Artigo Cinesiofobia Revista Dor Modelo

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Rev Dor.

São Paulo, 2016 jul-set;17(3):188-91 ARTIGO ORIGINAL

Kinesiophobia and associated factors in elderly females with chronic


musculoskeletal pain: pilot study
Ocorrência de cinesiofobia e fatores associados em idosas com dor crônica
musculoesquelética: um estudo piloto
Natalia Santos da Silva1, Sandra Souza Ehms de Abreu1, Patricia Diógenes Suassuna2

DOI 10.5935/1806-0013.20160068

ABSTRACT RESUMO

BACKGROUND AND OBJECTIVES: Fear of movement and JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O medo de movimento e
re/injury (kinesiophobia) is factor associated to chronic pain and reincidência de lesão (cinesiofobia) é um fator associado à dor
incapacity. Since elderly population is highly affected by chro- crônica e incapacidade. Visto que a população idosa é altamen-
nic health problems followed by pain, especially musculoskeletal te atingida por problemas crônicos de saúde acompanhados por
problems, it is important to understand the impact of pain-re- dor, especialmente musculoesqueléticos, faz-se relevante a com-
lated fear on elderly females’ health. This study aimed at deter- preensão dos impactos do medo relacionado à dor sobre a saúde
mining the incidence of kinesiophobia in elderly females assisted das idosas. O objetivo deste estudo foi determinar a ocorrência
in a geriatrics and gerontology ambulatory, as well as at investi- de cinesiofobia em idosas atendidas em um ambulatório geriá-
gating possible correlations with physical performance and other trico e gerontológico, bem como investigar possíveis correlações
health and socio-demographic variables. com desempenho físico e outras variáveis de saúde e sócio-de-
METHODS: This is a crossover exploratory study with non- mográficas.
-probabilistic convenience sample of 30 elderly females, carried MÉTODOS: Estudo transversal exploratório com amostra por
out with interviews, physical tests and medical charts review. Pa- conveniência não probabilística de 30 idosas, realizado por meio
tients were evaluated for the presence of kinesiophobia, physical de entrevista, teste físico e revisão de prontuário. Foram avalia-
performance and other variables related to chronic musculoske- das quanto à presença de cinesiofobia, ao desempenho físico e a
letal pain, in addition to socio-demographic information. outras variáveis relacionadas à saúde e à dor crônica musculoes-
RESULTS: There has been kinesiophobia in 80% of the sample. quelética, além de informações sócio-demográficas.
There has been significant moderate correlation between physi- RESULTADOS: A amostra estudada revelou ocorrência de cine-
cal performance and kinesiophobia (r=541; p=0.002). No other siofobia de 80%. Houve correlação significativa moderada entre
correlations were found. desempenho físico e cinesiofobia (r=541; p=0,002). Não foram
CONCLUSION: Data have shown high incidence of kinesio- encontradas demais correlações.
phobia among evaluated elderly females, in addition to physical CONCLUSÃO: Os dados revelam alta ocorrência de cinesio-
performance impairment associated to it. fobia nas idosas avaliadas e comprometimento do desempenho
Keywords: Chronic pain, Elderly females, Incapacity, Kinesio- físico associado à mesma.
phobia, Performance. Descritores: Cinesiofobia, Desempenho, Dor crônica, Idosas,
Incapacidade.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que desa-


fia os sistemas de saúde, pois está associado ao aumento de doenças
1. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Núcleo de Atenção ao Idoso, Universidade
crônicas e limitações funcionais1, muitas vezes acompanhadas de
Aberta da Terceira Idade, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. dor crônica2. No Brasil, estima-se alta prevalência de dor crônica em
2. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Univer-
sidade Aberta da Terceira Idade, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
idosas da comunidade (51 a 67%), especialmente dores musculoes-
queléticas (14 a 47%)2.
Apresentado em 12 de dezembro de 2015. Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP), dor
Aceito para publicação em 08 de agosto de 2016.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. é uma sensação ou experiência emocional desagradável, associada a
lesão tecidual real ou potencial3, e dor crônica é aquela sem aparente
Endereço para correspondência:
Rua Joaquim Pinheiro, 281, casa 101, Freguesia - Jacarepaguá valor biológico que persiste além do tempo esperado para a recu-
22743-660 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. peração tecidual, usualmente considerado como 3 meses4. Fatores
E-mail: [email protected]
cognitivos, afetivos, ambientais e sociais apresentam influência sobre
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor a persistência da dor. Estudo propôs um “modelo cognitivo de medo

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Ocorrência de cinesiofobia e fatores associados em idosas Rev Dor. São Paulo, 2016 jul-set;17(3):188-91
com dor crônica musculoesquelética: um estudo piloto

de movimento e reincidência de lesão”, no qual se espera dois extre- número de regiões dolorosas e a região mais dolorosa, intensidade
mos de respostas à dor: a crença de que movimentos e atividades da dor, e fisioterapia.
poderiam agravar a dor e por isso são evitados; e a confrontação, O medo de movimento e reincidência de lesão foi avaliado por meio
associada a melhores desfechos5. da versão brasileira da Escala Tampa para Cinesiofobia (ETC). Tra-
O termo cinesiofobia foi, então, introduzido para denominar o ta-se de um questionário com 17 afirmativas pontuadas de 1 a 4. A
“medo irracional, excessivo e limitante aos movimentos e atividades pontuação total é calculada após a inversão dos itens 4, 8, 12 e 16, e
físicas, resultante de uma sensação de vulnerabilidade a uma possível varia entre 17 e 68 pontos. Quanto maior a pontuação total, maior
lesão física”5. Em médio prazo, medo e evitação de movimento em a cinesiofobia5. Um total de 37 pontos ou menos sugere baixos ní-
antecipação à dor podem trazer consequências físicas (perda de mo- veis de cinesiofobia, enquanto que pontuações acima de 37 sugerem
bilidade, força e condicionamento até desuso) e psicossociais (perda altos níveis de cinesiofobia6,8. Como descrito pela versão brasileira
de autoestima, depressão, isolamento)6. Adequados processos de ava- da escala, as afirmativas foram lidas e, quando necessário, explicadas
liação, mensuração e tratamento da dor devem ser dispensados aos aos participantes5. É amplamente empregada na mensuração da ci-
idosos, identificando possíveis fatores associados à deterioração de nesiofobia, com alta consistência interna e adequada confiabilidade
sua capacidade funcional e qualidade de vida (QV)7. teste-reteste5.
Sendo assim, foi realizado este estudo piloto com 30 idosas com dor O desempenho físico foi avaliado pelo teste “Timed Up and Go”
crônica musculoesquelética atendidas em um ambulatório geronto- (TUG). O idoso deve partir da posição inicial com as costas apoia-
lógico na cidade do Rio de Janeiro com os objetivos de identificar das no encosto da cadeira, levantar, caminhar 3 metros, virar, voltar
a ocorrência de cinesiofobia entre elas e avaliar possíveis correlações e sentar novamente. A cronometragem inicia com o comando de
entre desempenho físico e outras variáveis de saúde e sócio-demo- partida e finaliza quando o participante volta à posição inicial do
gráficas. teste. Um desempenho de até 12 segundos pode ser considerado
normal para idosos comunitários; acima de 20 segundos sugere défi-
MÉTODOS cit importante da mobilidade física e risco de quedas9.
Para rastreio cognitivo das participantes foi utilizado o MEEM, ins-
Trata-se de um estudo transversal, exploratório, com amostra por trumento composto de questões agrupadas em 7 categorias de fun-
conveniência, não probabilística. ções cognitivas e escore total de 0 a 30 pontos, amplamente utilizado
O estudo foi composto de idosas com idade igual ou superior a 60 como avaliação cognitiva. No Brasil foram estabelecidos pontos de
anos, que realizam acompanhamento multidisciplinar de saúde em corte compatíveis com a escolaridade: 19-20 para analfabetos e 23-
um ambulatório de gerontologia de uma universidade pública na 24 para indivíduos com um ano ou mais de estudo10. Aquelas que
cidade do Rio de Janeiro, Brasil. obtiveram pontuação abaixo do corte foram excluídas do estudo
A seleção dos pacientes ocorreu entre outubro e dezembro de 2014, para evitar problemas de compreensão das escalas.
dentro dos horários de atendimento do ambulatório geral ou em O mapa corporal para localização da dor foi empregado como meio
horários previamente marcados para a realização da avaliação. Dessa de estabelecer a quantidade de regiões acometidas por dor há mais de
forma, obteve-se um total de 36 participantes, sendo 33 mulheres e 3 meses. Dentre os locais nele assinalados, as idosas foram solicitadas
3 homens. Para não comprometer a homogeneidade da amostra, os a identificar aquele de maior intensidade dolorosa (pior local de dor)
participantes do gênero masculino foram excluídos do estudo. de acordo com a escala visual numérica (EVN) de 11 pontos. O
Os critérios de inclusão foram idosas com queixa de dor musculoes- ponto zero equivale à ausência de dor e 10 à pior dor possível. Essa
quelética; de acordo com a descrição do documento do ano mundial escala mostrou-se fidedigna para a mensuração da dor em idosas7.
contra a dor musculoesquelética da IASP, de 2009: “variedade de dis- O número de quedas nos últimos 12 meses foi obtido por meio
túrbios que causam dor em ossos, articulações, músculos e estruturas do autorrelato, considerando-as “um evento inesperado no qual o
adjacentes”; por 3 meses ou mais e com pontuação normal no mini- sujeito venha a se posicionar no solo ou nível inferior ao seu”11. As
-exame do estado mental (MEEM). Os critérios de exclusão consisti- participantes também foram questionadas a respeito de estarem em
ram em diagnóstico ou investigação de síndrome demencial ou do- tratamento fisioterapêutico para alívio da dor. Número de comorbi-
enças mentais que dificultassem a compreensão; deficiência visual e/ dades, estado conjugal e os anos de escolaridade foram obtidos na
ou auditiva grave não corrigida; incapacidades físicas que impedissem entrevista e/ou por revisão dos prontuários. A presença de depressão
a locomoção; dor crônica de outras causas e pós-operatórios recentes. foi constatada em relato de prontuário clínico, feito pelos geriatras e/
A variável dependente do estudo foi a cinesiofobia. As variáveis inde- ou psicólogos da equipe do ambulatório.
pendentes quantitativas foram: número de regiões do corpo acome-
tidas por dor, intensidade da dor, número de comorbidades (físicas), Análise estatística
anos de escolaridade, idade, número de quedas no último ano e de- Para o cálculo amostral foi utilizada a análise para estimativa de uma
sempenho físico (resultado do teste em segundos). Estado conjugal, proporção, a qual leva em consideração a prevalência do evento no
região de maior intensidade de dor, depressão e fisioterapia foram as estudo, a precisão relativa de 5% e o nível de significância de 5%.
variáveis independentes qualitativas. Dessa forma, o tamanho da amostra calculado foi de 384. A ocor-
As características sócio-demográficas foram representadas pelas vari- rência de cinesiofobia foi calculada considerando pontuações acima
áveis: idade, escolaridade, e estado conjugal. O número de comorbi- de 37 na ETC.
dades, de quedas no último ano e a depressão consistiu nas variáveis As variáveis estado conjugal e pior local de dor foram reagrupadas
do estado de saúde. Quanto ao quadro doloroso, foram obtidos o em dicotômicas: união estável ou união não estável (esta incluindo

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viúvas) e tronco ou não tronco, respectivamente, para realizar análise ça de dor crônica musculoesquelética em 1 a 12 regiões do corpo no
bivariada. mapa corporal de localização da dor. Dentre elas, a coluna lombar
A normalidade de distribuição dos dados foi avaliada pelo teste de foi marcada como o local de maior intensidade de dor por 40% das
Shapiro-Wilk. Obedeceram aos padrões de normalidade as variáveis participantes. A intensidade da dor teve média de 8 pontos. Quanto
quantitativas cinesiofobia, número de comorbidades e idade, e todas à depressão, 9 idosas (30%) apresentavam diagnóstico de depressão
as variáveis qualitativas. O coeficiente de correlação de Pearson foi em prontuário. Vinte e duas (73,3%) não estavam em tratamento
empregado para verificar as variáveis quantitativas com distribuição fisioterapêutico no momento da avaliação. A frequência das variáveis
normal e o de Spearman para as que não atenderam aos critérios de qualitativas e a análise descritiva das variáveis quantitativas estão de-
normalidade. O teste t de Student para amostras independentes foi monstradas nas tabelas 1 e 2, respectivamente.
usado para avaliar as diferenças entre as médias das variáveis quanti- A pontuação na ETC variou de 29 a 62 pontos, com média de
tativas e qualitativas. Um nível de significância de 0,05 foi conside- 45,8±8,9 pontos. Vinte e quatro idosas obtiveram mais de 37 pon-
rado em todas as análises estatísticas. tos na ETC, e apenas 6 fizeram 37 ou menos pontos. Sendo assim,
Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre a ocorrência de cinesiofobia no grupo foi de 80%.
e Esclarecido (TCLE). O grupo apresentou desempenho médio no teste TUG de 15,2±4,5
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hos- segundos, variando de 9,96 a 28 segundos para sua execução.
pital Universitário Pedro Ernesto/UERJ sob o protocolo de pesquisa Foi observada correlação positiva moderada e estatisticamente sig-
nº 32966914.7.0000.5259, em 20 de agosto de 2014. nificativa entre a cinesiofobia e o resultado no teste TUG (r=,541;
p=0,002). A figura 1 ilustra essa correlação. Não houve correlação
RESULTADOS significativa com as demais variáveis. Não foi encontrada diferença
significativa entre as médias das variáveis qualitativas (p>0,05).
Três idosas foram excluídas pelo MEEM, assim, a amostra foi com-
posta de 30 participantes do gênero feminino com idade média de Tabela 2. Análise descritiva das variáveis quantitativas (n=30). Rio de
79,4±7,03 anos. Quanto ao estado conjugal, houve predominância Janeiro - RJ, 2014-2015
de viúvas (60%). A escolaridade média do grupo foi de aproxima- Variáveis Mínimo Máximo Média DP
damente 8 anos. O número de comorbidades do grupo variou de 1 ETC 29,0 62,0 45,833 8,967
a 7. A ocorrência de quedas variou de nenhum a 14 episódios, com Idade 65,00 92,00 79,400 7,039
média de 1,2 episódios no último ano. As idosas apontaram presen- TUG 9,96 28,00 15,286 4,592
Escolaridade 0 16,0 8,167 5,052
Tabela 1. Frequência das variáveis qualitativas. Rio de Janeiro - RJ, Número de comorbidades 1,0 7,0 3,333 1,667
2014-2015
Quedas ,0 14,0 1,233 3,059
Variáveis Frequência Porcentagem
EVN 2,0 10,0 8,000 2,334
Estado civil nº %
Locais de dor 1,0 12,0 3,700 2,781
Casada 5 16,7
ETC = escala tampa para cinesiofobia; TUG= timed up and go; EVN = escala
Solteira 2 6,7 visual numérica.

Divorciada/separada 5 16,7
Viúva 18 60,0
Total 30 100,0
Depressão
Sim 9 30
Não 21 70
Total 30 100,0
Cinesiofobia

Pior local da dor


Coluna cervical 2 6,7
Coluna lombar 12 40,0
Coluna torácica 1 3,3
MMSS 4 13,3
MMII 11 36,7
Total 30 100,0
Fisioterapia
Sim 8 26,7
Não 22 73,3 Timed Up and Go

Total 30 100,0 Figura 1. Correlação entre cinesiofobia e o teste timed up and go. Rio
MMSS = membros superiores; MMII = membros inferiores. de Janeiro, RJ, 2014-2015

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Ocorrência de cinesiofobia e fatores associados em idosas Rev Dor. São Paulo, 2016 jul-set;17(3):188-91
com dor crônica musculoesquelética: um estudo piloto

DISCUSSÃO e na clínica é dificultado. Atualmente a escala apresenta adaptação


transcultural no Brasil (ETC - Brasil)5, mas ainda não foi validada.
O presente estudo incluiu 30 idosas com queixa de dor crônica mus- Mostra alta consistência interna dos itens e adequada confiabilidade
culoesquelética, e evidenciou altos níveis de cinesiofobia em 80% teste-reteste, mas há itens que podem comprometer a validade de
delas. O medo de movimento e reincidência de lesão tem sido visto construto5. O ponto de corte utilizado aqui não é validado no Brasil,
como preditor de dor crônica e incapacidade. Desuso, incapacidade e por isso pode representar uma limitação do estudo.
e sintomas depressivos são morbidades associadas a esse comporta- Não foi encontrada evidência de avaliação da escala para uso em
mento5,12,13. A alta ocorrência de cinesiofobia encontrada neste estu- população acima de 65 anos. Portanto, é importante que a ETC seja
do ressalta a importância de se estudar esse fenômeno, especialmente mais bem estudada para que se estabeleça a versão apropriada a ser
na população idosa, que estaria mais sujeita às perdas relacionadas utilizada, um possível ponto de corte para dividir os sujeitos em gru-
à presença de dor e medo de movimento. Há evidências de que a pos de intensidade de cinesiofobia, além do seu estudo com idosos.
incapacidade por dor aumenta com a idade e está associada ao maior Acredita-se que mais resultados significativos podem ser encontra-
risco de quedas e fragilidade14. dos utilizando o “n” total obtido pelo cálculo amostral.
Pesquisas sobre dor, cinesiofobia e outros fatores associados costu-
mam excluir sujeitos acima de 65 anos. Dessa forma, um grupo CONCLUSÃO
amplamente acometido por dor crônica associada a desordens mus-
culoesqueléticas7 permanece pouco estudado. O presente estudo evidenciou alta ocorrência de cinesiofobia entre
A dor crônica é vista como um fator de piora do desempenho físi- as idosas avaliadas. Houve correlação estatisticamente significativa
co14, e o medo de movimento é associado à incapacidade, com redu- entre a cinesiofobia e o resultado no teste de velocidade de marcha,
ção da força muscular e da mobilidade, além de piores resultados em sugerindo que o desempenho físico das participantes estaria prejudi-
testes físicos5. Corroborando essas evidências, foi encontrada corre- cado pela presença de medo de movimento. Mais estudos são neces-
lação moderada, porém significativa, entre cinesiofobia e o desempe- sários a fim de compreender melhor a ocorrência do medo de mo-
nho físico no presente estudo. Esse resultado sugere que quanto mais vimento e suas consequências no idoso, além de estabelecer padrões
cinesiofobia, pior o desempenho físico das idosas com dor crônica. para a utilização dos instrumentos disponíveis para a sua avaliação.
Contudo, deve ser interpretado com cautela, devido à possibilidade
de alterações associadas ao envelhecimento terem também influen- REFERÊNCIAS
ciado o desempenho no teste.
A média de intensidade da dor dentre as participantes foi de 8 pon- 1. Veras R. [Population aging today: demands, challenges and innovations]. Rev Saude
Publica. 2009;43(3):548-54. English, Portuguese.
tos, considerada intensa de acordo com a EVN, porém não houve 2. Dellaroza MS, Pimenta CA, Duarte YA, Lebrão ML. [Chronic pain among elderly re-
correlação significativa com a pontuação na ETC. Outros autores sidentes in São Paulo, Brazil: prevalence, characteristics, and association with functional
também não evidenciaram em seus estudos correlação significativa capacity and mobility (SABE study)]. Cad Saude Publica. 2013;29(2):325-34. Portuguese.
3. Ministério da Saúde (BR) – Secretaria de Atenção à Saúde; Portaria nº 1083, de 02 de
entre a intensidade da dor e o grau de cinesiofobia5,12. outubro de 2012.
No estudo de Dellaroza et al.2, 25,4% das idosas entrevistadas re- 4. Carr DB. How prevalent is chronic pain? Pain. 2003;11(2):1-4.
5. Siqueira FB, Teixeira-Salmela LF, Magalhães LC. Análise das propriedades psico-
lataram dor mais intensa na região lombar, seguida de 21,9%, nos métricas da versão brasileira da escala Tampa de cinesiofobia. Acta Ortop Bras.
membros inferiores. Evidenciou-se o mesmo padrão no presente es- 2007;15(1):19-24.
tudo, onde 40% citaram a lombar como pior local de dor, seguida 6. Vlaeyen J, Kole-Snijders AMJ, Boeren RGB, van Eek H. Fear of movement/(re)
injury in chronic low back pain and its relation to behavioral performance. Pain.
dos MMII, por 36,7%. 1995;(62):363-72.
A resposta de evitar atividades físicas e até sociais em antecipação à 7. Andrade FA, Pereira LV, Sousa FA. [Pain measurement in the elderly: a review]. Rev
Lat Am Enfermagem. 2006;14(2):271-6. Portuguese.
dor está associada à depressão5,6,12,13, a qual já foi correlacionada com 8. Oosterwijck JV, Nijs J, Meeus M, Truijen S, Craps J, Keybus NV, et al. Pain neurophy-
maiores escores na ETC12. Contudo, não foi encontrada diferença siology education improves cognitions, pain thresholds, and movement performance
in people with chronic whiplash: a pilot study. J Rehabil Res Dev. 2011;48(1):43-58.
significativa entre a presença de depressão e a pontuação na ETC no 9. Karuka AH, Silva JA, Navega MT. Análise da concordância entre instrumentos de
presente estudo. avaliação do equilíbrio corporal em idosas. Rev Bras Fisioter. 2011;15(6):460-6.
Em relação a quedas nos últimos 12 meses, houve grande variação 10. Almeida OP. Mini exame do estado mental e o diagnóstico de demência no Brasil. Arq
Neuropsiquiatr. 1998;56(3-B):605-12.
no número de episódios relatados, porém a média foi de 1,2 quedas 11. Soares WJ, Moraes AS, Ferriolli E, Perracini MR. Fatores associados a quedas e que-
no ano. A presença de dor e medo tem sido observada como fator de das recorrentes em idosas: estudo de base populacional. Rev Bras Geriatr Gerontol.
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comprometimento do desempenho físico, levando ao maior risco de 12. Rusu AC, Kreddig N, Hallner D, Hülsebusch J, Hasenbring MI. Fear of movement/
quedas em idosas que relatam dor ou incapacidade por dor14. (re)injury in low back pain: confirmatory validation of a German version of the Tampa
A ETC foi testada em várias línguas, inclusive o português5, e em Scale for Kinesiophobia. BMC Musculoskelet Disord. 2014;15:280-9.
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diferentes desordens musculoesqueléticas e foi encontrada boa vali- injury and physical deconditioning in patients with chronic low back pain. Arch Phys
dade de construto12. No entanto, há versões diferentes com possibi- Med Rehabil. 2003;84(8):1227-32.
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lidade de exclusão dos itens com pontuação invertida, e não há um Self-reported chronic pain is associated with physical performance in older people
ponto de corte estabelecido12. Dessa forma, o seu uso em pesquisa leaving aged care rehabilitation. Clin Interv Aging. 2014;14(9):259-65.

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