PDF 224

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 180

André Pereira Lima

PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Deformabilidade e estabilidade
de taludes em solo grampeado

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial


para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de
Pós-graduação em Engenharia Civil – Geotecnia
do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio.

Orientador: Prof. Alberto S. F. J. Sayão


Co-orientadora: Profa. Denise M. S. Gerscovich

Rio de Janeiro
Setembro de 2002
André Pereira Lima

Deformabilidade e estabilidade
de taludes em solo grampeado

Dissertação apresentada como requisito parcial


para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de
Pós-graduação em Engenharia Civil – Geotecnia
do Departamento de Engenharia Civil do Centro
Técnico Científico da PUC-Rio. Aprovada pela
Comissão Examinadora abaixo assinada.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Prof. Alberto S. F. J. Sayão


Orientador
Departamento de Engenharia Civil – PUC-Rio

Profa. Denise M. S. Gerscovich


Co-orientadora
UERJ

Prof. Luís Manuel R. e Sousa


LNEC-Portugal

Prof. Márcio S. S. de Almeida


COPPE/UFRJ

Prof. Luciano V. de Medeiros


Departamento de Engenharia Civil – PUC-Rio

Prof. Ney Augusto Dumont


Coordenador Setorial
do Centro Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 02 de Setembro de 2002


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e
do orientador.

André Pereira Lima

Graduou-se em Engenharia Civil, pela Universidade do Estado


do Rio de Janeiro, em 1999. Trabalhou como engenheiro de
projetos no período entre 1999 e 2000. Ingressou no curso de
mestrado em Engenharia Civil (Geotecnia) no ano de 2000,
atuando na área de Geotecnia Experimental. Desenvolveu
pesquisa sobre a técnica de estabilização de taludes em solo
grampeado, escrevendo artigos técnicos sobre este assunto e
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

participando de congressos em Geotecnia.

Ficha Catalográfica
Lima, André Pereira

Deformabilidade e estabilidade de taludes em solo


grampeado / André Pereira Lima; orientador: Alberto de
Sampaio Ferraz Jardim Sayão; co-orientadora: Denise
Maria Soares Gerscovich. – Rio de Janeiro: PUC,
Departamento de Engenharia Civil, 2002.

[21], 159 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade


Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia
Civil.

Inclui referências bibliográficas.

1. Engenharia Civil – Teses. 2. Solo grampeado. 3.


Estabilidade de taludes. 4. Modelagem numérica. 5. Solo
residual. I. Sayão, Alberto S. F. J. (Alberto de Ferraz
Jardim). II. Gerscovich, Denise Maria Soares. III. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento
de Engenharia Civil. IV. Título.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Para os meus queridos pais, Silio e Odete,


pelo amor, educação e confiança recebidos
ao longo de toda a minha vida.
Agradecimentos

Aos meus amados pais, responsáveis por esta difícil conquista. Meus sinceros
agradecimentos àqueles que buscaram sempre me transmitir os ensinamentos da
vida.

À minha querida irmã, Martha e à minha maravilhosa família.

Aos meus orientadores professor Alberto S. F. J. Sayão e professora Denise M. S.


Gerscovich pelos conceitos transmitidos, sugestões e dedicação ao longo de toda
pesquisa, além da amizade e respeito adquiridos.

Ao professor J. A. R. Ortigão pela disponibilização do programa computacional


FLAC.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Aos demais professores do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, pelos


conhecimentos obtidos ao longo de todo o curso de mestrado.

Aos funcionários da LPS Consultoria e Engenharia, em particular aos engenheiros


Edward Barros Pacheco e Leandro de Moura Costa Filho, pela orientação técnica
e sugestões recebidas.

A todos os colegas e amigos do curso de mestrado e doutorado da PUC-Rio pela


convivência sadia e amizade construída e que ajudaram de certa forma no
desenvolvimento desta tese. Em especial à Fernanda O. Springer pelas
informações fornecidas no início da pesquisa sobre o funcionamento do programa
computacional FLAC e à Laryssa P. Ligocki pela ajuda na etapa final da
dissertação.

A todos os funcionários do DEC, exemplos de profissionalismo, meus


agradecimentos em especial à Ana Roxo e Cristiano.

A CAPES pela ajuda financeira indispensável ao desenvolvimento deste trabalho.


Resumo

Lima, André Pereira; Sayão, Alberto de Sampaio Ferraz Jardim; Gerscovich,


Denise Maria Soares. Deformabilidade e estabilidade de taludes em solo
grampeado. Rio de Janeiro, 2002. 180p. Dissertação de Mestrado –
Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro.

Deformabilidade e estabilidade de taludes em solo grampeado são aspectos


relevantes na utilização deste sistema de reforço de taludes naturais ou resultantes
de processo de escavação. A concepção do projeto envolve a escolha do
comprimento, ângulo de instalação, espaçamento e resistência dos grampos. O
dimensionamento, usualmente baseado na teoria do Equilíbrio Limite, não
consegue prever deformações no interior da massa grampeada, assim como a
redistribuição de esforços nos grampos ao longo das diversas etapas de escavação.
Estas informações podem ser obtidas por modelagem computacional com o
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

auxílio do programa FLAC, de forma a definir critérios de projeto para massas


grampeadas em solo residual. Para escavações de baixa altura (inferiores a 5m), a
razão entre comprimento do grampo e altura da escavação deve ser superior a 0,7
e a razão entre espaçamento vertical e comprimento do grampo inferior a 50%.
Para escavações maiores, a razão entre espaçamento vertical e comprimento do
grampo deve ser inferior a 25%. Para estas condições não é observada uma
configuração de colapso do talude em solo grampeado. O ângulo de rotação da
face da escavação é um parâmetro importante no projeto. Adicionalmente
verifica-se que uma pequena variação na geometria, condições de contorno,
modelo constitutivo e parâmetros do solo e do grampo causam mudanças
expressivas nos valores de deslocamento, tensões iniciais e esforços axiais nos
grampos. Uma pequena variação da inclinação do talude pode acarretar reduções
de até 70% nos deslocamentos finais. Os esforços axiais máximos, mobilizados
em cada grampo durante o processo de escavação, são maiores nos taludes mais
íngremes.

Palavras-chave
Engenharia civil; solo grampeado; estabilidade de taludes; modelagem
numérica; solo residual; escavação; grampo; FLAC.
Abstract

Lima, André Pereira; Sayão, Alberto de Sampaio Ferraz Jardim (Advisor);


Gerscovich, Denise Maria Soares (Advisor). Deformability and stability of
slopes supported by soil nailing. Rio de Janeiro, 2002. 180p. MSc.
Dissertation – Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.

Deformability and stability of slopes supported by soil nailing are relevant


aspects in the utilization of this reinforcement system during excavation. The
project concept involves choosing the installation angle, spacing, and resistance of
the soil nails. The parameters, usually determined from Limit Equilibrium Theory,
cannot predict the deformation of the reinforced mass or the redistribution of
stresses on the nails throughout the excavation stages. This information was
obtained through computer modeling using the FLAC Program, which defined the
performance of soil nailing masses in residual soil. For shallow excavations
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(H<5m), the ratio between length and excavation height must be a minimum of
0.7, the ratio between spacing and length up to a maximum of 0.5. For higher
excavations, the ratio between spacing and length has to be reduced to 0.25. The
rotation angle of the excavation’s face is an important parameter. Additionally,
small variations in the geometry, boundary conditions, constitutive model, and
soil and nail parameters, can cause large changes in the deformations, initial
tensions and axial stresses in the nails. Regarding the slope inclination, a small
variation can cause reductions of up to 70% in the final deformations. The
maximum axial stresses mobilized in each nail during the process of excavation
are larger in steeper slopes.

Keywords
Civil engineering; soil nailing; slope stability; deformation analysis; residual
soil; excavation; FLAC.
Sumário

1.Introdução______________________________________________ 22

2.Revisão bibliográfica______________________________________ 24

2.1.Solo grampeado _______________________________________ 24

2.1.1.Utilização da técnica: definição e desenvolvimento ___________ 24

2.1.1.1.Origens do solo grampeado____________________________ 24

2.1.1.2.Definição da técnica _________________________________ 25

2.1.1.3.Método executivo____________________________________ 28

2.1.1.4.Aplicação da técnica no exterior ________________________ 41


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

2.1.1.5.Aplicação da técnica no Brasil __________________________ 43

2.1.1.6.Vantagens e limitações do solo grampeado _______________ 50

2.1.1.7.Comparação com outros sistemas de estabilização _________ 52

2.1.1.8.Estruturas mistas ____________________________________ 56

2.1.1.9.Ensaios de arrancamento _____________________________ 58

2.1.2.Mecanismos e comportamento de estruturas grampeadas _____ 62

2.1.2.1.Distribuição de tensão nos grampos _____________________ 63

2.1.2.2.Interação solo/grampo ________________________________ 65

2.1.2.3.Mobilização da resistência à flexão dos grampos ___________ 67

2.1.2.4.Deformações e deslocamentos em parede de solo grampeado 68

2.1.3.Tipos de ruptura em estrutura de solo grampeado ____________ 71

2.1.4.Concepção e projeto___________________________________ 74

2.1.4.1.Concepção da estrutura ______________________________ 74

2.1.4.2.Projeto ____________________________________________ 81

2.1.4.3.Análises da estabilidade por equilíbrio limite _______________ 81


2.1.4.4.Análises tensão x deformação__________________________ 91

2.1.4.5.Instrumentação de obras em solo grampeado______________ 92

2.2.Solos residuais _______________________________________ 100

2.2.1.Parâmetros geotécnicos de solo residuais do Rio de Janeiro __ 102

2.2.2.Deformabilidade de campo x laboratório em solos residuais ___ 107

2.2.3.Coeficiente do empuxo no repouso (ko) em solos residuais ____ 108

3.O Programa computacional FLAC __________________________ 110

3.1.Introdução ___________________________________________ 110

3.2.A formulação do FLAC _________________________________ 111

3.3.Modelos constitutivos __________________________________ 114

3.4.Elementos estruturais __________________________________ 116


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

3.5.Geração da malha ____________________________________ 117

3.6.Tensões “in-situ” ______________________________________ 118

3.7.Tempo de execução ___________________________________ 118

3.8.Comandos/entrada de dados ____________________________ 118

3.9.Resultados fornecidos pelo FLAC _________________________ 125

3.9.1.Deslocamentos ______________________________________ 125

3.9.2.Avaliação das condições de ruptura ______________________ 125

4.Modelagem de escavações com grampos e tirantes ____________ 128

4.1.Aplicação das tensões “in situ” ___________________________ 128

4.2.Influência dos parâmetros geométricos _____________________ 130

4.2.1.Inclinação do talude (β) _______________________________ 131

4.2.2.Número de etapas de escavação ________________________ 142

4.2.3.Espessura da parede _________________________________ 147

4.2.4.Condições de contorno e geometria da malha ______________ 148

4.3.Influência da forma de modelagem da parede _______________ 151


4.4.Escavações grampeadas em solo residual __________________ 153

4.4.1.Definição da malha ___________________________________ 153

4.4.2.Definição dos parâmetros do solo _______________________ 155

4.5.Análises _____________________________________________ 158

4.5.1.Comprimento de grampo variável________________________ 164

5.Conclusões e sugestões__________________________________ 165

6.Referências bibliográficas_________________________________ 169


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA
Lista de figuras

Figura 1 - Técnicas de execução de túneis com revestimento flexível _ 25


Figura 2 - Aplicações de sistemas de reforço de solo ______________ 26
Figura 3 - Aplicações usuais de solo grampeado _________________ 28
Figura 4 - Construção de estrutura em solo grampeado em escavações
com equipamentos mecânicos _______________________________ 29
Figura 5 - Construção de estrutura de solo grampeado em escavações
com equipamentos manuais _________________________________ 29
Figura 6 - Detalhe da cabeça dos grampos______________________ 32
Figura 7 - Revestimento da parede de solo grampeado ____________ 35
Figura 8 - Suporte circular usando a técnica de solo grampeado _____ 36
Figura 9 - Placas pré-moldadas em talude de solo residual _________ 36
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 10 - Drenos subhorizontais profundos ____________________ 38


Figura 11 - Drenagem superficial______________________________ 38
Figura 12 - Drenagem superficial com dreno do paramento _________ 39
Figura 13 - Canaletas de crista em estruturas de solo grampeado ____ 40
Figura 14 - Primeira estrutura em solo grampeado na França _______ 41
Figura 15 - Recorde de altura em estruturas grampeadas na França __ 42
Figura 16 - Contenção de taludes de emboques em 1970 __________ 44
Figura 17 - Contenção de escavação em solo residual, Niterói, RJ ___ 45
Figura 18 - Contenção de talude em filito sob a fundação de viaduto
ferroviário________________________________________________ 45
Figura 19 - Estruturas em solo grampeado realizadas no Brasil ______ 46
Figura 20 - Muro experimental no Morro da Formiga ______________ 46
Figura 21 - Solo grampeado, Av. Automóvel Clube________________ 47
Figura 22 - Solo grampeado em encosta da Linha Amarela - RJ _____ 48
Figura 23 - Comparação entre solo-grampeado e estaca-raíz _______ 53
Figura 24 - Deslocamentos horizontais máximos em estruturas de solo
grampeado e terra armada __________________________________ 54
Figura 25 - Mecanismos de transferência de carga________________ 56
Figura 26 - Estruturas mistas_________________________________ 57
Figura 27 - Ensaio de arrancamento ___________________________ 59
Figura 28 - Correlações empíricas para qs ______________________ 60
Figura 29 - Correlação entre qs e PL para solos arenosos___________ 61
Figura 30 - Correlação entre qs e PL para solos argilosos ___________ 61
Figura 31 - Zonas ativa e passiva em escavações com grampos livres 64
Figura 32 - Definição de uma possível superfície de ruptura_________ 65
Figura 33 - Grampos submetidos a flexão e esforços cisalhantes ____ 67
Figura 34 - Esquema com as deformações em uma estrutura de solo
grampeado ______________________________________________ 69
Figura 35 - Deslocamentos na face de muros instrumentados _______ 70
Figura 36 - Mecanismos de ruptura ____________________________ 71
Figura 37 - Ruptura devido a altura elevada nas etapas de escavação 73
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 38 - Modelo de análise dos parâmetros de solo grampeado ___ 75


Figura 39 - Ábaco de estabilidade para L/H=0,6 __________________ 77
Figura 40 - Ábaco de estabilidade para L/H=0,8 __________________ 77
Figura 41 - Ábaco de estabilidade para L/H=1,0 __________________ 78
Figura 42 - Ábaco de estabilidade para L/H=1,2 __________________ 78
Figura 43 - Influência da rigidez dos grampos no reforço ___________ 85
Figura 44 - Modos de instabilização externa _____________________ 89
Figura 45 - Discretização da malha ____________________________ 94
Figura 46 - Seção transversal do monobloco rígido _______________ 95
Figura 47 - Deslocamentos horizontais na parede modelada como
elemento simples bidimensional ______________________________ 96
Figura 48 - Deslocamentos horizontais na parede modelada como
elemento de viga __________________________________________ 97
Figura 49 - Deslocamentos horizontais finais na parede em função do tipo
de modelagem da face _____________________________________ 98
Figura 50 - Parâmetros da malha utilizada por Briaud e Lim (1997) ___ 99
Figura 51 - Influência de Be nos deslocamentos horizontais ________ 99
Figura 52 - Influência de We nos deslocamentos horizontais ________ 99
Figura 53 - Aumento da resistência com relação a sucção mátrica __ 102
Figura 54 - Equilíbrio da máxima força não balanceada ___________ 113
Figura 55 - Situação de não convergência da máxima força não
balanceada _____________________________________________ 113
Figura 56 - Ciclo de cálculo do método explícito utilizado pelo FLAC _ 114
Figura 57 - Tipo de solicitação do elemento de viga ______________ 116
Figura 58 - Representação conceitual do modelo de reforço _______ 123
Figura 59 - Razão resistência/tensão para o critério de ruptura de Mohr-
Coulomb _______________________________________________ 126
Figura 60 - Geometria adotada nas análises preliminares _________ 129
Figura 61 - Variação das tensões "in situ" (vetores de velocidade em x)
em função do número de iterações ___________________________ 129
Figura 62 - Variação das tensões "in situ" (vetores de velocidade em y)
em função do número de iterações ___________________________ 130
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 63 - Geometria utilizada na fase de consolidação da malha __ 131


Figura 64 - Geometria utilizada durante a fase de escavação_______ 132
Figura 65 - Taludes com diferentes inclinações β para L/H=0,57 ____ 134
Figura 66 - Vertical AA’ adotada para obtenção dos deslocamentos
horizontais ______________________________________________ 135
Figura 67 - Vetores de deslocamentos e fatores de segurança para
taludes de solo grampeado (L/H=0,57) ________________________ 136
Figura 68 - Perfis de deslocamentos horizontais finais (L/H=0,57), a 1,0m
do vértice da escavação, em função da inclinação do talude (β )_____ 138
Figura 69 - Influência da inclinação do talude (β ) nos deslocamentos
verticais finais (L/H=0,57) ao longo da superfície do terreno (topo da
escavação) _____________________________________________ 139
Figura 70 - Influência da inclinação do talude (β ) nos deslocamentos
verticais finais (L/H=0,57) na base da escavação (pé do talude) ____ 139
Figura 71 - Influência da inclinação do talude (β ) nos esforços axiais
máximos na última etapa de escavação (L/H=0,57) ______________ 140
Figura 72 - Influência da inclinação do talude (β ) nos esforços axiais
máximos na primeira linha de grampos (profundidade de 1,50m) nas
diversas etapas de escavação ______________________________ 141
Figura 73 - Magnitude das forças axiais máximas desenvolvidas nos
grampos em função da profundidade de escavação ______________ 142
Figura 74 - Discretização da malha utilizada ____________________ 143
Figura 75 - Seção transversal do monobloco rígido ______________ 143
Figura 76 - Influência das etapas de escavação nos deslocamentos finais
na face da escavação ao longo da profundidade ________________ 145
Figura 77 - Indicação de plastificação na simulação de 8 etapas de
escavação (última fase)____________________________________ 146
Figura 78 - Indicação de plastificação na simulação de uma única etapa
de escavação ___________________________________________ 146
Figura 79 - Geometria e condições de contorno da malha _________ 147
Figura 80 - Influência da espessura da parede nos deslocamentos
horizontais finais na face da escavação _______________________ 148
Figura 81 - Configuração utilizada no estudo dos contornos________ 149
Figura 82 - Deslocamentos horizontais no topo vs. distância Be ____ 150
Figura 83 - Influência do tipo de modelagem da parede nos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

deslocamentos horizontais finais na face da escavação ___________ 152


Figura 84 - Discretização da malha utilizada ____________________ 154
Figura 85 - Parâmetros geométricos do modelo estudado. _________ 155
Figura 86 - Convenção de sinais empregada nos estudos realizados_ 160
Figura 87 - Movimentação da massa reforçada contrária à região
escavada _______________________________________________ 161
Figura 88 - Deslocamento horizontal em função de Sv (H=5m) _____ 162
Figura 89 - Deslocamento horizontal em função de Sv (H=10m) ____ 162
Figura 90 - Ângulos de rotação da face da escavação para todos os casos
analisados ______________________________________________ 163
Lista de tabelas

Tabela 1 - Tipo de solicitação em reforço de solo _________________ 27


Tabela 2 - Aplicações e objetivos de um sistema de reforço_________ 27
Tabela 3 - Altura das etapas de escavação______________________ 30
Tabela 4 - Tipos de aços utilizados no Brasil ____________________ 31
Tabela 5 - Dimensões e propriedades típicas de grampos injetados em
obras na Europa __________________________________________ 31
Tabela 6 - Dimensões e propriedades típicas de grampos injetados em
obras na América do Norte __________________________________ 31
Tabela 7 - Parâmetros típicos de maciços grampeados em obras
internacionais ____________________________________________ 43
Tabela 8 - Parâmetros típicos de maciços grampeados em obras
nacionais ________________________________________________ 49
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Tabela 9 - Determinação de qS por correlações empíricas __________ 61

Tabela 10 - Valores típicos de κ, de deslocamentos verticais e horizontais


máximos, baseados em resultados empíricos ____________________ 69
Tabela 11 - Índices característicos em obras internacionais em solo
grampeado - solos granulares com inclinação superior a 80o ________ 74
Tabela 12 - Índices característicos em obras na Grã-Bretanha_______ 75
Tabela 13 - Valores típicos de projetos em estruturas de solo grampeado
(H≤5m, solos homogêneos, sem NA, sem sobrecargas, paramento
vertical, grampos injetados)__________________________________ 76
Tabela 14 - Espessuras extras em função do tempo de vida útil da
estrutura ________________________________________________ 80
Tabela 15 - Premissa dos diferentes métodos de cálculo em solo
grampeado ______________________________________________ 83
Tabela 16 - Índices físicos das amostras de solo residual jovem extraídas
do campo experimental I da PUC-Rio _________________________ 103
Tabela 17 - Parâmetros de resistência e de deformabilidade _______ 105
Tabela 18 - Resultados dos ensaios triaxiais cúbicos (carregamento axial)
no solo residual jovem variando a orientação das estratificações das
amostras e tensão confinante _______________________________ 105
Tabela 19 - Resultados dos ensaios triaxiais cúbicos em solo residual
jovem __________________________________________________ 106
Tabela 20 - Parâmetros de resistência de solos residuais obtidos em
ensaios de cisalhamento direto e triaxiais ______________________ 107
Tabela 21 - Modelos constitutivos utilizados pelo FLAC ___________ 115
Tabela 22 - Exemplo de arquivo de entrada de dados ____________ 120
Tabela 23 - Convenção para o Indicador de Plastificação__________ 126
Tabela 24 - Propriedades geomecânicas ______________________ 133
Tabela 25 - Estabilidade do talude da escavação ________________ 134
Tabela 26 - Propriedades geomecânicas ______________________ 144
Tabela 27 - Quadro resumo dos casos estudados _______________ 150
Tabela 28 - Influência do tipo de modelagem da parede___________ 151
Tabela 29 - Fatores de segurança do talude da escavação em solo
residual ________________________________________________ 157
Tabela 30 - Propriedades geomecânicas. ______________________ 158
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Tabela 31 - Parâmetros empregados nas análises _______________ 159


Tabela 32 - Comportamento da face de escavação ______________ 159
Tabela 33 - Comportamento da face de escavação para valores de L fixo
ou variável ______________________________________________ 164
Simbologia

a: Símbolo para área transversal utilizado pelo programa FLAC;


aparede: Área transversal da viga de concreto da parede;
bulk mod: Símbolo para designar o módulo de variação volumétrica do
solo utilizado pelo programa FLAC;
F: Símbolo para fator de segurança ou índice de ruptura
utilizado pelo programa FLAC;
bparede: Altura da viga de concreto da parede;
cohesion: Símbolo para coesão do solo utilizado pelo programa FLAC;
c: Coesão total ou aparente do solo;
c’: Coesão efetiva do solo;
density: Símbolo para massa específica do solo utilizado pelo
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

programa FLAC;
dilation: Símbolo para ângulo de dilatância utilizado pelo programa
FLAC;
e: Símbolo para módulo de Young utilizado pelo programa
FLAC;
Eaço: Módulo de Young da barra de aço;
Esolo: Módulo de deformabilidade do solo;
E50: Módulo de deformabilidade do solo correspondente à 50% da
carga aplicada na ruptura;
ν50: Coeficiente de Poisson do solo correspondente à 50% da
carga aplicada na ruptura;
σ D 50 : Tensão desviadora correspondente à 50% da carga aplicada
na ruptura;
ε ax 50 : Deformação axial do solo correspondente à 50% da carga
aplicada na ruptura;
ε vol50 : Deformação volumétrica do solo correspondente à 50% da
carga aplicada na ruptura;
esxx: Comando do FLAC para visualizar as tensões totais
horizontais;
esyy: Comando do FLAC para visualizar as tensões totais verticais;
Eparede: Módulo de Young do concreto da viga da parede;
friction: Símbolo para ângulo de atrito do solo utilizado pelo programa
FLAC;
Fescoamento: Força axial de resistência ao escoamento do aço (Yield);
Fmax: Força axial máxima no cabo/grampo;
fy: Relação percentual da força axial máxima no cabo (Fmax)
sobre o valor da força axial de resistência ao escoamento do
aço (Yield ou Fescoamento);
G: Densidade relativa do solo;
GR: Grampo;
g: Gravidade;
Ginjeção: Módulo cisalhante da calda de cimento da injeção;
TG: Resistência à tração da barra de aço;
d: Densidade do grampeamento;
H: Altura total da escavação e solo grampeado;
Hescav.: Incremento de escavação;
i: Coordenada horizontal para nós de malha ou símbolo para
momento de inércia utilizado pelo programa FLAC;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

j: Coordenada vertical para nós de malha;


kbond: Símbolo para bond stiffness utilizado pelo programa FLAC,
representa a rigidez de injeção da calda de cimento;
L: Comprimento do grampo e/ou do tirante;
Mmáx: Momento fletor máximo no grampo;
To: Tração atuante na interseção do plano de ruptura;
MIparede: Momento de inércia da viga de concreto da parede;
He: Altura da escavação na malha;
We: Distância horizontal do contorno até a base da escavação;
Be: Distância horizontal do topo da escavação até o contorno;
D: Distância da base da escavação à base da malha;
B: Largura do monolito;
τ: Resistência ao cisalhamento do solo;
τmáx: Tensão cisalhante mobilizada;
δomáx: Deslocamento horizontal máximo na superfície, atrás da
parede;
λ: Distância da estrutura ao topo da escavação onde δh e δv são
nulos;
κ: Coeficiente empírico utilizado na determinação de λ;
δhmáx: Deslocamento horizontal máximo no topo da escavação
próximo à face;
δvmáx: Deslocamento vertical máximo no topo da escavação
próximo à face;
N(SPT): Número de golpes do ensaio SPT;
per: Perímetro da barra de aço;
qs: Resistência ao arrancamento do grampo devido à interação
solo/grampo (atrito lateral unitário de grampos);
S.G.: Solo grampeado;
sbond: Símbolo para bond strenght utilizado pelo programa FLAC,
representando uma coesão;
sfriction: Ângulo de atrito entre o solo e a injeção;
Sh: Espaçamento horizontal entre grampos;
shear mod: Símbolo para módulo cisalhante do solo utilizado pelo
programa FLAC;
Sv: Espaçamento vertical entre grampos;
sxx: Símbolo para tensão total máxima horizontal na direção x
utilizado pelo FLAC;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

syy: Símbolo para tensão total máxima vertical na direção y


utilizado pelo FLAC;
szz: Símbolo para tensão total máxima horizontal na direção z
utilizado pelo FLAC;
x: Coordenada cartesiana horizontal para pontos da malha;
xdisp: Comando do FLAC para visualizar deslocamentos
horizontais;
y: Coordenada cartesiana vertical para pontos da malha;
ydisp: Comando do FLAC para visualizar deslocamentos verticais;
yield: Símbolo para força axial de resistência ao escoamento da
barra de aço utilizado pelo programa FLAC;
f: Profundidade da ficha;
α: Inclinação do grampo em relação a horizontal;
hparede: Espessura da parede;
δt: Deslocamento horizontal no topo da parede;
NA: Nível d’água;
δv: Deslocamento vertical;
M: Momento fletor no grampo;
T: Esforço de tração no grampo;
LL: Limite de liquidez do solo;
LP: Limite de plasticidade do solo;
IP: Índice de plasticidade do solo;
δb: Deslocamento horizontal na base da escavação;
δh: Deslocamento horizontal da parede;
Lmáx: Comprimento máximo dos grampos;
N: Fator de estabilidade;
θT: Inclinação da superfície do terreno;
η: Inclinação do paramento/parede com a vertical;
La: Comprimento injetado do grampo (ensaio de arrancamento);
TN: Força normal máxima aplicada no ensaio de arrancamento;
φaço: Diâmetro da barra de aço;
φfuro: Diâmetro do furo do grampo ou do tirante;
φ: Ângulo de atrito do solo;
φ’: Ângulo de atrito efetivo do solo;
φb: Ângulo relacionado à sucção mátrica;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

γ: Peso específico do solo;


γg: Peso específico dos sólidos;
γt: Peso específico total do solo;
Wn: Teor de umidade natural do solo;
eo: Índice de vazios inicial;
So: Grau de saturação inicial;
S: Grau de saturação;
OCR: “Overconsolidation ratio” (razão de sobreadensamento);
ko: Coeficiente de empuxo no repouso do solo;
ν: Coeficiente de Poisson do solo;
PL: Pressão limite do pressiômetro Ménard;
ρ: Massa específica do solo;
σaço: Tensão de escoamento do aço;
uw: Poro-pressão;
ua: Pressão intersticial de ar;
σ: Tensão vertical total;
σ1f: Tensão principal maior no instante da ruptura;
σ1: Tensão principal maior;
σ2: Tensão principal intermediária;
σ3: Tensão principal menor;
σc: Tensão confinante;
σt: Tensão de tração;
To: Tração nos grampos no plano de interseção com o plano de
ruptura;
β: Ângulo de inclinação do talude;
θ: Ângulo de rotação da face da escavação;
FS: Fator de segurança;
FSSG: Fator de segurança obtidos sem a inclusão dos grampos;
FSCG: Fator de segurança obtidos com a inclusão dos grampos;
p: Tensão aplicada pelo terreno na direção normal ao eixo do
elemento de reforço;
pmáx: Tensão máxima aplicada pelo terreno na direção normal ao
eixo do elemento de reforço;
Iaço: Momento de inércia da barra de aço de seção circular;
ψ: Ângulo de dilatância do solo;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

ϕ: Inclinação da curva de deformação volumétrica vs.


deformação axial obtida de ensaios triaxiais (trecho pós-
ruptura);
IPL: Indicador de plastificação utilizado pelo programa FLAC;
Ne: Número de elementos da malha;
MEF: Método dos elementos finitos;
MEC: Método dos elementos de contorno;
MDF: Método das diferenças finitas;
ra: Raio do círculo de Mohr a;
rb: Raio do círculo de Mohr b;
Ttrab: Carga de trabalho do tirante;
t: Tensão de tração no círculo de Mohr utilizado pelo FLAC;
[a]
M : Momento fletor na extremidade a do elemento de viga;
[b]
M : Momento fletor na extremidade b do elemento de viga;
u1[a]: Deslocamento do ponto a na direção horizontal;
u1[b]: Deslocamento do ponto b na direção horizontal;
u2[a]: Deslocamento do ponto a na direção vertical;
u2[b]: Deslocamento do ponto b na direção vertical;
θ :
[a]
Rotação na extremidade a do elemento de viga;
θ[b]: Rotação na extremidade b do elemento de viga;
1.
Introdução

O grampeamento do solo, técnica conhecida como solo grampeado,


consiste na inclusão de elementos passivos semi-rígidos, denominados
grampos, na massa de solo. É uma técnica bastante eficaz no que diz respeito
ao reforço do solo em taludes naturais ou resultantes de processo de escavação.
Os grampos são posicionados horizontalmente ou suborizontalmente no maciço
e podem ser instalados por processo de cravação (grampos cravados) ou
injeção (grampos injetados). Um revestimento, em geral de concreto projetado, é
aplicado superficialmente na face da escavação ou superfície do talude.
O alívio progressivo das tensões no solo, em função das sucessivas
fases de escavação, e/ou uma configuração de ruptura do maciço, geram
deslocamentos laterais no solo. Estes deslocamentos induzem o surgimento de
forças internas aplicadas no sistema solo-reforço, de forma a minorar os
deslocamentos da massa grampeada.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

O dimensionamento de taludes grampeados, em geral, baseia-se na


teoria do Equilíbrio Limite, obtendo-se fatores de segurança em superfícies
potenciais de ruptura. Diversos métodos de análise por equilíbrio limite podem
ser encontrados na literatura, porém sem prever as deformações no interior da
massa grampeada, ou a redistribuição de esforços nos grampos ao longo das
etapas de escavação.
Esta pesquisa pretende avaliar o comportamento tensão-deformação de
taludes em solo grampeado, sugerindo critérios de projeto para estabilização de
maciços em solo residual, típicos de regiões tropicais.
O Capítulo II apresenta uma revisão bibliográfica dos conceitos que
envolvem a técnica de solo grampeado, abrangendo o histórico e
desenvolvimento da técnica, dados de projetos, casos de obra, comparações
com outros sistemas de estabilização e métodos de dimensionamento. Uma
breve descrição das características de resistência e deformabilidade de solos
residuais é apresentada, completando-se com uma coleta de dados referentes a
ensaios de campo e laboratório.
O Capítulo III descreve o funcionamento do programa computacional
FLAC utilizado neste estudo. Detalhes sobre o funcionamento do programa e
dos principais comandos utilizados são apresentados.
A determinação dos deslocamentos, assim como o desenvolvimento dos
esforços axiais nos grampos em escavações grampeadas e mistas
23

(grampos+tirantes), é detalhada no Capítulo IV, buscando-se avaliar a influência


de parâmetros geométricos e da metodologia empregada nas análises de
tensão-deformação. Adicionalmente, um estudo de deformabilidade é realizado
em talude grampeado em solo residual.
Finalmente, o Capítulo V resume as principais conclusões apresentadas
no trabalho e oferece sugestões para futuras pesquisas.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA
2.
Revisão bibliográfica

2.1.
Solo grampeado

2.1.1.
Utilização da técnica: definição e desenvolvimento

2.1.1.1.
Origens do solo grampeado

A origem da técnica de solo grampeado vem em parte da técnica de


execução de suportes de galerias e túneis denominada NATM (“New Austrian
Tunneling Method”) aplicada na engenharia de Minas. Esta técnica foi
desenvolvida pelo professor Landislau Von Rabcewicz, a partir de 1945, para
avanço de escavações em túneis rochosos (Figura 1). O método NATM (Figura
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

1b) consiste na aplicação de um suporte flexível para permitir que o terreno se


deforme ocorrendo uma formação de uma região plastificada no entorno da
escavação, que pode ser reforçada através de chumbadores. Logo após a
escavação, a cavidade que está submetida ao efeito do peso de terras e tensões
confinantes, é estabilizada com um revestimento flexível de concreto projetado
(espessura entre 10 e 30 cm), tela metálica e chumbadores curtos radiais
introduzidos na zona plástica. Em geral, os chumbadores são dispostos a cada 3
a 6m ao longo da galeria (Clouterre, 1991) e são inseridos no maciço por
percussão ou perfuração com posterior injeção de nata de cimento. Ao contrário,
no método convencional de execução de túneis (Figura 1a), os deslocamentos
do terreno são impedidos por um revestimento rígido que, por sua vez, mobiliza
no maciço esforços muito maiores e é uma solução mais cara. Pode-se afirmar,
então, que uma escavação de solo grampeado está para a execução de túneis
com revestimento flexível da mesma forma que a solução convencional de túneis
se compara a uma cortina ancorada (Ortigão e Sayão, 1999).
Após as aplicações da técnica NATM em rochas duras, novas
experiências foram efetuadas em materiais menos resistentes, tais como rochas
brandas e posteriormente em solos (siltes, pedregulhos e areia) com o nome de
solo grampeado ou pregado (“soil nailing”, em inglês; “clouage du sol”, em
francês).
25

A técnica de solo grampeado passou a se desenvolver então a partir do


início dos anos 70. Países como França, Alemanha e Estados Unidos lideraram
pesquisas no sentido de se obter conhecimentos deste método de estabilização.

chumbadores

zona
revestimento plas tificada
rígido

revestimento
flexível
(a) (b)
Figura 1 - Técnicas de execução de túneis com revestimento flexível (a) e rígido (b)
(Ortigão e Sayão, 1999)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

2.1.1.2.
Definição da técnica

O solo grampeado é uma técnica bastante eficaz no que se diz respeito


ao reforço do solo “in situ” em taludes naturais ou resultantes de processo de
escavação. O grampeamento do solo é obtido através da inclusão de elementos
passivos semi-rígidos, resistentes à flexão-composta, denominados grampos. Os
grampos podem ser barras, cantoneiras ou tubos de aço, barras sintéticas de
seção cilíndrica ou retangular, micro-estacas, ou em alguns casos especiais
estacas. Estes elementos de reforço são posicionados horizontalmente ou
suborizontalmente no maciço, de forma a introduzir esforços resistentes de
tração e cisalhamento (Ortigão et al., 1993) e momentos fletores. Sua função é a
de minorar os deslocamentos do maciço terroso pelo acréscimo de forças
internas contrárias ao sistema natural de acomodação de massa (Silva et al.,
2001). A descompressão progressiva do solo, em função das sucessivas fases
de escavação ou de uma configuração de ruptura do maciço, gera
deslocamentos laterais no solo. Estes deslocamentos, então, induzem ao
surgimento de forças internas aplicadas no sistema solo-reforço. Instrumentação
de campo realizada por Unterreiner et al. (1995) confirmam este mecanismo.
Geralmente, o comportamento de um sistema de reforço de solo depende
da mobilização dos esforços nas inclusões. A Tabela 1 fornece um esquema
26

indicando os esforços considerados em cada sistema de reforço (Schlosser,


1982). A aplicação e objetivo de alguns métodos são sumarizados na Tabela 2
(Gässler, 1990) e ilustrados pela Figura 2 (Dringenberg e Craizer, 1992).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 2 - Aplicações de sistemas de reforço de solo (Dringenberg e Craizer, 1992)


27

Tabela 1 - Tipo de solicitação em reforço de solo (Schlosser, 1982)


Sistema de reforço
Solicitação
Terra Armada Solo Grampeado Micro-Estacas Colunas de Brita
Tração
Compressão
Cisalhamento
Flexão

Tabela 2 - Aplicações e objetivos de um sistema de reforço (Gässler, 1990)


Reforço
Aplicações e objetivos Colunas de
Grampos Micro-Estacas
brita
Aumentar a capacidade de
3 3
suporte do solo da fundação
Estabilização (natural) de
2 2 1
taludes
Estabilização durante
3 1
escavações
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Redução de recalques 2 3
OBS.: 1=Pouco eficaz; 2= Razoavelmente eficaz; 3=Muito eficaz

As principais metodologias para melhoria e reforço do solo, enfatizando-


se às técnicas aplicadas à realidade brasileira são discutidas em Palmeira
(1994).
Entre as diversas aplicações da técnica de solo grampeado, deve-se
citar:
1. Estabilidade de taludes naturais (Figura 3a) → inclusão de reforços em
taludes, possivelmente instáveis, com inclinações da ordem de 45o a 70o
(Lima Filho, 2000);
2. Estruturas de contenção (Figura 3b) → Na estabilização de escavações
permanentes associadas às fundações de edifícios, estacionamento
subterrâneos e escavações para vias subterrâneas (metrô), além de
cortes necessários para a implantação de novos sistemas viários e
estabilização de escavações para portais de túneis. Pode ser aplicada
também a escavações temporárias em obras localizadas;
3. Obras de recuperação → no reparo de cortinas de terra armada
(substituição de tiras ou conexões danificadas por sobrecarga), muros de
arrimo de peso ou de concreto armado (antes ou logo após a ruptura
causadas pela deterioração do muro ou de movimentos a montante) e
28

cortinas atirantadas (após o colapso de ancoragens protendidas, por


carregamento excessivo ou por corrosão dos tirantes). Gässler (1990)
reporta o uso da técnica na recuperação de estruturas antigas na
Alemanha Ocidental que apresentavam uma condição iminente de uma
possível ruptura. Outros exemplos da aplicação em obras de recuperação
podem ser vistos em Ingold (2000).
Quando a técnica é utilizada como estrutura de contenção ou em
estabilização de escavações, os grampos são geralmente posicionados
horizontalmente e os esforços principais considerados são de tração nos
grampos. Ao contrário, quando esta técnica é utilizada para a estabilização de
taludes naturais, os elementos de reforço são geralmente verticais ou
perpendiculares à superfície potencial de ruptura e os esforços de cisalhamento
e momentos fletores não devem ser desprezados (Schlosser, 1982).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(a) Estabilidade de taludes naturais (b) Estabilização de escavações


Figura 3 - Aplicações usuais de solo grampeado (Ortigão e Sayão, 1999)

2.1.1.3.
Método executivo

A construção de uma estrutura de solo grampeado em taludes resultantes


de processo de escavação mecânico ou manual é realizada em sucessivas fases
de escavação de cima para baixo, conforme ilustra a Figura 4 e 5.
Caso o talude já se encontre cortado pode-se trabalhar de forma
descendente ou ascendente no reforço do mesmo, conforme a conveniência.
Neste caso, a construção da estrutura em solo grampeado consistirá apenas na
introdução dos grampos e execução da parede de concreto projetado.
Em taludes artificiais, o processo construtivo é constituído por três etapas
principais sucessivas: a escavação, a instalação dos grampos e a estabilização
29

do paramento (Figuras 4 e 5). Em virtude das condições do terreno, a ordem da


instalação dos grampos e da estabilização do paramento pode ser invertida.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 4 - Construção de estrutura em solo grampeado em escavações com


equipamentos mecânicos (Zirlis et al., 1999)

Figura 5 - Construção de estrutura em solo grampeado em escavações com


equipamentos manuais (Zirlis et al., 1999)
30

1. Escavação:
Inicia-se o corte do solo na geometria de projeto. As escavações são
realizadas, geralmente, com profundidade variando entre 1m a 2m, em função
do tipo de terreno a ser estabilizado. Em geral, os solos capazes de serem
grampeados são areias consolidadas, areias úmidas com coesão capilar, argilas
adensadas e rochas brandas. No caso de solos arenosos alturas de mais de 2m
ou inferiores a 0,5m são raras. Em argilas sobreadensadas, pode-se alcançar
profundidades superiores à 2m (Bruce e Jewell, 1987). Para cortes verticais,
Gässler (1990), indicou profundidades de cada estágio de escavação em função
do tipo de solo (Tabela 3).

Tabela 3 - Altura das etapas de escavação (Gässler, 1990)


Tipo de solo Incremento de escavação (Hescav)
0,5m 1,5m
Pedregulho
(com coesão aparente) (solo com cimentação)
1,2m 1,5m
2,0m
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Areia (medianamente compacta, (compacta, com


(com cimentação)
com coesão aparente) coesão aparente)
2,0m
Silte 1,2m
(função do teor de umidade)
1,5m 2,5m
Argila
(normalmente consolidada) (sobreadensada)

Durante as etapas de escavação, o solo deve se manter estável. Assim


como em outras técnicas, como terra armada, a execução de uma estrutura em
solo-grampeado envolve uma fase crítica durante o processo executivo que
corresponde a uma instabilidade local (função da altura de solo a ser escavada).
Se o solo não se sustentar além de um curto período de tempo, sua face recém
escavada deve ser estabilizada imediatamente.
Onde possível, é recomendado inclinar a face do talude; com isto se
reduz consideravelmente a armadura do reforço (Dringenberg e Craizer, 1992).
Lima Filho (2000) recomenda uma leve inclinação (5o a 10o) do paramento, em
relação à vertical, para obter-se um ganho na estabilidade geral do conjunto na
fase construtiva.
2. Colocação dos grampos:
Introdução de grampos na horizontal ou inclinados no solo a ser
reforçado (em geral de 50 a 200 com a horizontal). A Figura 6 mostra diferentes
configurações para a extremidade dos grampos.
Os grampos são geralmente feitos de aço, destinado a concreto armado,
CA-50 ou St 85-105, DYWIDAG, de 16mm a 32mm (Tabela 4). Na Europa, os
31

grampos mais utilizados são feitos de aço tipo DYWIDAG ou GEWI (Tabela 5).
Grampos com numeração comercial são utilizados na América do Norte (Tabela
6).

Tabela 4 - Tipos de aços utilizados no Brasil (Ortigão e Sayão, 1999)


Tipo de Aço Tipo de Seção φaço (mm)
Dywidag Gewi ST 50/55
Plena 32
Dywidag ST 75/105
Plena 25/32
CA 50
Reduzida com rosca 25/32
Rocsolo ST 75/85 Plena 22/25/28/38/41

Tabela 5 - Dimensões e propriedades típicas de grampos injetados em obras na


Europa (Bruce e Jewell, 1987)
Tensão mínima de Tensão limite de
φaço (mm)
escoamento (N/mm ) escoamento (N/mm2)
2
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

26,5
DYWIDAG 32,0 835 1030
36,0
26,5
DYWIDAG 32,0 1080 1230
36,0
22,0
25,0
GEWI 420 500
28,0
40,0

Tabela 6 - Dimensões e propriedades típicas de grampos injetados em obras na América


do Norte (Bruce e Jewell, 1987)
Número de φaço
Peso em kg/m
designação da barra Polegadas (inches) mm
5 0,63 15,9 1,55
6 0,75 19,1 2,24
7 0,88 22,2 3,05
*
8 1,00 25,4 3,98
9* 1,13 28,7 5,07
10* 1,25 31,8 6,41
11* 1,38 35,0 7,92
14* 1,75 44,5 11,4
18* 2,26 57,2 20,3
Tensão mínima de escoamento=415N/mm2
* Mais utilizados
32

Telas metálicas Fibra de aço


ou tela
Concreto projetado

Porca
Placa metálica
Barra de aço

Calda de cimento Barra Calda


de de
150 mm
aço cimento 80 mm
Centralizador

(a) (b)

Concreto projetado
0
30

0
20 Concreto
0 moldado in loco
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

20 50
0
30

25 5 0 Grampo
0
50

Dimensões em mm
(c)

(d)
(e)
Figura 6 - Detalhe da cabeça dos grampos: (a) φaço ≥ 20mm; (b) φaço <20mm; (c)
extremidade embutida no terreno (Ortigão e Sayão, 1999); (d) com bloco de
proteção; (e) extremidade embutida sem placa metálica (Ingold, 2000)
33

Outros materiais, como fibra de vidro, têm sido utilizados como elemento
de reforço. Estes não estão submetidos à corrosão e, conseqüentemente não
requerem cuidados especiais em estruturas permanentes. As vantagens
promovidas por suas propriedades são a elevada tensão de escoamento e o
baixo peso específico. O módulo de elasticidade da fibra de vidro é 1/4 ou 1/5 do
módulo obtido para o aço.
As técnicas mais comuns utilizadas para a instalação dos grampos são:

Ø Grampos Injetados:
São posicionados no maciço através da execução de um pré-furo (em
geral de 70 a 120mm de diâmetro) e posterior injeção do grampo adicionando
nata de cimento (relação água-cimento em torno de 0,4 a 0,5 : 1,0) ou
argamassa na perfuração preexistente. A calda de injeção deverá atender ao
projeto, não contendo cimentos agressivos aos grampos. Como fluido de
perfuração e limpeza do furo, poderá ser utilizado água, ar, ou nenhum deles em
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

se optando por trados helicoidais. O sistema mais comum é aquele com a


utilização do ar comprimido, que também será utilizado no concreto projetado. A
depender da profundidade do furo, diâmetro e área de trabalho, pode-se optar
por perfuratrizes tipo sonda, “crawlair”, “wagon drill”, ou até martelos manuais
(Zirlis e Pitta, 1992).
Se o material fixado no furo for constituído de barras de aço, estes
deverão receber tratamento anticorrosivo (resinas epóxicas ou pintura
eletrolítica). No caso da utilização de barras de plástico reforçadas por fibras,
não há necessidade de tal procedimento pois este material é imune à corrosão.
Ao longo das barras são dispostos elementos centralizadores evitando o contato
do elemento de reforço com o solo. O elemento de reforço deve estar centrado e
com recobrimento totalmente seguro
É possível o uso de grampos de diversos comprimentos e em
praticamente qualquer tipo de solo. De fato, esta é uma técnica possível para
grampos longos e em solos onde os grampos cravados (descritos a seguir) não
podem ser executados.
O tipo de instalação por grampos injetados é a mais comum no Brasil. Na
França, em 1989, mais da metade das obras em solo-grampeado foram
realizadas desta forma.
34

Ø Grampos Cravados:
Consiste na cravação por percussão de barras ou tubos metálicos ou
perfis metálicos esbeltos com auxílio de martelete, o que leva a um processo de
execução muito rápido, mas a resistência ao cisalhamento no contato solo-
grampo é, em geral pequena, sendo típico valores da ordem de 30 a 40kPa. Em
alguns casos pode ser empregado martelete manual no processo de cravação.
O tipo de instalação por cravação não pode ser empregado quando há
ocorrência de pedregulhos e é inconveniente no caso das argilas, como as
porosas de São Paulo e de Brasília, pois o atrito resultante é muito baixo. Há
também limitações no comprimento máximo, da ordem de 6m, em que se pode
cravar com eficiência um grampo (Ortigão et al., 1993). Os elementos de reforço
apresentam, em geral, comprimentos uniformes.
Os grampos devem apresentar uma certa rigidez, de tal maneira que
esforços cisalhantes e momentos fletores não devem ser desprezados
(Schlosser, 1982). Determinados cuidados devem ser considerados no aspecto
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

de proteção contra a corrosão. Em geral, a prevenção é feita adotando-se uma


espessura adicional nos elementos cravados.
A escolha de qualquer uma das duas técnicas supracitadas envolve não
só critérios econômicos, mas também outros fatores técnicos, particularmente, o
tipo de solo envolvido no problema, a eficiência dos grampos para os tipos de
terrenos envolvidos (ensaios de arrancamento) e a altura de escavação.
Uma técnica alternativa de execução dos grampos foi desenvolvida na
França, consistindo na cravação por percussão de um tubo de aço à medida que
se injeta nata de cimento através da ponta sob pressão elevada. Os muros
assim executados são denominados na França de Hurpinoise, em
reconhecimento ao técnico Hurpin que desenvolveu o método (Ortigão e
Palmeira, 1992). Este processo demonstra-se mais eficiente em solos granulares
a solos coesivos (Gässler, 1990).
Um processo semelhante foi desenvolvido pela firma Dywidag Gmbh,
tendo a denominação comercial de “Titan”, ainda não disponível no Brasil. Trata-
se de um tubo de aço ranhurado dispondo de coroa que é introduzido por
rotopercussão. Água e ar são empregados como fluido de perfuração. Ao final
injeta-se calda de cimento (Ortigão e Palmeira, 1992)

3. Construção de parede no local:


35

Em geral o revestimento da parede é de concreto projetado com uma


malha de tela soldada (Figura 7a). Podem ser utilizados painéis pré-fabricados,
em função de aspectos arquitetônicos (Figura 7b). Em taludes com inclinação
mais suave (da ordem de 45o), é possível adotar revestimento vegetal (Pinto e
Silveira, 2001).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(a) Revestimento de concreto projetado (b) Revestimento de concreto projetado


com painéis pré-fabricados
Figura 7 - Revestimento da parede de solo grampeado (Ingold, 2000)

A primeira atenção dada à industrialização com o desenvolvimento de


componentes pré-fabricados da face foi na França (Clouterre, 1991). Mitchell e
Villet (1987) apresentaram uma solução interessante de suporte para abertura
de poços circulares, escavados de cima para baixo, através de painéis metálicos
com grampos ancorados como mostrado na Figura 8. Casos de utilização de
estruturas em solo grampeado com painéis pré-fabricados também foram
descritos por Alston e Crowe (1993). Aplicação de placas pré-moldadas de
concreto em taludes de solo residual pode ser vista no trabalho de Sigourney
(1996), conforme ilustra a Figura 9.
As telas eletrosoldadas tem sido a armação convencional do concreto
projetado embora, a partir de 1992, têm-se utilizado alternativamente às telas,
fibras metálicas de aço. Estas promovem uma redução da equipe de trabalho e
espessura da parede e, conseqüentemente uma economia de 20 a 40% por
metro quadrado aplicado (Zirlis et al., 1999). A parede é destinada a evitar a
desagregação do solo superficial local e, conseqüentemente, deslocamentos
indesejados. A espessura da parede da estrutura dependerá principalmente do
layout dos grampos (em alguns casos uma dupla camada de concreto pode ser
36

aplicada). No Brasil o revestimento comumente utilizado é o concreto projetado


com espessura de 10cm sobre tela metálica (tela soldada de aço CA-60) do tipo
Q196 ou similar (Lima Filho, 2000).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 8 - Suporte circular usando a técnica de solo grampeado (Mitchell e Villet, 1987)

Figura 9 - Placas pré-moldadas em talude de solo residual (Sigourney, 1996)


37

No caso do revestimento em concreto projetado, sua aplicação depende


do correto dimensionamento das redes de condução de ar, vazão e pressão do
compressor e principalmente do ajuste da bomba e da projeção manual (Zirlis e
Pitta, 1992). A aplicação do concreto projetado pode ser feita por via úmida ou
seca. O usual é por via seca por ser extremamente prático. O trabalho pode ser
interrompido e reiniciado sem perda de material e tempo para limpeza do
equipamento. A elevada energia de projeção produz uma ótima compactação do
concreto que colabora sobremaneira com sua alta resistência, bem como o
adensamento da capa superficial do solo com uma eficiente colagem. Maiores
detalhes sobre a aplicação do concreto projetado por via úmida e via seca pode
ser visto em Zirlis e Pitta (1992), ABMS/ABEF (1999) e Springer (2001).
As fases de escavação, instalação dos grampos e estabilização da face
são repetidas até completar a escavação projetada.
Sistemas de drenagem devem ser previstos quando se utiliza a técnica
de solo grampeado. A prática usual recomenda a execução dos convencionais
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

serviços de drenagem profunda e de superfície. Estes dispositivos devem ser


considerados na fase de projeto, de forma a evitar-se o fluxo interno de água e
devem ser instalados antes da construção da parede de concreto.
Como drenagem profunda há drenos subhorizontais profundos de tubos
de plásticos drenantes de 1½” a 2” de diâmetro. São drenos lineares embutidos
no maciço em perfurações no solo 2½” a 4”. Seus comprimentos se situam
normalmente entre 6 e 18m (Figura 10).
38
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 10 - Drenos subhorizontais profundos (Zirlis et al., 1999)

A drenagem superficial pode ser realizada por drenos atrás e adjacentes


ao revestimento de concreto. Podem ser utilizados drenos tipo barbacãs e
drenos de paramento. O dreno tipo barbacã é o resultado da escavação de uma
cavidade com cerca de 40x40x40cm preenchida com material arenoso e tendo
como saída tubo de PVC drenante, partindo de seu interior para fora do
revestimento com inclinação descendente (Figura 11). Trata-se de um drenagem
pontual.

Figura 11 - Drenagem superficial (adaptado de ABMS/ABEF, 1999)


39

O dreno de paramento, é o resultado da instalação de calha plástica


ondulada revestida por manta geotêxtil numa escavação de 10x30cm, na direção
vertical da crista até o pé do talude. Aflora na canaleta do pé, sendo considerado
um dreno linear eficiente e recomendável para projeto (Figura 12).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 12 - Drenagem superficial com dreno do paramento (Zirlis et al., 1999)

As canaletas de crista (Figura 13) e pé, bem como as escadas de descida


d’água são moldadas “in loco” e revestidas por concreto projetado.
Quando aos aspectos executivos discutidos anteriormente, deve-se
atentar que boa parte dos problemas verificados em obras de contenção está
relacionada com deficiências de drenagem. Tidas geralmente como intervenções
auxiliares, as obras de drenagem são tão importantes quanto a estrutura em si.
Ainda nesta questão, deve ser feito durante a fase de projeto uma avaliação e
determinação das posições e fluxos do lençol freático para o correto ajuste no
sistema de drenagem.
40

Outro problema comum relacionado com as obras de contenção consiste


na falta de manutenção. É preciso checar, por exemplo, se as canaletas do
sistema de drenagem estão trincadas, se a água está correndo por ali, se há
muito sujeira e se os barbacãs estão em bom estado e/ou desobstruídos. Cuidar
da proteção natural ou artificial é outro item importante de manutenção. A
vegetação, por exemplo, protege a superfície do terreno contra a erosão e
dificulta a penetração de águas pluviais no solo. Por isso, deve ser bem cuidada.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 13 - Canaletas de crista em estruturas de solo grampeado (Ingold, 2000)

É conveniente também executar uma pequena ficha, com o próprio


paramento, abaixo do nível final da escavação, evitando a possibilidade de
carreamento de finos por ação de infiltração de água, mantendo o solo confinado
atrás do paramento, garantindo assim a estabilidade no pé do talude em solo
grampeado. A profundidade da ficha (f) depende essencialmente da qualidade
do terreno bem como da geometria do paramento. Para efeito de projeto, pode-
se adotar f=0,20m para alteração de rocha e f=0,40m para solos em geral (Lima
Filho, 2000).
Não existe até o presente momento normalização brasileira que
regulamente o controle de execução de estruturas em solo grampeado. Dias
(1992) apresenta uma sugestão de procedimentos básicos para a execução de
estabilização de taludes com solo grampeado, estruturado nos moldes da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com a finalidade de
investigar a elaboração de uma futura norma sobre o assunto. O manual técnico
publicado pela GeoRio (Ortigão e Sayão, 1999) sugere inúmeras
recomendações para projetos em solo grampeado. Outras recomendações
foram publicadas nos trabalhos de Springer (2001) e Gerscovich et al. (2002).
41

2.1.1.4.
Aplicação da técnica no exterior

A primeira construção na França foi realizada em Versalhes 1972/73.


Consistiu numa estrutura temporária com alta densidade de grampos curtos,
com comprimentos de 4 a 6m (L/H=0,35). O solo era constituído de arenito de
Fontainbleau (φ’=33o e 40o e c’=20kPa). O espaçamento entre grampos foi de
70cm. Os reforços foram injetados em furos de cerca de 100mm de diâmetro em
talude de 70o de inclinação (Figura 14). As maiores estruturas em solo
grampeado neste país foram realizadas em Montpellier (em 1985) e na
construção da linha do trem de grande velocidade TGV (em 1990). As figuras
15a e 15b ilustram estas obras.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 14 - Primeira estrutura em solo grampeado na França (Clouterre, 1991)

Em 1972, nos Estados Unidos, foi realizada escavação de 13,7m de


profundidade, gerando 2.140m2 de talude vertical a ser contido. O solo era
caracterizado por sedimentos medianamente compactos a compactos de areia
fina e silte (φ’=36o e 40o e c’=20kPa). Uma vez que esta foi a primeira obra deste
tipo a ser realizada no país, um grande número de instrumentação e estudos
foram executados (Zirlis e Pitta, 1992).
O primeiro experimento em grande escala na Alemanha (Stocker et al.,
1979) foi uma construção usando grampos injetados que foram carregados até a
ruptura por uma sobrecarga no topo da parede da estrutura. O desenvolvimento
da técnica neste país tem sido liderada pelo especialista Karl Bauer em
42

associação com o “Institut fur Bodenmechanik und Felsmechanik” (IBF), da


Universidade de Karlsruhe, com o suporte financeiro do Ministério Federal de
Pesquisa e Tecnologia. Em quatro anos de programa, com início em 1975, oito
programas de instrumentação de obras em solo grampeado foram realizados e
analisados (Stocker et al., 1979). Em 1981, mais de 20 projetos foram
desenvolvidos com sucesso, confirmando a viabilidade técnica e econômica de
estruturas em solo grampeado (Gässler e Gudehus, 1981). Gässler (1990)
relatou a execução de obras em solo grampeado com 23m de altura.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(a) Montpellier (H=21m) (b) TGV (H=28m)

Figura 15 - Recorde de altura em estruturas grampeadas na França (Ortigão e Palmeira,


1992)

Shen et al. (1981) relataram a execução de inúmeras obras em solo


grampeado, a partir de 1976, em diversas condições de solo no oeste do
Canadá. Resultados de programação de pesquisa e monitoramento de uma
estrutura em solo grampeado, incluindo ensaios em centrífuga, modelagem
numérica e instrumentação de campo foram publicados no seu trabalho.
O solo grampeado é atualmente, uma técnica bastante difundida no
continente Asiático, especialmente no Japão. Powell e Watkins (1990)
demonstraram a eficiência da técnica de solo grampeado em diversas obras em
Hong Kong. Os casos estudados mostraram que a técnica oferece-se ser
economicamente viável na estabilização de taludes naturais, nos quais os
grampos podem ser instalados sem grandes perturbações no solo. Em Hong
Kong, esta técnica tem sido utilizada com bastante freqüência para os casos
citados.
43

Barley (1993) reportou sete casos de obras em solo grampeado


realizadas na Grã-Bretanha, entre os anos de 1985 e 1991. A técnica foi utilizada
para a estabilização de taludes naturais ou resultantes de processo de
escavação. Hall (1995) relatou aspectos positivos nas construções de estruturas
em solo grampeado no que diz respeito ao prazo e ao custo da obra.
Um coletânea com os parâmetros de projetos utilizados em obras de
estruturas em solo grampeado a nível internacional é fornecida na Tabela 7.

Tabela 7 - Parâmetros típicos de maciços grampeados em obras internacionais (Ortigão e


Palmeira, 1992; Unterreiner et al., 1995; Bruce e Jewell, 1986 e 1987; Shiu et al., 1997 Abramson
et al., 1996)
Talude Grampo
hparede
Tipo de material β altura L φaço φfuro α Sh Sv
graus m m mm mm graus m m mm
Silte arenoso 80 13,0 6e8 25 e 28 - - 1,00 2,00 100
Areia siltosa 80 8,0 12 20 75 - 1,50 1,00 150
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

5,6 a 25,2 e 64 e
90 5,5 a 7 - 0,70 0,70 50 a 100
11,6 30,3 76

Arenoso 90 7 6a8 30 a 40 - - 1,15 1,00 100


90 12 6 25,2 64 - 0,70 0,70 250
70 21,6 6 14 100 20 0,70 0,70 80
Aterro/areia
90 12 6 28 crav. 20 0,70 0,70 -
aluvionar/argila
Sedimentos de areia
90 11,6 7 e 8,5 25 e 38 100 - 1,22 1,53 50
fina e silte
Xisto intemperizado 80 16,5 9 32 56 - 2,00 1,00 100
Silte
aluvionar/arenoso/ 90 9,1 7 30 127 - 1,22 1,22 200
blocos de rocha
90 12 6 28 49 - 0,70 0,70 -
Areia Aluvionar
90 11 6 25,2 64 - 0,70 0,70 -
Residual 80 13,5 6 a 11 32 100 10 1,00 1,50 100
Xisto intemperizado/
75 12,3 9 30 114 - 1,52 1,52 150
Siltito

2.1.1.5.
Aplicação da técnica no Brasil

No Brasil, que tem um solo muito apropriado para aplicação do método,


já foram executadas muitas obras deste porte. Em 1966, a empresa Ródio
44

Perfurações e Consolidações, aplicou concreto projetado e tela metálica para


estabilização de taludes na barragem de Xavantes. Em 1970, a SABESP utilizou,
na construção do túnel de adução do Sistema Cantareira em São Paulo, o
método NATM (Figura 16). Na estabilização do talude do emboque,
empregaram-se chumbadores curtos, tela metálica e concreto projetado,
aproveitando o sistema utilizado na construção de túneis (Zirlis et al., 1999). A
partir de 1972, nos túneis e taludes da Rodovia dos Imigrantes foram aplicadas
contenções com chumbadores, perfurados e injetados com calda ou somente
cravados a percussão além de, reticulados de micro-estacas.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

0 10m

Figura 16 - Contenção de taludes de emboques em 1970; (a) corte; (b) vista (Ortigão e
Sayão, 1999)

Desde 1976 estruturas de solo grampeado de até 12m vêm sendo


construídas em São Paulo, com grampos executados em concreto moldado “in
loco” e a face de elementos pré-moldados, com denominação comercial de
Rimobloco (Ortigão e Palmeira, 1992).
Em Niterói, RJ, foi executado em 1984 um corte de 35m de altura (Figura
17) em solo saprolítico de gnaisse. A contenção de escavação, em solo
grampeado, foi necessária para a implantação de uma edificação no local. A
parte inferior do corte, com altura até 18m, foi estabilizada com tirantes. A parte
superior, com altura de 17m e inclinação de 75o, foi grampeada com barras de 6
e 9m de comprimento e 25mm de diâmetro, injetadas com calda de cimento em
furos de 90mm (Ortigão et al., 1992; Ortigão e Sayão, 1999).
Ortigão et al. (1992) relataram a estabilização de talude de filito bastante
alterado, com 26m de altura e 75o de inclinação, sob a fundação de viaduto
ferroviário. Foram adotados grampos de 75mm de diâmetro, armados com barra
de aço de 25mm e injetados com calda de cimento sem pressão. A parede de
concreto projetado teve espessura de 50mm (Figura 18).
45

9m
Concreto 6m
17 m projetado 9m

G rampos
35 m 6m

Concreto
projetado 16m
16 m 14m

12m

16m
ancoragens 14m
convencionais

Figura 17 - Contenção de escavação em solo residual, Niterói, RJ (Ortigão e Sayão,


1999)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Concreto
projetado

Grampos

25m
26 m
20m

10m

0 10 m

Figura 18 - Contenção de talude sob a fundação de viaduto ferroviário (Ortigão e Sayão,


1999)

Zirlis e Pitta (1992) descreveram 8 casos de obras permanentes em solo


grampeado em taludes resultantes de processo de escavação e em taludes
naturais. Em todos os casos foram previstos sistemas de drenagem superficial
(canaletas, caixas de passagem e barbacãs) e, eventualmente, drenos
subhorizontais profundos. Na maioria dos casos descritos a estrutura em solo
grampeado foi concebida de forma empírica. A Figura 19 ilustra alguns dos
casos descritos.
Ainda em 1992 foi realizada a primeira experiência em solo grampeado
da GeoRio de caráter exclusivamente experimental (Ortigão et al., 1992; Ortigão
e Sayão, 1999). Naquela situação foi realizada uma contenção em solo
grampeado com 5m de altura no Morro da Formiga (Figura 20).
46
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 19 - Estruturas em solo grampeado realizadas no Brasil (Zirlis e Pitta, 1992)

Grampos φ 32mm
L=3m
furo φ 75mm
espaçamento horizontal
5m e vertical 1,5m
inclinação dos grampos 20°

Saprolito de
gnaisse

Figura 20 - Muro experimental no Morro da Formiga (Ortigão e Sayão, 1999)


47

A experiência da GeoRio está resumida em Ortigão e Sayão (1999). A


Figura 21 ilustra, em planta e seção, a primeira obra projetada e executada por
este orgão. A obra, realizada em 1996, constituiu-se em 2.500m2 de
estabilização com solo grampeado em uma encosta da avenida Automóvel
Clube. Os grampos tiveram comprimentos de 6 e 4m, com barras de aço de
25mm de diâmetro.

A Solo grampeado

110

construção
105

Aterro
12051

Concreto
projetado 6m

H=11 m
4m
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Avenida Automóvel Clube

A construção Argila siltosa


de média a dura
0 5 10 m

Figura 21 - Solo grampeado, Av. Automóvel Clube (Ortigão e Sayão, 1999)

O histórico do desenvolvimento de solo grampeado no Brasil no período


1970 a 1994 foi publicado por Ortigão et al. (1993 e 1995). Grande parte da
experiência nacional em solo grampeado no período entre 1983 e 1996 foi
publicada em ABMS/ABEF (1999). Este trabalho apresentou um banco de dados
de parâmetros geotécnicos utilizados em 60 obras de estruturas permanentes
em solo grampeado. Em 18 casos foi utilizada uma rotina de cálculo e houve
somente um caso instrumentado.
Várias obras de contenção com solo grampeado foram executadas em
encostas da Linha Amarela (RJ), construída entre 1995 e 1997. Pinto e Silveira
(2001) apresentam as principais soluções de contenções aplicadas no Lote 2,
dentre as quais, 9.380m2 de construção em solo grampeado. Neste caso, a
solução foi utilizada para a contenção de taludes de corte, onde o mesmo atingiu
42m de altura em zona de colúvio, solo residual e rocha alterada (Figura 22). Em
muitos casos, esta solução substituiu a cortina atirantada, sobretudo quando não
existam restrições de deformação na crista do talude. O solo grampeado, por
48

não ter barras protendidas, não inibe as deformações do terreno do mesmo


modo que as cortinas atirantadas.

Mureta

Concreto
projetado 80mm
Saprolito

8m

20m 6m

Rocha alterada
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

3m
Rocha sã

0 5m

Figura 22 - Solo grampeado em encosta da Linha Amarela - RJ (Ortigão e Sayão, 1999)

Mais recentemente, Reis e Costa (2001) aplicaram a técnica de solo


grampeado para contenção no pé de alguns taludes, devido a algumas
instabilizações localizadas, na obra de implantação do metrô-DF. Azambuja et al.
(2001) relataram o desenvolvimento de um projeto de um sistema de contenção
em solo grampeado em Porto Alegre (RS).
Diversos projetos em solo grampeado com revestimento vegetal foram
publicados por Gotlieb e Alonso (1997). O trabalho apresentou uma solução de
estabilização economicamente mais competitiva, substituindo o revestimento de
concreto projetado por vegetação rasteira.
Um resumo com os parâmetros de projetos utilizados em obras nacionais
está ilustrado na Tabela 8.
49

Tabela 8 - Parâmetros típicos de maciços grampeados em obras nacionais (ABMS/ABEF,


1999; Springer, 2001; Azambuja et al., 2001; Pinto e Silveira, 2001)
Talude Grampo
hparede
Tipo de material β altura L φaço φfuro α Sh Sv
graus m m mm mm graus m m mm
Aterro Arenoso 90 3,9 2a4 20 90 - 1,00 1,50 100
Aterro Arenoso 90 8,0 2,5 25 75 - 1,30 1,50 80
Aterro Arenoso 90 3a5 3a6 25 75 - 1,20 1,20 80
Aterro 75 6,5 7,5 a 10,5 25 75 15 2,00 1,50 100
Areia fina e silte 90 11,3 7 e 8,5 25 ou 38 100 15 1,22 1,53 100
Sed.Arenoso/Argiloso 70 7,5 6 20 75 20 1,50 1,50 70
Sedimento 82 14,0 8 20 75 8 1,80 1,80 90
Silte Arenoso 75 12,5 3,6 a 7 20 75 15 2,00 1,50 100
Silte 60 7 a 16 6 a 10 25 75 30 1,50 1,50 100
Colúvio/Residual/
- 42 4, 6 e 8 25 - - 2,00 2,00 100
Rocha alterada
Solo argiloso com pouco
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

60 24,0 6 a 12 25 90 30 1,50 2,00 60


quartzo (massapê)
1,25 1,25
90 11 3 a 12 20 100 - a a 120
2,00 2,00

55 25,0 4 25 75 35 2,00 1,50 70


75 17,0 6e9 25 90 15 1,50 1,50 150
50 18,5 5 20 75 - 2,00 2,00 50
60 12,4 5 20 75 30 2,00 2,00 50
60 12,0 8,5 25 75 30 2,50 2,00 70
60 15,0 7 20 75 30 2,50 2,50 50
75 9,0 5 25 50 15 1,50 1,50 100
70 10,7 4 25 75 20 1,50 0,80 100
70 11,1 6 25 75 20 2,00 2,00 70
Residual
75 10,0 4 16 75 15 2,00 1,50 60
60 6,0 3 20 75 30 1,50 1,50 70
80 10,0 5,5 20 75 10 2,00 1,50 50
75 11,5 5,5 20 75 15 2,00 1,50 100
90 8,5 6 20 75 - 1,50 1,50 100
70 8,0 5,5 20 75 20 1,50 1,50 70
70 8,0 4 20 75 20 2,00 1,50 70
90 6,0 6 25 100 - 1,30 1,50 100
90 4,0 3 20 100 - 1,50 2,00 70
90 4,0 3 20 100 - 1,50 2,00 70
65 6,0 7 20 100 25 1,20 1,20 100
50

2.1.1.6.
Vantagens e limitações do solo grampeado

São descritas a seguir as principais vantagens e limitação da utilização


da técnica em solo grampeado. Entre os fatores que possibilitaram o
desenvolvimento desta técnica nas últimas três décadas, pode-se citar:
1. Baixo custo. Em escavações de cerca de 10m de profundidade chega-se
de 10% a 30% de economia em relação a cortinas atirantadas (Bruce e
Jewell, 1986). Dringenberg e Craizer (1992), mostram uma redução, em
torno de 20% nos custos, relativamente a outras modalidades de
contenção. Estruturas em solo grampeado demonstram ser bastante
atraentes, principalmente como estruturas com limitação de altura ou
onde pode se combinar a técnica com outro tipo de contenção (Myles,
1995). Em comparação com a técnica de micro-estacas em solos
homogêneos granulares, a técnica de solo grampeado demonstra ser
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

mais econômica. Bruce e Jewell (1986) concluem que para uma mesma
geometria do talude, para este tipo de solo, a densidade de inclusões
horizontais (grampos horizontais) é bem mais reduzida que às verticais
(micro-estacas). Comparações com a técnica de solo reforçado
demonstram que estruturas em solo grampeado podem apresentar
custos menores (Ingold, 1995). Tozatto (2000) e Tozatto et al. (2001), em
estudos de estruturas de contenção de baixa altura (H=3m), apontam a
solução em solo grampeado, entre sete soluções de estabilização, como
sendo bastante atraente, perdendo apenas da solução de muro de
gravidade em solo-cimento;
2. Adaptabilidade às condições locais (adaptação na maioria das condições
de solo apresentadas) devido à utilização de equipamentos de pequeno e
médio porte que permitem a execução desta técnica em locais de difícil
acesso. Equipamento necessário para a execução relativamente leve e
pequeno, permitindo mobilidade e acesso em áreas problemáticas. Em
grampos injetados, as perfurações são realizadas com equipamentos
pesando entre 50 e 1000 kgf (Zirlis e Pitta, 1992);
3. Flexibilidade. Estruturas em solo grampeado são flexíveis e compactas
deste modo, é esperado que tenham alta resistência a esforços
dinâmicos. conseqüentemente, esta técnica demonstra-se ser bastante
interessante em regiões sujeitas a terremotos (Shen et al., 1981);
51

4. Redução da quantidade de equipamentos e materiais de construção. A


construção de uma estrutura de solo grampeado requer o uso de
equipamentos leves de construção : uma máquina para escavação de
terra, uma máquina perfuradora e equipamento de injeção ou um outro
equipamento que realize as duas etapas simultaneamente Deve-se fazer
uma bancada para o posicionamento do equipamento de
perfuração/cravação de pelo menos 6m de comprimento (Bruce e Jewell,
1987);
5. Rápida construção pois o trabalho é realizado simultaneamente à
escavação;
6. Adaptação fácil a solos heterogêneos. Apesar da maioria das pesquisas
levarem a execução da técnica em solos homogêneos, uma estrutura em
solo grampeado pode ser levada a solos heterogêneos, observando-se
que a densidade, espaçamento, orientação e comprimento dos grampos
irá variar conforme a resistência do solo encontrada;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

7. Bom desempenho no reforço de taludes em solos residuais (Sigourney,


1996; Feijó e Erhlich, 2001; Pinto e Silveira, 2001; Tozatto et al., 2001);
8. Possibilidade de ajuste de projeto com o avanço das escavações em
virtude do reconhecimento do material revelado durante o processo de
escavação. O sistema de solo grampeado permite a revisão do projeto
enquanto se avança com as escavações podendo-se desta maneira, a
realização de novas investigações de campo e ensaios de laboratório
como forma de avaliar parâmetros de projeto previamente empregados,
caso haja necessidade. Essa dinâmica do projeto em meio à obra é,
talvez, um dos grandes méritos dos sistemas de contenção em solo
grampeado (Azambuja et al., 2001);
Por outro lado, solo grampeado apresenta certas desvantagens, tais
como :
1. Movimentações lateral e vertical inerentes à natureza da técnica.
Deslocamentos laterais e verticais constituem uma limitação que é
particularmente importante em áreas urbanas devido à presença de
estruturas vizinhas (em geral este limite é de 0,30%H a 0,35%H). Em
casos onde estas estruturas existentes não aceitam estas distorções, o
projeto pode incluir ancoragens pré-tencionadas no topo do talude em
solo grampeado. Deve-se medir os deslocamentos em todas fases de
construção e os manter dentro dos limites de tolerância pré-definidos;
52

2. Uso limitado em solos que não apresentam nível d’água ou que são
protegidos pela redução do mesmo. Neste caso, o rebaixamento do NA é
permanente para proteger a estrutura contra poropressões;
3. Uso pode ser dificultado ou delicado em certas condições de solo: areias
sem qualquer coesão aparente, solos contaminados com bolsões de
água, solos contaminados com uma alta quantidade de argilas onde o
teor de umidade poderia aumentar depois da construção. Um decréscimo
nos valores de resistência ao atrito na interface solo-grampo pode se
tornar evidente se, depois da construção, o solo se tornar saturado
(Schlosser e Unterreiner, 1990). Em solos não-coesivos, não é possível
garantir a estabilidade de escavações verticais. Certas precauções
devem ser tomadas onde solos argilosos são encontrados para prevenir
o ingresso de água, que acarretará uma perda da resistência do solo e
conseqüentemente uma significativa redução do atrito solo/grampo. A
eficácia do solo grampeado pode não ser comprovada em solos coesivos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

com limite de liquidez (LL) maiores que 20% que podem ser suscetíveis a
“creep”. Qualquer tipo de solo com N(SPT) menor que 10 devem ser
evitados. Qualquer solo poroso com fluxo d’água pelos seus vazios deve
ser evitado também (Sigourney, 1996);
4. Considerando tanto estruturas temporárias e permanentes, particular
atenção deve ser dada ao tempo de duração que os grampos serão
utilizados em solos corrosivos (ambientes agressivos) e para movimentos
a longo prazo na estrutura, particularmente causados pelo fenômeno de
“creep” em argilas. Em argilas muito moles não se indica este tipo de
solução por causa de possíveis movimentações associadas ao fenômeno
de fluência (Abramson et al., 1996);

2.1.1.7.
Comparação com outros sistemas de estabilização

Ø solo grampeado x micro-estacas


O sistema de reforço por micro-estacas consiste na criação de um bloco
monolítico rígido de solo reforçado, o qual se estende até uma determinada
profundidade abaixo da superfície de ruptura. O sistema consiste num conjunto
de estacas de pequeno diâmetro com inclinações variadas introduzidas no solo a
fim de introduzir no terreno um massa de solo reforçada a qual suporta a zona
sem reforço semelhante ao mecanismo do muro de peso (Bruce e Jewell, 1986).
53

A principal diferença entre os dois sistemas está no fato de que o


comportamento das micro-estacas é significativamente influenciado pelo arranjo
geométrico dos reforços (Figura 23).

Figura 23 - Comparação entre solo-grampeado e estaca-raíz (Mitchell e Villet, 1987)


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Ø solo grampeado x terra armada


Uma comparação entre as duas técnicas mostra grandes similaridades
na geometria, no comportamento global e em algumas premissas de projeto,
mas também indicam algumas importantes diferenças.
Solo grampeado é uma técnica de reforço “in situ” do solo, onde a
estrutura em solo grampeado é construída por escavações em sucessivas
etapas. Terra armada é uma técnica de reforço de reaterros, onde a estrutura
reforçada é construída por preenchimento, em sucessivas fases de baixo para
cima. Desta maneira existem diferenças entre as duas técnicas no
desenvolvimento dos deslocamentos e deformações, assim como, nas tensões
desenvolvidas dentro do solo para a mesma geometria dos reforços.
Durante as sucessivas fases de escavação, o solo grampeado (atrás da
parede) é sujeito a descompressão lateral e a recalques. Como resultado, no
final da construção um leve desaprumo da face ocorre e os deslocamentos
horizontais e verticais são, em geral, máximos no topo da escavação. Ao
contrário, em paredes de terra armada, os deslocamentos laterais no pé da
parede aumentam durante as sucessivas fases de reaterro devido à
descompressão das camadas inferiores causada pelo peso do solo. O resultado
é que, durante a construção, pequenas deformações ocorrem na bases da
54

estrutura onde os deslocamentos horizontais serão máximos. A Figura 24 ilustra


o posicionamento distinto das deformações máximas nas duas estruturas.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

solo grampeado terra armada


Figura 24 - Deslocamentos horizontais máximos em estruturas de solo grampeado e
terra armada (Springer, 2001)

Com relação à rigidez dos reforços, em estruturas em solo grampeado,


os elementos de reforço podem resistir a esforços de tração, assim como, a
momentos fletores. A capacidade para resistir a momentos fletores dependerá
da rigidez do grampo a qual geralmente é maior em grampos injetados do que
em grampos cravados. A mobilização dos momentos fletores e esforços
cisalhantes nas barras dependem de alguns parâmetros: rigidez do elemento de
reforço (grampo), deformações e deslocamentos na massa de solo reforçada,
orientação dos grampos, fator de segurança da parede considerando a ruptura.
Ao contrário, na terra armada, as tiras de reforço são completamente flexíveis e
opõe-se apenas à esforços de tração (Schlosser, 1982; Bastick, 1990).
Com relação à natureza do solo, em reforços com terra armada, o tipo de
solo do reaterro é um solo granular, homogêneo, com predominância de
partículas de diâmetro reduzido. Em relação ao teor de umidade, este é mantido
controlado e com valores relativamente baixos. Ao contrário, em paredes de solo
grampeado, o solo é aquele do terreno natural. Muitas vezes são heterogêneos,
apresentando teor de umidade elevado (Schlosser, 1982).
Em solos finos (argilas e siltes) o teor de umidade é um parâmetro
importante de projeto. Quando o solo está saturado, o atrito solo-grampo é
55

devido, exclusivamente, a resistência não drenada a qual é geralmente


insuficiente para combater os esforços de tração do reforço. conseqüentemente,
solos argilosos e siltes são, em geral, inadequados para a elaboração de
estruturas em solo grampeado (Schlosser, 1982).
Com relação às similaridades entre as duas técnicas, deve-se citar:
• Elemento de reforço é introduzido no solo sem pré-tensão; as forças
desenvolvidas no reforços surgem quando da ocorrência de deformações no
solo;
• As forças desenvolvidas nos reforços são sustentadas pelo atrito
entre o solo e o elemento de reforço;
• A face de ambas as estruturas – concreto projetado (solo grampeado)
e elementos pré-fabricados (terra armada) – não apresentam função
estrutural alguma;
• Estruturas em solo grampeado e terra armada são sistemas que são
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

consistentes e flexíveis. Por esta razão, eles oferecem vantagens em


oposição a grandes deformações e em observações de campo após
terremotos sobre estruturas de solo grampeado e em terra armada. Em
ambas as estruturas, verifica-se uma alta resistência das mesmas em
relação a esforços dinâmicos (efeitos sísmicos) (Choukeir et al., 1997; Jones,
1998; Tufenkjian e Vucetic, 1992);

Ø solo grampeado x cortina atirantada


Pode-se citar algumas comparações entre as duas técnicas, tais como:
• As ancoragens são tencionadas após a sua instalação no terreno e
idealmente previnem qualquer movimento que ocorra na estrutura. Em
contraste, estruturas em solo grampeado não são pré-tensionadas e
requerem uma pequena deformação no solo para trabalharem. Sendo assim,
os mecanismos de transferência de carga também apresentam diferenças
marcantes, conforme mostra a Figura 25. Basicamente, os grampos são
intervenções com um trabalho inicial passivo, enquanto os tirantes começam
a trabalhar ativamente. Ao contrário do preconizado na teoria clássica de
empuxos de terra, os termos “ativo” e “passivo” referem-se à forma de
mobilização dos esforços nos grampos.
• Os grampos estão em contato com o terreno em todo o seu
comprimento (tipicamente de 3 a 10m) enquanto que as ancoragens
transferem a carga ao longo de uma parcela de comprimento tendo uma
56

outra parcela fixa. Uma conseqüência disso é a distribuição de tensões nos


grampos e tirantes;
• A densidade dos grampos é tipicamente mais elevada (1 grampo a
cada 0,5 a 5m2);
• Cargas elevadas devem ser aplicadas nos tirantes durante a
execução dos mesmos, sendo assim, há uma necessidade em alguns casos,
da colocação de placas de ancoragens para evitar o puncionamento dos
mesmos. Nos grampos são colocados, eventualmente, pequenos suportes
apenas (placas metálicas);
• Os tirantes tendem a ser mais longos (15 a 45m) e deste modo,
necessitam de equipamentos mais pesados e instalação em larga escala;
• De certo modo, a cortina atirantada apresenta um maior grau de
confiabilidade em função da fixação de critérios para execução e controle
através de ensaios aos quais os tirantes devem obedecer (NBR 5629/96). No
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

caso de solo grampeado, raríssimas vezes os chumbadores são testados e


quando o são o número de ensaios é pouco significativo ou até insignificante
em relação a área contida (Falconi e Alonso, 1996);

Zona ativa
Revestimento Concreto
armado

Zona passiva Ancoragens

solo grampeado cortina atirantada


Figura 25 - Mecanismos de transferência de carga (Springer, 2001)

2.1.1.8.
Estruturas mistas

Estruturas mistas são estruturas de contenção nas quais o reforço do


solo “in situ” combina a técnica de solo grampeado com outros métodos de
57

contenção (cortina atirantada, muros de peso, terra armada, sistemas de


contraventamento, etc.). A Figura 26 ilustra alguns exemplos típicos.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 26 - Estruturas mistas (Bastick, 1990; Clouterre, 1991)


58

Em geral, o objetivo de uma estrutura mista é limitar os deslocamentos


laterais da estrutura ou prevenir problemas de instabilidade em estruturas de
altura elevada. Podem ser utilizadas para se obter fases de escavação elevadas
ou quando se confronta com problemas de instabilidade devido a presença de
fluxo d’água.

2.1.1.9.
Ensaios de arrancamento

Um dos mais importantes parâmetros em projetos de estruturas em solo


grampeado é a resistência ao atrito no contato solo-grampo (qs). Para um dado
solo e um dado grampo, qs é função das propriedades do solo, do grampo e da
interface solo-grampo (Schlosser e Unterreiner, 1990). É obtido
experimentalmente em ensaio de arrancamento (“pull out test”), esquematizado
na Figura 27. Os fatores que podem influenciar os valores de qs são: as
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

características do terreno e o tipo de tecnologia empregada no processo


executivo (propriedades do grampo, método de perfuração e de limpeza do furo,
características da calda de cimento e o emprego de aditivos).
O ensaio de arrancamento deve ser realizado durante a obra em pelo
menos dois grampos ou em 1% dos grampos para que sejam confirmados os
valores especificados em projeto (Ortigão e Sayão, 1999).
O valor de atrito unitário qs (kPa), relacionado ao deslocamento da
extremidade externa do grampo, é definido no ensaio de arrancamento, por:
TN
qS = eq.(1)
π .φ furo . L a
onde: qs=atrito lateral unitário; TN=força normal máxima (carga que leva o
grampo a ruptura por atrito com o solo); φfuro=diâmetro do furo; La=comprimento
injetado do grampo.
Maiores detalhes sobre o procedimento do ensaio pode ser visto em
Falconi e Alonso (1996 e 1997) e Ortigão e Sayão (1999).
Feijó e Erhlich (2001) apresentaram resultados de ensaios de
arrancamento em grampos injetados com calda de cimento em solos tropicais no
Município do Rio de Janeiro. Foram efetuados ensaios em solos residuais jovens
e maduros de biotita-gnaisse e gnaisse leptinítico. Grampos com diferentes
comprimentos foram estudados e buscou-se verificar, dentre outros fatores,
cargas de ruptura, mecanismos de colapso e a distribuição de tensões ao longo
59

do comprimento dos grampos. Os resultados médios (qs) dos ensaios variaram


de 145kPa a 295kPa para grampos de 3m e de 185kPa a 205kPa para grampos
de 6m no solo residual de biotita-gnaisse e de 108kPa a 248kPa, para os
grampos de 3m, e de 95kPa a 190kPa para os grampos de 6m, no solo residual
de gnaisse leptinítico. Segundo os autores os valores de resistência unitária
variaram com o tipo de solo. Em análises com o mesmo tipo de solo, os valores
de qs obtidos foram praticamente constantes para os grampos de 3m e 6m.
Dessa forma, considerando-se um mesmo material, podem-se extrapolar os
resultados obtidos em grampos curtos para grampos longos, pelo menos entre
os limites de comprimentos dos grampos apresentados no trabalho (3 e 6m).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Deflectômetro

Placa
de aço

Célula de
carga

Macaco
hidráulico
Trecho injetado

Figura 27 - Ensaio de arrancamento (Ortigão e Sayão, 1999)

Resultados de ensaios de arrancamento obtidos por Azambuja et al.


(2001) forneceram valores de qs entre 204kPa e 260kPa. Valores médios em três
ensaios realizados em contenções na Linha Amarela – RJ indicaram valores de
257kPa e 280kPa (Pinto e Silveira, 2001).
Na fase preliminar da obra pode se estimar o valor de qs por correlações
empíricas.
Ortigão (1997) apresentou ensaios de arrancamento em grampos
injetados no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Os grampos foram executados
em furos com diâmetro (φfuro) entre 75 e 150mm com injeção de calda de cimento
60

sem pressão. A dispersão dos resultados apresentados foi grande, função dos
diferentes procedimentos empregados por vários executores dos grampos.
Como estimativa preliminar de qs para aplicação em projetos Ortigão (1997)
sugere a seguinte correlação: qs (kPa)=50 + 7,5 N(SPT), onde N(SPT) equivale
ao número de golpes do ensaio SPT.
Ortigão et al. (1997) analisaram os ensaios relatados por Ortigão (1997) e
sugeriram a correlação apresentada na Figura 28. Dois pontos adicionais,
correspondentes a ensaios recentes realizados pela GeoRio (Ortigão e Sayão,
1999), foram adicionados. Tais pontos plotam bem abaixo da correlação
proposta.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

N(SPT)
Figura 28 - Correlações empíricas para qs (Ortigão e Sayão, 1999)

Clouterre (1991) apresenta uma correlação de qs com a pressão limite do


pressiômetro de Ménard (PL), para solos arenosos e argilosos (Figuras 29 e 30).
Embora introduzidos valores de N(SPT), estas correlações têm pouco utilidade
no Brasil onde raramente são realizados ensaios pressiométricos.
61

N(SPT) 8 13 18 32 40
Figura 29 - Correlação entre qs e PL para solos arenosos (adaptado de Clouterre, 1991)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

N(SPT) 10 19 30
Figura 30 - Correlação entre qs e PL para solos argilosos (adaptado de Clouterre, 1991)

Para efeito de comparação para um solo com N(SPT)=10 tem-se:

Tabela 09 - Determinação de qS por correlações empíricas

Referência Ortigão (1997) Ortigão et al. (1997) Clouterre (1991)


Correlação qs=50 + 7,5 N(SPT) qs=67 + 60 In N(SPT) Figura 12 e 13
Valor de qs 0,05MPa (argila)
para 125kPa=0,13MPa 205,16kPa=0,21MPa
N(SPT)=10 0,08MPa (areia)
62

Como pode ser visto, valores bem dispersos foram obtidos, havendo a
necessidade de um número maior de ensaios para que se possam obter valores
representativos de qs empregados numa estimativa preliminar do desempenho
do grampo em uma determinada obra. Em obras de grande porte, os ensaios de
arrancamento devem ser realizados antes da realização da obra para se definir o
projeto. Em obras menores, isso raramente ocorre, sendo os ensaios realizados
durante a execução da obra e o projeto ajustado à medida que se obtém os
resultados desses ensaios.

2.1.2.
Mecanismos e comportamento de estruturas grampeadas

A técnica de solo reforçado pelo uso de grampos é relativamente recente,


como foi observado anteriormente, tendo sido a França a pioneira em
desenvolvimento da técnica no campo prático e teórico. A França começou
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

projetando estruturas temporárias para suporte de terra no começo dos anos 80,
desenvolvendo-se a técnica, para estruturas de médio e longo prazo de duração.
Em 1986 e por um período de 4 anos, quatro milhões de dólares forma gastos no
desenvolvimento de um programa de pesquisa denominado Projeto Clouterre
numa iniciativa do Ministério Francês de Transporte. O principal objetivo foi o
desenvolvimento de especificações de projeto de estruturas temporárias ou
permanentes, em solo grampeado, na execução de escavações. Vinte e uma
organizações incluindo companhias privadas e laboratórios de pesquisas
públicos participaram diretamente do Projeto Clouterre. Quatro tópicos
importantes foram desenvolvidos (Schlosser et al., 1992):
• Estado limite de utilização de estruturas em solo grampeado utilizando
fatores de segurança parciais;
• Estimativas de deformações em estruturas de solo grampeado em
serviço;
• Dimensionamento da face;
• Aspectos relacionados a durabilidade e medidas preventivas contra
corrosão;
Os itens a seguir buscarão avaliar os tópicos supracitados.
63

2.1.2.1.
Distribuição de tensão nos grampos

Em relação as forças (tração e forças cisalhantes) e momentos fletores


que podem ser solicitados nos grampos, uma clara distinção entre construção,
serviço e ruptura deve ser feita.
Durante a construção e em serviço, quando as deformações são muito
pequenas, os grampos são essencialmente solicitados à tração. Localmente,
próximo à face de escavação, baixos valores de esforços cisalhantes e
momentos fletores podem ser gerados durante a construção somente em casos
extremos onde a face está inclinada em relação aos grampos. Numa situação
próxima à ruptura, forças cisalhantes e momentos fletores irão aparecer ao longo
da superfície de ruptura e não devem ser desprezados (Schlosser e Unterreiner,
1990).
Com relação a distribuição de tensões nos grampos, à medida que se
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

prossegue com a escavação, tensões de tração são desenvolvidas nos grampos


em função da descompressão lateral do solo, resultado do processo de
escavação. Há um aumento nas solicitações axiais ao longo dos grampos em
função do prosseguimento da escavação. Em algumas análises numéricas,
Springer et al. (2001b), verificaram que os grampos mais solicitados são aqueles
mais distantes da superfície do terreno e, portanto têm papel mais importante na
contenção do solo.
Observa-se que as tensões nos grampos são máximas dentro da massa
de solo grampeado e não na face da parede (Clouterre, 1991). Segundo
Springer et al. (2001a) esta afirmativa só é válida para o caso de grampos sem
fixação à parede (grampos livres). A análise das tensões nos grampos mostra
que o ponto de tração máxima varia em função da forma de fixação do grampo à
parede. No caso de grampo fixo (Figuras 6a, 6b e 6c), o ponto de tração máxima
ocorre sim, junto à face. No caso de grampo livre (Figura 6e), a tração máxima
verifica-se em um ponto mais interno.
Nota-se ainda que o mecanismo de ruptura com o desenvolvimento de
regiões ativa e passiva (Figura 31) somente ocorre quando os grampos são
livres em relação à face do talude escavado (Clouterre, 1991; Cardoso e
Gonçalves, 1997; Springer, 2001). Neste caso a zona considerada ativa está
situada atrás da face. Nesta região as tensões de atrito lateral aplicada pelo solo
nos grampos são direcionadas para fora. Do contrário, na zona passiva, as
64

tensões de atrito lateral são direcionadas para dentro da massa de solo em


direção oposta aos deslocamentos laterais da região ativa.
A localização exata da máxima força de tração nos grampos (Fmáx) não
é tão simples de se determinar. A possibilidade do cálculo dos esforços axiais
nos grampos tem sido avaliada e resultados interessantes podem ser vistos no
trabalho de Juran et al. (1990). Geralmente, a forma e posição da linha de
máxima tensão, a qual pode ser considerada como uma possível superfície
potencial de ruptura, são bem diferentes do plano de ruptura de Rankine, como
mostra a Figura 32. O ponto do topo na curva, em observações de campo, dista
0,30H da face (Mitchell, 1987; Clouterre, 1991) em taludes verticais. Esta
posição pode variar conforme inclina-se o talude. Deve-se ressaltar que não há
uma regra geral para definir a distância do topo da escavação até a linha que
define a superfície de ruptura, devido a variações nos tipos de solos e grampos
existentes. Em alguns experimentos em escala real, por exemplo, Schlosser e
Unterreiner (1990), observaram que esta distância é da ordem de 3,5H.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

δh
Zona Ativa

Linha de máximo
esforço de tração
nos grampos

Zona Passiva
L

Figura 31 - Zonas ativa e passiva em escavações com grampos livres (Springer, 2001)

Gässler e Gudehus (1981) observaram que os empuxos atuantes no


paramento são cerca de 60% do valor preconizado pela teoria de Coulomb.
Em análises baseadas no método dos elementos finitos, Krahn (2001a e
2001b) indicou que a localização dos esforços máximos de tração nos grampos
refletem uma possível superfície de ruptura do maciço reforçado. Nas análises
65

realizadas, os esforços cisalhantes e momentos fletores desenvolvidos nos


grampos (φaço=30mm) foram relativamente pequenos.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Linha de Rankine

Figura 32 - Definição de uma possível superfície de ruptura (Clouterre, 1991)

2.1.2.2.
Interação solo/grampo

Durante a construção, devido à descompressão lateral do solo, os


grampos são solicitados essencialmente a esforços de tração. A transferência de
tensões entre o solo e o reforço envolve um mecanismo de resistência ao atrito
entre os dois materiais.
Dois tipos de interação solo-grampo são desenvolvidos em estruturas de
solo grampeado:
1. A mais importante interação é a tensão cisalhante (atrito lateral), aplicada
pelo solo ao longo dos grampos, a qual induz tensões nos grampos. Em
solos arenosos, o atrito unitário solo-grampo (qs) é praticamente
independente da profundidade (Schlosser, 1983; Schlosser e Unterreiner,
1990) e, portanto, da tensão confinante (Unterreiner et al., 1995). O valor
de qs pode ser influenciado pelo método de colocação do grampo no
maciço (injeção sob baixa pressão, alta pressão ou por gravidade, por
exemplo) e pelo grau de saturação do solo (Clouterre, 1991). Em solos
argilo-arenosos, o atrito solo-grampo pode reduzir a metade quando se
66

passa do teor de umidade ótimo para a saturação completa (Veloso e


Magro, 1986).
Existem certas similaridades entre o atrito em estacas e o atrito unitário
solo-grampo (qS) que justificam o uso de correlações de atrito lateral
estabelecidos para estacas.
A mobilização do atrito-lateral ao longo dos grampos se dá para
pequenos deslocamentos do grampo em relação ao solo, da ordem de
poucos milímetros.
São as deformações internas na parede de solo grampeado, e
especialmente extensões laterais, que induzem à mobilização do atrito
lateral ao longo dos grampos e a tensões de tração posteriormente. Estas
deformações são devido à descompressão lateral do solo devido às
sucessivas etapas de escavação.
2. A segunda, menos importante, diz respeito aos momentos fletores e
forças cisalhantes, mobilizadas nos grampos, na zona cisalhante
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

desenvolvida na massa de solo grampeado (Figura 33a e 33b) (Clouterre,


1991). O experimento CEBTP No 01 (Plumelle et al., 1990) (Figura 33a)
mostra este comportamento. Se os grampos são flexionados, eles serão
submetidos a momentos fletores e esforços cisalhantes na região de
cisalhamento da massa de solo grampeado. As deformações nos
grampos são calculadas de forma análoga que em estacas carregadas
com esforço horizontal e momento no topo da estaca. Maiores detalhes
podem ser vistos em (Clouterre, 1991).
Durante o cisalhamento da massa de solo grampeado, a ruptura do
grampo se dá ou por esforços de tração (To) na interseção com o plano
de ruptura ou por plastificação nos pontos de máximos momentos fletores
(Mmáx), os quais são localizados fora da superfície de ruptura (Figura
33b). Se os grampos forem considerados rígidos, a plastificação dos
pontos de máximos momentos fletores praticamente nunca
corresponderá à ruptura dos grampos.
Convém informar que a ruptura da estrutura de solo-grampeado poderá
ocorrer também no contato solo-grampo se as tensões cisalhantes alcançarem o
valor limite de qs, causando uma ruptura por falta de aderência.
67

(a) Desenvolvimento de região de cisalhamento em


muro experimental de solo grampeado
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(b) Detalhe da flexão nos grampos

Figura 33 - Grampos submetidos à flexão e esforços cisalhantes (Clouterre, 1991)

2.1.2.3.
Mobilização da resistência à flexão dos grampos

A mobilização de momentos fletores nos grampos requer que o elemento


de reforço (grampos) possua uma certa rigidez. Deste modo, grampos flexíveis
68

(φaço pequeno) não podem mobilizar momentos fletores por oferecerem baixa
rigidez transversal.
Segundo Lima (1996) para taludes de pequenas dimensões, se
comparados com taludes de mineração que chegam a centenas de metros, a
flexão torna-se influente no comportamento do modelo de ancoragem.
Grampos, em particular os injetados, oferecem alguma resistência à
flexão. Modelos e experimentos em escala real demonstram que esta
resistência dos grampos é realmente mobilizada num estado próximo à ruptura
quando a superfície ou zona de cisalhamento desenvolve-se ao longo da
estrutura de solo grampeado. Já que as deformações da parede se mantém
pequenas, sob o estado de utilização da estrutura, a resistência à flexão dos
grampos é modestamente mobilizada.

2.1.2.4.
Deformações e deslocamentos em taludes grampeados
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Os resultados em alguns experimentos e programas de instrumentação


realizados na França (Clouterre, 1991), ajudaram a definir a ordem da magnitude
das extensões e deformações que ocorrem em taludes de solo grampeado.
Conforme ilustra a Figura 34, três parâmetros podem ser definidos:
• δ0=deslocamento horizontal máximo na superfície, atrás do bloco;
• δh=deslocamento horizontal máximo no topo da escavação próximo à
face;
• δv=deslocamento vertical máximo no topo da escavação próximo à face;
A Figura 34 apresenta também uma sugestão para a avaliação da área
de influência (λ) afetada pela execução da estrutura em solo grampeado. Este
parâmetro permite checar a distância tolerável, às estruturas existentes, de
modo que estas não sofram recalques diferenciais.
Os deslocamentos horizontais e verticais serão máximos no topo da
estrutura e nulos na distância λ do topo da escavação, a qual é função do tipo de
solo, através de um coeficiente empírico (κ), da inclinação da parede (η) e da
altura total da estrutura (H).
69
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 34 - Esquema com as deformações em uma estrutura de solo grampeado


(Clouterre, 1991)

A Tabela 10 fornece os valores típicos κ, além de valores máximos de


deslocamentos verticais e horizontais máximos, baseados em resultados
empíricos (Schlosser et al., 1992 e 1993). Conforme indica a Figura 35, em todos
os casos instrumentados, os valores de δh no topo da face de escavação se
aproximaram dos deslocamentos verticais δv. Segundo as observações de
campo, no estágio final da construção, estes deslocamentos variam entre
0,10%H e 0,30%H (Figura 35), sendo reduzidos à medida que se distanciam da
face. Variações de 0,07%H a 3,00%H foram observadas em obras nos Estados
Unidos e entre 0,25%H a 0,30%H na Alemanha (Schlosser et al., 1992).

Tabela 10 - Valores típicos de κ, de deslocamentos verticais e horizontais máximos, baseados


em resultados empíricos (Clouterre, 1991)
Tipo de Solo Alteração de rocha Solos arenosos Solos argilosos
δh=δv 0,10%H 0,20%H 0,30%H
coeficiente κ 0,8 1,25 1,5
onde: λ=κ (1-tanη) H
70

Figura 35 - Deslocamentos na face de muros instrumentados (Clouterre, 1991)

Os deslocamentos no topo da face de escavação dependem dos


seguintes parâmetros:
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

• velocidade da construção da estrutura;


• altura dos incrementos de escavações e espaçamento entre grampos;
• comprimento dos grampos;
• fator de segurança global da parede (quando a parede de solo
grampeado apresenta valores baixos, os valores de deslocamentos
horizontais e verticais tendem a ser altos);
• relação L/H;
• inclinação dos grampos e, neste caso, sua rigidez à flexão;
• capacidade de suporte do solo da fundação da estrutura de solo
grampeado;
• inclinação da parede (uma leve inclinação da parede reduz os
deslocamentos no topo, aumentando a estabilidade da estrutura);
Com relação ainda aos deslocamentos na face, a estabilidade local
durante as etapas de escavação é um dos tópicos mais importantes na
construção de estruturas em solo grampeado. O efeito de arqueamento é um
dos principais fenômenos em estabilidade local de escavações. Deve-se exigir
um suporte eficiente do nível do grampo superior à escavação até a base da
mesma, pois os deslocamentos são sensíveis a estes suportes.
Existe uma altura crítica de escavação que não deve ser excedida. Se
excedida, o efeito de arco é destruído causando, deste modo, um processo de
71

instabilidade global do solo. A altura crítica é principalmente função do tipo de


solo; na prática este valor não deve ultrapassar 2m.
Todas as observações e monitoramento de obras em solo grampeado
têm demonstrado que o fenômeno de “creep” ou fluência ocorre após o término
da construção da estrutura (Plumelle et al., 1990). Isto acarreta a um suave
aumento nos deslocamentos e nos esforços nos grampos, especialmente
naqueles situados próximos à base da escavação. Instrumentação de campo em
estrutura de solo grampeado na França (Unterreiner et al., 1995) relatam
aumentos consideráveis de deslocamentos, durante um período de interrupção
da obra, atribuídos ao efeito de “creep” (ou fluência).

2.1.3.
Tipos de ruptura em estrutura de solo grampeado

O principal interesse quando se executa uma construção de uma


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

estrutura em solo grampeado é o de garantir a sua estabilidade e segurança.


Análises da interação solo-grampo em sistemas de contenção com solo
grampeado demonstram três tipos de ruptura global: ruptura externa, mista e
interna, como demonstra a Figura 36. Para os dois últimos tipos de ruptura,
alguns modelos de rupturas locais devem ser considerados: quebra ou ruptura
dos grampos e arrancamento dos grampos.

Figura 36 - Mecanismos de ruptura (Clouterre, 1991)

Se os grampos provêm de alguma resistência adicional devido à sua


resistência à flexão e cisalhamento, a interação solo-grampo é mais complexa e
modelos de ruptura adicionais tem de ser considerados: ruptura do solo abaixo
72

dos grampos (quando aplicadas tensões excedentes à capacidade de suporte do


solo de fundação) e ruptura dos grampos por flexão.
A seguir, uma distinção é feita entre a ruptura interna do solo grampeado
e a ruptura externa na qual a parede comporta-se como um bloco monolítico.
A) Ruptura interna:
1. Ruptura por quebra dos grampos. Uma zona de cisalhamento no solo se
desenvolve numa região que abrange a linha de maior tensão nos
grampos que pode ser considerada como a provável superfície de
ruptura para o solo (Figura 33). A resistência à flexão dos grampos
previne o desenvolvimento da superfície de ruptura. Em grampos
flexíveis, a ruptura pode ocorrer repentinamente e sem aviso prévio. Este
tipo de ruptura pode ocorre em função de alguns aspectos:
• Diâmetro do grampo subestimado;
• Processo de corrosão nos grampos (barras de aço) com significativa
redução da seção dos mesmos;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

• Sobrecarga no topo da estrutura não previsto no dimensionamento da


mesma (Stocker et al., 1979);
• Saturação do solo por infiltração de água (chuvas);
2. Ruptura por perda de aderência no contato solo-grampo como resultado
de estimativas inadequadas do atrito unitário solo-grampo (qs) e/ou por
falhas na execução da estrutura. A ruptura por perda de aderência é
caracterizada pelo fato dos grampos não apresentarem comprimento
suficiente na zona passiva, capaz de balancear as tensões máximas. Os
grampos são então arrancados para fora do solo. Experimentos mostram
que este tipo de ruptura não acontece repentinamente, exceto em alguns
casos durante as etapas de escavação quando altas deformações se
desenvolvem. Este tipo de ruptura pode ocorrer em função de alguns
aspectos:
• Aumento do teor de umidade em solos de granulometria fina;
• Insuficiência de comprimento dos grampos na zona passiva ou falhas
na estimativa do atrito unitário solo-grampo (qS);
3. Ruptura devido à altura elevada nas etapas de escavação. Durante as
etapas de construção de uma estrutura de solo grampeado, se a altura
de escavação for elevada, a ruptura poderá ocorrer devido a uma
instabilidade local, a qual pode se propagar até o topo da estrutura.
Neste tipo de ruptura, o solo flui atrás da face devido à sucessiva
73

eliminação do efeito de arqueamento do solo. Experimentos realizados


em Clouterre (1991) para alturas de 1m, 2m e 3m indicaram este tipo de
ruptura para etapas com 3m de escavação (Figura 37).

φ=38 e c=4kPa)
o
Areia de “Fontainebleau” (φ
Figura 37 - Ruptura devido à altura elevada nas etapas de escavação (Clouterre, 1991)

4. Ruptura por erosão interna do solo ou “piping”. Este tipo de ruptura é bem
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

similar ao anterior no que se diz respeito ao modo de ruptura. Durante a


escavação, a poro-pressão existente em bolsões de água no solo (em
função do grampeamento do mesmo) juntamente com forças de
percolação, destroem a estabilidade do solo localmente em zonas onde
estão sendo escavadas. Este tipo de ruptura pode ser resultado da
heterogeneidade do solo e/ou por falta de sistemas de drenagem durante
as etapas de construção.

B) Ruptura externa:
Ruptura externa de uma estrutura de solo grampeado ocorre geralmente
por deslizamento do terreno ao longo de uma superfície de ruptura afetando a
estrutura como um todo e atingindo diretamente as fundações. Este tipo de
ruptura é comum em todos os tipos de estruturas de contenção e pode ser
resultado da má qualidade do solo da fundação ou por comprimento dos
grampos insuficientes.

C) Ruptura mista:
Podem ocorrer como resultado de um processo de instabilidade interna e
externa, conforme demonstra a Figura 36.
Estudos realizados por Schlosser et al. (1993), em 3 obras experimentais
em larga escala, confirmam a configuração de ruptura interna associada à
74

subestimação do atrito lateral solo-grampo (ruptura por arrancamento dos


grampos) e quebra dos grampos. Mecanismo de ruptura mista também foi
observado e atribuído, provavelmente, a insuficiência no comprimento dos
grampos.

2.1.4.
Concepção e projeto

2.1.4.1.
Concepção da estrutura

A concepção de uma estrutura em solo grampeado envolve a escolha do


comprimento (L), ângulo de instalação (α), espaçamento (Sv e Sh) e resistência
dos grampos de tal modo que fique garantida a estabilidade interna e externa da
obra que está sendo executada. Estes parâmetros dependem de uma série de
fatores – em particular da altura da parede (H), do ângulo de inclinação do talude
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

(β), tipo de grampo utilizado (cravado ou injetado), qualidade dos grampos


envolvidos (a qual depende do atrito lateral unitário solo/grampo, qS) e de
qualquer restrição imposta pelo meio-ambiente.
Bruce e Jewell (1986 e 1987) ao descreverem alguns casos de obras em
solo grampeado na França, Inglaterra e Estados Unidos realizaram uma
comparação sobre os principais índices associados às diversas obras relatadas
pelos autores. A Tabela 11 sintetiza as observações dos autores para taludes
em solos granulares com inclinações superiores a 80o. Uma discussão sobre os
índices definidos na Tabela 11 pode ser vista em Woodward (1990).

Tabela 11 - Índices característicos em obras internacionais em solo grampeado - solos


o
granulares com inclinação superior a 80 (Bruce e Jewell, 1986 e 1987)
Grampos injetados Grampos Cravados
Índice de comprimento 0,5 a 0,8 0,5 a 0,6
Índice de contato 0,3 a 0,6 0,6 a 1,1
Índice de resistência 0,4 a 0,8 1,3 a 1,9
Índice de desempenho 0,001 a 0,003 ---
Índice de comprimento=Lmáx/H;
Índice de contato (ou aderência)=(φfuro.L)/Sv.Sh;
Índice de resistência=(φfuro)2 /Sv.Sh;
Índice de desempenho=δhmáx/H
75

Empregando os índices propostos por Bruce e Jewell (1986 e 1987), a


Tabela 12 ilustra os valores obtidos por Barley (1993) para diversas obras
realizadas na Grã-Bretanha.

Tabela 12 - Índices característicos em obras na Grã-Bretanha (Barley, 1993)


Grampos injetados
Local das obras Birninghan Dolywern Thurrock
Índice de comprimento 1,00 0,42 1,00
Índice de contato 0,36 0,16 0,15
Índice de resistência 0,28 0,28 0,20
Índice de desempenho Não obtido Não obtido Não obtido

Algumas variações nos índices obtidos na Tabela 12 foram justificadas


pelos valores de H empregados em cada caso. Segundo Barley (1993) estes
valores foram representativos da altura de suporte efetiva e não da altura da
parede, conforme demonstra a Figura 38.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 38 - Modelo de análise dos parâmetros de solo grampeado (Barley, 1993)

A Tabela 13 fornece valores típicos de projetos válidos para muros com


altura H≤5m, em solos homogêneos, sem nível d’água, sem sobrecargas e com
paramento vertical que possam afetar a estabilidade geral do conjunto. Estes
valores representam a experiência adquirida pelo Projeto National Clouterre-
1991, na execução das obras e análises paramétricas de projetos de cerca de
100.000m² de paramentos de solo grampeado. Os valores fornecidos pela
Tabela 13 tratam apenas de grampos executados após perfurações e instalados
com calda de cimento
76

Com a evolução do uso da técnica de solo grampeado, os comprimentos


dos grampos em relação à altura (L/H) aumentaram tanto quanto seu
espaçamento. Guimarães Filho (1994) relata que na maioria dos casos a relação
(L/H) situa-se próxima a 0,70.

Tabela 13 - Valores típicos de projetos em estruturas de solo grampeado (H≤5m, solos homogêneos,
sem NA, sem sobrecargas, paramento vertical, grampos injetados) (Clouterre, 1991)
Parâmetro Valor

Comprimento dos grampos (L) 0,8 a 1,2H


Número de grampos por m² de paramento 0,15 a 0,4
Diâmetro dos grampos 20 a 25mm
Resistência à tração da barra de aço (TG) 100 a 600kN
Densidade do grampeamento (d) 0,13 a 0,60
Ângulo de inclinação de grampo (α) com a horizontal 0o a 20o
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Inclinação do paramento com a vertical (η) 0o a 10o


Inclinação da superfície do terreno (θT) 0o a 5o

Para efeito de pré-dimensionamento podem-se empregar os ábacos de


estabilidade recomendados pelo projeto Clouterre (1991). Estes correlacionam a
densidade do grampeamento (d) com a relação do fator de estabilidade (N) e o
ângulo de atrito do solo (φ), onde:
π .φaço . qS
Densidade de grampeamento: d = eq.(2)
γ .Sv.Sh
onde φaço é o diâmetro do grampo, qS é o atrito unitário, γ é o peso
específico do solo, Sv e Sh são, respectivamente, o espaçamento vertical e
horizontal dos grampos e H a altura da escavação. A utilização dos ábacos se
faz da seguinte maneira:
I. Seleciona-se o ábaco em função do valor da relação L/H
(comprimento do grampo/altura do muro) entre 0,6 e 1,2 (Figuras
c
39 a 42). Determina-se o valor da relação N = , onde c é a
γ H
coesão do solo.
II. Determina-se o ponto M com coordenadas (tan φ, N).
77

III. Seleciona-se no ábaco a curva correspondente a densidade de


grampeamento (d) desejada. A interseção desta curva com a reta
OM define o ponto A.
IV. FS (para estabilidade interna) é dado pela relação entre os
OM
segmentos de retas FS = .
OA
0,3
L / H = 0,6
L

0,2 H

N=c/γH

0,1
M (N, tan φ) d=0
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

0,5 0,3 0,1


d=1 0,2
0,75 0,4
0,0
0 1 2

tan φ
Figura 39 - Ábaco de estabilidade para L/H=0,6 (Clouterre, 1991)

0,3

L / H = 0,8

0,2 H

N=c/γH

0,1
M (N, tan φ)
A d=0

0,5 0,3 0,1


d=1 0,75 0,4 0,2
0,0
0 1 2
d=0
tan φ
Figura 40 - Ábaco de estabilidade para L/H=0,8 (Clouterre, 1991)
78

0,3

L /H =1

0,2
H

N=c/γH

0,1

d=0

d=1 0,5
0,4 0,3 0,2 0,1
0,0 0,75
0 1 2

tan φ
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 41 - Ábaco de estabilidade para L/H=1,0 (Clouterre, 1991)

0,3

L /H =1,2

0,2 H

N=c/γH

0,1

d=0

0,5 0,3 0,1


d=1 0,2
0,0 0,75 0,4
0 1 2

tan φ

Figura 42 - Ábaco de estabilidade para L/H=1,2 (Clouterre, 1991)

Convém ressaltar que a distribuição dos grampos na face dos taludes


(espaçamento vertical, Sv e espaçamento horizontal, Sh) e o seu comprimento
são fatores decisivos na escolha e desenvolvimento de projetos em solo
79

grampeado. Esses fatores dependem do conhecimento das cargas máximas


admitidas nos grampos (função do atrito entre a calda de cimento e solo) e dos
mecanismos de ruptura associados. Resultados de estudos numéricos
realizados por Gerscovich et al. (2002) demonstraram a influência que a relação
entre o comprimento do grampo e a altura da escavação (L/H) e o espaçamento
vertical (Sv) exercem no comportamento tensão-deformação de estruturas
grampeadas. Springer et al. (2001a) apresentaram resultados de modelagem
numérica de um talude escavado com face vertical e superfície de terreno
horizontal. As análises mostraram que um dos fatores mais importantes para o
comportamento do talude grampeado refere-se às alternativas de execução do
grampo: fixo ou livre, no contato com a parede. Os deslocamentos previstos para
a massa de solo grampeado dependem claramente da razão L/H (comprimento
do grampo/altura do talude). Para as maiores alturas (ou seja, L/H<0,67), os
deslocamentos horizontais e verticais da massa grampeada são menores
quando os grampos são fixados à face. Para maiores valores de L/H, o processo
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

construtivo (grampo fixo ou livre) não tem influência significativa nos


deslocamentos da massa grampeada.
O comportamento efetivo de uma estrutura de contenção em solo
grampeado pode induzir a deformações que podem se tornar um obstáculo no
uso da técnica, particularmente em áreas urbanas. Estes deslocamentos podem
ser estimados conforme descrito no item 2.1.2.4. Os valores destes
deslocamentos dependem de uma série de fatores, particularmente da altura da
estrutura, do ângulo de inclinação da parede, da densidade e rigidez dos
grampos e do tipo de solo (Clouterre, 1991).
Os grampos posicionados nas regiões mais elevadas da parede
contribuem mais para a redução dos deslocamentos horizontais na face,
enquanto que os grampos inferiores promovem um aumento da estabilidade
(superfícies de ruptura que passam pela base da estrutura).
Por questões de instalação (método de instalação, tipo de solo, etc.), os
grampos são levemente inclinados para baixo (5o a 15o com a horizontal),
embora os grampos sejam mais eficientes na redução dos deslocamentos
horizontais quando instalados horizontalmente (Clouterre, 1991).
Apesar da parede de uma estrutura não apresentar uma maior
contribuição na estabilidade global de estruturas grampeadas, exerce papel
importante na estabilidade local no que diz respeito ao confinamento do solo
entre os grampos à medida que se processa a escavação. Em condições de
80

equilíbrio, a parede deverá suportar os empuxos de terra atuantes e as forças


aplicadas (em geral só consideradas as forças de tração nos grampos). A
espessura final da face de concreto projetado varia entre 50 e 150mm para
obras temporárias e de 150 a 250mm para projetos permanentes. A face pode
ser construída em uma, duas ou mais camadas dependendo do tipo de grampo
utilizado, da seqüência construtiva e das perturbações causadas no solo.
Acabamentos de arquitetura podem ser aplicados como última camada de cerca
de 50mm (Bruce e Jewell, 1987).
É de extrema importância que a estrutura esteja protegida contra a
entrada de água, a qual pode resultar em carregamentos sobre a estrutura
podendo levar ao surgimento de trincas ou até mesmo à ruptura. Para isto
medidas de proteção da água superficial e de possíveis infiltrações de água
devem ser tomadas através de sistemas de drenagem.
A corrosão é um dos mais importantes fenômenos associados com a
questão da durabilidade de obras em solo grampeado. Em estruturas
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

permanentes, proteção contra o efeito de corrosão nos grampos deve ser


considerada. Algumas medidas podem e devem ser tomadas para a proteção
das barras de aço (grampos) da corrosão:
• Aumento da seção dos grampos;
• Proteção com pintura ou revestimentos especiais;
• Proteção com separadores/obstáculos de plásticos;
A técnica mais comum para combater o processo de corrosão nos
grampos é o aumento da seção transversal dos mesmos. Esta técnica é eficiente
apenas para os tipos de aços usados em grampos submetidos à corrosão
uniforme e não num processo de corrosão concentrado. As recomendações do
Projeto Clouterre (Schlosser et al., 1992) indicam as espessuras extras em
função do tempo de vida útil da estrutura (Tabela 14). O projeto ressalta que
outros aspectos devem ser considerados, tais como: tipo de solo, resistividade
do solo, teor de umidade, etc.

Tabela 14 - Espessuras extras em função do tempo de vida útil da estrutura (Schlosser et al.,
1992)
Tempo de vida útil: Tempo de vida útil: Tempo de vida útil:
Classe
≤ 18 meses 1,5 até 30 anos 30 a 100 anos
IV 0 2mm 4mm
III 0 4mm 8mm
II 2mm 8mm proteção plástica
I proteção plástica obrigatória
81

2.1.4.2.
Projeto

Existem diversos métodos de projeto propostos para simular o


comportamento do solo grampeado. Contudo, ainda não há um consenso sobre
o assunto, pois o mecanismo de funcionamento dos grampos ainda não é
totalmente conhecido.
Para a análise da estabilidade de encostas e escavações, com ou sem a
introdução de inclusões passivas (grampos), são escolhidos métodos de análise
por equilíbrio limite (Bishop Simplificado, Sarma ou Janbu, por exemplo) e
métodos de análise baseados no comportamento tensão-deformação do
problema físico.

2.1.4.3.
Análises da estabilidade por equilíbrio limite
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Os métodos de análises por equilíbrio limite consistem na determinação


do equilíbrio de uma massa ativa de solo, localizada entre uma determinada área
do talude delimitada por uma superfície de ruptura circular, poligonal ou de
geometria qualquer. O equilíbrio desta massa de solo ativa é analisado pelos
métodos convencionais, tais como, o método das fatias de Bishop, Bishop
Simplificado, Janbu ou Fellenius, por exemplo.
Nestes métodos, o solo é dividido em fatias verticais, as quais são
analisadas por equilíbrio estático. A estabilidade da estrutura é verificada através
de um sistema de equilíbrio de forças estáticas que atuam na massa de solo
limitada pela superfície potencial de ruptura. O fator de segurança (FS) é
assumido como constante ao longo da superfície de ruptura e é definido como
sendo a razão entre a resistência ao cisalhamento do solo (τmáx.) e a tensão
cisalhante mobilizada (τ) ao longo da superfície de ruptura. O sistema de
equilíbrio do solo é determinado usando a redução de parâmetros de resistência
do solo (coesão e ângulo de atrito interno).
Quando se introduz o reforço nos taludes (grampos, neste caso), as
forças mobilizadas (forças axiais e eventualmente forças cisalhantes e
momentos fletores) nos elementos de reforço devem ser consideradas no
equilíbrio estático. Essas forças dependem das características do mecanismo de
interação solo-inclusão (atrito lateral e pressões laterais entre o solo e o
grampo).
82

Existem na literatura diversos métodos de cálculo de estruturas


grampeadas. As hipóteses adotadas pelos diferentes métodos estão
sumarizados na Tabela 15. Através destes métodos é possível analisar a
estabilidade da estrutura ao longo de superfícies de ruptura interna, externa ou
mista.
A estabilidade interna é a capacidade da massa de solo reforçada atuar
monoliticamente, sem o colapso de qualquer um dos seus componentes
(ruptura, arrancamento ou corrosão). Enquanto que a estabilidade externa
refere-se a segurança da estrutura no que diz respeito ao deslizamento da
massa de solo reforçada passando pela sua fundação, tombamento e
capacidade de carga do solo de fundação. A estabilidade interna e externa de
estruturas em solo grampeado devem sempre ser checadas. Uma associação de
ambas (ruptura mista) também deve ser verificada.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA
83

Tabela 15 - Premissa dos diferentes métodos de cálculo em solo grampeado (adaptado de Abramson et al., 1996)
Multicritério
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Método Alemão Davis Davis Modificado Cardiff Escoamento Cinemático


(Francês)
Stocker et al.
Bridle (1989) e Juran et al.
Schlosser (1982 e (1979) e Gässler Shen et al. Elias e Juran
Referência Bridle e Barr Anthoine (1990)
1983) e Gudehus, (1981) (1990) (1988 e 1990)
(1990)
1981)

Equilíbrio limite – Equilíbrio limite – Equilíbrio limite – Equilíbrio limite – Equilíbrio limite – Teoria do Análise de
momentos forças forças forças momentos escoamento tensões internas
Análise
Estabilidade Estabilidade Estabilidade Estabilidade Estabilidade Estabilidade Estabilidade
global global global global global global local
Parâmetros do Parâmetros do Parâmetros do
Parâmetros do Parâmetros do
solo (c’, φ’) solo (c, φ) solo (c’, φ’)
Propriedades Parâmetros do solo (c, φ) solo (c, φ)
do material
Força limite nos solo (c, φ) Força limite nos Força limite nos
Força limite nos Parâmetro
grampos grampos adimensional de
Atrito lateral grampos grampos
pré-definidas rigidez à flexão
Rigidez à flexão Rigidez à flexão
Atrito lateral Atrito lateral (N)
dos grampos dos grampos
Tração, Tração, Tração,
Solicitações
cisalhamento e Tração Tração Tração cisalhamento e Tração cisalhamento e
nos grampos
flexão flexão flexão
Superfície de Circular ou Espiral Espiral Espiral
Bilinear Parabólica Parabólica
ruptura polinomial logarítmica logarítmica logarítmica
Mecanismo a Arrancamento
Misto Misto Misto Misto Não utilizável
de ruptura dos grampos
NA sim não não não não sim
Solo
sim não não não não não sim
estratificado
Geometria da Face vertical ou Face vertical ou Face vertical ou Face vertical ou Face vertical ou
qualquer Face vertical
estrutura inclinada inclinada inclinada inclinada inclinada
a
Mecanismo de ruptura misto: ruptura relacionada com o arrancamento dos grampos ou pelo escoamento do aço.
84

O Método Multicritério (Schlosser, 1982 e 1983), adotado na França, é


uma extensão dos métodos clássicos de equilíbrio limite (métodos das fatias),
permitindo que a rigidez à flexão e a resistência ao cisalhamento nos grampos
sejam considerados quando necessário. A análise é baseada em quatro critérios:
1. A ruptura pode se dar por quebra ou ruptura dos grampos (perda da
resistência dos elementos de reforço). Este critério diz respeito à
resistência do material de reforço empregado que deve ser satisfeita às
tensões admissíveis na tração e cisalhamento;
2. A ruptura pode se dar por arrancamento dos grampos (perda resistência
na interface solo-grampo) quando o valor do atrito unitário solo grampo
alcança o valor admissível. Segundo Mitchell e Villet (1987), a
mobilização deste mecanismo é função da orientação dos reforços em
relação à superfície potencial de deslizamento. O efeito da orientação
dos reforços em solo grampeado também foi estudado por Jewell e
Pedley (1990a, 1990b, 1990c e 199d). Os autores executaram ensaios de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

cisalhamento direto em amostras de solo arenoso com barras passivas


com diferentes orientações em relação à superfície de ruptura. Os
resultados dos ensaios confirmaram que o desenvolvimento de esforços
de tração nos reforços depende fundamentalmente da orientação do
grampo. Jewell e Pedley (1990a, 1990b, 1990c e 199d) concluíram que
os reforços têm 2 importantes efeitos: reduzir as tensões cisalhantes
impostas pelo solo e aumentar os valores de tensões normais na
superfície de ruptura;
3. Ruptura por tensão normal solo-grampo. A tensão aplicada pelo terreno
normal ao eixo de um elemento de reforço (p) atinge um valor máximo
(pMÁX). Este critério advém das hipóteses adotadas na análise do
comportamento de estacas sujeitas a carregamento horizontal, em que a
pressão de reação do terreno (p) está limitada por um valor (pMÁX), além
do qual o solo escoa ao redor da estaca. Mitchell e Villet (1987), afirmam
que o desenvolvimento de empuxos de terra passivos contra a superfície
normal à direção de arrancamento dos grampos é função da rigidez à
flexão dos grampos. Apesar dos esforços de tração serem dominantes no
mecanismo do reforço, empuxos passivos de terra podem se desenvolver
em oposição aos grampos em ambos os lados da superfície de ruptura,
quando os elementos de reforços são rígidos. A Figura 43 ilustra este
efeito. Grampos considerados flexíveis (Figura 43a) se deformarão até
85

que o equilíbrio seja alcançado. Todavia, grampos rígidos (Figura 43b)


resistirão às deformações e, conseqüentemente, empuxos laterais de
terra passivos serão mobilizados em ambos os lados da superfície
potencial de ruptura, e tensões cisalhantes surgirão na seção transversal
do reforço para manter o estado de equilíbrio. Grampos rígidos,
dependendo do seu alinhamento (inclinação), podem ser submetidos a
esforços cisalhantes e momentos fletores, além dos esforços axiais
(Mitchell e Villet, 1987).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 43 - Influência da rigidez dos grampos no reforço (Mitchell e Villet, 1987)

4. Ruptura do solo da fundação quando tensões aplicadas ao terreno são


superiores às tensões admissíveis do solo (Resistência ao cisalhamento
ao longo da superfície de ruptura – equação de Mohr-Coulomb).
O mecanismo de ruptura de estruturas grampeadas foi estudado por
Cardoso e Fernandes (1994). Estes autores também discutem a influência da
rigidez dos grampos no comportamento da massa de solo reforçada e mostram
que, em casos práticos, nos quais grampos flexíveis são mais utilizados, a
ruptura do grampo é mais improvável de se ocorrer. Segundo os autores, uma
vez que os grampos são considerados flexíveis, o comportamento do sistema
reforçado é prioritariamente influenciado pelas deformações plásticas nos
grampos, primeiramente e, numa escala menor, por uma possível ruptura
86

(dependendo da ductilidade dos materiais constituintes dos grampos) de uma ou


mais inclusões. Em outras palavras, o comportamento do maciço reforçado
depende da resistência no contato na interface solo-grampo. Se os reforços são
flexíveis e curtos, a ruptura se dará por arrancamento dos grampos ao invés da
ruptura dos mesmos. Isto ocorre porque os mecanismos de interação solo-
grampo, nestes casos, conduzem à concentração de altas tensões cisalhantes
nas interfaces solo-grampo na extremidade do grampo distante da parede.
É importante notar que a superfície de ruptura observada no solo em
ambos os casos de reforços flexíveis ou rígidos são bastante similares. Porém,
no caso de grampos flexíveis a superfície potencial de ruptura no solo
desenvolve-se ao longo dos pontos de ruptura nos grampos, ao passo que no
caso de inclusões rígidas, a superfície potencial de ruptura não coincide com os
pontos de ruptura nas inclusões (Mitchell e Villet, 1987).
O efeito do ângulo de inclinação dos grampos merece ser melhor
discutido, uma vez que, estes condicionam a contribuições de tração,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

cisalhamento e flexão além dos deslocamentos na estrutura (Jewell e Pedley,


1990a, 1990b, 1990c e 1990d).
Jewell e Pedley (1990a, 1990b, 1990c e 1990d), através de estudos
experimentais e numéricos, criticaram a consideração de flexão composta nos
grampos, adotada na análise multi-critério. Segundo os autores a consideração
de esforços cisalhantes resistentes nos grampos não exerce papel importante
em grampos de pequenos diâmetros, sendo sua contribuição entre 10% a 15%
na estabilidade global (Schlosser, 1991).
Segundo Ortigão et al. (1995 e 1997), apenas esforços de tração
apresentam significativa importância na estabilidade interna de estruturas em
solo grampeado. Esforços cisalhantes e momentos fletores nos grampos
respondem por uma parcela menor que 3% na estabilidade global. Resultados
de análises de estabilidade por equilíbrio limite demonstram que, na prática, a
influência dos esforços cisalhantes e momentos fletores é muito pequena no FS
calculado, mesmo em grampos mais rígidos.
Plumelle et al. (1990) afirmam que a rigidez à flexão dos grampos é
mobilizada somente para grandes deformações, fornecendo uma contribuição ao
aumento da segurança da estrutura.
Para fins de projeto, momentos fletores e esforços cisalhantes são
omitidos. Isto pode ser aceitável se os grampos apresentarem baixos valores de
momento de inércia (pequena seção transversal), forem instalados
87

suborizontalmente ou horizontalmente no solo (inclinações α ≤ 20o) e não houver


sobrecarga atuando na superfície horizontal do talude. Um estudo mais
detalhado do método pode ser visto em Schlosser (1982 e 1983), Schlosser e
Unterreiner (1990) e Clouterre (1991).
O método Alemão (Stocker et al., 1979; Gässler e Gudehus, 1981)
baseia-se na idéia de que o conjunto solo-reforço forma uma estrutura rígida
comportando-se com um muro de peso. Este método originou-se de resultados
de ensaios “in situ” em uma prova de carga com ancoragens verticais
pressionando uma placa de carga (Gässler e Gudehus, 1981), restringindo-se os
deslocamentos horizontais na superfície do terreno. Guimarães Filho (1994)
contestou a validade dos ensaios, afirmando que os deslocamentos horizontais
inerentes aos ensaios não condizem com casos reais de reforço de taludes com
solo grampeado, pois as superfícies de deslizamento admitidas foram induzidas
pela placa de carga.
O modelo Alemão pressupõe o desenvolvimento de dois monolitos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

delimitados por uma superfície de ruptura bi-linear: uma região representada


pelo muro de gravidade (cunha trapezoidal) e outra, triangular, representando
uma cunha ativa de terra. No caso de sobrecarga elevada e próxima ao bordo, o
mecanismo de Coulomb (cunha triangular) deve ser considerado. Dois exemplos
de cálculo, demonstrando à influência da posição e valor da sobrecarga no
método, são encontrados no trabalho de Veloso e Magro (1986). Outros
exemplos podem ser vistos em Gässler (1988).
Love (1995) também propôs um método de cálculo baseado no
mecanismo de desenvolvimento de uma cunha de ruptura bi-linear.
O método de Davis (Shen et al., 1981) é muito difundido nos Estados
Unidos. O modelo baseia-se em estruturas convencionais de escoramento, onde
os grampos são apenas elementos de contenção e não de melhoramento do
solo, sendo parecido com o atirantamento (Dyminski, 1994). O atrito máximo na
interface solo-grampo é admitido como constante e o valor da tração aplicada
em cada grampo na superfície de ruptura é então calculada. Elias e Juran (1990)
propuseram modificações no método de Davis no que diz respeito à geometria
da estrutura considerada. Mitchell e Villet (1987) utilizaram o método de Davis
para o cálculo dos reforços em estruturas grampeadas. Para efeito de
dimensionamento, a região do terreno que recebe os reforços constitui um
maciço monolítico, procedendo-se as análises de estabilidade interna e externa.
Na estabilidade externa, são calculadas as forças que tracionam as barras
88

(grampos), que devem ser inferiores à carga admissível sob o ponto de vista
estrutural e à força limite proporcionada pelo atrito solo/grampo. A estabilidade
global consiste em verificar o equilíbrio do talude segundo superfícies potenciais
de ruptura que passem por trás da zona reforçada. No presente caso, os autores
utilizaram o programa STABL para análises que admitiram superfícies que
passam tanto atrás da zona reforçada como as que interceptam parcial ou
totalmente os grampos, o que possibilita uma verificação adicional da
estabilidade interna.
Um método matemático rigoroso, usando uma superfície log-espiral, foi
proposto como “análise limite cinemática aproximada” para o projeto de
estruturas de contenção em solo grampeado (Juran et al., 1988 e 1990). Este
método estabelece uma estimativa da máxima tensão e forças cisalhantes
mobilizadas. O método também permite a avaliação do efeito dos principais
parâmetros de projeto (geometria da estrutura, sobrecargas, posição da linha
freática, estratificação do solo inclinação do talude, espaçamento e rigidez dos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

grampos) na magnitude e localização das tensões máximas e momentos fletores


desenvolvidos nos grampos.
Com pode-se perceber existe uma incompatibilidade entre os métodos de
cálculo por equilíbrio limite citados na Tabela 15, no que diz respeito à
consideração das forças entre fatias, distribuição de empuxos de terra e forças e
rigidez dos grampos. Em resumo, uma adequada análise por equilíbrio limite
deve:
• Analisar os diferentes modos de ruptura (ruptura externa, interna e
mista);
• Levar em consideração os esforços de tração nos grampos flexíveis.
No caso de grampos com rigidez à flexão considerável, forças cisalhantes e
momentos fletores devem ser considerados (Schlosser e Unterreiner, 1990);
Ainda em relação ao conceito de equilíbrio limite, Zirlis et al. (1999)
apresentam dois outros métodos de análise de estruturas grampeadas. O
primeiro, denominado Método do Pseudo Muro de Gravidade, consiste na
consideração de um “monolito” com comportamento comparável a um muro de
pedra. O dimensionamento é realizado por equilíbrio externo e interno do maciço
reforçado. O equilíbrio externo é assegurado quando um valor mínimo de B
(largura do monolito) atende a 4 modos de instabilização da estrutura (Figura
44):
89

O equilíbrio interno é estabelecido investigando-se superfícies potenciais


de ruptura passando através dos reforços. Variando-se a posição, quantidade,
inclinação e capacidade de carga dos reforços, consegue-se estabelecer o
equilíbrio e, conseqüentemente, a combinação otimizada de espaçamentos
verticais e horizontais que satisfaça a segurança exigida com relação a rupturas
internas.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 44 - Modos de instabilização externa (Zirlis et al., 1999)

O segundo método apresentado por Zirlis et al. (1999) é definido como


“Método das Cunhas”, baseando-se no equilíbrio limite do mecanismo de ruptura
de uma cunha bipartida.
Além de métodos baseados na teoria do equilíbrio limite, a Tabela 15
retrata também métodos baseados na análise limite e métodos de cálculo
baseados no escoamento do material (em particular, o método de aproximação
cinemática). Esses métodos são, mecanicamente, mais rigorosos e têm sido
desenvolvidos, em geral, para solos homogêneos, geometria simples, sem
presença de água e sem esforços cisalhantes e momentos fletores atuando nos
grampos (Anthoine, 1990).
Em todos os métodos é assumido que os deslocamentos e deformações
são relativamente pequenos, o bastante para que não haja quaisquer mudanças
na geometria da estrutura anteriormente à ruptura. No caso de grampos
flexíveis, a reorientação dos grampos devido à movimentação do maciço ao
longo superfície de ruptura não deve ser considerada.
90

É importante ressaltar que os métodos baseados em equilíbrio limite não


permitem o cálculo de como as forças se desenvolvem ao longo dos grampos à
medida que os estágios de escavação prosseguem (estrutura em serviço), assim
como, a estimativa dos deslocamentos. Desta maneira, os posicionamentos dos
grampos não podem ser otimizados para limitar as deformações ao longo da
estrutura. Adicionalmente, não se pode prever condições de ruptura progressiva
devido à quebra dos grampos.
Long et al. (1987), demonstraram a importância de algumas variáveis,
tais como, a forma assumida para a superfície de ruptura, inclinação da parede,
altura da parede, resistência do solo, resistência dos grampos, inclinação dos
grampos e comprimento dos grampos, na análise da estabilidade global de uma
massa de solo reforçada utilizando-se a técnica de solo grampeado. Os autores
realizaram análises de estabilidade através dos diversos métodos de equilíbrio
limite e observaram que a consideração de superfícies circulares, bi-lineares ou
em cunha tripartida podem levar a valores de FS muito próximos.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Ainda com relação ao Fator de Segurança (FS) estabelecido pelos


métodos propostos na Tabela 15, Juran e Elias (1990), relatam que o FS
relacionado com a estabilidade local em cada nível de grampo pode ser
significativamente mais crítico que o FS relacionado à estabilidade global da
estrutura. Assim, torna-se essencial, em projetos de solo grampeado, a
determinação dos esforços nos grampos (tração e cisalhamento) e momentos
mobilizados sob condições de trabalho da estrutura. Como sugestão, o FS local
pode ser calculado pelo Método Cinemático (Juran et al., 1988). Enquanto que o
FS global poderia ser calculado pelo método de Davis ou pelo método Francês.
Comparações entre esses dois métodos demonstram que fatores de segurança
mais baixos são fornecidos pelo método de Davis (Juran et al., 1990).
O fator de segurança global representa a margem de segurança a qual
deve ser levada em consideração em função de incertezas na determinação das
propriedades dos materiais envolvidos, nas condições de carregamentos e erros
inerentes à metodologia de cálculo. Fatores de segurança parciais podem ser
considerados individualmente na determinação das propriedades do solo, das
forças externas atuantes na estrutura, nas propriedades do material da interface
solo-grampo e na resistência ao escoamento do aço dos grampos (Schlosser et
al., 1992). Para estruturas temporárias, Cardoso e Fernandes (1994) sugerem
que o fator de segurança global deve ser superior a 1,3, enquanto que, para
estruturas permanentes, superiores a 1,5.
91

Pelos taludes grampeados representarem uma situação de estática


razoavelmente complexa, onde as deformações do maciço e dos reforços são
bastante importantes para a compreensão deste comportamento, talvez as
análises baseadas no equilíbrio limite não sejam adequadas para o estudo dos
mesmos (Dyminski et al., 1996).
A análise de estabilidade de taludes submetido à sobrecarga em solo
grampeado através de métodos probabilísticos (Probabilidade de Ruptura) são
explicitados por Gässler e Gudehus (1983), onde é estimada a probabilidade de
ruptura em função das variáveis: peso específico do solo, ângulo de atrito do
solo, resistência ao arrancamento dos grampos e sobrecarga. Hettler e Schwing
(1989) também discutem métodos baseados no conhecimento de parâmetros
estatísticos.

2.1.4.4.
Análises tensão x deformação
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

A análise da estabilidade de estruturas em solo grampeado baseada em


análises tensão x deformação é realizada com o auxílio de programas
computacionais baseados nos métodos dos elementos finitos (MEF) ou métodos
das diferenças finitas (MDF). O estudo do comportamento tensão x deformação
de uma estrutura em solo grampeado mostra-se como uma opção interessante,
uma vez que as diferentes etapas de construção da obra podem ser avaliadas.
Silva et al. (2001), comprovou a eficiência de um modelo computacional
implementado para análise de estruturas grampeadas. Com esta ferramenta foi
possível avaliar esforços axiais e cisalhantes, solicitados na interface
grampo/nata, nata/solo e no próprio aço (grampo) além de, momentos fletores de
um material “equivalente”, formado pela combinação das rigidez do grampo e da
nata. Testes preliminares comprovaram a eficiência da instalação de grampos na
horizontal e mostraram que o efeito do reforço é equivalente ao aumento de
tensão confinante ou da coesão do maciço terroso. Adicionalmente, os estudos
mostraram que a rigidez à flexão dos grampos é muito importante quando as
cargas se aproximam da condição de colapso.
Análises da rigidez dos grampos em estudos paramétricos realizados por
Lima (1996) e Ehrlich et al. (1996) têm demonstrado o importante papel da
rigidez à flexão no controle do escoamento do solo. Segundo os autores,
grampos com rigidez à flexão elevada e inclinações próximas a zero são mais
92

eficientes no controle da plastificação do material, por estarem associados a


menores deslocamentos horizontais. Quanto maior a inclinação dos grampos,
maior será a influência da rigidez à flexão nas tensões internas. Para grampos
rígidos, o aumento da inclinação das barras reduz as tensões nos grampos e
aumenta os momentos fletores. Em grampos flexíveis, verifica-se um
comportamento inverso.
Segundo Lima (1996), a flexão afeta o comportamento do modelo de
ancoragem, para o caso de taludes de pequenas dimensões. O autor também
chama atenção para o fato de que as análises realizadas sob deformação plana
podem ser ditas aproximadas, e que certamente análises 3D seriam mais
representativas do comportamento real do maciço. Entretanto tais análises são
muito mais dispendiosas do ponto de vista computacional. O autor sugere então,
a simulação de um “efeito tridimensional” a partir da consideração do
espaçamento entre grampos, já que este é, geralmente, fixado como unitário.
Unterreiner et al. (1995) confirmaram que análises numéricas
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

bidimensionais são aceitáveis pelo menos para pequenas deformações, durante


a fase de construção, quando a estrutura está distante da ruptura.
Springer et al. (2001a e 2001b) demonstraram a aplicação do programa
computacional FLAC (Itasca, 1996) em simulações de escavações grampeadas
obtendo-se, a cada etapa construtiva, deslocamentos, tensões, forças axiais nos
grampos, etc.

2.1.4.5.
Instrumentação de obras em solo grampeado

O conceito básico da técnica de solo grampeado consiste no uso de


inclusões passivas para reforçar o solo “in situ”. As inclusões são instaladas
durante a construção, imediatamente após cada etapa de escavação, para
restringir deformações no maciço à medida que se executa o corte no talude. A
mobilização efetiva da resistência dos grampos delimita os deslocamentos no
solo. conseqüentemente, a importância da performance na engenharia de obras
em solo grampeado deve ser verificada através de monitoramento dos
deslocamentos na face das estruturas e em pontos distantes da face em alguns
casos (Unterreiner et al., 1995), além da medição dos esforços mobilizados em
cada grampo. Deslocamentos obtidos por instrumentação podem fornecer
valores maiores que os estimados na fase de projeto, conforme reporta
93

Azambuja et al. (2001). A maioria dos registros obtidos reportaram-se a


deformações verticais nulas à distância da crista inferiores a 1,5H. Em algumas
contenções, foram observadas trincas de tração e recalques a distâncias de até
2H.
Resultados de instrumentação de campo em estruturas de solo
grampeado podem ser vistos nos trabalhos de Shen et al. (1981), Gässler e
Gudehus (1981), Plumelle et al. (1990), Juran e Elias (1990), Stocker e Riedinger
(1990) e Shiu et al. (1997).
Unterreiner et al. (1995) realizaram estudos comparativos entre
modelagem numérica por elementos finitos e instrumentação de campo, durante
a construção da primeira estrutura em escala real experimental do Projeto
Clouterre. Os autores observaram uma boa concordância entre os valores
medidos em campo e os previstos, no que diz respeito aos esforços nos
grampos e deslocamentos na face da parede. Este fato foi atribuído a dois
fatores: equivalência das propriedades reais dos grampos com os parâmetros
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

utilizados na modelagem 2D e escolha adequada dos parâmetros constitutivos


do solo.
Plumelle et al. (1990) afirmam que diferenças significativas encontradas
entre valores medidos de deslocamentos horizontal no campo e obtidos na
modelagem em elementos finitos são função da dificuldade de modelos elasto-
plástico clássicos representarem precisamente o complexo comportamento do
solo sob tensões cisalhantes cíclicas e da determinação correta do módulo de
deformabilidade do solo.
Cardoso e Carreto (1989) compararam valores de deslocamentos
horizontais obtidos em análises em 2D e 3D, baseadas no MEF, com
instrumentação de campo em dois pontos. Os autores observaram que análises
em 2D reproduzem bem as observações de campo, desde que seja válida a
consideração de estado plano de deformação nos pontos de instrumentação,
durante todo o processo de escavação. Modelos em 3D, segundo os autores,
são capazes de simular mais adequadamente todas as fases de execução.
Considerações sobre o nível de tensões aplicadas na massa de solo, devido à
característica tridimensional do processo de escavação e o sistema de reforço
empregado, devem ser incluídas na análise da previsão do comportamento da
estrutura grampeada. A influência da metodologia de escavação também pode
se fazer presente nos valores finais de deslocamentos horizontais.
94

Lorig (1991) comparou valores de deslocamentos horizontal e vertical e


carregamento nos grampos, obtidos em modelagem numérica por diferenças
finitas utilizando o programa FLAC, com observações de campo. Os resultados
indicaram uma razoável concordância entre os valores. Porém, segundo o autor,
um refinamento nos parâmetros de entrada pode levar a um aperfeiçoamento
das simulações. Kirsten (1991) e Kirsten e Dell (1991), também compararam
valores de deslocamentos horizontais obtidos em instrumentação de campo com
análise por equilíbrio limite, análise elástica e análise numérica. A análise elasto-
plástica consistiu na modelagem numérica, através do programa FLAC, de um
caso real, apresentado na Figura 45. Na modelagem, a escavação foi realizada
em uma única etapa de altura de escavação equivalente a 12m. Tirantes e
grampos de comprimentos variados foram introduzidos na massa de solo a ser
reforçada, gerando um monobloco rígido (monolítico) conforme ilustra a Figura
46 (Kirsten e Dell, 1991).
A análise por equilíbrio limite baseou-se na determinação da estabilidade
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

externa e interna do bloco rígido de 6m de largura por 12m de altura.


A análise elástica consistiu na determinação dos deslocamentos
horizontais no topo, em função das tensões atuantes no monobloco, através de
uma série de formulações baseadas na Teoria da Elasticidade (Timoshenko e
Goodier, 1951 e Kirsten, 1991).

Figura 45 - Discretização da malha (Kirsten, 1991)


95

Com relação a análise elasto-plástica (análise numérica), os resultados


forneceram valores de deslocamentos horizontais bem inferiores aos observados
em campo. Incompatibilidades entre valores de campo e fornecidos pelo FLAC
podem ser atribuídos a ocorrência de rupturas localizadas durante a paralisação
da escavação em um determinado período da construção e às disparidades
entre valores de módulo de deformabilidade de campo e o utilizado na
modelagem do monobloco reforçado (Kirsten, 1991). Os autores ressaltaram a
grande influência que o módulo de deformabilidade do solo exerce nas análise
utilizando o FLAC e associaram a este fato, às diferenças obtidas entre os
valores comparados.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 46 - Seção transversal do monobloco rígido (Kirsten e Dell, 1991)

Caliendo et al. (1995) demonstraram a grande influência do tipo de


tratamento numérico dado à face da escavação em análises baseadas no
método dos elementos finitos. Os autores compararam dados de instrumentação
de campo de uma escavação vertical com os previstos na simulação numérica. A
parede de concreto projetado foi representada de 3 formas diferentes: elementos
quadriláteros bidimensionais formando uma única coluna, elemento de viga e
elementos quadriláteros bidimensionais formando coluna dupla. Os resultados
observados pelos autores estão reproduzidos nas Figuras 47 e 48. Estes
mostram valores mais altos de deslocamentos horizontais quando a parede é
96

representada por elementos bidimensionais. Observa-se ainda comportamentos


distintos entre ambas as modelagens. Paredes modeladas como elemento de
viga fornecem deslocamentos negativos próximos à base da escavação. Estes
valores são atribuídos a rigidez à flexão do elemento de viga.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 47 - Deslocamentos horizontais na parede modelada como


elemento simples bidimensional (Caliendo et al., 1995)

Quando comparados com registros de campo, os resultados mostrados


na Figura 49, indicaram diferenças significativas nos deslocamentos horizontais
finais em função do tipo de modelagem da parede. Segundo os autores, os
valores obtidos na modelagem dependem da exatidão na avaliação dos
parâmetros relacionados ao modelo constitutivo empregado e do tipo de
elemento usado. A parede simulada como elemento de viga forneceu valores de
deslocamentos horizontais significativamente menores que os observados no
campo até a distância de 1,5m da superfície. Esta diferença está associada a
aspectos construtivos (surgimento de trincas e fissuras na parede em regiões
próximas à superfície) acarretando em leituras de deslocamentos elevadas.
Abaixo desta profundidade o comportamento previsto foi considerado muito bom.
Sendo assim, os autores afirmam que o uso de elemento de viga (com rigidez à
97

flexão) consiste no melhor modelo representativo da parede de concreto


projetado.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 48 - Deslocamentos horizontais na parede modelada como


elemento de viga (Caliendo et al., 1995)

Com relação à influência da espessura da parede como elemento de


viga. Lima (1996) demonstrou que a rigidez da parede tem influência nos
deslocamentos da face. Estudos propostos no seu trabalho demonstram que,
para casos extremos, a variação nos deslocamentos pode chegar a 35%.
98
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 49 - Deslocamentos horizontais finais na parede em função do


tipo de modelagem da face (Caliendo et al., 1995)

No que diz respeito a definição da malha utilizada, Briaud e Lim (1997),


demonstraram a influência de parâmetros geométricos nos valores de
deslocamentos horizontais da parede. Os autores verificaram, após algumas
análises paramétricas, que para relações de W e>3D e Be>(3He+D) os
deslocamentos horizontais no topo da escavação não variam mais que 5%,
conforme mostra as Figuras 50, 51 e 52.
99

Figura 50 - Parâmetros da malha utilizada por Briaud e Lim (1997)


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 51 - Influência de Be nos deslocamentos horizontais (Briaud e Lim, 1997)

Figura 52 - Influência de We nos deslocamentos horizontais (Briaud e Lim, 1997)


100

2.2.
Solos residuais

Em relação à sua origem, os solos podem ser classificados como solos


residuais ou transportados. Os solos residuais são aqueles resultantes da
degradação (intemperismo) das rochas que se encontram no próprio local que se
formaram. Essa degradação forma um manto ou perfil de intemperismo em
função do grau de degradação a que o embasamento rochoso esta sendo
submetido. As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis a
degradações das rochas mais aceleradas, razão pela qual as maiores
ocorrências de solos residuais são evidentes nestas regiões, entre elas o Brasil
(ABMS/ ABEF, 1999). Estes tipos de solos se apresentam quase sempre não-
saturados, e sofrem variações de umidade, de ordem climática principalmente,
que podem causar alterações no seu comportamento mecânico. Exemplo típico
são os solos residuais das encostas do Rio de Janeiro.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Os solos residuais se caracterizam, inicialmente, pela sua


heterogeneidade, que reproduz a heterogeneidade da rocha mãe. Esta
peculiaridade, em certos casos, torna difícil a determinação de suas
características por meio de ensaios de laboratório, pois corpos de prova
moldados de uma única amostra podem apresentar características bem distintas.
A definição de parâmetros a serem utilizados em projetos geotécnicos, que
sejam representativos dos materiais que compõem o maciço, torna-se uma
tarefa difícil. É comum ocorrer a ruptura de taludes em solos residuais ao longo
de feições geológicas herdadas da rocha matriz, embora as análises de
estabilidade, com base em parâmetros de laboratório, e que não incluem as
referidas feições, indiquem que o mesmo seja estável. Em muitos casos, a
ruptura de taludes em solo residual ocorre de forma brusca sem qualquer indício
de movimentação observado (Souza Neto et al., 2001). Em conseqüência disso,
os acidentes mais catastróficos registrados no Brasil ocorreram em encostas de
solos residuais (Vargas, 1999).
A resistência ao cisalhamento dos solos residuais não saturados, pode
ser avaliada com base no critério de ruptura de Mohr-Coulomb, descrito pela
equação (3) (Fredlund e Rahardjo, 1993).

τ=c + (σ-ua) tanφ’, onde c=c’+ (ua-uw) tanφ’b eq.(3)

onde σ é a tensão total, ua a pressão intersticial de ar (poro-pressão de


ar), uw a pressão intersticial de água (poro-pressão de água). A expressão
101

(ua-uw) é chamada de tensão de sucção ou sucção mátrica; c’ é o intercepto de


coesão efetiva, φ’ é o ângulo de atrito interno com relação à variação de (σ – ua)
e φ’b indica como a resistência aumenta com relação à variação da sucção
mátrica, independentemente da tensão efetiva. Para a obtenção do ângulo φ’b,
pode-se fazer uso da curva característica do solo, definida como sendo a relação
entre a sucção e a umidade (ou saturação).
Cabe ressaltar que o intercepto de coesão total ou aparente é definido
por c=c’+ (ua – uw) tanφ’b, e é esta parcela a responsável pelo acréscimo de
resistência apresentado pelos solos não saturados (Figura 53). O efeito da
sucção sobre a resistência pode ser considerado como sendo um aumento da
rigidez do solo, decorrente da ação intergranular, a qual leva as partículas de
solo a se manterem mais fortemente unidas, e se reflete no aumento da coesão
(aparente), assim como, em menor magnitude, do ângulo de atrito (Delgado,
1993).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Lacerda et al. (1985) discutem fatores que podem afetar a resistência dos
solos residuais. São eles:
• Cimentação/Entrosamento dos Grãos;
• Fratura dos grãos;
• Mineralogia (presença de mica, feldspato, quartzo);
• Efeito de escala (tamanho dos grãos – resistência aumenta com
diminuição do corpo de prova);
• Anisotropia;
• Índice de vazios variável, sem relação com a história de tensões;
• Permeabilidade em geral sem relação com a forma da curva
granulométrica ou tamanho dos grãos;
• Descontinuidades (relíquias da rocha mãe) de baixa resistência;
• Variação do grau de saturação;
102

Figura 53 - Aumento da resistência com relação à sucção mátrica (Fonseca,


1991)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

2.2.1.
Parâmetros geotécnicos de solos residuais do Rio de Janeiro

Centenas de resultados de ensaios de laboratório e dezenas de ensaios


de campo têm sidos publicados sobre solos residuais com o objetivo de
caracterizar e compreender melhor seu comportamento. Estes procedimentos
visam determinar a resistência e a deformabilidade de amostras de solos
residuais sob diferentes condições de umidade.
Sandroni (1973) realizou ensaios de cisalhamento direto na condição
saturada-drenada em solos residuais jovens de diversas localidades no
município do Rio de Janeiro, tendo recomendado parâmetros de resistência de
c’=20kPa e φ’=340 para projetos de pouca responsabilidade e anteprojetos.
Miranda (1973) apresentou um tratamento estatístico em ensaios de
caracterização e de cisalhamento direto, previamente realizados em solos
residuais de diversas localidades no estado do Rio de Janeiro, tendo
determinado c’=24kPa e φ’=370 para o saprolito e c’=31KPa e φ’=340 para solo
residual maduro, como valores médios dos parâmetros de resistência.
Maccarini (1980) executou diversos ensaios triaxiais e de cisalhamento
no solo residual gnaissico jovem do campo experimental I da PUC-Rio, Gávea –
RJ. Além destes ensaios, foram feitos estudos em função de parâmetros obtidos
em outros ensaios, tais como: Ensaios Pressiométricos (Brandt 1978),
103

Compressão Anisotrópica e Compressão ko. Para a realização dos diferentes


ensaios foram extraídos blocos de amostras indeformadas de diferentes níveis
de profundidade: 5 níveis em um talude (T01 a T05) e 5 em um poço (P01 a
P05) localizados no campo experimental I da PUC-Rio.
A determinação dos índices físicos, na condição de umidade natural,
foram obtidos por Brito (1980) e aparecem na Tabela 16 em função dos
diferentes níveis de obtenção das amostras.

Tabela 16 - Índices físicos das amostras de solo residual jovem extraídas do campo
experimental I da PUC-Rio (Brito 1980)
Local da amostra σC (kPa) γt (kN/m3) Wn (%) G e0 S0 (%)
50 14,8 15,6 1,14 37,5
100 14,8 16,3 1,15 38,7
T04 2,73
200 15,0 14,5 1,08 36,5
400 14,6 14,2 1,13 34,4
50 16,6 11,8 0,88 37,6
100 15,9 11,8 0,97 36,6
T02 2,79
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

200 16,2 12,3 0,94 36,5


400 16,3 12,9 0,94 38,5
50 14,7 15,6 1,15 37,0
100 15,8 13,0 0,96 37,2
P01 2,74
200 15,1 13,3 1,06 34,5
400 14,7 14,0 1,13 34,1
50 14,9 16,0 1,14 38,6
100 14,4 13,0 1,16 30,9
P02 2,74
200 14,5 12,9 1,13 31,2
400 14,5 15,3 1,18 35,5
50 16,8 19,6 0,96 56,3
100 16,5 16,8 0,93 42,5
P03 2,76
200 16,4 14,3 0,93 42,5
400 16,7 19,7 0,98 55,7
50 18,5 16,4 0,74 60,9
100 17,9 15,0 0,78 53,5
P04 2,77
200 18,7 17,1 0,74 64,5
400 18,9 15,3 0,69 61,6
50 18,2 16,6 0,76 59,9
100 18,9 17,8 0,71 68,5
P05 2,74
200 18,9 16,6 0,69 65,8
400 18,7 20,5 0,77 73,2

Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados sob duas condições:


solo submerso e na condição natural. Para a condição natural, os parâmetros de
resistência drenados indicaram c’ e φ’ variando, entre 30 a 80kPa e 30o a 37o.
Ensaios triaxiais convencionais também foram realizados em amostras
obtidas de dois níveis no talude (T02 e T04) e nos cinco níveis do poço (P01 a
104

P05). Os parâmetros de deformabilidade foram obtidos a partir das curvas


tensão-deformação e de variação volumétrica, tendo sido empregadas as
seguintes equações:

σD
E50 = 50
eq.(4)
ε ax50

εax50 −εvol50
υ50 = eq.(5)
2εax50

 tan ϕ 
ψ = arcsen  eq.(6)
 2 + tan ϕ 

Os resultados dos ensaios triaxiais foram agrupados conforme o local de


obtenção das amostras de solo residual jovem e estão apresentados na Tabela
17.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Aleixo (1998) estudou o comportamento de um solo residual proveniente


de um perfil de alteração de rocha gnaissica do maciço da Tijuca (RJ),
precisamente na localidade do clube Costa Brava, estrada do Joá, bairro de São
Conrado. O programa experimental consistiu na retirada de amostras em blocos
indeformados de solo residual jovem (2,55m de profundidade) e solo residual
maduro (0,80m de profundidade) para a realização de ensaios triaxiais cúbicos,
ensaios de compressão axial e hidrostática e ensaios oedométricos, observando
a orientação das estratificações do material no campo. A análise dos resultados
permitiu a verificação dos efeitos da direção de carregamento dos corpos de
prova (ensaios feitos com a xistosidade ortogonal e paralela à tensão
cisalhante), do nível de tensões de confinamento, do grau de intemperismo, do
arranjo estrutural dos grãos e dos efeitos do grau de saturação. Os resultados
dos ensaios de laboratório para as amostras de solo residual jovem, na condição
de umidade natural foram selecionados e aparecem nas Tabelas 18 e 19.
105

Tabela 17 - Parâmetros de resistência e de deformabilidade (Maccarini, 1980)


Local σC c’ φ’ σd50 εax50 εvol50 E50 ϕ Ψ
ν50
da Amostra (kPa) (kPa) (0) (kPa) (%) (%) (MPa) (0) (0)
50 73 0,70 0,48 10,43 0,08 0 0
100 158 2,10 1,60 7,52 0,53 0 0
T04 35 28,03
200 281 4,00 3,68 7,03 0,64 0 0
400 420 5,80 5,44 7,24 1,04 0 0
50 152 0,28 0,24 54,29 0,01 11 5
100 219 0,49 0,48 44,69 0,00 0 0
T02 51 33,37
200 354 0,84 0,64 42,14 0,08 0 0
400 589 3,57 3,36 16,50 0,37 0 0
50 146 0,49 0,32 29,80 0,04 20 9
100 192 0,35 0,32 54,86 0,01 0 0
P01 69 26,74
200 308 1,82 1,60 16,92 0,20 0 0
400 427 4,98 4,00 8,57 2,44 0 0
50 162 0,30 0,24 54,00 0,01 8 4
100 192 0,68 0,40 28,24 0,10 0 0
P02 55 31,33
200 313 2,10 1,44 14,90 0,69 0 0
400 535 4,30 3,52 12,44 1,68 0 0
50 112 0,44 0,30 25,45 0,03 11 5
100 190 0,45 0,32 42,22 0,03 0 0
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

P03 34 32,68
200 308 1,20 0,88 25,67 0,19 0 0
400 583 7,00 5,28 8,33 6,02 0 0
50 200 0,68 0,48 29,41 0,07 29 14
100 223 0,75 0,56 29,73 0,07 8 4
P04 69 32,68
200 358 1,05 0,80 34,10 0,13 0 0
400 597 0,90 0,72 66,33 0,08 0 0
50 127 0,59 0,32 21,53 0,08 15 7
100 262 0,60 0,48 43,67 0,04 0 0
P05 60 32,01
200 345 0,75 0,56 46,00 0,07 0 0
400 545 1,95 1,52 27,95 0,42 0 0

Tabela 18 - Resultados dos ensaios triaxiais cúbicos (carregamento axial) no solo residual jovem
variando a orientação das estratificações das amostras e tensão confinante (Aleixo 1998)
Índices Físicos das Amostras Indeformadas de Solo Residual Parâmetros de
Jovem na condição de umidade natural Deformabilidade
Ensaio Wn (%) γt (kN/m3) S0 (%) e0 E50 (MPa) ν50
JNO-30 17,1 17,8 61,2 0,76 16,3 0,15
JNP-30 16,9 17,8 60,7 0,76 14,3
JNO-120 16,0 18,0 60,4 0,72 16,3 0,14
JNP-120 15,5 17,7 57,0 0,74 15,2
106

Tabela 19 - Resultados dos ensaios triaxiais cúbicos em solo residual jovem (Aleixo, 1998)
Parâmetros de Resistência (Ensaios Triaxiais Cúbicos)
Ensaio c’(kPa) φ’ (0)
JNO 64,4 19,6
JNP 60,7 19,8

Estudos de aspectos geológicos e mecânicos de solos residuais do


Estado do Rio de Janeiro podem ser vistos em (Brandt, 1978; Sertã, 1986;
Marinho, 1986; Tozatto, 2000). Lacerda e Almeida (1995) apresentam diversas
propriedades relacionadas aos solos residuais.
Tentativas de correlacionar parâmetros mecânicos (compressibilidade e
resistência) com propriedades índices (àquelas relacionadas com as
características naturais do solo: textura, plasticidade e teor de matéria orgânica),
de alguns solos residuais brasileiros, foram realizadas por Souza Neto et al.
(2001). As correlações obtidas não apresentaram resultados satisfatórios.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

A Tabela 20, apresentada a seguir, resume alguns dos parâmetros


obtidos em ensaios triaxiais e de cisalhamento, não mencionados anteriormente,
em amostras de solos residuais no Estado do Rio de Janeiro. Adicionalmente,
parâmetros relacionados a outros ensaios podem ser vistos em Tozatto (2000).
107

Tabela 20 - Parâmetros de resistência de solos residuais obtidos em ensaios de cisalhamento


direto e triaxiais
wnat γ γg c’ φ’
Referência Solo
(%) (kN/m3) (g/cm3) (kPa) (o) Ensaio
32 18,5 2,67 20 31
Residual 30 19,0 2,73 23 25
Chammas Cisalhamento
Migmatítico 33 18,7 2,67 23 28
(1976) Direto
da RJ-20 30 18,0 2,65 30 30
30 18,0 2,65 23 26,5
Encosta do 14,9* 2,67 19,6 35
Andrade Cisalhamento
Cactáreo 13,9* 2,60 25,7 44
(1990) Direto
(RJ) 23,5* 2,72 34,6 40
10,9* 17,5* 2,76 36 19,9
de Residual 8,6* 17,3* 2,78 31 19,8
Cisalhamento
Campos Micáceo da 6,9* 16,6* 2,73 40 29,3
Direto
(1974) RJ-18 16,1* 18,2* 2,68 39 19,1
10,9* 17,7* 2,76 52 22,7
17 34
Sandroni Cisalhamento
RJ a a
(1973) Direto
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

35 43
8,14 14,8
9,70 15,2
2,77 0 33,2
9,38 15,3
9,46 15,1 Cisalhamento
11,76 15,3 Direto
13,08 16,2
Morro de 2,77 6,59 29,48
12,27 15,4
Souza Santo
10,92 15,5
(1995) Rodrigues
(RJ) 14,04 16,1
14,43 16,6
4,98 30,77
12,84 16,7
Ensaios
7,46 15,8
Triaxiais
6,72 15,6
6,13 16,8 7,81 32,57
5,29 15,8
OBS.: (*) Valores médios

2.2.2.
Deformabilidade de campo x laboratório em solos residuais

O conhecimento das características de resistência de solos residuais


envolve uma série de dificuldades relacionadas à sua gênese: heterogeneidade,
anisotropia e existência de estruturas reliquiares. Todas essas dificuldades,
geralmente, refletem às características da rocha que origina o solo residual
(Oliveira, 2000).
108

Em relação ao módulo de deformabilidade do solo, sua determinação a


partir de ensaios de laboratório, pode ser influenciada por uma série de fatores
tais como: amolgamento da amostra, tensão efetiva inicial, nível de tensões
cisalhantes e trajetória de tensões.
Sandroni (1985) discute alguns resultados de ensaios de placa,
pressiométricos e oedométricos realizados em pesquisas desenvolvidas no
campo experimental I da PUC-Rio. Na interpretação dos resultados, o alívio de
tensão, quando da retirada das amostras, é o principal responsável pelas
diferenças entre parâmetros de deformabilidade de campo e de laboratório.
Dentre algumas conclusões, o autor considera que ensaios de laboratório
mostram valores de módulo de deformabilidade menores do que os obtidos no
campo, através do pressiômetro e ensaios de placa feitos na superfície. Pode-se
observar valores de módulo de deformabilidade de campo da ordem de 2 a 3
vezes maiores que os obtidos em laboratório (Sandroni, 1991).
Em argilas levemente pré-adensadas, Milovic (1971), observou através
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

de ensaios da laboratório (triaxiais CIU) e de campo (ensaios de placa), módulos


de deformabilidade maiores nos ensaios de campo.
Sieira (1998) compara diversos valores de módulo de deformabilidade
obtidos a partir de ensaios Dilatométricos e Pressiométricos de campo com os
valores obtidos de ensaios triaxiais (CID) e verifica que os ensaios de campo
forneceram valores consideravelmente superiores para o parâmetro Esolo (cerca
de 8 vezes). Segundo Fontes (1997), esta diferença pode ser atribuída à
anisotropia do solo e às diferenças nas trajetórias de tensões impostas pelos
ensaios.
A trajetória de tensões é de grande relevância nos valores de Esolo. A
dependência dos valores de módulo de deformabilidade em relação às trajetórias
de tensões, podem ser observadas através de ensaios triaxiais cúbicos (Aleixo
1998; Carpio, 1990; Sayão et al., 1999) onde é possível controlar,
independentemente, a magnitude das três tensões principais.

2.2.3.
Coeficiente do empuxo no repouso (ko) em solos residuais

Um parâmetro em particular que merece ser revisto, já que possui


importante influência no comportamento de obras de contenção é o coeficiente
de empuxo no repouso ko, definido como a relação entre as tensões efetivas
horizontal e vertical no solo, em condição de deformação lateral nula.
109

Se um solo é formado pela sedimentação livre dos grãos, ao se


acrescentar uma nova camada de material, a tensão vertical num plano
horizontal aumenta de valor igual ao carregamento. Devido ao atrito entre as
partículas, o acréscimo de tensão num plano vertical não é tão grande. O valor
de ko situa-se entre 0,4 e 0,5 para areias e 0,5 e 0,8 para as argilas, podendo,
em certos casos (quando um solo é aliviado pela remoção de uma camada
superficial) ser maior que 1,0.
Na prática de projeto, é usual estimar ko por correlações empíricas, como
a de Jaky (1944) para areias e argila normalmente adensadas:
ko=1- sen φ’ eq.(7)
ou como a de Mayne e Kulhawy (1982) para solos pré-adensados, que
apresenta ko como função do ângulo de atrito e da razão de sobreadensamento
do solo (OCR):
ko=(1- sen φ’) OCR sen φ’ eq.(8)
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Deve-se ressaltar que a avaliação de ko por correlações empíricas


servem mais como orientação geral.
O coeficiente de empuxo no repouso é uma grandeza de determinação
prática difícil seja em laboratório, seja no campo. Seu valor depende do
conhecimento completo do história geológica dos depósitos. Por vista deste fato,
é impossível a sua determinação em laboratório para os solos residuais ou
evoluídos pedologicamente (Pinto e Nader, 1991), visto que não há nenhuma
possibilidade de se estimar as tensões horizontais que ocorrem no subsolo, por
meio de ensaios de laboratório pois, certamente, as tensões dependem do
estado de tensões da rocha que deu origem ao solo e do processo evolutivo.
Pode-se apenas especular sobre os seus valores.
Para solos arenosos e argilosos, a determinação de ko pode ser obtida
diretamente, no laboratório, através de oedômetros ou células triaxiais ou por
meio de ensaios de campo com uso de fraturamento hidráulico (para ensaios em
solos finos semelhante a ensaios conduzidos em rochas), pressiômetros e
dilatômetros. Maiores detalhes podem ser vistos em Daylac (1994).
3.
O Programa computacional FLAC

3.1.
Introdução

O programa FLAC (“Fast Lagrangian Analysis of Continua”) é um


programa computacional explícito, bidimensional, codificado em diferenças
finitas. Apesar de, originalmente, ter sido desenvolvido para resolver problemas
em engenharia geotécnica e de minas, o programa oferece uma série de
ferramentas que permitem ao usuário resolver problemas complexos nas
diversas áreas da engenharia. É um programa capaz de simular o
comportamento de estruturas elaboradas com diversos tipos de materiais, tais
como: solo, rocha, aço, entre outros; que alcançam o regime plástico quando o
limite de escoamento do material é alcançado.
No FLAC, os materiais são representados por elementos ou zonas de tal
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

forma que a malha gerada pode se adequar perfeitamente aos interesses da


modelagem. Cada elemento obedece a relações pré-definidas de tensão-
deformação lineares ou não-lineares em resposta às forças e condições limites
impostas ao modelo. O material pode escoar e a malha pode deformar-se (a
grandes deformações) e mover-se conforme o material que está sendo
representado. O esquema de cálculo e a discretização dos elementos permitem
modelar o colapso plástico. Como nenhuma matriz é gerada, grandes cálculos
bidimensionais podem ser feitos sem requerer memória excessiva.
Adicionalmente, o programa apresenta uma série de aspectos positivos,
tais como, a possibilidade de:
• Simular planos de fraqueza, através da introdução de elementos de
interface na malha;
• Elaboração de geometrias sob estado plano de deformação ou de
tensão e axissimétrico;
• Consideração da presença do nível d’água assim como o efeito da
consolidação sobre o modelo elaborado;
• Introdução de elementos estruturais capazes de simular elementos de
suporte (revestimentos em túneis, tirantes, etc.);
• Realização de análises dinâmicas;
• Modelagens visco-elásticas (“creep” ou fluência);
• Consideração do efeito da temperatura na modelagem;
111

• Elaboração de uma entrada de dados estruturada, em que cada etapa


de um processo de execução pode ser modelada independentemente
(por exemplo: aplicação da gravidade, aplicação de carregamentos
externos, etapas de escavação, instalação de suportes/estruturas de
contenção, etc.);

3.2.
A formulação do FLAC

Em geral, todo tipo de material pode se comportar como um meio


contínuo e exibir uma resposta ou se comportar como um meio descontínuo
(início e propagação de fraturas em rochas, por exemplo) e mostrar uma
resposta descontínua (Jiménez, 1999).
No primeiro caso, respeitada a continuidade dos deslocamentos, as
relações entre tensões e deformações podem ser formuladas por expressões
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

matemáticas contínuas. Os métodos mais comuns para modelar meios


contínuos são:
• Método dos elementos de contorno (MEC);
• Método dos elementos finitos (MEF);
• Método das diferenças finitas (MDF);
No caso de uma resposta descontínua, os métodos utilizados são:
• Método dos Elementos Discretos;
• Análise limite;
O programa computacional FLAC modela meios contínuos através de
formulações derivadas das técnicas de diferenças finitas (MDF). A formulação é
explicita no tempo, usando da análise Lagrangiana para a avaliação de grandes
deformações (se comparada com o tamanho típico dos elementos da malha).
Segundo Jiménez (1999), os métodos explícitos apresentam algumas
vantagens sobre os implícitos: i) não há necessidade de constituir matrizes para
o cálculo de deslocamentos, pois as deformações de grande escala podem ser
determinadas por ciclo de cálculo com menos esforço computacional; ii) não são
necessários ciclos extras de iterações para a aproximação de problemas não
lineares; iii) problemas complexos podem ser modelados utilizando-se pouca
memória do computador.
Na Análise Lagrangiana, do contrário da Análise Euleriana, não há
necessidade de formação da matriz de rigidez global, processo típico dos
112

métodos implícitos (ex.: MEF), sendo necessário atualizar as coordenadas a


cada a passo (iteração). Os incrementos de deslocamentos são somados às
coordenadas da iteração anterior, de forma que os elementos da malha se
movimentem e deformem como o material o qual representam. Maiores detalhes
podem ser vistos em Itasca (1996) e Springer (2001).
O método das diferenças finitas é talvez a técnica numérica mais antiga
usada para a solução de conjuntos de equações diferenciais, determinando
valores iniciais ou estimando valores de contorno (Richardson, 1954). No método
das diferenças finitas, toda derivada no conjunto de equações governantes é
substituída diretamente por uma expressão algébrica escrita em termos das
variáveis de campo (tensão ou deslocamento) em pontos discretos no espaço.
Estas variáveis são indefinidas dentro dos elementos (Richardson, 1954 e
Springer, 2001).
Para a obtenção de uma solução estática para um problema, o FLAC
utiliza equações dinâmicas de movimento que são incluídas na formulação.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Trata-se de um método iterativo simultâneo, explícito no tempo, de integração


das equações do movimento conhecido como técnica da Relaxação Dinâmica
(Silva et al., 2001).
Em virtude da utilização das leis da dinâmica é preciso que o usuário
acompanhe o processo iterativo, checando a estabilidade através do equilíbrio
das forças não balanceadas. A força não balanceada indica quando o estado de
equilíbrio mecânico é alcançado para uma determinada análise estática. O
modelo está em equilíbrio exato se o vetor de força nodal em cada ponto da
malha é nulo. Em uma análise numérica, este vetor, também chamado de força
não balanceada, nunca se iguala zero. O modelo é, então, considerado em
equilíbrio quando a máxima força não balanceada for pequena, quando
comparada com o total de forças internas aplicadas no problema. A
representação das forças internas atuantes em cada elemento da malha
representativa do modelo pode ser obtida multiplicando-se as tensões atuantes
em cada região pela área do elemento. Recomenda-se como condição de
equilíbrio que a razão entre a força não balanceada no equilíbrio e a máxima
força não balanceada inicial seja da ordem de 0,01%. Por exemplo, se a máxima
força não balanceada inicial for de 1MN e, posteriormente, cair para 100N
aproximadamente, pode se considerar que o modelo atingiu uma condição de
equilíbrio. A Figura 54 mostra graficamente um exemplo em que o equilíbrio é
atingido após 3715 iterações, quando o valor da máxima força não balanceada
113

torna-se constante e próximo de zero. Quando esta condição não é atingida,


ocorre a instabilidade numérica (ruptura ou escoamento plástico), como pode ser
observado através do gráfico mostrado na Figura 55.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 54 - Equilíbrio da máxima força não balanceada (Springer, 2001)

Figura 55 - Situação de não convergência da máxima força não balanceada


114

Assim, sendo a solução de problemas numéricos utilizados pelo FLAC,


sistemas não lineraes que envolvem o tempo, a interpretação dos resultados
pode ser mais difícil que um programa convencional de elementos finitos, que
produz uma “solução” no final de cada fase de cálculo. No entanto, a força não
balanceada citada anteriormente pode ser um bom indicador para avaliar o
estado de equilíbrio de um modelo numérico e, deste modo, informar se o
sistema se encontra estável, instável ou em escoamento plástico.
A sucessão de cálculo embutida no FLAC é ilustrada na figura 56.
Detalhes sobre o processo de cálculo utilizado pelo FLAC podem ser vistos nos
trabalhos de Lorig (1991), Itasca (1996) e Springer (2001).
Convém ressaltar que a convenção de sinais adotada pelo programa
FLAC atribui o sinal negativo às tensões de compressão. Adicionalmente,
grandezas vetoriais de deslocamentos, forças, velocidades, fluxos e taxas estão
associadas a cada nó da malha, enquanto que grandezas escalares de tensões,
pressões, propriedades dos materiais obtidos correspondem a valores nos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

centros dos elementos.

Equação de equilíbrio
(Equação de movimento)

Novas Novas
velocidades e tensões e
deslocamentos forças

Relação tensão/deformação
(Equação constitutiva)
Figura 56 - Ciclo de cálculo do método explícito utilizado pelo FLAC (Springer, 2001)

3.3.
Modelos constitutivos

O programa FLAC oferece nove tipos de modelos constitutivos, descritos


na Tabela 21. Como pode ser visto nesta tabela, o comportamento mecânico dos
solos pode ser modelado por diversos modelos constitutivos.
O modelo Elástico Linear para materiais elásticos isotrópicos e lineares,
definido pela Lei de Hooke é considerado a mais simples relação tensão-
deformação disponível. O modelo é representado pelo Módulo de
Deformabilidade do solo (Esolo) e pelo seu coeficiente de Poisson (νsolo).
115

Tabela 21 - Modelos constitutivos utilizados pelo FLAC


Modelo Material Representativo Exemplo de Aplicação
Nulo vazio Furos, escavações
Homogêneo, isotrópico Materias manufaturados (aço),
Elástico contínuo; comportamento submetidos a carregamentos
tensão-deformação linear inferiores ao limite de resistência
Materias laminados (madeira ou
Elástico
Materiais laminados esbeltos rocha tipo xisto), submetidos a
Transversalmente
exibindo anisotropia elástica carregamentos inferiores ao
Isotrópico
limite de resistência
Ducker-Prager Aplicação limitada; argila mole Comparações com programas
(Plasticidade) com valor reduzido de coesão implícitos de elementos finitos

Em problemas gerais em
Mohr-Coulomb Materiais granulares
mecânica dos solos e das rochas
cimentados ou não, solos,
(Plasticidade) (estabilidade de taludes,
rocha, concreto
escavações subterrâneas, etc.)
Materiais laminados esbeltos
Escavações em maciços
Modelo de Juntas exibindo anisotropia de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

estratificados
resistência
Materiais granulares que
Modelo com
exibem comportamento não
Endurecimento/ Estudos de Pós-ruptura
linear de endurecimento/
Amolecimento
amolecimento
Materiais granulares com baixa
Modelo de cimentação onde pressões
Barragens de enrocamento
Escoamento Duplo causam decréscimo de volume
do material
Materiais cuja deformabilidade
Modificado de e resistência são funções da Problemas em Geotecnia
Cam-Clay variação de volume (índice de envolvendo solos argilosos
vazios)

O modelo elasto-plástico de Mohr-Coulomb é definido por cinco


parâmetros relacionados ao solo. São eles: módulo de deformabilidade do solo
(Esolo), coeficiente de Poisson do solo (ν), para o trecho elástico, coesão do solo
(c) e ângulo de atrito do solo (φ), para a plasticidade do solo e o ângulo de
dilatância (ψ). É um modelo bastante utilizado como uma aproximação em
primeira ordem do problema estudado. Para cada camada de solo, estima-se
uma rigidez média constante.
Embora seja mais representativo do modelo físico, o uso de complexos
modelos constitutivos não significa um aperfeiçoamento da qualidade dos
deslocamentos calculados (Unterreiner et al., 1995). De fato, a acurácia dos
116

cálculos que pode ser obtida com o aumento do número de parâmetros


constitutivos é perdida pelas incertezas na determinação destes parâmetros que,
na maioria das vezes, são estimados de ensaios de campo.

3.4.
Elementos estruturais

Um importante aspecto em análises e projetos em geomecânica é o uso


de suportes estruturais para estabilização de massas de solo ou rocha. Existem,
no programa, quatro tipos de elementos estruturais que podem ser utilizados:
• “Beam Elements”: Usados para representar barras ou vigas. Estes
elementos são bidimensionais com 3 graus de liberdade (x - translação, y -
translação, rotação) para cada nó (Figura 57), podendo ser agrupados um a
um e/ou ligados à malha. Estes elementos são recomendados na
representação de materiais resistentes à flexão (por exemplo, parede de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

uma estrutura de contenção);

Figura 57 - Tipo de solicitação do elemento de viga (Itasca, 1996)

• “Cable Elements”: Usados para representar cabos ou elementos


axiais, unidimensionais, que não resistem à flexão. Estes elementos podem
ser ancorados em uma região específica na malha (ponto-fixo) e ter o
deslocamento de uma de suas extremidades compatibilizado com o
deslocamento da malha. Neste caso, a deformabilidade do modelo é
117

governada pela malha e não há transferência de esforços para o elemento


estrutural. Alternativamente, estes podem funcionar independentemente da
malha; nestes casos, os esforços são desenvolvidos ao longo do seu
comprimento à medida que a malha se deforma. Se desejável, os elementos
de cabo podem ser, inicialmente, pré-tensionados. Este tipo de elemento é
recomendado para modelar inúmeros tipos de suportes, onde a resistência a
esforços axiais são importantes, por exemplo, em tirantes, grampos e
chumbadores.
• “Pile Elements”. São elementos bidimensionais capazes de transferir
esforços normais e cisalhantes, além de momentos fletores, para a malha.
Podem ser usados para representar o comportamento de estruturas
enterradas, como por exemplo, estacas;
• “Support Elements”. Utilizados para simular, através de molas,
estruturas que apresentam uma relação de carga-deslocamento linear ou
não;
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

3.5.
Geração da malha

Assim como todos os programas computacionais baseados na


discretização do meio contínuo, o FLAC organiza as zonas ou elementos em
linhas e colunas, como um "quebra-cabeça", definindo uma malha . Como em
qualquer método numérico, a acurácia dos resultados depende do tipo de
discretização da malha representativa do sistema físico. Em geral, malhas mais
discretizadas (mais elementos por unidade de área) levam a resultados mais
apurados.
O FLAC incorpora um processo automático de geração da malha, que
permite uma variação gradual no tamanho dos elementos e conseqüente
otimização do tempo de execução. Nas regiões onde ocorrem as maiores
variações de tensões a malha deve apresentar uma discretização mais intensa.
Ressalta-se ainda que a geometria do elemento do elemento também afeta a
qualidade dos resultados. Uma relação entre a altura e o comprimento do
elemento de 5:1 ou mais é considerada inadequada pois pode levar a valores
incorretos nas análises.
118

3.6.
Tensões “in-situ”

Existem diversos exemplos em que as tensões de campo e gravidade


são aplicadas no modelo (Itasca, 1996). É importante observar que nestas
simulações pelo menos dois pontos da malha devem ser fixados no espaço. Se
for desejado apenas tensões “in situ” variando em uma determinada
profundidade, entra-se com o comando “initial” (ver Tabela 22 – Bloco 08).

3.7.
Tempo de execução

O tempo para a solução de uma análise com o FLAC é proporcional a

N e3 , onde Ne é o número de elementos. Esta fórmula atende bem a problemas


elásticos, resolvidas às equações de equilíbrio. O tempo irá variar de certa
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

forma, mas não substancialmente, para problemas plásticos, podendo ser maior
se houver continuidade da ocorrência do escoamento plástico.

3.8.
Comandos/entrada de dados

A entrada de dados no FLAC é feita através de um arquivo tipo “.dat”.


Para uma melhor compreensão dos comandos utilizados pelo programa,
apresenta-se na Tabela 22 um exemplo de arquivo de dados, para o caso de
escavação com reforço de grampos. Os comandos estão organizados
didaticamente em forma de blocos, os quais serão comentados a seguir.
O bloco 01 utiliza o comando “title” que inicia a entrada de dados. Este
comando indica o título do estudo em questão (bloco 02), “SOLO GRAMPEADO
– 01”.
O bloco 03 define o formato inicial da malha. Neste caso, a malha tem
195 elementos na direção x e 40 elementos na direção y (“grid 195,40”).
O bloco 04, define o modelo constitutivo utilizado (“model mohr”).
A expansão da malha, ou seja, mudanças na sua discretização, são feitas
no bloco 05. Estas mudanças têm como objetivo uma redução no tempo de
execução do programa, assim como, uma melhor acurácia nos resultados.
119

O bloco 06 define as propriedades do material da malha gerada, neste


caso o solo. Como o modelo constitutivo utilizado foi o de Mohr-Coulomb, há
necessidade de se entrar com as seguintes propriedades solo:
• “dens” ou “density” – massa específica do solo (ρ), em kg/m3, que é a
razão entre o seu peso específico e a gravidade;
• “friction” ou “fric” – ângulo de atrito interno do solo (φ), em graus;
• “cohesion” ou “coh” – coesão (c), em N/m2;
• “dilation” ou “dil” – ângulo de dilatância (ψ), em graus;
• “bulk mod” ou “bulk” – módulo volumétrico do solo (Ksolo), em N/m2;
• “shear mod” ou “shear” – módulo cisalhante do solo (Gsolo), em N/m2;
• Os valores do módulo volumétrico (Ksolo) e do módulo cisalhante
(Gsolo) são funções do módulo de deformabilidade do solo (Esolo) e do
coeficiente de Poisson do solo (νsolo). São calculados através das equações
(09) e (10), respectivamente.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Esolo
K solo =
3 ⋅ (1 − 2 ν solo )
eq.(9)

E solo
G solo =
2 ⋅ (1 + ν solo )
eq.(10)

• “tension” – tensão limite do material, conhecido como “cut-off” de


tração. Este limite corresponde à resistência à tração do material, surgida na
extrapolação da envoltória de Mohr-Coulomb na região de tensões de tração.
Neste arquivo o seu valor é nulo;
O bloco 07 estipula as condições de contorno iniciais da malha.
O bloco 08 define o estado inicial de tensões. São fornecidas as tensões
iniciais verticais (syy) e horizontais (sxx e szz) na malha. Arbitrando-se um valor
de coeficiente de empuxo no repouso (ko=0,60) são estabelecidos os valores
máximos de tensão vertical (syy) e horizontal (sxx=szz) da malha. Como a
superfície do solo é livre, sem tensão aplicada, as tensões variam de zero até o
valor máximo de tensão calculado (base da malha). Segundo Itasca (1996), este
é o melhor procedimento de se definir os valores de tensões iniciais. A unidade
de tensão utilizada é N/m2 e os valores máximos de syy, sxx e szz são obtidos
pelas seguintes equações:
syy=ρ . g . H eq.(11)
120

Tabela 22 - Exemplo de arquivo de entrada de dados (adaptado de Springer, 2001)


Bloco Seqüência de Comandos
01 title
02 SOLO GRAMPEADO - 01
03 grid 195,40
04 model mohr
gen 0 0 0 20 97.5 20 97.5 0
gen 0 0 0 4 40 4 40 0 ratio 1 1 i=1,41 j=1,3
gen 0 4 0 8 40 8 40 4 ratio 1 1 i=1,41 j=3,7
gen 0 8 0 25 40 25 40 8 ratio 1 1 i=1,41 j=7,41
gen 40 0 40 4 105 4 105 0 ratio 1 1 i=41,171 j=1,3
gen 40 4 40 8 105 8 105 4 ratio 1 1 i=41,171 j=3,7
gen 40 8 40 25 105 25 105 8 ratio 1 1 i=41,171 j=7,41
05
gen 105 0 105 4 125 4 125 0 ratio 1 1 i=171,191 j=1,3
gen 105 0 105 4 125 4 125 0 ratio 1 1 i=171,191 j=1,3
gen 105 4 105 8 125 8 125 4 ratio 1 1 i=171,191 j=3,7
gen 105 8 105 25 125 25 125 8 ratio 1 1 i=171,191 j=7,41
gen 125 0 125 4 135 4 135 0 ratio 1 1 i=191,196 j=1,3
gen 125 4 125 8 135 8 135 4 ratio 1 1 i=191,196 j=3,7
gen 125 8 125 25 135 25 135 8 ratio 1 1 i=191,196 j=7,41
06 prop dens 1529.05 fric 28 coh 35000 dil 0 bulk 1.67e7 shear 2.82e6
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

fix x i 1
07 fix x i 196
fix x y j 1
Initial syy -375000 var 0 375000
08 Initial sxx -225000 var 0 225000
initial szz -225000 var 0 225000
09 set large
10 set grav 9.81
11 step 1000
12 hist n 100
13 hist unbal
ini xdisp =0
14
ini ydisp =0
ini xvel 0 i 1 196 j 1 41
15
ini yvel 0 i 1 196 j 1 41
fix x i 1
16 fix x y j 1
fix x i 196
17 mod null i=1,80 j=39,40
18 title
19 ESCAVACAO - ESTAGIO I
20 struct prop 1 e=24e9 i=8.333e-5 a=0.10
struct beam beg grid 81 41 end grid 81 40 seg 1 prop 1
21
struct beam beg grid 81 40 end grid 81 39 seg 1 prop 1
struct prop 2 a 8.0e-4 e 1.4e11 yield=2.7e5 kbond=3.3e9 sbond=3.1e4
22
struct prop 2 sfriction 0 per 0.101
23 struct cable begin 60.0,24.5 end 65.91,23.46 seg 12 prop 2
24 solver force=10
25 save SG01f01.sav
121

O comando “set large” (bloco 09) é utilizado para se ter uma melhor
acurácia nos resultados finais quando o colapso da estrutura ocorrer (grandes
deformações).
O bloco 10 insere o valor da gravidade (g=9,81m/s2).
No bloco 11, o comando “step” é usado para limitar, em uma simulação
qualquer, o número de ciclos (iterações) que são realizados buscando-se a
convergência para um estado de equilíbrio, ou seja, para definir um número
específico de etapas de cálculo para se buscar o estado de equilíbrio. Embora
este estado de equilíbrio absoluto nunca seja alcançado, o modelo será
considerado em equilíbrio o vetor de força nodal em cada ponto da malha é
próximo de zero ou quando a máxima força não balanceada for pequena quando
comparada com o total de forças aplicadas no problema (Razão=0,01%). Neste
exemplo o comando “step” foi utilizado para simular o processo de consolidação
do modelo sob efeito de esforços gravitacionais. O número de iterações foi
limitado em 1000, neste caso.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

O comando do bloco 12, “hist n 100”, serve para limitar o número de


parâmetros (deslocamentos, tensões, força não balanceada, etc.) a serem
monitorados através de saída gráfica visualizada pelo usuário.
O comando utilizado no bloco 19 (“hist unbal”) objetiva fazer o controle do
vetor de força nodal máxima, também chamado de máxima força não
balanceada, permitindo a visualização gráfica desta força em função do número
de iterações (Figura 54 e 55). Esta força surge em conseqüência de alguma
alteração na condição de equilíbrio da malha (escavação, mudanças nas
condições de contorno, colocação de grampos, etc.) e seu valor indica a
convergência do programa.
Os blocos 14 e 15 zeram os vetores de deslocamento e de velocidade
após a consolidação da malha, feita quando se aplicou a gravidade.
Logo em seguida, no bloco 16, são estipuladas novas condições de
contorno para a malha.
Na linha posterior, dá-se início ao processo de escavação. O programa
realiza este processo pela simples eliminação de elementos da malha através do
comando “mod null”.
Analogamente aos blocos 01 e 02, os blocos 18 e 19 identificam e
nomeiam o início da escavação.
Os comandos utilizados no bloco 20 identificam as propriedades dos
elementos de barra ou viga (“struct prop 1”) que podem simular uma parede de
122

contenção em concreto armado ou projetado, por exemplo. As propriedades


referentes a estes elementos são: módulo de elasticidade do concreto (Eparede),
em N/m2, momento de inércia da viga da parede (MIparede), em m4, e a área
transversal da viga da parede (aparede), em m2. A área e o momento de inércia da
viga são calculados da seguinte forma:

bparede ⋅ (hparede )
3

MI parede = eq.(12)
12
a parede = b parede ⋅ h parede eq.(13)

Neste exemplo, a viga possui espessura (hparede) igual a 0,10m e base


(bparede) igual a 1,00m, considerando os cálculos por metro linear.
A colocação do elemento de viga na malha é feita, neste caso, através de
2 segmentos de reta cujas extremidades são definidas por nós específicos da
malha, conforme os comandos definidos no bloco 21.
Em seguida, no bloco 22, definem-se as propriedades do elemento de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

cabo, no caso o grampo, através do comando “struct prop 2”. O número 2 refere-
se às propriedades do segundo tipo de elemento estrutural utilizado na
modelagem. As propriedades necessárias para se introduzir o efeito do grampo
no modelo, são:
• Área da seção transversal da barra (a) em m2. Seu valor é calculado
pela equação (14) onde φaço é o diâmetro da barra;

π (φaço ) 2
a= eq.(14)
4
• Módulo de elasticidade do aço (e) em N/m2. No caso do aço CA50,
este valor equivale a 2,05x1011 N/m2;
• Força de escoamento do aço (yield) em N. Seu valor é calculado pela
equação (15) onde σaço é a tensão de escoamento do aço;

yield = σ aço .a eq.(15)

O mecanismo de interação solo-grampo, proposto por Itasca (1996) é


ilustrado pela Figura 58. Os grampos (elementos “cable”) podem interagir com a
malha por ligações cisalhantes por molas. Propriedades de rigidez elástica,
coesão e tensões dependem das propriedades friccionais descritas a seguir. Se
estes parâmetros são nulos, estes elementos não serão conectados a malha. Se
o cabo é locado pelo comando “grid”, então eles serão rigidamente conectados a
pontos na malha de tal forma que as molas não terão efeito algum.
123
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 58 - Representação conceitual do modelo de reforço (Itasca, 1996)

A interação solo-grampo então é definida por três parâmetros:


• Rigidez no contato solo-grampo (kbond) em N/m/m. Representa o
comportamento cisalhante da injeção em função dos deslocamentos relativos
entre o solo e o grampo. É definido pela equação (16) onde Ginjeção é o módulo
cisalhante da calda de cimento da calda de injeção, φfuro é o diâmetro do furo e
φaço é o diâmetro da barra de aço (grampo);

kbond =
(2 π Ginjeção ) eq.(16)
   (φ furo − φ aço )   
10 ln  1 +   
 


 ( φ aço )  
 

• Resistência no contato solo-grampo (sbond) em N/m. Representa uma


“coesão” relacionada ao contato solo-grampo. É definida pela equação (17) onde
qs representa a resistência unitária ao arrancamento do grampo;

sbond = π φ furo q s eq.(17)

• Parâmetro de atrito no contato solo-grampo (sfriction) em graus.


Considera-se que sfriction tenha valor nulo, uma vez que resultados
experimentais mostraram que a resistência no contato solo-grampo não é
sensível a variação da tensão confinante (Springer, 2001);
124

Ainda no bloco 22, tem-se o perímetro da barra (per) em metros. Seu


valor é calculado pela equação (18).
(
per = π φ furo ) eq.(18)

O grampo (barra de aço + calda de cimento da injeção) é modelado como


material homogêneo, isotrópico que apresenta comportamento linear-elástico.
É importante ressaltar que os valores de “e”, “yield”, “kbond”, e “sbond”
devem ser divididos pelo espaçamento horizontal entre grampos (Sh). Este
procedimento permite simular um “efeito tridimensional” (comportamento real do
maciço) nas análises bidimensionais que estão sendo realizadas. Análises em
3D seriam, certamente, mais representativas do comportamento real do maciço,
porém mais dispendiosas do ponto de vista computacional, se comparadas com
as análises realizadas sob deformação plana (Itasca, 1996).
Definidas às propriedades mecânicas do grampo, o bloco 23 indica o
posicionamento dos grampos na malha (“begin x,j” ou “i,,j” “end x,j ou i,j”), o
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

número de segmentos que o elemento 1D é subdividido (“seg”) e propriedades


associadas (“prop no”) . Quanto ao seu comportamento físico, os grampos
podem ser considerados como fixos (GR-Fixo), quando uma extremidade é
ancorada a um ponto da malha, ou como livres (GR-Livre). O grampo, em que
uma de suas extremidades é relacionada a um nó da malha (GR-Fixo), tem seu
deslocamento compatibilizado com o deslocamento deste nó. Neste caso, o
comportamento do modelo é governado pelo comportamento da malha (solo) e
o segmento do grampo junto à extremidade fixa não é mobilizado. Já no caso do
GR-livre, a mobilização dos esforços ocorre ao longo de todo o comprimento do
grampo, à medida que a malha se deforma. O posicionamento dos grampos é
feito ou pela introdução das coordenadas (x,y) de suas extremidades (GR-Livre)
ou pela fixação de uma extremidade do grampo a um nó (i,j) da face da
escavação, mantendo a outra extremidade livre (GR-Fixo).
Nesta pesquisa, todas as simulações foram feitas utilizando grampos
livres (GR-Livre) por fornecerem maiores valores de deslocamentos horizontais e
verticais (Springer et al., 2001).
O comando “solve force=10”, no bloco 24, limita o valor da força não
balanceada em 10N. Isto significa, que o programa irá buscar um estado de
equilíbrio, chegando ao mesmo quando o valor de força não balanceada for
inferior a 10N. A malha então se deformará, gerando esforços passivos ao longo
dos grampos como resultado da deformação do solo.
125

Logo em seguida, quando o estado de equilíbrio é atingido (funbal ≤


10N), gera-se o arquivo “SG01f01.sav”, conforme ilustrado no bloco 25,
finalizando-se a primeira fase de escavação.
Etapas posteriores de escavação podem ser criadas seguindo a mesma
metodologia proposta para a primeira fase de escavação (blocos 17 ao 25),
gerando-se novos arquivos “.sav”.

3.9.
Resultados fornecidos pelo FLAC

3.9.1.
Deslocamentos

Os deslocamentos fornecidos pela saída do programa (“print xdisp” e


“print ydisp”) são acumulativos, ou seja, são totais. Após cada fase, os
deslocamentos fornecidos no visor pelo FLAC são resultantes da soma de todos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

os deslocamentos correspondentes a cada fase.

3.9.2.
Avaliação das condições de ruptura

A maior parte dos projetos baseia-se no estabelecimento de um fator de


segurança, como medida da estabilidade da estrutura. O FLAC não calcula o um
fator de segurança diretamente. Entretanto, as condições de estabilidade podem
ser observadas a partir da razão entre a resistência ao cisalhamento e os níveis
de tensão mobilizados na simulação.
O estado de tensões em qualquer zona pode ser expresso em termos
das tensões principais σ1 e σ3, onde tensões negativas indicam compressão.
Este estado de tensões, estará associado a um círculo com raio ra, no diagrama
de Mohr (Figura 59). A ruptura ocorrerá quando o círculo tocar a envoltória de
ruptura. A resistência para o estado de tensões representado pelo círculo a é
determinada mantendo-se σ3 constante e aumentando ou diminuindo σ1 até
definir-se um círculo de raio b que toca a envoltória (o valor de σ1 na ruptura é
indicado pela equação 19). O índice entre o raio deste dois círculos é a razão
entre a resistência e tensão (equação 20). Esta razão, denominada F, também é
conhecida como “Índice de Ruptura”. Note que F ≤ 1 indica uma situação de
ruptura.
126

O programa FLAC, através do comando “plot mohr”, permite ao usuário


a plotagem dos contornos do índice de ruptura (F).
Alternativamente, o FLAC dispõe de um indicador de plastificação, IPL
(“Plastic Indicator”). Este indicador permite verificar regiões em que o
escoamento plástico ocorre. Os indicadores são códigos associados a cada
elemento de acordo com a seguinte convenção apresentada na Tabela 23.

τ  1 + sen φ 
σ 1 f =  .σ 3 +
 1 − sen φ 
eq.(19)
cos φ
Círculo a + 2.c.
rb 1 − sen φ
Círculo b
r σ3 −σ1f
ra
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

F= b =
σ1f σ1 σ3 σ
ra σ3 −σ1 eq.(20)

Figura 59 - Razão resistência/tensão para o critério de ruptura de Mohr-Coulomb (Itasca,


1996)

Tabela 23 - Convenção para o Indicador de Plastificação


IPL Descrição

zero Elástico

1 Plastificação por cisalhamento e/ou deformações volumétricas


Não plastificado, mas tendo sofrido algum tipo
2
de plastificação em estágio anterior
3 Plastificação por Tração

Quando utilizado, é importante observar quais são os valores de IPL


associados a cada elemento para que se possa avaliar a ocorrência de algum
tipo de mecanismo de ruptura. Um mecanismo de ruptura é verificado quando
elementos apresentando código IPL=1 estabelecem uma linha contínua ou
superfície. Este mecanismo de ruptura deve ser confirmado com a plotagem dos
vetores de velocidade. Estes devem indicar uma tendência de movimentação
que possa ser associada à mesma hipótese de mecanismo de ruptura.
127

Convém ressaltar que em uma simulação numérica com o FLAC sempre


ocorrerá escoamento em determinadas regiões da malha, nas fases iniciais de
carregamento/descarregamento. No entanto, uma subseqüente redistribuição de
tensões faz com que estes elementos se afastem da condição de plastificação.
Nestes casos, atribui-se o código IPL=2 para estes elementos.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA
4.
Modelagem de escavações com grampos e tirantes

Estudos de deformabilidade em taludes em solo grampeado serão


realizados através de modelagem computacional utilizando o programa FLAC.
Os resultados fornecidos pelo programa (valores de deslocamento, tensões
iniciais, esforços axiais nos grampos, etc.) são afetados diretamente pelos dados
de entrada, tais como, geometria da malha, condições de contorno, iterações
para a consolidação da malha, modelo constitutivo utilizado, parâmetros do solo
e do grampo, entre outros.
Inicialmente, procurou-se compreender a influência da variação de alguns
parâmetros importantes na modelagem de um problema físico. Os estudos
realizados neste capítulo demonstraram a grande importância da escolha
adequada destes parâmetros, pois uma pequena variação dos mesmos pode
causar mudanças expressivas nos resultados.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

4.1.
Aplicação das tensões “in situ”

Na modelagem de um problema físico pelo FLAC, há vários indicadores


no programa que determinam se a malha está ou não consolidada; isto é, se as
tensões “in situ” foram aplicadas e a condição de equilíbrio atingida. A melhor
maneira de buscar esta indicação é acompanhar os vetores de velocidade (“xvel,
yvel”) à medida que o número de iterações (“steps”) aumenta. A malha será
considerada consolidada quando os valores dos vetores se estabilizarem em
valores próximos ou iguais a zero, caracterizando-se assim, o equilíbrio estático.
Para avaliar o número de iterações necessárias para caracterizar a
condição de equilíbrio, foram feitas simulações limitando-se o número máximo
de iterações. Para este estudo, foi utilizada a geometria mostrada na Figura 60.
Os vetores de velocidade foram monitorados nos pontos A, B e C, também
indicados na Figura 60.
Os resultados, mostrados nas Figuras 61 e 62, indicam que o equilíbrio
pode ser considerado para um número mínimo de iterações igual a 400. Para
este valor, os vetores de velocidade são aproximadamente nulos.
129

Figura 60 - Geometria adotada nas análises preliminares


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

0,5
Vetor de Velocidade em x (10 m/s)

0,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-5

-0,5
-1,0
-1,5
-2,0
-2,5
-3,0
-3,5
-4,0 Ponto A Ponto B Ponto C

-4,5
Número de Iterações

Figura 61 - Variação das tensões “in situ” (vetores de velocidade em x) em função do


número de iterações
130

1,0

0,0
Vetor de Velocidade em y (10 m/s)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400


-5

-1,0
-2,0

-3,0
-4,0

-5,0
-6,0 Ponto A Ponto B Ponto C

-7,0
Número de Iterações

Figura 62 - Variação das tensões “in situ” (vetores de velocidade em y) em função do


número de iterações
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

4.2.
Influência dos parâmetros geométricos

A utilização de programas computacionais baseados no método das


diferenças finitas (MDF), método dos elementos de contorno (MEC) e método
dos elementos finitos (MEF) está cada vez mais presente, como ferramenta de
auxílio em projetos de engenharia civil. Porém deve-se enfatizar, que estes
programas devem ser usados de forma cautelosa pois, em muitos casos, se o
problema físico não for representado corretamente os resultados finais obtidos
poderão estar incorretos e , em algumas situações, incompatíveis com o projeto
em questão.
A representação correta do modelo físico muitas vezes esbarra na
dificuldade da obtenção de valores representativos do modelo, como por
exemplo, módulo de deformabilidade do solo, tensões iniciais “in situ”, condição
de saturação, condições de contorno, valores de resistência ao arrancamento de
elementos de reforço (grampo, tirante, etc.). Outros problemas não menos
importantes são: compatibilidade entre parâmetros de campo e de laboratório,
efeito de escala, hipóteses simplificadoras utilizadas pelos programas,
modelagem bidimensional adotada em problemas 3D, modelo constitutivo
empregado, efeito do tempo na análise dos resultados (“creep” ou fluência),
entre outros.
131

Assim sendo, para o sucesso da análise em questão, torna-se necessário


o completo entendimento do programa computacional e do modelo físico no que
diz respeito aos parâmetros do solo, geometria, condições de contorno,
carregamentos, parâmetros geomecânicos dos elementos de reforço e
metodologia construtiva.
A avaliação da influência da inclinação do talude (β), do número de
etapas de escavação, das condições de contorno, da modelagem da parede e
dos elementos de reforço, nos deslocamentos e esforços axiais nos grampos foi
o objetivo deste estudo, dando continuidade a estudos paramétricos realizados
por Springer (2001).
Posteriormente, estudos complementares do comportamento tensão-
deformação de estruturas grampeadas foram realizados em taludes em solo
residual.

4.2.1.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

β)
Inclinação do talude (β

A geometria adotada neste estudo consistiu em uma malha retangular


constituída de 138 elementos horizontais e 84 elementos verticais. São
apresentados três tipos distintos de discretização com elementos de 1,00m na
horizontal por 0,25m na vertical, seguidos de elementos de 0,50m por 0,25m e
0,25m por 0,25m, conforme mostra a Figura 63. Os limites entre as fronteiras
são de 52,50m na horizontal e de 21,00m na vertical.

Figura 63 - Geometria utilizada na fase de consolidação da malha


132

Após a consolidação da malha (aplicação de forças gravitacionais nos


elementos), mudam-se às condições de contorno e dá-se início ao procedimento
de escavação. O processo de escavação (eliminação de elementos da malha) foi
simulado em 7 fases sucessivas com incrementos de 1,50m. O espaçamento
horizontal (Sh) e vertical (Sv), entre grampos, foi de 1,50m. A altura total de
escavação (H) foi de 10,5m. A base da escavação (pé do talude) possui 3,0m de
comprimento (Figura 64).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 64 - Geometria utilizada durante a fase de escavação

O modelo constitutivo selecionado para representar o solo foi o modelo


elástico perfeitamente plástico, delimitado pelo critério de ruptura de Mohr-
Coulomb. A simulação dos grampos (tipo livre) foi feita por elementos
unidimensionais, que trabalham por tração, não apresentando resistência à
flexão. A resistência no contato solo-grampo foi computada em função das
componentes de adesão e de atrito nesta interface (“cable element”). A parede
foi representada por elementos de viga, que apresentam resistência à flexão. Os
parâmetros geomecânicos empregados em todas as análises estão explícitos na
Tabela 24.
Foram elaborados 4 casos, nos quais o único parâmetro considerado
variável foi a inclinação do talude (β). Quatro inclinações foram estudadas (60o,
70o, 80o e 90o) com a mesma disposição final dos grampos, correspondendo à
última fase de escavação (L/H=0,57), conforme ilustra a Figura 65. Todos os
grampos possuem comprimento (L) de 6,0m.
133

Tabela 24 - Propriedades geomecânicas.


Grampo Parede Solo
σaço Eaço Ginjeção qs Eparede hparede Esolo ν γ c’ φ’ ψ k0
3
MPa GPa GPa kPa GPa cm MPa KN/m kPa graus graus
500 205 9,0 150 24 10 45 0,25 18,5 10 32 7,5 0,5
σaço=tensão de escoamento do aço, E=módulo de Young, G=módulo cisalhante, qs=resistência ao
arrancamento do grampo, hparede=espessura da parede, ν=coeficiente de Poisson, γ=peso
específico natural, c'=coesão efetiva, φ'=ângulo de atrito, ψ=ângulo de dilatância, ko=coeficiente de
empuxo no repouso.

A simulação da inclinação do talude deve ser feita através do comando


“gen line”, inserido no bloco 05 (Tabela 22), e da eliminação de alguns
elementos da malha, através do comando “mod null”.
O programa FLAC apresenta uma limitação no que se diz respeito a
mudanças na geometria a ser estudada. Uma vez gerados arquivos de saída
“.sav”, não são permitidas alterações na geometria do talude.
Fatores de segurança globais foram calculados, com o auxílio do
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

programa “STABL for Windows” (Purdue University, 2000), pelo método de


Bishop Simplificado, admitindo-se superfícies de ruptura circulares. O objetivo
destes cálculos de estabilidade por equilíbrio limite foi o de complementar o
entendimento do comportamento tensão-deformação/resistência dos taludes. Os
resultados, mostrados na Tabela 25, indicam a necessidade da adoção de um
sistema de estabilização, independente da inclinação β, pois em todos os casos
obteve-se FSSG < 1,0. Com a inserção dos grampos, observa-se um incremento
de cerca de 40% no valor de FS. Entretanto, para o caso de face vertical, esta
solução ainda resultaria numa condição de estabilidade não aceitável (FS=1,05)
para o projeto da escavação grampeada.
134
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 65 - Taludes com diferentes inclinações β para L/H=0,57

Tabela 25 - Estabilidade do talude da escavação


Fator de Segurança (método de Bishop Simplificado)
Inclinação
Sem Grampo (FSSG) Com Grampo (FSCG)
β=60o 0,96 1,58
β=70o 0,80 1,47
β=80o 0,66 1,22
β=90o 0,57 1,05
135

Deslocamentos horizontais ao longo de uma linha vertical, distante 1,0m


do topo do talude, foram plotados em função da profundidade da malha, na
última etapa de escavação, L/H=0,57 (Figura 66). Este procedimento foi usado,
inicialmente, devido à questão da geometria variável dos modelos numéricos e
da possível influência da rigidez da parede nos deslocamentos. Deve-se lembrar
que, no caso dos taludes de inclinação β=60o, 70o e 80o, os deslocamentos
horizontais a grandes profundidades correspondem a pontos relativamente
distantes da parede. Já no caso do talude de face vertical, β=90o, estes
deslocamentos correspondem a pontos distantes 1,0m da parede de concreto
projetado, independente da profundidade em questão.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 66 - Vertical AA’ adotada para obtenção dos deslocamentos horizontais

Observando-se os vetores de deslocamento gerados pelo programa


FLAC (Figura 67), para a última etapa de escavação (L/H=0,57), nota-se um
comportamento diferente com relação à direção dos deslocamentos, no caso de
taludes verticais. A maior magnitude dos vetores, indicando a aparente formação
de uma região potencial de ruptura, está em concordância com os resultados
obtidos nas análises por equilíbrio limite para talude vertical.
136

FSSG=0,96
β=60o
FSCG=1,58

FSSG=0,80
β=70o
FSCG=1,47
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

FSSG=0,66 β=80o
FSCG=1,22

FSSG=0,57 β=90o

FSCG=1,05

Figura 67 - Vetores de deslocamentos e fatores de segurança para taludes de solo


grampeado (L/H=0,57)
137

A introdução do reforço, com as características geométricas adotadas


neste trabalho, é insuficiente para estabilizar a massa de solo com face vertical,
conforme indicam os valores de fatores de segurança sem grampo (FSsg) e com
grampo (FScg).
A Figura 68 apresenta os perfis de deslocamentos horizontais (a 1,0m do
topo do talude), ao final da escavação (L/H=0,57), para todas as inclinações β.
Os resultados mostram a influência significativa da inclinação do talude nos
deslocamentos horizontais, os quais crescem de magnitude à medida que o
talude torna-se mais íngreme. A execução de escavações com taludes
ligeiramente inclinados reduz significativamente a magnitude dos deslocamentos
no topo. No caso estudado, observando-se os valores de deslocamentos
fornecidos pelo programa, esta redução chega a 75%, quando se passa de uma
escavação vertical para uma inclinação β=80o. Adicionalmente, a forma dos
deslocamentos também é afetada: deslocamentos máximos no topo da
escavação só são observados em taludes verticais (β=90o). Instrumentação de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

obras de solo grampeado confirmam esta observação (Cardoso e Carreto, 1989;


Plumelle et al., 1990; Barley, 1993; Unterreiner et al., 1995 e Shiu et al., 1997).
Para pontos abaixo da base da escavação, a inclinação do talude afeta pouco os
deslocamentos horizontais.
Estudos de recalques na superfície do terreno (crista do talude) também
foram realizados. A Figura 69 mostra os deslocamentos verticais em função da
distância ao ponto correspondente ao topo da escavação (ver Figura 66).
Valores de deslocamentos verticais positivos, observados na região próxima a
face da escavação, podem ser atribuídos a forma como a escavação é simulada
numericamente. A magnitude dos deslocamentos verticais varia diretamente com
a observada em termos de deslocamentos horizontal. Em taludes verticais, por
exemplo, o elevado deslocamento horizontal em direção à escavação (Figura 68)
corresponde a um deslocamento vertical também significativo. Os valores de
recalque superficial independem de β a partir de uma distância de
aproximadamente 2H do topo da parede. A partir desta posição, os recalques
superficiais já não são tão expressivos e sofrem influência reduzida da inclinação
β (os deslocamentos em pontos a partir desta posição apresentam valores
próximos a zero).
138

δ h (%H)

-0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25


0,0
β=80o
-1,0

-2,0

-3,0

-4,0

-5,0 β=60o
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

-6,0

-7,0

-8,0
β=90o
profundidade (m)

-9,0
β=70o
-10,0

-11,0

-12,0

-13,0

-14,0

-15,0

-16,0

-17,0

-18,0

-19,0

-20,0

-21,0

Figura 68 - Perfis de deslocamentos horizontais finais (L/H=0,57),


a 1,0m do vértice da escavação, em função da inclinação do
talude (β)
139

Distância da parede (m)


-30 -25 -20 -15 -10 -5 0
0,15
β=60o β=70 o

0,10

0,05

v (%H)
β=80o 0,00

-0,05
β=90o
-0,10

Figura 69 - Influência da inclinação do talude (β) nos deslocamentos verticais finais


(L/H=0,57) ao longo da superfície do terreno (topo da escavação)

Com relação à base da escavação, observou-se de um modo geral um


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

processo de elevação de fundo pouco sensível à inclinação da parede, conforme


mostra a Figura 70. Em pontos próximos à base da escavação, valores mais
elevados foram verificados em taludes verticais. A possível configuração de
ruptura destes taludes pode explicar este comportamento distinto. A partir da
distância de 0,5m da base da escavação, os deslocamentos verticais,
independem da inclinação do talude, e são aproximadamente constantes, com
valores entre 0,23%H e 0,30%H.

Distância da parede (m)


0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
0,40
0,35
0,30
v (%H)

0,25
0,20
0,15
60 graus 70 graus 80 graus 90 graus
0,10
0,05
0,00
Figura 70 - Influência da inclinação do talude (β) nos deslocamentos verticais finais
(L/H=0,57) na base da escavação (pé do talude)
140

Os esforços axiais máximos de tração (Fmáx.), na última fase de


escavação (L/H=0,57), apresentam-se maiores em taludes mais íngremes
(Figura 71). Os resultados indicam que os grampos mais próximos à superfície
contribuem menos na contenção do solo do que os inferiores. Para os exemplos
estudados, o grampo mais solicitado em taludes verticais localiza-se a 7,5m de
profundidade (grampo 05), enquanto que, em taludes com inclinações de 60o e
70o, o grampo mais solicitado situa-se a 9,0m de profundidade (grampo 06).

F máx. (kN)

0 20 40 60
1

2
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

β = 90
o
Linha de
Grampos
no. 4 o
80

o
70
5

o
60

Figura 71 - Influência da inclinação do talude (β) nos esforços axiais máximos na última
etapa de escavação (L/H=0,57)

Um estudo comparativo da evolução dos valores de força axial máxima


na primeira linha de grampos, localizada na profundidade de 1,5m está
apresentado na Figura 72. Pode-se notar um ligeiro aumento na magnitude dos
esforços de tração na primeira linha de grampos à medida que se segue com o
processo de escavação. Para profundidades de escavação maiores, a
mobilização da primeira linha de grampos é acentuada, em particular para as
141

inclinações de 80o e 90o. Em taludes com β=60o e 70o, não há um aumento


considerável dos esforços axiais nos grampos durante toda a evolução da
escavação da escavação.

H (m)
12,00 6,00 4,00 3,00 2,40 2,00 1,67 1,50
25

20
( N)

15 90 graus 80 graus
Fmáx k

70 graus 60 graus

10

0
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

L /H

Figura 72 - Influência da inclinação do talude (β) nos esforços axiais máximos na primeira
linha de grampos (profundidade de 1,50m) nas diversas etapas de escavação

A título de comparação, a Figura 73 mostra que todos os grampos, nesta


modelagem, estão trabalhando sob cargas previstas significativamente inferiores
à resistência admissível para barra de aço CA-50 (Fesc.=245,4kN). Considerando,
para carga de trabalho, um fator de majoração de 1,4, e limitando as cargas à
condição de 90% da carga de escoamento, o limite máximo admissível para a
relação Fmáx./Fescoamento é de 64,3%, ou seja, Fmáx (admissível)=157,8kN (Springer et
al., 2001).
142

Fmáx. (kN)
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270

01
Linha de Grampos (no.)

02

Fmáx(adm.)=157,8kN

Fesc. aço=245,4kN
03

04

05

06

07

L/H = 4 (Fas e Inicial) L/H = 1 (Fas e Intermediária) L/H = 0,57 (Fas e Final)

Figura 73 - Magnitude das forças axiais máximas desenvolvidas nos grampos em função
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

da profundidade de escavação

4.2.2.
Número de etapas de escavação

Respeitando-se todos os parâmetros e metodologia adotados por Kirsten


(1991), realizou-se um estudo buscando-se avaliar a influência do número de
fases de escavação nos deslocamentos horizontais finais, próximos à face, em
função da profundidade. Foram feitas análises admitindo-se um processo de
escavação em uma única etapa e em 2, 4, 6 e 8 fases, conforme mostra a Figura
74. Em todos os casos os grampos apresentaram comprimentos variáveis entre
4 e 6m, havendo tirantes com comprimentos de 8m na base da escavação
(Figura 75).
O modelo constitutivo empregado para representar o solo foi o modelo
elasto-perfeitamente plástico, delimitado pelo critério de ruptura de Mohr-
Coulomb. A parede foi representada por elementos de viga, com resistência à
flexão.
143
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 74 - Discretização da malha utilizada

Os parâmetros geomecânicos empregados nas análises estão


explicitados na Tabela 26. Barras de aço protendidas, indicadas na Figura 75,
foram posicionadas na base e no topo da escavação. Todos os parâmetros
geomecânicos utilizados para os grampos e tirantes foram arbitrados, pois não
foram fornecidos por Kirsten (1991).

Figura 75 - Seção transversal do monobloco rígido


144

Tabela 26 - Propriedades geomecânicas


Parede Solo
Eparede hparede Esolo ν γ c’ φ’ ψ k0
3
GPa cm MPa KN/m kPa graus graus
50 5 10 0,2 20 25 29 0 0,52

Grampos Tirantes
φaço φfuro σaço Eaço Ginjeção qs φaço φfuro σaço Eaço Ttrab
mm mm MPa GPa GPa kPa mm mm MPa GPa tf
25 100 500 205 9,0 63/102 32 100 500 205 10/30

φaço=diâmetro da barra de aço, φfuro=diâmetro do furo, σaço=tensão de escoamento do


aço, E=módulo de Young, G=módulo cisalhante, qs=resistência ao arrancamento do
grampo, Ttrab=carga de trabalho do tirante, hparede=espessura da parede, ν=coeficiente
de Poisson, γ=peso específico natural, c'=coesão efetiva, φ’=ângulo de atrito, ψ=ângulo
de dilatância, ko=coeficiente de empuxo no repouso.

Os deslocamentos horizontais finais (Figura 76) comprovam que o


número de estágios de escavação influencia nos deslocamentos da parede. Os
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

resultados, entretanto, mostram que para número de etapas superior a 2 as


diferenças são menos significativas. As escavações em etapas, mais usuais na
prática da engenharia, fornecem valores maiores de deslocamento no topo
(cerca de 24mm). A simulação de um único estágio de escavação forneceu
valores da ordem de 3,1mm no topo.
Nas Figuras 77 e 78 estão plotados os indicadores de plastificação (IPL),
que delimitam as regiões que sofreram algum tipo de plastificação. Ressalta-se
que, sempre que se aplica qualquer tipo de carregamento ou descarregamento,
o FLAC admite o desenvolvimento de regiões de plastificação (vide item 3.9.2).
A presença de regiões de plastificação, na escavação em etapas (Figura
77), não observadas na escavação em uma única fase (Figura 78), indica que
determinados elementos atingiram a superfície de ruptura. conseqüentemente,
variações subseqüentes no estado de tensões desses elementos são
transferidas para elementos adjacentes, fazendo com que, de um modo geral, as
deformações atinjam níveis mais elevados. Este resultado pode ser visto como
uma limitação do programa FLAC que não possui um modelo que traduza o
comportamento tensão-deformação não linear.
145

δ h (mm)
-40 -20 0 20 40
0

-1 Localização
a
da 1 linha de
tirantes
-2

profundidade da escavação (m)


-3

-4

-5
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

-6

-7

-8

-9
Localização da
-10 a a
2 e 3 linha de
tirantes
-11

-12
1 fase 8 fases 4 fases 2 fases 6 fases

Figura 76 - Influência das etapas de escavação nos deslocamentos


finais na face da escavação ao longo da profundidade
146

Regiões de
Plastificação
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 77 - Indicação de plastificação na simulação de 8 etapas de escavação (última


fase)

Figura 78 - Indicação de plastificação na simulação de uma única etapa de escavação


147

4.2.3.
Espessura da parede

Estudos de deslocamentos horizontais ao longo da profundidade de


escavação da malha foram realizados com diferentes espessuras da parede. Em
todas as análises, a parede foi modelada como elemento de viga com módulo de
Young constante (Eparede=50GPa), variando-se o momento de inércia (MIparede) e
a área da seção transversal (aparede), conforme mudança na espessura da
mesma. Nestes estudos, adotou-se a mesma configuração apresentada nas
Figuras 74 e 75. A geometria, assim como condições de contorno estão
apresentadas na Figura 79. Os parâmetros geomecânicos dos grampos, tirantes
e do solo foram os mesmos indicados na Tabela 26. Os casos considerados
foram: parede com 200mm, 100mm, 50mm de espessura e finalmente a
consideração da não existência de parede.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 79 - Geometria e condições de contorno da malha

Os resultados apresentados na Figura 80 mostram que, para o modelo


analisado, paredes com espessura de 100mm e 200mm apresentam valores de
deslocamentos similares. Adicionalmente, percebe-se a influência da posição
dos tirantes nos deslocamentos horizontais na face da escavação,
principalmente nas estruturas mais flexíveis (h=50mm).
148

Em relação ao topo da escavação, deslocamentos positivos foram


gerados para os casos de hparede=100mm e hparede=200mm. Para os demais
casos, valores negativos no topo foram observados.

δ h (mm)
-40 -30 -20 -10 0 10
0 Localização
da 1a linha de
h=50mm tirantes
-1
h=100mm
h=20mm -2
h=0 (sem parede)
-3

profundidade da escavação (m)


-4
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

-5

-6

-7

-8

-9
Localização da
-10 2a e 3a linha de
tirantes
-11

-12
Figura 80 - Influência da espessura da parede nos deslocamentos
horizontais finais na face da escavação

4.2.4.
Condições de contorno e geometria da malha

De modo a se avaliar a influência dos contornos laterais e da geometria


da malha nos deslocamentos ao longo da escavação, foram analisados os
valores de deslocamentos horizontais no topo da escavação para diferentes
149

condições de contorno e relações geométricas da malha da escavação. O


modelo constitutivo empregado para representar o solo foi o modelo elasto-
plástico, delimitado pelo critério de ruptura de Mohr-Coulomb. Os parâmetros do
grampo e da parede foram indicados na Tabela 26.
Estudos numéricos foram realizados fixando-se a altura de escavação (H)
em 12m. A geometria inicial utilizada está definida na Figura 81. A simulação da
escavação foi realizada em um único estágio. Os deslocamentos horizontais no
topo da escavação foram plotados em função de alterações na geometria da
malha e das condições de contorno impostas. Para cada relação geométrica da
malha com Be/H e We/H variando entre 1 e 10, foram obtidos os deslocamentos
horizontais no topo da escavação, restringindo-se ou não os deslocamentos na
direção vertical. Através destas simulações, pode-se determinar condições
adequadas de geometria e contornos para o estudo de escavações em solo
grampeado. A Tabela 27 fornece um resumo dos casos estudados.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 81 - Configuração utilizada no estudo dos contornos

A Figura 82 mostra os valores de deslocamentos no topo da escavação


em função do valor de Be/H. Os resultados indicam que a influência das
condições de contorno da vertical lateral direita é significativa para valores de
Be/H inferiores a 4. A partir desta relação, os valores de Be/H, com ou sem
restrição dos deslocamentos na direção vertical, ficam muito próximos e passam
a não ter mais influência nos deslocamentos horizontais na parede.
150

Tabela 27 - Quadro resumo dos casos estudados

Definição do contorno lateral direito e do parâmetro Be

Valores estudados de Be/H Valores estudados de Be/H

1 2 3 4 5 6 7 10 1 2 3 4 5 6 7 10

We Be We Be

H=12m H=12m

We = 20m We = 20m
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
(%H)

0,0
-0,1
topo

-0,2
-0,3
-0,4
-0,5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Be / H
Apoio livre em y apoio fixo em y

Figura 82 - Deslocamentos horizontais no topo vs. a distância Be

A análise da Figura 82 indica que a relação Be/H≥4 pode ser considerada


em problemas de escavações com solo grampeado utilizando o programa FLAC.
A partir desta relação, a variação dos deslocamentos horizontais na face da
escavação será desprezível para qualquer condição de contorno lateral direito
imposta.
Com relação à influência do contorno lateral esquerdo, a geometria
estudada demonstra ser aceitável no caso de escavações que apresentam
151

simetria. Em outras situações, o contorno lateral esquerdo deve estar afastado


da região da escavação, de modo a não interferir nos resultados.
Briaud e Lim (1997) propõem uma definição de parâmetros geométricos
para não influenciar os deslocamentos horizontais no topo, conforme
demonstrado na Figura 50. De certa forma, a geometria empregada neste
estudo, para escavações simétricas, é aceitável às proposições dos autores.

4.3.
Influência da forma de modelagem da parede

Tendo em vista a influência nos deslocamentos horizontais do tipo de


tratamento numérico dado à face da escavação (Caliendo et al., 1995), foram
realizados estudos variando-se o tipo de elemento e o modelo constitutivo de
representação da parede. Nestes estudos, adotou-se o mesmo modelo físico
apresentado nas Figuras 74 e 75. A estrutura da parede foi representada por
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

elementos de viga unidimensionais e por elementos bidimensionais com


comportamento elástico linear. A Tabela 28 apresenta um quadro resumo dos
parâmetros utilizados nas análises. A espessura da parede foi considerada como
sendo igual a 50cm nas análises cuja parede foi representada por elementos
bidimensionais. Espessuras menores exigiriam um nível de discretização da
malha que aumentaria demasiadamente o tempo computacional deste tipo de
análise.

Tabela 28 - Influência do tipo de modelagem da parede


Modelagem Parâmetros da parede
da hparede aparede MIparede Eparede γparede cparede
νparede
Parede (cm) (m2) (m4) (GPa) (kN/m3) (kPa)
Elemento de
Viga
5 0,50 1,042x10-2 50 T T T

50 T T 50 0,20 25 T
Elemento
2D - linear 50 T T 10 0,20 25 T
elástico
50 T T 5 0,20 25 T

hparede=espessura da parede, aparede=área da seção transversal da parede,


MIparede=momento de inércia da parede, , Eparede=módulo de Young da parede,
ν=coeficiente de Poisson da parede, γ=peso específico do material da parede,
cparede=coesão aparente do material da parede.
Obs.: (T)=Parâmetro não necessário no arquivo de entrada de dados.
152

Os deslocamentos horizontais relacionados com a última fase de


escavação estão plotados na Figura 83. Nesta figura, a parede modelada com
elementos de viga mostra-se mais flexível. O perfil de deslocamentos horizontais
mostra redução de deslocamentos nas profundidades de 2,0m, 9,5m e 11,0m,
correspondentes a posição de instalação dos tirantes.

δ h (mm)

-70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20


0
Contorno da
escavação -3

-6

-9

-12
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

-15

profundidade (m)
-18

-21

-24

-27

-30

-33

-36

-39

-42

-45
elemento de viga (h=50mm)
elemento 2D - Elástico (E=50GPa)
elemento 2D - Elástico (E=10GPa)
elemento 2D - Elástico (E=50MPa)

Figura 83 - Influência do tipo de modelagem da


parede nos deslocamentos horizontais finais na
face da escavação

Já a parede modelada como material 2D perfeitamente elástico e


isotrópico, indica um padrão de deslocamento semelhante ao de um corpo
rígido, quando é adotado o valor do módulo de Young da parede
153

(Eparede=50GPa), correspondente ao módulo do concreto. Este comportamento já


era esperado e é resultado da elevada rigidez imposta à estrutura. Para reduzir
este efeito, atribuiu-se à parede um módulo de deformabilidade reduzido
(Eparede=5GPa), tal que a rigidez da parede (E x MI) fosse equivalente àquela
apresentada pelo elemento de viga. Neste caso, o perfil de deslocamento
horizontal se assemelha ao fornecido pelo elemento de viga, tendo sido
registrados, em toda escavação, menores valores de deslocamento.
Como resultado destas análises, verifica-se que a o tipo de modelagem
da parede resulta em diferentes padrões de deslocamento. A experiência
registrada na literatura, entretanto, tem sugerido a utilização de elementos de
viga na modelagem da parede. Conclusões semelhantes foram apontadas por
Caliendo et al. (1995) e Itasca (1996).

4.4.
Escavações grampeadas em solo residual
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

A metodologia de projetos de estruturas em solo grampeado baseia-se,


na maioria dos casos, em métodos de análise de estabilidade por equilíbrio
limite. Em geral, os projetos desprezam os mecanismos das deformações
ocorridas no interior da massa de solo grampeada. A necessidade de se obter
informações sobre as deformações inerentes ao sistema de estabilização por
solo grampeado requer estudos de estabilidade por métodos numéricos. Os
casos estudados simularam o comportamento tensão-deformação de taludes em
solos residuais usualmente encontrados nas encostas do Rio de Janeiro. Uma
revisão dos parâmetros representativos deste tipo de solo foi apresentada no
Capítulo II.
O espaçamento horizontal (Sh) e vertical (Sv) entre grampos, o
comprimento do grampo (L) e a altura de escavação (H) foram os parâmetros
considerados variáveis nestas análises.

4.4.1.
Definição da malha

A discretização da malha do maciço da escavação procurou obedecer a


critérios geométricos definidos no item 4.2.4. A superfície do terreno (Be)
apresenta dimensões superiores a 4 vezes a altura da escavação (H). Os
154

contornos laterais foram fixados apenas na direção horizontal. Para Be/H > 4,
pode-se adotar este tipo de restrição.
A geometria adotada consistiu em uma malha retangular de 66 elementos
horizontais e 56 elementos verticais. São apresentados nove tipos distintos de
discretização com elementos de 0,50m na horizontal por 2,50m na vertical
seguidos de elementos de 0,50m por 1,50m e 0,50m por 0,50m. A seguir,
elementos de 1,50m x 2,50m, 1,50m x 2,50m, 1,50m x 0,50m e, finalmente,
elementos de 2,50m x 2,50m, 2,50m x 1,50m e 2,50m X 0,50m, conforme mostra
a Figura 84. As alturas de escavação (H) propostas foram de 5m e 10m. Regiões
próximas à escavação apresentaram um refinamento na discretização. Os limites
entre as fronteiras são de 61,0m na horizontal e na vertical. As dimensões finais
do modelo estudado estão apresentadas na Figura 85.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Figura 84 - Discretização da malha utilizada


155

W e = 10m Be = 51m

H = 5 / 10m

D = 51 / 46m

Figura 85 - Parâmetros geométricos do modelo estudado.

4.4.2.
Definição dos parâmetros do solo
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

O modelo constitutivo empregado para representar o solo foi o modelo


elasto-plástico, delimitado pelo critério de ruptura de Mohr-Coulomb. É um
modelo bastante utilizado como uma aproximação em primeira ordem do
problema estudado
Para a aplicação do modelo elasto-plástico de Mohr-Coulomb, deve-se
definir cinco parâmetros relacionados ao solo: módulo de deformabilidade do
solo (Esolo), coeficiente de Poisson do solo (ν), para o trecho elástico, coesão do
solo (c) e ângulo de atrito do solo (φ), para a plasticidade do solo e o ângulo de
dilatância (ψ).
A metodologia utilizada na obtenção destes parâmetros consistiu em
selecionar ensaios em amostras de solo residual jovem, não saturado (umidade
natural) e saturado (amostras submersas). Buscou-se assim atender às
condições usualmente apresentadas nos solos residuais em estruturas de
contenção com solo grampeado. Os parâmetros foram obtidos tomando-se como
base os ensaios de laboratório realizados por Aleixo (1998).

• Módulo de deformabilidade do solo (Esolo):


Sabe-se, de imediato, que o valor do módulo de deformabilidade do solo
tem grande influência nas análises feitas pelo FLAC. Em estudos paramétricos
realizados por Springer (2001), observou-se que este parâmetro atua
diretamente na magnitude dos deslocamentos. Para valores pequenos de Esolo,
da ordem de 10MPa, o programa fornece resultados de deslocamento horizontal
156

muito superiores aos observados na literatura (usualmente entre 0,10%H e


0,30%H).
Assim sendo, com o objetivo de se corrigir os valores de deformabilidade
do solo obtidos em ensaios triaxiais de carregamento axial (σ3=cte. no
cisalhamento), foram introduzidos dois fatores de correção: FC1, relativo a
diferenças entre campo e laboratório (amolgamento, história de tensões, etc.) e
FC2, relativo a trajetória de tensões empregada no ensaio.
O valor de FC1 igual a 2,0 foi adotado, baseando-se em observações
feitas por Sandroni (1985 e 1991) e Sieira (1998).
Quando o módulo de deformabilidade for obtido em ensaios triaxiais de
carregamento axial, adota-se um valor de FC2, em função da diferença nas
trajetórias de tensões entre laboratório e campo (compressão axial/extensão
lateral). Ensaios de descarregamento lateral (σ1=cte. no cisalhamento), que
simulam a execução de uma escavação em solo grampeado, fornecem valores
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

de Esolo superiores aos obtidos em ensaios triaxiais convencionais. O valor de


FC2 igual a 2,5 foi empregado baseando-se em estudos realizados por Pontes
Filho (1981), Carpio (1990) e Sayão et al. (1999).
Deve-se ressaltar que os valores de FC1 e FC2, foram estipulados com
base em comparações de módulos de deformabilidade (E50) correspondentes a
um acréscimo de tensão desviadora igual a 50% do acréscimo na ruptura, em
ensaios para o mesmo nível de tensões confinantes (até 200kPa) e condições
iguais de drenagem. Assim sendo, nestas condições, têm-se:

Esolo=E50 . FC1 . FC2, onde FC1=2,0 e FC2=2,5


Logo: Esolo=5E50, em todas as análises feitas pelo FLAC, utilizando
amostras de solos residuais obtidas em ensaios triaxiais de carregamento axial.
Para as amostras reportadas por Aleixo (1998), têm-se as seguintes
correções:
Amostra “JNO”→ E50 14,3MPa ∴ Esolo=5E50 ≅ 72MPa

• Coeficiente de Poisson do solo (ν):


Amostra “JNO”→ ν=ν50=0,15

• Ângulo de atrito do solo (φ):


Amostra “JNO”→ φ=φ’≅20º
157

• Coesão do solo (c):


Amostra “JNO”→ c=60kPa (amostras com umidade natural).

• Ângulo de dilatância (ψ):


Pode ser determinado em ensaios de laboratório onde se medem as
variações volumétricas no corpo de prova (ensaios triaxiais). O valor de ψ foi
admitido como nulo, pois para ψ<15o, as variações são pouco significativas nos
deslocamentos horizontais (Springer, 2001).
Amostra “JNO” → Admitido como ψ=0o.
A seguir, são descritos outros parâmetros necessários para a definição
das características do solo, segundo o programa FLAC (Itasca, 1996):

• Peso específico do solo (γ):


Amostra “JNO”→ γ=17,8kN/m3 ≅ 18kN/m3.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

• Coeficiente de Empuxo no Repouso (ko):


Arbitrado em ko=0,55 (Maccarini, 1980).

Convém ressaltar que fatores de segurança globais foram calculados,


com o auxílio do programa “STABL for Windows” (Purdue University, 2000), pelo
método de Bishop Simplificado, admitindo-se superfícies de ruptura circulares.
Nas simulações de escavações de H=5m e H=10m, para a geometria definida
pela Figura 85, os valores de FS justificam a execução das contenções com solo
grampeado (Tabela 29). Em ambas as análises, a coesão do solo (c’) foi
reduzida para 20kPa. Esta redução foi realizada para simular uma condição
desfavorável de chuvas intensas quando a sucção e, conseqüentemente, a
coesão pode reduzir consideravelmente.

Tabela 29 - Fatores de segurança do talude da escavação em solo residual


Altura da escavação (H) Fator de segurança (Bishop Simplificado)
5m 1,12
10m 0,69
158

4.5.
Análises

Após a consolidação da malha (aplicação de forças gravitacionais nos


elementos), mudam-se às condições de contorno e dá-se início ao procedimento
de escavação. O estudo foi definido para duas situações: taludes de baixa altura
(H=5m) e taludes de alturas elevadas (H=10m).
A inclinação dos grampos com a horizontal (α) foi da ordem de 10o. A
simulação dos mesmos foi feita por elementos unidimensionais, que trabalham
por tração, não apresentando resistência à flexão. Em todas as análises
realizadas, os grampos foram considerados livres (GR-Livre) por fornecerem
maiores valores de deslocamentos (Springer, 2001). A parede foi representada
por elementos de viga, que apresentam resistência à flexão.
Os parâmetros geomecânicos empregados em todas as análises estão
explícitos na Tabela 30.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Tabela 30 - Propriedades geomecânicas.


Grampo Parede Solo
σaço Eaço Ginjeção qs Eparede hparede Esolo ν γ c’ φ’ ψ k0
3
MPa MPa GPa kPa GPa cm MPa KN/m kPa graus graus
500 205 9,0 150 24 10 72 0,15 18 20 20 0 0,55
σaço=tensão de escoamento do aço, E=módulo de Young, G=módulo cisalhante, qs=resistência ao
arrancamento do grampo, hparede=espessura da parede, ν=coeficiente de Poisson, γ=peso
específico natural, c'=coesão efetiva, φ'=ângulo de atrito, ψ=ângulo de dilatância, ko=coeficiente de
empuxo no repouso.

Com base nas características das obras em solo grampeado, revisadas


no Capítulo II, a Tabela 31 apresenta os parâmetros empregados nas análises.
Em todos os casos estudados, foram variados o espaçamento horizontal (Sh) e
vertical (Sv), entre grampos, além do comprimento total dos grampos (L).
A Tabela 32 mostra os resultados de deslocamentos horizontais no topo
(δt) e na base (δb), na face da escavação. Nesta tabela também apresentam-se o
ângulo médio de rotação (θ) da face da escavação, definido pela equação (21).

 (δ − δ b ) 
θ = arctg t  eq.(21)
 H 
Os valores positivos de deslocamentos indicam uma movimentação da
parede para dentro da escavação (Figura 86).
159

Tabela 31 - Parâmetros empregados nas análises


Altura final da escavação (H)
Parâmetro geométrico
5m 10m
1,0m
1,0m
1,5m
Espaçamento horizontal (Sh) e 1,5m
2,0m
vertical (Sv) entre os grampos 2,0m
3,0m
3,0m
4,0m
3,5m
Comprimento 4,0m 6,0m
dos grampos (L) 6,0m 12,0m
12,0m
1,0m
1,5m
Altura correspondente a
2,0m
cada etapa de escavação (Hescav.)
3,0m
4,0m
Diâmetro do grampo (φaço) 25mm
Diâmetro do furo (φfuro) 100mm
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

O sinal positivo do ângulo θ indica uma rotação no sentido horário


conforme mostra a Figura 86.

Tabela 32 - Comportamento da face de escavação


H (m) L (m) Sv (m) Sv/L (%) δt (mm) δb (mm) θ (graus) δt (%H)
5 4 1,0 25 7,0011 3,152 0,0441 0,140
5 4 1,5 38 6,968 2,824 0,0474 0,139
5 4 2,0 50 7,008 3,013 0,0457 0,140
5 3,5 1,0 29 6,96 3,19 0,0432 0,139
5 3,5 1,5 43 6,967 2,822 0,0474 0,139
5 6 1,5 25 7,016 2,857 0,0476 0,140
5 6 2,0 33 7,038 3,017 0,0460 0,141
5 12 3,0 25 6,961 2,759 0,0481 0,139
5 12 4,0 33 7,028 2,677 0,0498 0,141
10 6 1,0 17 3,356 -1,942 0,0303 0,034
10 6 1,5 25 2,751 -4,866 0,0436 0,028
10 6 2,0 33 -119,7 -145,3 -0,146 -1,197
10 12 1,0 8 5,016 -1,26 0,0359 0,050
10 12 1,5 13 4,443 -4,12 0,0490 0,044
10 12 2,0 17 3,204 -7,521 0,061 0,032
10 12 3,0 25 -13,2 -67,45 -0,310 -0,132
160

δt e δb < 0 δt e δb > 0

θ>0

Figura 86 - Convenção de sinais empregada nos estudos realizados


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Para escavações com H=5m, os deslocamentos horizontais no topo e


base são positivos, indicando uma movimentação contrária à região escavada (θ
positivo). A Figura 87 mostra um perfil típico dos deslocamentos horizontais no
topo da escavação. Este comportamento da parede pode ser atribuído a 3
fatores: i) influência das condições de contorno na proximidade da escavação; ii)
rigidez do conjunto solo-grampo; iii) rigidez da parede. Quando a largura da base
(Be, Figura 85) é pequena (Be<H), os resultados numéricos mostram um perfil
de deslocamento o qual seria esperado para este tipo de estrutura; isto é,
maiores deslocamentos horizontais ocorrendo no topo e parede movendo-se na
direção da escavação. Quando a largura da base da escavação é grande, a
restrição dos deslocamentos horizontais imposta pelo contorno lateral na base
está muito afastada da região escavada.
Face a estas condições, observa-se uma rotação global, no sentido
horário, de toda massa de solo envolvendo a região reforçada. Esta
movimentação se acentua com o aumento da profundidade de escavação. Nas
análises com escavações de 10m, o deslocamento no topo é positivo enquanto
que o da base é negativo, caracterizando claramente uma rotação do bloco solo-
grampo. A distância da base da escavação ao limite inferior da malha (D, Figura
85) tem influência semelhante. Acredita-se, ainda, que a rigidez da parede
também contribua para o comportamento do conjunto solo-grampo como um
monolito.
161

δ t (mm)
-5,0 0,0 5,0 10,0
0

-10

-20
Profundidade (m)

-30

-40
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

-50

H=5m; L=6m;Sv=1.5m -60

Figura 87 - Movimentação da massa reforçada contrária à região escavada

No caso de escavações de 5m de profundidade, os resultados de


deslocamento no topo, mostrados na Figura 88, indicam que para L/H ≥ 0,7 não
há interferência da densidade de grampos na escavação. Ressalta-se, ainda,
que nestas análises, a relação entre espaçamento e comprimento de grampo
(Sv/L) variou entre 25% e 50%, ultrapassando o valor máximo de Sv/L=25%,
recomendado por Gerscovich et al. (2002).
Já para escavações de 10m de profundidade (Figura 89), os
deslocamentos no topo, relativos à condição de L/H ≥ 0,7 (L=12m), indicam
interferência do espaçamento entre grampos quando este é superior a 2m
(Sv/L>16,7%). Para espaçamentos de 3m (Sv/L=25%) observa-se um
incremento nos deslocamentos de 16mm (0,16%H), associado a uma mudança
no padrão de deslocamentos horizontais. Nesta configuração, a parede passa a
se deslocar em direção à escavação. A magnitude final deste deslocamento
(igual a -13,2mm) é relativamente baixa e inferior ao limite de 0,3% relatado na
literatura. No entanto, deve-se enfatizar que a modelagem numérica implica
numa pré-definição de condições geométricas (contorno, discretização da malha)
162

que afetam diretamente o valor final dos deslocamentos. Espaçamentos maiores


que 3m resultaram no colapso da estrutura.

8,0

7,5
(mm)

7,0
T

6,5

6,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Sv (m)
H=5m; L=3.5m H=5m; L=4m H=5m; L=6m H=5m; L=12m

Figura 88 - Deslocamento horizontal em função de Sv (H=5m)


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

20
0
-20
-40
(mm)

-60
-80
T

H=10m; L=6m
-100
H=10m; L=12m
-120
-140
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Sv (m)

Figura 89 - Deslocamento horizontal em função de Sv (H=10m)

Ainda na Figura 89, para grampos de 6m de comprimento (H=10m, L/H <


0,7) a influência do espaçamento é observada quando este é superior a 1,5m
(Sv/L>25%). A partir desta condição, Sv=2m, ocorre o desenvolvimento de uma
região de plastificação contínua, caracterizando uma condição de ruptura.
Na Figura 90, estão apresentados os ângulos médios de rotação (θ) da
face da escavação para todos os casos analisados. Nesta figura, estão também
163

plotados os limites de ângulos de rotação associados aos deslocamentos


horizontais no topo iguais a 0,1%H e 0,3%H. Com exceção de dois resultados
correspondentes a H=10m, o ângulo de rotação se mostrou independente das
condições geométricas (H, Sv, L, Hescav) e apresentou um valor equivalente a um
deslocamento horizontal de 0,1%H no topo. Ressalta-se que este valor não deve
ser interpretado como representativo do deslocamento horizontal previsto no
topo, já que a base da parede também se desloca. Na Tabela 32 estão
apresentados os valores de deslocamento horizontal no topo, calculados em
função da altura da escavação, os quais são da ordem de 0,15%H (H=5m) e
0,04%H (H=10m).

0,2

0,1
θ≡0,10%H

0,0
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

θ(graus)

-0,1

-0,2 θ≡-0,30%H

-0,3

-0,4
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Sv (m)
H=10m; L=6m H=10m; L=12m H=5m; L=3.5m
H=5m; L=4m H=5m; L=6m H=5m; L=12m

Figura 90 - Ângulos de rotação da face da escavação para todos os casos analisados

Ainda na Figura 90, dois pontos se destacam nos resultados para altura
de escavação de 10m: L=6m e Sv=2,0m; L=12m e Sv=3,0m. Estes pontos
mostram rotação significativa da parede na direção da escavação. No caso de
H=10m, L=12m e Sv=3,0m, a rotação de 0,31o corresponde a um deslocamento
no topo de 0,54%H (54mm), enquanto que o valor estimado foi de somente
0,13%H (Tabela 32). Esta diferença, já atribuída à rotação global do conjunto
solo-grampo, não deve ser ignorada quando se avalia a deformabilidade de
estruturas grampeadas. Na prática, as análises concentram-se nos
deslocamentos no topo, admitindo que a rotação da parede ocorra com
deslocamento nulo no pé (δb=0).
164

4.5.1.
Comprimento de grampo variável

Estudos adicionais foram feitos para avaliar a influência da utilização de


grampos de comprimento variável no deslocamento da parede. As análises
foram feitas considerando grampos de 12m de comprimento no trecho inicial de
escavação, seguidos de grampos de 6m. Os resultados, apresentados na Tabela
33, mostram o deslocamento horizontal no topo calculado para uma escavação
de 10m, para espaçamentos de 1,0 e 1,5m. Observa-se que, no caso de
grampos de L=12m, a utilização de uma configuração variável não causa
praticamente nenhuma alteração nos deslocamentos da parede.

Tabela 33 - Comportamento da face de escavação para valores de L fixo ou variável


Sv (m) L (m) δt (%H) δb (%H) θ (graus) Configuração

1,0 6 0,07 0,03 0,03 10 grampos de 6m


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

5 grampos de 12m/
1,0 var. 0,05 0,03 0,04
5 grampos de 6m

1,0 12 0,05 0,03 0,04 10 grampos de 12m

1,5 6 0,03 0,05 0,04 10 grampos de 6m

4 grampos de 12m/
1,5 var. 0,05 0,06 0,06
3 grampos de 6m

1,5 12 0,05 0,04 0,05 10 grampos de 12m

A adoção de uma configuração variável de comprimento de grampo,


apresenta-se como uma alternativa técnica e economicamente recomendada e
já tem sido utilizada em alguns casos. Dado ao caráter preliminar do estudo ora
apresentado, recomenda-se que outras configurações de grampo, geometria de
escavação e materiais sejam avaliadas com mais detalhes.
5.
Conclusões e sugestões

Os estudos aqui apresentados buscaram esclarecer uma série de


questões envolvendo a técnica de estabilização de taludes em solo-grampeado.
Uma avaliação do comportamento tensão-deformação de escavações
grampeadas foi realizado através de modelagem computacional. Procurou-se
compreender a influência dos parâmetros mais relevantes na modelagem do
comportamento de escavações grampeadas em solo residual do Estado do Rio
de Janeiro.
As principais conclusões resultantes das análises realizadas são:

Inclinação do talude em contenções com solo grampeado:


A influência da inclinação do talude é significativa nos deslocamentos
horizontais, os quais crescem de magnitude à medida que o talude torna-se mais
íngreme. A execução de escavações com taludes ligeiramente inclinados reduz
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

significativamente a magnitude dos deslocamentos no topo. Esta redução chega


a 75% quando se passa de uma escavação vertical (β=90o) para uma inclinação
de β=80o. Adicionalmente, a forma dos deslocamentos também é afetada;
deslocamentos máximos no topo da escavação só são observados em taludes
com β=90o. Para pontos abaixo da base da escavação, a inclinação do talude
afeta pouco os deslocamentos horizontais.
Estudos de recalques superficiais demonstram que a magnitude destes
deslocamentos é diretamente proporcional à observada em termos de
deslocamentos horizontal. Em taludes verticais, por exemplo, o elevado
deslocamento horizontal em direção à escavação acarreta deslocamentos
verticais também significativos. Os valores de recalque superficial independem
de β a partir de uma distância de aproximadamente 2H do topo da parede
vertical. A partir desta posição, os recalques superficiais já são menos
expressivos e sofrem influência reduzida da inclinação β.
Com relação à base da escavação, observou-se de um modo geral, um
processo de elevação de fundo pouco sensível à inclinação da parede. Em
pontos próximos à base da escavação, valores mais elevados de recalques
superficiais foram relatados em taludes verticais. A partir da distância de 0,5m da
base da escavação, os deslocamentos verticais independem da inclinação do
talude, e são aproximadamente constantes, variando entre 0,23%H e 0,30%H.
166

Os esforços axiais máximos de tração para L/H=0,57 (última etapa de


escavação), são maiores em taludes mais próximos da vertical. Os resultados
indicam que os grampos mais próximos à superfície contribuem menos na
contenção do solo do que os grampos inferiores. Para profundidades de
escavação maiores, a mobilização da primeira linha de grampos é acentuada,
em particular para as inclinações de 80o e 90o. Em taludes com 60o e 700 de
inclinação, não há um aumento considerável dos esforços axiais nos grampos
durante todo o processo de escavação.

Estabilização de escavações com grampos e tirantes:


Uma solução de contenção em estrutura mista (solo grampeado+tirantes)
pode ser útil quando se deve reduzir os deslocamentos em determinados pontos
da escavação. Esta redução é obtida através da instalação de tirantes nesses
locais.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Número de etapas de escavação:


O número de estágios de escavação apresenta grande influência nos
deslocamentos da parede em estruturas de contenção com grampos e tirantes.
As escavações em etapas, mais usuais na prática da engenharia geotécnica,
forneceram valores maiores de deslocamento no topo da estrutura.

Espessura da parede:
Resultados apresentados mostram a influência da rigidez da parede nos
deslocamentos horizontais na face da escavação. Paredes com espessura de
10cm e 20cm apresentam valores similares de deslocamentos. O mesmo pode
ser observado para os casos de estruturas sem revestimento ou com paredes de
espessura reduzida.

Influência dos contornos laterais:


A influência das condições de contorno em modelagem de escavações
grampeadas é bastante significativa. As análises indicam que uma relação de
Be/H ≥ 4 pode ser utilizada em problemas de escavações com solo grampeado
utilizando o programa FLAC. A partir desta relação, a variação dos
deslocamentos horizontais na face da escavação torna-se desprezível para
qualquer condição de contorno lateral direito imposta (Figura 82). Com relação à
influência do contorno lateral esquerdo, a geometria estudada demonstra ser
167

aceitável no caso de escavações que apresentam certa simetria. Em outras


situações, o contorno lateral esquerdo deve ser afastado o suficiente da região
da escavação, de modo a não interferir nos resultados.

Influência da forma de modelagem da parede:


A parede modelada como material 2D perfeitamente elástico e isotrópico
indica um padrão de deslocamento semelhante ao de um corpo rígido quando
adotado um valor do módulo de Young da parede (Eparede=50GPa),
correspondente ao módulo do concreto. Para valores reduzidos do módulo de
Young (com rigidez equivalente àquela apresentada pelo elemento de viga), a
estrutura exibe um perfil de deslocamento horizontal semelhante ao fornecido
por elementos de viga, tendo sido registrados, em toda escavação, menores
valores de deslocamento.
Como resultado destas análises, verifica-se que o tipo de modelagem da
parede resulta em diferentes padrões de deslocamento. Sugere-se, neste caso,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

que a parede seja modelada com elementos de viga em análises numéricas de


escavações grampeadas.

Escavações grampeadas em solo residual:


No caso de escavações de 5m de profundidade, os resultados de
deslocamento no topo indicam que para L/H≥0,7 não há interferência da
densidade de grampos na escavação para o solo estudado. Ressalta-se, ainda,
que, nestas análises, a relação entre espaçamento e comprimento de grampo
(Sv/L) variou entre 25% e 50%.
Para escavações de 10m de profundidade, os deslocamentos no topo,
relativos à condição de L/H≥0,7 (L=12m), indicam interferência do espaçamento
entre grampos quando este é superior a 2m (Sv/L>16,7%). Para espaçamentos
de 3m (Sv/L=25%) observa-se uma mudança no padrão de deslocamentos
horizontais em função das condições geométricas (contorno, discretização da
malha), que afetam diretamente o valor final dos deslocamentos. Espaçamentos
maiores que 3m resultaram no colapso da escavação grampeada. Para grampos
de 6m de comprimento (L/H<0,7), a influência do espaçamento é observada
quando este é superior a 1,5m (Sv/L>25%). A partir desta condição (Sv=2m)
ocorre o desenvolvimento de uma região plastificação contínua, caracterizando
uma condição de ruptura.
168

Para escavações de baixa altura (H≤5m), a relação de L/H≥0,7 e


Sv/L≤50% pode ser usada como critério de projeto para escavações em solos
residuais gnáissicos jovens, típicos do Rio de Janeiro. Para escavações maiores,
a relação Sv/L máxima deve ser reduzida para 25%.
O ângulo médio de rotação da face (θ), relacionado à rotação global do
conjunto solo-grampo, mostrou-se ser um parâmetro de projeto importante, não
devendo ser ignorado ao se avaliar a deformabilidade de taludes grampeados.
Na prática, as análises concentram-se nos deslocamentos no topo, admitindo
que a rotação da parede ocorra com deslocamento nulo na base da escavação.
A adoção de uma configuração variável de comprimento de grampo,
apresenta-se como uma alternativa técnica e economicamente recomendada.

Sugestões:
Como sugestões para novas pesquisas, são citados alguns estudos
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

importantes:
• Estabelecer critérios de distância para o contorno em escavações
grampeadas que não apresentam uma condição de simetria (ex.: casos
em taludes naturais, vales muito largos);
• Estudar o comportamento tensão-deformação de contenções em solo
grampeado que envolvam outros tipos de solos, com o objetivo de se
correlacionar critérios de projetos L/H e Sv/L para diversos solos;
• Detalhar a influência de diversas configurações de comprimento de
grampo no estudo da deformabilidade da massa de solo grampeado;
• Comparar medições de escavações instrumentadas (caso real) com
previsões usando o programa FLAC;
• Implementar estudos tensão x deformação de escavações
grampeadas em três dimensões (3D);
6.
Referências bibliográficas

ABMS/ABEF. Fundações Teoria e Prática, 2a edição, editora PINI, 1999,


São Paulo, 750p.

ABRAMENTO, M. Analysis and measurement of stress in planar soil


reinforcements, ABMS, Solos e Rochas, 1995. No 18(1), pp.3-17.

ABRAMSON, L. W. et al. Slope stability and stabilization methods,


John Wiley & Sons Inc., 1996, pp. 477-488.

ALEIXO, M. S. Comportamento tensão-deformação de solos residuais


no equipamento triaxial, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1998, Rio
de Janeiro, 110p.

ALSTON, C.; CROWE, R. E. Design and construction of two low


retaining wall systems retained by soil nail anchors, Transportation
Research Record, 1993. No 1414, 49p.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

ANDRADE, M. H. de N. Retroanálise do escorregamento da encosta


do Cactáreo, Jardim Botânico: mecanismos de ruptura, Dissertação
de Mestrado, PUC-Rio, 1990. Rio de Janeiro, 184p.

ANTHOINE, A. Une méthode pour le dimensionnement à la rupture


des ouvrages en sols renforcés, Revue Française de Géothechnique,
(50): 1990. pp. 5-17.

AZAMBUJA, E.; STRAUSS M.; SILVEIRA F. G. Caso histórico de um


sistema de contenção em solo grampeado em Porto Alegre, RS, III
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), 2001.
Rio de Janeiro, pp. 435-443.

BARLEY, A. D. Soil nailing case histories and developments,


Proceedings of the Conference on Retaining Structures, Thomas Telford,
1993. London, pp. 559-573.

BASTICK, M. J. Soil nailing and reinforced earth, Performance of


Reinforced Soil Structures, Proceedings of the International Reinforced
Soil Conference, British Geotechnical Society, 1990. pp. 255-259.

BORJA, R. I. et al. Modeling strain localization in soil - Nailed


excavations. Proc. XI Congresso Panamericano de Mecânica dos Solos
e Engenharia de Fundações, 1999. Foz do Iguaçu, Brasil, pp. 1353-1358.

BRANDT, J. R. T. Utilização de um novo pressiômetro para


determinação do comportamento elástico de solos residuais
gnaissicos jovens e de estratos do terciário Paulista, Dissertação de
Mestrado, PUC-Rio, 1978. Rio de Janeiro, 243p.
170

BRIAUD, J. L.; LIM, Y. Soil – nailed wall under piled bridge abutment:
simulation and guidelines, Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, 1997. pp. 1043-1050.

BRIDLE, R. J. Soil nailing – analysis and design, Ground Engineering,


September 1989, pp. 52-56.

___ . BARR, B. I. G. The analysis and design of soil nails, State of the
art report, Proceedings of the International Reinforced Soil Conference.
Performance of Reinforced Soil Structures, British Geotechnical Society,
edited by A. McGown, K. C. Yeo and K. Z. Andrawes, 1990. London, pp.
249-254.

BRITO, A. T. A. Estudo químico e mineralógico de um perfil de


alteração de gnaisse migmatitico do campo experimental da PUC-
Rio, Gávea, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1980. Rio de Janeiro,
286p.

BRUCE, D. A.; JEWELL, R. A. Soil nailing : application and practice –


part I, Ground Engineering, 1986. 19(8), pp. 10-15.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

___ . ___ Soil nailing : application and practice – part II, Ground
Engineering, 1987. 20(1), pp. 21-33.

CALIENDO, J. A. et al. Finite Element Analysis of a Soil Nailed Wall.


Proc. X Congresso Panamericano de Mecânica dos Solos e Engenharia
de Fundações, 1995. pp. 806-818.

CARDOSO, A. S.; CARRETO, A. P. Performance and analysis of a


nailed excavation, Proceedings of the Twelfth International Conference
on Soil Mechanics and Foundation Engineering, 1989. v.2, Rio de Janeiro,
pp. 1233-1236.

___ . FERNANDES, M. M. Some considerations about the failure


mechanism of nailed walls during the contruction, Applications of
Computational Mechanics in Geothecnical Engineering, Balkema, 1994.
Rotterdam, pp. 275-285.

___ . GONÇALVES, M. Behavior of excavations supported by nailing,


Applications of Computational Mechanics in Geotechnical Engineering,
Balkema, 1997. Rotterdam, pp. 281-291.

CARPIO, G. W. T. Ensaios triaxiais cúbicos e axi-simétricos em argila


normalmente adensada. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1990. Rio
de Janeiro, 156p.

CHAMMAS, R. Estudo da estabilidade de um talude natural de solo


residual migmatítico da rodovia RJ-20. Dissertação de Mestrado, PUC-
Rio, 1976. Rio de Janeiro, 98p.
171

CHOUKEIR, M.; JURAN, I.; HANNA, S. Seismic design of reinforced-


earth and soil nailed structures, Ground Improvement, 1997. v. 1, no 4,
pp. 223-238.

CLOUTERRE. Recomendations Clouterre 1991 – Soil nailing


recommendations for designing, calculating, constructing and
inspecting earth support systems using soil nailing, French National
Project Clouterre, English Language Translation, 1991. 302p.

DAYLAC R. Desenvolvimento e utilização de uma célula para


medição de ko com controle de sucção, Dissertação de Mestrado, PUC-
Rio, 1994. Rio de Janeiro, 152p.

de CAMPOS, T. M. P. Resistência ao cisalhamento de solos residuais


micáceos, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1974. Rio de Janeiro,
116p.

DELGADO, C. W. C. Resistência ao cisalhamento de solos


coluvionares e residuais não saturados da vista chinesa, RJ,
Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1993. Rio de Janeiro, 159p.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

DIAS, P. H. V. Solo pregado – procedimento sugestão de norma,


Anais 1a COBRAE, Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas, ABMS, 1992. v. 1, Rio de Janeiro, pp. 75-80.

DRINGENBERG, G.; CRAIZER, W. Estabilidade de taludes por


pregagem: projeto-execução, I Conf. Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas (COBRAE), 1992, Rio de Janeiro, pp. 853-864.

DYMINSKI, A. S. Análise de estabilidade e desempenho de taludes


com inclusões passivas, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1994. Rio
de Janeiro, 79p.

___ . BUENO, E. M. R.; KAEFER, L. F. Desenvolvimento de programa


computacional com interface gráfica para análise da estabilidade de
taludes pregados, Anais do Simpósio de Informática em Geotecnia,
INFOGEO 96, Associação Brasileira de Mecânica dos Solos, Núcleo
Regional de São Paulo, 1996. v. 1, pp.45-52.

___ . ROMANEL, C.; ROCHA FILHO, P. Avaliação dos procedimentos


de análise de estabilidade de taludes pregados, X COBRAMSEF,
1994. Foz do Iguaçu, pp. 804-809.

EHRLICH, M.; ALMEIDA, M. S. S.; LIMA, A. M. Parametric numerical


analyses of soil nailing systems, Earth Reiforcement, Balkema, 1996.
Rotterdam, pp. 747-752.

___ . SILVA, L. F. M. da. Sistema de contenção de solos reforçados,


Anais da I COBRAE, Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas, ABMS, 1992. Rio de Janeiro, pp. 35-45.
172

ELIAS, V.; JURAN, I. Preliminary draft - Manual of practice for soil


nailing, Prepared for the U.S. Dept. of Transp, Federal Highway
Administration, Contract DTFH-61-85-C-00142, 1990.

FALCONI, F. F.; ALONSO, U. R. Considerações sobre o


dimensionamento de uma estrutura de contenção em solo
grampeado, SEFE III, 1996. São Paulo, pp. 301-308.

___ . ALONSO, U. R. Controle da qualidade em estruturas de solo


grampeado, 2nd. Pan-Am. Symp. Landslides, 2nd. COBRAE, 1997. Rio
de Janeiro, pp. 613-618.

FEIJÓ, R. L.; ERHLICH, M. Resultados de ensaios de arrancamento


em grampos injetados em dois pontos do Município do Rio de
Janeiro, III Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas
(COBRAE), 2001. Rio de Janeiro, pp. 517-524.

FONSECA E. C. Ensaio de cisalhamento direto com sucção


controlada em solos não-saturados, Dissertação de Mestrado, PUC-
Rio, 1991. Rio de Janeiro, 173p.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

FONTES, A. E. B. Ensaios de campo e laboratório no retro-aterro do


muro experimental de pneus, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1997.
Rio de Janeiro, 134p.

FREDLUND, D. G.; RAHARDJO H. Soil Mechanics for Unsatured Soils,


John Wiley & Sons Inc., 1993. New York, 560 p.

GÄSSLER, G. Soil nailing – theoretical basis and practical design,


Proc. lnt. Geot. Symp. on Theory and Practice of Earth Reinforcement,
Fukuoka Kyushu, Japan, A. A. Balkema, 1988. pp. 283-288.

___ . In situ techniques of reinforced soil, Proceedings of the


International Reinforced Soil Conference. Performance of Reinforced Soil
Structures, British Geotechnical Society, edited by A. McGown, K. C. Yeo
and K. Z. Andrawes, 1990. London, pp. 185-200.

___ . German practice of soil nailing, Transportation Research Board,


70th Annual Meeting, Session 138, 1991. Washington, DC, 35p.

___ . Full scale test on a nailed wall in consolidated clay, C. R. Symp.


lnt. Earth Reinforcement Practice, Fukuoka, Japan, 1992. v.1, pp. 475-
480.

___ . The first two field tests in the history of soil nailing on nailed
walls pushed to failure. Civil Engineering European Courses,
Renforcement des sols: experiméntations en vraie des annés 80, 1993.
Paris, France, pp. 7-34.
173

___ . GUDEHUS, G. Soil nailing – some aspects of a new technique,


Proceedings of the 10th International Conference on Soil Mechanics and
Foundation Engineering, Stockholm, 1981. v.3, Session 12, pp. 665-670.

___ . ___ . Soil nailing – statical design, Proc. 8th Eur. Conf. Soil Mech.
and Found. Eng, Helsinki, 1983. v. 2, pp. 491-494.

GERSCOVICH, D. M. S. Fluxo em meios porosos saturados - não


saturados : modelagem numérica com aplicações ao estudo da
estabilidade de encostas do Rio de Janeiro, Tese de Doutorado, PUC-
Rio, 1994. Rio de Janeiro, 244p.

GERSCOVICH D. M. S. et al. Deformabilidade de Escavações com


Solo Pregado, 8o Congresso Português de Geotecnia, Lisboa, 2002, v.3,
pp.1579-1588.

GOTLIEB, M.; ALONSO, U. R. Estabilização de um talude sem alterar a


estética. Ground Engineering, 1997. 19(8), pp. 10-15.

GUIMARÃES FILHO, J. D. O alívio controlado de tensões na técnica


de solo grampeado, Solos e Rochas, ABMS, 1994. 17(3) : pp.195-201.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

HALL, G. J. The joint use of ballistic soil nailing and reforced soil in
Huddersfield, The Practice of Soil Reinforcing in Europe, Thomas Telford,
1995. London, pp. 227-240.

HETTLER, A.; SCHWING, E. Scatter of nail forces in soil nailing,


Proceedings of the Twelfth International Conference on Soil Mechanics
and Foundation Engineering, v. 2, 1989. Rio de Janeiro, pp. 1253-1255.

INGOLD, T. S. An application of ballistic soil nailing, The Practice of


Soil Reinforcing in Europe, Thomas Telford, 1995. London.

___ . Draft european standard – Execution of special geotechnical


work / Soil nailing. CEN technical committee 288, working group 9,
reinforced soil,2000. UK, 46p.

ITASCA. FLAC Fast Lagrangian Analysis of Continua), version 3.3,


User Manual, Itasca Consulting Group Inc., Minneapolis, 1996.
Minnesota, USA, 4V.

JAKY, J. The coefficient of earth pressure at rest, Journal of the Society


of Hungarian Architects and Engineers, Budapest, 1944. pp. 355-358.

JEWELL, R. A.; PEDLEY, M. J. Soil nailing : the role of bending


stiffness, Ground Engineering, 1990a. pp. 30-36.

___ . ___ . Soil nailing: the role of bending stiffness, Author’s reply to
discussion by Bridle and Barr, Ground Engineering, July-August 1990b.
pp. 32-33.
174

___ . ___ . A large scale experimental study of soilreinforced


interaction, Part 1, Ground Engineering, JuIy-August, 1990c. pp. 44-50.

___ . ___ . A large scale experimental study of soilreinforced


interaction, Part 2, Ground Engineering, 1990d. pp. 45-49.

JIMÉNEZ, H. R. G. Análise do campo de deslocamentos para


estabilidade de taludes de grande altura em mineração, Dissertação
de Mestrado, PUC-Rio, 1999. Rio de Janeiro, 96p.

JONES, C. J. F. P. Earth reiforcement and soil structures, Butterworths


Adavanced Series in Geotechnical Engineering, 1998, 192 p.

JURAN, I. et al. Kinematical limit analysis for soil nailed structures,


Journal of Geotechnical Engineering Div., ASCE, v. 116 , no 01, 1988. pp.
54-72.

JURAN, I. et al. Design of soil nailed retaining structures, ASCE Conf.


on Design and Performance of Earth Retaining Structures, Cornell
University, Ithaca, NY, Geotechnical Special Publication no.25, 1990, pp.
644-659.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

JURAN, I.; ELIAS, V. Behavior and working stress design of soil


nailed retaining structures, Proceedings of the International Reinforced
Soil Conference. Performance of Reinforced Soil Structures, British
Geotechnical Society, edited by A. McGown, K. C. Yeo and K. Z.
Andrawes, 1990. London, pp. 207-212.

KIRSTEN, H. A. D. Limiting equilibrium, closed-form elastic, and


numerical plastic analyses of stability of earth walI reinforced with
grouted rebar nails and cable anchors, Canadian Geotechnical Journal,
29, 1991. pp. 288-298.

___ . DELL, A. G. Application of empirical performance criteria and


limiting equilibrium principles in design of earth wall reinforced with
grouted rebar nails and cable anchors, Canadian Geotechnical Journal,
29, 1991. pp. 299-308.

KRAHN, J. Stability Analysis of a nailed wall using sigma / W


computed stresses. Geo-Slope international ltda. 2001a, 9p.

___ . Stability Analysis of a nailed wall using slope / W. Geo-Slope


international ltda. 2001b, 9p.

LACERDA, W. A.; ALMEIDA, M. S. S. Engineering properties of


regional soils: residual soils and soft clays, Proc. X Congresso
Panamericano de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, 1995.
Guadlajara, v. 04, pp. 133-187.

___ . et al. Compressibility properties of lateritic and saprolitic soils,


Tropical’s 85, ABMS, 1985. Brasília, pp. 37-65.
175

LIMA, A. M. L. de. Análise numérica do comportamento de solos


grampeados, Dissertação de Mestrado, COPPE-UFRJ, 1996. Rio de
Janeiro, 85p.

LIMA FILHO, S. C. P. Solo Grampeado – Aplicações práticas para


projeto, trabalho não publicado, 2000. UFF.

LONG, J. H. et al. StabiIity analysis of soil nailed walls, Proc. ASCE


Conf. on Design and Performance of Earth Retaining Structures, Cornell
University, 1987. Ithaca, NY, Geotechnical Special Publication No 25, pp.
676-691.

LORIG, L. J. Analysis of novel retaining structures using explicit finite


difference codes, Computer Methods and Advances in Geomechanics,
Rotterdam: A.A. Balkema, 1991. pp. 157-164.

LOVE, J. P. Reinforced soil and soil nailing for slopes – Advice Note
HA68/94, The practice of soil reinforced in Europe, Thomas Telford, 1995.
London, pp. 44-53.

MACCARINI, M. Ensaios triaxiais e de cisalhamento direto no solo


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

residual gnáissico jovem do campo experimental da PUC-Rio,


Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1980. Rio de Janeiro, 254p.

MARINHO, F. A. M. Características de deformabilidade do solo


residual do campo experimental II da PUC/Rio obtidas a partir de
ensaios triaxiais axissimétricos, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio,
1986. Rio de Janeiro, 188p.

MAYNE, P. W.; KULHAWY, F. H. ko - OCR relationship in soil, Journal


of Geotechnical Engineering Div., ASCE, v. 106 , GT11, 1982. pp. 1219-
1242.

MILOVIC, D. M. Effect of sampling on some soil characteristics –


sampling of soil and rock, ASTM STP483, American Society for Testing
and Materials, 1971, pp. 194-179.

MIRANDA, A. N. de. Estudo estatístico das propriedades dos solos


residuais de gnaisse das encostas da Guanabara, Dissertação de
Mestrado, PUC-Rio, 1973. Rio de Janeiro, 42p.

MITCHELL, J. K. Reinforcement for earthwork construction and


ground stabilization / Refuerzo para construcción de obras en tierra y
estabilización del terreno, VIII Congresso Panamericano de Mecanica
de Suelos e Ingenieira de Fundaciones,1987, Cartagena, Colombia, v. 01,
pp. 349-380.

___ . VILLET, W. C. B. (Editors). Reinforcement of earth slopes and


embankents, NCHRP Report 290, USA Transportation Research Board,
National Research Council, 1987. Washington D.C, USA, 323p.
176

MYLES, B. A rapid technique for soil nailing slopes, The Practice of


Soil Reinforcing in Europe, Thomas Telford, 1995. London.

OLIVEIRA, C. P. de. Estudo do comportamento tensão-deformação-


resistência de um solo de biotita gnaisse saturado. Dissertação de
Mestrado, PUC-Rio, 2000. Rio de Janeiro, 114p.

ORTIGÃO, J. A. R. Ensaios de arrancamento para projetos de solo


grampeado, Nota técnica, Solos; Rochas, ABMS, 1997. v. 20:1, pp.39-43.

___ . PALMEIRA, E. M. Solo Grampeado: Técnica para estabilização


de encostas e escavações, I COBRAE, Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encostas, ABMS, 1992. v. 1, Rio de Janeiro, pp. 57-74.

___ . SAYÃO, A. S. F. J. Manual técnico de encostas. GeoRio, 1999, v.


IV, 184p.

___ . PALMEIRA, E. M.; ZIRLIS, A. Experience with soil nailing in


Brazil: 1970-1994, Proceedings of the Institution of Civil Engineers,
Geotechnical Engineering, London, 1992. v. 113, paper n0 10584, pp. 93-
106.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

___ . PALMEIRA, E. M.; ZIRLIS, A. Experiência com solo grampeado


no Brasil: 1970-1993 Solos e Rochas, 1993. v. 16 no. 4, pp. 291-304.

___ . ___ . ___ . Optimised design for soil nailed walls, Proceedings of
3rd lnt. Conf. On Ground lmprovement Geosystems, London, T Telford,
1997. pp. 368-374.

ORTIGÃO, J. A. R. et al. Rstabl: a program for stability analysis of


reinforced soil slopes Proc. Symp. on Geosynthetics, Geosintéticos 95,
1995. São Paulo, pp. 363-371.

PALMEIRA, E. M. I Mesa Redonda – Melhoria e reforço de solos, X


Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações,
volume pós-congresso, 1994. pp. 253-267.

PINTO, C. P.; SILVEIRA, J. da. Projeto e execução de contenções na


Linha Amarela - RJ, 3a Conferência Brasileira sobre Estabilidade de
Encostas (COBRAE), 2001. Rio de Janeiro, pp. 531-538.

PINTO, C. S.; NADER, J. J. Ensaios de laboratório em solos residuais,


2o Seminário de Engenharia de Fundações Especiais, São Paulo, 1991.
Anais, v. 2, pp. 166-202.

PLUMELLE, C. Full scale experimental nailed soil retaining


structures, Revue Française de Geotechnique 1986. nº 40, pp. 45-50.

___ . et al. French national research project on soil nailing:


CLOUTERRE, ASCE Conf. on Design and Performance of Earth
177

Retaining Structures, Cornell University, lthaca, NY, Geotechnical Special


Publication, 1990. no 25, pp. 660-675.

PONTES FILHO, I. D. S. Análise da escavação experimental de


Sarapuí. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1981. Rio de Janeiro, 246p.

POWELL G. E.; WATKINS, A. T. Improvement of marginally stable


existing slopes by soil nailing in Hong Kong, State of the art report,
Proceedings of the International Reinforced Soil Conference, September
1990. Performance of Reinforced Soil Structures, British Geotechnical
Society, edited by A. McGown, K. C. Yeo and K. Z. Andrawes. London, pp.
241-247.

PURDUE UNIVERSITY. STABL for Windows, Version 1.14, User’s


Manual, Geotechnical Software Solutions, LLC, 2000. USA, 18p.

REIS, J. M.; COSTA, A. F. Algumas soluções de estabilização e


proteção de taludes no metrô, 3a Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encostas (COBRAE), 2001. Rio de Janeiro, pp. 539-545.

RICHARDSON, C. H. An Introduction to the calculus of finite


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

differences. D. Von Nostrand Company, Inc., 1954. 141p.

SANDRONI, S. S. Resistência ao cisalhamento dos solos residuais,


Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1973. Rio de Janeiro, 56p.

___ . Stress relief effects in gneissic saprolitic soils, Tropical’s 85,


ABMS, 1985. v.3. Brasília, pp. 290-296.

___ . Young metamorphic residual soils. Proc. IX Panamerican Conf.


On S. M. F. E., Viña del Mar. 1991. Espanha. v.1, pp. 1771-1778.

SAYÃO, A. S. F. J. et al. Cubical triaxial test on saturated soils. Proc.


XI Panamerican Congress (CSMGE). 1999. v. 1. Foz do Iguaçu, Brasil,
pp. 179-186.

SCHLOSSER, F. Behavior and design of soil nailing, Proc. Symp. on


Recent Developments in Ground lmprovement Techniques, Bangkok,
1982. pp. 399-413.

___ . Analogies et differences dans le comportement et le calcul des


ouvrages de soutennement en terre armée et par clouage du sol,
Annales de L’Institut Technique de Batiment et des Travaux Publiques,
1983. Sols et Foundations 184, pp. 8-23.

___ . Discussion: The multicriteria theory in soil nailing, Ground


Engineering, 1991. pp. 30-33.

___ . UNTERREINER, P. Soil nailing in France – Research and


Practice, Proceeding of first international seminar on soil mechanics and
178

foundation engineering of Iran, Iranian Geothecnical Society, 1990. v. 2,


pp. 436-468, Iran

___ . ___ . PLUMELLE, C. French research program CLOUTERRE on


soil nailing, Proceedings of the ASCE Specialty Conference on Grouting,
Soil Improvement et Geosynthetics, New Orleans, Louisiana. USA, 1992.
v. 2, pp. 739-750.

___ . ___ . ___ . Validation des méthodes de calcun de clouage par


les expérimentations du PROJET NATIONAL CLOUTERRE, Revue
Française de Géotechnique, 1993. no 64, pp. 11-20.

SERTÃ, H. B. C. Aspectos geológicos e geotécnicos do solo residual


do campo experimental II da PUC-Rio, Dissertação de Mestrado, PUC-
Rio, 1986. Rio de Janeiro, 185p.

SHEN, C. K. et al. Ground movement analysis of earth support


system, Journal of Geotechnical Division, ASCE, 1981. v.107, no GT12,
December, pp. 1609-1624.

___ et al. Field measurements of earth support system, ASCE, 1981.


PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

v.107, GT 12, pp. 1625-1642.

SHIU, Y. K.; YUNG, P. C. Y.; WONG, C. K.. Design, construction and


performance of a soil nailed excavation in Hong Kong, XIV
International Conference on Soil Mechanics and Geotechnical
Engineering, Hamburg, 1997. v.2, pp.1339-1342.

SIEIRA, A. C. C. F. Análise do comportamento de um muro de


contenção utilizando pneus. Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1998.
Rio de Janeiro, 110p.

SIGOURNEY, J. W. Applications of soil nailing in residual soil. Design


with residual materials: geothecnical and construction considerations.
1996. ASCE GSP 63: pp. 57-65.

SILVA, J. C. da. Análise numérica de estruturas grampeadas,


Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 1999. Rio de Janeiro, 131p.

___ . VARGAS JR., E. A.; VAZ, L. E. Análise numérica de estruturas


grampeadas, Anais do Simpósio de Informática em Geotecnia, INFOGEO
2001, Associação Brasileira de Mecânica do Solos, NR PRSC, 2001. CD-
ROM. Windows 98.

SOUZA NETO, J. B.; LACERDA W. A.; COUTINHO, R. Q. Variabilidade


nos parâmetros geotécnicos de alguns solos residuais brasileiros, 3a
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), 2001.
Rio de Janeiro, pp. 305-315.
179

SOUZA, V. A. D. Estudos de mecanismos de ruptura na encosta do


morro de Santos Rodrigues Querosene – RJ , Dissertação de
Mestrado, PUC-Rio, 1995. Rio de Janeiro, 166p.

SPRINGER, F. O. Estudos de deformabilidade de escavações com


solo grampeado, Dissertação de Mestrado, PUC-Rio, 2001. Rio de
Janeiro, 95p.

___ . GERSCOVICH, D. M. S.; SAYÃO, A. S. F. J. Deformabilidade de


taludes estabilizados com solo grampeado, III Conferência Brasileira
sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), 2001a. Rio de Janeiro, pp.
483-490.

___ et al. Modelagem Numérica de Estruturas de


Contenção com Solo Grampeado, XXX Jornadas Sul-Americanas de
Engenharia, Universidade de Brasília, D.F., Brasil, 2001b, 09 p.

STOCKER, M. F. ; RIEDINGER, G. The bearing behaviour of nailed


retaining structures, Proc. ASCE Conf. on Design and Performance of
Earth Retaining Structures, Cornell University, 1987. Ithaca, NY,
Geotechnical Special Publication No 25, pp. 612-628.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

___ et al. Soil nailing: cloutage du sol, Proceedings of the International


Conference on Soil Reinforcement: reinforced earth and other techniques,
Ecole des Ponts et Chaussées. 1979. v.2, pp. 469-474, Paris, France.

TIMOSHENKO, S. P.; BOODIER, J. N. Theory of elasticity. Engineering


socities monographs, McGraw-Hill 2nd. Ed. 1951, New York.

TOZATTO, J. H. F. Estruturas de contenção de baixa altura em solo


residual, Tese de Mestrado, COPPE/UFRJ, 2000. Rio de Janeiro, 146p.

___ . LOPES, F. R.; DANZIGER, F. A. B. Contribuição ao estudo de


estruturas de contenção de baixa altura em solo residual, III
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), 2001.
Rio de Janeiro, pp. 491-498.

TUFENKJIAN, M. R.; VUCETIC, M. Seismic stability of soil nailed


excavations, Proc. Symp. on the Theory of Earth Reinforcement and
Practice, Balkema, Rotterdam, 1992. pp. 573-578. Kyushu, Japan

UNTERREINER, P.; SCHLOSSER F.; BENHAMIDA B. Calculation of the


displacements of a full scale experimental soil nailed wall – French
National Research Project Clouterre, The Practice of Soil Reinforcing in
Europe: a symposium held under the auspices of the IGS at the Institution
of Civil Engineers, 18th. 1995, 20p.

VARGAS, M. Revisão histórico-conceitual dos escorregamentos da


Serra do Mar, Solos e Rochas v.22, no 1, 1999. São Paulo, pp.53-83.
180

VELOSO, J.; MAGRO, J. Solo pregado em suporte de escavações,


Geotecnia no 47, 1986. pp. 53-66.

WOODWARD, S. J. Modification of soil nailed wall deflections, State


of the art report, Proceedings of the International Reinforced Soil
Conference, September 1990. Performance of Reinforced Soil Structures,
British Geotechnical Society, edited by A. McGown, K. C. Yeo and K. Z.
Andrawes. London, pp. 231-234.

ZIRLIS, A. C.; PITTA, C. A. Soil nailing: chumbamento de solos –


experiência de uma equipe na aplicação do método, I COBRAE,
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas, ABMS, 1992. Rio
de Janeiro, v. 1, pp. 81-99.

___ . VAL, E. C. do; NEME, P. A. Solo grampeado: projeto, execução e


instrumentação, Associação Brasileira de Mecânica dos Solos, núcleo
regional São Paulo, 1999, 69p.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0025023/CA

Você também pode gostar