Zenita Guenther Entrevista Capacidade e Talento PDF

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Entrevista: Zenita Cunha Guenther Páginas 10 | 11

Edição Especial | TCC | Novembro | 2008

super Talentos
Para entender o dilema dos superdotados

Como eles são identificados


Páginas
Revistade
| super12 a 17
TALENTOS
Editorial
F
alar sobre superdotados é um desafio. Um assunto novo, que está ganhando cada vez mais
espaço, pois a importância de conhecer bem os portadores de altas capacidades, e de criar
a eles estudos adequados, tem vindo à tona no Brasil. Isto tem acontecido principalmente
nos últimos anos com os estudos da principal especialista brasileira no tema, Zenita Cunha
Guenther.
Quando se fala no assunto, uma das principais dúvidas é “Quem são os superdotados?”.
Esta revista traz uma matéria bem detalhada sobre as formas de identificação do aluno super-
dotado. Ainda há quem ache que eles são identificados por meio de testes de QI (quociente de inteligência),
o que é um método ultrapassado. Em estudos recentes, percebeu-se que ser “superdotado” vai muito além
da inteligência.
A revista superTALENTOS traz também uma entrevista exclusiva com a Dra. Zenita, que revelou curiosi-
dades e mitos sobre os superdotados e contou como passou a se interessar pelo assunto. Ela tem uma filha
portadora de altas capacidades, que foi quem a fez enxergar a importância de ter estudos para o desenvol-
vimento do talento também de crianças com baixa renda (os seis centros com metodologia de Dra Zenita
atendem crianças da rede escolar pública).
Para ilustrar a revista, a superTALENTOS contou com a ajuda do Programa Decolar – Desenvolvimento
do Talento, de São José dos Campos. São de lá as crianças superdotadas que enchem de cor e de boas
energias as páginas dessa revista. Boa leitura!

SUMÁRIO
Conceitos: O que é superdotação? | 3
Conceitos: Capacidade X Talento e Educação Inclusiva | 4
Programas: Conheça os Cedets | 5
Saiba Mais: NAAH/S e ConBraSD | 8
Boa Vontade: Entenda o trabalho dos voluntários | 9
Entrevista: Conheça mais da especialista Zenita Guenther | 10
Identificação: Será que ele é superdotado? | 12
Relacionamento: A arte da convivência | 18
Cartas: Depoimentos de superdotados do Decolar (foto) | 20
Artigo: O desafio do talento e da capacidade humana | 22
Agradecimentos | 23

Expediente super TALENTOS


A revista superTALENTOS é uma publicação de edição única apresentada como trabalho de conclusão de curso à Univap, no curso de Jornalismo, em 2008.
Repórteres: Flávia Marcondes Ferreira e Kamilla de Souza Barboza | Fotos: Divulgação e Flávia Marcondes Ferreira | Orientação: Maria D’Arc da Silva Hoyer
| Co-orientação: Rosani Barboza e Vânia Braz | Diagramação: Paulo Donizetti

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O QUE É
SUPERDOTAÇÃO?
A
superdotação virou um mito na socie- Guenther. Para ela, o superdotado tem uma ou capacidades. Ele destrinchou a ‘psicomotor’ em
dade. Tanto se ouve falar em pessoas mais das seguintes altas capacidades: inteligên- duas e incluiu a capacidade ‘perceptível’. Então,
superdotadas, mas, afinal, o que é ser cia, criatividade, psicossocial e psicomotor. para Gagné, quatro dessas capacidades são men-
superdotado? Zenita explica que a inteligência tem um tais: intelectual, social, criativa e perceptiva. As ou-
O estudo acerca do assunto vem crescendo conceito diversificado, com suas próprias diferen- tras duas são físicas: muscular, que são os grandes
em vários países. Dessa forma, pela lei da pro- ciações educacionais em termos de inteligência movimentos físicos e capacidades motoras asso-
babilidade sobre pessoas com altas capacidades, verbal, pensamento abstrato ou capacidade ge- ciadas ao controle, e de reflexo. Ambas as capa-
ficou definido que de 3% a 5% da população é ral, reconhecidas nos contextos escolares como cidades normalmente contribuem para atividades
superdotada. talento acadêmico. A criatividade, segundo ela, físicas (por exemplo, tênis, beisebol, ginástica).
Françoys Gagné, professor da Universidade é a capacidade criadora, o pensamento criati- Segundo ele, é possível observar as capaci-
de Quebec, no Canadá, é uma das maiores auto- vo. “O talento psicossocial, algumas vezes visto dades naturais das crianças nas atividades esco-
ridades em educação para dotados e talentosos como liderança, apresenta alta capacidade de lares e no dia-a-dia. “Pense na capacidade inte-
em todo o mundo. Ele define a pessoa ‘dotada’ viver plenamente em grupos, energizar e trans- lectual. Precisa aprender a ler, falar uma língua
como quem tem pelo menos uma alta capaci- ferir energia própria para o grupo, encontrar e estrangeira ou entender novos conceitos mate-
dade. “Superdotação designa a posse e o uso colocar melhor os problemas, e achar vias de máticos. A capacidade ‘criativa’ envolve escrever
de capacidades naturais notáveis, chamadas de resposta dentro das necessidades e interesses uma história, compor uma música, desenhar um
aptidões, em pelo menos uma capacidade de do- do grupo social”, explicou Zenita. E, por último, cartaz atrativo ou brincar com peças de Lego.
mínio, a um grau que coloca o indivíduo a, pelo a psicomotor, indica a capacidade de dominar o Note que, na capacidade ‘social’, as crianças in-
menos, 10% acima da média das pessoas da próprio corpo, coordenações, músculos, tendões teragem com os colegas de sala, professores e
mesma idade”, afirmou. e articulações como, por exemplo, para manejar pais. Finalmente, capacidades perceptiva e física
Os centros de desenvolvimento de talentos um bisturi ou um instrumento eletrônico. orientam as atividades no pátio da escola, nos
do Brasil trabalham com a metodologia da bra- esportes do bairro, ou artes (dança, escultura)”,
sileira, também especialista no assunto, Zenita GAGNÉ - Recentemente, Gagné definiu seis altas exemplificou o especialista.

3 Revista | super TALENTOS


n Conceitos

CAPACIDADE
X
TALENTO
Educação
com inclusão
Quando se fala em ‘educação para su-
perdotados’, fala-se também em ‘educação
inclusiva’. Especialistas no assunto abomi-
nam educação especial para quem tem altas
capacidades. Eles afirmam que a melhor so-
lução é o estudo regular e centros de desen-
volvimento do talento em outro período.
Os especialistas defendem a educação
inclusiva para que as crianças não se sintam
diferentes por terem altas capacidades. Esta
é uma das formas de quem trabalha com
essas crianças tratar também do bem-estar
psicológico de quem é superdotado.
“Sair da visão de uma cultura discrimina-
tória para uma visão de cultura inclusiva não
é tarefa fácil. Entendo a cultura de inclusão
não apenas como a ‘aceitação da diferença’,
mas como ‘acolhimento da diversidade’. A
parte que enriquece o todo”, afirmou a psi-
copedagoga Rosani Barboza.
Para a profissional, a educação é um
processo de formação cultural e a qualida- ‘Capacidade’ e ‘talento’ são duas muito bem, com muitos talentos”, dis-
de do ensino precisa favorecer a abertura de palavras muito utilizadas nos estudos se. Os comportamentos que sinalizam
oportunidade de desenvolvimento pessoal e sobre pessoas superdotadas. Porém, ‘capacidade’, de acordo com ela, são:
de cidadania. “O currículo escolar  precisa ao contrário do que parece, elas não curiosidade, aprendizado, concentra-
ser amplo e flexível, permitindo que se de- são sinônimos. “Capacidade está en- ção, perseverança.
senvolvam capacidades individuais e coleti- raizada no plano genético e é natural. A especialista chama a atenção
vas, enfocando o desenvolvimento cognitivo, Talento está enraizado no ambiente; é para o que ela entende como ‘erro
afetivo e social”, disse Rosani. um desempenho superior, visível, tudo de tradução’. No inglês, ao falar de
o que você faça bem”, explicou Zenita pessoas com ‘altas capacidades’, se
Guenther, fundadora do primeiro cen- fala ‘high abilities’. “No meu ver, essa
tro de estudos para superdotados no palavra ‘habilidades’ entrou no nosso
Brasil e criadora e coordenadora do vocabulário com uma tradução errada.
curso de especialização à distância em ‘abilities’ do inglês, quer dizer ‘capa-
‘Educação Especial para Bem Dotados cidade’, não é ‘habilidade’. Mas eles
e Talentosos’. traduziram assim na lei, ficou”, res-
Segundo Zenita, o que faz o ta- saltou. Ela explicou que não utiliza o
lento é o ambiente. “O talento vai termo ‘habilidade’ porque habilidade é
depender da aprendizagem, do ensi- desenvolvida, e capacidade não. “Infe-
no, do treino, do estímulo externo. Por lizmente, isso traz pensamento torto”,
exemplo, aqui no Brasil se joga futebol completou a professora.

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n Cedets

Programas de vôo
para superdotados
O
Brasil possui seis centros de estudos
para crianças e adolescentes super-
dotados. Um deles fica em São José
dos Campos, interior de São Paulo. O
que ele tem de diferente? É o único totalmente
subsidiado pelo poder público. “Ao considerar
que estudos estatísticos indicam que 3 a 5%
da população mundial têm potencial acima
da média e que um dos grandes desafios da
educação é oferecer oportunidades para a
aprendizagem e o desenvolvimento pessoal
de todos os alunos, promovendo a inclusão, a
Secretaria Municipal de Educação optou tam-
bém pelo atendimento específico dos alunos
talentosos”, afirmou a secretária Municipal de
Educação, Maria América Teixeira.
Inaugurado em julho de 2007, o Progra-
ma Decolar – Desenvolvimento do Talento
atende alunos, com capacidade acima da mé-
dia, do 5º ao 8º anos do Ensino Fundamental
das escolas municipais de São José dos Cam-
pos. Atualmente 517 crianças são atendidas,
no período contrário ao do estudo regular,
em duas unidades: a sul, no Dom Pedro I, e
a leste, na Vila Tesouro. Hoje, existem 61 ativi-
dades sendo ensinadas às crianças, como, por
exemplo, matemática, astronomia, biologia,
robótica, mecânica, línguas (inglês, francês,
espanhol), criação literária, jornalismo. nhecemos uma metodologia com base na edu- tro de desenvolvimento. Lá, por meio do plano in-
Para o prefeito de São José dos Campos, cação humanista que implica em estimular o dividual, são identificadas as capacidades de cada
Eduardo Cury, o Decolar é muito mais que desenvolvimento do potencial e da capacidade criança. Então, ela pode escolher fazer atividades
um centro para o desenvolvimento do talen- pelo enriquecimento de experiências, ampliação na área que tiver interesse. Com o plano individu-
to. “O Programa Decolar não é só um inves- de visão de mundo e convivência responsável al, semanalmente, as crianças são acompanhadas
timento educacional, ele é sim um investi- em clima de respeito e aceitação”, disse Maria pelos facilitadores, quando expõem problemas e
mento social, no sentido de que o talento América. felicidades escolares e, inclusive, pessoais. Tudo é
é desenvolvido e orientado em sintonia com anotado e trabalhado para o bem-estar físico e
o bem comum, compromissado com valores METODOLOGIA – O método utilizado para emocional de cada criança identificada como su-
morais e espirituais”, disse ele. desenvolver os talentos das crianças é o da perdotada. Os facilitadores acompanham as crian-
A metodologia estudada e utilizada para educação informal, considerado o ideal por es- ças e os voluntários são pessoas que dominam
trabalhar com os talentosos do Decolar é da pecialistas do ramo. “Por que para desenvolver determinado assunto e dedicam um pouco do seu
brasileira especialista Zenita Guenther, fun- capacidade tem que ser na educação informal? tempo para ensinarem o que sabem às crianças
dadora do primeiro centro de estudos para O centro de desenvolvimento me pareceu a me- com altas capacidades. (leia texto na página 9)
dotados no Brasil, o Cedet (Centro de De- lhor resposta justamente porque a diversidade, a
senvolvimento do Potencial e Talento), que profundidade... tudo isso vai depender de cada PARCERIAS – De acordo com a coordenadora do
fica em Lavras, Minas Gerais. (leia texto na criança. E é por isso que nós fazemos um plano Decolar, Vera Bittencourt de Carvalho, além dos
página 7) Zenita também é psicóloga, PhD para cada criança a cada semestre. Não há currí- prédios municipais - onde são realizadas aulas
em Psicologia da Educação, criadora e coor- culo, não há obrigatoriedade, não há prova, não às crianças de pintura, inglês, matemática, entre
denadora do curso de especialização Educa- há conteúdo”, explicou Zenita Guenther. outros -, o programa conta com parcerias de uni-
ção Especial para Bem Dotados e Talentosos Nos Cedets espalhados pelo Brasil, após se- versidades, clubes e comércios da cidade, onde
e assessora do Decolar. “Sob a coordenação rem observadas e identificadas na escola regular, são realizadas outras atividades. “A gente busca
da professora doutora Zenita Guenther, co- os alunos são convidados a participarem do cen- a instituição. Hoje estamos com 12 parceiros que

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viabilizam o ensinamento às crian-
ças”, disse. “Entre universidades,
eu tenho a Unifesp [Universidade
Federal de São Paulo] na área de
informática. A Univap [Universi-
dade do Vale do Paraíba] teremos
convênio a partir de 2009. Temos o
Inpe [Instituto Nacional de Pesqui-
sas Espaciais], em que as crianças
têm astronomia”, exemplificou a
coordenadora. Ela citou também o
clube Thermas do Vale, para aulas
de biologia dentro do zoológico
com veterinária e bióloga e as au-
las de robótica no Cephas (Centro
de Educação Profissional Hélio Au-
gusto de Souza).

AMPLIAÇÃO – A Prefeitura de
São José dos Campos já estuda a
possibilidade de ampliar o número
de alunos atendidos no programa.
A secretária de Educação afirma
que, levando em consideração a
lei da probabilidade relacionada
aos superdotados (de que 3% a
5% da população mundial tem
capacidade acima da média), só
no Ensino Fundamental munici-
pal, há por volta de dois mil alu-
nos talentosos. “Nosso objetivo é
atender a todos eles”, ressaltou
Maria América.
Eduardo Cury conta que o
próximo passo já está planejado.
“O projeto deverá ser ampliado na
região norte, em espaço a ser defi-
nido, para atender alunos daquela
região e do centro”, afirmou.

RESULTADO – De acordo com


estudos realizados por Zenita,
para se obter o desenvolvimento
da capacidade humana são ne-
cessários de três a cinco anos de
atendimento especializado, como
há nos Cedets.
No entanto, para a prefeitura,
o pouco tempo de Decolar já de-
monstra diferenças. “Com apenas
um ano de trabalho, podemos ob-
servar o grande envolvimento das
crianças, famílias e comunidade”,
disse a secretária de Educação.
“Vale ressaltar que o número de
voluntários e parceiros envolvidos
nesse programa nos leva a acredi-
tar que estamos despertando não Crianças com altas
só o interesse da criança talentosa, capacidades durante
aulas de matemática
mas da sociedade como um todo”, no computador
ressaltou Maria América.

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Unidade do Decolar Sul,
no bairro Dom Pedro I,
em São José dos Campos

O primeiro programa
O Cedet (Centro de Desenvolvimento de Potencial e Talento) da da primeira série até terminar o Ensino Médio, porque no
foi fundado em 1993, na cidade mineira de Lavras, por Zenita Ensino Superior não há dinheiro, mas algumas crianças ainda
Guenther. precisam”, contou a fundadora.
Hoje, para o funcionamento normal do centro, o Cedet tem Devido ao sucesso e aos bons resultados do Cedet de Lavras,
o apoio da prefeitura da cidade, mas é mantido também pela o programa e a metodologia de Zenita chamaram a atenção de
comunidade, pelo Rotary Club e por escolas particulares que outros municípios. Hoje, de acordo com ela, são seis centros
colaboram cedendo auditórios, locais para prática de esportes, para superdotados em todo o Brasil: Lavras, São José dos Cam-
equipamentos etc. “E tem funcionado bem assim”, afirmou pos, Vitória (Espírito Santo), Palmas (Tocantins), Ipatinga (Minas
Zenita Atualmente, em Lavras são atendidos 850 crianças e Gerais) e Sete Lagoas (também em Minas Gerais). Juntos, hoje
adolescentes superdotados. “Lá nós atendemos desde a entra- os seis centros atendem por volta de 1900 superdotados.

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n Saiba Mais

Núcleo e Conselho
para Superdotados
A
consciência da importância do desen- S (Núcleos de Atividades de Altas Habilidades ConBraSD: Sociedade não-governamental,
volvimento do talento dos superdota- / Superdotação) nos 26 Estados e no Distrito sem fins lucrativos fundada em 29 de março
dos cresceu tanto nos últimos ano que Federal. Os Núcleos devem atender aos alunos de 2003. Tem como objetivo a integração dos
foram criados também o Núcleo de superdotados, promover a formação e capacita- indivíduos mais capazes e o estímulo de suas
Atividade de Altas Habilidades/Superdotação e ção dos professores para identificar e atender potencialidades, de modo a favorecer-lhes a
o Conselho Brasileiro para Superdotação. a esses alunos, oferecer acompanhamento aos auto-realização e propiciar condições a fim
pais dessas crianças e à comunidade escolar em de que se tornem fator de aceleração para a
NAAH/S: Criado em 2005, resultado de uma geral, no sentido de produzir conhecimentos so- sociedade. Integram atualmente o ConBraSD
parceria entre a Secretaria de Educação Especial bre o tema, disseminar informações e colaborar (Conselho Brasileiro para Superdotação) pes-
do Ministério da Educação, a Unesco e o Fun- para a construção de uma educação inclusiva e soas, físicas e jurídicas, de vários estados bra-
do Nacional de Desenvolvimento da Educação de qualidade. Mais informações em www.por- sileiros. Mais informações em www.conbrasd.
–FNDE, com a finalidade de implantar o NAAH/ tal.mec.gov.br/seesp com.br

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n Voluntarios
´

Boa vontade em
atividade
O
s centros do Brasil de desenvolvi-
mento para alunos superdotados
trabalham para que os talentos
não sejam desperdiçados. Para
que a metodologia de Zenita Guenther seja
aplicada corretamente e, assim, tenha bom
resultado, os centros contam com um traba-
lho diferenciado de quem tem boa vontade
e disposição para trabalhar com as crianças
e os adolescentes com altas capacidades.
Além dos facilitadores, os centros contam
com os voluntários.
Os voluntários são pessoas que dominam
certa disciplina e disponibilizam algum tem-
po da semana para ensinarem as crianças e
os adolescentes interessados na atividade e
talentosos para a área. A coordenadora do
Decolar, Vera Bittencourt de Carvalho, infor-
mou que, atualmente, o programa de São
José tem por volta de 30 voluntários nas
mais diversas áreas.
Crianças em aula de computação com voluntária da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
“Os facilitadores que buscam os volun-
tários. Então, eles levantam o plano indivi-
dual dos alunos e está lá ‘o aluno quer fazer sados, super esforçados. Bem diferente de rede assunto e, ao receber o convite para ser vo-
culinária, gastronomia’. Uma conhece um particular, que estão lá porque têm que estar. É luntário, aceitou na hora. Ele dá aulas de jor-
dono de restaurante, ela vai lá e conversa outro clima”, disse Vanessa. nalismo a oito crianças, uma vez por semana,
e ele diz ‘vamos fazer’, aí ele dá a aula de O jornalista Edilon Rocha, editor do jor- há três mês. Ele afirma que está admirado com
gastronomia para a criança. Aí o dono vai nal valeparaibano (um dos maiores meios de as altas capacidades das crianças. “Parece que
e conta pra outro, que se interessa, vem e comunicação da região do Vale do Paraíba, não estou falando com crianças. Para mim, é
telefona para a gente. É uma coisa feita em interior de São Paulo), 41 anos, conheceu o claro que eles estão acima da média”, disse. O
rede”, explicou a coordenadora. Programa Decolar editando matérias sobre o jornalista também acredita que, da sua turma,
Isso aconteceu com Vanessa Marinho futuramente, poderá sair
de Carvalho, de 25 anos, que é voluntária ótimos profissionais da
do Decolar. Ela dá aulas de inglês, uma vez área. “Eles têm o espírito
por semana, para nove crianças superdota- crítico exacerbado. Alguns
das. Vanessa passou um ano em Londres,
QUER SER VOLUNTÁRIO? se destacam até de pro-
na Inglaterra, e voltou há três meses. Há fissionais, se comunicam
um mês ela está ensinando as crianças. “Eu DECOLAR - São José dos Campos, SP muito bem”, ressaltou.
não conhecia o programa. Quando fui para Entrar em contato pelo telefone (12) 3966-8352
Para ser um voluntário,
ou ir até os seguintes endereços:
Londres estava no comecinho. Estou aman- Decolar Sul - Av. Adilson José da Cruz, s/nº (continuação da avenida não é preciso entender a
do”, afirmou Vanessa. Ela contou que queria Cidade Jardim, prédio anexo à escola Jane Palumbo), Dom Pedro I metodologia utilizada e nem
começar a dar aulas e foi pedir ajuda para Decolar Leste - R. Vitório Carnevalli, s/nº (prédio anexo à escola saber identificar os alunos.
uma professora da língua em uma escola de Domingos de Macedo Custódio), Vila Tesouro Basta dominar alguma área
inglês. Lá, a professora falou sobre o progra- CEDET - Lavras, MG que tenha alunos interessa-
ma, ela se interessou, e começou as aulas Entrar em contato pelos telefones (35) 3822 3033 / 3694 4180 dos, ter boa vontade e um
com as crianças. ou pelo e-mail: [email protected] . pouco de tempo durante a
Se preferir, ir até a Rua Átila José Ribeiro, nº 50, Centro
Para a voluntária, as crianças realmen- semana para dar as aulas
te têm diferencial. “Eles são super interes- para os superdotados.

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n Entrevista

A especialista
Zenita
Guenther
“Eu olho para trás do meu salto alto dos
70 anos e falo ‘Mas que sorte, né’. Como é
que eu tive tanta gente boa e ainda tenho?
Como é que a comunidade responde? Eu
acho que meu papel foi muito bem aceito”

Z
enita Cunha Guenther é psicóloga, mes- tidade de setores da vida. Ela não é útil, por colas. Aqui é o único do Brasil que o sistema fa-
tre em Orientação e Aconselhamento e exemplo, pra criar, porque ela é linear demais. lou ‘vou fazer, com qualidade e pra valer’. Claro,
PhD em Psicologia da Educação pela Ela não vê contexto. É impossível você falar no não tem dinheiro pra poder atender uma cidade
Universidade da Flórida, EUA, envolvi- contexto. Tem que falar uma palavra de cada desse tamanho, a prefeitura não teria recurso.
da por vários anos na formação e preparação vez ou escrever. Então, claro que tem que pen- Aqui eu acho que eventualmente nós temos
de professores para todos os níveis de ensino, sar ali: começo, meio e fim. A inteligência não que avançar, porque a criança não é estadual
desde a Educação Infantil até a Pós-graduação. linear não precisa de começo, meio e fim para e nem municipal. A criança é criança. Mas o di-
Aposentou-se da UFMG (Universidade Federal pensar. Quando ela olha aquele total, ela vê nheiro é separado assim. A única maneira que é
de Minas Gerais) para se dedicar ao estudo do configurações. E por isso é que vêm as grandes possível a prefeitura explicar isso, é entrando na
desenvolvimento do talento e capacidade hu- invenções, as grandes relações de uma coisa questão do orçamento. Precisamos de professo-
mana, trabalhando ativamente nessa área em com a outra no tempo e no estado. Então não res e precisamos de competências, precisamos
todo o Brasil, Estados Unidos e Europa, nomea- adianta muito treinar isso. Nós perguntamos ter uma fonte e um lugarzinho pra eles traba-
damente em Portugal. O catalisador de suas ati- aos professores aqueles meninos que se sobres- lharem. A comunidade aqui respondeu muito
vidades é o Cedet (Centro de Desenvolvimento saem, trabalham bem sozinhos, pensam e tiram bem também com o conteúdo. Bom conteúdo,
do Potencial e Talento), que fundou em 1993 conclusões sem explicar por quê. Aprendem bons voluntários trabalhando. É aí que nós te-
em Lavras, Minas Gerais, onde atua como dire- com facilidade, não precisa repetir, não preci- mos que fazer o pessoal de prefeitura tomar um
tora técnica. Escreve e publica intensamente no sa rever. Com esses sinais nós vamos localizar pouco de juízo e pensar na educação como um
Brasil e no exterior, faz palestras e conferências onde está a sua capacidade. Então, vou resumir. todo e não como o sistema A e B. Eles têm que
em congressos e outros eventos. Você identifica a criança com clareza onde está pensar assim porque o dinheiro vem assim.
o seu manancial de capacidade em um ou mais
O que a família pode observar nos fi- daqueles quatro domínios. Mesmo com esse impasse no atendi-
lhos dentro de casa? mento dos superdotados, é positivo ter
Zenita – A família, infelizmente, está mui- No Decolar são atendidas crianças só parceria com prefeitura?
to mal habituada a procurar só a inteligência das escolas municipais. No Cedet, que a Zenita - Eu tenho milhões de experiências
verbal, que nossa cultura gosta muito. Fala, lê, senhora foi fundadora, são todas as es- de trabalhar com sistemas municipais. Acho
escreve, diz poesia. Então, essa inteligência ver- colas? mais próximos das crianças, mais próximos das
bal ela não é a mais útil para uma grande quan- Zenita – Lá nós conseguimos todas as es- famílias, mas geralmente têm menos dinheiro.

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Eu tenho algumas experiências com o Estado, Zenita - A minha filha com três anos tinha
como o estado do Acre, de Roraima, também lá leitura, claro que eu e meu marido já tínhamos
naquele fim de mundo onde não chega de jeito sido universitários, líamos muito. Ele na área
nenhum nas crianças. Eu não vejo um jeito do de arte, ele era pintor, pintura a óleo. Ela fazia
sistema estadual se organizar a não ser para A escola especial muito bem desenho e ela falava muito bem as
dar cursos, palestras, conferências e eventos. duas línguas, português e inglês, porque nós fa-
Não chegam nas crianças. Os seis Cedets que
é boa para desenvolver lávamos as duas línguas em casa. Eu comecei
nós estamos, todos são ligados à prefeitura. talentos específicos, a me preocupar porque eu fiquei preocupada
mas não capacidades. com o bilingüismo. Pensei ‘ih, se ela ficar gaga’,
Qual sua avaliação sobre escolas espe- essas coisas. E aí foi bom, nós resolvemos esse
ciais? E qual a diferença de escola especial
Então, você vê, problema. Então, dessa vez fui eu que procurei.
para o centro de desenvolvimento? escolas de música. Mais tarde, já morava em Flórida, estava fazen-
Zenita – A escola especial é boa para de- Por que para do meu doutorado, e eu recebi em casa, igual
senvolver talentos específicos, mas não capaci- a uma mãe comum: ‘Luize foi identificada como
dades. Então, você vê, escolas de música. Por
desenvolver uma pessoa que pode ser acelerada, com uma
que para desenvolver capacidade tem que ser capacidade tem capacidade superior, eu gostaria de falar com os
na educação informal? No centro de desenvol- que ser na educação pais’. Aí fui com meu marido lá pra conversar. E
vimento me pareceu a melhor resposta justa- eu comecei a ver que pra ela foi melhor quando
mente porque a diversidade, a profundidade...
informal? No centro a escola falou do que quando eu levei. E aqui-
tudo isso vai depender de cada criança. E é de desenvolvimento lo ficou, minha filha foi muito bem atendida.
por isso que nós fazemos um plano para cada me pareceu a Hoje ela tem um doutorado numa área difícil
criança a cada semestre. Não há currículo, não como essa, numa faixa de menos de 30 anos.
há obrigatoriedade, não há prova, não há con-
melhor resposta O livro dela publicado em Londres, pela Oxford,
justamente porque
teúdo. Todos os conteúdos vão ajudar a desen-
volver capacidade se você tiver interesse nele.
Não existe escola com currículo regular pra
desenvolver capacidade. Em outros países tem
escolas especiais, mas todas particulares.
Para educação do todo, para desenvolver a
a diversidade, a
profundidade...
tudo isso vai depender
de cada criança.
‘ ganhou um dos três prêmios do Melhor Livro
Publicado na área em 2004. Uma coisa que o
mundo inteiro quer fazer.

E por causa da alta capacidade de


sua filha que a senhora resolveu criar um
capacidade, a experiência de vida, é a vida de centro de desenvolvimento no Brasil?
verdade, e a escola especial já é uma vida fanta- Zenita - Eu pensava sempre ‘E se ela ti-
siosa, meio de mentira. A diversidade das crian- vesse sido criada em Lavras? Até onde ela iria?
ças, das famílias, dos conteúdos dos professores Teria capacidade? E, se tivesse, como é que ela
ajudam as crianças a ter muito mais experiência Como surgiu seu interesse pelo ia?’. Então, aí, quantas crianças que poderiam
do que ficar num lugar, que só faça os mesmos tema? estar com a vida linda para contar, produtiva
conteúdos. Cai também a estimulação. Zenita – Eu sou uma pessoa de muita sor- e feliz, estão lá em casa? Ainda mais crianças
te, porque quando foi no ano de 50, uma gran- pobres. Quantas crianças pobres os pais não
Existem escolas especiais aqui no Bra- de psicóloga russa, que viveu e morreu aqui no podem meter numa escola particular e que fi-
sil? Brasil, ela pensava já em capacidade, em 1929 cam sempre pensando ‘essa escola não presta e
Zenita – Não, no Brasil não tem graças a ela falava que nós precisávamos procurar as tal’?. Esse foi o trabalho com o qual eu comecei
Deus. O Cedet é um centro de enriquecimen- pessoas capazes. Então, em 50, ela fez uma a me interessar. E é por isso que eu procurei os
to. campanha no estado de Minas para procurar sistemas públicos de educação e não quis fazer
crianças, jovens (eu tinha 10 anos na ocasião) uma escola, uma coisa com pais ricos.
Qual é a sua ligação com a Universi- para trabalhar com educação. Era “Cérebros
dade Federal de Lavras? para Educação”, que chamava. Nessa ocasião, Como a senhora se sente com seu tra-
Zenita – É formal (risos), com diploma e eu fui selecionada. E fui para lá e aprendi. Foi balho realizado na área?
tudo. Nós criamos esse curso para preparar o uma escola ótima. Era vivência, você limpava o Zenita – Eu olho para trás do meu salto
pessoal para estar nas equipes centrais, conhe- chão, fazia comida. Tinha uma base muito avan- alto dos 70 anos e falo ‘Mas que sorte, né’.
cer essa teoria e não errar tanto na entrada çada. Depois disso, eu tomei minha vida nor- Como é que eu tive tanta gente boa e ainda
com as crianças. Aqui no Brasil, nós temos dois mal. Me formei cedo, comecei a trabalhar como tenho? Como é que a comunidade responde?
erros ao trabalhar com as crianças. Um, é lazer professora. Eu fui me bater com essa idéia mais No meu ponto de vista, eu acho que meu papel
demais. Então, a criança pequena gosta, quan- tarde com a minha filha. Nós estávamos nos foi muito bem aceito. Eu me esforço, mas quem
do tem 13 anos ele não quer mais. E o outro EUA, meu marido era americano, ele já faleceu, não se esforça, né? Mas faço com muito gosto,
é a idéia de que qualquer coisa se desenvolve, nós moramos lá. Minha filha Luize, hoje é dou- tenho muita produção boa, muita saúde boa,
então a gente começa a fazer tudo que tem. tora em história econômica, está fazendo uma vou para todo lugar, fico no aeroporto horas,
Tem um bom pianista, todo mundo aprende a grande pesquisa em Washington agora, saiu de brigo com todo mundo que tenho que brigar
tocar piano. Quer dizer, ignora o desejo e o do- Oxford direto para lá, fez estágio em Paris. Roda (risos). Do meu ponto de vista, eu me preocupo
mínio de capacidade da criança. E é isso que o mundo todo. Hoje já está quarentona (risos) um pouco com a continuidade, não pode ficar a
nós tentamos corrigir com os centros. Por isso coisa sendo idéia de uma pessoa. Então, eu es-
não tem outra saída a não ser o trabalho indi- A sua filha foi considerada superdo- crevo muito, pra deixar tudo anotado nos meus
vidualizado. tada? livros.

11 Revista | super TALENTOS


~
n Identificacao
ç

Será que ele


é superdotado?
D
“A família esde o momento em que começam a freqüentar te chamado de superdotado – apresenta características
a escola, as crianças são estimuladas a apren- já em seu plano genético. A maioria dos estudos indica
reconhece der. E uma das primeiras coisas que aprendem o plano genético como o fator mais potente na determi-
melhor é que precisam estudar para terem boas notas nação de características humanas incluindo capacidade
precocidade, e conseguir passar de ano. e talento. Isso explica pessoas que, desde criança, con-
Nesse meio tempo a criança vai desenvolvendo seu seguem tocar um instrumento ou ter raciocínio lógico
mas não é capaz potencial. Lá no chamado ‘prezinho’ sempre tem aquela sozinhas.
de reconhecer menina mais falante, aquele menino que desenha e pin- “As crianças com capacidade superior trabalham
capacidade ta melhor; depois, no decorrer da vida escolar, aparecem bem sozinhas, pensam e tiram conclusões sem explicar
aqueles que aprendem a ler primeiro, que aprendem a por quê. Aprendem com facilidade, não precisam repetir,
com a mesma tabuada do quatro sem errar, conseguem escrever tex- não precisam rever. Com esses sinais nós vamos localizar
clareza. Nós tos, sabem verbo, equação, jogar vôlei e por aí vai. Essas onde está a sua capacidade”, explicou a brasileira espe-
vemos pais que crianças se destacam dos demais. Impressionam, muitas cialista Zenita Guenther.
vezes, por aprenderem sozinhas. A criança superdotada é fisicamente igual a todas
acham os filhos São os chamados “autodidatas”. Sem que a família as outras, porém, seu comportamento e características
todos capazes, ou os professores se dêem conta, a criança já aprendeu a são atributos próprios da faixa etária e do estágio de
mas quando mexer no computador, a raciocinar rápido, a ler e a escre- desenvolvimento em que se encontram. Não são “mini
ver. Surge, então, o questionamento ‘Será que ele é super- adultos”, mas apresentam, por diversas vezes, compor-
as crianças dotado?’. A criança pode realmente ter altas capacidades tamento superior ao da sua idade cronológica.
saem da fase – termo mais utilizado em estudos para falar do “super-
de precocidade dotado” – porém, é preciso ter cuidado para que não se EM CASA - Zenita afirma que a escola é o local ideal
confunda talento, como ser bom em música, por exemplo, para se identificar essas crianças. “Na escola, o coletivo
é mais difícil com capacidade elevada. (leia texto na página 4) está lá, é o ideal. Em casa, a família, infelizmente, está
pra família Existem estudos e métodos que auxiliam na identifi- muito mal habituada a procurar só a inteligência verbal,
conseguir cação da criança com altas capacidades, pois nem sem- que nossa cultura gosta muito. A criança fala, lê, escreve,
pre é fácil entender se alguém é superdotado ou não. diz poesia”, disse.
identificar. Em Todas as pessoas podem ser consideradas talento- De acordo com ela, grandes invenções nasceram de
sala de aula, sas dentro do contexto em que estão vivendo. Sempre pessoas que não se preocuparam em estudar linearmen-
para o professor, conhecemos alguém que apresenta um desempenho su- te, com começo, meio e fim. A inteligência não-linear
perior em artes, como pintura, música ou teatro. Prova- precisa somente do contexto, onde a pessoa observa o
é mais fácil”, de velmente, essas pessoas sempre tiveram gosto por essas todo e vê possibilidades.
Zenita Guenther áreas e foram estudar, procurar cursos e grupos que as A família nem sempre consegue enxergar isso. Em
ajudassem a desenvolver o talento. O professor fran- uma casa com três crianças, por exemplo, uma que se
cês Françoys Gagné, uma das maiores autoridades em destaque já pode ser considerada pelos pais como su-
educação para dotados e talentosos, explica de forma perdotada. Muitas vezes, a criança apresenta somente
clara o assunto quando diz que “o talentoso apresenta um talento mais perceptível para determinada área, mas
alto desempenho em alguma área, pois ele estuda para os pais não possuem ali, uma boa base para compara-
isso”. ção.
Já a pessoa com capacidade elevada – popularmen- “A família reconhece melhor precocidade, mas não é

Revista | super TALENTOS | 12


capaz de reconhecer capacidade com a mesma o que é um pensamento errôneo. identificar capacidade por meio de teste de QI,
clareza. Nós vemos pais que acham os filhos A professora Zenita esclarece: “O correto porque se perde toda a população para a qual
todos capazes, mas quando as crianças saem é o termo ‘identificar’. Muitas pessoas falam as perguntas não se adaptam”, afirmou.
da fase de precocidade é mais difícil pra família ‘seleção’, ‘descoberta’ e não é bem assim. O A melhor forma de identificação, segundo
conseguir identificar. Em sala de aula, para o professor vai identificar qual é o tipo de capa- ela, é em sala de aula. O professor, por meio
professor, é mais fácil”, explicou Zenita. cidade superior”, disse. Segundo a especialista, de observação direta, coleta dados sobre suas
testes de QI não são os ideais para identificar os turmas indicando os alunos que se sobressa-
QI - Muita gente ainda pensa que o teste de QI superdotados. “Testes de QI podem ser sinais em nos sinais, comportamentos e indicadores
(Quociente de Inteligência) é a forma mais utili- de inteligência, mas quando não estão bons dentro dos diferentes domínios de capacidade.
zada para ‘descobrir’ se alguém é superdotado, não é sinal de falta de inteligência. Não se deve (vide quadro na página 15)

13 Revista | super TALENTOS


NA ESCOLA - Tudo o que o professor da na a importância de seu papel para os centros os dados registrados pelas escolas regulares,
escola regular observa é anotado na folha de de desenvolvimento de talento. Queremos do enfim, toda e qualquer observação que se te-
observação. De forma simples, pode-se dizer professor a experiência da vivência diária com a nha sobre o aluno. Essa parte finaliza o trabalho
que ela é uma lista de itens representativos das criança. Isso é indispensável”, afirmou Luciane da escola. Identificadas as crianças, começa o
características encontradas nas crianças dota- Mirela de Souza, facilitadora do Decolar (centro trabalho nos Cedets.
das e talentosas. Normalmente a lista fica so- de desenvolvimento de talento de São José dos
bre a mesa e vai sendo preenchida aos poucos. Campos). NO CENTRO - A primeira coisa que a crian-
Anota-se as informações à medida que se per- Com as fichas preenchidas, é hora de enca- ça faz quando começa a freqüentar um centro
ceba as respostas. Em duas semanas, é possível minhá-las para a equipe de direção da escola. de desenvolvimento de talento é decidir o que
que o trabalho esteja terminado com bom grau Essa equipe vai avaliar a lista de alunos que quer aprender. Cada criança terá seu facilitador
de confiabilidade. apresentam sinais de talento sob outro olhar. - professor que vai acompanhar e avaliar todo
“O professor da escola regular não imagi- Ela vai analisar as histórias de vida das crianças, seu desempenho – (veja texto a seguir) e, junto

Revista | super TALENTOS | 14


a ele, montará seu plano individual para de- ça gosta ou não de fazer, e assim chegam juntos individual. A primeira delas, de acordo com Ze-
cidir o que quer trabalhar nos próximos seis a um acordo sobre o planejamento de trabalho. nita, são os interesses e preferências. Para que
meses. “O plano individual não é feito para Em sua maioria, as atividades escolhidas pelas a criança tenha gosto do que está fazendo, o
o aluno. É feito COM o aluno”, ressaltou Ze- crianças coincidem com os domínios de capa- plano individual precisa ter atividades que dêem
nita. cidade identificados no primeiro momento da prazer. É nessa parte do projeto de trabalho que
Por meio de conversa informal, o facilita- observação, segundo a especialista Zenita. se dá mais atenção ao que a criança tem curiosi-
dor vai conhecendo a criança e descobrindo Na metodologia dela, que é utilizada nos dade e ao que mais gosta de fazer.
as áreas pelas quais ela mais se interessa, Cedets de todo o Brasil, há algumas questões Outra questão é o que há necessidade de ser
áreas que há curiosidade, coisas que a crian- necessárias para o preenchimento do plano observado. Essa parte do plano individual direcio-
na a situação que o aluno
é orientado a enfrentar,
não necessariamente por
escolha, mas porque é
preciso aprender, melho-
rar ou corrigir. Pode-se
dizer que a criança é es-
timulada a estudar o que
não tem tanto interesse.
Como, por exemplo, es-
tudar gramática, se gosta
de literatura, mas não se
sente à vontade para es-
crever.
A última questão, que
é uma parte opcional do
plano individual, aparece
mais no trabalho com
adolescentes: focalizar
aspectos de si próprio.
Trata-se de um trabalho
de orientação feito pelo
facilitador, onde o alu-
no expõe um problema,
como discutir muito com
o irmão, por exemplo, e o
facilitador procura con-
versar e ajudar.
Terminados os passos
de formação do plano in-
dividual, os facilitadores
se reúnem e estudam o
conteúdo geral do que foi
pensado. Quando apenas
um ou outro aluno se in-
teressa por determinado
assunto, as atividades
para eles acontecem de
forma individual. Muitas
vezes, os alunos é que

15 Revista | super TALENTOS


vão até onde os voluntários estão para terem necessidade, as crianças podem ter aulas que facilitador se encontra com seu aluno semanal-
aulas. vão desde inglês, pintura, desenho e francês até mente para conversar sobre o seu desenvolvi-
Mas, quando um grupo de cinco ou mais astronomia, mecânica e violão. Tudo vai depen- mento e impressões sobre a escola e as ativi-
crianças se interessa por um mesmo assunto, der do interesse da criança e do surgimento de dades realizadas no centro de desenvolvimento.
é criado um ‘grupo de interesse’. As crianças voluntários para ministrar essas aulas. (leia tex- Tudo isso vai para uma ‘ficha acumulativa’,
desse grupo terão aulas semanais no período to na página 9) onde são documentadas as impressões do fa-
contrário ao da escola. Dentro de cada plano e Conforme o trabalho vai sendo realizado, o cilitador.

Revista | super TALENTOS | 16


Facilitador
de talentos
Quem guia essas crianças nos
centros pelos caminhos da desco-
berta da capacidade e do desen-
volvimento do talento são os ‘faci-
litadores’. Eles são os responsáveis
pela elaboração do plano individual
do aluno, de acordo com os talentos
que a criança apresenta. Para isso,
eles se encontram semanalmente
com seus atendidos e, além de iden-
tificarem as altas capacidades, ficam
sabendo tudo o que se passa na vida
da criança. “Nós fazemos também
um trabalho de valores com as crian-
ças. A gente conhece, conversa, tudo
o que ele faz incluindo a vida fami-
liar e escolar, e aconselha”, explicou
a facilitadora do Decolar Luciane Mi-
rela de Souza.

D icas
Além do encontro semanal, cabe
ao facilitador a procura pelos volun-
tários para aplicarem as atividades
de interesse dos alunos atendidos.
“Os facilitadores são os que fazem
a diferença. Eles buscam. Então eles
levantam o plano individual dos alu-
nos e vai atrás para arrumar um vo-
luntário naquela atividade”, afirmou
Vera Bittencourt de Carvalho, coor-
denadora do Decolar.
Mas, ser facilitador, não é sim-
ejar e
e d u c a tivo é plan ples. Além de já serem professores
en to ets não
o d e enriquecim o trabalho nos Ced efetivos da rede municipal de ensi-
o pro c e ss es. N conceito
m a is im portante n im e n to d as atividad a d e e Ta lento – Um no interessados pelo assunto, eles
O volv acid
ar o desen volver Cap
acompanh . Em seu livro Desen dica: fazem o curso de pós-graduação em
nte áa ele;
seria difere professora Zenita d , e n unca PARA
Lavras, Educação Especial para Bem
o, a a lu n o Dotados e Talentosos, na Ufla (Uni-
de Inclusã es COM o lmente;
as atividad os semana mês.
u Planeje e de perto, pelo men versidade Federal de Lavras), Minas
anh máximo um muito utilizada em
u Acomp o s c u rtos, de no tégia do
Gerais. Segundo Vera, cada facilita-
u Avalie e
m pe rí o d
tr a b a lh o é uma estra strado um bom méto dor tem de 60 a 80 alunos, como
id u a l d e m se m o
indiv ntosos e te
Um plano e c ia l para tale
prevê a metodologia. O Programa
ã o E sp Decolar possui sete facilitadores no
Educaç
o.
pedagógic total (quatro na região leste e três na
sul), segundo Vera.

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n Relacionamento

A
ARTE
DA
CONVIVÊNCIA
“Essas crianças têm mais assunto. É natural
que elas queiram a companhia de pessoas mais
velhas e, muitas vezes, se queixem para os pais
de não terem muitos amiguinhos na escola.
Mas são fases”, da psicóloga Arina Maia

R
elacionar-se é, por definição, necessá- lacionamento social. Muitas vezes procuram a isso, pois é raro uma criança superdotada ser
rio. A gente cresce aprendendo que tem companhia de pessoas mais velhas, na tentativa completamente talentosa nos quatro domínios
que manter uma relação de amizade, de encontrar parceiros com o mesmo nível inte- de capacidade. (veja quadro na página 15)
companheirismo, solidariedade e res- lectual ou o mesmo tipo de interesses. Sendo assim, ela sempre vai ter a vontade e a
peito com os que estão à nossa volta. É uma “Essas crianças têm mais assunto. É natural curiosidade de aprender com o outro. “Você vê
espécie de regra para uma vida saudável. que elas queiram a companhia de pessoas mais que os problemas psicológicos que acontecem
Mas, e quando somos crianças? Quem con- velhas e, muitas vezes, se queixem para os pais com as crianças capazes são todos originados
segue se lembrar do relacionamento que tinha de não terem muitos amiguinhos na escola. ou mantidos por adultos, principalmente vaida-
com seus amigos na primeira série? Nem sem- Mas são fases”, disse a psicóloga Arina Maia. de ou rejeição.
pre nos lembramos, mas muito de nossa per- O mal entendido pode acontecer porque A família é que começa ‘esse é o meu or-
sonalidade hoje é reflexo de fatos ocorridos na crianças superdotadas se desenvolvem mais gulho’ e os outros filhos pensam ‘por que ele é
infância. rápido por natureza e, muitas vezes, preferem orgulho e eu não sou?’. A família tem que ser
Quando se fala da criança superdotada, atividades individuais na escola. Trabalhar sozi- ajudada, porque a criança não se sente superior
muitos acham que essas crianças têm fortes nhas pode ser uma necessidade delas, não um naturalmente”, explicou Zenita.
problemas de relacionamento com os colegas problema. Maria Clara Sodré S. Gama, doutora Geralmente a escola mantém contato com
e passam por constantes problemas de auto- em Educação pela Columbia University, afirma os pais para informá-los e questioná-los sobre
conhecimento. A professora Zenita Guenther, que crianças superdotadas têm um potencial a vida escolar de seus filhos. A partir dessa liga-
especialista no assunto, esclarece que isso não muito acima das outras crianças na área do co- ção já existente, os centros de desenvolvimento
pode ser generalizado. “Geralmente é minoria nhecimento acadêmico, porque têm interesses de talentos realizam suas atividades com a fa-
que passa por problemas psicológicos e, na ida- que não interessam a crianças de sua idade. mília.
de em que estão [dos 10 aos 17], ainda há a Isso acontece muito quando eles são peque- “A família, como com qualquer criança, pre-
sensibilidade da adolescência. Na verdade, as nos. Aos poucos, eles vão aprendendo a se cisa estar presente. Os pais de um superdotado
pessoas capazes têm mais saúde psicológica relacionar. precisam ser claros com seu filho, explicando
que a média da população. Se dão mais fácil Algumas crianças precisam de um acompa- que ele tem um talento especial, mas que não é
com mudança de emprego, com perda de di- nhamento profissional. E por que não? Ao se melhor do que os outros. É importante ressaltar
nheiro, com divórcios, vivem mais e produzem destacar no grupo, a criança superdotada pode que no grupo social é a diversidade de talentos
mais”, explicou. ser admirada ou ignorada. São dois pontos dis- que traz a diversão e o desenvolvimento e que
Porém, psicólogos afirmam que alguns tintos. cada pessoa tem uma contribuição valiosa a
superdotados passam por dificuldades no re- Normalmente as crianças lidam bem com dar”, afirmou Maria Clara.

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Cuidado
à vaidade
dos pais
 Para a especialista Zenita
Guenther, o relacionamento das
crianças superdotadas com outras
crianças é prejudicado principal-
mente quando os pais têm vaidade
sobre a alta capacidade do filho.
“O pai sente que o filho é superior
porque é capaz e tem vaidade da
capacidade dele. Com isso, ele faz
da criança mais do que as outras
crianças ou mais até que os outros
próprios filhos”, ressaltou.
Segundo Zenita, desta forma, a
criança pode herdar a vaidade dos
pais e assim ter problemas de rela-
cionamento. Ela alerta que os pais
devem ver a dotação do filho com
normalidade.

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n Cartas

Eu no Decolar
“Antes do Programa entrar em minha vida eu não
imaginava que era bem dotada, para mim isso era
coisa de outro mundo, mas quando fiquei sabendo
que era fiquei orgulhosa de mim mesma mas não
deixei que isso subisse à cabeça”

“Foi incrível ter entrado no Decolar! Tudo começou


com a indicação dos professores de minha escola, depois
com a observação assistida dos alunos indicados e final-
mente com a entrada de alguns alunos da minha escola
no Programa, inclusive a minha.
Então, comecei a ter um acompanhamento com mi-
nha facilitadora e coordenadora do Decolar, Vera, onde
ela me explicou tudo sobre o Programa e até hoje acom-
panha minha vida escolar e pessoal e me dá orientações.
Depois de alguns meses conversando com minha fa-
cilitadora, eu comecei a fazer os cursos que havia esco-
lhido de acordo com meu interesse e com a ajuda dela no
Decolar.
Antes do Programa entrar em minha vida eu não
imaginava que era bem dotada, para mim isso era coi-
sa de outro mundo, mas quando fiquei sabendo que era
fiquei orgulhosa de mim mesma mas não deixei que isso
subisse à cabeça.
Para mim, a parte mais difícil de tudo isso é enfren-
tar o preconceito dos colegas. Muitos deles não entendem
que sou normal e inventam apelidos, fazem brincadeiras
ou então ficam perto de mim com algum interesse. Ain-
da bem que nem todos são assim! Antes essas coisas me
deixavam triste, mas hoje em dia, com a orientação da
Verinha e com o apoio de minha família, consigo lidar
melhor com essas situações.
É ótimo estar no Decolar, mas tenho consciência de
que não sou melhor do que ninguém, apenas tenho al-
guns talentos que precisam ser desenvolvidos.”

Letícia Basílio, 13 anos


Altas capacidades: inteligência,
criatividade, psicossocial

Revista | super TALENTOS | 20


n Cartas

Sonhos e o Decolar
“Há um pouco menos de dois anos eu era apenas um
menino dedicado as aulas e que levava a escola a sério,
só isso, e eu tinha tantas curiosidades e vontades! Eu
mesmo reconhecia que tinha um mundo imenso lá fora,
mas que eu não podia explorar”

“ O que será que eu tenho para falar do Decolar? Será que é


só que ele mudou a minha vida? Claro que não!
Há um pouco menos de dois anos eu era apenas um menino
dedicado as aulas e que levava a escola a sério, só isso, e eu tinha
tantas curiosidades e as vontades então! Eram muitas e imensas,
eu mesmo reconhecia que tinha um mundo imenso lá fora, mas que
eu não podia explorar, não por falta de querer, porque se fosse
só querer este seria um mundo maravilhoso, mas sim porque não
conseguia, e eu ficava todas as tardes sozinho em casa só pensando:
Como será que eu consigo? Quem pode me ajudar? Na verdade,
vivi isso durante uns três anos! Parecia que quanto mais eu pen-
sava, mais eu me distanciava deste sonho. Vamos se falar que eu
sou uma pessoa não habituada a sorrisos, nem que demonstre sua
alegria...
Como tudo aconteceu “às escondidas”, foi uma completa sur-
presa saber que eu estava no Decolar. Mas, afinal, o que era o De-
colar? Eu não havia entendido praticamente nada e não sabia o
que fazer, com o tempo, eu fui entendendo o que ele realmente era.
Se você acha que é só um lugar para ocupar seu tempo, está
perdendo tempo achando o errado, confesso que um tempo atrás já
pensei isto, mas não é, o Decolar é um lugar onde você exercita as
suas habilidades, ou até descobre elas, e isto é coisa séria, porque
ninguém como os que trabalham no Decolar, para desenvolvê-lo,
ou os voluntários, que querem nos ajudar, fazem isto apenas para
pura diversão nossa.
Hoje descobri muitos como eu que também participam do Deco-
lar, tanto alunos como os voluntários e funcionários, e para quem
acha que sonhos não se realizam, ou que não querem se iludir
achando que o que querem nunca vai acontecer, eu sou o exemplo
que diz que isso simplesmente acontece.”

José Alan de Souza Rodrigues, 13 anos


Altas capacidades: inteligência, criatividade, psicossocial

21 Revista | super TALENTOS


n Artigo

Talento e capacidade
humana - o desafio
C
apacidade e talento realmente existem, em dimensões, ca), ao aprofundar o conceito vai agregando outras dimensões, e
expressões e manifestações diferenciadas e amplamente em 2004, define inteligência superior e dotação como resultado
diversificadas. Essa afirmação não é contestada, embora da interação de quatro fatores: sabedoria(wisdom), Inteligência,
em situações compreendidas como “erro fundamental de Criatividade e uma Síntese dessas e outras características pes-
atribuição de causas” possa haver dificuldade, no grupo de pares soais. Sob outro ângulo, Goleman (1994) identifica Inteligência
e contemporâneos, em reconhecer sucesso como sinal de capaci- Emocional em oposição à Inteligência Racional. Helena Antipoff
dade. Nesse contexto, potencial e talento ficam ignorados, apesar desde 1946 afirma que “A inteligência, encarada no seu todo,
da esperança que a humanidade deposita no talento humano, não pode ser separada da personalidade total”,  e em 1971
como a maior força em potencial para a melhoria da humanidade comentando os estudos de Terman: “Não há nenhuma prova
e aperfeiçoamento da qualidade da vida neste planeta. contrária à existência de bem dotados no meio rural...” e por
Define-se como “dotação” ou “capacidade elevada” a confi- implicação, nas classes pobres e desprivilegiadas,  hoje um fato
guração estabelecida por acaso no plano genético que contem pre- tacitamente aceito.
disposições e disposições geradoras de maior potencial em um ou
mais domínios de capacidade. Como capacidade natural pode ser Domínio da Criatividade
desenvolvida durante ávida, por vias não intencionais, experiências A noção de criatividade inclui inventividade ao enfrentar
vividas e educação informal, captada no ambiente. “Talento” refe- problemas; imaginação, pensamento intuitivo; originalidade em
re-se a desempenho notável, superior em qualidade e quantidade, ações e idéias; evocação fluente em redes e blocos de idéias in-
em alguma área de ação, atividade diferenciada no ambiente. ter-relacionadas; invenção, criação, novidade. Guilford considera
  criatividade como uma dimensão da inteligência, uma vez que
Origem: Forças Genéticas ou ambientais? não existe pensamento criativo sem uma base de inteligência, e
Existe forte associação entre capacidade e configuração ge- nem capacidade intelectual notável, sem traços de criatividade.
nética, chegando a índices tão altos como 70% (Plomin, et al., Associam-se à criatividade: produção original literária, científica
1994; Bouchard, 1997, citados em Freeman e Guenther, 2000). ou artística, preferência pelo pensamento holístico, percepção, in-
Contudo predisposições genéticas provavelmente não produzem tuitição, originalidade e fluência de ações e idéias, elevado senso
“talento” como desempenho superior sem um conjunto de in- crítico e autocrítica.
fluências, situações e rede de interações ativas no ambiente, em
diferentes fases da vida.  Domínio Sócio – afetivo
A evidência acumulada pelo crescente corpo de pesquisa na Essa área de capacidade humana, ainda limitada na especifici-
área, (veja em Freeman e Guenther, 2000), demonstra presença dade de conceituação, geralmente agrupa aptidões e traços asso-
de talento em todos os grupos sociais, raças, e povos, em todas ciados com liderança, energia pessoal, persuasão sob um ângulo;
as histórias e todas as geografias, captável através de produção e relações humanas, interação, convivência grupal, e características
diferenciada em um ou mais dos quatro Domínios: interpretadas às vezes como “inteligência emocional” sob outro.
1. Inteligência e capacidade intelectual
2. Criatividade e pensamento criador Domínio sensório-motor
3. Capacidade sócio-afetiva e intra-pessoal No domínio sensório-motor identificam-se raízes específicas
4. Habilidades sensório-motoras para cada conjunto de capacidades na área sensorial (extra-
ordinária capacidade visual, auditiva, olfativa) e Motora, (no-
Domínio Da Inteligência tável força, resistência física, precisão de reflexos,  coordenação
A noção de capacidade intelectual inclui habilidades mentais viso-motora, auditivo-motora, etc.). São capacidades facilmente
como pensamento analítico e senso de observação (indução, dedu- identificáveis, por traços de habilidades sensório-motoras, boa
ção, ....); pensamento verbal (linear); espacial (não linear); estabele- coordenação motora, notável controle da mente sobre funções
cimento de relações; memória, julgamento, meta-cognição. do sistema muscular e ósseo, talento esportivo e elevado desem-
Nos últimos 20 anos vemos o conceito de inteligência avan- penho físico- motor.
çando e aprofundando as diferenciações: Gardner (1983) desafia
a noção de Fator G, com sua teoria das  “Inteligências Múltiplas”; Zenita Cunha Guenther
Sternberg  autor da Teoria Triárquica (analítica, criativa e práti- [email protected]

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Agradeciment
os
Para que esse Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Jornalismo se tornasse realidade,
tivemos a ajuda e a participação de pessoas imprescindíveis, e vão para essas pessoas os nossos
agradecimentos.
Obrigada às nossas famílias e namorado (da Flávia) pelo apoio incondicional e pela
compreensão, à Dra Zenita Guenther (por toda atenção e respeito e pela tão vasta bibliografia
sobre o tema), Joan Freeman e Françoys Gagné (For your studies and all atention that you
gave us. Thanks!), Professor Veteriano Miura (pelo apoio e compreensão), Vera Costa e toda
equipe do Decolar (por ter nos recebido de braços abertos), às crianças Letícia, José Alan e
Leonardo (por nos deixar conhecer um pouco de suas vidas), à secretária Municipal de Educação
e ao prefeito Municipal de São José dos Campos (pela colaboração e respeito).
Por fim, um agradecimento especial à nossa orientadora, Maria D’Arc da Silva Hoyer,
e às nossas co-orientadoras, Rosani Barboza e Vânia Braz. Vocês estiveram presentes e
acreditaram em nosso trabalho. Seremos sempre muito gratas.
E claro, não poderia faltar... Ele! Obrigada meu Deus! Nós conseguimos!

Flávia Marcondes Ferreira e Kamilla de Souza Barboza

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