Inês de Castro PDF
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Episódio Lírico
D. Inês de Castro era uma fidalga galega, de rara formosura, que fez
parte da comitiva da infanta D. Constança de Castela, quando esta, em 1340, se
deslocou a Portugal para casar com o príncipe D. Pedro (1320-1367). A beleza
singular de D. Inês despertou desde logo a atenção do príncipe, que veio a
apaixonar-se profundamente por ela. Desta paixão nasceu entre D. Pedro e D.
Inês uma ligação amorosa que provocou escândalo na Corte portuguesa, motivo
por que o rei resolveu intervir, expulsando do reino Inês de Castro, que veio a
instalar-se no castelo de Albuquerque, na fronteira de Espanha. D. Constança
morreu de parto em 1345 e a ligação amorosa entre D. Pedro e D. Inês estreitou-
se ainda mais: contra a determinação do rei, D. Pedro mandou que D. Inês
regressasse a Portugal e instalou-a na sua própria casa, onde passaram a viver
uma vida de marido e mulher, de que nasceram quatro filhos.
Os conselheiros do rei aperceberam-se das atenções com que o
herdeiro do trono português recebia os irmãos de D. Inês e outros fidalgos
galegos, chamaram a atenção de D. Afonso IV para aquele estado de coisas e para
os perigos que poderiam advir dessa circunstância, uma vez que seria natural
antever a possibilidade de vir a criar-se uma influência dominante de Castela
sobre a política portuguesa. E persuadiram o rei de que esse perigo poderia
afastar-se definitivamente, se se cortasse pela raiz a causa real desse perigo: a
influência que D. Inês exercia sobre o príncipe D. Pedro, que um dia viria a ser rei
de Portugal. Para isso seria necessário e suficiente eliminar D. Inês de Castro.
O problema foi discutido na presença dos conselheiros do rei em
Montemor-o-Velho, e aí ficou resolvido que Inês seria executada sem demora.
Quando D. Inês soube desta resolução, foi ter com o rei, rodeada dos filhos, para
implorar misericórdia, uma vez que ela se considerava isenta de qualquer culpa.
As súplicas de Inês só momentaneamente apiedaram D. Afonso IV, que entretanto
se deslocara a Coimbra para que se desse cumprimento à deliberação tomada. E
a execução de D. Inês efetuou-se em 7 de janeiro de 1355, segundo o ritual e as
práticas daquele tempo. Anos depois, em 1360, D. Pedro I, já então rei de
Portugal, jurou, perante a sua corte, que havia casado clandestinamente com D.
Inês um ano antes da sua morte.
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. Contextualização
. Estrutura interna
. Ação: o episódio de Inês de Castro ("O caso triste, e dino da memória / [...] /
Aconteceu da mísera e mesquinha / Que depois de ser morta foi Rainha." - est.
118, vv. 5, 7-8 - perífrase: com este recurso, o poeta identifica a personagem e a
singularidade da sua morte).
Alude-se, neste passo, à lenda segundo a qual D. Pedro I terá coroado Inês
de Castro rainha após a sua morte.
De facto, em junho de 1360, o monarca declarou perante testemunhas
que, aproximadamente sete anos antes, recebera como legítima mulher a D. Inês
de Castro. Posteriormente, as testemunhas do ato depuseram em Coimbra e, na
estátua do túmulo, D. Pedro colocou-lhe a coroa de rainha.
. O narrador identifica o Amor como a causa da morte de Inês de Castro (est. 119):
“Tu, só tu, puro amor (…) / (…) / Deste causa à molesta morte sua” (vv. 1 e 3).
. Localização espacial:
- Coimbra (“Nos saudosos campos do Mondego” – est. 120,v. 5);
- espaço idílico, de calma e sossego, propício ao amor.
. Retrato de Inês de Castro (est. 120-121):
- físico:
- mulher linda (“linda Inês” – apóstrofe);
- “fermosos olhos” (est. 120, v. 6);
- jovem (“De teus anos colhendo doce fruito” – est. 120, v. 2).
- psicológico:
- despreocupada e sossegada (“posta em sossego” – est. 120, v. 1);
- apaixonada, imersa no amor (“Naquele engano da alma, ledo e cego” – est. 120,
v. 3 – dupla adjetivação);
- feliz (“ledo” – v. 3);
- sonhadora, alheada da realidade, pensando somente em D. Pedro (“Aos
montes insinando e às ervinhas / O nome que no peito escrito tinhas.” – est. 120,
vv. 7-8 – personificação);
- ingénua, não desconfia da tragédia que se adivinha (“engano de alma, ledo e
cego” – est. 120, v. 3; “em doces sonhos que mentiam” – est. 121, v. 5) ,
preparada pelo Destino (“Fortuna” – v. 4) cruel que a persegue;
- saudosa do seu amor (“As lembranças que na alma lhe moravam” – metáfora – est.
121, v. 2);
- apesar de separados fisicamente, estavam sempre juntos em sonhos e
pensamentos.
. Nos quatro versos finais da estância 123, o poeta exprime o seu espanto e
questiona a ação do rei, nomeadamente o contraste entre a ação glorioso de D.
Afonso IV contra os mouros e o assassinato de uma fraca, indefesa e inocente
(interrogação retórica).
. Inês de Castro perante D. Afonso IV – Momento que antecede a execução
. Inês de Castro surge presa (“as mãos lhe estava atando” - est. 125, v. 3), triste,
cheia de mágoa e saudade do seu amor e dos seus filhos. De facto, o que lhe dói
mais não é a própria morte, mas o facto de, morrendo, deixar os filhos, tão
pequenos, órfãos e D. Pedro só (“Do seu príncipe e filhos, que deixava, / Que
mais que a própria morte a magoava” – est. 124, vv. 7-8 – comparação).
Na estância 125, é focado, com especial incidência, o seu olhar, que se dirige,
em primeiro lugar, para o Céu, raso de lágrimas, como se invocasse Deus como
testemunha da sua inocência e, depois, para os filhos (“Que tão queridos tinha e
tão mimosos” – a adjetivação e o advérbio de quantidade e grau «tão» salientam
o seu lado de mãe excelente – est. 125, v. 6), evidenciando assim o seu amor de
mãe que teme a sua orfandade, enquanto se prepara para pedir piedade ao rei.
No fundo, estas duas estâncias destinam-se a preparar a intervenção dramática
de Inês de Castro, através da piedade que a personagem suscita, indefesa diante
dos “horríficos algozes”, banhada em lágrimas e olhando os filhos inocentes
diante do avô cruel, situação e comportamentos que, por outro lado, inspiram
compaixão.
1. Pedido de clemência, por comparação com outros casos: Inês de Castro apela
à piedade do rei, afirmando que até os animais ferozes e as aves de rapina
demonstram, em várias situações, piedade em relação às situações (est. 126). Ela
dá o exemplo das aves de rapina que criaram a “mãe de Nino” (Semíramis) e da
loba que alimentou Rómulo e Remo (os fundadores de Roma), animais que
mostraram piedade para com os seres humanos.