10744-Texto Do Artigo-57107-1-10-20150923 PDF
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Quando se faz uma pergunta é porque se espera uma resposta. Se formos bem
honestos, esperamos uma resposta aberta, isto é, uma resposta que expresse o modo de
pensar daquele a quem foi dirigida a pergunta e não uma resposta que venha responder a
expectativa de quem pergunta.
A pergunta feita é por que ensinar Matemática na Escola?
Se tentássemos responder pelo raciocínio do absurdo por que não eliminar a
Matemática da Escola?
Continuemos neste raciocínio - o que a Escola ganharia sem a Matemática?
Um alívio! Muitas tensões acabariam e não apareceria o bloqueio com relação a
ela porque simplesmente não existiria.
O que a Escola ganharia com o ensino da Matemática?
Antes de entrar no assunto, ou melhor, de tentar dar resposta, quero fazer duas
colocações iniciais.
1ª. Não sou professora de Matemática - sou educadora, portanto, a principio achei de
minha parte uma temeridade falar sobre o ensino da Matemática para mestres da
Matemática.
Entretanto, a coragem me veio depois de ler o livro Contestação - nova forma de
ensino, de Neil Postman e Charles Weingartner, da Editora Expressão e Cultura.
Neste livro os autores afirmam que não são pedagogos e que, para falarem de
educação, eles fizeram questão de não conversar com especialistas da área e nem
recorrer a livros de Pedagogia.
1
Este texto foi apresentado em uma conversa com os alunos do mestrado em Ensino de Matemática da
UNESP - Rio Claro.
2
Digitalizado por Analucia Castro Pimenta de Souza, Célia Barros Nunes, Fernanda Menino e Tatiane da
Cunha Putti, alunas do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Estadual
Paulista, campus de Rio Claro.
3
Diretora da Escola Comunitária de Campinas.
2a. Colocação. Todo o conhecimento escolar está apoiado sobre quatro blocos do
conhecimento:
- Comunicação e Expressão (oral, escrita, artística, corporal)
- Matemática
- Estudos Sociais
- Ciências Naturais, Físicas, Químicas e Biológicas.
Cada um destes blocos tem a sua função específica dentro da Escola. Retirando-
se qualquer um deles, a largura torna-se muito grande, não só com relação ao
conhecimento, como a complementação do ser como pessoa.
Feitas estas duas considerações iniciais, penso que posso voltar à nossa reflexão
anterior - o que a Escola ganharia com a inclusão da Matemática no seu currículo?
Para dar uma resposta mais completa, preciso também falar sobre duas
concepções de Escola:
- Instituição que tem por principal função transmitir conhecimento;
- Instituição preocupada em ajudar o aluno a desenvolver o seu potencial
Dentro dos blocos das quatro áreas parece-me que o da Matemática é o mais
lógico.
Podemos, justamente por isso, partir de uma informação e estimular o aluno a
construir todo o restante do conteúdo. Isto não é ajudar o aluno a pensar?
Quando o professor de Matemática ensina o aluno pelo mecanismo de repetição,
será que ele está ajudando no desenvolvimento do potencial intelectual?
Pode ser até que ajude um pouco, porém o rendimento no desenvolvimento do
potencial intelectual é pobre e com outras consequências muito graves nos terrenos
social e ideológico.
É muito mais importante e rendoso usar do raciocínio matemático com o intuito
de desenvolver o potencial do aluno.
A memória é uma faculdade que também precisa ser desenvolvida, porém há
situações próprias para que isso ocorra. Também devemos nos lembrar que a memória e
efêmera e que o nosso cérebro tem capacidade para reter um determinado número de
informações e, à medida que vai atingindo o seu limite (que penso que deve variar de
pessoa para pessoa - o meu é muito limitado), ele, por questão de sobrevivência, apaga
umas para reter outras.
Entretanto, estou me referindo a um tipo de memória - a memorização que
chamaria de simples - repetição pura de tipos de exercícios matemáticos.
Existe um outro tipo de memorização também utilizada pelos professores de
Matemática e que e mais útil - memorização de certos mecanismos.
Entretanto, isto é empobrecer a Matemática. Ela se presta muito para ajudar no
desenvolvimento do potencial intelectual, porque me parece, como já foi dito, ser a
mais lógica que as outras ciências.
O desenvolvimento do potencial supõe a participação da pessoa na construção
do conteúdo daquele conhecimento.
Outra coisa importante! No aluno precisa, ele próprio, percorrer o caminho do
conhecimento. Ele não pode receber o conhecimento pronto, como coisa acabada; ele
precisa voltar, fazer quase sozinho o mesmo caminho percorrido pelo professor ou
outros estudiosos do assunto.
mal;
- ou, então, "meu filho é muito inteligente, tanto assim que vai bem na
Matemática, nas outras não vai bem porque é preguiçoso"
- "que pena, é tão bom em Matemática e escolheu Ciências Humanas para
cursar"
- ou, ainda, "e tão inteligente, vai tão bem em Ciências Exatas, poderia ser
engenheiro ou médico e escolheu Artes".
Será que vocês, como matemáticos, e nós todos, como educadores, não temos
nada a fazer para derrubar estes estereótipos?
Coloco na cabeça de vocês todas estas indagações para que, refletindo sobre
elas, possam nos dar uma resposta e que as futuras teses de mestrado possam trazer
novas contribuições para o ensino da Matemática e respostas a todas essas novas
indagações.