Diário de Bordo Final
Diário de Bordo Final
Diário de Bordo Final
21 e 22 de outubro de 2019
Dia: 13/11/19
Não fui para a aula na escola, já que, hoje seria o dia de dividirmos nossas
experiências iniciais com a professora Daniela Segabinazi. Foram boas as explanações
dos meus colegas, saber que eles já estavam atuando e desenvolvendo uma boa
interação com seus alunos, foi reconfortante. Por outro lado, alguns relataram a falta de
interesse e o desencorajamento dos professores, na minha escola, os professores
também comentam sobre a desvalorização da área e como escolher qualquer outro
caminho valeria mais a pena. Apesar de não ser uma energia positiva, compreendo suas
frustrações e não me abalo com esses comentários.
Por fim, a professora Segabinazi, orientou-me no trato com os alunos, ter o
devido cuidado em não me envolver com as intrigas dos alunos e me resguarda em
apenas observar. Não poderia fazer frente a alguns absurdos que presenciara nesse
tempo de estagio, xingamentos e agressões entre os alunos, afora a grande conversa e
falta de comprometimento nas aulas.
Dias: 18/11/19 e 20/11/19
Seguindo com as atividades na escola, o acompanhamento ao lado da professora
se deu de maneira satisfatório, apesar das minhas reticências com seu método,
majoritariamente, estruturalista. A professora, de forma, alguma desqualifica ou nega a
realidade ou a condição de seus alunos, há interações extraclasse e, uma clara relação de
afeto entre ela e seus alunos. Contudo, essa aproximação não consegue diluir-se com
sua abordagem em sala de aula. Algo que Bordini (1991) nos aponta com clareza:
O outro é a medida: é para o outro que se produz o texto. E o
outro não se inscreve no texto apenas no seu processo de
produção de sentidos na leitura. O outro insere-se já na
produção, como condição necessária para que o texto exista. É
porque se sabe do outro que um texto acabado não é fechado em
si mesmo. Seu sentido, por maior precisão que lhe queira dar seu
autor, e ele o sabe, é já na produção um sentido construído a
dois (GERALDI apud SUASSUNA, 2014, p.74)
Dia 12/12/19
No último dia de aula antes das férias, tivemos orientações individuais acerca
das oficinas. Minha ideia era a de trabalhar poesia, já que alguns alunos tinham contato
com esse gênero poético. Além de que, para aqueles que só tinham contato e
aproximação com a música, a poesia poderia ser trabalhada numa comparação com a
música. A professora orientou-me e optei por trabalhar diretamente com a música e o
texto poético. Especificamente, o funk e o texto poético.
Dia 02/03/20
Durante o período das férias, pude refletir pouco na experiência que desfrutei
nos estágios. Estava, de maneira geral, insatisfeito com minha performance e lembrei da
dica inicial das professoras, “escolham uma escola com bons professores, independente
da distância”. Por motivos práticos, escolhi justamente o oposto, não acho que a minha
escola seja ruim ou que a professora seja uma má profissional, apenas acho que o
método de aprendizagem, estruturalista, suprime e sufoca inadvertidamente o interesse
dos alunos. A biblioteca permaneceu fechada em todo o período em que estive como
estagiário, apenas alguns alunos do sexto ano tiveram experiência de leitura, partia-me o
coração não ter abertura para falar de literatura e a minha esperança seria ministrar a
oficina.
A primeira vez que visitei a escola, fora no início de fevereiro, contudo, havia se
iniciado uma reforma e a escola ainda estava adaptando o novo horário acadêmica, a
diretora orientou-me falar com a professora acerca dos novos horários. Infelizmente,
apenas na quinta-feira eu estaria com ela em sala. Planejei meus horários de forma que
eu fosse três dias da semana, sendo que a segunda e quarta eu permaneceria na sala dos
professores sem estar propriamente em sala de aula.
Nesse tempo ficava na sala dos professores lendo, não conseguia falar com os
outros professores da escola porque poucos tinham horário vago e, quando terminavam
suas aulas eles iam para casa. Contudo, a professora de biologia conversava um pouco
comigo, perguntava como estava a faculdade e sim estava gostando da escola. O único
contanto que tinha com os alunos era no intervalo, saia da sala dos professores e ia para
o pátio conversar um pouco com eles. Falávamos de música e desenhos de forma geral,
tentava incentiva-los a lerem alguma coisa, falei um pouco do conto “A máscara da
morte Escarlate” de Edgar Allan Poe para Gustavo, um aluno do sétimo ano, ele pareceu
interessado mas quando ofereci uma cópia do conto, ele recusou, disse que não
precisava. Anotei no caderno, para lembrar de dar uma cópia mesmo assim. No fim,
retornei para casa depois que as aulas se encerraram.
Dia:05/03
A minha orientadora, professora Maria José, havia iniciado o ano letivo com
todas as turmas do fundamental, visto que a antiga professora estava de licença.
Contudo, quando retornei à escola ela já havia se estabilizado com as turmas de sexto e
sétimo ano. Retornei, realmente com as atividades habituais de estagiário, no dia cinco
de março, a escola estava mobilizada para o carnaval. Os alunos do sétimo ano haviam
feito três textos: um poema em conjunto com a professora e duas músicas (uma paródia
e uma música com a temática do carnaval).
Havia faltado um dos professores e, em determinado momento, a professora me
pediu para ficar sozinho com os alunos até a apresentação começar. Fui tomado por
apreensão já que, até aquele momento nunca estive sem o acompanhamento dela em
sala. Os alunos haviam acabado de receber os livros didáticos e eu quis trabalhar uma
questão de interpretação de texto, contudo, os alunos pediram para ensaiar os textos
para a apresentação, então deixei-os a vontade. Contudo, logo os alunos pararam de
ensaiar e começaram a conversar entre si, não consegui estabelecer uma organização e
por mais que pedisse para lerem a questão, eles não acataram. Senti-me muito frustrado
e chateado, poderia ter preparado algo para eles se não tivesse sido requisitado de última
hora. Seguiu-se essa desorganização até que os alunos foram se apresentar com o
restante da escola.
Primeiramente, a diretora anunciara que aquele momento era a comemoração do
carnaval que ela devia a eles, era improvisado, mas com carinho, afirmava a diretora.
Mais tarde, a situação me lembrou o conto de Clarice, Restos de Carnaval, com certeza
alguns dos alunos conseguiram desfrutar do feriado carnavalesco, mas imaginei a
parcela sem oportunidade ou vontade de pular o carnaval, aquela pequena comemoração
era a pequena parcela do feriado que alguns não puderam desfrutar. Ouvi todas as
interpretações dos alunos. Com certeza, aquelas apresentações amparavam-se numa das
passagens da ABNT, a de entender a língua como “meio de construção de identidades
de seus usuários e da comunidade a que pertencem” (2017, p.85).
As apresentações tiraram um pouco da minha tristeza em sala, fui para casa em
seguida para pensar se um dia conseguiria ter mais controle e organização as minhas
aulas. Preciso urgentemente de prática em sala de aula.
Dia:09/03/20
Novamente, fiquei na sala dos professores, levara o livro de Vargas Llosa,
Travessuras da menina má, e lia a espera do intervalo para uma interação, mínima que
fosse, com os alunos. Fui conversar novamente com o grupo de três amigos, Gustavo,
Marcelo e João, já que esses eram quem se aproximavam mais de mim para conversar.
Acabei tentando discutir a narrativa de um dos desenhos que os três assistiram, um
anime japonês chamado, One punch man, na trama o personagem derrota todos com um
único e se frustra, constantemente por não ter um desafio, é uma comédia. Tentei
dialogar justamente com isso, como um desenho cativante e de comédia reflete uma
ideia de frustração e tédio, sentimos empatia pelo personagem e não achamos sem
graças as lutas curtas e com o mesmo resultado. Eles riram um pouco do raciocínio e
disseram que gostavam do anime pela diversão e pelo desespero do protagonista super
poderoso, mas mesmo assim insatisfeito. Fiquei feliz de ter conversado sobre a narrativa
com eles, fora o mais próximo de uma opinião literária que eu pude absorver de meus
alunos. Na próxima semana, iria começar a apresentação da Oficina.
Dia: 12/03/20
Neste dia, estava ansioso para a aplicação da oficina. A professora me reservou
duas aulas para a aplicação dividido em duas semanas, um total de três horas. Como
consta em meu planejamento, esperava o dobro de tempo para exercer a oficina, mas, de
toda forma, entendia a situação de mudança de turma e de horário, não tinha como ser
diferente. Como as aulas seguidas aconteciam na quinta-feira, tive sorte de desfrutar do
horário seguido. Os alunos do sétimo, que no ano passado eu acompanhava como o
sétimo, não gostavam do gênero funk, mas só soube disso quando apliquei a oficina
com eles. Durante a aula, os alunos ficaram em círculo e eu me dispus sentado numas
das extremidades. Quando iniciei, os alunos disseram que já não aguentavam mais a
música, apesar deles terem escrito uma paródia baseado nela algumas semanas
anteriores. De toda forma, eles pediram para não tocar a música na caixinha de som,
pedi então para imaginarem a letra sem o ritmo da canção (havia entregado um papel
com o poema de Manuel de Barros e a música de Thiaguinho MT). Eles leram em voz
alta e acabaram entonando a música no ritmo, eles riram e então comecei a discutir com
eles o que era mais importante numa música, o ritmo ou a letra. Depois de alguns
minutos, a maioria respondeu que era o ritmo que mais chamava a atenção, inclusive no
gênero funk.
Em seguida, perguntei a cada um dos alunos qual era a música ou o estilo
musical que eles mais gostavam, as respostas foram das mais variadas, desde Kpop
(música coreana) a MPB atual (Melín). Assim, coloquei na caixa de som um trecho de
cada música que eles pediram, nesses primeiros momentos a oficina correu bem e os
alunos participaram atividade. Contudo, depois desse exercício, pedi para observarem o
outro texto no papel o poema O menino que carregava água na peneira. Li em voz alta
o texto e perguntei se tinham palavras que eles não entenderam, disseram-me:
“alicerce”, “peraltagens” e “orvalhos” (palavras que eram cruciais para o entendimento
do texto), depois de explicadas, pedi para que lessem o texto mais uma vez, agora em
silêncio.
Poucos fizeram isso, apesar dos meus pedidos, alguns alunos conversavam entre
si e outros faziam outra atividade, estavam pintando o caderno. Os que leram pararam e
quando perguntei se sentiram alguma diferença me disseram que sim, mas mesmo assim
não entenderam muito bem o texto. Meu intuito era lê cada verso e procurar entender o
motivo do menino gostar de levar a água na peneira, queria que eles entendessem que
cada verso sinalizava para um significado e uma lógica, a de que brincar e escrever com
as palavras era carregar “água na peneira”, era preferir os “vazios” do que o cheio.
Contudo, quando comecei a indagar os alunos sobre cada verso, eles já não queriam
mais ler o texto novamente, apesar dos meus pedidos, nesse instante só tinha mais
quinze minutos, os alunos não quiseram me escutar e preferiram conversar entre si.
Estava próximo do horário do intervalo, então alguns alunos se levantaram e foram
esperar próximo a porta. Dei fim a oficina sem conseguir explanar o texto e com os
alunos pedindo para tocar outra música.
Com isso, acabei a oficina extremamente chateado e frustrado, senti que fui um
péssimo professor por não conseguir encantar os alunos e leva-los a lerem o texto, esse
era o principal objetivo da oficina. Decidi caprichar no próximo e último encontro,
queria o mínimo de interesse por parte deles no texto literário e não na música.
Contudo, com a suspensão das aulas, não pude recompensar minhas falhas e senti-me
mais amargurado com a execução das oficinas.