Rasputin PDF
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1869 - 1916
Rasputin foi um diabo consagrado e o mais pecador de todos os santos. Sem dúvida,
o mais indulgente de todos os ascetas. Tinha um especial talento para unir o sagrado e o
profano sob seu manto negro causando ao mesmo tempo a admiração e o respeito de
seguidores e medo e terror em seus adversários. Nascido na aldeia de Rasputje, Sibéria,
em 1869, desde muito cedo sempre demonstrou um grandioso fascínio pelo ocultismo e
por tudo o que fosse secreto e hermético. Enquanto crescia especializou-se em controle
psicológico, técnicas de cura, teologia, leitura corporal, predestinação, ilusionismo,
magnetismo, artimanhas teatrais e especialmente hipnose.
Quando atingiu a maturidade, Rasputin entrou em contato com a Seita dos Flagelantes,
um controverso grupo que guardando as devidas particularidades tinha uma visão de
mundo, objetivos e práticas muito similares ao dos satanistas de hoje. Esta era uma das
muitas seitas eróticas que viviam sob o olhar apreensivo da Igreja Ortodoxa pré-
revolução de 1917.
A premissa básica destas seitas era que não há sentido para a salvação se não fossemos
pecadores. Seus rituais envolviam a celebração de deuses pagãos seguidos de dança e
festividades, mas especialmente conhecidos por sua sensualidade e entrega aos prazeres
da carne. A Seita dos Flagelantes ensinava que dentro de cada ser humano brilha uma
centelha divina, e que o simples reconhecimento desta essência dentro de cada um era o
suficiente para a extinção de todas as amarras impostas ao ser humano. No ritual
principal, a coabitação com alguém eleito, (alguém carregado de espírito santo e
consciente disso) terminaria por unir a humanidade com a divindade e transformaria
todo o pecado antigo em nova virtude.
Além disso, a seita dos Flagelantes argumentava que não haveria qualquer sentido no
plano de salvação se os humanos não fossem pecadores desde o princípio. Para eles,
quanto mais o homem pecasse, mais Deus iria perdoar e mais Deus seria exaltado como
o ser superior e supremo. A princípio estas justificações para as práticas destas seitas
parecerá bastante hipócrita para a maioria de nós hoje em dia, mas ao entendermos a
mentalidade russa do período, a repressão Czarina e o poderio do clero naqueles
tempos, seus argumentos se revelaram na verdade bastante sensatos.
Utilizando seus conhecimentos em uma mistura de “cura pela fé”, teatro e hipnose,
Rasputin podia amenizar os problemas de Alexei, filho primogênito do Czar que era
hemofílico. Automaticamente ganhou o título de 'Enviado de Deus' e a confiança e
admiração de Alexandra Feodorovna, mãe do garoto, fixando assim com firmeza seus
pés sobre o tapete vermelho da aristocracia russa e abandonando de vez seus dias de
vadiagem, miséria e peregrinação.
O Monge do pecado soube aproveitar sua situação com brilhantismo, não havia decisão
importante de Nicolau II que não passasse pelo aconselhamento do “Amigo da
Família”. Sua fama espalhou-se da capital para todo o império. E figuras de autoridade
de todo o reino batiam a porta de Rasputin em busca de algum favor da realeza. De certa
forma, o maior império do século XIX passou a ser comandado por um bruxo.
À parte de sua fama como poderoso mago, Rasputin manteve a princípio uma imagem
de santidade e retidão. Mas mesmo mais tarde quando os relatórios da policia czarina
denunciaram diversas bebedeiras e libertinagem do monge, nada parecia poder abalar
seu prestígio real. Mesmo quando as cartas de amor dele com a própria Alexandra
foram tornadas públicas, nada eliminava sua poderosa influência.
Sua resistência à morte deu ainda mais força para a imagem sobrenatural que construiu
durante toda sua vida. Rasputin não foi nem santo, nem demônio, foi sim um gênio que
soube criar uma aura de ocultismo e mistério para usá-la em seu próprio benefício. Sua
figura tornou-se lendária, cruzou as fronteiras da Rússia e do tempo. Seja como símbolo
do poder sobrenatural seja como ícone da esperteza humana, sua enigmática figura
sobrevive até os dias de hoje.