Biologia e Fisiologia Celular - Unidade 2 - Biomebranas

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Biologia e Fisiologia Celular

UNIDADE 2
BIOMEMBRANAS

1. VISÃO GERAL

As membranas presentes nos seres vivos são denominadas biomembranas. As


biomembranas são fluidos bidimensionais, constituídos por uma bicamada lipídica, com espessura
média de 5 nm, e proteínas associadas. A unidade e coesão das bicamadas lipídicas são
mantidas graças às interações hidrofóbicas entre os lipídeos que constituem as biomembranas.
Cerca de cinqüenta por cento da massa das biomembranas é conferida pelos lipídeos. Estima-se,
também, que cerca de trinta por cento de todas as proteínas celulares estejam associadas às
biomembranas. As biomembranas são responsáveis pela compartimentalização celular. A
membrana plasmática (figura 2.1) estabelece o limite celular, ao separar o conteúdo intracelular
do meio externo, e é encontrada em todos os tipos celulares. As membranas internas formam o
sistema de endomembranas. Tais membranas são responsáveis pela compartimentalização
intracelular, delimitando as organelas, e conseqüentemente os processos celulares que ocorrem
em cada uma delas. O sistema de endomembranas é encontrado somente em células
eucarióticas.
As bicamadas lipídicas são assimétricas, apresentando uma composição diferente entre
as duas monocamadas, ou faces, que a constituem. Na membrana plasmática, essa assimetria é
notável em relação aos lipídeos presentes na face exoplasmática (localizada na superfície celular)
e na face citosólica (voltada para o citosol).

Figura 2.1 – Esquema ilustrativo da membrana plasmática.


Modificado de
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Cell_membrane_detailed_diagram_4.svg/1000px-
Cell_membrane_detailed_diagram_4.svg.png

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2. COMO TUDO COMEÇOU...

A existência de uma membrana plasmática foi sugerida, inicialmente, por Nargeli, no ano
de 1855. A natureza lipídica e a permeabilidade seletiva das membranas celulares foi proposta por
Ernest Overton, em 1890. Trinta anos depois, dois cientistas alemães, E. Gortter e F. Grendel,
estudando a composição da membrana de eritrócitos, verificaram que as membranas celulares
eram formadas por uma bicamada lipídica. A observação de que as biomembranas não eram
constituídas somente por lipídeos, mas também por proteínas associadas, foi feita por Davson e
Danielli no ano de 1935.
Finalmente, no ano de 1972, S. J. Singer e G. Nicolson propuseram o modelo de mosaico
fluido para as biomembranas (figura 2.2). Surge, assim, o conceito de que as membranas
celulares eram dinâmicas. Neste modelo, tanto os lipídeos quanto as proteínas podem se
movimentar bi-direcionalmente pela bicamada lipídica. Sabemos, hoje, que este dinamismo é
fundamental para o papel biológico desempenhado pelas biomembranas.
Somente a partir dos anos 90 do século XX, surge o conceito de domínios de membrana.
Estes domínios são regiões com características estruturais próprias, distintas do restante da
membrana, e que apresentam particularidades funcionais. As balsas lipídicas são um exemplo de
um domínio de membrana.

3. ESTRUTURA DE BIOMEMBRANAS

Para entendermos o papel biológico das membranas celulares precisamos responder a


uma pergunta crucial: como são constituídas as biomembranas?
As biomembranas são constituídas por lipídeos, proteínas e carboidratos ligados covalentemente
às proteínas (glicoproteínas ou proteoglicanas) ou lipídeos (glicolipídeos). Vamos aprender um
pouco mais sobre a estrutura molecular e as características químicas de cada um destes
componentes das biomembranas.

3.1. LIPÍDEOS DE MEMBRANA

Os lipídeos que constituem a membranas biológicas são moléculas anfipáticas, ou seja,


apresentam tanto um caráter hidrofílico (afinidade pela água – caráter polar) quanto hidrofóbico
(aversão à água – caráter apolar). A tabela 2.1 apresenta os principais lipídeos encontrados nas
biomembranas. A composição das biomembranas varia enormemente de acordo com o tipo
celular e com o compartimento intracelular delimitado por elas. Células vegetais e organismos
procariotos, por exemplo, não apresentam colesterol na constituição das suas membranas.

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Figura 2.2 - Modelos de Biomembranas

Classe Sub-Tipo Lipídeo (Abreviação)


Fosfatidiletanolamina
(PE)
Fosfoglicerídeos
Fosfatidilcolina (PC)
Fosfolipídeos Fosfatidilserina (PS)
Fosfatidilinositol (PI)
Esfingomielina (SM)
Esfingolipídeos
Glicoesfingolipídeos
Esteróides - Colesterol

Tabela 2.1 - Lipídeos mais freqüentes em biomembranas

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A unidade da membrana é mantida graças às interações hidrofóbicas e às interações de


van der Walls que ocorrem entre as porções hidrofóbicas dos fosfolipídeos (caudas dos ácidos
graxos) e do colesterol.
Vamos, agora, conhecer, mais de perto, cada um destes lipídeos.
Os fosfoglicerídeos representam a classe mais abundante dos fosfolipídeos de
membrana. Todos os fosfoglicerídeos são constituídos por uma cabeça polar (um álcool) ligada,
por esterificação, a um grupamento fosfato, que por sua vez encontra-se ligado a uma molécula
de glicerol esterificada a duas caudas apolares de ácido graxo (figura 2.3).

Figura 2.3 - Estrutura básica de um fosfoglicerídeo.


Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Phospholipid.svg

O esfingolipídeo mais freqüentemente encontrado nas biomembranas é a esfingomielina


(figura 2.4), que, assim como todos os esfingolipídeos, apresenta uma molécula de ceramida
como seu núcleo hidrofóbico. A ceramida, por sua vez, é formada por um amino álcool insaturado
de 18 carbonos, denominado esfingosina, ligado, por meio de uma ligação amídica, a outro ácido
graxo saturado. Outra característica estrutural típica deste lipídeo de membrana, é que ao invés
do cerne de glicerol, a cabeça polar da esfingomielina, fosfocolina ou fosfoetanolamina, é ligada
aos ácidos graxos através de uma serina, e não de uma molécula de glicerol, como observado
nos fosfoglicerídeos.

Figura 2.4 - Estrutura da Esfingomielina.


Modificado de: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sphingomyelin.png

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Outra classe importante de lipídeos de membranas é constituída pelos glicolipídeos, que


são lipídeos ligados, covalentemente, a um ou mais resíduos de carboidratos (galactose, N-
acetilglicosamina ou ácido siálico, por exemplo). Dentre os glicolipídeos, podemos destacar os
glicoesfingolipídeos, tais como os cerebrosídeos e os gangliosídeos, que possuem a esfingosina
no seu núcleo hidrofóbico, e desempenham papéis biológicos importantes em células musculares
e nervosas.

:: FIQUE POR DENTRO!! ::

Os glicolipídeos presentes na superfície dos glóbulos vermelhos


(eritrócitos) são utilizados como marcadores (antígenos) para a tipagem sanguínea
baseada no sistema ABO. A diferença na composição dos resíduos de carboidratos
dos oligossacarídeos presentes nestes glicolipídeos é quem determina o grupo (ou
tipo) sanguíneo. Nos indivíduos com o tipo sanguíneo A, o resíduo terminal do
oligossacarídeo é a N-acetilgalactosamina, ao passo que nos indivíduos com o tipo
sanguíneo B, o resíduo terminal de açúcar é a galactose. Indivíduos cujos eritrócitos
apresentam glicolipídeos com N-acetilgalactosamina terminal, assim como
glicolipídeos com resíduos de galactose terminal são classificados como tipo AB.
Indivíduos com o tipo sanguíneo O não apresentam tais resíduos na região terminal
do oligossacarídeo, sendo, desta forma, também conhecidos como tipo 0 (zero). A
tabela 2.2 ilustra a diferença encontrada nos resíduos de carboidratos dos
glicolipídeos e os referidos grupos sanguíneos.

Tabela 2.2 - Grupos Sanguíneos e respectivos antígenos de superfície. Os anticorpos


representados na tabela são encontrados no plasma dos indivíduos dos respectivos
grupos sanguíneos. Gal = Galactose; GlcNAc= N-acetilglicosamina; Fuc = Fucose;
GalNAc = N-acetilgalactosamina, Modificado de
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/32/ABO_blood_type.svg/1000p
x-ABO_blood_type.svg.png e
http://oregonstate.edu/instruction/bb450/stryer/ch11/Slide56.jpg

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:: SAIBA MAIS... ::

Aspectos moleculares do Sistema Sangüíneo ABO (Ana Carla Batissoco &


Márcia Cristina Zago Novaretti, Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia,
2003, número 25, pg. 47-58)  http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v25n1/v25n1a08.pdf

Outro lipídeo importante na composição das biomembranas é o colesterol, cuja estrutura


está representada na figura 2.5. A quantidade do colesterol é bastante variada nas
biomembranas. Por exemplo, na membrana plasmática de eritrócitos, a concentração estimada de
colesterol é de 23%, enquanto que na membrana do retículo endoplasmático, o colesterol
responde por apenas 6% dos lipídeos totais e este valor é ainda menor nas membranas
mitocondriais interna e externa, onde o colesterol constitui apenas 3% do total de lipídeos.

Figura 2.5 - Estrutura do Colesterol.


Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
thumb/9/9a/Cholesterol.svg/1000px-Cholesterol.svg.png

:: FIQUE DE OLHO!! ::

A membrana plasmática é marcadamente assimétrica com relação à


composição dos lipídeos presentes nos dois folhetos. Na monocamada interna da
membrana plasmática encontramos, predominantemente, fosfatidilserina,
fosfatidiletanolamina e fosfatidilinositol, enquanto que na monocamada
exoplasmática encontramos, majoritariamente, fosfatidilcolina e esfingomielina. Os
glicolipídeos são encontrados somente na monocamada exoplasmática. Já o
colesterol é distribuído de forma homogênea pelos dois folhetos da membrana. A
assimetria da membrana é mantida por proteínas específicas, denominadas flipases,
que realizam um movimento conhecido como flip-flop, que é responsável pela
inversão dos fosfolipídeos entre as duas monocamadas. Os lipídeos da membrana
apresentam uma alta mobilidade entre as monocamadas, podendo realizar
movimentos bi-dimensionais, tais como difusão lateral, flexão das caudas de ácido
graxo e rotação em torno do próprio eixo molecular. Essa mobilidade dos
fosfolipídeos reflete-se numa característica fundamental para o exercício do papel
biológico das biomembranas, que é a fluidez da membrana.

:: TA NA WEB!!! ::

No link abaixo você vai encontrar uma série de animações na língua


portuguesa sobre estrutura de biomembranas, além de outros assuntos de Biologia
Celular. Bom proveito!
Cell Biology Animation em Português  http://www.johnkyrk.com/index.pt.html

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3.1.1. FLUIDEZ DE MEMBRANA

A fluidez das biomembranas depende de alguns fatores cruciais, tais como a temperatura
na qual se encontra a membrana e a própria composição lipídica da membrana. As
biomembranas podem estar em dois estados físicos: paracristalino (gel) ou fluido (líquido). A
mudança de um estado físico para o outro é conhecida como transição de fase e é determinante
para a fluidez da membrana. Quanto mais elevada for a temperatura mais fluida será uma
biomembrana. Com relação à composição lipídica, a presença de fosfolipídeos ricos em ácidos
graxos poliinsaturados, ou de cadeia curta, favorece a fluidez das membranas. O colesterol
também é importante na manutenção da fluidez da membrana em condições de baixa
temperatura, uma vez que impede uma associação hidrofóbica mais forte entre as caudas dos
ácidos graxos dos fosfolipídeos, e previne, assim, a transição de fase para o estado gel.
A fluidez da membrana é fundamental para diversos processos celulares, tais como
transporte de moléculas e sinalização celular. As balsas lipídicas, domínios da membrana ricos
em esfingolipídeos, colesterol e proteínas associadas, dependem da fluidez da membrana para a
sua participação em processos de sinalização e endocitose.

:: FIQUE POR DENTRO!! ::

A membrana plasmática de células de peixes que habitam águas frias


tende a ser rica em ácidos graxos insaturados, evitando, desta forma, que em
baixas temperaturas ocorra uma transição de fase para o estado gel, e
conseqüente diminuição da fluidez da membrana. Peixes como o atum, o
bacalhau, o salmão e a sardinha, por exemplo, são ricos em ácidos graxos
poliinsaturados, como os ácidos graxos Omega-3. Alguns estudos demonstraram
que populações cujo hábito alimentar é rico em peixes de água fria apresentam
uma menor incidência de doenças cardiovasculares. Óleos extraídos destes
peixes têm sido utilizados na dieta humana como recomendação para a
prevenção de uma série de patologias, com as citadas doenças cardiovasculares.
No entanto, o benefício do uso destes óleos encapsulados, como complementos
alimentares, ainda carece de maiores estudos.

:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::

Além do papel estrutural dos lipídeos de membrana, essas moléculas


também estão envolvidas em uma série de processos celulares vitais. Faça uma
pesquisa e descubra outros papéis biológicos para os lipídeos de membrana. Como
sugestão, procure sobre o envolvimento dos seguintes lipídeos em outros eventos
celulares e fisiológicos: fosfatidilserina, fosfatidilinositol, ceramida, esfingosina-1-
fosfato, e glicolipídeos.

3.2 PROTEÍNAS DA MEMBRANA

As proteínas presentes nas biomembranas podem ser classificadas em: Integrais


(intrínsecas) ou Periféricas (extrínsecas). Esta classificação se baseia no procedimento

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necessário para promover a dissociação de uma proteína da membrana. Proteínas integrais só se


dissociam da membrana através do uso de detergentes, tais como o dodecil sulfato de sódio ou o
Triton-X-100, ao passo que proteínas periféricas podem ser dissociadas da membrana na
presença de soluções hipersalinas ou soluções de pH extremos.
As proteínas periféricas se associam à membrana mediante interações iônicas com
proteínas integrais ou com os fosfolipídeos da membrana. Por outro lado, as proteínas integrais da
membrana se associam com estas mediante interações hidrofóbicas fortes com os lipídeos da
membrana e podem ser subdivididas em três tipos:

a) Proteínas Transmembrana. São proteínas que atravessam completamente a bicamada lipídica,


apresentando, pelo menos, três regiões bem definidas: domínio extracelular, domínio
transmembrana (TM) e domínio citosólico. Tais proteínas podem cruzar a bicamada lipídica uma
única vez (Proteína Integral Unipasso) ou diversas vezes (Proteína Integral Multipasso). A
estrutura secundária do domínio TM das proteínas unipasso é sempre α-hélice, sendo este
domínio constituído por 20 a 23 resíduos de aminoácidos. As proteínas integrais multipasso
podem apresentar domínios TM com estrutura secundária organizada em α-hélice ou folha-β. Nas
proteínas multipasso com domínio TM em estrutura α-hélice, é comum observarmos uma ligação
covalente à lipídeos do folheto interno, o que promove uma maior estabilidade e interação da
proteína com a membrana. Já os domínios TM com estrutura folha-β das proteínas multipasso são
constituídos por cerca de 10 resíduos de aminoácidos. Estas proteínas apresentam normalmente
de 8 a 22 domínios TM e são encontradas somente em bactérias e nas membranas externas da
mitocôndria e de cloroplastos. A interação das proteínas transmembrana com as biomembranas
se dá por meio de interações hidrofóbicas entre as cadeias laterais dos resíduos de aminoácidos
dos domínios TM das proteínas e a cauda dos ácidos graxos dos fosfolipídeos da membrana.

b) Proteínas Ancoradas por Lipídeos. São quatro tipos de âncoras de lipídeos que promovem a
interação destas proteínas com a membrana plasmática: âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI),
âncora de miristato, âncora de palmitato e âncora de prenilato. A ancoragem por GPI só ocorre no
domínio extracelular da membrana plasmática, enquanto que a ancoragem pelos ácidos graxos é
restrita à face citosólica da membrana plasmática. A interação destas proteínas com as
membranas se dá pela interação hidrofóbica dos lipídeos ligados covalentemente às proteínas
com a cauda dos ácidos graxos dos fosfolipídeos da membrana.

c) Proteínas Ancoradas por α-Hélice. Tais proteínas são ancoradas na membrana plasmática a
partir da interação dos fosfolipídeos da membrana com um domínio lateral hidrofóbico em α-hélice
da proteína. Estas proteínas são encontradas somente na face citosólica da membrana
plasmática.

As proteínas de membrana estão envolvidas em uma série de processos biológicos


fundamentais para a fisiologia celular, tais como: transporte de moléculas, atividade enzimática,
adesão celular, comunicação celular, reconhecimento celular e formação das junções celulares.

4. TRANSPORTE ATRAVÉS DAS BIOMEMBRANAS

Uma das características mais marcantes das biomembranas é a sua permeabilidade


seletiva. Somente pequenas moléculas não carregadas podem se difundir livremente pela

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bicamada lipídica. De forma geral, a bicamada lipídica é permeável aos gases, como o dióxido de
carbono (CO2), o óxido nítrico (NO) e o oxigênio (O2), por exemplo; às pequenas moléculas de
caráter hidrofóbico, como os hormônios esteróides; ou moléculas pequenas polares, mas sem
carga, como o etanol. A bicamada é muito pouco permeável à água e praticamente impermeável
aos íons e às moléculas maiores, polares ou não, tais como a glicose, lactose, frutose,
aminoácidos e nucleotídeos. Como ocorre, então, o transporte destas moléculas através das
biomembranas? Conforme discutimos na seção anterior, uma das atividades biológicas das
proteínas da membrana é justamente realizar o transporte de íons e molecular através das
bicamadas lipídicas, e isto é feito pelas proteínas multipasso.
O transporte através das biomembranas é classificado de acordo com a necessidade
energética para a realização deste transporte. Assim, temos dois tipos de transporte: passivo e
ativo. No transporte passivo não há gasto de energia, uma vez que as moléculas ou íons são
transportados do compartimento de maior concentração (da molécula ou íon) para o
compartimento de menor concentração (quadro A - figura 2.6). Ou seja, este tipo de transporte
ocorre favor do gradiente de concentração e pode ou não ser mediado por proteínas da
membrana. Quando o transporte não é mediado por proteínas da membrana denominamos
difusão simples (transporte de  - figura 2.6) e quando o mesmo é mediado por proteínas, ele é
denominado difusão facilitada (transporte de  - figura 2.6). Quem facilita? As proteínas, sem as
quais esse transporte não poderia ocorrer. A difusão facilitada pode ser mediada por: proteínas
carreadoras, como, por exemplo, a proteína GLUT-4, que é o transportador de glicose encontrado
no tecido adiposo e muscular cardíaco e esquelético; ou por canais iônicos, que, como o nome
sugere, são proteínas envolvidas no transporte de íons através das biomembranas, íons, estes,
que apresentam uma distribuição bastante distinta entre o meio extra e intracelular, como pode
ser observado na tabela 2.3. Os canais iônicos podem ser regulados de diversas formas: por
interação com ligantes extracelulares; por interação com ligantes intracelulares, por meio de
alterações na voltagem da membrana; ou mecanicamente (estiramento da membrana).

Íons Meio Extracelular (mM) Meio Intracelular (mM)

Sódio 145 15
Potássio 5,0 140
-4
Cálcio 1,0 a 2,0 10
Magnésio 1,0 a 2,0 0,5
Cloreto 110 5 a 15
-5 -5
Hidrogênio 4 x 10 7 x 10

Tabela 2.3 – Concentração extracelular e intracelular de alguns íons em células de mamíferos.

A velocidade do transporte na difusão facilitada depende de uma série de fatores. O


caráter químico da molécula a ser transportada é determinante. Para moléculas sem carga, a
velocidade de transporte é diretamente proporcional ao gradiente de concentração da molécula,
ou seja, quanto maior a diferença na concentração da molécula entre os dois compartimentos
separados pela membrana, maior será a velocidade do transporte. No entanto, para íons ou
moléculas carregadas, dois fatores são decisivos: o gradiente de concentração e o potencial da
membrana, que juntos constituem o gradiente eletroquímico. Moléculas carregadas positivamente,

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por exemplo, são atraídas com maior velocidade para um compartimento com predominância de
cargas negativas.
No transporte ativo, as moléculas ou íons são transportadas contra o seu gradiente de
concentração (quadros B, C e D - figura 2.6). Este tipo de transporte requer um gasto energético,
uma vez que promove a diminuição da entropia e, conseqüentemente, o aumento da energia livre
do sistema. O transporte ativo pode ser dirigido por hidrólise de ATP (trifosfato de adenosina),
sendo classificado como Transporte Ativo Primário (quadro B - figura 2.6), ou pode ser dirigido por
gradiente eletroquímico, denominado Transporte Ativo Secundário (quadros C e D - figura 2.6),
uma vez que o gradiente eletroquímico utilizado neste tipo de transporte é gerado por um
transporte ativo primário dependente do ATP. As proteínas que realizam o transporte ativo
primário são conhecidas como ATPases de membrana ou Bombas. Entre estas proteínas
podemos destacar: a) a Na+K+-ATPase, que, para cada molécula de ATP hidrolisada, realiza o
transporte de 3 íons Na+ para o meio extracelular e 2 íons K+ para o interior da célula; b) as
proteínas da superfamília ABC (do inglês ATP-binding cassetes), que constituem a maior família
de proteínas de membrana, sendo encontradas desde bactérias até seres humanos, e estão
envolvidas no transporte de uma série de moléculas, desde hormônios, nucleotídeos, pequenos
peptídeos até xenobióticos; c) a bomba de Ca2 da membrana plasmática e da membrana do
retículo sarcoplasmático, responsáveis pelos baixos níveis citosólicos deste íon; d) a bomba de
próton da membrana lisossomal, que mantém o pH ácido desta organela. No caso dos
transportadores secundários, destacamos os trocadores iônicos, o Co-transportador Glicose-Na+,
responsável pela absorção de glicose no trato digestório, e os Co-transportadores de aminoácidos
e Na+.
Os transportadores da membrana também podem ser classificados quanto ao tipo e
direcionamento do transporte efetuado. Proteínas que transportam uma única molécula, sem
gasto energético, são denominadas Uniporte (quadro A – figura 2.6). Já os co-transportadores são
denominados Simporte (quadro C – figura 2.6), quando transportam uma molécula e um ou mais
íons diferentes na mesma direção, ou Antiporte (quadro D – figura 2.6), quando transportam uma
molécula e um ou mais íons diferentes em direções opostas. No co-transporte, a passagem de um
íon a favor do gradiente de concentração fornece a energia necessária para o transporte acoplado
de outro íon, ou molécula, contra o gradiente de concentração.

Figura 2.6 – Esquema ilustrativo de transportadores da membrana

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:: FIQUE POR DENTRO!! ::

Os transportadores ABC estão envolvidos em uma série de patologias humanas,


como a resistência à quimioterapia em cânceres, também conhecida como
resistência a múltiplas drogas e associada à superexpressão das proteínas ABCB1
(Glicoproteína-P), ABCC1 (Proteína MRP) e ABCG2 (Proteína BCRP). A
superexpressão destas proteínas é responsável pela falência terapêutica no
tratamento de diversos tumores humanos. Outra patologia humana correlacionada
com as proteínas ABC é a fibrose cística, uma doença hereditária autossômica
recessiva, onde mutações no gene que codifica para a proteína CFTR, um
transportador de íon cloreto, levam a um quadro grave de complicações
respiratórias, uma vez que o transporte dos íons cloreto é essencial para a
fluidificação do muco.

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