Desafios Da Sustentabilidade Socioambiental - TCC
Desafios Da Sustentabilidade Socioambiental - TCC
Desafios Da Sustentabilidade Socioambiental - TCC
LAVRAS-MG
2018
ROBSON DELGADO RIBEIRO
LAVRAS-MG
2018
ROBSON DELGADO RIBEIRO
LAVRAS-MG
2018
À minha tão única e essencial irmã Grazielle.
Pelo exemplo acadêmico, profissional e humano, que faz
meu meio ambiente ser melhor,
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu pai Du e a minha mãe Tânia, por serem iluminados e por me
iluminarem.
Por serem a principal razão e inspiração de minhas conquistas.
Agradeço ao Gustavo, pela mão e coração de sempre. Por acreditar e engrandecer todos
os meus dias.
Agradeço as amizades, as quais não arriscaria descrever, por me sacudirem e acalmarem
tantas vezes.
À Sala Verde Frei Paulino por apresentar um mundo novo, e principalmente, por cuidar
dele.
Todo jardim começa com um sonho de amor.
Antes que qualquer árvore seja plantada
ou qualquer lago seja construído
é preciso que as árvores e os lagos
tenham nascido dentro da alma.
E a Deus, por estar integralmente nos pequenos detalhes dos grandes paradigmas desse
mundo, demonstrando o valor das coisas e o meu lugar nelas.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 10
2.1 A crise ambiental global ..............................................................................................................10
2.2 Os caminhos da Educação Ambiental ..........................................................................................13
2.3 Educação Ambiental e Políticas Públicas ....................................................................................17
2.4 O Projeto Sala Verde ...................................................................................................................19
2.5 Centros de Educação Ambiental (CEAs) e a resolução de problemas locais ..............................22
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 26
3.1 Caracterização da Pesquisa ..........................................................................................................26
3.2 Revisão Bibliográfica...................................................................................................................27
3.3 Pesquisa Documental ...................................................................................................................28
3.4 Caracterização da localidade do estudo .......................................................................................28
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 31
4.1 A Sala Verde Frei Paulino ...........................................................................................................31
4.2 A relevância da uma Sala Verde como Centro de Educação Ambiental .....................................34
4.3 As diferentes propostas e o papel mediador da EA na Sala Verde Frei Paulino..........................37
4.4 As Políticas Públicas e os desafios da Sociedade Sustentável .....................................................39
4.5 As Salas Verdes e sua visão estratégica de resultados .................................................................41
4.6 Projeto Reciclando: transformando sucata ferrosa em educação .................................................42
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 48
7
1 INTRODUÇÃO
Muito tem se falado nos últimos anos sobre transformação. Questiona-se cada vez mais
as mudanças ecológicas e a disponibilidade dos recursos naturais propondo-se novas rotas
tecnológicas, novas hipóteses científicas e outras perspectivas de desenvolvimento. O trabalho
de Sem (2004), que conferiu a ele o Prêmio Nobel, representa um dos marcos que orientaram
uma nova concepção de coletividade, que propõe aliar desenvolvimento econômico ao
progresso social. No contexto da sustentabilidade, é a dimensão ambiental que busca equilibrar
as relações humanas com os limites da Terra. “É assim que a mudança ambiental, ainda por se
confirmar com qual grau de profundidade, provavelmente deve ser a mudança de maior
importância para o destino da história humana” (LAYRARGUES, 2009, p. 4).
Ao pensar em desenvolvimento sustentável é inviável propor reflexões que não estejam
engajadas com os princípios práticos e teóricos do campo da Educação Ambiental. Essa vertente
educativa mostra-se capaz de mediar os saberes e interesses de diversos atores da sociedade e,
com o passar dos anos, tem sido cada vez mais colocada nos debates envolvendo meio ambiente
e ação humana.
A relação de domínio do homem sobre o ambiente é histórica. Seu questionamento foi
intensificado com o acontecimento de fenômenos e catástrofes ambientais, convergindo
estudos, discursos e discussões para a ameaça sobre a finitude dos recursos naturais. O diálogo
pelo meio ambiente e iniciativas de Educação Ambiental ganhou maior visibilidade na década
de 1970, com a Conferência de Estocolmo. A partir desta, diversos intelectuais, grupos sociais
e encontros nacionais e internacionais trataram de forma central a questão ambiental e sua
vertente pedagógica. Duas décadas depois, o acontecimento da Conferência Rio 92
institucionalizou as discussões sobre a problemática ambiental. (JACOBI, 2014).
Em todo seu percurso histórico, a Educação Ambiental tenta definir sua identidade em
um contexto de singulares desafios e problemas socioambientais. Considerada como um de seus
marcos, a Conferência Internacional de Tbilisi orientou que “a Educação Ambiental deve
dirigir-se a todos os membros da coletividade de acordo com suas necessidades e interesses e a
grupos de diversas faixas etárias e categorias profissionais, estando voltada para a resolução de
problemas ambientais enfrentados por essas coletividades” (TAGLIEBER, 2004, p. 190).
É possível perceber que para assumir uma função transformadora, na Educação
Ambiental precisa-se superar certa complexidade de interesses e possibilidades, o que gera uma
heterogeneidade de concepções e de iniciativas. É dessa complexidade que se diferenciam as
correntes e configurações da Educação Ambiental.
8
Nesse sentido, para fornecer um status de política pública com atribuições e grupos
específicos na sociedade, foram criadas duas institucionalidades para os espaços de Educação
Ambiental: formal, tratada nos sistemas de ensino vinculados ao Ministério da Educação, e
Educação Ambiental não formal, atribuída às ações do Ministério do Meio Ambiente para
abranger a parcela da sociedade que não está na escola e que envolvem empresas, mídias,
organizações não governamentais, etc (MENDONÇA, 2004).
Nessas diferentes iniciativas apresentam-se muitas vezes dificuldades comuns, como
descontinuidade e uma recorrente timidez. Para realizar soluções efetivas, é preciso orientar a
Educação Ambiental por meio de diretrizes, programas e políticas específicas. Para promover
soluções e a conscientização da crise ambiental, essa orientação precisa integrar a realidade e
suas desigualdades, o que justifica a ineficiência em aplicar somente os recursos científicos ou
tecnológicos existentes (JACOBI, 2003).
É nesse contexto que se instalaram os Centros de Educação Ambiental, que fazem
referência aos espaços e iniciativas que desenvolvem a Educação Ambiental no Brasil e no
mundo. Apesar de suas particularidades, esses espaços evidenciam os princípios da Educação
Ambiental e possibilitam promover a sustentabilidade nas sociedades nas quais estão inseridos.
“A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear e isto se produz na inter-
relação entre saberes e práticas coletivas que criam identidades e valores comuns face à
reapropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes” (JACOBI,
2014, p. 30).
Uma das tentativas de promover efetivamente essa reflexão é por meio do Projeto Salas
Verdes, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente nos anos 2000 para responder às
demandas ambientais da sociedade. As Salas Verdes são espaços de múltiplas potencialidades,
que democratizam informações ambientais, promovem projetos e atividades de Educação
Ambiental, como palestras, mobilizações, oficinas e reuniões que contribuem com a formação
de diversos sujeitos e grupos sociais. Dentre as mais de 500 Salas Verdes do Brasil, está a Sala
Verde Frei Paulino, onde se desenvolvem diferentes atividades e projetos há 10 anos no
município mineiro de Divinópolis e região.
Nesta Sala Verde retratam-se os princípios da Educação Ambiental em suas ações que
envolvem gestão pública, parceiros, escolas e a própria comunidade da área protegida onde está
localizada. Além de atividades e projetos pontuais, a Sala Verde Frei Paulino se destaca no
gerenciamento de um projeto de reciclagem, o Projeto Reciclando. Produzindo mudas há nove
anos, pelo projeto se estimula a troca destas por resíduos de ferro e alumínio da população em
geral, demonstrando o papel da sociedade em uma mudança socioambiental.
9
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Desde que o meio ambiente tornou-se um desafio global, diversas correntes e conceitos
tentam caracterizar e solucionar o desequilíbrio na dinâmica que sustenta a vida neste planeta.
Não é o foco deste trabalho rotular as correntes pedagógicas e ambientalistas da EA, mas, para
avaliar suas possibilidades de transformação, é necessário refletir, mesmo que
panoramicamente, sobre suas possibilidades teóricas.
Ao tratar a crise ambiental e o consenso de diversos autores sobre o tema, Layrargues
(2009) evidencia que a educação qualificou-se de ambiental para auxiliar no processo de
sensibilização e aquisição de uma nova cultura. Já Brügger (1994) atenta que se foi necessária
essa qualificação da educação, é por que esta não é ambiental, mas sim, potencializadora de
ações de degradação em suas variadas formas. Porém, essa crise ambiental não tem origem
14
simplesmente na falta de educação dos indivíduos, mas sim na visão de mundo dominada por
valores contrários aos princípios ecológicos (LAYRARGUES, 1999). Deste ponto de vista,
Layrargues (1999) atribui que o objeto da EA não é propriamente a ausência de conhecimentos
ecossistêmicos ou a desinformação a respeito dos aspectos ecológicos. Antes disso, é a própria
visão de mundo e os valores culturais da sociedade.
Diante dessa complexidade também teórica, diversas diretrizes, princípios, normas e
recomendações universalizaram a EA como instrumento de transformação socioambiental,
colaborando com a construção de discursos e práticas sobre o tema ambiental e sobre sua
relação com a educação. Para Tristão (2005) a EA enfrenta dois desafios simultaneamente: a
questão dos desastres ecológicos e da degradação da natureza e a questão educativa.
Depois da Conferência de Estocolmo, a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) assumiu a organização de discussões regionais e
internacionais de EA (CAMPOS, 2000). A EA passou a ser introduzida em diversos
documentos e programas, como no Programa Internacional de EA, que resultou em 1975, na
chamada “Carta de Belgrado”. Na Carta define-se uma estrutura global para a EA, em que
assumiria um importante papel contra a crise ambiental alardeada pelo Clube de Roma (KUSS
et al., 2015). Foi neste documento que se propôs a organização (reconhecida atualmente) da EA
na educação formal e não formal, de modo contínuo, permanente e interdisciplinar, enfatizando
o papel dos processos e sistemas da educação para um novo ideal de mundo. Em 1977 aconteceu
a Conferência Internacional de Tbilisi, que lançou a chamada “Declaração de Tbilisi”.
Diferentemente da Carta de Belgrado ela não estabelece participantes específicos para as ações
de EA, considerando-a importante para todas as idades (CAMPOS, 2000). Como já descrito, a
Agenda 21, enquanto resultado da Rio 92, potencializou a EA como mediadora do ensino para
o desenvolvimento sustentável. Em um Fórum realizado paralelamente à Rio 92 foi acordado
o “Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global” (BRASIL, 2018),
reconhecido como resultado de longos debates coletivos. Nesse documento também foram
sintetizados princípios que conduzem as práticas educativas ambientais até hoje, fortalecendo
a abertura para a EA, colocando-a como centralizadora na formação de valores e ações sociais
com vistas à transformação.
No documento afirma-se que a EA não é neutra, mas ideológica, e declara-se que a EA
deve desenvolver uma perspectiva holística, com especial destaque para a interdisciplinaridade
na promoção do pensamento crítico dos sujeitos (KUSS, 2015, p. 22). O tratado questionou a
alienação e conclamou o envolvimento dos indivíduos com a construção de seu futuro.
Hoje fica claro que, de fato, era impossível formular um conceito de EA abrangente o
15
suficiente para envolver o espectro inteiro do campo; mas fica claro também que essas
diferentes propostas conceituais e práticas nada mais eram do que a busca por hegemonia
interpretativa e política desse universo socioeducativo (LAYRARGUES; LIMA, 2011, p. 5).
Partindo das diferentes dimensões em que se sustentam os autores e correntes,
Sorrentino (1992) reuniu quatro macro conjuntos de temas e objetivos em projetos de EA, os
quais apresentaram relevante consonância com a presente pesquisa. São eles (CAVALCANTI
et al., 1995, p. 396):
a) Biológicos: proteger, conservar, e preservar espécies, ecossistemas e o planeta
como um todo; conservar a biodiversidade e o clima (deter o buraco na camada de ozônio e o
efeito estufa); detectar as causas da degradação da natureza, incluindo a espécie humana como
parte da natureza; estabelecer as bases corretas para a conservação e utilização dos recursos
naturais;
b) Espirituais/culturais: promover o autoconhecimento e o conhecimento do
Universo, por meio do resgate de valores, sentimentos e tradições e da reconstrução de
referências espaciais e temporais que possibilitem uma nova ética fundamentada em valores
como verdade, amor, paz, integridade, diversidade cultural, felicidade e sabedoria, visão global
e holística;
c) Políticos: desenvolver uma cultura de procedimentos democráticos; estimular a
cidadania e a participação popular; estimular a formação e aprimoramento de organizações, o
diálogo na diversidade e autogestão política;
d) Econômicos: contribuir para a melhoria da qualidade de vida pela geração de
empregos em atividades “ambientais”, não alienantes e não exploradoras do próximo.
Caminhar em direção à autogestão do seu trabalho, dos seus recursos e dos seus conhecimentos,
como indivíduos e como grupos/comunidades.
Mais recentemente, a diversidade de saberes que constituiu o campo da EA foi mapeada
e novamente classificada em três grandes macrotendências, no trabalho de Layrargues (2011,
2012, 2014): conservacionista, pragmática e crítica.
O autor destaca a macrotendência crítica, definindo-a como a única das três
macrotendências que declara explicitamente o pertencimento a uma filiação político-
pedagógica, se opondo contra o poder dominante.
Essas ideias já eram referenciadas anteriormente por Paulo Freire, como no trabalho
apresentado por ele na abertura do Congresso Brasileiro de Leitura, em 1981 em Campinas.
Freire (2017), em sua compreensão do ato de ler, descreveu a ação contra hegemônica que
acontece por meio da leitura crítica da realidade. O autor descreveu como a dinâmica dos
16
estar conectada com o que se pensa e se faz no município, sendo um espaço de promoção de
sinergias entre instituições, pessoas, projetos, programas e ações, não só ambientais, mas
também culturais, educacionais, e de ampliação da cidadania (BRASIL, 2017).
Seus desafios partem dos vínculos institucionais enfrentados por estes espaços, estando
de um lado ligados ao DEA/MMA como órgão proponente do Projeto Sala Verde e, por outro,
mantendo relações institucionais junto às suas instituições gestoras.
Verdade (2010) reconhece, em seu estudo, que as Salas Verdes ainda não possuem um
papel definido, enfrentando o dilema de não serem reconhecidas mais como Bibliotecas Verdes
e, ao mesmo tempo, não se denominarem como um Centro de Educação Ambiental. Para o
autor, as generalizações são comprometidas pela diversidade de estruturas, metodologias e
tecnologias desses espaços.
O Projeto Sala Verde se destaca no caminho da EA brasileira, sendo continuamente
debatido em eventos e documentos oficiais. Sua relevância também foi evidenciada pelo
Ministério do Meio Ambiente quando tornou pública a possibilidade de ampliar a instalação de
Salas Verdes além do território brasileiro. Sua configuração se assemelha a concepção de
Centro de Educação Ambiental, que consiste em uma denominação comum às iniciativas de
EA pelo mundo.
ecológica, econômica, social, política e cultural. Todo este conjunto de estratégias está
diretamente relacionado ao contexto de planejamento e de avaliação.
O estudo de Silva e Sorrentino (2018) propõe outra possibilidade de classificação
tipológica de CEAs brasileiros. Por corresponderem com o perfil deste estudo, destaca-se aqui
a classe dos Centros de Referência:
Consideramos como Centros de Referência aquelas iniciativas que, além de
desempenharem a função de difusoras/disponibilizadoras de informações,
cumprem importantes papéis de articulação entre educadores ambientais e
suas respectivas instituições/projetos, e de apoio a elaboração e
implementação de projetos e programas de EA numa escala
local/regional/estadual (SILVA; SORRENTINO, 2018, p. 8).
Os autores recorrem também a três características centrais no âmbito dos CEAs, sendo
elas:
a) Caráter demonstrativo;
b) Caráter sensibilizador;
c) Caráter de Referência.
Ao atrelar o papel dos CEAs na experiência de seus participantes, Silva (2005, p. 138)
ressalta que “estamos dialogando com uma concepção de CEA que pode até cumprir um papel
de lazer, mas tem como um dos seus objetivos centrais a promoção de processos pedagógicos
em EA” e atenta para a efetividade dos seus processos, onde muitas vezes deixam de priorizar
as metodologias e o planejamento apenas para aprimorarem seus discursos. Sobretudo, o autor
defende as potencialidades dos CEAs, que “de um modo geral, são um dos recursos mais
completos, complexos, singulares e plurais, capazes de delinear, implementar e avaliar
processos educacionais” (SILVA, 2005, p. 153).
Os princípios que balizam o impacto socioambiental dos CEAs têm características
intrínsecas como diálogo, participação e especificidades, propondo uma intervenção
democrática que parte da cidadania e de uma motivação emancipadora. Esses princípios podem
ser considerados aliados à seguinte definição de sociedades sustentáveis:
O desenvolvimento não pode ser já a simples aplicação em todo o mundo de
modos de pensamento, experiências, conhecimentos e modos de vida próprios
de uma região ou de uma cultura: pelo contrário, a orientação e o ritmo do
desenvolvimento deverão ser definidos de modo endógeno por cada sociedade
em função das necessidades, dos objetivos socioeconômicos e das
particularidades de seu meio ambiente, assim como das consequências do
desenvolvimento sobre a biosfera... Significa também estimular a participação
efetiva dos setores ativos da população no processo de concepção, decisão e
controle das políticas inspiradas pelas novas óticas do desenvolvimento
(GAUDIANO, 2002, p.28).
Os CEAs possibilitam atuar frente a crise ambiental e civilizatória de forma estratégica
25
por meio da resolução de problemas ambientais locais. Por proporcionarem uma melhor
compreensão das complexas relações de seu entorno, essas iniciativas podem proporcionar
benefícios relevantes no contexto em que estão inseridas.
Assim como Layrargues (1999) assumiremos certo reducionismo, que decompõe a
realidade em fragmentos que reduzem a complexidade de seus sistemas. O autor apresenta a
resolução de problemas a partir da Conferência de Tbilisi, que em suas recomendações
apresentou a resolução de problemas ambientais locais como uma estratégia metodológica,
colocando-a como um elemento integrador na construção de sociedades sustentáveis
(LAYRARGUES, 1999).
Considera-se, então, na realidade diversa dos CEAs, essa estratégia da resolução de
problemas ambientais locais. Nesse contexto, busca-se uma aproximação do vínculo entre os
processos educativos e a realidade cotidiana dos envolvidos, onde a ação local representa a
melhor oportunidade tanto do enfrentamento dos problemas ambientais como da compreensão
da complexa interação dos aspectos ecológicos com os político-econômicos e socioculturais da
questão ambiental (LAYRARGUES, 1999).
26
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
O escopo desse trabalho foi sistematizar informações que contribuam para melhor
compreensão das relações que envolvem o ideal de sociedades sustentáveis. Possibilita a
oportunidade de descrever as Salas Verdes como Centros de Educação Ambiental e analisar seu
retorno social por meio do impacto positivo em diferentes setores. Poderá também respaldar
outras iniciativas atuais e futuras.
Neste tópico apresentamos a caracterização da pesquisa. Inicialmente o delineamento
do estudo com os procedimentos metodológicos utilizados para alcançar os objetivos,
discorrendo sobre a natureza, o tipo e os métodos utilizados na coleta de dados, e por fim
apresenta-se a caracterização do objeto de estudo.
Busca ainda, esmiuçar a forma como as pessoas constroem o mundo à sua volta, o que
estão fazendo ou o que lhes está acontecendo em termos que tenham sentido e que ofereçam
uma visão rica. As interações e os documentos são considerados como forma de construir, de
forma conjunta (ou conflituosa), processos e artefatos sociais. A investigação qualitativa leva a
sério o contexto e os casos, para entender uma questão em estudo. Uma grande quantidade de
pesquisas qualitativas se baseia em estudos de caso ou em séries desses estudos e, com
frequência, o caso (sua história e complexidade) é importante para entender o que está sendo
estudado (FLICK, 2009).
Estudos descritivos possuem como finalidade a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou ainda o estabelecimento de relações entre suas
variáveis. Buscam, além disso, determinar a natureza dessas relações. Dessa forma, a pesquisa
descritiva aproxima-se da pesquisa exploratória, ao proporcionar uma nova visão do problema
em questão (GIL, 2012).
A pesquisa está caracterizada como estudo de caso, uma modalidade utilizada em várias
áreas do conhecimento. Laville e Dionne (1990) destacam que “um” caso pode ser uma pessoa,
um grupo, uma comunidade, um meio, um acontecimento especial, uma mudança política ou
um conflito. O estudo de caso é um estudo empírico pelo qual se investiga um fenômeno recente
dentro do seu contexto de realidade e podem ser utilizadas diversas fontes de evidências (YIN,
2005). Nesse sentido, Alencar (2000) sustenta que os estudos de caso possuem um papel
importante nas Ciências Sociais, na medida em que contribuem com elementos para a
construção de teorias.
Consequentemente, a presente pesquisa considera a diversidade de itinerários inerentes
em cada “meio ambiente”, composto por suas singularidades culturais, econômicas, ecológicas
e sociais. Todavia, conjuga essas dimensões para compor uma análise crítica das proposições
teóricas e práticas da Educação Ambiental.
Desta forma, a revisão bibliográfica não consiste em multiplicar o que já foi dito, mas
sim em analisar determinado tema sob outro ponto de vista, proporcionando assim novas
considerações.
Enfatizou-se, neste trabalho, a organização de ideias que retratassem o campo da
Educação Ambiental e contextualizasse a realidade do objeto do estudo. Demo (2000) completa
a ideia da pesquisa em induzir o contato pessoal do educando com as teorias, levando à
interpretação.
A pesquisa documental é uma técnica que se utiliza de materiais que não receberam
ainda um tratamento analítico ou que podem ainda ser reelaborados de acordo com os objetivos
da pesquisa (GIL, 2012). As pesquisas documentais referem-se aos estudos que têm como
referência documentos, escritos ou não, que são materiais utilizados como fonte de informação
secundária para a pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2010).
Realizaram-se levantamentos documentais nas publicações oficiais do Ministério do
Meio Ambiente e Ministério da Educação, visando facilitar a compreensão do percurso da
Educação Ambiental e, especificamente, do Projeto Sala Verde no Brasil.
Para compreender o funcionamento da Sala Verde que é foco deste estudo, foram
explorados e organizados, durante dois meses, os acervos de documentos desde o ano de sua
instituição (2008). Dentre os documentos analisados, estão convênios entre parceiros, materiais
produzidos e utilizados nas metodologias educativas ambientais, reportagens de mídia, fotos,
conteúdos informativos reproduzidos, seus relatórios mensais e anuais e seu Projeto Político
Pedagógico. Assim, buscou-se compreender a trajetória da Sala Verde, desde os interesses de
sua implementação até as demandas e exigências de seu funcionamento.
Essa análise aconteceu concomitantemente com o acompanhamento da atuação da
equipe educativa do espaço, o que possibilitou que as informações se tornassem insumos para
evidenciar proposições e relações sobre o campo da Educação Ambiental e das Políticas
Públicas Ambientais. Por meio dos documentos efetivamente registrados na Sala Verde foi
possível também acompanhar e avaliar o gerenciamento de seus projetos, viabilizando uma
tentativa de compreender “qual Educação Ambiental” o espaço promove.
A área em questão apresenta 20,4 hectares de mata secundária de cerrado, que abriga
uma fauna e flora característica do bioma, apresentando, também, uma grande importância
ecológica por ser uma área de alagado, por causa do rio Itapecerica, que o margeia (FONSECA,
2013).
O Parque da Ilha sempre foi um local destinado ao esporte e lazer e, mais recentemente,
à Educação Ambiental. Além da área com vegetação há também quadras esportivas, academia
30
“ao ar livre”, pistas de atletismo e de skate, área de brinquedos, trilhas, banheiros públicos,
viveiros educadores e uma estrutura onde funciona a Sala Verde Frei Paulino (FIGURA 4).
31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a implantação e funcionamento da Sala Verde foram feitas parcerias também com
o setor privado, que disponibilizou recursos financeiros e materiais. Dentre as ações com o setor
privado destaca-se o Projeto Reciclando e o Viveiro Educador. O Viveiro Educador é um
projeto do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente que propõe
um trabalho de Educação Ambiental utilizando viveiros florestais como espaços de
aprendizagem (FIGURA 6)
Figura 6 - Viveiro Educador em 2010.
na comunidade em geral, que trocam resíduos como latas de alimentos, ferramentas, peças de
automóveis, bicicletas, fios, arames por mudas de árvores frutíferas ou ornamentais.
A empresa investiu na construção de dois viveiros que são utilizados para trabalho de
Educação Ambiental com as (os) estudantes e para a produção das mudas. Desde 2009, a sucata
é acondicionada em uma estrutura próxima aos viveiros e destinada periodicamente a
reciclagem (FIGURA 7), sendo seu retorno financeiro integralmente reinvestido no manejo dos
viveiros e na manutenção do próprio projeto, tornando-o circular e autossustentável.
O cidadão interessado em obter as mudas, deve entregar na Sala Verde a sucata ferrosa
separada. Ao receber a sucata, é feita a pesagem do material e o cidadão que solicita a troca é
questionado sobre qual é o tipo de muda que deseja receber e o seu destino. Após a troca, o
cidadão recebe informações sobre os cuidados necessários para o plantio (FONSECA;
FRENEDOZO; LANDA, 2012, p. 188).
O Projeto Reciclando vem cumprindo seu papel socioambiental (FONSECA, 2013) e,
segundo os registros da Sala Verde Frei Paulino, o projeto possui um papel dinamizador porque
articula e integra diversos segmentos da sociedade, desenvolve ações educacionais bem como
contribui para sua autossustentabilidade.
A Sala Verde Frei Paulino está localizada na área central de fácil acesso para a
população. Desde sua criação, o projeto propõe o envolvimento de Secretarias Municipais e
outros parceiros, tendo por objetivo atentar também a gestão pública para a Educação
Ambiental a serviço da comunidade.
A equipe da Sala Verde Frei Paulino é composta por dois educadores e três profissionais
que auxiliam nas atividades e projetos do espaço. As atribuições são diversas e orientadas de
34
acordo com a demanda do Parque da Ilha, das iniciativas e da comunidade atendida. O Projeto
Político Pedagógico foi elaborado pela equipe educativa no ano de 2013, sem apresentar um
efetivo planejamento e embasamento teórico de Educação Ambiental. Esse documento não foi
atualizado ou acompanhado nos anos seguintes de funcionamento do espaço. Ainda, definiu-se
nele a missão da Sala Verde Frei Paulino (BRASIL, 2005) de fomentar a Educação Ambiental
para conquista do meio ambiente em equilíbrio, qualidade de vida, justiça social e o
desenvolvimento sustentável. Nesse documento também está descrito que:
Para melhor qualidade e efeito junto às comunidades a relação entre as
propostas de EA não formal e EA formal devem ser complementares. É
preciso que os gestores de diferentes setores se entendam para favorecer a
implantação de programas e projetos eficientes do ponto de vista educacional
(BRASIL, 2005).
No tópico seguinte, veremos que essas relações da ação educativa ambiental aliadas aos
elementos que a constituem as Salas Verdes, possibilitam reconhecer seus espaços como
Centros de Educação Ambiental.
escala na criação e integração de CEAs no país. Todavia, ainda é recorrente o desafio apontado
pelo estudo da consultoria realizada para Ministério do Meio Ambiente sobre o dilema das Salas
Verdes serem, de um lado (e aos olhos de seus públicos), uma espécie de “Biblioteca Verde” e,
de outro, um projeto de CEA (BRASIL, 2014b). No presente estudo não foi possível avaliar a
percepção de seus gestores sobre esta questão.
Ainda assim, a Sala Verde Frei Paulino pode ser considerada um CEA ao apresentar os
mesmos elementos que os configuram, segundo Silva e Sorrentino (2018): seu espaço no Parque
da Ilha; os equipamentos adquiridos e disponibilizados ao longo dos anos (como projetor,
computadores, câmeras e ferramentas); seu Projeto Político Pedagógico elaborado em 2013 e
sua equipe, composta por dois educadores do município e por outros profissionais que auxiliam
no funcionamento do Parque. O conjunto da Sala Verde Frei Paulino também atua
demonstrando, sensibilizando e referenciando a Educação Ambiental, sendo coerentes com as
características de um CEA proposto por estes autores. O caráter sensibilizador e de referência
são recorrentes entre os CEAs brasileiros, sendo o caráter demonstrativo uma potencialidade
da Sala Verde Frei Paulino. Essa característica se justifica pela credibilidade de seus projetos
na educação formal (por meio da orientação e implantação de hortas orgânicas e de jardinagens
em escolas) e na educação não formal (pela sua atuação no contexto do Parque da Ilha).
Dessa forma, a Sala Verde Frei Paulino pode ser classificada como um Centro de
Referência em Educação Ambiental, destacando (grifo nosso):
Aquelas iniciativas que, além de desempenharem a função de
difusoras/disponibilizadoras de informações, cumprem importantes papéis de
articulação entre educadores ambientais e suas respectivas
instituições/projetos, e de apoio a elaboração e implementação de projetos e
programas de EA numa escala local/regional/estadual. Localizam-se em geral
em áreas urbanas, e são preferencialmente mantidos por instituições públicas
(prefeituras, órgãos públicos federais estaduais, universidades e prefeituras)
(BRASIL, 2014b).
Ainda segundo Silva e Sorrentino (2018, p. 12) “faz-se pouca referência aos CEAs em
documentos brasileiros de EA ditos oficiais”. Contudo, é possível apontar forte compatibilidade
entre o Projeto Sala Verde e as Políticas Públicas que orientam a EA no país. Os objetivos da
Política Nacional de Educação Ambiental, defendem, por exemplo: o estímulo e o
fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social (BRASIL,
1999). A Sala Verde Frei Paulino se destaca pelo seu caráter mobilizador, e não somente
pedagógico, exercendo seu papel enquanto CEA. Estes promovem atividades diversas no
campo da EA, desde a simples disponibilização de informações até a organização e mobilização
comunitária visando sua efetiva participação política no município, por exemplo (SILVA;
36
altruísta, mas principalmente uma fundamental atuação profissional, com relevante função na
sociedade.
Sobre os objetivos estruturais da classificação não formal, trata-se, apenas, de um
esquema didático que, como qualquer outro, é constantemente negado pela prática. Como um
espaço de Educação Ambiental não formal, a Sala Verde Frei Paulino reafirma seu papel de
interagir com diferentes setores quando comparada à modalidade formal realizada nas escolas.
Por essa característica, as práticas de Educação Ambiental não formal encontram um campo
fértil para a interdisciplinaridade, pois não têm regras impostas, estão mais próximas das
realidades locais, articulam-se mais facilmente aos temas de maior significado e utilidade do
grupo social que envolvem (LEONARDI, 2001).
A interdisciplinaridade é percebida na Sala Verde Frei Paulino como um recurso
conveniente, por meio do qual é possível cooperar em soluções idealizadas pela mediação de
distintos métodos, conceitos, aspectos e interesses. Essa interação pode ser vista como
complexa em relação às suas possibilidades, e sobre essa complexidade, Sato e Carvalho (2005,
p.130) descrevem:
Mas se a interdisciplinaridade encontra-se ainda longe de se materializar em
extensas propostas curriculares (...) a complexidade é vislumbrada apenas
como um horizonte de possibilidade para se construir novos territórios do
pensamento e da ação crítica, não só do ambiental como de todas as esferas
do conhecimento.
Para Layrargues (2009), a EA se encontra submetida à sua função moral de harmonia
entre sociedade e natureza; e também com a pouco compreendida função ideológica de
reprodução das condições sociais. Cabe a essa reprodução a oportunidade de manutenção ou
transformação social. Essa transformação tem como princípio o diálogo, pilar em que as ações
das Salas Verdes se sustentam. Na Sala Verde Frei Paulino, o diálogo viabiliza o trabalho com
a diferença de que, por sua vez, é pré-requisito da interdisciplinaridade. Essa diversidade é
percebida na relevância de diferentes sujeitos em atividades e projetos do espaço. Reuniões com
associações de moradores para debater questões locais, apoio em projetos e eventos de unidades
escolares e o constante contato com as Secretarias Municipais são exemplos que demonstram
essa diversidade e diálogo. É na articulação desses três pilares básicos – diálogo, diversidade e
interdisciplinaridade – que se fundamenta o trabalho de EA (LEONARDI, 2001).
Dessa forma, não é suficiente estabelecer indicadores de sustentabilidade nem profundas
análises conceituais sobre o tema da EA. Os esforços atuais devem colaborar para reestabelecer
vínculos entre os sistemas de mercado (dos modelos econômicos), do poder público e da
educação, compreendendo as causas e promovendo uma nova racionalidade responsável pela
39
Para Sato e Carvalho (2005), a EA não formal deve estar atrelada a um programa de
gestão. Isto garante que as ações estejam vinculadas a objetivos e metas, bem como a constantes
avaliações, permitindo assim uma melhoria contínua de todo o processo. Essa melhoria não é
devidamente tratada na parceria entre as Salas Verdes e seu órgão proponente, o Ministério do
Meio Ambiente, mais especificamente o Departamento de Educação Ambiental (DEA).
Logo, a flexibilidade e diversidade das iniciativas dessa modalidade não formal deixam
de ser acompanhadas pela gestão pública, que culmina por enfraquecer sua influência sobre os
resultados do Projeto. Como já diagnosticado no estudo do Ministério do Meio Ambiente,
reside aí uma dimensão importante e talvez crucial do Projeto Sala Verde, que mereceria ser
mais aprofundada: seu real significado tanto para o DEA/MMA quanto para as próprias Salas
Verdes e seus reflexos práticos e concretos. (BRASIL, 2014B).
Em 2007, esse estudo realizado por uma consultoria levantou as necessidades e
perspectivas futuras das Salas Verdes, que indicavam para demandas como: maior divulgação
da sua existência, ampliação do seu acervo, estabelecimento de parcerias, integração com outras
Salas Verdes, produção de materiais educativos, formação da equipe, sendo estas e outras
deficiências evidenciadas até hoje na Sala Verde Frei Paulino. Um devido monitoramento das
demandas e resultados por parte do DEA/MMA alinharia o Projeto Sala Verde, servindo de
orientação para os espaços emergentes e fortalecendo os espaços existentes. Esse
acompanhamento possibilitaria validar, mais efetivamente, o respaldo social da Sala Verde Frei
Paulino enquanto instrumento de política pública.
Dos objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), destaca-se:
O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e
macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente
equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,
democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade (BRASIL,
1999).
Visualizar as deficiências e forças dos Centros de Educação Ambiental (compreendendo
aqui as Salas Verdes), representa cooperar para formulação de Políticas Públicas mais
específicas, orientando a implementação de programas e projetos voltados para a EA. Essa visão
40
Frei Paulino.
Todos os colaboradores que interferem no delineamento das iniciativas da Sala Verde
precisam estar abertos a discussão e guiados por um planejamento estratégico, não apenas
focando seus discursos em questões centrais ou periféricas. Devido a sua característica de
constante construção, a EA carece de estratégias que a confirmem “como um dos instrumentos
de superação da insustentabilidade da sociedade atual” (LEONARDI, 1997, p. 398).
Apesar de apresentar mais dinamismo e ser praticada em diversos espaços da vida social,
a EA não formal não deve deixar de definir claramente seus objetivos, metodologias e
periodicidades (LEONARDI, 1997). Contudo, constata-se uma lacuna em relação à estratégia
de funcionamento dos CEAs e, mais especificamente, das Salas Verdes no Brasil. No
diagnóstico realizado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2014, a “Gestão Interna das Salas
Verdes” já era colocada como uma alternativa de melhoria relevante, abarcando aspectos
administrativos internos (procedimentos internos, fluxo de documentos, etc), equipe (e como
ela se relaciona diretamente na gestão da Sala) e a relação dela com a comunidade com a qual
a Sala Verde se relaciona. (BRASIL, 2014b)
Essa gestão estratégica é prevista no Projeto Político Pedagógico (PPP). Muitos CEAs
possuem seu PPP (algumas vezes bem estruturado), mas não o praticam. Tanto a Sala Verde
Frei Paulino como outros CEAs, ao destinarem esforços na construção de seus respectivos PPPs
estariam refletindo sobre o estímulo de pessoas na direção da implementação de transformações
sociais, políticas, ambientais, econômicas, culturais, éticas, dentre outras, nas realidades onde
estas pessoas encontram-se inseridas (BRASIL, 2005). O PPP baliza essa transformação por
meio da enunciação de suas propostas, articuladas em bases conceituais e intencionadas desde
o planejamento até sua execução.
O PPP da Sala Verde Frei Paulino teve sua elaboração no ano de 2013, sem devido
planejamento e cuidado. Se redefinido, demonstrará mais seguramente o potencial do espaço
ao relacionar melhor suas dificuldades e estabelecer metas tangíveis. Esse alerta é relevante,
uma vez que se observam, nos diferentes eventos da EA, relatos de experiências escolares e
descrições de projetos e iniciativas, incluindo dificuldades cotidianas, sem que esses aspectos
sejam relacionados aos condicionantes estruturais (LAMOSA; LOUREIRO, 2011).
Um PPP orienta as ações para uma melhoria contínua de seus agentes, ações e
concepções, tornando os projetos ainda mais condizentes com a realidade de onde estão
42
inseridos. Em relação ao Projeto Sala Verde em todo o território nacional, é possível evidenciar
a ausência de ferramentas e metodologias administrativas previstas. Tal consideração talvez
seja reflexo da estratégia do MMA/DEA, que não é claramente compreendida pelas Salas
Verdes.
Diversos autores exploraram a importância do PPP para iniciativas em EA. Se a
estratégia (por meio do PPP) da Sala Verde Frei Paulino for bem contextualizada e integrada,
ampliará consideravelmente seus resultados (impacto). Essa potencialidade do PPP é justificada
pela diversidade e dinamismo das atividades da Sala Verde Frei Paulino. Para desenvolver
atividades como hortas escolares e projetos de jardinagem; preparar e executar palestras para
as unidades escolares visitantes; promover mobilizações, concursos e eventos bem como para
gerenciar relatórios e funcionários é preciso de um planejamento (previsto no PPP) para que a
operacionalização da Sala Verde seja efetiva.
Um PPP traz uma visão de educação pautada em uma visão de sociedade que, a partir
de seus sujeitos e realidade, traçam uma proposta de ação pedagógica e social. É, portanto, um
documento identitário, no qual os sujeitos se vêem e atuam sobre as suas demandas e planos,
que serão periodicamente revistos e sistematicamente reconstruídos (BRASIL, 2005).
É possível que esta questão estratégica represente um fator essencial para as principais
dificuldades enfrentadas pelos CEAs. A atual capacitação de recursos humanos especializados
e os métodos de avaliação das Salas Verdes são exemplos destas dificuldades. No que tange à
avaliação, são constantes as discussões que tentam propor “critérios de qualidade em CEAs”.
Todavia, há assuntos anteriores e fundantes no tocante à temática que precisam ser discutidos.
Não é possível propor tais critérios sem que esteja definido quantas, como e onde estão as
iniciativas no país (SILVA, 2005).
De fato, investir em uma visão mais “tática” sobre as Salas Verdes seria uma proposta
de potencializar, otimizar e sistematizar os espaços educadores no Brasil. Essa visão conduziria
com mais eficiência o caminho de transição que idealiza uma sociedade mais sustentável.
O Projeto Reciclando é considerado “o carro chefe” da Sala Verde Frei Paulino. Esse
projeto traduz seus resultados e os esforços de diferentes setores que envolvem sua
operacionalização. O projeto envolve participantes diversos, de forma controlada e permanente,
tornando-se um diferencial dentre as iniciativas de EA promovidas por Salas Verdes e
respondendo aos princípios da Declaração proferida na Conferência Estocolmo:
43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste trabalho foi discutir a trajetória de dez anos da Sala Verde Frei Paulino
e seu itinerário desafiador que parte da intencionalidade de promover a sustentabilidade de
forma integrada por meio da EA. Todos os estudos que orientaram essas reflexões
problematizaram a questão ambiental a partir de sua transdisciplinaridade, ou seja,
considerando suas várias dimensões e relações. Independentemente de sua abordagem ou
objetivo, a problemática ambiental parte das questões de convivência e tentativa de harmonia
entre o uso e conservação dos recursos no planeta. Conforme sintetiza Hogan (2001, p.386), “a
noção de sustentabilidade, por sua vez, implica uma necessária inter-relação entre justiça social,
qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento com respeito à
capacidade de suporte”.
Ao assumir um objetivo no campo de educação sob a ótica da sustentabilidade ambiental
condicionamos nosso esforço, inevitavelmente, em propor uma abordagem integrada, permeada
por paradigmas e complexidades. Portanto, para ser, conhecer ou formar um educador ou
educadora ambiental significa, sobretudo, compreender um nível de realidade que envolve
aspectos físicos, econômicos, culturais, emocionais, por vezes individuais e por outras
coletivos.
Para Santos (2001), uma epistemologia (ou conhecimento) do “Sul” devem provir de
três orientações: aprender que existe o ‘Sul’, aprender a ir até o ‘Sul’ e aprender a partir do
‘Sul’”. Farias e Freitas (2007) complementa o autor ao concluir que a ideia de construir um
saber solidário, mediado de possibilidades de participação e de sentimento de incompletude
cultural, não se estabelece senão por meio do afrontamento e, portanto, do conflito, perante o
saber hegemônico.
Dessa forma, propor uma abordagem crítica e emancipatória de EA em uma sociedade,
pressupõe explorar seu potencial de cidadania e de democratização necessários para a
construção de sociedades ditas sustentáveis e, consequentemente, para superação da crise
ambiental. Essa abordagem é confirmada com a com a perspectiva crítica da educação de Paulo
Freire, que expressa o sentido de que “a leitura do mundo procede a leitura da palavra”
(FREIRE, 2017).
A EA alcançou reconhecimento em diferentes setores por meio de espaços e estruturas
com dinâmica e intenção que contenham em si o potencial de provocar descobertas e reflexões,
individuais e coletivas simultaneamente (MATAREZI, 2005). E essa é uma possível identidade
comum entre os denominados Centros de Educação Ambiental, que equalizam as diversas
46
Hoje, reconhecemos que a natureza (ou o meio ambiente, se preferirmos) não é simples
e é impossível uma ciência única que dê conta de explicar sua complexidade (CAVALCANTI
et al., 2001). Vale ressaltar, portanto, o papel da formação ambiental, que ao inserir as
dimensões ambientais na formação dos diferentes sujeitos, possibilita maior garantia de
intervenções efetivas e alinhadas ao contexto da crise ambiental. Podemos perceber a
necessidade de continuidade nas pesquisas, objetivando superar as dicotomias das tipologias e
correntes; levando aporte à comunidade científica e trazendo mais propriedade e melhorias às
inciativas de EA.
Por fim, faz-se necessário estarmos abertos a desconstruções sobre os assuntos
socioambientais – no diálogo, no respeito e no cuidado – valorizando o lado importante das
incertezas deste campo. É preciso entender que fazemos parte dessa complexidade de relações
e dependências, e estarmos despertos que “o que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado.
Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção.
Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento
afetivo com o outro (BOFF, 2004, p. 33).
48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano-compaixao pela terra. 10.ed. Petrópolis: Vozes,
2004, 200p.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário
Oficial da república Federativa do Brasil. Brasília, DF, 02 set. 1981.Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em 22 de março de 2018.
BRASIL. Lei nº 9.725, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da república
Federativa do Brasil. Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9795.htm>. Acesso em 22 de março de 2018.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. 2016. Projeto salas verdes. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/educomunicacao/salas-verdes#oprojeto>.
Acesso em: 10 jun. 2018.
DEMO, P. Pesquisa: Princípios científicos e educativos. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FARIAS, R de. O.; FREITAS, D de. Educação ambiental e relações cts: uma perspectiva
integradora. Ciência e Ensino, Piracicaba, v.1, n.especial, 2007.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. Cortez editora,
50
GIL, A, C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 200p.
GUTIERREZ, F.; PRADO, C. Ecopedagogia e cidadania planetária. 1.ed. São Paulo: Cortez,
1999, 128p.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Divinópolis. 2017. Disponível em: <
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/divinopolis/panorama>. Acesso em 19 jun. 2018.
JACOBI, P. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para reflexão. In:
CAVALCANTI, C. et al. Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas
Públicas. 3.ed. São Paulo: Cortez Editora, 2001, 436p.
um estudo nas escolas públicas de Teresópolis (RJ). Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37,
n.2, p. 279-292, 2011.
LAVILLE, C.; DIONNE, J. A. Construção do saber. 1.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,
1999.
PROOPS, J.; FABER, M.; MANSTETTEN, R.; JÖST, F. Realizando um mundo sustentável e
o papel do sistema político na consecução de uma economia sustentável. In: CAVALCANTI,
C. et al. Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. 3.ed. São Paulo:
Cortez Editora, 2001, 436p.
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. 4.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
SILVA, F. D da. Uma proposta de rede temática em educação ambiental: a rede brasileira
de centros de educação ambiental. 2018 Disponível em:
<http://www.manuelzao.ufmg.br/assets/files/Biblioteca_Virtual/A%20rede%20ceas.pdf>.
Acesso em: 27 mai. 2018.
TAVARES, C.; FREIRE, I. M. Informação ambiental no Brasil: para quê e para quem.
Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v.8, n.2, p.208-215, 2003.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.