Michael Youssef - O Estilo de Liderança de Jesus

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O ESTILO DE LIDERANÇA DE

JESUS
Como desenvolver as qualidades

de liderança do bom Pastor

Michael Youssef
Editoria Betânia
Sumário
APRESENTAÇÃO
P ARTE 1 - O RIGENS DA LIDERANÇA
CAPÍTULO 1 - A NECESSIDADE DE CONFIRMAÇÃO
CAPÍTULO 2 - PRESTANDO RECONHECIMENTO AOS QUE VIERAM ANTES DE NÓS
P ARTE 2: Q UALIDADES DA L IDERANÇA
CAPÍTULO 3 - O LÍDER COMO PASTOR
CAPÍTULO 4 - CORAGEM
CAPÍTULO 5 - BONDADE
CAPÍTULO 6 - ROMPENDO COM OS COSTUMES
CAPÍTULO 7 - GENEROSIDADE
CAPÍTULO 8 - SINCERIDADE
CAPÍTULO 9 - PERDÃO
P ARTE 3 : T ENTAÇÕES DA L IDERANÇA
CAPÍTULO 10 - PODER
CAPÍTULO 11 - O NOSSO EGO
CAPÍTULO 12 - IRA
P ARTE 4: P ROBLEMAS DA L IDERANÇA
CAPÍTULO 13 - BUSCA DE APOIO
CAPÍTULO 14 - OS DESCRENTES
CAPÍTULO 15 - CRÍTICAS
CAPÍTULO 16 - TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA
P ARTE 5: O F UTURO DA L IDERANÇA
CAPÍTULO 17 - DE ONDE SURGEM OS LÍDERES
CAPÍTULO 18 - TRANSFORMANDO SEGUIDORES EM LÍDERES

APRESENTAÇÃO

Será necessário ter um ego gigantesco, roupas caras e


força política para ser um autêntico líder nos negócios?
Você precisa ter um diploma de seminário e ser bem
eloqüente para ser de fato o líder na sua igreja? Será
preciso intimidar as pessoas para ser um verdadeiro líder
em casa?
Não, diz Michael Youssef. Os verdadeiros líderes
precisam ter a chamada e o caráter de Jesus Cristo.
Nenhum de nós pode se igualar ao Bom Pastor, mas
podemos aprender, com seu exemplo, a cuidar melhor do
nosso rebanho. O próprio Youssef, executivo em uma
organização cujo ministério se estende por todo o mundo,
tem estudado o que dizem os evangelhos, no intuito de
descobrir o estilo de liderança que Jesus nos legou como
modelo. Neste livro ele aponta várias características
presentes na vida de Jesus, que todo líder precisa ter.
Mas ele não para aí. Tomando por base a vida de Jesus,
Youssef mostra como os líderes devem enfrentar as
tentações e as pressões, lidar com o ego, a ira, a solidão,
os incrédulos, as críticas, o uso do poder e, também, como
passar para outros a tocha da liderança.
Se você anda “à procura da excelência”, no que se
refere ao desenvolvimento das suas aptidões de liderança,
olhe bem de perto para Jesus Cristo, — O maior líder que já
existiu.

Parte 1 - Origens da liderança

CAPÍTULO 1 - A NECESSIDADE DE CONFIRMAÇÃO

Um pastor amigo meu foi falar a um grupo de crianças


usando sob a roupa uma camiseta especial. Em dado
momento anunciou: “Tenho uma coisa para contar a vocês
— uma coisa que nunca disse a ninguém em toda a minha
vida!” Num gesto rápido, abriu a toga clerical expondo a
camiseta e afirmou: “Eu sou o Super-Homem!”.
As crianças acharam graça. E por fim uma delas o
desafiou: “Se o senhor é o Super-Homem, então voe até o
teto!”
O pastor, então, continuou explicando-lhes que muita
gente afirma ser isto ou aquilo. “Mas”, acrescentou “o
problema é que, tendo afirmado ser o Super-Homem é
preciso prová-lo.”.
Com relação à liderança, acontece a mesma coisa.
Quando alguém apregoa que é líder, tem que provar que o
é. E precisa de confirmação de outros que admitam:
“Ele é mesmo o líder”.
O próprio Jesus teve que comprovar sua condição
antes que outros o seguissem. Depois que alguns o
reconheceram como o Messias prometido, passaram a
testemunhar e confirmar sua messianidade.
O Evangelho de João mostra que Jesus estava sempre
dando provas daquilo que afirmava acerca de si mesmo,
não dando maior ênfase a seus milagres, mas, sim, a
comprovações mais contundentes. Podemos encontrar
neste evangelho pelo menos sete comprovações do
ministério de Cristo. Depois de as examinar, poderemos
atacar a questão de saber como se aplicam à liderança
atual nas igrejas, aos negócios e a outras organizações.

Primeira testemunha: O Pai


O Próprio Deus Pai foi quem enviou Jesus Cristo como
Salvador do Mundo. Nosso Senhor disse aos seus ouvintes:
“O Pai que me enviou, esse mesmo é que tem dado
testemunho de mim”. (Jo 5.37).
O selo de aprovação do Pai não foi dado às ocultas.
Deus fez questão de confirmar a liderança de Jesus
publicamente, logo depois de ele ter sido batizado por João.
“... eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de
Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis
uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16,17).

Assim, na presença de João e outros que assistiam ao


batismo, o Pai anunciou claramente ao mundo a ligação
que havia entre ele e Jesus.
Que contraste entre este evento e a atitude de
Maomé, o fundador e profeta do Islã, que secretamente
chegou a Jerusalém na calada da noite e alegou ter ouvido
a voz de Deus falando com ele!
Que contraste com tantos outros que se vangloriam de
ter ministérios especiais, que começaram quando “no meio
da noite, Deus me acordou e falou comigo”.
Jesus não precisou dizer ao mundo que tinha o direito
de ser líder.
O Pai endossou-o abertamente.
Em outra ocasião, mais particular, Jesus levou três de
seus discípulos mais chegados a um lugar que veio a ser
conhecido depois como o Monte da Transfiguração.
Cerca de oito dias depois de ter proferido essas
palavras, tomou Jesus consigo a Pedro, a João e a
Tiago, e subiu ao monte para orar.

Enquanto ele orava, mudou-se a aparência do seu


rosto, e a sua roupa tornou-se branca e
resplandecente.

E eis que estavam falando com ele dois varões, que


eram Moisés e Elias, os quais apareceram com glória,
e falavam da sua partida que estava para cumprir-se
em Jerusalém.

Ora, Pedro e os que estavam com ele se haviam


deixado vencer pelo sono; despertando, porém, viram
a sua glória e os dois varões que estavam com ele.

E, quando estes se apartavam dele, disse Pedro a


Jesus: Mestre, bom é estarmos nós aqui: façamos,
pois, três cabanas, uma para ti, uma para Moisés, e
uma para Elias, não sabendo o que dizia.

Enquanto ele ainda falava, veio uma nuvem que os


cobriu; e se atemorizaram ao entrarem na nuvem.

E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu


Filho, o meu eleito; a ele ouvi.

Ao soar esta voz, Jesus foi achado sozinho; e eles


calaram-se, e por aqueles dias não contaram a
ninguém nada do que tinham visto.
Lc 9.28-36

Lá, tiveram mais uma confirmação quando Jesus falou


com Moisés e Elias.
Cristo não se autoproclamou líder. Sua liderança teve
início com as mais importantes das testemunhas — mas
não foi só isso.

Segunda testemunha: João Batista


João batizou Jesus e viu o Espírito descer como uma
pomba. E Jesus falou sobre ele:
“Mandaste mensageiros a João, e ele deu testemunho
da verdade. Eu, porém, não aceito humano
testemunho; digo-vos, entretanto, estas cousas para
que sejais salvos”. (Jo 5.33,34).

A “Voz que clama no deserto” também confirmou as


credenciais de Jesus quando o encontrou perto de Betânia.
Vendo que Jesus se aproximava disse:
“Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”.

É este a favor de quem eu disse: após mim vem um


varão que tem a primazia, porque já existia antes de
mim, por isso, Eu não o conhecia; mas, para que ele
fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em
água.” (Jo 1.29-31)

João Batista foi apenas um precursor. Ele tinha total


consciência do seu ministério excepcional - confirmar ao
mundo a identidade de Jesus Cristo.

Terceira testemunha: o Próprio Cristo


Pode a princípio parecer estranho que Jesus tenha
usado a si mesmo como testemunha de seu ministério. Mas
depois de ter-se referido ao Pai e a João Batista, ele
acrescentou:
“Mas eu tenho maior testemunho do que o de João”.
(Jo 5.36).

Em outra ocasião declarou: “Eu e o Pai somos um” (Jo


10.30). As pessoas que escutaram entenderam
perfeitamente o que ele dizia e, por isso, tentaram
apedrejá-lo, “pois sendo tu homem, te fazes Deus a ti
mesmo” (v. 33). Mais tarde ele disse também que, se as
pessoas o tivessem visto, teriam visto o Pai também (Jo
14.7).
Cristo não só apenas alegou ter uma relação singular
com Deus.
Tudo em sua vida demonstrava isso. Sem truques nem
cambalachos, sem prometer tornar seus seguidores ricos
ou poderosos, ele provou claramente que era um líder que
devia ser seguido.

Quarta testemunha: o Espírito


Como já mostramos antes, o Espírito Santo abençoou
Jesus na ocasião do seu batismo, quando desceu sobre ele.
E o Espírito permaneceu nele (Jo 1.32-34).
Embora talvez não possamos entender completamente
o que aconteceu, devido ao simbolismo da linguagem, é
certo que ele nos diz que o Espírito de Deus confirmava o
ministério e a liderança de Jesus. A presença do Espírito
Santo deu a Jesus autoridade para falar e realizar milagres
(Mt 7.22.29; Mc 1. 22,27; Lc 4.36).

Quinta testemunha: as Escrituras


O Antigo testamento confirma o ministério de Jesus.
Profetas anunciaram sua vinda, seu ministério e morte.
Isaías em especial, descreveu seu nascimento (Is 9.6); seu
sofrimento (53.4-10); seu desempenho de servo (42.1-4); e
chegou até mesmo a predizer que alguém viria antes dele
para anunciar sua vinda (40.3).
Jesus disse aos líderes judeus que o contestavam:
“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a
vida eterna, e são elas mesmas que testificam de
mim. Contudo não quereis vir a mim para terdes
vida”. (Jo 5.39,40).

Sexta testemunha: Milagres


O ministério de Jesus se auto-confirmou através dos
milagres que realizou. O Evangelho de João se refere a eles
como “sinais”. Embora João cite menor número de milagres
do que os outros evangelistas, os que ele menciona dão
testemunho do poder e dos propósitos de Jesus.
Mas Cristo não realizou esses sinais como ato de
exibição.Ninguém que fosse um mero exibicionista
realizaria alguns de seus mais impressionantes milagres
Longe das vistas da multidão, recomendando tantas vezes,
aos que haviam sido curados, que nada dissessem aos
outros. A cura do homem no tanque de Betesda (Jo 5) ou do
cego de nascença (Jo 9) por exemplo, parece ter sido
presenciada por apenas um pequeno grupo de pessoas.
Esse fato confirma suas palavras:
“Eu não aceito glória que vem dos homens” (Jo 5.41).

Sétima testemunha: os Discípulos


Os discípulos acompanharam Jesus durante todo seu
ministério na terra. Viram o que ele fazia, ouviram seus
ensinamentos e creram nele.
Quando os líderes religiosos começaram a perseguir o
Senhor e ele alertou para as dificuldades que seus
seguidores teriam de enfrentar , muitos dos seus prováveis
discípulos se afastaram — mas nem todos. Dos que ficaram
com Jesus foi Pedro quem disse: “Tu tens as palavras da
vida eterna” (Jo 6.68).
Pedro não estava dizendo apenas que Jesus conhecia
as regras e preceitos ou a maneira correta de viver, mas
que ele era o doador da vida eterna. E o apóstolo João
termina seu evangelho dizendo que ele dá testemunho —
isto é, confirmação — da vida e do ministério de
Jesus(21.24).

Os Líderes de Hoje
Nós, líderes de hoje, certamente não lideramos com as
mesmas qualificações excepcionais de Jesus Cristo. Mas,
mesmo assim, podemos aprender este princípio, extraído
de sua vida: a chamada para a liderança precisa ser
confirmada.
O que haveríamos de pensar se, em meio a um culto
de adoração, um estranho se dirigisse ao púlpito e
dissesse: “Vim aqui para conduzi-los à verdade”? Além de
ser uma atitude bastante insólita, como iríamos saber
quem ele era? Como iríamos saber se ele estava certo?
A pergunta que faríamos imediatamente seria: “Com
que direito (ou autoridade) nos dirige essas palavras?”
Talvez não fosse exatamente assim que nos
expressaríamos, mas, é claro que uma das primeiras coisas
que iríamos fazer seria solicitar uma confirmação de sua
liderança.
A maioria das denominações já tem estabelecidas as
normas para a ordenação ou o reconhecimento dos líderes.
Elas compreenderam que, embora as pessoas possam ser
treinadas para a liderança, apenas Deus faz a chamada. A
igreja funciona como uma agência confirmadora. Este
processo se inicia, quase sempre, quando a pessoa assume
cargos de liderança na igreja local, e os membros vão
reconhecendo sua capacidade e seu talento.
O conselho e o pastor da igreja podem confirmar o
chamado, caso alguém expresse sua intenção de dedicar-se
ao ministério.
Se a denominação exige formação acadêmica, a
própria escola ou seminário servirá também como uma
confirmação.
Os líderes espirituais devem ser, de certo modo,
“confirmados” também por pessoas de fora da igreja. O
apóstolo Paulo, instruindo Timóteo sobre a ordenação dos
oficiais da igreja, adverte que o futuro líder deve ter “bom
testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no
laço do diabo” (1 Tm 3.7).
A necessidade de confirmação é um requisito
indispensável a qualquer tipo de liderança. Nos negócios,
na igreja, em casa, ou em qualquer outro ambiente, as
pessoas precisam conquistar o direito de liderar. Eu posso,
por exemplo, acreditar que tenha sido indicado por Deus
para dirigir uma das maiores empresas do mundo, mas
quem iria me contratar se eu simplesmente entrasse no
escritório do presidente da Nestlé ou da Shell e dissesse:
“Estou aqui para assumir o cargo de chefia desta
empresa?”.
Para confirmar minha convicção e provar minha
capacidade, teria, provavelmente, que “começar de baixo”.
Como acontece com muitos líderes, é provável que eu só
conseguisse atingir um cargo elevado depois de começar
por um de nível bem simples. Teria que demonstrar
iniciativa e capacidade para poder ir subindo, e precisaria
contar também com uma pessoa ou grupo que me apoiasse
em cada etapa que fosse vencendo, pessoas que
endossassem a minha liderança.
Acontece que, na igreja ou mesmo fora dela, algumas
pessoas querem ir “diretamente ao topo”. Já vi executivos e
candidatos ao ministério insistirem, cheios de vaidade, em
dizer que preenchem todos os requisitos para ocuparem
determinado cargo ou exercerem o ministério.
Um deles, candidato ao ministério, ao ser rejeitado,
acusou a junta examinadora de estar “indo contra Deus”. A
junta era formada por amigos dele, todos interessados em
confirmar o que ele alegava ser um chamado de Deus. Mas
não foi possível. Eles constataram muitas falhas no caráter
do pretendente.
Já me aconteceu contratar executivos com todas as
“credenciais”, e que acabaram provando serem totalmente
incapazes de liderar. Não tinham, na verdade, nem a
aptidão necessária, nem a confirmação dos outros.
Depois dessas experiências, aprendi a reconhecer
esses pretendentes logo na primeira entrevista. O primeiro
sinal de alerta é quando o candidato diz que ele vai salvar
aquela organização, que aquela instituição está precisando
desesperadamente de alguém com a sua capacidade. Esse
é o “sinal vermelho”, que indica que a pessoa não é um
líder confirmado.
E assim temos o primeiro princípio de liderança, que
apreendemos da vida de Jesus.

PRINCÍPIO I

JESUS FOI CONFIRMADO COMO LÍDER ANTES DE PODER


LIDERAR. O MESMO DEVE ACONTECER CONOSCO.

CAPÍTULO 2 - PRESTANDO RECONHECIMENTO AOS QUE

VIERAM ANTES DE NÓS

Durante um banquete, promovido para se premiarem


algumas pessoas, o primeiro homenageado levou vários
minutos agradecendo às pessoas que o haviam ajudado a
conquistar aquele prêmio — professores, sua família,
amigos e quatorze colegas que faziam parte de um grupo
de artistas a que ele também pertencia.
Quando o segundo vencedor chegou ao pódio para
receber seu troféu, seu discurso foi bem resumido:
“Agradeço a vocês pela decisão acertada que tiveram
em me premiar.
Quero dizer também que o que fiz, fiz sozinho”.
Claro que ele estava brincando, mas suas palavras nos
fazem lembrar muita gente que ocupa posição de liderança
atualmente. Se elas conseguem bons resultados e
alcançam sucesso, atribuem a si todo o mérito. Mesmo que
não o expressem verbalmente, o que pensam é: consegui
isso sozinho.
Mas estão enganadas. Nenhum de nós consegue coisa
alguma sozinho.
Estamos sempre sendo influenciados e ajudados por
outros.

Gigantes do Passado
Sir Isaac Newton disse: “Se vi mais longe do que os
outros homens, foi porque estava de pé sobre ombros de
gigantes”.

Meus Reconhecimentos
Eu mesmo, por exemplo, conquistei um diploma de
doutorado, mas para chegar até esse ponto fui ajudado por
muita gente. Primeiro devo minha fé cristã à educação
devotada a Deus que minha mãe me transmitiu: minha
mãe que orava comigo e por mim, sincera e
fervorosamente Aos vinte e um anos emigrei do Egito para
Sidney, na Austrália. Não conhecia ninguém lá, a não ser
um casal, que, assim mesmo, só conhecia de nome. Mas eu
tinha também uma carta de apresentação para o cônego
anglicano D.W.B. Robson, que se tornou, depois, arcebispo
de Sidney. Foi com seu incentivo e apoio que consegui
superar os problemas de não poder comunicar-me bem em
inglês. Na verdade, sem seu estímulo, eu não teria
conseguido estudar na Escola Teológica Moore.
Houve, também, meu encontro com John Haggai, uma
pessoa que acreditou em mim. Convidou-me para dirigir o
Instituto Haggai, um ministério de âmbito mundial, com
escritórios em seis continentes. Com essa sua iniciativa, Dr.
Haggai ajudou-me a atingir, num período de apenas oito
anos, o equivalente a cinqüenta anos de maturidade. Com
a ajuda de Deus, consegui liderar essa organização.
Durante todo esse tempo tive uma companheira fiel e
dedicada, minha esposa Elizabeth, que me deu amor, apoio
e estímulo. Além de ser mãe, fazia também às vezes de pai
para nossos quatro filhos, enquanto eu fazia viagens ao
estrangeiro, ou ficava até tarde da noite estudando.
Porque estava de pé nos ombros desses “gigantes”,
senti que não havia nada que eu não conseguisse fazer.
Devo muitíssimo a essas quatro pessoas, e a muitas mais.
Jamais poderei esquecer ou negar o impacto que causaram
em minha vida e em meu ministério.

Os Precursores Bíblicos
Jesus disse a seus discípulos que os campos estavam
prontos para a colheita, usando, obviamente, essa
ilustração como símbolo da consagração espiritual. E
acrescentou: “O ceifeiro recebe desde já a recompensa e
entesoura o seu fruto para vida eterna; e, dessarte se
alegram, tanto o semeador como o ceifeiro.
um é o semeador e outro é o que rega. Nem o que
planta é alguma cousa, nem o que rega, mas Deus
que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega
são um, e cada um receberá o seu galardão, segundo
o seu próprio trabalho. Porque de Deus somos
cooperadores, lavoura de Deus, edifício de Deus sois
vós.” (1 Co 3.5-9.)

Jesus só deu início a seu próprio ministério depois de


João Batista ter-lhe preparado o caminho. Pedro deve seu
encontro com Jesus a seu irmão André, que o convidou para
também seguir ao Senhor. E o livro de Atos mostra que o
martírio de Estevão exerceu uma forte influência sobre
Paulo, ajudando a abrir o caminho para sua conversão.

Interdependência
Por que Jesus, após ter treinado seus seguidores,
enviou-os de dois em dois, para que o precedessem em
cada cidade ou lugar por onde iria passar? (Lc 10.1.) Ter
outra pessoa junto certamente encorajaria o viajante em
lugares desconhecidos. Mas eu acho que Jesus tinha uma
razão adicional para assim proceder.
Quem sabe se Pedro, voltando de uma cidade que
visitara sozinho, não poderia dizer: “Olha o que eu fiz!”
Será que Jesus não desejava que, desde o princípio, seus
seguidores se apercebessem de sua dependência de uns
para com os outros — e de sua dependência do Senhor?
Pode ser, até, que ele os estivesse preparando para o que é
ser “um só corpo em Cristo”. Mais tarde, em suas epístolas,
Paulo conclamou, vezes sem conta, a igreja a voltar a essa
verdade (Rm 12.3-8; I Co 12.12).
O próprio Jesus poderia ter chamado a si o crédito de
tudo que existe, desde a criação até a eternidade. Mas ele
respeitou a posição dos fiéis, apontando Abraão, por
exemplo, como o pai da nação de Israel (Jo 8.37).
É bem provável que, se algum de nós tivesse vindo
como Salvador do mundo, iríamos desacreditar os que nos
haviam precedido. Possivelmente diria algo mais ou menos
assim: “Moisés era um bom homem, é verdade, mas ele
irou-se e desobedeceu. Deus teve que puni-lo. O bom
camarada Abraão fez um bocado de coisas ótimas, mas ele
tinha seus momentos de fraqueza. Imagina que uma vez
ele ficou com tanto medo do faraó que chegou a dizer que
Sara era sua irmã! É, mas eu não sou assim, não”.
Como Prestar Reconhecimento a Outros
Se, como líderes, desejamos seguir a Jesus Cristo,
devemos, como ele, reconhecer a valor dos outros.
Lembremos alguns fatos que podem ajudar-nos a fazê-lo.

1. Todo talento e capacidade são dom de Deus.


João Batista se expressou muito bem sobre isso: “o
homem não pode receber cousa alguma se do céu não lhe
for dada”. (Jo 3.27.) Ele sabia que ter vindo como precursor
de Jesus não tinha sido iniciativa sua; Deus o tinha dotado
para essa missão. Conscientizar-nos de que só temos
capacidade de liderança porque Deus no-la deu, torna-nos
mais humildes.
Quando o apóstolo Paulo escreveu sobre os dons
espirituais (1Co 12), ele usou o mesmo princípio. Não
importava quantos dons e talentos os coríntios tivessem,
todos eles provinham de Deus. Eles não inventaram dons e
nem podiam dotar-se a Si mesmos de dom algum.

2. Não fizemos nada para adquirir nossa


capacidade de Liderança.
Ninguém conquista um presente. Quando alguém
recebe o dom de liderar, é uma questão de graça e não de
mérito.

3. Este presente que nos é dado não deve ser


motivo para vanglória.
A uns Deus dá a capacidade para liderar, a outros, a
capacidade de reconhecer e seguir os bons líderes.
Algumas pessoas têm habilidade com as mãos, outras têm
uma facilidade toda especial para falar; outras, ainda,
podem pensar mais profundamente que as demais. Mas
nenhuma dessas pessoas têm razão para vangloriar-se de
ter recebido um dom.

4. Devemos reconhecer e agradecer aqueles que


nos ajudaram a desenvolver nossas capacidades.
Os atletas olímpicos têm um talento latente, mas isso
não basta. Eles precisam de ajuda, treinamento, correção.
Um halterofilista precisa de um instrutor que o ensine a
respirar corretamente; um corredor precisa que lhe digam
se está correndo com os pés corretamente posicionados,
para que não perca segundos preciosos durante a
competição.
Com Os líderes acontece a mesma coisa. Sei que eu
precisava de ajuda para caminhar. Alguém percebeu em
mim traço de liderança e me incentivou; outros me
ensinaram lições adicionais.

5. Devemos agradecer a Deus por nossas


aptidões.
Já que sei que minha capacidade de liderança não foi
criada por mim mesmo, devo regularmente parar e
agradecer a Deus por ter-me feito como sou.
Um dos meus amigos, escritor, fez da oração de
agradecimento por seus dons uma parte constante de seu
devocional diário. Ele ora mais ou menos assim: “Obrigado,
Senhor, por ter-me feito um escritor. Ajuda-me a ser o
melhor escritor que eu possa ser com o talento que me
deste”.
Esse meu amigo sabe que precisa trabalhar para
aperfeiçoar seu talento. Quando era pequeno, lia tudo que
lhe caía nas mãos. Aos poucos foi aprendendo a distinguir
entre a boa e a má literatura, entre a superior e a
medíocre. Quando finalmente começou a escrever, tirou
proveito das lições que havia aprendido estudando
minuciosamente, através dos anos, os escritores clássicos.
Com essa atitude ele agradece tanto a Deus - que lhe
deu a aptidão inicial - quanto aos gigantes em cujos
ombros se ergue de pé.

PRINCÍPIO 2

LÍDER É AQUELE QUE PRESTA RECONHECIMENTO AOS QUE O


PRECEDERAM.

Parte 2: Qualidades da
Liderança

CAPÍTULO 3 - O LÍDER COMO PASTOR

Eu tinha terminado de almoçar com Bob Guyton,


diretor executivo de uma importante instituição bancária.
Quando saímos do refeitório dos executivos, passamos por
uma série de escritórios. O banqueiro parou para
cumprimentar a recepcionista, e perguntou-lhe sobre a
saúde do marido, que ele sabia estar hospitalizado. Depois,
quando chegamos ao elevador, cumprimentou, pelo nome,
dois funcionários do banco que o estavam esperando lá.
Finalmente, já em frente ao banco, chamou o guarda pelo
nome e perguntou pela esposa, citando também o nome
dela.
Centenas de pessoas devem ter trabalhado naquele
banco; no entanto, aquele executivo de posição tão
elevada sabia o nome de cada uma delas! Saí dali
boquiaberto, não tanto por constatar sua boa memória,
mas, principalmente, por ele saber todos aqueles nomes.
Ele conhecia não apenas os executivos, mas também os
que costumamos chamar de “João-Ninguém”. E pelo que
dizia a cada um, pude perceber que ele sabia muito mais
do que apenas seus nomes; ele os conhecia como pessoas,
como indivíduos com suas diferentes personalidades e seus
próprios problemas.
Recordo-me de ter, naquele momento, pensado que o
Bob era, de certo modo, um “bom pastor”. Jesus disse: “Eu
sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e
eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo
10.14-15).

Conhecendo as Ovelhas
Embora ocupado e cheio de responsabilidades, aquele
executivo conhecia suas “ovelhas”. Ele demonstrava
interesse por elas e por suas famílias. Há muito eu já sabia
de sua capacidade nos negócios, mas esse incidente fez-
me apreciá-lo numa perspectiva nova, muito mais ampla.
Ao contrário, um outro episódio veio a revelar-me outro
tipo de “pastor”. Um certo domingo, a saída do culto, eu
estava ao lado do pastor de uma igreja muito prestigiada.
Ele apertava a mão de cada um dos membros,
cumprimentando-os amavelmente com um sorriso e um
cordial “como tem passado”?
Pelo menos umas doze vezes o pastor disse: “Ah,
muito bem”, antes que a pessoa tivesse tido tempo sequer
de responder. Imediatamente sua mão era estendida para a
pessoa seguinte da fila, sempre com o mesmo sorriso e a
mesma saudação. Quando chegou a vez de uma senhora
de idade, o pastor disse: “Espero que a senhora esteja
passando bem hoje”.
A senhora, baixinha e de fisionomia bastante triste,
respondeu rapidamente: “Meu marido ficou doente durante
a noite de quinta-feira e eu tive que chamar a ambulância.
Ele ainda está na UTI...”.
“Sim, é muito bom vê-la aqui esta manhã”, disse o
pastor alegremente. “É sempre uma satisfação tê-la aqui
para o culto.” E imediatamente estendeu a mão para a
pessoa seguinte.
Quase não pude acreditar no que tinha ouvido. Senti-
me constrangido porque o pastor não tinha sequer ouvido o
que ela havia dito; fiquei chocado com tanta
insensibilidade, e magoado pelo que havia sido feito àquela
senhora.
Meio desajeitadamente, tentei remediar a situação,
embora, sendo um visitante, não desejasse me envolver
demais. “Como se chama seu marido?” perguntei.
“Gostaria de incluí-lo em minhas orações todos os dias
desta semana”.
Não é minha intenção julgar o pastor. Posso
compreender que, com uma congregação de mais de 2000
pessoas, assistentes e auxiliares sobrecarregados, e
levando sobre os ombros o peso de tamanho fardo,
provavelmente o pastor não tem como conhecer cada
pessoa da fila.
Pode acontecer, também, que ele estivesse com
problemas pessoais naquele dia, ou ansioso a respeito de
algum evento que estava para acontecer. Mas, mesmo
assim, saí da igreja com uma impressão totalmente
diferente da que me fora deixada pelo banqueiro.
Este conhecia suas ovelhas. O pastor não conhecia as
suas. Pior ainda, senti que ele não fazia questão de
conhecê-las.
Quando Jesus falou sobre seu relacionamento com
suas ovelhas, deu a impressão de saber muito mais do que
os seus nomes. Para Jesus, conhecê-las significa amá-las.

Pastores sem Amor?


Um coração sem amor não conhece as suas ovelhas.
Para aqueles pastores sem amor, as ovelhas não passam
de números em um fichário, membros registrados nos
livros, empregados na folha de pagamento, estatística de
que possam se orgulhar.
Talvez seja nesses termos que tais pastores se refiram
a suas ovelhas:
“Nosso rol de membros cresceu 20% este ano”.

“Temos mais empregados e fazemos o dobro dos


negócios que o nosso mais forte concorrente está
fazendo”.

“Levantamentos indicam que 83% dos canadenses


reconhecem nossos produtos”.

Vivemos numa sociedade que dá maior ênfase aos


números. Programas de TV variam de acordo com o ibope;
as pessoas julgam os méritos da igreja local pelo seu
tamanho; uma companhia considera-se bem-sucedida se os
produtos de baixa cotação conseguem uma saída superior
à do último relatório.
O resultado disso é que bons programas de TV saem
do ar por causa dos números. Nas igrejas, o ensino, a
comunhão entre os irmãos, a espiritualidade e a adoração
muitas vezes não parecem tão importantes quanto o total
de membros. E a qualidade dos produtos e dos serviços de
uma companhia fica em segundo plano relativamente aos
lucros.

O Estilo de Jesus
Líderes que só se preocupam com estatísticas nem
chegam perto do estilo de liderança de Jesus. Ele conhece
intimamente suas ovelhas.
Seu amor por elas não é um conceito abstrato nem
pode ser substituído por clichês do tipo “eu amo meu
povo”. Seu amor pelas ovelhas, embora coletivo, é,
também, individualizado; ele conhece seu rebanho porque
conhece cada membro individualmente.
Como é que as ovelhas de Jesus o conhecem? Não é
através de um encontro casual, não é apenas
intelectualmente, nem é por entenderem algumas
verdades sobre sua liderança — mas por sentirem o amor
que o Bom Pastor tem por elas. Na qualidade de ovelha,
Posso ter dúvidas e sentir medo; mas quando vejo o Líder,
o Pastor, minhas dúvidas e receios se dissipam.
Correspondo ao amor e ao cuidado que o Pastor tem por
mim.
Vejamos como eram os pastores e as ovelhas do
tempo de Jesus. Os pastores da Palestina punham a
segurança de suas ovelhas acima da sua.
No Velho Testamento, por exemplo, Davi matou um
leão com suas próprias mãos quando esse predador tentou
atacar suas ovelhas.
Conhecendo esse cuidado e esse compromisso dos
pastores com seus rebanhos, podemos compreender
melhor a metáfora que Jesus usou ao chamar-se de O Bom
Pastor.
O Bom Pastor colocou as necessidades das suas
ovelhas em primeiro lugar, chegando ao extremo de dar
sua vida por elas. Jesus citou Zacarias 13.7 quando
predisse sua morte a seus discípulos. “Esta noite todos vós
vos escandalizareis comigo; porque está escrito”: Ferirei o
pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mt
26.31). Mas, contraditoriamente, foi a morte do Bom Pastor
que garantiu a segurança de suas ovelhas.
Ele, voluntariamente, deu sua vida pelo seu rebanho.
E isso ressalta outro princípio próprio do estilo de
liderança de Jesus.

PRINCÍPIO 3
BONS PASTORES CONHECEM SUAS OVELHAS;

BONS LÍDERES CONHECEM SEUS SEGUIDORES.

Se esse conceito nos parece estranho, a razão disso,


provavelmente, seja que a maioria de nós considera líder a
pessoa que está na frente, o estadista de alto escalão, o
grande general, aquele que puxa o desfile — alguém bem
distante dos seus seguidores. Assumir o “comando” é
apenas um dos aspectos da liderança, porque os
verdadeiros pastores servem e dão tudo de si mesmos.
Jesus Cristo chama os líderes para servirem, embora a
maioria de nós prefira comandar e deixar que as ovelhas
nos sigam, se quiserem. Apesar de ele nos chamar de
servos, preferimos dar ordens.

Os Pastores Vivem Constantemente se


Movimentando
Os bons pastores estão sempre á procura de melhores
oportunidades e pastos mais verdes para onde conduzir
seus rebanhos. Levam suas ovelhas para Águas tranqüilas
onde a violência, as pressões e as facções não as
perturbam. Mas nem todos os pastores agem com tal
sabedoria.
Vamos tomar como exemplo uma das maiores cadeias
de lojas dos Estados Unidos. Ela já foi uma das mais
importantes, quase encabeçando a lista das melhores, mas
decaiu principalmente porque não conseguiu se manter à
frente das mudanças trazidas pelos tempos modernos.
Os diretores da sua maior concorrente, entretanto,
estudaram com toda atenção a elevação do poder
aquisitivo dos compradores e elevaram o padrão de suas
lojas.
Esta cadeia permaneceu forte, mesmo tendo
diversificado suas atividades.
Atualmente o grupo tem banco, imobiliária e
seguradora, mas mantém ainda o ramo de vendas a varejo,
e vem obtendo sucesso em todas essas operações.
Os diretores dessa segunda cadeia de lojas
alcançaram tal sucesso porque estavam “com tudo”. Na
linguagem comercial isto significa ser inteligente,
atualizado, estar aberto as mudanças e ser sensível às
necessidades das pessoas.
Ao promover o bem-estar e progresso do seu rebanho,
o verdadeiro pastor está ao mesmo tempo “com tudo”
(mostra inteligência, percepção, atualização) e “conosco”
(mantém o contato individual com o rebanho). A propósito,
um dos títulos de Jesus é Emanuel, que significa “Deus
conosco”.
Isso significa que, ao mesmo tempo em que nos lidera,
ele jamais nos deixa ou abandona, por mais difícil que seja
o caminho que temos de trilhar.
O verdadeiro desafio dos líderes hoje é combinar essas
duas qualidades.
Precisamos desse toque da intimidade, ao mesmo
tempo em que dizemos: “Vamos em frente!”
As palavras finais de Jesus aos discípulos, contém
tanto uma coisa como a outra. Ele os enviou dizendo: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-
os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até a consumação dos
séculos”. (Mt 28.19,20).
Eles estariam indo em frente — mas Jesus caminhando
lado a lado com eles.
Os Riscos de ir em Frente
Jesus tinha um plano de ação. Ele nunca pretendeu
que seus seguidores permanecessem amontoados num
grupinho em Jerusalém. No entanto, ou eles não
entenderam bem a Grande Comissão, ou, então, não
quiseram obedecê-la imediatamente.
Diz o Livro dos Atos que os discípulos permaneceram
em Jerusalém.
Talvez ficassem satisfeitos de continuar lá para
sempre, mas o Bom Pastor não ia permitir que seu rebanho
se enfraquecesse num lugarzinho do Oriente Médio.
Lucas explica: “Naquele dia levantou-se grande
perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto
os Apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e
Samaria” (At 8.1)
Talvez os apóstolos jamais tivessem saído, arriscando-
se pelo mundo, se Jesus Cristo não tivesse permitido que a
perseguição os espalhasse para longe.
Com a partida deles, a fé foi-se estendendo por todo o
mundo civilizado, fazendo com que no ano de 325 AD o
cristianismo se tornasse à religião oficial do Império
Romano.
Transpondo esse conceito para o mundo dos negócios
ou da igreja, vemos que o estilo de liderança de Jesus
implica em riscos. O líder põe-se diante de seus seguidores,
empregados, acionistas ou membros da igreja, visualiza o
potencial existente num novo empreendimento e diz:
“Vamos em frente”.

O Pastor Visionário
Em meados dos anos 70, um jovem vendedor de
produtos farmacêuticos, chamado Stan, visitava médicos e
hospitais, empenhado na realização de seminários sobre
saúde destinados ao publico em geral. Alguns anos mais
tarde a idéia de Stan se tornou uma pratica-padrão adotada
por muitos dos hospitais americanos.
Mas Stan tinha outra idéia além dessa: medicina
preventiva. Ele surgiu com um plano brilhante de trabalhar
com as empresas a fim de incentivar os empregados a
prevenir as doenças.
Suas pesquisas revelaram que os empregados
faltavam muitos dias no ano, acarretando com isso
prejuízos financeiros para as empresas, e que muitas
dessas faltas poderiam ser eliminadas.
Montou um plano de ação bem flexível, incentivando
as pessoas a perderem peso e praticarem exercícios físicos.
Isso iria custar dinheiro às empresas, mas ele podia provar
que, a longo prazo, a medida acabaria representando uma
economia de gastos.
Stan levou seu plano a mais de 700 empresas. Mas
nenhuma delas queria se arriscar. Todas apresentavam
varias razões para dizer que não viam valor algum naquele
programa. No começo da década de 80, porém, algumas
das grandes companhias começaram a aderir ao seu
conceito de medicina preventiva.
O problema que Stan teve de enfrentar é comum.
Líderes dotados de visão. Eles têm a capacidade de
enxergar além, de imaginar coisas que as ovelhas precisam
ver para crer. Eles podem prever as curvas do caminho, os
desvios, as mudanças de rota. Às vezes, tem de abrir
caminho, não importa se os outros estejam vendo a
passagem ou não. O versículo-chave aqui encontra-se no
Evangelho de Lucas: “E aconteceu que, ao se completarem
os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou no
semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lc
9.51). Como se pode ver nos versículos seguintes, os
discípulos não entenderam o que estava acontecendo.
Eles estavam pensando em mandar fogo para destruir
a cidade. Jesus, porém, estava antevendo o calvário.
Embora os líderes precisem ser visionários,
percebendo o que os outros ainda não viram, é necessário
que tenham cuidado para não andarem depressa demais.
Os pastores, mesmo os dotados de visão, devem ter
sempre no coração o bem-estar do rebanho. Nada me soa
pior aos ouvidos do que ver os membros de determinada
igreja referirem-se ao pastor, visionário e ambicioso, nesses
termos: “Ele está construindo um império”.
Construir um império é muito perigoso. Uma das
firmas pioneiras na produção de computadores veio a falir
por ter ultrapassado suas próprias limitações. Um dos
representantes da companhia disse mais tarde: “Ele (o
inventor e presidente) queria ser o maior, mas não fez
questão de ser o melhor. Não se preocupou quando os
empregados se demitiram, porque pensou que iria
encontrar outros tão bons como aqueles.”

Equilíbrio
Qualquer que seja nossa área de liderança, não
podemos prescindir de estar com nossos companheiros de
trabalho, empregados, membros da nossa igreja ou
comunidade, membros da família, de modo a fazê-los sentir
que nos importamos com eles. Não podemos ser o melhor
amigo de todo mundo, mas podemos estar abertos e nos
colocarmos à disposição das pessoas.
O presidente de uma grande cadeia de restaurantes,
por exemplo, adota uma “política de porta aberta”.
Qualquer pessoa da empresa pode falar comigo quando
quiser’, diz ele; e seus empregados sabem que é verdade.
Ele é um homem muito ocupado, mas não tão ocupado que
não possa ouvir os outros. Sua empresa, ligada a um ramo
em que as mudanças gerenciais chegam a 50% ao ano,
apresenta, em igual período, um índice inferior a 5% de
rotatividade de pessoal.
Mas um bom líder sabe como manter um
relacionamento equilibrado com seus liderados, de modo a
impulsioná-los para a frente. A maioria das pessoas
preferem descansar um pouco, permanecer
confortavelmente onde estão. Assim que se adaptam a um
estilo de vida, não se sentem motivadas a ir além ou tentar
coisas novas. O verdadeiro líder diz com freqüência:
“Adiante! Marche!”.
Jesus sabia como manter esse equilíbrio. De um lado,
ele prometeu aos discípulos que eles teriam sua presença e
consolo através do Espírito Santo. Mas, ao mesmo tempo,
fez com que olhassem além daquela pequena cidade do
Oriente Médio e visualizassem o mundo todo.
Lucas registra suas palavras, que esclarecem bem
esses dois princípios: “Mas recebereis poder, ao descer
sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas
tanto em Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até
aos confins da terra” (At 1.8).

O que Caracteriza um Bom Pastor?


Como cresci no Oriente Médio, pude observar bem de
perto o carinhoso relacionamento que existe entre o pastor
e suas ovelhas. Na cultura ocidental e preciso viajar um
bocado para se encontrarem ovelhas, e mesmo quando as
encontramos, as técnicas modernas de criação em massa
não nos ajudam muito a compreender a imagem vívida que
Jesus usou para explicar seu estilo de liderança.
A recompensa que o pastor tem de seu trabalho é ver
suas ovelhas satisfeitas, bem alimentadas, saudáveis e em
segurança. Ele gasta sua energia não para ser considerado
um bom pastor, mas para proporcionar ao rebanho o
melhor pasto, a erva mais fresca, para encontrar água
límpida, para guardar ração para o inverno. O bom pastor
não mede esforços para preparar um abrigo contra as
tempestades. Está sempre alerta contra os inimigos cruéis,
contra as doenças e os parasitas a que as ovelhas são tão
suscetíveis.
De madrugada até ao anoitecer, esses bons pastores
dedicam todo o seu tempo ao bem estar de seu rebanho.
Nem chegam, sequer, a descansar durante a noite;
dormem com um olho e os dois ouvidos bem abertos,
prontos para proteger suas ovelhas ao menor sinal de
perigo.
Quando Jesus se intitula o Bom Pastor, ele não está
apenas se proclamando um líder a mais. Muitos dos líderes
religiosos de seu tempo diziam-se pastores de Israel, mas
Jesus viu sua hipocrisia, seu egocentrismo, sua
incapacidade para liderar e defender seu rebanho.
O que Jesus realmente estava dizendo era: “Eu sou o
Pastor por excelência! Sob minha liderança vocês vão
encontrar proteção, companheirismo, sustento”. Toda a
responsabilidade recai sobre seus ombros largos. Seu
imenso coração é todo ternura. Não há superioridade nem
frieza. Suas ovelhas não vão ter um pastor assistente para
atender o telefone. Ele é o Bom Pastor. Amar as ovelhas é o
seu estilo.

CAPÍTULO 4 - CORAGEM

Maomé tem atualmente milhões de seguidores pelo


mundo a fora, e o islamismo é uma das religiões que
crescem mais rapidamente.
Logo que começou, entretanto, o número de
convertidos era muito pequeno. Quase ninguém entendia o
que Maomé estava dizendo. Nos seus escritos ele abriu o
coração sobre a bênção que era encontrar alguém que
cresse nele. E prometeu para os primeiros adeptos uma
infinidade de bênçãos.
Tem surgido um sem número de líderes, religiosos ou
seculares, sempre prontos a subornar seus primeiros
seguidores. Estou usando a palavra “subornar” aqui no
sentido de que eles pagam pela adesão com promessas de
bênçãos ou favores, ou tentando convencê-los de que são
pessoas especiais. Essa é a maneira mais freqüente para se
iniciar qualquer tipo de movimento, negócios ou outras
atividades que demandem crescimento numérico. Esses
líderes, depois de se empenharem com afinco para
conseguirem os primeiros adeptos, estimulam-nos,
despertam neles um grande entusiasmo, de modo a fazer
com que o movimento se auto-propague.
Mas Jesus não fez grandes promessas quando
começou seu ministério.
Segundo a Bíblia, quando chamava seus seguidores,
limitava-se a dizer-lhes: “Segue-me” (Jo 1.43).
Mais surpreendente ainda é o fato de que ele não
usava qualquer tipo de influência para promover sua causa.
João conta a história de Nicodemos chegando à noite para
visitar Jesus. Ele descreve Nicodemos como sendo um dos
fariseus, “um dos principais dos judeus” (Jo 3.1). Do que
ficou escrito podemos inferir que Nicodemos pertencia à
hierarquia judaica. Ao mencionar que ele era um fariseu,
membro de uma seita religiosa das mais conservadoras,
cujo nome significa “aqueles que são separados”, João
tenciona chamar a atenção dos leitores para o fato de que
aquele homem que estava procurando Jesus não era uma
pessoa qualquer.
Imaginem que dividendos renderia tê-lo como um dos
primeiros a se converter! Com que orgulho Jesus poderia
ter-se jactado: “Tenho discípulos no alto escalão”. Não é
estranho que Jesus não tenha dado a Nicodemos uma
recepção maior e mais importante do que a qualquer
outro? Ele não tentou nenhum tipo de persuasão e nem fez
nenhuma promessa; não dispensou, tampouco, palavra
alguma de elogio ou que demonstrasse ter reconhecido o
“status” daquele homem.
Jesus ouviu as palavras gentis de Nicodemos: “Rabi,
sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque
ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não
estiver com ele” (Jo 3.2).
Quando Nicodemos parou de falar, Jesus não disse:
“O senhor chegou ao lugar certo. Continue fazendo o
melhor que puder”. A presença de um dos grandes de
Israel também não intimidou o Senhor. Ele não disse aquilo
que muitos dos líderes cristãos atuais dizem quando falam
com não-cristãos, principalmente aos que vêm de outras
religiões como o budismo, o islamismo, o hinduísmo ou o
espiritismo: “Você” conhece uma parte da verdade e nós
estamos com a outra parte, e, afinal, estamos todos
lutando juntos”.

Jesus olhou de frente para aquele líder religioso,


competente e conceituado, e disse-lhe apenas: “É preciso
nascer de novo”. Não disse a Nicodemos aquilo que ele
queria ouvir, nem o elogiou por ter vindo vê-lo, ou ouvi-lo.
Tampouco procurou influenciá-lo para que se tornasse um
dos seus discípulos. Em vez disso, transgrediu todas as
boas normas de marketing, fazendo a Nicodemos uma
exigência espiritual.

Nada de Transigências
De acordo com os padrões de muitos dos líderes
atuais, Jesus cometeu um grande erro quando falou com
Nicodemos. Qualquer curso de marketing de que já ouvi
falar ensina que a primeira coisa que o vendedor tem de
fazer é ser agradável com o comprador em perspectiva; é
instruído a usar de lisonja ou adulação, a procurar algum
ponto positivo ou de interesse do outro, e tecer
comentários favoráveis em torno dele. Aprende também a
mostrar cordialidade e abertura. E, acima de tudo, deve
manter sempre um sorriso.
Muitos líderes, quando diante dos chefões e os
poderosos deste mundo, tendem a diluir suas convicções —
ou, pelo menos, falar delas com o maior cuidado,
enfeitando-as e tornando-as o mais aceitável possível.
Evitam ao máximo desapontar as pessoas principalmente
no primeiro encontro. Jesus não respeitou essas regras.
A hora escolhida por Nicodemos para encontrar-se com
Jesus indica que um homem na sua posição havia de sentir-
se envergonhado de ser visto em público com aquele novo
rabi controvertido, de nome Jesus. Os fariseus se
aproximavam de Jesus de uma maneira condescendente,
quase que ostensiva. Nicodemos representa muita gente na
nossa sociedade de hoje que julga estar prestando enorme
honra ao cristianismo quando declara:
“Nós — autoridades nas letras, árbitros do bom-gosto,
representantes da opinião pública, jornalistas, escritores de
revistas e outras publicações, comentadores e editores da
TV, líderes dos movimentos sociais e filantrópicos —
reconhecemos que Jesus foi um grande Mestre”.
Todavia, por mais ostensiva e condescendente que a
atitude de Nicodemos tenha sido, a sua percepção
mesquinha de quem era Jesus não mudou uma vírgula na
atitude de “braços-abertos” do Senhor. Nem deveria a
atitude de condescendência de nossa sociedade tornar-nos
superiores ou amargos.
Como foi que Jesus conseguiu, ao mesmo tempo
confrontar Nicodemos com coragem sem, contudo, deixar
de amá-lo? Vamos examinar bem de perto que estilo de
liderança Jesus revelou naquela noite.
Na qualidade de um jovem rabi de Nazaré, sem
nenhum diploma ou respaldo das autoridades, Jesus se
deparou com uma oportunidade rara de penetrar bem no
centro do Sinédrio. Não poderia haver nada mais agradável
para um jovem e ardente líder espiritual do que ter, por
parte dos homens sábios e influentes, o reconhecimento de
ser ele também um mensageiro de Deus. Só depois de anos
de ministério, ele poderia vir a receber reconhecimento e
elogios a valer, mas não no inicio.
Jesus poderia ter sido absorvido pela lisonja. Poderia
ter dito: “Estou honrado com sua presença aqui”, ou então,
“é um grande privilégio para mim”, ou, ainda, “estou
satisfeito que tenha reconhecido que fui enviado por Deus”.
Isso faria muito sentido se o que o jovem rabi estivesse
procurando fosse apenas reconhecimento.
Falando da maneira com que falou, Jesus mostrou
coragem, audácia e compaixão. Não se preocupou em ir
contra o “sistema” e nem ridicularizou Nicodemos. Alguns
líderes tentam construir seus impérios rebaixando,
ridicularizando, zombando, usando de sarcasmo, mantendo
secreta uma grande animosidade. Jesus não usou de
nenhum desses recursos.
Aqui Jesus demonstrou que seu estilo de liderança é
tão versátil quanto precisa ser para cada ocasião que
surge. Quando a multidão estava reunida no templo, Jesus
não hesitou em expressar publicamente sua ira para com
os vendilhões que haviam profanado a casa do Senhor.
Mas com Nicodemos agiu mansamente. Na quietude
da noite não hesitou em manter um debate firme, contudo
paciente, com ele.
Não faz muito tempo, assisti pela televisão a um
debate entre um líder cristão e um conhecido humanista.
Fiquei triste ao ver o líder cristão muito mais empenhado
em conquistar a aceitação do público do que apresentar
com firmeza as palavras de Cristo. Quanto mais insistentes
se tornavam às perguntas do auditório, mais enfraquecida
se tornava à mensagem de Cristo por ele transmitida.
A sociedade recebe de braços abertos os elementos da
igreja que aceitam sem relutância todos os tipos de crença.
Nossa cultura é receptiva aos líderes de igreja que não
fazem exigências morais rigorosas. O mundo atual parece
sempre disposto a receber uma cristandade sem força
moral, irresoluta, que vê Deus em tudo e tudo em Deus.
Mas esse não é o estilo de liderança de Jesus.
O estilo de liderança de Jesus exige coragem — para
falar a verdade em amor. Há uma diferença entre amor e
transigência.
Se alguma coisa aprendemos do estilo de Jesus, é que
a verdade vem acima de tudo. Jesus nunca lançou mão de
meios escusos para conseguir “vender mais”. Ele não
facilitou as coisas com promessas.
Às vezes, chegou mesmo a desencorajar candidatos a
segui-lo, mostrando as dificuldades e o preço do
discipulado. Não desejava que abraçassem a nova fé
ignorando o que o futuro reservava para os seus
seguidores.

Os Espinhos da Coragem
Uma amiga nossa trabalhou vinte anos como agente
no setor de reserva de passagens de uma das maiores
companhias aéreas do mundo. Nos dois últimos anos, por
três vezes teve problemas com seus supervisores por causa
da sua honestidade.
Como a companhia começou a controlar as chamadas
feitas de fora, descobriram que Bárbara tentava passar aos
clientes informações completas sobre o serviço e os preços.
Se um cliente precisasse voar dentro de determinado
horário e a companhia não tivesse nenhum vôo marcado
para a ocasião, ela procurava informação com as
companhias rivais e a passava ao cliente. Certa feita
chegou mesmo a dizer a um dos clientes que, naquele vôo,
seria mais econômico para ele viajar por outra companhia.
Bárbara sentia que era preciso demonstrar
integridade, embora estivesse também interessada em que
sua companhia tivesse lucro. Ela poderia ter perdido o
emprego. Mas conseguiu mantê-lo até se aposentar porque
a companhia recebia cartas de clientes falando bem a seu
respeito. Todos eles faziam questão de agradecer à
companhia pela honestidade encorajadora daquela
funcionária. Uma das cartas dizia: “Já viajei muito e nunca
vi ninguém sugerir outra companhia a não ser que eu
insistisse muito. Ela forneceu aquela informação
voluntariamente. Quero que os senhores saibam que daqui
por diante viajarei exclusivamente pela sua companhia.”
Até à aposentadoria continuou ouvindo palavras de
desagrado do seu supervisor. Mas ela disse que até preferia
ter anotações depreciativas em sua ficha pessoal do que
agir desonestamente com as pessoas. Infelizmente, essa
companhia aérea não incentivou seus funcionários a
seguirem o exemplo de Bárbara — mas permitiu que ela
trabalhasse dentro de seu próprio esquema, porque
compreendeu que estava sendo beneficiada com isso.
Se esse esquema traz vantagens ou não, o fato é que
os verdadeiros líderes têm um posicionamento definido em
relação aquilo em que crêem . Esta é a opinião de um líder
sobre o assunto: “Se transijo com um princípio para
agradar alguém, como é que vou estabelecer os meus
padrões”?

A Coragem de Cristo
Em lugar algum da Bíblia vemos Jesus pedir a seus
seguidores que tenham uma grande coragem. Em nenhum
lugar ele disse: “Jamais transijam com seus valores”. Ele
não precisava dizê-lo! Seu exemplo era suficiente.
No segundo capitulo de João, por exemplo, nosso
Senhor manteve seu posicionamento contra todos os
líderes judeus do seu tempo, porque eles haviam
transformado sua casa numa casa comercial. Ele os
enxotou com açoites e virou suas mesas. Repreendeu-os
duramente por sua corrupção.
Numa ocasião, quando eu estava ensinando sobre
esse texto, um jovem promissor aluno, homem de
negócios, interrompeu: “Sempre achei isso aí a coisa mais
tola do mundo. Ele fez isso, mas no dia seguinte o pessoal
voltou, colocou as mesas de volta no lugar e continuou a
fazer a mesma coisa”.
Antes que eu pudesse replicar, uma jovem dona-de-
casa retrucou: “Às vezes temos que agir simbolicamente.
Jesus não podia limpar o templo todos os dias. E nem
pretendia fazê-lo. Ele poderia ter passado todo o seu
ministério procurando meios de derrubar as mesas e
enxotar os vendilhões. Mas ele usou aquela ação como um
meio para atingir toda a nação judaica; com aquele ato tão
significativo ele mostrou a todos aquilo em que cria e o que
ele próprio representava”.
Eu, certamente, não teria tido melhor resposta do que
essa.
Não precisamos de mais moralistas na nossa
sociedade atual; o mundo está cheio deles. Precisamos,
sim, de líderes que nos conduzam corajosamente, que
conheçam a verdade e a proclamem sem medo. Não
precisamos que nos digam quais são as nossas
abnegações; precisamos da coragem de Cristo para fazer
aquilo que já sabemos muito bem que devemos fazer.

Coragem na Luta
Certo líder disse: “Os líderes escolhem suas próprias
batalhas. Mas não podem vencer todas elas. Estão sujeitos
a perder algumas durante a campanha, mas podem vencer
a guerra”.
A liderança é, muitas vezes, uma batalha, e a luta
requer coragem.
Ter coragem não significa nunca sentir medo ou
vacilar; não quer dizer que você nunca vai se sentir
confuso, nem perguntar: “Oh Deus! será que é certo o que
estou fazendo?” Ter coragem é fazer o que é certo,
independente das conseqüências.
Martinho Lutero, o ardente reformador do século XVI,
foi um homem de muita coragem. Ele desafiou a igreja
daquela época, o papa e outros líderes religiosos e
seculares. Em 1521 apareceu diante da Dieta Germânica,
na cidade de Worms, e, embora tivesse a promessa de ser
protegido, sabia muito bem que estava arriscando a vida. A
mesma promessa tinha sido feita a João Huss um século
antes, e ele tinha sido queimado na fogueira. Os líderes da
igreja prometeram a Lutero perdoá-lo caso se arrependesse
dos “erros” e voltasse à “fé verdadeira”. Lutero sabia que
essa promessa tinha pouco valor, porque para eles uma
promessa feita a um herético não precisava ser cumprida.
Ele conhecia a história dos dois séculos anteriores, quando
mulheres de cristãos tinham sido torturadas, e muitos
outros mortos durante a infame Inquisição Espanhola.
Lutero conseguiu chegar à corte em segurança, mas
foi-lhe negada a oportunidade de defender suas teses. Em
vez disso, apresentaram-lhe uma lista dos “erros” nelas
contidos. Mesmo sabendo que a corte podia decidir sobre
sua vida ou morte, quando instado a dizer se se retrataria,
sua resposta foi:
“A menos que eu esteja convencido do erro através do
testemunho das Escrituras (já que não deposito fé na
autoridade insustentável do papa e dos concílios,
porque está claro que eles tem errado muitas vezes e
que, também, muitas vezes tem entrado em
contradição uns com os outros), e com as Escrituras
para as quais apelei, não poderei me retratar e nem
me retratarei de nada, porque agir contra a própria
consciência não é certo, nem nos é permitido.

Por isso mantenho minha posição. Não posso agir de


outra forma.

Que Deus me ajude. Amém”.

(T.S. Lindsay, A History of the Reformation, Charles


Scribner’s Sons, p.257).
Através dos séculos homens de Deus tem assumido
seu posicionamento.
Mantiveram-se firmes em nome da verdade, da
integridade e da justiça, qualquer que tenha sido o seu
campo do trabalho.

A Coragem em Ação
Alguns anos atrás, havia na Austrália um líder cristão
— vamos chamá-lo de Jim — , que trabalhava para o
governo. Logo na sua primeira semana do trabalho, seu
superior perguntou-lhe se ele gostaria de “fazer umas horas
extras”. Como precisasse de dinheiro, Jim disse que sim.
Na primeira noite, seus companheiros sentaram-se a
uma mesa para jogar cartas. Quando perguntou pelo
trabalho que devia fazer, sou supervisor disso: “Que
trabalho? Hora extra é ficar por aqui ‘fazendo cera’ e bater
o ponto depois do expediente”.
Jim não se deixou intimidar. Em vez disso, o que fez foi
repreendê-lo : “Se estamos sendo pagos para trabalhar,
temos de trabalhar”.
Os outros empregados não só se aborreceram com Jim,
como até começaram a persegui-lo.
Primeiro impediram que ele fizesse qualquer hora
extra; depois, a chefe deu-lhe as piores tarefas. Naquele
escritório Jim começou a ficar conhecido por “bíblia”,
“pastorzinho”, “fanático” e por mais uma porção de
apelidos pejorativos.
Jim se manteve firme. O chefe disse: “Você é um cara
legal — esquece esse negócio de lealdade. Faz como os
outros e você vai ganhar muito mais dinheiro.”
“Tenho que trabalhar se estou sendo pago para isso.
Jogar cartas nas horas de trabalho, quando estamos
ganhando extra, não condiz com minhas convicções”.
A situação acabou se tornando insuportável e Jim teve
de deixar o trabalho. Antes de sair, o chefe do
departamento chamou-o ao escritório e disse-lhe que sua
posição tinha mudado a atitude de outros empregados. As
pessoas tinham começado a falar em um nível de
consciência muito mais alto do que jamais se ouvira
naquela empresa.
A coragem de Jim tinha feito dele um líder. Sua recusa
em agir como os demais foi honrada por Deus, que desde
então o tem abençoado abundantemente, quer no setor
financeiro, quer na vida espiritual. Foi o próprio Deus que
prometeu: “aos que me honram, honrarei” (1 Sm 2.30).

O Preço da Coragem
Os cristãos que estão em cargos de chefia sabem que
um posicionamento definido pode significar prejuízo
financeiro, e até mesmo perda de emprego. Os
empregadores podem acusá-los de deslealdade.
Mas um líder corajoso sabe que agradar a Deus deve
ser a prioridade máxima em sua vida.
O apóstolo Paulo lutou com o problema de agradar a
Deus ou conquistar a aprovação dos outros. A epístola aos
gálatas mostra isso claramente. Paulo tinha transmitido aos
gálatas a mensagem evangélica de que Deus salva através
da fé em Cristo — e que isso era tudo. Depois que ele saiu
da Galácia, apareceu um grupo de mestres dizendo aos
membros da igreja que era preciso que eles cressem em
Jesus e se submetessem à circuncisão.
Paulo se lhes opôs: “Absolutamente não!” Ele sabia
que aqueles homens estavam ensinando um “evangelho
diferente” (Gl 1.6). Insistiu com o povo para não dar
ouvidos aqueles cristãos judaizantes e concluiu dizendo:
“Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou
o de Deus? Ou procuro agradar os homens? Se
agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo”
(Gl 1.10).

Essas palavras exigiram coragem. Elas provocaram


controvérsia, causaram ira nas pessoas. Paulo
provavelmente perdeu um bocado de amigos com esse
debate. Mas ele se manteve firme por uma questão de
princípio. Hoje podemos nos alegrar porque Paulo tornou
clara para sempre que a base da vida de um crente é a fé
em Jesus Cristo. Não temos que “completar” nossa fé com
práticas do judaísmo, nem precisamos de “Jesus e...”.
Reparem bem no risco dessa atitude corajosa. O bom-
senso habitual deveria ter dito a Paulo: “Esse negócio não
vai dar certo. Os judaizantes vão ficar tão irritados que
acabarão voltando-se contra Jesus. Você tem de falar com
eles devagar, com jeito”. Mas Paulo, do mesmo modo que
Jesus, não vivia pelos padrões do bom-senso prevalecente.
Seu estilo de liderança estava num nível mais elevado.

Nicodemos: O Resto da História


E aquela história do encontro de Nicodemos com Jesus,
a que nos referimos antes? Foi corajosa, mas, em ultima
análise, surtiu efeito?
Uma passada pelo Evangelho de João mostra que
Nicodemos mais tarde fez uma tentativa um tanto fraca de
defender Jesus, quando disse aos líderes religiosos que não
condenassem Jesus sem submetê-lo a julgamento no
tribunal. “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com
Jesus, perguntou-lhes: Acaso a nossa lei julga um homem,
sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Responderam
eles: dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia?
Examina, e verás que da Galiléia não se levanta profeta”.
(Jo 7.50-52.)
Mais tarde, porém, Nicodemos tomou realmente uma
posição de coragem. Depois da crucificação de Jesus, o
abastado José de Arimatéia pediu a Pilatos permissão para
sepultar o Senhor em seu próprio túmulo. E ai aparece na
Bíblia a última menção a Nicodemos: “E também
Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à
noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de
mirra e aloés” (Jo 19.39). Os dois homens juntos colocaram
o corpo de Jesus no túmulo. Com este ato, Nicodemos
declarou abertamente que era seu discípulo.
Fora preciso bastante tempo para que Nicodemos
admitisse que era seguidor de Jesus. Mas, quando se tornou
mais perigoso declarar sua condição de discípulo, ante o
evento da cruz, ele encontrou coragem — ou melhor, a
corajosa liderança de Jesus contagiou-o.
Parecia que da cruz fluía audácia para Nicodemos; ele
ajudou a preparar e sepultar o corpo de Cristo.
Não resta dúvida de que, quando Nicodemos olhou
para Jesus na cruz, lembrou-se daquela noite em Jerusalém,
quando o Senhor lhe havia dito:
“Assim importa que o Filho do Homem seja levantado”
(Jo 3.14).

Talvez fosse aquela lembrança que tivesse varrido toda


hesitação e todas as dúvidas da mente de Nicodemos.
Tudo tinha começado quando Jesus mostrou coragem
no trato com Nicodemos. E isso também é uma
característica do seu estilo de liderança.

PRINCÍPIO 4

NO SERVIÇO DO SENHOR, POSSO TER CORAGEM PARA


ENFRENTAR QUALQUER BATALHA DE LIDERANÇA.
CAPÍTULO 5 - BONDADE

Sempre admirei a maneira com que Jesus falava com


as pessoas. Hoje podemos dizer que ele era positivo,
porque geralmente deixava as pessoas perceberem o que
estava sentindo sem, contudo, rebaixá-las ou menosprezá-
las. Também não se dobrava quando seus adversários
tentavam jogá-lo contra a parede. Em João 8, por exemplo,
os líderes judeus acusaram Jesus de estar possesso de
demônio. E ele disse:
“Eu não tenho demônio, pelo contrario, honro a meu
Pai, e vós me desonrais” (Jo 8.49).

Jesus também repreendia seus discípulos quando era


necessário. Em sua ultima noite com os doze apóstolos, ele
pegou a bacia e a toalha e começou a lavar os pés de cada
um. Pedro recusou: “Nunca me lavarás os pés.” Jesus
respondeu com firmeza:
“Se eu não te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13.8).

O Lado Amoroso
Em outras ocasiões, porém, Jesus mostrou o lado terno
de sua natureza.
Em nenhum outro lugar é isso tão flagrante como no
episódio da mulher apanhada em adultério. Jesus não
desculpou o pecado dela, ele o perdoou. Depois que seus
acusadores partiram, ele lhe disse: “Nem eu tão pouco te
condeno; vai, e não peques mais”. (Jo 8.11).
Quando analisamos o estilo de liderança de Jesus,
podemos ser tentados a dar maior ênfase em sua iniciativa
— seguindo sempre adiante — e à sua visão, e nos
esquecermos da sua bondade e mansidão. Mas este é um
dos elementos importantes da liderança que Jesus
exemplificou com muita beleza.
Quando Jesus se confrontava com os que tramavam
contra ele, enfrentava-os com firmeza e não arredava o pé
em suas posições. Mas quando estava diante do povo —
daqueles que eram necessitados — sua bondade e
mansidão vinham à tona. Em uma das passagens mais
comoventes do Novo Testamento, Jesus e seus discípulos
estavam sendo seguidos pela multidão, até que sentiram
necessidade de descansar. Pegaram um barco e se
afastaram para um lugar solitário.

“Muitos, porém, os viram partir e, reconhecendo-os,


correram para lá, a pé, de todas as cidades, e
chegaram antes deles. Ao desembarcar, viu Jesus
uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque
eram como ovelhas que não tem pastor. E passou a
ensinar-lhes muitas cousas”. (Mc 6.33,34).

Mansidão Não é Fraqueza


Em nossa cultura temos a tendência de pensar que
gentil, humilde e manso são sinônimos de fraqueza. Mas
essas qualidades podem, na verdade, indicar mais força de
caráter e autocontrole do que a “força” que impulsiona
alguns a açoitar verbalmente seus adversários ou discutir
com demasiada agressividade.
Os tradutores do Novo Testamento não tem
concordado na tradução dessas palavras. Em grego,
humilde é praotes, bondade é epieikes e compaixão é
chrestotes, mas todas três tem sentido semelhante. Na
tradução de Almeida chrestotes às vezes significa
benignidade, outras vezes bondade.
O apóstolo Paulo menciona bondade como um dos
frutos do Espírito. Eu achava um tanto estranho essa sua
colocação. De tudo que já tinha lido sobre Paulo, a idéia
que tinha dele era de um homenzinho enfezado, pronto
para colocar as pessoas em seus devidos lugares,
acertando nos alvos, eloqüente em seus argumentos. Como
é que ele havia dado tanta ênfase a uma qualidade que ele
próprio não demonstrava em sua vida? Mas com o tempo
fui entendendo que as pessoas podem ser objetivas e
bondosas e mansas ao mesmo tempo.

Os Três Elementos da Bondade


A bondade é uma combinação de três elementos: o
primeiro é consideração ou gentileza. O líder gentil leva em
consideração os sentimentos alheios. Ele jamais procura
ferir ou rebaixar alguém intencionalmente.
O segundo elemento da bondade é a submissão. No
sentido bíblico significa submissão à vontade de Deus — da
mesma maneira que a palavra mansidão. Moisés, a quem
Deus deu o título de o mais manso de todos os homens da
terra (Nm 12.3), não hesitou em se opor ao erro e defender
a verdade. Ele se submeteu à vontade de Deus.
Jesus também refletiu essa qualidade, submetendo-se
a vontade do Pai.
Ele poderia ter arranjado um jeito de se evadir, mas
voluntariamente foi para a cruz e recusou as honras dos
homens.
A terceira faceta da bondade é ser aberto para
aprender a não ser orgulhoso a ponto de não ser capaz de
aceitar a correção. Uma pessoa realmente bondosa nunca
para de aprender; mantém-se sempre receptiva.
Conheço um escritor que possui essa característica.
Ele orienta dois grupos de estudantes que estão
aprendendo a escrever. Cada participante tem que fazer
um trabalho toda semana e submetê-lo à crítica dos
demais. Ele considera esse método uma das melhores
maneiras de aprender.
Ele crê nisso com tamanha convicção, que chega,
muitas vezes, a levar para a classe aquilo que ele próprio
escreveu. Embora os estudantes nem sempre saibam fazer
uma avaliação adequada, mesmo assim ele aprende com
seus comentários. “Não existe escritor que seja tão bom
que não possa receber ajuda dos outros”, diz ele. Isso é
uma das formas da humildade em ação; um elemento
muito importante que o líder deve possuir.

A Força da Bondade
Alí por volta de 1970 apareceu na televisão americana
uma pequena série chamada “O Dócil Ben”. Ben era um
urso grande e forte. Mas ele era também carinhoso com a
família que o havia adotado. Ele podia ficar furioso e
demonstrar uma enorme força física, mas também era
capaz de mostrar sua natureza gentil. Aquele urso é a
imagem mais palpável de delicadeza de que posso me
lembrar.
Por trás da docilidade sempre se esconde grande
força. Muita gente se engana pensando que um líder bom e
dócil é um líder fraco; mas quando alguém é
verdadeiramente manso, tem também uma reserva interior
de poder.

Bondade em Ação: Jesus e a Mulher Adúltera


Como já dissemos anteriormente, nenhum outro
episódio da Bíblia mostra tão bem o lado bondoso da
liderança de Jesus como a história da mulher flagrada em
adultério (Jo 7.53-8.11). É interessante notar que algumas
traduções põem em duvida a autenticidade da passagem
ou a colocam em um contexto diferente. Um estudioso da
Bíblia comenta: “O tom da história, quer ela seja bíblica ou
não, apresenta uma figura característica de Jesus”. A
mesma atitude está presente em Lucas 7.36-50, na história
da mulher que ungiu os pés de Jesus na casa de Simão, o
fariseu.
No relato da mulher surpreendida em adultério é fácil
darmos enfoque à resposta de Jesus aos líderes judeus que
lhe tinham preparado uma armadilha. Mas, geralmente,
não prestamos atenção à sua atitude em relação à mulher.
Como aquela mulher deve ter-se sentido acuada em meio a
todos aqueles homens pressionando-a! O medo, a dor e a
culpa devem ter sido horríveis. No entanto, Jesus tratou-a
como pessoa e não como objeto.
Quando os líderes religiosos trouxeram a mulher,
pareciam não ter por ela a consideração que se deve a uma
pessoa humana. Eles tinham um objetivo em mente: armar
uma cilada para Jesus. Mas Jesus não só não caiu na
armadilha como ainda os envergonhou ao mesmo tempo.
Para mim, o aspecto mais importante da história é a
maneira como ela termina. Jesus não repreendeu a mulher
com um sermão a respeito da sua imoralidade, como
muitos líderes poderiam fazer atualmente. Ele não tentou
convencê-la dos prejuízos que, com aquela atitude, ela
havia causado a si mesma e à sua família. Não a recriminou
dizendo:
“Por que você se rebaixou tanto?”
Em vez disso, fez duas coisas.
Primeiro, ele a aceitou. “Mulher, onde estão aqueles
teus acusadores?
Ninguém te condenou?... Nem eu tão pouco te
condeno; vai, e não peques mais” (Jo 8.10,11). Com isso
Jesus mostrou que estava ciente do seu pecado, sem,
contudo, tornar ainda mais pesado seu fardo.
Creio que todos nós já carregamos tanta culpa, que
não é preciso que os outros nos acrescentem mais. Temos a
tendência de odiar-nos por nossas fraquezas ou por nos
considerarmos maus. Já sentimos tanto ódio por isso que
não há necessidade de que alguém agrave as coisas ainda
mais.
Jesus falou com dureza aos que negavam seus
pecados e procuravam esconder suas falhas. Mas os que já
se achavam sobrecarregados de sofrimento e abalados pelo
sentimento das faltas cometidas, a estes, Jesus encorajava.
Jesus condenava o pecado, mas, com toda compaixão,
levantava o pecador.
Essa maneira de agir traz-me à lembrança um velho
pregador, amigo meu, que me disse certa ocasião: “Um
sermão deve surtir dois efeitos — confortar os que se
sentem perturbados e perturbar os que se sentem
confortáveis”.
Qual foi a segunda coisa que Jesus fez por aquela
mulher? Ele a perdoou.
“Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques
mais” (v.11).
Fico maravilhado com essa frase, tão simples e tão
direta. Nessas poucas palavras Jesus disse tudo que ela
precisava ouvir. Fez com que ela soubesse que havia sido
perdoada, mas preveniu-a para não voltar a cometer o
mesmo erro. Ele não ficou repisando os seus pecados, não
fez uma preleção sobre tentação, nem a confundiu com
moralismos.
Limitou-se a dizer: “Não o faça outra vez.” Isso era
tudo o que ela precisava ouvir. Aqueles que vivem
atualmente no erro, precisam desse tipo de correção da
parte de líderes bondosos.

A Gentileza Surte Efeito?


Tenho um amigo, de origem humilde, que cresceu
tendo apenas o estritamente necessário, nada mais. Era
uma criança inteligente, de mente atilada e que gostava
muitíssimo de ler. Costumava ir a uma farmácia onde havia
uma seção de revistas; lá, descobriu que podia se esconder
num canto e ler as revistas, principalmente as de histórias
em quadrinhos. Tinha todo cuidado com elas, de modo que
ninguém poderia reclamar que estava amassando-as ou
dobrando suas folhas.
Um dia, ele foi além. Escondeu uma revista por baixo
da camisa e saiu.
Dias depois, voltou e, certificando-se de que ninguém
dava pela coisa, escondeu outras duas. Em pouco tempo,
roubar revistas já era rotina...
Até que um belo dia o dono da loja surpreendeu-o e
fez com que tirasse as revistas de dentro da blusa.
Atemorizado, o garoto começou a imaginar o que o homem
iria fazer. Chamar a policia? Contar para seus pais?
O homem conversou calmamente com o garoto sobre
o fato de ele estar se apropriando de coisas que não lhe
pertenciam. E a seguir fez algo surpreendente: colocou as
mãos nos ombros do garoto e disse: “Não faça mais isso”.
Meu amigo agora conta: “Nunca mais fiz aquilo e,
também, nunca mais me esqueci daquele homem. Ele
poderia ter sido mesquinho comigo; estava no seu direito;
no entanto, tratou-me com bondade”.
É necessário muita força para ser generoso. Nem todo
líder sabe como mostrar seu lado bondoso, gentil. E a
tendência que temos de menosprezar aqueles que
consideramos fracos, ineptos e até mesmo estúpidos, só
tornam as coisas mais difíceis. Mas Jesus disse:
“Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques
mais”.

É bem provável que a bondade já tenha desaparecido


quase de todo no nosso trato nos negócios, na sala de aula,
no lar, e até mesmo na nossa igreja. Mas precisamos nos
lembrar de que a bondade é uma característica do estilo de
liderança de Jesus.

PRINCÍPIO 5
SÓ UM LIDER VERDADEIRAMENTE FORTE PODE SER
VERDADEIRAMENTE BONDOSO.

CAPÍTULO 6 - ROMPENDO COM OS COSTUMES

Uma senhora, que fazia parte da diretoria de uma


igreja, atingiu a idade de sessenta e cinco anos. A comissão
de pessoal estabelecera desde vários anos a aposentadoria
compulsória para quem atingisse essa idade. Mas a
senhora gozava de boa saúde física e mental, e, por causa
de um engano da previdência com relação a seu seguro
social, ela solicitou permissão para trabalhar mais um ano.
Mas a comissão de pessoal declarou: “Temos uma
norma. Não podemos quebrá-la”.
Alguns de nós fomos ao chefe da comissão e
perguntamos: “Mas ela não é uma excelente funcionária”?
“É, sim. Uma das melhores que já tivemos aqui”.
“Ela não está preenchendo uma lacuna, ocupando uma
posição de responsabilidade?” perguntamos.
“Está, sim. Ela faz o trabalho de, pelo menos, duas
pessoas. E isso tudo sem problemas. Ela tem a capacidade
de fazer as coisas funcionarem tranqüilamente por aqui”.
“Mas, então, por que vocês estão forçando a saída
dela, apesar de estar fazendo tudo tão bem?”,
perguntamos.
“Não temos outra saída”, respondeu o homem. “É o
regulamento; vocês sabem como é”.
Ele trouxe a lista de normas, pôs o dedo no ponto em
questão e chegou bem perto de mim para que eu lesse.
“Está aqui”, disse ele. “Está vendo?”
“Mas quem fez esse regulamento?” — perguntei.
“Não sabemos. Quer dizer, alguma comissão escreveu
isso há tempos. Prevendo prováveis inconvenientes,
deixaram esses regulamentos bem determinados para
seguirmos”.
Discuti, argumentei, pedi, insisti, cheguei a implorar,
mas o chefe da comissão de pessoal não cedeu. Não houve
argumento bastante convincente, nem apelo emocional da
minha parte que conseguisse demover aquele homem. A
resposta era sempre a mesma. “O regulamento diz”...

Jesus Face aos Regulamentos


No Evangelho de João, 5.1-15, está registrado algo
notável que Jesus fez. Um homem enfermo por trinta e oito
anos, de uma enfermidade que o deixava inválido, jazia à
beira do tanque de Betesda. Havia muitos outros doentes
ao lado do poço, porque eles acreditavam que, de tempos
em tempos, um anjo descia e agitava as águas. Quando
isso acontecia, a primeira pessoa a entrar na água ficava
curada.
Jesus chegou até junto do inválido e perguntou-lhe:
“Queres ser curado?” (V.6.) Ele queria, e Jesus o curou.
Depois da cura, o homem pegou o leito onde havia estado
por tanto tempo e saiu em direção à sua casa. Aqui poderia
ter terminado essa maravilhosa história. Mas o escritor do
evangelho acrescentou uma informação que explica a
reação dos outros àquele milagre: “E aquele dia era
sábado” (v.9).
Tão logo os líderes religiosos ficaram sabendo da cura,
não se detiveram um instante sequer para se alegrarem.
Nem agradeceram a Deus por ter realizado algo tão
extraordinário no meio deles. Ao contrário, ficaram
zangados. E disseram ao homem: “Hoje é sábado, e não te
é licito carregar o leito” (v.10).
Era de esperar que aqueles líderes ficassem felizes de
o homem ter sido curado, livre agora de trinta e oito anos
de sofrimento. Mas porque a cura havia sido feita num dia
santificado, o sábado, quando Deus havia determinado que
não se trabalhasse, eles ficaram irados. Preferiram ver
aquele homem enfermo e sem esperança pelo resto da vida
a vê-lo receber a benção de Deus no seu dia santo.
A realização desse milagre foi mais uma prova da
messianidade de Jesus. Mas seus detratores ignoraram
aquela evidência. Viam apenas o radicalismo da atitude e
incapacidade de Jesus de se enquadrar nos moldes deles
mesmos.
Na época de Jesus, as instituições religiosas já tinham
se tornado um complexo de regras e regulamentos, que
escravizavam as pessoas, fazendo-as viver para trabalhar
em vez de trabalhar para viver.
As regras, necessárias como diretrizes de vida, tinham-
se transformado em cadeias. Os regulamentos tinham
aprisionado de tal modo aqueles líderes, que eles já não se
importavam mais com as necessidades das pessoas.
Jesus rompeu com esses costumes. Aos olhos deles
Jesus havia cometido um dos piores pecados. Havia violado
a lei do Sabath, e eles não podiam deixar passar em branco
uma coisa dessas. Jesus tentou mostrar-lhes a diferença
entre fazer bom uso das regras e abusar delas, entre ajudar
as pessoas e escravizá-las, e aproveitou a ocasião para
informar aos seus ouvintes do seu relacionamento
exclusivo com o Pai.
Isto nos mostra outra faceta do estilo de liderança de
Jesus. Quando ele via que era preciso que algum bem fosse
feito, não parava para perguntar: “Que dia é hoje?” O
enfermo precisava ser curado. Jesus colocou a compaixão e
a misericórdia na frente das leis.
Alguém, certa vez, expressou isso da seguinte forma:
“Jesus amava as pessoas e usava as coisas, mas os
líderes religiosos amavam as coisas e usavam as pessoas.
Esse incidente não foi criado para estimular as pessoas a
desobedecerem as leis constantemente ou para ficarem
contra o “sistema”. Pelo contrário, o que Jesus queria era
mostrar muito claramente que as pessoas tem prioridade
sobre os regulamentos.

Instituições e Regulamentos
Durante meus estudos de doutorado, fiz pesquisas
sobre as instituições e movimentos sociais. Foi quando
verifiquei que, sempre que uma nova instituição é criada —
seja ela cristã ou não — , seus fundadores criticam as
organizações já estabelecidas. Por exemplo, uma
companhia recém-formada, que vende programas de
computador, gaba-se: “Nós oferecemos serviço
personalizado. O pessoal de uma grande companhia não dá
a mínima para os seus clientes”.
Quando uma nova congregação ou denominação se
forma, muitas vezes é porque seus membros se sentem
decepcionados com a igreja da qual saíram, por acharem
que ela se tornou muito rica, muito impessoal, e que não se
importa mais com os indivíduos — que só funciona à base
de regras e regulamentos. Pode ser que sentiram que sua
ex-igreja estava preocupada era em arrecadar dinheiro
para encher os cofres e sustentar seus programas — mas
nem um pouco interessada em alimentar ovelhas.
Então, a nova igreja ou instituição cresce e se afirma, e
os novos fundadores acabam sofrendo as mesmas
acusações que faziam aos seus antecessores. E mais uma
vez, um jovem líder, radical e entusiasmado, cheio de
iniciativa, surge e declara que “nós” devemos acabar com
esses regulamentos tolos e retrógrados, que nos impedem
de atingir o povo. “Nós” devemos estar voltados para o
povo.
Da mesma maneira, quando Deus comunicou a lei a
Moisés, ele estava dando estatutos para o bem da
comunidade. Com o correr dos séculos, os líderes
interpretaram, reinterpretaram, explicaram e tornaram a
explicar esses estatutos básicos.
Com o tempo, os estudiosos e os filósofos fizeram
acréscimos as leis, através de constantes interpretações e
explicações.
Chegaram ao ponto em que todo o judeu ortodoxo
tinha que observar 613 obrigações diárias. Esses mesmos
mestres dividiram as leis em duas partes, as chamadas
pesadas (248 obrigações diárias) e as chamadas leves (365
preceitos). A quebra das regras leves não implicava em
penalidade muito pesada.

De Volta às Bases
O estilo de liderança de Jesus foi o reverso do estilo
dos escribas, fariseus e sacerdotes. Quando eles desejavam
falar com autoridade, diziam: “Como ensinava o Rabino
Hillel...” Referiam-se a regras, preceitos ou ensinamentos
de um famoso predecessor.
Jesus, por outro lado, dizia o que tinha a dizer sem
citar os mestres, como se vê no Sermão da Montanha:
“Ouviste o que foi dito... Eu porém vos digo” (Mt 5.27-
44).

Ele não pretendia contradizer as leis de Moisés ou


destruir o que Deus havia ordenado no passado. Muito pelo
contrário, com atos como a cura do paralítico, ele mostrou
que os líderes religiosos haviam transformado em deuses
os mandamentos que tinham sido dados para orientá-los
sobre como viver na comunidade e adorar a Deus.
Na época de Jesus, os principais mestres se perdiam
em debates sem fim sobre qual seria o mandamento mais
importante.
Jesus esclareceu facilmente essa questão quando lhe
fizeram a pergunta tentando, provavelmente, enredá-lo:
“Qual é o principal de todos os mandamentos?” (Mc
12.28).

Jesus respondeu citando a lei de Moisés:


“Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu
entendimento e de toda a tua força. O segundo é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro
mandamento maior do que estes” (vv. 30-31).

Jesus tinha o estilo de liderança que se pode chamar


de “volta às bases”. Ele sabia que as leis de Deus foram
feitas para ajudar — não para atrapalhar — as pessoas a
viverem uma vida plena. Por isso deu toda ênfase àquilo
que era realmente essencial — compaixão, amor e
fidelidade aos outros e a Deus — e não ao comportamento
exterior.

O Estilo de Paulo
Paulo mostrou essa característica de liderança quando
escreveu para as igrejas da Galácia. Os crentes de lá
estavam envolvidos num emaranhado tão grande de
regras, que pareciam estar sendo enterrados em areia
movediça, sem perspectiva de se livrarem. Paulo tentou
mostrar-lhes como Cristo os havia libertado, explicando-
lhes o conceito de liberdade cristã.
Será isso o que está acontecendo atualmente nas
igrejas? Muitas congregações parecem estar mortas por
que se aferraram a tradições que tiveram inicio há séculos.
Embora sejam “respeitáveis”, supervaloriza maneiras de
adorar que acabam bloqueando o ato de adoração em si.
Alguns missionários também falharam no seu trabalho
no estrangeiro porque foram por demais inflexíveis no
exercício da liberdade cristã.
Muitos construíram igrejas que seriam muito mais
adequadas para funcionar em Boston ou Londres do que na
África ou Ásia, usando uma arquitetura ocidental, com
bancos, púlpitos e coros que nada tinham a ver com
aquelas culturas, com corais usando becas, totalmente em
desacordo com o clima da região. Eles não só introduziram
elementos totalmente estranhos a essas culturas, como
tornaram esses elementos partes integrantes da adoração
e dos cultos.
Conheço missionários, por exemplo, que trabalharam
nos anos 30 e 40 na África Oriental. Eles encontraram
naquela região povos com suas músicas próprias, cantadas
em tom menor e sem ritmo regular. Cheios de zelo e boas
intenções começaram a ensinar os hinos no estilo
ocidental, traduzindo as letras para as línguas locais. Mas
deram-se mal, e logo enfrentaram problemas.
Primeiro insistiram que a métrica fosse regular. “Afinal,
assim é que uma música deve ser”, disse um missionário.
Insistiram em ensinar a música ocidental com sua escala
tonal, sacrificando às vezes a clareza do texto para a
regularidade do ritmo. Pior ainda foi o fato de proibirem que
os nativos cantassem qualquer coisa típica de sua cultura,
por acharem que suas canções estavam associadas ao
ateísmo. Até onde vai meu conhecimento, esses
missionários não se deram o trabalho de ouvir essas
músicas e entender o seu significado.
Fico pensando se Jesus diria àqueles bem-
intencionados missionários:
“Vocês estão mais interessados na sua preferência
musical do que nas necessidades dessas pessoas. Mas eu
lhes digo, deixem que se alegrem, que louvem à sua
maneira, com suas vozes, seus cantos e seu próprio estilo
de música”.
Como será que alguns desses missionários
responderiam a essas palavras? Da mesma maneira que
alguns dos líderes rígidos e intransigentes do tempo de
Jesus, embora não tão drasticamente.
Depois de Jesus ter curado o homem de Betesda, “os
judeus perseguiam a Jesus, porque fazia estas cousas no
sábado” (Jo 5.16).

Primeiro o que é mais importante


O estilo de liderança de Jesus coloca as pessoas em
primeiro lugar e os regulamentos em segundo. As
necessidades humanas vem primeiro, as tradições depois.
O reino de Deus vem primeiro — e tudo mais vem depois.
Em termos práticos, isto quer dizer que o líder, às vezes,
tem de quebrar as tradições “sagradas” e derrubar
barreiras. E isso, não raro, requer muita coragem.
Os líderes que seguem o estilo de Jesus não rompem
com tradições só por fazê-lo. Os costumes e as tradições
podem trazer grandes benefícios. Geralmente, foram
adotados por boas razões. Mas quando o costume interfere
nos interesses e necessidades humanas, o líder está certo
ao pôr de lado os regulamentos.
E isso nos leva ao nosso princípio seguinte.

PRINCÍPIO 6

O VERDADEIRO LIDER COLOCA OS INTERESSES DAS PESSOAS


NA FRENTE DAS TRADIÇÕES HUMANAS.

Esse princípio parece muito bom. A dificuldade é saber


como aplicá-lo, tamanha a quantidade de tradições que
temos de enfrentar. Jesus poderia ter usado centenas de
exemplos que mostrassem como os líderes religiosos do
seu tempo tinham explorado e escravizado espiritualmente
o povo, mas ele escolheu um dos mais importantes — a lei
do Sabath. Talvez tivesse escolhido esse ponto para levar
as pessoas a examinarem outros hábitos, costumes, rituais
e regulamentos dentro do mesmo critério.
A violação de um costume, quando justa, nos leva à
definição dada por Jesus do primeiro mandamento — amar
a Deus de todo o coração Ele vinculou de tal forma esse
mandamento ao amor ao próximo e a nós mesmos, que é
como se eles fossem apenas um ou o mesmo mandamento.
De que melhor maneira podemos mostrar nosso amor a
Deus do que pelo modo com que tratamos as pessoas? O
verdadeiro líder usa o amor como norma para romper com
os costumes em favor das necessidades humanas.

CAPÍTULO 7 - GENEROSIDADE

Um rapaz entrou para a universidade quando já estava


com vinte e cinco anos. Já havia tentado fazer uma porção
de coisas, mas acabou descobrindo que o que queria
mesmo era aprender.
Quando estava cursando o segundo ano, estabeleceu-
se uma grande afinidade entre ele e um dos professores.
Depois de alguns meses, o professor disse a ele: “Bob,
Sua mente é como algodão — absorve absolutamente tudo
que ensino. Mais do que isso, você tem o tipo de
inteligência que não se prende a respostas. Você gera suas
próprias perguntas”.
Um ano depois, o mesmo professor disse a Bob: “Já
ensinei a você tudo que sei. Francamente, sua capacidade
vai além da minha. Acho que você deve se transferir para
outra escola onde possa encontrar um novo desafio”. Além
de toda afeição que dedicava a Bob, o professor queria
também que ele o superasse. Nem todo mundo é capaz de
agir com tal generosidade.
Um farmacêutico percebeu um grande futuro num
certo jovem da sua igreja. Ele sabia que o rapaz tinha
grande capacidade e desejava muito entrar para a
universidade, mas que isso não era possível. Os pais do
jovem haviam morrido e ele, sendo o irmão mais velho,
tinha que trabalhar para sustentar dois irmãos mais novos.
Depois de muito orar sobre o caso, o farmacêutico deu
aos dois irmãos um emprego de meio-expediente, de modo
a liberar o rapaz da responsabilidade de sustentá-los.
Depois, emprestou-lhe o dinheiro necessário para que ele
pudesse fazer seu curso.
Cinco anos depois, o rapaz conseguiu seu diploma e
um futuro assegurado.
Pronto para pagar o que devia disse ao seu benfeitor:
“Acho que posso pagar uma média de 200 dólares por
mês”, começou dizendo.
O farmacêutico balançou negativamente a cabeça.
“Emprestei esse dinheiro a você, mas não o quero de volta.
Quero que você procure alguém que mereça e precise tanto
quanto você naquela ocasião, e faça por ele ou ela o
mesmo que fiz por você”.
Tanto o professor como o farmacêutico tinham um
verdadeiro espírito de generosidade. Esta qualidade é
essencial àquele que deseja ser um líder semelhante a
Jesus.

A Generosidade de Jesus
Um acontecimento que ilustra a atitude generosa de
Jesus Cristo é o episódio onde ele alimentou os 5.000 (Jo
6.1-14). E o único milagre registrado em todos os quatro
evangelhos, o que indica a profunda impressão que causou
nos crentes da igreja primitiva.
Jesus pegou o alimento que serviria de refeição a um
menino e multiplicou aquela pequena quantidade de
maneira a alimentar toda a multidão que o havia seguido.
Os autores dizem 5.000 homens, o que talvez signifique
que não incluíram as mulheres e crianças presentes.
Esse milagre demonstra a generosidade de Jesus em
prover as necessidades das pessoas. Ele poderia ter
mandado a multidão embora. Poderia ter-lhes prevenido,
naquela manhã, que o dia seria longo e que eles não teriam
alimento. Poderia ter-se omitido — “não é problema meu”.
Os discípulos, que eram realistas, reconheceram que
as pessoas deviam estar com fome, e se preocuparam com
elas. Mas do ponto de vista deles, Jesus não tinha
responsabilidade para com aquela multidão; ele não havia
chamado ninguém para segui-lo. Fizeram, portanto uma
sugestão sensata: mandar as pessoas para casa antes que
ficasse muito escuro.
Quem iria culpar Jesus se ele fizesse isso? Seria
perfeitamente natural para todos. Mas Jesus não os
mandou embora; deu-lhes o que precisavam. E aí está a
generosidade de Jesus.
Ele dá mesmo quando não temos direito a
reclamações, quando não há razão para pedir, a até
quando não estamos esperando nada.
Jesus deu àquelas pessoas o que elas não podiam
obter por si mesmas.
Nesse caso, foi alimento. Para o cego em João 9, foi a
visão. Na festa de casamento em João 2, os convidados não
tinham razão para esperar que Jesus lhes desse vinho. Mas
Jesus, num ato de generosidade, supriu-os do que havia de
melhor. E isso nos leva a um outro princípio de liderança.

PRINCÍPIO 7

O VERDADEIRO LÍDER DÁ COM GENEROSIDADE.

Executivos Generosos
Ao contrário do que a maioria pensa, não é pisando
uns nos outros que os bons líderes atingem o topo. Às
vezes pensamos que aqueles que estão “lá em cima” têm a
seguinte atitude: “Abri meu próprio caminho, você trate de
abrir o seu”. Mas a minha experiência contraria essa idéia.
Aqueles que atingem o alto — principalmente os que
tiveram de vir de baixo — conhecem as dificuldades e
decepções da subida numa organização e sabem da
importância de serem ajudados.
Há alguns anos uma revista americana fez um estudo
sobre os executivos de alto cargo, de vinte das maiores
empresas. Todos eles disseram ter conseguido o maior
impulso em sua carreira quando algum superior notou-o,
ficou impressionado com sua atuação e capacidade, e
resolveu ajudá-lo. Um deles acrescentou: “Cada vez que
“meu protetor” subia de cargo, me levava junto e eu subia
com ele.”
Quando li esse artigo, uma qualidade daqueles líderes
me surpreendeu.
Notei que os que atingem posições elevadas não são
necessariamente o tipo de gente que espezinha quem
deixou de lhes ser útil. São pessoas que trabalham bem
com os outros e é assim que conseguem sentar-se na
cadeira de executivo. Eles ajudam os outros, mesmo que,
às vezes, esse auxílio resulte em competição com eles.
Desde que li esse artigo, tenho encontrado ou ouvido
falar de vários executivos cristãos. Nem todos são um
exemplo de generosidade, mas muitos sim.
Quando falo de generosidade, quero dizer dar de si
sem esperar retorno.
Não estou falando de dar para receber. Não estou
falando de ajudar alguém e depois lembrar: “Você” está me
devendo isso, “hem”.
Os líderes generosos não se contentam em ajudar
apenas a um ou outro.
Eles tentam beneficiar maior número de pessoas.
Animam, incentivam. Querem que os outros tenham
sucesso.
O falecido Cecil B. Day foi esse tipo de líder. Ele fundou
a “Day’s in of América”, uma cadeia de pousadas de
estrada que, atualmente, chegam a ser mais de trezentas.
As pousadas se destinavam ao viajante de baixa renda, a
funcionários públicos e outros empregados que tinham de
viajar com diárias restritas pagas pelo governo.
Cecil teve um começo de vida modesto, mas chegou a
fundar uma cadeia de hotéis multimilionária. Ficou
conhecido como um homem que trabalhava com afinco
para ter dinheiro para investir em causas que glorificassem
a Deus.
Antes de morrer, Cecil abriu mão de todas as suas
propriedades. Ele vivia dando oportunidade a pessoas que
mereciam — jovens, evangelistas, pastores e outros
obreiros cristãos. Sua vida foi um ato constante de doação.

O que o Líder tem a oferecer?


Generosidade não significa apenas dar dinheiro. O líder
que compreende o conceito do amor de Jesus sabe que
pode dar a si mesmo — muitas vezes, de maneira que
supera a oferta de coisas materiais. E como o líder faz isso?
1. Dando de seu tempo. Em vez de reservar todo o
tempo para si mesmo, o líder o usa de várias maneiras para
servir. Alguns dos leigos mais atuantes da igreja ocupam
posição de liderança nos negócios. Um diretor de vendas
de uma companhia de embalagem de carne declarou: “No
meu trabalho, faço sempre tudo da melhor maneira que
posso. Na igreja, ponho em prática o que aprendi nos
negócios para servir a Jesus Cristo”. Esse homem, um
gerente super-ocupado, é também o responsável pelo
programa de evangelização da sua igreja.
2. Dispensando atenção. Quando um executivo
muitíssimo bem pago começou seu trabalho de chefia, fez
questão de dizer aos seus subordinados: “Minha porta
estará sempre aberta. Quando precisarem de alguém com
quem conversar, venham, que me colocarei a disposição
para ouvi-los”.
Dezesseis anos depois sua maneira de agir continuava
a mesma. Nem sempre os empregados conseguem falar
com ele imediatamente, mas, de uma maneira ou de outra,
ele acaba arranjando um jeito de recebê-los. Uma das
secretárias da companhia disse: “Tive um problema em
casa que quase me arrasou. Telefonei para ele porque
precisava mesmo falar com alguém.
Como sei que ele é muito ocupado, fui logo
perguntando: será que o senhor está muito ocupado para
conversar uns minutinhos comigo? Sei que sua agenda é...”
“Nunca estou ocupado demais quando se trata de
atender uma pessoa”, respondeu-me. E ficou no telefone
durante vinte minutos.
“Ele não resolveu meu problema”, disse, “mas senti
que ele estava interessado em ajudar-me. Só o fato de ele
gastar tempo me ouvindo, aliviou bastante a pressão e o
sofrimento em que eu estava”.
3. Partilhando sua experiência. Os melhores líderes
aprenderam muita coisa durante a sua escalada até o
cargo que ocupam.
Quando alguém os procura, tem a maior boa vontade
em passar adiante o que aprenderam. Um senhor, que
ocupava um dos cargos elevados de uma empresa, disse
aos seus oito subordinados: “Pretendo me aposentar daqui
a quatro anos. Estou disposto a ajudá-los em tudo que
puder. Mas não vou dar nenhum auxilio que não me for
pedido. Se me pedirem, eu lhe darei”.
Ele não disse nada na hora, mas o que tinha em mente
era que um dos seus auxiliares ocupasse seu lugar quando
ele se aposentasse aos 58 anos. E foi um deles que de fato
ocupou seu lugar: uma jovem avó de 43 anos,
extremamente motivada, que levou ao pé da letra seu
oferecimento de ajuda. Ela prestava atenção na maneira
como ele agia, fazia perguntas e procurava sempre
encontrar um modo de fazer melhor as coisas. E ele
ajudou-a generosamente, conforme havia prometido.

O Principio da Doação
Jesus disse: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt
10.8). Paulo cita Jesus como tendo dito: “mais bem-
aventurado é dar do que receber” (At 20.35).
O princípio apresentado aqui é o de que nunca se
perde quando se dá.
Com isso só se pode ganhar. Para os céticos, essa idéia
pode parecer estranha. Mas ela funciona. À proporção que
o líder se dá, produz melhores auxiliares, cria melhores
relacionamentos. Dar torna a Regra de Ouro um modo
prático da vida.
A nossa natureza, porém, faz com que a maioria de
nós prefira não dar. Geralmente aprendemos a ser
generosos através do exemplo de alguém. Se fomos
ajudados por um benemérito, um amigo, um colega ou
chefe, ai, então, desejamos fazer o mesmo para com os
outros.

O Espírito Generoso
A generosidade se revela de várias formas. Quando o
líder planeja com antecedência, tornando a estrada um
pouco mais fácil para aqueles que virão depois dele, isso é
generosidade. Quando o líder prepara, equipa, ensina,
exorta e encoraja seus subordinados a crescerem, isso é
generosidade; não que ele tenha obrigação de agir assim;
pelo contrário, teria até menos problemas se os deixasse
ficar cada um quieto em sua posição.
Mas seja qual for a forma em que a generosidade se
revele, ela é algo que vem do profundo de nosso ser. Não
se manifesta apenas para conquistar o reconhecimento
nem a 1ealdade dos outros.
Um dos homens de Deus mais generosos que já
encontrei é alguém de instrução muito restrita, sem
grandes talentos. Vou chamá-lo de Cláudio.
Durante o tempo em que trabalhava de tempo
integral, num serviço braçal bastante pesado, Cláudio
começou a se interessar pelas pessoas de um dos bairros
pobres da cidade. Juntamente com a esposa e duas filhas,
começou uma pequena congregação numa casa alugada.
As pessoas começaram a freqüentar a igreja. Passaram-se
seis anos antes que o grupo crescesse o bastante para que
Cláudio pudesse deixar o emprego e se dedicar
exclusivamente à igreja.
Passado mais algum tempo, um jovem que havia
encontrado Jesus Cristo naquela igreja, deixou a
congregação. Num domingo, quando eu estava na casa de
Cláudio fazendo uma visita, o telefone tocou. Era o jovem
que queria falar com ele.
Depois de conversar um certo tempo, Cláudio voltou à
mesa e disse à esposa e às filhas quem tinha telefonado.
“Ele quer iniciar uma congregação aqui na nossa rua”,
disse ele.
Os dois, ele e o rapaz, tentariam atingir a mesma
vizinhança.
“O que foi que você disse a ele?” perguntou a esposa.
“Eu disse para ele vir, porque tem gente bastante para
nós dois.” O sorriso daquele homem mostrava claramente
sua sinceridade. Suas últimas palavras àquele jovem foram.
“Você começa numa ponta, eu começo na outra, e nos
encontramos no meio.”
Isso é generosidade!
O contrário ocorreu com um outro pastor que havia
construído uma igreja de bom tamanho em outra cidade.
Ele estava interessado em atingir um conjunto habitacional
recém-construído, que ficava mais na periferia da cidade.
Como pertencia a uma denominação cujas igrejas planejam
juntas novos planos de expansão, ele e outros membros da
congregação informaram a três outras igrejas os planos que
tinham em mente.
“Pretendemos iniciar uma igreja-satélite e dar-lhe
apoio até que possa funcionar com seus próprios recursos”,
disseram eles.
Representantes de uma das igrejas, que ficava a oito
quilômetros do lugar onde ia ser implantada a nova
congregação, protestaram imediatamente: “Vocês não
podem fazer isso. Vão tirar gente da área que pretendemos
atingir”.
O pessoal então recuou, supondo que a igreja que
havia protestado pretendia trabalhar com vigor para atingir
os moradores do conjunto.
Cinco anos depois, porém, nada tinha sido feito. Parece
que eles não desejavam trabalhar naquele lugar, mas,
tampouco desejavam que outra pessoa o fizesse!
Infelizmente encontramos essa atitude em muita gente
neste mundo até mesmo entre o povo de Deus.
Mas o líder generoso não tem esse tipo de
mentalidade. Ele sente alegria e prazer tanto em dar como
em partilhar. Sabe que um líder autêntico tem que ser
generoso, como Jesus o é.

CAPÍTULO 8 - SINCERIDADE

O seriado de televisão atingiu o clímax. O médico


depois de ter examinado o marido e pedido vários exames,
aproxima-se da esposa com os resultados na mão.
“Como é, doutor?” perguntou ela.
“A senhora quer saber a verdade?”
“Quero sim, claro”.
Já assisti a esse tipo de cena muitas vezes na televisão
e algumas vezes também na vida real. E sempre me ocorre
o mesmo pensamento: O que é que a pessoa poderia ter
respondido? Quantas pessoas seriam capazes de dizer:
“Não, doutor; minta para mim, tranqüilize-me com uma
mentira?”
Receio que a muitos de nós desagradaria saber a
verdade sobre uma porção de coisas. Sempre encontramos
uma maneira de nos esconder dela ou de encobri-la. Já vi
isso em grupos que partilham experiências, grupos de
oração, grupos de crescimento. Tudo começa quando uma
pessoa confronta outra. Ela começa logo a se evadir ou a
negar aquilo que foi dito.
Ninguém gosta de ver expostas suas ações
imperfeitas. Também agimos desse jeito quando somos
elogiados. Simplesmente não sabemos lidar com a
verdade.

O que é a Verdade?
Há um velho ditado que diz: “Toda história tem três
lados: o seu lado, o lado do outro, e a verdade.” Esse ditado
devia nos fazer pensar.
Nossa tendência é torcer os fatos a nosso favor —
omitindo informações ou acrescentando alguma coisa à
verdade.
O Evangelho de João registra um dialogo
surpreendente entre Jesus e Pilatos, acerca da verdade.
Teve lugar quando os líderes judeus trouxeram Jesus à
presença do governador para que este o julgasse e
condenasse. Quando perguntaram se ele era o rei, Jesus
respondeu:
“Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso
vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.
Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.” (Jo
18.37.)

Pilatos fez-lhe então outra pergunta: “Que é a


verdade?” (V. 38.)
Ele não esperava resposta alguma, tanto que se virou
para os líderes judeus e disse: “Não acho nele crime
algum”. Pilatos, provavelmente, acreditava que ninguém
poderia responder a essa pergunta: o que é a verdade?
Mas Jesus, em outra ocasião, já havia respondido à
pergunta de Pilatos; encontra-se registrada no Evangelho
de João. Na noite anterior à sua prisão, quando se despedia
dos discípulos, Jesus declarou que era o caminho, a
verdade e a vida” (Jo 14.6).
Jesus personifica a verdade, defende a verdade e
nunca se desvia dela.
Ninguém poderia oferecer maior exemplo de
sinceridade do que ele. O exemplo está aí, para seguirmos,
como se lê no prólogo do quarto Evangelho: “Porque a lei
foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). O autor não está
dizendo que não havia verdade antes da vinda de Jesus à
terra — está dizendo que Cristo é a própria verdade.
Como discípulos da verdade, temos a responsabilidade
de nunca deixar de dizê-la. Embora nenhum de nós
perceba ou conheça toda a verdade, isso não nos dá o
direito de evitá-la. Se chamamos a nós mesmos de crentes,
estamos indicando, entre outras coisas, que apoiamos e
defendemos o que é verdadeiro.
Reparem como Paulo colocou a verdade no inicio desta
sua tão conhecida lista:
“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é
puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama,
se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja
isso o que ocupe o vosso pensamento”.(F1 4.8.)

Na liderança, talvez mais do que em qualquer outro


setor, é preciso que a verdade apareça. Se as pessoas não
puderem crer na palavra dos seus líderes, em quem vão
acreditar? Se os líderes mentem ou tratam a verdade com
descaso, que espécie de exemplo estão estabelecendo para
seus seguidores?

Falando a Verdade
Não podemos apenas falar sobre a verdade;
precisamos aprender a falar a própria verdade. Isto nem
sempre é fácil fazer.
Há alguns anos, por exemplo, eu e alguns amigos
ouvimos um conferencista bastante conhecido falando em
uma convenção. Nenhum de nós o tinha ouvido antes,
apesar da sua fama. Ninguém gostou muito da sua
mensagem naquela noite; ele havia juntado partes de cinco
mensagens e tentado, sem sucesso, formar um todo
harmonioso.
Por ser ele grande amigo de um casal que eu conhecia
bem, telefonei para ele na manhã daquele dia convidando-
o para um café conosco depois da reunião. Depois das
devidas apresentações ao redor da mesa, ele perguntou: “O
que vocês acharam da minha mensagem?”
Aquilo soou como uma verdadeira bomba. Olhei para o
rosto dos outros que lutavam para encontrar uma resposta
razoável. O primeiro, tentando usar de diplomacia,
respondeu: “O senhor falou com energia e sinceridade. Dá
para sentir que o senhor gosta de falar ao público. Tenho
certeza de que o senhor tocou muitas pessoas”.
O segundo mais à vontade do que o outro, disse: “O
senhor deu tudo que tinha, não é mesmo? Aposto como
gastou um bocado de tempo para preparar a mensagem”!
O conferencista sorriu ao ouvir essa resposta, e aí
voltou-se para mim.
Eu não sabia o que dizer. Não tinha gastado nem um
pouco da mensagem; ele tinha divagado demais e usado
inadequadamente as Escrituras. Eu não queria mentir e não
conseguia pensar tão rápido como o outro que tinha
acabado de responder. Não dizer nada seria a mesma coisa
que declarar “não gostei”, e eu não desejava ferir seus
sentimentos.
Finalmente consegui dizer: “É melhor passar por mim.
Eu não estava num dos meus melhores dias a não pude me
manter atento o bastante para poder opinar. É melhor não
me perguntar nada”.
Minha resposta não me agradou nem um pouco.
Gostaria de ter dito, com atitude de amor, algo mais ou
menos assim: “Não gostei da sua mensagem. Se o senhor
se interessar, quem sabe podemos nos encontrar mais
tarde a darei minhas razões”.
Depois, conversando sobre o meu dilema com um
amigo, ele me disse: “Se as pessoas não desejam ouvir a
verdade, não devem perguntar”. Nada respondi, mas
desconfio que o conferencista desejava mesmo era receber
um “feedback” positivo, talvez até ser lisonjeado — O que
não desejava era ouvir a verdade.
Tenho certa dificuldade em ser sincero, e não raro isso
constitui um problema para mim. Grandes mentiras não me
escapam dos lábios; o que me perturba são as meias-
verdades, as insinuações, os silêncios, as omissões. Sorrio
quando estou resistindo mentalmente. Evito confrontações
porque não gosto de ferir os outros. E acabo, na maior
parte das vezes, não falando a verdade. — pelo menos não
a verdade completa.

Manipulando a Verdade
Quando falamos menos do que a verdade, estamos
mentindo. E há muitas maneiras de se fazê-lo. Aqui estão
algumas:
• Cantar hinos de consagração de vida, quando
não há disposição de entrega total.
• Manter silêncio quando deveríamos falar. Nossos
silêncios muitas vezes implicam em
concordância ou consentimento.
• Fazer promessas que não temos intenção de
cumprir.
• Dizer às pessoas: “Você precisa vir me visitar”,
sabendo que, se isto acontecer, vai nos
incomodar.
• Deixar que os outros creiam que fizemos
conquistas espirituais, que, de fato, não fizemos.

Infelizmente, o mundo em que vivemos desculpa as


mentiras e muitas vezes até as incentiva. Um gerente de
recursos humanos revelou em uma reunião de executivos
americanos que as pessoas estão tão acostumadas a
mentir quando preenchem as fichas de solicitação de
emprego, que, quando os empregadores topam com uma
preenchida honestamente, muitas vezes concluem que o
candidato deve ser um tolo, e que não vale a pena
contratá-lo. Quem fala a verdade não deve ser “esperto” o
bastante para conseguir ter sucesso.
Com isso, não é de se admirar que muitos líderes não
queiram parecer tolos ou ingênuos por falar “nada mais do
que a verdade”.

O Juramento
Todo esse nosso conflito em não falar toda a verdade,
não deve ser surpresa para ninguém. Como a Bíblia diz
muito bem, em geral somos desonestos. Gênesis 3 mostra
como nossos primeiros pais se desviaram da verdade
quando Deus os confrontou em relação à sua
desobediência.
Talvez seja essa a razão por que se exige juramento
quando se trata de questões legais. É a prova de que
reconhecemos nossa tendência natural de não dizer a
verdade.
Os judeus do passado tinham um ditado: “Aquele que
empenha sua palavra e depois se retrata, é tão mau quanto
os que adoram ídolos”. De modo que, para eles, mentir era
um assunto extremamente sério, já que nenhum pecado
era mais repugnante do que a idolatria. Fazer um
juramento naquele tempo era tomar Deus como
testemunha de que a pessoa estava dizendo apenas a
verdade. Isso era, sem duvida, parte da intenção do
mandamento que dizia: “Não tomarás o nome do Senhor
teu Deus em vão” (Ex 20.7).
Esse mandamento condena as promessas que
fazermos em nome de Deus; promessas que não podem ser
ou não serão cumpridas. Em Números 30.2, Deus declara:
“Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou
juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não
violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu,
fará”.

Originariamente, o juramento só era feito em assuntos


muito sérios, como questões de vida e morte, por exemplo.
Mas com o correr do tempo, as pessoas começaram a usá-
lo em situações frívolas.
Tenho ouvido, entre os Árabes de hoje, no Oriente
Médio, juramentos feitos pelas razões mais insignificantes.
Uma vez, enquanto pechinchava com um mercador um
objeto que custava menos de dois dólares, o homem
declarou: “Esse é meu preço final. Pela honra de Deus, não
posso baixar mais. Já não vou ter lucro nenhum vendendo
por esse preço. Juro por Deus”.
Nós dois sabíamos que ele estava mentindo. No fim,
ele acabou baixando mais uns centavos no preço “final”.
Seu juramento não significava coisa alguma, não tinha
nenhum valor.
Contrastando com essa atitude, Jesus disse no sermão
da Montanha:
“De modo algum jureis... Seja, porém, a vossa
palavra: sim, sim; não, não. O que disto passar, vem
do maligno”.(Mt 5.34,37).

Jesus e a Verdade
Jesus não apenas ensinou que deveríamos dizer a
verdade; ele personificou a própria verdade. Depois de ter
sido traído, nosso Senhor compareceu perante o sumo-
sacerdote e foi por ele interrogado.
“Declarou-lhe Jesus: Eu tenho falado francamente ao
mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas
como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e
nada disse em oculto. Por que me interrogas?
Pergunta aos que me ouviram o que lhes falei; bem
sabem eles o que eu disse”. (Jo 18.20,21).

Jesus nunca negou a verdade, mas também nunca fez


alarde dela.
Geralmente, deixava que as pessoas a percebessem
por si mesmas. Por exemplo, ele não disse categoricamente
aos seus discípulos que era o Cristo; mas eles acabaram
percebendo quem era ele. Assim é que Jesus manteve a
verdade.
Interessante notar que, qualquer que tenha sido o
tamanho da lista de acusações feitas contra ele, não consta
a de mentiroso. Seus inimigos disseram que ele havia
blasfemado quando disse ser igual a Deus; disseram que
estava possesso do demônio; acusaram-no de trabalhar no
dia sagrado do descanso, porque havia feito uma cura
naquele dia. Mas mesmo os seus piores detratores nunca
conseguiram apanhá-lo mentindo — porque ele falava
apenas a verdade.

Verdade e Amor
Não basta dizer a verdade. Como dizê-la é também
muito importante.
Quem não conhece pessoas que falam a verdade — da
pior maneira possível? Conheço um homem que expressa
suas opiniões sobre qualquer assunto, sem se preocupar
com a reação dos outros. E ainda se defende: “As pessoas
sabem como sou. Não acredito nessa história de fazer
rodeios”. Ninguém o acusa de hipocrisia ou tapeação. Mas
consideram suas palavras destituídas de amor, compaixão,
delicadeza.
Os cristãos precisam falar a verdade. Mas Paulo disse:
“Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é o cabeça, Cristo.” (Ef 4.15).
Quando falamos a verdade inconseqüentemente e,
com isso, ferimos os outros, estamos agindo mal. Quando
falamos de maneira a diminuir ou rebaixar alguém, o
Espírito Santo não está falando por nosso intermédio. A
verdade, às vezes, machuca, e nem sempre podemos
impedir que isso aconteça. Mas é bom que verifiquemos os
motivos que nos levaram a dizê-la.
Certa feita, alguém me disse: “O Espírito Santo é um
cavalheiro.
Um cavalheiro jamais se comporta indelicadamente ou
com maldade”. Deus veste a verdade com as roupagens da
bondade. E isso nos leva ao próximo princípio.

PRINCÍPIO 8

O VERDADEIRO LÍDER DIZ A VERDADE EM AMOR.


Para nós, líderes, talvez a mentira não represente uma
tentação.
Mas para a maioria de nós, é muito fácil usar mal a
verdade.
Precisamos seguir o exemplo de Jesus nesse particular.
Ele falou a verdade, mesmo quando a popularidade
exigia uma mentira.
Falou a verdade mesmo quando isso acarretava o risco
de ser abandonado pelas multidões (Jo 6.66). Falou a
verdade porque ele é a própria verdade, e não pode negar
a Si mesmo.
Para muitos a luta pela sinceridade pode ser uma
batalha para a vida toda. Isto quer dizer que devem estar
sempre alertas, perseguindo esse objetivo, tendo, porém,
diante de si o exemplo do caminho, a verdade e a vida. Não
nos esqueçamos, contudo, de que o verdadeiro líder ama a
verdade tanto quanto o próprio Deus.

CAPÍTULO 9 - PERDÃO

No dia 14 de novembro de 1940, a força aérea alemã


— Luftwaffe — bombardeou a cidade de Coventry, na
Inglaterra. Foi a maior incursão aérea sobre a Grã-Bretanha
durante a Segunda Guerra Mundial. Quando o bombardeio
terminou, os habitantes da cidade foram ver os estragos e
constataram que sua bela catedral havia sido arrasada.
Mas pelo menos alguns dos moradores não permitiram
que aquela trágica destruição, sem sentido, do seu lugar de
culto e adoração servisse de desculpa para vingança. No
dia seguinte, membros daquela congregação pegaram duas
traves do teto e prenderam uma à outra, assim mesmo
retorcidas e chamuscadas como estavam, e levaram para o
lugar das ruínas onde antes estivera o altar. As duas traves
formavam uma cruz. Os paroquianos pintaram duas
palavras numa tabuleta e a colocaram ao pé da cruz: “Pai,
perdoa”.
Tenho em casa uma réplica daquela cruz. A verdadeira
continua no lugar, próxima da catedral que foi reconstruída.
Desejo que fique lá enquanto a humanidade existir para
lembrar ao mundo de que mesmo no meio da maior
devastação, podemos clamar com as palavras de Jesus:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
(Lc 23.34.)

Jesus, O Perdoador
Os cristãos primitivos aprenderam a perdoar através
do exemplo do próprio Jesus. Nos momentos mais sombrios
de sua vida, ele suplicou ao Pai que perdoasse seus
executores. Um ano mais tarde, o primeiro mártir cristão
que conhecemos, Estevão, fez a mesma coisa.
Enquanto estava sendo atingido por grandes pedras,
que lhe tiraram a vida, orava: “Não lhes imputes este
pecado” (At 7.60).
O perdão não diz apenas: “Não tenho nada contra
você. Deseja também que o culpado seja perdoado por
Deus. Às vezes achamos muito difícil pedir e desejar de
coração que seja assim. Mas, como Jesus e Estevão nos
mostraram, não é impossível”.
Jesus também ensinou a perdoar quando mostrou a
seus discípulos como orar (Lc 11.14). Quando, em algumas
igrejas, as pessoas repetem o Pai-Nosso, semana após
semana, muitas vezes não se dão conta do que estão
dizendo. Mas se todos nós levássemos a sério as suas
palavras, quantos poderíamos fazer essa oração? Quando
oramos “Perdoa-nos as nossas dívidas” (ou faltas) e
prosseguimos “como nós perdoamos...”, O que estamos
pedindo a Deus é que nos perdoe na mesma medida que
perdoamos os outros. E isso mesmo que desejamos que
aconteça?

Por que e Como Perdoar


Desde a minha conversão a Jesus Cristo, nesses anos
todos, tenho pensado muito sobre o perdão. Reparei que
Deus, tanto no Antigo Testamento como no Novo, nos
manda perdoar; e creio firmemente que Deus nunca nos
manda fazer aquilo que não possamos realizar.
Um dia, entendi o significado da frase: “assim como
perdoamos”. Ela tem tudo a ver com o que entendemos por
perdão. Percebi, então, que só podemos perdoar os outros
na medida que compreendemos o que significa ser
perdoado.
O mesmo que se dá com o mandamento “ame o teu
próximo como a ti mesmo”. Os psicólogos estão sempre
nos lembrando que não podemos amar os outros até que
saibamos o que significa ser amado. Se, por exemplo, eu
nunca tivesse sentido da parte de meus pais e de outras
pessoas seu amor por mim, dizem os especialistas em
comportamento humano, eu não teria um conceito
verdadeiro do amor — principalmente da capacidade de
doação que o amor tem. Eu teria que experimentá-lo
primeiro antes de poder expressá-lo.
Aqueles que já receberam a Cristo como Salvador, já
experimentaram o perdão. Por isso, podem perdoar os
outros. Para entender como perdoar, precisamos analisar o
exemplo do pr6prio Deus.
Em João 3.16,17 encontramos o porque” e o como do
perdão de Deus:
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu
seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus
enviou seu Filho ao mundo, não para que julgasse o
mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.”
(Jo 3.16,17.)

Porque Deus ama as criaturas que ele criou, ele proveu


a salvação através de Cristo Jesus. O amor de Deus é o
porque do seu perdão; seu Filho é o como.
Em João 8.1-11, o episódio da mulher apanhada em
flagrante adultério mostra o perdão de Deus em ação. Jesus
lhe disse: “Vai e não peques mais”.
Essa hist6ria nos anima, mas de certo modo nos
desencoraja também.
Pense mais uma vez nas instruções de Jesus àquela
mulher: “e não peques mais”. Ele quis dizer exatamente
isto: nunca mais.
Gosto de crer que aquela mulher nunca mais cometeu
o pecado de adultério. Mas, e os outros pecados? Será que
ela se enfureceu, cometeu algum ato egoísta, mentiu,
cobiçou alguma coisa? Claro que sim! E então? Será que
Jesus a perdoaria outra vez?
Em 1 João 2.1, a primeira parte da resposta soa muito
parecida com as palavras de Jesus: “Filhinhos meus, estas
cousas vos escrevo para que não pequeis”. Isso exprime a
vontade de Deus para seu povo, valendo para todas as
ocasiões: não pequeis. Mas a outra parte de 1 João 2.1 nos
ensina o conceito de graça: “Se, todavia, alguém pecar,
temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo.” Este é
o princípio do perdão.
Deus se opõe ao pecado; sabendo, porém, da nossa
natureza decaída, abre caminho para que haja uma
reconciliação com ele.
Assim faz, também, o líder cristão. Ele se opõe ao erro,
às transgressões e injustiças da parte de seus seguidores
ou detratores, mas é capaz de perdoar e reatar o
relacionamento.
Perdoar e Esquecer
Perdoar significa apagar um erro. Na minha
experiência pessoal, sei que realmente perdoei quando
meu sofrimento em re1açao ao erro cometido decresce e
não sinto mais agitação, confusão ou tumulto interior
diante do acontecimento. Posso falar sobre o que houve
sem sentir meu estômago se contrair e sem ficar com a
garganta apertada ou a voz embargada.
Uma vez que a dor desaparece, a memória vai-se
apagando em re1ação ao erro ou injustiça cometida contra
mim. Um dia, por exemplo, falei sobre um homem que eu
havia conhecido dez anos antes. O homem tinha me ferido
profundamente por causa de alguma coisa que tinha dito
ou feito contra mim, mas que, muito estranhamente, eu
não conseguia recordar o que havia sido. Por alguns
segundos tentei lembrar o que teria causado aquele
problema, mas não consegui. E, então, de repente, algo se
tornou bem claro em minha mente: eu não precisava me
lembrar de nada porque já tinha perdoado aquele homem.
Em si1êncio, agradeci a Deus por não conseguir lembrar-
me do problema. Fiquei contente de lembrar a parte mais
importante — a solução.
Algumas pessoas, quando alguém lhes pede perdão,
respondem:
“Perdoar, eu perdôo, mas esquecer, nunca”. Fico
pensando sobre o que é que elas vão ganhar em não
esquecer. Lembrar é manter o problema queimando por
dentro; perdoar é apagar o fogo.
Eunice, uma antiga missionária na Libéria, contou uma
história sobre perdão que guardo comigo faz tempo.
Um africano trabalhava para ela, e um dia ela o
surpreendeu furtando roupas em sua casa.
“Por favor, perdoe-me”, suplicou o homem. “Eu errei.
Prometo não fazer isso outra vez.”
Ela o perdoou e deixou que continuasse trabalhando
para ela. Mas não se passou nem um mês e ela o pegou em
flagrante novamente. “Olha só!” disse ela. “Roubando outra
vez?”
O homem, muito vivo, olhou firme para ela e disse:
“Que espécie de cristã é a senhora?”
Eunice, completamente pasma com aquelas palavras,
não sabia o que responder.
“Se a senhora me perdoou, a senhora não se lembra”,
disse o homem. “E se a senhora não se lembra, é porque
não aconteceu nada.”
Pondo de lado o fato de que o homem havia usado de
uma lógica muito duvidosa para justificar seu erro, fiquei
com essa história na cabeça. Conheço muita gente que diz
ter perdoado o outro, mas que fica de espreita até que este
cometa outra falha para, então, dizer:
“Ah! Exatamente como eu pensei que ia ser!”

A Marca da Liderança
Uma das marcas que o verdadeiro líder tem é a
capacidade de perdoar.
Quando as pessoas nos decepcionam ou fazem algo
contra nós, principalmente se percebemos que foi uma
atitude deliberada, não há nada melhor a fazer do que
lembrar as palavras de Jesus:
“Nem eu tão pouco te condeno. Vai e não peques
mais”. Mas o verdadeiro perdão precisa do auxílio divino. A
maioria de nós prefere vingança — ou pelo menos provar
que estamos certos antes de perdoar.
Todos nós já não tivemos nossos sentimentos feridos
pelos irmãos da igreja, colegas de trabalho ou empregados,
que disseram coisas desagradáveis — às vezes até injustas
e mentirosas? Todos nós temos, ou já tivemos, algum
parente que, todas as vezes que nos encontra, nos faz
sentir amargurados, porque arranja sempre um jeito de nos
ofender. Como é que vamos lidar com essas situações?
Podemos nos deter naquilo que a pessoa fez contra
nós. Podemos continuar nos lembrando dos seus erros, das
suas más intenções, da sua mesquinharia. Ou podemos
clamar por “justiça”, quando o que realmente estamos
pensando é: “Mostra que eu estou certo.” Ou podemos
ainda dizer: “Faça com que aquele cachorro se sinta
terrivelmente mal até que ele se arrependa.”
Também podemos tentar “ficar quites” com a pessoa.
Empatar. Ouvi certa vez um sermão sobre esse tema. O
pastor disse mais ou menos assim:
“A maioria de nós quer empatar, e podemos fazer isso.
Jesus nos disse como: “Ouvistes que foi dito: amarás a teu
próximo, e odiarás a teu inimigo. Eu porém, vos digo. Amai
os vossas inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Ml
5.43,44). Você quer ficar quites? Ore pelos antipáticos,
desagradáveis, estúpidos, insensíveis, os duros de coração,
os grosseiros e os mesquinhos.”
O pastor terminou o sermão com um aviso:
“Cuidado com suas orações. Elas não só mudam os
outros como, às vezes, voltam-se contra nós e nos
transformam também. E ai estaremos empatados!”
Se já houve alguém com razão para querer fazer o
mesmo aos seus inimigos, esse alguém foi Jesus. Mas
quando foi trazido diante do sumo-sacerdote, o Senhor nem
sequer tentou explicar ou provar sua inocência. Ele disse
apenas: “Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei
continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde
todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto”. (Jo
18.20.)
Mais tarde, diante de Pilatos, Jesus teve sua segunda
oportunidade de defender-se. Mas em hora alguma tentou
ele mostrar a violência ao insulto das acusações, a
falsidade dos seus acusadores e o pecado de suas ações.
Durante todo o confronto com Pilatos, ele não disse nada
em sua defesa (Jo 18.28-38). Essa não era uma atitude
típica de um homem ofendido; era o estilo de Jesus, o
perdoador.

Passos Para a Reconciliação


Líder eficiente é aquele que perdoa. Não podemos
trabalhar com uma pessoa se guardamos ressentimento ou
rancor contra ela. Aqui vão três passos que podemos dar
para abrir o caminho para o perdão:
1. Auto-análise. Às vezes precisamos nos perguntar
por que estamos guardando rancor, por que acabamos nos
sentindo feridos ou zangados.
Como disse um amigo meu, um homem de Deus:
“Ninguém pode ferir seus sentimentos a não ser você
mesmo. Os outros podem tocar numa parte sensível da sua
vida que você ainda não entregou para Jesus”.
Os outros podem tocar no nosso sentimento de
inferioridade, nosso receio de parecer tolo, nosso
sentimento de inadequação ao trabalho. Mas essas pessoas
estão, na verdade, prestando-nos um favor quando nos
indicam os setores de nossa vida que estão precisando ser
melhorados.
2. Orar pelos inimigos. Por que não anotar em um
papel o nome de seus detratores, rivais, críticos e levá-los
até a presença de Deus todos os dias? Não ore assim:
“Deus, por favor, aperte o João até que ele tome jeito”.
Em vez disso, diga: “Pai, ajuda-me a entender o João, a ter
compaixão dele”.
3. Esperar a cura. Precisamos trabalhar pela
reconciliação. Temos que esperar que ela aconteça.
Podemos abordar nossas feridas com o coração aberto
dizendo:
“Senhor Deus, sei que vou perdoar e esquecer a que
João me fez”. Isto pode acontecer — é só deixarmos que
aconteça.

PRINCÍPIO 9

O LÍDER É CAPAZ DE PERDOAR PORQUE JÁ EXPERIMENTOU O


QUE É SER PERDOADO.

Parte 3 : Tentações da Liderança

CAPÍTULO 10 - PODER

De acordo com as regras de alguns manuais sobre


liderança, Jesus fez tudo errado. Seu erro foi a sua
permanente integridade. Ele nunca fez jogadas e
cambalachos, nunca enganou ninguém. Ninguém poderia
ter dúvidas sobre suas intenções se desejasse realmente
conhecê-las.
Mas os líderes religiosos do seu tempo nunca o
quiseram saber. Jesus representava uma ameaça para eles
e para a sua autoridade. Eles ficaram contra Jesus desde o
princípio porque sabiam que ele ameaçava a base do seu
poder.
Muita gente, quando pensa em liderança, pensa em
poder. Precisamos examinar este assunto porque ele se
aplica a liderança na igreja, nos negócios, na escola, em
casa — em qualquer lugar onde duas pessoas se juntem.
Precisamos ver como é que Jesus difere dos outros líderes
no seu conceito e uso do poder.
Duas Espécies de Poder
Quando me refiro a poder, estou pensando na
capacidade de influenciar ou induzir o comportamento de
outros. Há duas espécies de poder humanamente falando:
O poder do posição refere-se à influencia que o líder
tem, que resulta de sua posição na igreja, nos negócios ou
na família.
Enquanto que os membros da igreja podem, por
exemplo, deixar de atender algum pedido feito por outra
pessoa, o provável é que o atendam se a pedido foi feito
pelo pastor.
O poder pessoal é exercido através do carisma, da
personalidade ou da capacidade do líder. Durante a
Segunda Guerra Mundial, a Primeiro-Ministro da Inglaterra,
Sir Winston Churchill, exerceu grande poder por sua imensa
capacidade de motivar a povo inglês.
Em maio de 1940, nas horas mais sombrias da Grã-
Bretanha, Churchill fez seu primeiro discurso na Câmara
dos Comuns, na qualidade de Primeiro-Ministro: “Não tenho
nada a oferecer-lhes a não ser sangue, suor, trabalho e
lágrimas.” Uma nação que parecia já estar derrotada,
reagiu, de moral elevado, e seguiu após seu líder.
O Presidente Franklin Roosevelt conduziu os
americanos durante uma grande depressão econômica e
chefiou o pais durante a Segunda Guerra Mundial. Ele é
especialmente lembrado por uma frase que disse num de
seus grandes comícios: “Não temos nada a temer a não ser
a próprio medo”. Com a força da sua personalidade,
transmitiu ao seu país confiança no futuro.
O poder pessoal oferece perigo, naturalmente. Ele
pode se tornar uma fonte de manipulação; pode tornar o
líder um tirano, como no caso de Jim Jones.
Foi esse a tipo de tentação que Jesus enfrentou no
deserto (Mt 4.1-11). Satanás levou-o ao alto do monte e
ofereceu-lhe todos os reinos do mundo. Foi uma tentativa
de manipulá-lo, de despertar nele a sede do poder. Mesmo
a transformação de pedras em pão implicaria a
manipulação das forças da natureza em beneficio próprio.
Saltar do alto do templo seria, sem duvida, uma tentativa
de manipular Deus Pai, coagindo-o a salvar a Filho.

O Abuso do Poder
Nas igrejas hoje, o uso do poder é quase sempre
verbal. Mas nem sempre foi assim. Muitas vezes houve
situações que envolviam excomunhão, exclusão (prática
que ainda vigora em algumas igrejas), tortura física e até
morte.
Hoje, porém, os líderes, para manterem o poder,
lançam mão dos seguintes meios:

• persuasão/manipulação;
• criam sentimento de culpa, vergonha ou
ignorância;
• fazem ameaças;
• rebaixam ou ridicularizam;
• apelam.

Vamos examinar, individualmente, cada um desses


artifícios.

Persuasão/Manipulação
Nenhuma outra figura da atualidade ilustra melhor
esse tipo de abuso de poder que o infame Jim Jones de
Jamestown, Guiana. Ele persuadiu seus seguidores, usando
sua personalidade carismática, de que poderia e iria dar a
eles uma vida melhor.
Depois que os convertidos se tornavam membros da
Igreja do Povo, os métodos persuasivos de Jones se
transformavam em formas demoníacas de manipulação. A
persuasão legitima usa da lógica, de fatos, apelos à razão.
O tipo de persuasão deturpada insinua que a pessoa não
está cooperando (“Você não vai querer que os outros
pensem que você não quer cooperar nem fazer o melhor
para Deus, vai?”), ou não está sendo razoável (“Eu sabia
que você” havia de entender se eu falasse sobre isso. Todo
mundo acha você uma pessoa razoável e eu tenho dito a
todos que você não costuma criar caso”) Como resultado
final, a manipulação de Jones matou-o e matou a maioria
dos seus seguidores.
Essa maneira pervertida de persuadir impede os
indivíduos de pensar e agir por si próprios. Em João 7.45-
52, Nicodemos tentou fazer alguma coisa por Jesus,
perguntando se a lei condenava um homem sem
julgamento. Os fariseus fizeram com que se calasse
perguntando: “Dar-se-á o caso de que também tu és da
Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia não se levanta
profeta”.(7.52.) O pobre do Nicodemos não teve nenhuma
chance:
Os líderes caíram em cima dele para valer. Ele ia
passar por tolo se dissesse mais alguma coisa. Esse jeito de
agir é típico dos líderes manipuladores.

Culpa, Vergonha, Ignorância


Estou convencido de que nas igrejas essa forma de
poder é mais usada do que qualquer outra. Nós, líderes,
muitas vezes, só pela nossa posição de liderança, temos a
capacidade de provocar sentimentos de culpa, vergonha e
ignorância em muitas pessoas. E o fazemos sutilmente.
Por exemplo, Ana não tem aparecido à classe dos
adultos da Escola Dominical há três domingos. Sua
professora a encontra na rua e diz:
“Ana, onde é que você tem andado? Senti sua falta nos
três últimos domingos”. Por um lado, a pergunta demonstra
interesse real, mas, por outro, exige uma explicação por
pane de Ana. Quando a professora pergunta a ela por onde
tem andado, Ana tem de encontrar uma desculpa como se
fosse uma garotinha do primeiro ano que faltou um dia à
escola. Conscientemente, ou não, ela é levada a se sentir
culpada.
Às vezes os líderes tentam taxar de ignorantes os que
discordam deles.
“Se você conhecesse todos os fatos, veria as coisas de
maneira diferente.” Isso sugere que o outro é ignorante e
irracional, de modo que, muito provavelmente, ele não vá
continuar discordando.
Se um empregado comete um erro qualquer, pequeno
ou grande, o manipulador pode dizer: “Você não vai falhar
outra vez, vai?” Alguns líderes usam de maior sutileza, mas
mesmo assim suas palavras lembram o subordinado de
seus erros passados, 1evando-o a sentir vergonha e até
mesmo culpa.

Ameaças
No mundo dos negócios, as ameaças financeiras por
parte dos chefes muitas vezes forçam as pessoas a se
submeterem ou pedirem conta. O medo de serem
mandados embora, de não receberem aumento e de
conseguir um índice baixo na ava1iaçao anual de
desempenho pessoal, é explorado pelos chefes para
manter os empregados na linha.
Às vezes, a ameaça não é feita pessoalmente pelo
próprio líder. Ele se serve dos outros para serem os “vilões”
da peça.
“Se você quer passar por tolo, está bem, toca prá
frente a sua idéia”.
“Embora eu pessoalmente não tenha nada contra a
sua idéia, você sabe que o resto da congregação (equipe,
comissão) vai derrubá-la, não sabe?”
“Eu vou com você até a comissão, mas, se eles rirem
de nós, não me culpe por isso...”
“ Muita gente vem pensando em sugerir seu nome
para diácono, mas se começarem a achar que você é
criador de casos, são bem capazes de desistir.”
Ameaças não são nenhuma novidade no uso do
poder por parte dos líderes. No capítulo 9 de João, depois
de Jesus ter curado o cego de nascença, os fariseus
pressionaram os pais do homem para ver se conseguiam a
ajuda deles na campanha contra Cristo.
“Não acreditaram os judeus que e fora cego e que
agora via, enquanto não lhe chamaram os pais, e os
interrogaram: E este o vosso filho, de quem dizeis que
nasceu cego? Como, pois, vê agora? Então os pais
responderam: Sabemos que este é nosso filho, e que
nasceu cego; mas não sabemos como vê agora; ou
quem lhe abriu os olhos também não sabemos.
Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo. Isso
disseram seus pais porque estavam com medo dos
judeus; pois estes já haviam assentado que se alguém
confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da
sinagoga.” (Jo 9. 18-22).

Rebaixar e Ridicularizar
Essa talvez seja a espécie mais cruel de manipulação
do poder. O líder que usa desse artifício ridiculariza as
sugestões de maneira a fazer com que pareçam não ter
nenhum valor. Geralmente mantém um sorriso forçado e
um tom de voz macio e cordial. Quando desafiado, sua
reação é basicamente uma destas:
“Puxa, a gente não pode nem fazer uma brincadeira?
Por que é que você” está tão chateado?”
“Você” só pode estar brincando, não é?”
“Hum! Você” até que tem senso de humor, João. Mas
tenho certeza de que não é isto que você está querendo
dizer. Portanto, vamos partir para outra”.

Um amigo meu se apercebeu que estava fazendo esse


jogo de poder, quando, numa época de Natal, foi trabalhar
num abrigo de excursionistas para estudantes
internacionais. Ele procurava manter sempre um sorriso e
parecia que tudo ia muito bem com os estudantes. Até que
um dia dois estudantes do Oriente Médio disseram a ele:
Você sorri o tempo todo. Com isso quer dizer que você esta
feliz e coopera de muita boa vontade, não é? Diz que não
precisamos ir a algumas das excursões que você planeja,
mas, se não vamos, você usa palavras que fazem a gente
saber como ficou aborrecido conosco. O tempo todo você
continua sorrindo, mesmo quando diz coisas tais como:
“Você não está tão cansado assim que não possa ir”.
“Desculpe, mas não dá para entender”.
Foi então que reparou no erro que vinha cometendo.
Inconscientemente, desejava que todos participassem de
todas as atividades, embora tivesse dito outra coisa. Suas
palavras de sarcasmo, acompanhadas de um sorriso,
tinham feito os estudantes ficarem confusos. “Foi uma boa
ação para mim”, disse mais tarde. “Nunca tinha percebido
que eu usava aquela atitude para conseguir fazer o que eu
queria com aquelas pessoas”.

Fazendo Apelos
Às vezes os líderes simplesmente pedem. Suas
palavras podem até não parecer pedidos, mas, no fundo,
são apelos à lealdade, simpatia ou respeito à hierarquia.
“Sou seu pastor, você sabe.” “Espero que você não
pense que eu faria intencionalmente alguma coisa errada.”
“O senhor compreende, o conselho apenas recomenda,
mas sou eu quem dá realmente a última palavra”.
“Você” sabe, quando você entrou para a igreja (ou
tornou-se professor da Escola Dominical, ou foi eleito para o
presbitério) prometeu se sujeitar à autoridade e à disciplina
da igreja. Como amigo e líder apelo para você”...
“Estou apenas tentando fazer o melhor que posso
aqui. Tinha esperança de contar com seu apoio. Você é
uma das pessoas de maior zelo espiritual do grupo. Tenho
em alta conta a sua opinião”.
Essas frases falam por si, dispensam comentários.

Como Jesus Exerceu Poder


Talvez a melhor amostra de como Jesus fez uso do
poder. se encontra em João 13. O capitulo diz que Jesus,
após ter ceado com seus discípulos, antes da crucificação,
lavou-lhes os pés. Naquele tempo, era o servo mais
humilde de uma casa (ou alguém que o dono da casa
queria humilhar), que lavava os pés dos hóspedes.
“Depois de lhes ter lavado os pés... perguntou-lhes:

Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o


Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou.
Ora, se eu sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.

Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos


fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos
digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem
o enviado maior do que aquele que o enviou. Ora, se
sabeis estas cousas, bem-aventurados sois se as
praticardes” (Jo 13.12-17).

Essa é a fonte do verdadeiro poder: serviço e


submissão aos outros. Paulo disse:
“Se há qualquer outro mandamento, tudo nestas
palavras se resume: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo”.(Rm 13.9)

Muitos líderes impõem o seu poder. Os candidatos à


liderança suspiram por poder, e, quando conseguem
alcançá-lo, querem sempre mais e mais.
Jesus ensinou o oposto. Para ele, o caminho para subir,
é descendo. A maneira de se tornar senhor é sendo servo.
O caminho para a grandeza é a abnegação, a negação de si
mesmo. O caminho para a exaltação é tomar sua cruz
todos os dias e segui-lo (Lc 9.23).

Poder, Medo e Amor


No século XVI, Niccolo Machiavelli, estadista e filósofo
italiano, escreveu um tratado, que intitulou de O Príncipe,
onde ele faz a apologia da monarquia absoluta. Nessa
mesma obra, ele faz uma pergunta vital: se é melhor ter
um relacionamento baseado no amor (como no poder
pessoal) ou no medo (como no poder da posição). Ele
declara que o melhor é ter os dois. Mas quando não for
possível ter os dois, o poder deve ter como base o medo,
porque ele tende a ser mais duradouro, pois quem estiver
envolvido nele terá que pagar um preço para romper com
ele. O poder baseado no amor, disse ele, tende a ter curta
duração e é muito fácil terminar, parque o seguidor ou
subordinado não teme nenhuma represália.
Machiavelli pôs em palavras o princípio que orienta a
vida de muitos líderes. No entanto, Jesus, o Líder, nunca
recorreu ao expediente de explorar o medo. Em vez disso,
ensinou a importância imensa do amor.
Na noite em que seria traído, enquanto estava ainda
no cenáculo, disse a seus discípulos:
“Novo mandamento vos dou: que vos amais uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos
ameis uns aos outros. Nisto conhecerão que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo
13.34,35).

Na primeira epistola de João, o apóstolo escreve tanto


sabre o medo como sobre o amor:
“Deus é amor, e aquele que permanece no amor
permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é
aperfeiçoado o amor para que no dia do juízo
mantenhamos confiança: pois segundo ele é também
nós somos neste mundo. No amar não existe medo;
antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o
medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor”. (1 Jo 4.16-18).

Jesus recebia seu poder de Deus. Ele exercia esse


poder através do amor. Ele estendeu o seu poder ao seu
povo, e junto com ale a melhor arma contra o abuso: o
mandamento de nos amarmos uns aos outros. Se eu, como
líder, amar as pessoas, jamais tentarei manipulá-las ou
explorá-las. Colocarei seus interesses antes dos meus e
farei o melhor que puder em favor delas.
Dois símbolos do cristianismo são a toalha e a cruz. A
toalha simboliza o serviço; a cruz, obediência. Ambas são
marcas da liderança cristã porque representam o estilo de
liderança de Jesus.
Muitíssimas foram as ocasiões em que Jesus poderia
ter usado as pessoas para a1cançar seus objetivos. Em vez
disso, levou-as a se confrontarem consigo mesmas, como
no caso da mulher junto ao poço, a mulher apanhada em
adultério e com Nicodemos. E depois que elas viram a si
mesmas, Jesus revelou-lhes o seu amor e o seu poder de
redenção. E dessa maneira que líderes íntegros
atuam:usando o poder para satisfazer os interesses e
necessidades dos outros, não os seus próprios.
E assim, temos aqui o próximo princípio.

PRINCÍPIO 10

É QUANDO OBEDECE A DEUS E SERVE AOS OUTROS QUE O


LÍDER ENCONTRA SEU MAIOR PODER.

CAPÍTULO 11 - O NOSSO EGO

Um conferencista muito conhecido, que já havia


aparecido em vários programas de entrevistas e palestras
na televisão, foi convidado para falar em uma concentração
anual de uma organização muito prestigiada. O organizador
do evento havia telefonado e depois confirmou por carta o
quanto a organização desejava tê-1o presente: “Estamos
todos ansiosos por encontrá-lo e queremos muito que fale
para nós. O senhor nem pode imaginar quantas vezes os
nossos membros citam o senhor e com que freqüência
sugerem o seu nome”.
No dia da concentração, o conferencista chegou alguns
minutos mais cedo. Entrou, apresentou-se, recebeu o
crachá com seu nome, mas ninguém prestou a menor
atenção nele.
Menos de cinco minutos antes de lhe ser dada a
palavra, perguntaram pelo sistema de alto-falantes: “O
senhor já chegou?”
Mais tarde o conferencista me confessou que se
sentira ferido em seus sentimentos por ninguém tê-1o
reconhecido. “Tive vontade de ir embora”, disse-me ele.
“Eles tinham me posto nas nuvens antes de eu chegar, mas
me deixaram completamente por baixo quando cheguei”.
Quando falou para o grupo, teve, também, a maior
dificuldade para não demonstrar a decepção e a raiva que
estava sentindo.

O Ego de Jesus
Jesus nunca pareceu aborrecido quando não era
reconhecido. Geralmente evitava publicidade e
reconhecimento.
Numa ocasião, Felipe insistiu com Natanael para ir
encontrar-se com Jesus (Jo 1.46-51). Quando Natanael
soube de onde Jesus tinha vindo, fez esta pergunta: “De
Nazaré pode sair alguma cousa boa?” (V. 46).
Jesus nunca censurou Natanael por essas palavras.
Nessa ocasião a fama de Jesus já tinha se espalhado por
aquelas terras, mas ele não demonstrou o menor sinal de
ter-se ofendido por Natanael não tê-1o reconhecido.
Conversou com ele; e ao término da conversa Natanael
exclamou: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de
Israel!” (V.49).
Pela maneira como agiu podemos concluir que Jesus
não deixou escapar esta revelação: “Eu sou o Messias”. Ele
provavelmente não deixou sequer transparecer quem era.
Jesus, o Líder, se concentrava em ensinar, pregar e
demonstrar o propósito de sua vinda. Ele deixava que as
pessoas descobrissem por elas mesmas a sua identidade.
Fosse onde fosse o lugar para o qual Jesus viajasse, ele
não esperava bandeiras, comissões de recepção, nem
honras especiais. Seu ego não estava procurando a
satisfação que poderia advir da adoração que os outros lhe
prestassem, ou pelos títulos de respeito e honraria que lhe
pudessem conferir. Como ele mesmo disse: “Eu não aceito
glória que vem dos homens”.(Jo 5.41). Ele veio com uma
missão e uma mensagem — levar as pessoas ao Pai — e
não para usurpar a posição de outros.
Quando os discípulos lhe ofereceram alimento, por
ocasião de seu encontro com a samaritana, sua resposta
foi: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele
que me enviou, e realizar a sua obra” (Jo 4.34).
Esse comentário meio misterioso não queria dizer que
ale não estivesse com fome, mas que suas próprias
necessidades estavam subordinadas à missão que o Pai lhe
confiara. Ele exerceu liderança sobre os discípulos para
mostrar-lhes que eles também tinham que realizar a missão
do Pai.
Observando as lideranças atuais, raramente vemos
uma que adote o estilo não egocêntrico de Jesus. Ele veio
com uma missão de servo, fazer a vontade do Pai não de se
tornar uma celebridade.
A liderança requer que aqueles que a exercem saibam
o que tem a fazer e se dediquem a sua realização. Isso soa
meio simplista; no entanto, muitos dos possíveis futuros
líderes, em vez de se dedicarem ao trabalho que tem a
fazer, ficam sonhando com o que poderão vir a fazer ou
que fará algum dia. Ou, então, ficam esperando
reconhecimento e elogio por cada coisa que fazem.
Mesmo aqueles que se dedicam de fato ao trabalho,
esperam reconhecimento. Se um gerente faz um bom
trabalho para a sua empresa, ele espera ser elogiado. Se
não, ou fica resmungando quando não há ninguém por
perto, ou reclama irado, em alto e bom som, pelos seus
direitos. Não levam em conta o exemplo de Jesus Cristo.

Recebendo os Créditos
Uma senhora crente, que trabalhava numa editora,
ocupava o cargo de assistente de redação. Ela lia os
manuscritos depois que a redatora-chefe terminava de os
ler, corrigindo, principalmente, erros de gramática e
pontuação.
A redatora-chefe, mulher incompetente, sabia que a
assistente tinha mais capacidade do que ela — e já
deixando para a assistente cada vez mais o serviço. Por
fim, a assistente fazia quase todo o trabalho, embora o
crédito ficasse com a chefe.
Um dia, numa discussão com o editor, a redatora
ameaçou demitir-se se o seu pedido não fosse atendido. O
diretor respondeu: “A senhora pode se demitir à vontade.
Afinal, tem sido sua assistente que tem feito a maior parte
do trabalho”!
“Foi ela que lhe contou isso?” gritou a mulher.
“Não era preciso que ela contasse”, respondeu o
diretor. “Venho observando isso há meses, e pensando
quando é que a senhora iria dar a ela os créditos pelo
trabalho”.
No final das contas, a assistente acabou se tornando a
redatora-chefe.
Ela fazia seu trabalho muito bem feito e não esperava
reconhecimentos.
Quando o editor, que não era crente, perguntou por
que ela tinha trabalhado tanto, sem nunca ter falado sobre
o assunto, ela citou Colossenses 3.23,24: “Tudo quanto
fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e
não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a
recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estás
servindo.”
“Decidi há muito tempo não buscar glórias para mim”,
disse ela no seu grupo de estudo bíblico semanal. “Tenho
ambição e não creio que isso seja desagradável a Deus.
Mas prometi a ele que jamais tentaria subir prejudicando
outra pessoa. Quando percebi o que a minha chefe estava
fazendo, disse a Deus que faria o trabalho da melhor
maneira possível e deixaria que o reconhecimento viesse
da parte dele.”
Dois anos mais tarde o diretor disse aquela senhora:
“Não sei muita coisa sobre religião, mas uma coisa eu
sei: se existe alguém no mundo que seja realmente crente,
esse alguém é a senhora”.
Isto é liderança — a verdadeira liderança, que surge
quando alguém quer ver o trabalho realizado, sem se
importar com quem vai receber os créditos.

Reconhecimento: Uma Rua de Mão-Dupla


O líder competente, tendo ele próprio senso de
satisfação e auto-estima, faz questão de prestar
reconhecimento àqueles que o ajudam. Eles não tomam
para si a glória que pertence a outros.
Quando recebem o justo reconhecimento por suas
realizações, tem sempre o cuidado de esclarecer: “Eu não
teria podido fazer isso sem a ajuda de...” E o fazem com
sinceridade.
O verdadeiro líder se considera parte de uma equipe.
Não procura recompensa para o seu ego, mas, se a
recompensa vem, tem prazer em dividir a honra com os
outros.
Um pouco de honra é bom. O verdadeiro líder não se
esconde da aprovação e do reconhecimento. Ele não usa de
falsa modéstia dizendo: “Quem, eu? Não, eu não fiz nada
de especial”. Esse tipo de palavra vem, geralmente, de
gente que finge humildade. Suspeito que o que querem é
mais elogios por suas realizações e reconhecimento do seu
valor pessoal.
Certo líder disse muito sabiamente: “Quando faço um
bom trabalho, sei o que fiz. É claro que gosto que
reconheçam e me digam que apreciaram. Mas se faço bem
feito, é porque é meu trabalho. Estou comprometido com
ele, comigo mesmo e com Deus.”
Não importa que tipo de liderança você exerça — seja
diante de uma congregação em culto, na sua família,
supervisionando uma seção de vendas, ou aplicando a lei
— como crentes é a Cristo que estamos servindo. Jesus
disse que não receberemos glória de Deus se buscarmos a
dos homens; se só trabalharmos com esse objetivo, e não
por motivos justos. É a aprovação de Deus que nos
interessa.
E o que acontece quando os outros não vêem o que
você faz? E, se vêem, não valorizam? Você continua
fazendo? Jesus poderia responder afirmativamente. Mas a
maioria de nós não poderia, porque os elogios dos outros
representam muito para nós.

O Líder Seguro
Quando um líder crente assume uma posição
importante, implicitamente promete fazer o melhor para a
sua igreja ou sua empresa.
Se chegou àquele cargo de destaque é porque alguém
ou alguma comissão considerou-o capaz para tal.
Assumindo o cargo está automaticamente se
comprometendo a lutar por obter os resultados desejados,
em atendimento as expectativas. Outra maneira de se dizer
isso é como o fez Paulo: “O que se requer dos despenseiros
é que cada um deles seja encontrado fiel”. (1 Co 4.2).
O verdadeiro líder tem, também, auto-confiança e
força interior para saber o que é e o que pode fazer. Não
teme perder sua posição. Nem é tolo de deixar que pessoas
sem escrúpulos assumam a direção. Tampouco, se
preocupa que alguém lhes tome o lugar.
Aprenderam a seguir a exortação de Paulo:
“Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo,
porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas
petições, pela oração e pela súplica, com ações de
graça. E a paz do Deus, que excede todo o
entendimento, guardará os vossos corações e as
vossas mentes em Cristo Jesus”. (Fp 4.6,7).

Numa determinada empresa, o subgerente não tinha


sossego. Ficava de orelha em pé cada vez que o gerente
chamava alguém ao seu escritório e a pessoa demorava
um pouco lá dentro. Em menos de uma hora após a
conversa, lá estava ele na mesa da pessoa, fazendo
perguntas sutis, mas todos sabiam que o que ele temia era
que o gerente tivesse prometido a outro algo que pudesse
abalar sua posição de subgerente.
Essa é outra qualidade relacionada com o ego que é
típico do verdadeiro líder: ele tem bastante confiança em si
e no seu relacionamento com Jesus Cristo para não precisar
entrar em competição com os outros.
É possível uma pessoa não ser competitiva e, no
entanto, ser bem-sucedida? Sim! Uma das melhores
ilustrações que tenho para isso é o que ocorreu com os
gêmeos, Steve e Phil Mahare. Eles estavam competindo
numa das gigantescas provas de corrida de esqui com
zigue-zague, masculina, durante as olimpíadas de inverno
em 1984, em Saravejo. Embora sendo irmãos,
naturalmente tinham que competir um com o outro a vida
inteira. Nas finais da Olimpíada, Phil esquiou antes do
irmão, e tirou o primeiro lugar. Quando chagou a vez de
Steve, Phil ligou o “walkie-talkie” e contou ao irmão as
dificuldades que teria de enfrentar na descida,
principalmente num trecho muito escorregadio. Ele não
falou como um competidor que queria manter seu primeiro
lugar, mas como um homem que queria ver seu irmão fazer
o melhor. Steve chegou em segundo lugar, e os gêmeos
ficaram lado a lado no pódio para receber as medalhas de
ouro e de prata.
Quando os repórteres perguntaram a Phil como ele se
sentia com aquela vitória, ele disse mais ou menos assim:
“Vim aqui para fazer o melhor que posso. Participo desse
esporte porque gosto”.
Essa atitude caracteriza o verdadeiro líder. Ele
conquista sua posição de liderança, mas não tem medo de
que outros alcancem mais sucesso que ele.
PRINCÍPIO 11

O LÍDER QUE TEM SEGURANÇA EM JESUS CRISTO, NÃO TEM


NADA A PROTEGER.

CAPÍTULO 12 - IRA

Um muçu1mano, que tinha ouvido vários crentes


falarem de sua fé, fez-lhes, certa vez, uma pergunta
extremamente desafiante: “Por que é que, quando eu grito
com os meus filhos, vocês dizem que estou com raiva? Se
um crente faz o mesmo, vocês dizem que é uma indignação
justa. Qual a diferença”?
Tenho ouvido a mesma pergunta feita com relação ao
comportamento de Jesus no templo quando ele expulsou os
cambistas e vendilhões.
Geralmente dizemos que ele se indignou justamente,
não que estava irado. Qual é a diferença?
Para encontrarmos a resposta, e vermos o papel que a
ira representa na vida de um líder, precisamos examinar o
incidente no templo. O evangelho de João conta a história
no capítulo 2.13-22. Apesar de João não ter dado nome ao
sentimento de Jesus, o Senhor estava realmente irado — e
demonstrou isso.

Tumulto no Templo
Jesus fez quatro coisas no templo naquele dia: fez um
chicote de cordas, enxotou os animais, derramou no chão o
dinheiro dos cambistas e virou as mesas. Em nenhuma
outra passagem do seu ministério o encontramos tão irado.
Se quisermos saber por que Jesus agiu daquela
maneira, precisamos entender como começaram e como
estavam se processando aquelas vendas e trocas no
templo. Começou com o fato de que a Páscoa era a maior
de todas as festas judaicas; e a Lei estabelecia que todo
judeu que vivesse num raio de trinta quilômetros de
Jerusalém tinha de estar presente a essa ordenação. Na
ocasião em que Jesus nasceu, os judeus já tinham se
espalhado pelo mundo todo, mas voltavam à sua terra de
origem para passar a Páscoa. Estudiosos calculam que pelo
menos dois milhões de pessoas se reuniam em Jerusalém
para o evento.
A Lei determinava que todo homem acima de
dezenove anos pagasse uma taxa, de modo que os
sacerdotes pudessem continuar fazendo sacrifícios no
templo. Eles pagavam a taxa ou com a moeda da Galiléia,
os siclos, ou com “os siclos do santuário”, porque todas as
outras moedas eram impuras para o cerimonial. O dinheiro
de outros paises, apesar de aceito para negócios em toda
Jerusalém, não podia ser usado para o culto a Deus. E já
que os peregrinos traziam suas moedas de todas as partes
do mundo, os cambistas se sentavam nos pátios do templo
para fazerem as trocas.
Se tivessem agido com honestidade em seus negócios,
esses cambistas estariam prestando um grande serviço ao
povo. Mas eles cobravam preços exorbitantes para trocar
as moedas; há uma estimativa de estudiosos do assunto
que calcula o montante do negócio em 200 mil dólares por
ano.
Os vendedores de animais também tinham suas lojas
no templo. A Lei só permitia que fossem sacrificados
animais e pássaros perfeitos, de modo que, quando os
inspetores examinavam os animais que os fiéis tinham
trazido, naturalmente declaravam que eles eram doentes
ou defeituosos. Isso forçava as pessoas a comprarem
outros animais por preços exorbitantes.
Essas duas trapaças já seriam por si condenáveis por
padrões mundanos. Mas perpetrá-las em nome da religião,
e com o consentimento óbvio dos líderes religiosos, tornava
as coisas mais repugnantes ainda.
Jesus ficou irado com o que estava acontecendo no
templo. Os mercadores tinham profanado a casa de Deus.
Estavam ganhando dinheiro às custas de muita gente que
mal tinha com que pagar.
Então, enxotou-os. Por que? Para mostrar-lhes que o
templo era uma casa de oração. Em Marcos 11.17 está
escrito: “A minha casa será chamada casa de oração, para
todas as nações”. Parece que as compras e vendas se
realizavam livremente no Pátio dos Gentios — O único lugar
onde os não-judeus podiam entrar. Se os gentios,
procurando a Deus, quisessem orar e meditar, não
encontrariam lugar. O local estava em permanente
confusão de bois, ovelhas, pombas e negociantes.
É bem possível também que Jesus quisesse mostrar
que sacrifícios de animais não estavam mais agradando a
Deus. Podemos perceber como Deus encarava os sacrifícios
em passagens como Isaias 1.11,13:
“Estou farto do holocausto de carneiros, e da gordura
de animais cevados, e não me agrado do sangue de
novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes... Não
continueis a trazer ofertas vãs”.

Outras passagens do Antigo Testamento, incluindo


Jeremias 7.22, Oséias 5.6 e Salmo 51.16, dizem mais ou
menos a mesma coisa.
Jesus mostrou estar irado naquele dia. Chamem a sua
ira de ira santa, se quiserem, mas não de indignação
apenas.

Outras Referências à Ira


Há um outro incidente na vida de Jesus que demonstra
bem que ele se irava. Um homem queria que Jesus o
curasse no sábado. Os líderes judeus ficaram de olho,
porque, se ele efetuasse a cura, estaria “trabalhando” — e
eles poderiam acusar Jesus de estar desrespeitando a Lei.
Marcos 3.5 declara:
“Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a
dureza de seus corações, disse ao homem: Estende a
tua mão!”

Apesar da oposição, ele curou o homem.


Em nenhum desses incidentes, Deus parecia estar
contrariado com as ações do seu Filho. Em lugar nenhum
da Bíblia, alias, Deus condenou alguém por estar irado. Ele
pode nos condenar pelas ações que cometemos quando
estamos sob o domínio da ira, isto sim. Se a nossa ira
produzir prejuízo ou crueldade, é claro que estaremos
pecando. Mas a capacidade de se sentir irado é uma
característica do próprio Deus.
Muitas vezes no Antigo Testamento, a ira de Deus é
citada:
Deuteronômio 1.37; 4.21; 9.8; 20; 1 Reis 8.46; Salmo
2.12; 79.5; 85.5; Isaias 12.1. Paulo dissociou a ira do
pecado em Efésios 4.26:
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a
vossa ira.”

Em lugar algum a Bíblia diz que não devemos ficar


irados. Paulo exorta aqueles que foram eleitos presbíteros
que não deviam ser “prontos em irar-se”. Acho que isso
quer dizer que não devemos ser pessoas facilmente
irritáveis, enfezadas. É normal que os crentes, inclusive os
líderes, fiquem zangados. Como disse muito bem um amigo
meu: “Só há dois tipos de pessoa que não ficam zangados:
os que já morreram fisicamente e os que estão mortos
emocionalmente”. Mas o seguidor de Jesus tem que ter o
tipo certo de ira.

A Ira Saudável
A ira saudável — contra a injustiça, os atos perversos e
o mal — é aceitável em situações adequadas. Aqui vão
alguns exemplos:
- Em 1981 foi criada nos Estados Unidos uma
organização chamada MADD (Mães contra motoristas
bêbados), porque uma mãe, Candy Lightner, perdeu uma
filha adolescente quando um motorista bêbado atropelou-a
e matou-a. A senhora Lightner partilhou sua revolta com
outros pais que haviam perdido filhos e filhas nas mesmas
circunstâncias. Em pouco tempo a campanha ganhou
dimensão nacional.
- Revolta contra o abuso praticado contra crianças
trouxe o assunto à baila, engajando muitas pessoas que,
antes, nunca tinham dado atenção a ele. Agora, estão
sendo feitos esforços muito maiores para coibir e fazer
cessar esses abusos, e no intuito de prestar
aconselhamento e orientação a pessoas que sofreram esse
trauma quando crianças.
- Mulheres revoltadas e humilhadas tem feito saber ao
mundo que o estupro é um ato de violência, não de paixão,
e que não foram elas que provocaram os homens, levando-
os a atacá-las. Uma nova determinação de varrer esses
atos de violência do seio da sociedade está se espalhando
rapidamente.
- Revolta contra o abuso de drogas está levantando
pessoas para lutar contra o tráfico e para ajudar os viciados
a se livrarem do vicio. O problema está longe de ter sido
resolvido, mas tem havido algum progresso.

Muitas das reformas postas em prática através dos


tempos tem sido feitas por causa de pessoas corajosas que
ficaram iradas — iradas o suficiente para tomar medidas
corretivas. Vejamos a ira candente de dois campeões
antiescravagistas — Harriet Beecher Stowe, escrevendo seu
livro A Cabana do Pai Tomás, deste lado do Atlântico, e
William Wilberforce fazendo os mais inflamados discursos
do outro lado. Como disse João Wesley: “Dêem-me cem
homens que não tenham temor de nada, a não ser de
Deus, e que não odeiem nada a não ser o pecado, e que
não conheçam mais nada a não ser Jesus Cristo, e este
crucificado, e eu abalarei o mundo.”

A Ira Doentia
A maioria de nós não é tão nobre assim em seus
momentos de ira, zanga e revolta. Nosso
descontentamento se mostra de maneiras bem
desagradáveis e antipáticas, e a nossa “indignação” não é
exatamente o que se pode chamar de justa. Ficamos irados
quando:
- Sentimo-nos frustrados. Isso começa na infância,
quando ainda somos bem pequenos e fazemos “cenas” e
temos acessos de raiva. Mas isso não pára quando
crescemos.
- Ficamos ansiosos, ao percebermos ameaças contra
nós, nossas propriedades ou contra as pessoas que
amamos.
- Não gostamos de ser como somos, ou sentimos que
falhamos. Muitas vezes a ira fica bem guardada dentro de
nós e se transforma em depressão.
- Somos (ou pensamos que somos) tratados
injustamente, quando acontecem coisas que não
consideramos “certas”, justas.
Quase todos nós não estamos satisfeitos com a
maneira de lidarmos com a raiva ou revolta que sentimos.
Algumas pessoas são mais “esquentadas” do que outras,
prontas para começar uma batalha à simples menção de
uma palavra desagradável ou por causa de alguma atitude
ou ato menos generoso ou gentil. Outros me fazem lembrar
folhas secas se queimando; o fogo fica alastrando por baixo
até que um incidente faz com que as chamas cresçam até
ficar fora de controle.
Independentemente do tipo de pessoa que somos,
precisamos aprender a lidar com nossa ira, para o nosso
próprio bem e para o bem de nossos liderados. Claro que os
líderes não são as únicas pessoas sujeitas à ira, mas o
papel que desempenhamos nos expõe a situações por
demais desgastantes — fazendo com que as “radiações”
afetem outros, quando não conseguimos nos conter e
“explodimos”.

Lidando com a Ira


O primeiro passo para se lidar com a ira é assumir
responsabilidade por nossas reações. Isto pode parecer um
ponto sem importância, mas conheço muita gente que
admite não ser capaz de controlar seu gênio — e então
passa a dar todo tipo de desculpa para justificar-se:
- Sou esquentado mesmo; isso quer dizer que sou
genioso.
- Sou italiano (ou espanhol, ou nordestino, etc.), e todo
mundo sabe que tenho sangue quente.
- Minha família é toda enfezada.
- Gosto que os outros saibam o que estou pensando;
tenho que falar as coisas direitinho como são, mesmo que
alguém se sinta ofendido ou ferido com isso.

O segundo passo para se controlar a raiva é entender


o que ela faz conosco. Ocorrem no nosso organismo
modificações fisiológicas, porque nosso corpo se prepara
para a luta. A adrenalina é liberada nos nossos sistemas, a
pressão sangüínea se eleva, o coração bate mais forte. O
sangue, inclusive, coagula mais rápido se nos ferirmos
enquanto estamos irados. Nossas pupilas se dilatam, os
músculos ficam tensos, e o aparelho digestivo sofre
espasmos a ponto de sentirmos dores abdominais.
Em resumo, a ira nos mobiliza para a ação. Mas como
as causas da nossa zanga raramente requerem o emprego
dos punhos, muito da nossa tensão fica retida dentro de
nós — muitas vezes causam-nos problemas de saúde que
só vem a se manifestar tempos depois. De modo que,
geralmente, não nos prestamos nenhum favor quando
“perdemos as estribeiras” ou ficamos “uma fera”. Quem
sabe se, conscientes disso, não possamos moderar nossas
reações, evitando os extremos.

O terceiro passo para se ter uma ira saudável é


lembrarmos novamente a história de Jesus purificando o
templo. Ele estava irado e agiu. Mas controlou-se e
direcionou toda a sua ira para um fim especifico: livrar o
local das coisas que profanavam o templo.
Essa é uma característica da ira saudável: ela tem um
objetivo cuidadosamente escolhido. Raiva incontrolável,
que avança sobre toda e qualquer coisa, não tem lugar no
estilo de liderança de Jesus.
A ira saudável também não vem carregada de injustiça
e ódio.
Quando Jesus limpou o templo, teve uma atitude
drástica, mas não encontramos nada naquele relato
indicando que ele sentiu ódio das pessoas envolvidas.

Finalmente, a ira saudável se apresenta como uma


medida corretiva. Ela visa os problemas, não as pessoas.
Quase todo mundo já ouviu o velho ditado: “Ame o
pecador, odeie o pecado”. E é assim que essa raiva age.
Ela não ataca as pessoas: ataca suas atitudes e ações
erradas.
Isso não quer dizer, porém, que devemos negar a raiva
que sentimos.
Muitos líderes, principalmente os crentes, tentam
reprimir a ira. Ou dizem apenas: “Eu estava aborrecido”, ou
“aquele caso me amolou”. Mas, represar muita raiva dentro
de nós pode fazê-la explodir, geralmente nas ocasiões mais
inoportunas.
Com a ajuda de Deus, tendo em mente o exemplo de
Jesus, podemos controlar a “temperatura” das nossas
reações e direcionar nossa ira para canais saudáveis.
Quando fazemos isso, ela pode nos tornar pessoas
melhores e líderes mais eficientes.

PRINCÍPIO 12

DA MESMA MANEIRA QUE JESUS, O VERDADEIRO LÍDER


EXPRESSA SUA IRA DE MANEIRA SAUDÁVEL.

Parte 4: Problemas da Liderança

CAPÍTULO 13 - BUSCA DE APOIO

Quando alguém esta pensando seriamente em entrar


para a política, procura saber quanto de respaldo sua
candidatura vai ter.
Quando alguém inicia um negócio, é bom perguntar
logo: “Será que o produto vai vender bem? Quais as
perspectivas de mercado para este empreendimento?”
Quando decidi escrever este livro, tive que responder a
duas perguntas, porque sabia que, de qualquer maneira, o
editor iria fazê-las:
1) Quem vai ler esse livro?
2) Vamos ter um número significativo de pessoas para
comprá-lo, que compense os esforços e as despesas que o
editor vai ter com ele?
A pesquisa é atualmente um pré-requisito para se
começar qualquer coisa nos negócios ou na política. Isso se
aplica às igrejas também. Quando uma denominação
decide construir uma igreja em determinado lugar, faz uma
pesquisa para determinar se existe lá um número de
membros que justifique a iniciativa.
Mas parece que, quando Deus enviou Jesus Cristo para
estar entre nós, não precisou consultar estatística. Nem
tampouco mandou doze especialistas em “marketing” ficar
numa esquina perguntando a quem passasse:
“Se Deus mandar o Messias, você o apoiaria, o seguiria
e se comprometeria com ele incondicionalmente”?

Jesus Como Relações Públicas


De certo modo, Jesus tornou as coisas difíceis para ele
próprio. Os especialistas em relações públicas poderiam
apontar facilmente cinco erros básicos que ele cometeu:
Primeiro, não foi procurar os membros da alta
sociedade judaica. Esse teria sido o lugar óbvio por onde
começar, já que tinham influência, poder e recursos.
Segundo, perdeu tempo procurando exatamente o
outro extremo, visitando os pobres, os doentes, os
coletores de impostos, os pastores e as pessoas de vida
não muito recomendável.
Terceiro, não tentou convencer o pessoal a sustentar
que ele era o Messias. Ele não fez campanha de venda,
nem promessas tentadoras.
Quarto, alienou as lideranças. Já foi um bocado
estranho ele não ter começado com o primeiro escalão, e
às vezes parecia que ele se desviava do seu caminho
justamente para se confrontar com o pessoal mais graúdo.
Quinto, recusou-se a transigir.
Todos os líderes sabem que, por mais elevados que
sejam seus ideais, nenhum chega a conseguir tudo que
quer. Eles desistem de algumas das coisas que não são
essenciais e, em troca, conseguem uma porção de
benefícios colaterais, apoio político, favores e facilidades.
Se tivesse havido uma eleição no primeiro século, com
o pessoal de Jerusalém e dos arredores, para escolher um
Salvador, não haveria muita gente que votasse em Jesus.
Afinal, ele não tinha um apelo popular dos mais fortes.
Mas para Jesus, outras coisas tinham muito mais
importância do que apelo popular.
Nós nos preocupamos demais com a nossa reputação,
em sermos devidamente apreciados, em acumular prêmios,
insígnias e todas as condecorações que pudermos
conseguir.
Mas Jesus estava sozinho. Jesus fez o que tinha de
fazer, quer fosse apoiado, quer não. Num incidente
registrado no final de João 6, o Senhor tinha falado
severamente com possíveis seguidores e mostrado a eles
as implicações que acarretaria o fato de o seguirem. Com
exceção de um pequeno grupo de gente firme, o resto todo
debandou.
E, depois que os outros se foram, Jesus perguntou aos
doze restantes:
“Porventura quereis também vós outros retirar-vos”?
(6.67.)

Pedro respondeu imediatamente:


“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da
vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és
o Santo de Deus”. (6.68,69).

Os discípulos ficaram. Mas o que teria acontecido se


eles também tivessem ido embora? O que Jesus teria feito?
Minha opinião é que, embora isso entristecesse Jesus, ele,
assim mesmo, teria prosseguido no seu ministério. Ele
tinha vindo para salvar a humanidade, com o apoio dos
homens ou sem ele.

Líderes sem Seguidores


Às vezes, líderes e visionários acabam sozinhos, sem
apoio, devido a seus próprios problemas e erros. Eles
próprios afastam as pessoas em conseqüência de suas
atitudes ou comportamento e, aí, se ressentem do que está
lhes acontecendo, alegando que estão “sofrendo pelo
Senhor”.
Certo crente teve a idéia de ajudar as pessoas a
ganhar dinheiro ao mesmo tempo que divulgavam o
Evangelho. Começou a fazer produtos com versículos da
Bíblia e pensamentos inspirados. Quando procurou amigos
e conhecidos para propor-lhes negócio, conseguiu que mais
de cinqüenta pessoas investissem na sua organização com
um mínimo de 1.000 dólares cada uma. Segundo suas
folhas de planejamento, gráficos e tabelas, os investidores
receberiam pelo menos 18% de juros, depois dos dois
primeiros anos de aplicação. Planejou vender mais ações e,
com o tempo, distribuir seus produtos em todos os Estados
Unidos e Canadá, e depois em outros paises.
Mas a Comissão de Valores Mobiliários, uma agência
federal que regulamenta esses empreendimentos,
notificou-o de que havia violado a lei pela maneira com que
havia lançado e vendido às ações. Em vez de tratar de
legalizar a situação, continuou agindo da mesma maneira.
“É interferência do governo, só isso”, dizia. Finalmente o
governo impediu-o de vender mais ações e multou-o por
uma série de irregularidades e violações.
Terminou com o prejuízo de todos os investidores, que
acabaram perdendo até os últimos centavos do que lhe
haviam emprestado. E ai, passou a queixar-se: “O governo
é contra qualquer um que queira fazer o trabalho de Deus!”
Ou então: “Assim que se começa fazer alguma coisa grande
para Deus, o diabo arma logo uma guerra”. Mas havia sido
ele quem tinha criado os próprios problemas.
Há ocasiões, porém, em que a falta de apoio ao líder
não é culpa sua. A visão de Jesus veio de Deus, ele sabia o
que estava fazendo. Ele compreendeu a sua missão e
estava determinado a executá-la. Se tivesse dado ouvidos
às pessoas à sua volta, não teria realizado coisa alguma.
“Espera ai”, dirá você”. “Podemos observar o estilo de
liderança de Jesus, entender seus princípios e seguir seu
exemplo, mas só até certo ponto. Porque há uma enorme
diferença entre nós e ele. Ele não tem pecado. Sempre
soube o que tinha a fazer, de maneira que não precisava
conseguir apoio dos outros”.
Tem razão. Temos ainda imperfeições, não importa o
quanto já tenhamos caminhado na nossa vida cristã. Ainda
lutamos com problemas como orgulho, auto-estima,
rejeição, defensividade e insegurança.
Quando temos alguma divergência com os outros,
nunca podemos ter certeza absoluta de termos sido
totalmente honestos e fiéis para com Deus — e de que os
outros estão se opondo a Deus quando se opõem a nós.
Como disse um amigo meu: “Nossos motivos, na
melhor das hipóteses, são misturados.” Ele salienta o fato
de que o pecado cega, esconde e engana: “Como é que vou
saber realmente o que está dentro do meu coração?
Mesmo quando Deus fala, minha natureza pecadora
interfere no meu ouvir”.

Líderes Solitários
Então, que pode você fazer para esclarecer e separar
seus motivos quando sua liderança toma novo rumo e
enfrenta oposição?
- Busque a direção de Deus. Peça-lhe que mostre se
sua liderança está certa ou errada. Confronte seus planos
com a Sua Palavra.
- Fale com alguns amigos crentes de sua confiança
sobre a sua preocupação ou dúvida. Peça que orem com
você e por você.
- Sonde o seu coração. Você está em paz em relação a
seus planos? Sente que está agradando a Deus? Sente-se
irado ou enraivecido contra aqueles que se opõem a seus
planos? Se Deus quer que você se engaje num novo
negócio ou atividade, ele fará você se sentir em paz,
apesar da oposição dos outros.
Conheço um casal que seguiu esses três passos. Eles
acreditavam que era a vontade de Deus que fossem como
missionários para a África, apesar da violência dos
movimentos políticos que estavam acontecendo lá. Suas
famílias tentaram dissuadi-los, principalmente porque o
casal tinha três filhos em idade pré-escolar. Uma junta
missionária acabou por aceitá-los — mas com muita
relutância, e somente depois de terem enfrentado forte
oposição a cada passo.
O marido disse a um grupo de oração de apoio:
“Tamanha era a certeza intima de que aquilo vinha de
Deus, que não faria mal se ninguém nos apoiasse.
Sabíamos que Deus estava conosco e estávamos
determinados a prosseguir”.
E foram mesmo. Passaram vários anos num ministério
relevante na África. Se tivessem dado ouvido as vozes que
se levantaram contra seus planos, não teriam ido nunca. A
paz de Deus é que estabeleceu a diferença.

Não Estar Sozinho lá em Cima


Depois que o apóstolo Paulo viajou muito pelo mundo
judeu daquela época, foi da vontade de Deus que ele fosse
para Roma. Mas cada vez que Paulo falava disso aos
cristãos, eles se opunham àquela viagem.
O profeta Ágabo advertindo-o contra os perigos que
iria encontrar, dizendo que seria preso. Os irmãos pediram
a Paulo que não fosse, tentando dissuadi-lo.
Mas a resposta de Paulo foi:
“Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração?
Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para
morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus”
(At 21.13).

O versículo seguinte diz:


“Como, porém, não o persuadimos, conformados,
dissemos: Faça-se a vontade do Senhor” (V.14).

Às vezes um líder tem que ficar sozinho,


humanamente falando. Quando sente a mão de Deus
levando-o em uma direção, toma todas as precauções para
verificar se aquilo é a vontade de Deus e persiste em dizer:
“Essa é a coisa certa que tenho de fazer, então,
precisa ser feita”.
Às vezes essa reso1ução implica em agir sozinho, sem
auxílio de mais ninguém, a não ser de Deus, é claro.
Depois que entregamos nossa vida a Jesus, nunca mais
estamos sozinhos. O salmista escreveu:
“Porque se meu pai e minha mãe me desampararem,
O Senhor me acolhera”. (Sl 27.10).

Essas palavras provavelmente abrangem muito mais


do que os pais carnais. O mais provável é que signifiquem:
“Mesmo que todos me desamparem, até mesmo meus
pais...”
Se se fizer uma avaliação a fundo, Jesus estava
sozinho. Seus discípulos queriam que ele declarasse seu
poder, que derrubasse os romanos, que destruísse os
perversos. Eles não entendiam nem a missão nem os
métodos de Jesus. E quando foi preso, fugiram com medo
ou, então, o negaram. Mesmo assim ele ficou firme, ao lado
do Pai.
Um Desafio Diferente
A liderança cristã, da mesma forma que o discipulado,
não dá nenhuma garantia de que as pessoas vão nos
entender. Nossa entrega e nosso compromisso com Deus
não nos prometem incentivo humano nenhum.
Quanto mais ampla a nossa visão, tanto maiores as
probabilidades de ficarmos sem apoio dos homens.
Muitos são os que já passaram por isso. Homens e
mulheres tem tido grandes sonhos, e os tem visto
realizados, a despeito de todos os obstáculos e oposições.
Um dos homens que se apegou ao seu sonho foi S.
Truett Cathy. Em 1966, ele abriu uma lanchonete em
Haperville, na zona sul de Atlanta, especializada em
hamburgers, que, depois, passou a ser conhecido como
“fast-food” (refeições rápidas). Poucos anos mais tarde
abriu outra lanchonete num local próximo, Forest Park,
Geórgia.
Tudo ia correndo muito bem e os lucros estavam
entrando, quando a lanchonete de Forest Park se incendiou.
O seguro cobriu apenas parte do prejuízo, mas Truett
reconstruiu o estabelecimento. Dessa vez, consciente da
nova demanda por “fast-food”, refez o lugar para atender
ao novo tipo de mercado. O único problema era que Truett
era muito avançado para o seu tempo; e dentro de três
meses ele estava quase a pique de fechar o restaurante.
Ele desistiu? Não — porque ele tinha a visão do que
poderia fazer.
Ele vinha fazendo experiências com carne de frango, e
acreditava ter conseguido o sanduíche de frango mais
gostoso do mundo. Apesar das opiniões pessimistas, ele
persistiu. Hoje é o presidente do “Chickfil-A”, com muito
mais de 300 lanchonetes em mais de 30 estados
americanos.
Também posso contar o caso de outro homem. Ele era
tímido, tinha receio das pessoas e se atrapalhava um
bocado com as palavras quando tinha que dizer qualquer
coisa. Mas ele era dedicado ao Senhor e trabalhava com
disposição, qualquer que fosse o serviço que o pastor ou a
diretoria lhe desse para fazer.
Um dia esse homem sentiu que Deus o chamava para
o ministério. Seu pastor e a junta, que o amavam e
apreciavam sua boa vontade em prestar todo e qualquer
serviço solicitado, deram-lhe uma aprovação meio
relutante, cheia de reservas, quando ele saiu para fazer o
treinamento ministerial. No dia em que o rapaz foi embora,
eu estava ao lado do tesoureiro da igreja, que me disse: “É
uma pena ver esse rapaz perder três anos de treinamento
pastoral, porque nunca vai conseguir ser pastor”. Concordei
com ele.
Três anos depois o rapaz voltou e pregou naquela
igreja. Nenhum de nós podia acreditar que era a mesma
pessoa. Ele havia aprendido a se apresentar muito bem,
sua mensagem fluía facilmente — e ele se tornara um
pastor de primeira classe. Perguntei-lhe o que havia
acontecido naqueles três anos. Respondeu que havia orado
o tempo todo, dizendo a Deus: “Creio que é da tua vontade
que eu faça isso. Estou pondo todo meu empenho em ser
teu servo. Faz comigo tudo que seja necessário para que eu
me torne um bom servo.
Um homem sozinho com Deus tornou-se um magnífico
pregador. Só aqueles que o tinham conhecido nos primeiros
tempos de sua juventude podiam apreciar o grande
trabalho que Deus havia realizado em sua vida.
Esse princípio pode funcionar na vida de todos nós.
Aqui está uma das maneiras de se expressá-lo:

PRINCÍPIO 13
UM VERDADEIRO LÍDER, COM A AJUDA DE DEUS, EQUIVALE A
UMA GRANDE MAIORIA.

CAPÍTULO 14 - OS DESCRENTES

O estilo de liderança de Jesus se destacou pela


capacidade de lidar com uma variedade enorme de
temperamentos, condições e níveis de maturidade
espiritual Depois da ressurreição, por exemplo, ele
demonstrou essa qualidade de maneira brilhante.
Foi nas ocasiões em que teve de lidar com Maria, a
que chorou desconsolada no túmulo do Senhor, com Pedro,
arrependido, com os dois discípulos desesperançados, do
caminho de Emaús, e com Tomé, o descrente. A liderança
de Jesus se mostrou eficiente em todas essas situações,
curando, reconciliando, dando segurança e esperança.
Entre todos os que estiveram na presença de Jesus
depois da ressurreição, talvez tenha sido Tomé o que
representou o maior desafio. Ele não estava presente
quando Jesus apareceu aos seus discípulos, e assim ele
perdeu a oportunidade de ver o Senhor ressuscitado. Tomé,
o descrente, chamou os discípulos de mentirosos, porque
não acreditou na palavra deles. Ele, numa atitude
arrogante, achou-se no direito de ditar condições para
acreditar no que os outros diziam.
Podemos ver em Tomé, não apenas um descrente
cheio de dúvidas, mas também um pessimista por
natureza. Quando Jesus, bem antes disso, falou em ir a
Betânia, depois da morte de Lázaro, a reação de Tomé foi:
“Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11.16).
Ele via somente o lado sombrio das coisas.
Muitas vezes os líderes tem que lidar com pessoas
desse tipo — executivos, membros de igrejas ou membros
da família que não conseguem ver nada de bom em si
mesmos, nas situações ou nos planos do líder. Essas
pessoas geralmente são tristes e descrentes. Não
conseguem acreditar em ninguém e em nada.
Do mesmo modo que Tomé, são elas cheias de idéias
pré-concebidas que não desejam modificar. Exigem
evidências difíceis ou impossíveis de obterem. A palavra do
líder geralmente não é o bastante para essas pessoas; elas
têm que ver para crer.
Martinho Lutero disse: “A arte de duvidar é fácil”.
Talvez seja porque nascemos com essa tendência. Alguns
de nós lutam contra esse aspecto da natureza; outros
alimentam-na — e ela se desenvolve. E à medida que vai
crescendo, um outro lado da nossa natureza — a confiança
— vai murchando.
Por outro lado, se alimentamos bem a confiança, a
dúvida vai desaparecendo. Quando a confiança está
presente, a dúvida desaparece; quando a confiança se vai,
a dúvida reaparece.
Quando a dúvida surge entre empregados e patrões,
tudo se torna suspeito. Todo atraso é registrado, todo
pedido de licença é visto com desconfiança, toda idéia
proposta é logo recusada sem a menor ava1iação. Quando
a dúvida se estabelece entre marido e mulher, toda
conversa parece se transformar em discussão. As palavras
não são entendidas ou são deturpadas. E os resultados são
desastrosos.
Os árabes tem um ditado: “Seu amado engole um
cascalho por você, mas seu inimigo conta todos os seus
erros”. O mesmo faz aquele que dúvida de nós.
A desconfiança é a raiz de muitas brigas nas igrejas,
nos negócios, em casa e nos governos. É a raiz da
descrença. Dúvidas sobre Deus tornam as pessoas
relutantes em se submeterem à sua autoridade.
Como o Líder se Comporta em Re1ação à
Dúvida
Como foi que Jesus se comportou com Tomé, seu
discípulo descrente?
Precisamos examinar não apenas a psicologia da
resposta de Jesus, mas também sua liderança espiritual.
Foi uma longa semana aquela entre a ressurreição e o
domingo seguinte. À primeira vista, parece que teria sido
muito melhor se Jesus não tivesse deixado seus discípulos
sozinhos durante uma semana, entregues à sua nova
convicção, tão instável ainda, tão incipiente.
Mas, num exame mais profundo, verificamos que,
deixando-os com uma semana inteira para refletir, Jesus
deu-lhes oportunidade para que elaborassem seu
crescimento espiritual. Novos pensamentos e uma nova
visão das coisas precisavam de tempo para tomar corpo e
se arraigar na vida dos discípulos.
Por isso ficaram entregues a si mesmos, para refletir
com calma, para meditar, ajustar seus pensamentos à nova
realidade, começar a entender. Assim como a mãe fica
perto do filhinho para encorajá-lo a dar os primeiros passos,
assim fez Jesus, deixando-os dar, sozinhos, os primeiros
passos na confiança em si mesmos e em Deus, que seria
dali por diante a sua caminhada, a sua condição
permanente.
E, então, voltou. Dessa vez, não se ocupou tanto do
grupo, mas deu a maior atenção ao que duvidara — aquele
que tinha imposto condições para crer. Jesus não fez o que
os líderes geralmente fazem nessas circunstâncias: dirigir-
se ao grupo todo, atacando a dúvida e a descrença em
geral, com a esperança de que o descrente capte a
mensagem. Nem se rodear daqueles que concordaram com
ele, deixando de lado quem tem dúvidas, para que sinta
sua desaprovação e se retire.
Esse quadro não refletiria o estilo de liderança de
Jesus. A so1ução que adotou foi concentrar-se no descrente
e, repetindo a exigência que havia imposto, satisfazê-la
inteiramente.
Será que podemos imaginar a vergonha, o
constrangimento e a tristeza que Tomé deve ter sentido
quando Jesus repetiu as condições que ele havia imposto
para crer na sua volta? Como elas devem ter soado
diferente, saindo dos lábios de Jesus!
Não existe maneira mais segura de fazer uma pessoa
se envergonhar de palavras irrefletidas que tenha dito em
momento de zanga, do que repetí-las quando os ânimos já
esfriaram e a pessoa está calma.
Responder às exigências de Tomé foi, ao mesmo
tempo, uma censura severa e um caminho que Jesus abriu
para a reconciliação e a fé.
Jesus fez também uma admoestação: “Não sejas
incrédulo, mas crente” (Jo 20.27). De certo modo estava
dizendo: “Não é uma questão de evidência, Tomé, é uma
questão de disposição. Sua incredulidade não é por falta de
provas, mas pela sua tendência natural e por suas
atitudes”. Em outras palavras, a luz do sol brilha
intensamente, nossos olhos é que são embaçados. A
dúvida, no fundo, no fundo, é uma questão de oposição e
atitude.

Da Dúvida à Crença
O estilo de liderança de Jesus sempre visou a
restaurar, incentivar e mudar as pessoas de um ponto ou
estágio de suas vidas para outro mais elevado; da dúvida
para a crença, do ceticismo para a entrega e compromisso,
da inimizade para o amor. Em outras palavras, ele ajudava
as pessoas a crescer.
Jesus não lidou com as pessoas para envergonhá-las
ou para se exibir, embora tivesse todo direito de fazê-lo.
Não se postou diante dos incrédulos apenas para lhes
mostrar como estavam errados. Ele queria que as pessoas
ampliassem o potencial que Deus lhes havia dado.
Da mesma maneira que Natanael tinha exclamado:
“Mestre, tu és o Filho de Deus”, quando soube que
Jesus o tinha visto debaixo de figueira, assim, também,
Tomé se esquece de sua incredulidade e fez uma confissão
enlevada: “Senhor meu e Deus meu”! (Jo 20.28).
Quando vemos a mudança de atitude de Tomé
percebemos logo, sem sombra de dúvida, como a
estratégia de Jesus funcionou. O resultado que ele buscava
era o crescimento espiritual dos que duvidavam dele.
E isso é também um traço do estilo de liderança de
Jesus.

PRINCÍPIO 14

O VERDADEIRO LÍDER AJUDA OS INCRÉDULOS A SE TORNAREM


CRENTES.

CAPÍTULO 15 - CRÍTICAS

Entrando certo dia num escritório, vi sobre a mesa do


gerente uma placa com esses dizeres:

PARA NAO SER CRITICADO:


NÃO DIGA NADA. NÃO FAÇA NADA. NÃO SEJA NADA.

Não tenho muita certeza de que até mesmo isso


funcione. Na verdade, não imagino nenhum meio de evitar
criticas, principalmente quando se é um líder.
Quase todos nós lutamos com o problema de como
enfrentar as criticas.
É duro aceitá-las quando são justas. Mas quando são
injustas, ou feitas pelas costas, sem dar oportunidade de
defesa ou explicação, é pior ainda.
Ninguém está imune a críticas. Aqui está um golpe
desferido contra uma figura muito conhecida:
“Ele não é em nada melhor que um assassino.
Traiçoeiro com os amigos, hipócrita na vida pública, um
impostor que abandonou todos os bons princípios, se é que
alguma vez os teve”.
Esse comentário foi feito sobre George Washington.
Mas há também este editorial publicado em um jornal
a respeito de um grande executivo: “O Presidente é um
palhaço de ultima categoria. Um verdadeiro gorila. Quem
anda à procura de macacos não seja tolo a ponto de se dar
ao trabalho de viajar até a África, pois é facílimo encontrar
um deles em Springfield, Illinois”.
Essas críticas se referiam a Abraão Lincoln.
Se gente como Washington e Lincoln foram tão
severamente criticados, não é de espantar que líderes
como nós tenham a sua quota de reclamação.

Críticas Feitas a Jesus


Jesus tampouco escapou dos seus detratores. Os que o
criticaram foram levados a isso por inúmeras razões, entre
elas ciúmes, ódio e medo. Quando, por exemplo, ele
discutiu com alguns líderes judeus, eles disseram: “Tens
demônio” (Jo 7.20). Os críticos seculares de hoje
provavelmente diriam assim: “Você é um paranóico
esquizofrênico, que deve mesmo é ser internado”.
Uma passagem extremamente reveladora aparece em
João 15.25: “Isto, porém, é para que se cumpra a palavra
escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo”. Os críticos de
Jesus não tinham nenhum motivo real para odiá-lo. Muitos
não o compreenderam, mas muitos não fizeram esforço
algum para entendê-lo. Rejeitavam qualquer um que
tentasse modificar alguma coisa, e Jesus estava mudando
muitas coisas.
Às vezes fico pensando como é que as pessoas podiam
notar a evidência das curas e de constantes demonstrações
de compaixão por parte de Jesus e, ainda assim, falar mal
dele. Mas era o que faziam.
Como já foi mencionado no capítulo 6, Jesus curou um
homem junto ao poço de Betesda (Jo 5.1-16). Quando os
líderes religiosos viram que o homem que tinha sido
paralítico durante trinta e oito anos estava curado, não se
alegraram. Criticaram Jesus por curar num dia de sábado:
“Os judeus perseguiam a Jesus, e procuravam matá-lo,
porque fazia estas cousas no sábado” (Jo 5.16).
Em outra ocasião Jesus curou um homem que era cego
de nascença. “Por isso alguns dos fariseus diziam: Esse
homem não é de Deus, porque não guarda o sábado”. (Jo
9.16).
Durante a festa dos tabernáculos, as pessoas
discutiam entre si sobre Jesus. Alguns sabiam o que ele
tinha feito e falavam abertamente do seu poder e de sua
bondade. “E havia grande murmuração a seu respeito entre
as multidões. Uns diziam: Ele é bom. E outros: Não, antes
engana o povo” (Jo 7.12).
Quando os líderes religiosos prenderam Jesus,
levaram-no à presença de Pilatos. E quando Pilatos
perguntou-lhes quais as acusações que faziam contra Jesus,
responderam: “Se este não fosse malfeitor, não to
entregaríamos” (Jo 18.30).
Estranho que não citassem seus “crimes”, não é?
Aparentemente, Pilatos não insistiu. Os acusadores do
Senhor representavam os devotos do seu tempo; a
reputação e a palavra deles levaram Jesus à condenação e
à morte.
O tipo de critica feita a Jesus nunca mudou. Mesmo no
final do livro de Atos, o apóstolo Paulo visitou os líderes em
Roma e quis falar de Jesus com eles. Concordaram que
Paulo falasse, mas fizeram a ressalva:
“Porque, na verdade, é corrente a respeito desta seita
que por toda parte ela é impugnada” (At 28.22). A
passagem mostra que muitos creram e muitos não. Tenho a
impressão de que os que não acreditam já tinham feito de
antemão a sua escolha — como aqueles que levaram Jesus
a Pilatos.

Como Lidar com a Crítica


As críticas e censuras não parecem ter perturbado
Jesus. Talvez porque ele, conhecendo a maldade do coração
humano, as esperasse. Mas, quase todos nós temos muita
dificuldade em lidar com elas, principalmente quando vem
da parte de outros crentes.
Um amigo meu, que ensinava para uma classe de
escola dominical com quase trezentos adultos, atraiu
contra si uma avalanche de críticas. “Esperava que as
pessoas fora da igreja me criticassem. Mas dói quando os
irmãos em Cristo fazem isso! Dói mais ainda quando falam
para outras pessoas que depois vem me contar”,
confidenciou-me ele.
Esse homem tinha recebido fogo cerrado por ter
alertado contra o uso descuidado dos pesticidas,
principalmente o DDT. Isso foi muitos anos antes que as
pessoas se dessem conta dos males que o DDT provoca na
natureza, afetando-lhe o equilíbrio. Ele tinha abordado o
assunto quando a classe estudava Gênesis, dizendo que
Deus havia dado a Adão, e por inferência a seus filhos
através de toda a história da humanidade, a
responsabilidade de cuidar do mundo. Passaram-se anos
até que fosse provado que aquelas pessoas que o
criticaram estavam erradas.
Por outro lado, algumas criticas são de fato
procedentes. O apóstolo Paulo sabia que qualquer líder tem
que ser aberto a outras idéias.
Por isso, foi a Jerusalém com Barnabé e Tito, “e lhes
expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em
particular aos que pareciam de maior influência, para de
algum modo não correr ou ter corrido em vão” (Gl 2.2).
Paulo tinha começado a pregar que o Evangelho nos
libera da Lei de Moisés. Este novo e arrojado conceito não
tinha sido proclamado por outros. É claro que ele sofreu
uma porção de críticas, de modo que foi ao encontro dos
líderes da igreja para explicar-lhes do que se tratava; e eles
o apoiaram.
Naturalmente teria sido impossível para Paulo correr a
Jerusalém todas as vezes em que fosse criticado. Ele
escreveu aos coríntios:
“A mim pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por
tribunal humano. ... pois quem me julga é o Senhor”
(1 Co 4.3,4).

Isso não era arrogância, mas um prazo, uma espécie


de moratória, em relação À luta e À critica. Paulo fazia o
que considerava certo, e sabia que Deus seria seu juiz
supremo.

Primeira Reação
Qual deve ser nossa primeira reação às críticas? Como
líderes crentes, precisamos ouvir. Nossos críticos podem
estar falando a verdade. Pode ser que não façam isso com
delicadeza ou tato, mas a verdade continua verdade,
independente da maneira com que é apresentada.
Como disse Abraão Lincoln quando lhe contaram que o
Secretário de Estado o havia chamado de tolo: “Stanton é
um homem sábio. Se ele disse que sou um tolo, o melhor
que tenho a fazer é pensar no assunto”.
Quando os críticos nos atacam, quase todos nós temos
a tendência de pegar fogo, prontos para uma réplica
contundente ou então nos dá vontade de chorar. Queremos
nos defender, explicar como as pessoas estão sendo
injustas, ou nos queixar de que os outros não nos
compreendem. Mas, em vez disso tudo, deveríamos ouvir.

Segunda Reação
Quando a crítica é justa, precisamos corrigir o que for
possível.
Só podemos avaliar se a crítica é procedente se
sondarmos nosso coração, orarmos para que Deus nos guie
e nos ilumine de maneira a ouvirmos claramente, e nos
aconselharmos com outras pessoas.
Se depois de tudo isso ainda considerarmos as críticas
injustas, então o que devemos fazer é pedir a Deus a graça
de podermos suportar a oposição. Alguns de nós fazem isso
melhor do que os outros. Se dependermos de nossas
próprias forças, pouquíssimos conseguirão se livrar de um
ataque imerecido sem padecer uma tremenda agitação ou
sofrer um desgaste íntimo.
Afinal, queremos que as pessoas gostem de nós, que
nos aprovem.
Podemos até desejar a aprovação delas. Quando elas
reagem negativamente sentimo-nos feridos.
Um amigo meu, por exemplo, contou-me que na
década de 50 fez vários negócios tanto com brancos
quanto com pessoas de cor. Muita gente criticou-o por
tratar os negros da mesma maneira que os brancos. Ele me
disse que nunca discutiu com os racistas, pensando que
suas ações seriam mais eloqüentes do que palavras. “Mas,
às vezes, eu tinha que orar sem parar para conseguir
controlar meu gênio e não explodir por causa daquelas
atitudes preconceituosas” admitiu ele.
Às vezes é bom lembrarmos que, como disse o
apóstolo Paulo, “quem me julga é o Senhor”. Se temos
consciência de que estamos colocando Deus em primeiro
lugar em nossa vida, e se verificarmos os pontos
mencionados acima, não teremos que perder nosso
precioso tempo nos defendendo.

Ficando de Sobreaviso
Por fim, precisamos nos preparar para a critica que
ainda está por vir. Se sabemos que as pessoas vão falar
mal de nós, nos rebaixar, ou mesmo nos arrasar, podemos
nos prevenir e fortalecer contra seus ataques.
Uma secretária executiva aprendeu a fazer isso muito
bem. Ela mantém um papel com uma oração impressa ao
lado do telefone. Como é ela quem recebe a maioria das
reclamações dirigidas à companhia, enquanto ouve
palavras quase sempre irritadas, ela lê, muitas vezes, em
silêncio, aquela oração:
“Senhor Deus, tu sentiste o ódio dos pecadores e os
amaste. Ajuda-me a lembrar que podes me ajudar a amar
os que me criticam”.

A Minoria Barulhenta
A crítica aos líderes parte, freqüentemente, de uma
minoria que se manifesta. Mas essa minoria fala tão alto e
tantas vezes, que nem sempre é fácil avaliar quantas
pessoas ela representa.
Numa ocasião, um pastor realizou uma porção de
modificações na sua igreja. Como resultado, pela primeira
vez, em noventa anos, a igreja cresceu. Pouco depois, foi
preciso realizar dois cultos pela manhã para atender a
todos, e construir novas dependências para as classes da
escola dominical e os cultos.
Nessa altura, o pastor começou a ouvir uma série de
criticas, das quais ele tomava conhecimento através de um
dos membros, que começava sempre assim: “Olha, estão
dizendo...”
Um dia, bastante abatido, o pastor andava de lá para
cá no seu escritório, pensando seriamente se devia ou não
se demitir. Ele não conseguia enxergar nada de bom do que
tinha feito, de como tinha conseguido fazer a igreja crescer,
e como tantas vidas tinham sido transformadas. A única
coisa que conseguia sentir eram as críticas. As acusações
tinham-se tornado tão hostis, que ele se sentia como se
toda a igreja estivesse contra ele.
Escreveu então a um amigo: “É uma situação terrível
quando você tem mais de 400 membros; 350 odeiam você,
e os outros 50 não estão nem aí”.
E, angustiado, parou e se ajoelhou. Orou pedindo que
Deus o guiasse e lhe desse paz de espírito. Mais tarde,
contou o que tinha acontecido:
“Quase instantaneamente compreendi que as
reclamações que tanto me pesavam provinham de apenas
quatro famílias da poderosa estrutura da igreja, antes de eu
ser pastor — aquelas não queriam mudanças de espécie
alguma. Entendi também que elas representavam a minoria
da igreja”.
Temos que ouvir as críticas, mas temos também que
colocá-las na perspectiva justa. Lendo sobre as críticas e
perseguições feitas a Jesus, podemos pensar que todos
estavam contra ele. No entanto, Marcos diz: “E a grande
multidão o ouvia com prazer” (Mc 12.37).
As vozes dos críticos podem ter soado alto, e até
mesmo ter sido mortíferas, mas provinham de um grupo de
líderes que não desejavam que Jesus efetuasse nenhum
tipo de mudança. A gente comum, isto é, o povo, ouviu e
alegrou-se, e aceitou os ensinamentos de Jesus e seus
discípulos.
Quando você enfrentar criticas e reclamações, faça a
si mesmo algumas perguntas, antes de se deixar envolver
por um torvelinho emocional:
- De onde provem as criticas?
- Estão todos contra mim? Ou é apenas um punhado
de descontentes?
- Existe alguma verdade nas críticas — mesmo que em
pequena porcentagem?
- Existe alguma coisa nas palavras dos meus críticos
ou acusadores que devam ser aproveitadas como
ensinamentos?
Lyle Schaller, um homem que, há muito tempo, vem
observando e estudando igrejas a denominações, lembrou
a um grupo de líderes religiosos o fato de que certas
pessoas estão sempre reclamando. Essa gente carrega um
saco cheio de criticas e reclamações, e é sempre rápida em
pô-las para fora ao primeiro sinal de qualquer sugestão de
um novo programa:

- É muito barulhento.
- É muito mundano.
- Caro demais.
- usar mal o dinheiro de Deus.
- Vai atrair o tipo errado de gente.

“Mas há outras pessoas que se interessam por


inovações”, acrescentou. “Ouça o que dizem. Não
interrompa uma atividade que está agradando a cinqüenta
pessoas, só porque três começaram a criticar”.
Um amigo me disse: “Talvez devamos nos sentir felizes
quando as pessoas começarem a criticar-nos”. Isso não fez
o menor sentido para mim, de modo que resolvi perguntar
o que ele queria dizer.
Respondeu-me citando as palavras de Jesus:
“Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos
injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem
todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é
grande o vosso galardão nos céus, pois assim
perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”
(Mt 5.11,12).

Pouco antes de Jesus ir para o jardim de Getsêmani,


Ele disse:
“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o
servo maior do que o seu senhor. Se me perseguiram
a mim, também perseguirão a vós outros; se
guardaram a minha palavra, também guardarão a
vossa” (Jo 15.20).

Quando as críticas forem merecidas aprenda com elas.


Quando forem injustas, lembre-se do seguinte princípio:

PRINCÍPIO 15

PERFEITO, HOUVE APENAS UM LÍDER, E, MESMO ASSIM, FOI


CRITICADO.

CAPÍTULO 16 - TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA

Um líder crente saiu de uma empresa menos de seis


meses depois de ter começado a trabalhar lá. Ele sempre
havia apresentado excelentes resultados antes de ir para
essa organização, e se mostrou muito capaz enquanto
esteve na tal empresa. Um amigo apresentou-me a ele, e,
enquanto conversávamos, meu amigo perguntou: “Por que
você saiu da companhia”?
“Posso responder com uma palavra”, disse ele.
“Mesquinhez.” Ele não entrou em detalhes, nem mencionou
nomes; disse apenas: “Eles não tem espírito de equipe.
Todo mundo tem que passar por cima do outro. Em todo
lugar tinha muito ciuminho, inveja, rivalidade. Todo mundo
queria criar um império e reinar sobre os outros
imperiozinhos. Eu queria trabalhar com todo mundo. Depois
de seis meses, por mais que lutasse para não participar
desse ambiente de rivalidade, se eu cooperasse com uma
pessoa, automaticamente mostrava minha oposição a
outra. Então decidi sair”.
Problemas mesquinhos parecem pequenos — e de fato
o são — , mas baixam o moral e a produtividade. Problemas
grandes, como sobrevivência financeira, são, em geral,
fáceis de identificar, mas probleminhas de mesquinhez e
inferioridade podem passar quase despercebidos.
Ignorá-los, porém, pode levar a problemas de
proporções gigantescas.

Gente Mesquinha
Aqui estão alguns tipos de líderes mesquinhos que, por
suas atitudes e estilo de trabalho, podem criar conflito:

- Promessas. Promessas. A pessoa está sendo sincera,


pelo menos naquele momento. Dez minutos depois, já
esqueceu o que disse.

- As Sete Famosas Ultimas Palavras. Em qualquer


igreja ou organização as “sete famosas últimas palavras”
são: “Nunca tentamos fazer isso desse jeito antes”. Esse
tipo de pessoa, tacanha e intolerante, entra em
pormenores irrefutáveis, para provar como foi que alguma
coisa semelhante havia sido tentada doze anos antes e
tinha fracassado.
- A-primeira-Coisa-Amanhã-Cedo. O procrastinador
típico parece estar sempre ocupado, não dispõe de folga e
parece não conseguir fazer nada em tempo. “Quando é que
você quer isso?”, está sempre perguntando. “Vou estar com
isso pronto para você, logo cedo, de manha”.

- Oponente das idéias dos outros. É a pessoa que tem


uma porção de idéias, muita energia, e está sempre
apoiando novos programas — desde que tenha partido dela
a idéia original. Tem muito pouco tempo para idéias que
tenham vindo de outras fontes.

- O que eu ganho com isso? A pessoa desse tipo


segura seu apoio, interesse e energia até saber o que é que
vai obter com seu esforço. Se é bastante sofisticada,
manipula a conversa de modo que sua superioridade
apareça como sendo a melhor e mais lógica maneira de
uma pessoa ser. Não se importa como os outros a vêem,
porque tem apenas um interesse — ela própria.

Existem um sem número de outros tipos de pessoas


mesquinhas: o cínico, o fofoqueiro, o que se auto-intitula
especialista, o insensível, o brincalhão.
As pessoas tacanhas podem representar um problema
tão enervante, que são capazes de desviar a atenção dos
líderes das dificuldades realmente sérias. Quem é que
ainda não presenciou na igreja sérias discussões sobre que
cor a ser usada na pintura da cozinha, ou o tipo de banco
ou cadeira que deva ser escolhido para o salão?
Agitam-se tanto por coisas insignificantes, que até
negligenciam as tarefas de real importância na igreja. O
mesmo pode acontecer nos negócios, e mesmo na família.
Como os Líderes Encaram os Pequenos
Problemas
Como é que as organizações tratam esses problemas
enganosamente pequenos?
1. Ignoram. Este é o método mais comum. Ou o líder
não os nota ou os considera insignificantes.

2. Evitam. Há líderes que reconhecem tais problemas,


e até mesmo admitem que, a menos que sejam sanados,
são capazes de produzir muitos males. Mas dizem: “Se
contornarmos esses problemas, eles acabam
desaparecendo por si.” Infelizmente, deixar o problema
correr por conta própria dá a ele tempo, energia e mesmo
estimulo para crescer.

3. Adiam. Essa tática admite o problema e propõe um


adiamento. O líder pede ás pessoas que se acalmem, e
promete que mais tarde a liderança vai lutar para resolver
o problema: “Vamos voltar ao assunto depois”, e deixam-no
ficar como estava. Isso pode funcionar se a promessa de
voltar ao problema mais tarde não for esquecida.
4. Resolvem. O líder competente tenta resolver esses
probleminhas antes que eles cresçam. Não usam um
canhão quando uma pistola mesmo resolve, mas notam os
pequenos desentendimentos e reconciliam as partes antes
que se crie um impasse.

Como Jesus Lidou com os Probleminhas


Em João 21.21 vem à tona um destes pequenos
problemas. Jesus dera a entender que Pedro viria a morrer
como mártir. Pedro olha para João e pergunta: “E quanto a
este”?
A pergunta de Pedro sobre o papel de João no trabalho
de Deus podia ter tido uma pontinha de ciúme. Pedro era
devotado a Jesus, mas, João era conhecido como “O
discípulo que Jesus amava”, de modo que é possível que
existisse certa rivalidade entre eles. A pergunta podia ter
demonstrado também um interesse natural sobre a sorte
de João. Será que ele iria ser tão importante quanto Pedro
no futuro?
Pedro teria João como companheiro? Havia algo
especial para João?
Jesus respondeu: “Se eu quero que ele permaneça até
que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me”. (Jo
21.22). Essa resposta é uma censura branda a qualquer
malicia que a pergunta de Pedro pudesse encerrar. Ela
adverte contra a tentativa de forçar os outros a se
enquadrarem na mesma situação ou de querer um
tratamento “igual” no serviço do Senhor. Jesus pediu a
Pedro que deixasse João de lado e se concentrasse no seu
próprio ministério.
Em qualquer organização ou empresa, não há nada
que acabe mais depressa com os boatos, invejas e fofocas
do que cortá-los pela raiz.
Deixar que dêem margem a especulações pode ser
perigoso para o grupo. Jesus não disse a Pedro: “Tenho esse
plano em relação a João, mas você deve guardar segredo
sobre o assunto”. Nem tampouco perguntou-lhe: “O que
você acha que devo fazer com João?” Tais comentários
teriam feito Pedro sentir-se valorizado, inflando o seu ego e
causando futuros problemas. Jesus estabeleceu um
equilíbrio entre encorajar a especulação e divulgar
informações que precisavam ser mantidas em segredo.
Pode-se notar também nessa passagem que o estilo de
liderança de Jesus não era “dividir para governar”. Ele
procurou minimizar um possível conflito entre Pedro e João,
em vez de explorá-lo. Criar dependência através da divisão
tem sido o estilo dos poderes políticos imperialistas, e
mesmo de alguns dedicados missionários.
Há pastores que acham que, para sobreviverem,
precisam manter as facções em luta umas contra as outras;
alguns empresários e líderes políticos pensam da mesma
maneira, não só para assegurar sua supremacia, como
também porque não depositam confiança em seus
subordinados. Suas instituições estão sempre em estado de
confusão e tumulto. Quando, porém, as coisas estão
transcorrendo tranqüilamente, tais líderes criam problemas
apenas para mostrar que são indispensáveis como fonte de
soluções!

Os Pequenos Problemas na Igreja Primitiva


Rivalidades e pequenos assuntos irritantes não
terminaram com a ascensão de Jesus Cristo. A igreja,
mesmo em seus primeiros tempos, teve que enfrentar
essas dificuldades.
Como está escrito no livro de Atos, a igreja tinha criado
um ambiente de comunhão e provia as necessidades das
viúvas e dos órfãos. Os apóstolos, que tinham tido
treinamento e aprendido com a liderança de Jesus, tiveram
problemas tão logo começaram a pôr em prática o que
haviam aprendido:
“Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos
discípulos, houve murmurações dos helenistas contra
os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo
esquecidas na distribuição diária. Então os doze
convocaram a comunidade dos discípulos e disseram:
Não é razoável que nós abandonemos a Palavra de
Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei
dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do
Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos
deste serviço; e quanto a nós, nos consagraremos à
oração e ao ministério da palavra. O parecer agradou
a toda a comunidade” (At 6.1-5).

O que podemos aprender com esse incidente?


Reparem que os líderes da igreja tomaram três
providencias sábias:
- Foram direto ao problema. Não deram oportunidade
para ele crescer e dividir a igreja.
- Indicaram pessoas de confiança para cuidar do
problema. Mostraram que tinham percebido como o
assunto poderia se tornar crítico. Os helenistas eram judeus
que tinham adotado a cultura grega, e isso,
automaticamente, criava um potencial de conflito.
- Não deixaram que um problema de importância
relativamente pequena, a saber, distribuir o alimento
diário, viesse perturbá-los no estudo e na oração, e
procuraram exercer a liderança sobre a igreja como um
todo.
Esses líderes, provavelmente dirigidos por Pedro,
fizeram distinção entre o que era importante e o que era
trivial. Eles se concentraram em se preparar para seguir
por todo o mundo executando a comissão que Jesus lhes
havia dado.

Paulo e os Probleminhas
Quando Paulo escreveu as cartas aos novos-
convertidos, ele geralmente se referia aos problemas
existentes nas igrejas referidas na carta. Os problemas
vinham em escala dos maiores para os menores. Nas duas
epistolas aos coríntios, por exemplo, ele abordou os
assuntos mais importantes da moralidade e dos dons
espirituais.
Mas ele admoestou os coríntios também sobre comer
carne oferecida aos ídolos — um assunto de importância
relativamente pequena, mas que estava causando
desentendimentos. Pelo que parece, alguns cristãos
compravam bons pedaços de carne num açougue de
segunda mão, pode-se dizer (já que os ídolos não comiam a
carne, os pagãos tinham que fazer alguma coisa com ela).
Paulo resolveu rapidamente, e de maneira magistral, o
impasse criado por essa prática, ou seja, saber se era
permitida ou não. (Ver 1 Coríntios 8).
Doutra feita Paulo escreveu uma carta de apreciação
por um presente que os filipenses tinham mandado para
ele na prisão. A carta inteira só continha uma nota de
advertência. O problema por ele enfrentado era pequeno,
de modo que não se transformou num caso sério:
“Rogo a Evódia, e rogo a Síntique pensem
concordantemente, no Senhor” (Fp 4.2).

Aparentemente, duas mulheres tinham opiniões


diferentes. Isso parece ser tudo a que Paulo se refere, mas
ele queria eliminar o problema antes que este afetasse
toda a igreja.

Fazendo Tempestade em Copo d’água


O que poderia ter acontecido se Paulo ignorasse a
situação de Evódia e Síntique? O que aconteceria se ele
dissesse a si mesmo:
“Vou deixar isto para a próxima carta”? As duas
mulheres poderiam ter polarizado a igreja, jogando os
irmãos e irmãs uns contra os outros.
Conheço uma igreja onde ocorreu uma tragédia
dessas. Duas mulheres de grande qualidade chegaram, ao
mesmo tempo, ao limiar da liderança nas atividades
femininas da igreja. Quando uma delas atingiu o posto,
estabeleceu-se a rivalidade. A líder anterior tinha
conseguido mantê-las separadas, ocupadas e trabalhando
harmoniosamente juntas.
Como as duas agora disputavam a liderança, nenhuma
parecia pensar em si mesma como agindo de maneira não
bíblica e não cristã. Mas a diferença entre as duas cresceu
tanto que a igreja ficou marcada por uma divisão bem
definida. As pessoas acabaram tendo que tomar partido.
Cada mulher avaliava o seu prestígio de acordo com o
lugar em que as pessoas ocupavam no culto; todos de um
dos grupos sentavam-se à esquerda; os do outro, à direita.
Um punhado de neutros se agrupavam no fundo da igreja,
separados de todos os demais.
Se o pastor fosse um líder mais forte, provavelmente
teria resolvido o problema. Mas ele tentou ignorar o caso
por muito tempo. Quando viu que isso não funcionava,
tentou apaziguar ambas as partes. Então, ambas as
facções se viraram contra ele e pediram sua demissão.
Quando o novo ministro chegou, imprudentemente
deu seu apoio a um dos lados. Ai, então, a igreja se dividiu.
O lado esquerdo juntou-se a outra igreja, dois quarteirões
adiante. Muitos anos depois o pastor, nos seus sermões,
ainda atacava os que tinham ido embora. “Eles se
desviaram da santidade. Preferiram menos luz”, dizia ele.
Não teria sido melhor para o reino de Deus se o
primeiro pastor tivesse conciliado as duas mulheres logo
que se tornaram rivais? O primeiro pastor teria poupado
muito dano, sofrimento e amargura se tivesse entendido
esse simples princípio:

PRINCÍPIO 16

O LÍDER PRUDENTE IMPEDE QUE OS PROBLEMAS PEQUENOS SE


TORNEM GRANDES PROBLEMAS.

Parte 5: O Futuro da Liderança

CAPÍTULO 17 - DE ONDE SURGEM OS LÍDERES

Às vezes fico pensando sobre aqueles doze primeiros


discípulos.
Será que Jesus os escolheu porque tinham potencial
para liderança, e então a desenvolveu? Ou pegou uma
dúzia de “marginais” e deu a eles capacidades e aptidões
especiais? Depois do Dia de Pentecostes todos adquiriram
uma ousadia e eloqüência que nunca tinham mostrado
antes.
Mas o que é que eles tinham no princípio?
Não sei responder. Mas tenho a impressão de que eles
deviam ter algumas qualidades de liderança antes de
serem chamados. André, por exemplo, recrutou
imediatamente seu próprio irmão — O que indica potencial.
Pedro aparece logo como um homem de pensamento vivo,
linguagem atirada e alguns momentos de discernimento
espiritual. Em ambos os casos, o Senhor transformou até
suas fraquezas em pontos positivos.
Ao contrário, quando se fala sobre liderança nos
negócios e nas igrejas, o que vemos é desânimo. Há
sempre uma série de desculpas. Não raro a gente ouve
esse lamento: “Não consigo arranjar ninguém na minha
igreja (organização, companhia, clube ou escola dominical)
que queira aceitar responsabilidade”.
Duas coisas me incomodam nessa declaração:
primeiro, ela indica que os líderes não estão procurando
futuros líderes nos lugares certos.
Segundo, ela me diz que eles estão usando um critério
errado na sua procura. Vamos examinar as duas idéias.

Procurando em Lugar Errado


Alguns especialistas em liderança estimam que apenas
10% das pessoas em qualquer grupo mostrarão aptidão
para liderança. Chuck Olson — autoridade em liderança de
pequenos grupos e de igrejas — viajou extensivamente
visitando igrejas nas décadas de 60 e 70. Analisou mais de
mil igrejas e congregações das maiores denominações e
concluiu:
“Não importa o quanto a igreja cresça; a base de
liderança é formada por aproximadamente sessenta e cinco
a setenta pessoas”.
Ele não advogou essa declaração como um princípio;
não queria que fosse assim. Insistiu com os líderes para
que mudassem a situação. Mas essa era a realidade, disse
ele.
Quase todos nós procuramos para a liderança aqueles
que já galgaram posições de responsabilidade. Aceitamos
como verdadeiro o ditado: “Se você quer que uma coisa
seja feita, peça a uma pessoa ocupada”. Isso geralmente
funciona — durante certo tempo. Mas em muitas
organizações — principalmente as que funcionam à base de
trabalho voluntário — pedimos, empurramos, puxamos,
insistimos e imploramos tanto a aqueles que trabalham que
acabamos por levá-los à estafa. Eles pedem demissão ou
fazem o trabalho sem interesse, ou aprendem a arranjar mil
e uma desculpas para não assumirem responsabilidade.
Às vezes, eles simplesmente nos deixam e se juntam a
outros grupos.

Olhando Sob a Perspectiva Certa


Todo mundo à nossa volta tem aptidão para liderança
latente, que podemos desenvolver. Mas, geralmente,
esperamos por líderes já confirmados — para nosso
prejuízo, aliás.
Voltemos a Jesus e seus discípulos. A primeira menção
dos discípulos nos evangelhos, não notamos muita
capacidade em nenhum deles. Levi (Mateus) pode ter
mostrado mais iniciativa do que os outros, porque era
coletor de impostos. Pedro, Tiago e João ganhavam a vida
como pescadores. Se fossem espertos, talvez tivessem sido
donos de uma frota de barcos.
Em outras palavras, sabemos muito pouco a respeito
da formação dos discípulos no que se refere à liderança.
Talvez os escritores dos evangelhos não considerassem
importante dar essa informação; um conceito bíblico muito
significativo é que, na realidade, não nos detemos muito no
que éramos — mas no que nos tornamos. E todos aqueles
homens, treinados por Jesus, tornaram-se líderes.

Descobrindo a Liderança
Jesus não esperou que a liderança brotasse
espontaneamente. Ele não administrou testes, não fez
listas de avaliação, não pediu aos discípulos que
escrevessem seus currículos. Mas sua percepção infalível
mostrou o potencial de cada um deles. Ele os escolheu e
disse:
“Sigam-me”.
É muito comum os líderes não perceberem que em
toda congregação ou grupo encontra-se gente bastante
para atender às necessidades da liderança. Aqui está um
exemplo de uma igreja, num bairro periférico da classe
média.
W. A. e Edna Hanson eram líderes de destaque. A
igreja que eles freqüentavam tinha, como a maioria tem,
um membro que é, reconhecidamente, a pessoa mais
poderosa do grupo: e essa pessoa era W. A. Ao mesmo
tempo, Edna era responsável por todas as atividades que
envolviam as senhoras. O casal carregava junto a maior
parte do peso do trabalho de liderança; Se algo tinha que
ser feito, era só o pastor ou os membros chamarem W.A. ou
Edna e tudo estava pronto.
E então foi aquele choque: O casal tinha que se mudar.
Edna estava com problemas de saúde e o médico havia
dito que sua única esperança de melhora era mudar-se
para um lugar de clima mais quente. Depois de ter sofrido
o frio intenso de dois invernos, o casal mudou-se para a
ensolarada Flórida.
Mesmo antes da partida, a igreja já lamentava a sua
perda. O pastor, talvez mais do que qualquer outra pessoa,
sentiu o vazio que eles iam deixar. Que é que vamos fazer?
perguntava-se constantemente.
Duas semanas antes da viagem, o pastor fez um apelo
do púlpito: “Temos inúmeros trabalhos que W. A. e Edna
costumavam fazer aqui. Estamos precisando de gente que
venha tomar-lhes o lugar e assumir a responsabilidade que
eles tinham”.
Para surpresa dele, o pessoal respondeu ao seu apelo.
Quando chegou o dia da partida, oito pessoas tinham
assumido as tarefas que o casal costumava fazer. Por
muitas vezes o pastor repetiu estas lições valiosas que ele
aprendeu com aquela experiência:

1. Ninguém é indispensável no serviço do reino de


Deus.
2. As pessoas podem não estar conscientes de sua
própria capacidade de liderança até que alguém as
descubra e dê-lhes oportunidade.
3. A liderança aparece quando as pessoas têm
oportunidade de desenvolve-la.
4. As pessoas assumem posição de liderança quando
sabem que os outros querem que o façam.
5. A maior parte dos líderes aprende fazendo.

Treinamento de liderança no Serviço


Jesus ensinou seus discípulos didaticamente e com seu
próprio exemplo. Indicou-lhes o futuro, quando teriam que
agir sozinhos, sem a presença dele. E depois comissionou-
os:
“Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”
(Jo 20.21).

Sua partida significava que eles teriam que se apoiar


em sua própria experiência e aptidões, e buscar o Espírito
Santo para os guiar.
No dia de Pentecostes, por exemplo, as multidões se
acercaram deles depois da descida do Espírito Santo. “Que
quer isto dizer?”, perguntava toda aquela gente. Pedro
estava à altura dos acontecimentos e pregou um dos
maiores sermões da História.
Poucos dias depois, os anciãos e os escribas
ordenaram que não pregassem mais aquelas palavras. Mas
eles não obedeceram. Quando levados ao tribunal, Pedro e
João disseram:
“Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós
outros do que a Deus, pois nós não podemos deixar
de falar das cousas que vimos e ouvimos” (Atos
4.19,20).

Num exemplo após o outro, a audácia dos discípulos


explode no livro de Atos. O exercício real da liderança
aconteceu três anos depois de Jesus ter dito: “Sigam-me”.
As Escrituras e a tradição dão-nos um quadro parcial
do que aconteceu com os apóstolos: Herodes matou Tiago,
irmão de João; o grande ministério de Pedro continuou;
Tomé, aparentemente, tornou-se missionário na Índia e no
Oriente; o jovem Marcos fundou a Igreja Copta, a Igreja da
Alexandria, que se tornou pioneira da cristandade por 200
anos. Os outros apóstolos também viajaram pelo mundo
conhecido daquela época, proclamando o Evangelho.
Para muitas pessoas daquele tempo, os apóstolos
devem ter parecido um grupo muito estranho para ser
usado por Deus. Mas Jesus viu algo especial neles — e
desenvolveu aquele “algo mais” através de um
“treinamento-em-serviço”.
Conhecendo as Pessoas
Nada existe, provavelmente, que mais ajude na
escolha e desenvolvimento de líderes do que a intuição ou
perspicácia. Jesus provou seu poder de discernimento ou
intuição com frases como esta, que ele disse no Cenáculo,
logo depois de ter lavado os pés dos discípulos:
“Quem se banhou não necessita de lavar senão os
pés; quanto ao mais está todo limpo. Ora, vós estais
limpos, mas não todos. Pois ele sabia quem era o
traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais
limpos” (Jo 13.10,11).

Jesus conhecia o Íntimo das pessoas — tanto o bom


como o mau (Jo 2.23-25). Ele conhecia Judas e o mal que
havia no seu coração; ele conhecia João e Tiago e Natanael,
e viu o potencial de liderança que eles tinham.

Como Escolher os Líderes


Onde e como podemos encontrar novos líderes? Aqui
vão algumas sugestões baseadas em princípios bíblicos:
1. Escolha os fiéis. Na parábola dos talentos que Jesus
contou, o Senhor elogiou o servo que mais havia produzido:
“Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o
muito te colocarei” (Mt 25.23). Em outras palavras, quem é
fiel com pouco, também o será com muito.
Procure aquelas pessoas que fazem sempre o trabalho
“por trás dos bastidores”. Sua esfera de responsabilidade
pode ser tão limitada quanto verificar a presença nas
classes da escola dominical, fazer o cafezinho dos
domingos depois do culto ou, apenas, ajudar os outros,
quando há tempo de sobra. Quando essas pessoas sentem
que estão sendo reconhecidas por esses pequenos
trabalhos que executam fielmente, podem se sentir
dispostas a assumir maiores responsabilidades. Cada vez
que tentam uma nova tarefa e a fazem bem, estão sendo
impelidas a subir mais um degrau em direção à liderança.

2. Ore pedindo sabedoria. Isso pode parecer óbvio,


mas já reparei que os líderes, quando precisam recrutar
auxiliares, vão logo perguntando: “Quem está disposto a
fazer isto? Quem é que não vai nos deixar na mão?”, ao
invés de primeiro falarem com Deus.
Conheço uma igreja cujo pastor e o superintendente
da escola dominical tiveram que enfrentar um desafio
desalentador: mais da metade dos vinte e um professores
estavam planejando se demitir até o mês de setembro. Era
primeiro de maio quando ficaram sabendo disso, e a reação
deles foi de pânico. Tentaram pensar nas pessoas a quem
podiam pedir ou constranger a aceitarem o trabalho.
Então, um deles disse: “Vamos orar antes que isso
deixe a gente doido”. Começaram a orar — e combinaram
continuar orando durante dois dias até se reunirem de
novo. Dois dias após, o pânico tinha desaparecido por
completo. Até elaboraram um plano para procurar pessoas
com potencial de ensino. Quando junho começou eles já
tinham todos os professores que precisariam para o período
seguinte! E tinham aprendido, também, uma lição valiosa.

3. Lembre que não existe gente “sem talento”. Muitas


igrejas atuais, cônscias, de repente, do conceito espiritual
dos dons (Rm 12.8; 1 Co 12.14; Ef 4.7-16) estão
aprendendo a pô-los em ação e aproveitá-los. Um bom
número de líderes descobriu que dá bons resultados partir
da premissa de que nenhuma igreja tem membros
destituídos de talentos.
Seja qual for a maneira como venham a empregar
esses dons, o ponto mais importante desse posicionamento
não é apenas que eles tenham os trabalhos da igreja
executados; é, também, ajudar os cristãos a identificar e
usar as aptidões que Deus lhes tenha dado. Como disse
muito bem um pastor, durante um sermão sobre dons
espirituais: “Ou você os emprega ou você os perde”.
Uma igreja criou uma comissão de dez pessoas
capazes e criativas. Os dez dividiram a lista de membros
entre si e passaram a visitá-los em casa ou nos locais de
trabalho, conversando com eles sobre seus dons
espirituais. E não deixaram que ninguém encerrasse a
conversa dizendo: “Acho que Deus me deixou de lado”.
Aquelas pessoas desejavam estimular os membros não
apenas a descobrir como também a usar os talentos que
Deus lhes tinha dado. Um dos membros expressou isso
muito bem: “Se cada igreja é realmente um corpo, não
admira que muitas delas tenham problemas! Como é que
você pode ter um corpo funcionando 100% quando você
está sem uma perna, um olho ou mesmo outras partes
pequenas como cotovelo, a junta do joelho? Quando cada
parte do corpo cumpre sua função, ele funciona que é uma
beleza”.

4. Preste reconhecimento aos líderes que escolheu.


Não dispomos de um relatório dizendo que Jesus todos os
dias ia até os discípulos para assegurá-los de suas
qualidades de liderança. Mas sabemos que ele elogiou
aqueles que viveram justamente. Ele lhes disse que todos,
com exceção de um, estavam limpos (Jo 13.10). E naquela
noite, a última em que esteve com eles, antes de ser preso,
disse-lhes:
“Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando. Já
não vos chamo servos porque o servo não sabe o que
faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos,
porque tudo que ouvi do meu Pai vos tenho dado a
conhecer” (Jo 15.14,15).

Depois da ressurreição, Jesus comissionou seus


obreiros (Jo 21.21,22). Em seu discurso final aos discípulos,
de acordo com o Evangelho de João, ele confirmou o
ministério de Pedro apesar de este tê-lo negado
anteriormente. Cristo perguntou três vezes a Pedro: “Tu me
amas?” A cada pergunta, ele acrescentava um comando:
“Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21.15); “Pastoreia
as minhas ovelhas” (v.16); “Apascenta as minhas ovelhas”
(v.17).
Só mesmo lendo a continuação da história que se
desenrola em Atos é que podemos ver que proporções a
liderança dos apóstolos atingiu. Deus usou-os para
transformar o mundo. Isso, mais do que qualquer outra
coisa, talvez é que demonstra que a maneira como Jesus
escolhe e treina seus líderes realmente funciona.

PRINCÍPIO 17

OS LÍDERES SÃO ESCOLHIDOS E EQUIPADOS POR DEUS; TEMOS


APENAS QUE DESCOBRÍ-LOS E DESENVOLVÊ-LOS.

CAPÍTULO 18 - TRANSFORMANDO SEGUIDORES EM

LÍDERES

Há pouco tempo estudei João 13-17, porque queria


meditar sobre as últimas palavras que Jesus disse a seus
discípulos, antes de ser preso. O que ele disse foi mais do
que uma despedida; foi um resumo dos três anos de
aprendizagem que esses homens tiveram em companhia
dele.
Já por bastante tempo vinha ele dando uns toques de
que em breve ficariam sós, vivendo por conta própria.
Agora prometia enviar-lhes um Consolador, o Espírito
Santo.
Deve ter sido difícil para seus seguidores entenderem
o que Jesus estava dizendo. Muito do que ele disse só viria
a ser entendido mais tarde. Talvez tenha sido difícil para
Jesus também. Ele havia trabalhado com os discípulos,
ensinado, e vivido o seu compromisso com o Pai diante
deles dia a dia. Em pouco tempo eles teriam que prosseguir
sem sua presença física.
Mas os discípulos prosseguiram com sucesso. Hoje
podemos olhar para o estilo de liderança de Jesus e
agradecer a ele por no-lo ter legado.
Ele puxava seus seguidores para a frente sem esperar
que lhe exigissem responsabilidade, emprego ou cargo
público.
Ao contrário disso, tenho encontrado muito
relacionamento entre líder e seguidores que começou
muito bem e, depois, azedou. Uma dessas ocasiões, por
exemplo, foi quando um excelente e dedicado presbítero
chamado Carlos escolheu um jovem convertido, de nome
Davi, e lhe disse: “Gostaria de trabalhar com você e treiná-
lo para assumir uma liderança responsável em nossa
igreja”. O jovem concordou.
O presbítero levava Davi quando ia visitar os enfermos
no hospital, fazer trabalhos evangelísticos, ou qualquer
outra coisa que supunha fosse ajudar o crescimento do
jovem cristão. O presbítero Carlos dava aula numa classe
grande da escola dominical, e trabalhava pacientemente
com Davi para desenvolver seu potencial de ensinar. E
nesse processo os dois acabaram se tornando tão unidos
como pai e filho.
Uma coisa boa, não é? E foi, por mais ou menos três
anos. Passado um bocado de tempo Davi começou a fazer
as coisas a seu jeito. Ele queria pensar por si mesmo, tomar
suas próprias decisões sobre seu ministério na igreja.
Carlos tinha sido bom professor e Davi sentia que precisava
pôr em prática o que tinha aprendido. Ao mesmo tempo,
ele se sentia um tanto tímido quando era obrigado a fazer
visitas de evangelização, e achou que não devia
concentrar-se nesse tipo de atividade.
A cisão se deu quando Carlos impediu Davi de fazer
suas escolhas. Ele vinha dirigindo a vida de Davi por todo
esse tempo e não queria abrir mão disso — embora jamais
o tivesse admitido. Davi acabou saindo da igreja, indo para
outra onde, pouco depois, assumiu uma posição de
liderança.
Carlos sentiu-se ferido. Achou que o rapaz que ele
tinha treinado o havia traído e decepcionado. Foi uma pena
que ele não tivesse aprendido esse último princípio, tirado
da vida de Jesus:

PRINCÍPIO 18

O LÍDER TREINA OUTROS, QUE SE TORNAM LÍDERES, QUE, POR


SUA VEZ, TREINAM OUTROS.

Treinando Outros Para Assumirem


Uma característica do bom líder é que ele prepara
outros para assumirem o seu cargo. Não os prepara apenas
para “fazerem bem feito”, mas para poderem fazer tudo
aquilo que ele próprio faz. Esses sucessores nem sempre
estarão à altura do mestre; uns podem não ser adequados
para os papéis determinados para eles, mas outros podem
até mesmo vir a superar seus mentores.
Jesus trabalhou para esse fim com o punhado de
recrutas que escolheu — ensinando-os, treinando-os,
repreendendo-os, construindo, mostrando o caminho. Fez a
eles esta declaração significativa:
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que
crê em mim, fará também as obras que eu faço, e
outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.”
Jo 14.12.
Esta é uma parte do princípio de preparação —
ensinar os seguidores a superarem o seu mestre.
Há alguns anos ouvi um conferencista crente
apresentar os seguintes princípios na formação de líderes:

1. Dê responsabilidades às pessoas, antes que elas


estejam preparadas para isso. Ele não queria dizer que
devemos, inconseqüentemente, guindar as pessoas aos
cargos mais elevados. Ele queria dizer que a melhor
maneira de treinar os outros é fazer com que se esforcem,
se virem. Quando estiverem quase preparados para
preencher o lugar, passe a eles o trabalho. Faça com que o
trabalho seja maior do que eles.
Porque assim se sentirão obrigados a continuar
crescendo.

2. Dê tudo aos líderes em potencial antes que eles o


peçam. Ele explicou isso de outra maneira: se o líder retém
o lugar até sentir que a pessoa esteja pronta para assumi-
lo, pode acontecer que ela peça para ser indicada. Isso
tende a fazer com que todos se coloquem na defensiva. Por
que não preparar os liderados para assumirem o lugar
antes mesmo que eles próprios o reivindiquem?
As transições feitas dessa maneira dão certo tanto nos
negócios como na igreja e na família. Mas passar adiante
responsabilidade exige um planejamento cuidadoso.
Os líderes de certa organização cristã, por exemplo,
preferem que as promoções se dêem internamente. É
muito raro procurarem alguém de fora; só o fazem quando
não conseguem encontrar uma pessoa qualificada, entre
seu próprio pessoal, para ser devidamente treinada e
colocada no cargo. E porque é tão raro irem procurar
alguém de fora, seus empregados sabem que seus
supervisores conhecem o potencial de cada um.
O Princípio da Substituição
Um pastor se aposentou depois de vinte e nove anos
liderando três igrejas muito ativas. Em cada uma dessas
igrejas, o número de membros tinha, pelo menos, dobrado
durante os anos que ele serviu como pastor.
Para homenageá-lo por sua aposentadoria, amigos e
pessoas convertidas através do seu ministério organizaram
um jantar especial.
Pouco antes de o pastor fazer o seu ultimo sermão, um
dos pastores presentes que tinha trabalhado com ele
perguntou: “Agora que o senhor está deixando suas
atividades no ministério, e olhando para trás, para tudo que
realizou nesses anos de trabalho, o que o senhor considera
a coisa mais importante que conseguiu fazer”?
O velho pastor pensou um pouco. E então seu rosto se
iluminou: “Ah, isso é fácil de saber”, disse ele. “As trinta e
sete pessoas que estão exercendo alguma forma de
ministério atualmente — eu tive o grande privilégio de ser
seu pastor”.
Ele não disse aos seus amigos ali reunidos o quanto
tinha feito para animar e encorajar aquelas trinta e sete
pessoas. Mas o fato é que ele tinha esperado sabiamente
até a hora em que essas pessoas mostraram iniciativa ou
começaram a falar com ele sobre outros serviços mais
difíceis ou maiores. Logo que elas abriram uma porta e
demonstraram o desejo de servir a Jesus Cristo em maior
escala, aquele pastor as incentivou a avançar mais um
passo em seu caminho.
Em determinada ocasião, por exemplo, quatro dos
membros daquela igreja estavam no seminário se
preparando para serem ordenados ao ministério. O pastor
não só os encorajou a falar em público como deu-lhes
oportunidade de participarem nos cultos. A princípio, eles
só davam os avisos ou liam as Escrituras. À medida que
iam-se acostumando a falar diante do público, o pastor foi-
lhes passando a direção dos cultos do meio da semana, ou
a chance de pregarem quando de férias. Nos quatro
domingos que tinha de folga por ano, deixou que os
estudantes em treinamento pregassem nesses dias.
Isso é um princípio bíblico. No Antigo Testamento,
Josué aprendeu com Moisés. Quando Deus levou Moisés
para o seu lar celestial, Josué tornou-se o líder. Elias tinha
um grande ministério no Reino do Norte; depois que ele foi
elevado ao céu, Eliseu tornou-se o principal profeta de
Israel.
No Novo Testamento, Paulo treinava outros
constantemente. Ele sempre levava em suas viagens
missionárias alguns dos convertidos. João Marcos, sobrinho
de Barnabé, deixou Paulo no meio da primeira viagem
missionária, porém mais tarde tornou-se mais responsável.
Paulo escreveu a Timóteo: “Somente Lucas está comigo.
Toma contigo a Marcos e traze-o, pois me é útil para o
ministério” (2 Tm 4.11).
Outros, como Demas (2 Tm 4.10), mais tarde
escolheram seguir seu próprio caminho.
Parece que Paulo discipulou Priscila e Áquila (At
18.2,26), e que eles discipularam Apolo (At 18.24-28). Este
é o sentido real dos discipulado — ensinar os liderados de
modo que, a seu tempo, eles possam também ensinar a
outros. Como Paulo escreveu a Timóteo:
“E o que de minha parte ouviste, através de muitas
testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e
também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2).

É assim que o Evangelho tem-se perpetuado. É assim


também que a liderança deveria ser transmitida nos
negócios, na igreja e na família.

A Preparação de Líderes
Jesus usou pelo menos quatro métodos para treinar
seus seguidores a se tornarem líderes. Esses métodos são
válidos para se treinarem líderes em qualquer Área:

1. Preceituando o ensino. Isso é o que a maioria de


nós pensa em relação ao treinamento — transmitir
preceitos, conhecimentos. No Antigo Testamento, Eli usava
esse método com Samuel. Quando veio para o templo
ainda criança, Samuel cresceu sob a orientação de Eli.
Através dos anos Eli foi ensinando ao jovem o seu
papel de sacerdote — o que um sacerdote devia fazer,
vestir, dizer. E afinal chegou o dia em que Samuel assumiu
a responsabilidade de ser o sumo sacerdote da nação
judaica.

2. Através do exemplo. Os estudantes absorvem, no


mínimo, tanto do caráter e estilo de vida dos seus
professores quanto das suas palavras. Na verdade, muitos
educadores afirmam que a pessoa do professor comunica
muito mais do que qualquer conhecimento que transmita.
Há um século, Brooks Phillips definiu pregação como
sendo “a verdade através da personalidade”. Creio que ele
concordaria que a verdade é a verdade, independente de
quem a diz. Mas a verdade vem vestida com a
personalidade do mensageiro. O individuo dando instruções
diz tanto através da aparência, personalidade e atitude
quanto do material cedido.
Nos anos 60, Marshall McLuhan disse algo muito
parecido com isso: “O meio é a mensagem”. Da mesma
maneira que podemos dizer a um hipócrita: “Suas ações
falam tão alto que eu não posso ouvir nenhuma palavra
que você está dizendo”, podemos dizer a um professor
sincero: “Sua vida fala de modo tão positivo, que eu ouço
tudo que você está-me dizendo”.
Jesus era sincero. Em lugar algum do Evangelho os
escritores puseram em dúvida a sinceridade ou a
integridade de Jesus, embora tenham questionado
praticamente tudo mais. Lealdade e sinceridade são
qualidades básicas para quem deseja ser exemplo para
futuros líderes.

3. Através dos resultados. Quando Jesus falou com


seus detratores, pediu-lhes: “Se não podeis crer em mim,
crede pelas obras que faço” (Jo 10.38, paráfrase do autor).
Uma vez ele disse: “As obras que o Pai me confiou, para
que eu as realizasse, essas que eu faço, testemunham, a
meu respeito, de que o Pai me enviou” (5.36).

4. Lançando mão do testemunho de outros. Jesus


se refere a João Batista como testemunha do seu
ministério.
Paulo, indicando as qualificações de um bispo ou
superintendente, disse:
“É necessário que ele tenha bom testemunho dos de
fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”
(1 Tm 3.7).

Isso mesmo! Até o testemunho dos não-crentes pode


ajudar-nos a crescer rumo a liderança. Precisamos nos
lembrar de que os que estão de fora costumam observar o
povo de Deus com muita atenção — às vezes com o intuito
de nos condenar. Se os líderes de Deus, atuando nos
negócios, na escola e na igreja, vivem sinceramente a fé
cristã, os incrédulos (às vezes com a maior relutância)
reconhecem a fidelidade desses líderes.
Um pastor amigo meu lembrou-se bem disso quando o
novo redator de um semanário foi procurá-lo.
“Eu queria entrevistar duas pessoas”, disse o redator.
“Então comecei a perguntar por aí: “Quem é o pregador
mais influente deste município”? Quase todo mundo me
deu o seu nome. Eu estava preparando a segunda
entrevista, de modo que fiz outra pergunta: “Se você
tivesse uma pessoa em quem confiar, além de seus amigos
e parentes, quem, neste município, você pensaria em
procurar”? Quase todo mundo me deu de novo o seu nome.
Quando ouvi a história, pensei no impacto que a vida e
o compromisso cristão desse líder tinha produzido naquela
comunidade. Quando foi embora, os resultados do seu
ministério ainda permaneceram por muito tempo. Também
preparou outros líderes, ensinando-os e vivendo o que
ensinou. A verdade do que ele ensinou foi revalidada pelos
resultados e pelos testemunhos de crentes e não-crentes
igualmente.
Que melhor legado pode um líder querer deixar para
os seus seguidores?

Parabéns, Formandos!
Todo curso de treinamento deve terminar um dia. Os
estudantes recebem seus diplomas ou certificados e colam
grau. Agora precisam ir embora e começar a trabalhar.
Completaram sua preparação.
Se houve qualquer coisa parecida com uma festa de
formatura para os primeiros discípulos, isso aconteceu em
João 20.19-23. Depois da ressurreição, Jesus apareceu para
seus seguidores no mesmo cenáculo onde haviam ceado na
noite da Páscoa, e disse-lhes o seguinte:
“Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”
(V. 21).

A preparação tinha terminado. Agora sairiam pelo


mundo a proclamar o Evangelho.
Esse é o objetivo de instruir os outros — fazer com que
se tornem líderes que preparem outros que, por sua vez,
também, se tornam líderes.
Jesus começou o processo multiplicando sua
capacidade física por doze.
Não seria isso uma boa meta para o nosso estilo de
liderança?

***
Esta obra foi digitalizada com base na legislação
abaixo, para uso exclusivo de deficientes visuais.
Distribuição gratuita.

Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, sobre “Direitos


autorais. Alteração, atualização e consolidação da
legislação”.
TITULO III - Dos direitos do autor.
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