APOSTILA Antropologia e Soteriologia

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

APOSTILA BÁSICA DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA


Material-guia para aulas teológicas sobre Antropologia e Soteriologia

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Prefácio

Vivemos em tempos onde a busca pelo que é místico,


transcendente, sobrenatural vêm ganhando certa popularidade
na sociedade, principalmente no meio jovem.

Numa tentativa por buscas de respostas e compreensão


acerca da vida, muitos destes, até mesmo já cristãos, têm se
deixado levar por falsos ensinos e doutrinas que prometem
alguma conexão maior ou uma espiritualidade mais vívida
durante a caminhada cristã.

Posto isso, a elaboração desse material, bem como as aulas


teológicas baseadas nele, tem como propósito resgatar certos
entendimentos essenciais sobre o verdadeiro cristianismo bíblico,
através de estudos mais profundos de doutrinas que já são tão
conhecidas por nós cristãos.

“Eu lhes digo isso para que ninguém os


engane com argumentos aparentemente
convincentes [...] Portanto, assim como
vocês receberam a Cristo Jesus, o Senhor,
continuem a viver nele, enraizados e
edificados nele, firmados na fé, como foram
ensinados, transbordando de gratidão.”

Colossenses 2:4, 5-6

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO À TEOLOGIA SISTEMÁTICA....................................Pg. 4


Teologia e seus significados...........................................................Pg. 4
Os tipos de Teologia.......................................................................Pg. 5
A teologia Sistemática....................................................................Pg. 6
A importância da Teologia.............................................................Pg. 8
2. ANTROPOLOGIA.....................................................................................Pg. 10
Definição e introdução..................................................................Pg. 10
Origem do homem.........................................................................Pg. 11
Natureza do homem......................................................................Pg. 15
Composição do homem.................................................................Pg. 23
Origem dos Espíritos individuais..................................................Pg. 28
O homem e seus relacionamentos.................................................Pg. 35
O destino final do homem.............................................................Pg. 45
3. SOTERIOLOGIA.......................................................................................Pg. 48
Definição e introdução..................................................................Pg. 48
A necessidade da salvação............................................................Pg. 49
Natureza compreensiva da salvação.............................................Pg. 53
Teorias da expiação......................................................................Pg. 58
Aspectos da obra salvífica............................................................Pg. 69

Eleição........................................................................Pg. 69

O chamado.................................................................Pg. 87

Arrependimento..........................................................Pg. 92

Fé................................................................................Pg. 94

Justificação.................................................................Pg. 97

Regeneração...............................................................Pg. 98

Santificação................................................................Pg. 99

Teorias soteriológicas...............................................Pg. 102

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................Pg. 110

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Introdução à Teologia Sistemática

1. Teologia e seus significados

O termo teologia se origina a partir da junção de duas


palavras gregas isoladas: Τέως (Deus) + λόγος (palavra; estudo).
Assim, teologia, de maneira literal e acadêmica, significa “O estudo sobre
Deus”.

Num sentido mais amplo e cotidiano, teologia é tratada como


“Qualquer pensamento que envolva Deus”. Daí a frase célebre de R.C
Sproul: “Somos todos teólogos”, afinal qualquer ser humano tem um
pensamento acerca da pessoa de Deus, desde o cristão que professa sua fé
nesse Deus, até o ateu que em sua “teologia” chega à conclusão de que esse
Deus não existe ou então que ele está morto, como dizia o filósofo
Nietzsche.

No que se diz respeito à cosmovisão cristã, Charles C. Ryrie,


renomado teólogo americano, diz que teologia é: “[...] A expressão
racional; os meios da interpretação racional da fé religiosa”, querendo
propor o fato de que todo cristão deveria buscar estudar e entender teologia,
afinal é através dela que se compreende a fé, ou o motivo de ser um cristão.

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2. Os tipos de Teologia

Pode-se catalogar diferentes tipos de teologia em três grandes


blocos:

➢ Por época: Formas de pensar sobre Deus de acordo com


certa época;
➢ Por ponto de vista: “Pacotes” ou perspectivas teológicas
estruturadas por grupos religiosos ou pensadores;
➢ Por ênfase: Quando a teologia foca em um único aspecto
sobre Deus ou em um único propósito de estudo.

Exemplos:

POR ÉPOCA POR PONTO DE VISTA POR ÊNFASE


Teologia Primitiva Teologia Arminiana Teologia Filosófica
Teologia Medieval Teologia Calvinista Teologia Apologética
Teologia Reformada Teologia Católica Teologia Sistemática
Teologia Contemporânea Teologia Barthiana Teologia Histórica

Do que fora citado acima, é importante entender pelo menos dois


(2) tipos que são praticados com maior frequência, afim de não confundir
as perspectivas teológicas e saber diferenciar o propósito de cada uma.

A. Teologia Filosófica
O estudo de tópicos teológicos mediante o emprego dos
instrumentos e métodos do raciocínio filosófico e do que se pode conhecer
acerca de Deus a partir da observação do universo. A bíblia não é tratada
como um objeto de estudo importante para essa perspectiva. A teologia
filosófica se faz bastante presente no meio científico secular, em centros de

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ensino teológico de caráter liberal e em pensamentos filosóficos


contemporâneos.

B. Teologia Bíblica
O termo teologia bíblica é bem amplo e passou por diversas
ressignificações ao longo da história. Apesar de ainda existir alguns pontos
de vista diferentes, num consenso geral, pode-se definir como teologia
bíblica aquela que adota as escrituras como seu objeto de estudo oficial,
considerando-a completamente verdadeira em todo seu conteúdo. Assim, a
teologia bíblica irá dedicar-se principalmente a prática da exegese para
compreensão do conteúdo sagrado, isto é, a análise dos textos bíblicos
dentro de seu contexto original visando aplicação nos dias de hoje.
Dentro do bloco de Teologia Bíblica, temos o nosso objeto
de estudo de interesse, a chamada Teologia Sistemática.

3. A Teologia Sistemática

Como já exposto, a Teologia Sistemática serve a Teologia


Bíblica. Enquanto a Teologia Bíblica foca na análise e interpretação
coerente dos textos bíblicos, a Teologia Sistemática visa sistematizar e
organizar as informações extraídas dos textos, formulando assim o que
chamamos de doutrinas.
É óbvio que ao tratarmos de teologia em sua amplitude nunca
obteremos uma compreensão total, afinal Deus e a bíblia estão numa
categoria divina, muito além de nossa capacidade humana de entendimento.
Porém, tudo aquilo que é compreensível será organizado pela Teologia
Sistemática, levando-nos a ao aprendizado até onde é possível.

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A Teologia Sistemática geralmente é dividida em dez (10)


grandes partes de estudo e doutrinas: Bibliologia, Teontologia, Angeologia,
Cristologia, Pneumatologia, Antropologia, Hamartiologia, Soteriologia,
Eclesiologia e Escatologia.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA

TEONTOLOGIA
BIBLIOLOGIA
O Estudo da pessoa de
O Estudo da bíblia.
Deus.

ANGEOLOGIA
CRISTOLOGIA
O Estudo dos seres
O Estudo da pessoa
celestiais.
de Jesus Cristo.

PNEUMATOLOGIA
ANTROPOLOGIA
O Estudo da pessoa do
Espírito Santo. O Estudo do homem.

HAMARTIOLOGIA SOTERIOLOGIA
O Estudo do pecado. O Estudo da salvação.

ESCATOLOGIA
ECLESIOLOGIA
O Estudo dos últimos
O Estudo da igreja.
tempos.

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4. A importância de estudar teologia

Por que os cristãos devem estudar Teologia Sistemática? Fazer o


devocional pessoal e ir aos cultos todo domingo não é suficiente?
Infelizmente, ao refletirem sobre alguma possibilidade de se aprofundar em
conhecimentos teológicos, a maioria das pessoas acaba recuando por
acharem que teologia se diz respeito só ao pastor ou seminaristas, e que ela
não é tão essencial assim para a caminhada cristã. Porém, como visto, todos
nós em certo sentido somos teólogos e estamos em constante contato com
teologia diretamente, quer você perceba ou não. Eis duas razões básicas
para estuarmos teologia:

➢ Temos uma responsabilidade para com outros:


Mateus 28:19-20

Somos ordenados pelo próprio Cristo a ensinar novos cristãos


tudo aquilo que ele ensinou. Isso inclui não apenas seus ensinos pessoais
enquanto esteve na terra, mas todo o conteúdo bíblico, afinal, ele também
sendo Deus participou ativamente da criação das escrituras. Como seremos
capazes de ensinar tudo isso se muitas vezes nós mesmos não
compreendemos? Lembrando que a Teologia Bíblica trabalha com questões
fundamentais de doutrinas, como visto no quadro acima, ou seja, os
verdadeiros alicerces da fé cristã. Ignorarmos o aprofundamento nesses
temas implica a uma desobediência e mau cumprimento da ordenança de
Cristo.

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➢ Temos uma responsabilidade pessoal:


2 Timóteo 2:15

Nesse conhecido versículo, temos mais uma ordenança, agora


feito pelo apóstolo Paulo: Devemos manejar bem a palavra de Deus. Isso
implica em um conhecimento profundo de tudo aquilo que ela nos ensina.
Como Ryrie pensava, em sua frase que fora exposta no começo
da apostila, entender teologia é entender como a fé funciona. Muitos
cristãos não sabem dizer o motivo pelo qual creem em certas doutrinas ou
até mesmo o porquê são cristãos. Isso é muito comum naqueles que
cresceram em igrejas, vieram de famílias evangélicas de berço e se
acostumaram com toda liturgia e a maneira de ser um cristão por convívio e
tempo. O perigo desse estado é quando algum desses tem sua fé
confrontada por alguém ou então por alguma situação da vida e quando
menos espera encontra-se confuso e abalado em suas crenças.
A partir deste ponto começaremos a estudar cada parte divisória
da Teologia Sistemática de maneira separada e mais profunda.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus


e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção e para a instrução na
justiça, para que o homem de Deus seja
apto e plenamente preparado para toda
boa obra.”

2 Timóteo 3:16-17

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Antropologia

1. Definição e introdução

Assim como a palavra “Teologia”, o significado de


“Antropologia” também deriva de da junção de dois termos
gregos, ἄνθρωπος (homem) + λόγος (palavra, estudo). Logo, de uma
maneira geral, antropologia se diz respeito ao estudo do homem, do ser
humano.
Para a teologia, os seguintes aspectos são considerados relevantes
na ampla dimensão de possiblidades de discussão acerca da vida humana:

➢ O homem e sua criação original;


➢ O homem e sua natureza original;
➢ O homem e sua posição na criação;
➢ O homem e seus relacionamentos;
➢ O homem e a queda;
➢ O homem e o pecado;
➢ O homem e seu destino final.

Todos esses aspectos que envolvem o homem e a teologia serão


estudados em seis (6) blocos:

A. Origem do homem;

B. Natureza do homem;

C. Composição do homem;

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D. Origem dos espíritos individuais;


E. O homem e seus relacionamentos
F. O destino final do homem.

O termo “homem”, principalmente nessa seção sobre


antropologia, sempre estará fazendo alusão à humanidade em geral, já que
o interesse do estudo antropológico não é de caráter individual, mas sim
coletivo. Como pode ser observado, durante o estudo será possível
responder as questões cruciais da vida humana: “De onde vim? o que sou?
para onde vou?”.

2. A origem do homem

A. Sua criação no Antigo Testamento:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e


soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito
alma vivente”. Gênesis 2:7
Esse pequeno versículo de Gênesis carrega em si muito
conteúdo acerca da origem da vida humana:

➢ Os verbos “Formou” e “Soprou”: A construção


gramatical empregada no uso desses verbos nessa
passagem sugere uma ação iminente, uma atividade
imediata. A gramática hebraica possui modos verbais para
indicar ações contínuas ou processos, e, mesmo assim,

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esses modos não são empregados na narrativa da origem


da vida humana.

➢ “E o homem foi feito alma vivente”: O homem


não teve seu corpo desenvolvido para receber uma alma.
As ações de formação corporal e do fôlego da vida foram
simultâneas, resultando numa criatura viva.

➢ “Do pó da terra [...]”: O homem teve sua origem


do pó, e não de formas de vida menos desenvolvidas.

“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o


criou; homem e mulher os criou”. Gênesis 1:27

Outro conhecido versículo que narra a origem da vida


humana, trazendo consigo também, algumas verdades:

➢ “Criou Deus o homem à sua imagem [...]”: Fomos


criados baseados em Deus. Isso significa que tudo o que
possuímos em nossa composição, exceto aquilo que o
pecado distorceu, Deus também possui, como inteligência,
sentimentos, capacidade de se comunicar e etc, mas claro,
que em proporções divinas. Vale lembrar que Deus possui
de maneira exclusiva alguns atributos, ou seja,
características que não foram transmitidas a nós, como
onipotência, santidade, onipresença, onisciência e etc.

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➢ “Homem e mulher os criou”: Deus não colocou


almas “macho” e “fêmea” em corpos separados pré-
existentes. Ao invés disso, criou a mulher a partir do
homem.

B. Sua criação no Novo Testamento:

“Nem toda carne é a mesma: os homens têm uma espécie


de carne, os animais têm outra, as aves outra, e os peixes
outra”. 1 Coríntios 15:39
Esta passagem nega totalmente a possibilidade de algum
tipo de evolucionismo, quer seja a teoria original ou o
evolucionismo teísta, afinal ela mostra que não há nenhuma
ligação hereditária nem genética entre os animais e o homem.

“Pois, assim como a mulher proveio do homem, também o


homem nasce da mulher. Mas tudo provém de Deus”. 1
Coríntios 11:12
Uma passagem do Novo Testamento que mostra
claramente o relato da criação humana em Gênesis.

“Ele respondeu: ‘Vocês não leram que, no princípio, o


Criador ‘os fez homem e mulher”. Mateus 19:4
A prova neotestamentária de que Cristo cria no relato de
Gênesis acerca da criação humana de maneira literal.

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“De um só fez ele todos os povos, para que povoassem


toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente
estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar”.
Atos 17:26
A raça humana inteira descendeu deste casal original
através da geração natural. A única exceção seria Cristo, cuja
alma não fora criada, já preexistia: “O primeiro homem era
do pó da terra; o segundo homem, do céu”. 1 Coríntios 15:47

DÚVIDA FREQUENTE: Como se deu a continuação ou


descendência da raça humana após Caim ter matado Abel?

“Caim teve relações com sua mulher, e ela engravidou e


deu à luz Enoque. Depois Caim fundou uma cidade, à qual
deu o nome do seu filho Enoque”. Gênesis 4:17
A dúvida é simples de entender: Quem é a mulher de
Caim, se até então somente as existências de Adão, Eva, Abel
e do próprio Caim haviam sido relatadas?

“Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança,


conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete. Depois
que gerou Sete, Adão viveu 800 anos e gerou outros filhos e
filhas”. Gênesis 5:3, 4
Este trecho bíblico nos informa de que Adão e Eva, após o
nascimento de Sete, geraram outros filhos e filhas. Isso indica
que já haviam filhas, antes do nascimento de Sete. Moisés, ao
escrever esse relato da descendência, decide ocultar as filhas

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do primeiro casal para focar na história dos dois primeiros


irmãos e na figura masculina. Ao seguir o relato da genealogia
de Caim e Sete, todas as mulheres são ocultadas também.
Assim, a conclusão que se chega é que tanto Caim quanto
Sete casaram-se com uma de suas irmãs, dando assim
continuidade à raça humana. Tal união era possível pelo fato
do casal original ter um material genético perfeito, além do
fato de que a proibição divina do relacionamento entre irmãos
só foi ordenada a partir de Levítico capítulo 18. Vale lembrar
que Abraão e Sara eram meio irmãos, outro exemplo próximo
desse tipo de relação.

3. A natureza do Homem

O homem é formado de aspectos materiais (físicos, como o


corpo, por exemplo) e imateriais (abstratos, como a alma, por exemplo).

A. Aspectos materiais:
O corpo humano e toda sua matéria são extremamente
importantes para Deus
“Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago
para os alimentos, mas Deus destruirá ambos. O corpo,
porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o
Senhor para o corpo. Por seu poder, Deus ressuscitou o
Senhor e também nos ressuscitará. Vocês não sabem que os
seus corpos são membros de Cristo? Tomarei eu os membros
de Cristo e os unirei a uma prostituta? De modo nenhum!
Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é
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um corpo com ela? Pois, como está escrito: ‘Os dois serão
uma só carne’. Mas aquele que se une ao Senhor é um
espírito com ele. Fujam da imoralidade sexual. Todos os
outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete;
mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio
corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do
Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por
Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram
comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com
o corpo de vocês”. 1 Coríntios 6:13-20

➢ O nossos corpos são dedicados a Deus


Verso 13
➢ Os nossos corpos são membros de Cristo
Verso 15
➢ Os nossos corpos são santuário do Espírito
Verso 19
➢ Os nossos corpos tem uma função importantíssima
Verso 20

Esses ensinamentos bíblicos vão totalmente à contramão da


conhecida filosofia grega e do pensamento hedonista moderno.

A filosofia grega ensina que o corpo é a fonte do mal. Também


os gregos ensinavam que o corpo físico era a “cadeia da alma” e que o
estado desincorporado da alma era o ideal. Ao invés disso, a bíblia ensina
que o corpo é essencial para a humanidade completa do homem. A bíblia
mostra que a alma humana sem seu corpo fica num estado de “nudez” do
qual o seguidor de Deus deseja ser tirado.

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“Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena


em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no
céu, não construída por mãos humanas. Enquanto isso, gememos,
desejando ser revestidos da nossa habitação celestial, porque, estando
vestidos, não seremos encontrados nus. Pois, enquanto estamos nesta casa,
gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas
revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja
absorvido pela vida”. 2 Coríntios 5:1-4

B. Aspectos imateriais:
O homem foi criado “à imagem” e “conforme a
semelhança” de Deus. Isso lhe confere algumas características
imateriais ou abstratas, por conta de sua “herança” divina.
“Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda
a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem
rente ao chão’. Criou Deus o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Gênesis
1:26-27

“Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela


amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”.
Tiago 3:9

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➔ Implicações e significado de “imagem” e “semelhança”

São termos complementares. O termo “imagem” no Antigo


Testamento foi empregado para indicar uma representação,
quer abstrata ou concreta. Já a palavra “semelhança” enfatiza
o aspecto de similaridade. Logo, pode-se afirmar que o
homem é uma representação similar de Deus, não
completamente igual e nem distante também. Com a
combinação dos dois termos, as Escrituras comunicam o
conceito dos atributos pessoais, morais e espirituais de Deus
que o homem também possui:

➢ Deus é pessoal (literalmente três pessoas): O


homem, feito a imagem e semelhança de Deus,
também é uma pessoa. Eis a principal diferença
entre o homem e os animais, que foram criados por
Deus, mas não à imagem dele.

➢ Deus é eterno: O homem, feito a imagem e


semelhança de Deus, também é imortal. Embora sua
vida tenha início, ela não tem um fim definitivo.

➢ Deus tem orientação perfeitamente moral: O


homem, feito a imagem e semelhança de Deus,
também possui uma certa orientação moral embutida
nele na forma de consciência, que lhe dá o sentido
de obrigação moral.

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“De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam


naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não
possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em
seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os
pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso tudo se verá
no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo,
conforme o declara o meu evangelho”. Romanos 2:14-16

➔ A extensão do efeito da imagem de Deus

Todos os homens, não somente os salvos, possuem a


imagem de Deus. A imagem de Deus numa pessoa não
significa a salvação, nem o estado de ser filho de Deus. Sua
implicação diz respeito apenas à natureza do homem, que é
igual em toda humanidade. A procriação natural trasmite dos
pais para os filhos automaticamente a imagem e semelhança
de Deus.

“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu


nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os
quais não nasceram por descendência natural, nem pela
vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas
nasceram de Deus”. João 1:12-13

“Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança,


conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete”. Gênesis
5:3

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➢ O homem foi o ápice da criação: A criação do


homem “à imagem e semelhança de Deus” foi a
culminação do ato criativo de Deus. Todas as outras
criaturas e plantas foram preparatórios e
subordinados ao homem, tendo este domínio sobre
tudo que há na terra.

“Deus os abençoou, e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-


se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre
as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”. Gênesis
1:28

➢ O homem tem grande valor aos olhos de Deus: O


homem é a criatura mais preciosa diante dos olhos
de Deus

“Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue


será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado”. Gênesis
9:6

“Ele lhes respondeu: ‘Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela


cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Quanto mais
vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no
sábado”. Mateus 12:11-12

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C. O efeito da queda na natureza do homem:


Com o pecado e, consequentemente, a queda do homem, a
imagem e semelhança de Deus na humanidade foi
desfigurada. Porém, mesmo desfigurada, a imagem e
semelhança de Deus não foi obliterada.
Depois da queda, Adão e Eva ainda eram seres com
personalidade, consciência, sensibilidade moral e etc. Mas a
queda prejudicou a comunhão entre Deus e o homem. Por
isso, é necessário um processo de renovação para restaurar a
comunhão entre Deus e suas criaturas pessoais. Isto só é
possível através da graça de Deus na salvação/regeneração.
Outro efeito, também, foi a mortalidade do corpo atribuída
ao homem, bem como os efeitos degenerativos do pecado
nele, tais como doenças, mutações genéticas, sofrimento e
dor, e etc.

➢ O homem tornou-se incapaz de se relacionar a Deus


por vontade própria.
➢ O homem tornou-se incapaz de fazer aquilo que
agrada a Deus por vontade própria.

“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos


quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e
o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem
na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles,
satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e
pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira”.
Efésios 2:1-3

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➔ Pela obra de Cristo, inicia-se o processo de


renovação da plena imagem e semelhança de Deus no
homem, o que é chamado de santificação.

“Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do


velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo
renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador”. Colossenses 3:9-
10

“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a


despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a
serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado
para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da
verdade”. Efésios 4:22-24

➢ O processo só terminará quando formos glorificados

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se


manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”. 1 João
3:2

➢ A encarnação de Cristo só foi possível porque Deus criou


o homem à sua imagem e semelhança

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“Por essa razão era necessário que ele se tornasse semelhante a


seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo sacerdote
misericordioso e fiel com relação a Deus e fazer propiciação pelos
pecados do povo”. Hebreus 2:17

4. A composição do homem

O estudo da composição do homem refere-se aos elementos


cruciais que compõe uma vida humana. Há basicamente duas posições
sobre esta doutrina:
➢ Dicotomia;
➢ Tricotomia.

A posição da dicotomia vai defender que o homem é composto


de duas partes: a parte física e a parte espiritual, ou, em outros termos, a
parte material e imaterial.

De outro lado, a posição tricotomista vai alegar que o ser humano


é composto de três partes: O corpo, a alma e o espírito (uma parte material
e duas imateriais).

A grande questão em torno dessa discussão é a definição dos


conceitos de “alma” e “espírito”.

A. A posição dicotomista:
Como já exposto, o dicótomo é aquele que vai alegar que a
composição do homem se dá em duas partes: física e
espiritual. Veremos os argumentos utilizados pelos defensores
de cada uma das teorias.
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➔ Argumentos favoráveis

➢ Qualquer uma das palavras (alma ou espírito) pode indicar


o aspecto imaterial inteiro do homem.

“Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem
matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma
como o corpo no inferno”. Mateus 10:28

“E está dividido. Tanto a mulher não casada como a virgem


preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no
espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como
agradar seu marido”. 1 Coríntios 7:34

➢ Qualquer uma das palavras (alma ou espírito) pode indicar


o homem imaterial desincorporado (morto).

“Tendo-o provado, Jesus disse: ‘Está consumado! ’ Com isso,


curvou a cabeça e entregou o espírito.” João 19:30

“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas


daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do
testemunho que deram”. Apocalipse 6:9

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O ponto fraco da dicotomia parece ser uma versão “resumida” do


que seria a parte imaterial de fato no ser humano. Apesar e focarem nos
termos alma e espírito, muitos dicótomos não sabem dizer a extensão e o
que englobaria a parte imaterial humana.

B. A posição tricotomista:

Como também já dito, tricótomo é aquele que acredita que


o homem é composto de três partes: Corpo, alma e espírito. O
corpo seria a parte material, a matéria humana, enquanto a
alma seria aquilo tratado corriqueiramente na bíblia como o
intelecto, que gera emoções e sentimentos, volição e etc. e o
espírito o que conecta o homem à Deus. Logo a tricotomia
implica numa distinção entre os termos alma e espírito.

➔ Argumentos favoráveis

➢ A bíblia enumera separadamente as partes do homem


numa lista

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que


qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do
coração”. Hebreus 4:12

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“Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo


o espírito, alma e corpo de vocês seja conservado irrepreensível na vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo”. 1 Tessalonicenses 5:23

➢ O argumento lógico: O homem é composto de três partes


porque ele foi criado à imagem e semelhança do Deus
triuno.

➔ Argumentos desfavoráveis

➢ Em certos textos, as palavras “alma” e “espírito” são


palavras paralelas, quer dizer, duas palavras que têm
significado iguais, usadas só pra reforçar um conceito

“Então disse Maria: ‘Minha alma engrandece ao Senhor e o


meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, [...]”. Lucas 1:46-47

➢ Há um problema com o argumento principal da tricotomia


amparado na lista de três partes, pois existem outras
passagens que trazem outras listas de três partes.

“Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu


coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”. Mateus 22:37

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua


alma e de todas as suas forças”. Deuteronômio 6:5

C. Outras posições:

➢ Policotomia: Essa posição diz que o homem possui várias


partes de composição, como por exemplo: corpo, alma,
espírito, intelecto, coração (como fonte da vida) e etc...
Não há apoio bíblico convincente para esta posição e ela
quase não é considerada pelos estudiosos.

➢ Monismo: O Monismo vai na contramão de todas as outras


teorias de composição do homem. Isso se dá pelo fato de
que todas as posições vistas até aqui consideram o ser
humano como um ser complexo, composto de duas ou
mais partes pelo menos. O Monismo enxerga o homem
como sendo uma só parte, uma única constituição, não
havendo diferenciação em nada. Os argumentos dessa
posição baseiam-se principalmente no texto de Gênesis
2:7, no vocábulo SER (vivente), indicando o homem como
um ser. Há alguns estudos profundos também no
significado da palavra “σώμα”, que significa “corpo” ou
“carne”, utilizada frequentemente por Paulo no que parecer
ser um significado exclusivo; além de estudos na parábola
do rico e do Lázaro.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

5. Origem dos Espíritos Individuais

Essa parte do estudo da Antropologia tem como objetivo


entender a natureza da origem dos espíritos individuais humanos, ou, em
outras palavras, da alma do homem. Existem basicamente três teorias que
procuram responder de maneiras diferentes essa questão, como veremos a
seguir.

A. A teoria da pré-existência dos espíritos


Essa teoria defende que todos os espíritos dos homens já
têm uma história antes da sua encarnação, que se dá no
momento da concepção física. Ou seja, toda vida já existe em
algum lugar esperando apenas a formação de seu corpo para
habitar.
Esse pensamento é presente na doutrina católica e também
nas religiões que creem em reencarnações progressivas, como
as religiões orientais.
Porém, há algumas dificuldades com esse pensamento:

➢ Onde os espíritos estão guardados?


➢ Existem pessoas agora aguardando um corpo?
➢ Qual o tipo de existência?
➢ Textos bíblicos?

➢ Esta posição permite a doutrina de atividade


espiritual do homem antes da existência física:

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Orígenes elaborou uma teoria de que certos homens sofrem mais


do que outros na vida terrena por terem pecados cometidos por seus
espíritos antes da sua encarnação!

“Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. Seus discípulos lhe


perguntaram: ‘Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele
nascesse cego? ’ Disse Jesus: ‘Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto
aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele”.

João 9:1-3

➢ Essa posição destrói a unidade da raça


humana em Adão:

Todos nós somos pecadores por sermos descendentes de Adão.


Se não procedemos de Adão verdadeiramente, então podemos nos isentar
da penalidade do pecado.

B. A teoria da criação dos espíritos


Diferentemente da primeira teoria, esta em questão diz que
a criação do espírito humano é uma obra feita em conjunto
pelos pais e por Deus. Enquanto os pais seriam os
responsáveis pela criação do corpo no momento da
concepção, Deus também criaria o Espírito individual nesse
momento. Aqui estão os argumentos utilizados pelos

29
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

criacionistas, como são chamados os promulgadores dessa


ideia:

➢ Certos textos bíblicos aparentam indicar que


Deus cria o espírito do homem
individualmente:

“Esta é a palavra do Senhor para Israel. Palavra do Senhor, que


estende os céus, assenta o alicerce da terra e forma o espírito do homem
dentro dele [...]”. Zacarias 12:1

“O pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus,


que o deu.” Eclesiastes 12:7

O problema é que esta linguagem é semelhante a de Gênesis 2:7 -


“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas
narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”- Linguagem
esta que mostra o ato original da criação do homem, material e imaterial,
de uma vez.

Também há outras passagens que mostram a atividade de Deus


na formação do corpo do homem, o que essa teoria nega. Veja os
versículos:

“Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer,


eu o separei e o designei profeta às nações”. Jeremias 1:5

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha


mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas
obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não
estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido
como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos
os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de
qualquer deles existir.” Salmos 139:13-16

Sem dúvida, tudo existe pela atividade divina. Deus supervisiona


a formação do homem, tanto corpo como espírito.

➢ O argumento cristológico

Os criacionistas não aceitam a ideia de que o espírito pode


também, ser gerado pela procriação natural, pelos pais. Na opinião deles, se
isso fosse possível, Cristo teria herdado um espírito depravado de seus pais.

Porém, essa lógica gera dois grandes problemas:

➔ De onde então provém a fonte de nossa depravação?


Como vimos na doutrina dos efeitos da queda do homem, a
humanidade após a queda de Adão adquiriu um status de
depravação, de pecado. Se não descendemos de Adão (como
os criacionistas creem) porque Deus é quem nos cria no
momento da concepção, então de onde vem nosso pecado?
Dessa maneira teríamos de culpar a Deus por criar um espírito
pecaminoso.
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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➔ Será que Deus criou o espírito de Cristo na encarnação?


Seguindo o raciocínio criacionista, Deus teria que ter
criado um novo espírito para Cristo, que sabemos ser pré-
existente e eterno. Porém cristo não era duas pessoas, a que já
existia e a humana, mas sim o mesmo.

C. A Teoria traducionista
A teoria traducionista acredita que tanto os corpos
humanos como seus espíritos entram na existência individual
através do processo de procriação natural. Eis alguns
argumentos:

➢ Há versículos bíblicos que indicam a


formação tanto da parte material quanto da
parte imaterial do homem:

“Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança,


conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete.” Gênesis 5:3

“Todas as almas que vieram com Jacó ao Egito, que saíram dos
seus lombos, fora as mulheres dos filhos de Jacó, todas foram sessenta e
seis almas.” Gênesis 46:26

“E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar


sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e
os limites da sua habitação”. Atos 17:26

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Alguns efeitos desta doutrina:

➢ Mostra que a depravação é um efeito desde a


concepção e não adquirido

O criacionista tem que aceitar a depravação como uma


característica adquirida depois do nascimento, se não, Deus seria o
responsável por nosso pecado.

“Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles,


satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e
pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.”
Efésios 2:3

Apoiando o pensamento traducionista, a confissão de fé de


Westminster também diz:

I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de


Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo
conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo
determinado ordená-lo para a sua própria glória.

II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da


comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e
inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e
da alma.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus


pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem
como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua
posteridade, que deles procede por geração ordinária.

IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente


indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal,
é que procedem todas as transgressões atuais.

V. Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida,


naqueles que são regenerados; e, embora seja ela perdoada e mortificada
por Cristo, todavia tanto ela, como os seus impulsos, são real e
propriamente pecado.

VI. Todo o pecado, tanto o original como o atual, sendo


transgressão da justa lei de Deus e a ela contrária, torna, pela sua própria
natureza, culpado o pecador e por essa culpa está ele sujeito à ira de Deus e
à maldição da lei e, portanto, exposto à morte, com todas as misérias
espirituais, temporais e eternas.

➢ A concepção virginal de Cristo só faz sentido


do ponto de vista traducionista

Ora, se a alma é criada a partir da concepção dos pais também, o


nascimento de Cristo precisou ser virginal para intervir nos resultados
naturais.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

6. O homem e seus relacionamentos

Durante o estudo do homem e seus relacionamentos, vamos ver


natureza das relações e as maneiras que Deus espera que nos relacionemos.

Todos sabem que o homem foi criado como um ser relacional,


visto a necessidade de uma mulher pra ser sua auxiliadora, bem como dos
animais da criação para lhe ter um tipo de relacionamento também. O fato
do homem ser relacional tem muito a ver com sua criação à imagem e
semelhança com um Deus também relacional.

Posto isso, todos os homens da terra são possuídos dessa mesma


humanidade. Mas a sociedade nem sempre valoriza todos os homens
igualmente. A sociedade comumente mostra preconceito nas seguintes
áreas:

➢ Racial

Todas as nações em todas as épocas têm demonstrado


preconceitos em relação à raças diferentes. Alguns exemplos são os
preconceitos étnicos do povo ioguslávio contra os mulçumanos, as tensões
entre palestinos e judeus, as guerras entre tribos da Rwanda e a história dos
escravos negros das Américas.

Neste último caso, nos anos 1800 haviam diversas defesas


“bíblicas” dadas por brancos cristãos para justificar a escravidão. Eles
diziam que a raça negra era amaldiçoada por Deus, por ser a provável cor
predominante dos inimigos de Israel; Também diziam que a raça negra não
havia entrado na arca de Noé, sendo comparados com os animais; Ou então

35
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

que eles não eram tão humanos como outras raças. Porém, a vida de Cristo
mostrou que este não fazia acepções raciais:

“E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam:


Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Mas eu
vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à
mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; E os filhos do reino
serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de
dentes.” Mateus 8:10-12

“E, levantando-se dali, foi para os termos de Tiro e de Sidom. E,


entrando numa casa, não queria que alguém o soubesse, mas não pôde
esconder-se; Porque uma mulher, cuja filha tinha um espírito imundo,
ouvindo falar dele, foi e lançou-se aos seus pés. E esta mulher era grega,
siro-fenícia de nação, e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio.
Mas Jesus disse-lhe: Deixa primeiro saciar os filhos; porque não convém
tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, porém, respondeu,
e disse-lhe: Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da
mesa, as migalhas dos filhos. Então ele disse-lhe: Por essa palavra, vai; o
demônio já saiu de tua filha. E, indo ela para sua casa, achou a filha
deitada sobre a cama, e que o demônio já tinha saído.” Marcos 7:24-30

Outras provas estão na genealogia de Cristo, que inclui Raabe e


Rute, ambas gentias.

Os apóstolos também dão testemunho conta acepção de pessoas e


racial:

“Então Pedro começou a falar: ‘Agora percebo verdadeiramente


que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações
aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo.” Atos 10:34-35

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Portanto, lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios


por nascimento e chamados incircuncisão pelos que se chamam
circuncisão, feita no corpo por mãos humanas, e que naquela época vocês
estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo
estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus
no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe,
foram aproximados mediante o sangue de Cristo. Pois ele é a nossa paz, o
qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade.”

Efésios 2:11-14

“[...] e eles cantavam um cântico novo: ‘Tu és digno de receber


o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue
compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os
constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a
terra”.

Apocalipse 5:9-10

➢ Sexual

A história do mundo nos mostra que em vários momentos


históricos as mulheres sofreram preconceitos. Mas no início, Deus mostra
que diante Dele a mulher e o homem são iguais, ambos foram feitos a
imagem e semelhança Dele. A bíblia deixa claro essa equivalência de
ambos nos seguintes momentos:

37
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

a. Na criação do homem

O homem precisava de uma auxiliadora para dividir com


ele sua missão no jardim e para se relacionar, alguém que
fosse como ele.

“Então o Senhor Deus declarou: ‘Não é bom que o homem esteja


só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda.”

Gênesis 2:18

A referência à mulher como ajudadora ou auxiliadora do


homem, sempre causou muito polêmica no meio cristão. Ora
homens utilizavam essa passagem pra exigir alguma
superioridade em relação às mulheres, ora algumas mulheres
usavam para acusar a bíblia ou até mesmo Deus de algum tipo
de discriminação ou inferiorização. Porém, esse termo, ao
invés de significar que ela é inferior, indica sua cooperação
lado ao lado do homem, correspondente a ele não só em
natureza, mas em missão também.

b. No ministério de Cristo

A posição religiosa e cultural da época de Jesus era um


tanto quanto preconceituosa com as mulheres. Mulheres não
eram bem vistas quando participavam intensamente de

38
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

atividades religiosas ou ministérios, além de serem


consideradas inferiores ao homem em essência.
Em contraste com esse pensamento, Jesus tinha em seu
ministério diversas mulheres envolvidas. Seu próprio
nascimento havia sido abençoado por Maria, Isabel e Ana.
Jesus conversava com mulheres, curava mulheres, foi ungido
por uma mulher e até mesmo ficou admirado com a fé de uma
mulher! Além de ter se revelado primeiramente a uma mulher
ao ressuscitar e ter sua linhagem messiânica advinda de uma
mulher também.

c. Na avaliação de Paulo

Mesmo que Paulo coloque certas limitações sobre o papel


da mulher na igreja (1 Timóteo 2:11-15), é evidente que ele
não faz distinção entre os gêneros quando se trata de essência
e importância diante de Deus:

“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus,


pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há
judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são
um em Cristo Jesus.”

Gálatas 3:26-28

Isso também não impede as mulheres de trabalharem


intensamente nas igrejas e serem usadas por Deus para
expansão de seu Reino:

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja


que está em Cencréia, para que a recebais no Senhor, como convém aos
santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitardes; porque tem
hospedado a muitos, como também a mim mesmo. Saudai a Priscila e a
Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus, Os quais pela minha vida
expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também
todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em sua casa.
Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Acáia em Cristo.
Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós. Saudai a Andrônico e a
Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se
distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo.
Saudai a Amplias, meu amado no Senhor. Saudai a Urbano, nosso
cooperador em Cristo, e a Estáquis, meu amado. Saudai a Apeles,
aprovado em Cristo. Saudai aos da família de Aristóbulo. Saudai a
Herodião, meu parente. Saudai aos da família de Narciso, os que estão no
Senhor. Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalham no Senhor.
Saudai à amada Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor. Saudai a Rufo,
eleito no Senhor, e a sua mãe e minha. Saudai a Asíncrito, a Flegonte, a
Hermes, a Pátrobas, a Hermas, e aos irmãos que estão com eles. Saudai a
Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a todos os santos
que com eles estão.” Romanos 16:1-15

Além desses inúmeros exemplos citados apenas nesse trecho por


Paulo, também devemos pensar em outros exemplos mais conhecidos,
como Lóide, Dorcas, Esther, Rute e Noemi e outras tantas, além dos

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

exemplos atuais que temos quando se trata de dedicação e amor ao serviço


do Senhor.

➢ Classes sociais:

A bíblia sempre inclui o pobre em suas leis e significado de


justiça.

a. Na lei mosaica

A lei fez várias provisões para proteger os pobres e para


sustentá-los. Havia o ano sabático, certos dízimos para os
pobres e o mandamento para deixar os restos das ceifas para
os pobres.

“Guarda-te, que não haja palavra perversa no teu coração,


dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu
olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele
clame contra ti ao Senhor, e que haja em ti pecado.”

Deuteronômio 15:9

“Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no


mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita
(pois nem parte nem herança têm contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a
viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para
que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos
fizerem.” Deuteronômio 14:28-29

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Quando também fizerdes a colheita da vossa terra, o canto do


teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua
sega. Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos
caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o
Senhor vosso Deus.”

Levítico 19:9-10

b. No ministério de Jesus

Cristo era oriundo de uma família pobre, visto o sacrifício


que sua mãe ofereceu para agradecer seu nascimento. Ele
também advertia contra o perigo das riquezas.

“Quando se completarem os dias da sua purificação pelo


nascimento de um menino ou de uma menina, ela trará ao sacerdote, à
entrada da Tenda do Encontro, um cordeiro de um ano para o holocausto
e um pombinho ou uma rolinha como oferta pelo pecado. Ele os oferecerá
ao Senhor para fazer propiciação por ela, que ficará pura do fluxo do seu
sangramento. Essa é a regulamentação para a mulher que der à luz um
menino ou uma menina. Se ela não tiver recursos para oferecer um
cordeiro, poderá trazer duas rolinhas ou dois pombinhos, um para o
holocausto e o outro para a oferta pelo pecado. Assim o sacerdote fará
propiciação por ela, e ela ficará pura”.

Levítico 12:6-8

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Completando-se o tempo da purificação deles, de acordo com a


Lei de Moisés, José e Maria o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao
Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: ‘Todo primogênito do sexo
masculino será consagrado ao Senhor’) e para oferecer um sacrifício, de
acordo com o que diz a Lei do Senhor: "duas rolinhas ou dois pombinhos”.

Lucas 2:22-24

“E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor,
seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm
covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde
reclinar a cabeça.”

Lucas 9:57-58

“Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão


dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os
discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a
falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas,
entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma
agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.”

Marcos 10:23-25

c. Na visão de Tiago

Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel


de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

sórdido traje, E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe


disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre:
Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, Porventura não
fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus
pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus
aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que
prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não
vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura não
blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado? Todavia, se
cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como
a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis
pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.”

Tiago 2:2-9

d. Os pobres em provérbios

No livro de provérbios, Deus atua como advogado dos


pobres; aqueles que mostram generosidade para com eles
serão recompensados com a generosidade de Deus, enquanto
aqueles que ignoram o clamor dos pobres também serão
ignorados por Deus.

“Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, ele lhe


pagará o seu benefício.” Provérbios 19:17

“O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo


também clamará e não será ouvido.” Provérbios 21:13

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Vale mais ter um bom nome do que muitas riquezas; e o ser


estimado é melhor do que a riqueza e o ouro.” Provérbios 22:1

“Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o


perverso de lábios e tolo.” Provérbios 19:1

7. O destino final do homem

Esse tema será muito debatido também na parte de “Soteriologia”


da apostila, porém, para fins de concluir a parte de antropologia, será feito
um breve comentário acerca desse evento.

Quando se trata de destino do homem, há uma passagem bíblica


básica que deixa bem claro o que ocorrerá:

“Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma


só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também Cristo foi oferecido
em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá
segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o
aguardam.”

Hebreus 9:27-28

Essa passagem, ao ser analisada, nos traz algumas implicações


claras.

➢ O homem só morre uma vez

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Todos sabemos que todos os seres humanos um dia morrem.


Acontece que muitas religiões, principalmente as de cunho oriental,
sugerem que após a morte o homem pode reencarnar em um novo tipo de
vida e iniciar um novo ciclo, conceito este conhecido como reencarnação
progressista. A bíblia é clara ao tratar que o homem só vive e morre uma
única vez.

“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o


deu.” Eclesiastes 12:7

➢ Depois disso, vem o juízo de Deus

O autor aqui nos diz que após a morte, enfrentaremos em seguida


o juízo de Deus.

Existe um pensamento muito comum também, geralmente


defendido por aqueles que não compactuam com religião alguma de que a
morte representa o fim, e não acontece nada depois. A existência humana
simplesmente acaba. A bíblia nos deixa claro que após a morte, na verdade,
inicia-se uma nova etapa de vida, que difere de acordo o julgamento de
Deus perante o crente e o incrédulo no sacrifício de seu filho. É bom
ressaltar também que muitos cristãos acreditam que após a morte
entraremos num estado de “sono profundo”, aguardando alguns eventos
escatológicos ocorrerem para então despertados desse sono. Na verdade,
logo após a morte passaremos por esse juízo divino e estaremos na
presença de Deus, desfrutando de sua glória e aguardando os eventos
escatológicos citados.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Jesus Cristo já cumpriu uma obra de salvação


e virá completá-la

Jesus Cristo morreu uma única vez para nos possibilitar a


salvação e reconciliação com Deus pai. Sua segunda vinda refere-se à obra
de reinado, e não sacerdotal. Aqueles que creram durante sua vida terrena
no sacrifício feito por Jesus e foram alcançados por meio dessa
reconciliação, terão como destino final a vida eterna no céu, enquanto
aqueles que permaneceram incrédulos e indiferentes ao sacrifício
messiânico, terão como destino final a vida interno no inferno.

“Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho


finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também
um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta
daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do
rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o
mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu
também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em
tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando,
disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que
molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou
atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que
recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é
consolado e tu atormentado.”

Lucas 16:19-25

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Soteriologia

1. Definição e introdução

O bloco da teologia sistemática denominado “Soteriologia” tem


como objeto principal de estudo a salvação e seus derivados. A palavra
origina-se também do grego, do vocábulo Σωτηρία, que significa
redenção, ou então, salvação.

Costuma-se dividir o estudo soteriológico em quatro (4) pontos


cruciais:

a. A necessidade da salvação
b. Natureza compreensiva da salvação
c. Teorias da expiação
d. Aspectos da obra salvífica

Para nosso estudo seguiremos este escopo passo a passo,


procurando um aprofundamento em cada tópico e questão subjacente, afim
de se chegar a um entendimento claro desse assunto que é tão polêmico e
debatido na história da igreja cristã.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

2. A necessidade da salvação

Entender a necessidade da salvação é o ponto de partida para


aquele que procura obter uma boa compreensão soteriológica. Durante a
discussão desse aspecto, o tema principal a ser analisado refere-se às
questões corriqueiras “Por que o homem precisa de salvação?” e “Qual é a
situação do homem perante Deus para que essa necessidade se confirme?”.
Algumas afirmações bíblicas podem ser feitas ao refletirmos sobre essas
questões:

a. O homem é cego espiritualmente

O homem natural (não salvo) não consegue compreender


ou entender as coisas espirituais, pois está cego
espiritualmente.

“Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão


perecendo é que está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento
dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo,
que é a imagem de Deus.”

2 Coríntios 4:3-4

49
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

b. O homem é perdido espiritualmente

Todo homem já nasce com uma sentença de morte e


perdição eterna sobre si.

“Com labareda de fogo, tomando vingança dos que não


conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, longe da
face do Senhor e da glória do seu poder [...]”.

2 Tessalonicenses 1:8-9

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.”

João 3:16

“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está
condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”

João 3:18

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não
crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.”

João 3:36

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

c. O homem está morto espiritualmente

A bíblia compara o estado espiritual do homem natural


como alguém que está morto.

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro


tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência;
Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é
riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele
e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus [...].”

Efésios 2:1-6

d. O homem está sob domínio do pecado e de Satanás

O homem natural não é livre como muitos críticos da


religião afirmam. Pelo contrário, aqueles que não são
regenerados são escravos de sua própria natureza pecaminosa
e de Satanás.

51
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:


adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades,
porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios,
bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos
declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus.”

Gálatas 5:19-21

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que
o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.”

Romanos 6:6

“Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno.”

1 João 5:19

e. Conclusão: O homem natural, sem a ação de Deus em sua


vida, fica totalmente sem esperança no que se refere à
salvação

“Portanto, lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios


por nascimento e chamados incircuncisão pelos que se chamam
circuncisão, feita no corpo por mãos humanas, e que naquela época vocês
estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo
estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus
no mundo.” Efésios 2:11-12

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”
Efésios 2:8-9

“Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o


que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação.”

Jonas 2:9

3. A natureza compreensiva da salvação

Durante esse tópico, será discutida a natureza da salvação do


homem e seus efeitos no mesmo.

a. A salvação do homem o redime por completo, não apenas seu


espírito ou parte imaterial, mas também seu corpo.

➢ Esse corpo pertence à Deus

“Os alimentos são para o estômago e o estômago para os


alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo
não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo.”

1 Coríntios 6:13

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Ele é eterno

“Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente


com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as
primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a
adoção, a saber, a redenção do nosso corpo.”

Romanos 8:22-23

➔ DÚVIDA: A redenção do homem também envolve cura física?

Muitas linhas teológicas dos dias de hoje conciliam a doutrina da


redenção divina com cura física do homem, principalmente aquelas de
cunho pentecostal. Eis alguns versículos que eles utilizam para defender
essa ideia:

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e


as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e
moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”

Isaías 53:4-5

Isaías nesse versículo parece se referir mais ao trabalho espiritual


que Jesus fez por nós na cruz do que qualquer benefício físico que
recebemos por sermos cristãos. A passagem mostra o sofrimento de Cristo,
físico e espiritual, que nos gerou a redenção, ou cura espiritual.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e


ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que
estavam enfermos; Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta
Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as
nossas doenças.”

Mateus 8:17-18

Essa passagem é muito popular entre pentecostais. Eles alegam


que o fato de Mateus citar a primeira parte do versículo de Isaías, se dá
pelo fato de que o profeta estava se referindo a cura física daquelas
pessoas. Porém, ao considerarmos todo o contexto do evangelho de
Mateus, seu principal objetivo com a escrita do livro era mostrar que Cristo
realmente era o messias na terra, que ele cumpria profecias do Antigo
Testamento. Logo, Mateus não está preocupado com o fato de se o evento
ali representa a cura física ou espiritual, afinal houve ambas, mas sim com
o fato de que aquele homem era de fato o messias aguardado pelo povo.

Também existem algumas outras considerações a serem feitas


acerca dessa “proposta” pentecostal:

➢ Os justos (santos) da bíblia ficavam doentes

“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações,


foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para
me esbofetear, a fim de não me exaltar.”

2 Coríntios 12:7

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por
causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades.”

1 Timóteo 5:23

➢ Os médicos têm valor e lugar na vontade de


Deus

“E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que


come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Jesus, porém,
ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os
doentes.”

Mateus 9:11-12

“Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e,


vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as
feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-
o para uma estalagem, e cuidou dele [...]”.

Lucas 10:33-34

b. A salvação em Cristo redime o homem de TODOS os


pecados

Não existe nenhum tipo de pecado que Deus não perdoa


em Cristo.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse:
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”

João 1:29

“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se


desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de
nós todos.”

Isaías 53:6

“Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o


pecado abundou, superabundou a graça [...]”.

Romanos 5:20

Embora essas passagens sejam bem claras acerca do perdão


imensurável que nos é dado por meio de Cristo, algumas pessoas se
recusam a acreditar num perdão completo e têm uma visão errada acerca do
perdão divino para nossas vidas:

➢ Alguns alegam que Deus perdoa apenas o


pecado original (Adâmico). Dizem que o
perdão divino possibilita uma vida do zero
para a pessoa convertida, e que a partir de sua
conversão ela deve manter isso sempre
escolhendo a justiça ao invés de pecar.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Alguns alegam que Deus só perdoa pecados


cometidos antes da salvação. A pessoa que é
salva não pode pecar, é impossível. Aqueles
que pecam é porque não foram alcançados
pela verdadeira salvação ainda.

➢ Alguns alegam que Deus só perdoa pecados


cometidos em fraqueza, e não os cometidos
por vontade própria. Esse sistema tenta
separar pecados onde a pessoa comete por
fraqueza, dificuldades espirituais e outros por
vontade própria, sistema divisório inexistente
na bíblia. Ele também não oferece nenhuma
solução para esses tais “pecados por
vontade”.

4. Teorias da expiação

a. Introdução

A maioria dos teólogos que existiram e os que ainda vivem hoje


concordam que a doutrina da expiação é uma das mais cruciais
para a fé cristã, se não for a mais. Isso se dá pelo fato desta
doutrina tratar diretamente do relacionamento entre Deus e o
homem, bem como a condição humana diante do pecado inerente
em nossa raça.

58
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Diante deste cenário, diversos pensadores refletiram sobre a


expiação e elaboraram diferentes perspectivas em diferentes épocas
e culturas referentes a essas duas questões fundamentais citadas
acerca do pagamento de nossa dívida espiritual, as quais serão
avaliadas no decorrer desta apresentação.

b. Significado de Expiação

No dicionário de nossa língua vernácula, expiação significa:


Purificação das faltas, falhas ou delitos e crimes realizados;
Reparação ou sofrimento pelo qual se repara uma culpa, castigo;
ou ainda, Modo usado para reparar um crime ou falta; penitência.
No contexto bíblico, o significado de expiação possui a mesma
ideia do que fora supracitado, embora se refira mais a uma dívida
espiritual que todos possuímos, e não necessariamente a dívidas
físicas, embora haja certa relação entre estes dois domínios.

c. A necessidade da Expiação

Porque é necessário um pagamento de nossa parte? Por qual


motivo estamos sob uma sentença de dívida?
Em Romanos 3:23, temos a informação de que a humanidade
está separada de seu relacionamento com o Criador, e isso se dá
pelo fato do pecado, presente desde Gênesis em nossa história.
Adjacente a este fato, Paulo nos ensina no mesmo livro no capítulo
6 e verso 23 que nossa dívida por conta desse pecado é a morte
espiritual, uma sentença que todos estão sujeitos.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

O homem jamais teria condições de pagar essa dívida para com


Deus, como bem ilustra a passagem do devedor incompassivo
exposta em Mateus 18. E é exatamente nesse ponto de
dramatização que se faz necessário a expiação, a forma pela qual
Deus providenciou o pagamento de nossas dívidas em sua
totalidade afim de reestabelecer nosso relacionamento com ele.

d. A dinâmica da Expiação

Após entender de maneira simples o que significa expiação e


sua necessidade, a pergunta subsequente seguindo uma lógica
dedutiva seria: Como opera esta doutrina? E talvez tenha sido a
partir deste questionamento que surgiram as mencionadas teorias
da expiação, que serão tratadas em breve.
A maneira pela qual Deus providenciou o pagamento de nossas
dívidas foi o sacrifício de Jesus Cristo, seu filho justo, em nosso
lugar. Mais uma vez o apóstolo Paulo nos esclarece acerca deste
fato, agora em Efésios 2:4-5: “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia pela sua grande caridade com que nos amou, mesmo
quando estávamos mortos pelos nossos delitos, nos deu vida
juntamente com Cristo (pela graça sois salvos).”. João em seu
evangelho no capítulo 1 e verso 29 também ressalta a figura de
Cristo como elemento causador da expiação: “No dia seguinte
João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo.”.
Sendo assim, Cristo tomou para si nossas dívidas e as pagou
com seu sangue na cruz, de maneira a nos libertar da sentença de
morte que nos era atribuída e possibilitar nossa reconciliação com
Deus.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

e. Questões adicionais à doutrina

Em relação à necessidade da expiação e seu funcionamento, há


pouca discordância do que fora apresentado na tradição
conservadora. Porém, ao ampliar as implicações da doutrina da
expiação e procurar mais respostas sobre sua natureza, algumas
dúvidas começam a surgir entre os pensadores, das quais algumas:
Era realmente necessária a morte de Cristo? Além da sua morte,
sua vida também carrega alguma implicação salvífica? A dívida de
todos foi paga ou só a dos eleitos? Qual a posição atual da
humanidade perante Deus? E por aí vai...
As muitas maneiras de se responder a essas questões levaram ao
fenômeno de elaboração de teorias mais complexas, cada uma
partindo de uma perspectiva própria como já fora dito, sendo que a
maioria não obteve êxito na compreensão sadia destas questões
adicionais.

f. As teorias da Expiação

Ao todo são consideradas dez teorias que obtiveram mais


impacto na história da discussão dessa doutrina. Possivelmente
pode haver mais teorias, mas que tiveram pouco ou nenhum
destaque para o entendimento da Expiação. Há certa ruptura de
tempo e culturas entre cada uma delas, o que nos remete também a
maneira de se enxergar teologia de cada época passada.

➢ Teoria do Resgate

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Essa teoria é geralmente atribuída a Orígenes como sendo seu


precursor, por volta dos anos 200 d.C. Também parece que Gregório de
Nissa a desenvolveu um pouco mais após a morte de seu fundador.
Algumas ramificações do adventismo e seguidores dos ideais de Ellen
White a seguem até os dias de hoje.
Esse foi o pensamento clássico que permeou a igreja primitiva
durante o início de sua existência, e não parecia haver objeções à suas
ideias. Ele sustenta que o sacrifício de Cristo foi um resgate pago a satanás,
afim de que este libertasse o homem de seus domínios e acusações. Tal
afirmação é baseada em interpretações equivocadas de alguns textos
bíblicos, como 1 Coríntios 6:20, onde o apóstolo Paulo diz que fomos
comprados por alto preço. Orígenes afirmava que se precisamos ser
comprados, se dava pelo fato de que possuíamos um dono, a saber, Satanás.
O texto de Mateus 20:28 também é usado pelos defensores do resgate,
sendo que eles entendem que Jesus ao dizer que veio em resgate de muitos
referia-se em libertar o povo das garras do diabo.

É ainda afirmado que Satanás foi enganado nesse processo, afinal


Cristo ressuscitou e ainda vive, mesmo tendo o diabo honrado com sua
palavra. Deus teria ludibriado o inimigo ocultando dele a divindade
presente em Cristo Jesus.
Há diversos problemas com essa suposição. Talvez o mais crítico
seja o de conceder muito mais poder do que Satanás detém na realidade.
Em nenhuma parte das escrituras é dito que a humanidade já esteve sob seu
domínio e que ele tinha total controle sobre ela. Pelo contrário, esse poder e
autoridade são atribuídos exclusivamente a Deus. Também há presença de
um alegorismo muito forte, numa tentativa de tratar a expiação como um
evento de luta entre o bem e o mal, ou entre Deus e o diabo, na qual o bem
prevalece.

62
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

No ademais, a teoria do resgate é pouco considerada além do


círculo adventista citado, e possui pouco ou nenhum embasamento bíblico
para seus pensamentos.

➢ Teoria da Recapitulação

Quem elaborou esta teoria foi Irineu, em meados dos anos 100
d.C. De nossa listagem, essa é uma das que menos recebeu destaque e
importância, também devido a falta de sustento por parte da bíblia.
Sua ideia central é de que Cristo, na cruz, recapitulou em si todos
os estágios da vida humana, visando uma transformação de todo o ciclo da
raça humana que se encontrava em desobediência, para obediência. Com
isso, a obediência de Cristo sobrepujou a desobediência de Adão, e isso é o
que deveria gerar a transformação em nossas vidas.
Não é conhecida nenhuma organização seguidora fiel desta
posição atualmente, e se pode dizer que ela caiu em descrédito.

➢ Teoria da Satisfação

Anselmo de Cantuária foi o maior proponente desta teoria,


elaborada em meados dos anos 1000 d.C. Anselmo acreditava que o pecado
do homem havia manchado a honra de Deus e o havia deixado irado. Logo,
para satisfazer sua ira, Cristo sacrificou-se. Assim, o sacrifício de Jesus não
tem como foco principal resolver o problema da humanidade, mas sim
apaziguar a ira do Pai. Ele não carregou consigo os nossos pecados, mas
ganhou mais crédito com Deus apenas, ideias que vão totalmente de contra
ao que a bíblia diz como em Isaías 53:6; 1 Pedro 2:24 e 2 Coríntios 5:21,

63
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

onde observamos Jesus carregando nossos pecados e nos substituindo na


sentença.
É fácil de entender a origem dessa visão pelo arcebispo Anselmo.
Este estava acostumado com as leis do feudalismo durante sua vida, onde o
sistema de compensação em caso de falha ou erro era exercido. Logo, para
ele, toda e qualquer dívida, deveria ser resolvida com uma compensação ao
senhor feudal que poderia estar se sentido ofendido com alguma falha de
seus vassalos. Assim, o arcebispo aplica essa mentalidade da época ao
sacrifício de Cristo Jesus.
Infelizmente esse pensamento de compensação da época veio a
abrir portas para doutrinas abusivas da Igreja Católica, como indulgências,
purgatório, penitência e etc. sendo que repercutem até os nossos dias.

➢ Teoria da Influência Moral

Esta teoria teve inicio com Abelardo, por volta de 1100 d.C. mas
também obteve um pico de ascensão no século XIX, com as defesas feitas
por Bushnell nos EUA e Rashadall na Grã-Bretanha.
Seu embasamento principal está no amor de Deus, o elemento
que recebe destaque na obra expiatória. Seus proponentes afirmam que o
sacrifício de Cristo não teve nenhum valor judicial ou legal para com o Pai,
mas foi apenas uma demonstração de amor e misericórdia por parte do
Criador para conosco.
Tal afirmação encontra amparo no fato de que o atributo
principal de Deus é o amor, e independente de tudo, ele ainda nos ama, e
isso fica ainda mais explícito na empatia e nas palavras de Cristo para com
o povo, como em Lucas 19:10 e João 18:37. Assim, a mudança do cristão
deveria ocorrer por meio de um senso ético pessoal originado pela
demonstração de amor divino.
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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

O grande problema desta posição é que ela anula a justiça de


Deus para enaltecer o seu amor. As passagens de Hebreus 2:17 e Romanos
3:25 deixam claro a exigência de justiça por parte de Deus em relação ao
nosso pecado, podendo ser expiado somente por um sacrifício justo.

➢ Teoria do Exemplo

Também conhecida como teoria sociana ou teoria do mártir, ela


foi promulgada por Fausto e Lélio Socino no Século XVI. É uma das mais
conhecidas na discussão expiatória, embora seja também uma das mais
condenáveis.
Para eles, não existe nenhum princípio divino que exiga
julgamento e, consequentemente, justiça para o pecado. Deus não é um
Deus vingativo ou de justiça retributiva para nos condenar dessa forma.
Apoiados nisso, os Socino vão tentar argumentar que o ministério de Jesus
na terra em nenhum momento teve um viés sacerdotal, sua obra nunca
consistiu de um sacrifício em nosso lugar, mas simplesmente era um bom
exemplo, ou o exemplo máximo que deveríamos seguir a fim de viver uma
vida que agrade a Deus, como afirma 1 João 2:6: “...Devemos andar como
ele andou...”. Assim, através deste exemplo de vida de Cristo, podemos ter
a certeza de que podemos fazer tudo o que ele fez, dizem os defensores da
teoria do mártir.
Essa posição caiu em grande descrédito, e não por menos, mais
um exemplo de pensamento que nega a justiça divina como um atributo de
Deus ativo e que também nega a depravação do homem, além de ignorar
textos bíblicos claros acerca do ministério sacerdotal de Jesus, como os já
citados no livro de Hebreus.

➢ Teoria Governamental

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

O precursor da teoria governamental fora o holandês Hugo


Grotius, vivo durante o século XVII.
Grotius fora um jurista durante sua vida, e, com certeza, por
causa da influência desse seu ofício, ele desenvolveu seu pensamento
acerca de expiação partindo de princípios judiciais. Sua visão acerca de
Deus era de que este era santo e o legislador supremo do universo, o qual
formulava e aplicava as leis, embora ao mesmo tempo ele fosse
compreensivo e solidário. Porém, em sua posição e dever de governante,
Deus deveria tratar com severidade qualquer um que infligisse suas leis,
embora não quisesse. Logo, a solução encontrada pelo Senhor para manter
seu governo como justo e demonstrar sua compreensão para com a
humanidade foi a de enviar Cristo para o sacrifício, assim a necessidade de
punição pela lei seria cumprida e a raça humana poupada.
Assim como outras, essa posição peca ao negar que a justiça de
Deus seja inviolável, além de omitir a propiciação de nossos pecados por
meio de Jesus.

➢ Teoria Dramática

Talvez a que tenha menos impacto de toda a listagem de posições


acerca da expiação. Ela originou-se da teoria do resgate e foi proposta por
Aulen, no século passado em comunidades pentecostais.
Essa teoria vai enfatizar que o sacrifício de Cristo teve dois
objetivos: Assegurar a vitória em um conflito divino entre o bem e o mal, e
ganhar a liberação do homem de sua escravidão a Satanás. Assim, a
necessidade da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus contra
Satanás e providenciar um caminho para redimir o mundo de sua
escravidão ao mal.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Teoria Mística

É desconhecido o precursor deste pensamento, mas é sabido que


algumas comunidades mais liberais a aceitam em sua essência atualmente.
Essa posição enxerga o sacrifício de Cristo como um triunfo dele mesmo
contra a sua própria natureza pecaminosa através do poder do Espírito
Santo. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que conhecimento
dessa vitória vai influenciar o homem de uma forma mística e despertar sua
“consciência de Deus”, e que só isso pode livrá-los da condição espiritual
precária que o homem se encontra.

➢ Teoria Neo-ortodoxa

Sem muitos detalhes, essa posição acerca da obra expiatória de


Cristo foi proposta por Karl Barth, no século XIX.
Ele não acreditava que a expiação visava a humanidade, mas que
era uma revelação do amor de Deus e do seu ódio ao pecado, querendo nos
mostrar seu caráter.

➔ Teoria da Substituição Vicária

Sendo essa a posição mais aceita no meio conservador, muito


atribui sua confecção à João Calvino e a tradição reformada do século XVI.
A base do pensamento desta posição está no sacrifício de Jesus
Cristo como nosso substituto legal tomando sobre si nossos pecados de
modo a nos redimir de nossa dívida espiritual, satisfazer a justiça de Deus e
ainda nos reconciliar com Ele. Note os aspectos principais da substituição

67
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

vicária: O homem é pecador e por isso está separado de Deus e debaixo da


sentença de morte; Deus embora amoroso é justo e irá executar a sentença;
Jesus Cristo como cordeiro sem pecado é o único capaz de tomar nosso
lugar na sentença e sofrê-la; Este ato nos justifica, sacia a justiça divina e
nos reconcilia com Deus. Uma posição completa que nos garante eficácia
da obra expiatória de Jesus em nosso favor.

➔ Catalogando as posições

Buscando uma visão mais “limpa” de todas as posições que


foram aqui abordadas, seria possível catalogarmos todas as 10 no seguinte
quadro de acordo com sua essência principal:

Expiação como exemplo Expiação como bem x mal Expiação como substituição
Teoria do Exemplo Teoria do Resgate Teoria da satisfação (limitada)
Teoria neo-ortodoxa Teoria Dramática Teoria da substituição vicária
Teoria da Influência Moral ----------------------------------- -----------------------------------
Teoria Mística ----------------------------------- -----------------------------------

g. Conclusão

Como dito no início da apresentação, a doutrina da Expiação é


crucial para a vida cristã. Logo, é essencial termos o senso de
responsabilidade de preservá-la como uma doutrina sã. Vimos
durante o decorrer do trabalho que diversos homens entendendo a
importância dessa verdade dedicaram-se em entendê-la melhor,
embora a maioria tenha produzido coisas que diferem da bíblia.
Que possamos aprender com os erros destes, valorizar o conceito
bíblico da substituição vicária que chegou até nós através da

68
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

reforma e sermos gratos pela expiação de Cristo em nosso lugar e


favor.

5. Aspectos da obra salvífica

Durante o estudo deste ponto de soteriologia, serão abordados


todos os aspectos que pertencem ao processo de salvação do homem, sendo
também expostas as teorias que procuram agrupar essas doutrinas para nos
fornecer um entendimento mais claro e sistematizado acerca da salvação.

a. Eleição

➢ Há evidência bíblica para a doutrina da eleição

“A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à


perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no
livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta
que era e já não é, ainda que é.”

Apocalipse 17:8

➢ Houve uma eleição antes da criação do mundo

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos


abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em
Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para
que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;” Efésios 1:3-4

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Essa eleição não foi baseada nem na vontade ou obras do homem

“Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser


ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão".
Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da
misericórdia de Deus.”

Romanos 9:15-16

“Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de


mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo
evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com
uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da
sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo
Jesus desde os tempos eternos.”

2 Timóteo 1:8-9

Grande parte das pessoas que não aceitam ou não creem na


doutrina da eleição bíblica assim agem baseados numa perspectiva humana
de indignação, pois a doutrina entra em choque com outras populares na
cosmovisão de muitas igrejas, porém sem base bíblica, como livre arbítrio
do homem para salvação e o conceito de justiça divina (focando apenas no
atributo do amor de Deus).

Diante desses pré-conceitos e da dificuldade de se entender de


maneira completa e profunda a doutrina da eleição bíblica, muitos acabam
então achando melhor a ignorar, ou então não aceitá-la. Porém:

70
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Não podemos rejeitar uma doutrina por ser difícil entendê-la

Se a dificuldade de compreensão fosse um argumento válido para


anular uma doutrina, teríamos então de anular doutrinas como a trindade, a
onipresença, a onisciência, a humanidade e divindade plena de Cristo, a
eternidade e etc. Porém, aceitamos e cremos diligentemente nessas
doutrinas porque achamos provas delas nas escrituras e porque o Espírito
Santo está ministrando em nossos corações, testemunhando sobre elas.
Israel, por exemplo, não conseguia entender porque Deus os
escolheu. Deus teve de corrigir certas ideias erradas que eles tinham sobre
esse fato. Entretanto, mesmo a nação não compreendendo sua eleição, essa
ignorância não negou o fato de eles serem eleitos.

“Depois que o Senhor, o seu Deus, os tiver expulsado da


presença de você, não diga a si mesmo: ‘O Senhor nos trouxe aqui para
tomarmos posse desta terra por causa da nossa justiça’. Não! É devido à
impiedade destas nações que o Senhor vai expulsá-las da presença de
você. Não é por causa de sua justiça ou de sua retidão que você
conquistará a terra deles. Mas é por causa da maldade destas nações que
o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você, para cumprir a
palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus antepassados,
Abraão, Isaque e Jacó. Portanto, esteja certo de que não é por causa de
sua justiça que o Senhor seu Deus lhe dá esta boa terra para dela tomar
posse, pois você é um povo obstinado.”

Deuteronômio 9:4-6

71
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Não podemos rejeitar uma doutrina por ela ir contra nossa ética

Se tentarmos estabelecer o que é justo através dos nossos padrões


finitos e nosso coração enganoso, vamos acabar confiando em nossas
próprias ideias e não na palavra de Deus. Até os profetas e os anjos
reconheceram suas limitações de entendimento dos caminhos de Deus na
salvação do homem:

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os


profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo
ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava,
anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a
glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si
mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram
anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos
pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem
atentar.” 1 Pedro 1:10-12

“As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém


as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei.”

Deuteronômio 29:29

“Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do


sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de
Deus.” Atos 20:26-27

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ A terminologia da eleição

• Eklegomai, a palavra mais comum para indicar escolha divina

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,


para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor.”

Efésios 1:4

“Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente,


segundo a eleição da graça.”

Romanos 11:5

• Airetizw, sinônimo a palavra acima, usada também pra escolha

“Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a


minha alma se compraz; porei sobre ele o meu espírito, e anunciará aos
gentios o juízo.”

Mateus 12:18

• O conceito de destinar ou apontar, ordenar (mais de 20 verbos


diferentes).

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a


palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida
eterna.”

Atos 13:48

“Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e


darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que
pedirem em meu nome.”

João 15:16

• O conceito de predestinar e presciência (proorizw;


proginoskw).

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo


sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas,
segundo o conselho da sua vontade.” Efésios 1:11

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para


serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos.” Romanos 8:29

“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do


Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e
paz vos sejam multiplicadas [...] conhecido antes da criação do mundo,
revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.” 1 Pedro 1:2,20

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Bases da eleição

• Em nada baseada no homem, seja vontade ou mérito deste.

“Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e


Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando
concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda
nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus,
segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele
que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está
escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça
da parte de Deus? De maneira nenhuma.”

Romanos 9:9-14

• Logo, baseada totalmente em Deus e seus propósitos.

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo


sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas,
segundo o conselho da sua vontade.” Efésios 1:11

• A eleição de Deus depende da “presciência” ou do


“conhecimento anterior” divino.

“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai [...]” 1 Pedro 1:2

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou [...]”


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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Existe uma concepção de salvação muito comum no meio


evangélico que crê na salvação baseada numa previsão ou então
conhecimento prévio de Deus acerca da fé de alguns. Assim, os eleitos
seriam aqueles que naturalmente desenvolveriam uma fé salvífica no
decorrer do curso de suas vidas, esse fato foi previsto ou já era conhecido
por Deus baseado na sua presciência e, logo, ele tornou essas pessoas
eleitas. Porém, ao estudarmos esses vocábulos utilizados e o conceito de
presciência divina mais a fundo, vemos que:

➢ A presciência de Deus é mais do que simples previsão

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,


para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos
predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor da glória de sua
graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, Em quem temos a
redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da
sua graça, Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e
prudência; Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito, que propusera em si mesmo, De tornar a congregar em Cristo
todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que
estão nos céus como as que estão na terra; Nele, digo, em quem também
fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito
daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; Com
o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos
em Cristo.” Efésios 1:4-12

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

A salvação depende da escolha de Deus, e não da previsão divina


da fé que colocaríamos nele durante nossas vidas. A motivação da eleição
não foi a nossa fé, antes, a eleição quem garantiu nossa salvação e fé em
Cristo Jesus.

“Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com


amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.” Jeremias 31:3

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém


conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar.” Mateus 11:27

“E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na


verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.
Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer
nele, como também padecer por ele.” Filipenses 1:28-29

➢ A palavra presciência tem dois significados maiores na bíblia

• Conhecimento prévio de eventos futuros.

“Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e pré-


conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens perversos, o
mataram, pregando-o na cruz.” Atos 2:23

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

• Conhecimento prévio de pessoas.

“Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde


o princípio entre os da minha nação, em Jerusalém, todos os judeus a
conhecem, Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar),
que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.”

Atos 26:4-5

Paulo utiliza esse verbo diante do rei Agripa, para mostrar os


judeus que conheceram ele antes de sua conversão.

“Pergunto, pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira


nenhuma! Eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de
Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu.
Ou vocês não sabem como Elias clamou a Deus contra Israel, conforme diz
a Escritura?” Romanos 11:1-2

Na passagem acima, vemos que Deus já tinha um relacionamento


com seu povo escolhido.

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no


Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; Eleitos segundo a presciência
de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do
sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” 1 Pedro
1:1-2

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Observe nessa passagem muito utilizada pelos adeptos da


presciência como previsão de fé que a presciência não dependeu ou foi
motivada pela obediência dos eleitos, antes, foi ela que promoveu
obediência da parte deles.

Analisando os outros contextos vistos, é mais exato dizer que a


presciência de Deus em vez de ser uma previsão divina de fé ou atos de
pessoas, realmente é um relacionamento de amor, estabelecido com elas
antes da fundação do mundo, para garantir que estas pessoas obedeçam a
Deus quando elas entrarem na vida terrena.

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para


serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que
justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se
Deus é por nós, quem será contra nós?” Romanos 8:29-31

Esta passagem tem várias afirmações que não podem ser


explicadas pela ideia de que Deus simplesmente previu a fé de certas
pessoas e que esta previsão fez a base da escolha divina de pessoas para
salvação.

Deus conheceu de antemão certas pessoas e todas essas pessoas


ele predestinou para serem chamadas, justificadas e, no fim de tudo,
glorificadas. Mas se empregarmos a palavra presciência no sentido de
previsão de fé, é claro que Deus tem capacidade de prever a vida futura de
todas as pessoas, não só as que vão acreditar. Porém, essa passagem aborda

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

apenas os salvos, o que contradiz com a ideia de previsão de fé, afinal Deus
tem capacidade para fazer isso com todos os seres humanos.

Nesse versículo ainda, a linguagem é compatível com presciência


sendo um relacionamento já determinado por Deus com os salvos,
provando a segurança eterna destes e as mudanças que esse relacionamento
possibilita.

➔ CONCLUSÃO

Presciência, quando utilizada para indicar atividade divina na


vida do homem não pode ter o significado de “fé humana
prevista” por que:

a. A presciência divina não se baseia na obediência, ates


produz obediência.
b. A presciência divina trata de pessoas, não apenas eventos.
c. Mesmo se a fé prevista por Deus realmente fosse a base da
escolha, isso não mudaria o resultado final, pois a fé vem
de Deus:

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não


trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E
serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e
aprendeu vem a mim.” João 6:44-45

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Implicações da eleição

• A bíblia também fala de outras funções da eleição além da


salvação.

O homem não é eleito por Deus apenas para ser livrado do


inferno, mas também para cumprir certos objetivos divinos, como glorificar
a Deus e demonstrar um caráter santo e útil.

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa,


o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz.”

1 Pedro 2:9

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,


para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor.”

Efésios 1:4

• A bíblia não separa eleição do conceito de responsabilidade


humana.

Em vários casos, as passagens que tratam de eleição também


abordam a responsabilidade humana perante isso no mesmo contexto, veja
de acordo com as cores das palavras os versículos seguintes:

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

ELEIÇÃO

RESPONSABILIDADE HUMANA

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de


maneira nenhuma o lançarei fora.” João 6:37

“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai,


Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e
entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te
aprouve. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém
conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.”

Mateus 11:25-28

“Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre,
mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para
isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu
nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem
quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele
ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem,
quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que
a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o
barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para
desonra?” Romanos 9:16-21

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer
em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo’”.
Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para
salvação. Como diz a Escritura: ‘Todo o que nele confia jamais será
envergonhado’. Não há diferença entre judeus e gentios, pois o mesmo
Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam,
porque “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.”

Romanos 10:9-13

• Deus deseja que todos os homens sejam salvos.

“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,


Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da
verdade.” 1 Timóteo 2:3-4

Alguns calvinistas extremados não conseguem aceitar o


significado desse trecho, acreditando que Deus então faz tudo o que deseja.
Para resolver a tensão nessa frase da passagem, eles interpretam a frase
“todos os homens” como “todos os homens eleitos”! Porém, há outras
passagens que parecem mostrar que os desejos de Deus para o homem nem
sempre são cumpridos:

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os


que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Mateus
23:37

“Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o


Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e
viva?”

Ezequiel 18:23

“Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer
na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e
viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por
que razão morrereis, ó casa de Israel?”

Ezequiel 33:11

À luz dessas passagens, é necessário concluir que Deus tem


“desejos” que não fazem parte do seu plano predeterminado, desejos que
ilustram os atributos de Deus, mas não o conselho eterno divino. Se estes
desejos fizessem parte do conselho de Deus, todo mundo estaria salvo.

• Após a obra da eleição e do Espírito Santo que convence o ser


humano do pecado e do juízo, esse tem a responsabilidade de
escolher o caminho certo.

“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que
te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a
vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” Deuteronômio 30:19

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de madrugada


me buscarão, porém não me acharão. Porquanto odiaram o
conhecimento; e não preferiram o temor do Senhor.”

Provérbios 1:28-29

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida


eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para
terdes vida.”

João 5:39-40

• A eleição incentiva o evangelismo.

Muitos argumentam que se é a eleição que determina quem é


salvo não há necessidade de pregação das boas novas aos incrédulos, pois
quem é eleito vai se achegar a Deus de qualquer jeito, anulando a eficácia
do evangelismo por parte do homem. Porém, não sabemos quem é eleito ou
não, e nem quando vão responder ou não. Nem sempre o eleito responde
positivamente à primeira vez que ouve do evangelho, as vezes o processo
demorar vários anos. Demos lembrar também que pregar o evangelho é
uma ordenança da parte de Cristo para nós.

“E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o


semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu
ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; E outra parte caiu em
pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

terra funda; Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha
raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro
a trinta.”

Mateus 13:3-8

“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-


os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Mateus 28:19

• É necessário notar quer a bíblia não ensina eleição à perdição


como ensina a eleição à salvação.

a. Ninguém é “eleito” ou “escolhido” para perdição


b. Ninguém “conhecido antes” ou “predestinado” para ser
destruído
c. Ninguém tem seu nome escrito no “livro da morte”

O incrédulo não é escolhido para ser julgado. Em vez disso, os


que não são eleitos são preteridos para sofrerem punição eterna de Deus.
Utiliza-as o termo “preteridos” pelo fato de que em nenhum momento a
bíblia inclui o conceito de eleição ou predestinação aos perdidos.

• A eleição exalta Deus

“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de


Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus
caminhos! ‘Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu
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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense’ Pois
dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para
sempre! Amém.”

Romanos 11:33-36

• A eleição nos dá conforto e ânimo

“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por


aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem
o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura
nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso
Senhor.” Romanos 8:37-39

b. O chamado

Além do chamado que pode ser encontrado na revelação


geral (natureza) de Deus e que se estende a todos os seres
humanos, a bíblia trata acerca de outros dois chamados, o
chamado geral e o chamado eficaz.

• O chamado geral

O chamado geral é um convite feito a todos que o ouvem.


Os textos bíblicos deixam bem claro que nem sempre ele é
eficaz:

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não


tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem
dinheiro e sem preço, vinho e leite.”

Isaías 55:16

“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e


clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em
mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.”

João 7:37-38

“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem.


E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.”

Apocalipse 22:17

Esse chamado pode conter até quatro elementos: Uma explicação


dos fatos do evangelho; uma promessa condicional de perdão de pecados;
um convite para acreditar; às vezes, a obra convencedora do Espírito Santo.
Este chamado pode ser rejeitado, e quem o fizer será punido.

“Depois enviou outros servos, ordenando: Dizei aos convidados:


Eis que tenho o meu jantar preparado; os meus bois e cevados já estão
mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Eles, porém, não fazendo caso,
foram um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros,
apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram. Mas o rei

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

encolerizou-se; e enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e


incendiou a sua cidade.”

Mateus 22:4-7

“Então Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Era


mister que a vós se pregasse em primeiro lugar a palavra de Deus; mas,
visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos
viramos para os gentios.”

Atos 13:46

• O chamado eficaz

O chamado eficaz é mais do que um simples convite. Ele


realmente tem o poder de trazer, e sempre é eficaz. Enquanto o
chamado geral foi estendido a muitos sábios, o chamado eficaz
foi oferecido a poucos sábios.

“[...] e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que


chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também
glorificou.”

Romanos 8:30

“[...] nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para


os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto
judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”.

1 Coríntios 1:23-24

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Temos uma parábola em Lucas que ilustra os dois tipos de


chamado:

“Jesus, porém, lhe disse: Certo homem dava uma grande ceia, e
convidou a muitos [chamado geral]. E à hora da ceia mandou o seu servo
dizer aos convidados: vinde, porque tudo já está preparado. Mas todos à
uma começaram a escusar-se[...] Então o dono da casa, indignado, disse a
seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os
pobres, os aleijados, os cegos e os coxos [chamado eficaz]. Depois disse o
servo: Senhor, feito está como o ordenaste, e ainda há lugar. Respondeu o
senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e obriga-os a entrar
[chamado eficaz], para que a minha casa se encha. Pois eu vos digo que
nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”.
Lucas 14:16-24

É importante pontuar que houve muitos que rejeitaram o


chamado geral, mas não é conhecido ninguém na bíblia que rejeitou o
chamado eficaz. Esse processo é coordenado pelo espírito santo, tendo
como instrumento o evangelho e os agentes diretos os evangelistas.

• Problemas e objeções

Muitos acham que Deus não é justo por estender este


chamado especial para alguns mas não para todos. Mas isto
não é uma questão de justiça. Como podemos estabelecer que
a justiça de Deus exige que Deus ofereça a todas as suas

90
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

criaturas a mesma oportunidade? Sabemos que nem o


chamado geral está oferecido a todos. O chamado eficaz é a
graça pura de Deus. Assim, o chamado eficaz não exclui
ninguém, porque a exclusão implica o conceito de proibir a
entrada de alguém que quer entrar. No caso daquele sem o
chamado eficaz de Deus, ele não quer entrar.

“OS CHAMADOS DE DEUS”

NATUREZA

GERAL

EFICAZ
NATUREZA

POUCOS

MUITOS

TODOS

91
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

c. O arrependimento

O processo de salvação obviamente inclui o


arrependimento. Entretanto, ainda que muitos saibam disso,
há um enorme desentendimento do que seria o verdadeiro
arrependimento bíblico, que ocorre durante a conversão. A
principal palavra grega utilizada para se referir à
arrependimento (metanoia, metanoéw) indica uma progressão
de acontecimentos durante o arrependimento verdadeiro:

➢ Um entendimento depois de um fato;


➢ Mudar de opinião com base nesse entendimento;
➢ Lamentar o caminho anteriormente seguido;
➢ Mudar a conduta para evitar o mesmo problema

Geralmente essa palavra é conceituada como “mudança de


mente” dada a força das implicações de arrependimento que
ela carrega em si.

“Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham
ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da
ira vindoura. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”.

Mateus 3:7-8

“Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós


seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e
recebereis o dom do Espírito Santo”. Atos 2:38

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam


apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério,
da presença do Senhor”.

Atos 3:19

O arrependimento genuíno envolve a confissão de que a pessoa


errou, e traz à sua mente a tristeza por reconhecer seu pecado. Isso exige
determinação para reconhecer e mudar (produzir frutos).

“Porquanto, ainda que vos contristei com a minha carta, não me


arrependo; embora antes me tivesse arrependido (pois vejo que aquela
carta vos contristou, ainda que por pouco tempo), agora folgo, não porque
fostes contristados, mas porque o fostes para o arrependimento; pois
segundo Deus fostes contristados, para que por nós não sofrêsseis dano
em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento
para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo opera a
morte”.

2 Coríntios 7:8-10

➔ CONCLUSÃO:

Arrependimento Bíblico envolve muito mais do que uma simples


percepção de culpa, vergonha, ou remorso. Tanto Esaú quanto Judas
perceberam estas coisas, mas não se arrependeram no sentido bíblico.

93
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

d. Fé

A Fé pode significar um corpo de crenças mantidas por


alguém. Mas também pode indicar o ate crer e depositar
confiança e dependência completa no Senhor, como sugere a
palavra grega pisteúw, a mais utilizada no Novo Testamento.

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por
nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a
esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da
glória de Deus.”

Romanos 5:1-2

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.”

João 3:16

Essa palavra utilizada para referir-se à fé bíblica implica em:

➢ Uma afirmação intelectual

“Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o


crêem, e estremecem.” Tiago 2:19

94
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

➢ Dom do Espírito

“Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a


outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo
Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;”

1 Coríntios 12:8-9

➢ Aceitação da revelação de Deus

“Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram


criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.”
Hebreus 11:3

➢ Fé salvadora

Fé salvadora é o assunto principal da maioria dos textos bíblicos


que tratam sobre fé. Ela não é simplesmente uma afirmação intelectual,
pois podemos crer em fatos mas não nos relacionarmos com eles. Por outro
lado, também não é o que nos salva, Cristo ensina que a salvação vem
através da fé não por causa da fé, a causa é o próprio Cristo.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que


creiais naquele que ele enviou.” João 6:29

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

A fé salvadora é a nossa reposta necessária ao chamado de Deus


para recebermos a imputação da justiça, embora ela só seja possível no agir
do Espírito.

“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que


eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e
serás salvo, tu e a tua casa.” Atos 16:30-31

“Uma das que ouviam era uma mulher temente a Deus chamada
Lídia, vendedora de tecido de púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor
abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo.” Atos 16:14

Há três elementos distintivos na fé salvadora:

➢ O homem acredita mentalmente no evangelho;


➢ Ele recebe Cristo como salvador;
➢ Ele confia em Cristo como único e suficiente salvador.

“Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho;


porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para
guardar o meu depósito até àquele dia.” 2 Timóteo 1:12

O homem deve confiar em Cristo e nada mais para ser salvo.

96
Jovens IBRP Gabriel Yutaka

e. Justificação

O verbo de justificação, na bíblia, não significa tornar-se


justo. Antes disso, tem o sentido de declarar ou considerar
justo. Em outras palavras, ele não indicar a transformação de
um homem pecaminoso em um homem justo, mas sim que o
homem depravado é considerado justo aos olhos de Deus.

“Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer;”


Romanos 3:10

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se


manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado
aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.”

1 Timóteo 3:16

O homem, sendo totalmente depravado, necessita da justificação


divina, e ela só pode ocorrer por meio de Jesus Cristo, não por nenhum
meio humano ou que infligisse o caráter de Deus.

“Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas


obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora
se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos
profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e
sobre todos os que crêem; porque não há diferença. Porque todos pecaram

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente


pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus
propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua
justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de
Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que
ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.”

Romanos 3:20-26

f. Regeneração

Regeneração significa uma nova ordem dentro de uma


pessoa, ou um renascimento. A regeneração não é um
processo, mas um ato instantâneo da parte de Deus. A partir
dela, o convertido passa a ter uma nova natureza, uma nova
inclinação moral e um novo relacionamento com Deus.

“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo


a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da
renovação do Espírito Santo.” Tito 3:5

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas


velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem


feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome.” João 1:12

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

g. Santificação

Em seu significado básico, santificar significa separar.


Porém, um separar especial, um separar para Deus. Também
inclui consagrar, dedicar, purificar e etc.

“Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos


abstenhais da fornicação; Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em
santificação e honra;”

1 Tessalonicenses 4:3-4

Santificação pode ser usada no contexto de posição (nossa


participação como povo de Deus), ou progressiva (a experiência particular
da transformação que Cristo causa na vida do cristão).

• Santificação posicional

Por meio desta, somos considerados um povo especial de


Deus; aperfeiçoados como redimidos de Deus; santificados
instantaneamente por Deus e autorizados para estar em sua
presença.

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa,


o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz.” 1 Pedro 2:9

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo


dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos
abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande
sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus
com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações
aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os
nossos corpos lavados com água pura.”

Hebreus 10:19-22

• Santificação progressiva

Como dito, santificação progressiva refere-se a


experiências particulares do Cristão para uma conformidade
moral à imagem de Cristo. Ela exige obra do Espírito Santo,
esforço diligente da parte do crente e exercício da parte do
crente.

“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um


espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na
mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.”

2 Coríntios 3:18

“A quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e


ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos
todo o homem perfeito em Jesus Cristo; E para isto também trabalho,

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.”


Colossenses 1:28-29

A santificação progressiva produz frutos na vida do cristão, que


tende a se multiplicarem conforme o tempo passa e esse amadurece no
espírito.

“Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo
Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que
vos abstenhais da fornicação; Que cada um de vós saiba possuir o seu
vaso em santificação e honra; Não na paixão da concupiscência, como os
gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu
irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas
coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos
chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação.”

1 Tessalonicenses 4:2-7

“De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso


para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para
toda a boa obra.” 2 Timóteo 2:21

Esse processo acabará apenas na consumação dos tempos, onde


seremos glorificados.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se


manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é.”

1 João 3:2

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a
boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;”

Filipenses 1:6

h. Teorias soteriológicas

Com o objetivo de sistematizar e compactar tudo o que


vimos até agora sobre o estudo da soteriologia, alguns
estudiosos desenvolveram teorias que nos servem de guia
referencial quando refletimos acerca das coisas da salvação.

As duas mais conhecidas são o arminianismo e o


calvinismo, e também as únicas tratadas nesse ponto por
serem as que são consideradas “aceitáveis”.

➢ Arminianismo

O movimento conhecido como arminianismo tem suas ideias


baseadas nos pensamentos do holandês Jacobus Arminius (1560-1609), um
teólogo pós-reforma que refletiu muito acerca da doutrina da salvação e
desenvolveu alguns escritos para o tema em sua época.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Embora a reforma fosse algo muito recente e transformador


durante a vida do holandês, ele não foi tão influenciado pela teologia
reformada, e por isso grande parte das suas ideias discordava em diversos
pontos dos reformadores.
Mesmo que tenha sido discípulo do notável calvinista Teodoro de
Beza, Arminius defendeu uma forma evangélica de sinergismo (crença que
a salvação do homem depende da cooperação entre Deus e o homem), que
é contrário ao monergismo, do qual faz parte o calvinismo (crença de que
a salvação é inteiramente determinada por Deus, sem nenhuma participação
livre do homem).
Um ano após a morte de Jacob Arminius, mais precisamente em
1610, seus discípulos se juntaram a outros pensadores sinergistas (que
criam no sinergismo) discípulos de John Wesley ou então Hugo Grotius, e
elaboraram cinco artigos conhecidos como “Os cinco artigos da
Remonstrância”, buscando atacar o pensamento comum da igreja
reformada holandesa da época.
Eis os artigos:

➢ Artigo I - Que Deus, por um eterno e imutável plano em


Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os
fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça
humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa
de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do
Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma
graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o
fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os
contumazes e descrentes, condenando-os como alheios a

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Cristo, segundo a palavra do Evangelho de João 3:36 e


outras passagens da Escritura.

➢ Artigo II - Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o


Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos
homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na
cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de
tal modo que ninguém é participante desta remissão senão
os crentes.

➢ Artigo III - Que o homem não possui por si mesmo


graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de
modo que, em seu estado de apostasia e pecado para si
mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja
bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal
como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas
que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu
Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em
entendimento, afeições e vontade e em todas as suas
faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar,
querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a
Palavra de Deus (João 15:5).

➢ Artigo IV - Que esta graça de Deus é o começo, a


continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem
mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou
praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação
para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que
desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser


concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça
de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a
graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que
eles resistiram ao Espírito Santo.

➢ Artigo V - Que aqueles que são enxertados em Cristo por


uma verdadeira fé, e que assim foram feitos participantes
de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados
de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua
própria carne, e de ganhar a vitória; sempre – bem
entendido – com o auxílio da graça do Espírito Santo, com
a assistência de Jesus Cristo em todas as suas tentações,
através de seu Espírito; o qual estende para eles suas
mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam
preparados para a luta, que peçam seu auxílio e não
deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de
modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam
transviados ou tirados das mãos de Cristo (João 10:28).
Mas quanto à questão se eles não são capazes de, por
preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida em
Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo
a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi
entregue, de perder a sua boa consciência e de
negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma
pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que
possamos ensiná-lo com inteira segurança.

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

Baseados nesses cinco pontos então, os arminianos defendem seu


sistema soteriológico até os dias de hoje.

➢ Calvinismo

O movimento calvinista é um sistema teológico criado por João


Calvino (1509-1564) a partir do século XVI em Genebra. João Calvino foi
um teólogo francês com grandes conhecimentos em gramática, filosofia,
retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música além da
teologia.
Calvino tinha apenas oito anos quando Lutero escreveu as 95
teses contra a Igreja Católica iniciando o movimento da Reforma
Protestante, fato histórico que influenciou muito desde cedo o teólogo
francês. Logo, esse ingressou no desenvolvimento do movimento da
Reforma e foi um grande influenciador da mesma, sendo que diversos
pontos da Teologia Reformada provém do Calvinismo, embora o sistema
soteriológico proposto por ele seja o que é mais conhecido de seus escritos.
As igrejas reformadas, que tiveram grande expansão durante essa
época, naturalmente absorveram os pensamentos de Lutero, Calvino, e
outros pensadores reformados clássicos como Martin Bucer, Pietro Martire
Vermigli e Ulrico Zuínglio, formulando assim suas doutrinas.
Por esse fato que os arminianos (que como vimos tinham uma
base de pensamento bem diferente dos protestantes e calvinistas) se
juntaram para tentar promover uma mudança teológica nas igrejas
reformadas da Holanda. Em resposta aos cinco artigos da Remonstrância
que já foram abordados, os protestantes e seguidores de Calvino

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

sistematizaram o pensamento calvinista que já existia em cinco pontos


também, justamente para contradizer os cincos artigos:

➢ Depravação Total: Também chamada de “depravação


radical”, “corrupção total” e “incapacidade total”. Indica
que toda criatura humana, em sua condição atual, ou seja,
após a queda, é caracterizada pelo pecado, que a corrompe
e contamina, incluindo a mente. Por isso, afirma-se que
ninguém é capaz de realizar o que é verdadeiramente bom
aos olhos de Deus. Em contrapartida, o ser humano é
escravo do pecado, por natureza hostil e rebelde para com
Deus, espiritualmente cego para a verdade, incapaz de
salvar a si mesmo ou até mesmo de se preparar para a
salvação. Só a intervenção direta de Deus pode mudar esta
situação.

➢ Eleição incondicional: Eleição significa “escolha”. É a


escolha feita por Deus desde toda a eternidade, daqueles a
quem ele concedeu a graça da salvação. Esta escolha não
se baseia no simples mérito, ou na fé das pessoas que ele
escolhe, mas se baseia em sua decisão soberana e
incondicional, irrevogável e insondável. Isso não significa
que a mesma salvação final é incondicional, mas que a
condição em que assenta (fé) é concedida também pela
graça de Deus, como seu presente para aqueles a quem Ele
escolheu incondicionalmente.

➢ Expiação particular (ou Expiação Limitada): Também


chamada de "redenção particular" ou "redenção definida",

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Jovens IBRP Gabriel Yutaka

significa a doutrina segundo a qual a obra redentora de


Cristo foi apenas visando a salvação daqueles que têm sido
alvo da graça da salvação. A eficácia salvífica do Cristo
redentor, então, não é "universal" ou "potencialmente
eficaz" para quem iria recebê-lo, mas especificamente
designada para consolidar a salvação daqueles a quem
Deus Pai escolheu desde antes da fundação do mundo. Os
calvinistas não acreditam que a expiação é limitada em seu
valor ou poder (se Deus o Pai quisesse, teria salvo todos os
seres humanos sem exceção), mas sim que a expiação é
limitada na medida em que foi destinada para alguns e não
para todos.

➢ Vocação eficaz (ou Graça Irresistível): Também


conhecida como: “graça eficaz”, esta doutrina ensina que a
influência salvífica do Espírito Santo de Deus é irresistível,
superando toda e qualquer resistência. Quando então, Deus
soberanamente visa salvar alguém, o indivíduo não tem
como resistir a essa graça da vida eterna com o próprio
Deus.

➢ Perseverança dos santos: Também conhecida como


“preservação dos santos” ou “segurança eterna”, este
quinto ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para
a salvação, e depois, à comunhão eterna com ele não
podem cair em desgraça e perder sua salvação. Mesmo
que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua
profissão de fé, eles (se eles são autênticos eleitos), mais
cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus.

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Essa doutrina é baseada no fato de que a salvação é obra


de Deus do começo ao fim, que Deus é fiel às Suas
promessas, e que nada nem ninguém pode impedir Seus
propósitos soberanos. Este conceito é bem diferente do
conceito usado em algumas igrejas evangélicas, de “uma
vez salvos - salvos para sempre”, apesar da apostasia, a
falta de arrependimento ou a permanência no pecado,
desde que eles tenham realmente aceito Cristo no passado.
No ensino tradicional calvinista, se uma pessoa cai em
apostasia ou não mostra mais sinais de arrependimento
genuíno, isso pode ser prova de que ele nunca foi
realmente salvo, e, em decorrência, que não fazia parte do
número dos eleitos.

O final desse embate entre os arminianos e calvinistas da


Holanda foi resolvido no chamado Sínodo de Dort, um concílio
internacional que ocorreu de 1618-1619 em Dordrecht, contando com 154
reuniões que contaram com milhares de teólogos de todo mundo.

O sínodo decidiu pela rejeição das ideias arminianas e


estabeleceu a doutrina reformada no que se diz respeito a soteriologia
baseando-se nos cinco pontos do calvinismo que foram abordados acima.

ARMINIANISMO CALVINISMO
Eleição condicional Eleição incondicional
Expiação ilimitada Expiação limitada
Depravação total Depravação total
Graça resistível Graça irresistível
Preservação condicional Preservação incondicional

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Referências Bibliográficas

1. ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1992.

2. BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de Referência Thompson. Com versículos em


cadeia temática. Edição Contemporânea. São Paulo: Vida, 2002.

3. Apostila de Teologia Sistemática III. Joseph Arthur.

4. RYRIE, Charles C. Teologia Básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2003. 596 p.

5. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1994.

“A má teologia desonra a Deus e destrói as pessoas. as igrejas


que cortarem a raiz da verdade podem florescer por um tempo, mas logo
murcham ou se convertem em algo além de uma igreja cristã. Sem dúvida,
uma frase contundente e profética. Sem a verdade como pressuposto
principal, a igreja desmorona.”

John Piper – Influente pregador batista calvinista.

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