Introdução Ao Estudo de Sto Tomás de Aquino

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são tomás de aquino

Introdução ao Estudo de
Santo Tomás de Aquino
Dia 1
Concílio Vaticano II

A intenção de se realizar o Concílio foi anunciada pela primeira vez numa homilia improvisada em 1959 pelo Papa João
XXIII; havia pouco precedente. Segundo o Papa, o homem moderno estava perdendo a vista dos valores superiores em
função dos seus próprios avanços tecnológicos e cientí cos.
A conclusão do Concílio foi que a chave para a retomada da fé do homem moderno é o contato da inteligência dos
homens com a sabedoria, para que a modernidade seja entendida como meramente humana, e dissociada dos valores
superiores que realmente importam.
O Concílio concluiu também que a forma de se chegar a esta solução seria o surgimento e multiplicação de homens
sábios, para que a sabedoria pudesse se espalhar pelo mundo, principalmente aos líderes
O fundamento para esta sabedoria já existe, pois fomos deixados com o legado de Santo Tomás de Aquino. Em fato, o
Concílio sugere que Tomás de Aquino deve ser tido como o mestre para quem deseja ser sábio.

A sabedoria segundo Santo Tomás de Aquino


Sabedoria nas Sagradas Escrituras
Em sua Suma Contra Os Gentios, Santo Tomás de Aquino de ne como
Na Bíblia, a sabedoria aparece algumas vezes.
características de um homem sábio:
A capacidade de ordenar as coisas; Salomão: O personagem da Bíblia é lembrado
O conhecimento da nalidade das coisas; e aclamado pela sua sabedoria. Salomão
Sabedoria para identi car erros. recebeu de Deus riquezas e bens como
E estes são os deveres, segundo o Santo, do homem sábio, e é notável acréscimo justamente por ter priorizado a
sabedoria de Deus sobre estas coisas.
como esta proposta combina com o problema e a solução propostos Sabedoria: O livro da Sabedoria discursa
pelo Concílio Vaticano II. sobre... a sabedoria. Entretanto, não a de ne
Santo Tomás de Aquino baseia-se em grande parte na loso a grega. claramente e, enquanto guia para atingi-la, não
Portanto, nos é útil compreender como os gregos tratavam a é o mais indicado.
sabedoria. Isaías 11:2 : O autor cita a Sabedoria como o
primeiro dos Dons de Deus. Santo Agostinho
vai mais longe e conclui que os dons citados
Filoso a grega e a sabedoria em Isaías estão em ordem decrescente de
importância e, portanto, a Sabedoria seria a
Pitágoras, que saiu da Grécia e estudou no Egito, fundou uma escola mais importante!
na Itália, cujo regime foi similar ao de um monasteiro ou de um
convento (con namento e dedicação total aos estudos).
O objetivo da escola pitagórica era formar pessoas sábias que pudessem in uenciar governantes, para desfazer as
mazelas políticas e sociais da época. Nota-se o quão similar é este objetivo com a proposta fornecida no Vaticano II.
Platão, excelente discípulo de Sócrates (por sua vez discípulo da escola de Pitágoras), fundou a sua escola, cuja loso a
girava de um ponto central: O que é cada coisa? Aquele que compreendesse o que são as coisas, em termos de sua
essência, seria um sábio segundo Platão.
Aristóteles, discípulo de Platão e principal in uência losó ca de Santo Tomás de Aquino (e até hoje na Igreja),
desenvolveu outros dois pontos além do xado por Platão. Qual é a inter-relação entre cada coisa? Qual é o princípio de
cada coisa?
Esses três princípios irão nortear a noção da sabedoria pela loso a grega.
Dia 2
Sabedoria segundo Aristóteles

Como visto anteriormente, Santo Tomás de Aquino se inspirou em Aristóteles em sua obra. Em fato, a sua obra depende
dos desenvolvimentos de Aristóteles; portanto, conhecer um pouco da Sabedoria segundo o lósofo é essencial para
entender Tomás de Aquino.
Aristóteles, sua maior in uência, estudou o mundo e utilizou a dialética de Platão para complementar suas extensivas
observações sobre o mundo tangível e intangível. Em sua obra, ele também descreve a Sabedoria.
Parte do seu método envolve meditação profunda; Paulo VI, depois do Concílio Vaticano II, atribuiu esta qualidade ao
homem sábio que deveria surgir no mundo.
Aristóteles descreve que um indivíduo ser ético exige primeiro que o mesmo seja sábio.
Segundo ele, a altíssima inteligência humana tem que ter uma nalidade: de acordo com a loso a da época, uma coisa é
de nida pelo que há de mais excelente nela, no nosso caso a inteligência. Então, o oposto também é válido: o homem
atinge sua nalidade quando usa sua inteligência ao ponto de atingir a sabedoria.
Aristóteles, através da cosmovisão da sua época, concluiu que o homem só poderia ter e manter a inteligência que tem
por meio de uma alma.
A alma na Seleção Natural Podemos chegar a esta
Virtude e inteligência conclusão por outra via. Se assumirmos como
correta a Teoria da Evolução, não faria sentido o
Diz o lósofo que a sabedoria depende de virtudes. homo sapiens sapiens, que nos seus princípios
estava ainda estava em sua luta pela
O homem busca coisas agradáveis (apetite concupiscível). Entretanto,
sobrevivência, ter desenvolvido sua inteligência
este apetite não é ordenado, então o homem precisa de castidade e desde aquela época. Só a alma responde.
temperança. Mas o homem também busca coisas difíceis, pela ira
(apetite irascível). Este apetite também é desordenado, portanto o
homem precisa de fortaleza e paciência. O homem sábio precisa destas virtudes.

Dia 3
As virtudes maiores

Após alcançar as virtudes citadas (Castidade, Temperança, Paciência e Fortaleza), aí é possível para o indivíduo procurar a
Justiça, que depende das últimas; quem não ordena as paixões irá priorizá-las quando conveniente.
A justiça aperfeiçoa as direções da vontade e leva a pessoa, eventualmente, a buscar o bem de forma natural.
Pode-se de nir a virtude da Justiça como a busca de dar ao próximo o que a ele se deve.
Há uma justiça menor e uma justiça maior; a justiça maior seria a Justiça Legal ou Justiça Universal, de nida como a
percepção e vontade de ser justo com aquilo que está fora do escopo individual, ou seja, em circunstâncias além das que
o indivíduo está envolvido.
A justiça, principalmente a justiça universal, vai depender de conhecimento ético por parte do indivíduo que a busca.
Não é possível ser justo se, em primeiro lugar, não se sabe o que é justo em determinada situação.
Após atingir a Justiça, o próximo passo é a virtude da Prudência. Esta virtude aperfeiçoa a inteligência prática, por
de nição sendo a aplicação da Justiça "no calor do momento".
Não confundir prudência com conhecimento técnico. Embora sejam A vida sem virtudes
similares em princípio (alguém com alto conhecimento técnico
saberá como agir em situações críticas), a prudência diz respeito a Um homem não virtuoso cai facilmente como
questões morais. vítima de ideologias, encantando pessoas através
de suas paixões mal trabalhadas.
A prudência depende de experiência, e precisa ser treinada.
Esta virtude uni ca todas as anteriores. Pessoas não virtuosas acabam por não levar a
A partir do domínio destas virtudes, o indivíduo começa a buscar a sério o que traz o bem, por priorizar suas paixões.
relação entre as coisas (um dos pontos do homem sábio segundo
Aristóteles, caso você não lembre da primeira aula!), no que temos como Ordenando as paixões
a virtude da Ciência.
A prática de jejum, que a Igreja recomenda, é uma
ferramenta e ciente para praticar o controle das
Buscando a origem paixões.

O lósofo aponta que a inter-relação entre cada coisa se dá pela Virtudes deturpadas
causalidade. Portanto, a ciência envolve o conhecimento das causas.
Atitudes inteligentes podem ser tomadas pelo
Aquele que atinge a ciência começa a entender que as causas se mal. Não podemos chamar de virtudes o que as
arranjam em uma hierarquia. Aristóteles conclui que deve haver uma dirigem, pois, mesmo que um mau indivíduo se
causa primeira, e o conhecimento sobre esta é, nalmente, o que o utilize de castidade ou paciência para atingir seus
lósofo entende por Sabedoria. objetivos, são qualidades direcionadas a ns
A causa primeira é base de uma das formas que Santo Tomás de vazios, e também frágeis (pois, uma vez atingido
tal objetivo, de nada mais valerão).
Aquino tem para provar a existência de Deus.
Esta causa primeira tem como a sua essência o ser, e é por isso que ela
pode ser uma causa primeira. Se a sua essência fosse outra, nada mais poderia ser ou existir, e sabemos bem que as
coisas são e existem.
Tudo que existe existe por conta desta causa primeira, não podendo Substância e acidente
existir por conta própria. Logo, a causa primeira continuamente sustenta
a existência de tudo. Acidentes são propriedades de algo e dependem
A inteligência humana consegue perceber o ser (um computador não da substância. A substância é uma de nição da
coisa.
percebe que ele existe, um gato não tem crises existenciais), essência
da causa primeira, portanto, a inteligência humana só pode ser a mais Para ajudar a entender, pense no seguinte
nobre coisa no mundo. exemplo: Totó é um cachorro ("cachorro" é sua
A consciência e o raciocínio dependem da percepção de o indivíduo substância). Totó comeu muito e engordou, e "ser
gordo" é seu acidente.
saber e perceber o ser e seu conceito.
O conceito de ser é ampli cado pelo conhecimento da causa primeira, e Você consegue pensar em um caso onde muda-se
amplia os pensamentos. a substância e o acidente se mantém o mesmo?
Aristóteles diz que o que une a ciência e a sabedoria, sendo que a Não é nada usual, mas acontece em toda Missa!
prudência une as demais virtudes, é o amor.
Cristo, essencialmente, ensinou as mesmas coisas que Aristóteles, mas
por uma outra via!

Dia 4 (notas diversas)


Potências da alma (segundo Aristóteles)

Relativa a funções vitais mais básicas, como crescimento,


Vegetativa
reprodução, etc. Apetite irascível É disparado quando se percebe o
Locomotiva Relativa à mobilidade. bem a ser atingido como maior que o sacrifício a
ser feito por ele. No homem, este discernimento é
Impulsos aos bens deleitáveis (apetite concupiscível) e aos alcançado pela inteligência; nos animais, pelo
Apetitiva
bens árduos (apetite irascível) instinto.
Moisés e São Paulo são exemplos de homens com
Sensitiva Relativa aos sentidos. um tremendo apetite irascível. Ambos, com o
Própria da alma racional. Busca a verdade (através da tempo, aprenderam a canalizar este apetite em prol
Intelectiva de sua obra em Deus. Moisés conduziu os judeus à
inteligência) e o bem (através da vontade).
libertação, e São Paulo viajou pelo mundo a
Relativa ao instinto. Defasada no homem em prol da potência evangelizar.
Estimativa
intelectiva.

As potências da alma são como incrementativas. Vegetais apresentariam a potência vegetativa, animais apresentam, além
desta, a locomotiva, a apetitiva e a sensitiva, e humanos têm, além das últimas, a intelectiva.

Causalidade de Aristóteles

Coisas podem ser descritas por quatro causas diretamente relacionadas:


Causa material: A origem, a matéria-prima de uma coisa.
Causa formal: Processo de transformação da matéria-prima até a sua nalidade.
Causa e ciente: O que movimenta este processo.
Causa nal: A nalidade da coisa.
Certas causas e cientes, em particular as que não partem de uma alma intelectiva ou estimativa, não estariam associadas
a uma causa nal (tal como a chuva não tem realmente a intenção de erodir uma montanha e formar um rio). Estas causas
têm que ser delegadas justamente à causa primeira.
A causa nal é sempre menor que a sua causa e ciente. Logo, há coisas que são menos que outras. Inclusive, acidentes
são menos que suas substâncias.
O homem é mais do que todas as outras coisas, pois é capaz de perceber o ser.
O que impulsionaria o homem à ciência e a sabedoria? Aristóteles diz que é o amor à causa primeira. É curioso como esta
abordagem é análoga ao Primeiro Mandamento.

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