Zenita Guenther Entrevista Capacidade e Talento PDF
Zenita Guenther Entrevista Capacidade e Talento PDF
Zenita Guenther Entrevista Capacidade e Talento PDF
super Talentos
Para entender o dilema dos superdotados
SUMÁRIO
Conceitos: O que é superdotação? | 3
Conceitos: Capacidade X Talento e Educação Inclusiva | 4
Programas: Conheça os Cedets | 5
Saiba Mais: NAAH/S e ConBraSD | 8
Boa Vontade: Entenda o trabalho dos voluntários | 9
Entrevista: Conheça mais da especialista Zenita Guenther | 10
Identificação: Será que ele é superdotado? | 12
Relacionamento: A arte da convivência | 18
Cartas: Depoimentos de superdotados do Decolar (foto) | 20
Artigo: O desafio do talento e da capacidade humana | 22
Agradecimentos | 23
CAPACIDADE
X
TALENTO
Educação
com inclusão
Quando se fala em ‘educação para su-
perdotados’, fala-se também em ‘educação
inclusiva’. Especialistas no assunto abomi-
nam educação especial para quem tem altas
capacidades. Eles afirmam que a melhor so-
lução é o estudo regular e centros de desen-
volvimento do talento em outro período.
Os especialistas defendem a educação
inclusiva para que as crianças não se sintam
diferentes por terem altas capacidades. Esta
é uma das formas de quem trabalha com
essas crianças tratar também do bem-estar
psicológico de quem é superdotado.
“Sair da visão de uma cultura discrimina-
tória para uma visão de cultura inclusiva não
é tarefa fácil. Entendo a cultura de inclusão
não apenas como a ‘aceitação da diferença’,
mas como ‘acolhimento da diversidade’. A
parte que enriquece o todo”, afirmou a psi-
copedagoga Rosani Barboza.
Para a profissional, a educação é um
processo de formação cultural e a qualida- ‘Capacidade’ e ‘talento’ são duas muito bem, com muitos talentos”, dis-
de do ensino precisa favorecer a abertura de palavras muito utilizadas nos estudos se. Os comportamentos que sinalizam
oportunidade de desenvolvimento pessoal e sobre pessoas superdotadas. Porém, ‘capacidade’, de acordo com ela, são:
de cidadania. “O currículo escolar precisa ao contrário do que parece, elas não curiosidade, aprendizado, concentra-
ser amplo e flexível, permitindo que se de- são sinônimos. “Capacidade está en- ção, perseverança.
senvolvam capacidades individuais e coleti- raizada no plano genético e é natural. A especialista chama a atenção
vas, enfocando o desenvolvimento cognitivo, Talento está enraizado no ambiente; é para o que ela entende como ‘erro
afetivo e social”, disse Rosani. um desempenho superior, visível, tudo de tradução’. No inglês, ao falar de
o que você faça bem”, explicou Zenita pessoas com ‘altas capacidades’, se
Guenther, fundadora do primeiro cen- fala ‘high abilities’. “No meu ver, essa
tro de estudos para superdotados no palavra ‘habilidades’ entrou no nosso
Brasil e criadora e coordenadora do vocabulário com uma tradução errada.
curso de especialização à distância em ‘abilities’ do inglês, quer dizer ‘capa-
‘Educação Especial para Bem Dotados cidade’, não é ‘habilidade’. Mas eles
e Talentosos’. traduziram assim na lei, ficou”, res-
Segundo Zenita, o que faz o ta- saltou. Ela explicou que não utiliza o
lento é o ambiente. “O talento vai termo ‘habilidade’ porque habilidade é
depender da aprendizagem, do ensi- desenvolvida, e capacidade não. “Infe-
no, do treino, do estímulo externo. Por lizmente, isso traz pensamento torto”,
exemplo, aqui no Brasil se joga futebol completou a professora.
Programas de vôo
para superdotados
O
Brasil possui seis centros de estudos
para crianças e adolescentes super-
dotados. Um deles fica em São José
dos Campos, interior de São Paulo. O
que ele tem de diferente? É o único totalmente
subsidiado pelo poder público. “Ao considerar
que estudos estatísticos indicam que 3 a 5%
da população mundial têm potencial acima
da média e que um dos grandes desafios da
educação é oferecer oportunidades para a
aprendizagem e o desenvolvimento pessoal
de todos os alunos, promovendo a inclusão, a
Secretaria Municipal de Educação optou tam-
bém pelo atendimento específico dos alunos
talentosos”, afirmou a secretária Municipal de
Educação, Maria América Teixeira.
Inaugurado em julho de 2007, o Progra-
ma Decolar – Desenvolvimento do Talento
atende alunos, com capacidade acima da mé-
dia, do 5º ao 8º anos do Ensino Fundamental
das escolas municipais de São José dos Cam-
pos. Atualmente 517 crianças são atendidas,
no período contrário ao do estudo regular,
em duas unidades: a sul, no Dom Pedro I, e
a leste, na Vila Tesouro. Hoje, existem 61 ativi-
dades sendo ensinadas às crianças, como, por
exemplo, matemática, astronomia, biologia,
robótica, mecânica, línguas (inglês, francês,
espanhol), criação literária, jornalismo. nhecemos uma metodologia com base na edu- tro de desenvolvimento. Lá, por meio do plano in-
Para o prefeito de São José dos Campos, cação humanista que implica em estimular o dividual, são identificadas as capacidades de cada
Eduardo Cury, o Decolar é muito mais que desenvolvimento do potencial e da capacidade criança. Então, ela pode escolher fazer atividades
um centro para o desenvolvimento do talen- pelo enriquecimento de experiências, ampliação na área que tiver interesse. Com o plano individu-
to. “O Programa Decolar não é só um inves- de visão de mundo e convivência responsável al, semanalmente, as crianças são acompanhadas
timento educacional, ele é sim um investi- em clima de respeito e aceitação”, disse Maria pelos facilitadores, quando expõem problemas e
mento social, no sentido de que o talento América. felicidades escolares e, inclusive, pessoais. Tudo é
é desenvolvido e orientado em sintonia com anotado e trabalhado para o bem-estar físico e
o bem comum, compromissado com valores METODOLOGIA – O método utilizado para emocional de cada criança identificada como su-
morais e espirituais”, disse ele. desenvolver os talentos das crianças é o da perdotada. Os facilitadores acompanham as crian-
A metodologia estudada e utilizada para educação informal, considerado o ideal por es- ças e os voluntários são pessoas que dominam
trabalhar com os talentosos do Decolar é da pecialistas do ramo. “Por que para desenvolver determinado assunto e dedicam um pouco do seu
brasileira especialista Zenita Guenther, fun- capacidade tem que ser na educação informal? tempo para ensinarem o que sabem às crianças
dadora do primeiro centro de estudos para O centro de desenvolvimento me pareceu a me- com altas capacidades. (leia texto na página 9)
dotados no Brasil, o Cedet (Centro de De- lhor resposta justamente porque a diversidade, a
senvolvimento do Potencial e Talento), que profundidade... tudo isso vai depender de cada PARCERIAS – De acordo com a coordenadora do
fica em Lavras, Minas Gerais. (leia texto na criança. E é por isso que nós fazemos um plano Decolar, Vera Bittencourt de Carvalho, além dos
página 7) Zenita também é psicóloga, PhD para cada criança a cada semestre. Não há currí- prédios municipais - onde são realizadas aulas
em Psicologia da Educação, criadora e coor- culo, não há obrigatoriedade, não há prova, não às crianças de pintura, inglês, matemática, entre
denadora do curso de especialização Educa- há conteúdo”, explicou Zenita Guenther. outros -, o programa conta com parcerias de uni-
ção Especial para Bem Dotados e Talentosos Nos Cedets espalhados pelo Brasil, após se- versidades, clubes e comércios da cidade, onde
e assessora do Decolar. “Sob a coordenação rem observadas e identificadas na escola regular, são realizadas outras atividades. “A gente busca
da professora doutora Zenita Guenther, co- os alunos são convidados a participarem do cen- a instituição. Hoje estamos com 12 parceiros que
AMPLIAÇÃO – A Prefeitura de
São José dos Campos já estuda a
possibilidade de ampliar o número
de alunos atendidos no programa.
A secretária de Educação afirma
que, levando em consideração a
lei da probabilidade relacionada
aos superdotados (de que 3% a
5% da população mundial tem
capacidade acima da média), só
no Ensino Fundamental munici-
pal, há por volta de dois mil alu-
nos talentosos. “Nosso objetivo é
atender a todos eles”, ressaltou
Maria América.
Eduardo Cury conta que o
próximo passo já está planejado.
“O projeto deverá ser ampliado na
região norte, em espaço a ser defi-
nido, para atender alunos daquela
região e do centro”, afirmou.
O primeiro programa
O Cedet (Centro de Desenvolvimento de Potencial e Talento) da da primeira série até terminar o Ensino Médio, porque no
foi fundado em 1993, na cidade mineira de Lavras, por Zenita Ensino Superior não há dinheiro, mas algumas crianças ainda
Guenther. precisam”, contou a fundadora.
Hoje, para o funcionamento normal do centro, o Cedet tem Devido ao sucesso e aos bons resultados do Cedet de Lavras,
o apoio da prefeitura da cidade, mas é mantido também pela o programa e a metodologia de Zenita chamaram a atenção de
comunidade, pelo Rotary Club e por escolas particulares que outros municípios. Hoje, de acordo com ela, são seis centros
colaboram cedendo auditórios, locais para prática de esportes, para superdotados em todo o Brasil: Lavras, São José dos Cam-
equipamentos etc. “E tem funcionado bem assim”, afirmou pos, Vitória (Espírito Santo), Palmas (Tocantins), Ipatinga (Minas
Zenita Atualmente, em Lavras são atendidos 850 crianças e Gerais) e Sete Lagoas (também em Minas Gerais). Juntos, hoje
adolescentes superdotados. “Lá nós atendemos desde a entra- os seis centros atendem por volta de 1900 superdotados.
Núcleo e Conselho
para Superdotados
A
consciência da importância do desen- S (Núcleos de Atividades de Altas Habilidades ConBraSD: Sociedade não-governamental,
volvimento do talento dos superdota- / Superdotação) nos 26 Estados e no Distrito sem fins lucrativos fundada em 29 de março
dos cresceu tanto nos últimos ano que Federal. Os Núcleos devem atender aos alunos de 2003. Tem como objetivo a integração dos
foram criados também o Núcleo de superdotados, promover a formação e capacita- indivíduos mais capazes e o estímulo de suas
Atividade de Altas Habilidades/Superdotação e ção dos professores para identificar e atender potencialidades, de modo a favorecer-lhes a
o Conselho Brasileiro para Superdotação. a esses alunos, oferecer acompanhamento aos auto-realização e propiciar condições a fim
pais dessas crianças e à comunidade escolar em de que se tornem fator de aceleração para a
NAAH/S: Criado em 2005, resultado de uma geral, no sentido de produzir conhecimentos so- sociedade. Integram atualmente o ConBraSD
parceria entre a Secretaria de Educação Especial bre o tema, disseminar informações e colaborar (Conselho Brasileiro para Superdotação) pes-
do Ministério da Educação, a Unesco e o Fun- para a construção de uma educação inclusiva e soas, físicas e jurídicas, de vários estados bra-
do Nacional de Desenvolvimento da Educação de qualidade. Mais informações em www.por- sileiros. Mais informações em www.conbrasd.
–FNDE, com a finalidade de implantar o NAAH/ tal.mec.gov.br/seesp com.br
Boa vontade em
atividade
O
s centros do Brasil de desenvolvi-
mento para alunos superdotados
trabalham para que os talentos
não sejam desperdiçados. Para
que a metodologia de Zenita Guenther seja
aplicada corretamente e, assim, tenha bom
resultado, os centros contam com um traba-
lho diferenciado de quem tem boa vontade
e disposição para trabalhar com as crianças
e os adolescentes com altas capacidades.
Além dos facilitadores, os centros contam
com os voluntários.
Os voluntários são pessoas que dominam
certa disciplina e disponibilizam algum tem-
po da semana para ensinarem as crianças e
os adolescentes interessados na atividade e
talentosos para a área. A coordenadora do
Decolar, Vera Bittencourt de Carvalho, infor-
mou que, atualmente, o programa de São
José tem por volta de 30 voluntários nas
mais diversas áreas.
Crianças em aula de computação com voluntária da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
“Os facilitadores que buscam os volun-
tários. Então, eles levantam o plano indivi-
dual dos alunos e está lá ‘o aluno quer fazer sados, super esforçados. Bem diferente de rede assunto e, ao receber o convite para ser vo-
culinária, gastronomia’. Uma conhece um particular, que estão lá porque têm que estar. É luntário, aceitou na hora. Ele dá aulas de jor-
dono de restaurante, ela vai lá e conversa outro clima”, disse Vanessa. nalismo a oito crianças, uma vez por semana,
e ele diz ‘vamos fazer’, aí ele dá a aula de O jornalista Edilon Rocha, editor do jor- há três mês. Ele afirma que está admirado com
gastronomia para a criança. Aí o dono vai nal valeparaibano (um dos maiores meios de as altas capacidades das crianças. “Parece que
e conta pra outro, que se interessa, vem e comunicação da região do Vale do Paraíba, não estou falando com crianças. Para mim, é
telefona para a gente. É uma coisa feita em interior de São Paulo), 41 anos, conheceu o claro que eles estão acima da média”, disse. O
rede”, explicou a coordenadora. Programa Decolar editando matérias sobre o jornalista também acredita que, da sua turma,
Isso aconteceu com Vanessa Marinho futuramente, poderá sair
de Carvalho, de 25 anos, que é voluntária ótimos profissionais da
do Decolar. Ela dá aulas de inglês, uma vez área. “Eles têm o espírito
por semana, para nove crianças superdota- crítico exacerbado. Alguns
das. Vanessa passou um ano em Londres,
QUER SER VOLUNTÁRIO? se destacam até de pro-
na Inglaterra, e voltou há três meses. Há fissionais, se comunicam
um mês ela está ensinando as crianças. “Eu DECOLAR - São José dos Campos, SP muito bem”, ressaltou.
não conhecia o programa. Quando fui para Entrar em contato pelo telefone (12) 3966-8352
Para ser um voluntário,
ou ir até os seguintes endereços:
Londres estava no comecinho. Estou aman- Decolar Sul - Av. Adilson José da Cruz, s/nº (continuação da avenida não é preciso entender a
do”, afirmou Vanessa. Ela contou que queria Cidade Jardim, prédio anexo à escola Jane Palumbo), Dom Pedro I metodologia utilizada e nem
começar a dar aulas e foi pedir ajuda para Decolar Leste - R. Vitório Carnevalli, s/nº (prédio anexo à escola saber identificar os alunos.
uma professora da língua em uma escola de Domingos de Macedo Custódio), Vila Tesouro Basta dominar alguma área
inglês. Lá, a professora falou sobre o progra- CEDET - Lavras, MG que tenha alunos interessa-
ma, ela se interessou, e começou as aulas Entrar em contato pelos telefones (35) 3822 3033 / 3694 4180 dos, ter boa vontade e um
com as crianças. ou pelo e-mail: [email protected] . pouco de tempo durante a
Se preferir, ir até a Rua Átila José Ribeiro, nº 50, Centro
Para a voluntária, as crianças realmen- semana para dar as aulas
te têm diferencial. “Eles são super interes- para os superdotados.
A especialista
Zenita
Guenther
“Eu olho para trás do meu salto alto dos
70 anos e falo ‘Mas que sorte, né’. Como é
que eu tive tanta gente boa e ainda tenho?
Como é que a comunidade responde? Eu
acho que meu papel foi muito bem aceito”
Z
enita Cunha Guenther é psicóloga, mes- tidade de setores da vida. Ela não é útil, por colas. Aqui é o único do Brasil que o sistema fa-
tre em Orientação e Aconselhamento e exemplo, pra criar, porque ela é linear demais. lou ‘vou fazer, com qualidade e pra valer’. Claro,
PhD em Psicologia da Educação pela Ela não vê contexto. É impossível você falar no não tem dinheiro pra poder atender uma cidade
Universidade da Flórida, EUA, envolvi- contexto. Tem que falar uma palavra de cada desse tamanho, a prefeitura não teria recurso.
da por vários anos na formação e preparação vez ou escrever. Então, claro que tem que pen- Aqui eu acho que eventualmente nós temos
de professores para todos os níveis de ensino, sar ali: começo, meio e fim. A inteligência não que avançar, porque a criança não é estadual
desde a Educação Infantil até a Pós-graduação. linear não precisa de começo, meio e fim para e nem municipal. A criança é criança. Mas o di-
Aposentou-se da UFMG (Universidade Federal pensar. Quando ela olha aquele total, ela vê nheiro é separado assim. A única maneira que é
de Minas Gerais) para se dedicar ao estudo do configurações. E por isso é que vêm as grandes possível a prefeitura explicar isso, é entrando na
desenvolvimento do talento e capacidade hu- invenções, as grandes relações de uma coisa questão do orçamento. Precisamos de professo-
mana, trabalhando ativamente nessa área em com a outra no tempo e no estado. Então não res e precisamos de competências, precisamos
todo o Brasil, Estados Unidos e Europa, nomea- adianta muito treinar isso. Nós perguntamos ter uma fonte e um lugarzinho pra eles traba-
damente em Portugal. O catalisador de suas ati- aos professores aqueles meninos que se sobres- lharem. A comunidade aqui respondeu muito
vidades é o Cedet (Centro de Desenvolvimento saem, trabalham bem sozinhos, pensam e tiram bem também com o conteúdo. Bom conteúdo,
do Potencial e Talento), que fundou em 1993 conclusões sem explicar por quê. Aprendem bons voluntários trabalhando. É aí que nós te-
em Lavras, Minas Gerais, onde atua como dire- com facilidade, não precisa repetir, não preci- mos que fazer o pessoal de prefeitura tomar um
tora técnica. Escreve e publica intensamente no sa rever. Com esses sinais nós vamos localizar pouco de juízo e pensar na educação como um
Brasil e no exterior, faz palestras e conferências onde está a sua capacidade. Então, vou resumir. todo e não como o sistema A e B. Eles têm que
em congressos e outros eventos. Você identifica a criança com clareza onde está pensar assim porque o dinheiro vem assim.
o seu manancial de capacidade em um ou mais
O que a família pode observar nos fi- daqueles quatro domínios. Mesmo com esse impasse no atendi-
lhos dentro de casa? mento dos superdotados, é positivo ter
Zenita – A família, infelizmente, está mui- No Decolar são atendidas crianças só parceria com prefeitura?
to mal habituada a procurar só a inteligência das escolas municipais. No Cedet, que a Zenita - Eu tenho milhões de experiências
verbal, que nossa cultura gosta muito. Fala, lê, senhora foi fundadora, são todas as es- de trabalhar com sistemas municipais. Acho
escreve, diz poesia. Então, essa inteligência ver- colas? mais próximos das crianças, mais próximos das
bal ela não é a mais útil para uma grande quan- Zenita – Lá nós conseguimos todas as es- famílias, mas geralmente têm menos dinheiro.
D icas
Além do encontro semanal, cabe
ao facilitador a procura pelos volun-
tários para aplicarem as atividades
de interesse dos alunos atendidos.
“Os facilitadores são os que fazem
a diferença. Eles buscam. Então eles
levantam o plano individual dos alu-
nos e vai atrás para arrumar um vo-
luntário naquela atividade”, afirmou
Vera Bittencourt de Carvalho, coor-
denadora do Decolar.
Mas, ser facilitador, não é sim-
ejar e
e d u c a tivo é plan ples. Além de já serem professores
en to ets não
o d e enriquecim o trabalho nos Ced efetivos da rede municipal de ensi-
o pro c e ss es. N conceito
m a is im portante n im e n to d as atividad a d e e Ta lento – Um no interessados pelo assunto, eles
O volv acid
ar o desen volver Cap
acompanh . Em seu livro Desen dica: fazem o curso de pós-graduação em
nte áa ele;
seria difere professora Zenita d , e n unca PARA
Lavras, Educação Especial para Bem
o, a a lu n o Dotados e Talentosos, na Ufla (Uni-
de Inclusã es COM o lmente;
as atividad os semana mês.
u Planeje e de perto, pelo men versidade Federal de Lavras), Minas
anh máximo um muito utilizada em
u Acomp o s c u rtos, de no tégia do
Gerais. Segundo Vera, cada facilita-
u Avalie e
m pe rí o d
tr a b a lh o é uma estra strado um bom méto dor tem de 60 a 80 alunos, como
id u a l d e m se m o
indiv ntosos e te
Um plano e c ia l para tale
prevê a metodologia. O Programa
ã o E sp Decolar possui sete facilitadores no
Educaç
o.
pedagógic total (quatro na região leste e três na
sul), segundo Vera.
A
ARTE
DA
CONVIVÊNCIA
“Essas crianças têm mais assunto. É natural
que elas queiram a companhia de pessoas mais
velhas e, muitas vezes, se queixem para os pais
de não terem muitos amiguinhos na escola.
Mas são fases”, da psicóloga Arina Maia
R
elacionar-se é, por definição, necessá- lacionamento social. Muitas vezes procuram a isso, pois é raro uma criança superdotada ser
rio. A gente cresce aprendendo que tem companhia de pessoas mais velhas, na tentativa completamente talentosa nos quatro domínios
que manter uma relação de amizade, de encontrar parceiros com o mesmo nível inte- de capacidade. (veja quadro na página 15)
companheirismo, solidariedade e res- lectual ou o mesmo tipo de interesses. Sendo assim, ela sempre vai ter a vontade e a
peito com os que estão à nossa volta. É uma “Essas crianças têm mais assunto. É natural curiosidade de aprender com o outro. “Você vê
espécie de regra para uma vida saudável. que elas queiram a companhia de pessoas mais que os problemas psicológicos que acontecem
Mas, e quando somos crianças? Quem con- velhas e, muitas vezes, se queixem para os pais com as crianças capazes são todos originados
segue se lembrar do relacionamento que tinha de não terem muitos amiguinhos na escola. ou mantidos por adultos, principalmente vaida-
com seus amigos na primeira série? Nem sem- Mas são fases”, disse a psicóloga Arina Maia. de ou rejeição.
pre nos lembramos, mas muito de nossa per- O mal entendido pode acontecer porque A família é que começa ‘esse é o meu or-
sonalidade hoje é reflexo de fatos ocorridos na crianças superdotadas se desenvolvem mais gulho’ e os outros filhos pensam ‘por que ele é
infância. rápido por natureza e, muitas vezes, preferem orgulho e eu não sou?’. A família tem que ser
Quando se fala da criança superdotada, atividades individuais na escola. Trabalhar sozi- ajudada, porque a criança não se sente superior
muitos acham que essas crianças têm fortes nhas pode ser uma necessidade delas, não um naturalmente”, explicou Zenita.
problemas de relacionamento com os colegas problema. Maria Clara Sodré S. Gama, doutora Geralmente a escola mantém contato com
e passam por constantes problemas de auto- em Educação pela Columbia University, afirma os pais para informá-los e questioná-los sobre
conhecimento. A professora Zenita Guenther, que crianças superdotadas têm um potencial a vida escolar de seus filhos. A partir dessa liga-
especialista no assunto, esclarece que isso não muito acima das outras crianças na área do co- ção já existente, os centros de desenvolvimento
pode ser generalizado. “Geralmente é minoria nhecimento acadêmico, porque têm interesses de talentos realizam suas atividades com a fa-
que passa por problemas psicológicos e, na ida- que não interessam a crianças de sua idade. mília.
de em que estão [dos 10 aos 17], ainda há a Isso acontece muito quando eles são peque- “A família, como com qualquer criança, pre-
sensibilidade da adolescência. Na verdade, as nos. Aos poucos, eles vão aprendendo a se cisa estar presente. Os pais de um superdotado
pessoas capazes têm mais saúde psicológica relacionar. precisam ser claros com seu filho, explicando
que a média da população. Se dão mais fácil Algumas crianças precisam de um acompa- que ele tem um talento especial, mas que não é
com mudança de emprego, com perda de di- nhamento profissional. E por que não? Ao se melhor do que os outros. É importante ressaltar
nheiro, com divórcios, vivem mais e produzem destacar no grupo, a criança superdotada pode que no grupo social é a diversidade de talentos
mais”, explicou. ser admirada ou ignorada. São dois pontos dis- que traz a diversão e o desenvolvimento e que
Porém, psicólogos afirmam que alguns tintos. cada pessoa tem uma contribuição valiosa a
superdotados passam por dificuldades no re- Normalmente as crianças lidam bem com dar”, afirmou Maria Clara.
Eu no Decolar
“Antes do Programa entrar em minha vida eu não
imaginava que era bem dotada, para mim isso era
coisa de outro mundo, mas quando fiquei sabendo
que era fiquei orgulhosa de mim mesma mas não
deixei que isso subisse à cabeça”
Sonhos e o Decolar
“Há um pouco menos de dois anos eu era apenas um
menino dedicado as aulas e que levava a escola a sério,
só isso, e eu tinha tantas curiosidades e vontades! Eu
mesmo reconhecia que tinha um mundo imenso lá fora,
mas que eu não podia explorar”
Talento e capacidade
humana - o desafio
C
apacidade e talento realmente existem, em dimensões, ca), ao aprofundar o conceito vai agregando outras dimensões, e
expressões e manifestações diferenciadas e amplamente em 2004, define inteligência superior e dotação como resultado
diversificadas. Essa afirmação não é contestada, embora da interação de quatro fatores: sabedoria(wisdom), Inteligência,
em situações compreendidas como “erro fundamental de Criatividade e uma Síntese dessas e outras características pes-
atribuição de causas” possa haver dificuldade, no grupo de pares soais. Sob outro ângulo, Goleman (1994) identifica Inteligência
e contemporâneos, em reconhecer sucesso como sinal de capaci- Emocional em oposição à Inteligência Racional. Helena Antipoff
dade. Nesse contexto, potencial e talento ficam ignorados, apesar desde 1946 afirma que “A inteligência, encarada no seu todo,
da esperança que a humanidade deposita no talento humano, não pode ser separada da personalidade total”, e em 1971
como a maior força em potencial para a melhoria da humanidade comentando os estudos de Terman: “Não há nenhuma prova
e aperfeiçoamento da qualidade da vida neste planeta. contrária à existência de bem dotados no meio rural...” e por
Define-se como “dotação” ou “capacidade elevada” a confi- implicação, nas classes pobres e desprivilegiadas, hoje um fato
guração estabelecida por acaso no plano genético que contem pre- tacitamente aceito.
disposições e disposições geradoras de maior potencial em um ou
mais domínios de capacidade. Como capacidade natural pode ser Domínio da Criatividade
desenvolvida durante ávida, por vias não intencionais, experiências A noção de criatividade inclui inventividade ao enfrentar
vividas e educação informal, captada no ambiente. “Talento” refe- problemas; imaginação, pensamento intuitivo; originalidade em
re-se a desempenho notável, superior em qualidade e quantidade, ações e idéias; evocação fluente em redes e blocos de idéias in-
em alguma área de ação, atividade diferenciada no ambiente. ter-relacionadas; invenção, criação, novidade. Guilford considera
criatividade como uma dimensão da inteligência, uma vez que
Origem: Forças Genéticas ou ambientais? não existe pensamento criativo sem uma base de inteligência, e
Existe forte associação entre capacidade e configuração ge- nem capacidade intelectual notável, sem traços de criatividade.
nética, chegando a índices tão altos como 70% (Plomin, et al., Associam-se à criatividade: produção original literária, científica
1994; Bouchard, 1997, citados em Freeman e Guenther, 2000). ou artística, preferência pelo pensamento holístico, percepção, in-
Contudo predisposições genéticas provavelmente não produzem tuitição, originalidade e fluência de ações e idéias, elevado senso
“talento” como desempenho superior sem um conjunto de in- crítico e autocrítica.
fluências, situações e rede de interações ativas no ambiente, em
diferentes fases da vida. Domínio Sócio – afetivo
A evidência acumulada pelo crescente corpo de pesquisa na Essa área de capacidade humana, ainda limitada na especifici-
área, (veja em Freeman e Guenther, 2000), demonstra presença dade de conceituação, geralmente agrupa aptidões e traços asso-
de talento em todos os grupos sociais, raças, e povos, em todas ciados com liderança, energia pessoal, persuasão sob um ângulo;
as histórias e todas as geografias, captável através de produção e relações humanas, interação, convivência grupal, e características
diferenciada em um ou mais dos quatro Domínios: interpretadas às vezes como “inteligência emocional” sob outro.
1. Inteligência e capacidade intelectual
2. Criatividade e pensamento criador Domínio sensório-motor
3. Capacidade sócio-afetiva e intra-pessoal No domínio sensório-motor identificam-se raízes específicas
4. Habilidades sensório-motoras para cada conjunto de capacidades na área sensorial (extra-
ordinária capacidade visual, auditiva, olfativa) e Motora, (no-
Domínio Da Inteligência tável força, resistência física, precisão de reflexos, coordenação
A noção de capacidade intelectual inclui habilidades mentais viso-motora, auditivo-motora, etc.). São capacidades facilmente
como pensamento analítico e senso de observação (indução, dedu- identificáveis, por traços de habilidades sensório-motoras, boa
ção, ....); pensamento verbal (linear); espacial (não linear); estabele- coordenação motora, notável controle da mente sobre funções
cimento de relações; memória, julgamento, meta-cognição. do sistema muscular e ósseo, talento esportivo e elevado desem-
Nos últimos 20 anos vemos o conceito de inteligência avan- penho físico- motor.
çando e aprofundando as diferenciações: Gardner (1983) desafia
a noção de Fator G, com sua teoria das “Inteligências Múltiplas”; Zenita Cunha Guenther
Sternberg autor da Teoria Triárquica (analítica, criativa e práti- [email protected]