Simbad e A Princesa (1959)
Simbad e A Princesa (1959)
Simbad e A Princesa (1959)
O filme Simbad e a Princesa, produção americana sobre a história de Simbad, parte integrante das
Mil e Uma Noites (mas já descoberta como sendo inserida posteriormente por alguém,
possivelmente seu primeiro organizador), dirigido por Nathan Juran, é uma obra que mantém o
formato dos filmes de aventura estado unidenses, tratando o oriente com exotismo e trazendo as
figuras monstruosas para batalhas épicas diante de grandes heróis, individuais, que orbitam em
torno de hordas de subalternos. Ao redor disto, há também o vilão clássico, mágico, não muito
diferente do que Stevenson constrói em suas Novas Mil e Uma Noites, obviamente com mais força
e jogo que, na linguagem, aponta para um mundo radical e transparente: um mundo onde as coisas
podem poder, ao contrário do cinema americano em que só se pode o que é previsto e não
desorganize o mundo demais.
O que se destaca, no entanto – na medida em que meu esforço é tentar apreender algo com o filme –
é que, diante da história, o roteiro consegue retomar, na figura do feiticeiro vilão, uma característica
bastante comum das obras de Shakespeare: a ambivalência da profecia. Em uma determinada cena,
o feiticeiro salvo por Simbad apresenta suas mágicas para o Kalifa. Logo após transformar a serva
da Princesa em uma cobra azul de quatro braços, ele é chamada para o poder de fazer professar: ele
vai dizer o que vê e, assim, se saberá se ele é capaz de tocar o destino. Sua profecia, no entanto, lhe
convém. Tal como nas obras de Shakespeare, o mágico não é descartado, ele se dá - não como
impossível, como imaginável e imaginado -, mas ele precisa, necessariamente passar por um ser, o
que coloca, em um mundo de seres, a questão: A profecia é verdadeira ou ela funda um destino? A
profecia é uma maldição ou ela pode evitar a maldição? E, ampliando para a figura do adivinho:
será que ele provoca a adivinhação que adivinhou ou ele revela aquilo que o destino passou para si?
Esta pergunta, base do questionamento de Hamlet, por exemplo, ao ver o espectro de seu pai, coloca
diante dos homens a questão do “ser ou não ser”. A vida, de certa forma, é posta em sua frente,
inteira, como se a relatividade do tempo surgisse, num átimo de momento e fragmento e todo se
juntassem ao se desmembrar e todos se vissem como uma espécie de Édipo, diante de seu destino
que, ao mesmo tempo amedronta e salva. E é neste momento que se funda o erro, a falha trágica, o
ponto em que o homem vacila: o Kalifa dá um dia para que o adivinho, o pretenso traidor, vá
embora. É o tempo que Medeia recebe, o suficiente para que mate seus filhos dom Jasão. Este
tempo que por um átimo é relativo, de repente se expande sob os olhos daqueles cuja maldição se
dá (e se volta). Perto do destino que se coloca, um dia parece muito. E é. Assim, o feiticeiro
amaldiçoa a Princesa e toda a história se desenvolve. De resto, é história de peripécias.
Frase:
Homens com fome não perguntam, pegam!