Direitos Difusos e Coletivos - Fernando Gajardoni
Direitos Difusos e Coletivos - Fernando Gajardoni
Direitos Difusos e Coletivos - Fernando Gajardoni
Aula 01 30/01/2009
Bibliografia:
1) Luiz Manoel Gomes Junior – Manual do Processo Coletivo
2) Ricardo Barros Leonel – Manual do Processo Coletivo
3) Hugo Nigro Mazzili – Defesa dos Interesses Difusos em Juízo
EVOLUÇÃO HISTÓRICO-METODOLÓGICA:
Deve ser dividida em duas granes classificações:
a) gerações de direitos fundamentais:
1) Direitos Civis e Políticos:
É muito mais ligada ao direito constitucional. A primeira geração dos direitos fundamentais
foram os direitos civis e políticos. Tiveram início no século XVIII e duraram até o século XIX.
Ficou conhecida como a geração das liberdades negativas. Isso porque havia nessa
época uma transição na Europa, com revoluções burguesas aflorando. A única maneira da
burguesia controlar o poder dos reis era justamente garantir ao individuo direitos a respeito
dos quais não é dado ao Estado o poder de interferir.
A partir dessa 1.ª geração afloraram os seguintes direitos: liberdade, propriedade e direitos
políticos.
Foi nessa época que surgiu o movimento econômico-político denominado liberalismo.
Passado o tempo, percebeu-se que o livre atuar desses direitos causava um movimento de
perplexidade. Isso porque o Estado passou a ser tornado como algo selvagem. Isso porque
o capital passou a gerir as relações.
3) direitos da coletividade:
Tiveram início no século XX e vigem até os dias atuais.
Tanto os direitos da primeira como da segunda geração eram relacionados ao indivíduo
como pessoa. Existem, no entanto, certos direitos que não são do indivíduo, mas da
coletividade em que ele vive. Tais direitos não podem deixar de ser protegidos, pois sem
eles não se consegue viver em sociedade.
Aqui iniciou-se a proteção a direitos comezinhos, que não são individuais, como por
exemplo, meio ambiente, urbanismo, moralidade administrativa, dentre outros.
Isso porque sem a proteção desses direitos não há a menor possibilidade de haver convívio
em uma coletividade.
Cada uma dessas gerações, respectivamente, pode ser assim definida: liberdade (1.ª
geração), igualdade (2.º geração) e fraternidade (3.ª geração).
4) direitos da globalização:
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 1
há constitucionalistas que falam em uma quarta geração de direitos, que são aqueles
relativos à globalização, como por exemplo, direito a paz, desenvolvimento econômico
sustentável e meio ambiente internaicional.
2) Fase Autonomista:
Teve origem por meio de livro do alemão Rudolph Von Bullow. Escreveu uma obra em 1868.
Essa fase durou até mais ou menos 1950.
Bullow percebeu a relação jurídica material. Ex: casamento, compra e venda, doação.
Afirmou que se todos cumprissem o que estava disposto nas relações nunca haveria
problema. Este surgiria quando um dos componentes da relação material rompesse com o
que fora avençado. Nesse momento surgiria uma nova relação jurídica, que não mais seria
bilateral, porque seria o Estado que resolveria o problema gerado pelo descumprimento do
que fora avençado.
Surgia, aqui, uma relação jurídica autônoma, chamada de relação jurídica processual. A
partir daqui o processo civil passou a ser estudado de forma autônoma, de forma
independente do direito material, sendo trilateral, porque tem em um dos seus pólos o
Estado-Juiz.
3) Fase Instrumentalista:
Foi de 1950 e perdura até os dias atuais.
A finalidade prática do processo é tutelar o direito material. Na terceira fase os
processualistas passaram a perceber que o processo nada mais é senão um instrumento de
acesso à justiça. Sendo o processo um instrumento, só se pode analisá-lo à luz de um
objetivo maior, que é justamente prestar a jurisdição. Aqui não se nega a autonomia do
processo, apenas reconhece o vínculo que existe entre o processo e o direito material.
O instrumentalismo foi dividido em ondas renovatórias. Há dois autores, um italiano e um
americano que melhor estudaram essa matéria, que foram Brian Garf e Mauro Capelleti. Em
1950 apresentaram ao mundo uma obra denominada “Acesso à Justiça”.
Afirmaram que havia três ondas renovatórias:
a) assistência judiciária:
Não adianta dizer que o processo é um instrumento de acesso à justiça se não se permite a
quem não tem dinheiro ter acesso ao processo. Apenas para exemplificar, a Lei Brasileira de
Assistência Judiciária é de 1950.
b) coletivização do processo:
Aqueles autores perceberam que o processo civil clássico era inadequado para proteção
de interesses massificados. Isso ocorria por duas ordens de razão:
- o bem jurídico era de titularidade indeterminada.
Existem certos direitos que não se sabe quem é o titular. Ex: meio ambiente.
É preciso que os sistemas prevejam quem defenderá os bens de titularidade indeterminada.
- existência de danos que individualmente considerados não suportam proteção individual.
Existem certos bens e direitos que não são defendidos individualmente. Ex: caixa de leite
com 950ml onde a embalagem afirma que há um litro. Individualmente, as pessoas não
c) efetividade jurisdicional:
são ondas renovatórias que primam pela efetividade, ou seja, não adiante dizer que o
devedor tem que pagar se o Estado não pode compeli-lo a pagar.
b) comum:
São todas as ações para a tutela dos interesses transindividuais que não se relacionam ao
controle concentrado de constitucionalidade.
É o estudo da ACP, Ação Coletiva, Ação de Improbidade Administrativa, Ação Popular,
Mandado de Segurança Coletiva e Mandado de Injunção Coletivo.
Há alguns autores que não separam Ação Coletiva de Ação Civil Pública. Já o Professor
entende que são a mesma coisa. Isso porque a Ação Coletiva serviria para tutelar os
interesse Individuais Homogêneos. De fato, assim o é, mas segue o mesmo rito da ACP, logo
o Professor não faz qualquer diferenciação.
Uma vez ganho o processo coletivo, o autor pode ser subornado a não executar a decisão.
Para evitar que isso aconteça, passados sessenta dias do transito em julgado sem que haja
a execução, qualquer legitimado pode e o MP deve fazer a execução da sentença.
Nesse caso, não há mitigação, logo a sentença deve ser executada.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
8) Princípio da participação:
Como as partes participam do processo decisório individual? Por meio do contraditório.
A participação popular nas decisões judiciais também se dá por meio do contraditório. A
única maneira de legitimar o processo decisório do Estado-Juiz é a participação do
processo de formação dessa decisão.
No processo coletivo, a faceta democrática se mostra por meio não só do contraditório,
mas principalmente, pelo próprio ajuizamento da ação, tendo em vista que os co-
legitimados representam a sociedade.
Enquanto no processo individual a participação se dá através do contraditório (no
processo), no processo coletivo a participação se dá pelo próprio ajuizamento da ação
pelos representantes adequados (pelo processo).
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Toda proteção coletiva dos direitos individuais homogêneos deve ser divulgada. É o fair
notes do direito norte-americano.
Na alteração da LACP está sendo criado um bando de dados de ações coletivas gerido
pelo CNJ.
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que
for cabível, os dispositivos do Título III da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu
o Código de Defesa do Consumidor.
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo
que não contrariar suas disposições.
Em qualquer tema do CDC pode-se aplicar a LACP, bem como a recíproca. Ex: aplica-se
para urbanismo as normas do CDC. Assim, essas duas normas sempre se comunicam. Sem
prejuízo do núcleo, tem-se gravitando ao lado do núcleo central as ações particulares de
cada uma das ações coletivas. Ex: Estatuto do Idoso, Lei da Ação Popular, Estatuto das
Cidades, Estatuto do Deficiente etc.
O sistema é aberto, ou seja, o CDC e a LACP pode ser aplicada a todos os outros diplomas
acima citados. Ex: se faltar uma norma de regência da matéria no ECA, busca-se a solução
no CDC, na LACP ou nas outras leis que tratam do processo coletivo. Isso porque o sistema
que rege o processo coletivo é integrativo e não subsidiário.
Ex: no art. 210 do ECA não há a previsão da pessoa jurídica de direito para figurar no pólo
ativo da ação. Mas em outras Leis que tratam do processo coletivo há, então é
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 6
perfeitamente admissível que o poder público figure no pólo ativo das ações coletivas nos
casos do ECA.
O CPC, por conta do art. 19 da LACP, tem a sua aplicação integrativa.
Art. 19. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil,
aprovado pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas
disposições.tituiu o Código de Defesa do Consumidor.
Pela nova LACP, o núcleo será apenas a LACP, acabando, pois, as normas de reenvio, pois
a LACP funcioná como parte geral aplicando-se às disposições cobre o processo coletivo
OBS: Esse sistema tentou ser copiado pelo Brasil, mas não deu certo. Nos E.E.U.U, há a
exigência da representação adequada. No Brasil, os legitimados são fixos (MP, Defensoria,
Administração Pública direta e indireta, associações etc.). No Brasil, há uma presunção
legal de representação adequada.
A representação no Brasil é presumida, mas o juiz pode afastá-la no caso concreto?
Há duas corrente acerca desse tema:
- a primeira corrente, capitaneada pelos Profs. Nelson Nery e Arruda Alvim, sustentam que
não há controle judicial da representação. Consequentemente, se estiver no rol dos
legitimados, a ação poderá ser interposta.
Ambos admitem o controle no caso das associações. Isso porque o juiz pode fazer esse
controle da representação das associações com base na pertinência temática. Ex:
Greenpeace representando o consumidor.
A representação, para essa corrente, é ope legis, ou seja, decorre da Lei.
Assim, para essa corrente, o MP poderia propor todas as ações coletivas, desde que
relacionadas aos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Ex: ação para discutir moradia. O MP pode interpor a ação.
Ex: ação coletiva para discutir preço do condomínio Alphavile. Não há pertinência
temática para o MP.
Ex: Defensoria Pública. Para Nery, poderia interpor todas as ações. Para a segunda
corrente, só poderia interpor ações coletivas em que tenham o interesse dos pobres.
Conceito: são interesses individuais, cada um dos titulares poderiam entrar com ação,
entretanto, existem tantas pessoas que possui esses direitos, que ele está homogeneizado
na sociedade, portanto, possuem um tratamento coletivo (política legislativa).
Exemplos: microvilar, cada mulher poderia entrar com uma ação; vítimas de acidente
aéreo.
Observações:
Ex. mensalidade escolar para considerar ilegal um aumento abusivo. Tem como diminuir
para um, sem diminuir para todos? Não. Mas um aluno pode entrar com ação individual,
portanto, pode ser tanto coletivo, como individual homogêneo.
- um mesmo fato pode ocasionar lesão aos três interesses: Ex. Batomuch – Ação para que
todas as embarcações tenham colete salva-vida (difuso); ação para que todas as
Barbosa Moreira propõe uma explicação Didática do processo coletivo. O objeto seriam os
direitos ou interesses meta ou transindividuais.
Prevalece para fins doutrinários que direitos e interesses, meta ou transindividuais não tem
diferença.
Art. 81 do CDC:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Barbosa Moreira diz que esses direitos e interesses podem ser divididos em dois grandes
grupos:
1) direitos e interesses naturalmente coletivos:
O traço característico é a indivisibilidade do objeto. Não há como dividir a titularidade do
bem jurídico. Ou todos ganham ou todos perdem. Não há como parcela do grupo ganhar
e outra perder, tendo em vista que o bem é indivisível. Ex: meio-ambiente, moralidade
administrativa.
Se fosse um litisconsórcio seria unitário.
Aula 02 18/02/2009
Por que o sistema fez a opção de dar tratamento coletivo a pretensões que, na realidade,
são individuais?
A doutrina aponta a existência de cinco fundamentos para explicar tal questão:
a) molecularização do conflito:
Kazuo Watanabe afirmou que deveríamos parar de pensar o processo de maneira
atomizada, ou seja, os processos devem ser tratados de maneira coletivizada. Ora, se se
tem mil ações sobre o mesmo tema, por que não manejar uma ação só para resolver o
problema das mil pessoas?
b) economia processual:
Não se está pensando aqui em custas processuais, mas em economia processual para o
Poder Judiciário. Assim, é melhor para a máquina administrativa julgar uma ação para se
resolver mil conflitos do que o inverso.
e) aumentar o acesso à justiça, principalmente para situações em que tutela individual for
antieconômica. Aqui, aplica-se o exemplo do leite, onde na caixa diz que há um litro mas,
na verdade, há 950ml. Não se compensa interpor uma ação individual por 50ml de leite,
mas uma coletiva defende o interesse de todos os consumidores.
Observações finais:
* O sistema permite que outro legitimado entre com a ação no caso de improcedência por
falta de prova. A improcedência por qualquer fundamento faz coisa julgada, exceto por
falta de prova. Ex. ficou comprovado que o Prefeito não desviou as verbas, faz coisa
julgada. Se no ficou comprovado por falta de prova, não faz coisa julgada.
** A ação coletiva só atrapalha outra coletiva, nunca a individual, ainda que tenha sido
julgada improcedente a ação coletiva. A ação coletiva só impede o ajuizamento de outra
coletiva, NUNCA impede ação individual.
*** Se associação entrou com uma ação coletiva e perdeu, pode entrar com outra ação
coletiva. Por qualquer fundamento que prejudica, não faz coisa julgada,
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados
que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
Quando se trabalha o tema coisa julgada no processo individual, Liebman afirmou que é
uma qualidade dos efeitos da sentença. Essa qualidade é justamente a imutabilidade.
Liebman afirmou que a sentença tem efeitos e, depois que o juiz profere a sentença, não
cabendo mais recursos, esses efeitos passam a ter uma qualidade que antes não tinham, ou
seja, passam a ser imutáveis.
No processo individual, se estuda a coisa julgada analisando os seus limites, no caso os
limites subjetivos (art. 472 do CPC) e objetivos (art. 468 do CPC).
Pelos limites subjetivos, a coisa julgada só se refere às partes, não podendo atingir terceiros,
já que na fizeram parte do contraditório. Já os limites objetivos dizem que a coisa julgada se
dá nos limites em que decidida a lide. A coisa julgada só abrange o pedido e a causa de
pedir que constam na parte dispositiva da sentença.
No processo individual, a coisa julgada é pro et contra. Significa que a coisa julgada existe
tanto quando se ganha quando se perde a ação.
Não se pode aplicar a coisa julgada do CPC no processo coletivo, justamente porque
atinge muitas pessoas que não foram parte no processo. Ora, a idéia de processo coletivo
é justamente o fato de que a decisão possa atingir um número grande de pessoas.
Pelo regime secundum eventum legis, uma ação julgada procedente ou improcedente nos
interesses difusos, a coisa julgada é erga omnes.
Para que a coletividade não seja prejudica, quando a improcedência for por falta de
provas, não haverá sa julgada. Ora, se não faz coisa julgada, pode-se interpor outra ação
coletiva.
À coisa julgada que ocorre por improcedência por falta de provas dá-se o nome de coisa
julgada secundum eventum probationis. Significa que a coisa julgada depende do
resultado da prova.
Assim, no sistema coletivo a coisa julgada não é pro et contra. Logo, a coisa julgada só se
aplicará quando beneficiar. O regime aqui é da coisa julgada in utillibus.
Ora, se o interessa como litisconsorte, a coisa julgada será pro et contra. Assim, melhor que
não haja essa assistência litisconsorcial, pois se houver e em caso de sucumbência, não
poderá mais interpor a ação individual.
A regra do artigo 94 só se aplica aos interesses individuais homogêneos e coletivos. É a
posição de Hugo Nigro Mazzili. Logo, não se pode utilizar essa regra aos interesses difusos.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a
contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Se o réu não informar que existe ação coletiva? Nesse caso, o autor da ação que não foi
suspensa pode se valer da ação coletiva, ainda que improcedente a ação individual.
c) suspensa a ação individual, na hipótese do item anterior, podem ocorrer duas situações:
- improcedente a ação coletiva, prossegue a ação individual, que tem seu curso retomado.
- procedente a ação coletiva, converte-se a ação individual, de ofício ou a requerimento,
em liquidação/execução de sentença.
- Ada Grinover entende que não pode a parte se beneficiar. Isso porque na ação coletiva
a questão é analisada genericamente, o que não ocorre na individual. Logo, afirma que a
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 14
coisa julgada individual sempre prevalece sobre a coletiva. Isso porque o caso foi analisado
à luz do problema concreto daquela parte específica.
g) diferença entre coisa julgada secundum eventum litis e secundum eventum probationis:
há autores que tratam ambas como sinônimas. Mas para o Professor são totalmente
diferentes.
A coisa julgada secundum eventum litis tem relação com os efeitos da coisa julgada. Se o
evento da lide for interesses difusos, a coisa julgada será erga omnes, se for coletiva, será
ultra partes e direitos individuais homogêneos erga omnes. É a coisa julgada que se verifica
de acordo com o objeto do processo.
Já a coisa julgada secundum eventum probationis não haverá coisa julgada quando não
houver provas.
Coletiva x Individual:
Ao se relacionem, dois processos diferentes podem ter identidade total ou parcial dos
elementos da ação (partes, pedido e causa de pedir).
Se houver, no processo individual, identidade total dos elementos, há a ocorrência da coisa
julgada e da litispendência (art. 301, §§ 1.º, 2.º e 3.º).
No processo individual, caso haja ou litispendência ou coisa julgada, deve-se extinguir o
processo sem julgamento de mérito.
Mas, se houver uma ação coletiva e uma ação individual, pode haver identidade total dos
elementos da ação? Não. Isso porque as partes não podem ser as mesmas; ainda, não
pode haver identidade quanto ao pedido. O artigo 95 do CDC trata do tema. Ora, na
ação coletiva o pedido não pode ser individualizado, é genérico.
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.
Assim, nunca haverá coisa julgada e litispendência entre uma ação coletiva e uma
individual porque impossível a identidade de partes ou de pedido.
O artigo 104 do CDC é claro quando afirma que não pode haver litispendência.
Mas e identidade parcial dos elementos de uma ação coletiva e de uma individual, pode
haver? É plenamente possível a identidade pela causa de pedir.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 15
Se fosse no processo individual, poderia haver conexão ou continência.
Para que duas ações sejam conexas, devem se idênticos o pedido ou a causa de pedir. Já
a continência ocorre quando há identidade de partes, causa de pedir e quando o pedido
de uma, por ser mais amplo, abrange o da outra.
Pelo art. 105 do CPC, sendo possível, deverão ser reunidas as ações, de ofício ou a
requerimento.
No processo coletivo, se idêntica a causa de pedir, pode haver identidade parcial. Ex: ACP
por conta da pílula com farinha e na outra uma ação individual com o mesmo pedido. As
duas ações discutem o consumo da pílula de farinha. Logo, só é possível haver a conexão e
não a continência. Esta não h;a porque diferentes as partes e os pedidos; em uma o pedido
é genérico, na outra específico.
Qual o efeito da conexão na rela,cão de uma demanda coletiva e uma individual? É
justamente a possibilidade de suspensão do processo individual a requerimento da parte.
Art. 104 do CDC. Essa faculdade, por óbvio, é do autor da ação individual, logo não pode o
juiz suspender o processo de ofício.
No Projeto da LACP será criado a obrigatoriedade da suspensão da ação individual.
Coletiva x Coletiva:
Haverá relação independentemente da espécie de ação coletiva. Podem ser duas ações
populares, duas ACP, um MS coletivo e uma ACP etc.
Pode haver identidade total de ações coletivas? Sim! Essa questão muito ocorreu na
privatização do BANESPA, onde houve 25 acões populares.
Pode haver duas ACP, uma ajuizada pelo MP de SP e outra pelo MP de MG.
O efeito para o processo não é a extinção de um dos processos. No caso de identidade
total de elementos de duas ações coletivas, há duas posições:
- a primeira, minoritária, defendida por Antônio Gidi, defende que havendo identidade total
entre duas ações coletivas, o caso será de extinção das ações coletivas repetidas,
possibilitando ao autor das extintas, ingressar como assistente litisconsorcial na ação que
sobejar.
- a segunda corrente (Ada Grinover) entende que não haverá extinção das ações
repetidas, mas sim reunião das ações para julgamento conjunto, isso se for possível.
Argumenta que pode ocorrer que as ações extintas podem ser melhor elaboradas do que
a que sobrou. Logo, pode haver uma maior tutela dos direitos coletivo.
Às vezes, não é possível a unificação dos processos para julgamento conjunto. Isso porque
os processos podem estar em fases distintas. Ex: processo em primeira instância e outro no
Tribunal. Nesses casos, Ada Grinover afirma que se não for possível a reunião dos processos
porque um deles já está em fase distinta, é recomendável que haja suspensão das ações
coletivas prematuras para aguardar o julgamento da ação em estágio mais avançado.
Essa suspensão se dá por prejudicialidade.
Identidade parcial dos elementos entre duas ações coletivas, é possível? Sim!
Aqui, a solução é igual ao do processo individual. Se se tiver identidade parcial, a solução é
a reunião dos processos para julgamento conjunto, se possível.
Ex: rio que foi poluído por empresa. Pode haver três ações. Uma para tutelar os interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos. Apesar das partes e do pedido serem
diferentes, a causa de pedir será igual. Nesse caso, devem ser os processos reunidos para
julgamento conjunto. Mas se tiverem os processos em fase distintas, deverá haver a
suspensão de uma das ações coletivas.
Pelo art. 106, há a regra do despacho positivo, ou seja, o juiz que proferiu o primeiro
despacho.
Já o art. 219 diz que prevento é o juízo em que primeiro houve a citação válida.
Já no artigo 2.º da LAC há a previsão de que o juiz prevento é aquele em que primeira foi
interposta a ação.
Dessas três regras, deve-se utilizar a regra do microsistema, ou seja, a norma específica que
trata dos processos coletivos. Logo, prevento será o juiz em que a primeira demanda sobre
o tema foi proposta.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terácompetência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação preveniráa jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
COMPETÊNCIA
- critério funcional:
à exceção do MS Coletivo e do MI coletivo, nunca haverá ação coletiva nos Tribunais,
independentemente de quem for a autoridade ré. Assim, não há foro por prerrogativa de
função nas ações coletivas.
Mesmo para aqueles que admitem ação de improbidade administrativa contra agentes
políticos, essa ação será processada sempre em primeiro grau. Houve uma tentativa de se
criar foro privilegiado na improbidade administrativa igual a do crime. Essa tentativa se deu
por meio da Lei 10.628/02, que alterou o art. 84 do CPP. O objetivo era fazer que o foro
crime valesse para a ação de improbidade. Ocorre que o STF, na ADIN 2.797, declarou
inconstitucional esse dispositivo. O argumento foi o de que as regras de foro por
prerrogativa de função estão previstas nas Constituições Estaduais ou na CF. Logo, Lei
infraconstitucional não poderia criar regra que só caberia à Constituição.
Aula 03 19/02/2009
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 17
critério material:
É o critério do assunto.
Competência da JE:
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos
juízes de direito e das juntas eleitorais.
Essa Lei Complementar não existe, então é usado o CE, que foi recepcionado como Lei
Complementar. À JE cabe julgar dois tipos de causa de pedir: sufrágio e questões político-
partidárias.
Se a ação coletiva tiver como causa de pedir ou o sufrágio ou questões político-partidárias,
a competência será da JE. Assim, não se pode afastar o cabimento da ação coletiva da
JE. Mas até hoje não se encontrou ações coletivas movidas na JE. Em tese, a questão do
fundo partidário poderia ser discutida, em caso de desvio do dinheiro do fundo partidário.
O segundo órgão especial, depois da JE, é a Justiça do Trabalho, cuja competência está
prevista no art. 114 da CF. A JT pode julgar as causas cuja causa de pedir seja relação de
trabalho. A exceção é o caso dos servidores públicos estatutários.
Na Justiça do Trabalho pode haver ações coletivas. A maior prova disso são os casos
relacionados ao meio ambiente de trabalho.
Vide súmula 736 do STF:
Súmula nº 736 - Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de
pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores – proteção do meio ambiente do trbalho.
Se não for competência da JE, da JT, poderá ser da JF. Em regra, a competência da JF será
definida pela parte. É o que reza o art. 109, I da CF:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
De acordo com a súmula 42 do STJ, causas que envolvam Sociedade de Economia Mista
são da competência da Justiça Estadual. É o caso da Petrobrás e do BB.
critério territorial:
É o critério que define o local em que será ajuizada e julgada a ação. Há várias posições
doutrinárias acerca do tema.
A doutrina majoritária (Ada Pelegrine) é que interpreta o art. 2.º da LACP com o art.
93 do CDC. Essa interpretação diz que para qualquer interesse metaindividual, a
regra de regência é o art. 93 do CDC: se o dano real ou suposto for local a ação será
ajuizada na comarca ou subseção que abranger o local do dano. Se o dano for
regional a ação será ajuizada na Capital do Estado. Se o dano for nacional a ação
será ajuizada no DF ou na Capital de qualquer dos Estados atingidos.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
Se o dano for regional, o sistema estabelece que a competência é da capital de um dos
Estados atingidos.
Se o dano for nacional, a regra é que a ação poderá ser ajuizada na capital de um
dos Estados da Federação atingidos ou no DF (STJ que deu a interpretação quanto ao DF).
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 19
Aqui, se enfrenta o mesmo problema do dano regional, ou seja, em que consiste o dano
nacional? Assim, não há critério legal ou jurisprudencial do que seja dano nacional.
Ada Grinover sugere o mesmo critério do dano regional, ou seja, mais de três Estados
o dano é nacional.
Exatamente por conta disso a doutrina tem proposto que a definição da natureza do dano
se dê casuisticamente, a fim de não ser fixada a competência de um juízo que fica muito
distante do local dos fatos(capital do Estado e DF). Para tanto, tem-se preferido definir a
competência por prevenção, ainda que várias regiões sejam atingidas pelo dano.
OBS: diante da falta de critério seguro para definir a extensão do dano, tem-se dito e
julgado que a competência se definirá à luz da narrativa do autor, ainda que
posteriormente reste comprovado que o dano não tem a extensão narrada.
OBS: de acordo com doutrina e jurisprudência pacíficas, apesar do art. 93 do CDC e 2.º da
LACP serem regras de natureza territorial, a competência será absoluta e não relativa. Isso
significa que seguem as regras da competência absoluta.
Notas sobre o Art. 16 da LACP e 2.º-A e parágrafo único da Lei 9.494/97:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência
de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.
O que o legislador quis fazer foi acabar com o processo coletivo. Isso porque a coisa
julgada nos interesses difusos e individuais homogêneos é erga omnes e nos coletivos é ultra
partes. Mas geralmente quem é réu no processo coletivo é o Estado e legislou em causa
própria afirmando que a competência não é erg omnes, porque faz coisa julgada apenas
nos limites da competência territorial do órgão prolator. Assim, para cada Comarca teria
que haver uma ação distinta.
É uniforme na doutrina o entendimento de que o art. 16 da LACP é inconstitucional e
inócuo. Inconstitucional porque ofende a razoabilidade e a lógica do sistema. É inócuo
porque não houve alteração do art. 103 do CDC.
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
Já a jurisprudência mais antiga do STJ (RESP 665.947, 624.996), entendia válida a regra do
art. 16 da LACP. Todavia, mais recentemente a terceira Turma do STJ entendeu inócuo esse
dispositivo (RESP 411.529/SP, Rel Fátima Nancy Andrghi, de junho de 2008).
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os
substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator.
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá
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obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos
respectivos endereços.
Esse artigo 2.º-A foi criado apenas para as ações de associações contra o Poder Público e
exclusivamente para os interesses individuais homogêneos. A finalidade foi que não
funcionassem ações coletivas movidas por associações contra o Poder Público. Assim, pelas
mesmas razoes expendidas quando da explanação do art. 16 da LACP esse dispositivo vem
sendo considerado inconstitucional e inócuo.
O STJ tem julgado recente (RESP 805.277/RS) no sentido de realmente ser desnecessário a
obediência ao art. 2.-A da Lei 9.494/97.
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a
um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e Representantes da Comunidade, sendo seus
recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.
O dinheiro, caso haja condenação para tanto, irá para as vítimas ou seus sucessores.
OBS: como se faz a estimativa do valor do dano? há dois critérios em que se deve nortear o
juiz:
a) gravidade do dano;
b) número de vítimas habilitadas/indenizadas.
OBS: não há solução jurídica para a hipótese de as vítimas se habilitarem após a execução
residual. Não há jurisprudência e a doutrina aponta o problema, mas não traz a solução.
1. INTRODUÇÃO:
Origem da nomenclatura:
O termo ACP veio da famosa e previamente existente Ação Penal Pública. Isso porque a
finalidade era ter uma ação em que o MP poderia ajuizar no juízo cível. Quando surgiu a
ACP, apenas o MP era legitimado para interpô-la.
Conceito:
Há duas posições na doutrina acerca desse conceito:
a) conceito ampliativo:
Trata-se de qualquer ação não penal movida pelo MP ou equiparado. Nesse conceito
entrariam a ação civil ex dellicto ( art. 68 do CPP), ação rescisória movida pelo MP (conluio
para fraudar a Lei), ação de nulidade do casamento movida pelo MP etc. Essa posição é
minoritária.
b) conceito restritivo:
Estabelece que ACP é qualquer ação não penal movida pelo MP ou equiparado com base
na LACP ou no CDC.
Para alguns autores, as ações que são baseadas no CDC são chamadas de ações
coletivas.
Origem da ACP:
Nasceu por conta do art. 14, § 1.º da Lei 6.938/81. Essa Lei vige até os dias hodiernos.
Tal dispositivo não tinha regulamentação, logo passou a surgir a necessidade de
regulamentação.
De um lado Ginover, Watanabe e Dinamarco e de outro Milaré, Nery começaram a
trabalhar em um projeto para regulamentar a questão da proteção ao meio ambiente.
Esses dois projetos foram unificados e surgiu a LACP.
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
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meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por
danos causados ao meio ambiente.
Há, também, duas súmuas vigendo acerca da ACP: súmula 643 do STF e 329 do STJ:
Súmula nº 643
O ministério público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo
fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.
Súmula 329:
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em
defesa do patrimônio público.
Não há previsão para a ação coletiva, por isso o STJ interpretava erroneamente esse
dispositivo.
Objeto da ACP:
art. 1.º, 3.º e 11 da LACP.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
V - por infração da ordem econômica e da economia popular;
VI - à ordem urbanística.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que
envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 25
atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se
esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
Tutela preventiva:
Marinoni diz que tutela preventiva é aquela que não se preocupa com o dano. Na
verdade, a tutela preventiva quer evitar ou não perpetuar a ocorrência do dano.
Faz uma diferenciação entre duas técnicas dentro da tutela preventiva:
- tutela inibitória:
Aqui, o ilícito ainda não ocorreu. Pretende-se, pois, evitar que o ilícito ocorra.
- tutela de remoção do ilícito:
Aqui, o Ilícito já ocorreu. Pretende-se que o ilícito cesse.
A divisão da tutela preventiva ocorre sem prejuízo da concomitante reparação. Pode-se ter
na mesma ação coletiva tanto a tutela inibitória quanto a de remoção do ilícito.
Pode haver, ainda, o dano moral coletivo. Ocorreu no seguinte exemplo: a SABESP, que é
uma SEM, deixou de dar manutenção em uma adutora e fez com que toda uma cidade
ficasse sem água por uma semana. A coletividade como um todo sofreu dano moral
coletivo.
Meio Ambiente:
A ACP protege os três tipos de meio ambiente:
- MA natural:
É aquele que tem previsão no art. 3.º, I da Lei 6.938/81. É aquele MA que não teve a
interferência do homem. Fauna, flora, água, ar, terra, mar.
O art. 14, § 1.º da Lei 6.938/81 e art. 3.º da Lei 9.605/98 preveem que em matéria de meio
ambiente natural a responsabilidade civil segue a teoria do risco da atividade. Essa teoria é
uma hipótese de responsabilidade objetiva agravada. Isso porque na responsabilidade
objetiva comum a responsabilidade pode ser afastada com a prova de caso fortuito e
força maior. Em matéria ambiental, tal não é possível. Logo, o caso fortuito e a força maior
não excluem a responsabilidade.
- MA artificial:
É o MA urbano. Envolve poluição visual, sonora e tudo o mais que decorre da vida em
sociedade nas cidades.
- MA cultural:
É o MA histórico, artístico. Para alguns autores, na verdade, esse MA deveria estar dentro do
meio ambiente artificial, pois é obra do homem.
Aula 04
Consumidor:
A responsabilidade civil em matéria do consumidor segue dois grandes regime:
- responsabilidade por fato do produto ou serviço: arts. 12 e 14 do CDC:
Também é conhecida como acidente de consumo. Ocorre toda vez que a pessoa sofre
dano que só foi salvado pelo mal funcionamento do produto, ou seja, o dano é extrínseco.
Ex: tampa de garrafa de refrigerante que estoura no olho do consumidor; toldo instalado
que cai na cabeça do consumidor.
Toda vez que a responsabilidade for por fato do produto ou do serviço a responsabilidade
do fornecedor é objetiva.
As ações de reparação de dano, nesse caso, têm prazo prescricional regulado pelo art. 27
do CDC:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Se o vício é oculto, o prazo decadencial só tem início quando do seu conhecimento. O que
fez o CDC foi justamente quase que tornar imprescritível esse prazo, porque sempre
começa do conhecimento, que é alegado pelo consumidor e difícil de ser provado em
sentido contrário.
Patrimônio Histórico-Cultural:
Ficou conhecido como meio ambiente cultural. Consiste em um bem imaterial, sem ter,
pois, valor econômico. São as crenças, as histórias, os contos, as representações simbólicas
de dada comunidade.
Ex: carnaval.
Legitimidade na ACP:
Legitimidade ativa:
Art. 5.º da LACP e art. 82 do CDC:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 29
histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente
como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste
artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada,
o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito
Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de
ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia
de título executivo extrajudicial.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus
fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos
arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
Legitimidade do MP:
Tem-se entendido que um órgão pode ajuizar ACP na esfera do outro. Na prática,
representa que o MP é um órgão único, não importando, nesse caso, a divisão do MP em
Estadual ou Federal. Logo, o MPE pode interpor uma ação na JF. Tal pode ser visto
claramente no que concerne ao dano ao meio ambiente, que afeta a todos de uma forma
em geral.
Alguns autores entendem que se o MPF ajuizar uma ACP na Justiça Comum Estadual o
processo se deslocará para a JF.
Mas prevalece o entendimento que o MPF é autônomo, logo não está inserido no rol do art.
109 da CF.
Exemplo clássico é uma ACP onde o MP busca resguardar os interesses dos consumidores
contra o aumento da TV a cabo. Nesse caso, não teria o MP legitimidade. Mas se fosse com
relação à tarifa de água ou energia elétrica, teria o MP legitimidade.
Defensoria Pública:
A inserção da defensoria pública no art. 5.º da LACP seu por conta da Lei 11.448/2007.
Antes dessa lei, não havia disposição legal expressa, mas a jurisprudência já admitia o
ajuizamento de ACP pela Defensoria Pública. Essa Lei 11.448/07 apenas consolidou o
entendimento jurisprudencial.
O prof. entende que essa lei despertou a ira de uma parcela conservadora do MP.
Exatamente por isso, o CONAMP ajuizou a ADIN 3943 contra essa lei.
Afirma o MP nos termos do art. 134 da CF, a Defensoria só pode atuar em processos cujos
sujeitos sejam ao menos individualizáveis. Isso porque a Defensoria deve atuar na tutela dos
necessitados.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV.)
Ainda, o art. 5.º, LXXIV diz que o Estado prestará a assistência jurídica aos que comprovarem
a condição de necessitado. Logo, o CONAMP entende que os lesados não comparecem à
Defensoria para comprovar a sua necessidade e por isso, não teria a Defensoria
legitimidade.
Ora, se a Defensoria não pode propor ações coletivas, todos os outros legitimados também
não poderiam. A condição de necessitado por ser presumida em algumas situações. Ex:
ACP para discutir índice de reajuste das parcelas da moradia popular.
Ainda, tem-se entendimento que para a Defensoria Pública se legitime, não é necessário
que todo o grupo defendido seja necessitado, bastando uma parcela desse grupo.
Ex: uma tutela para beneficiar os pobres, eventualmente pode beneficiar os ricos. Isso
porque os efeitos das ações coletivas são erga omnes e ultra partes, não podendo os
mesmos serem restringidos.
Pode causar espnto o fato de que as empresas públicas e as SEM, mesmo sendo entes que
regulados pelo direito privado, podem propor ação civil pública. Mas não há maiores
discussões acerca do tema.
O CDC ampliou um pouco o alcance desses incisos III e IV do art. 5.º da LACP.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
Associações:
É uma expressão genérica, incluindo-se os sindicatos, partidos políticos, entidades de classe.
Mas há duas condições para que as associações possam propor uma ACP:
- constituição ânua: o legislador quer que a representação seja exercida por uma entidade
séria, sem que seja constituída apenas para o fim de interpor uma ACP.
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
O leading case do caso dessa dispensa foi o caso de uma associação chamada de ADESF
(Associação de Defesa dos Fumantes). Um mês depois de criada interpôs uma ação contra
a Souza Cruz para que pagasse uma indenização às famílias das vítimas dos fumantes. O
STJ entendeu pela dispensa por conta da dimensão dos danos causados. Mas essa ação foi
julgada improcedente e hoje encontra-se em grau de recurso.
- pertinência temática:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
V - a associação que, concomitantemente:
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
A pertinência temática existe porque não precisa ser a finalidade principal do ente
legitimado.
O legislador quis dificultar o manejo das ACPs pelas associações. Por isso, o STJ, no RE
805.277/RS, entendeu que esse dispositivo é inconstitucional. Ora, se se associa a alguém, já
autoriza a associação para fazer a representação, ao menos dentro de suas finalidades.
Para os que admitem a ação coletiva passiva, que é aquela em que a coletividade é ré, o
réu que representará a coletividade serão as associações de entidade de classe ou os
sindicatos. Isso porque representam suficientemente a categoria.
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos
autos, vedada a denunciação da lide.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o
segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do
art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será
intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso
afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador,
vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o
litisconsórcio obrigatório com este.
A doutrina nesse caso entende que são aplicados aos direitos individuais homogêneos e
coletivos.
Hugo Mazzili aponta uma terceira hipótese de assistência litisconsorcial, mas é a uma
posição extremamente minoritária. Afirma que o cidadão pode ingressar na ACP como
assistente se puder tutelar o mesmo objeto pela via da ação popular.
De acordo com o art. 84 do CPC, se o MP não atuar como custos legis, o processo será
nulo.
Inquérito Civil:
Generalidades:
A previsão legal do inquérito civil é a do art. 129, III da CF; art. 8, § 1.º e art. 9.º da LACP;
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público
e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias,
no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
b) peças de informação:
Normalmente, cabe em casos de provas menos complexas. Para a formação da
convicção do MP basta a requisição de documentos.
Compara-se com os termos circunstanciados.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 35
Essa diferença entre os tipos dos inquéritos civis é apenas doutrinária, não havendo
qualquer distinção na prática.
Instauração abusiva:
Para se coibir a instauração abusiva de um inquérito civil, cabe Mandado de Segurança. A
autoridade coatora será o próprio promotor de justiça que instaurou o inquérito civil.
Mas quem julga esse MS?
Se não houver foro por prerrogativa de função na Constituição Estadual ou na CF, o órgão
judiciário de primeira instância.
Assim, no caso do MPF não há foro por prerrogativa na CF. Logo, quando a autoridade
impetrada é um Procurador da República, a competência é da JF. Vide conflito de
competência 14.396/DF.
À segunda instância cabe julgar o MS se houver foro por prerrogativa na CE. Vide Resp
333.857/SP.
Para qualquer ação coletiva, instaurado o inquérito civil não correm os prazos de
decadência ou de prescrição. O curso desses prazos só volta a correr quando do
encerramento do inquérito civil.
A grande discussão que se trata acerca desse tema diz respeito ao sigilo bancário. Pode
o MP requerer da instituição bancária o extrato das contas do réu do inquérito policial?
O sigilo bancário tem previsão nos arts. 3.º e 4.º da LC 105/01. Exatamente porque o sigilo
bancário não está previsto na CF, há na doutrina duas posições acerca desse tema:
A primeira corrente que o MP pode ter acesso direto aos sigilos bancários dos
réus é a posição de Nery e Mazzili. Entendem, pois, que não há sigilo bancário
para o MP. Como o sigilo não é constitucional, prevalece a LOMP sobre a Lei
Complementar 105/01.
A segunda corrente entende que há sigilo bancário para o MP porque decorre
do direito à intimidade e à vida privada, os quais têm previsão constitucional.
Assim, para ter acesso aos extratos bancários precisaria de autorização judicial.
O STF possui julgado nos dois sentidos.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 37
Os promotores costumam requerer autorização judicial, tendo em vista que posteriormente
pode ser alegado que a prova é ilícita.
O art. 10 da LACP estabelece uma sanção para quem não obedece à requisição feita pelo
MP:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa
de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN, a recusa, o retardamento
ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando
requisitados pelo Ministério Público.
Contraditório:
Prevalece na doutrina e na jurisprudência que o inquérito civil é um procedimento
inquisitivo, tanto quanto o inquérito policial. Logo, não há contraditório no âmbito do
inquérito civil.
Mas essa posição não resiste a uma critica mais aguçada. Ada Grinover sustenta que a
partir do momento em que o objeto da investigação do inquérito civil se torna
determinado, deixa de ser um mero investigado e passa a ser um acusado. Se vira um
acusado, vê ser aplicado o inciso LV do art. 5.º da CF.
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Publicidade:
Deve-se fazer um paralelo com o inquérito policial. Assim, regra geral, o inquérito civil é
público, logo o MP deve dar vista dos autos ao investigado.
Excepcionalmente, o inquérito civil pode correr sob segredo de justiça. À falta de previsão
legal específica, utiliza-se, por analogia, o art. 20 do CPP:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que Ihe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito
contra os requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior. (Incluído pela Lei nº
6.900, de 14.4.1981)
O arquivamento do inquérito civil não impede o próprio órgão que o arquivou, no caso de
nova prova, ou que qualquer outro legitimado, ajuíze a ação competente.
Natureza Jurídica:
Na doutrina prevalece o entendimento de que o TAC tem natureza jurídica de transação
que recai preponderantemente nas obrigações de fazer e não fazer.
A ideia do TAC é a de fazer um acordo. A pessoa que comete a infração assume a
responsabilidade e se compromete a realizar os danos causados.
Mas há quem entenda que o TAC é reconhecimento jurídico do pedido e não transação.
Isso porque a transação pressupões concessões mútuas e recíprocas. Ora, aqui não há
concessões, mas sim um ajustamento da conduta à pretensão do interesse público. A
pessoa que aceita o TAC aceita as condições impostas pelo órgão do MP.
O promotor não pode fazer concessões quanto ao conteúdo, mas apenas quanto ao prazo
de cumprimento das obrigações. Por conta dessa possibilidade de negociação do prazo,
os autores entendem que é transação, mas tal não é capaz de mudar a natureza jurídica
do instituto.
Legitimidade:
Podem celebrar um TAC o MP e órgãos públicos legitimados, a saber: defensoria pública,
administração direta, autarquias e fundações públicas.
Não podem celebrar TAC as associações, as empresas públicas e as SEM. Esses dois últimos
são regidos pelo direito privado, logo não podem celebrar um TAC. Mas isso ocorre mesmo
em caso de ato da empresa pública ou SEM em atos de gestão pública. Não, nesses casos
as EP e SEM podem celebrar um TAC.
Fiscalização e responsabilidade:
Quem faz a fiscalização é o próprio órgão que celebrou o TAC. A partir do momento que se
diz que quem celebra fiscaliza, haverá improbidade administrativa daquele que celebrar
um TAC fora das especificações, sem prejuízo de outra ação coletiva para reparar o dano.
Eficácia:
A eficácia do TAC, nos termos da própria legislação, é de título executivo extrajudicial.
Assim, caso não cumprido, dá ensejo direito a uma execução por título executivo
extrajudicial.
Não há no TAC a necessidade de assinatura de testemunhas quando da celebração do
TAC.
Imposição de multa:
Tem-se entendido que é requisito essencial do TAC nas obrigações de fazer a fixação de
multa de caráter cominatório.
Para poder haver o TAC, o próprio central do tema estabelece que o órgão público deverá
estabelecer as cominações, que no caso é a multa, que tem caráter da astreinte. O
objetivo da multa no TAC é compelir o devedor a prestar a obrigação.
Se o celebrante não cumpre a obrigação, paga a multa, independente de ter que cumprir
a obrigação principal.
Compromisso preliminar:
Na ACP tem-se uma das poucas hipóteses em que a concessão de medida cautelar
independe de ação cautelar autônoma. Aqui há o total sincretismo processual, onde, por
meio do processo principal, se pode requerer uma medida cautelar.
Trata da possibilidade da fixação de astreinte para dar efetividade à liminar. Tal é possível
nas obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa.
O § 2.º do art. 12 da LACP também trata do tema:
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.
Muitos doutrinadores criticam com veemência esse artigo. Isso porque apesar de a multa
ser devida desde o dia do inadimplemento, só poderá ser executada após o trânsito em
julgado da decisão.
Esse artigo 12, § 2.º é um absurdo mormente nos casos em que o réu é o poder público. Ora,
o administrador atual não irá cumprir a decisão, mormente porque a execução da multa só
será feita após o término do seu mandato.
Por esse motivo, alguns juízes fixam a multa na pessoa do administrador.
Existe uma condicionante além das duas hipóteses de não cabimento das liminares. Existe,
por óbvio, quando a liminar é cabível.
Essa condição está prevista no art. 2.º da Lei 8.437/92:
Art. 2º No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será
concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica
de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.
Procedimento ordinário:
A ACP segue o mesmo rito do CPC.
Sentença na ACP:
Poderá ter qualquer natureza, ou seja, declaratória, executiva, mandamental,
condenatória e constitutiva.
O princípio da atipicidade da tutela coletiva tem previsão no art. 83 do CDC:
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Outra observação quanto à sentença diz respeito à sucumbência. A previsão é a dos arts.
17 e 18 da LACP:
Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis
pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e
ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.
Art. 18. Nas ações de que trata esta Lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e
despesas processuais.
Se o pólo ativo sair vencedor, os réus serão condenados nos termos do art. 20 e §§ do CPC,
ou seja, terão que pagar custas, despesas processuais e honorários advocatícios, salvo se o
autor for o MP.
Se a ação é julgada improcedente, ou seja, se o pólo passivo não sucumbe, se o autor for o
MP, a Defensoria ou uma associação, haverá isenção quanto aos honorários, salvo se
comprovada litigância de má-fé.
Se o autor for os demais legitimados (administração direta e indireta), aplica-se o art. 20, §§
do CPC, sendo, pois, devidos os honorários advocatícios.
Na nova LACP, terá a previsão de que o autor é isento do pagamento de honorários, custas
e despesas, independente de quem seja.
Recurso e reexame necessário:
O art. 14 da LACP trata do tema, cabendo apelação da sentença.
Ainda, afirma o artigo que a apelação terá efeito suspensivo quando o juiz entenda que a
parte poderá sofrer dano irreparável.
Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à
parte.
O § 1.º do art. 4.º da Lei 7.853/99 (Estatuto do Deficiente) trata do reexame necessário:
§ 1º A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação fica sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal.
Qualquer pessoa pode e a autoridade judiciária deve informar ao MP sobre eventuais fatos
que possibilitem o ajuizamento da ACP, sob pena de prevaricação.
AÇÃO POPULAR
Generalidades:
Previsão Legal:
A CF, no inciso LXXIII do art. 5.º da CF, traz a previsão da ação popular:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
A lei 4.717/65 é o dispositivo legal que trata da Ação Popular. A ação popular é a mais
antiga de todas as ações coletivas e, mesmo assim, só existem duas súmulas acerca do
tema no STF: 101 e 365.
Súmula 101
O mandado de segurança não substitui a ação popular.
Súmula 365
Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.
Há doutrinadores que sustentam que pessoa jurídica, em matéria ambiental, possa interpor
uma ação popular.
A ação popular se presta para a tutela preventiva inibitória ou de remoção do ilícito e/ou
para a tutela reparatória dos seguintes direitos difusos:
a) patrimônio público:
b) moralidade administrativa:
c) meio ambiente:
d) patrimônio histórico cultural:
Quando na aula se falava no objeto da ação civil pública, tratávamos dos direitos
metaindividuais. Enquanto a ACP se presta para a tutela de qualquer interesse
metaindividual, a ação popular só se presta a defender direitos difusos.
Patrimônio público:
O conceito de patrimônio público, para fins de ação popular, é extremamente amplo e
que abarca não só o patrimônio da Administração Direta ou Indireta, como também o de
qualquer entidade de que o Estado participe (Sociedade de Economia Mista) ou
subvencione (entidades particulares que recebem dinheiro público para funcionar).
Art. 1.º da LAP:
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de
nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art.
141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 45
ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou
fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra
com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de empresas
incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
Mesmo no caso das entidades que recebem dinheiro público mas que tem capital
provado, cabe ação popular?
O § 2.º do art. 1.º da LAP trata tema:
§ 2º Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro
público concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita
ânua, bem como de pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as conseqüências
patrimoniais da invalidez dos atos lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a
contribuição dos cofres públicos.
Assim, só cabe ação popular para tratar da parcela que se refira à contribuição dos cofres
públicas, não se prestando o instituo para o desperdício do dinheiro particular.
Particular pode ser réu na ação popular? Sim, desde que receba subvenção pública como
informado acima.
Moralidade administrativa:
É aquilo que chamamos de um conceito jurídico indeterminado. É o conceito que depende
o intérprete para complementar o seu significado.
A boa doutrina entende que moralidade administrativa é o padrão ético e de boa-fé no
trato com a coisa pública.
b) propaganda institucional:
O § 1.º do art. 37 da CF trata do tema:
§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades
ou servidores públicos.
Se eventualmente o servidor fizer propaganda institucional vedada cabe ação popular por
ofensa à moralidade administrativa.
Meio ambiente:
O cidadão pode tutelar o meio ambiente pela via da ação popular. Toda a matéria já foi
vista quando tratou-se da ação pública, aplicando-se à ação popular, inclusive, a teoria do
risco integral.
Não cabe ação popular na tutela do meio ambiente se o dano não tiver sido provocado
pelo poder público. Assim, se uma empresa polui um rio não cabe ação popular, porque
O rol de tutela da ação popular visto acima é taxativo, numerus clausus, diferentemente da
ação civil pública. Tal é a posição do STJ, manifestada no RESP 818.725/SP Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 13/05/2008. Essa ação tentava tutelar direitos dos consumidores e foi extinta sem
julgamento de mérito justamente pela inadequação da via da ação popular.
- atos legislativos:
Não cabe ação popular, regra geral, contra atos legislativos. Até porque o ato legislativo é
um comando abstrato, que atinge a todos indiscriminadamente.
Mas há uma exceção. Entende-se que cabe ação popular se se tratar de Lei de efeitos
concretos.
A Lei de efeito concreto nada mais é senão um ato administrativo com roupagem de lei. É
um ato administrativo no conteúdo e uma lei na forma. Por isso, quando se está diante de
uma lei de efeito concreto, tem-se que ela está plenamente em operação. Gera efeitos a
qualquer pessoa independentemente de um ato administrativo complementar. Ex: Lei que
cria um Município; lei que desapropria área de proteção ambiental. Nesses dois casos,
admite-se a interposição de uma ação popular.
- atos jurisdicionais:
Não cabe, regra geral, ação popular contra atos jurisdicionais. Isso porque decisões judiciais
são controláveis pelas vias do recurso e não se pode admitir que a ação popular seja um
sucedâneo recursal.
Mas há uma hipótese que cabe ação popular contra ato jurisdicional. O STJ entende que
cabe ação popular contra sentença homologatória de acordo judicial (RESP 906.400/SP,
Rel. Min. Castro Meira). A prefeitura de uma cidade estava desapropriando uma área e na
metade do processo fez uma proposta ao expropriando de um valor excessivamente alto,
lesivo, pois, ao patrimônio público. Mas o juiz homologou o acordo, tendo havido o transito
em julgado. O STJ entendeu que nesse caso, mesmo em se tratando de sentença judicial,
cabe ação popular.
- atos particulares:
Não cabe, regra geral. Isso porque a ação popular se presta para a defesa do patrimônio
público e dos atos praticados pelo Estado.
Mas há uma exceção. Cabe ação popular contra ato praticado com dinheiro público por
pessoa subvencionada.
O rol do art. 2.º da LAP é meramente exemplificativo. O art. 3.º explica o porquê:
Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou privado, ou das
entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se compreendam nas especificações
do artigo anterior, serão anuláveis, segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis
com a natureza deles.
c) lesivo:
Mas há hipóteses previsão legal de presunção absoluta de lesividade. O art. 4.º da LAP trata
do tema:
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 48
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º:
I - a admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições
de habilitação das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;
II - a operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, estatutárias,
regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante de escritura,
contrato ou avaliação;
III - a empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência pública ou
administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei, regulamento ou norma
geral;
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que comprometam o
seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que impliquem na limitação
das possibilidades normais de competição;
IV - as modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem admitidas, em favor
do adjudicatário, durante a execução dos contratos de empreitada, tarefa e concessão
de serviço público, sem que estejam previstas em lei ou nos respectivos instrumentos;
V - a compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não for cabível
concorrência pública ou administrativa, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais regulamentares, ou constantes de
instruções gerais;
b) o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da
operação;
c) o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação;
Vide peça processual civil.
VI - a concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua
modalidade, quando:
a) houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de
instruções e ordens de serviço;
b) resulta em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador;
VII - a operação de redesconto quando, sob qualquer aspecto, inclusive o limite de valor,
desobedecer a normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais;
VIII - o empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
a) concedido com desobediência de quaisquer normas legais, regulamentares, regimentais
ou constantes de instruções gerais;
b) o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da
avaliação;
IX - a omissão quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e
regulamentadoras que regem a espécie.
Nos casos acima, a previsão de lesividade é legal, ou seja, a sua presunção é absoluta.
Diferentemente da presunção relativa, a absoluta não admite prova em contrário.
Assim, se se contrata, mesmo que sem ônus para o erário, um expert em determinado
assunto sem a realização de concurso público, mesmo assim, tal ato é atacável via ação
popular, justamente porque a presunção é absoluta.
Português (art. 12, §1º, da CF) ** - perda da nacionalidade (art. 12, §4º)
* O STJ estabeleceu que o menor de 16 anos em diante tem legitimidade para a ação
popular, pois não tem lógica a idéia de que o menor só adquire maturidade aos 18 anos.
** em tese é possível, pois em Portugal não existe essa possibilidade, ou seja, em Portugal o
brasileiro não pode propor a ação popular.
**** alguns apontam que tem que votar na última eleição, precisa provar que votou na
última eleição mediante a juntada do comprovante.
Legitimidade ativa:
É do cidadão nato ou naturalizado. Mas qual o conceito de cidadão para o ordenamento
jurídico pátrio?
Em doutrina, há três posições acerca do tema:
- a primeira corrente é da Profa. Teresa Arruda Alvim Wambier. Ela afirma que cidadão é
qualquer integrante da população brasileira. É uma posição largamente minoritária.
- a segunda corrente entende que cidadão é quem vota e pode ser votado. Por essa
posição, apenas os maiores de 18 anos é que podem propor ação popular. Precisa, pois,
ter inscrição na justiça eleitoral.
- a terceira corrente, dominante e com precedente no RESP 889.766/SP. Cidadão é aquele
que pode votar, ou seja, os maiores de 16 que tenham inscrição eleitoral.
Na doutrina, havia quem sustentasse que a ação popular ambiental poderia ser ajuizada
por qualquer pessoa, física ou jurídica.
Legitimidade passiva:
Na ação popular, a legitimidade passiva tem previsão no art. 6.º da LAP:
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades
referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissão,
tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
Haverá um litisconsórcio necessário entre três grupos de pessoas: pessoa jurídica (direito
público ou privado subvencionada); todos os que participaram da formação do ato
atacado; beneficiários diretos dos atos.
Qual é a natureza desse litisconsórcio passivo necessário? É simples, não sendo unitário
porque pode ser provado que algum ou alguns dos legitimados passivos não tenham tido
qualquer participação no ato atacado.
A pessoa jurídica pode escolher atuar no pólo ativo, no pólo passivo ou simplesmente se
omitir. A pessoa jurídica começa como réu. Se achar que é improcedente, defenderá o ato
atacado.
Ministério público:
Art. 6.º, § 4.º da LAP:
§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da
prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela indicarem, sendo-lhe
vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.
A parte final negritada não foi recepcionada pela CF/88, porque fere a autonomia do MP.
Particularidades procedimentais:
Art. 7.º da LAP:
Art. 7º A ação obedecerá o procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Civil,
observadas as seguintes normas modificativas:
I - Ao despachar a inicial o juiz ordenará:
a) além da citação dos réus, a intimação do representante do Ministério Público;
b) a requisição às entidades indicadas na petição inicial, dos documentos que tiverem sido
referidos pelo autor (art. 1º, § 6º), bem como a de outros que se lhe afigurem necessários ao
esclarecimento dos fatos, fixando o prazo de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o
atendimento.
O autor da ação popular, nos termos do art 1.º, §§ 4.º a 7.º, e 7.º, I, “a”, pode, antes de
interpor a ação popular, requisitar documentos.
Assim, a ação popular não tem o condão que tem a LIA de punir o responsável. RESP
879.360/SP, julgado em 17 de junho de 2008.
Nos termos do art. 19 da LAP, a apelação tem duplo efeito, suspensivo e devolutivo.
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal; da que julgar a ação procedente, caberá apelação, com efeito suspensivo.
Tenho inscrição eleitoral em Fortaleza. Possuo legitimidade e interesse de agir para defender
ato que fere a moralidade administrativa do município de Quiterianópolis?
Aula 05 27/03/2009
1) Previsão legal:
O regime da improbidade é tratado no art. 37, § 4.º da CF, que afirma que os agentes
públicos poderão ser processados por improbidade administrativa na forma da lei. Esta é a
8.429/92.
2) Natureza Jurídica:
Tem prevalecido na doutrina que a probidade administrativa é uma espécie do gênero
moralidade administrativa. O princípio da moralidade açambarca várias coisas, dentre elas
a probidade administrativa.
Mas qual a natureza da ação de improbidade administrativa?
Existem duas posições na doutrina acerca da natureza jurídica dessa ação:
- a primeira corrente entende que é uma ACP: não há pois necessidade de classificar a
improbidade como espécie autônoma de ação. Assim, seria correto a terminologia Ação
Civil Pública de Improbidade Administrativa. Diferiria da ACP apenas na causa de pedir,
que na ação de improbidade seria a probidade administrativa.
- a segunda corrente, que é a do professor, entende que a ação de improbidade tem
natureza de ação de improbidade administrativa, sendo, portanto, diferente da ACP. Paulo
Sirvinskas, tratando de matéria ambiental, afirmou que difere da ACP porque não podem
correr ao mesmo tempo.
De qualquer modo, adotando qualquer das posições, deve-se entender que na inexistência
de norma específica na LIA, aplica-se o regime da ACP.
4) Legitimidade:
4.1. Legitimidade ativa: art. 17 da LIA:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou
pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
O STF enfrentou essa questão na Reclamação 2.138. Entendeu a Corte que para o agente
público o regime de responsabilidade político-administrativo pode se dá de duas maneiras:
- art. 37, § 4.º da CF e LIA, que é o regime da improbidade administrativa:
- Lei 1.079/50, no caso dos agentes públicos federais e Decreto-Lei 201/67, no caso de
prefeitos e vereadores.
EMENTA: RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE RESPONSABILIDADE. AGENTES POLÍTICOS. I.
PRELIMINARES. QUESTÕES DE ORDEM. I.1. Questão de ordem quanto à manutenção da
competência da Corte que justificou, no primeiro momento do julgamento, o
conhecimento da reclamação, diante do fato novo da cessação do exercício da função
pública pelo interessado. Ministro de Estado que posteriormente assumiu cargo de Chefe de
Missão Diplomática Permanente do Brasil perante a Organização das Nações Unidas.
Manutenção da prerrogativa de foro perante o STF, conforme o art. 102, I, "c", da
Constituição. Questão de ordem rejeitada. I.2. Questão de ordem quanto ao
sobrestamento do julgamento até que seja possível realizá-lo em conjunto com outros
processos sobre o mesmo tema, com participação de todos os Ministros que integram o
Tribunal, tendo em vista a possibilidade de que o pronunciamento da Corte não reflita o
entendimento de seus atuais membros, dentre os quais quatro não têm direito a voto, pois
seus antecessores já se pronunciaram. Julgamento que já se estende por cinco anos.
Celeridade processual. Existência de outro processo com matéria idêntica na seqüência da
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 54
pauta de julgamentos do dia. Inutilidade do sobrestamento. Questão de ordem rejeitada. II.
MÉRITO. II.1. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de
improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei nº
1.079/1950, delito de caráter político-administrativo. II.2. Distinção entre os regimes de
responsabilização político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o
regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos. A
Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-
administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei nº
8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei nº 1.079/1950). Se a
competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse
abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de
responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I,
"c", da Constituição. II.3. Regime especial. Ministros de Estado. Os Ministros de Estado, por
estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (CF, art. 102, I, "c"; Lei nº
1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência previsto no regime comum da
Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992). II.4. Crimes de responsabilidade.
Competência do Supremo Tribunal Federal. Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar os delitos político-administrativos, na hipótese do art. 102, I, "c", da
Constituição. Somente o STF pode processar e julgar Ministro de Estado no caso de crime de
responsabilidade e, assim, eventualmente, determinar a perda do cargo ou a suspensão de
direitos políticos. II.5. Ação de improbidade administrativa. Ministro de Estado que teve
decretada a suspensão de seus direitos políticos pelo prazo de 8 anos e a perda da função
pública por sentença do Juízo da 14ª Vara da Justiça Federal - Seção Judiciária do Distrito
Federal. Incompetência dos juízos de primeira instância para processar e julgar ação civil de
improbidade administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de foro
perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade, conforme o art. 102, I,
"c", da Constituição. III. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (Grifamos)
O STF decidiu que tanto no primeiro quanto no segundo regime, uma das consequencias é
a suspensão dos direitos políticos e a perda do cargo.
As sanções previstas no segundo regime são considerados crimes de responsabilidade, cuja
competência pode ser do Senado, do STF ou do TJ/TRF.
Quando incide o primeiro regime, quem julga é a primeira instância, já que não há regra
própria.
Depois de observar essas particularidades, o STF entendeu que quando o sujeito for agente
político e as suas condutas estiverem sujeitas a crime de responsabilidade, só respondem
por crime de responsabilidade e jamais por responsabilidade administrativa.
O segundo problema diz respeito ao fato de que há condutas ilícitas que estão na LIA, mas
não estão na lei 1.079/50 e Decreto-Lei 201/67, que tratam do crime de responsabilidade.
Existem duas posições na doutrina acerca desse tema:
- a primeira corrente diz que nesse caso aplica-se a LIA, ou seja, se não houver previsão no
Decreto Lei 201 e Lei 1/079/50, aplica-se a LIA.
- a segunda posição, que é a de LFG, entende que mesmo nesse caso de lacuna não se
aplica a LIA.
A terceira questão sem solução deixada pelo STF é a seguinte: na lei 1.079/50 e no Decreto-
Lei 201/67, há alguns agentes políticos não regulamentados. Ex: deputado federal, juiz.
5) Competência:
A competência sempre é de primeira instância.
Isso ocorreu porque no julgamento das ADINS 2757 e 2860, o STF entendeu que o art. 84 do
CPP, acrescentado pela Lei 10.628/2002, é inconstitucional.
Essa regra, no entanto, sofre uma atenuante. Apesar de ser o julgamento em primeira
instância, se admitido o cabimento da improbidade administrativa contra os agentes
políticos, o juiz de primeira instância não poderá decretar a perda do cargo caso a forma
de investidura e desinvestidura constitucional seja diversa, prevista na CF. Ora, o Presidente
da República é eleito com milhões de votos, e não haveria sentido que um juiz de primeira
instância o afastasse do cargo.
Ex: deputado, que apenas perde o cargo por decisão dos próprios colegas.
6) Objeto e sanções:
Existem três espécies de improbidade administrativa:
a) art. 9.º da LIA: enriquecimento ilícito do agente.
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir
qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e
notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra
vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou
amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta
ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta
ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior
ao valor de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a
exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando,
de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer
declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro
serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias
ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função
pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do
patrimônio ou à renda do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento
para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado
por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba
pública de qualquer natureza;
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular,
de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins
educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e
regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio
de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por
parte delas, por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço
superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou
aceitar garantia insuficiente ou inidônea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais
ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público;
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de
qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos
ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços
públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei;
(Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação
orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107,
de 2005)
De acordo com o STJ, as sanções previstas no art. 12 da LIA, não são obrigatoriamente
cumulativas.
De acordo com o art. 20 da LIA, as duas sanções mais graves, que são a suspensão dos
direitos políticos e a perda do cargo e da função pública, só tem efeito após o trânsito em
julgado.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 58
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o
trânsito em julgado da sentença condenatória.
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o
afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo
da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.
7) Prescrição:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser
propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de
função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis
com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego.
O que prescreve é a ação de improbidade. Nunca deve ser esquecido que, nos termos do
art. 37, § 5.º da CF, a reparação do dano ao patrimônio público é imprescritível:
§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações
de ressarcimento.
O procedimento da LIA é o único cível que possui uma fase de defesa preliminar e
recebimento da ação antes da citação do réu.
Os réus serão notificados para apresentação de defesa escrita, no prazo de 15 dias.
Após a apresentação da defesa escrita, o juiz faz o juízo de admissibilidade da ação de
improbidade administrativa.
A primeira opção do juiz é rejeitar a ação de improbidade. Significa que pode o juiz
indeferir a inicial ou já julgar a ação improcedente de plano, apreciando o mérito,
alegando por exemplo, que os fatos narrados não constituem ato de improbidade.
Dessa decisão preliminar o juiz, ao MP cabe interpor apelação.
O legislador criou esse procedimento prévio na LIA para que o juiz possa controlar se é lícito
ser o réu processado por improbidade ou não.
Nos termos do art. 17, § 3.º da LIA, tanto quanto na ação popular, a pessoa jurídica lesada
pode escolher o pólo em que atuará.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que
couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965. (Redação
dada pela Lei nº 9.366, de 1996)
MANDADO DE SEGURANÇA
Ainda, há três leis que regulam e outras duas que trazem dispositivos acerca do MS.
Lei 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/66 e ainda as leis 8.437/92 (art. 2.º, que limita o cabimento de
liminares contra a fazenda pública) e 9.494/97 (art. 2.º, que limita o cabimento do MS contra
o poder público).
Súmulas:
MS individual:
STJ: 41, 105, 169, 177, 202, 206, 212, 213 e 333:
STF:
101, 266 a 272, 304, 392, 405, 429, 430, 433, 474, 506, 510 a 512, 597, 623 a 627, 631, 632 e 701.
Súmulas do MS coletivo:
STF: 629 e 630.
Súmula nº 629
A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO POR ENTIDADE DE
CLASSE EM FAVOR DOS ASSOCIADOS INDEPENDE DA AUTORIZAÇÃO DESTES.
Súmula nº 630
A ENTIDADE DE CLASSE TEM LEGITIMAÇÃO PARA O MANDADO DE
SEGURANÇA AINDA QUANDO A PRETENSÃO VEICULADA INTERESSE APENAS A UMA PARTE DA
RESPECTIVA CATEGORIA.
Durante muitos anos, se entendeu que a aplicação do CPC no MS era vedada. Isso por
conta do art. 19, que prevê tão somente a aplicação do CPC quanto ao litisconsórcio.
A consequencia prática foram duas:
- não cabia no MS agravo de instrumento:
Não há disposição na LMS que fale sobre o agravo de instrumento. Nessa época, usava-se
mandado de segurança contra a decisão do juiz que negasse a medida liminar.
- súmulas 169 do STJ e 597 do STF:
Súmula 597
Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de
segurança decidiu, por maioria de votos, a apelação.
Essa súmula foi editada por conta do entendimento de que não se aplicava o CPC ao MS.
A LMS não traz nenhuma previsão quanto aos embargos infringentes.
2) Conceito de MS:
2.1 Garantia:
A melhor lição é a de Rui Barbosa. Fazia uma diferença entre direitos, deveres e garantias.
Direitos e deveres são dispositivos declaratórios, variando entre eles apenas a sujeição. se a
sujeição for ativa é direito; se passiva, dever.
Ex: o voto é obrigatório. Isso é um dever, porque somos o sujeito passivo da norma.
Mas quando a CF diz que é garantido o direito de propriedade, tal é um direito e não um
dever.
Tem prevalecido o entendimento que o direito líquido e certo é uma condição especial da
ação do MS, ligado ao interesse processual.
Se falta o direito líquido e certo, deve o juiz indeferir a inicial porque falta interesse
processual ao impetrante.
Discussão doutrinária sobre a possibilidade de documentalização de provas diversas para
fins de MS. Ex: declaração pública registrada em cartório pode ser aceita?
Prevalece o entendimento que isso não é possível, pois seria uma forma de burla a natureza
documental da ação, que exige prova pré-constituída.
No MS a causa de pedir remota tem que ser incontroversa, ou seja, não pode haver
dúvidas quanto aos fatos alegados, o que é feito por meio da prova documental.
Já no que concerne à causa de pedir próxima, quanto aos fundamentos jurídicos, não há
necessidade que esses fundamentos jurídicos sejam incontroversos.
O inciso III diz que não cabe MS contra ato disciplinar, salvo quando praticado por
autoridade incompetente ou quando faltar formalidade essencial. Ex: respeitar o
contraditório do acusado, que consiste em falta de formalidade essencial.
Há quem sustente que essa hipótese do art. 5.º, III é inconstitucional. Isso porque não é
compatível com o regime civil vigente, já que essa hipótese foi prevista para a vigência
durante o regime militar. Mas há forte discussão nesse sentido.
- legislativos:
Em princípio, não cabe MS contra lei, porque é um comando genérico e abstrato.
A maior prova é a súmula 266 do STF:
Súmula 266
Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.
A outra exceção diz respeito ao fato de que cabe MS contra lei editada com violação do
processo legislativo. Nesse caso, só tem legitimidade o parlamentar. O STF tem afirmado
que os parlamentares podem impetrar MS para obstar que se operem os efeitos de uma lei
que feriu o processo legislativo.
Aula 06 20/04/2009
- judiciais:
A regra geral é a mesma do ato legislativo, ou seja, em princípio, não cabe mandado de
segurança contra ato judicial. Mas há duas exceções.
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 63
A primeira exceção diz respeito ao art. 5.º, II da LMS:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de
caução.
II - de despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto nas leis processuais ou
possa ser modificado por via de correção.
O primeiro exemplo é o do sistema do Juizado Especial Cível. A Lei 9.099/95, adota como
princípio informador dos juizados a oralidade. Se esse princípio é adotado, por óbvio, não
cabe agravo contra as decisões interlocutórias.
Como não cabe agravo, a parte pode se valer de um MS contra a decisão interlocutória.
Outro exemplo é o da JT, onde não cabe recurso das interlocutórias. Cabe, pois, MS contra
uma interlocutória na JT.
Até 2005, antes da reforma do CPC, dessa decisão do relator, cabia agravo interno do
próprio tribunal. O legislador reformou esse dispositivo, dando ao próprio relator a opção de
reconsiderar a decisão. Mas como não cabe recurso, o STJ entendeu que a parte pode
impetrar um MS contra essa decisão do relator.
Alguns autores afirmam que nessa hipótese o MS é sucedâneo recursal.
A segunda exceção diz respeito às decisões teratológicas, que são aquelas absurdas, fora
da razão. A doutrina e a jurisprudência firmaram posicionamento no sentido de que nesses
casos pode ser interposto MS, mas sem a aplicação da súmula 268 do STF, ou seja, não se
pode manejar MS depois do trânsito em julgado da decisão.
Ex: petição que é juntada em processo errado e no processo em que ela deveria ter sido
juntada, foi decretada a revelia do réu. Nesse caso, pode ser interposto MS contra a
decisão, tendo em vista que não havia que ter sido decretada a revelia do réu. É o caso de
contestação em ação de despejo onde o réu junta os recibos de pagamento na
contestação e esta é juntada em processo errado.
3) Legitimidade:
3.1 Legitimidade ativa no MS individual:
Qualquer pessoa pode impetrar MS. Mas algumas pessoas merecem destaque:
- podem impetrar MS estrangeiros não domiciliados no Brasil. O caput do art. 5.º estabelece
que os direitos previstos nesse artigo são para os brasileiros e estrangeiros residentes no País.
Isso pode dar ensejo à falsa impressão de que o estrangeiro não residente no País não pode
impetrar MS. O STJ já pacificou esse entendimento no sentido de que pode o estrangeiro
não residente impetrar MS.
- entes despersonalizados:
Podem impetrar MS massa falida, espólio, condomínio etc. Esses entes possuem
capacidade judiciária, formal.
- é admitido MS impetrados pelos Poderes Legislativo e Judiciário, para assegurar
prerrogativas próprias.
Ex: não repasse do duodécimo ao poder legislativo. Caso o Executivo não faça o repasse, a
mesa da Câmara pode impetrar MS para que o chefe do executivo seja obrigado a fazer o
repasse.
O Judiciário, por exemplo, pode impetrar MS caso o Governador do Estado faça corte no
repasse de verbas a esse poder.
- o poder público contra o poder público.
O próprio poder público pode se valer do MS contra si próprio. O MS é uma garantia para o
que Estado obedeça ao direito. Assim, as esferas municipais, estaduais e federais têm que
se curvar à esfera da lei. Assim, os Estados e Municípios podem impetrar MS contra a união,
por exemplo.
Ex: o governo federal recebe os tributos federais e faz o repasse aos Estados. Caso tal não
seja feito, cabe MS a ser impetrado pelo Estado.
- partido político:
O partido deve ter pelo menos um representante no Congresso, seja na Câmara ou no
Senado, sendo este originário ou não.
O objeto de defesa possui três posições na doutrina:
A primeira corrente, capitaneada por Ada Grinover diz que os partidos podem impetrar MS
coletivo para todos os assuntos de interesse nacional, ou seja, o partido político não precisa
ter pertinência temática.
A segunda corrente afirma que MS coletivo impetrado por partido político só pode versar
sobre sistema representativo.
A terceira corrente, que é a predominante, inclusive sendo a posição do STJ, afirma que o
objeto de impetração está no art. 1.º da Lei 9.096/95., que é a Lei Orgânica dos Partidos
Políticos. Assim, os partidos políticos podem impetrar MS coletivo sobre os seguintes temas:
autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais previstos na CF
e também para defender o regime democrático.
O STF entende que o sindicato não precisa ter constituição ânua, porque o texto legal isolou
os sindicatos desse requisitos. RE 198.919.
Objeto de defesa:
Vem previsto na própria CF. O MS coletivo deve ser impetrado em defesa de seus membros
ou associados. O STF entendeu, no RE 181.438/SP, que o objeto é o direito dos associados,
não se exigindo que o direito guarde vínculo com os fins da entidade, que seja próprio da
classe. Assim, o STF entendeu que não há necessidade de pertinência temática.
Ex: nada impede que a OAB impetra MS coletivo em favor dos advogados para discutir
questão tributária, como alíquota de dado tributo.
Natureza da legitimação:
A legitimação é extraordinária. Isso porque objetiva a defesa dos interesses e direitos dos
associados.
não confundir a hipótese de legitimação extraordinária do MS coletivo (art. 5º, inciso LXX)
com a hipótese de representação do art. 5º, inciso XXI, da Constituição Federal. Essa
representação não é para o MS coletivo.
Logo, em regra, não cabe MS contra SEM e empresas públicas. Mas quando praticam ato
de direito público, mas precisamente em casos de concurso público e licitação, cabe
perfeitamente MS.
A regra é que cabe MS contra esses particulares, mas apenas para os atos relacionados à
delegação.
Ex: energia elétrica, telefonia e educação superior.
Não cabe MS contra atos praticados por particulares que exercem atividade autorizada.
Ex: serviços bancário e de saúde.
Nesse caso, excepcionalmente, o banco se torna gestor no SFH. O fomento à moradia
popular deve ser feito pelo poder público e o banco, ao assumir essa função, se torna
passível de impetração de MS.
- ato complexo:
É aquele que depende da vontade de mais de um órgão para ser formado. O melhor
exemplo ocorre no júri, onde os jurados decidem se o acusado é inocente ou culpado e o
juiz aplica a pena.
A impetração deve ser contra a autoridade que profere a última decisão.
A súmula 627 traz um exemplo de ato complexo:
Súmula nº 627
No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da
competência do presidente da república, este é considerado autoridade coatora, ainda
que o fundamento da impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do
procedimento.
- ato composto:
É aquele para cuja formação exige-se a homologação de uma autoridade final. Ex:
demissão do serviço público, onde o chefe imediato (chefe da repartição) demite e o
chefe mediato (Governador) homologa.
A impetração deve ser contra a autoridade que homologa o ato.
- ato colegiado:
É um único órgão, com diversas vontade. No ato complexo, há mais de um órgão.
Exemplo de ato colegiado são as comissões de licitação e de concurso, bem como as
Câmaras de Julgamento dos Tribunais.s
Se o ato for colegiado, a impetração deve ser feita em face do Presidente do órgão.
4) Competência:
serão analisados os quatro critérios de competência:
a) funcional hierárquica:
É um critério de competência absoluta, como regra, pois segue o regime do art. 113 do
CPC.
O que define a existência do critério funcional no MS é o status hierárquico da autoridade
coatora, ou seja, se ela tem ou não foro por prerrogativa de função.
Na CF, há várias regras sobre o assunto, a saber: arts. 102, I, d; 105, I, b; 108, I, c;
Além da CF, pelo princípio da simetria, deve-se atentar para o teor das Constituições dos
Estados Membros.
Deve-se atentar para as seguintes súmulas:
41 do STJ; 330, 433 e 624 do STF:
Súmula: 41
O superior tribunal de justiça não tem competência para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos
órgãos.
Súmula 330
O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado
de segurança contra atos dos tribunais de justiça dos estados.
Súmula 433
É competente o Tribunal Regional do Trabalho para julgar mandado de
segurança contra ato de seu presidente em execução de sentença trabalhista.
Súmula nº 624
Não compete ao supremo tribunal federal conhecer originariamente de
mandado de segurança contra atos de outros tribunais.
b) material:
É um critério de competência absoluta, como regra, pois segue o regime do art. 113 do
CPC.
É o critério por meio do qual se define a justiça competente para julgar o processo, se
trabalhista, eleitoral etc.
O que define é a matéria (trabalhista ou eleitoral, v.g) ou a categoria funcional da
autoridade (federal ou local).
No caso da categoria funcional, deve-se verificar a categoria da autoridade. Se for federal,
por óbvio, a competência é da JF. Mas se não for, é da Justiça Comum Estadual.
Nas hipóteses de delegação de função pública, deve atentar para o art. 2.º da LMS:
Art. 2º - Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as conseqüências de ordem
patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela
união federal ou pelas entidades autárquicas federais.
c) valorativo:
Em regra, segue o regime da competência relativa, seguindo as regras dos arts. 112 e 114
do CPC:
É aquele que se estabelece em face do valor da causa. No âmbito nacional, a importância
se refere exclusivamente à competência dos juizados.
Deve-se atentar para o fato de que não cabe MS nos juizados de primeiro grau. Art. 3.º, §
1.º da Lei 10.259/2002.
Mas cabe MS em segundo grau. Isso porque não cabe agravo das decisões interlocutórias
nos juizados especiais.
d) territorial:
Essa regra de competência foi criada à luz do interesse público. A consequencia prática é
que segue o regime da competência absoluta. Logo, o juiz pode reconhece de ofício essas
questões.
No MS, vale o domicílio funcional, a sede da autoridade coatora, pouco importando onde
o ato tenha sido praticado. A autoridade coatora tem direito de ter o MS impetrado no seu
domicílio funcional, ainda que tenha sido o ato praticado em outro local que não o da
sede da repartição.
5) Procedimento do MS:
É considerado pela doutrina como sendo especial, sumário e cível, ainda que seja
imperado contra juiz criminal. Assim, na omissão da LMS, deve-se aplicar o CPP para surpri-
la.
Essa carência ocorre quando não há prova pré-constituída do direito líquido e certo do
impetrante. Nesse caso, a extinção se dá sem resolução de mérito.
Ainda, pode o juiz indeferir a inicial no caso de decadência, onde é o processo extinto com
resolução de mérito. É a hipótese decadencial prevista no art. 18 da LMS:
Art. 18 - O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos cento e
vinte dias contados da ciência, pela interessado, do ato impugnado.
De acordo com a súmula 632 do STF, esse prazo de 120 dias é constitucional.
Súmula nº 632
É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de
mandado de segurança.
No caso do MS, a decadência não é do direito, mas sim da via do próprio MS. Assim, após
120 só não se pode interpor MS, mas pode o autor interpor qualquer outra ação que não o
MS.
Medida Liminar:
Está prevista no art. 7.º, II:
Art. 7º - Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-se-lhe a segunda via
apresentada pelo requerente com as cópias dos documentos a fim de que, no prazo de
cinco dias, preste as informações que achar necessárias;
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição entregando-lhe a segunda via
apresentada pelo requerente com as cópias dos documentos a fim de que no prazo de
quinze dias preste as informações que achar necessárias. (Redação dada pela Lei nº 4.166,
de 1962) (Prazo: vide Lei nº 4.348, de 1964)
II - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido quando for relevante o fundamento e
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida.
A lei limita o cabimento da medida liminar em algumas hipóteses. São estas as limitações:
- art. 5.º da lei 4.348/64;
- art. 1.º e § 4.º da lei 5.021/66;
- art. 1.º, § 5.º da lei 8.437/92;
- Decreto 2.770/56;
- súmula 212 do STJ:
Súmula: 212
A compensação de créditos tributários não pode ser deferida por medida
liminar.
5.3 Notificações:
Podem ser de duas naturezas:
- em primeiro lugar, deve ser notificada a autoridade ou a pessoa jurídica, dependendo da
posição que se adota quando a quem deve ser o impetrado.
Essa notificação tem natureza muito semelhante a de uma citação.
- deve-se notificar o beneficiário do ato (súmula 631 do STF), bem como o representante
judicial da pessoa jurídica de direito público (art. 3.º da Lei 4.348/64).
Súmula nº 631
Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não
promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.
5.4 Informações/contestação:
A autoridade apresenta as informações e o beneficiário contesta a ação, tudo no prazo de
dez dias.
Prevalece o entendimento de que a natureza jurídica das informações é de resposta.
Nas informações, não se aplicam os arts. 188 e 191 do CPC, ou seja, o prazo é de dez dias
sem qualquer acréscimo.
Ressalte-se que o art. 188 é aplicado no que concerne aos recursos.
5.7 Sentença:
A previsão legal é a do art. 11 da LMS:
Art. 11 - Julgado procedente o pedido, o juiz transmitirá em ofício, por mão do oficial do
juízo ou pelo correio, mediante registro com recibo de volta, ou por telegrama, radiograma
ou telefonema, conforme o requerer o peticionário, o inteiro teor da sentença a autoridade
coatora.
Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofônica ou telefônica,
deverão ser apresentados a agência expedidora com a firma do juiz devidamente
reconhecida.
Deve-se atentar para o teor da súmula 512 do STF, que é duramente criticada pela
doutrina:
Súmula 512
Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado
de segurança.
A ideia do julgador foi a de facilitação de acesso à justiça por aqueles que querem
impetrar MS. A doutrina critica dizendo que não deveria haver a não condenação em
honorários, mas sim a isenção de custas.
o STJ, recentemente, entendeu no RESP 575.649/SP que não se aplicam esses dispositivos ao
mandado de segurança.
5.9 Apelação:
A previsão é do art. 12, caput da LMS:
Art. 12 - Da sentença, negando ou concedendo o mandado cabe apelação. (Redação
dada pela Lei nº 6.014, de 1973)
Regra geral, essa apelação no MS não é dotada de efeito suspensivo, ou seja, já cabe
execução provisória.
Mas há uma exceção. A apelação será dotada de efeito suspensivo no caso do art. 7.º da
lei 4.348/64. Reza que se o juiz proferir sentença a favor do servidor, a apelação terá efeito
suspensivo.
No 1º Grau:
- o prazo é o do CPC, de 15 dias, aplicando o artigo 188, ou seja, o prazo é em dobro para
o Poder Público;
- legitimidade: autor, pessoa jurídica que sofre os efeitos da impetração, mesmo que a
autoridade coatora seja a ré
- sem efeito suspensivo. Exceção: hipótese do art. 7º, da Lei 4348/64, quando se tratar de
aumento, vantagem para servidor público;
De acordo com o STJ, o art. 475 do CPC não se aplica ao MS, pois há regra própria. Todo
MS que o Poder Público perdeu, ainda que seja de valor irrisório tem reexame necessário.
c) Cabe pedido de suspensão de segurança (art. 4º, da Lei 4348/64). Nos demais casos de
pedido de suspensão tem previsão do art. 4º, da Lei 8437/92, no entanto, o MS tem
disciplina própria. O que muda é o prazo do agravo interno.
e) embargos de declaração
Direitos Difusos e Coletivos – Prof. Fernando Gajardoni 73
No 2º grau:
a) embargos de declaração;
*** não cabem embargos infringentes (S. 597, do STF e S. 69, do STJ), pois não há previsão na
Lei do Mandado de Segurança, o que vai contra a Súmula do próprio STJ de que cabe
agravo.
b) RESP ou RE
a) embargos de declaração;
b) agravo regimental:
- da decisão do relator que aprecia a liminar não cabe agravo regimental (S. 622, do STF);
- da decisão que indeferir a inicial por falta de prova pré-constituída ou que decaiu o
direito a jurisprudência tem aceitado o manejo do agravo regimental;
c) Recurso Ordinário Constitucional (ROC): toda vez que houver denegação ou carência
da ação. É semelhante com a apelação.
Se o MS originário está no TJ ou no TRF, o ROC vai para o STJ (art. 105, II, “b” da CF). Se o MS
originário está no STJ, o ROC vai para o STF (art. 102, II, “a”, CF)
5.10 Execução:
A sentença no MS é mandamental, com a execução ocorrendo por ordem, ou seja, a
autoridade ou o particular que não cumpre a decisão da sentença, pode cometer crime
de desobediência ou prevaricação.
6. Questões processuais
decadência: art. 18, da Lei 1533/51, depois do prazo de 120 dias a parte decai do direito
de impetrar MS; existia uma discussão se esse dispositivo era inconstitucional (Nelson Nery),
pois o MS está previsto na CF e lá não tem prazo, portanto, uma lei ordinária não poderia
limitar uma garantia constitucional. S. 632, do STF: acabou com a discussão, dizendo que o
prazo de 120 dias é constitucional.
termo inicial da decadência: quando o ato é comissivo (agir) o prazo para impetração
conta da intimação (ciência da ilegalidade ou do abuso); quando se tratar de ato
comissivo continuado (trato sucessivo), o ato ilegal se renova a cada ato,
conseqüentemente, o prazo se renova a cada ato; quando o ato é omissivo, existem duas
posições: o prazo corre do fim do prazo legal (prazo concedido para as autoridades
falarem), todavia o STJ diz que o ato omisso é sempre continuado, portanto, não corre o
prazo; quando o ato for iminente (está para ser praticado) não corre o prazo, porque a
ilegalidade não foi perpetrada.