciar os recursos
financeiros para a aquisição dos materiais construtivos. Paixão (2015) considera a
Irmandade de Santo Antônio a responsável por ter obtido recursos para a ampliação
da igreja matriz. “Em 1779 a irmandade de Santo Antonio solicita diretamente à
rainha recursos para a ampliação da igreja da Vila de Campo Maior, que já não
comportava os fiéis da comunidade” (PAIXÃO, 2015, não paginado). Portanto, é
certeza a participação da irmandade Santo Antônio na construção do espaço para
seus mortos, não se sabe se as suas próprias expensas ou se contaram com a
ajuda da rainha tal como na ampliação da igreja.
Qualquer que seja a construção, ela procura conciliar o seu propósito com
o material disponível na região e das condições climáticas. Observando as
edificações de Campo Maior que remetem ao período colonial elas apresentam
paredes espessas e meias paredes construídas de adobe 31, um excelente material
para manter as temperaturas amenas no interior das residências, bem como
cobertura com telhas vãs facilitando a circulação do ar. “As construções do Piauí
mostram sistemas correntes em toda a colônia, como o adobe, a taipa de varas ou
pau-a-pique, a pedra e barro, as tijoleiras e as alvenarias mistas” (SILVA FILHO,
2007, p. 68).
e sem apresentar o revestimento com telhas. Sua finalidade primordial talvez fosse
de delimitar territorialmente a área do campo santo, seguindo muito provavelmente a
recomendação do bispo de evitar a profanação desses espaços, e não se sabe se
ele antecede os sepultamentos ou é posterior a eles.
Quanto a sua altura pode ser facilmente transposta, mas em virtude de
sua destruição parcial por conta das intempéries faz-se desnecessário pulá-lo uma
vez que é possível ter acesso ao acervo através das fissuras que nele se apresenta.
Transpor o muro ou aproveitar-se de suas fissuras tem sido uma ação dos
ladrões de túmulo que buscam aí peças de valor tal como esculturas de bronze e
mármore. Por estar interditado para sepultamentos desde a segunda metade do
século XX, o cemitério permanece fechado e aqueles que desejam visitar os seus
mortos se dirigem a residência de Dona Alcelina da Silva Neta que fica situado ao
lado do mesmo.
Dona Alcelina da Silva Neta conhecida popularmente como Xuxa é a
zeladora do cemitério. Nasceu, a 13 de novembro de 1960, e se criou na cidade de
Campo Maior sendo a única sobrevivente dos treze filhos de sua mãe dona Teresa.
Todos os outros doze (12) irmãos que ela não chegou a conhecer estão sepultados
nesse cemitério.
90
inferior está pintada com cal hidratada. Outro elemento identificado nessa parte é o
portão, a cruz logo acima do portão, e os degraus. O primeiro não apresenta em seu
formato simbologia litúrgica, “embora ele em si próprio, tenha seu simbolismo, que é
o de passagem. A cruz ao alto representa a cristandade e a presença de degraus
faz alusão à ascensão ao plano superior” (MORAIS, 2014, p.42).
A simbologia de cada um desses elementos, portanto, estão atreladas
com a interpretação de fé daqueles que ali jazem e dos vivos inseridos naquele
contexto social. Gregório (s/d) referindo-se aos degraus diz que estes são
recorrentes nas civilizações antigas, como os Zigurarte na Mesopotâmia, as
pirâmides da costa peruana e os antigos templos dos gregos. Todos eles
fundamentados em degraus.
Percorrendo seu interior se encontram um altar, a cruz das almas e a
manilha. O primeiro é destinado para a celebração da missa no dia dos finados, até
o ano passado ao lado desse altar era possível visualizar um poste de madeira com
a finalidade de puxar fios de energia da casa de dona Alcelina. Atualmente ele foi
substituído por um poste de energia permanente. Chaves (2014) aponta que ainda
na década de 40 do século XX a iluminação na cidade era feita em poste de
madeira, e que:
A Rua Santo Antônio foi uma das primeiras vias públicas do centro de
Campo Maior a receber infra-estrutura urbana como calçamento e
iluminação (poste de madeira de carnaúba), porém de forma bastante
precária. As casas na maioria eram de paredes de adobes, pisos de
ladrilhos comum, coberta de telhas, madeira redonda e ripas de carnaúba.
Banheiro e sentina rústicos sem água canalizada. Algumas residências do
centro da cidade possuíam poços artesianos nos quintais (CHAVES, 2014,
p.26).
Figura 13: Vista panorâmica da parte frontal mostrando a predominância de covas simples com
pedra local
95
como foi visto anteriormente, leva o nome de um dos seus sepultados, que é o padre
Benedito Portela Lima.
Mas era que este distinto sacerdote e zeloso vigário trazia bem esculpido
em sua bem formada consciência aquellas mensuráveis palavras e judiciosa
recomendação do Príncipe dos Apostolos, em sua primeira epistola, capitulo
quinto e versículo dois e três, em que traçava, em sinthese a summula dos
actos deveres e obrigações, do parocho ou do pastor d’almas
(Memorandum. Livro de Tombo da Freguesia de Campo Maior N°1,1883).
2
cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, mas não por
imposição,mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por
causa de lucro sujo, mas com generosidade; 3 não como donos daqueles
que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho. (BIBLIA,
Príncipe dos Apostolos, primeira epistola, capitulo quinto e versículo dois e
três).
A passagem revela que a multidão era grande, todos queriam de perto ver
e prestar o último adeus ao homem que dedicou boa parte de sua vida as coisa de
Deus. Ele era uma pessoa muito querida, confirma a assertiva o cortejo fúnebre
concorridíssimo e a dedicatória em sua lápide. Outro aspecto que chama atenção na
passagem acima são os sinos dobrando a finados que revela um pouco da
mentalidade funerária da época.
Além das vestes sacerdotais com qual foi sepultado, outra referência de
sua vida eclesiástica consta na sepultura, um desenho de um brasão em baixo
relevo. A posição de sua sepultura está em conformidade com a cultura material, é a
terceira do lado direito do portão do cemitério.
Outro sepultado no cemitério que compartilhou da vocação para o
sacerdócio foi o Cônego gastão Pereira da Silva, nascido a 16-8-1886. Era filho de
Ludgera Pereira da Silva e do Coronel Lysandro Pereira da Silva, um dos seis
rebentos do casal, e o único que se fez padre. Faleceu em 4-5-1944. Em sua lápide
há uma cruz em alto relevo sob a Bíblia e em sua volta possui a estola, e na estola
em cada extremidade tem uma cruz.
99
Vale ressaltar que a consulta dos registros de óbito do ano de 1899 não
foi concluída, porque o objetivo era mostrar a contradição que há entre a cultura
material e a documentação escrita e não esgotar essa segunda fonte, que inclusive
adentra no século XX. Pois bem, a margem de diferença da segunda pra primeira é
de 58 sepultados a mais, cabe lembrar que essa margem é ainda maior pelo motivo
anteriormente explicado.
O que justificaria um número de sepultados menor para um período de
tempo maior (1804-1978), enquanto em apenas no período de 23 anos o cemitério já
contava com 1098 sepultados? O porquê de nos termos de óbito aparecer nomes de
pessoas cujo local de sepultamento consta o Cemitério da Irmandade Santo Antônio,
no entanto essas pessoas não aparecem no registro da cultura material?
A julgar pela confrontação de fontes é provável que diversas sepulturas
tenham sido reutilizadas para novos sepultamentos, sem com que houvesse
preocupação com a memória dos corpos anteriormente sepultados. Acredita-se que
tal como no Cemitério Bom Jesus, da localidade Bom Jesus, do qual deriva o seu
nome os enterros no Cemitério Santo Antônio eram gratuitos para quem não podia
pagar por ele. Quem podia pagar pelo punhado de chão no qual passariam a jazer
os corpos tinham sepultura perpetua, podendo na morte juntar-se com seus entes
queridos caso fosse de suas respectivas vontades.
Quem não podia pagar dispunha dos enterramentos gratuitos concedidos
pela irmandade, mas sujeitos a terem sobre seus corpos outros corpos com os quais
em vida não tinham nenhuma relação afetiva e familiar, nem mesmo compartilhado
da existência do mesmo século. Sendo que além de suplantados os corpos ainda
também a memória. Para isso bastava que houvesse transcorrido tempo suficiente
para a reabertura da cova ou não. Pelo fato das sepulturas não serem numeradas
acredita-se que não era possível um maior controle da reabertura ou não de covas.
Das 870 sepulturas e dos 1040 sepultados que a cultura material aponta
32 e 33 são respectivamente do século XIX. Das 32 sepulturas 5 possuem tipo de
sepultamento coletivo, onde 4 deles mesclam enterramento do XIX com o XX, e
apenas uma trata-se de sepultamento coletivo com enterramento apenas do XIX.
Partindo da análise dos sepultamentos do século XIX, verifica-se que do
sepultamento mais antigo (1804) ao subseqüente há uma lacuna significativa de 36
101
anos e que até a última data para esse século, conforme a cultura material do
cemitério, a lacuna foi diminuindo em 20, 9, 5, 4, 2 e 1 ano.
33
O ex-voto é a consagração do voto. Ele da credibilidade ao poder do santo ou alma, pois as
oferendas são provas concretas, materiais desse poder milagroso.
109
sepulturas Morais (2014) registrou 24 fotografias, todas elas do século XX. Uma com
local para fotografia e 18 possuindo fotos. Quatro destas 18 com 2 e uma com 3
fotografias, as demais apresentavam apenas uma. Quase todas estão gravadas em
placas de porcelana, revestidas por placa de metal e em bom estado de
conservação “O maior número de retratados são os homens (18), dois deles idosos.
Em seguida, estão as mulheres (5), 2 idosas e uma criança, a única de todo o
acervo fotográfico” (MORAIS,2014,p.56).
Se observa que o túmulo que Morais (2014) traz como o que tinha apenas
o local da fotografia, agora já a possui (Figura 17, número 219), e que com exceção
da 707, que está mais para pintura, o pano de fundo da foto está em tom
escuro(preto) ou claro(branco). A 707 é uma exceção porque não apresenta
tonalidade alguma, ela está mais para uma pintura. Para Borges (2012) pintura e
escultura também são tipos de retratos. E o retrato segundo Pesavento (2002) é
uma possibilidade de visão do real e não de fato o real, e que a representação do
mundo faz parte da realidade.
Quanto à tonalidade mencionada, escura ou clara, podem ser atribuídas
as fotografias realizadas em estúdio o que demonstra que ainda não havia a sua
popularização na cidade. O fotografo do estúdio criava um ambiente, palpitava na
pose a ser assumida pelo retratado. Na Figura 17(número 9) a expressão da menina
parece ser de desconforto, em vez do riso, sua face trás a feição do choro.
A propósito rir parece não ser habitual, pois predomina as expressões de
seriedade e feições jovens. Para Bellomo (2008, p. 22) “As fotos quase sempre
mostram os mortos mais jovens e saudáveis, forma de esconder a realidade da
morte”, assim, eles são lembrados eternamente jovens. A fotografia 730 em placa de
madeira vem acompanhada da inscrição que confirma a assertiva de Bellomo
(2008), ela diz: “Eu nasci no dia 01 de julho de 1942. Não envelheci porque Deus
não quis. No dia 26 de abril de 1967, ele me disse: permanecerás eternamente
jovem”. Nesse contexto chama atenção ainda a de número 150, em que o sujeito
faleceu com 54 anos, mas a fotografia que orna seu túmulo exalta sua aparência de
quando jovem.
A pose assumida pelos sujeitos é frontal ou de perfil o que indica pouca
liberdade para fazer o registro. O vestuário é pouco diversificado, se observa que o
vestuário masculino há predominância do terno em diferentes tonalidades, a
112
exceção é a fotografia de número 463, 676 e 730 que são roupas mais comuns. A
de número 676 também apresenta uma moldura comum comparada com as demais.
O vestido marca o vestuário feminino também com diferentes tonalidades,
com ou sem estampa. “Todas as mulheres usavam o cabelo preso, com exceção da
criança que o penteava solto e enfeitado com um laço” (MORAIS, 2014, p.57)
Os aspectos apresentados nas fotografias do cemitério Santo Antônio se
assemelham com as tipologias apresentadas por Rigo (2008), conforme esse autor
as fotografias cemiteriais são de oito tipos. De cunho social, étnico, de oficio, de
época, etárias, infantis, de casais e de família. Dessas só não se encontrou as de
cunho étnico e infantis.
As de cunho social são aquelas que apresentam tipos de roupas e
acessórios que identificam as pessoas de acordo com o status social, é o caso das
de número 150, 162, 166, 168, 455, 542, 636 e 707. As de ofício apresentam o
falecido com o uniforme de ofício, a foto da formatura ou praticando sua profissão,
como a que aparece na de número 421, reforçada ainda pela abreviação do termo
doutor (Dr.) gravada na própria imagem. Quando as fotografias inserem o individuo
no seu tempo histórico, ou seja, suas roupas, adereços e corte de cabelo tem-se a
fotografia de época. Estão nesse grupo as de número 219, 433, 556 e a 676.
Aquelas que indicam a idade aproximada do falecimento da pessoa são
denominadas de etárias, atendem essas características as fotos de número 9 e 730.
A de número 9 não é considerada como infantil, porque esse tipo de fotografia
apresenta crianças com seus brinquedos, com trajes de festas e até mesmo o
registro fotográfico de seu falecimento, o que não é caso da menina Maria Lúcia
Andrade. Como dito anteriormente, ainda nesse capítulo, ela faleceu quando iria
completar 8 anos de idade.
Nas fotografias de casais é comum eles aparecerem no dia do casamento
ou apenas lado a lado em uma mesma foto. No acervo fotográfico do cemitério
Santo Antônio não foi encontrado os casais no dia do matrimônio e sim apenas lado
a lado, com um detalhe que chama atenção, eles estão em molduras distintas. Elas
são observadas nas fotos de número 69, 446 e 546.
O último tipo é a de família, essa tipologia se refere às fotos que
representam a união e a estabilidade de uma determinada família. A forma como
elas estão dispostas, pode em alguns casos, representar uma perfeita árvore
genealógica. Nesse sentido estão as de número 454 e 463. Quanto essas tipologias
113
9 69 150
166
168
162
34
A numeração corresponde a aquela atribuída no momento do inventário
114
454
433 446
542
455
463
inscrições que datam desse século no acervo do cemitério Santo Antônio não foi
diferente.
É recorrente os seus epitáfios serem introduzidos pelo termo “Aqui jaz os
restos mortaes”; “ A memória de”, “Aqui descança os restos mortaes”, “Na paz do
senhor aqui descansa os restos mortaes”. Seguem essas expressões o nome do
falecido (a), naturalidade, filiação, rito de nascimento, batismo, casamento e morte,
bem como o número de filhos obtidos do consórcio do matrimônio, inclusive algumas
especificando quanto destes sobreviveram. Dessa forma entende-se que “as lápides
falam e ajudam a contar histórias” (MORAIS, 2014).
Nem todos os termos listados aparecem de uma só vez em uma única
laje tumular, é a partir daí que se começa a selecionar o texto que nela será
“impresso”. Algumas lápides do século XX e os termos de óbito foram aqui utilizados
porque auxiliam a contar as histórias. Também se utilizou dos registros de
casamento e do de batismo, cujas sepulturas trazem os dados que possibilitam guiar
a busca em tais índices.
Nesse tipo de sepultamento verifica-se que a informação dos ritos de
passagem da vida são feitas através de numeral, escrita, e numeral (dia/mês/ ano).
Algumas incoerências foram observadas como pessoas casando antes mesmo de
nascer, e contradições entre a lápide e a documentação escrita para a data de óbito
e a idade com que a pessoa veio a falecer, bem como a idade com que contraiu o
matrimônio.
A lápide 539 (do ano de 1890) e 541(do ano de 1840) são exceções, pois
apesar de estarem incluídas nesse tipo de sepultamento já apontam para o uso da
cruz e da estrela para se referir respectivamente ao nascimento e morte do sujeito,
uma característica predominante do tipo de sepultamento que mescla enterramento
do século XIX com o XX.
O casamento quase sempre era um negócio (daí a palavra consórcio que
aparece em algumas inscrições) e raramente um ato de amor. Este segundo
Rezende; Coelho (2010) como motivação para casamento é uma invenção recente,
onde os sujeitos amam a quem querem e escolhem por questões de foro intimo seu
cônjuge. A palavra consórcio presente nas lápides demonstra que a escolha do
cônjuge estava atrelada a preocupação com o estabelecimento de aliança,
motivação típica das sociedades tradicionais. O ideal de matrimônio era aquele
121
Algumas das famílias citadas como natural da cidade Campo Maior até hoje são
tradicionais, como a Bonna e a Costa Araújo.
Também fica evidente a preocupação com uma vida após a morte,
reveladas através da constante súplica de oração pela alma do morto, sobretudo
através de um “padre” nosso e uma ave Maria. Talvez pelo fato de que “uma lágrima
pelos finados se evapora; uma flor sobre seu túmulo fenece; uma prece pela sua
alma recolhe-se a Deus” (Steyer appudy epitáfio do Cemitério Municipal de Rio
Pardo, 2008, p.75).
Essa preocupação pode ser traduzida como o medo do pós morte, bem
como o medo do esquecimento dentro do grupo social a qual pertencia. Sentir medo
faz parte do ser humano, mas medo do quê e de quem são fruto de circunstâncias
históricas e culturais. “O sentimento de medo surge associado a noções de perigo e
risco que ameaçam o individuo seja sua integridade física, sua autoimagem ou sua
posição social ou um determinado grupo social”(REZENDE; COELHO, 2010,p.37).
A sociedade do século XIX é, portanto uma sociedade patriarcal e sempre
preocupada com o gozo da vida eterna, para Prado (1985, p.67) “numa sociedade
pré-industrial, é inconcebível dissociar família e religião”.
Quanto às representações iconográficas predominam as cruzes nos mais
diferentes estilos. Em alto e baixo relevo, com flores e galhos floridos, perpassada
por foice, com anjos em sua volta, com coroa de flores. Além de anjos em alto
relevo, archotes voltados para baixo, ramos de flores em alto revelo.
A cruz perpassada por foice e os archotes segundo Lima (1994) são
representações escatológicas entendidas como representações que remetem a
consumação dos tempos. Elas são macabras e mórbidas. Nos cemitérios por ela
estudados essas representações aparecem entre 1850 a 1888, enquanto no
cemitério Santo Antonio elas aparecem somente em quatro sepulturas e datam
respectivamente de 1879,1899, 1926,1911 36. Quanto à representação da cruz para a
mesma autora tem uma conotação ainda medieval, utilizada para demarcar o local
do morto. Essa marcação segundo Reis (1991) funciona como um pedido de ajuda
aos transeuntes.
A partir de agora será abordada detalhadamente o diálogo com cada uma
dessas lápides onde é possível visualizar as características acima mencionadas
36
1911 é a data em que foi construída a edificação sobre o sepultamento.
123
Se ela faleceu com 73 anos em 1893 é porque ela nasceu em 1820, como
poderia ter casado antes de nascer?Para além desta contradição este epitáfio
menciona o nome do esposo, o Tenente Coronel Honorio Joze Nunes Bonna (lápide
47). Ele era natural da vila de Campo Maior, o ano de seu nascimento (em
dezembro de 1823) reforça a incoerência da data em que contraíram matrimônio.
Com ele teve cinco (5) filhos, mas apenas três (3) foram identificados: Antônio José
Nunes Bonna; José Nunes Bona; e Isaú José Nunes Bona.Como se pode observar
todos os filhos receberam o sobrenome do pai. Ela, no entanto, levou para a lápide
seu sobrenome de solteira. O sobrenome é um atestado de pertencimento a um
grupo familiar
O primogênito, tal como o pai, era Tenente Coronel, casou-se com D. Lina
Fortes Bona e permaneceram unidos até mesmo na morte, uma vez que estão
sepultados juntos (lápide 563). Deram netos a D. Maria Joaquina não se sabe
quantos. É ele que dedica a lápide ao seu pai, o Tenente Coronel Honorio Joze
Nunes Bonna(lápide 47).
Já seu filho José Nunes Bona com sua esposa Roza de Rezende Bona
deu-lhes três (3) netos: Maria; Lili e Raymundo. E Isaú José Nunes Bona que se
casou com Severa Amélia da Silva tendo com ela um filho, Esaú Bona.
Além do nome do cônjuge e do número de filhos do consórcio o epitáfio
exalta os feito da falecida em vida, sua qualidade de mãe e esposa. Orna a laje
tumular uma cruz em alto relevo com flores ao centro. Até hoje a família Bona faz
parte das famílias tradicionais da cidade.
À medida que os filhos vão contraindo matrimônio, ou seja, estabelecendo
novas famílias conjugais, adotam uma referência patronímica secundária, o que
explica a conservação apenas do Bona.
Outras inscrições são bastante simples como as encontradas na lápide
32, 70 e 85 onde se lê respectivamente
124
Assim como a lápide 70, essa sepultura é cercada por grades de ferro
fundido, com o diferencial de que em suas extremidades há vasos, também em
ferro, semicoberto por um manto. Quando vazio o vaso representa a separação
entre corpo e alma, quando coberto pelo manto representa a tristeza que o cobriu.
Foi encontrada também lápides com grafias e representação iconográfica
iguais.
Aqui jaz os restos mortaes de D. Elvina Fortes Castello Branco filha legitima
do Doutor Estevão Lopes Castello Branco e D. Archangela Fortes Castello
Branco.
Nasceu a 2 de fevereiro e baptisou-se a 25 de março de 1867 e falliceu a 11
de dezembro de 1869(LÁPIDE 410,1869).
Aqui jaz os restos mortaes de D.Angela Pia Fortes Castello Branco filha
legitima do Doutor Estevão Lopes Castello Branco e D. Archangela Fortes
Castello Branco. Nasceu a 5 de maio, baptisou-se a 18de junho de 1860 e
falleceu a 25 de novembro de 1872 (LÁPIDE 411,1872).
Essas duas lápides são de duas irmãs Castello Branco, posicionadas uma
do lado da outra e trazem exatamente a mesma ordem de informação. Filiação, rito
de nascimento, batismo e morte. Mesmo não sendo enterradas juntas em uma
mesma sepultura, houve a preocupação da proximidade de sua morada póstuma. A
filiação é um elemento identitário, isso implica dizer que ao citar o nome dos pais
expressa o desejo de perpetuar os vínculos parentais.Também contribui para essa
lógica de enterramento o fato delas terem falecido solteiras, ou seja, não
constituíram novas famílias conjugais.
Quanto ao batismo há em ambas a preocupação da realização desse
rito após um mês de nascida. Chama atenção ainda a abreviação “D.”
provavelmente de dona, o que lhes confere uma certa importância por serem filhas
de quem foram.
D.Angela era a filha mais velha, faleceu aos doze (12) anos de idade,
portanto compõe o grupo infantil do século XIX que repousa no cemitério. Quanto
D.Elvina, seu tempo de vida foi mais curto tendo sobrevivido até os dois (2) anos de
idade pertencendo ao conjunto dos inocentes. Seus pais não foram sepultados no
cemitério e não se sabe se eles tiveram outros filhos. Mesmo os pais não estando aí
sepultados foram referenciados nas lápides de ambas as filhas assegurando a
continuidade mnemônica da linhagem.
No cemitério Santo Antônio apesar dos membros da família não estarem
enterrados numa mesma sepultura constituindo o que Motta (2012) denomina de
túmulo de família há uma preocupação de colocar as sepulturas umas próximas das
126
Aqui jaz D.Ignez Hygina da Costa Araújo filha legitima do major Antonio da
Costa Araújo Filho e de sua mulher D. Angelica Borges de Lemos natural da
villa de Campo Maior da província do Piauhy nasceo no dia 12 de março de
1873 baptisou-se a 12 de junho do mesmo anno falleceo a 19 de julho de
1874 (LÀPIDE 413,1874).
Das três lápides que trazem impressas esse rito (410, 411 e 413) apenas
a 413 foi encontrada nos livros destinados a esse sacramento.
A lápide traz a filiação, o rito de nascimento e morte. E o registro
documental traz duas informações não contempladas na primeira que é o local onde
ela recebe os santos óleos e quem foram os seus padrinhos.
Na relação familiar quem podia mais sem dúvida era a figura do pai. Na
segunda inscrição (lápide 416), assim como a primeira aparece o nome do esposo, o
rito de morte e a súplica de oração dessa vez especificada, um padre nosso e uma
ave Maria. Ela faleceu primeiro que seu cônjuge e em sua lápide não consta
nenhuma dedicatória de seus filhos e esposo. Além dos dois filhos referidos, Padre
Fabio e Doutor Antonio, o casal também tiveram outro filho identificado nos livros de
óbito, trata-se de Alvaro que faleceu com dois (2) meses de idade.
Um aspecto interessante é que essa lápide é uma das poucas voltadas
para a cruz das almas. A iconografia presente é escatológica e em baixo relevo.
128
Nela há uma cruz com uma foice, e em volta de ambos uma coroa de flores
arrematado com uma fita. Nas laterais há arabescos que assumem uma forma de
flor de Lis. No gradil de ferro que a circunda há um vaso de ferro semicoberto por um
manto. De tão singular que é esta iconografia ela foi escolhida para ilustrar a capa
da dissertação.
Na Idade Média a morte comumente era representada por uma caveira e
um de seus atributos era a foice, com a qual ela ceifava a vida, e o cavalo sobre o
qual ela vinha a galope (PAIVA, 2002). Quanto às coroas de flores, segundo Borges
(2002) são indicativas de uma alegria divina, e comumente são empregadas para
representar a vitória da alma humana sobre o pecado e a morte. Elas podem ser
compostas de variadas flores como rosas, lírios, margaridas e azevinhas,
geralmente arrematadas por um laço de fita.
Para Dalmaz (2008) as coroas de flores podem ter dois significados. O de
salvação alcançada, representando assim a vitória sobre as trevas e o pecado,
como também pode ter o significado de saudade, por isso é utilizada com
recorrência nos funerais. Nesse caso da lápide 416 se acredita que elas
desempenham o simbolismo da saudade, pois se a vitória sobre as trevas e o
pecado tivesse assegurada seria desnecessária a súplica de oração. O vaso
semicoberto pelo manto reforça a idéia da saudade uma vez que ele representa a
tristeza.
A flor de Lis que aparece nas quatro extremidades da lápide pode ser
símbolo de poder, soberania, honra e lealdade, assim como de pureza de corpo e
alma. No simbolismo associado aos cemitérios ela significa chama, paixão e ardor.
Dessa forma a representação iconográfica pode ser interpretada como mais uma
vida cristã é ceifada deixando intensas saudades.
Na lápide 417, também voltada para a cruz das almas e cercada por
grades de ferro pontiagudo, se lê “D. Apolonia M.Ceza de Almeida Nascida em 20
de agosto de 1812 e fallecida em 17 de setembro de 1875. Seus filhos o D R Agisilão
P. da Silva e tenente Coronel Lisandro P. da Silva lhe erigiram esta lapide em signal
de eterna memória [...]christãos orae por Ella!(LÁPIDE 417,1875). Nela aparece
quem lhe dedica à lápide e a súplica de oração em um “tom” quase imperativo. O
marido não foi identificado. Dos dois rebentos do seu consórcio só se obteve
informação do Tenente Coronel Lisandro Pereira da Silva (lápide 38). Este se casou
com Ludgera Pereira da Silva (lápide 12) e com ela teve seis (6) filhos:
129
Aqui jazem os restos mortaes do T E CEL Manoel da Costa Teixeira era filho
de Ricardo José Teixeira D. Henriqueta Lúcia da Costa falleceu em 29 de
julho de 1894 com 34 annos de idade Dedica lhe esta em signal de profunda
saudade de sua esposa Marcia Teixeira. Orai por elle (LÁPIDE 422,1894).
Sem nome e sem ritos da passagem da vida, o individuo abre mão de sua
individualidade, mas não de sua confissão religiosa, daí a incisão de uma cruz na
pedra.
A segunda inscrição (lápide 422) encontra-se na laje tumular do Tenente
Coronel Manoel da Costa Teixeira, irmão do Coronel Francisco José Teixeira. Ao
contrário do irmão não teve nenhum filho com sua esposa Marcia Teixeira.
132
com Maria Joaquina do Nascimento Eulálio e teve com ela duas (2) filhas, Maria de
Nazareth (lápide 429) e Alice Eulálio Alves (lápide 433). A primeira faleceu com 2
anos de idade, a segunda vingou e constituiu família, casou-se com Francisco Alves
Cavalcante e com ele teve quatro(4) filhas, Alice,Idalice,Isolete e Alyete(lápide 393).
Segue abaixo a transcrição do registro de enlace matrimonial de Alice
com Francisco Alves Cavalcante.
No dia vinte e dois de julho de mil novecentos e vinte e dois, nesta matriz,
feita as denunciações canônicas sem descobrir-se impedimento em minha
presença e das testemunhas, José Alves Cavalcante e João Cresostomo de
Oliveira e Flavio pereira de Carvalho receberam-se em matrimônio por
palavras de presentes, Francisco Alves Cavalcante, com vinte e quatro anos
de idade e D. Alice Eulálio, com vinte anos de idade. O nubente natural da
freguesia de S. Gonçalo da Batalha e ela desta freguesia onde são
paroquianos, filhos legítimos ele de Raimundo Francisco Alves e D.
Raimunda Alves de Menezes e ela de Antônio Maria Eulalio Filho e Maria
Joaquina do Nascimento Eulalio. E logo lhes dei as bênçãos nupciais. E
para constar, mandei fazer este assento que assino.
O vigário Conego gastão Pereira da Silva (Livro n°6).
legítimos, ele o Fabio Maria Eulalio e Francisca Castelo Branco Eulalio e ela
o Antonio Maria Eulalio Filho e Maria Joaquina Nascimento Eulálio, e logo
lhe dei as bênçãos nupciais, de que para constar fiz este assento, que
assigno. O vigr. Benedicto Portela Lima (livro n°50)
Raimunda faleceu com 39 anos, e que se casou com 11 anos já que dos seus 39
anos de vida 28 foram de casada. Nenhum dos seus 11 filhos sobreviventes foi
identificado.
Quem lhe dedica a lápide é sua esposo, sua mãe e seus filhos,
lamentando profundamente a sua perda. Infelizmente seu termo de óbito não está
presente no livro de registro.
A virtude da falecida, mãe, esposa, filha exemplar, aparece nas bordas
(superiores e inferiores) e nas laterais (esquerda e direita) como “ornamentos” na
laje tumular. O gradil de ferro com detalhes pontiagudos que a circunda possui uma
cruz de ferro edificada.
A 465 é outra inscrição que trás a naturalidade. Ela é bem simples,
poucas são as palavras utilizadas para eternizar o morto. “Aqui jaz os restos mortaes
de Vespaziano José de Salles natural do Estado do Ceará nasceu a 12 de janeiro de
1869 e falleceu a 20 de junho de 1897. A terra lhe seja leve (LÁPIDE 465, 1897)”.
Filho de Graciano Jose de Salles e Luisa Fernandes de Araujo faleceu quando
estava de passagem pela cidade de Campo Maior, ele era casado com Maria
Procosia Chavier. Orna a laje tumular uma cruz em alto relevo.
Quanto à inscrição presente na lápide 502 é um mergulho em metáforas.
Aqui jaz a innocente Joanna Georgina da Paz filha legitima de Pedro
Gonçalves da Silva e Maria Ludgera da paz nasceu a 29 de agosto de 1893
e falleceu a 16 de abril de 1896 saudades de seus Paes e madrinha
Umbelina Augusta Ribeiro
As creancinhas de Deus estas rozas sem espinhos vão-se como uns
passarinhos n’um ai’nos dizem a Deus (LÁPIDE 502,1896).
era natural deste estado, casou-se com D.Rosalina de Oliveira Sampaio faleceu com
64 anos de hidropesia de peito. Há, portanto conformidade com o que diz o epitáfio.
Encerra esse grupo a lápide de número 435
Aqui jazem os restos mortaes de José Rodrigues de Miranda *11-10-1828
+8-3-1892, de sua legitima esposa D. Candida Rosa de Miranda,*27-2-1838
+1-5-1908 e de seu filho Luiz Rodrigues de Miranda.
*22-4-1876 +3-7-1948
Orai por suas almas
Este tumulo foi mandado eregir em 1952 pela viúva e filhos de Luiz
Rodrigues de Miranda.(LÁPIDE 435,1892-1908-1948)
37
Refere-se a uma milagrosa circunstância. Um jovem romano se alistou como combatente voluntário
para defender o papado nas guerras do século XIX. Antes de partir sua mãe lhe pendurou no pescoço
um pedaço de pano no qual havia bordado o Coração de Jesus com a cruz, a coroa de espinhos e as
chamas, assim como fora visto por Santa Margarida. No campo de batalha foi atingido por uma bala
no peito, mas nem o feriu! Ficou cravada na estampa do Coração de Jesus.
141
as mãos apontadas para o local do coração que está situado sobre a aureola,
símbolo da divindade e do poder supremo de Jesus e Maria.
Figura 20: Painel das representações encontradas nas lápides e grade de ferro das
sepulturas do século XIX( 1804-1889)
32
2 4
70
70 85
85 110 110
142
412
410 411
413 413
413
416
417 418
143
420 420
422
428
428 432
435 442
441
444 445
445
144
460 464
464
465
502 539
541
prendada, bem instruída para exercer o oficio de dona do lar, sendo uma boa
esposa e mãe.
Não se sabe se aqueles que se dedicaram a vida religiosa, padre
Benedito e o cônego Gastão, o fizeram por uma inata vocação ou em cumprimento
de promessa da mãe religiosa que se apega as forças divinas para não perder mais
um filho. Bentinho, personagem da obra Dom Casmurro (1986) de Machado de
Assis é um exemplo clássico na literatura brasileira. Ele foi prometido por sua mãe,
dona Glória, ainda em sua tenra infância ao seminário caso sobrevivesse crescendo
sadio e forte.
Acontece que esse não era o plano traçado pelo jovem rapaz que desde a
infância através das brincadeiras se envolvia cada dia mais com sua vizinha Capitu,
aquela cujos olhos foram denominados pelo agregado José Dias como olhos de
cigana, obliqua e dissimulada. Bentinho a cada dia que se passava desejava tê-la
como esposa, constituir uma vida a dois, a três, enfim quantos filhos fosse possível
ter com ela.
O seminário foi uma ideia de Dona Glória e Bentinho nunca a teve
consigo. Dedicou-se as leis e fez de Capitu sua esposa como almejava. Quanto aos
filhos não tiveram muitos, tiveram apenas um, Ezequiel cuja filiação paterna é a
grande trama do autor. O epitáfio presente na lápide do seu suposto filho que
faleceu de uma febre tifóide e enterrado nas imediações de Jerusalém inquieta
ainda mais o leitor. A mesma diz o seguinte “ Tu eras perfeito nos teus caminhos”,
inscrição tirada do profeta Ezequiel, que na integra diz assim “Tu eras perfeito nos
teus caminhos, desde o dia da tua criação”. A conclusão fica por conta do leitor.
Quanto ao poeta trata-se de Moysés Maria Eulálio autor do Hino do
Glorioso Santo Antônio que anima anualmente os fiéis que acompanham a
procissão, ocorrida no dia 31 de maio, e entoadas durante as trezenas que se
encerram a 13 de junho. Para um Eulálio seu túmulo é simples, e se não fosse o
nome poeta antecedendo seu nome passaria despercebido entre outras sepulturas.
O rito de nascimento quase sempre aparece representado em numeral-
escrita-numeral e ora e outra já aparece antecedida por estrela (*) e representado
todo em numeral e precedido da letra N seguido de numeral. O rito de morte da
mesma forma que o de nascimento é em sua maioria representado por numeral-
escrita-numeral, também se verifica que já há uma tendência em representá-lo
através de cruz (+) acompanhada de numerais, assim como o não uso do rito de
148
Aqui jaz [...] Honório José Nunes Bonna nasceu nesta cidade em dezembro
D’1823 casou-se com D. Maria Joaquina do Nascimento Bonna[...] quem
teve de sobreviver e fal[...] 3 de janeiro de 1902. Lembrança eterna Do seu
filho Antonio José Nunes Bonna Primo(lápide 47)
Aqui jaz os restos mortaes de Jose ferreira Calaça filho legitimo de Joaquim
Ferra Calaça e D. Maria Rosa Santos falleceu a 10 de abril de 1913 com 60
annos de idade deixando sua extremosa espoza Avellina Maria de Calaça
Orai por ele( Lápide 584)
Figura 25: Archote voltado para baixo Figura 26: Ampulheta alada e papoulas
Inês Leonor casou-se com Raimundo Jose de Sousa Gaioso tendo com
ele dois filhos, Jacob Almendra de Sousa Gaioso e João Henrique Sousa Gaioso
Almendra falecendo no parto deste segundo filho.
Lina Leonor tomou para si a responsabilidade de cuidar de seus
sobrinhos, tornando-se, portanto seus filhos adotivos. Quando contraiu matrimônio
já contava com mais de 40 anos de idade. Por conveniência familiar casou-se com
seu primo, o já citado Jacob de Almendra Freitas que repousa no Cemitério Santo
Antonio. O casal não teve filhos legítimos.
Christão fiel. Bom filho, esposo amante, pai extremoso, optimo amigo e
cidadão prestimozo sua alma dotada de tam nobres virtudes descance na
paz do senhor
Figura 30: Vista posterior das sepulturas encontradas no cemitério São José em
Teresina-Piauí
Figura 35: Suplicio de Cristo Figura 36: Placa de metal com inscrição
CONSIDERAÇÕES FINAIS
fato de a grande maioria dos filhos da mulher escrava ser filhos naturais? Talvez os
pequenos fossem filhos ilegítimos dos senhores de suas mães, que a gosto ou a
contragosto deitaram-se com eles.
Também se verificou que havia uma lógica de sepultamento no sentido de
preservar a nuclearização da família, seja fazendo com que as sepulturas ficassem
próximas uma das outras seja sepultando a família conjugal numa mesma sepultura.
A falta de informação sobre o potencial informativo dos espaços
mortuários é um dos principais entraves para repensar o patrimônio funerário
piauiense. Somente com o esclarecimento sobre o tema é que o cemitério poderá
ser visto como importante fonte de informação para entender a atuação de várias
gerações e do processo histórico local. Dessa forma buscou-se na lápide fria o
pulsar da vida, o risco do epitáfio tornou-se risco de evidência, e o rito e a
iconografia de crença.
Não existe cidade sem passado, povo sem memória. O que há são
capítulos de história e estórias não lidas pelo simples fato de nunca terem sido
contadas. As lápides são então páginas de um livro não lido, em especial a do
século XIX e da primeira metade do século XX onde estão gravadas os grandes ritos
de existência (nascimento, batismo, casamento e morte) e a trajetória individual e
profissional de cada indivíduo e de sua relação com a história da cidade.
Notas sepulcrais, materiais empregados na construção tumular,
fotografias, ornamentos das sepulturas são reveladores de como a população
encara e representa a morte de pessoas próximas e como o morto é visto pelo grupo
familiar e social, além de poder-se ver a ideia de casamento, os modismos, as
relações comerciais, as profissões mais procuradas em uma época, a análise do
corpo por meio das fotografias, as expectativas médias de vida dos grupos:
homens/mulheres/crianças, ricos/pobres.
O casamento era quase sempre um negócio e raramente ato de amor. Os
filhos um legado da existência de seus pais, refletiam o status social e a crença da
família. O batismo uma dupla segurança para a mãe, a certeza de que a madrinha
em sua ausência faria seu afilhado seu filho e uma morte cristã ao filho que partiu
prematuramente. Somente um círculo restrito de pessoas tinha poder aquisitivo para
importar lápides de Parnaíba, Maranhão e Pará, o que justifica o predomínio das
covas simples com pedra local.
170
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APÊNDICE
Relação de sepultados
Pereira
25 Sem identificação _____ _____ _____
26 M.J.A _____ _____ _____
27 V.N.S _____ _____ _____
28 Acimara R.D’ Oliveira/ 06-03-1885/ 08-07-1925/ 40/
José R. da Silva
1875 23-03-1935 60
29 M.R _____ _____ _____
30 Aarão Ferreira de 11-10-1883 19-06-1950 66
Santana
31 Os dois irmãozinhos _____ 1911/ _____
Antonio de Padua 1915
32 Alferes do exercito 1864 18-09-1899 35
Alvoro Furtado de
Mendonça
33 Anizia Genuino de 11-12-1860/ 12-03-1904/ 43/
Oliveira Monte/
Sinfronio Olimpio do
Monte
26-07-1855 06-06-1944 88
34 D.Joanna Viana de _____ _____ ______
Noronha
35 R.F.A _____ _____ _____
36 Sem identificação _____ _____ _____
37 João [...] de Oliveira/ 27-01-1879/ 19-09-1957/ 78/
Amelia Pereira da Silva
15-07-1882 05-11-1927 45
38 CELLysandro Pereira da 27-09-1842 01-01-1919 76
Silva
39 _____ 29-12-1894 07-08-1924 29
40 Albertina Monte 13-04-1898 14-05-1940 42
Ferreira
41 Joaquina Delmiro de 1875 1937 62
Oliveira
42 Pedro Celestino Monte 19-04-1864 23-09-1963 99
Ferreira
43 Marcos Pereira de 07-10-1856 18-06-1909 52
Araujo
44 Eudoro Portella Lima 31-12-1873 17-12-1922 48
45 Anna Aurora Sampaio/ 27-07-1920/ 29-09-1943/ 23/
Joana Rosa da Silva
11-05-1861 21-08-1947 86
46 Sem identificação _____ _____ ______
47 Honorio Jose Nunes 12-1823 03-01-1902 78
Bonna
48 R.F.A _____ ______ _____
49 S.O.P _____ _____ _____
50 Luiz A. da Paz/ 22-05-1882/ 02-07-1922/ 40/
Maria Olinda M. Paz
29-07-1887 07-06-1958 70
51 Jose Almeida P[...] [...]-04-1924 [...]-09-1961 37
52 Raimunda Barros Uchoa 25-04-1926/ 31-08-1956/ 30/
Miranda/
Feliciana
_____ 19-04-1941 ______
53 Jose Antônio _____ _____ _____
181
Raimunda Candida de
D. Silva 07-11-1878 13-11-1957 79
Vidvina de Araújo
18-09-1896 26-12-1965 69
70 Tenente Coronel Jose 11-01-1833 09-10-1884 51
Higino de Souza
71 Raimundo Valerio da 08-10-[...]/ 01-[...]-[...]/ _____
Silva/
[...] 17-08-18[...] 22-03-19[...]
72 [...] _____ _____ _____
73 Antonio Felix Barbosa/ _____ 1917 _____
Maria Benedita Saraiva
74 Sinha Pereira ______ _____ _____
75 a 77 Sem identificação _____ _____ _____
78 Maria [...] Santos/ 1874/ 20-03-1919/ 45/
Miguel de Souza _____ _____ _____
79 Lourenço Lopes Ribeiro 21-05-1864 04-04-1946 81
80 Sem identificação _____ _____ _____
182
Guerreiro
110 José Pedro da Costa/ 29-06-1864/ 13-04-1931/ 66/
Ernestina Roza de Brito
1764 26-01-1804 40
CalzidaRaymunda da
Silva
1867 1924 57
237 Sem identificação _____ _____ _____
238 B.M.G _____ _____ 98
239 M.R.Z _____ _____ _____
240 J.O.S _____ _____ _____
241 a 244 Sem identificação _____ _____ _____
245 Maria José Gomes 31-12-1913 19-01-1946 32
246 [...] _____ _____ _____
247 a 252 Sem identificação _____ _____ _____
253 Maria Canuto Barbosa 02-06-10 09-07-52 42
254 a 256 Sem identificação _____ _____ _____
257 J.C.S _____ _____ _____
258 Antonio do Carmo _____ 27-06-1948 _____
259 S.R.S 1904 1929 24 ou 25
260 Sem identificação _____ _____ _____
261 Tereza S. Fontinele 03-07-1945 15-10-64 19
262 R.[...] _____ _____ _____
263 a 264 Sem identificação _____ _____ _____
265 Raimundo Ribeiro 26-09-1935 04-01-1953 17
M.R.O _____ _____ _____
266 Sem identificação _____ _____ _____
267 Maria do Amparo Vieira 15-06-45 11-01-46 6 meses
268 Sem identificação _____ _____ _____
269 I.O.T _____ _____ _____
270 M.R.C _____ _____ _____
271 a 274 Sem identificação _____ _____ _____
F.A.P _____ _____ _____
275 a 276 Sem identificação _____ _____ _____
277 V.M.L _____ 1951 _____
278 Maria de Lurdes Barros 08-09-1911 29-07-1929 17
279 a 282 Sem identificação _____ _____ _____
283 Maria dos Remédios 1957 1969 11 ou 12
Lima
284 [...] _____ _____ _____
285 Francelina Façanha 1905/ 15-04-1945/ 39 ou 40/
187
Silva/ 3 meses/
Maria de Fátima da 13-10-1954/ 13-01-1955/ 3
Silva/
Maria Gorete da Silva 20-07-59 03-1963
286 Jose de carvalhoBraga 12-11-40 [...]-04-47 _____
287 Raimunda Alves Lima 04-1898 08-10-55 _____
288 a 290 Sem identificação _____ _____ _____
291 Ana Maria de Santana _____ _____ _____
292 C.R.S _____ _____ _____
293 Maria de Lourdes 1911 [...]-07-1929 17 ou 18
Barros
294 Sem identificação _____ _____ _____
295 Antonia Maria da 10-12-1910 03-01-1942 31
Natividade
296 Walda Oliveira Melo 18-08-1963 09-06-1964 10 meses
297 a 298 Sem identificação _____ _____ _____
299 A.C.B _____ _____ _____
300 M.N.B _____ 15-03-44 _____
301 P.P.B _____ _____ _____
302 C.A _____ _____ _____
303 Sem identificação _____ _____ _____
304 A.R.S _____ _____ _____
305 Sem identificação _____ _____ _____
306 Sebastião pereira 06-11-1914 23-06-194[...] _____
Barcelar/
F.A.A
307 Maria das graças _____ 19-09-1955 _____
308 J.A.B _____ _____ _____
309 Maria deodata da 17-10-1892 12-07-1962 69
Conceição Pretinha
310 Sem identificação _____ _____ _____
311 Pedro Martinss Neto 22-11-1953 12-05-1966 12
312 Sem identificação _____ _____ _____
313 [...]P.V 1900 1935 34 ou 35
314 Sem identificação _____ _____ _____
315 M.C.O/ _____ _____ _____
P.O.L/
F.O.S
316 Georgina Maria de [...]-1896 01-01-1966 69 ou 70
Araújo
317 a 319 Sem identificação _____ _____ _____
320 CapMMariano José da 18-07-1838 27-09-1903 65
Paz/
Maria Magdalena _____ _____ _____
321 Sem identificação _____ _____ _____
322 R.N.S _____ _____ ______
323 M.J.P.N ______ 1912 _____
324 a 325 Sem identificação _____ _____ _____
326 Maria de Nazaré Araújo 06-03-1936 16-06-1963 27
327 Sem identificação _____ _____ _____
328 B.M.P _____ _____ _____
329 ARO _____ _____ _____
330 L.L.S _____ _____ _____
331 R.S.C _____ _____ _____
332 L.M.C 1927 1938 10 ou 11
188
Benedita L.C.Branco/
______ 11-09-1944/ _____
Antonio João C.Branco
Pedrode A. Teixeira/
______ 06-01-1960/ _____
190
24-06-1911 14-09-1964 53
422 TE CEL Manoel da Costa 1860 29-07-1894 34
Teixeira
423 Marion Saraiva 07-12-1902 13-08-1978 75
Monteiro
424 Jose Rodrigues de 02-02-1913 23-06-1925 12
Miranda Primo
425 [....] _____ _____ _____
426 Leopoldo Pacheco/ 24-01-1897/ 10-08-1933/ 36/
Inês da Costa Araújo 10-02-1876 07-12-1949 73
Pacheco
427 Capitão João[...] da Silva 24-08-1861 19-12-[...] _____
428 D.Carmina da Silva 17-06-1866 21-12-1895 29
Patrazana
429 Maria de Nazareth 17-07-1902 28-02-1905 2
430 Maria do Coração de 22-08-1878 [...] _____
Jesus Bonna
431 Francisco Figueiredo _____ _____ _____
Duarte/
Olimpia de Figueiredo
Bastos
432 José Ribeiro Francode 14-10-1829/ 18-11-1893/ 64/
Sampaio/
Carolina Rosa de
Sampaio 19-09-1892 22-12-1956 84
433 Alice Eulálio Alves 26-11-1894 30-07-1926 32
434 Capitão José Rodrigues _____ _____ _____
de Miranda
435 José Rodrigues de 11-10-1828/ 08-03-1892/ 63/
Miranda/
Engrácia da Costa
Araújo 25-04-1953
437 [...] 04-05-1880 31-12-[...] _____
438 D.Liduina Rosa de _____ 10-02-1900/ _____
Carvalho Oliveira/
D.Celerinda Furtado De
Asevedo/ 23-01-19[...]/
CAPM Domingos
Rodrigues de Asevedo
16-05-193[...]
480 Benicio R.Sampaio Neto 01-01-1922 23-08-1926 4
481 Raymunda F. De 11-07-1864/ 30-06-1919/ 54/
O.Mendes/
Maria de Nazareth 26-01-1905 19-06-1925 20/
Mendes Sampaio/
482 [...] _____ _____ _____
483 Silvino V. de Andrade 26-05-1842 18-09-1924 60
484 Raymundo Ferreira da 15-09-1874 31-07-1912 37
Cunha
485 Jacob de Almendra 03-08-1850 22-07-1908 57
Freitas
486 M.J.M _____ _____ _____
487 Adelina Castelo Branco _____ ______ _____
Pacheco
488 Iracema/ 29-09-[...] _____ _____
Maria Eva[...] _____
489 Raimunda Menezes 11-01-1876 17-04-1932 56
Alves
490 Raimundo Francisco 03-08-1863 21-12-1937 74
Alves Cavalcante
491 Dr.Alcides Freitas 04-03-1890 06-05-1913 23
492 Berenice/ _____ _____ 2/
Maria do Socorro 7 meses
493 Clemente Pires 16-04-1847/ 02-04-1933/ 85/
Ferreira/
Lina Carolina Pires 22-08-1854 14-11-1934 80
Ferreira
193
Miranda
519 L.A.P _____ _____ _____
520 Vitória _____ _____ _____
521 Justino _____ _____ _____
522 Sebastião F. do Vale _____ _____ _____
Filho/
Cosma Olímpia do Vale
C.E.S
523 Sem identificação _____ _____ _____
524 Emygdio Herculano 22-03-1887 06-12-1938 51
Lima
525 Clarinda F. de Sampaio/ 23-11-1864/ 24-05-1956/ 91/
Rosa Ercília de Sampaio
02-01-1891 04-05-1927 36
526 M.R.S _____ ______ _____
527 Josefina Clara Lidia 1862 1937 74 ou 75
528 Miguel E. da Silva 12-12-1880 30-04-1950 69
529 M.J.E _____ _____ _____
530 Domingos José da Silva/ 21-08-1877/ 02-10-1939/ 62/
Benedita/
Claudina Barbosa/ 10-06-1907/ 10-02-1931/ 23/
05-08-1876/ 01-07-1939/ 62/
Luiz Gonzaga
18-09-1902 02-06-1928 25
531 F.R.L _____ _____ _____
532 Sem identificação _____ _____ _____
533 Anna manda[...] da Silva 20-04-18[...] 09-[...] _____
534 Sem identificação _____ _____ _____
535 AntonioBona[...] 27-04-1874 26-04-1943 68
536 [...]RaimunfaErnesta[...] _____ _____ _____
537 Joaquina Ximenes de 16-03-1859 18-01-1941 81
Aragão
538 Francisca _____ _____ _____
C.BrancoEulalio/
Afonso C.BrancoEulalio/
José/
Fábio Eulalio Machado/
Francisca C.B Eulalio
machado
539 Jose Joaquim Avelino _____ 07-01-1890 _____
540 Benedito Portela A. _____ _____ _____
Barbosa/
[...]idiaC.B.E.Portela
541 Jose Luiz Cas[...]/ 13-04-[...]/ 05-08-1840/ _____
Francisco Ferreira[...]
_____ _____
542 AntonioF.Mendes 09-10-12 28-04-40 _____
543 MarizethM.S.Lima/ 12-08-1944/ 21-01-1969/ 24/
M.M/ _____ _____ _____
S.L
544 [...] _____ _____ ______
545 D.Marcolina de Brito 12-09-1877/ 23-07-[...]/ ______
Borges/
Nilza _____ ______
546 José Er[...] da Costa/ 07-07-1907/ 08-08-1948/ 41/
Ana Soares da Costa
195
13-08-1906 20-09-1954 48
547 I.M.C _____ _____ _____
548 Antonio Exalto de ______ ______ ______
Araújo/
A.E.A
549 A.M _____ _____ 35
550 Francisco Jose da Rocha 1852 22-09-1923 71
551 W.B.P [...] [...] _____
552 Pergentino Lobão 05-09-1884/ 28-09-1937/ 53/
Néias/
Lina Fortes Lobão [...] 2[...]-11-[...] _____
553 D.Gertrudes M.de Deus _____ 13-11-1910/ _____
e Silva/
J.O.D.S 17-08-25
R.N.J _____ _____ _____
554 D.liduina Maria da _____ _____ 74
Conceição
555 Januaria Lima/ ______ 25-01-1970/ _____
Maria Tomázia Lima 17-10-1943
556 Francisco Napoleão 08-06-1887 [...]8-09-1910 23
557 [....] _____ _____ _____
558 Aldemar Mendes de 08-06-1907 02-07-1941 34
Melo
559 Nicodemos da Silva/ 02-04-1874/ 04-07-1947/ 73/
D.da Silva
01-01-1887 27-07-1933 46
560 João Galdino Aragão 07-11-1886 11-07-1960 73
561 Osvaldo Portela 01-12-1936 27-04-1937 1
Ibiapina
562 Anna Roza Muniz 15-11-1892 24-10-1926 33
563 Lina Fortes Bona/ 15-11-1851/ 24-03-1934/ 82/
TTECELAntonio José 07-11-1847 28-10-1927 79
Nunes Bona Primo
Ibiapina/
Maria Quitéria Ibiapina 30-09-1876 02-05-1966 89
576 Sem identificação ______ _____ _____
577 [...] _____ 21-12-1930 _____
578 Manoel Raymundo Lima 30-08-1903/ 05-02-1933/ 29/
Filho/
Francisco Mamede da
Silva 31-03-1923 09-04-1952 29
794 a 796 Sem identificação _____ ______ ______
797 Mariano Alves da Silva 15-08-1887 04-12-1963 76
798 Maria Liodoria da Paz 27-10-1997 22-07-1901 I
799 F.R.P _____ _____ _____
800 Sem identificação _____ _____ _____
801 Binidito Paulino de 22-02-1886 14-08-1949 63
Macedo
802 R.M.A _____ _____ _____
803 H.M.C.A _____ _____ _____
804 F.C.O _____ _____ _____
805 Raimundo P[...] Loiola 08-08-1932 08-08-1970 38
806 Sem identificação _____ _____ _____
807 F.O.S _____ _____ _____
808 Sem identificação _____ _____ _____
809 L.G.D _____ _____ _____
810 I.A.S _____ _____ _____
811 Sem identificação _____ _____ _____
812 Valentim de Sousa Lima 14-02-1889 10-09-1949 60
201
IDENTIFICAÇÃO DO TÚMULO:
( ) ABANDONADO ( ) VISITADO ( ) FREQUENTADO
CARACTERISTICAS:
( ) GRANDE ( ) PEQUENO ( ) MÉDIO
CONFISSÃO RELIGIOSA:
( ) CATÓLICA ( ) PROTESTANTE ( ) NÃO IDENTIFICADO
EDIFICAÇÕES:
( ) CRUZ ( ) ALTAR ( ) IGREJA ( ) CAPELA
TIPO DE SEPULTURA:
( ) COVA SIMPLES ( ) JAZIGO ( ) TÚMULO ( ) MAUSOLÉU ( ) AMONTOADO
DE PEDRAS ( ) GRADES ( ) GRANÍTICO ( ) AZULEJO
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL:
( ) ORDENADA ( ) REGULAR ( ) RUIM ( ) ÓTIMA
FATORES DE DESTRUIÇÃO:
( ) MUSGOS ( ) FERRAGEM ( ) VEGETAÇÃO ( ) VANDALISMO ( ) RACHADURA
PERÍODO CRONOLÓGICO:
DATA DE NASCIMENTO: _____ DATA DE FALECIMENTO: _____
RITOS:
( ) VELAS ( ) FLORES NATURAIS ( ) FLORES ARTIFICIAIS ( ) CULTO POPULAR
REGISTRO FOTOGRÁFICO:
N° DE FOTO:
PREENCHIMENTO FICHA: DATA:
LÁPIDE:
205
N° do livro:________________________________
Nome: _________________________________________________________
Filiação:
Pai ____________________________________________________________
Mãe____________________________________________________________
Natural de:___________________________
Causa da morte:______________________
Propriedade de:____________________________________________________
Local de sepultamento:______________________________________________
Observação:__________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Responsável: ______________________________________________