CachoeiraDoc 2020
CachoeiraDoc 2020
CachoeiraDoc 2020
Introdução:
De 26 de maio a 7 de junho, será possível assistir, aqui em nosso site,
filmes escolhidos por cada um de nossos 8 curadores para se estar em
companhia nesse momento de tantas inquietações; filmes para renovar um
campo de perguntas, diante das novas exigências do mundo.
Promoveremos ainda dois encontros (dias 30 e 31/05, às 17h) com os
curadores, para debatermos os atuais desafios da atividade de curadoria,
agora atravessada pela materialidade radical do contágio e da busca pela cura.
Provisório e impossível, o que lançamos agora não é um festival. Trata-se de
um experimento, para nos mantermos vivas, alertas e conectadas, numa nova
arte de tecer aproximações.
O trabalho para a realização do IX CachoeiraDoc, inclusive a seleção e
curadoria dos filmes, segue em curso, na temporalidade pandêmica.
Esperamos ainda nos encontrarmos no calor humano de Cachoeira quando o
tempo for propício.
Textos da curadoria:
Santíssima Trindade: quem filma, o que filma, por que filma?, por Álex
Antônio
“Reagir à dor é também saber recontar essas histórias. Falar da dor nos
permite começar a cura da dor (se é esse nosso projeto). Olhar a ferida nos
permite perguntar: como tratar a ferida? Como transformar a cicatriz em
tatuagem?”
SENA, Kika
No cinema negro hoje, dentro das muitas pautas, a dor tem sido um
caminho muito seguido, seja ela como ponto de partida para ressignificar nosso
futuro ou como o pivô para um tensionamento presente no filme. Em um dos
vários momentos (bem antes dessa nova pandemia mundial estar anunciada)
em que parei para refletir sobre o filme e as questões que me faziam entrar em
conflito com ele, me deparei com a publicação da capa do álbum recém
lançado do rapper mineiro Djonga intitulado, “Histórias da minha área”, em que
ele e mais quatro colegas se deparam com os próprios corpos estendidos no
chão de um beco. Nesse momento estava eu e mais dois colegas (Dani
Apenas e Danrlei Moreira) e Dani nos questionou o que tínhamos achado da
capa, se não era usar da dor do “outro” para um sucesso próspero. Eu e
Danrlei simultaneamente falamos que tudo é uma questão de perspectiva.
Quem fala dessa dor? Essa pessoa vivencia/compartilha aquilo ou só está ali
dentro de uma curta relação como espectador do/a outro/a? Trindade nos faz
abrir um leque de questionamentos e reflexões sobre as relações de quem
filma e quem é filmado e todas as questões éticas que permeiam o
documentário.
O cinema é um campo de constante mudança, está sempre se
(re)moldando e moldando quem faz o uso dele das diversas formas possíveis e
nós enquanto parte desse universo, a todo momento, temos que (re)pensar
como o fazer filme e o fazer para que haja filme são campos delicados em que
estamos diante da alteridade, do real, da “diferença”. E quando se trata de um
corpo negro(a), temos que ser o mais cuidadoso possível para não acabarmos
(re)construindo certas imagens que já se perpetuam nesses corpos.