2 PB PDF
2 PB PDF
2 PB PDF
ARTIGO DE REVISÃO
Stages for Undertaking a Systematic Review
RESUMO
Tem-se verificado crescente aumento do uso da revisão sistemática como metodologia de investigação para compilar e analisar
grandes conjuntos de dados de estudos existentes. Com este aumento também aumentaram as recomendações para conduzir este
tipo de investigação. O objectivo deste artigo é fornecer um guia para compreender e/ou realizar uma revisão sistemática para
publicação, indicando todas as etapas do processo de revisão. Ao fazerem uma revisão sistemática da literatura, os autores tornam-se
conhecedores do tema e, embora consuma muito tempo, podem desenvolver um conjunto de competências incluindo a de pesquisa
da literatura e de redacção científica. A revisão sistemática, comparada com a investigação primária, requer relativamente poucos
recursos, permitindo que os clínicos normalmente não envolvidos em investigação produzam artigos clinicamente relevantes e de alta
qualidade.
Palavras-chave: Projectos de Investigação; Revisão da Literatura; Revisão Sistemática
ABSTRACT
There has been an increase in the use of systematic review as a research methodology to compile and analyze large datasets of
existing studies. With this increase, the recommendations to conduct this type of research also increased. The aim of this article is to
provide a guide for understanding and/or undertaking a systematic review for publication across all stages of the review process. When
doing a systematic review of the literature the authors become knowledgeable of the subject and, although time-consuming, they can
develop a set of skills including literature research and scientific writing. A systematic review, compared to primary research, requires
relatively few resources, allowing clinicians not normally involved in research to produce clinically relevant, high-quality articles.
Keywords: Research Design; Review Literature as Topic; Systematic Reviews as Topic
INTRODUÇÃO
De acordo com o Cochrane Handbook, uma revisão literatura, a selecção dos artigos ou a avaliação da quali-
sistemática “attempts to collate all empirical evidence that dade dos estudos. Costuma ser parcial, representando a
fits pre-specified eligibility criteria in order to answer a spe- visão dos autores sobre o tema.
cific research question. It uses explicit, systematic methods Por outro lado, a RS é reprodutível e tende a ser im-
that are selected with a view to minimizing bias, thus provi- parcial. Visa reduzir o viés através do uso de métodos
ding more reliable findings from which conclusions can be explícitos para realizar uma pesquisa bibliográfica abran-
drawn and decisions made.”1 Como resumem os resulta- gente e avaliar criticamente os estudos individuais. Assim,
dos de todos os estudos originais num determinado tema, em contraste com a revisão tradicional ou narrativa, a RS
as revisões sistemáticas são habitualmente consideradas responde a uma questão de investigação bem definida e
como evidência de alta qualidade. Uma vez que a literatu- é caracterizada por ser metodologicamente abrangente,
ra científica produzida anualmente está a aumentar a uma transparente e replicável.
taxa exponencial, as revisões sistemáticas que coligem as Uma RS é uma investigação científica menos dispen-
evidências disponíveis têm-se tornado cada vez mais im- diosa, é um artigo de investigação com métodos sistemá-
portantes. Desde 1989 tem um havido aumento crescente ticos pré-definidos para identificar sistematicamente todos
do uso da revisão sistemática como metodologia de inves- os documentos relevantes publicados e não publicados
tigação, e com este aumento também aumentaram as reco- para uma questão de investigação, avalia a qualidade des-
mendações para conduzir este tipo de investigação.2 ses artigos, extrai os dados e sintetiza os resultados.3
Assim sendo, torna-se importante colocar a questão: Quando são usados métodos estatísticos para com-
Qual é a diferença entre uma revisão sistemática e uma binar os resultados de 2 ou mais estudos, designa-se de
revisão tradicional? meta-análise.
A revisão sistemática (RS) apresenta diversas vanta- Existem quatro critérios essenciais para uma revisão
gens em relação à revisão narrativa tradicional. sistemática:
A revisão narrativa, não sistemática, é normalmente • Deve ser exaustiva: toda a literatura relevante na
mais rápida e fácil de levar a cabo, mas é subjectiva, por- área deve ser incluída.
tanto, propensa a um maior número de vieses e erros. Este • Deve ser seguida uma metodologia rigorosa - definir
tipo de revisão não descreve o processo de pesquisa da a questão de investigação, escrever um protocolo,
1. Serviço de Documentação. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Coimbra. Portugal.
2. Serviço de Otorrinolaringologia. Hospital de Egas Moniz. Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Lisboa. Portugal.
Autor correspondente: Helena Donato. [email protected]
Recebido: 11 de fevereiro de 2019 - Aceite: 18 de fevereiro de 2019 | Copyright © Ordem dos Médicos 2019
pesquisar a literatura, recolher e fazer a triagem e a diagnóstica, preventiva, prognóstica; Comparison – com
análise da literatura. Todo o processo também deve que vai comparar a intervenção? Um controlo, um trata-
ARTIGO DE REVISÃO
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis Em biblioteconomia e ciência da informação são utiliza-
(PRISMA http://www.prisma-statement.org) desenvolveu o dos os conceitos de sensibilidade, precisão e especificida-
ARTIGO DE REVISÃO
PRISMA para protocolos, PRISMA-P (http://prisma-state- de. De acordo com o Cochrane Handbook (https://training.
ment.org/documents/PRISMA-P-checklist.pdf).6 cochrane.org/handbook), sensibilidade é definida como “o
Se posteriormente, forem necessárias modificações ao número de relatórios relevantes identificados dividido pelo
protocolo, estas devem ser claramente documentadas e número total de relatórios relevantes existentes”.1 Uma es-
justificadas. tratégia de pesquisa de alta sensibilidade deve, portanto,
Após se ter desenvolvido a questão de investigação e o recuperar todos os estudos relevantes sobre um tópico. A
protocolo, começa a pesquisa da literatura. precisão e especificidade estabelecem a parte da literatura
não relevante na pesquisa.
3. Definir os critérios de inclusão e de exclusão Sensibilidade e precisão/especificidade são quase
É essencial que os autores definam explicitamente os sempre irreconciliáveis: uma pesquisa altamente sensível
estudos que irão seleccionar e os que irão excluir. Tam- também é frequentemente menos precisa. Embora seja
bém deve ser definido se só incluem estudos em humanos, possível aumentar a precisão de uma estratégia de pesqui-
ou em humanos e animais. As línguas a serem incluídas sa e, assim, reduzir o número de documentos irrelevantes
também devem ser indicadas, mas para evitar viés deve recuperados, tal não é aconselhável, pois pode levar a que
ser considerado o maior número de idiomas possível. A ex- estudos relevantes sejam perdidos. Para uma revisão sis-
clusão de estudos com base na língua deve ser feita com temática, a estratégia de pesquisa deve ser altamente sen-
cuidado, pois em algumas áreas, pode haver estudos im- sível. Uma grande parte do resultado da pesquisa não será
portantes publicados em outros idiomas. relevante. Na busca sistemática de literatura, uma precisão
Dependendo da natureza ou objectivo da revisão, pode de 2% a 3% é comum, ou seja, duas a três referências em
ser apropriado considerar apenas certos tipos de estudo cem serão relevantes.
como: randomized controlled trial, case-control, cohort stu- 4.2. Bases de dados
dies, case series. Uma RS exige uma pesquisa minuciosa, objectiva e
reprodutível num conjunto de recursos, para identificar o
4. Desenvolver uma estratégia de pesquisa e pes- máximo possível de estudos. Existem diversas fontes que
quisar a literatura podem ser consultadas para uma revisão sistemática. As
Documentar a estratégia de pesquisa é o componente- bases de dados bibliográficas costumam ser a primeira op-
-chave da realização de uma revisão sistemática. ção, pois indexam um elevado número de revistas científi-
Quantos anos atrás deve recuar a pesquisa da literatu- cas e podem ser facilmente consultadas. É importante rea-
ra? Cinco ou dez anos podem ser períodos bem definidos, lizar a pesquisa em várias bases de dados bibliográficas,
mas serão genuinamente apropriados? Por exemplo, ca- sendo que a Cochrane recomenda usar pelo menos três.
torze anos pode ser melhor, se este for o tempo desde que Em biomedicina, as bases de dados padrão são a PubMed/
foi realizada a última revisão. Ou talvez só três anos, se MEDLINE, a EMBASE e a Cochrane Library. Dependendo
este for o tempo desde que a intervenção está disponível. do tópico, uma base de dados multidisciplinar como a Web
A estratégia de pesquisa pode também ter de cobrir várias of Science ou bases de dados mais específicas, como a
décadas, porque a investigação relevante pode ter sido pu- CINAHL (enfermagem e ciências da saúde), a PsycINFO
blicada em qualquer altura durante esse período. (psicologia e psiquiatria) ou a ERIC (educação), também
Uma parte fundamental de uma revisão sistemática é devem ser consideradas.
uma pesquisa exaustiva da literatura para encontrar todos A PubMed fornece acesso à versão gratuita da
os estudos relevantes sobre o tema. Por isso, é importante MEDLINE que inclui referências muito actuais que ainda
que a estratégia de pesquisa seja rigorosamente desenvol- não estão indexadas (ahead of print) e referências de re-
vida com alta sensibilidade para encontrar todos os poten- vistas que não são indexadas na MEDLINE, como as PMC.
ciais artigos relevantes. Isto significa que vai acabar com A MEDLINE também está disponível mediante subscrição
uma grande quantidade de referências, muitas vezes mais através de vendedores de bases de dados, como a OVID
de mil de referências, sendo que uma elevada percenta- ou a EBSCO.
gem dessas referências será provavelmente irrelevante.7 A EMBASE só está disponível mediante subscrição.
Como já foi mencionado, a estrutura PICO é a forma Fornece uma melhor cobertura das revistas europeias e
mais comum de formular uma pergunta para investigação, indexa mais revistas na área da farmacologia. Contudo,
mas geralmente na pesquisa não se incluem todas as par- existe alguma sobreposição entre a PubMed/MEDLINE e a
tes da questão PICO, o foco deverá ser na população e na EMBASE, sobreposição que varia de acordo com as áreas.
intervenção. Uma pesquisa só na MEDLINE é inadequada e, dependen-
4.1. Sensibilidade, especificidade e precisão do do assunto, só entre 30% a 80% dos randomized con-
Construir uma estratégia de pesquisa exaustiva e, ao trolled trials são identificados.4,8
mesmo tempo, evitar referências em excesso, é uma tarefa As vantagens-chave de bases de dados como a
desafiadora. A presença de erros no processo de pesquisa MEDLINE e EMBASE são permitir pesquisas por pa-
pode resultar numa evidência enviesada ou incompleta. lavras no título e no resumo e por termos de indexação
normalizados, ou seja, vocabulário controlado atribuído a seja, uma análise de quais os artigos citaram um estudo
cada referência. mais antigo, ainda relevante.
ARTIGO DE REVISÃO
Existe algum debate sobre se o Google Scholar deve 4.3. Verificação das listas das referências dos arti-
ser ou não usado em revisões sistemáticas. Na nossa opi- gos relevantes
nião, o Google Scholar não deve ser usado como recurso Verificar as referências dos artigos seleccionados
adicional na pesquisa, pois não indica claramente quais pode consumir muito tempo mas acrescenta eficácia à revi-
são as fontes que indexa. É também difícil garantir que uma são e habitualmente ajuda a identificar trabalhos relevantes
estratégia de pesquisa no Google Scholar possa ser repe- adicionais que não foram recuperados na pesquisa online.7
tida e que os mesmos resultados sejam obtidos, e essa Por vezes pela análise de citação, isto é uma análise de
capacidade de replicar a pesquisa é, obviamente, muito que artigos citaram um mais antigo, mas ainda relevante
importante em revisões sistemáticas. Outra razão para a para o estudo, também pode ser relevante. Para esta aná-
não utilização do Google Scholar é que não faz um rastreio lise existem bases de dados como a Web of Science e a
adequado à qualidade e assim a maioria das revistas pre- SCOPUS que nos podem indicar quais são os artigos mais
datórias (predatory journals- aquelas que publicam artigos citados pelos artigos incluídos no nosso trabalho.
científicos sem submetê-los a uma revisão por pares, des- Contactar os autores dos estudos incluídos pode ga-
de que ocorra o pagamento de uma taxa de autoria) são rantir que a estratégia de pesquisa não falhou na recupera-
incluídas. ção de algum artigo útil.
A literatura cinzenta (grey literature) pode ser também 4.4. Pesquisa manual
uma boa fonte de referências para o estudo. Acrescenta Deve também ser efectuada uma pesquisa manual
valor à revisão porque habitualmente é mais actual do que das revistas mais pertinentes.11
a que está publicada. O termo literatura cinzenta refere- 4.5. Estratégias de pesquisa - Conclusão
-se aos documentos científicos que não são disponibiliza- Concluindo, as estratégias de pesquisa precisam de
dos pelas vias habituais de publicação. Inclui documentos ser planeadas para equilibrar a sensibilidade (a capacidade
produzidos por organizações governamentais, trabalhos e de identificar o maior número possível de artigos relevan-
abstracts de conferências, materiais produzidos por socie- tes) com a precisão (a capacidade de excluir o maior núme-
dades médicas e/ou grupos de investigação disponibiliza- ro possível de artigos irrelevantes).
dos apenas em websites, teses e dissertações académi- A estratégia completa usada em cada base de dados
cas, ensaios clínicos em progresso, entre outros. deve constar como apêndice à revisão.
Falhar na identificação de ensaios reportados em pro- 4.6. Técnicas de pesquisa comuns
ceedings de conferências ou em outra literatura cinzenta As bases de dados bibliográficas são ferramentas po-
pode afectar os resultados da RS. De acordo com Mallet et derosas, existindo diferenças e técnicas comuns entre elas.
al, a literatura cinzenta tem sido fonte de cerca de 10% dos
estudos referenciados em RS da Cochrane.9,10 Termos controlados
As bases de registos de ensaios clínicos em curso, As listas de vocabulários controlados (thesauri ou lis-
como o Clinicaltrials.gov devem ser pesquisadas, sendo tas de termos de indexação), como o MeSH usado pela
um modo de captar estudos ainda não publicados. A Co- MEDLINE e o EMTREE usado pela EMBASE, trazem uni-
chrane Collaboration estabeleceu a Cochrane Controlled formidade, criando consistência e precisão, o que permite
Register of Trials (CENTRAL). A CENTRAL é um excelente encontrar a informação independentemente da terminolo-
recurso para encontrar ensaios clínicos randomizados e gia usada pelos autores. Estes descritores (termos contro-
quase randomizados. A maioria dos registos da CENTRAL lados) são usados para a indexação dos artigos nas bases
é extraída das bases de dados bibliográficas como a Pub- de dados. O EMTREE e o MeSH têm estruturas semelhan-
Med e EMBASE, mas também de outras fontes publicadas tes.
e não publicadas. O que é o MeSH? Acrónimo de Medical Subject Hea-
Para encontrar este tipo de informação científica dings, é uma linguagem controlada, são cabeçalhos de as-
que não é formalmente publicada em revistas científicas, suntos (subject headings) ou descritores que estão organi-
podem ser também consultados os seguintes recursos: zados hierarquicamente.
OpenGrey (foco europeu) - http://www.opengrey.eu; Grey Os termos MeSH são organizados hierarquicamente
Literature Report (foco americano) - http://www.greylit.org; por categorias de assuntos com termos mais específicos
Grey Literature Network Service (http://www.greynet.org/); (narrower) arranjados sob os termos mais gerais. A Pub-
OAISter (https://www.oclc.org/en/oaister.html) e repositó- Med pesquisa automaticamente para incluir todos os ter-
rios científicos como o RCAAP - Repositório Científico de mos, o mais geral e os mais específicos, é designada ex-
Acesso Aberto em Portugal (https://www.rcaap.pt). plosão.
Devem ser sempre indicadas as datas em que as pes- Por exemplo:
quisas foram realizadas. Inflammatory Bowel Diseases
A pesquisa bibliográfica geralmente também é com- Colitis, Ulcerative
plementada com uma triagem de listas de referências dos Crohn Disease
artigos, e algumas vezes com uma análise de citações, ou Pesquisando por Inflammatory bowel diseases, inclui
os termos MeSH encontrados abaixo deste termo na hie- nomeadamente o singular e o plural. Todas as bases de
rarquia MeSH. dados permitem a truncatura, o símbolo é que pode variar.
ARTIGO DE REVISÃO
A linguagem EMTREE da EMBASE tem também os A maioria usa o asterisco *. Por exemplo, therap* recupera
termos biomédicos organizados hierarquicamente do mais therapy, therapies, therapeutic.
geral (broader) para o mais específico (narrower). Selec- O uso das aspas para pesquisa por frase, será útil
cionando “Explode” incluímos os termos mais restritos na para juntar as palavras, por exemplo, “obesity surgery”. Na
hierarquia. Assim designa-se por pesquisa de explosão, PubMed não se deve combinar a truncatura com as aspas.
uma pesquisa que recupera toda a informação indexada a É preciso ter algum cuidado com o uso desta opção numa
um termo preferencial geral e a todos os seus termos mais RS, uma vez que as aspas tornam a pesquisa muito pre-
específicos. cisa e, consequentemente, alguma informação relevante
pode ser perdida. Uma alternativa pode ser os operadores
Termos não controlados de proximidade que permitem especificar o número de pa-
Deve começar-se a pesquisa pela linguagem controla- lavras que podem aparecer entre os 2 termos. Os operado-
da (descritores) e depois realizar a pesquisa em linguagem res de proximidade recuperam diferentes variações da fra-
natural (texto livre), combinando os sinónimos com OR. se, como a ordem das palavras, o que não é possível com
Porquê usar texto livre se existe um descritor? Porque nem o uso das aspas. Na Web of Science, podemos recuperar
todas as referências têm um subject heading, nomeada- as variações com o operador NEAR/número. Por exem-
mente, as referências que estão ahead of print, in process plo, Surgery NEAR/3 obesity recupera Surgery treatment
ou as revistas PMC (não MEDLINE). Por outro lado, nem of obesity; Surgery in adolescents with obesity; Surgery of
todos os conceitos têm um subject heading correcto, uma severe obesity.
vez que os indexadores são humanos, e, portanto, podem Podem ser usados os parênteses para estabelecer a
cometer erros. ordem do processo de pesquisa e separar os conjuntos de
Quando se está a efectuar a pesquisa em texto livre, termos. Também permite agrupar sinónimos e termos em
deve evitar-se usar limites que vão eliminar os estudos que diferentes ortografias. Por exemplo, (hypersensitivity OR
ainda não foram indexados, por ex. humanos, faixas etá- allergy OR allergies OR allergic) AND (child OR children
rias. OR childhood).
Convém mencionar que nem todas as bases de dados Deve ser apresentada a estratégia de pesquisa com-
têm uma linguagem controlada. pleta incluindo os limites usados, para que possa ser repe-
A utilização dos operadores booleanos representados tida.
pelos termos AND, OR e NOT permitem realizar combina-
ções entre os termos que serão usados na pesquisa, sendo PRESS - lista de verificação para estratégias de pes-
AND uma combinação restritiva, OR uma combinação adi- quisa
tiva e NOT uma combinação de exclusão. Os operadores Como a pesquisa bibliográfica é parte fundamental de
booleanos permitem juntar termos para alargar a pesquisa uma revisão sistemática, é importante que a estratégia de
ou excluir termos dos resultados. Para combinar blocos da pesquisa seja de alta qualidade. Para o garantir e evitar
pesquisa e/ou conceitos distintos, o operador AND deve ser erros, existem várias opções. Uma opção é envolver um
usado. O uso do OR permite a pesquisa por sinónimos ou bibliotecário experiente/especialista em informação. Em
termos relacionados. O NOT exclui resultados. ambos os casos, é bom que um dos autores tenha uma
Deve-se pesquisar em texto livre usando variantes do visão detalhada da estratégia de pesquisa. Existe também
termo, combinando sinónimos, plurais e variantes de orto- uma ferramenta para validação de estratégias de procu-
grafia (UK versus US) com o operador OR. Alguns termos ra de informação, denominada Peer Review of Electronic
médicos são escritos de forma diferente no inglês britâni- Search Strategies (PRESS).12
co e no americano (exemplos: tumour OR tumor; ageing Lista de verificação para estratégias de pesquisa
OR aging; labour OR labor; coeliac OR celiac), pelo que se (PRESS):
deve considerar na estratégia de pesquisa a inclusão de - Tradução da questão de investigação
uma palavra para as diferentes ortografias. Algumas bases • A estratégia de pesquisa corresponde à questão
de dados fazem a pesquisa por variantes de termo automa- de investigação/PICO?
ticamente, o que é designado por lematização. A base de • Os termos de pesquisa são claros?
dados Web of Science faz automaticamente a lematização, • Os termos de pesquisa são muito específicos ou
no entanto a PubMed não o faz. muito amplos?
O operador NOT deve ser evitado numa estratégia de • A pesquisa recupera muitas ou poucas referên-
pesquisa sistemática, uma vez que diminui a sensibilidade cias?
da pesquisa e aumenta o risco de perder artigos relevan- • São explicadas as estratégias não convencio-
tes. nais ou complexas?
A definição de truncatura permite encurtar ou cortar o - Operadores booleanos e de proximidade (estes
final da palavra. A truncatura é usada nas pesquisas para variam de acordo com o recurso de pesquisa)
garantir que se recupera as possíveis variações do termo, • Os operadores booleanos ou de proximidade
follow-up ou relato de diferentes desfechos. Contudo, nem ao examinar as metodologias dos estudos e os resultados,
sempre é fácil identificar os duplicados, pois algumas vezes como o CONSORT para RTCs, STROBE para estudos
ARTIGO DE REVISÃO
estão encobertos e nem a autoria nem o tamanho da amos- observacionais e, se uma maior análise quantitativa do
tra acabam por ser critérios confiáveis para identificação desenho do estudo é exigido, a recomendação GRADE
de duplicação. As estimativas de prevalência de publicação (Grading of Recommendations Assessment, Development
duplicada variam de 1,4% a 28%.13 O uso de estudos dupli- and Evaluation) pode ser usada.
cados pode levar a resultados enviesados. Um mínimo de dois revisores independentes deve
É necessário eliminar população de doentes duplica- avaliar a qualidade dos estudos. As diferenças podem ser
dos em diferentes estudos. Se dois estudos separados com reconciliadas por mútuo acordo ou por um terceiro revisor.
os mesmos autores e a mesma intervenção tiveram datas
sobrepostas de recrutamento dos doentes, só um dos es- 7. Extração dos dados
tudos deve ser incluído. Nesta situação deve ser seleccio- Depois de todos os critérios de exclusão aplicados e a
nado o estudo com maior amostra e/ou maior tempo de lista final dos estudos identificados, existem vários métodos
follow-up.14 eficazes de extracção dos dados dos estudos. Os requisitos
Resumindo, nesta fase de selecção dos estudos, é ne- de extracção de dados variam de revisão para revisão, e os
cessário5: formulários de extracção devem ser adaptados à pergunta
• Examinar títulos e resumos para remover documen- da revisão. O passo inicial para este processo envolve uma
tos obviamente irrelevantes. avaliação descritiva de cada estudo (detalhes do estudo;
• Obter os textos integrais de todos os artigos poten- dados para a análise), habitualmente apresentado em for-
cialmente relevantes. mato tabular.4 Ou seja, os dados de cada estudo devem
• Reunir múltiplos relatos do mesmo estudo. ser extraídos para uma folha de extracção de dados, um
• Examinar se os estudos estão de acordo com os cri- formulário electrónico como o Excel, Access ou COVIDEN-
térios de elegibilidade. CE.5,14 É obrigatório usar um formulário de extracção dos
• Contactar os autores, quando apropriado, para clari- dados. Estão disponíveis diferentes checklists e os autores
ficar a elegibilidade do estudo. devem escolher a que melhor se adapta ao seu estudo. As
• Tomar as decisões finais quanto à inclusão dos es- três checklists de apoio à extracção de dados mais usadas
tudos antes de proceder à extracção dos dados. são as do Centre for Evidence-Based Medicine (CEBM), a
Deve ser usado um formulário de selecção para ga- da Cochrane Collaboration e o Critical Appraisal Skills Pro-
rantir a consistência e todas as decisões devem ficar regis- gramme (CASP).14 A extracção deve ser efectuada por dois
tadas. revisores independentes e quaisquer divergências devem
É recomendado que as avaliações de elegibilidade ser reconciliadas.
dos estudos sejam conduzidas por pelo menos duas pes- A revisão destas tabelas pode ajudar a determinar se
soas, independentemente, com discordâncias resolvidas os resultados dos diferentes estudos podem ser reunidos e
por consenso ou com envolvimento de um terceiro revi- submetidos a meta-análise.4
sor.5,15 Uma meta-análise consiste no uso de técnicas estatís-
Um fluxograma mostrando o número de estudos/arti- ticas para combinar e resumir os resultados de múltiplos
gos remanescentes em cada etapa é um método simples e estudos. Ao combinar dados de vários estudos, as meta-
útil de documentar o processo de selecção dos estudos. -análises podem fornecer estimativas mais precisas dos
efeitos dos cuidados de saúde do que aquelas fornecidas
6. Avaliação da qualidade dos estudos pelos estudos individuais.
Ao ler o texto completo de cada artigo identificado para Nesta fase, são necessários os artigos completos e,
inclusão na revisão como parte do processo de extracção caso haja dificuldade em ter acesso ao documento comple-
de dados, devem ser aplicadas escalas de avaliação da to, essa informação deve constar de maneira clara na sec-
qualidade de cada estudo seleccionado. Deve ser escolhi- ção Métodos e esse artigo deve ficar fora dos resultados
do o método que melhor se adapta ao tipo de revisão que finais.
se está a conduzir. Um patamar-chave na RS é a avaliação Deve-se contactar os autores em situações em que os
da qualidade dos estudos. Têm sido desenvolvidas várias dados disponíveis nos artigos são incongruentes ou pouco
ferramentas para ajudar nesta fase do processo, como por claros, pois estes podem fornecer informação adicional que
exemplo o Cochrane risk of bias tool (https://sites.google. pode ser essencial para a compreensão. Para além disso,
com/site/riskofbiastool/welcome/rob-2-0-tool?authuser=0) os autores podem partilhar dados relevantes que não usa-
para RCTs ou a Newcastle Ottawa Scale para estudos não ram no artigo.
randomizados (http://www.ohri.ca/programs/clinical_epide- Exemplo de requisitos de informação para extracção de
miology/oxford.asp). dados:
Normalmente os autores estabelecem uma checklist - Informação geral
dos elementos necessários para um estudo de qualidade, • Quem realizou a extracção de dados
o que representa uma abordagem mais razoável para ava- • Data da extracção de dados
liar a qualidade,15 usando algumas ferramentas como guia • Elementos identificativos do estudo (autores,
título, citação, tipo de estudo, país de origem) seguida deve ser explicada de forma clara e lógica. Esta
- Características do estudo secção começa com indicação se existe um protocolo de
ARTIGO DE REVISÃO
número total de referências encontradas, quantos foram não se podendo produzir uma boa revisão baseada numa
excluídos nas várias fases, e quantos artigos chegaram até fraca estratégia de pesquisa.
ARTIGO DE REVISÃO
ao fim.16 A revisão sistemática, comparada com a investigação
primária, requer relativamente poucos recursos, permitin-
CONCLUSÃO do que os clínicos normalmente não envolvidos em inves-
Ao fazerem uma revisão sistemática da literatura, os tigação produzam artigos clinicamente relevantes e de alta
autores tornam-se conhecedores do tema e, embora con- qualidade.
suma muito tempo, podem desenvolver um conjunto de
competências incluindo a de pesquisa da literatura e da CONFLITOS DE INTERESSE
redacção científica. Os autores declaram não possuir conflitos de interesse.
A revisão sistemática permite uma avaliação rigorosa,
imparcial e abrangente da literatura. Uma revisão sistemá- FONTES DE FINANCIAMENTO
tica mal conduzida pode induzir em erro, como qualquer O presente trabalho não foi suportado por nenhum sub-
outro estudo original. A estratégia de pesquisa é um dos sídio ou bolsa.
determinantes major da qualidade da revisão sistemática,
REFERÊNCIAS
1. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions. 9. Mallett S, Hopewell S, Clarke M. Grey literature in systematic reviews:
[consultado 28 jan 2019] Available from: https://community.cochrane. the first 1000 Cochrane systematic reviews. Oxford: Fourth Symposium
org/handbook-sri/chapter-1-introduction/11-cochrane/12-systematic- on Systematic Reviews: Pushing the Boundaries; 2002.
reviews/122-what-systematic-review. 10. Hopewell S, McDonald S, Clarke M, Egger M. Grey literature in meta-
2. Nicholson J, McCrillis A, Williams JD. Collaboration challenges in analyses of randomized trials of health care interventions. Cochrane
systematic reviews: a survey of health sciences librarians. J Med Libr Database Syst Rev. 2007;2:MR000010.
Assoc. 2017;105:385-93. 11. Hopewell S, Clarke M, Lefebvre C, Scherer R. Handsearching versus
3. Siddaway AP, Wood AM, Hedges LV. How to do a systematic review: electronic searching to identify reports of randomized trials. Cochrane
a best practice guide for conducting and reporting narrative reviews, Database Syst Rev. 2007;2:MR000001.
meta-analyses, and meta-syntheses. Annu Rev Psychol. 2019;70:747- 12. McGowan J, Sampson M, Salzwedel DM, Cogo E, Foerster V, Lefebvre
70. C. PRESS Peer Review of Electronic Search Strategies: 2015 Guideline
4. Wright RW, Brand RA, Dunn W, Spindler KP. How to write a systematic Statement. J Clin Epidemiol. 2016;75:40-6.
review. Clin Orthop Relat Res. 2007;455:23-9. 13. von Elm E, Poglia G, Walder B, Tramèr MR. Different patterns of
5. Petrou S, Kwon J, Madan J. A practical guide to conducting a duplicate publication: an analysis of articles used in systematic reviews.
systematic review and meta-analysis of health state utility values. JAMA. 2004;291:974-80.
Pharmacoeconomics. 2018; 36:1043-61. 14. Harris JD, Quatman CE, Manring MM, Siston RA, Flanigan DC. How to
6. Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et write a systematic review. Am J Sports Med. 2014;42:2761-8.
al. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis 15. Ward RJ, Usher-Smith J, Griffin SJ. How to produce a systematic review.
protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1. InnovAiT. 2019. [In press].
7. Uttley L, Montgomery P. The influence of the team in conducting a 16. Liberati A, Altman DG, Tetzlaff J, Mulrow C, Gøtzsche PC, Ioannidis JP,
systematic review. Syst Rev. 2017;6:149. et al. The PRISMA statement for reporting systematic reviews and meta-
8. Dickersin K, Scherer R, Lefebvre C. Identifying relevant studies for analyses of studies that evaluate health care interventions: explanation
systematic reviews. BMJ. 1994;309:1286-91. and elaboration. Ann Intern Med. 2009;151:W65-94.