DISSERTAÇÃO Theska Laila de Freitas Soares

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN

THESKA LAILA DE FREITAS SOARES

A BIOMIMÉTICA E A GEODÉSICA DE BUCKMINSTER FULLER:


uma estratégia de Biodesign

Recife
2016
THESKA LAILA DE FREITAS SOARES

A BIOMIMÉTICA E A GEODÉSICA DE BUCKMINSTER FULLER:


uma estratégia de Biodesign

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Design da
Universidade Federal de Pernambuco
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Design.

Área de Concentração: Design e


Ergonomia

Orientador: Profº. Dr. Amilton José Vieira de Arruda

Recife
2016
Catalogação na fonte
Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204

S676b Soares, Theska Laila de Freitas


A biomimética e a geodésica de Buckminster Fuller: uma estratégia de
biodesign / Theska Laila de Freitas Soares. – Recife, 2016.
286 f.: il., fig.

Orientador: Amilton José Vieira de Arruda.


Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, Centro
de Artes e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Design, 2016.

Inclui referências.

1. Biomimética. 2. Cúpulas geodésicas de Buckminster Fuller. 3.


Biodesign. I. Arruda, Amilton José Vieira de (Orientador). II. Título.

745.2 CDD (22. ed.) UFPE (CAC 2018-187)


THESKA LAILA DE FREITAS SOARES

A BIOMIMÉTICA E A GEODÉSICA DE BUCKMINSTER FULLER:


uma estratégia de Biodesign

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Design da
Universidade Federal de Pernambuco
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Design.

Aprovada em: 07/12/2016.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

Profº Dr. Amilton José Vieira de Arruda (Orientador)


(Universidade Federal de Pernambuco)

__________________________________________________________

Profº Dr. Ney Brito Dantas (Examinador Interno)


(Universidade Federal de Pernambuco)

__________________________________________________________

Profº Dr. Carlo Franzato (Examinador Externo)


(UNISSINOS - RG)

__________________________________________________________

Profº Dr. Danilo Émmerson Nascimento Silva (Examinador Externo)


(Universidade Federal de Pernambuco – Campus Agreste)
À Deus.

“Eu te louvarei, porque de um modo assombroso e tão maravilhoso fui


formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito
bem”

Salmos 139:14

“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto os


seus eternos poderes, como a sua divindade, se entendem, e
claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles
fiquem inescusáveis”

Romanos 1:2
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradecer à Deus, criador e maestro dessa natureza tão sábia.... Com
sua infinita misericórdia, me ajudou a compreender de uma maneira especial os
assuntos da minha pesquisa, e também a superar as muitas pedras do caminho que
surgiram no processo;

À CAPES, pela bolsa de estudos, instrumento que permite que as desigualdades


sociais sejam mais dirimidas e que pessoas como eu, sem tantos recursos, possam
ter a chance de lutar por uma história diferente e mais justa;

Aos meus familiares, pelo apoio emocional e por vezes, financeiro, que neste
momento foi tão necessário;

Aos meus queridos professores da UFPE, todos de alguma forma colaboraram e se


dedicaram em transmitir seus conhecimentos, desde o tempo da graduação, nesta
mesma instituição, e que me fizeram investigar, criticar e renovar os ensinamentos
acerca do Design;

Ao meu orientador, Amilton Arruda, que me deu acesso a uma vasta bibliografia e aos
seus documentos com registros dos trabalhos do laboratório de Biodesign (UFPE),
com atitude colaborativa, dando apoio na disciplina de Biomimética ministrada, no
Workshop apresentado na Universidade de Palermo (ARG) e nas Apresentações de
artigos em congressos e eventos, estando sempre disponível para dirimir dúvidas;

Ao professor Pedro Aléssio do Departamento de Expressão Gráfica da UFPE, pela


dedicação e esforço em me ajudar na modelagem dos modelos da Pesquisa.

Ao professor Tai Hsuan-An da UCG, por ter gentilmente me presenteado e enviado


seus livros esgotados nas livrarias, tão somente por bondade e amor ao
conhecimento, e que tanto foram úteis para agregar na minha pesquisa.

Aos diversos pensadores que me emprestaram seus pontos de vistas, conhecimentos


e visões inspiradoras, dentre os quais, Buckminster Fuller e Janine Benyus, que tanto
influenciaram este trabalho e a minha perspectiva frente ao design;

Por fim, aos meus amigos, em especial, Cecília Tomaz, Amanda Oliveira, Pricila Silva
e Rosa Cândida, embora todos tenham participado direta ou indiretamente para
manutenção da minha sanidade emocional durante este período em que diversas
dificuldades foram superadas.

À tudo e à todos, a minha sincera gratidão por todo apoio e contribuição no processo.
“Satisfaz-me o mistério da eternidade da vida e o mais leve indício da
maravilhosa estrutura da realidade, juntamente com o esforço sincero
para compreender uma parte, mesmo que ínfima, da razão que se
manifesta na natureza”. (EINSTEIN, 1949, p. 5)
RESUMO

Esta dissertação visa relacionar os aspectos da Biomimética com as geodésicas de


Buckminster Fuller através de uma investigação sobre os fundamentos que norteiam
estes assuntos, a fim de demonstrar as vantagens construtivas na aplicação destas
como estratégia de Biodesign. A pesquisa utiliza métodos qualitativos através de um
levantamento bibliográfico mais extenso sobre os conceitos, os processos
metodológicos, técnicas e aplicações relativas a investigação de elementos e
estruturas naturais e sua aplicabilidade em projetos de design, assim como também
investiga as geodésicas com seus fundamentos, características e aplicações no
contexto contemporâneo, para estabelecer um elo entre os dois assuntos e justificar
o uso destas emblemáticas configurações como soluções coerentes para um cenário
de complexidade e sustentabilidade. No final, se apresentará um breve experimento
de Biodesign com as cúpulas que trará a estratégia de construção de duas novas
configurações de geodésicas com referência em elementos da natureza para
evidenciar o potencial de novos estudos destas estruturas.

Palavras-chaves: Biomimética. Cúpulas Geodésicas de Buckminster Fuller.


Biodesign.
ABSTRACT

This dissertation aims to relate the aspects of Biomimetics to Buckminster Fuller's


geodesics through an investigation of the fundamentals that guide these subjects in
order to demonstrate the constructive advantages of applying these as a Biodesign
strategy. The research uses qualitative methods through a more extensive
bibliographical survey on the concepts, methodological processes, techniques and
applications related to the investigation of natural elements and structures and its
applicability in design projects, as well as investigates the geodesics with their
foundations, characteristics and applications in the contemporary context, to establish
a link between the two subjects and justify the use of these emblematic configurations
as coherent solutions to a scenario of complexity and sustainability. In the end, we will
present a brief Biodesign experiment with the domes that will bring the strategy of
building two new configurations of geodesics with reference in elements of nature to
evidence the potential of new studies of these structures.

Keywords: Biomimicry. Geodesic Domes of Buckminster Fuller. Biodesign.


LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


CRIED Centro Richerche di Istituto Europeo di Design
IED Istituto Europeo di Design
UCG Universidade Católica de Goiás
UFPE Universidade Federal De Pernambuco
CNC Computer Numerically Controlled
CAD Computer Aided Desing (Projeto Assistido por Computador)
CAM Computer Aided Manufacturing (Fabricação Assistida por Computador)
ONU Organizações das Nações Unidas
DNA Ácido Desoxirribonucléico
PVC Policloreto de polivinila
ICD Instituto de Design Computacional (Universidade Stuttgard)
ITKE Instituto de Estruturas de Construção e Design Estrutural (Universidade Stuttgard)
MIT lab Laboratório do Instituto de Tecnologia de Massachusets
ABS Acrylonitrile butadiene styrene (Tipo de plástico)
SMIT Sustainably Minded Interactive Technology
AIA American Institute of Architects (Instituto Americano de Arquitetos/)
ETFE Poly(ethene-co-tetrafluoroethene)
Led Light Emitting Diode (Diodo emissor de luz)
CEO Chief Executive Officer
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12

1.1 Problemática ..................................................................................................................... 14

1.2 Objetivo Geral ................................................................................................................... 15

1.3 Objetivos Específicos ...................................................................................................... 15

1.4 Justificativa ....................................................................................................................... 16

1.5 Metodologia do Projeto de Pesquisa ............................................................................. 18

2 FUNDAMENTOS DA BIOMIMÉTICA E SUA INTERFACE COM O DESIGN ................... 21

2.1 Conceitos e Definições .................................................................................................... 22

2.2 Metodologias em Biomimética ....................................................................................... 27

2.2.1 ANALOGIA ...................................................................................................................... 29

2.2.1.1 Analogia Morfológica ................................................................................................. 32

2.2.1.2 Analogia Funcional .................................................................................................... 34

2.2.1.3 Analogia Simbólica (Semântica) .............................................................................. 38

2.2.2 PADRÕES DA NATUREZA ............................................................................................ 43

2.2.2.1 Proporção Áurea ........................................................................................................ 45

2.2.2.2 Números de Fibonacci............................................................................................... 52

2.2.2.3 Espirais ........................................................................................................................ 56

2.2.2.4 Fractais ........................................................................................................................ 60

2.2.2.5 Esferas ......................................................................................................................... 71

2.2.2.6 Modulação ................................................................................................................... 77

2.2.3 MÉTODOS DE PESQUISA BIOMIMÉTICA ................................................................... 80

2.2.3.1 CRIED (Centro Ricerche/ Istituto Europeo di Design-Milano/IT) .......................... 80

2.2.3.2 Laboratório de Biodesign (UFPE/BRA) ................................................................... 87

2.2.3.3 Universidade Católica de Goiás (UCG/BRA)........................................................... 99

2.2.4 BIOMIMICRY THINKING – DESIGN LENS (Biomimicry Institute 3.8) ........................ 109

2.2.5 O GRASSHOPPER E A IMPRESSÃO 3D À SERVIÇO DA BIOMIMÉTICA ............... 116

2.3 Projetos de Design e Arquitetura em Biomimética .................................................... 128

3 AS GEODÉSICAS DE BUCKMINSTER FULLER ............................................................ 153


3.1 Buckminster Fuller: Um Breve Histórico ..................................................................... 153

3.1.1 AS PRIMEIRAS CÚPULAS GEODÉSICAS DE FULLER ............................................ 158

3.2 A Geometria das Cúpulas Geodésicas de Fuller........................................................ 178

3.3 Vantagens da Geometria das Geodésicas .................................................................. 196

3.4 A Biomimética nas Geodésicas de Fuller ................................................................... 211

3.5 Projetos Contemporâneos com Cúpulas Geodésicas ............................................... 218

3.5.1 APLICAÇÕES NO BRASIL ........................................................................................... 229

3.5.2 APLICAÇÕES MODERNAS ......................................................................................... 236

3.5.2.1 Hotel Ecocamp Patagônia ....................................................................................... 240

3.5.2.2 Spheres (Os Domos da Amazon) ........................................................................... 254

3.5.3 APLICAÇÕES NO DESIGN DE PRODUTO................................................................. 260

4 EXPERIMENTAÇÃO: AS GEODÉSICAS COMO ESTRATÉGIA DE BIODESIGN ........ 264

4.1 Sistematização da Estratégia........................................................................................ 264

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 275

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 277


12

1 INTRODUÇÃO

A capacidade de fazer Design está, de inúmeras maneiras, no cerne da


essência do ser humano. Heskett (2005) explica que o Homem molda o ambiente
natural segundo às suas necessidades, dando formas, estruturando ou configurando
residências, ruas, escolas, escritórios, meios de transporte e objetos para as mais
diversas finalidades, onde essa capacidade de modelar o seu habitat atingiu tal ponto
que não é errado afirmar que a vida humana é bastante condicionada a aspectos que,
de uma maneira ou de outra, passam pelo processo de Design.

Embora a influência do contexto e das circunstâncias sejam consideráveis,


fatores tais como processos tecnológicos, estruturas sociais e sistemas econômicos,
dentre outros; o fator humano está presente nas tomadas de decisão em todos os
níveis da prática do Design. Tenham sido bem ou mal projetados, sujeitos a avaliação
e discussão, seja qual for o critério de julgamento, os objetos de design resultam de
decisões e escolhas feitas por pessoas, e com estas escolhas vem a
responsabilidade. (HESKETT, 2005)

Em 1971, no livro Design for the real world, Papanek já conclamava os


designers a saírem da sua zona de conforto e criarem soluções para um mundo real,
visando atender de fato a sociedade com necessidades urgentes e abrangentes, que
sofriam na época com a fome, a miséria, conflitos sociais, guerras civis, crise
ambiental, etc.; criticando a ausência de valores humanos e de responsabilidade
social e ambiental outrora perdida pelo foco demasiadamente em fatores estéticos.

A verdade é que o contexto e o apelo de Papanek continuam coerentes nos


dias atuais, como retoma a discussão outro autor, Cardoso (2012) em seu livro Design
para um mundo complexo, onde ressalta a importância do designer em buscar uma
visão mais holística e abrangente para gerar soluções mais coerentes com as
necessidades em tempos de crise em que as relações têm se tornado cada vez mais
complexas através de uma rede que amplia a efemeridade dos artefatos e
mutabilidade das ideias.

Então, diante de uma infinidade de opções e metodologias qual caminho seguir


para fazer Design num mundo complexo? Uma resposta satisfatória está em “Fazer
mais com menos” (“More with Less”), o mesmo princípio que é usado para as criações
13

na natureza, uma filosofia adotada e disseminada pelo visionário Buckminster Fuller,


um dos precursores do design responsivo e do discurso sustentável, ainda no século
passado. Tal filosofia guiou toda uma trajetória de pesquisa e projetos até os seus 87
anos, sendo o exemplo de maior sucesso nesse conceito os seus domos geodésicos,
que representam as maiores estruturas possíveis de serem construídas com a menor
quantidade de material.

O nosso planeta, a “Espaçonave Terra”, não tem uma fonte


inesgotável de petróleo, madeira, água, ar limpo e outros recursos
naturais... Na medida em que vai se povoando mais e mais, é muito
importante pensar como as pessoas possam viver melhor com os
mesmos recursos. Uma forma é reduzir a quantidade de materiais
desperdiçados, para que outra pessoa possa aproveitar [...] você
também pode melhorar a qualidade dos materiais e encontrar
melhores maneiras de usar cada grama de material, unidade de
energia e minuto de tempo. (FULLER, 1968)

Uma grande entusiasta e disseminadora destas estratégias nos dias atuais é


a bióloga e pesquisadora americana Janine Benyus, que há quase 20 anos têm
procurado difundir os princípios da Biomimética, definida por ela como uma nova
ciência que estuda modelos, princípios e processos da Natureza e depois imita-os ou
inspira-se neles para a resolução de problemas humanos. (BENYUS, 1997)

Embora utilizar a Natureza como referência para as criações não seja algo
propriamente novo, basta lembrar das invenções de Leonardo da Vinci, o movimento
do Art Noveau, ou mesmo das inspirações arquitetônicas de Gaudí. Ao longo da
história, muitos são os casos de inspiração na natureza, desde os primórdios, o
homem sempre a observou e aprendeu com ela, mas durante esse processo de
“evolução” de conhecimento, de desenvolvimento tecnológico e de sistemas
financeiros, este aprendizado foi se tornando uma realidade cada vez mais distante e
foi dando lugar a uma ação mais devastadora, a exploração, e isto tem desencadeado
uma série de outros problemas que interferem não apenas no bem estar do homem,
mas no de todo o ecossistema, o qual está incluído e dele é dependente.

Manzini e Vezzoli (2002) apontam a educação ambiental como sendo um pilar


do desenvolvimento sustentável, pois contribui para integrar a humanidade no
ambiente e desperta nos indivíduos e grupos sociais organizados o desejo de
participar na construção da sua cidadania.
14

A boa notícia é que recentemente, muitas vozes têm se juntado à esta causa
de resgatar este olhar consciente para a genialidade da vida, buscando parcimônia
no uso dos recursos e se inspirando na natureza para suas inovações. Como diria
Benyus (1997), é a redescoberta e a liberação de uma fonte esquecida que faz jorrar
novas esperanças sobre problemas que antes eram até considerados insolúveis.

1.1 Problemática

“O mundo não vai evoluir para além do seu atual estado de crise, usando o
mesmo pensamento que o criou.” Albert Einstein

Os biomimeticistas estão descobrindo o que funciona na natureza e, mais


importante do que isso, o que dura. Depois de 3,8 bilhões de anos de evolução, os
fracassos se tornaram fósseis, e o que permanece é fruto do segredo da
sobrevivência. Quanto mais o mundo artificial se parecer com a natureza e funcionar
como ela, maior a probabilidade de sucesso nesse planeta que é a morada do
homem, mas não exclusivamente dele. Nesta altura da história, em que se vislumbra
a possibilidade real de perda de um quarto de todas as espécies vivas nos próximos
30 anos, a Biomimética torna-se mais que uma simples maneira de ver a natureza,
ela se torna uma corrida e um meio de salvação. (BENYUS, 1997)

Abordando o tema do design de maneira mais abrangente, acreditando que o


designer é todo aquele que concebe, cria e implementa ideias que tenham efeito
sobre o homem de maneira cultural, tecnológica, social, científica ou em sistemas
financeiros em qualquer escala, se faz necessário então que mais pesquisadores
abracem a biomimética para que haja incentivo em disseminar este assunto que é tão
importante, não apenas nas universidades de Design, mas até mesmo no ensino
primário fundamental, na formação dos cidadãos.

Dentre as muitas possibilidades de referências e inspirações para esse fazer


Design, este trabalho acredita que a natureza se demonstra um caminho muito
promissor e de grande relevância como resposta para este cenário de degradação
ambiental, desperdícios, crescente produção de lixo e banalização de produtos com
o lobby de design, destinados ao privilégio de poucos e que não atendem a
questionamentos referentes à sustentabilidade, pois a forma como a nossa sociedade
15

está insustentavelmente organizada tem obrigado a reflexões profundas e à


necessidade de mudanças.

A sustentabilidade no âmbito ambiental são as condições sistêmicas


segundo as quais, em nível regional e planetário, as atividades
humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia
tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo não
devem empobrecer o seu capital natural, que será transmitido às
gerações futuras. (MANZINI; VERZZOLI, 2002)

Tendo em vista que criar no cenário atual de complexidade envolve parâmetros


mais amplos e urgentes, além dos assuntos referentes ao contexto da Biomimética,
este trabalho também pretende investigar as cúpulas geodésicas patenteadas pelo
multidisciplinar Buckminster Fuller, reconhecidas como as estruturas mais fortes,
leves e eficientes concebidas pelo homem ainda na década de 50. Com seu
pensamento holístico e sinergético, Fuller é traduzido como um dos precursores do
discurso sustentável antes mesmo da consolidação do termo Biomimética, e por isto
é necessário entender como estas configurações contribuem para o fomento deste
assunto.

1.2 Objetivo Geral

Entender as relações entre a Biomimética e as geodésicas de Buckminster


Fuller e como estas podem contribuir para solucionar problemas humanos em um
cenário de complexidade.

1.3 Objetivos Específicos

• Realizar uma revisão bibliográfica sobre os fundamentos da Biomimética;


• Pesquisar e analisar sobre metodologias e projetos em Biomimética;
• Descrever e documentar o método em Biônica/Biomimética aplicada ao design
e alguns dos trabalhos desenvolvidos pelas instituições de ensino CRIED (IED,
Milão/IT), UFPE (Laboratório de Biodesign, Recife/BRA) e UCG (GO/BRA);
• Realizar uma revisão bibliográfica sobre as geodésicas de Buckminster Fuller;
• Pesquisar e analisar sobre a história, a geometria e as vantagens construtivas
das geodésicas;
• Pesquisar e analisar projetos contemporâneos com geodésicas e o contexto
destes projetos;
16

• Realizar experimento com novos modelos baseados na configuração


geodésica utilizando uma estratégia de Biodesign.

1.4 Justificativa

A genialidade do homem faz várias invenções, abrangendo com


vários instrumentos o único e mesmo fim, mas nunca descobrirá uma
invenção mais bela, mais econômica ou mais direta que a da
natureza, pois nela nada falta e nada é supérfluo. Leonardo Da Vinci

Não é difícil entender o porquê desta estratégia de usar a natureza como


parâmetro para as soluções humanas, ao comparar o tempo do surgimento da própria
vida na Terra com a existência do homem, se observa que existe muito mais história
a ser contada e analisada antes dele, onde se moldaram todas as demais formas de
vida, da menor a maior, da mais forte a mais frágil, da mais simples a mais complexa,
cuja maior prova de sucesso adaptativo está no simples fato de existir.

Coletivamente, organismos conseguiram transformar rocha e mar num lar de


vida aconchegante, com temperaturas estáveis e ciclos que transcorrem suavemente.
Quando se olha atentamente para as estruturas da natureza, se percebe que todas
as invenções do homem já existem sob uma forma mais elegante e a um preço bem
menor para o planeta. Como bem observou Benyus (1997):

Nossas vigas e escoras podem ser encontradas nas folhas do nenúfar


e nas hastes do bambu; nossos sistemas de aquecimento e ar-
condicionado são superados pelos estáveis 30º centígrados do
cupinzeiro; nosso radar mais sofisticado é surdo se comparado ao
sistema de captação de frequências do morcego. E nossos “materiais
inteligentes” não chegam aos pés da pele do golfinho ou da probócide
da borboleta. Até a roda, que consideramos criação do homem, foi
encontrada no minúsculo rotor que impele o flagelo da bactéria mais
antiga do mundo.

Antes mesmo do homem criar soluções, a natureza já tinha dado origem, há


tempos, a “alta tecnologia” capaz de feitos incríveis, como: otimização de espaços
compactos, impermeabilização, mobilidade econômica, alta resistência, controle de
temperatura, construção de habitats, estruturas e mecanismos que refletem até
mesmo um sentido de ordem “social”. E estes são só alguns dos aspectos reveladores
de uma natureza capaz de ensinar a resolver também as necessidades e problemas
humanos, pois os seres vivos têm feito tudo o que a humanidade intenta fazer, sem
17

consumir vorazmente combustível fóssil, poluir o planeta ou pôr em risco o seu futuro.
Que modelos melhores poderiam existir? (BENYUS, 1997)

Fuller (1975) também intuiu este potencial de aprendizado com a natureza,


quando percebeu que os seres vivos agem de maneira sincronizada com o todo,
sabendo como fazer o uso máximo de recursos mínimos. Em seu livro Sinergetics,
ele aborda justamente esta concepção de planeta como um sistema regenerativo,
onde cada organismo ao ser guiado pelos seus instintos de sobrevivência é
responsável por equilibrar o planeta como um todo. Por exemplo, uma abelha ao
buscar o néctar acaba ajudando na reprodução das plantas através da polinização.

Porém, ele também sabia que a migração para os grandes centros urbanos fez
o homem se afastar da natureza e perder essa a noção de como ela funciona de
maneira global, passando a consumir recursos de forma irracional e insustentável,
mesmo havendo tecnologia e recursos suficientes para suprir às necessidades de
toda a população, sendo apenas preciso distribuir, evitar desperdícios e pensar na
coletividade.

Para ajudar a disseminar este pensamento, Fuller propôs uma teoria


denominada Design Science, na qual se caracterizava por pensar holisticamente,
antever os problemas, para perseguir soluções que a humanidade enfrenta através
do Design, por meio de produção de protótipos, testando-os cientificamente enquanto
todo o processo é documentado.

E foi justamente o que ele fez com suas cúpulas geodésicas, ele estudou,
testou, patenteou vários modelos dessas estruturas que hoje já contabilizam cerca de
300.000 replicações bem-sucedidas e espalhadas pelo mundo.

Precisamos integrar ainda mais projeto e pesquisa, prática


profissional e atividades culturais, sem perder de vista a natureza
essencial do design como atividade projetual, capaz de viabilizar
soluções sistêmicas e criativas para os imensos desafios do mundo
complexo. (CARDOSO, 2012)
18

1.5 Metodologia do Projeto de Pesquisa

“Um problema adequadamente diagnosticado está a caminho de ser


solucionado.” Buckminster Fuller

O projeto de pesquisa em questão se trata de uma dissertação de mestrado


que possui método científico de abordagem indutiva. Faz uma investigação mais
minuciosa sobre os fundamentos da Biomimética, relacionando-os com as
geodésicas de Buckminster Fuller.

Tendo como objeto de estudo, estas geodésicas, investiga também o contexto


atual em que elas estão inseridas, projetos contemporâneos, suas características e
vantagens construtivas, estudando seus materiais e processos produtivos com foco
em sustentabilidade, estabelecendo seus requisitos e ilustrando o potencial de uso
destas estruturas em Projetos de Design.

Através de sites, como o Biomimicry Institute e o Buckminster Fuller Institute,


dentre outros; esta pesquisa compilou uma série de informações, imagens e artigos
sobre metodologias e novas aplicações com ênfase nestes dois assuntos. Sobre
Biomimética, esta pesquisa também contou com o acesso aos acervos do laboratório
de Biodesign da UFPE e, desta forma, alguns registros dos trabalhos desenvolvidos
também serão apresentados, assim como os métodos e trabalhos do CRIED e do
UCG.

Para execução dos modelos, foi realizada uma parceria com o Departamento
de Expressão Gráfica da UFPE para desenvolvimento em softwares CAD
(Rhinoceros e Grasshopper) para a modelagem virtual. Demais ilustrações foram
produzidos pela pesquisadora em softwares gráficos ou por fotografia.

Para facilitar o entendimento da Metodologia de Pesquisa, as Tabelas 1 e 2 a


seguir visam ilustrar as características e estratégias de planejamento adotados,
baseadas nos critérios de Prodavov & Freitas (2013); já a Figura 1 apresenta um
Mapa Mental com os conteúdos relacionados na pesquisa e suas conexões.
19

Tabela 1 – Quadro com os tipos, classificações e características da Pesquisa.

Fonte: Elaborado pela aurora.

Tabela 2 – Quadro com os métodos de procedimento da pesquisa e suas características.

Fonte: Elaborado pela aurora.


20

Figura 1 – Mapa Mental dos assuntos relacionados à Pesquisa.

Fonte: Elaborado pela aurora.


21

2 FUNDAMENTOS DA BIOMIMÉTICA E SUA INTERFACE COM O DESIGN

Ao longo da complexa história da Humanidade é possível constatar a aplicação


de soluções biológicas em diferentes períodos, e em diversas áreas tais como na
ciência, tecnologia, arquitetura, arte, design, engenharia, medicina, e outras mais têm
surgido a cada dia. Essa inspiração na natureza tem gerado uma série de invenções
que tem possibilitado um grande número de inovações e de recursos no decorrer do
tempo.

Para se ter uma ideia do potencial de aprendizagem com essa multidão de


organismos na natureza, Benyus (1997) relembra que basta observar os feitos
incríveis de: algas bioluminescentes, que combinam substâncias para abastecer suas
lanternas orgânicas; peixes e rãs das regiões árticas que se congelam e tornam a
surgir para vida sem danos causados pelo gelo em seus órgãos; ursos pardos que
hibernam em invernos inteiros sem se envenenarem com a própria ureia; ursos
polares que se protegem do frio através de uma camada de pelos transparentes que
funcionam como as vidraças de uma estufa; abelhas, tartarugas e pássaros que se
locomovem sem mapas; baleias e pinguins que mergulham no fundo das águas sem
equipamento de mergulho; libélulas que excedem a capacidade de manobra dos
melhores helicópteros; formigas que conseguem carregar o equivalente a centenas
de quilos; beija-flores que cruzam o golfo do México com o equivalente a 3ml de
combustível, etc.

Embora todo este conhecimento tenha existido ao longo da evolução da vida


na Terra, apenas uma pequena parcela disso tem sido aproveitada, existindo uma
grande parte ainda desconhecida e negligenciada a ser desbravada. Através de um
olhar atento às soluções da natureza, existem uma infinidade de bons exemplos de
eco eficiência, através de organismos que constroem com o mínimo de desperdício
de materiais e energia, e que ainda coexistem em harmonia com a biosfera.
Evidenciar esta nova forma de perceber a natureza é bem diferente da ideia de
exploração a que geralmente o homem a tem associado.

Portanto, observando como a natureza opera na criação das suas espécies,


sejam vegetais, animais ou minerais, pode-se transpor este mesmo método no
desenvolvimento de produtos, sistemas, construções e até mesmo serviços, pois os
22

“critérios” observados nos seres vivos mais adaptados, podem servir de base para o
desenvolvimento de soluções mais eficientes. (BENYUS, 1997)

2.1 Conceitos e Definições

É importante esclarecer que existem outros termos que também relacionam a


natureza com as criações humanas. Biônica, Biodesign e Biomimética são facilmente
confundíveis pois suas origens, conceitos, métodos e bases de investigação são
realmente muito semelhantes, embora existam algumas diferenças.

Fernandes (2012) comenta que ambas as terminologias derivaram da palavra


europeia Biotécnica que apareceu como referência no livro datado de 1877 da
autoria do Reverendo John George Wood, “Natureʼs teachingʼs: Human Invention
Articipated by Nature” e posteriormente em 1920 no livro de Raul Francé, “Die Planze
als Erfinder” (As Plantas como Inventoras). Mais tarde a palavra sofreu uma
derivação, surgindo o termo “Bionics” (Biônica) que se relaciona com a palavra “Bio”
(vida) e “onics” de “tecnologics” (tecnologia). Segundo Arruda (1993), esse termo foi
oficialmente apresentado em 1960 num Simpósio nos E.U.A, promovido pelas forças
aéreas, onde foi utilizado pelo engenheiro e major Jack. E. Stelle que o definiu como:
“Ciência dos sistemas cujo funcionamento se baseia em sistemas naturais, ou
que apresentam analogias com estes”.

Arruda (1993) também apresenta em ordem cronológica as definições de


outros autores para a palavra Biônica, são elas:

Maraldi (1963) diz que ela se propõe ao estudo e compreensão da estrutura,


mecanismo e funções de plantas, de animais e do homem, a fim de desenvolver
novas aplicações para mecanismos complexos e dispositivos variados; Gerardin
(1968) fala que ela é a arte de aplicar em soluções de problemas técnicos o
conhecimento que se possui dos seres vivos; Mironov (1970) explica que ela estuda
o mecanismo da unidade vital para desenhar aplicações práticas; Papanek (1973)
ratifica que se trata da ciência que estuda o emprego dos modelos biológicos para a
produção de sistemas sintéticos criados pelo homem e também os princípios básicos
da natureza para extrair destes aplicações e processos úteis ao ser humano e
Bonsiepe (1975) expõe que ela estuda o sistema vivo para aplicação de seus
princípios, técnicas e mecanismos na tecnologia, servindo principalmente para
23

estimular a capacidade de perceber seus detalhes tridimensionais e os princípios


formais que o estruturam, como também para incrementar a capacidade de
transformação quando se examina e analisa um objeto análogo.

Já Broeck (1989) explica sobre um novo termo, o Biodesign, cuja utilização é


dita adequada por este autor, quando a Biônica é aplicada ao desenho industrial,
sendo mais coerente com à atividade de projetos. Neste sentido define-se Biodesign
pelo estudo de sistemas e organismos naturais com o propósito de analisar e
perceber soluções do tipo funcional, estrutural e formal, para aplicação em resolução
de problemas humanos, através de criações tecnológicas, objetos ou sistemas de
objetos.

Este autor apresenta ainda um resumo com as 2 atividades fundamentais


do Biodesign, e é neste contexto que a estratégia de Biodesign referida nesta
pesquisa se identifica:

1. Investigação e experimentação básica, que partem da observação de


fenômenos naturais sem, necessariamente, ter presentes aplicações
utilizáveis posteriormente em projetos específicos. A ideia fundamental
desta opção é a de criar um banco de dados que alimente o projeto, não
somente em soluções técnicas, mas também, em aspectos metodológicos.
2. Busca de soluções para um projeto específico, por analogias. Para isto,
requer não somente de um banco de dados de investigação básica, mas
de um conhecimento prévio da área, dos princípios que determinam as
formas na natureza e de uma metodologia de aproximação do fenômeno
natural.

Tanto a Biônica, quanto o Biodesign estudam os princípios básicos da natureza


(construtivos, tecnológicos, formais, etc.) para aplicação em soluções tecnológicas, e
por isto se tornaram um campo interdisciplinar que combina a biologia com outras
áreas, dando origem, portanto, a diversas outras terminologias correlatas que
também são utilizadas com referência nas Bioinspirações ou Biotécnicas, tais como
a Bioengenharia, Biomecânica, Bioelectrônica, Bioarquitetura, Bioenergética,
Biomaterial, etc.
24

Outra forma de utilização do termo Biônica é uma junção da palavra Bios com
a eletrônica relacionado com a área da cibernética, na designação da tecnologia à
serviço da recriação da natureza, como por exemplo, na criação de próteses artificiais
para seres vivos, tais como: orelhas, olhos, mãos, pernas, órgãos, dentre outros,
como observado no exemplo abaixo da mão biônica i-limb Ultra Revolution da
empresa Touch Bionics com sua mais avançada e versátil prótese, que possui maior
destreza e movimentos mais naturais, e que pode inclusive ser configurada pelo
aplicativo no smartphone. (Figura 2)

Figura 2 – Imagem da mão biônica I-limb Ultra Revolution da empresa Touch Bionics.

Fonte: http://innovationjurnal.blogspot.com.br/2014/05/touch-bionics-updates-i-limb-ultra.html. Acesso


em: 26 jul 2014.

Em 1969 a palavra Biomimética dá origem ao título de um artigo de Otto


Schmitt e finalmente, em 1974, foi publicada a seguinte definição no dicionário de
Webster:

“Trata do estudo da formação, estrutura ou função de substâncias e materiais


biologicamente produzidos (como as enzimas ou a seda), e mecanismos e processos
biológicos (como a sintetização de proteínas ou de fotossíntese) especialmente para
os propósitos de sintetização de produtos similares por mecanismos artificiais que
mimetizam os naturais”.

Mais tarde a pesquisadora americana Janine Benyus (1997) teve a


responsabilidade da melhor definição e difusão do termo da Biomimética. Segundo
ela, esta nova ciência estuda os modelos da natureza e depois imita-os, inspira-se
25

neles ou em seus processos para resolver problemas humanos, porém as soluções


devem ser embasadas na tríade: a natureza como modelo, medida e mentora, cujos
princípios serão descritos a seguir:

• A natureza como modelo. Inspiração e mimese nas soluções da natureza


para aplicações práticas;

• A natureza como medida: Usa o padrão ecológico como parâmetro para as


inovações. Após 3,8 bilhões de anos de evolução, a natureza aprendeu aquilo
que funciona, é mais apropriado, econômico e durável;

• A natureza como mentora: Representa uma nova forma de ver e valorizar a


natureza, inaugura uma era cujas bases se sustentam não naquilo que se pode
extrair dela, mas no que se pode aprender com ela.

Estas últimas abordagens da natureza como medida e mentora apresentam


novos valores, que incluem aspectos de sustentabilidade e de respeito à natureza, o
que para Janine significa a verdadeira revolução desse campo. Apesar de derivar da
palavra grega “Biomimesis”, onde “bios” siginifica vida e “mimesis”, imitação, não se
restringe a apenas uma imitação da forma biológica, mas considera também o
conceito de replicação do comportamento dos organismos biológicos.

De acordo com Santos (2010), a Biomimética colabora com a filosofia do design


ambiental, que também tem a visão multidisciplinar onde muitos setores industriais
podem substituir o método tradicional de projeto e produção dos bens de consumo
pelo “método” da natureza que é bem mais equilibrado e menos oneroso para o
ambiente. É o que é evidenciado na fala de Benyus (1997):

Desta vez, viemos não para aprender algo sobre a natureza, para que
possamos enganá-la e controlá-la, mas para aprender algo com ela,
de modo que possamos nos adaptar, de uma vez por todas e para o
nosso bem, à vida na Terra, da qual surgimos. Temos um milhão de
perguntas. Como deveríamos produzir alimentos? Como deveríamos
fabricar nossos materiais? Como deveríamos realizar negócios de
uma forma que respeite a natureza? À medida que formos
descobrindo aquilo que a natureza já sabe, reconheceremos a
26

sensação de fazer parte, e não de estarmos à parte, da genialidade


que nos rodeia.

A Biomimética corresponde a uma emulação consciente do gênio da natureza,


é uma abordagem interdisciplinar que reúne mundos muitas vezes desconectados:
natureza e tecnologia, biologia e inovação, vida e design. Na prática, procura trazer a
sabedoria da vida testada pelo tempo para trazer informações valiosas em soluções
humanas que criam condições favoráveis à vida; soluções sustentáveis por
empréstimo de insights e estratégias ambientais, ou ainda, procura ser uma conexão
que ajuda a encaixar, alinhar e integrar a espécie humana nos processos naturais da
Terra.

À título de curiosidade, outra forma de uso do termo Biomimética também se


refere a característica de camuflagem que certos animais possuem, onde imitam
outras espécies para se protegerem de predadores ou para disfarçarem sua presença
como predadores, como pode ser observado na Figura 3.

Figura 3 – Imagem com animais que utilizam a biomimética como técnica de camuflagem.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

Por fim, enquanto a Biônica trata da previsão, manipulação e controle da


natureza, a Biomimética inspira o sentimento de pertencimento e participação
humana, o que constitui uma maior contribuição para os aspectos da
sustentabilidade. Apesar das abordagens serem tão parecidas existem diferenças
entre as suas concepções, pois esta última representa uma nova forma de observar
e avaliar a natureza, introduzindo um novo pensamento baseado não só no que se
pode extrair do mundo natural, mas no que se pode aprender com ele, e isto torna a
sua abordagem mais abrangente.
27

2.2 Metodologias em Biomimética

Apesar de todas estas definições do século XX, Leonardo Da Vinci, embora


não utilizasse estes termos, já se apropriava dos conceitos da Biomimética na prática
desde a época do Renascimento. Gênio reconhecido como um dos primeiros a
estudar as formas e funções presentes na natureza, revelou claramente a sua busca
por mecanismos biônicos através dos seus famosos desenhos na obra “Sul volo degli
uccelli” (O voo das aves), possibilitando o título de pioneiro a aproximar-se da
realidade de voar através da construção de máquinas voadoras.

Arruda (1993) relembra sobre estes estudos e diz que a ideia fundamental do
engenheiro era que o voo humano fosse possível através da imitação mecânica da
natureza, numa tentativa de reproduzir os movimentos das asas do morcego,
entendendo também a base dos movimentos dos pássaros. (Figura 4)

Um aspecto interessante a ser observado nestes estudos de Leonardo diz


respeito à dinâmica do método utilizado por ele, motivado pela curiosidade e
procurando estabelecer relações, ele procurava observar o elemento natural a ser
investigado em seu ambiente natural e registrava tudo em tempo real através de
anotações textuais e desenhos esquemáticos.

“ O Falcão bate lentamente suas asas e procura sobretudo se fazer levar pelas
correntes de ar. Com o voo equilibrado, estes podem repousar seus membros
cansados”. (Vinci, 2004)
28

Figura 4 – Estudos do voo de pássaros e Máquina para bater asas “Ornitóptero” de Da Vinci.

Fonte: (CRUZ, 2012, p.19).

Arruda (2002) comenta que desde a Bauhaus e a escola de Ulm em seu curso
fundamental, já se ofereciam disciplinas em que as análises dos fenômenos naturais,
das estruturas, do funcionamento dos organismos vivos eram frequentemente objeto
de estudo. Em Ulm, Gui Bonsiepe, professor da escola na época, costumava usar as
análises morfológicas de organismos bilógicos como escopo didático para melhorar
a visão estrutural e a interpretação criativa. Vitor Papanek também foi um dos
professores pioneiros (na época, no California Institute of Arts) a propor o estudo da
biônica (elementos naturais) como instrumento de projeto. Também Bruno Munari,
Attilio Marcolli e Aldo Montù na Itália, contribuíram em suas publicações com diversos
estudos das estruturas naturais.

Mas apesar dos avanços dessa ciência, ainda existem poucos estudos
formulados para o procedimento de interpretação ou tradução da biologia para esta
fase de criação. Normalmente o que se utiliza, seja na Biônica, Biomimética,
Biodesign ou qualquer biotécnica é o método empregado da Analogia.

Aqui é importante perceber a necessidade de contínuos estudos e oferecer


novos avanços no uso da Analogia, pois esta transferência de um conceito ou
29

mecanismo vivo para sistemas inanimados não é trivial. Uma réplica simples e direta
do modelo biológico raramente é bem-sucedida, mesmo com toda tecnologia
disponível no cenário atual, pois se trata de uma atividade com certo grau de
complexidade. Gruber (2011) afirma que para que ocorra o sucesso da solução
Biomimética deve existir interdisciplinaridade ou ainda, deve-se aplicar os conceitos
de forma estratégica.

Dessa forma, com o passar dos séculos, muitos nomes utilizaram a natureza
para investigação e criação de artefatos, o que resultou em acúmulo de conhecimento
e aprimoramento de técnicas e métodos. Algumas das quais serão descritas a seguir:

2.2.1 ANALOGIA

Na antiguidade clássica, a Analogia era abordada pelos filósofos Aristóteles e


Platão como uma abstração compartilhada, em que os objetos análogos
compartilhavam algo em comum, seja uma ideia, um padrão, uma regularidade, um
atributo ou uma função.

Como método, a analogia ganha um carácter capaz de vencer problemas


através de um raciocínio lógico, assim como ajuda na tomada de decisões, nos
diferentes campos da criação, percepção e criatividade. Da sua aplicação resulta um
amplo conjunto de soluções para diferentes áreas em conformidade com o interesse
e conteúdo de cada ciência.

Sendo muito utilizada pela Biônica e a Biomimética, se revela muito útil em


descobrir novos princípios, formas, processos, estruturas, etc.; contribuindo no
processo de interpretação das estruturas naturais. Ao longo da história, este é o
método mais comum para encontrar soluções de concepção com referência no
mundo natural.

Para falar de analogia é interessante remeter também ao termo Synectics


(Sinergia), que corresponde a uma das técnicas mais promissoras para fomentar a
criatividade, sua característica mais importante está no uso repetido de analogias que
levem a abordagem do problema, sob novos pontos de vista. Tornou-se parte do
vocabulário dos especialistas, quando William Gordon, em 1961, publicou o livro
30

Synectics, que do grego significa a união de elementos diferentes e aparentemente


irrelevantes.

Segundo Gordon (1961), a Synetics funciona num misto de teoria e técnica.


Como teoria estuda o processo criativo e os mecanismos psicológicos da atividade
criativa, com o objetivo de aumentar as chances de pessoas obterem sucesso na
resolução de problemas. Como técnica, fornece uma repetição capaz de aumentar as
chances de chegar a soluções criativas pelo procedimento de aproximação. A seguir,
Pérez (1999) comenta os 4 tipos de Analogias definidas por Gordon (1961):

• Analogia Direta: Descreve a verdadeira comparação de fatos, conhecimentos,


objetos, organismos, que possuam algum grau de semelhança;

• Analogia Pessoal: Descreve uma personificação imersiva no problema, de


forma empática. Começando com a pergunta: Se eu fosse...? Assim ocorre
uma fusão imaginária entre a pessoa e o objeto ou situação, permitindo uma
visão interna sobre os sentimentos, pensamentos e formas de atuação
específicas para cada caso. (Se eu fosse um...me sentiria como?);

• Analogia Simbólica: Seleciona uma palavra-chave e pergunta-se qual a sua


essência, para então experimentar ou sentir os significados descobertos; usa
imagens objetivas e impessoais para descrever o problema por uma resposta
poética; Uma vez criada é uma torrente de associações;

• Analogia Fantástica: Deixa de lado o pensamento lógico e racional. Partindo


de um problema específico se deixa a porta aberta à fantasia, conduzindo a
soluções imaginárias que estão fora do universo possível.

A técnica fornece grande atenção aos elementos emocionais, irracionais e


inconscientes na busca criativa; no entanto, é essencial não perder de vista também
a reflexão racional. (PÉREZ, 1999)

A tentativa analógica consiste em afastamento do problema, o relacionando


com conceitos, ideias e imagens que ele inspira num processo chamado de
cruzamento, para daí se extrair soluções. Tanto a Sinergia como a Biônica se utilizam
de analogias, porém, na primeira essa busca de soluções se dá em áreas variadas
31

como a literatura, a natureza ou até a arte. Já na Biônica, a busca de soluções


acontece exclusivamente na natureza. (RAMOS, 1993)

A seguir, alguns tipos de analogias relacionadas ao assunto da Biomimética


discutida por Arruda (2002):

• Analogia Orgânica: Busca encontrar o equilíbrio entre os organismos


humanos, as obras de arte e os sistemas mecânicos. (STEADMAN, 1988)

• Analogia Classificatória: Observa os métodos estabelecidos da botânica e


zoologia para aplicação na Arquitetura e no Design. (STEADMAN, 1988)

• Analogia Anatômica: Traz uma sistemática de trabalho que estuda a estrutura


do esqueleto animal comparando-os com as construções da engenharia.
(STEADMAN, 1988)

• Analogia Darwiniana: Busca explicar que os objetos e as construções são


feitos através de cópias repetidas através dos tempos, como acontece com a
evolução natural. (STEADMAN, 1988)

• Analogia Sensorial: Estudo dos sistemas de controle e transmissão de


informação de organismos vivos para transpor em modelos eletrônicos e
mecânicos, com objetivo de reduzir e otimizar ao máximo seus resultados.
(ARRUDA, 2002)

Todas estas analogias de alguma forma se empenham em traduzir o mundo


natural e contribuem na decodificação de geometrias, funcionamentos, e na busca,
dentre outros aspectos, por um melhor aproveitamento energético e de material,
conservando assim, os princípios da Biomimética.

Além destes, serão apresentados de maneira mais detalhada a seguir, três


tipos básicos de analogia, morfológica, funcional e simbólica, que para a autora,
sintetizam melhor o método de Analogia relacionado com a Biomimética.
32

2.2.1.1 Analogia Morfológica

A forma, a saber, a figura ou determinação exterior de um corpo, destina-se


como qualquer combinação definida de elementos geométricos que possamos
realizar ou imaginar, é uma característica importante da matéria, já que todos os
objetos reais, vivos ou não, possuem forma própria, particular, que muitas vezes se
define em si mesmos, que os fazem similar a alguns ou diferentes de outros. Pelos
objetos de forma complexa e irregular, como as encontradas na natureza, deve-se
dar uma definição que seja essencialmente indireta e aproximativa. (ARRUDA, 1993)

Bonsiepe (1982) define a analogia morfológica como a busca experimental


de modelos elaborados da tradução das características estruturais e formais para
transpor em projetos. Sendo assim, este tipo de analogia procura estudar e analisar
o porquê da forma natural, as inter-relações da sua geometria, observando e
compreendendo suas texturas, atentando para as características do shape (forma
externa), das partes e componentes, dos detalhes de alguma parte a nível macro ou
microscópico, assim como, para as suas formas estruturais.

Segundo Wilson et al. (2010), a análise de fenômenos morfológicos da natureza


facilita e estimula a capacidade de percepção de detalhes e princípios presentes em
sua estrutura. Ideias inovadoras vêm surgindo de pesquisas sobre sistemas e
propriedades naturais que nem sempre se traduzem apenas na estética, mas que a
forma natural favorece também o ganho em eficiência. Neste sentido Versos (2010)
traz um bom exemplo de analagia morfológica com o Trem-bala Shinkansen
desenvolvido pelo engenheiro Eiji Nakatsu (Figura 5). O projeto tem como referência
a forma do bico alongado do pássaro Martim-Pescador, que facilita o mergulho sem
espirrar água em busca de sua refeição. Visando solucionar um dos grandes
problemas do trem bala que é a vibração e o barulho, o engenheiro buscou inspiração
no formato do bico deste pássaro, o que resultou numa melhora significativa com um
trem-bala 10% mais rápido, consomindo 15% menos energia, e ainda, reduzindo a
pressão do ar em 30% em relação ao modelo anterior.
33

Figura 5 – SHINKANSEN (Japão), trem-bala de alta velocidade mais rápido do mundo, redesenhado
tendo como base o bico de um Martin-Pescador.

Fonte: (VERSOS, 2010)

Outro exemplo interessante de analogia morfológica é o BIONIC CAR da marca


Mercedes-Benz, cuja inspiração se deu através da forma e estrutura óssea
hidrodinâmica do peixe-cofre (Figura 6) com o propósito de proporcionar alta
resistência à estrutura do carro através do uso mínimo de material. Como resultado, o
automóvel apresentou uma excelente aerodinâmica e peso reduzido com um consumo
de 4,3 litros por 100km, o que significa 20% mais economia que os veículos da mesma
classe, e ainda, redução das emissões de óxido de nitrogénio em cerca de 80%.
(VERSOS, 2010)

Figura 6 – BIONIC CAR da marca Mercedes-Benz (Alemanha), automóvel desenvolvido com base na
forma e estrutura hidrodinâmica do peixe-cofre.

Fonte: (VERSOS, 2010).


34

Sendo assim, a analogia morfológica comprova a eficiência das formas


naturais, pois muitas delas se traduzem em ganhos além da estética, ou seja, também
em performance. A Figura 7 apresenta mais alguns exemplos desse tipo de analogia.

Figura 7 – Exemplos de Analogia Morfológica – Coluna estrutural/Folha da palmeira leque;


Cadeira/Forma estrutural da borboleta; Arame farpado/Espinhos e Alicate/Pinça do caranguejo.

Fonte: Elaborada pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

2.2.1.2 Analogia Funcional

Já este outro tipo de Analogia procura estudar sobre o funcionamento do


sistema físico e mecânico natural; tenta compreender quais funções desempenham
tanto no todo, quanto em suas partes e componentes. Em outras palavras são
evidenciados os atributos funcionais, qualidades específicas (não morfológicas) que
se podem mimetizar da estrutura natural analizada, uma vez que os organismos
naturais desenvolveram habilidades complexas e altamente adaptáveis, se pode
mimetizar essas aptidões funcionais e aplicá-las em artefatos artificiais. Enquanto
morfologicamente as analogias são limitadas, funcionalmente podem ser múltiplas.

Muitos pesquisadores têm buscado parcerias com departamentos de biologia


que se utilizam de informações específicas de características do mundo natural, um
destes trabalhos é o de Liua & Jiang (2011) que apresentam na Tabela 3 o resultado
35

de vários estudos onde descrevem as funções encontradas em alguns organismos


vivos que podem orientar a geração de idéias para solução de problemas projetuais
por analogia no design.

Tabela 3 – Tabela de organismos naturais e suas respectivas funções.

Fonte: (LIUA & JIANG, 2011).

A vantagem desta analogia é que se identificando estas estratégias e funções,


se podem aplicar em mais de um tipo de artefato, servindo para uma ou mais soluções
como o caso do estudo das folhas de lótus, na qual o pesquisador Barthlott, identificou
as funções de repelir a água e de autolimpeza das suas superfícies. Isto acontece
devido ao ângulo formado pelas suas micro e nanoestruturas cerosas, que impedem
o contato com a água, fazendo-a rolar e formar gotas que vão recolhendo a sujeira
pelo caminho. Com isto, se identificou que superfícies ásperas em nano escala são
mais hidrofóbicas que superfícies mais lisas. Na folha de lótus, a área de contato real
é de apenas 2-3% da superfície das gotas.
36

Essa analogia funcional foi aplicada comercialmente em produtos como a tinta


Lotusan (Figura 8) e também em outros materiais e produtos, tais como os têxteis, a
madeira ou o vidro, através de sprays (BASF Lotus Spray) que simulam o mesmo
efeito da planta. Na tinta, ao criar micro saliências, ela repele a água, se auto limpando
e resistindo a manchas durante décadas. Apesar de se replicar estas microestruturas,
os artefatos gerados não se referem a forma das folhas em si e sim a função
identificada de hidrofobia e autolimpeza. (VERSOS, 2010)

Figura 8 – LOTUSAN (Alemanha), tinta que repele a água e resiste a manchas durante décadas,
inspirada nas microestruturas das folhas de lótus.

Fonte: (VERSOS, 2010).

Versos (2010) cita ainda outro exemplo de analogia funcional com a pesquisa
das escamas da pele do tubarão, onde reside o segredo da sua alta perfomance em
velocidade. Segundo especialistas, a água desliza através das micro ranhuras da pele
do animal reduzindo a fricção. A aplicação deste estudo em roupas de natação da
marca Speedo Fastskin é utilizada por campeões olímpicos. A textura destas
vestimentas baseada nos “dentículos” da pele de tubarão tem como vantagens: a
redução da resistência passiva de cerca de 4% e também da vibração muscular,
aumentando a velocidade e o desempenho dos atletas. (Figura 9)

Nos tubarões estas micro escamas também impedem a fixação de pequenos


crustáceos e de algas, uma inspiração para revestimentos sintéticos que poderão ser
aplicados nos cascos de navios a fim de reduzir o atrito, poupando energia e também
37

esse inconveniente biológico que provoca manutenções, o que comprova mais uma
vez que a analogia funcional pode gerar aplicações em diversos artefatos e não se
limita apenas na forma do animal investigado, mas na função que foi identificada e
que se deseja replicar.

Figura 9 – FASTSKIN da marca Speedo (Austrália), roupa de banho para competição de natação que
imita a função de eficiência hidrodinâmica da pele de tubarão, resultando na redução do atrito e
consequente aumento de velocidade.

Fonte: (VERSOS, 2010).

A Figura 10 abaixo retrata mais 4 exemplos desse tipo de analogia. O primeiro


é inspirado na função de aderência das patas da lagartixa, causada pela força
intermolecular encontrada nos seus micro e nanopêlos que ligam as moléculas da
pata do animal às moléculas da superfície, permitindo que se grudem até mesmo em
superfícies lisas como o vidro. A partir deste estudo a empresa Interface criou o
TacTiles, um sistema de instalação do carpete que usa conectores adesivos sem cola
para unir as placas do carpete ao invés de colar no piso. Outras aplicações são
usadas como adesivos para smartphones para adesão em vidros e painéis de carro.

Também há o exemplo do Regen Energy, sistema de gerenciamento


automatizado de eficiência energética baseado na rede de comunicação de formigas
e abelhas; Outro é o sistema de resfriamento passivo no shopping Eastgate Center
de Mick Pearce no Zimbábue, que imita a função de autoregulação de temperatura
dos cupinzeiros africanos, onde o centro utiliza o ar frio da noite para resfriar, e
38

durante o dia este ar sobe do térreo em direção aos pavimentos superiores através
de chaminés; e por fim, o tradicional exemplo das placas solares que imitam a função
das folhas de captação de energia solar.

Figura 10 – Exemplos de Analogia Funcional. TacTiles (aderência das lagartixas), Regen energy
(gerenciamento de energia do sistema de comunicação de abelhas), Eastgate Center
(autoregulagem de temperatura do cumpinzeiro) e placas solares (Captação de energia das folhas).

Fonte: http://www.interface.com/EU/en-GB/about/modular-carpet-tile/TacTiles-en_GB. Acesso em: 15


jul 2014.

2.2.1.3 Analogia Simbólica (Semântica)

Na analogia simbólica estão os casos de imitação mais abstratos que não


correspondem a fidelidade das formas nem necessariamente das funções. Desta
forma os artefatos produzidos possuem correspondência com aspectos da estrutura
natural analisada com certo grau de abstração inerente das interpretações autorais.

Um exemplo clássico é referido por Thompson (1961), a mais famosa Torre da


Europa, a torre de Gustave Eiffel (1889), símbolo universal de Paris, construída em
homenagem aos 100 anos da Revolução Francesa, cujos elementos estruturais foram
baseados nos estudos do anatomista Hermann von Meyer sobre a cabeça do fémur
39

humano, (Figura 11) que fornece uma ampla gama de movimentos e que é composta
por um minúsculo conjunto de ossos chamados trabeculares. Mais tarde, Meyer
demonstrou este trabalho para o engenheiro Karl Cullmam que trabalhava projetando
grandes guindastes, e este viu que as trabéculas estavam mais concentradas nas
zonas de maior tensão, concluindo que o fêmur foi perfeitamente moldado para
suportar grandes cargas. Maurice Koechlin, arquiteto assistente de Eiffel, 20 anos
depois enquando fazia a concepção da famosa torre, teria traduzido nesta sua
impressão desse estudo de Cullman.

Figura 11 – Exemplo de analogia simbólica da Torre Eiffel inspirada no fêmur.

Fonte: (PEREIRA, 2013) e http://elzo-meridianos.blogspot.com.br/2007/07/el-diseo-de-la-torre-eiffel-


se-inspiro.html) Acesso em: 24 jul 2014.

O Palácio de Cristal (Londres/Inglaterra, 1951) construído por Joseph Paxton


para Exposição Universal é outro exemplo de analogia simbólica que teve sua
inspiração na estrutura da planta amazônica Vitória-régia (Figura 12). Ele usou uma
ilustração de uma das folhas durante uma palestra na Royal Society of Arts, em
Londres, mostrando como apoiar uma estrutura de telhado curvo usando-a como uma
referência para o projeto. (PEREIRA, 2013)

Não há tanta semelhança com o desenho da folha em si, que apresenta


nervuras com estruturação radial, apenas na parte superior curva do edifício se
demonstra essa analogia mais direta no arco central. O grande e inovador avanço
40

aqui foi a sua interpretação das nervuras no uso de vigas para a construção de
edifícios leves, incorporando materiais como o ferro e o vidro.

Figura 12 – Exemplo de analogia simbólica da Torre de Cristal inspirada na Vitória-régia.

Fonte: (PEREIRA, 2013) e https://arquitectandoideas.wordpress.com/2014/05/31/arquitectura-del-


hierro-john-paxton/ Acesso em 25 jul 2014.

Não se poderia deixar de fora as excêntricas e orgânicas construções do


espanhol Antoni Gaudí, expressivos exemplos de analogia simbólica com
predominância pela arquitetura biomórfica, cheia de curvas e contracurvas, cujos
elementos da natureza são desenhados em vários detalhes. Experimentando formas
e materiais novos, o arquiteto se dedicava à cada esquina e a cada pormenor numa
organicidade que acabou por caracterizá-lo.

Sua atitude naturalista, foi previamente abordada por D’Arcy Thompson (1961)
relembrando sobre a emblemática obra da igreja da Sagrada Família em Barcelona.
Segundo Pereira (2013), Gaudí confere torsões parabólicas à fachada, fazendo uso
de hipérboles e espirais em várias partes da construção, preenchendo a obra de
motivos vegetais destacando a sua atitude naturalista e orgânica, num contra-senso
da arquitetura gótica da época, em que para ele, as linhas retas não refletiam as leis
da natureza com suas formas curvas. Cruz (2012) também reforça o “espírito natural”
de Gaudí traduzido num ar romântico e orgânico através da disposição das folhas,
41

caules, raízes das plantas, e também nas pétalas das flores nesta obra, onde as
particularidades remetem para uma floresta ou mundo subaquático, apresentando no
interior, um aspecto panorâmico de bosque encantado, onde os jogos de luzes e os
estreitos pilares densificam essa atmosfera. As torres principais visíveis na fachada
são inspiradas pela planta Sedum Sediforme, sendo pontuadas por pináculos ou
flores.

As formas naturais, como as espirais ou helicoides presentes nos caracóis ou


búzios são abundantes em suas obras. Esse crescimento exponencial presente em
tantos exemplos naturais revela‐se uma variante obsessiva no seu trabalho, através
das torres, colunas, pináculos ou escadarias em caracol, dentre outros. Como ele
próprio afirmou, “Tudo sai do grande livro da Natureza, onde elementos como esta
árvore junto ao meu atelier é o meu mestre”. (CRUZ, 2012)

Além da Sagrada Família, Cruz (2012) também cita outros exemplos de


analogia simbólicas que podem ser identificados nas varandas do La Pedrera Casa
Milá, com delicadas folhas ornamentadas; no Parque Güell, com elementos
biomorfos, tais como os répteis e/ou dragões; na Casa Batlló, coberta de “escamas”,
etc. Estas obras artísticas com espaços cavernosos, cores, texturas e uma
luminosidade tão peculiar são reflexos do olhar cheio de simbolismo de Gaudí,
configurando bem como exemplo deste tipo de analigia. Na Figura 13 alguns dos
exemplos citados dessa arquitetura.
42

Figura 13 – Exemplo de analogia simbólica nas obras de Antoni Gaudì.

Fonte: (PEREIRA, 2013); (CRUZ, 2013); http://justfunfacts.com/interesting-facts-about-casa-batllo/ e


http://www.dicasbarcelona.com.br/2015/05/parque-guell-em-barcelona-gaudi-espanha.html Acesso
em: 30 jul 2014.
43

2.2.2 PADRÕES DA NATUREZA

Tão importante quanto entender sobre as analogias com a Natureza é


reconhecer e compreender alguns padrões existentes nela, formas e princípios
recorrentes. Neste sentido, primeiro é bom observar que as construções da natureza
viva se baseiam num sistema de construção único, relativamente simples: a célula.
Os organismos unicelulares, plantas, animais mais complexos e os homens, são
todos feitos de acordo com o mesmo sistema de construção, ou seja, por modulação.

Outro aspecto importante a ser observado é que as formas que predominam


na Natureza são as orgânicas, ou seja, são as formas recorrentes dos organismos
vivos caracterizadas por serem fluidas e curvas, na grande maioria, sem a rigidez
geométrica das formas retas, e que por isto, apresentam maior grau de complexidade
que a geometria tradicional.

Mas mesmo em menor quantidade e não exatamente com um rigor hermético,


também são se verificam geometrias tradicionais como elipses, polígonos regulares
e irregulares (retângulos, triângulos, hexágonos, pentágonos, losangos, etc) e
geometrias espaciais como esferas, elipsoides, cones, cilindros e poliedros. Visto que
os gregos desenvolveram a própria geometria (que do grego quer dizer “medir a
terra”) a partir da observação de fenômenos naturais.

Círculos, elipses, elipsoides e esferas, podem ser encontrados na


configuração e no movimento dos planetas, estrelas, nos olhos, em sementes; atc.;
pentágonos, podem ser facilmente identificados em animais marinhos, no interior de
frutos, em flores e plantas; hexágonos e poliedros, em colmeias de abelhas e nos
olhos das moscas, na pele de insetos e répteis, etc.

Além disso, há ainda os muitos exemplos de espirais e fractais, presentes no


nascimento de plantas, de fetos, de folhas, de galáxias, sendo por isto considerada a
geometria da natureza, pois relaciona as formas complexas naturais com a teoria dos
fractais desenvolvida por Mandelbrot.

Outros padrões recorrentes em relação as formas na natureza referem-se aos


conceitos de escala, equilíbrio e simetria. É possível perceber que as formas
naturais se manifestam em diferentes escalas. Em comparação com as dimensões
44

humanas, o sol (macroescala) ou a célula (microescala), podem representar a ideia


de grande ou pequeno se os parâmetros forem relativos. Se o parâmetro para a célula
for o DNA, a célula seria uma macroescala, assim como se o parâmetro do sol for a
galáxia, o sol seria uma microescala. Até mesmo o átomo, pode configurar um macro
escala em comparação com os seus componentes.

A simetria pode ser encontrada em diversos exemplos na natureza. A maioria


das folhas podem ser divididas por um eixo central e, portanto, possuem simetria
refletiva, outro exemplo somos nós humanos, embora não sejam partes iguais de fato,
pode-se considerar desta forma. Já em muitas flores, frutos e animais marinhos é
possível observar a simetria radial onde se observa partes iguais ao redor de um eixo
central. O processo cognitivo, acostumado à regularidade e percepção lógica,
absorve a simetria como um elemento tranquilizante, capaz de poupar o Homem do
esforço cognitivo durante a contemplação de algo assimétrico, e por isso está
fortemente associado ao conceito de harmonia nos parâmetros cognitivos da mente
humana, pois reforça a percepção de equilíbrio.

Sobre as relações da geometria com a natureza orgânica e inorgânica, Ghyca


(1977) afirma que em um estado final de equilíbrio, os elementos de formações
cristalinas e reino inorgânico são encontradas de forma recorrente formas
geométricas como tetraedros, cubos, octaedros e derivados arquimedianos, com
simetrias ortogonais e obliquas. Já nos serem vivos da botânica e da zoologia são
mais associados os corpos platônicos pentagonais, dodecaedro, icosaedro e
derivados, onde existe preferência pelas formas pentagonais relacionadas com a
Proporção Áurea e os Números de Fibonacci.

Embora exista essa tendência, isto não deve ser tratado com rigidez hermética,
pois se observa que as formas orgânicas são regidas pela estratégia da natureza no
que se refere a economia de matéria e substâncias em um sistema físico-químico em
que muitas espécies são geradas a partir de uma luta contra a gravidade terrestre,
tendo portanto que buscar o equilíbrio com todas as forças de perturbações naturais
as quais estão expostas, adaptando-se a fenômenos naturais como: vento, sol,
chuva, etc. (GHYCA, 1977)
45

Thompson (1961) descreve que a forma de um objeto na natureza é um


diagrama de forças em que se pode avaliar ou deduzir as forças que estão agindo ou
tiver agido sobre ele; e que através da ação dessas forças internas e externas, se cria
uma ampla diversidade de formas de um inventário de princípios básicos. Sobre esta
influência das forças externas faz ainda a observação de que se “a magnitude das
forças gravitacionais, fosse lavada até o dobro do valor real, a maior parte dos animais
terrestres tenderiam a ter uma forma semelhante à dos répteis, com extremidades
curtas. Ao contrário, se reduzisse à metade, seriam leves e delgados, muito ativos e
requereriam menos energia”.

O equilíbrio dessas forças determina as formas naturais e pode ser observado


em relação à gravidade, se fazendo presente na sincronia dos movimentos dos
planetas, dos animais, do homem, na estabilidade das árvores, etc.; E também em
relação a estética e a composição, como no caso dos padrões cromáticos da pele da
cobra, nas escamas dos peixes, na gradação de luminosidade entre o dia e a noite,
etc.

2.2.2.1 Proporção Áurea

A Proporção Áurea (de Ouro, Dourada, Divina) também chamada de Razão


Áurea (de Ouro, Dourada, Divina, Sublime) ou Média, Secção Áurea (de Ouro,
Dourada, Divina), é uma constante real algébrica irracional que foi explicada
matematicamente pela primeira vez por Euclides de Alexandria em seu livro
Elementos, por volta de 325 a.C., mas foi o escultor grego Fídias que a disseminou
em suas obras, por isto ela é representada em sua homenagem pela letra grega Phi:
ϕ (maiúscula) ou φ (minúscula). Calculada matematicamente, ela representa uma
razão de aprox. 1,618 para 1. Desta forma, ϕ = 1,618 e corresponde ao Número
Áureo (de Ouro, Dourado, Divino). Dele derivam o Retângulo Áureo (Dourado, de
Ouro), o Triângulo Áureo (Dourado, de Ouro), a Espiral Áurea (Dourada, de Ouro) e
o Ângulo Áureo (Dourado, de Ouro) que é igual a 137,5º. (Figura 14)

Euclides dividiu a linha em duas secções de modo que a razão de toda a linha
para a parte maior é a mesma que a da parte maior para a menor, na figura x está a
demonstração do cálculo algébrico para esta razão que resulta no número irracional
(Phi) ϕ = 1,6180339887.... (HEMENWAY, 2010)
46

Figura 14 – Ilustração do cálculo algébrico da Razão Áurea.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (HEMENWAY, 2010).

Hemenway (2010) apresenta algumas definições correlatas à Proporção Áurea


que serão ilustradas na Figura 15, são elas:

• Retângulo Áureo: É um retângulo cujas dimensões são de Proporção Áurea.


Quando a medida de um lado é uma unidade, o outro lado medirá ϕ.
• Triângulo Áureo: É um triângulo isósceles com uma razão de ϕ entre o seu
lado e a sua base. Os dois ângulos na base são 72º e o do vértice é 36º. Ele
ainda tem uma propriedade em que pode ser dividido em dois triângulos
menores que também são Triângulos Áureos.
47

• Espiral Áurea: Uma espiral logarítmica ou equiangular é um tipo de especial


de curva em espiral que aparece frequentemente na natureza. É uma versão
particular que se baseia na Proporção Divina.

Figura 15 – Ilustração com outras geometrias relacionadas com a Proporção Áurea.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (HEMENWAY, 2010).

O fascínio do homem pela Proporção Áurea ao longo dos séculos é


em grande parte, devido às suas notáveis propriedades de harmonia,
regeneração e equilíbrio, dentre outras. A harmonia se faz presente
nos princípios de design que a natureza usa e que são evidentes nos
padrões encontrados em plantas, conchas, ventos e nas estrelas. O
princípio regenerativo revela-se em formas e sólidos que formam a
base de tudo desde o DNA ao contorno do universo. O equilíbrio
encontra-se na espiral do ouvido interno humano e reflete-se na forma
48

desenvolvida do embrião humano que o lança para a existência.


(HEMENWAY, 2010, p.5)

Traduzido em formas geométricas a Proporção Áurea, descreve muitos dos


padrões relacionados aos princípios de crescimento e dinamismo observados na
natureza. Como visto na Figura 16, o Pentágono, figura geométrica do qual também
deriva o pentagrama, também possui relação com essa razão e são vários os estudos
que têm encontrado relações dos segmentos humanos, de animais e de plantas com
o número ϕ. Na Figura 17, algumas imagens compiladas da publicação Sezione
Aurea e Forme Naturale de Aldo Montù (1980), em que constata essas muitas
relações com o pentagrama e o pentágono; e na figura y outros estudos de Doczi
(1990) em que relaciona esta razão em animais e no próprio homem demonstrada
pela análise do Homem de Vitrúvio de Leonardo Da Vinci.

Desde a Antiguidade, a proporção áurea é usada na arte, em pinturas


renascentistas, na música, na literatura, na arquitetura, onde existem exemplos de
edificações com simetria admirável, como as pirâmides do Egito, nas catedrais
góticas europeias, etc. Leonardo Da Vinci, assim como diversos artistas, artesãos,
escultores, matemáticos, arquitetos e filósofos gregos usaram exaustivamente a
proporção divina em suas obras. Por ser tão recorrente e apoiado pela matemática,
o número de ouro ganhou fama de ideal, sendo ainda hoje utilizada por diversos
pesquisadores, artistas, designers, engenheiros e demais projetistas. Na Figura 18
Doczi (1990) mostra essas razões encontradas no Parthenon de Atenas, no Coliseu
de Roma.
49

Figura 16 – Estudos das relações entre o pentágono, o pentagrama e a proporção áurea e a


natureza. Em frutos, nos segmentos humanos, nos segmentos de animais.

Fonte: (MONTÙ, 1980).


50

Figura 17 – Exemplos da proporção áurea no Homem, detalhe para o Homem de Vitrúvio de Da


Vinci.

Fonte: (DOCZI, 1990).


51

Figura 18 – Razão Áurea no Parthenon de Atenas e no Coliseu.

Fonte: (DOCZI, 1990).


52

2.2.2.2 Números de Fibonacci

Esta ordem matemática foi referida pela primeira vez, no início do séc. XIII,
pelo matemático italiano Leonardo de Pisa (Fibonacci). A sua famosa sequência é
resultado da investigação de reprodução em coelhos e consiste numa infinidade de
números, em que, a partir do terceiro número dessa sequência, a soma dos dois
números anteriores é o resultado do número seguinte. (HEMENWAY, 2010)

No livro de Líber Abacci de Fibonacci é apresentado o seu famoso problema


da reprodução de coelhos, que está relacionado a uma das mais importantes
descobertas da matemática:

" Um homem pôs um par de coelhos num lugar cercado por todos os lados por
um muro. Quantos pares de coelhos podem ser gerados a partir desse par em um
ano se, supostamente, todos os meses cada par dá à luz um novo par, que é fértil a
partir do segundo mês?"

1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, ...

A resposta é que o número de pares de coelhos em determinado mês, é a


soma dos pares de coelhos existentes nos dois meses anteriores a
este. Matematicamente, tem-se:

Fn = Fn-1 + Fn-2, onde n é um número natural.

Uma característica importante encontrada na sequência de Fibonacci é que a


divisão (razão) de um número da sequência com o seu anterior, a partir do terceiro
número da sequência, tende a se aproximar da Proporção Áurea. Outra característica
peculiar se refere ao fato de que se pode formar também uma espiral a partir destes
números, a Espiral de Fibonacci. Basta dispor de quadrados com lados sendo os
números da sequência lado a lado e depois traçar um quarto de circunferência inscrito
em cada quadrado obtendo uma espiral formada pela concordância de arcos cujos
raios são os números da seqüência de Fibonacci. (HEMENWAY, 2010) (Figura 19)
53

Figura 19 – Sequência de números de Fibonacci a partir do problema formulado da reprodução de


coelhos; a fórmula recursiva, as divisões que resultam na Proporção Áurea e a espiral de Fibonacci.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


54

Estudos comprovam que estes números são recorrentes na natureza em


diversos aspectos, como por exemplo, nos padrões de folhas e de sementes de
plantas na árvore genealógica do zangão das abelhas, no crescimento “modular” da
Natureza, onde se inserem as espirais, dentre outros.

Hemenway (2010) cita que se encontram estes números nas medidas do DNA
(base de toda a vida), que mede 34 Ångströms de comprimento por 21 Ångströms de
largura para cada ciclo completo da sua dupla hélice em espiral, ambos números de
Fibonacci, onde sua razão é aproximadamente 1,6190..., que é próximo do número
ϕ (1,618...). Um corte transversal no topo da dupla hélice forma um decágono, no
qual cada espiral tem a forma de um pentágono, geometria em que também já foi
mostrada sua relação com o ϕ.

A mesma autora também cita que no caso das abelhas, como o macho,
zangão, nasce por meio de ovos não fertilizados, esse padrão, que mantém o
equilíbrio da colmeia também garante com que a árvore das gerações sucessivas das
abelhas seja de acordo com os números da sequência de Fibonacci, pois possui 1 só
progenitor (a abelha rainha), 2 avós (os pais da abelha rainha), 3 bisavós, 5 trisavós,
8 tetravós, e assim por diante. (HEMENWAY, 2010)

Nas flores estes números se evidenciam de maneira bem visível através dos
números das pétalas, por exemplo: os copos de leite, antúrios (1 pétala); coroa de
cristo (2 pétalas); lírio, íris, orquídeas (3 pétalas); rosa silvestre (5 pétalas);
margaridas (13, 21, 34, 55 ou 89 pétalas); crisântemos (34 pétalas), etc. Embora não
seja uma regra fixa e que possam ocorrer variações, o que é notável é a regularidade
com que estes números persistem de maneira mais comum. Também na filoxia, ou
seja, no estudo da disposição das folhas, sementes, espinhos e pétalas em plantas
estes números são encontrados em suas espirais; tais como nos girassóis que têm
suas sementes distribuídas em 34 espirais no sentido horário e 55 no sentido anti-
horário. Mas não apenas neste caso, ananases, milho, trigo, amoras, framboesas,
morangos, espinhos de cactos e de rosas, também são exemplos de pesquisas em
que foram detectados relação com estes números. (HEMENWAY, 2010)

A Figura 20 apresenta alguns desses exemplos comentados dos números de


Fibonacci na natureza:
55

Figura 20 – Exemplos de identificação dos números de Fibonacci nas ramificações dos galhos de
uma árvore; na genealogia do zangão das abelhas; na fitolaxia; no DNA; nas pétalas das flores.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


56

2.2.2.3 Espirais

Estas formas foram estudadas pelos gregos, a espiral de Arquimedes, a de


distâncias constantes e a espiral logarítmica de Descartes (também chamada de
equiangular), com crescimento em progressão geométrica (Figura 21). Todas as
espirais têm em comum o fato de se desenrolarem em torno de um ponto fixo a uma
distância variável. A espiral dourada, também chamada de espiral do crescimento é
logarítmica, e pode ser construída geometricamente através do retângulo ou triângulo
áureo como mostra a figura abaixo. (HEMENWAY, 2010)

Figura 21 – Espirais de Arquimedes, Equiangular e Áurea.

Fonte: (HEMENWAY, 2010) e (DOCZI, 1990).


57

A espiral logarítmica foi estudada por Jacob Bernoulli (1654-1705), que


chamou esta curva de spira mirabilis (em latim quer dizer espiral maravilhosa), e pode
ser escrita na forma de:

log(r/R)= cot 

Que resulta de sua expressão analítica nas coordenadas polares r e θ:

r()=R e cot 

Onde R é o raio associado a  = 0. Esta expressão apresenta a distância à


origem, O, de um ponto da curva em função de .

Se a amplitude  for 90º, a espiral equiangular é uma circunferência, mas se o


ângulo não for reto, isto permite que a espiral cresça, este fenômeno ocorre, por
exemplo, no crescimento gnomónico das conchas em moluscos (Figura 22), onde o
animal cresce, mas mantêm sempre a mesma forma. (PICADO, 2006)

Em resumo, o molusco não alarga a sua concha de modo uniforme: adiciona


somente material numa das extremidades da concha (a extremidade aberta ou “de
crescimento”); e o faz de maneira que a nova concha seja sempre um modelo exato,
à escala, da concha menor. A figura x seguinte mostra o caso típico do crescimento
da concha dos náutilos, também do tipo cone, assim como ilustra alguns dos vários
tipos de conchas. Em cada caso o material novo é progressivamente acrescentado
na abertura da concha. (PICADO, 2006)

Este padrão de crescimento é tão recorrente que por muitos também é


chamado de "lei da natureza", pois são frequentemente encontrados desde o exemplo
mais clássico do náutilo e nas demais conchas de moluscos como na disposição de
algumas plantas suculentas, na formação de ventos, no quebrar das ondas, no
enrolar do corpo, calda, tromba, língua, tentáculos, antenas de animais, no
crescimento maioria dos seus cornos, garras, cabelos, nas teias de aranha, na
disposição das sementes do girassol, crescimento das plantas e de frutos, no
nascimento das plantas e dos embriões, etc. (Figura 23)
58

As espirais na natureza representam o princípio dinâmico da


regeneração e de crescimento simétrico e equilibrado. A vida está a
expandir-se, a desenvolver-se a ser prolongada; ou está a diminuir, a
dissolver-se, a ruir. Ao ver uma folha a se desenrolar ou um padrão
de pétalas numa rosa, se reconhece a espiral perfeita e delicada. Na
água e nas nuvens, se formam e desaparecem; e também no corpo
humano, no mesmo desabrochar que se vê nas plantas, no
movimento do embrião. (HEMENWAY, 2010)

Os braços das galáxias também são considerados espirais logarítmicas. Na


Via Láctea, os astrônomos dizem que existem quatro braços espirais maiores, cada
um deles de aproximadamente 12 graus; A formação dos ventos, dos ciclones
tropicais, como os furacões, também são; e Hemenway (2010) também comenta
sobre as espirais no corpo humano: no redemoinho do topo da cabeça, nos folículos
dos cabelos, nas digitais, na disposição das fibras do coração, no embrião, no ouvido
interno, no DNA, etc. (Figura 24)

Figura 22 – Espirais logarítmicas no crescimento em diversos tipos de conchas.

Fonte: (PICADO, 2006).


59

Figura 23 – Exemplos de espirais na natureza. Nos cornos da ovelha, na língua da mariposa, no


enrolar-se do embuá, na disposição das folhas na suculenta, no náutilo, no nascimento das plantas,
na disposição das sementes do girassol, no enrolar da cauda do camaleão e da tromba do elefante,
na formação dos ventos, na disposição das folhas nas plantas e a formação das ondas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


60

Figura 24 – Espirais nos braços das galáxias (nesta imagem a Via Láctea), em digitais dos dedos, no
desenvolver de embriões (nesta imagem, um embrião humano), na cóclea do ouvido interno humano,
no DNA, no redemoinho do topo da cabeça e na imagem ampliada dos folículos do cabelo.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN e (HEMENWAY,


2010).

2.2.2.4 Fractais

O termo foi criado em 1975 na publicação Les Objets Fractals: Forme, Hasard
et Dimension de Benoît Mandelbrot, matemático francês nascido na Polónia, que
descobriu na década de 70 do século XX a geometria fractal, também chamada de
61

geometria da natureza, com suas dimensões fracionais, cujo termo é derivado a partir
do adjetivo latino fractus e do verbo frangere, que significa “quebrar” ou “criar
fragmentos, e é usado para descrever um grupo particular de formas irregulares que
não estão de acordo com a geometria euclidiana. (HEMENWAY, 2010)

As principais propriedades que caracterizam os fractais são a auto


semelhança, a complexidade infinita e as dimensões fracionadas. A auto
semelhança significa que eles parecem ter cópias de si próprias escondidas no
interior do original, assim, um fractal pode ser definido como a repetição de uma forma
especifica, repetida exponencialmente de forma infinita (Figura 25). Pode ser
entendida também como uma simetria através das escalas, assim, infinitamente uma
pequena porção do fractal pode ser vista como uma cópia do todo em uma escala
menor. (MIRANDA et al., 2008)

Figura 25 – Exemplo de uma estrutura fractal construída iterativamente retratando a característica de


auto semelhança. A construção desta estrutura inicia-se com com um “galho” em formato de V onde
a metade superior de cada segmento desse V é substituída por outro V com metade do comprimento
e largura mantendo-se sempre o mesmo ângulo. Este processo continua infinitamente e um fractal
com formato de árvore é gerado. Para infinitas iterações, verifica-se a complexidade infinita da
estrutura.

Fonte: (MIRANDA et al., 2008).


62

A complexidade infinita refere-se ao fato de que o processo de geração de


um fractal é recursivo, ou seja, quando se executa um determinado procedimento, no
decorrer da mesma encontra-se como sub-procedimento o próprio procedimento
anteriormente executado. Vale salientar que, no caso da construção iterativa de um
fractal matematicamente definido, dispõe-se de um número infinito de procedimentos
a serem executados, gerando-se assim uma estrutura infinitamente complexa.
(MIRANDA et al., 2008)

Já a dimensão fracionada refere-se a uma fração, ou seja, a um valor não


inteiro de dimensão, que representa o grau de ocupação da estrutura no espaço que
a contém, diferente do que ocorre na Geometria Euclidiana, onde um ponto possui
dimensão zero, uma linha possui dimensão um, uma superfície possui dimensão dois
e um volume possui dimensão três. Enquanto os sólidos possuem um número inteiro
e limitado de dimensões, a geometria fractal poderá oferecer infinitas dimensões
fraccionárias, repetidas a diferentes escalas. Miranda et al. (2008) cita como
exemplos, a dimensão fractal da bacia fluvial do rio Amazonas que é 1.85 e dos
relâmpagos no espaço tridimensional que é 1.51. (Figura 26)

Figura 26 – (a) Bacia do rio Amazonas obtida pelo radar de altimetria ERS-1, com dimensão fractal
1.85 (www.esa.int). (b) Tempestade no Capitólio, com raios cuja dimensão fractal é 1.51.

Fonte: (MIRANDA et al., 2008).

Ao estudar a variação dos preços de algodão, Mandelbrot detectou um


fenômeno: a invariância de escala, que já era conhecido de outros matemáticos, tais
como: George Cantor, Giuseppe Peano, David Hilbert, Helge Von Koch, Pierre Fatou,
Waclaw Sierpinski e Gaton Julia. Antes mesmo do termo fractal, estes pesquisadores
já estudavam geometrias com estas características auto similares. Na época, eram
consideradas “monstros matemáticos” uma vez que desafiavam as noções comuns
63

de infinito e para as quais não havia explicação objetiva, já que possuiam a


propriedade de infinita complexidade onde as medidas clássicas de comprimento,
área ou volume perdiam o sentido intuitivo. Estudando estes padrões irregulares com
o auxílio do cálculo computacional, Mandelbrot finalmente chegou ao conceito de auto
semelhança em escalas e elucidou a teoria do fractal.

A Curva de Koch de autoria do matemático sueco Helge von Koch, é um


desses exemplos de trabalhos pioneiros de fractais que facilita o entendimento do
assunto. Ela aparece pela primeira vez num artigo de 1906, intitulado "Une méthode
géométrique élémentaire pour l'étude de certaines questions de la théorie des courbes
planes". Miranda et al. (2008) comenta que sua construção se dá a partir de um
segmento de reta que é dividido em três segmentos iguais, e em seguida se substitui
o terço médio por um triângulo retirando-se a base. O processo iterativo consiste em
aplicar a mesma regra a cada um dos segmentos de reta resultantes da iteração
imediatamente anterior. Considerando-se cada passo, nota-se que, de um nível para
o seguinte, substituem-se três segmentos por quatro de igual comprimento, ou seja,
o comprimento total é multiplicado por 4/3 correlacionando-se com níveis sucessivos,
como limite de razão geométrica infinito, isto significa que a figura final tende a um
comprimento infinito, denominado por Mandelbrot como “infinito inteiro”. Da mesma
forma o Floco de neve de Koch (ilha ou estrela de Koch) corresponde à mesma
curva, só que a sua construção se inicia a partir de um triângulo equilátero (em vez
de um segmento de reta). Eric Haines desenvolveu o mesmo conceito, a três
dimensões, o que resultou num fractal com volume de um floco de neve. (Figura 27)
64

Figura 27 – Curva e Floco de neve de Koch.

Fonte: (MIRANDA et al, 2008).

Doczi (1990) mostra um dos mais belos exemplos de padrão da natureza, o


floco de neve, onde todos diferem entre si, mas mantêm a unidade no padrão
hexagonal básico, comum a todos. Cada um deles tem um só padrão, que é repetido
e refletido 6/12 vezes (Figura 28), característicos em todos os padrões cristalinos,
inorgânicos, que apresentam mais ordem e uniformidade que os padrões orgânicos.

Figura 28 – Formação do floco de neve com padrão hexagonal.

Fonte: a autora, adaptado de (DOCZI, 1990) e http://www.snowcrystals.com/science/science.html)


Acesso em 06 ago 2014.
65

Outro trabalho pioneiro que envolve fractais são os Triângulos de Sierpinski,


cuja construção básica começa com um triângulo equilátero, totalmente preenchido,
em que se tomam os pontos médios dos três lados que, juntamente com os vértices
do triângulo original, formam quatro triângulos congruentes. Em seguida retira-se o
triângulo central, restando 3 triângulos, cujos lados medem metade do lado do
triângulo original. Repete-se o procedimento com estes três triângulos resultantes,
sucessivamente, de maneira que se começando com um único triângulo, geram
sequencialmente, 3,9,27,81, ...triângulos, correspondentes aos níveis 1,2,3 e 4
respectivamente. Esta mesma lei de formação é sucessivamente aplicada, de modo
que sua estrutura é constituída por triângulos sequencialmente menores que são
cópias perfeitas da forma inicial da figura. Assim, ao ampliar-se (“zoom” uma parte
qualquer, ter-se-á algo idêntico a figura como um todo. No limite de infinitas
aplicações deste procedimento obtêm-se uma figura fractal auto-similar exata que
pode ser identificada na Figura 29 com a ilustração do triângulo e do tapete de
Sierpinski, construídos pelo mesmo princípio. (MIRANDA et al., 2008)

Outro exemplo de fractal, dessa vez tridimensional, é a Esponja de Menger,


que foi descrita pela primeira vez pelo matemático austríaco Karl Menger, em 1926,
enquanto explorava o conceito de dimensão topológica. Ela se baseia no mesmo
princípio de construção do triângulo ou tapete de Sierpinski, contudo o processo
iterativo é feito com um cubo.
66

Figura 29 – Triângulo e Tapete de Sierpinski e Esponja de Menger, exemplos de fractal.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (MIRANDA et al., 2008).

Não se pode deixar de citar também o Conjunto de Mandelbrot, cujas


imagens são feitas por amostragem de números complexos e determinando para
cada um resultado que tende para o infinito quando uma operação matemática em
particular é iterada sobre ele. Trata as partes real e imaginária de cada número de
coordenadas da imagem, os pixels são coloridos de acordo com a rapidez com que a
sequência diverge. Essas imagens exibem um limite elaborado que revela detalhes
recursivos progressivamente em ampliações maiores, onde o "estilo" deste detalhe
de repetição depende da região do conjunto que está sendo examinado. O limite do
conjunto também incorpora versões menores da forma principal, portanto, a
67

propriedade fractal de auto-similaridade aplica-se a todo o conjunto, e não apenas às


suas partes. (Figura 30)

Figura 30 – Conjunto de Mandelbrot.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de https://en.wikipedia.org/wiki/Mandelbrot_set) Acesso EM


16 ago 2014.

O conjunto de Mandelbrot tornou-se popular fora da matemática, tanto como


um exemplo de uma estrutura complexa decorrente da aplicação de regras simples
quanto por seu apelo estético. É um dos exemplos mais conhecidos de visualização
matemática e têm sido usados na ciência, tecnologia e arte. Na arte, vários softwares
como o fractal flames, Apophysis, Chaotica, Sterling, dentre outros, são usados para
gerarem figuras, inclusive, apresentando as repectivas coordenadas de geração. Na
Figura 31 têm-se alguns exemplos de imagens fractais gerados por estes softwares.
68

Figura 31 – Imagens fractais geradas por softwares.

.Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de http://en.wikipedia.org/wiki/Sterling_(program) Acesso


em 25 ago 2014.

Através desses estudos pode-se descrever muitos objetos extremamente


irregulares do mundo real. Na medicina, por exemplo, está associado como método
diagnóstico quantitativo de patologias como no caso do câncer, através de análise de
imagens de células tumorais onde evidências experimentais sugerem que estas
apresentem fronteira com a dimensão fractal superior às que ocorrem em agregados
de tecidos normais, na linha de investigação de núcleos atípicos. (MIRANDA et al.,
2008)

Além disso, meteorologistas utilizam o cálculo fractal para verificar as


turbulências da atmosfera incluindo dados como nuvens, montanhas, a própria
69

turbulência, os litorais e árvores. As técnicas fractais também estão sendo


empregadas para a compactação de imagens através da compressão fractal, além
das mais diversas disciplinas científicas que utilizam o processo. (MIRANDA et al.,
2008)

A superfície de uma montanha, por exemplo, também pode ser modelada num
computador usando uma fractal onde começa-se com um triângulo no espaço 3D,
acham-se os pontos centrais das 3 linhas que formam o triângulo e criam-se 4 novos
triângulos a partir desse triângulo, deslocam-se depois aleatoriamente esses pontos
centrais para cima ou para baixo dentro de uma gama de valores estabelecidos e
segue-se repetindo o mesmo procedimento, fazendo os deslocamentos dos pontos
centrais em que cada iteração é igual a metade da anterior. (Figura 32)

Figura 32 – Superfície de uma montanha gerada pela geometria fractal no computador.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal#/media/File:Animated_fractal_mountain.gif. Aceso em: 27


ago 2014.

Para Mandelbrot (1989) as complicações só existem na geometria euclidiana,


pois nos fractais, as estruturas ramificadas podem ser descritas com grande
simplicidade, utilizando-se apenas alguns bits de informação. Com isso, é possível
que as transformações simples que deram origem às formas de Koch e Sierpinski
sejam análogas às instruções codificadas nos genes de um organismo, pois sabe-se
que o DNA não pode especificar o número de galhos numa árvore, mas pode
especificar um processo repetitivo de bifurcação e desenvolvimento.

A natureza se serve de padrões (relativamente) simples e semelhantes para


repeti-los e formar tudo o que existe. Graças ao desenvolvimento da teoria fractal,
agora é possível desenhar mapas, florestas, relâmpagos, samambaias, galáxias, rios,
cadeias de montanhas, raios, galhos, vasos sanguíneos, nuvens, etc.; que não
podiam ser descritos pela geometria euclidiana. É bem verdade que a auto
70

semelhança exata só existe na matemática, mas no mundo natural vê-se grande


aproximação.

A Figura 33 apresenta alguns desses exemplos em que parece que a natureza


dispõe de um computador ultra potente com um programa fractal excelente instalado
capaz de criar toda a complexidade que há no universo com relativa facilidade.

“As nuvens não são esferas, as montanhas não são cones, as linhas dos leitos
de rios não são círculos, a cortiça não é uniforme, nem o relâmpago viaja em linha
reta”. (Mandelbrot, 1989)

Figura 33 – Exemplos de fractais na natureza.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


71

2.2.2.5 Esferas

A esfera pode ser definida como "uma sequência de pontos alinhados em uma
superfície curva contínua à mesma distância de um centro comum"; também pode ser
obtida através da revolução de uma semicircunferência em torno de um eixo
coincidente com seu diâmetro. É um objeto tridimensional de forma circular
perfeitamente simétrico. Quanto à geometria analítica, uma esfera é representada
(em coordenadas retangulares) pela equação:

( x − a )² + ( y − b )² + ( z − c )² = r²

Em que a, b, c são as coordenadas do centro da esfera nos eixos x, y, z


respectivamente, e r é o raio da esfera.

Apesar de ser uma forma tão comum, só se pode determinar suas medidas em
valores aproximados, tendendo a um número infinito independente do seu tamanho,
visto que seu raio depende de uma variável irracional, o π=3,141592653.... Esta
constante universal relaciona o perímetro de uma circunferência com o seu diâmetro.
Na figura 34, são demonstradas as principais fórmulas envolvendo as esferas.
72

Figura 34 – Fórmulas envolvendo esferas.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado do site http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/esferas-


geometria-espacial/ Acesso em 30 ago 2014.
73

Um exemplo interessante para mostrar a eficiência da configuração esférica


pode ser encontrado na explicação da formação das bolhas de sabão. Elas são
possíveis graças à força existente entre as moléculas de água: as pontes de
hidrogênio que ocorrem pela atração do polo positivo de uma molécula (hidrogênio)
com o polo negativo da outra (oxigênio). Essas interações ocorrem em todas as
direções, no entanto, elas se tornam ainda mais intensas na superfície da água, pois,
como não existem moléculas na parte de cima, somente dos lados e abaixo, a
desigualdade de atrações provoca a contração do líquido, dando a impressão de
existir uma fina película na sua superfície, a chamada tensão superficial.

As bolhas se formam graças à intensidade dessa tensão superficial. As


moléculas de água que estão na superfície da bolha realizam ligações de hidrogênio
somente com moléculas ao seu lado, aumentando ainda mais a força dessa ligação,
quando a água evapora, a bolha estoura, mas para diminuir essa superfície ao
mínimo, essa bolha adquire um formato com a menor relação entre área superficial e
volume, chegando na forma esférica.

Observando estas bolas de sabão percebe-se que fatores externos podem


alterar a situação de equilíbrio da configuração original, como a ação do vento ou
mesmo quando pousa em determinada superfície plana, recebendo a ação da
gravidade e se tornando achatadas, deformadas ou mesmo poliédricas quando
compactadas, este mesmo efeito também pode ser observado com muitas das
células animais que quando compactas assumem outros formatos. (Figura 35)

Di Bartolo (1981) relembra que a forma esférica numa gota d’água também é
determinada pela tensão superficial em que a força interna das partículas modeladas
pela força externa, cria um equilíbrio. Ramos (1993) também ratifica que a forma
esférica é ótima, pois guarda dentro de si a relação de volume máximo com superfície
mínima, ou seja, são capazes de armazenar a maior quantidade de material
internamente utilizando a menor quantidade de material possível para construir a
superfície externa, o que torna esta configuração extremamente eficiente.
74

Figura 35 – Imagens de bolhas de sabão.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado do site http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/como-


se-formam-as-bolhas-sabao.htm Acesso em: 03 ago 2014.

As formas esferoidais são muito utilizadas na natureza como embalagem


contenedora (closest packing), por exemplo, nos mamíferos e em vários outros
animais, a gestação acontece em um protetor térmico que geralmente assumem a
forma esférica, ocorrendo também na situação de invólucro de muitas frutas e
sementes, pois esta forma é traduzida em eficiência, pois como já foi dito, possui uma
menor superfície com máximo volume.

Apesar de toda diversidade plástica existente, a esfera é bem mais recorrente


na natureza do que se pensa, se encontram muitos exemplos, alguns na situação de
macroescalas, como a Terra, o sol, a lua e os demais astros celestes; outros em
microescalas, delimitando o material genético relacionado a vida, como o óvulo, os
pólens, parte genética dos ovos de animais, e até mesmo a configuração isolada de
células, átomos e algumas bactérias, como pode ser observado na Figura 36.
75

Figura 36 – Exemplos de esferas na natureza: astros celestes, óvulo, invólucro do embrião, bactéria
staphylococcus, nos pólens, na gota d’água, nos ovos dos peixes, girinos e vários outros animais.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


76

Outras formas esféricas também são encontradas em muitas das frutas,


sementes, arranjos florais, no globo ocular dos animais, no coral cérebro, no enrolar-
se do tatu bola e do tatuzinho de jardim, na formação de pérolas, etc. (Figura 37)

Figura 37 – Exemplos de esferas na natureza.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


77

2.2.2.6 Modulação

Em seu livro Structure in nature is a strategy for design, Peter Pearce (1990)
apresenta a pesquisa sobre sua teoria das inter-relações dos sistemas espaciais
tridimensionais, onde defende que a natureza tende a produzir estruturas
padronizadas, mas com diversidade, gerando um conceito de modularidade, que
reflete a propriedade de algo que tenha uma organização modular.

Em arquitetura, o termo modular refere-se a levantar uma construção com a


utilização de módulos, e por sua vez tem grande correspondência com o termo
Padrão, que no dicionário Michaelis, quer dizer: “aquilo que tem forma, tamanho,
dimensões mais comuns em sua categoria ou em seu gênero.” Qualquer um dos cinco
sentidos (visão, tato, audição, olfato, paladar) pode ser usado para perceber um
padrão. Padrões abstratos na ciência, matemática ou linguagem podem ser
observáveis também através de análises. Aqui, padrão ou modulação serão
entendidas como uma discernível regularidade em um design onde os elementos
repetem-se de maneira previsível.

É o que costuma ocorrer com frequência na natureza, que se baseia num


sistema de construção modular através da organização celular, produzindo uma vasta
variedade de organismos com estruturas fantásticas. Além disso, é fácil observar
também o princípio de auto semelhança encontrada na repetição de componentes ou
partes de organismos naturais, como visto na modulação de pétalas nas flores, de
folhas nas plantas, nas reticulações das peles e frutos, nas penas, nas sementes, na
simetria de uma estrela do mar, nos gomos do bambu e diversos outros exemplos em
que há repetição de uma unidade componente.

Neste sentido, pode-se dizer que os fractais também possuem modulações,


pois demonstram similaridade com variação de escala entre elementos, onde cada
parte guarda semelhança com a forma original. Andrade (2003) comenta que as
indústrias também utilizam este princípio, pois a modularidade permite otimização de
processos de produção e redução de custos. As Figuras 38 e 39, apresentam alguns
exemplos de modulação com repetição de componentes.

Andrade (2003) reforça ainda que a modularidade é um meio eficiente de


conseguir inúmeras vantagens, tais como organização, economia de material e
78

simplificação de estruturas, como ocorre na colmeia das abelhas, por exemplo, em


que suas repetidas formas hexagonais, permite a otimização do espaço, baixo peso
e otimização mecânica, pois módulos semelhantes produzem ângulos repetitivos que
correspondem a maneira mais eficiente de aliviar as pressões.

“Os segmentos do corpo do tatu-bola, do embuá, da minhoca, permitem maior


flexibilidade; os módulos da carapaça da tartaruga, uma distribuição de esforços que
lhe confere resistência; as escamas da cobra, dos peixes e as placas do corpo do
crocodilo resultam em facilidade de locomoção e rigidez.” (ANDRADE, 2003)

Figura 38 – Exemplos de módulos na natureza por repetição de componentes.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


79

Figura 39 – Outros exemplos de modulações na natureza.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


80

2.2.3 MÉTODOS DE PESQUISA BIOMIMÉTICA

Segundo Santos (2010), a Biomimética trata de uma ciência empírica que não
possui ainda uma metodologia concretizada devido à dificuldade de tradução dos
sistemas biológicos para o âmbito tecnológico. Mesmo assim, são muitos os
pesquisadores ao redor do mundo que praticam exercícios experimentais utilizando a
analogia de estruturas naturais em instituições de ensino. Para ilustrar melhor esta
situação, serão detalhados a seguir alguns métodos desenvolvidos em 3 instituições,
apresentando alguns trabalhos com desenhos e modelos resultantes de seus estudos
morfológicos. Entende-se nesta parte que os termos Biônica e Biomimética são
equivalentes, visto que antigos laboratórios de biônica estão migrando para o novo
termo.

2.2.3.1 CRIED (Centro Ricerche/ Istituto Europeo di Design-Milano/IT)

O laboratório de Biônica do CRIED nasceu em 1985, com o Centro de


Pesquisas de Estruturas Naturais de Milão e o curso de especialização de Design e
Biônica. Tendo como responsáveis, os professores Carmelo Di Bartolo, na época
diretor do Instituto, e Carlo Bombardelli, coordenador do departamento de Desenho
Industrial. O curso reuniu grandes nomes do design, tais como Gui Bonsiepe, Aldo
Montú e Tomás Maldonado, como professores. O laboratório desenvolveu parceria
com diversas empresas, dentre elas, Sony, FIAT, Dupont, General Eletric Plastic, etc.
Hoje, apesar de não ter mais um curso como outrora, totalmente voltado para
pesquisa biônica, as metodologias desenvolvidas se transformaram em métodos que
são abordados dentro dos diversos cursos ofertados pelo IED, visto que estas
pesquisas tiveram grande importância para disseminar as técnicas de estudo das
estruturais naturais vinculadas à projetos de Design, tornando seus estudos e
métodos precursores do discurso biônico voltado para o design.

A seguir, se verificam os 5 métodos mais significativos que encontraram um


melhor equilíbrio no relacionamento entre a biônica, o design e a produção, proposto
por Bombardelli e discutidos por Songel (1991), Arruda (1993), Ramos (1993), Lozano
(1994) e Forniés (2012).

• Método 1: A partir da análise do objeto natural são extraídos os


princípios naturais promissores do ponto de vista da técnica, para serem
81

aplicados na resolução de problemas de projeto. Porém, ao analisar


este objeto, não se sabe com antecedência, quais os problemas de
projeto que podem ser resolvidos a partir dessa análise. Em
conseqüência, este procedimento não é indicado para resolver um
problema projetual específico, já que não se tem controle dos
resultados.

Por outro lado, também não existem garantias que os princípios de


solução contidos no objeto natural sob análise, são aplicáveis na
resolução de problemas em um objeto qualquer, dessa forma esse
procedimento pode ser útil para a formação de um banco de dados de
princípios de solução naturais, aplicáveis na técnica. (Figura 40)
(BOMBARDELLI, 1985)

Figura 40 – Esquema do processo correspondente ao Método 1 – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BOMBARDELLI, 1985).

• Método 2: O ponto de partida são os problemas gerados por um projeto,


e através do estudo do objeto natural, busca-se a compreensão de como
a natureza resolve problemas semelhantes. Entretanto, a condição
aleatória na investigação do elemento natural torna este método muito
seletivo na fase inicial, e isto gera a perda de informações valiosas de
outros seres vivos que não estão sendo investigados. Uma análise
completa precisa de uma grande dispêndio de energia e tempo, o que
torna o processo caro e raramente aplicável em um contexto de
produção. (BOMBARDELLI, 1985) (Figura 41)
82

Figura 41 – Esquema do processo correspondente ao Método 2 – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BOMBARDELLI, 1985).

• Método 3: Analisando sistemas naturais, ou até mesmo


artificiais, se pode intuir os princípios do problema de projeto, mas os
resultados desse processo mental não são controláveis. Entretanto, a
intuição pode ser estimulada por informações, já que é baseada em
fatos e informações registradas e aprendidas anteriormente. Assim, o
processo pode ser incentivado pela aquisição de conhecimentos sobre
um assunto, que irão alimentar o sistema cognitivo do projetista com a
matéria prima necessária para a produção de inferências que permitem
a geração de novas idéias. Se tiver disponível dados biônicos já
selecionados e organizados, certamente isto será mais produtivo, por
isto é interessanre obter informações de outros especialistas como
biólogos, botânicos, etc. (Figura 42) (BOMBARDELLI, 1985)

• Figura 42 – Esquema do processo correspondente ao Método 3 – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BOMBARDELLI, 1985).

• Método 4: A definição de um argumento projetual, por exemplo,


"carcaças funcionais para produtos" pode levar à realização de uma
pesquisa biônica de grandes proporções, por exemplo: "exoesqueletos
83

de invertebrados". A grande quantidade de informações coletadas


garante a definição de múltiplos problemas de projeto. No entanto,
existem dificuldades operacionais neste método, não é possível ter
informação suficiente para lidar com cada tipo de problema projetual. Se
o objetivo é a formação de material documental biônico para uso
posterior, este método pode ser interessante, um argumento biônico é o
foco da coleta de dados, por exemplo, o estudo de bivalves marinhos,
por causa da sua função de proteção, estrutura, resistência mecânica,
uso eficiente de materiais e espaço, sistemas e mecanismos de
abertura, fechamento e segurança; pode ser base documental para
futuros trabalhos relacionados com carcaças. (Figura 43)
(BOMBARDELLI, 1985)

Figura 43 – Esquema do processo correspondente ao Método 4 – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BOMBARDELLI, 1985).

• Método 5: Este método apresenta um processo de design convencional


em que se vão integrando os resultados da pesquisa biônica nos
diferentes estágios de desenvolvimento, estes resultados podem ser
conhecidos de pesquisas anteriores ou ser parte específica do projeto
em questão. Na parte da pesquisa biônica, observa-se que a melhor
condição de trabalho está na união entre os tipos de pesquisadores: os
biônicos analistas com os designers biônicos; e os pesquisadores da
biônica analítica com os da biônica aplicada. O objetivo é recolher os
resultados da pesquisa analítica de temas naturais e comunicar
sistematicamente através de elaborados textos, gráficos, modelos e
fotografias. No momento da apresentação de um problema de
84

planejamento de qualquer tipo, o designer terá, assim, o material biônico


necessário para posteriormente individualizar, acessando-o diretamente
na literatura biônica. Pode-se dizer que esta metodologia combina a
conceituação e aplicabilidade da biônica na metodologia do design,
como um suporte em um processo convencional criativo.
(BOMBARDELLI, 1985) (Figura 44)

Figura 44 – Esquema do processo correspondente ao Método 5 – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (BOMBARDELLI, 1985).

Lozano (1994) fala que as pesquisas das estruturas naturais no laboratório de


Biônica do CRIED tiveram 3 objetivos distintos: o primeiro, era o de gerar hipóteses
para possíveis projetos; o segundo, era o de estudar as aplicações e testar as
metodologias desenvolvidas, e o terceiro, era o de encontrar respostas na realidade
produtiva para as hipóteses projetuais levantadas. Neste último, comenta do estudo
da musculatura da tromba do elefante e da espinha dorsal de peixes, que utilizou a
quinta metodologia de Bombardelli para incorporar flexibilidade e agilidade a um
braço biônico robotizado. Foi construído um protótipo em que o sistema de movimento
era composto por 2 séries de ligas conectadas em dois níveis diferentes do braço,
acionados por um propulsor pneumático. (Figura 45)
85

Figura 45 – Trabalhos do Centro de Pesquisa de Estruturas Naturais – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, com imagens compiladas de (ARRUDA, 2002).

O trabalho de investigação sobre as características funcionais e morfológicas


do ouriço do mar de Amilton Arruda, que na época era pesquisador do centro e aluno
de pós-graduação no CRIED, também é citado por Lozano (1994). Na Figura 46 é
possível observar a utilização de imagens tridimensionais renderizadas para este
estudo, um recurso de difícil acesso para os demais centros de pesquisa da época.

Figura 46 – Imagens do estudo do Ouriço do Mar de Amilton – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, com imagens compiladas de (LOZANO, 1994).

Na Figura 47 a seguir, serão apresentados outros resultados de trabalhos do


Centro de Pesquisa de Estruturas Naturais no CRIED sob orientação dos professores
Di Bartolo e Bombardelli.
86

Figura 47 – Trabalhos do Centro de Pesquisa de Estruturas Naturais – CRIED.

Fonte: Elaborado pela autora, com imagens compiladas de (ARRUDA, 2002).


87

2.2.3.2 Laboratório de Biodesign (UFPE/BRA)

O laboratório do Biodesign nasceu em 1998 através do fomento de órgãos


como o CNPq e o FACEPE. É resultado das pesquisas em Biônica do PhD. Amilton
Arruda no CRIED e no Politécnico de Milão na Itália. Localizado no Centro de Artes e
Comunicação da UFPE, ao longo dos anos este laboratório tem aplicado a
metodologia de biônica que resultou em diversos trabalhos dentro das disciplinas
ministradas para a graduação do departamento de Design da mesma instituição,
colaborando para disseminar as técnicas de estudo das estruturais naturais
referências para projetos de Design.

Amilton (2002) propõe o estudo da Biônica através de 3 Campos: Formação,


Pesquisa e Projetual (Figura 48). No Campo da Formação, modalidade do
processo de ensino, a didática de pesquisa deve respeitar o caráter natural de como
a natureza se comporta em toda a sua evolução e dinâmica. Este senso de
experimentação se dá de 2 modos:

a) Básico: Disciplina que tem objetivo de estimular a experimentação;


introduzir conceitos básicos da natureza: (evolução, adaptação,
comportamento, composição, dinâmica, energia, máximo e mínimo,
espirais, ramificações, fluxo, estruturas, seção áurea, etc.) e ainda, criar
uma filosofia, delineando uma linguagem de base que permita e fomente
o discurso do “projeto biônico”.
b) Analógico: Experimentação com abstração geométrica da estrutura
natural investigada; análise funcional e geométrica da natureza e seus
elementos; representação de modelos tridimensionais de determinado
comportamento da natureza e interpretação e tradução da forma nos
modelos analógicos que se identificou na estrutura analisada.

Já no Campo da Pesquisa, leva em consideração um grupo interdisciplinar,


fazendo parte da indagação biônica o componente biológico e a engenharia, trazendo
uma característica mais de inovação. Compreende o desenvolvimento da pesquisa
no sentido que parte de um argumento ou temática de caráter geral ou específico
para chegar num modelo interpretativo em vários aspectos, como por exemplo,
estrutural, material, funcional, dentre outros.
88

Este modelo não necessariamente resultará num produto aplicado ou projeto


acabado, pois tem maior caráter de estudo, cujo resultado pode não corresponder à
expectativa do setor produtivo. O campo de pesquisa pode ser dividido em 2 partes:

a) Pesquisa de Base:
• Pesquisa teórica preocupada com aspectos, tais como: adaptação, forma,
função, locomoção, dinâmica, geometria, ciclos da natureza, etc.;
• Pesquisas com caráter bibliográfico de projetos ou pesquisa, artigos,
monografias, dissertações ou teses com referência na natureza;
• Pesquisas para construção de banco de dados com diversos temas tais como
sistema de locomoção, sistema de articulações, membranas, embalagens,
componentes estruturais na natureza, etc.;
• Pesquisas com caráter geométrico-morfológico com a finalidade de entender a
resistência da sua estrutura ou forma;
• Pesquisas para utilização de metodologias adaptáveis ao estudo das
estruturas naturais.

b) Pesquisa Aplicada:
• Desenvolvimento de pesquisa completa delineada para aplicação no campo
projetual;
• Elaboração, verificação e experimentação de modelos ou protótipos biônicos;
• Identificação de hipóteses de projeto com base no resultado das pesquisas e
das abstrações geométricas dos modelos biônicos;
• Pesquisas específicas do design dos materiais naturais;
• Análise e compreensão dos elementos naturais, seus aspectos e derivados
(mecanismos, estrutura funcional, materiais, etc.).

E por fim, o Campo Projetual, a gestão do discurso biônico aqui é mais


complexa, pois existem outras informações para atender a estratégias projetuais já
definidas através dessa tradução das informações adquiridas na pesquisa biônica. E
levando em consideração esta complexidade, este Campo é dividido em 3 hipóteses
de intervenção:
89

• Como Linguagem: O projeto se desenvolve considerando a


experiência do projetista que traz uma temática centrada em
referências da natureza, que é diferente dos métodos tradicionais,
criando-se uma modalidade própria de projeto, onde o projetista
possa intuir uma aplicação prática para os modelos naturais
estudados.

• Como Instrumento: O Projetista usa o banco de dados das


pesquisas em biônica para se motivar e se inspirar em suas criações,
buscando orientação, considerações e referências nas informações
de caráter estrutural, configuracional, simbólico, estético, filosófico,
semântico dessas interpretações da natureza;

• Como hipótese de Projeto: Através da pesquisa das estruturas


naturais, se desenvolve um conceito, dele, um modelo biônico, e
deste, o projeto biônico, através dos métodos tradicionais de design,
como o de Bruno Munari, por exemplo. É importante observar que
desse modelo biônico, podem ser gerados diversas hipóteses de
projeto.

Figura 48 – Os 3 Campos de atuação da Análise da estrutura natural proposta pelo professor

Amilton.
Fonte: (ARRUDA, 2002).
90

Para Arruda (2002) a pesquisa biônica possui caráter sistemático que utiliza a
analogia para traduzir os princípios encontrados na natureza, os quais poderão ser
aplicados posteriormente na solução de um problema projetual.

Sobre o método de Pesquisa das estruturas naturais aplicado pelo professor


Arruda sob uma ótica mais acadêmica, ele cita que a configuração de um objeto, vivo
ou não, pode ser de alguma forma descrita, e apresenta algumas técnicas para essa
descrição e compreensão da forma através dos seguintes passos: Representação
Fotográfica, Descrição Verbal, Esquematização (desenhos) e Modelos.

• Representação Fotográfica: Esta técnica revela uma riqueza de detalhes,


que torna incontestável o alto nível de fidelidade de descrição de qualquer
estrutura. Hoje existem diversos meios de utilização desta técnica, seja por
fotografias digitais com câmeras de altas resoluções ou até, numa análise
mais acadêmica e menos criteriosa, através de câmeras de celular. Existem
ainda as que se utilizam de uma série de fontes de luz, tais como: raio-X,
ultravioleta ou infravermelhos. Há ainda métodos mais avançados de
microscopia eletrônica e de varredura, que cada vez mais proporcionam
descobertas de características morfológicas que revelam detalhes de
estruturas internas dos elementos naturais à níveis cada vez menores,
como o recente microscópio que usa feixe de elétrons no Japão, capaz de
obter imagens a nível atômico. Através da capacidade de ampliações de
imagens e das fotografias digitais com seus softwares de computadores
mais velozes, se têm revelado e facilitado o entendimento e a descrição
pormenorizada de estruturas. Para o estudo, deve-se tirar as fotografias,
ou conseguí-las através de outros meios (internet), servindo para revelar o
todo, secções, detalhes, partes, componentes, e demais aspectos do
elemento analisado, que sejam do interesse do pesquisador.

• Descrição Verbal: Em seguida, se procura investigar informações


referentes ao elemento analisado, sejam detalhes técnicos, científicos
(taxonomia, etc.), históricos, curiosos, assim como descrever os detalhes
observados nas fotografias, até que se possa resumir e extrair as
características essenciais da forma estudada. O que se pressupõe que
91

pesquisar sobre o contexto da estrutura natural deve colaborar para um


entendimento com mais níveis de referências sobre o mesmo, resultando
em maiores possibilidades criativas de representações, e ainda,
representações mais coerentes. Descrever o contexto desta estrutura
natural e o que se observa dele em seu ambiente real dinâmico, amplia a
qualidade dos dados, pois se pode verificar aspectos como ciclo de vida,
movimentos, materiais, crescimento, variação de cores e tamanhos,
funções, interações com outros elementos, organismos ou componentes,
etc. Nem sempre é possível colher estes dados por imersão, mas a
experiência traz mais e melhores resultados.

• Esquematização: Através de desenhos que podem apresentar-se como


descrições mais fidedignas dos elementos reais estudados (desenhos de
observação) e posteriormente, como sínteses ou abstrações geométricas
destes. Tais esquemas também podem se ater a destacar caraterísticas ou
princípios específicos destes elementos, enfatizando detalhes ou outro
aspecto qualquer de interesse do pesquisador que se tenha coerência com
a origem do elemento analisado.

• Modelo, por fim, encerra com a execução de um modelo tridimensional que


sintetiza o esquema realizado. Pode ser feito de qualquer material,
dependendo da função e intenção desejada, e para tanto, há necessidade
de conhecimento prévio de técnicas de modelagem. Como a utilização de
softwares ampliam e facilitam a visualização do modelo, este também pode
ser feito de maneira virtual, além do modelo físico.

De maneira geral o método trabalhado pelo professor Amilton nas disciplinas


de Biônica e de Biomimética pode ser sintetizado na Figura 49 a seguir:
92

Figura 49 – Esquema do método utilizado pelo professor Amilton.

Fonte: (ARRUDA, 2002).

As próximas figuras apresentarão de forma resumida alguns dos trabalhos


desenvolvidos por alunos de graduação para disciplinas vinculadas ao laboratório do
Biodesign. Nas versões originais eram apresentados em forma de slides com
pranchas da pesquisa, sintetizados através de banners, e por fim, era configurado um
modelo físico como síntese da pesquisa. São eles:

• Estudo do milho: Neste exemplo o encaixe formado pelas junções dos


grãos de milho facilita a acomodação entre eles e proporciona uma
melhor fixação. A partir desta forma foi feita uma síntese para criação
do modelo. (Figura 50)

Figura 50 – Estudo da interpretação do milho por Lucas Andrade em 2006.2.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.


93

• Estudo da articulação do ombro e do cotovelo: O modelo foi


construído representando a interpretação da amplitude do movimento
das articulações do ombro e do cotovelo, a de baixo, possui uma rotação
de menor amplitude, similar à do cotovelo, se movendo até 180º; e a de
cima, com maior amplitude de rotação, similar à do ombro, pode girar
quase 360º. (Figura 51)

Figura 51 – Estudo da articulação do ombro e do cotovelo por Juliana Chalegre em 2006.1.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo da Carambola: Ao efetuar um corte transversal na fruta, a forma


de estrela pode ser percebida na base. Os cinco vértices dessa estrela,
por sua vez, convergem em um único ponto, base para interpretação do
modelo estrutural executado. (Figura 52)

Figura 52 – Estudo da interpretação da Carambola por Marília Gondim em 2006.2.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo da Colmeia: O aluno observa a malha externa hexagonal,


atentando para a característica de cada cavidade em que na sua base
94

começa cilíndrica e termina na tradicional forma hexagonal, sintetizando


seu modelo através de um módulo construído em PVC com as mesmas
características. (Figura 53)

Figura 53 – Estudo da interpretação da Colmeia por Bruno Martins em 2007.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo do Tatu Bola: A característica mais marcante do Tatu bola é a


capacidade de se enrolar em torno de si mesmo neste aspecto esférico,
por isto foi feita a geometrização da forma e criado um modelo síntese
deste mecanismo do movimento. (Figura 54)

Figura 54 – Estudo da interpretação do Tatu Bola por Pedro Santana em 2010.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo do abacaxi: o foco foi na estrutura da coroa representada pelas


camadas sobrepostas das folhas. Para a construção do modelo foram
destacadas estas camadas através de uma síntese geométrica, o que
torna possível a criação de várias estruturas baseadas no mesmo
princípio. (Figura 55)
95

Figura 55 – Estudo do Abacaxi por Natália Barbosa e Tamyres Siqueira em 2010.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo do alho: Uma das características observadas no alho é a


disposição dos dentes no bulbo. A forma como eles se encaixam e se
destacam do talo central representou a síntese do modelo proposto.
(Figura 56)

Figura 56 – Estudo da interpretação do Alho por Aline Morais e Lucas Ayres em 2007.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo do amendoim: A característica analisada destacou a parte


bipartida da casca onde o modelo evidenciou o seu potencial natural de
embalagem, aqui representada por uma síntese geométrica de 2
hemisférios com eixo giratório. (Figura 57)
96

Figura 57 – Estudo da interpretação do amendoim por Alinne Torres e Soraya Holder em 2010.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo do carangueijo: Este modelo levou em consideração a pata do


caranguejo em relação ao ângulo de amplitude que a mesma pode
atingir sem oferecer dano ao animal, foi adotada também a relação de
tamanhos entre a primeira e a segunda parte, modificando o formato da
terceira peça com uma base plana, própria para o apoio. (Figura 58)

Figura 58 – Estudo da interpretação do Caranguejo por Emmanuel Gomes em 2007.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

• Estudo da Alpínia: O modelo em questão levou em consideração o


formato côncavo das pétalas da flor da planta e sugere aplicação como
peça modular para iluminação pública. (Figura 59)
97

Figura 59 – Estudo da Alpínia por Higor Viana e Jean Carlo em formato de banner apresentado em
exposição no Centro de Artes de Comunicação da UFPE em 2015.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.

Na Figura 60 a seguir, serão apresentados outros banners com os trabalhos


dos alunos para a Disciplina ministrada pela autora e o orientador no período de
2015.2.
98

Figura 60 – Banners apresentados em exposição no Centro de Artes de Comunicação da UFPE em


2015, com os trabalhos dos alunos para o encerramento da disciplina de Biomimética.

Fonte: Banco de imagens do Laboratório de BIODESIGN.


99

2.2.3.3 Universidade Católica de Goiás (UCG/BRA)

Outra metodologia que a pesquisa quis evidenciar é proposta pelo professor


Tai Hsuan-An, desde 1978 docente das Artes Visuais, Arquitetura e Design da
Universidade Católica de Goiás (UCG), na cidade de Goiânia. Ele se dedica ao estudo
e ao ensino do processo criativo, desenho, morfologia tridimensional, ergonomia e
biônica. Com caráter didático, em seu livro Sementes do Cerrado e do Design
Contemporâneo, aborda a metodologia com 6 etapas para análise biônica explicada
em suas disciplinas e aplicada no Design e na Arquitetura, demonstrando as técnicas
de estudo de estruturais naturais típicas da região, através de frutos e sementes do
cerrado. São elas:

1. Escolha do modelo biológico


Operação: Escolher um modelo biológico que se destaca com
características formais, estruturais e funcionais.
Métodos: Observação e análise prévias do modelo num processo de leitura
e reconhecimento; Aplicação dos critérios que são características
significativas e peculiares, fenômenos notáveis. Observação minuciosa dos
detalhes, inclusive dos milimétricos.
Técnicas Específicas: Observação do modelo biológico no habitat; Coleta
do modelo; uso de lentes de aumento, microscópio ou outros tipos de
visualização de detalhes minúsculos; reconhecimento pelo toque manual
para detecção da resistência, consistência e da estrutura do material;
consulta do inventário de características. (Ver inventário após os exemplos)

2. Observação e análises iniciais


Operação: Fazer atentamente a leitura e o reconhecimento do modelo
Biológico com o objetivo de melhor entendê-lo, registrando através de
textos e/ou desenhos, suas características visuais, formais, estruturais e
funcionais mais significativas.
Métodos: Observação, análise, registro gráfico, anotação escrita num
procedimento de reconhecimento tátil e visual; Consulta do catálogo da
tipologia (inventário) das características das formas; pesquisa bibliográfica
100

e de campo sobre o modelo; desmembramento ou dissecação do modelo


biológico para visualizar detalhes.
Técnicas Específicas: Registro fotográfico (normal, macro ou
microscópico); desenho detalhado com luz e sombra; croquis com captura
rápida de imagens; desenho esquemático; anotação sucinta junto aos
desenhos; uso do inventário das características.

3. Observação e análise em maior profundidade


Operação: Fazer o reconhecimento dos detalhes e dos elementos de maior
destaque e desenhá-los de maneira enfática, criando condições para a
etapa de interpretação de síntese e abstração.
Métodos: Seleção prévia dos desenhos de detalhes e das características
de grande potencial; Elaboração de novos desenhos com realce gráfico e
interpretativo a partir dos selecionados;
Técnicas Específicas: As mesmas da etapa anterior.

4. Interpretação objetiva da exterioridade e da essência do modelo


Operação: Fazer a síntese e abstração formal e geométrica do modelo
biológico e dos seus detalhes, interpretando graficamente as formas mais
notáveis analisadas anteriormente, e preservando ou enfatizando as suas
características externas e internas.
Métodos: Síntese e abstração formal e geométrica com dimensões
proporcionais às do modelo; com variação dimensional diferente do
modelo; com transformação segundo o critério da similaridade e através de
vistas, cortes e perspectivas.
Técnicas Específicas: Desenho à mão livre e interpretativo das ideias
sugeridas (formais, estruturais e funcionais) pelo modelo e dos seus
detalhes mais significativos; Desenhos de síntese e abstração com
eliminação de detalhes, elementos secundários ou insignificantes; Desenho
geométrico com instrumento; Esquemas, diagramas e desenhos de
renderização e modelagem eletrônica por meio do computador;
Morfogramas; Uso do inventário das características.
101

5. Criação experimental de novas formas


Operação: Criar novas formas experimentais e analógicas em modelos, a
partir dos estudos da interpretação por síntese e abstração.
Métodos: Experimentação em modelagem das formas obtidas
anteriormente; Registro fotográfico dos modelos experimentais.
Técnicas Específicas: Modelagem em papel, argila, ou outros materiais
de fácil manipulação; Fotografia (normal e macro); Representação
bidimensional (vários tipos de desenhos); Morfograma; Uso do inventário
das características.

6. Elaboração da proposta definitiva de uma ideia


Operação: Confeccionar o objeto ou um sistema de objetos e elaborar as
pranchas de apresentação de todo o processo de análise, do
desenvolvimento, da configuração final do objeto, da aplicação ou das
possibilidades de aplicação, com um memorial descritivo/justificativo do
trabalho.
Métodos: Confecção do modelo usando técnicas apropriadas; Ilustração
simulativa da aplicação; planejamento gráfico das pranchas de
apresentação; Elaboração do memorial sucinto, claro, objetivo, ilustrativo e
completo.
Técnicas Específicas: Todas as técnicas de representação bi e
tridimensional adequadas.

Para facilitar o entendimento desta metodologia, a figura abaixo sintetiza o


método de análise da estrutura natural proposta pelo professor Tai, e em seguida,
serão mostrados sua aplicabilidade através de alguns dos trabalhos de seus alunos.
(Figura 61)
102

Figura 61 – Esquema do método utilizado pelo professor Tai na UCG.

Fonte: Esquematizado de (HSUAN-AN, 2002).

Na Figura 62, o modelo proposto enfatizou a estrutura central estrelada do


fruto de Cedro seco, mas observa-se que foram feitos vários desenhos (estudos) da
103

estrutura inteira, das partes, evidenciando a característica estrelar e pentagonal, até


chegar no desenho em que se fez a abstração geométrica das ranhuras que foi base
para a construção do modelo físico.

Figura 62 – Análise Morfológica do fruto de Cedro.

Fonte: (HSUAN-AN, 2002).

Já na Figura 63 têm-se o exemplo da Pinha-do-Brejo, sua estrutura aberta e


seca resultou na configuração de 3 modelos, o que é interessante observar é que se
104

pode obter vários resultados dependendo do ponto de interesse ou do foco da análise.


Um modelo foi resultante da modulação encontrada na textura da parede interna que
acomoda as sementes, outro, no espaço vazio entre eles em forma de cruz, e um
terceiro, na malha estrutural côncava no topo da estrutura interna.

Figura 63 – Análise Morfológica do fruto de Pinha-do-Brejo.

Fonte: (HSUAN-AN, 2002).

No último exemplo, a Figura 64 apresenta a análise do Pau-Terra que também


resultou em 3 modelos. O primeiro, evidenciando as torções das 3 partes abertas; o
105

segundo, evidenciando uma simplificação geométrica de uma das 3 partes,


observando sua terminação pontuda e sugerindo inclusive a aplicação como banco
longo; e por fim, o último foca na junção entre 2 cascas e no detalhe da ranhura da
espessura destas.

Figura 64 – Análise Morfológica do fruto do Pau-Terra.

Fonte: (HSUAN-AN, 2002)

Hsuan-An (2002) argumenta que em virtude da grande variedade, e algumas


vezes, da complexidade das formas naturais, se faz necessário classificar as suas
106

características em diversas categorias com o intuito de facilitar o seu entendimento.


Ele atenta para a importância de se identificar e descrever estas características, pois
podem servir de critérios, parâmetros ou fatores a serem utilizados tanto na análise
do modelo natural, quanto na abstração geométrica que resultará no modelo
biomimético. Os diagramas a seguir esclarecem sobre as 6 categorias do que ele
chamou de “Inventário das características”. Podem ser observadas tanto em
formas naturais quanto em artificiais, e aqui servem de parâmetros para o olhar
atento, detalhista e criterioso durante a descrição e análise do modelo natural
investigado.

1ª Categoria – Características formais configurais:

Forma Orgânica Zigzag Superfície Variante


Forma Geométrica Espiral Tubular
Forma Curva Radial Laminar/Planiforme
Forma Topológica Circular Volume
Linear Oval Sólido Geométrico
Linha Reta Elipse Gradação Modular
Linha Curva Plano/Polígono Abertura
Arco Superfície Plana Fechamento
Senoidal Superfície Curva

2ª Categoria – Características estruturais e prático-funcionais:

Autoportante Ramificação Concavidade


Sustentação Triangulação Convexidade
Envoltura em camadas Engavetamento Empilhamento
Dobras Entrelaçamento Encadeamento
Compartimentos Pino Ligação Linear
Encaixe Acumulação Pêndulo
Invólucro Enfileiramento Entrada
Base Núcleo Saída
Eixo de fixação Modulação Canal
Articulação fixa Tampa cobertura Aerodinâmica
Articulação dinâmica Transição

3ª Categoria – Características cinéticas e comportamentais:

Flexibilidade Mobilidade Vibratoriedade


Elasticidade Oscilatoriedade Explosividade
Rotatoriedade Permutabilidade Repelência
Giratoriedade Expansibilidade Aderência
Dobrabilidade Impulsivedade
107

4ª Categoria – Características texturais, estéticas e qualitativas:

Compacto Elegância
Transparência
Fragilidade Musicalidade
Opacidade
Peso Vivacidade
Porosidade
Leveza Tensão
Lisura
Limpo Repouso
Nervurada
Natural Surpresa
Reticulada
Tecnológico Impacto
Trançada
Lúdico Exagero
Puro
Agressividade Ênfase
Consistência
Suavidade

5ª Categoria – Características compositivas:

Movimento Espaço
Alternância
Ritmo Vazio
Repetição
Harmonia Cheio
Multiplicidade
Contraste Intervalo
Sobreposição
Proporção Atração
Justaposição
Equilíbrio Repulsão
Densidade
Ordem Proporcionalidade
Dispersividade
Axialidade Gradualidade
Aleatoriedade
Semelhança Desigualdade
Direção
Diferença Disposição Linear
Posição
Simetria Verticalidade
Assimetria Horizontalidade
Concordância Inclinação

6ª Categoria – Características dimensionais e quantitativas:

Espessura Quantidade Longo


Altura Redução Curto
Comprimento Aumento Alto
Profundidade Grande Baixo
Diâmetro/ raio Pequeno Fundo
Angulação Grosso Raso
Fino

Dondis (2003) fala que os conceitos fundamentais da sintaxe visual, tais como
os elementos visuais (ponto, linha, forma, direção, tom, cor, textura, dimensão, escala
e movimento) e suas noções de percepção (harmonia, equilíbrio, simetria, proporção,
contraste, etc.), correspondem aos elementos básicos da configuração e são a fonte
compositiva de qualquer tipo de material, objeto, mensagem e experiência visual. Eles
108

representam o cerne da atividade projetiva pois podem ser manipulados para serem
percebidos numa resposta direta ao que está sendo concebido.

“O ponto, a unidade visual, o indicador e marcador de espaço; a linha,


o articulador fluido e incansável da forma, seja na soltura vacilável de
um esboço, seja na rigidez de um projeto técnico; a forma, as formas
básicas, o círculo, o quadrado, o triângulo e todas as suas infinitas
variações, combinações, permutações de planos e dimensões; a
direção, o impulso de movimento que incorpora e reflete o caráter das
formas básicas, circulares, diagonais, perpendiculares; o tom, a
presença ou a ausência de luz; através da qual enxergamos; a cor, a
contraparte do tom com o acréscimo do componente cromático, o
elemento mais expressivo e emocional; a textura, óptica ou tátil, o
caráter de superfície dos materiais visuais; a escala ou proporção, a
medida e o tamanho relativos; a dimensão e o movimento, ambos
implícitos e expressos na mesma frequência.” (DONDIS, 2003)

Uma fonte inesgotável para perceber estes conceitos fundamentais pode ser
facilmente encontrada de maneira abundante na Natureza. Tanto no reino animal,
vegetal ou mineral existem uma infinidade de formas, cores e texturas que podem ser
observadas, analisadas, representadas e interpretadas em projetos de design.

Hsuan-An (2002) revela que as características compositivas descritas na 5ª


categoria, relativas aos fundamentos da sintaxe visual possuem enfoque numa série
de fatores que determinam o grau da qualidade compositiva em obras de arte,
objetos, edificações, sendo também encontrados nas formas naturais. Por isto, esta
abordagem baseada na sintaxe da linguagem visual para a compreensão e a
qualidade estético-formal de modelos biológicos é bastante interessante e
promissora, o que justifica sua coerência em utilizá-las nos exercícios criativos como
parâmetros nas análises das estruturas naturais, pois pode-se claramente observar
estas características categorizadas pelo professor Tai no âmbito de todas as
estruturas naturais em diversos níveis. E isto pressupõe um grande potencial para
futuras pesquisas neste sentido, que certamente ampliaria o estudo de técnicas
referentes a analogias da natureza.
109

2.2.4 BIOMIMICRY THINKING – DESIGN LENS (Biomimicry Institute 3.8)

Há quase 20 anos, Benyus (1997) documentou e integrou suas descobertas,


transmitindo ensinamentos, testificados na obra Biomimética, Inovação inspirada na
Natureza e também através do canal online do Biomimicry Institute 3.8 fundado
junto com outros pesquisadores. Este site disponibiliza conteúdos, reúne pessoas
envolvidas com o tema, divulga concursos, diversos workshops, palestras, cursos de
especialização e parcerias com Universidades. Também está disponível o projeto
idealizado junto com a pesquisadora Dayna Baumeister e sua equipe, onde
sistematizou a metodologia chamada Biomimicry DesignLens, descrita na obra
Biomimicry Resource Handbook, a seed bank of knowledge and best practices, a qual
será abordada com mais detalhes a seguir.

Esta ferramenta possui um background de desenvolvimento e


aperfeiçoamento desde 1998 e está em constante evolução através de novas
descobertas na ciência. Ela foi criada com o intuito de ajudar a observar
profundamente a forma como a vida funciona, e estabelecer parâmetros para a
utilização da genialidade da natureza, orientando os projetos humanos. A ideia é
fornecer um contexto nas tomadas de decisão, procurando identificar onde, como e
por quê a biomimética se encaixa no processo de qualquer disciplina ou em qualquer
escala do projeto de design.

Com vários anos de pesquisas científicas e análises de suas aplicações, os


conteúdos do Biomimicry DesignLens foram sintetizados em diagramas, neles são
explorados os principais componentes da sua abordagem: Essencial Elements,
Life’s Principle e Biomimicry Thinking que ajudam a entender melhor as
características e atores principais, servindo de referência nesta contínua evolução do
cenário Biomimético. A seguir, na Figura 65 o diagrama Essencial Elements, com os
três elementos essenciais e interconectados para a prática do biomimetismo.
110

Figura 65 – Diagrama dos Elementos Essenciais para prática da Biomimética.

Fonte: (BAUMEISTER et al., 2012).

Ethos, constitui a essência da ética, das intenções e da filosofia subjacente


para praticar biomimética, representa o respeito, responsabilidade e gratidão da
espécie humana pelas demais espécies e pelo planeta; (Re)Connect, reforça o
entendimento de que, apesar de separadas, as pessoas e a natureza na verdade
estão profundamente interligadas, o homem faz parte da natureza, uma prática e uma
mentalidade de reconexão do humano com o meio natural; e Emulation representa
os princípios, padrões, estratégias e funções encontradas na natureza que podem
inspirar o design, é sobre ser pró-ativo na realização da visão dos seres humanos se
encaixando de forma sustentável na Terra. (BAUMEISTER et al., 2012)

A Figura 66 apresenta outros dois importantes diagramas apresentando os


Life’s Principles (Princípios da vida) que correspondem as lições de design da
natureza, estratégias que têm garantido a sobrevivência da vida na terra. Tais podem
ser usadas como parâmetros sustentáveis que permitem utilizar a genialidade da
natureza como ideais a serem conquistados nas inovações. Numa fase de avaliação,
estes princípios podem ser usados para medir a sustentabilidade das novas criações.
111

Figura 66 – Diagramas dos Princípios da vida.

Fonte: (BAUMEISTER et al., 2012).

Rattes (2015), em seu trabalho de pesquisa apresenta uma tradução para o


português mais assertiva destes 6 Princípios, são eles:

1- Evoluir para sobreviver: envolve estratégias de gerenciamento de


informações. Listando: datar estratégias; identificar abordagens de sucesso
anteriores; identificar erros; integrar soluções alternativas a um mesmo
problema; e evoluir as abordagens criando novas opções de soluções;
2- Adaptar-se às condições de mudanças: inclui soluções que permitam
resiliência, redundância e descentralização do sistema. Permite a adição
de energia e matéria, desde que voltado para reparar/sanar e melhorar o
desempenho do sistema. Incorpora a diversidade que o rodeia (estudar
processos, funções e formas para prover um melhor funcionamento);
3- Ser atento e responsivo a questões locais: usa materiais de fácil acesso
(local e energético); cultiva processos de cooperação mútua, onde todos
ganham; tira proveito de fenômenos locais que se repetem (clima, ciclos,
etc); inclui o fluxo de informações em processos cíclicos, nunca lineares;
112

4- Usar química amigável à vida: usa poucos elementos de uma forma


elegante; usa química favorável a vida, ou seja, evita produtos tóxicos; usa
água como solvente;
5- Ser eficiente em recursos (materiais e energia): integra múltiplas
necessidades em soluções elegantes (evita desperdício); minimiza o
consumo energético; busca fontes renováveis; gerencia o uso de materiais
em ciclo, ou seja, planeja o ciclo de vida. Segundo este preceito, a forma
deve seguir o desempenho pretendido;
6- Integrar conhecimento e crescimento: combina elementos modulares e
sistemas que evoluem do simples para o complexo; compreende o
funcionamento do todo e também dos pequenos componentes e sistemas
que o compõe; cria condições para que os componentes interajam de uma
forma que o todo consiga ter propriedade de auto-organização.

Os últimos diagramas se referem a abordagem do Biomimicry Thinking,


considerado como método ou ferramenta para ajudar as pessoas a praticar
biomimética ao projetar qualquer coisa. Há quatro fases em que esta lente
biomimética fornece valor para o processo de design (independente da disciplina em
que se integra): escopo, descobrir, criar e avaliar. Seguindo os passos específicos
dentro de cada fase, isto vai ajudar a integrar com sucesso as estratégias da vida
com o que for criado no projeto de Design. (Figura 67)

Existem 2 diagramas com os caminhos para o uso do Biomimicry Thinking


(Figura 68), um chamado “Desafio para a Biologia”, quando já tiver um problema
específico a ser resolvido, como por exemplo: locomoção, e se busca na natureza
referências para solucionar esse problema. É útil para uma configuração "controlada",
como uma sala de aula, ou para criação num processo colaborativo. Outro, é
chamado “Biologia para o Design”, quando a partir de uma investigação na
natureza se identifica uma oportunidade para aplicação. Este é mais adequado
quando o processo inicia com uma visão biológica inspiradora, como por exemplo:
quando ao pesquisar uma cobra se identifica o potencial de uso do seu sistema de
locomoção em um sistema artificial.
113

Figura 67 – Biomimicry Thinking

Fonte: (BAUMEISTER et al, 2012).

Figura 68 – Diagramas Biomimicry Thinking, “Desafio para a Biologia”, à esquerda e “Biologia para o
Design”, à direita.

Fonte: (BAUMEISTER et al, 2012).


114

No “Desafio para a Biologia” têm-se as seguintes etapas numa ordem de


sentido horário como descrito a seguir:

1- Definir Contexto - Especificar o desafio e as condições de funcionamento;


2- Identificar a Função- Determinar qual a função-chave o projeto deve
executar. O que é preciso fazer?
3- Integrar os Princípios da Vida – Comprometer-se a incorporar os
princípios da vida às exigências do projeto.
4- Descobrir Modelos Naturais - Encontrar organismos ou ecossistemas que
evoluíram estratégias para resolver as funções necessárias;
5- Abstrair Estratégias Biológicas – Determinar o mecanismo por trás das
estratégias dos organismos e traduzir isto num princípio de design;
6- Debater ideias Bio-inspiradas – Pensar em várias ideias de como aplicar
os princípios de design para resolver o desafio;
7- Emular Princípios de Design – Aprimorar as melhores idéias do debate e
desenvolver um conceito de design. Considerando aspectos de escala, indo
além, emulando formas para também melhorar processos e ecossistemas;
8- Medir usando Princípios da Vida – Avaliar o projeto usando os princípios
da vida como um checklist.

Já na “Biologia para o Design” considera-se uma ordem diferente das


etapas, como observa-se a seguir:

1- Descobrir Modelos Naturais - Encontrar organismos ou ecossistemas


inspiradores e aprender suas estratégias únicas para a sobrevivência.
2- Abstrair Estratégias Biológicas – Determinar o mecanismo por trás das
estratégias dos organismos e traduzir isto num princípio de design;
3- Identificar a Função – Usando a estratégia e o seu princípio de design
como um guia, definir qual função está sendo atendida. Dica: a função deve
ser a mesma para ambos;
4- Definir Contexto - Especificar as circunstâncias em que é necessária essa
função. Quem precisa fazer o que este organismo ou ecossistema está
fazendo?
115

5- Debater ideias Bio-inspiradas – Pensar em ideias de como combinar o


contexto, função e o princípio de design para solucionar o desafio;
6- Integrar os Princípios da Vida – Considerar as ideias que incorporem os
princípios da vida na solução;
7- Emular Princípios de Design – Aprimorar as melhores idéias do debate e
desenvolver um conceito de design. Considerando aspectos de escala, indo
além, emulando formas para também melhorar processos e ecossistemas;
9- Medir usando Princípios da Vida – Avaliar o projeto usando os princípios
da vida como um checklist.

Além da metodologia, outra plataforma criada pelo Instituto, o AskNature


(Pergunte à Natureza), funciona como uma comunidade online colaborativa que
reúne pesquisadores que alimentam um grande banco de dados para os interessados
em trocar informações sobre o assunto. Nesta incrível fonte de informação estão
compartilhados os trabalhos de biólogos de diferentes partes do mundo sobre as mais
variadas espécies e que podem ser acessados por qualquer pessoa, inspirando
criações inovadoras e sendo utilizado por profissionais de diversas áreas.
116

2.2.5 O GRASSHOPPER E A IMPRESSÃO 3D À SERVIÇO DA BIOMIMÉTICA

O design vem passando por mudanças de paradigma desde a popularização


do acesso a computação gráfica. A evolução dos sistemas CAD (Computer Aided
Desing - Projeto Assistido por Computador) e CAM (Computer Aided Manufacturing -
Fabricação Assistida por Computador) permitem propor novas possibilidades no que
se refere à criação e fabricação digital. Esta tecnologia tem trazido novas técnicas
para traduzir a analogia de estruturas naturais através de softwares como o
Grasshopper que permite uma modelagem orgânica intuitiva e conexão com
impressoras 3D para confecção de protótipos e modelos biomiméticos.

O termo design paramétrico refere-se à utilização de software que permite ligar


parâmetros numéricos e geométricos para fazer ajustes incrementais de uma peça
que, em seguida, afeta todo modelo em cadeia. Neste, as partes do projeto são inter-
relacionadas e mudam juntas de forma coordenada. Esta conexão facilita mudanças,
relações, adições e reparos no projeto, reduzindo retrabalho e facilitando
possibilidades. (QUEIROZ, 2015)

Atualmente, existem muitos softwares paramétricos a serem utilizados por


projetistas, tais como o Solidworks, o Solidedge, o Inventor, o Catia, dentre outros,
porém, o Grasshopper, plug-in do Rhinoceros, desenvolvido pela Robert McNeel &
Associates, permitem em conjunto, a execução da modelagem 3D com uso de
parâmetros matemáticos (algoritmos generativos), que possui uma linguagem mais
fácil, rápida e intuitiva para geração de alternativas de formas mais orgânicas.

Rattes (2015) comenta que no Grasshopper há encapsulamentos nas


entidades comumente conhecidas por Componentes, também chamados de módulos
que carregam uma programação com resultado específico. Sua apresentação é dada
como uma cápsula que apresenta sua configuração resumida em inputs e outputs,
sendo estes, qualquer entidade que relacione dois módulos entre si. O fato de conter
inúmeros parâmetros de programação, primordiais para o seu funcionamento, faz
com que cada componente do sistema tenha seu funcionamento previsto e controlado
pelo comando a ser executado, como por exemplo: Fillet, Explode, Point, dentre
outros. (Figura 69)
117

Figura 69 – Exemplo da interface dos componentes no Grasshopper.

Fonte: (RATTES, 2015).

Sendo assim, esta geração de formas e estruturas por meio de parâmetros


facilitam e aceleram o processo de criação, pois permitem a transposição da
geometria da natureza ao ambiente computacional (CAD), auxiliando na realização
de analogias entre o sistema natural e o design, além de se adequarem com fidelidade
ao contexto de complexidade, pelo fato de conceber formas complexas (sistema
natural) e a capacidade de ser ajustável por parâmetros, conforme a necessidade ou
condições emergentes (mundo complexo). (RATTES, 2015)

Para a Fabricação Digital usa-se ferramentas numericamente controladas por


computador (CNC) para fabricar ou prototipar objetos, peças e sistemas. Em
documentos acadêmicos, quando ferramentas digitais são utilizadas durante a fase
de prototipagem, recebe o termo de prototipagem rápida (rapid prototyping) e quando
utilizadas para fabricação, o termo de manufatura rápida (rapid manufacturing)
(QUEIROZ, 2015).

A técnica permite cortar e construir peças mais complexas do que as feitas à


mão. Com o tempo, as máquinas CNC foram se diversificando e hoje é possível cortar
peças com jato de água, fresas, laser e ainda imprimir objetos em 3 dimensões
(impressoras 3D). Com a popularização, estas máquinas estão atingindo um público
cada vez maior, sob formatos domésticos de "fabricação pessoal", o que tem
favorecido também na prototipagem de estudos de artefatos biomiméticos.
(QUEIROZ, 2015).
118

Para ilustrar a união entre o Design paramétrico (Grasshopper), o orgânico


(Biomimética) e a fabricação digital (impressão 3D), três pesquisas recentes que
utilizaram a metodologia Biomimicry DesignLens serão discutidas a seguir, a de
Araújo (2015) que será melhor detalhada para facilitar o entendimento destas técnicas
e também a de Queiroz (2015) e a de Rattes (2015). Estas pesquisas foram
desenvolvidas em parceria com o PPGDesign da UFPE sob a tutela dos doutores
Leonardo Castilho e Ney Dantas do laboratório Nexus (UFPE/BRA), que trabalham
na interface entre a sustentabilidade e o design em suas diversas frentes, e também
com o grupo BI/OS, que ajudou na manipulação do Grasshopper.

No projeto de Rodrigo Araújo (2015), o software possibilitou utilizar as


estratégias da planta Agave, aplicando sua lógica estrutural em escala ampliada de
modo a adequá-la no design de estruturas e processos de produção de pranchas de
surf. A modelagem paramétrica permitiu que estas estratégias da planta, convertidas
em parâmetros, pudessem ser aplicadas em incontáveis artefatos que fazem uso de
estruturas leves e resistentes, objetivando atingir economia de material e peso,
mantendo a leveza.

Primeiramente, se definiu o input, que foi o shape (outline) da prancha. Para o


preenchimento interior, foram definidas células com maior diâmetro possuindo
paredes finas, para pontos de reforço, foram definidos tubos longitudinais com
paredes espessadas e para a superfície, células mais densas. A solução pensada foi
um parâmetro do programa chamado Vonoroi, se trata de um tipo de decomposição
de um dado espaço que contêm elementos distribuídos entre si com determinadas
distâncias entre objetos e família de objetos através de pontos, são amplamente
encontrados na natureza em diversos campos da ciência e tecnologia, tendo
inúmeras aplicações práticas e teóricas. Com ele, as células foram escalonadas com
furos nas paredes, depois receberam suavização da forma com união final dos
elementos. Na Figura 70 abaixo, a imagem ilustra o resultado final com toda a
programação das funções necessárias na forma de um script contendo todas as
diretrizes geradas pelo programa. (ARAÚJO, 2015)
119

Figura 70 – Script gerado pelo Grasshopper da estratégia do Agave aplicado em prancha de surf.

Fonte: (ARAÚJO, 2015).

A diferenciação das células maiores e menores foi feita com a lógica das
paredes finas para economia de peso e paredes espessadas em pontos de reforço.
Com a lógica da diferenciação das células bem definidas, cada uma é um elemento
individual, porém reconhecíveis e agrupadas por padrões. Em cima desta malha
bidimensional, se aplicou a função de extrusão, configurando “tubos” iniciais.
(ARAÚJO, 2015)

O próximo passo foi a configuração de uma malha determinando os campos


através da ferramenta de pontoação, neste parâmetro, essas regiões tornam-se
vazadas de uma forma que não compromete a resistência, distribuindo os pontos de
tensões ao longo de cada elemento isolado, e depois, em toda estrutura. Com células
mais densas foram preenchidos os espaços vazios próximos à superfície e bordas da
secção da prancha de surf, esta camada funciona como se fosse a laminação de uma
prancha de surf, que é composta por fibra de vidro e resinas poliméricas, é o reforço
necessário para evitar trincas e infiltrações, inspirada na resistência que a casca do
escapo floral do Agave apresenta. (ARAÚJO, 2015)

A Figura 71 representa as telas com o passo-a-passo do desenvolvimento da


estratégia no programa.
120

Figura 71 – Imagens das telas do modelo desenvolvido por Rodrigo Araújo no Grasshopper.

Fonte: (ARAÚJO, 2015).

A aplicação da estrutura bioinspirada final foi feita apenas numa secção de


uma prancha de surf para validação da aplicação da analogia do agave na tecnologia
e no design de artefatos como pode ser visto de maneira resumida na Figura 72.
121

Figura 72 – Estudo e aplicação das estratégias do Agave proposta por Rodrigo Araújo com modelo
impresso em 3D.

Fonte: (ARAÚJO, 2015).

A segunda pesquisa é a da Natália Queiroz (2015), que tinha por objetivo a


criação de artefatos que amenizem a situação das ilhas de calor em cidades quentes
e úmidas como o Recife, buscando inspiração para isto nas folhas do Oitizeiro,
árvore muito utilizada em áreas urbanas conhecida pela sua propriedade de resfriar
o ambiente, cujo estudo da morfologia destas folhas revelaram filamentos de alta
122

densidade, intensamente enrolados, com aspecto de lã, uma espécie de fibra que
absorve umidade, sombreia e ainda ajuda a refletir a luz.

Desta forma, a proposta gerada por Queiroz (2015) também utilizou o


Grasshopper para configurar seus modelos que depois foram impressos em 3D,
servindo de moldes para fabricação dos três blocos modulares (Leaf Brick) que são
distribuídos de forma paramétrica de acordo com a necessidade de sombra,
possibilitando a aplicação desse conjunto orgânico e complexo em situações
diversas, como parede divisória, cobertura ou fachada. Os materiais sugeridos para
aplicação foram: fibra de coco e o hidrogel, que usam naturalmente a água como
termorregulador e possibilitam o plantio de vegetais simples como musgos e
trepadeiras, colaborando ainda mais com a situação de diminuição de calor como
pode ser visto, de maneira sintetizada nas Figuras 73 e 74.
123

Figura 73 – Leaf Bricks Modules, artefatos desenvolvidos no Grasshopper que amenizam a situação
das ilhas de calor em cidades quentes e úmidas por Natália Queiroz.

Fonte: (QUEIROZ, 2015).


124

Figura 74 – Estudo e aplicação da analogia da folha do Oiticeiro em modelos impressos em 3D que


geraram o molde em silicone para fabricação das peças modulares em fibra de coco, resina de óleo
de mamona e hidrogel.

Fonte: (QUEIROZ, 2015).

A última pesquisa apresentada é a de Rafael Rattes (2015), que tinha por


objetivo gerar máquinas abstratas com foco em estratégias de meta-artefatos
hidrofílicos a partir da investigação do tecido parênquima do mandacaru. Através da
análise das suas características funcionais e morfológicas, ele ofereceu um workshop
125

aos alunos da UFPE em Caruaru para gerar alternativas nesta transposição da


analogia da planta e, dentre outras estratégias geradas, a escolhida para ilustração
foi a de uma superfície que retém e armazena água da umidade do ar e das chuvas,
com aplicação sugerida pelos alunos numa parada de ônibus. Lembra-se aqui que
esta escolha não exclui a possibilidade desta superfície ser aplicada em outros
artefatos.

A proposta trazida por Rattes (2015) também utilizou o Grasshopper para


estudar e gerar as alternativas de configuração da proposta. Para isto, realizou uma
modelagem orgânica da superfície da parada de ônibus através de um padrão
hexagonal conforme a ilustração obtida no workshop, que, no entanto, foi mudada,
através de um script com componentes do software que permite uma adequação
estética ao que é encontrado na natureza, alterando esta malha para uma forma mais
elíptica (célular) que Rattes melhor associou ao estudo feito do tecido parênquima.
Em seguida, cada vazado destas células foi preenchido com uma película
semielipsóide, preenchida por sua vez, por uma malha interna com vazados similares
aos desenhos de células. As Figuras 75 e 76 apresentam a síntese do processo da
pesquisa de Rattes, inclusive de seus modelos impressos em 3D, e também da
sugestão de Aplicação como parada de ônibus
126

Figura 75 – Superfície desenvolvida no Grasshopper por Rafael Rattes, baseada na analogia do


Mandacaru.

Fonte: (RATTES, 2015).


127

Figura 76 – Modelo impresso em 3D e aplicação em parada de ônibus da estratégia desenvolvida.

Fonte: (RATTES, 2015).

É importante salientar ainda a existência de softwares que a tecnologia hoje


permite, capazes de gerar simulações realistas não apenas de gráficos, mas também
de materiais, intempéries naturais, verificação estrutural, e que são bastante úteis
quando se intenciona levar o estudo a uma dimensão real.
128

2.3 Projetos de Design e Arquitetura em Biomimética

A Biomimética se apresenta como uma ferramenta estratégica de inovação


capaz de solucionar problemas técnicos e de potencializar o desenvolvimento de
produtos humanos, contando com o know-how e a expertise de ensinamentos sem
precedentes armazenados há milhões de anos nas espécies sobreviventes mais bem
adaptadas graças ao processo de evolução. O resultado disto é que o design
biomimético pode efetivamente contribuir nas abordagens mecânicas-funcionais e
estéticas-formais de artefatos, traduzindo nestes um maior apuro estético e ganho em
eficiência.

Na Arquitetura, área correlata ao Design, existe muito empenho na busca por


referências na natureza. Além dos exemplos já citados no item Analogia, Frei Otto e
Santiago Calatrava merecem destaque pelo empenho em suas pesquisas e
transposição de analogias biológicas com alto nível de qualidade, trabalhos que
influenciaram e influenciam projetistas de várias gerações em todo o mundo.

Frei Otto (1925), arquiteto, engenheiro, pesquisador e professor na


Universidade de Stuttgart (Alemanha), buscava constantemente referenciar o mundo
natural com o foco nas analogias funcionais. Em 1961 ele criou o “Grupo de Pesquisa
em Biologia e Construção”, composto por uma equipe multidisciplinar de arquitetos,
engenheiros civis, biólogos, filósofos, historiadores e físicos, e em 1964 fundou o
Institut für Leichte Flächentragwerke (Instituto para estruturas Leves) onde
desenvolveu intensivas pesquisas no campo de membranas e estruturas
bidimensionais flexíveis tensionáveis com o intuito obter harmonia com o entorno
através de “construções naturais” baseadas em estruturas leves. (DIAS, 2014)

Esses experimentos em laboratório são uma parte bem importante das


pesquisas de Frei Otto, entre eles, os modelos com películas de bolhas de sabão,
aparelhos de rotação e torção usados para estudar a estabilidade de maquetes de
tijolos, teias, superfícies pneumáticas, estruturas suspensas tensionadas e estruturas
transformáveis, que depois refletiriam em muitas das suas obras.

“O permanecer estático é antinatural. A natureza viva e morta se


modifica. […] No campo da natureza viva, das células, dos sistemas
celulares, das plantas, dos animais há evolução, nascimento de
129

formas e espécies ao largo de milhões de anos. Não há volta para


trás. Não há retrocesso. Os indivíduos crescem e morrem em pouco
tempo. São móveis”. (OTTO, 1979, p.129)

Seu trabalho mais conhecido é a cobertura do Complexo Olímpico de Munique


para os jogos olímpicos de 1972, em que criou para o escritório Günther Bernish &
Partners, uma cobertura de painéis de acrílico transparente com juntas de neoprene
suportadas por mastros e cabos de aço, que trouxe a beleza plástica e a resistência
das teias de aranha, para solucionar o problema da cobertura do complexo. (DIAS,
2014)

Outro trabalho primoroso são as coberturas conversíveis dos dois grandes


pátios internos da Mesquita Sagrada do Profeta em Medina, na Arábia Saudita, com
formato de 12 grandes “guarda-chuvas”, com 17m x 18m de área e 14m de altura. O
projeto foi executado em 1991 e compõe um panorama com aspecto de “bosque” ou
“jardim com flores brancas gigantes”, provavelmente inspirado em certas flores
fotossensíveis como a “azedinha” que se abrem com a iluminação solar e se fecham
com a sua ausência. A vantagem é que estas estruturas de “sombrinhas”
proporcionam em apenas dois minutos, a formação de dois grandes salões que
garantem sombra refrescante aos peregrinos, além da visão relaxante das grandes
flores formadas pelas estruturas, quando vistas abertas de baixo. (DIAS, 2014)

O que se percebe é que as observações e estudos reunidos por Frei Otto


influenciaram decisivamente o seu pensamento e a prática da Arquitetura direcionada
à princípios ecológicos, pois a eficiência energética formal, estrutural e material
presente nos modelos naturais investigados por ele foram fatores cruciais que não
foram ignorados, forçando uma reconsideração das finalidades da Arquitetura em
diferentes níveis. Devido a isto, defendeu o lema do “Less is more” de Mies Van der
Rohe, buscando sempre um projeto adaptável, reciclável e eficiente, em que só há
espaço apenas para o essencial. Na Figura 77, alguns dos exemplos citados dos
trabalhos analógicos de Frei Otto.
130

Figura 77 – Exemplos biomiméticos das obras de Frei Otto.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de (CRUZ, 2012).


131

Outro expoente das analogias biológicas é Santiago Calatrava (1951), artista,


arquiteto e engenheiro espanhol que tem como característica marcante em sua obra
a referência à dinâmica dos organismos vivos, principalmente nos esqueletos e na
impressão de movimento que estes conferem às suas edificações, inclusive em suas
obras estruturais é possível perceber essa rica imaginação da natureza, em particular
de esqueletos animais através do uso de elementos metálicos e do cimento armado,
intensificando o porte dessas estruturas.

Talvez justamente por ter uma formação também artística, essas analogias
tenham um caráter simbólico tão característico em que se percebe uma identidade
nas suas obras. Dias (2014) confirma esse pensamento afirmando que por ter
cursado a Academia de Arte de Valência, na Espanha, antes de se formar em
arquitetura e posteriormente em engenharia, Calatrava, certamente incorporou ao seu
estilo um viés muito mais artístico e notadamente calcado na poética.

E isto não é uma simples coincidência, como é encontrada no trabalho de


outros projetistas. Declaradamente Calatrava afirmava ser adepto do estudo natural:
“Em determinado período dediquei-me ao estudo das formas orgânicas com as quais
o meu trabalho tem algumas analogias. É o resultado de uma escolha clara e não
tanto do processo de solução de certo problema estrutural.” (LEFAIVRE, 2011, p.78)

Característica recorrente, e por muitos considerada sua marca registrada é


esse desejo de buscar sempre unir estrutura e movimento. Elementos articulados
que, apesar da aparência sólida, são ao mesmo tempo leves e dinâmicos podem ser
encontradas diversas vezes em suas coberturas e pontes. Para tal, procura sempre
referenciar estruturas naturais que possuem em sua constituição esqueletos e demais
situação de articulações.

Pereira (2013) sugere que o pássaro é uma referência clássica do elemento


ar, tornando coerente o uso deste animal como inspiração na construção, por
exemplo, de aeroportos. O pavilhão de Calatrava em Milwaukee (USA) oferece um
cenário simbólico tão expressivo que chega a ser dramático visto de qualquer ponto
da cidade ou do lago próximo à obra. Simetricamente balançado com duas asas
modeladas por setenta e duas cordas metálicas finas, presas a uma espécie de
espinha dorsal; o edifício forma o que parece ser uma gigante estrutura cinética.
132

O aeroporto de Lyon, na França, também exemplifica a atitude que Calatrava


tem por grandes e ousadas estruturas. As suas referências formais ao projeto do
escritório de Saarinen são ainda mais explícitas que em Milwaukee. A metáfora do
voo contida no projeto também é evidente, assim como o seu perfil também remete a
um porco-espinho ou papa-formigas (até mesmo o olho humano), efeito acentuado
pela coloração do edifício. A estrutura é rica em alusões biomórficas, apesar de
Calatrava se basear mais na exploração da física e do equilíbrio de massas e forças
do que propriamente no shape de animais. (PEREIRA,2013)

Não se poderia deixar de fora o maravilhoso projeto de 35 hectares da Ciudad


de las artes y las Ciencias em Valência (ESP), em especial, o famoso teatro
Planetarium/IMAX que referencia o olho humano, onde a "pupila" é uma cúpula
hemisférica do teatro IMAX, que se transforma em um globo através do seu reflexo
na piscina. A “pálpebra” de tiras verticais articuladas de metal é móvel e pode ser
levantada para permitir a visualização da paisagem do entorno e da piscina.

Em 2015 foi inaugurado o Museu do Amanhã, obra primorosa de Calatrava no


Rio de Janeiro (BRA), o projeto possui um telhado em alavanca com suas grandes
“asas” móveis com uma estrutura da fachada que se expande em quase todo o
comprimento do cais, enfatizando a extensão para a Baía de Guanabara e
minimizando a largura do edifício. Um espelho d’água rodeia o museu por fora e é
usado para filtrar a água que está sendo bombeada da baía e liberada de volta no
final do píer, o que dá aos visitantes a impressão de que o museu está flutuando,
numa analogia a um animal marinho. Antenado com as abordagens sustentáveis da
arquitetura vigente, o edifício funciona fazendo uso dos recursos naturais do entorno,
como a água que vem da baía, bem como a energia solar coletada através de painéis
fotovoltaicos, integrados às “asas” móveis do telhado, que podem se ajustar
dinamicamente para o ângulo ideal do sol, alguns recursos que, segundo Calatrava,
fornecem importantes valores educacionais. (Figura 78)
133

Figura 78 – Exemplos biomiméticos das obras de Santiago Calatrava.

Fonte: http://www.calatrava.com/. Acesso em: 20 set 2016.


134

Para ilustrar a pesquisa das analogias naturais com tecnologia de ponta num
contexto mais recente tem-se os Pavilhões conceituais desenvolvidos pelo Instituto de
Design Computacional (ICD) e o Instituto de Estruturas de Construção e Design
Estrutural (ITKE) da Universidade de Stuttgard (ALE) sob a tutela do professor
Achim Menges. O projeto representa uma série de pesquisas bem-sucedidas que
demonstram o potencial do uso de novos métodos computacionais de projeto e
simulação, juntamente com métodos de fabricação controlados por computador.
Através da construção de modelos projetados e realizados por estudantes e
pesquisadores dentro de uma equipe multidisciplinar de arquitetos, engenheiros,
biólogos e paleontólogos, com o objetivo de demonstrar a integração da capacidade
performativa das estruturas biológicas na concepção arquitetônica com o uso de
técnicas avançadas de fabricação através do uso, por exemplo, da robótica.

Para exemplificar melhor, serão apresentados de maneira resumida e bem


ilustrativa 5 Pavilhões do projeto. O primeiro deles é o ICD/ITKE Research Pavilion
2011 em que durante a análise de diferentes estruturas biológicas, selecionou a
morfologia do esqueleto da bolacha-do-mar (Echinoidea) como referência para a
estrutura realizada (Figura 79). A concha esquelética do animal é um sistema modular
de placas poligonais, que são ligadas entre si nas bordas por protuberâncias de calcita
em zig zag. A alta capacidade de carga é conseguida pela disposição geométrica
particular das placas e seu sistema de junção. Sendo assim, foi identificado que serve
como um modelo mais adequado para conchas feitas de elementos modulares pré-
fabricados. O matérial escolhido foi a lâmina de madeira e da mesma forma as juntas
em zig zag tipicamente usadas em marcenaria como elementos de conexão também
podem ser vistas como o equivalente técnico das protrusões encontradas na
referência. O projeto também intensionava testar os sistemas espaciais e estruturais
resultantes em grande escala, por isto focou no desenvolvimento de um sistema
modular que permite um alto grau de adaptabilidade e desempenho devido à
diferenciação geométrica de seus componentes através do uso de braços robóticos
articulados na fabricação das peças.

Uma inovação particular consiste na possibilidade de estender efetivamente os


princípios reconhecidos, simular, avaliar e aplicar em diferentes configurações através
de processos computacionais, o que pode ser comprovado aqui pelo fato de que a
135

morfologia complexa do pavilhão pôde ser construída com folhas extremamente finas
de madeira compensada de 6,5 mm de espessura.

Um esquema de troca de dados otimizado tornou possível ler repetidamente a


geometria complexa em um programa de elementos finitos para analisar e modificar
os pontos críticos do modelo. Em paralelo, as juntas coladas e aparafusadas foram
testadas experimentalmente e os resultados incluídos nos cálculos estruturais. As
peças foram produzidas por um robô de 7 eixos e isso permitiu a produção econômica
de mais de 850 componentes geométricamente diferentes, bem como mais de
100.000 articulações zig zag.

Figura 79 – ICD/ITKE Reserch Pavilion 2011 do professor Menges (Stuttgard/ALE) baseado na


bolacha-do mar.

Fonte: http://icd.uni-stuttgart.de/?p=6553. Acesso em: 20 abr 2016.


136

O ICD/ITKE Research Pavilion 2012 é outro exemplo em que a pesquisa


focou nos princípios materiais e morfológicos do exoesqueleto (casca) da lagosta que
possui 2 tipos de camadas, as individuais, que são laminadas em conjunto numa
disposição em espiral (helicoidal) e as unidirecionais, que foram incorporados na
estrutura de invólucro fabricada roboticamente a partir de fibras de vidro e carbono
saturadas com resina e colocadas de maneira contínua resultando numa estrutura de
orientação personalizada. Seis sequências de enrolamento de filamentos diferentes
controlam a variação da camada e a orientação das fibras em cada ponto da casca
para minimizar o consumo de material enquanto maximiza a rigidez da estrutura,
resultando em significativa eficiência de material e leveza. O Pavilhão possui 8m de
diâmetro e apenas 4mm de espessura de fibras de carbono e vidro. (Figura 80)

Figura 80 – ICD/ITKE Reserch Pavilion 2012 do professor Menges (Stuttgard/ALE) baseado na


disposição das filhas da pata da lagosta.

Fonte: http://icd.uni-stuttgart.de/?p=8807. Acesso em: 20 abr 2016.


137

O ICD/ITKE Research Pavilion 2014-2015 é o terceiro exemplo, ele foi


baseado no ninho subaquático da aranha d’água, que constrói uma bolha de ar dentro
da água, reforçada sequencialmente por um arranjo hierárquico de fibras das teias
dentro da estrutura, fazendo uma construção estável que pode suportar tensões
mecânicas, como a mudança de correntes de água, garantindo um habitat seguro e
estável para ela. Este processo de produção natural mostra como as estratégias de
fabricação adaptativas podem ser utilizadas para criar estruturas reforçadas com
fibras eficientes. Através de um novo processo de fabricação robótica, uma cofragem
pneumática inicialmente flexível é gradualmente reforçada com fibras de carbono a
partir do interior. A concha compósita de fibra leve resultante forma um pavilhão com
qualidades arquitetônicas singular, sendo ao mesmo tempo uma estrutura altamente
eficiente em termos de material. (Figura 81)

Figura 81 – ICD/ITKE Reserch Pavilion 2014-2015 do professor Menges (Stuttgard/ALE) baseado no


ninho subaquático da aranha d’água.

Fonte: http://icd.uni-stuttgart.de/?p=12965. Acesso em: 20 abr 2016.


138

O ICD/ITKE Research Pavilion 2015-2016 é outro ótimo exemplar, pois é o


primeiro a empregar costura industrial em lâminas finas de compensado de madeira
através da robótica em uma escala arquitetônica. A referência para isto foi o ouriço-
do-mar em que se concluiu que a leveza do seu esqueleto depende também da
geometria do sistema de dupla camada e da diferenciação dentro do material, além
disso, as placas de algumas espécies são conectadas através de elementos fibrosos,
com articulações de zig zag, e isto desempenha um papel importante na manutenção
da sua integridade durante exposição a forças externas e no seu crescimento. A
introdução de métodos de conexão têxtil na construção de madeira permite cascos de
madeira segmentados extremamente leves e com boa performance. (Figura 82)

Figura 82 – ICD/ITKE Reserch Pavilion 2015-2016 do professor Menges (Stuttgard/ALE) baseado no


esqueleto do ouriço-do-mar.

Fonte: http://icd.uni-stuttgart.de/?p=16220. Acesso em: 20 abr 2016.


139

Por fim, o projeto HygroSkin - Meteorosensitive Pavilion (2013) explora um


novo modo de arquitetura sensível ao clima, usando apenas a capacidade responsiva
do próprio material, inspirado pelo movimento das pinhas. Ao contrário de outros
movimentos de plantas que são produzidos por mudanças de pressão de célula ativa,
este movimento ocorre através de uma resposta passiva às mudanças de umidade,
portanto, não requer qualquer sistema sensorial ou função motora e é independente
de qualquer função metabólica, portanto, não consome energia. Aqui, a capacidade
responsiva é intrínseca ao comportamento higroscópico do material e às suas próprias
características anisotrópicas. A anisotropia denota a dependência direcional das
características de um material. A higroscopicidade refere-se à capacidade de uma
substância absorver a humidade da atmosfera quando seca e produzir humidade para
a atmosfera quando molhada, mantendo assim um teor de humidade em equilíbrio
com a humidade relativa circundante.

Dessa forma, a instabilidade dimensional da madeira em relação ao teor de


umidade é empregada para construir uma pele arquitetônica sensível às condições
climáticas que abre e fecha autonomamente em resposta às mudanças de tempo, sem
desperdício de energia operacional nem qualquer tipo de controle mecânico ou
eletrônico. Aqui, a própria estrutura material é a máquina, assim como observado nas
estruturas das pinhas investigadas. Dentro da superfície côncava profunda de cada
módulo fabricado roboticamente foi colocada uma abertura sensível ao tempo. A
programação material do comportamento de resposta à umidade dessas aberturas
abre a possibilidade de uma arquitetura de impressionante simplicidade, mas
ecologicamente integrada, em feedback constante e interação com seu ambiente
circundante. A pele responsiva composta de madeira ajusta a porosidade do pavilhão
em resposta direta às mudanças na umidade relativa do ambiente. Desta forma, o
movimento das finas lâminas de madeira disposta nesta abertura está enraizado na
capacidade intrínseca do material de interagir com o ambiente externo e mostra como
um tecido estruturado pode responder passivamente a estímulos ambientais: abrindo
(quando seca) e fechando (quando molhado). A camada externa do pavilhão é
composta por células de paredes espessas paralelas, longas e densamente
compactadas, reage higroscopicamente a um aumento ou diminuição da umidade
relativa por expansão ou contração, enquanto a camada interna permanece
relativamente estável. A mudança dimensional diferencial resultante das camadas se
140

traduz em uma mudança de forma da escala, fazendo com que as lâminas finas se
abram ou fechem, ampliando as formas de uso desta pesquisa inovadora num grande
leque de oportunidades. (Figura 83)

Pelo histórico das pesquisas de Frei Otto em Stuttgard já era de se esperar que
esta universidade estivesse no “topo da cadeia” em se tratando de analogias naturais.
Mas é importante perceber nestes exemplos dos Pavilhões como essas parcerias
multidisciplinares e a tecnologia facilitam e favorecem os insights dos alunos e o
quanto hoje é importante a aprendizagem do uso dessas ferramentas no meio
acadêmico para tornar o profissional mais apto e preparado para oferecer um trabalho
mais condinzente com as necessidades do mundo moderno.

Figura 83 – HYGROSKIN, Meteorosensitive Pavilion do professor Menges (Stuttgard/ALE) baseado


na respiração natural das pinhas

. Fonte:http://icd.uni-stuttgart.de/?p=9869. Acesso em: 20 abr 2016.


141

Um outro exemplo similar e também recente de projeto biomimético é tratado


por Pereira (2013) sobre o SILK PAVILLION (Mediated Matter Research Group/ MIT
LAB), que assim como visto na Universidade de Stuttgard, também explora a relação
entre a fabricação digital e a fabricação biológica no Design e Arquitetura. Inspirados
pela habilidade dos bichos-da-seda de criar um casulo 3D feito de um único fio de
seda, a geometria global deste pavilhão foi criada usando um algoritmo que dispõe
de um único e contínuo fio através de padrões que fornece vários graus de densidade.
A variação da densidade global final foi conseguida adicionando no Pavilhão o próprio
bicho-da-seda (Figura 84), implantado como uma “impressora” biológica na
remodelagem da estrutura. Um conjunto de bichos-da-seda (aproximadamente
6.500) foi posicionado no aro inferior da cúpula giratória constituído de 26 painéis.
Assim, estes bichos reforçaram localmente os espaços entre as fibras de seda que
foram dispostas pela máquina CNC.

O projeto do Pavilhão recolhe não apenas conhecimento biológico teórico, mas


também prático. A inovação do projeto está justamente no uso da máquina CNC que
simula o padrão de construção da seda como base. Por si só, esta base já demonstra
uma analogia biológica (simbólica) ao simular o processo construtivo dos bichos-da-
seda, traduzido no Pavilhão antes dos bichos, no entanto, o projeto é também prático
ao se densificar as áreas desse mesmo Pavilhão através dos próprios bichos-da-
seda, remodelando o modelo inicial. (PEREIRA, 2013)

A pesquisa foi dirigida por Neri Oxman, em colaboração com Fiorenzo


Omenetto (TUFTS University) e James Weaver (Harvard). Apesar de se relacionar
com uma arquitetura biológica, empregar avanços tecnológicos surpreendentes,
estudar as capacidades únicas de um animal e seu processo construtivo (neste caso
o bicho-da-seda que produz o próprio material para satisfazer as suas necessidades
construtivas), Pereira (2013) sublinha a qualidade utópica e conceitual do projeto
afirmando que essa segunda fase com a construção com os próprios bichos-da-seda
é pouco prático e viável, pois requer um uso excessivo de tempo, energia e dinheiro
para se coletar e transportar os animais. O projeto está nas mídias com título de
biomimético, mas de fato há de se questionar as intenções dessa segunda fase, pois
ao que parece, criar organismos para “construírem” para homem é o mesmo sentido
142

de criar abelhas para produzir favos de mel, ou seja, se perde o foco biomimético e
entra em cena a velha e tradicional visão de exploração.

Figura 84 – Silk Pavillion (Mediated Matter Research Group/ MIT Lab, 2012)

Fonte: (PEREIRA, 2013).

Uma característica importante de ser enfatizada sobre a estrutura baseada em


células que está presente na maioria dos seres vivos é a capacidade de auto
reparação garantida por processos próprios dos sistemas biológicos. Imitar ou
transpor este princípio em artefatos, resultaria numa evolução científica em que a
realidade ficaria cada vez mais próxima da ficção, e talvez a intenção do Silk Pavilion
tivesse um viés parecido, mas enquanto isto ainda não é possível, dá para manter o
ritmo com um outro projeto que une a forma orgânica com materiais de alta tecnologia,
o sistema modular arquitetônico para fachadas Prosolve370e, que pode
efetivamente reduzir a poluição do ar nas cidades. O sistema é composto por módulos
que são revestidos com uma camada superfina de dióxido de titânio (TiO2), uma
tecnologia de combate à poluição que é ativada pela luz solar, material já conhecido
como pigmento por suas qualidades auto-limpantes e germicidas que requer apenas
pequenas quantidades de luz UV e umidade natural para efetivamente reduzir os
poluentes do ar em quantidades inofensivas de dióxido de carbono e água, quebrando
143

e neutralizando os óxidos de nitrogênio e os compostos orgânicos voláteis do entorno.


Ele pode ser utilizado para finalidades diversas, inclusive no vestuário.

Na arquitetura, o escritório alemão Elegant Embellishments utilizou o


Prossolve370e na fachada de um novo hospital, o Manuel Gea Gonzales Torre de
Especialidades, na Cidade do México em 2013. Ela possui uma área de 2500m² com
100m de comprimento e está ajudando a reduzir uma poluição estimada de 1000
carros por dia. (Figura 85)

Sobre a sua configuração é clara a referência no padrão celular, embora a


empresa informe que as suas formas remetam ao padrão de crescimento orgânico
inspirado nos fractais na natureza. O fato é que estas formas orgânicas não são
apenas esteticamente atrativas, elas são traduzidas num ganho de eficiência, pois
suas ondulações maximizam a área de superfície do revestimento ativo à luz difusa,
à turbulência do ar e à poluição, ou seja, elas maximizam a tecnologia de revestimento
já que a complexidade da superfície ajuda na captação da luz omnidirecional onde é
densa ou escassa.

O sistema é composto com apenas dois módulos de repetição e suas peças


podem ser adequadas conforme a necessidade do projeto (tamanhos e formatos).
Para o hospital, essas peças foram produzidas numa fábrica de termoformagem em
Ulm/ALE, onde um protótipo de escala 1:1 forneceu uma extimativa de tempo de
instalação antes da montagem. O material utilizado foi o plástico ABS termoformado,
unidos com fixações padrão de aço. A engenharia estrutural foi feita por Buro Happold
New York e o consultor técnico do projeto é o professor do departamento de Física
da Duke University, Joshua Socolar.

A modularidade do sistema permite que formas arquitetônicas complexas


sejam mais acessíveis, já que facilita a fabricação e montagem. Como decoração,
possuem potencial para uso no interior ou exterior; regeneração de fachadas
envelhecidas ou de caráter modernista; sendo bem indicados para estacionamentos,
hospitais, prédios em geral, e principalmente, lugares onde haja grande fluxo de carro
e poluição. Fora este hospital, o projeto já expandiu para vários outros países como
Austrália, Emirados Árabes e Estados Unidos, devido ao seu grande potencial de uso
e inovação.
144

Figura 85 – Sistema modular Prosolve370e aplicado na fachada do Hospital Manuel Gea Gonzales
pela empresa alemã Elegant Embellishments.

Fonte: http://www.prosolve370e.com/. Acesso em: 25 jun 2016.

Outro exemplo na mesma linha de fachada inteligente é mostrado no site do


Biomimicry.org, é o projeto Solar Ivy de captação de energia solar e eólica utilizado
como revestimento de edificações (Figura 86). Foi desenvolvido pelos irmãos
designers Samuel e Teresita Cochran durante um projeto acadêmico que mais tarde
foi produzido pela Startup SMIT (Sustainably Minded Interactive Technology)
montada pelos irmãos, no Brooklyn/NY. Trata-se de um sistema modular de geração
de energia a partir da captação da luz solar (fotovoltaica) e energia eólica (gerador
piezoelétrico flexível). Cada módulo tem 5 “folhas” solares que têm um gerador piezo
muito flexível em sua haste que se parecem e se comportam como a planta Hera nas
paredes, adornando qualquer superfície e sendo muito adaptáveis a todo tipo de
edificação, além de facilmente substituíveis, facilitando a sua manutenção. Cada
“folha” pode ser removida individualmente para reparos ou troca sem que se
interrompa o funcionamento do sistema como um todo.
145

Na natureza, a Hera é uma planta trepadeira que desenvolveu um processo


adaptativo interessante, ao crescer verticalmente usando outra estrutura para
suporte, ela recebe luz solar direta sem ter que competir com outras plantas. Este
projeto soube tirar proveito desta característica de uso da verticalidade para se
diferenciar dos painéis solares convencionais que geralmente ocupam muito espaço.
O uso criativo de tecnologias de energia alternativa existentes e a incorporação
intencional da ética do design sustentável, fazem com que esta analogia biológica
simples se torne uma das tecnologias mais sustentáveis de energia solar e eólica do
mercado.

O seu design modular permite muitos tipos de personalização, incluindo a cor


da folha, espaçamento, orientação e tipo fotovoltáico. Também é adaptável a
diferentes tipos de edifícios e climas. Um sistema de monitoramento de energia é
incorporado no produto, permitindo o ajuste fino e o controle da tecnologia pelos
usuários. Cada faixa de 2,5m² gera 85 Watts, produzindo energia renovável enquanto
ajuda a fornecer sombra para edifícios reduzindo a incidência solar, e, por
conseguinte, gastos com climatização, tal como a Hera natural.

A fabricação pode acontecer em um processo de impressão em que são


estampados e formados para criar folhas customizáveis e pontos de conexão. No fim
do seu ciclo de vida, os componentes podem ser novamente separados e reutilizados
e o material plástico pode ser reciclado e reinserido ao fluxo de produção. Isto resolve
os atuais problemas com painéis solares convencionais que não são tão práticos,
razão pela qual não se vêem árvores na natureza com folhas no mesmo aspecto.

Este projeto também prova que boas ideias surgem desse olhar para a
natureza mesmo a partir de analogias simples e que bons projetos-conceito dentro
da academia também podem virar realidade.
146

Figura 86 – Projeto Solar Ivy sistema de captação de energia solar e eólica com referência na Hera.

Fonte: https://asknature.org/idea/smit-solar-ivy/#.WBzFMoWcE2w. Acesso em: 27 jun 2016.

Não se pode deixar de fora dos exemplos biomiméticos uma das grandes
referências no mundo do design, o designer galês Ross Lovegrove, expoente que
utiliza o processo criativo com inspirações no mundo natural para suas criações. Em
seu estúdio localizado em Londres, estão vários modelos de estudo da forma e
também muitos dos seus produtos geniais, dentre eles, a escada DNA, suas
luminárias, cadeiras orgânicas e a garrafa d’água Ty Nant desenhada para a empresa
francesa Volvic.

“Sou um biólogo evolucionista, mais do que um designer. Eu não sei


mais o que é design, eu crio formas, eu compreendo formas e eu
estou gostando da era digital para criá-las. Eu espero levar isso ainda
mais longe. Meu trabalho também se relaciona com a natureza, em
um sentido evolucionário na medida em que me preocupo com
redução. Eu exercito o que é chamado de “essencialismo orgânico” o
que significa usar nada mais, nada menos do que o necessário. Eu
me sinto confortável nessa era orgânica, isomórfica, antropomórfica,
líquida de fazer coisas, mas eu tento não forçar isso em coisas que
não precisem disso.” (Ross Lovegrove)
147

Apelidado de “Captain Organic”, ele define seu conceito de criação como DNA
(Design, Natureza e Arte), que representam as três coisas que condicionam o seu
mundo. Como possui profunda admiração pela genialidade das soluções naturais,
seus projetos imprimem a sua visão primorosa dessa organicidade de formas mais
com o enfoque estético do que funcional. Ele acredita que na beleza da forma reside
a sua ligação pessoal com a natureza cujas configurações são a fonte original do
belo, o que justifica a sua obsessão em poetizar formas orgânicas. Seus projetos
traduzem muito bem este conceito, como a escada “hélice de DNA”, cujo corrimão é
feito em uma peça única de fibra de carbono.

Lovegrove se considera um tradutor das tecnologias do séc XXI. Em seus


projetos, muitas vezes utiliza softwares que manipulam as formas de maneira livre
sem parâmetros dimensionais, o que gera resultados casuais selecionados pelas
suas propriedades estéticas. Ele direciona a utilização de biopolímeros em seus
novos projetos, pois acredita que este é o material do futuro. Preocupado com
questões sustentáveis, não costuma pintar os produtos que desenha e utiliza sempre
a textura original do material. Apesar de ter muita afinidade com o ambiente fabril, ele
se preocupa em criar mais produtos num mundo, segundo ele, já “overdoseado”.

O projeto da garrafa d’água Ty Nant, representa a sua impressão pessoal da


água, ele queria um tributo ao elemento (Figura 87). Para este desenvolvimento,
primeiro tentou simular na oficina as formas orgânicas e fluidas da água, mas as
tentativas foram frustradas parecendo mais um “carro amassado”. Depois de muito
tentar, deixou a forma ser desenhada pela própria água através de software
especializado, e o resultado foi uma série de linhas delicadas e espontâneas que
pareciam ter a mesma fluidez da água, transmitindo a impressão de ter em mãos não
a garrafa, mas a própria água envolta em sua pele natural. (LOVEGROVE, 2004)
148

Figura 87 – Garrafa de água Ty Nant para a Bethania Wales/2000.

Fonte: http://www.rosslovegrove.com/index.php/custom_type/ty-nant/?category=product. Acesso em:


29 jun 2016.

Outro projeto do designer é a Luminária Andromeda para a empresa japonesa


Yamagiwa (Figura 88). Com o formato que lembra algum tipo de ser marinho, seus
reflexos criam uma ambiência parecida com os reflexos da água.

Figura 88 – Pendente Andromeda para a Yamagiwa/ Japão, 2008.

Fonte: http://www.rosslovegrove.com/index.php/custom_type/andromeda/?category=lighting). Acesso


em: 29 jun 2016.

O propósito de utilizá-lo como exemplo foi o de evidenciar que existem outros


métodos, além da analogia funcional de interpretar as formas naturais e ainda assim,
fazer a Biomimética através de uma inspiração mais criativa e o emprego de
impressões pessoais sobre o elemento, o que enfatiza que não apenas as funções
práticas do produto são responsáveis pela tradução da referência natural, mas
também as funções estéticas e simbólicas. A prova de tais argumentos está em se
constatar a presença dos princípios biomiméticos nos projetos de Lovegrove. No
149

exemplo da garrafa d’água, a essência formal e semântica produzida, utilizou


claramente o princípio da natureza como modelo; o material translúcido, fino, leve,
sem rótulo, reciclável, traduz a essencialidade e o sem desperdício da natureza como
medida; por fim, a própria inspiração em buscar num elemento natural a sua solução
para o problema de embalagem para a água, evidencia que também a utilizou como
mentora. A Figura 89 apresenta alguns dos projetos de Lovegrove.

Figura 89 – Produtos de Lovegrove: Cadeira Biophilia, Cadeira Go, Caixa de som Kef Muon, escada
DNA e Poste-assento Solar Tree.

Fonte: http://www.rosslovegrove.com. Acesso em: 29 jun 2016.


150

Um último exemplo, para se fechar com chave de ouro, é o projeto Warka


Water inspirado no besouro do deserto ou besouro da Namíbia. Este inseto foi
investigado por Andrew Parker (2001), da Universidade de Oxford, Reino Unido. O
animal capta a água do ar através dos poros da sua carapaça, quando o ar úmido
passa por suas saliências e sulcos microscópicos, condensam e são canalizados em
direção à sua boca, uma característica adaptativa que permite a sobrevivência do
mesmo no deserto. Esta analogia funcional está sendo implementada em várias
soluções de artefatos, uma delas é produzida pela QinetiQ, no Reino Unido, onde
desenvolveu uma película de plástico para recolher a água, imitando a carapaça do
besouro, útil para capturar água em áreas ricas em névoa. (FORNIÉS, 2012)

Uma aplicação similar deste mesmo estudo foi desenvolvido pelos arquitetos
italianos Arturo Vittori e Andreas Vogler do estúdio Architecture and Vision, o seu
Warka Water trata-se de uma incrível torre feita com materiais naturais projetada para
recolher a umidade do ar por condensação, e depositar a água num recipiente, sendo
capaz de captar cerca de 100 litros de água/dia (Figura 90). Como o ar sempre
contém certa quantidade de água, independente da temperatura do ambiente e da
condição de umidade, o projeto possibilita sua produção em praticamente qualquer
lugar.

Tudo começou quando ambos foram visitar a Etiópia e ficaram preocupados


com a escassez de água. Sobre isto, vale lembrar que o montante de habitantes do
planeta cresce a cada ano junto com a demanda por recursos naturais e a ONU
apontou que cerca de 2,4 bilhões de pessoas (um terço da população mundial) não
têm acesso a saneamento básico e água potável. Uma resposta para esta situação
alarmante foi buscar inspiração no meio biológico. No site do projeto, fazem alusão a
várias inspirações biomiméticas, tais como o besouro da Namíbia já comentado, as
folhas da flor de lótus, os fios da teia de aranha e o sistema integrado de coleta de
névoa em cactos, tudo isto é traduzido em materiais específicos e revestimentos que
podem melhorar a condensação do orvalho e o fluxo de água, assim como melhorar
também a capacidade de armazenamento da malha. Outra referência biológica citada
que influenciou no design da casca externa do Warka, melhorando o fluxo de ar foram
as colmeias de cupins.
151

Sua estrutura é baseada principalmente em bambu, cordas de fibras naturais


e um revestimento interno que é uma malha feita com plástico reciclado com a
tecnologia do besouro para captar as gotículas de orvalho que escorrem para uma
bacia no interior da torre. O trançado do bambu proporciona luminosidade, força e
estabilidade e são unidos com pinos de metal e cânhamo. Nas extremidades
superiores ficam pequenos espelhos que fazem com que os pássaros se mantenham
longe e não contaminem a água. A estrutura é toda modular, composta por 5 partes,
mede cerca de 10 metros e pesa 60 quilos. Pode ser construída do zero por 10
pessoas em 10 dias ou, se for só a montagem com as peças prontas, em até 2h por
10 pessoas, sem a necessidade de andaimes e com as próprias mãos. Custa em
média US$ 1000.

Além dos benefícios mais evidentes, o projeto incorpora a cultura local e uma
arquitetura vernacular incorporando técnicas de tecelagem etíope tradicionais no
produto. Inclusive, além de melhorar a condição de vida dessas pessoas, foi projetado
também para criar sombra, um espaço social que gera reuniões públicas de educação
e o convívio social entre os moradores da comunidade, uma analogia também para a
a árvore nativa da região, simbolicamente muito especial (a figueira) que na língua
local africana é chamada de Warka.

O projeto foi apresentado pela primeira vez na Bienal de Arquitetura de


Veneza, em 2012, e é voltado para populações rurais de países em desenvolvimento,
onde a infra-estrutura para disponibilizar o acesso a água potável é quase impossível.
Portanto, este é um belíssimo exemplo biomimético com uma solução relativamente
simples, de baixo custo de implementação, provando que observar a natureza permite
chegar a soluções em que o Design pode de fato contribuir na resolução dos
problemas do mundo.

Consideradas um caso especial, no próximo capítulo serão apresentadas as


geodésicas de Buckminster Fuller que serão pormenorizadas visando esclarecer
as diversas relações com o tema da Biomimética, assim como contribuir com a
bibliografia escassa em língua portuguesa sobre o assunto, trazendo em questão um
exemplo tão bem elaborado mas de pouco uso no Brasil.
152

Figura 90 – Projeto Warka Water de captação de água baseado no besouro da Namíbia.

Fonte: http://www.warkawater.org/design. Acesso em: 30 jun 2016.


153

3 AS GEODÉSICAS DE BUCKMINSTER FULLER

Segundo Forlani (1953), em 1922, Bauersfeld, cientista alemão chefe de


design da indústria ótica Carls Zeiss, desenvolveu a primeira cúpula geodésica
revestida de cimento para abrigar um planetário, mas foi Buckminster Fuller quem
descobriu suas leis formadoras, construindo e divulgando suas propriedades em
inúmeros estudos de otimização e que por ela recebeu a patente de nº 2.682.235 em
1954, tornando-a um ícone da arquitetura moderna na década 50. Mas antes de
detalhar sobre o caso das geodésicas, também é importante conhecer um pouco mais
sobre o seu mais ilustre pesquisador.

3.1 Buckminster Fuller: Um Breve Histórico

Richard Buckminster Fuller, ou “Bucky”, como era chamado, nasceu em Milton,


Massachusetts (USA) em 01 de janeiro de 1895. Arquiteto, engenheiro, designer,
matemático, inventor, filósofo, visionário, professor, orador, autor, poeta e também
chamado de “Leonardo Da Vinci do século XX, justamente por toda esta
multidisciplinaridade; frequentou Harvard 2 vezes (1913/1915), mas foi expluso em
ambas por falta de concentração e motivação. Somente após passar dificuldades
financeiras e perder a filha Alexandra, ainda com 3 anos, fatalidade que quase o levou
ao suicídio, foi que decidiu dar um outro rumo à vida.

O seu reconhecimento vem da sua perspectiva abrangente sobre os problemas


do mundo. Por mais de cinco décadas, ele desenvolveu soluções pioneiras que
refletiam seu compromisso com o potencial de design inovador para criar tecnologias
com o intuito de “fazer mais com menos” como ocorre na natureza, e assim,
melhorar a vida humana. Pertencia a uma família reconhecida por produzir
personalidades inclinadas ao ativismo e ao serviço público, e desenvolveu uma
compreensão inicial da natureza durante as excursões familiares para Bear Island,
Maine, onde também se familiarizou com os princípios de manutenção e construção
de barcos.

Por volta de 1913, trabalhou em uma usina no Canadá, onde teve um forte
interesse em máquinas, aprendendo a modificar e melhorar o equipamento de
fabricação. De 1917 até 1919, serviu na Marinha dos EUA, onde desenvolveu mais
ainda sua aptidão para a engenharia inventando um guincho para barcos de resgate
154

que poderia remover aviões caídos da água com tempo de salvar a vida dos pilotos,
como recompensa desse feito, foi indicado para receber treinamento de oficiais na
Academia Naval dos Estados Unidos. Em 1926, quando trabalhou na construtora do
seu sogro, James Monroe Hewlett, desenvolveu um novo método de produção de
edifícios de apartamentos modulares de fácil construção de concreto armado, que
resultou na primeira das suas 25 patentes.

Depois da morte da filha primogênita, do declínio da construtora e do


desemprego, chegou a contemplar o suicídio, mas decidiu que não tinha o direito de
tirar a própria vida, e que a partir de então iria usar suas experiências e intelecto à
serviço dos outros. Como conseqüência, passou quase dois anos em recluso,
profundamente em contemplação sobre o universo e como poderia melhor contribuir
para a humanidade, principalmente, usando a tecnologia para revolucionar a
construção e melhorar a habitação humana.

Neste tempo, conheceu Isamu Noguchi, arquiteto nipo-americano com quem


começou a colaborar em vários projetos, criando a marca-conceito chamada
Dymaxion derivada dos termos Dynamic, Maximum, Ion; representando sua filosofia
de design de "fazer mais com menos" e refletindo seu crescente reconhecimento da
tendência global para o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes.

Seu primeiro “artefato”, como chamava suas criações, foi o projeto da Casa 4D
que depois seria nomeada de Dymaxion House, uma casa de baixo custo, idealizada
para ser produzida em massa, que poderia ser aero-transportada para qualquer lugar
do mundo. Sobre ela, Fuller escreve em 1928: "É estruturada segundo o sistema
natural de seres humanos e árvores, com um tronco central ou espinha dorsal, a partir
do qual, todo o resto é independentemente pendurado, utilizando a gravidade em vez
de se opor a ela. O projeto representava uma inovação radical, uma casca de alumínio
pendurada em um pilar central em que no topo do mastro existiam lentes destinadas
a dirigir o calor e a luz solar para onde desejado; o banheiro era composto por sistema
modular onde era todo montado na fábrica, o que incluía as tubulações, e
posteriormente montado no local dentro da casa, o que deu origem ao Dymaxion
Bathroom, um banheiro modular compacto, pré-fabricado, fácil de ser instalado. O
155

piso era composto por duas camadas de cabos tensionados tendo, entre eles, um
colchão pneumático e, sobre eles, placas sólidas que compunham o assoalho.

Outra invenção, o Dymaxion Car, era um automóvel aerodinâmico de 3 rodas


que podia fazer manobras com impressionante facilidade. Nas suas observações da
natureza, Fuller apreciava a perfeita aerodinâmica e hidrodinâmica dos pássaros e
peixes, bem como o design de qualquer outra criatura cuja forma resultasse em um
máximo de eficiência e um mínimo de resistência. Na sua idealização, queria que o
seu veículo fosse capaz de voar como um pássaro, nadar como um peixe e andar
sobre terreno acidentado como um cavalo. O modelo mais aperfeiçoado foi um triciclo
com rodas de borracha para viagens terrestres, dois motores a jato para viagens
aéreas e a configuração geral de uma mistura de cabeça de ganso com corpo de
golfinho para diminuir a força de arrasto, tanto no ar quanto na água. A idéia era
fornecer os dois juntos para dar total autonomia ao seu usuário e tanto a casa quanto
o carro deveriam ser totalmente autônomos, uma vez fornecidos e instalados não
necessitariam mais de estradas, aeroportos, eletricidade, esgotos, nem outros
serviços que ficam no controle do governo ou das grandes corporações.

Foram construídos alguns protótipos, tanto da casa quanto do carro, este


último inclusive se demonstrou mais aerodinâmico e eficiente que os carros Ford da
época, mas estes projetos não foram adiante, não só por causa dos empecilhos
tecnológicos, relativos a materiais e processos de produção vigentes, mas também
devido a fatores políticos. Eventualmente ele chegou à conclusão que, se tais
inovações autônomas estivessem disponíveis, as pessoas livre-pensantes
concluiriam rapidamente que a burocracia dominante seria dispensável e que, pela
ordem natural das coisas, o Sistema entraria em colapso. Situação essa que para ele
repercutiu como grande fator de entrave, principalmente de financiamentos
necessários para implementação. (SIEDEN, 2000).

Já as Dymaxion Deployment Units (Unidades de Implantação Dymaxion),


casas para produção em massa, chegaram a serem usadas durante a Segunda
Guerra Mundial para abrigar tripulações de radar em locais remotos com climas
severos, mesmo não se tornando populares para habitação civil como ele pretendia.
156

Paralelamente a estes desenvolvimentos, Fuller aperfeiçoava a sua visão


utópica de integrar as atividades socioeconômicas do homem numa Ciência de
Design Antecipatório Abrangente que se ocupasse em, efetivamente, distribuir,
com eficiência e justiça, os recursos do planeta. Para tanto, passou a se interessar
por cartografia, pois estava insatisfeito com as projeções do mapa-mundi existentes,
principalmente a tão divulgada projeção de Mercator, que distorcia o tamanho e a
dimensão dos continentes, além de achatar as massas de terra firme nos pólos. Em
1934, ele argumentava que qualquer um que fizesse um levantamento dos recursos
da Terra necessitaria de uma projeção precisa do mundo, que mostrasse, com um
mínimo de distorção, as formas e dimensões relativas das massas dos territórios, e
isto o levou a patente do Dymaxion Map em 1946, que retrata todo o planeta em um
único mapa plano, sem distorção visível das formas e tamanhos relativos dos
continentes, a primeira patente em cartografia dos últimos 150 anos.

Ele descreve o método de projetar os dados numa superfície plana a partir de


uma superfície esférica (a Terra), com base na geometria do icosaedro esférico. Os
triângulos esféricos são subdivididos por uma malha de Grandes Círculos, em três
sentidos, que, quando planificada, resultava em uma malha triangular equilátera
inclinada a 60º em relação ao horizonte. Isto resulta num mapa que não apresenta
deformações perceptíveis, sendo o primeiro e único a dar uma visão completa da
geografia da Terra sem distorções aparentes das formas e dimensões das massas
continentais. Segundo Fuller: "Uma única ilha num único oceano". Isto também
remete aos seus conceitos de Sinergia existente na natureza e foi concebido para
ajudar a humanidade a enfrentar melhor os problemas do mundo, levando as pessoas
a pensar de forma abrangente, vendo que todos estão numa só ilha em que todos
precisam cooperar em benefício do todo. Desta forma, no início dos anos 1950
cunhou o termo, "Spaceship Earth” (Nave espacial Terra) para descrever a natureza
integral do sistema vivo da Terra. (SIEDEN, 2000)

Por volta de 1947, com o fim da guerra, passou a se dedicar, até o fim da vida,
ao estudo da sua mais famosa estrutura, a cúpula geodésica. Leves, econômicas e
fáceis de montar, elas envolvem mais espaço sem colunas do que qualquer outra
estrutura, distribuem eficientemente o estresse e podem suportar condições
extremas. São baseadas na sua "geometria sinérgica", sua exploração ao longo da
157

vida do design dos princípios da natureza, sendo resultado de suas descobertas


revolucionárias sobre o equilíbrio das forças de compressão e de tensão na
construção.

A partir da década de 1940 ele começou a ensinar e dar palestra em diversas


universidades, incluindo Harvard, MIT, Southern Illinois University (SIU), etc. Em 1950
ele e a esposa Anne passaram a morar na Dome House (uma cúpula geodésica). Em
1961, recebeu o prêmio Charles Eliot Norton Professorship of Poetry em Harvard.
Mesmo tendo sido desprezado no início de sua carreira pelos estabelecimentos de
arquitetura e construção, mais tarde foi reconhecido com grandes prêmios científicos,
industriais, de arquitetura e de design, tanto nos Estados Unidos, quanto no exterior.
Já no final dos anos 60, esteve especialmente envolvido na criação do World Game,
uma simulação em grande escala e uma série de workshops utilizando um grande
Mapa Dymaxion para ajudar a humanidade a entender melhor, aproveitar e utilizar de
forma mais eficiente os recursos no mundo.

Recebeu 47 doutorados honoris causa e foi autor de 26 livros, dentre eles,


Synergetics (com quase 2000 páginas), passando grande parte da vida viajando pelo
mundo dando palestras e discutindo suas idéias com grandes audiências. Foi também
diretor de diversas empresas, dentre elas a: Dymaxion Corporation, Inc.; Geodesics,
Inc.; Synergetics, Inc. e Plydomes, Inc. Em 1983, pouco antes de sua morte, ele
recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honra civil da nação, com
uma citação reconhecendo que suas contribuições como um geómetra, educador e
arquiteto-designer são benchmarks de realização em seus campos. Em 1 de julho do
mesmo ano, Fuller faleceu de ataque cardíaco em Los Angeles (USA). Em 1999, a
biblioteca da Universidade de Stanford adquiriu do Buckminster Fuller Institute os
arquivos originais de Fuller que corresponde ao maior acervo de um único indivíduo
já processado, e levaria anos ou décadas, para passar por toda a coleção, com 450m
lineares de documentos do arquivo pessoal, com correspondências, manuscritos,
planos arquitetônicos, modelos, notas, desenhos, publicações, milhares de artefatos,
documentários e materiais audiovisuais (cerca de 2000 horas de vídeo e gravações
de áudio). Na Figura 91, alguns exemplos da marca Dymaxion.
158

Figura 91 – Casa, Carro, Unidad Implemental e Mapa DYMAXION.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.

3.1.1 AS PRIMEIRAS CÚPULAS GEODÉSICAS DE FULLER

Fuller se dedicou a estudar a geometria esférica, porque havia percebido que


a natureza favorecia esta forma em várias situações em suas observações, seja nos
grandes corpos celestes, ou nos microorganismos do plâncton marinho. Ele intuiu que
tal configuração correspondia ao próprio sistema estrutural da natureza e se dedicou
a compreender ainda mais a matemática da engenharia que resultaria nesse meio
159

tão eficiente de construção. Além disso, o processo que o levou para criação das
cúpulas também foi muito influenciado pela sua experiência de ter trabalhado com
construções, percebendo que os domos já haviam sido empregados desde que os
humanos começaram a construir abrigos. Desta forma, observando os problemas
inerentes a técnicas construtivas convencionais (em oposição à facilidade com que
as estruturas da natureza são erguidas), teve certeza de que podia aperfeiçoar a
técnica de construção esférica encontrada em construções primitivas indígenas, que
utilizavam galhos e dobras de árvores cortadas em forma de domo, cobertos com
peles de animais, folhagens, palha ou outros materiais. (SIEDEN, 2000)

Quando estas ideias começaram a tomar forma, seus modelos iniciais de


cúpulas foram esferas ou seções de esferas construídos a partir do cruzamento de
peças curvadas de material (cada um dos quais representando um arco do grande
círculo) que formavam triângulos. Por isto nomeou a invenção de "Cúpula
geodésica", porque as seções ou arcos de grandes círculos também são chamados
geodésicas. O termo geodésica deriva do latim e significa "dividindo a Terra." Uma
linha geodésica é a menor distância entre dois pontos em uma esfera. Mais tarde,
Bucky expandiu o conceito e transformou as peças curvas em estruturas mais
complexas, inicialmente a partir de poliedros regulares de faces triangulares que eram
unidos para criar uma estrutura de forma esférica. Desta forma, a triangulação
permaneceu, assim como o nome inicial da invenção. (SIEDEN, 2000)

Verificando que as construções de edifícios tradicionais eram focadas em


ângulos retos com configuração ortogonal, ele percebeu que este modelo não era tão
eficiente em grandes construções, pois ao contrário do que ocorre nas cúpulas, gera
sempre a necessidade de que as paredes da base sejam muito mais espessas para
suportar o peso das seções superiores, pois descobriu que as forças de tensão (força
que empurra para fora) e a compressão (força que empurra para baixo) precisam
estar perfeitamente equilibradas em uma estrutura para que esta não entre em
colapso. (SIEDEN, 2000)

Depois de vários estudos e dois anos de cálculos, sua primeira grande cúpula,
com cerca de 15m de diâmetro foi então construída com a ajuda do jovem assistente
Donald Richter. Com orçamento apertado, ela foi levantada no verão de 1948, onde
160

Fuller era professor, no Black Mountain College, na Carolina do Norte/USA, uma das
universidades mais revolucionárias do período, onde também lecionou o arquiteto
Walter Gropius, ex-diretor da Bauhaus. Com uma carga de perfis leves de alumínio
comprada pelo próprio Fuller no grande dia da montagem, quando os parafusos finais
foram fixados e a tensão foi aplicada à estrutura, a frágil estrutura caiu quase que
imediatamente sobre si mesma. Em sua pressa para testar seus cálculos, tinha
procedido sem o financiamento necessário para adquirir bons materiais, e por isto, a
cúpula ruiu. (SIEDEN, 2000)

Mas não desistiu e certamente aprendeu com a experiência. Depois desse


episódio foi ensinar no Instituto Chicago of Design, onde ele e seus alunos passaram
a dedicar grande parte do tempo para desenvolver e testar novos conceitos e modelos
melhores, para então, no verão seguinte, demonstrar o verdadeiro potencial das suas
cúpulas geodésicas. Dessa vez havia juntado dinheiro suficiente com o pagamentos
das aulas para comprar melhores materiais para a nova cúpula, com cerca de 4,2m
de diâmetro, construída com a melhor tubulação de alumínio para aeronaves e
coberta com um laminado de vinil plástico, esta permaneceu fixa e estável no campus
durante todo o verão. Para demonstrar a eficiência do design para instrutores e alunos
céticos, Bucky e oito assistentes ficaram pendurados no quadro da estrutura, como
as crianças em um playground, imediatamente após a sua conclusão. (SIEDEN,
2000)

A Figura 92 mostra algumas imagens de Fuller com seus alunos, modelos e


cúpulas geodésicas, e a Figura 93, contêm alguns desenhos de patentes das
geodésicas.
161

Figura 92 – Imagens de Fuller com seus alunos, modelos e cúpulas geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.


162

Figura 93 – Imagens de desenhos das Patentes de Cúpulas Geodésicas de Fuller.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.


163

Em 1953, Fuller foi chamado por Henri Ford II (neto de Henri Ford) para cobrir
o pátio do edifício da sede corporativa em Dearborn (USA) em detrimento a
comemoração do quinquagésimo aniversário da empresa. O prédio era de valor
inestimável para o avô, que sempre amou o edifício redondo conhecido como
Rotunda, mas queria que o pátio interior fosse coberto para que o espaço pudesse
ser protegido e utilizado durante o mal tempo. (SIEDEN, 2000)

Tendo sido concebido como uma estrutura temporária, o edifício Rotunda era
frágil e não poderia suportar o peso de 160 toneladas que os engenheiros da Ford
haviam calculado para um domo de aço com estrutura convencional para a época.
Sob esta pressão, as paredes finas do edifício entrariam em colapso, mas ainda
assim, Henry Ford II era uma pessoa determinada, e queria o pátio coberto. Para
resolver a situação, se sugeriu chamar Bucky, pois embora sua cúpula geodésica
ainda não tinha sido executada em nenhum projeto industrial, decidiram que deviam
ao menos solicitar sua opinião. Quando ele examinou a situação, respondeu que
certamente poderia fazer, e que a sua cúpula com cerca de 27m de envergadura
pesaria apenas 8,5 toneladas, cerca de 20x mais leve que a estimativa dos
engenheiros da Ford, ficando também abaixo da expectativa o orçamento para o
projeto, mesmo com tempo apertado para conclusão da obra, que se tende a ser mais
oneroso. O acordo foi assinado em janeiro de 1953, para se cumprir o prazo até abril.
Os engenheiros da Ford ficaram incrédulos, não se convencendo que as afirmações
do inventor eram válidas, por isto, começaram a trabalhar em um plano de
contingência, que não chegou a ser colocado em ação porque a cúpula foi concluída
com êxito, dois dias antes do previsto. (Figura 94) (SIEDEN, 2000)

As seções da cúpula foram pré-fabricadas e, em seguida, suspensas a partir


de um mastro central, por isto, não foi necessário um andaime perigoso. A equipe de
construção trabalhou a partir de uma ponte erguida na parte superior do pátio. A
cúpula foi montada com cerca de 12.000 suportes de alumínio, cada um com cerca
de 1m de comprimento e pesando apenas 0,14kg. Uma vez que cada seção pesava
apenas cerca de 1,8kg, era levantada por uma única pessoa, sem necessidade de
guindaste ou maquinaria pesada para içar até a área de montagem. Para completar
e fechar a estrutura, lâminas de fibra de vidro tranparente foram instalados nos
pequenos painéis triangulares do quadro. Neste tempo, Fuller ainda não tinha
164

desenvolvido uma forma melhor de fixar os painéis. A cúpula do edifício Rotunda


obteve êxito durante vários anos antes dos elementos começaram a ter problema de
vazamento, que com a manutenção regular, o problema não era grave, e os eventos
corporativos sob a cúpula se tornarão tradição. Porém, num desses eventos, o
encontro anual da Ford no Natal de 1962, próximo da ocasião, uma manutenção para
conter os vazamentos, usando um maçarico para reparos com uma mistura de
gasolina para diluir o piche (prática comum na época), causou um grande incêndio.
Uma vez que não tinha sido planejada para ser uma estrutura permanente, a Rotunda
foi envolvida em chamas que destruíram o edifício e a primeira cúpula geodésica
comercial.

Mas isto não impediu a notoriedade fornecida pelo projeto Ford, que resultou
num enorme interesse público quase que instantâneo em Fuller e suas ideias,
chamando a atenção de um grupo de cientistas que estavam lutando com outro
problema aparentemente insolúvel: a proteção das instalações de radar em todo o
Ártico. Mais uma vez, sua incrível cúpula geodésica de fibra de vidro surpreendeu
todos os especialistas, provando que a estrutura era mais do que capaz de lidar com
essa difícil tarefa. (SIEDEN, 2000)

Figura 94 – Imagens da cúpula geodésica da Rotunda, FORD.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.


165

A primeira aceitação mundial pela comunidade arquitetônica ocorreu com a


Triennale de 1954 em Milão (IT), estabelecida para a realização de exposições
internacionais com o objetivo de apresentar as realizações mais inovadoras nas áreas
de design, artesanato, arquitetura e urbanismo. O tema do ano foi: A vida entre o
artefato e a natureza, estando perfeitamente de acordo com o trabalho que tinha
iniciado para ajudar a fazer com que os recursos finitos da Terra atendessem as
necessidades de toda a humanidade sem interromper os processos ecológicos do
planeta. Mas não estava inscrito para competir no evento e sim para expor um design
de interior. Foram eviados então, 2 domos de papelão de 13m de diâmetro, que
faziam parte da exposição da Geodesics, Inc. e poderiam ser facilmente enviados e
montados com as direções impressas para facilitar o processo (Figura 95). Dessa
forma, foram instalados no jardim do castelo de Sforzesco em Milão e causou
tamanha repercussão que ganhou o maior prêmio do evento, mesmo sem ter sido
inscrito para competir, o que demonstrava o seu grau de vanguardismo e inovação.

Figura 95 – Imagens da cúpula geodésica de papelão apresentada na Trienalle de 1954 (Milão/IT).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.

Depois disso, os desenhos esféricos que podem sustentar seu próprio peso,
foram logo notados pelo governo dos EUA, que contratou a empresa do arquiteto, a
Geodesics Inc., para fazer pequenas cúpulas para o exército, dessa forma, os
militares norte-americanos se tornaram um de seus maiores clientes, usando as
166

cúpulas leves para cobrir estações de radar em instalações ao redor do Círculo Polar
Ártico e da Antártida, além de moradias rápidas e fortes para suportar a alta
velocidade dos ventos frios para os soldados no exterior. Assim, serviram para várias
finalidades na época das expedições americanas: como casa, abrigos, laboratórios
de equipamentos científicos, bases marítimas, espaciais, etc. (Figura 96)

Figura 96 – Imagens dos Domos Polares.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.

Em abril de 1960 ele montou a primeira casa cúpula em Carbondale, a Fuller


Dome Home e nela viveu com sua esposa Anne até 1971 (Figura 97). Desde de
2002, uma organização sem fins lucrativos decidiu transformar o local num museu a
honrar o legado de Bucky, promovendo o trabalho, os princípios e o seu compromisso
de lidar com as necessidades mais básicas do mundo, preservando seus artefatos e
fornecendo programação no espírito da esperança Fuller para promover educação
omni-bem-sucedida e um sustento de toda a humanidade. O museu preserva a casa
cúpula original localizada na Ave. South Forest, 407 (Carbondale, Illinois/USA) e é
liderado por um Conselho de administração formado por educadores, arquitetos,
designers, artistas, eméritos aposentados, organizadores comunitários e líderes que
representam uma confluência diversificada de indivíduos que se dedicam a
manifestar os ideais de Bucky hoje.
167

Figura 97 – Imagens do Dome Home de Fuller em Carbondale (USA).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.

Mais tarde, a cúpula geodésica mais famosa de Fuller foi construída para ser
o pavilhão dos Estados Unidos na feira internacional EXPO 1967 na ilha de Sainte-
Hélène em Montreal (Canadá), a Biosphère, como chamou Fuller, com 76,25m de
diâmetro e 61m de altura (equivalente a um prédio de 20 andares). Ele empregou um
módulo estrutural composto apresentando um triangulo na face externa e um
hexágono no lado interno para se ajustar ao arco. Estes elementos estavam
distanciados um metro na base e se aproximavam à medida que a edificação ganhava
altura. Para fechar toda a estrutura, foram utilizados 1900 painéis moldados em
acrílico, estes elementos conectados distribuem o peso da estrutura por toda a
superfície externa até tocar o solo. Para evitar a forma usual da meia esfera que
provocaria uma aparência achatada, o pavilhão foi projetado na forma de 3/4 da
esfera. (DINIZ, 2006)
168

Esta foi a mais complicadas de suas cúpulas, pois usava um elaborado sistema
de telas de sombreamento retráteis, a fim de controlar a insolação e temperatura
interna, e eram operadas por computador de acordo com o giro solar, permitindo a
respiração do edifício. O sistema não funcionou perfeitamente na ocasião, talvez por
estar avançado demais para a época, como usualmente era a mente do idealizador.
Mas o Pavilhão obteve grande sucesso, recebendo cerca de 11 milhões de pessoas
em seis meses. A construção é famosa até hoje não só por sua forma, mas também
pelo conteúdo apresentado na exposição. Além de sua forma marcante, era o único
transpassado pelos trilhos do mini-trem que circulava toda a exposição. (DINIZ, 2006)

Sobre a exposição, os curadores decidiram focar na Cultura Americana e na


conquista do espaço exterior sob o tema de América Criativa. Baseados na premissa
que não faria sentido provar a superioridade da tecnologia americana, já evidente,
organizaram o conteúdo em quatro setores temáticos. O primeiro era o Espírito
Americano, apresentava centenas de artefatos da arte popular. O segundo era o
Destino Lua, a parte mais popular do pavilhão, o setor era alcançado através da maior
escada rolante até então construída com 40 metros na plataforma, que ilustrava o
ambicioso programa Apollo que levou o homem à lua em julho de 1969. Mostrava
cápsulas espaciais reais como a Freedom Seven Mercury usada por Alan B. Shepard
em 1961 e a Gemini VII. Também foram mostrados foguetes, grandes maquetes de
satélites e paraquedas pendurados no teto do pavilhão, assim como uma convincente
reprodução da paisagem lunar onde a vida no espaço era apresentada através de
vestimentas, equipamentos e alimentos usados pelos astronautas. (DINIZ, 2006)

Outro setor intitulado de Pintura Americana, continha 23 grandes telas de


artistas reconhecidos nos anos 60, dentre eles, James Rosenquist, Claes Oldenburg,
Andy Warhol, Jaspter Johns, Jim Dine, Ellsworth Kelly, Barnett Newman, Robert
Rauschenberg e Roy Lichtenstein. O último setor, chamado: Máquina dos Sonhos,
era devotado ao cinema de Hollywood, num misto de informação e entretenimento.
Fotos gigantes mostravam atores e atrizes como Mary Pickford e Marlon Brando e
três telas passavam trechos de musicais e cenas de amor de filmes famosos como O
Vento Levou. Os organizadores da EXPO 67 conceberam o evento no sentido de
celebrar a colaboração e entendimento entre os povos em vez de exibir conquistas
industriais e tecnológicas. (DINIZ, 2006)
169

Quase 40 anos depois, a Biosphère de Buckminster Fuller sobreviveu ao teste


do tempo e se transformou através de seu poder evocativo, numa ilustração
eloqüente da intenção de unir tecnologia e natureza. Mesmo sofrendo um incêndio
em seus painéis de acrílico e restando apenas a estrutura, ela ainda é um símbolo
vivo do Homem e seu Mundo, que capturou a imaginação de milhões de visitantes e
ainda está lá, restaurada por Eric Gauthier, confirmando o status de Montreal como
uma cidade internacional. (DINIZ, 2006)

Atualmente a Biosfera de Montreal é um museu interativo que trabalha no


sentido de despertar a consciência a respeito do ecossistema dos Grandes Lagos e
do rio Saint-Lawrence. Em função de sua arquitetura específica, o consumo de
energia nesta construção é substancialmente reduzido, a combinação de sistemas
geotérmicos e tecnologias de ponta produz uma impressionante eficiência energética.
Comparados com as opções elétricas convencionais, o sistema geotérmico promove
uma redução no consumo de energia de 459MWh ou 21% anuais, o que é significante
considerando o uso extensivo de janelas na construção e o clima nórdico do Canadá.
(DINIZ, 2006)

A Figura 98 mostra algumas imagens da época e de hoje da Biosphère,


Pavilhão dos Estados Unidos na EXPO 67 de Montreal.
170

Figura 98 – Imagens da cúpula geodésica de Montreal/Canadá (Biosphère).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.


171

Em 1965, concebeu o Fly's Eye Dome (“olho de mosca”), uma geometria


peculiar, mais orgânica, que apesar de não parecer, guarda os mesmo princípios
construtivos da modulação triangular dos domos convencionais (Figura 99). Ele
projetou a cúpula como sua idéia da casa portátil acessível, do futuro, com janelas e
aberturas redondas na cúpula para manter painéis solares e sistemas de coleta de
água, permitindo assim que a cúpula fosse auto-suficiente, e ainda pudesse ser
transportada por aeronaves, uma versão atualizada da Dymaxion House, que ele
chamou de "máquina de habitação autônoma". Planejou fazer a estrutura modular
barata e portátil, mas o projeto não vingou e ele só construiu apenas três protótipos
de diferentes diâmetros: 3,6m (atualmente pertence à Norman Foster); 7,3m
(atualmente pertence à Craig Robins) e um de 15,24m (atualmente reside no parque
de Toulousse/FRA, construído com 50 peças iguais de 4,5mm de espessura).

Na década de 1970 ele havia patenteado o conceito do Fly’s Eye Dome, mas
só o desenvolveu anos depois com John Warren, surfista e especialista em fibra de
vidro da Califórnia que inspirado por Bucky, construía suas próprias cúpulas, as
Turtle-Dome (de hexágonos e pentágonos), e as vendia como abrigos de férias.
Fuller mostrou o projeto e o contratou para construir em fibra de vidro, então Warren
fez um protótipo de 3,6m de diâmetro, que Fuller ficou tão satisfeito com o resultado,
que encomendou outros dois maiores. Quando ficaram prontas, exibiu a maior delas
numa exposição em Los Angeles, em 1981.

Quando faleceu, as três cúpulas ficaram armazenadas e só em 2012 o


Buckminster Fuller Institute começou a procurar colecionadores para comprar e
restaurar as cúpulas já em estado de grave deterioração. "Foi incrivelmente
importante levá-la ao mundo", disse Elizabeth Thompson, diretora executiva do
Instituto que chamou Robert Rubin, proprietário de casas icônicas, e ele
imediatamente adquiriu a cúpula maior para fazer parte do recém-renovado festival
de arte de Toulouse, encontraram uma localização ideal na margem do rio em Port
Viguerie, onde estaria no centro do festival brilhando magnificamente com sua nova
pintura. John Warren foi ajudar a instalá-la e revê-la após 35 anos que havia
construído.
172

Figura 99 – Imagens do Fly’s Eye Dome em sua idealização e atualmente em Miami (USA).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN e de (BALDWIN,


1996).
173

Outras cúpulas famosas receberam consultoria de Fuller, uma delas foi a


grandiosa cúpula para a Union Tank Car Company, em 1959, com 117,04m de
diâmetro e 73m de altura, em Louisiana (USA). Apresentava dupla camada, com
emprego de um conjunto do tubo e da tela por um lado, e células hexagonais pré-
fabricadas por outro lado, criando uma estrutura indeformável. Também notável, a
cúpula do Climatron, em Saint-Louis (USA), construída em 1960 com 53m de
diâmetro e 21m de altura, também apresentando dupla camada com malhas
hexagonais em alumínio recoberta de plexiglas, cobrindo o Jardim Botânico. E
também, a Spruce Goose Hangar Dome em 1976, construída para abrigar o
grandioso hidroavião Spruce Goose, em Long Beach (USA) (Figura 100). (MARTINS
JÚNIOR, 2008)

Figura 100 – Imagens das cúpulas geodésicas do Union Tank, Climatron e Spruce Goose Hangar.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN.


174

Nesta compilação das mais representativas cúpulas, não poderia deixar de fora
o projeto utópico em que Fuller propôs uma biosfera para regular o clima e reduzir a
poluição do ar na cidade de Nova York em 1959. Segundo o biógrafo Alden Hacth, o
projeto consistia em uma cúpula de 3,22km de diâmetro cobrindo parte da cidade, da
rua 22th a 62th, alegando que as economias em condicionamento de ar, ruas limpas,
remoção de neve e horas de trabalho perdidas resultante do frio, pagariam
rapidamente o investimento inicial de US$200 milhões (para se ter idéia, de acordo
com o New York Times, a cidade gastou US$ 92,3 milhões removendo a neve no ano
de 2014) (Figura 101). De acordo com sua análise, esta cúpula teria o peso avaliado
em torno de 4000 toneladas e poderia ser montada em seções de cinco toneladas
com auxílio de helicópteros em um período de três meses.

Figura 101 – Imagens da cúpula geodésica proposta por Fuller para a cidade de NY.

Fonte: http://www.treehugger.com/urban-design/look-bucky-fullers-dome-over-new-york-city.html.
Acesso em: 05 set 2016.

Uma das geodésicas mais famosas do mundo é a Spaceship Earth (Nave


Espacial Terra), o maior ícone do parque temático do Epcot Center (Disney
World/USA), inaugurada em 1982 em Orlando, na Flórida. Trata-se de uma esfera
geodésica com 49m de diâmetro composta de 954 painéis triangulares. O passeio
dentro dela também é chamado de Spaceship Earth, onde os visitantes experimentam
uma viagem através do tempo, sendo mostrado como os avanços na comunicação
175

humana ajudaram a criar o futuro. A atração envolve um cronograma desde as


origens do homem pré-histórico até o alvorecer do século 21, projetada com a ajuda
do escritor de ficção científica Ray Bradbury. (HENCH, 2009)

Walt Disney estava profundamente interessado no progresso e no trabalho de


grandes futuristas de seu tempo, como Ray Bradbury, mas a grande mente, em
particular, que realmente inspirou o nome e a forma da atração clássica do Epcot foi
mesmo a de Fuller, quando em 1968, publicou o livro "Manual de Operações para a
Nave Espacial Terra", no qual ele chama as pessoas de astronautas e descreve o
planeta Terra como uma nave que precisa de manutenção contínua para continuar
operando, assim como ocorre num veículo. Isto acabou por dar a ideia para o nome
da atração e da obra.

De acordo com John Hench em seu livro "Designing Disney", o trabalho de


Fuller foi uma enorme inspiração para moldar o que se tornaria o ícone do parque,
ele diz que desde o início pensaram numa grande esfera como ícone do Epcot
(Experimental Protótipo da Comunidade de Amanhã), um parque temático focado em
inovações tecnológicas, que precisava de uma peça central para encarnar o tema do
parque e atrair os convidados, mas ainda, ter espaço suficiente para abrigar dentro
dela a atração. Como haviam visto a cúpula da Expo '67 em Montreal e sabiam sobre
suas ideias sobre a Spaceship Earth, tudo casou com os ideias do projeto. (HENCH,
2009)

A parte superior do Epcot apresenta 3/4 da geodésica que repousa sobre uma
plataforma com 6 apoios, e o fundo com os restantes 1/4 da geodésica. Estes apoios
suportam a plataforma de aço no perímetro da esfera, a cerca de 30 graus. A parte
superior apoia-se na plataforma e sua grade de aço suporta as duas estruturas
helicoidais do sistema de passeio do show no interior da geodéisca. A construção
levou 26 meses e 40.800 horas de trabalho. Um carro pequeno de serviço é
estacionado entre as superfícies estruturais e de revestimento, e pode carregar um
técnico para fazer reparos. Precisavam de um exterior impermeável e resistente ao
fogo para proteger os visitantes, como ainda não havia nenhum material que pudesse
realizar tudo, nasceu então o conceito de esfera dentro da esfera para resolver o
problema. (HENCH, 2009)
176

Os painéis triangulares de aço com uma folha de neoprene impermeabilizante


foram ligados para formar a estrutura interna. A estrutura externa seria puramente
estética e para isto escolheram o material chamado Alucobond, que contém um
plástico de polietileno intercalado entre duas folhas de alumínio. A estrutura básica
do invólucro interno é uma matriz de grandes triângulos, e para a casca externa, John
decidiu subdividir cada um dos grandes triângulos em 4 triângulos menores e cada
um desses em pirâmides triangulares feitas de Alucobond, o que é visto na Spaceship
Earth. Em teoria, existem 11.520 triângulos isósceles totais formando 3840 pontos,
mas na realidade, alguns desses triângulos são parcialmente ou totalmente
inexistentes devido a suportes e portas. Outra questão resolvida no projeto é o
escoamento da água da chuva, ao deixar lacunas entre as facetas de Alucobond, a
água da chuva escorre para a estrutura interior impermeável, onde se acumula em
um sistema de calha escondido perto do equador, em seguida, é levado para a Lagoa
World Showcase. (HENCH, 2009)

Uma última cúpula a ser referenciada trata-se do Telus World Science


(Vancouver/CAN). Esta não obteve consultoria de Buckminster, mas seu arquiteto,
Bruno Freschi, expôs ter sido muito influenciado por ele quando concluiu o projeto em
1985 para sediar a EXPO 86. Hoje, a estrutura comporta um grande teatro.

Todos estes projetos remetem a vantagem estrutural das geodésicas de


manter sua forma simplesmente pela natureza de seu projeto. Na verdade, mais na
frente se verá que quanto maior a cúpula, mais forte ela se torna. A diversidade das
aplicações das geodésicas de Buckminster Fuller em seu tempo, do ponto de vista
funcional, escolha dos materiais e condições climáticas, são um reflexo da eficiência
da sua teoria estrutural. Muitos projetistas foram e são inspirados em todo o mundo
por estas geodésicas, que de tão leves, podiam ser entregues prontas de avião no
local, respondiam a todas as condições climáticas e que resultou em mais de cem
indústriais que se beneficiaram de licenças para fabricação. (MARTINS JÚNIOR,
2008)

Por fim, na Figura 102, imagens com detalhes da geodésica Spaceship Earth
do Epcot (USA) e também do Telus World Science em Vancouver (CAN).
177

Figura 102 – Imagens da esfera geodésica Spaceship Earth Orlando (USA) e da cúpula do Telus
World Science em Vancouver (CAN).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do BIODESIGN e


http://www.disneyparkhistory.com/spaceship-earth.html. Acesso em 05 set 2016.
178

3.2 A Geometria das Cúpulas Geodésicas de Fuller

A geometria das geodésicas normalmente corresponde a um poliedro esférico


de faces planas triangulares cujos vértices coincidem com a superfície de uma esfera
imaginária que o circunscreve. Quando completa, é chamada de esfera geodésica, e
domo ou cúpula geodésica quando incompleta, parecer apenas uma fração da esfera
geodésica. (Figura 103)

Figura 103 – Exemplo de esfera e domo ou cúpula geodésica.

Fonte: Elaborado pela autora adaptado de


https://simplydifferently.org/Geodesic_Polyhedra?page=10#Geodesic Icosahedron. Acesso em: 07
set 2016.

Na maioria das vezes, derivam da divisão das faces dos poliedros regulares
platônicos de face triangular, ou seja, do tetraedro, do octaedro e do melhor e mais
comum a ser utilizado, inclusive por Fuller, do icosaedro (20 triângulos regulares),
por ser o mais arrendondado dos 3. (Figura 104)

Figura 104 – Tetraedro, octaedro e icosaedro, chamados por Fuller de “os três sistemas estruturais
primários no Universo “.

Fonte: Elaborado pela autora adaptado de https://simplydifferently.org/Geodesic_Polyhedra. Acesso


em: 07 set 2017.
179

Esta divisão dos triângulos maiores em triângulos menores pode ocorrer de


diversas formas, gerando diferentes desenhos para cúpulas geodésicas em potencial.
A Figura 105 correponde às 3 classes Geodésicas derivadas do icosaedro (Classes
I, II e III), com suas diferentes formas de divisão, porém, serão explicadas apenas as
classes 1 e 2, pois não foram encontradas descrições, nem exemplos da Classe III.
A mais usual e comum dentre elas é a Classe I, também chamada Alternate, em
virtude de uma menor quantidade de triângulos gerados, e pela pequena diferença
de tamanhos entre eles. Apresentam a divisão apenas em linhas paralelas a cada
lado do triângulo, e é esta classe que Fuller mais representou e será esta que este
trabalho abordará. A outra é a Classe II, também chamada Triacon, cuja divisão se
dá por linhas ortogonais à cada lado do triângulo (possuem 90º com cada lado).
Observa-se um maior número de triângulos gerados nesta que na Classe I.

Figura 105 – Exemplos de Classes de Geodésica, Classe I e Classe II.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Kitrick, 2004 e


https://simplydifferently.org/Geodesic_Polyhedra?page=10 Acesso em: 07 set 2016.

Uma outra característica importante associada às cúpulas geodésicas trata da


freqüência, representada pela letra grega (Nu) v, que indica quantas vezes cada lado
do triângulo principal é subdividido. Quanto maior o número da frequência, maior o
número de divisões e de triângulos, e portanto, maior a sua resistência, mais redonda
é a sua aparência e também maior é a sua complexidade.
180

Para facilitar o entendimento, pode-se associá-la com a densidade de


triângulos. Por exemplo, para gerar diferentes estruturas geodésicas com o mesmo
diâmetro, basta aumentar o número da frequência. Os três sólidos platônicos, o
tetraedro, o octaedro e o icosaedro, são consideradas esferas geodésicas de
frequência 1 (1v). Considerando-se uma esfera geodésica derivada do icosaedro da
Classe I, para f=2v, divide-se com linhas paralelas a cada lado do triângulo por 2
cada lado da face triângular, gerando 4 triângulos menores, para f=3v, divide-se por
3 cada lado, gerando 9 triângulos menores, e assim por diante. O número de
triângulos gerados por cada triângulo dividido é derivado da formula: frequência ao
quadrado - (f)², ou seja, para f=5v, existirão (5)²,ou seja, 25 triângulos. (Figura 106)

Figura 106 – Números de triângulos gerados da divisão do triângulo base do icosaedro de acordo
com o número da frequência.

Fonte: Elaborado pela autora.

Dessa forma, para obter o número de triângulos total da geodésica derivada


do icosaedro, basta multiplicar o valor encontrado do número de triângulos menores
por 20, ou seja, para uma geodésica de frequência 2, se terá 80 triângulos ao todo,
ou, 40 para o domo, f=2 (f²=2²=4 x 20 = 80 triângulos para a esfera, e 40 para o domo).
Então, a esfera geodésica completa 3v terá 180 triângulos, 4v terá 320 triângulos,
5v terá 500 triângulos, 6v terá 720 triângulos, e assim por diante.
181

A Figura 107 mostra diferentes frequências para gerar as esferas geodésicas


derivadas dos 3 sólidos platônicos, observa-se bem as divisões mais regulares nas
geodésicas derivadas do icosaedro, devido a isto, e por ser o sólido mais usado por
Fuller, que experimentou as vantagens econômicas desta escolha, a partir de agora,
quando se falar de esfera geodésica neste trabalho, será referente a Classe I derivada
do icosaedro. Embora, deixa-se claro que existem outras cúpulas derivadas de
sólidos diferentes e até mesmo de diferentes métodos.

Figura 107 – Geodésicas de diferentes frequências derivadas do tetraedro, octaedro e icosaedro

. Fonte: Elaborado pela autora adaptado de


http://phrogz.net/CSS/Geodesics/VariousGeodesics_planar.png. Acesso em: 07 set 2016.

Percebe-se então, que o segredo que define a transformação do poliedro em


uma geodésica acontece quando essa divisão em triângulos menores passa para o
espaço 3D, com a alteração do comprimento das linhas internas desenhadas e
geração de ângulos, dando ao sólido uma aparência mais esférica. Nesta projeção, o
tamanho que era regular nas hastes do triângulo original do icosaedro, passa a sofrer
variações, ou seja, tais triângulos deixam de ser equiláteros e começam a ter
tamanhos de hastes diferentes. Observa-se que este também é o motivo pelo qual se
prefere utilizar o icosaedro, pois apresenta mais regularidade e pouca diferença de
tamanhos dos triângulos gerados do que o tetraedro e o octaedro, e isto facilita a
fabricação. Numa geodésica 2v Classe I, se terá 2 tamanhos de haste, numa 3v, 3
182

tipos, numa 4v, 6 tipos, etc., como se verá de forma mais detalhada adiante. (DAVIS,
2004)

Uma observação importante é que a geodésica resultante terá sempre seis


triângulos em cada vértice, exceto aqueles localizados nos doze vértices do icosaedro
original, que continuam a juntar cinco triângulos (Figura 108). O sistema pode ter
indefinidamente muitos vértices com 6 triângulos (configuração hexagonal), mas a
existência de exatamente 12 vértices com 5 triângulos (configuração pentagonal) é
uma característica e pré-requisito para se obter geodésicas derivadas do icosaedro,
ou seja, independente da frequência, se terá apenas 12 pentágonos (para uma
geodésica inteira) e 6 pentágonos (para o domo hemisférico ou uma fração menor
dele). (EDMONDSON, 2007)

Figura 108 – As geodésicas derivadas do icosaedro possuem organização dos triângulos em 12


pentágonos e hexágonos em números variáveis.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0717-


69962013000200003&script=sci_arttext&tlng=en. Acesso em: 07 set 2016.

Em outras palavras, como seus triângulos são normalmente organizados em


pentágonos e hexágonos, pode-se juntar os triângulos e formar geodésicas apenas
com estes 12 pentágonos e hexágonos, configuração vista nas “buckyballs”
(alotrópico do C60), esta organização possui menor força estrutural e é menos estável
que a situação triangulada, mas facilita a montagem de cúpulas enormes, pois diminui
o número de componentes, e consequentemente, o número de conexões, conceito
183

usado no Eden Project, a maior estufa do mundo, que mais adiante será melhor
analisada. Também pode-se obter esta configuração de geodésica hexa-penta
através do dual de qualquer geodésica triangulada. Os poliedros duais são também
chamados recíprocos, as faces do dual correspondem aos vértices do original, assim
como seus vértices correspondem às faces do original. A buckyball derivada do dual
de uma geodésica de frequência 3 é também um sólido de arquimedes chamado de
Icosaedro truncado. (Figura 109)

Figura 109 – Buckyball, configurações hexa-penta nas geodésicas, sólido pode ser derivado do dual
da geodésica icosaédrica ou do truncamento do icosaedro.

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de


https://simplydifferently.org/Geodesic_Polyhedra?page=13#Geodesic Truncated Icosahedron.
Acesso em 07 set 2016.

Outros padrões de divisões mais complexos também podem ainda ser


adotados, com variações no tamanho dos triângulo base do icosaedro, divisão em
forma de estrela, adição ou remoção de partes de seus variantes
pentágono/hexágono, ou seja, se pode formar novos módulos baseados na mesma
geometria triangular, mas formando novos rearranjos; ou ainda, um padrão ainda
mais complexo onde o domo resultante se apresenta ondulado ou curvo. Enfim, são
muitas as possibilidades. A superfície da esfera também pode ser dividida e
posteriormente estruturada em faces de camadas duplas (double layer faces), que
reforçam a força estrutural de cúpulas de grandes dimensões. Na Figura 110 são
184

mostrados alguns exemplos dessas variações e de camadas dupla a partir de uma


divisão triangulada. (DINIZ, 2006)

Figura 110 – Diferentes padrões de geodésicas por modificação ou rearranjo do triângulo principal e
exemplo de camada dupla.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do Laboratório do Biodesign.

Sabendo-se o raio da cúpula que se pretende construir e definindo a frequência


que se deseja, há a possibilidade de calcular as dimensões, quantidade das barras e
nós que são necessários. Para facilitar estes cálculos, normalmente usa-se uma
185

calculadora geodésica, disponível em diversos websites na internet, tais como o


http://www.desertdomes.com ou o http://www.domerama.com/calculators/. Eles
fornecem de maneira mais rápida e prática, o número de arestas, vértices, faces,
ângulos e dimenções das barras necessárias, além de gerar um prático modelo virtual
tridimensional, organizando os tamanhos das diferentes barras por cores distintas, o
que ajuda na construção prévia de uma maquete para facilitar a montagem.

Como pode ser visto no exemplo do desertdome na Figura 111, o diagrama


mostra 3 cores diferentes, para os 3 tamanhos de arestas/barras diferentes, o
tamanho A (amarelo) para as barras internas dos pentágonos, o tamanho C
(vermelho) para as barras internas do hexágono e o tamanho B (azul), para as barras
do contorno externo dos pentágonos e hexágonos. Uma dica para identificar a
frequência do triângulo base/principal apenas olhando um diagrama é sempre ligar
os pontos do centro de 3 pentágonos numa formação triangular, e contar o número
de triângulos menores inscritos em um dos lados, no caso desse exemplo, são 3,
então a frequência é 3v.

Figura 111 – Exemplo de calculadora Geodésica com diagrama de montagem.

Fonte: www.desertdomes.com/dome3calc.html. Acesso em: 3 fev 2016.

Esta ferramenta tem ajudado muitas pessoas a conseguirem construir suas


próprias cúpulas, isto é possível porque alguns dados importantes para estes
cálculos, como o Strut fator (fator de suporte) e o ângulo que se necessita para cada
186

haste, possuem uma tabela de valores fixos para cada frequência. O Strut fator é
ligado ao tamanho das barras, sendo diretamente proporcional ao raio, então, a
fórmula para o comprimento de C(A) = Strut fator(A) x raio do domo. No exemplo
acima, o Strut fator para A na frequência 3v é de 0.34862, se o raio for 2m, então o
seu comprimento deve ser 0.697m ou 69,7cm. Nas Figuras 112 e 113 mostram
tabelas com estes valores fixos do Strut fator e dos ângulos de todas as barras para
as frequências 1v, 2v, 3v, 4v, 5v e 6v e também os diagramas com os triângulos base
para ajudar a identificar os diferentes comprimentos de barras, nestas figuras também
fica mais clara a identificação desse triângulo principal derivado do icosaedro.
Observa-se ainda que quanto maior a frequência, maior a quantidade de barras
diferentes.

Fórmulas para geodésicas derivadas do icosaedro, Class I, onde:

(nu) v = frequência, V é a quantidade de vértices (nós) necessários, F é a


quantidade de faces ou triângulos gerados, E é a quantidade de arestas ou barras, C
é o comprimento da aresta ou barra e r é o raio do domo.

1) V= 10v²+ 2
2) F= 20v²
3) E= 30v²
4) C = Strut fator x r

Com estas fórmulas, as tabelas com os struts fator e os ângulos, fica mais fácil
conseguir desenvolver geodésicas de frequência 1v até 6v. Para frequências maiores
será necessário calcular o strut fator e os ângulos para a nova frequência ou ter
acesso a estes dados através de alguma empresa especializada em fabricação
personalisada de domos geodésicos.
187

Figura 112 – Tabelas com os Strut Fator e os ângulos e diagramas para as frequências 1v, 2v e 3v.

(Fonte: http://www.desertdomes.com/formula.html; http://www.domerama.com/calculators/. Acesso


em: 3 fev 2016.
188

Figura 113 – Tabelas com os Strut Fator e os ângulos e diagramas para as frequências 4v, 5v e 6v.

Fonte: http://www.desertdomes.com/formula.html; http://www.domerama.com/calculators/. Acesso


em: 3 fev 2016.
189

Ainda sobre estes ângulos, é possível observar que para uma montagem com
barras, estas não são curvas, permanecem retas, havendo a necessidade apenas de
que suas extremidades sejam curvadas de acordo com os ângulos da tabela, se pode
fazer isto apertando a extremidade em um torno e dobrando o tubo até um gabarito
com o ângulo desejado. A precisão da curva não é tão importante, pois na montagem
os ângulos se ajustam e os suportes vão dobrar para os ângulos exatos por conta
própria. Dessa forma, para facilitar o trabalho e a execução de gabaritos numa
montagem, pode-se arredondar estes ângulos de flexão da seguinte maneira:

1) Cúpula 1v: Todas com 32º em cada extremidade.


2) Cúpula 2v: Barra A com 18º, e B com 16º em cada extremidade.
3) Cúpula 3v: Barra A com 10º, B e C com 12º em cada extremidade.
4) Cúpula 4v: Todas as barras com 7º-9º em cada extremidade.
5) Cúpula 5v: Todas as barras com 6º-7º em cada extremidade.
6) Cúpula 6v: Todas as barras com 5º-6º em cada extremidade.

As seguintes Figuras 114, 115 e 116 apresentam os valores e informações


necessárias sobre cúpulas geodésicas de frequências 1v, 2v, 3v, 4v, 5v e 6v, numa
simulação de ambas com o mesmo diâmetro (6m), para se verificar as diferenças de
valores, configuração, ângulos, quantidade e comprimentos das hastes, quantidade
e tipos de conectors (nós), que podem variar para 4, 5 ou 6 conexões na situação
de domo e apenas 5 e 6 nas esferas geodésicas.

Outro detalhe que se deve atentar é que as frequências geodésicas de número


ímpar normalmente não vão gerar domos ou hemisférios perfeitos (1/2 da esfera
geodéica), mas frações da mesma. A 1v corresponde a 2/3 da esfera geodésica; a
3v e a 5v geram 2 tamanhos, 3/8 e 5/8 da esfera geodésica, e assim por diante
(Figura 117). Por conta disso, possuem uma base irregular (borda em zigue-zague),
ou seja, não tem uma base plana, porém, existem versões chamadas Kruschke
method, que modificam os tamanhos e ângulos das barras para forçar esse apoio
plano na base, além disso, não apenas estas, mas qualquer esfera geodésica pode
ser dividida em diferentes frações.
190

Figura 114 – Tabela de dados e representações das geodésicas 1v e 2v com 6m de diâmetro.

Fonte: http://www.desertdomes.com/formula.html; http://www.domerama.com/calculators/;


https://simplydifferently.org/Geodesic_Dome_Notes?page=3#The Icosahedron. Acesso em: 3 fev
2016.
191

Figura 115 – Tabela de dados e representações das geodésicas 3v e 4v com 6m de diâmetro.

Fonte: http://www.desertdomes.com/formula.html; http://www.domerama.com/calculators/;


https://simplydifferently.org/Geodesic_Dome_Notes?page=3#The Icosahedron. Acesso em: 3 fev
2016.
192

Figura 116 – Tabela de dados e representações das geodésicas 5v e 6v com 6m de diâmetro.

Fonte: http://www.desertdomes.com/formula.html; http://www.domerama.com/calculators/;


https://simplydifferently.org/Geodesic_Dome_Notes?page=3#The Icosahedron. Acesso em: 3 fev
2016.
193

Figura 117 – Geodésicas de frequência ímpar não geram hemisférios geodésicos, como o exemplo
da 3v e a 5v que geram frações as frações 3/8 e 5/8.

Fonte: https://simplydifferently.org/Geodesic_Dome_Notes?page=3#The Icosahedron. Acesso em: 3


fev 2016.

Para exemplificar, a Figura 118 apresenta um esquema ilustrado de uma


sequência com a ordem de montagem para uma cúpula geodésica 3v Classe I.

Figura 118 – Tabelas com os Strut Fator e os ângulos e diagramas para as frequências 4v, 5v e 6v.

Fonte: http://sketchup.dozuki.com/Guide/On+site+assembly/28. Acesso em: 3 fev 2016.


194

O site da empresa domosgeodesicos.es fornece indicação sobre a escolha das


frequências, revelando que para uma estufa média, por exemplo, a mais indicada é a
3v, em casos de domos para residência ou outras aplicações a 4v é ideal para gerar
um hemisfério perfeito, mas se o objetivo for domos ainda maiores ou para lugares
que sofram com intempéries naturais, indica as 5v ou 6v por sua resistência à neve
e grandes cargas de ventos. Portanto, para a escolha da frequência, se deve levar
em consideração alguns aspectos, como o tamanho, necessidade de força e a
finalidade de uso.

Edmondson (2007) revela que mesmo não havendo um limite superior


inerente, recomenda que a cúpula não ultrapasse a frequência 32v, dependendo do
diâmetro e material, pois em freqüências muito altas, esse valor exponencial de um
número crescente de diferentes tipos de hastes se tornam difíceis e complicados para
fabricação, dependendo da tecnologia que se utilize.

O padrão geodésico é também uma variável. Além deste método que foi mais
detalhado, Fuller também desenvolveu outros formatos, como o Fly’s Eye Dome, em
que a configuração do padrão triangular apresenta um desenho diferente, mas com
os mesmos princípios geométricos que são explorados para obter uma eficiência
estrutural, assim como faz a natureza, na interação das forças físicas para produzir
padrões geodésicos icosaédricos em muitas situações. E por isto, entender e tornar
conhecida esta geometria básica é tão necessária, porque muitas outras
configurações ainda podem ser criadas a partir dela. (EDMONDSON, 2007)

A matemática por trás das geodésicas é complicada, mas não conceitualmente


difícil. Os cálculos são simplificados (ou pelo menos mantidos sob controle) por meio
de uma simetria: a informação completa para uma cúpula inteira de qualquer
frequência está contida dentro de seu triângulo principal. Usando as fórmulas de
trigonometria, pode-se manipular os ângulos centrais e superficiais dos triângulos
esféricos para derivar valores com os quais se obtém os comprimentos das hastes
que são cordas do grande círculo, e cada uma é submetida a um ângulo central
específico. Dependendo dos métodos e materiais de construção, deve-se buscar
manter as barras o mais perto possível do mesmo comprimento ou tentar desenvolver
195

triângulos com formas maximamente semelhantes, onde reside o segredo da


eficiência.

A frequência é ela própria uma variável importante, maiores números de barras


menores são mais eficientes em termos de suporte de cargas, porém, mais difícil de
executar e isto deve ser avaliado. Felizmente, a trigonometria permite uma enorme
flexibilidade em termos de soluções potenciais. As cúpulas geodésicas podem ser
alongadas, geminadas, em forma de pêra, ou mesmo em forma de elefantes
(teoricamente). Sobre estas modificações para alterar de maneira mais radical a
configuração, é bom lembrar que certamente o formato original esférico da geodésica
é o que produz a maior força, embora isto não exclui que se possa testar, desenvolver
e experimentar outras opções. (EDMONDSON, 2007)

Há muita facilidade para modelagem das geodésicas em softwares específicos


para esta finalidade, como o Antiprism, Geodome, Cadre Geo, etc., mas também
existem plugins dentro dos softwares voltados para o design, como o Grashhopper já
mencionado, que dentro do Rhinoceros, oferece grandes facilidades para construção
e modificação destas estruturas.

Por fim, é importante perceber que, enquanto a teoria por trás das geodésicas
parece ser surpreendentemente simples, e por outros antes de Fuller até terem sido
construídas, a sua patente em I954 é um mérito por ter se dedicado a estudar para
traduzir a real teoria destas estruturas de maneira prática, o que envolveu um
desenvolvimento matemático incrivelmente complicado com os recursos vigentes da
época, para evitar erros de cálculos ele teve que desenvolver um sistema complexo
de dados trigonométricos para permitir a construção das suas enormes cúpulas
exemplificadas no início deste capítulo.
196

3.3 Vantagens da Geometria das Geodésicas

O American Institute of Architects (Instituto Americano de Arquitetos/AIA)


designou a cúpula geodésica, como: "o meio mais forte, mais leve e mais eficiente de
incluir espaço conhecido pelo homem".

Verschleisser (2008) revela que as cúpulas geodésicas possuem auto


sustentação com extraordinária resistência e leveza devido à sua forma esférica e às
formas geométricas que as constituem, elas se comunicam e se apoiam umas nas
outras criando um sistema chamado por Fuller de tensegrity (tensão integral), em que
qualquer força aplicada em uma delas retransmite a tensão e a distribui igualmente
entre as demais até a sua base, assim como os arcos na engenharia.

Além disso, grande parte dessa vantagem estrutural vem da enorme


estabilidade proporcionada por sua malha triangular. Um triângulo é um elemento
estável independente do seu tamanho, são as únicas formas que permanecem
rígidas, mesmo quando construídas com conexões flexíveis, tendo cada vértice
estabilizado pelo lado oposto. Quando forças geram uma forma estabilizada, isto é,
capaz de se auto sustentar, criam uma Estrutura. Em seu livro Synergetics, Fuller
(1979) afirma que o triângulo é o único polígono auto estabilizado e que tudo que é
reconhecível no Universo como um Padrão é identificável como anteriormente já
visto, e o triângulo persiste como um padrão constante. Quaisquer outros padrões
conhecidos são inerentemente reconhecíveis apenas pela virtude de sua integridade
estrutural triangular, onde estrutura significa uma omnitriangulação. Apenas padrões
estruturados triangularmente são padrões regenerativos e a estruturação triangular é
um padrão de integridade em si.

Uma das maneiras que Fuller (1979) descreve sobre a resistência de força
entre um retângulo e um triângulo seria aplicar pressão a ambas as estruturas. O
retângulo dobra sobre seus vértices e seria instável, mas o triângulo resiste a pressão
e é cerca de duas vezes mais forte e mais rígido. Este princípio orientou seus estudos
para a criação da cúpula geodésica, em que descobriu que se uma estrutura esférica
fosse criada a partir de triângulos, teria uma força inigualável.

Desta forma, os poliedros formados totalmente por faces triangulares regulares


correspondem as estruturas mais auto-estabilizadas, e, por conseguinte, são os mais
197

indicados e utilizados por Fuller nas configurações de geodésicas, pois outras


geometrias como quadrados, pentágonos, hexágonos, pela tendência inerente a
deformação em seus vértices, são mais instáveis, então, os sólidos esféricos
derivados de malhas diferentes da triangular, precisam ser rearranjados dentro de
uma lógica triangular ou distribuídas em conjunto com ela, para obterem mais
resistência. (PEARCE,1980)

O triângulo é uma figura matemática natural que, em combinação com outros


triângulos, fornece máxima eficiência com mínimo esforço estrutural. Ao reunir uma
série de unidades geométricas idênticas que são auto-sustentáveis e leves, Fuller
obteve uma construção dinâmica na qual os componentes individuais contribuem
para a estrutura geral, e não é à toa que tal sistema é tão usado pela engenharia, de
maneira aparente, em aplicações tetraédricas, como por exemplo nas coberturas de
amplos galpões; ou em aplicações não aparentes, como nas vigas. (Figura 119)

Figura 119 – Ilustrações sobre a estabilidade e força da triangulação.

Fonte: Elaborado pela autora com ilustrações de (LOTUFO&LOPES, 1981).

Outra vantagem geométrica destas estruturas se refere a configuração


esférica. Fuller (1979) enfatiza a idéia de que quando o diâmetro da esfera é dobrado,
a sua área quadruplicará e ampliará em oito vezes o volume. Naturalmente as esferas
casam perfeitamente com o princípio de "fazer mais com menos" porque incluem o
maior volume com a menor quantidade de área superficial, nas cúpulas, isto reflete
de imediato numa garantia de economia de materias. Além disso, a estrutura esférica
de uma cúpula é uma das atmosferas interiores mais eficientes para habitações
198

humanas, porque ar e energia podem circular sem obstrução, permitindo que tanto o
aquecimento quanto o resfriamento ocorram de maneira natural.

Ainda em relação a configuração específica das geodésicas, há também uma


considerável vantagem nas cinco ou seis barras que saem de cada vértice: forças
são instantaneamente distribuídas em muitas direções omniradialmente, motivo pelo
qual, produzem uma força sem precedentes em relação ao seu peso. (EDMONDSON,
2007)

A arquitetura para Fuller tinha como objetivo criar abrigos versáteis, baratos,
eficientes energicamente, leves e flexíveis: máquinas de morar, capazes de se
modificar conforme as necessidades de quem as habitasse. E em mais de 50 anos
de existência das cúpulas geodésicas, novos usos têm sido acrescentados a lista
sobre mais características vantajosas desse sucesso inventivo. No site do
Buckminster Fuller Institute, órgão disseminador das ideias de Fuller, são
disponibilizadas informações sobre essas vantagens das geodésicas, assim como
muitas empresas especializadas em construções das cúpulas, também foram
identificando e contabilizando vantagens ao longo do tempo e divulgam tais
informações em seus sites e redes sociais. A seguir, serão resumidas de forma
explicativa algumas delas:

a) Força estrutural

Devido a sua malha triangular esférica, a forma geodésica otimiza cargas,


propriedade da tensão integral, deslocando as forças em toda sua estrutura, uma
vantagem à frente das estruturas retangulares dos edifícios tradicionais. Foram
projetadas para suportar ventos fortes e temperaturas extremas, como visto nas
cúpulas das regiões polares, e ainda, suportam muitas vezes o próprio peso, sendo
ideiais para locais de fortes intempéries como tempestades, furacões, terremotos,
tsunamis, e outros abalos. Não há limite estabelecido para o seu tamanho, quem
limita é a tecnologia disponível para a construção, mas é sabido que quanto maior,
mais triângulos, e quanto mais triâgulos, mais forte. (Figura 120)
199

Figura 120 – Ilustração da distribuição da força e da resistência da cúpula em relação ao design


ortogonal.

Fonte: http://domes.com/. Acesso em: 3 fev 2016.

b) Economia de materiais

A esfera tem 25% menos área de superfície por volume fechado do que
qualquer outra forma, por isto, construções esféricas ou derivadas da esfera, como
as cúpulas geodésicas, são vantajosas quando o objetivo é obter grande volume
interno conjugado com uma superfície externa mínima, proporcionando uma
economia de materiais construtivos. Estratégia similar existe nos microrganismos da
radiolaria que vivem no fundo do mar, onde a pressão é constante. Para armazenar
materiais sob pressão, os recipientes esféricos são os mais indicados, por terem uma
distribuição dos esforços mais homogênea, e em consequência disto, necessitarem
de menos material construtivo do que, por exemplo, os recipientes cilíndricos para
reterem um mesmo volume de líquidos ou gases. (RAMOS, 1993)

A empresa Pacific Dome, ratifica que com essa relação volume-superfície-área


alta, exige menos materiais para armazenar mais espaço e quanto menor a proporção
do perímetro exterior de um edifício de área fechada, menos energia é necessária
para sua construção, aquecimento e resfriamento. Ainda, quanto maior a cúpula, mais
eficiente em termos de espaço ela se torna, isto demonstra-se duplicando o diâmetro
da esfera, onde resulta num aumento de 8 vezes em seu volume. Há estimativa de
redução é de cerca de 30% de materiais, segundo a empresa americana Omega
Dome, que prevê redução também de custos com a mão de obra, pois a montagem
é mais fácil, mais simples e mais rápida.
200

c) Economia de energia

Segundo Fuller (1979) há duas razões para que os domos sejam eficientes em
termos energéticos, primeiro por ter uma menor área superficial por unidade de
volume garantida pela geometria esférica, o que se traduz em uma menor área para
exposição ao frio no inverno e ao calor no verão em comparação a outras arquiteturas
de mesmo espaço. Segundo, porque o fluxo de ar dentro da cúpula é contínuo, sem
cantos estagnados, exigindo menos energia para circular o ar e manter temperaturas
uniformes. De acordo com o site das empresas Pacif Dome e Omega Dome, a energia
necessária para aquecer ou arrefecer uma cúpula é aproximadamente 30% a menos
do que um edifício convencional, o que reflete numa economia de 30% com gastos
de energia elétrica anual líquida para um proprietário de cúpula, o que é bastante
significativo. (DINIZ, 2006)

d) Leveza

Tendo menos material, menos área de superfície (em certos casos, até
ausência de paredes internas) e composto de materiais mais leves que a alvenaria,
alguns exemplares de Fuller já montados, conseguiam até ser carregados e
transportados inteiros por aeronaves, utopicamente ele previa isto para que quando
se precisasse morar ou passar um tempo em outro lugar, a casa pudesse
acompanhar as pessoas para onde quisessem ir. Independente do quão distante se
está desta ideia, a leveza é de fato uma das características mais importantes das
cúpulas, tanto que devem sempre ser bem parafusadas no chão para evitar que sejam
carregadas pelo vento. Apesar de extremamentes fortes, as maiores cúpulas
visualmente transmitem proporcionalmente a sensação da leveza de uma bolha de
sabão prestes a desaparecer, é o que pode ser observado na imagem da cúpula de
Montreal da Figura 121.
201

Figura 121 – Uma característica inerente das geodésicas, leveza.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

e) Segurança

O design da cúpula geodésica é ergonômico, aerodinâmico e por ser tão forte


é ideal para resistir a situações extremas como: ventos fortes, tempestades,
terremotos e acumulação de neve, Fuller projetou vários exemplares para
observatórios e laboratórios na Antártica. Quanto mais forte o vento, não tendo
superfícies de sucção, ele o rodeia e o firma ainda mais no terreno. (Figura 122)

Figura 122 – Pela força da sua estrutura, se traduzem em abrigos seguros.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

f) Temperatura mais uniforme

Devido ao fluxo melhorado do ar, a temperatura é mais uniforme do que numa


habitação convencional. Fuller (1975) ressalta que cúpulas maiores perdem calor
mais devagar, característica de um interior côncavo que cria esse fluxo de ar natural
permitindo que o ar quente ou frio flua uniformemente por toda a cúpula, com a ajuda
de dutos de ar de retorno. A área de superfície exposta no exterior das cúpulas
também é menor, permitindo menos troca de calor com o ambiente, o que se traduz
202

em economia para se manter mormo no inverno, ou frio no verão, poupando-se


energia para aquecer ou esfriar. (Figura 123)

Figura 123 – Ilustração da uniformidade da temperatura (aquecer ou esfriar), devido a geometria do


domo.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

g) Concentrador de luz e calor

Fuller (1979) ressalta que as cúpulas funcionam como um grande ponto


refletor, refletindo e concentrando a temperatura interior, evitando a perda de calor
radiante nos climas mais frios. Dessa forma, muitas cúpulas são usadas como
estufas, pois as coberturas de vidro translúcido as tornam como excelentes coletoras
de energia solar, refletindo a luz e o calor para dentro da estrutura, evitando a perda
do calor por irradiação, essa situação se torna útil, por exemplo, para regiões com
invernos rigorosos tanto para habitações quanto para estufas de plantas. (Figura 124)

Figura 124 – Efeito estufa intensificado pela geometria do domo e pelo material (vidro).

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


203

h) Melhor ventilação e fluxo de ar

Com as devidas aberturas, os domos fornecem uma excelente mistura do ar e


temperatura, promovendo uma distribuição excelente que impede o estancamento de
ar, evitando assim, a proliferação de fungos, bactérias e umidade; com essa
distribuição de fluxos de ar, a propagação de odores é uma característica que pode
ser bem aproveitada por estabelecimentos comerciais de alimentação. (Figura 125)

Figura 125 – Ilustração do fluxo de ar melhorado dentro do domo e exemplo de domo lounge na
praia.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

i) Design aerodinâmico

Nenhum sólido pode ser mais curvo que uma esfera ou um domo, já que
apresentam curvatura tridimensional, e como é de se esperar, curvas facilitam os
deslocamentos de massas (seja do ar ou da água) ao redor da construção. Fuller
(1979) descreve que as turbulências externas de vento são minimizadas porque este
vento que contribui para aquecer ou esfriar, perde força em torno dele, por efeito
aerodinâmico. Por isto, o design esférico é eficiente para situação de abrigo seguro.
(Figura 126)
204

Figura 126 – Ilustração do design aerodinâmico e exemplos de domos em locais de fortes ventos.

(Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN)

j) Coberturas auto-sustentáveis

Em construções, de maneira geral as cúpulas permitem amplos espaços


desobstruídos sem a necessidade de vigas, colunas ou paredes de suporte interiores.
Esta situação é muito interessante para certos usos que necessitam de grandes áreas
livres para atividades, ou mesmo em situação residencial, cujos espaços mais abertos
propiciam a interação social e desfavorecem os enclausuramentos. (Figura 127)

Figura 127 – Criação de espaços amplos sem necessidade de paredes ou vigas de sustentação.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

k) Facilidade e rapidez na montagem

Com método relativamente simples de construção, existe a possibilidade de


comprar kits prontos para a montagem, cujas instruções tornam o processo mais fácil
e rápido até mesmo por pessoas com pouca experiência. Seu tempo de montagem é
certamente mínimo em comparação com métodos tradicionais, podendo ser
completamente construído em algumas horas por mão de obra não especializada.
Mesmo em se tratando de casas domo, feitas de módulos de madeira ou de cimento,
205

ainda assim, a construção é mais rápida que a convencional. Além disso, a


manutenção pode ser feita de maneira localizada, sem a necessidade de, por causa
de alguma estrutura danificada, se reconstruir uma grande área, por exemplo. (Figura
128)

Figura 128 – Facilidade e rapidez na montagem pela modularidade dos componentes.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

l) Padrão de circulação radial

O padrão radial nos interiores é uma arquitetura que converge. Nas escolas,
ele favorece as atividades em grupo; nos teatros e igrejas, possibilita maior número
de cadeiras e melhor visibilidade, e nos demais ambientes, tanto públicos quanto
privados, a própria disposição interna favorece a criação de espaços mais sociáveis,
em que parece inevitável não interagir. (Figura 129)

Figura 129 – Padrão de circulação radial é convergente e favorece interação social.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


206

m) Construção em lugares remotos

Com poucos e leves materiais, e sendo de fácil montagem, torna-se bem


indicado até mesmo para lugares sem tanta estrutura, ou seja, mais ermos, tais como:
desertos, pólos, florestas, praias, montanhas, etc. (Figura 130)

Figura 130 – Acessível para locais sem tanta estrutura, mais afastados ou ermos.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

n) Alicerce mais simples

Devido a estrutura mais leve, não há necessidade de um alicerce complicado


como geralmente é utilizado nas construções de alvenaria para suportar grandes
cargas. Dessa forma, há economia de materiais também nesta parte. Há muitos casos
que inclusive utilizam apenas plataformas de madeira. Entretanto é recomendável
sempre fazer algum tipo de base para evitar a entrada de água da chuva e de insetos.
(Figura 131)

Figura 131 – Alicerce mais simples e plataformas para apoio de geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


207

o) Design original, geometricamente belo

Novos materiais e métodos de construção permitem uma quebra de paradigma


em detrimento ao padrão ortogonal na arquitetura e no design de interiores. Além
disso, podem ser ressaltadas formas geométricas atrativas e belas tanto no interior
destas estruturas, quanto no exterior. (Figura 132)

Figura 132 – Design das geodésicas, padrão geométrico triangular de beleza original.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

p) Variedade de materiais

Podem ser construídas praticamente com qualquer material, geralmente, ferro


galvanizado é o mais utilizado para as barras das cúpulas abertas, ou as de dupla
camada estrutural, mas também podem ser cobertas com lona, placas de carílico,
vidro, ou ainda, podem ser feitas de bambu, aço, madeira, pvc, fibra de vidro, plástico,
concreto, e até papelão. O problema de vedação das cúpulas fechadas, uma das
maiores queixas em seus primeiros anos de surgimento, hoje, já podem ser
considerados resolvidos, com sistemas de vedação existentes no mercado que
permitem até mesmo visitas a aquários submersos. (Figura 133)
208

Figura 133 – Cúpulas de materiais diversos.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

q) Qualidade acústica

Lotufo & Lopes (1981) ressaltam ainda a qualidade acústica proporcionada


pela geometria dos domos geodésicos, em seu interior, a reverberação é favorecida,
sendo por isto bem indicado para igrejas, teatros, estúdios e apresentações musicais,
etc; enquanto a própria geometria, favorece uma proteção natural como uma barreira
para sons externos. (Figura 134)

Figura 134 – Geometria ajuda a reverberar dentro do domo e ajudar a diminuir ruídos externos.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


209

r) Redondo acolhedor

Lotufo & Lopes (1981) também comentam a sensação psicológica do redondo


no interior do domo, pois explicam que há uma replicação insconsciente da sensação
de segurança dentro da barriga materna, e por isto, é mais agradável estar sob a
curvatura côncava no interior do domo, que por maior que seja, se percebe
acolhedora, em detrimento da sensação também inconsciente de opressão
transmitida por uma laje plana em cima da cabeça, principalmente quando o Pé-
direito é baixo. (Figura 135)

Figura 135 – Sensação psicológica de ambiente acolhedor dentro do domo.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

s) Modularidade

Uma última vantagem, ainda segundo Lotufo & Lopes (1981), trata do aspecto
de modularidade deste tipo de construção, que por apresentar peças semelhantes,
facilita o processo de fabricação em série, reduzindo custos e desperdícios,
contribuindo para a sustentabilidade. Ramos (1993) também reflete esta questão da
modularidade como uma vantagem importante, lembrando dessa praticidade de
fabricação e montagem a partir de um número reduzido de elementos diferentes.
(Figura 136)
210

Figura 136 – Modularidade nas geodésicas facilita fabricação.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

A síntese de todas estas vantagens está no fato de a cúpula combina a


estabilidade inerente de triângulos com a relação vantajosa volume-superfície-área
de uma esfera, e com ela, Fuller demonstrou que era possível criar um espaço
habitável usando menos materiais e energia do que os normalmente usados em um
projeto arquitetônico convencional. Muitas cúpulas geodésicas já foram construídas
em todo o mundo, em diferentes climas e temperaturas, e provaram ser o mais
eficiente abrigo humano que se pode encontrar. Muitos fabricantes de cúpula
oferecem vários projetos para a habitação, inclusive algumas, mais simples, podem
ser montadas em questão de horas e no mesmo dia, embora construções mais
elaboradas possam demorar mais, ainda assim, as cúpulas são sempre uma opção
melhor se comparadas com outros processos.

Como mencionado, algumas empresas disponibilizam kits prontos em que se


pode escolher ou não o serviço de montagem, havendo muitas pessoas inclusive, que
preferem construírem elas mesmas suas próprias cúpulas. Sobre isto, uma
característica interessante observada é este aspecto social na montagem. Foram
identificados diversos casos em que a participação solidária se faz presente, algumas
empresas, inclusive, chamam os familiares e seus amigos no dia da montagem para
fazer parte do evento, num senso de cooperação e de sinergia análoga ao que
significa a própria geometria prevista por Fuller. Isto pode ser constatado nos vídeos
disponíveis na rede social Youtube da empresa Omega Dome e em vários outros
vídeos de montagens de cúpulas geodésicas na mesma rede social, em que,
curiosamente, se percebe que o caráter cooperativo nestes projetos é uma constante.
211

3.4 A Biomimética nas Geodésicas de Fuller

Para alguém que não conheça a história, um olhar não criterioso para as
cúpulas geodésicas poderia não traduzir claramente os conceitos e a inspiração por
traz destas estruturas. Como a forma é demasiadamente geométrica e projetada, isto
pode levar ao equívoco em se pensar que não haja nenhuma relação com a natureza,
mas como já foi dito, na verdade, a relação existe.

Gorman (2005) revela que em Explorações da Geometria Sinergética, a partir


dos anos 1940, Fuller realmente acreditava que ele estava investigando “o sistema
de coordenadas da natureza”, inspirado pelas obras “Kunstformen der Natur” do
naturalista alemão Ernst Haeckel e “On growth and form” de D’Arcy Thompson. Desta
forma, os domos geodésicos tiveram inspiração no “macrocosmo”, considerando as
configurações esféricas celestiais, e no “microcosmo”, considerando os
microorganismos esféricos como os da Radiolaria (Figura 137). “Os Radiolários são
protozoários marinhos, cujas espécies apresentam o citoplasma envolvido por uma
delicada cápsula siliciosa central, com perfurações que deixam passar os
pseudópodes, simples ou ramificados”. (HAECKEL, 2005)

Esta classe de protozoários que vive no plâncton marinho teve suas formas
reveladas nos estudos ilustrados nos livros de Haeckel que foram primeiro
apresentados em 1904, ano da sua primeira publicação. Alguns destes radiolários
foram representados por uma série de esqueletos radiais que formam padrões
geométricos, definindo as bases lógicas e analógicas referenciais e conceitual.

Não apenas os Radiolários, mas ele observou que várias outras estruturas
naturais também se utilizam do princípio de estruturas vazadas e de invólucro esférico
protetor e contenedor como as observadas no capítulo 2. Desta forma, Fuller (1998)
se convenceu de que a natureza favorece o padrão esférico, e que por isto, este seria
uma representação do sistema de coordenadas da natureza, o que desencadeou o
seu estudo da matemática para a engenharia dessa configuração.
212

Figura 137 – Imagens dos desenhos de Haeckel de radiolários esféricos e abaixo imagens de
microscopia eletrônica de radiolários reais.

Fonte: HAECKEL,2005 e http://www.abovetopsecret.com/forum/thread863028/pg1. Acesso em: 25


abr 2016.
213

Edmondson (2007), professora de Havard que foi aluna de Fuller, revela na


obra A Fuller explanation: the synergetic geometry of R. Buckminster, que na verdade,
Fuller acreditava que um poliedro geodésico de alta frequência fornece o
verdadeiro modelo de sistemas físicos que se interpreta como esferas, pois ele
não concordava com essa noção de superfície contínua equidistante de um ponto
central. Para ele, esta definição era cientificamente inaceitável e inconsistente com a
realidade física, pois justificou que em alguns níveis de resolução todas as "esferas"
consistem em um número incalculável de eventos energéticos interconectados por
um número ainda maior de relações vetoriais ou forças.

O próprio Fuller (1979) esclarece como estas equivocadas sensações


esféricas são produzidas:

“Por causa das matrizes de interferências poliédricas identificados como


pontos muitíssimo aproximadamente equidistantes de um ponto central e porque as
relações massa-atrativa ou massa-repulsiva de todos os pontos entre si são mais
economicamente manifestadas por cordas e não por arcos... a matriz esférica é na
realidade produzida por pontos de estruturas geodésicas omnitrianguladas de
altíssima freqüência. ”

Em verdade, os olhos não podem ver moléculas individuais na transparência


de uma bolha de sabão, nem se pode detectar as atrações químicas entre as
moléculas através destas cordas identificadas por Fuller (pelo menos não até o
momento), no entanto, tais ligações existem, e por mais duvidosa que possa parecer,
há coerência em sua teoria.

Edmondson (2007) revela que o objetivo de Fuller com tal explicação era
fornecer modelos tangíveis de Fenômenos invisíveis, na sua tentativa de entender
e ensinar sobre o Universo, e acredita que, de todas as soluções possíveis, uma
geodésica ominitriangulada de alta simetria icosaédrica fornece o método mais
eficiente de englobar espaço com um mínimo de material e esforço. Diz ainda que em
conformidade, a natureza se baseia neste design elegante em muitos invólucros de
proteção, independente da escala, citando o exemplo da radiolaria, dos vírus
esféricos e das fibras do globo ocular. Na Figura 138, um exemplo mostrando esse
padrão geodésico nos olhos da libélula azul (Coenagrion puella).
214

Figura 138 – A Libélula Azul e o padrão geodésico identificado em seus olhos.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.

Não apenas com os padrões de formas esféricas, mas também, pode-se


identificar relações das suas cúpulas com a teoria dos Fractais, baseando-se nesta
característica de divisão de triângulos dentro de outros triângulos menores,
indefinidamente, uma repetição em escala que guarda as principais propriedades que
caracterizam os fractais, a auto semelhança de triângulos e a complexidade infinita,
já que não há limite de frequência em teoria.

Também há relação das geodésicas com a Proporção Áurea, pois sendo


derivadas do icosaedro, geram configurações pentagonais e hexagonais que
possuem essa relação com o número áureo. Segundo Doczi (1990) os padrões
hexagonais são mais comuns na natureza inorgânica, pois a natureza orgânica tende
a privilegiar padrões pentagonais, no entanto, há uma conexão interessante entre
esses dois padrões no icosaedro, em que visto de um lado aparece o perfil hexagonal
e de outro, o pentagonal, sendo seus planos diagonais retângulos áureos (ligações
entre as arestas opostas diagonalmente). O autor reflete se este não é um reflexo da
relação existente entre a matéria orgânica e a inorgânica, sendo uma formada a partir
da outra, como o corpo humano que é formado por dois terços de água.

Inclusive o icosaedro pode ser construído a partir de 3 retângulos áureos


iguais, feitos de papelão, com uma fenda central, deslizando-se uns dentro dos outros
a 90º, em três planos diferentes. 20 elásticos presos nas fendas dos cantos dos
retângulos áureos completam o modelo, mostrado em projeção ortogonal, onde os
retângulos 1 e 3 aparecem de perfil, a Figura 139 apresenta estas vistas dos
contornos hexagonal (B) e pentagonal do icosaedro (C). (DOCZI,1990)
215

Figura 139 – Construção do icosaedro demonstrando relações entre o padrão pentagonal, o


hexagonal e a Proporção Áurea.

Fonte: (DOCZI, 1990).

Como já é claro, Fuller se dedicou mais a estudar geodésicas derivadas do


padrão icosaédrico pela regularidade dos triângulos gerados, produzindo uma
quantidade menor de triângulos diferentes, e que, por conseguinte, isto facilita a
modulação, característica esta, também já observada como um padrão na natureza
e que também facilita a concepção seja para as criações naturais ou artificiais, pois
sabe-se que este recurso promove uma redução de matéria e energia.

É curioso então perceber que as cúpulas geodésicas se relacionam com os


padrões identificados na natureza, sejam através das formas esféricas, nas
proporções com o número áureo encontradas no icosaedro do qual derivam as
geodésicas, seja com os princípios de autosemelhança e complexidade infinita dos
216

fractais, seja com a configuração estrutural triangular, pentagonal e hexagonal, etc. E


toda essa coincidência se explica justamente porque seu descobridor, se inspirou em
princípios naturais para a sua concepção.

As formas geodésicas possuem aplicações revolucionárias na arquitetura e


nos métodos de construção, mais também em outras áreas da ciência e tecnologia
elas têm sido reveladas. Em 1968, biólogos moleculares descobriram que a fórmula
matemática para a concepção da cúpula geodésica aplica-se perfeitamente à
estrutura do invólucro de proteína que rodeia todos os vírus conhecidos. Vários físicos
nucleares estão convencidos de que esta mesma fórmula explica a estrutura
fundamental do núcleo atômico, e é, portanto, a base de toda a matéria.
(EDMONDSON, 2007)

Também em 1985, um grupo de pesquisadores fez uma curiosa descoberta ao


irradiar laser para vaporizar o grafite, o material sofreu decomposição em diversos
outros compostos, entre eles, um constituído apenas em 60 átonos de carbono.
Richard Smalley, Harry Kroto e Robert Curl ganharam o prêmio Nobel de Química em
1996, por esta, que foi a primeira fórmula alotrópica descoberta no séc XX. Na
explicação da estrutura da molécula, Kroto disse que observou uma configuração
similar, a enorme cúpula de Fuller que havia visitado em Montreal, a Biosphère da
EXPO 67, a estrutura da molécula, como já foi explicada, é de fato uma geodésica
hexa-pentagonal e/ou um icosaedro truncado (Figura 140), de modo que foi batizada
como “buckminsterfullerene” e posteriormente apelidada de “Buckyball” em clara
homenagem à Fuller. Mas tarde, foram descobertas outras formas alotrópicas do
Carbono e as que se organizam em formatos geodésicos são classificados como
Fulerenos. As “Buckyballs” se detacam por sua estabilidade incomum, graças a sua
geometria, além das propriedades de supercondutividade e aplicações médicas,
notavelmente no tratamento do câncer.
217

Figura 140 – Esquema da Buckyball e Harry Kroto, um dos cientistas que descobriu o Carbono 60.

Fonte: http://www.npr.org/2015/10/08/445339243/a-discoverer-of-the-buckyball-offers-tips-on-
winning-a-nobel-prize. Acesso em: 29 jul 2016.

À medida que mais e mais pessoas descobrem a relevância abrangente das


ideias de Fuller, elas alcançam cada vez mais novas áreas. Há muito tempo ele tinha
chegado à conclusão de que a natureza tem um sistema de coordenadas básico, e
ele estava convencido de que a descoberta desse sistema acabaria por reunir todas
as disciplinas científicas. (EDMONDSON, 2007)
218

3.5 Projetos Contemporâneos com Cúpulas Geodésicas

Desde a década de 50, as cúpulas geodésicas tem se demonstrado de fato,


uma opção inteligente para incontáveis tipos de construção. De acordo com o
Buckminster Fuller Institute, existem mais de 300.000 cúpulas geodésicas em todo o
mundo, muitas destas, com aplicações diferentes das utilizadas por Fuller, e espera-
se que ainda muitas outras novas formas de uso sejam descobertas, ocasionadas
pelo avanço dos processos produtivos, tecnológicos e pela criatividade humana em
suprir seus anseios e curiosidades.

Com a globalização de informações da era digital, foram identificadas diversas


empresas, tais como Pacif Domes, Omega Dome, Freedomes, Domosgeodésicos.es,
Solardome, Domos Valdívia, etc.; que possuem o foco na construção das geodésicas,
seja para venda, aluguel ou montagem, estas empresas disponibilizam diversas
opções de kits com diversos tamanhos pré-fabricados, além de atenderem também
através de projetos personalizados. (Figura 141)

Figura 141 – Geodésicas da empresa Freedomes com tamanhos e preços.

Fonte: https://fdomes.com/dome-kits/. Acesso em: 3 fev 2016.

Muitas destas empresas disponibilizam materiais informativos, imagens e


vídeos, em seus diversos meios de comunicação, como sites, blogs e redes sociais,
o que colaborou para que esta pesquisa pudesse visualizar e organizar alguns dos
inúmeros tipos de usos destas estruturas. Outras pesquisas de usos foram feitas no
google e estarão compilados de maneira ilustrativa nas seguintes figuras
142,143,144,145 e 146.
219

Figura 142 – Exemplos de usos das Cúpulas Geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


220

Figura 143 – Exemplos de usos das Cúpulas Geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


221

Figura 144 – Exemplos de usos das Cúpulas Geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


222

Figura 145 – Exemplos de usos das Cúpulas Geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


223

Figura 146 – Exemplos de usos das Cúpulas Geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


224

Na Figura 147, um mapa chamado Domes of the world, mantido pelo Google
Group "Geodesic Help", mostra as maiores áreas de concentraçao de geodésicas no
planeta.

Figura 147 – Mapa do Google Group “Geodesic Help” com localização de geodésicas.

Fonte: https://www.google.com/maps/d/viewer?msa=0&mid=1OEV_62VqiyMt01IktyI3jpbZkW0.
Acesso em 25 jul 2016.

Além destes diversos tipos de usos, tem se difundido também como residência
eficiente e ecológica, especialmente pelo seu baixo custo de implementação e
manutenção. Nos Estados Unidos e na Europa onde existem mais exemplos, há
diversas empresas especializada nelas, trazendo soluções cada vez mais atraentes
com uma arquitetura moderna e eficiente de alto padrão de qualidade. Vale relembrar
aqui que as tecnologias e materiais disponíveis no contexto atual podem trazer
diversas soluções para problemas com geodésicas, tais como: vedação e
padronização de portas, janelas e mobiliário. Na Figura 148, algumas imagens das
fachadas para exemplificar estas casas domos e, na Figura 149, imagens com
exemplos do interior deste tipo de construção para demonstrar o quanto podem ser
tão ou mais bonitas do que a arquitetura convencional.
225

Figura 148 – Exemplos de Cúpulas Geodésicas para uso residencial.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


226

Figura 149 – Exemplos do interior de Cúpulas Geodésicas no uso residencial.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


227

Por fim, para agregar nesta parte de projetos contemporâneos, não podia ficar
de fora o projeto simples e inovador para construções de cúpulas geodésicas com os
conectores Hubs (Figura 150). Estes conectores que inicialmente em estudos foram
fabricados por impressora 3D possuem 5 ou 6 saídas para pinos em formato de
esferas que são unidas às barras com parafuso, para em seguida, serem apenas
encaixadas neste conector, fazendo com que o processo de montagem seja muito
mais rápido e prático. Além disso, os conectores possibilitam utilizar qualquer tipo de
madeira para as barras (e na verdade podem ser utilizados quaisquer outros materiais
desde que não sejam tão mais pesados que a madeira e que as dimensões sejam
calculadas corretamente. No site http://buildwithhubs.co.uk/stickguide.html existe
uma calculadora que já informa as dimensões dos dois tipos de barras, colocando-se
o raio da cúpula pretendida. Até o momento só há disponível o kit para venda da
cúpula de frequência 2v, portanto, para este, só são necessárias 2 medidas de barras.
O projeto foi desenvolvido por Chris Jordan e Mike Pasley do Reino Unido que desde
2011 vêm aprimorando este sistema e otimizando o produto.

Em 2015 a dupla lancou o Hubs mini, uma versão em miniatura do produto


que é bem interessante, pois permite que se faça uma maquete antes da montagem,
ou mesmo que se estude novas configurações, geminando os mini-domos, etc. Pode
também ser usado como brinquedo para crianças, o que também promete ser
igualmente motivador e educador. A dupla colocou o projeto no site Kickstarter para
angariar fundos e continuar a desenvolver o produto, pelo site, é possível adquirir o
kit de conectores por £80.00; o Kit completo para a construção de uma cúpula 2v de
4m, incluindo também as barras de madeira já no tamanho correto, por £375.00; e o
kit do Hubs mini por £45.00. No mesmo site, está disponível um material com guia de
montagem, demais instruções sobre o produto e a apresentação de um vídeo que
demonstra uma montagem que dura apenas 10min se realizada por 2 pessoas.

É interessante observar também que nas mídias sociais como o Youtube,


existem muitos vídeos explicando as montagens de cúpulas feitas com os mais
variados materiais e tamanhos (madeira, ferro, perfil de alumínio, papelão, papel,
canudos, etc.), feitas pelas muitas pessoas que se aventuram por construí-las e
desejam partilhar a experiência, incentivando que outras também o façam.
228

Figura 150 – Conector Hubs e Hubs mini.

Fonte: http://buildwithhubs.co.uk/#top; https://www.kickstarter.com/projects/942255452/hubs-


geodesic-domes-made-simple. Acesso em 25 jul 2016.
229

3.5.1 APLICAÇÕES NO BRASIL

No Brasil, estas cúpulas são mais usadas como estruturas temporárias por
empresas como a Domebambu, Criativa Tendas e a Eco Domo, dentre outras, que
trabalham com eventos e feiras, disponibilizando venda e aluguel destas estruturas.
A empresa Domebambu, reduz ainda mais o peso e os custos de instalação das suas
cúpulas por inserir o Bambu como matería-prima. Inclusive é importante citar também
o laboratório do professor José Luís Mendes Ripper (PUC-RJ), que também fez
diversos estudos de implementação do bambu em cúpulas geodésicas. (Figura 151)

Figura 151 – Cúpulas geodésicas de bambu no Lollapaloza da emprea brasileira Domebambu.

Fonte: http://www.domebambu.com.br/dome-eventos-4/. Acesso em 25 jul 2016.

Além destas estruturas temporárias para eventos, serão também apresentados


nesta parte, alguns exemplos no país de uso permanente de cúpulas geodésicas
encontradas durante a pesquisa:
230

• Borboletário (Catavento Cultural, Centro de São Paulo/SP)

O primeiro exemplo é o Borboletário instalado no Catavento Cultural, sediado


no Palácio das Indústrias no centro de São Paulo, que entrou em funcionamento em
julho de 2015. Apresenta o formato de cúpula geodésica com diâmetro de 13,75m,
altura de 10,60m, superfície de 561 m², composta por 145 elementos de geometria
triangular, resultando num conjunto harmônico, em volumetria e proporções, com o
entorno (Figura 152). A frequência escolhida foi a 3v, para permitir que os
componentes tivessem dimensões compatíveis com os seis processos utilizados na
produção: corte; conformação; solda; jateamento; galvanização e pintura
eletrostática. A pequena construção existente no centro do claustro, foi incorporada
ao projeto, e nela, foi instalado o berçário das borboletas. (DOMINGUES & OLIVEIRA,
2015)

Figura 152 – Cúpula geodésica do Borboletário no Catavento Cultural, no Palácio das Indústrias
(SP).

Fonte: (DOMINGUES & OLIVEIRA, 2015).


231

• Lama Lâmina (Instituto Ilhotim/MG)

Desde 2009, o Instituto Inhotim abriga a obra Lama Lâmina idealizada pelo
americano Matthew Barney cujo tema é a destruição da floresta. Incrustada na mata,
a escultura está instalada dentro de 2 domos geodésicos geminados de aço e vidro,
em meio a um bosque de eucaliptos. Em seu interior, o espaço é tomado por um
enorme trator que ergue uma árvore de resina. Com diâmetros de 10m e 15m, as
cúpulas de vidro foram executadas pela Avec Design, com o sistema Ecoglazing
patenteado pela empresa, uma tecnologia capaz de simplificar as etapas de
instalação mesmo em geometrias mais complexas. Utiliza um caixilho sintético em
borracha de silicone de alta consistência HTV (vulcanizados a alta temperatura), com
painéis de vidro emborrachados pelo sistema VES (vidro encapsulado em silicone).
São 115 diferentes tipos de triângulos num total de 1200m² de vidro laminado refletivo
dourado encapsulado, de 10mm de espessura e aplicado sobre a estrutura metálica
tubular em aço patinável (com liga de cobre), de modo elástico e definitivo. Este é um
laminado com metalização PR108 (8% de transmissão luminosa). As chapas foram
fabricadas pela Fanavid e cortadas e lapidadas pela Vidraçaria Iguatemi. (Figura 153)

Figura 153 – Cúpula geodésica obra Lama Lâmina de Matthew Barney no Instituto Ilhotim
(Ilhotim/MG).

Fonte: http://www.avec.com.br/obras/cupulas-geodesicas-inhotim/. Acesso em: 25 jul 2016.


232

• Planetário Johannes Kepler (Santo André/SP)

Localizado na Sabina Escola Parque do Conhecimento, o Planetário


Johannes Kepler é o mais moderno do Brasil e único com sistemas de projeção ótico
e digital, que funcionam de forma sincronizada para reproduzir quase 6 mil estrelas
pontuais, com brilho, cores e cintilações semelhantes aos da natureza. O projeto da
cúpula geodésica é assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e executado
pela AVEC Design. Possui 21,5m de diâmetro, 640 quadros triangulares acústicos de
alumínio revestidos por 10mm de vidro laminado branco fosco. O projetor instalado é
do modelo Starmaster SB, fabricado pela empresa alemã Carl Zeiss, que utiliza um
sofisticado sistema de automação eletromecânica. Com ele, as estrelas e os planetas
são projetados sobre o teto hemisférico (full dome), produzindo a experiência de um
incrível céu estrelado num espaço para 247 pessoas e 13 cadeirantes. O resultado é
um conjunto tecnológico de última geração que reúne um sistema imersivo de
altíssima qualidade para a reprodução de imagens, vídeos e animações,
proporcionando incríveis efeitos visuais. (Figura 154)

Figura 154 – Cúpula geodésica do Planetário Johannes Kepler (Santo André/SP).

Fonte: http://www2.santoandre.sp.gov.br/hotsites/sabina/index.php. Acesso em: 25 jul 2016.


233

• Planetário Rúbens de Azevedo (Fortaleza/CE)

O Planetário fundado em 1998 e reinaugurado em junho de 2010, fica dentro


do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza/CE. Solicitado pelo governo
do estado, o projeto foi feito pelos arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo
também com execução da AVEC Design. A cúpula de 12m de diâmetro e 78m² de
área, possui 360 triangulos de vidro laminado refletivo prata revestindo quadros de
isolamento termo-acústicos com a instalação da ZKP4 da Carl Zeiss, controlados por
um conjunto de 8 computadores de última geração que permitem a exibição de
imagens de alta qualidade em projeção FULL DOME (em toda a cúpula - 360º x 180º),
feita por tecnologia de fibras ópticas (patente mundial da Carl Zeiss), que reproduz
com bastante fidelidadade o céu estrelado de 88 constelações e o céu noturno de
qualquer lugar da Terra, com a localização exata das estrelas, com projeções em alta
definição e em 3D sem o uso de óculos especiais. O espaço tem capacidade para 80
pessoas. Todos os equipamentos foram fabricados pela empresa alemã Carl Zeiss,
inventora do planetário, e há mais de 80 anos detém a tecnologia dos melhores
planetários do mundo. (Figura 155)

Figura 155 – Cúpula geodésica do Planetário Rubens de Azevedo (Fortaleza/CE).

Fonte: http://www.dragaodomar.org.br/planetario/institucional.php. Acesso em: 25 jul 2016.


234

• 5. “Flor do Cerrado” (Torre da TV Digital-Brasília/DF)

Em 2010, a “Flor do Cerrado” (Torre da TV Digital), como era chamada pelo


seu projetista, o mais expressivo e famoso arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer, está
situada em Brasília/DF, o que corresponde a mais um dos seus monumentos nesta
cidade. Com 120m de estrutura de concreto armado, 50m de torre metálica e 12m de
antena, sua base cilíndrica funciona como um "caule" que exibe duas "hastes" para
abrigar dois espaços cobertos em formato de cúpulas geodésicas, implementadas
também pela AVEC Design. As duas possuem 21m de diâmetro. A primeira, fica
situada à 60m de altura, é um espaço de exposições, e a segunda, à 80m do solo, é
um bar e restaurante. Como são de vidro, também funcionam como mirante. Próximo
ao topo de concreto, a 120m, encontram-se o mirante mais alto dentro da própria
torre, com 14 janelas redondas de 2m de diâmetro. O vidro de controle solar seletivo
é um laminado de 10mm na cor cinza, cujas especificações consideraram o conforto
térmico e lumínico. (Figura 156)

Figura 156 – Cúpulas geodésicas na Torre da TV digital de Niemeyer (Brasília/DF).

Fonte: http://www.avec.com.br/obras/torre-da-tv-digital/. Acesso em: 25 jul 2016.


235

• Casa Lotufo (SP) e Casa Duvivier-Ripper (RJ)

A figura 157 apresenta 2 construções de domos geodésicos com finalidade


residencial, a casa do arquiteto e professor Vitor Lotufo (inclusive autor do livro
Geodésicas & Cia) e a casa de hóspedes no quintal do artista plástico Edgar Duvivier
no Rio de Janeiro. Em meados de 1960 Duvivier convidou o arquiteto e professor
José Luis Mendes Ripper para desenvolverem juntos um domo geodésico de fibra de
vidro. O artista já havia montado um exemplar com elementos de madeira e coberto
com compensado que utilizaram para fazer os moldes em barro, e em seguida, em
fibra de vidro, resultando numa cúpula de 40m² e apenas 250kg, instalada no bairro
do Sumaré (RJ) que servia para abrigar seus hóspedes. Já a casa de Lotufo, com
52m², apareceu na revista Casa Claudia em uma de suas edições de 1981, a qual
publicou uma matéria com o título “Casa geodésica: a arquitetura do futuro”,
apontando a mesma como um modelo para a construção industrial de casas
geodésicas pré-fabricadas. (Figura 157) (CAMPOS, 2009)

Figura 157 – Cúpulas Geodésicas da Casa Lotufo (à esquerda) e Casa Duvivier-Ripper (à direita).

Fonte: (CAMPOS, 2009).


236

3.5.2 APLICAÇÕES MODERNAS

Um exemplo bastante especial de aplicação moderna é o Eden Project, a


maior estufa de plantas já construída no mundo, localizada em St. Austell, Cornwall
(Inglaterra), com projeto do arquiteto Nicholas Grimshaw, em 2001. A obra contém
um jardim botânico e parque temático que representam uma completa apresentação
da biodiversidade global. A estrutura corresponde a enormes cúpulas geodésicas
geminadas que recriam um bioma natural, que foram idealizadas para ser um centro
de educação construído dentro de uma antiga área de mineração, o que
topologicamente já facilitou a criação de um microclima. (Figura 158)

As enormes estufas (Biosferas) abrigam inúmeras espécies vegetais


provenientes da Amazônia, África, Malásia, USA, do Mediterrâneo, Chile, Himalaia e
Australásia, distribuídas em dois espaços climatizados, criando respectivamente as
atmosferas: Úmida Tropical, representando um ambiente de floresta tropical, e Morno
Temperado, para simular condições mediterrâneas. (DINIZ, 2006)

A maior das cúpulas tem 100m de diâmetro e 45m de altura. O módulo


hexagonal é capaz de variações adaptáveis à topografia do terreno. A estrutura de
aço utilizada é composta de elementos estruturais tubulares e sistema de conectores
padronizados, é altamente eficiente e facilmente transportável. Esta estrutura tem o
fechamento dos módulos estruturais executados em painéis de ETFE transparente,
um polímero derivado do nome polyethene-co-tetrafluoroethene, que formam uma
espécie de almofadas de ar, proporcionando uma grande redução de peso
comparando-se com uma possível execução em vidro, reduzindo os custos com
transporte e facilitando a montagem. (DINIZ, 2006)

Os domos possuem diâmetros diferentes, para atender tanto à topografia


quanto às exigências de espaços internos, onde a forma resultante dá a impressão
de um organismo biomórfico. Há uma sinergia entre arquitetura e a paisagem, assim,
o centro de visitantes com forma de arco achatado com cobertura de grama reforça a
noção que a área externa também faz parte do conjunto, criando ainda a integração
entre os dois conjuntos de esferas. Esta estrutura central comporta área de serviços,
restaurante e espaço para exibições. (DINIZ, 2006)
237

O Eden project é a maior cobertura transparente autoportante do mundo,


cobrindo uma área aproximada de 23.000m² com painéis hexagonais e pentagonais
individuais de até 80m², entre os quais, 232 painéis são controlados por computador
e operáveis para ventilação. (DINIZ, 2006)

Um ponto importante a ser observado é que as mudanças de temperatura


usualmente não são críticas para estruturas com domos, já que podem expandir
livremente na direção radial, por isto, não houve a necessidade de construção de
juntas de dilatação neste projeto.

Abaixo, um resumo da sua Ficha Técnica para se ter ideia das suas
proporções:

Local: Saint Austell, Cornwall, Inglaterra.

Superfície Total: 39540m².

Peso total do aço utilizado: 700 ton.

Total comprimento de todas as vigas: 36000m.

Peso do aço por área: menos que 24kgf/m².

Área do maior hexágono: 80m² e vão de 11m.

Diâmetro do maior Domus: 125m.

Área total coberta: 23000m².

Projeto arquitetônico: Nicholas Grimshaw & Partners Ltd, London.

Engenharia estrutural: Anthony Hunt Associates e Ove Arup & Partners.

Construção: Alfred McAlpine Construction e Sir Robert McAlpine.

Estrutura de aço: Mero GmbH & Co. KG.

Membranes: Foiltec Verarbeitung von Folien und Textilien GmbH.

(KNEBEL, SANCHEZ-ALVAREZ e ZIMMERMAN, 2005 apud DINIZ, 2006.)


238

Figura 158 – Imagens do interior, exterior e de detalhes da construção do Eden Project (Inglaterra).

Fonte: (DINIZ, 2006).


239

É importante mostrar também que, recentemente, muitas empresas têm


observado o potencial de uso destas configurações e as utilizado em
empreendimentos de hotelaria vinculado aos conceitos de sustentabilidade e
consciência ambiental aliado a facilidade do seu design propício e resistente para
lugares com natureza mais selvagem, se revelando uma excelente opção de turismo
de aventura, como os exemplos do Ecocamp Patagônia, Punta de Domos, Magma
Lodge, Elqui Domos, Whitepod e Aurora dome, etc. (Figura 159). O caso específico
do Ecocamp Patagônia, o primeiro hotel a perceber as vantagens de utilização destas
configurações neste tipo de negócio será mostrado numa análise mais detalhada,
assim como também os valores que geralmente estão relacionados com este tipo de
empreendimento.

Figura 159 – Exemplos de hotéis de cúpulas geodésicas.

Fonte: Elaborado pela autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


240

3.5.2.1 Hotel Ecocamp Patagônia

O EcoCamp é um hotel localizado dentro de um parque natural na Patagônia


(Chile) com vista privilegiada para a região montanhosa Torres del Paine. Fundado
em 2001 pelos engenheiros e proprietários da Cascada Expediciones (empresa de
turismo aventureiro) Javier Lopez, Yerko Ivelic e Nani Astorga, foi pioneiro em
construir quartos de hotel com cúpulas geodésicas baseado no modelo derivado de
Fuller, embora a forma hemisférica também seja uma referência das originais
cabanas indígenas da região. (Figura 160)

Figura 160 – Ecocamp Patagônia.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Similar como nos hotéis tradicionais que possuem várias opções de quartos,
no EcoCamp existem 4 opções de cúpulas para hospedagem: Standard com 10m²,
Suíte com 28m², Loft com 37m² e Superior com 23m². Os locais para as refeições,
aulas de yoga, loja e bar são cúpulas geodésicas comunitárias que fornecem um
ponto de encontro onde os hóspedes podem compartilhar histórias entre si e planejar
futuras excursões. Na Figura 161, imagens evidenciando detalhes do exterior e
interior das diferentes cúpulas geodésicas, retiradas do site da empresa.
241

Figura 161 – Ecocamp Patagônia, detalhes do exterior e interior.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Alguns aspectos relativos a ergonomia do ambiente construído levantados por


VILLAROUCO (2008), tais como: conforto térmico, acústico e lumínico; acessibilidade
e percepção ambiental serão apresentados a seguir; assim como também serão
abordados os aspectos sustentáveis do hotel que atendem as tendências e urgências
vigentes no cenário atual. O Objetivo destas análises é facilitar a visualização e o
entendimento do contexto em que geralmente se inserem as aplicações de
construções com geodésicas. São elas:

a) Conforto Térmico, Acústico e Lumínico: A geometria das geodésicas


favorece um fluxo melhorado do ar, a concentração de luz e calor e a uma
temperatura mais uniforme do que numa habitação convencional. A área de
superfície exposta no exterior nas cúpulas também é menor, permitindo menos
troca de calor com o ambiente; aliado a isso, o volume de ar dentro da cúpula
também é menor, o que se traduz em economia para se manter ameno no
inverno, poupando-se até 50% em energia para aquecer. A distribuição
excelente do fluxo de ar no interior das cúpulas evita ainda as áreas de
estancamento de ar e, por conseguinte, que haja proliferação de fungos,
bactérias e umidade.

As áreas translúcidas da cobertura das cúpulas as tornam naturalmente como


excelentes coletoras de energia solar, refletindo a luz e o calor para dentro da
estrutura como uma estufa, evitando a perda do calor por irradiação. Essa situação
se torna muito útil para regiões com inverno rigoroso como na Patagônia, permitindo
242

que mesmo sem paredes de alvenaria, com a ajuda da lareira à lenha, do


aquecimento solar, e da aparente estrutura de ferro galvanizado com a cobertura
exterior de lona verde e transparente, mais uma camada interna de almofada isolante,
sejam eficientemente suficientes para garantir calor e proteção contra os ventos fortes
e frios do local (Figura 162). Aliado a isto, o conforto térmico também é garantido por
um sistema a gás para o aquecimento da água.

Figura 162 – Ecocamp, conforto térmico e iluminação natural por claraboias.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Sobre o conforto acústico, LOTUFO et al (1981) ressalta ainda a qualidade


acústica proporcionada no interior das cúpulas, a geometria favorece que o som seja
reverberado dentro delas e que se torne uma barreira para os sons de fora. No caso
do hotel, esta qualidade pode ser aproveitada dentro das cúpulas para o convívio
social com apresentações musicais e a privacidade pode ser garantida com a
distância dada entre estas cúpulas (Figura 163). Por estar numa região de ventos
fortes, o formato ajuda a diminuir o ruído externo, embora permitindo ainda que os
sons da natureza sejam aproveitados, o que não deixa de ser um ponto positivo.
243

Figura 163 – Ecocamp, conforto acústico.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Já a iluminação do hotel privilegia a luz natural na maior parte do dia. Dentro


das cúpulas há claraboias que facilitam a captação da luz de dia e durante a noite há
a iluminação por lâmpadas e lanternas de led (Figura 164) provenientes da energia
verde por captação solar. Ela é suficiente, mas um ponto negativo é que na versão
da cúpula Standard é necessário solicitar lanternas pois a iluminação é inexistente,
chegando a ficar comprometida nas outras áreas do hotel nos dias de inverno
rigoroso, quando a iluminação solar é precária mesmo com gerador elétrico.

Figura 164 – Ecocamp, iluminação à led por lâmpadas solares.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

b) Acessibilidade: Apesar da proposta do hotel ser claramente direcionada para


um público ativo em busca de aventura, esportista, o que é evidenciado pelos
programas de atividades disponíveis no hotel como: trilhas à pé, de bicicleta
244

ou à cavalo por terrenos irregulares, picos, pontes de madeiras, ou mesmo a


prática da Ioga, canoagem, etc., outro aspecto importante a se discorrer é
sobre à facilidade de deslocamentos entre os ambientes construídos do hotel.

Para pessoas com dificuldades de locomoção, como cadeirantes e idosos, isto


se torna um ponto negativo, pois não há rampas e como as construções são
suspensas, mesmo por plataformas de madeira relativamente baixas, há sempre
escadas e batentes dificultando as passagens (Figura 165). A versão Standard com
apenas 10m² também não é adequada para cadeirantes, embora nas demais áreas,
o fato destas cúpulas serem maiores e livres de paredes internas possa garantir um
deslocamento sem obstrução. Idosos também podem se sentir desencorajados a ficar
nas cúpulas mais afastadas das áreas comunitárias, pois teriam que fazer longas
caminhadas para ir e vir, mesmo que para alguns isto não chegue a ser um problema
excludente.

Figura 165 – Ecocamp, batentes e escadas.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Sobre esta acessibilidade para pessoas com deficiências visuais, estas


também sentiriam certa dificuldades por causa dos batentes e escadas, mas também
não seria um total empecilho, principalmente se estiverem acompanhadas. Os
deficientes auditivos não teriam problemas com deslocamentos nos ambientes do
hotel pois são bem intuitivos com as passarelas de madeira fazendo a ligação entre
todas as cúpulas. Entretanto, podem sentir dificuldade de comunicação, caso estejam
desacompanhados e não haja pessoa do hotel capacitada para a linguagem de sinais,
ainda assim, nada que um bloco de notas não ajude.
245

Um ponto positivo do hotel se refere a acessibilidade de maneira mais


abrangente, se preocupando com o entorno do ambiente a qual está inserido, e isto
pode ser observado no planejamento das construções das cúpulas sobre plataformas
elevadas e na ausência de cercas em torno do EcoCamp, o que permite que não seja
bloqueada a passagem de animais por baixo das estruturas e que cavalos e demais
animais do parque possam entrar livremente (Figura 166) Lâmpadas solares
iluminam as passarelas e as cúpulas à noite, sendo muito sutis, de modo a não
perturbar os animais noturnos para que não se sintam ameaçados pelo hotel. Não
pensar apenas na acessibilidade do Homem no projeto do ambiente construído, mas
também na dos animais que vivem no local não deixa de ser um enfoque inovador,
de acordo com as tendências atuais de preocupação ambiental.

Figura 166 – Ecocamp, plataformas para acessibilidade dos animais do entorno.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

c) Percepção Ambiental: As cúpulas oferecem um visual bem diferente e


atrativo para o layout do hotel e o padrão radial permite a criação de espaços
mais sociáveis. Com coberturas autossustentáveis, é possível ter amplos
espaços desobstruídos sem a necessidade de vigas, colunas ou paredes de
suporte no interior, e isto tende a aproximar ao invés de separar as pessoas.
Outra percepção pertinente é que psicologicamente a curvatura côncava no
interior da cúpula é mais acolhedora que o teto plano.

Todas as cúpulas de dormir são confortáveis (Figura 167), mesmo a versão


menor, a Standard, em que o banheiro é compartilhado e não possui sistema de
aquecimento, nem iluminação. As demais versões possuem área espaçosa para
246

camas, lareira, banheiro privativo, aquecimento de água à gás e energia elétrica para
carregamento de celulares e laptops, porém um ponto que para alguns seria negativo
é o fato de não disponibilizar wifi (só nas áreas comunitárias), nem secadores, já que
o consumo de energia é limitado e o objetivo é ter uma experiência mais natural dentro
do que é possível em termos de conforto de interação com a natureza, pois tudo é
pensado para que se perceba a premissa do hotel de preocupação e
responsabilidade ambiental.

Figura 167 – Ecocamp, cúpula de dormir visão interior.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

O aspecto social é um dos seus atributos mais célebres, que promove


atividades, passeios em grupos e estimula o convívio. Há quatro cúpulas de uso
comunitário, elas são ligadas às demais cúpulas de dormir por passarelas de madeira
suspensas. Uma delas é o refeitório onde todos comem juntos, a outra, um
bar/lounge, uma terceira é destinada à prática de Ioga, e uma última, contém uma loja
e uma pequena biblioteca. Nelas, os hóspedes podem interagir entre si, sentar, ler,
conversar, fazer ioga, desfrutar da boa gastronomia do hotel, relaxar, compartilhar
suas histórias e aventuras do dia, etc. Usualmente os guias também utilizam a cúpula
comunitária da biblioteca para mostrar aos hóspedes os mapas das trilhas e pontos
de observação de animais selvagens. Todas as cúpulas comunitárias estão rodeadas
por terraços, com amplo espaço para favorecer a interação social. (Figura 168)
247

Figura 168 – O Ecocamp favorece a interação social.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Apesar de ter uma configuração diferente do usual, as cúpulas são muito bem
vistas pelos visitantes que evidenciam o design original no interior de belas formas
geométricas, além da aprovação da ideia de hotel verde. Em sua página do facebook,
possui mais de 20.000 curtidas e uma aprovação de quase 5 estrelas, a mesma
aprovação possui no Tripadvisor com quase 500 comentários de hóspedes satisfeitos
com suas experiências, cujos pacotes turísticos variam de $2600 à $5300 dólares,
(incluindo: atividades, hotel, refeições e traslados).

d) Design Portátil e Econômico: A forma geodésica é bastante vantajosa, pois


ela otimiza a carga, deslocando as forças em toda sua estrutura, por isto é
ergonômico, aerodinâmico e forte para resistir a situações extremas como:
ventos fortes, tempestades, terremotos e acumulação de neve. Quanto mais
forte o vento, não tendo superfícies de sucção, ele o rodeia e o firma mais
ainda no terreno, inclusive na região do hotel a velocidade dos ventos pode
chegar à 200km/h. Além disso, a esfera tem 25% menos área de superfície por
volume fechado do que qualquer outra forma. A cúpula combina a estabilidade
inerente dos triângulos com a proporção vantajosa volume/área de superfície
de uma esfera, o que resulta em menos materiais de construção para englobar
mais espaço. Há uma estimativa de redução de 30% de materiais e 50% de
energia em relação a uma construção convencional de alvenaria de mesma
área construída. Redução também de custos com a mão de obra, pois a
montagem e manutenção é mais fácil, simples e rápida.
248

Tendo menos material, menos área de superfície, ausência de paredes


internas e composto de materiais mais leves que a alvenaria, como tubos de ferro
galvanizado, lona, almofadas isolantes e madeira, este design portátil não precisa de
um alicerce complicado, no caso do EcoCamp uma plataforma suspensa de pinho foi
o suficiente, isto facilitou que em 2005 o hotel mudasse de local, indo para o pé das
Torres sem deixar vestígios no local anterior. Sendo de fácil montagem, torna-se bem
indicado até mesmo para lugares remotos como lá, mas também é bem indicado para
desertos, pólos, florestas, praias, montanhas, etc. Outra observação interessante
sobre a composição visual do hotel é que pelas cúpulas serem verdes, com
plataformas de madeira e ter altura limitada, se camuflam harmoniosamente na
paisagem natural (Figura 169).

Figura 169 – Ecocamp, cores e texturas se camuflam na paisagem.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

e) Diminuição de Emissões de CO²: Em 2008, tornou-se uma empresa com


certificado livre de Carbono, que só é possível para as empresas que visam
minimizar ao máximo as emissões CO². A estimativa é que em 1 ano, as
políticas do hotel compensem cerca de 230.000 toneladas de emissões de
CO². Por comprar de fornecedores locais também evita a emissão por
transportes, visto que os outros hotéis da região recebem entregas em voos
provenientes da capital ou do exterior. Como oferecem expedições de
aventuras, os meios de transportes que disponibilizam também são livres de
emissão, tais como cavalos, bicicletas, canoas e as pernas para as
caminhadas nas trilhas, sendo necessário o uso de carros só para a chegada
e partida dos hóspedes. (Figura 170)
249

Figura 170 – Ecocamp, Transportes livre de carbono.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

f) Energia Verde: Toda energia elétrica do hotel vem de turbinas hídricas e


painéis fotovoltáicos, ou seja, obtenção de energia a partir de fontes 100%
renováveis, sendo 40% solar, já que se é muito eficiente no verão, quando a
Patagônia recebe até 17 horas de sol por dia, e 60% hidroelétrica. A captação
de energia através de recursos hídricos é feita com 5 l/s de água do rio que
passam pelas turbinas entregando uma potência constante de 800 Watts. Um
inversor é usado para alternar as baterias de 24V para 220V, a voltagem
padrão no Chile. Aliado a isso, uma matriz de 1700 painéis fotovoltáicos
também ligados ao banco de baterias completam a quantidade de energia
necessária para o funcionamento do hotel. (Figura 171)

Figura 171 – Painéis de captação de energia solar do Ecocamp.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.


250

Assim, estas baterias alimentam todos os frigoríficos, iluminação,


eletrodomésticos, aparelhos de som, etc. O gás propano só é usado para aquecer a
água e as cúpulas superiores, mas existe um projeto para aquecer a água do chuveiro
também com energia solar. Com a política de economia de energia elétrica do hotel,
ela é limitada e está disponível apenas para os hóspedes carregarem seus gadgets,
não sendo possível utilizar para secadores de cabelo ou máquinas de barbear, por
exemplo.

A implementação e manutenção de toda esta estrutura sustentável é um


trabalho direto dos proprietários e engenheiros Javier e Yerko. Eles não só projetaram
todo o conceito, como ensinaram, qualificaram e supervisionam toda uma equipe para
manter estes recursos. (Figura 172)

Figura 172 – Esquema de energia verde das cúpulas do Ecocamp.

Fonte: http://www.ecocamp.travel/en/Sustainability/Green-Energy. Acesso em: 25 jan 2016.

g) Gestão de Resíduos: Possui uma gestão de resíduos que visa reduzir ao


máximo o descarte de papel, latas e plástico, até os fornecedores são
251

escolhidos com muito cuidado, garantindo que estejam cientes de cumprir com
as normas ambientais do hotel, que procura comprar a granel, de modo a
limitar embalagens individuais a um mínimo a ser trazida para o parque. Todos
os resíduos são separados de acordo com o estatuto de reciclagem: orgânico,
papel, vidro e materiais perigosos ou tóxicos. Os não-orgânicos são removidos
e enviados para a cidade mais próxima de Punta Arenas para serem
reciclados, e o material orgânico serve de alimentação para os porcos numa
fazenda da vizinhança.

Guias cuidam para evitar que os hóspedes joguem lixo nas rotas durante as
caminhadas, trazendo de volta para o hotel todo o material não-biodegradável. Existe
reutilização dos zip-lock do almoço e das garrafas de água e também há um manual
em todas as cúpulas informando as práticas ecológicas que incluem: ficar nas
passarelas de madeira, não fumar dentro das cúpulas, usar produtos de higiene
biodegradáveis, não descartar pilhas, minimizar o tempo no chuveiro e partilhar o
transporte.

Além disso, trabalha com o dispositivo de compostagem mais moderno do


mundo, sendo o primeiro na indústria hoteleira em todo o Chile e Patagônia. As
câmaras recolhem os resíduos dos sanitários e separam o material sólido do líquido.
O sólido é misturado com papel e aparas de madeira e recebe calor para manter
microrganismos vivos e o processo de compostagem ativa. Já o material líquido passa
pela câmara de limpeza onde é filtrado, em seguida, passado para a terraDevido às
baixas temperaturas na Patagônia, há um grande esforço para manter este processo
(Figura 173).
252

Figura 173 – Banheiro comunitário e dispositivo de compostagem do Ecocamp.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

h) Responsabilidade Social: Pensando em desenvolvimento sustentável do


entorno, o apoio social mais lógico que o hotel pode oferecer é comprar
localmente e empregar moradores da região, garantindo-lhes uma boa renda
mensal. Por isto, até os cavalos são contratados de fazendeiros das
redondezas, a maioria do mobiliário, artesanato e decoração também são de
Punta Arenas e todos os alimentos são comprados da região (ovos, carnes,
peixes, queijos, frutas secas, grãos, marmelada, pães, frutas e legumes). Além
disso, dispõe também de uma loja que vende roupas de produtores locais,
principalmente de lã e couro. (Figura 174)

Figura 174 – Mobiliário, artesanato, decoração e alimentos de produtores locais.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Cerca de 90% de todo o pessoal empregado são da região local, sendo a


maioria de Puerto Natales e de Punta Arenas, inclusive seus guias especializados
253

cresceram na região e estudaram em universidades sobre ecoturismo em áreas como


geologia, ornitologia e botânica (Figura 175). Os proprietários e o gerente são de
Santiago. Todos vivem uma vida eco-friendly, cuidando da energia, água e gestão de
resíduos. Compartilham a filosofia ambientalmente sustentável ao longo dos anos, e
incentivam seus clientes, fornecedores e acionistas a pensarem e agirem da mesma
forma. Fomenta também essa compreensão da importância da natureza entre os
vizinhos, compartilhando as suas estratégias e inovações sustentáveis com o órgão
de desenvolvimento da região com o intuito de ajudar outros empresários a seguirem
o mesmo caminho.

Figura 175 – Funcionários do Ecocamp.

Fonte: www.ecocamp.travel. Acesso em: 25 jan 2016.

Possui certificação ISO14001, até o momento, única em todo Chile, cumprindo


elevados padrões ambientais e constantemente testando e partilhando novas ideias
verdes, buscando ser exemplo para outros desenvolvedores de turismo; e também a
ISO9001, garantindo o cumprimento dos mais elevados padrões de princípios de
gestão.

Líder em viagens ambientalmente responsáveis para as áreas frágeis de


recursos naturais, procura minimizar o impacto de cada visitante no Parque Nacional
Torres del Paine e está constantemente a estudar, testar, comprar e instalar
tecnologias sustentáveis para o fornecimento de energia verde e de gestão de
resíduosEste caso do Ecocamp foi importante de ser detalhado pois possui a
premissa de levar conforto aos limites somente daquilo que é sustentável, onde a
conservação ambiental se demonstrou prioridade sobre quaisquer práticas que
254

poderiam ser prejudiciais para o parque, e este é um ponto de vista muito válido, pois
proteger o parque é ser responsável de uma maneira mais ampla, é estar preocupado
com o futuro das próximas gerações.

3.5.2.2 Spheres (Os Domos da Amazon)

Um projeto que demonstra o quão atual e inovador pode ser um projeto com
esta configuração é o que está sendo desenvolvido pelo escritório de arquitetura
americano NBBJ, que já fez parcerias com outras grandes empresas do ramo da
tecnologia como Google, Samsung e Microsoft, e que agora está trabalhando para a
Amazon, que com apenas 22 anos de mercado é a maior varejista online do mundo,
pioneira em compras e leitura de livros eletrônicos pela internet e computação em
nuvem. Este novo projeto será no bairro Denny Regrade, bem na região central da
cidade de Seattle/USA, abrange a revitalização do espaço corporativo e comercial da
empresa com cerca de 1 milhão de metros quadrados em três blocos da cidade,
incluindo a criação de um novo espaço corporativo, com três torres de escritórios de
37 andares, dois edifícios de escritórios de altura média e um complexo de 3 domos
conectados, intitulados de Spheres, que abrigará cerca de 3.000 espécies de
plantas (oriundas de 50 países), inclusive algumas destas ameaçadas de extinção,
também com o intuito de preservação. (Figuras 176 e 177)

Figura 176 – Projeto das Spheres da NBBJ para Amazon

.
Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

Para refletir uma cultura focada na comunidade da Amazon, que atualmente


corresponde ao maior empregador privado em Seattle, com mais de 20.000
255

funcionários e um investimento de mais de US$ 4 bilhões na construção e


desenvolvimento dos seus escritórios, já distribuídos em mais de 30 edifícios pela
cidade, o novo projeto procura construir um bairro em vez de um campus, onde os
princípios de design urbano desempenham um papel de destaque, com ênfase nas
atividades no nível do plano que incluem um parque público para cães, pista de
ciclismo nos 2 sentidos na 7th Avenue, com entradas separadas para trabalhadores
ciclistas, e a própria loja, que também será no térreo criando um bairro de uso misto
em uma área urbana dominada por estacionamentos de superfície.

Figura 177 – Projeto da NBBJ para Amazon.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

O primeiro arranha-céu de 37 andares, chamado Doppler, foi concluído em


2015, mas a peça central da nova sede da Amazon será o projeto Spheres com visual
que quebra o paradigma ortogonal vigente. Possui os mesmo princípios, mas difere
um pouco do modelo de geodésicas tradicional, apresentando sistemas modulares
com estrutura interna de aço soldado em um design orgânico baseada em
pentágonos chamados pelos arquitetos de catalão (Figura 178); e estrutura externa
fechada envidraçada com uma malha triangular também baseada nestes pentágonos.
Estas pequenas alterações da malha triangular tradicional das cúpulas de
Buckminster, favorece o potencial que se dispõe hoje com novas tecnologias
256

(softwares, materiais, processos) para criar novas configurações destes módulos


construtivos baseado nos mesmos princípios consrutivos. Com previsão de conclusão
para 2018, vão agir como estufas de alta tecnologia, com cerca de 30m de altura e
6mil m² de área, 5 andares com escritórios, salas de reunião, restaurantes,
lanchonetes e muitas áreas verdes. (Figura 179)

Figura 178 – Esquema dos pentágonos chamados catalão das Spheres para a empresa Amazon.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

"Nós queríamos que fosse icônico, uma estrutura que seria semelhante a um
outro ícone da cidade, como o Space Needle, para os visitantes em Seattle... Seria
um tesouro encontrado no bairro central da cidade.", informou John Schoettler, diretor
da imobiliária global da Amazon em entrevista para a revista Times de New York em
julho de 2016.
257

Figura 179 – Detalhe da secção lateral das Spheres para Amazon.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

A empresa quer usar a natureza no interior para inspirar os funcionários,


permitindo que caminhem entre as copas de cerca de 40 árvores, dentre elas, uma
figueira de 15 metros; reúnam-se com colegas em salas com paredes feitas de vinhas
e almocem ao lado de um riacho artificial.

"A idéia era levar as pessoas a pensarem mais criativamente, talvez chegar a
uma nova idéia que eles não teriam se fossem apenas em seu escritório", comenta
Dale Alberda, o arquiteto chefe do projeto na NBBJ. Muitas empresas de tecnologia
estão testando maneiras de tornar os locais de trabalho cada vez mais propícios à
criatividade, seja com playgrounds, piscinas de bolas, mesas de pingue-pongue e por
que não, com um maravilhoso jardim? (Figura 180)
258

Figura 180 – Detalhes da maquete das Spheres da Amazon evidenciando os espaços verdes.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

Dessa forma, este é um projeto que visa também o bem estar dos funcionários,
já que pesquisas apontam que a exposição à natureza ocasiona diminuição nos níveis
de estresse e isto ajuda a pensar mais criativamente, colaborando com a
produtividade dos funcionários. Por enquanto, as Spheres só serão acessíveis
apenas para os empregados da Amazon, mas com o sucesso do projeto, a empresa
prevê, o acesso à passeios públicos. (Figura 181)
259

Figura 181 – Imagem renderizada de uma vista do interior das Spheres da Amazon.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

Jeff Bezos (CEO da Amazon) pretende suprir também a uma já existente


carência de mais áreas de vegetação na região do centro, incluindo-as em tetos
verdes em cima dos demais edifícios da empresa e em áreas abertas ao público ao
redor das Spheres, visando integrar a empresa com o bairro. A Figura 182 abaixo
com imagens tiradas em agosto deste ano, demonstram o avanço destas instalações.

Figura 182 – Projeto da NBBJ para Amazon.

Fonte: Ian C. Bates para o The New York Times 11/07/2016.

O que se percebe é que o escritório da NBBJ procurou trabalhar em estreita


colaboração entre a Amazon e a cidade de Seattle para criar uma comunidade de
260

edifícios que se traduzam em um ambiente urbano adequado para os empregados


da empresa, seus vizinhos e os cidadãos de Seattle. Observa-se também que, inserir
configurações como as dos domos cria uma alternativa de construção urbana
espacial mais sustentável, que favorece as relações sociais, resgata o contato com o
plano e também com a natureza, em detrimento aos prédios vigentes. (Figura 183)

Figura 183 – Parte da Planta do Projeto da NBBJ para Amazon.

Fonte: www.nbbj.com/work/amazon. Acesso em 25 jul 2016.

3.5.3 APLICAÇÕES NO DESIGN DE PRODUTO

Com uma estética interessante e geometria marcante, as geodésicas também


inspiram diversos projetos de design de produtos, em que novos materiais e
processos ampliam as possibilidades de uso. Em alguns casos, inclusive, observa-se
que esta forma otimiza o desempenho e eficiência do produto, como o exemplo do
drone GimBall da empresa suíça Flyability. Os drones são capazes de captar
imagens em pleno vôo, mas nem todos os lugares são de fácil acesso e os sensores
podem não funcionar corretamente, provocando colisões e a perda do equipamento.
Para solucionar estes transtornos, o Gimball apostou na esfera geodésica em fibra
de carbono leve e flexível, esta forma representa uma inovação, pois permite que o
drone absorva impactos, role através de qualquer terreno, trazendo ainda segurança,
evitando possíveis danos à vítimas que poderiam colidir com as hélices do objeto.
261

Não é à toa que o projeto é vencedor do concurso “Drone for good” realizado
nos Emirados Árabes em 2015, e levou um prêmio de US$ 1 milhão, que a empresa
usará para continuar a desenvolver o produto adicionando mais funções como:
imagens em infravermelho e melhoramento da interface dedicada para busca e
salvamento de vítimas em áreas de acidentes. Atualmente o drone já é usado para
obter imagens em locais de difícil acesso, mas ainda há potencial para melhorar as
condições de vôo e duração da bateria para que possa ajudar ainda mais no resgate
de vítimas, na identificação de vazamentos químicos, na avaliação de estruturas
danificadas e na inspeção de construções perigosas. Este é um excelente exemplo
que soube aproveitar bem as vantagens da geometria da geodésica de leveza e
resistência estrutural, que resultou claramente numa melhora significativa para este
tipo de produto. (Figura 184)

Figura 184 – GimBall, drone da empresa Flyability em forma de geodésica capaz de acessar áreas
remotas.

Fonte: http://www.flyability.com/elios/. Acesso em 25 jul 2016.

Isto demonstra que existe um grande potencial de uso desta forma no design,
ampliando a sua atuação para além da construção arquitetônica. Além deste
exemplo, existem muitos outros produtos interessantes no mercado com referência
na configuração geodésica, como observa-se nas Figuras 185 e 186.
262

Figura 185 – Exemplos de produtos com configuração geodésica

Fonte: a autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


263

Figura 186 – Exemplos de produtos com configuração geodésica

Fonte: a autora, do banco de imagens do laboratório do BIODESIGN.


264

4 EXPERIMENTO: AS GEODÉSICAS COMO ESTRATÉGIA DE BIODESIGN

Devido a grande relevância e a todas as vantagens inerentes a configuração


das cúpulas geodésicas encontradas na pesquisa, é justificável o uso destas como
estratégia de Biodesign, visto que inserem em si vários princípios que estão
relacionados com a Biomimética, que pela própria geometria já é traduzido como uma
estrutura econômica em matérias e energia.

Uma das atividades fundamentais do Biodesign referida na pesquisa no


capítulo 2 na parte de fundamentos, trata da investigação e experimentação básica,
que partem da observação de fenômenos naturais sem, necessariamente, ter
presentes aplicações utilizáveis posteriormente em projetos específicos. A ideia
fundamental desta opção é a de criar um banco de dados que alimente o projeto, não
somente em soluções técnicas, mas também, em aspectos metodológicos.

Desta forma, esta parte trará um pequeno experimento para produzir duas
propostas diferentes de cúpulas geodésicas baseadas na analogia simbólica de duas
referências naturais sem o intuito de utilização num projeto em si, mas apenas com
caráter investigativo para justificar o potencial de realização de novas configurações
da geometria geodésica, que de acordo com as tecnologias atuais são facilitadas pelo
design paramétrico e pela prototipagem rápida.

4.1 Sistematização da Estratégia

A estratégia para o desenvolvimento dos modelos baseados na configuração


geodésica foi através da ferramenta CAD para modelagem 3D já mencionada no
capítulo 2, o Grasshopper, uma interface de programação visual para a criação de
formas no software de modelagem tridimensional Rhino3D, em que a grande
inovação dessa ferramenta consiste em facilitar o acesso para que profissionais, que
não possuem bases de programação, possam desenvolver formas e estruturas
visuais complexas, como as que existem na natureza.

Nesta parte, o trabalho contou com a parceria do Laboratório do Departamento


de Expressão Gráfica da UFPE, através do professor Pedro Aléssio, doutor em
Informática pela Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM-França),
colaborando com a modelagem no Grasshopper.
265

Desta forma, foram desenvolvidas três cúpulas geodésicas Classe I derivadas


do icosaedro com frequência 4v. Uma com a mesma malha triangular apenas para
estudo e mais 2 modelos diferentes com referência biológica. As descrições a seguir,
visam demonstrar de maneira breve os passos técnicos executados no programa.

Para o primeiro modelo original da geodésica, como de regra, foi usado o


icosaedro como base, para gerá-lo foi utilizado o plug-in WeaverBird para
Grasshopper, que pode gerar diretamente uma malha do polígono regular de maneira
automática, sem a necessidade de cálculos prévios. Este componente recebe como
parâmetro de entrada um plano de base e um valor usado para calcular o raio, que
neste caso específico se instituiu 9cm.

O plug-in Weaverbird possui também um componente intitulado Split


Triangles subdivision que divide as faces desse icosaedro em triangulos equiláteros
menores. Além destes compontes, o Weaverbird disponibiliza o componente
wbEdges que separa as arestas das faces tridimesionais em segmentos individuais.
Então, foram selecionadas as extremidades dos segmentos com o componente END
para serem em seguida projetados em uma esfera. Para isto, a esfera foi criada com
o mesmo centro e com o raio maior que o icosaedro, nela foram projetados os pontos
relativos as extremidades dos segmentos criados anteriormente. Os componentes
Brep Closest Point projetam o conjunto de pontos que representam os extremos dos
segmentos em uma superfície. Esses pontos são recebidos como dados de entrada
assim como a superfície esférica. Desses pontos projetados são criadas linhas que
ligam esses pontos formando a cúpula geodésica original. A Figura 187 apresenta o
script do processo e algumas imagens do sólido criado.
266

Figura 187 – Script da criação da geodésica derivada do icosaedro pelo Weavebird no Grasshopper

Fonte: Elaborado pela autora.


267

As referências naturais usadas para a analogia simbólica dos dois modelos em


questão foram duas espécies de corais, Diploria labyrinthiformis e o Palythoa
caribaeorum, animais marinhos celenterados em que foram identificados um padrão
modular interessante de ser traduzidos nestes modelos. Essa escolha não foi
baseada num estudo biomimético destes animais, pois a intenção não foi de fazer um
projeto, mas apenas em caráter de investigação e experimentação de novos padrões
de geodésicas com referências naturais. Dessa forma, foi utilizada apenas a técnica
de analogia simbólica, traduzindo nestas, algumas das características geométricas
destes animais.

No modelo baseado no coral cérebro (Diploria labyrinthiformis), como o seu


nome sugere, o seu desenho sinuoso curvo sobressalente é uma característica que
dá identidade a este animal e foi esta a inspiração para tradução, mas ao invés de
fazer uma replicação direta desse desenho sinuoso irregular, o que se gerou foram
triângulos mais orgânicos com cantos arrendodados de espessuras cilíndricas
proporcionais a espessura do aspecto do coral, pois o que se pretendia era dar
modularidade e leveza ao modelo, sem fugir das características da geometria da
geodésica.

Então, a partir da cúpula original 4v Classe I construída foram projetados os


pontos em uma esfera, e em seguida usado o plug-in BullAnt da Geometry Gym,
mais especificamente o ggCurveNetworkForceDensity, para simular diferentes
tensões na malha dessa cúpula. O segunto Componete foi o Remesh do simulador
de física para o Grasshopper chamado kangooroo. Ele projeta os vértices da malha
em uma superfície de maneira orgânica. A partir disso foram criadas células internas
à malha com um arredondamento dos triângulos e quebrando de forma branda o
posicionamento dos nós para gerar uma aparência mais orgânica à cúpula. Nesta
parte também foram criadas colunas de sustentação usando os limites da parte
inferior do domo e uma projeção no solo. Por fim foram usados os componentes que
criam tubos em torno das linhas para dar espessura à estrutura, evidenciando a
tradução da inspiração com a referência natural. Nas Figuras 188, 189 e 190 são
apresentados o script da programação no Grashopper e imagens da referência e do
modelo gerado.
268

Figura 188 – Script da criação do modelo 2 no Grasshopper.

Fonte: Elaborado pela autora.


269

Figura 189 – Referência natural (Diploria labyrinthiformis), vistas laterias (dir/esq), frontal, posterior e
secção (dir/esq) do modelo 2.

Fonte: Elaborado pela autora.


270

Figura 190 – Vistas superior, isométrica e detalhe do modelo 2.

Fonte: Elaborado pela autora.


271

No último modelo com referência no coral (Palythoa caribaeorum), a


característica que traduz o animal é esse padrão de múltiplos componentes cilíndricos
aglomerados apresentando orifícios com diferenciação de tamanhos de aberturas e
alturas. Uma característica da aglomeração de elementos esféricos, cilíndricos e
elipsoides é que resultam numa malha visual hexagonal, e por isto, a analogia
simbólica utilizada aqui é traduzida desta forma e o modelo em questão será uma
geodésica hexa-penta também de frequência 4v (o equivalente a uma geodésica de
malha triangular 8v); em que serão feitos orifícios de aberturas também com
diferenciação de alturas e aberturas, proporcionando uma característica mais
orgânica ao modelo.

Para isto também foi tomado como base o primeiro modelo original de
geodésica 4v Classe I. A partir dele foram selecionados os centros dos triângulos
dessa cúpula original para criar uma nova cúpula com novo padrão das faces graças
ao componente Facet Dome, algoritmo que preencheu a superfície de hexágonos e
pentágonos, na mesma disposição da geodésica hexa-penta 4v. A partir dele, foi
duplicada sua malha para criar uma superfície adjacente a estrutura. Com os vértices
criados anteriormente no centro dos triângulos da cúpula original, foi criado um plano
direcionado pelas normais das faces, em que foi inserida uma cópia reduzida das
faces hexa/pentagonais junto aos vértices. Essas cópias foram movidas para fora da
superfície original e em seguida preenchidas com uma superfície graças ao comando
Loft, o que deu volume aos elementos aglomerados. Para finalizar, se deu o comando
de diferença de altura e abertura dos seus orifícios. Nas Figuras 191 e 192 são
apresentados o script da programação no Grashopper e imagens da referência e do
terceiro modelo gerado.
272

Figura 191 – Referência natural (Palythoa caribaeorum), vistas laterias (dir/esq) e superior, desenho
em linhas (lateral e superior) do modelo 3.

Fonte: Elaborado pela autora.


273

Figura 192 – Vistas superior, isométrica e detalhe do modelo 3.

Fonte: Elaborado pela autora.


274

A ideia aqui não foi de estabelecer uma nova proposta para a configuração
geodésica e sim de confirmar a sua vantagem construtiva, alterando o padrão, mas
mantendo as mesmas características construtivas. O intuito foi o de demonstrar que
é possível o uso de estratégias em Biodesign para gerar esses novos modelos de
geodésicas incorporando seus aspectos sustentáveis, como modulação e economia
de materiais, como previa Fuller, e somando nestas a tendência por um design com
referências mais orgânicas e naturais, incentivando a utilização destas estruturas,
demasiadamente fortes, em aplicações específicas de soluções, seja para arquitetura
ou para a criação de novos artefatos.
275

5 CONCLUSÃO

Por fim, o que se pode constatar é que sem dúvida alguma, em seu tempo,
Fuller utilizou os princípios vigentes da Biomimética, mesmo antes de terem sido
estabelecidos, pois a sua solução para as geodésicas partiu de estudos sobre os
princípios construtivos na natureza (natureza como modelo e mentora), visando para
a sua criação, o uso eficiente de recursos, evitando desperdício de material e energia,
contemplando uma melhoria na habitação humana, para fazer um abrigo mais
confortável, eficiente e economicamente acessível a um maior número de pessoas, o
que comprova a utilização dos princípios da natureza também como medida.

O princípio de “fazer mais com menos” encontrado nas soluções ótimas de


economia de materiais e energia para as construções na natureza também está
inserido no cerne da filosofia de Buckminster Fuller, cuja tradução maior deste
princípio, dentre as suas inúmeras invenções, são justamente as suas cúpulas
geodésicas, estruturas consideradas as mais eficientes (em trabalho, materiais e
energia) para se englobar um espaço, justamente por possuir o maior volume interno
com a menor cobertura externa possível por causa da configuração esférica, padrão
também encontrado na natureza, inspiração para a concepção, acumulando inúmeras
vantagens pela geometria, tais como: leveza, força, resistência, fluxo de ar melhorado
no interior, qualidade acústica, temperatura mais uniforme, ergonomia aerodinâmica,
economia de materiais, de energia e ampla variedade de materiais disponíveis para
construção, dentre outras.

Como pensa Edmondson (2007), os princípios por trás da cúpula geodésica


não são novos, eles representam as eternas leis da natureza. A aplicação desses
fatos geométricos num sistema de construção foi que representou um fator de
inovação, e representa grande potencial de aplicações, devido as muitas vantagens
já discutidas. A tecnologia possibilita, através de softwares paramétricos, que se
consiga traduzir formas mais orgânicas e facilitam a concepção de novos modelos
baseados na configuração geodésica, ampliando ainda mais as possibilidades de
novas aplicações.

De fato, estas estruturas correspondem a um exemplo bem especial de


aplicação Biomimética, e comprovam que embora existam outros caminhos, projetar
276

se guiando pela natureza, contribui para se encontrar soluções ótimas como as de


Fuller, e de tantos outros exemplos biomiméticos cidados nesta dissertação, para que
se consiga resolver os problemas humanos em um cenário de complexidade e de
urgência em sustentabilidade.

Todos os conceitos, métodos e aplicações do levantamento teórico de


Biomimética demonstram o quanto são significativas estas oportunidades de novas
descobertas neste sentido e como é importante estimular este pensamento, seja nas
escolas de Design, como feito pelo CRIED, no laboratório do BIODESIGN e na UCG,
e porque não, até mesmo no ensino fundamental?

É bem verdade que se tem avançado neste campo, mas ainda é pouco do que
se deveria, novas pesquisas no sentido de investigar métodos mais eficientes e
práticos de aplicação biomimética podem ser formuladas, métodos que auxiliem esta
interpretação com foco mais sustentável, ou que ampliem parâmetros e técnicas para
esta tradução com o mundo natural.

Sobre as geodésicas são vários os possíveis desdobramentos, inclusive de


pesquisas mais profundas sobre estas vantagens levantadas, do ponto de vista de
buscar mais dados técnicos, econômicos, energéticos, testes de laboratório, testes
relativos ao tempo das construções, transporte, montagem etc. Da mesma forma, há
um vasto campo para pesquisas de novos materiais e processos com foco em
sustentabilidade para estas estruturas, assim como há ainda muito a ser feito em
relação a sugestões de novas aplicações, principalmente no design de artefatos. Não
esquecendo aqui que há ainda a possibilidade de continuidade da breve
experimentação para gerar novos padrões para as geodésicas, através de diferentes
módulos construtivos, incorporando a complexidade de outros fatores para propor
aplicações reais que sejam soluções passíveis de implementação a nível de projeto,
estando de acordo um cenário sustentável.
277

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