Avaliação Do Processo Ensino Aprendizagem

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EAD - NÚCLEO COMUM

AVALIAÇÃO DO PROCESSO
ENSINO APRENDIZAGEM

Rita de Cássia Medeiros Gomes


AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Profª Ms Rita de Cassia Medeiros Gomes


SUMÁRIO

Apresentação................................................................................................................................... 3
Programa da Disciplina ................................................................................................................ 6

Unidade 01 – O Conceito de avaliação e a função social da escola .............................. 9


Unidade 02 – Concepções de avaliação e processos de aprendizagem ....................18

Unidade 03- A Avaliação nos Parâmetros Curriculares Nacionais ............................... 26


Unidade 04 - As provas como instrumentos de avaliação ............................................. 30

Unidade 05- A Avaliação mediadora ..................................................................................... 36


Unidade 06- A avaliação crítica e construtiva ..................................................................... 43

Unidade 07 – As Diferentes Visões Que Influenciam Na Avaliação Do Processo De


Ensino Aprendizagem ..................................................................................................................51

Unidade 08- Aspectos metodológicos da avaliação educacional ................................ 57


Unidade 09- A Formação Docente e a Avaliação da Aprendizagem ...........................61

Unidade 10- A Formação Docente e a Avaliação da Aprendizagem .......................... 70


Unidade 11- O Processo de negociação entre alunos e professores ........................... 76

Unidade 12- Diagnosticar e decidir: processos articulados e indissociáveis ............. 80


Unidade 13- Instrumentos de avaliação: características e potencialidades ............... 85

Unidade 14- Experiências e práticas vigentes em avaliação educacional. ..................91


Unidade 15- A dimensão atitudinal da avaliação ............................................................... 95

Unidade 16- Orientações para conhecer a aprendizagem de procedimentos ........ 98


Unidade 17- Orientações para conhecer a aprendizagem de conceitos e fatos ... 106

Unidade 18 – Avaliação de resultados – como o Estado avalia.................................... 113


Unidade 19 – Avaliação do sistema educacional .............................................................. 119

Unidade 20- A necessidade de mudanças na avaliação ............................................... 124


Apresentação

Neste primeiro contato, torna-se fundamental a compreensão de

conceitos, fundamentação e aplicabilidade do material a ser apresentado, como


ponto de reflexão para a futura atuação profissional. O material a seguir apresenta

o assunto de forma clara, com interação de algumas vivências, atividades


reflexivas, interação com o ambiente virtual de aprendizagem no fórum de

debates, o manuseio da ferramenta: ”atividades”, para postarem os materiais


solicitados e vídeos que complementam os assuntos abordados.

Espero que você interaja com o material aqui disponibilizado e que este
possa auxiliá-lo no seu processo de ensino aprendizagem durante o curso e futura

atuação profissional.

No espaço escolar, não deveria a atividade de avaliação ser


construída, antes de tudo, como uma prática pedagógica a
serviço das aprendizagens? A intenção que dinamiza as tentativas
de avaliação formativa e lhes dá sentido é, em todo caso, fazer
testes, provas e avaliações de todo tipo, dos momentos intensos
de um trabalho de assistência às aprendizagens. Avaliar os alunos
para fazer com que evoluam melhor (rumo o êxito), esta é a ideia
central do que designamos pela expressão “aprendizagem
assistida por avaliação”. Uma avaliação capaz de compreender
tanto a situação do aluno quanto de “medir” seu desempenho;
capaz de preparar a operacionalização das ferramentas do êxito,
mais do que se resignar a ser apenas um termômetro (até mesmo
um instrumento) do fracasso, não seria o mais belo auxiliar, e o
primeiro meio, de uma pedagogia enfim eficaz? (HADJI, 1992,
p.9).

3
A avaliação está presente em todo momento de nossas vidas, valendo-se
de julgamentos pré-determinados e alicerçados aos nossos valores.

Assim, as atividades desempenhadas pelos homens são objeto de


avaliação, seja propositadamente ou não, mas sempre sujeitas ao julgamento, à

comparação, apenas para chegar a uma conclusão, ou para tomar uma decisão
com base em critérios sistematizados. Até mesmo na execução das ações mais

simples do nosso cotidiano, a avaliação aparece de forma quase que espontânea


ou naturalizada, como meio para acertar o percurso do caminho, a ser percorrido,

garantindo que seja concluído conforme nosso desejo.


No âmbito da educação e da formação, o conceito de avaliação foi objeto,

nos últimos 30 anos, de um otimismo crescente. Atualmente, prega-se facilmente


e, sem dúvida, com razão, o que seria uma “cultura da avaliação”. Muitos

questionamentos vêm sendo levantados e estudados. Os próprios profissionais


atuantes, os docentes, gestores (direção, coordenação) colocam em cheque as

maneiras, modos, e ou metodologias utilizadas para o procedimento do ato de


avaliar. Alunos e pais, também enxergam este ato, como injusto e ou mal

empregado. No entanto, todos os envolvidos na Educação e sua formação


esperam que, a avaliação se torne uma poderosa ferramenta e que alavanque

para a ampliação do êxito na escola e no processo de ensino aprendizagem.


Os estudos referentes à noção de avaliação formativa foi proposta por

Scriven, em 1967, em relação aos currículos, antes de ser estendida aos estudantes
por Bloom em 1971. Portanto, a comunidade educativa e ou pelo menos uma

parcela significativa desta almeja uma avaliação que se consagre como auxílio nas
melhorias e acompanhamento das aprendizagens, capaz de orientar o aluno para

que o próprio possa situar suas dificuldades, analisá-las e descobrir, ou pelo


menos, operacionalizar os procedimento que lhe permitam progredir. Para tal

ocorrência, fica necessário que o docente, a escola, os gestores, pais e todos


4
interessados também atribuam olhares mais significativos à avaliação do que

simplesmente, levantar, pontuar, regular e classificar os alunos, considerando a


avaliação em sua amplitude muito mais que somente realizar tais procedimentos.

Nessa perspectiva, o erro não seria uma falta a ser reprimida, mas uma
fonte de informação e isso tanto para o professor, cujo dever é analisar a

produção e, através dela, a situação do aluno, como para o aluno, que precisa
compreender seu erro para não mais evidenciá-lo em outras situações,

progredindo em sua caminhada no processo de ensino aprendizagem.


A avaliação no contexto escolar, para Chueiri (2008), constitui-se em prática

intencional e organizada e se realiza, a partir de objetivos pedagógicos, claros ou


velados, que são o reflexo de valores, códigos e convenções sociais. A análise

sobre o sistema de avaliação, com o objetivo de compreender as práticas


avaliativas, a partir da concepção de sociedade, de educação, de escola e de

aluno, nos leva à discussão e à reflexão que apontam as possibilidades de um


afastamento essencial, permitindo olhar de longe e focalizar, criticamente, as

práticas que vêm sendo desenvolvidas; fortalecer as que são significativas e


produtivas e reorientar aquelas que ajudam realmente o aluno a aprender e o

professor a ensinar, pois,


[...] avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem.
Todavia, não se realiza aprendizagem qualitativa, sem avaliar.
Quando se combate o tom classificatório,[...] pretende-se, no
fundo, superar abusos da avaliação, no que estamos todos de
acordo, mas não se poderia retirar daí que avaliação, de si, não é
fenômeno classificatório. Será mister distinguir acuradamente
entre abusos da classificação,de teor repressivo, humilhante e
punitivo, e efeitos classificatórios implicados em qualquer
processo avaliativo, também quando dito qualitativo (LUCKESI,
2002,p.23).

5
Programa da Disciplina

Avaliação do processo de Ensino e Aprendizagem

Ementa: A organização e contextualização do

referencial curricular para o ensino


fundamental. Avaliação e construção do

conhecimento. Aspectos metodológicos da


avaliação educacional. Análise de experiências

e práticas vigentes em avaliação educacional


na Educação Básica.

Objetivos: Criar condições para que o acadêmico possa:

• Compreender e refletir sobre a função da avaliação e sua importância no


processo de ensino aprendizagem.

• Tomar contato com diferentes concepções sobre a avaliação no processo de


ensino e aprendizagem.

Conteúdos

- A organização e contextualização do referencial curricular para o Ensino


Fundamental.

- Avaliação e construção do conhecimento.


- Aspectos metodológicos da avaliação educacional.

- Análise de experiências e práticas vigentes em avaliação educacional na


Educação Básica.

- Avaliação Institucional.
- Regulação do Estado e mecanismo de avaliação.

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METODOLOGIA

Adotamos para a disciplina, Avaliação do Processo de Ensino


Aprendizagem, uma metodologia que alia a teoria à prática, propiciada por meios

de atividades e interação ao AVA- Ambiente Virtual de Aprendizagem que


permitam, leituras, participação de fórum de debates e, a partir de exemplos, a

reflexão sobre a disciplina e sua aplicação prática.


AVALIAÇÃO

No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem,


entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na

avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e


espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o

aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente,


a necessidade de estabelecimento de prazos.

A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes


instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem:

1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares;


2) Provas realizadas presencialmente;

3) Trabalhos de pesquisa.

As estratégias de recuperação incluirão:


1) Retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não

satisfatoriamente dominados pelo aluno;


2) Elaboração de trabalhos, com o objetivo de auxiliar a vivência dos conteúdos.

7
BIBLIOGRAFIA BÁSICA

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem. SP: Cortez, 2011.


PERRENOUD, P. Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens: entre

duas lógicas. PA: Artmed. 1999.


VASCONCELLOS, C. S. Avaliação da Aprendizagem – práticas de mudança. SP:

Libertad, 2008.
Bibliografia Complementar

DEMO, P. Avaliação qualitativa. Campinas: Autores Associados, 1987.


GANDIN, D. A Prática do planejamento participativo. Petrópolis: Vozes, 1997.

HAYDT, R. C. Avaliação do processo Ensino Aprendizagem. SP: Ática, 1995.


HOFFMANN, J. M. L. Avaliação: Mito e Desafio: Uma Perspectiva Construtivista.

PA: Mediação, 2003.


VASCONCELLOS, C. Avaliação. SP: Liberdad, 1995.

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UNIDADE 01 - O CONCEITO DE AVALIAÇÃO E A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Analisar o papel da avaliação na instituição escolar.

ESTUDANDO E REFLETINDO
“A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã
alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje
aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que
hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser
feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude
fazer”. Paulo Freire

Avaliar faz parte do cotidiano escolar e do sistema de ensino em que a


escola está inserida. Seja a da escola ou a do sistema, a avaliação integra a prática

educativa de forma contextualizada, flexível, interativa e deve ser planejada ao


longo da escolarização formal, de maneira contínua e formativa.

Na perspectiva da gestão do sistema de ensino de uma forma mais ampla


que não seja restrita somente, no contexto escolar, a avaliação da aprendizagem

dos alunos e dos fatores de contexto a ela associados é um recurso pedagógico


de valor relevante e significativo.

A análise e compreensão dos resultados obtidos através de qualquer


recurso avaliativo nos permitem ações de intervenção em curto prazo e em alvos

certos nos processos de ensino-aprendizagem, com consequências diretas na

melhoria da qualidade da oferta de educação em toda a rede de ensino.


Além disso, os resultados da avaliação interferem também na política de

formação continuada dos recursos humanos do magistério; na reorientação da


proposta pedagógica das escolas; e no planejamento da gestão escolar para

promoção do sucesso dos alunos.

9
Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bastante comum as

pessoas entenderem que não se pode avaliar sem que os estudantes recebam
uma nota pela sua produção. Avaliar, para o senso comum, aparece como

sinônimo de medida, de atribuição de um valor em forma de nota ou conceito.


No entanto, os educadores e todos os envolvidos no processo de ensino

aprendizagem têm o compromisso de ir além do senso comum e não confundir


avaliar com medir. Avaliar é um processo, em que realizar provas e testes, atribuir

notas ou conceitos é apenas parte do todo.


A avaliação deve ocorrer em consonância com os princípios de

aprendizagem adotados e com a função que a educação escolar tem na


sociedade.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Com a finalidade de refletir sobre a função social da escolar e o papel da


avaliação nesse contexto de escolarização, propomos a leitura do artigo a seguir:

UMA FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA


Dia: 24/07

Profª Sueli Torres

Avaliar com eficácia e eficiência: análise dos vários instrumentos de avaliação sob
uma nova perspectiva pedagógica

Uma função social da Escola


Ninguém discute que uma das funções sociais da escola é preparar o cidadão

para o exercício pleno da cidadania vivendo como profissional e cidadão. E para a


consecução desse objetivo não basta somente passar a ele as regras da

convivência social, transmitir-lhe os conhecimentos socialmente construídos e


ajudá-lo a acomodar-se a um grupo e viver dentro do espaço social estabelecido.

O papel da escola esse sentido vai além disso, a escola tem que preparar atores
10
transformadores de sociedade. Dentro dessa concepção, Vasco Pedro Moretto

formula o princípio:
“Uma função social da escola: ajudar a formar gerentes de informação e não meros

acumuladores de dados”.
Vamos analisar cada componente da afirmação:

1. Função social - A escola é uma das muitas estruturas que visa, explicitamente, à
socialização do sujeito. Existe uma realidade construída, isto é, um conjunto de

conhecimentos estabelecidos, estruturados, institucionalizados e legitimados por


um determinado grupo social. Para viver nele, ele precisa dar significado ao

universo simbólico de sua sociedade. Essa socialização se dá em duas etapas:


socialização primária e socialização secundária.

2...ajudar a formar... - A ajuda que o professor pode dar é planejar sua intervenção
pedagógica visando a facilitar a aprendizagem. Esse planejamento deve levar em

conta quatro fatores principais: suas qualidades pessoais, as características de seus


alunos, as especificidades de sua disciplina e os recursos disponíveis na escola.

Nesse processo o aluno aprende quando ele se engaja nele, e cabe ao professor
criar um contexto para facilitar a sua aprendizagem. O aluno é um elemento ativo

no processo, como o é, também, o professor. Portanto, o aluno não pode ser um


mero “escutador” e o professor um mero “falador”. A RELAÇÃO ENTRE AMBOS

DEVE SER DE CONSTANTE INTERAÇÃO, COM VISTAS À PRODUÇÃO DOS


OBJETOS DO CONHECIMENTO. Essa interação, na perspectiva construtivista, se

apoia no método dialético. (Construtivismo não é um método). De maneira


simples e resumida, podemos explicar isso através do quadro abaixo:

Em síntese, usando o método dialético o professor funciona como um


questionador, um provocador buscando a negociação para a elaboração da

síntese. Essa negociação é conseguida através da linguagem, através das


representações de cada uma das partes em seu contexto. Nunca se pode dizer

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que “as verdades” estabelecidas não podem ser negociadas. O que se negociam

são as representações relativas a essa verdade.


A escola nem sempre optou pelo método dialético no processo de ensino. Na

verdade, as teses dos alunos eram simplesmente ignorados pelo professor, pois
este tinha a verdade, que seria transmitida ao aluno que tinha a obrigação de

aprendê-la e depois repeti-la numa prova exatamente como havia sido ensinada.
Sabemos, que quando o professor não usa uma metodologia dialética, o que

pode ocorrer é o fenômeno da justaposição.


3...gerentes de informações e não meros acumuladores de dados

Acumular informações é tarefa do computador. Os computadores superam os


seres humanos em dois aspectos principais: na capacidade cada vez maior de

acumular dados e disponibilizá-los com rapidez e fidelidade; na rapidez cada vez


maior de executar as tarefas programadas para relacionar os dados. Mas isso é

um trabalho braçal, um trabalho de máquina, um trabalho que não exige o pensar


e sim o executar.

Por essa razão, a função do sujeito é muito mais no sentido de ser o gerente
desses dados. Quais seriam as funções do gerente? A ele cabe detectar uma

situação-problema, analisá-la e tomar uma decisão em busca de uma solução.


Nessa sua tarefa o gerente aborda sempre os aspectos técnicos, os sociais, os

políticos e os éticos.
É nesse sentido que enfocamos o papel da escola hoje e que se diferencia do

papel da escola de há alguns anos.


O papel dos conteúdos

Há escolas que privilegiam conteúdos e são chamadas “tradicionais” e outras que


reduzindo-os, quantitativamente, ao mínimo, priorizam “ o fazer” dos alunos.

A educação para competências nos parece buscar a síntese nessa controvérsia,


uma vez que o novo foco não está nos conteúdos e nem nos recursos para

12
alcançá-los. O objetivo da nova proposta para o ensino é desenvolver a

capacidade do sujeito para abordar situações complexas.


Conteúdos factuais e conceituais

Por conteúdos factuais compreendemos os conhecimentos relativos a fatos,


acontecimentos, situações, fenômenos socialmente construídos e diretamente

observáveis etc. A importância dos conteúdos factuais está na constituição do


contexto em que uma situação complexa será abordada.

Por conteúdos conceituais entendemos aqueles que constituem o conjunto de


conceitos e definições relacionados aos saberes socialmente construídos.

Os conteúdos factuais e conceituais são fundamentais no processo da construção


de representações significativas pelos alunos, desde que sejam estudados

contextualizados e sua relevância reconhecida tanto por quem ensina como por
quem aprende.

Conteúdos procedimentais
Antoni ZABALA (1998) apresenta com bastante clareza o que se entende por

conteúdos procedimentais:
“Um conteúdo procedimental - que inclui entre outras coisas as regras, as técnicas,

os métodos, as destrezas ou habilidades, as estratégias, os procedimentos - é um


conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a realização

de um objetivo. São conteúdos procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular,


classificar, traduzir, recortar, saltar, espetar etc.” (p.43)

Conteúdos atitudinais
A escola forma para a vida e para a vivência plena da cidadania. Nessa afirmação

está embutida a idéia de formação para os valores, como o respeito, a


solidariedade, a responsabilidade, a honestidade, etc. Os Parâmetros Curriculares

Nacionais propõem os temas transversais como elementos que objetivam a


formação para a cidadania. Esse objetivo é assim expresso:

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“Compreender a cidadania como participação social, assim como exercício de

direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-dia-dia, atitudes de


solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo

para si o mesmo respeito” (p. 7)


Eficácia e eficiência na avaliação da aprendizagem

No contexto deste trabalho, a avaliação é eficaz quando o objetivo proposto pelo


professor foi alcançado. Por exemplo, se o professor traçou como objetivo os

alunos nomearem todos os afluentes da margem direita do rio Amazonas, ou


classificar todas as orações subordinadas adverbiais reduzidas e o aluno foi capaz

de cumprir a determinação, pode-se afirmar que a avaliação foi eficaz, pois ela
atingiu o objetivo proposto. No entanto, a eficiência foi pouca se considerarmos

que estes conhecimentos não são relevantes no contexto dos alunos e o processo
de aprendizagem não foi racional, pois aprenderam “de cor” e/ou de forma

isolada.
Algumas características das provas na linha tradicional

a) Exploração exagerada da memorização. Exemplo - os famosos “questionários”


b) Falta de parâmetros para a correção. Esta é uma característica que deixa o

aluno na mão do professor. Com a falta de definição de critérios para a correção


vale o que o professor queria que o aluno tivesse respondido. A frase mais

comum diante desse tipo de questão: Professor, o que você quer mesmo nessa
questão? Veja que ele não diz: O que diz a questão 5.

c) Utilização de palavras de comando sem precisão de sentido no contexto. Não


há parâmetros

A título de exemplo, vamos analisar uma questão de uma prova


Questão

Como é a organização das abelhas numa colméia?


Respostas

É jóia!; É maravilhosa!; É fantástica! Etc


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Comentários:

Pelo comando da questão - Como - todas as respostas estão corretas. Sabe-se


que, certamente, não era isso que o professor queria, pois ele pensa na explicação

dada em aula e tem certeza de que o aluno “sabe o que ele quer como resposta”, e
é isso que irá exigir na correção.

Outra forma de perguntar:


• Vimos, em nossas aulas de ciências, como é maravilhosa a organização das

abelhas numa colméia, pois cada grupo de elementos da colméia tem uma
função específica, para que o todo funcione em harmonia. Partindo desta

idéia:
• Descreva a função de, ao menos, quatro grupos de elementos da colméia;

• Apresente, por escrito, um paralelo entre o funcionamento da colméia e o


de nossa escola, no tocante ao cumprimento das funções de cada um.

Características das provas na perspectiva construtivista


a) Contextualização

O texto deve servir de contexto e não de pretexto. Para melhor compreender o


assunto examinemos algumas questões mal contextualizadas e outras com um

bom contexto.
Questão

Tragédia mutila Lars Grael ( A Gazeta, 07 de setembro de 1998)


Carlos Lima:“Não acho que eu mereça ser punido. Não me sinto culpado, foi uma

fatalidade”. (A Gazeta, 10 de setembro de 1998)


O empresário Carlos Guilherme de Abreu e Lima, 29 anos, que domingo abalroou

o barco onde estava Lars Grael, disse ontem não ter visto o Tornado a tempo de
desviar. (Folha de São Paulo, 10 de setembro de 1998)

Exame de piloto revela embriaguez.


O exame etílico de Carlos G. Lima..., revelou estado de “embriaguez com ressalva”

no dia do acidente.
15
O exame etílico consiste na determinação do teor de álcool etílico (etanol)

encontrado no sangue.
Quantos carbonos, hidrogênios e oxigênios são, respectivamente, encontrados em

uma molécula de etanol?


a) 2, 5, 2

b) 2, 5, 1
c) 3, 6, 1

d) 3, 6, 2
Comentário

As “chamadas” dos jornais constituem um ótimo contexto para orientar a reflexão


do aluno. A exploração da questão foi pobre. O que poderia ter sido explorado

era a incompatibilidade entre bebida alcoólica e o volante. Poderia ter solicitado


ao aluno uma opinião pessoal sobre a culpabilidade, ou não, de Carlos Lima, etc.

se o objetivo do professor era só avaliar conhecimentos específicos de química,


não havia necessidade nenhuma do contexto.

b) Parametrização - A parametrização é a indicação clara e precisa dos critérios de


correção. Por exemplo, “Disserte sobre ditaduras e democracias” é uma questão

sem parâmetros para correção, enquanto “Escreva quatro substantivos próprios


que iniciam com vogal” é um exemplo de questão parametrizada.

c) Exploração da capacidade de leitura e escrita do aluno. Exemplo: na questão


sobre o acidente do Lars Grael, o texto apresentava-se propício à formulação de

questões que obrigassem o aluno ler, mas a capacidade de leitura e escrita do


aluno não foi explorada, ele nem precisaria ler o texto para responder à pergunta

formulada.
d) Proposições de questões operatórias e não apenas transcritórias

Quando o professor propõe questões cujas respostas são transcritas “ao pé da


letra” do texto, ou do caderno, para a folha da prova. Exemplo: A área da

superfície da Terra é cerca de ............km2.


16
Concluindo, vimos que o conceito de competência trata da capacidade do sujeito

de abordar situações complexas e preparar a avaliação é uma das muitas


situações complexas que o professor aborda em sua missão de educador,

principalmente num momento em que a escola passa por uma transformação.


Portanto, colega, vamos transformar a prova “num momento privilegiado de

estudo e não um acerto de contas” como nos aconselha Vasco Pedro Moretto em
seus livros citados abaixo.

Referência Bibliográfica
Moretto, Vasco Pedro. Prova - um momento privilegiado de estudo - não um

acerto de contas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001


Moretto, Vasco Pedro, Construtivismo a produção do conhecimento em aula. Rio

de Janeiro: DP&A, 2000 2ª edição.

Disponível em:
http://www.fundacaoromi.org.br/fundacao/nei/projetos.php?p=enc_educ&id_sub

=14

17
UNIDADE 02 - CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Propiciar a compreensão e reflexão dos aspectos teóricos referentes à


organização e contextualização do referencial curricular para o Ensino

Fundamental.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Vejamos, primeiramente, algumas concepções sobre a avaliação na

Educação e Ensino.

A avaliação atravessa o ato de planejar e de executar; por isso,


contribui em todo o percurso da ação planificada. A avaliação se
faz presente não só na identificação da perspectiva político social,
como também na seleção de meios alternativos e na execução do
projeto, tendo em vista a sua construção. (...) A avaliação é uma
ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de
seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da
melhor forma possível (LUCKESI, 2002, p.118).

Segundo Andrighitto e Richter (2009), a maneira como a educação e o


ensino abrangem a avaliação, nos dias de hoje, vem de um processo iniciado na

década de 1940, com as devidas contribuições aos estudos de Ralph W. Tyler, cujo
princípio é que educar consiste em transformar padrões antigos ou criar novos

padrões de comportamentos, sendo que o currículo passa a ser composto por


especificação de habilidades desejáveis expressadas em objetivos a serem

atingidos. Assim avaliação:

(...) consiste essencialmente em determinar se os objetivos


educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa

18
do currículo e do ensino como os objetivos visados constituem
em produzir certas modificações desejáveis nos padrões de
comportamento do estudante, avaliação é o processo mediante o
qual determina-se o grau em que essas mudanças de
comportamento estão realmente ocorrendo (Tyler, 1975,p. 99).

Percebe-se que a ideia acima apresentada tem como enfoque o aspecto


funcional da avaliação, realizada em função dos objetivos previstos, como exigia a

metodologia da época, pois, nesse período, o sistema escolar era tido como
principal responsável pela baixa qualidade de profissionais, pelo despreparo das

políticas públicas ofertadas e pela má distribuição da renda.


Já para Stufflebeam (1987):

(...) avaliar é o processo de delinear, obter e proporcionar


informações úteis para o julgamento de decisões alternativas, e
também:“ avaliar se refere a qualquer processo por meio do qual
alguma ou várias características de um aluno/a, de um grupo de
estudantes, de um ambiente educativo, de objetivos educativos,
de materiais, professores/as, programas, etc., recebem a atenção
de quem avalia, analisam-se e valorizam-se suas características e
condições em função de alguns critérios ou pontos de referência
para emitir um julgamento que seja relevante para a educação
(STUFFLEBEAM, 1987, p.19).

A prática pedagógica da avaliação da aprendizagem, visando à melhoria


do processo educacional, é uma condição para que a educação e o ensino se

tornem, realmente, uma educação democrática, possibilitando a todos a


compreensão e visualização do desempenho e qualidade da Educação e do

ensino ofertados para futura melhoria em sua qualidade.


A análise sobre o sistema de avaliação, com o objetivo de compreender as

práticas avaliativas, a partir da concepção de sociedade, de educação, de escola e


de aluno, leva à discussão e à reflexão que apontam as possibilidades de um

19
afastamento essencial, permitindo olhar de longe e focalizar, criticamente, as

práticas que vêm sendo desenvolvidas; fortalecer as que são significativas e


produtivas e reorientar aquelas que ajudam realmente o aluno a aprender e o

professor a ensinar, pois,

[...] avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem.


Todavia, não se realiza aprendizagem qualitativa, sem avaliar.
Quando se combate o tom classificatório,[...] pretende-se, no
fundo, superar abusos da avaliação, no que estamos todos de
acordo, mas não se poderia retirar daí que avaliação, de si, não é
fenômeno classificatório. Será mister distinguir acuradamente
entre abusos da classificação,de teor repressivo, humilhante e
punitivo, e efeitos classificatórios implicados em qualquer
processo avaliativo, também quando dito qualitativo (LUCKESI,
2002, p.23).

BUSCANDO CONHECIMENTO

Entrevista com Cipriano Carlos Luckesi


Provas e exames, segundo o educador, são apenas instrumentos de classificação e

seleção, que não contribuem para a qualidade


do aprendizado nem para o acesso de todos ao

sistema de ensino. Márcio


Ferrari ([email protected])

CIPRIANO LUCKESI "Proponho que as escolas

invistam em uma práticapedagógica


construtiva e paralelamentetreinem para o

vestibular"

20
Cipriano Carlos Luckesi é um dos nomes de referência em avaliação da

aprendizagem escolar, assunto no qual se especializou ao longo de quatro


décadas. Nessa trajetória, que começou pelo conhecimento técnico dos

instrumentos de medição de aproveitamento, o educador avançou para o


aprofundamento das questões teóricas, chegando à seguinte definição de

avaliação escolar: "Um juízo de qualidade sobre dados relevantes para uma
tomada de decisão". Portanto, segundo essa concepção, não há avaliação se ela

não trouxer um diagnóstico que contribua para melhorar a aprendizagem.


Atingido esse ponto, Luckesi passou a estudar as implicações políticas da

avaliação, suas relações com o planejamento e a prática de ensino e, finalmente,


seus aspectos psicológicos. As conclusões do professor paulista, que vive desde

1970 em Salvador, apontam para a superação de toda uma cultura escolar que
ainda relaciona avaliação com exames e reprovação. "Estamos trilhando um novo

caminho, que precisa de tempo para ser sedimentado", diz. Luckesi, que é
professor aposentado, orientador de pós-graduandos e integrante do Grupo de

Pesquisa em Educação e Ludicidade da Universidade Federal da Bahia, concedeu


a seguinte entrevista a NOVA ESCOLA.

Como é feita, hoje, a avaliação de aprendizagem escolar?


A maioria das escolas promove exames, que não são uma prática de avaliação. O

ato de examinar é classificatório e seletivo. A avaliação, ao contrário, diagnóstica e


inclusiva. Hoje aplicamos instrumentos de qualidade duvidosa: corrigimos provas

e contamos os pontos para concluir se o aluno será aprovado ou reprovado. O


processo foi concebido para que alguns estudantes sejam incluídos e outros,

excluídos. Do ponto de vista político-pedagógico, é uma tradição antidemocrática


e autoritária, porque centrada na pessoa do professor e no sistema de ensino, não

em quem aprende.
Que métodos devem ser usados?

A avaliação é constituída de instrumentos de diagnóstico, que levam a uma


21
intervenção visando à melhoria da aprendizagem. Se ela for obtida, o estudante

será sempre aprovado, por ter adquirido os conhecimentos e habilidades


necessários. A avaliação é inclusiva porque o estudante vai ser ajudado a dar um

passo à frente. Essa concepção político-pedagógica é para todos os alunos e por


outro lado é um ato dialógico, que implica necessariamente uma negociação

entre o professor e o estudante.


Por que se insiste na aplicação de provas e exames?

Nós, educadores do início do século 21, somos herdeiros do século 17. O modelo
atual foi sistematizado na época da emergência da burguesia e da sociedade

moderna. Se analisarmos documentos daquele tempo, como o Ratio Studiorum,


dos padres da ordem dos jesuítas, ou a Didactica Magna, do educador tcheco

Comênio, veremos que o modelo classificatório que praticamos hoje foi


concebido ali. Muitos outros educadores propuseram coisas diferentes desde

então, mas nenhuma dessas pedagogias conseguiu ter a vigência da pedagogia


tradicional, que responde a um modelo seletivo e excludente. Existem também

razões psicológicas para a insistência nos velhos métodos de avaliação: o


professor é muito examinado durante sua vida de estudante e, ao se tornar

profissional, tende a repetir esse comportamento.


Existe alguma justificativa pedagógica para o recurso da reprovação?

Do ponto de vista pedagógico, de fato, não existe nenhuma razão cabível. A


reprovação é um fenômeno que, historicamente, tem a ver com a ideologia de

que, se o estudante não aprende, isso se dá exclusivamente por responsabilidade


dele. As frases reveladoras são aquelas do gênero "eles não querem mais nada",

"não estudam", "não têm interesse" etc. Muitas outras razões, além do próprio
aluno, podem conduzir ao fracasso escolar, como as políticas públicas que

investem pouco no professor e no ensino, com baixos salários e problemas de


infra-estrutura. O recurso da reprovação não existe em sistemas escolares de

países que efetivamente investem na qualidade da aprendizagem.


22
O que revelam os altos índices de reprovação, sobretudo na 1ª série?

Há aspectos internos e externos à escola. Os externos são a escassez de recursos


e as más condições de ensino. Os fatores internos dizem respeito à relação

professor-aluno. O professor ensina uma coisa, o estudante entende outra; ensina


de uma forma e solicita que seja colocada em prática de outra; ou não usa

atividades inseridas no contexto do aluno. Por exemplo: nas séries iniciais, o


programa prevê o aprendizado de números múltiplos. Então pergunta-se no

teste: "Quais os números menores de 200 múltiplos de 4 e de 6?" A parte que fala
em "menores de 200" só está lá para confundir o aluno e complicar a questão.

Muitas crianças são reprovadas porque o instrumento de avaliação é malfeito e as


conduz ao erro.

Por que tanta repetência na fase de alfabetização?


Existem estudos estatísticos mostrando que o tempo médio de alfabetização no

Brasil é de 22 meses. Em algumas regiões, alfabetiza-se em seis meses; em outras,


demora-se três anos. Por isso se estabeleceram os ciclos de aprendizagem. Mas

não se investiu na qualidade. Se houvesse esse investimento, um ano de


alfabetização seria suficiente. Aqui na cidade de Salvador há um projeto em que

são atendidos meninos que não conseguiram aprender a ler e escrever em até
seis anos. Com uma abordagem correta, alfabetizaram-se em seis meses. Eu

tenho certeza de que qualquer criança com 6 anos e meio ou 7 se alfabetiza em


um ano.

Até que ponto o sistema de vestibular determina as avaliações escolares hoje?


Vestibular não tem a ver com educação, mas com a incapacidade do poder

público de fornecer ensino universitário para quem quer estudar. Agora, todo o
ensino, desde o Fundamental, está comprometido com o vestibular. É por isso

que é tão comum a adoção de testes que não medem o aprendizado, mas
treinam para responder perguntas capciosas. Eu proponho que as escolas

invistam em uma prática pedagógica construtiva e paralelamente treinem para o


23
vestibular, com simulados como os feitos pelos cursinhos. Já existem escolas no

Brasil que investem na qualidade de ensino e ao mesmo tempo conseguem


colocar mais de 90% dos seus estudantes na faculdade, sem necessidade de

cursinho.
O que é preciso para planejar a avaliação de um determinado período letivo?

O currículo escolar estabelece conteúdos para cada nível. É um parâmetro que


tem de ser conhecido. Depois é essencial o planejamento de ensino, que

direciona a prática pedagógica. Vamos supor que eu vá ensinar adição. Vou


trabalhar o raciocínio aditivo, fórmulas de adição, propriedades, solução de

problemas simples e solução de problemas complexos. Esse é o panorama que irá


assegurar a prática de avaliação. Se o estudante tem o raciocínio, mas dificuldade

de operar, preciso treinar essa fase. Um planejamento didático consciente prevê a


elaboração de instrumentos e a correção deles quando ela for necessária para a

reorientação do curso do aprendizado.


De que forma a preparação do currículo influi nesse processo?

O currículo tem de distinguir e prever o que é essencial. O que for ampliação


cultural deve ser abordado apenas se houver tempo. Muitas vezes o que ocorre é

uma distorção: tomar o livro didático como roteiro de aulas e considerar essencial
o que está ali como ilustração, curiosidade, entretenimento.

O uso de notas e conceitos pode servir a um projeto de avaliação eficaz?


Notas ou conceitos têm por objetivo registrar os resultados da aprendizagem do

aluno por uma determinada escola. Eles expressam o testemunho do educador ou


da educadora de que aquele estudante foi acompanhado por ele ou ela na

disciplina sob sua responsabilidade. O registro é necessário. Afinal, nossa memória


viva não é capaz de reter tantos dados relativos a um estudante, quanto mais de

muitos, e por anos a fio. O que ocorreu historicamente é que notas ou conceitos
passaram a ser a própria avaliação, o que é uma distorção. Se os registros tiverem

por objetivo observar o processo de aprendizagem de cada aluno e sua


24
conseqüente reorientação, eles subsidiam uma avaliação formativa. Mas não se

esses registros representarem apenas classificações sucessivas do estudante.


Como avaliar o modo particular como cada um aprende? É possível um

atendimento tão individualizado?


Existe uma fantasia de que, quando se fala de uma avaliação eficiente, estamos

nos referindo ao atendimento de três ou quatro estudantes por vez. Mas os


instrumentos de coleta de dados ampliam a capacidade de observar do professor.

Se eu aplico uma avaliação para 40 alunos, não há mudança do ponto de vista da


qualidade. Cada um vai manifestar sua aprendizagem por meio do instrumento

escolhido. Avaliação não precisa ser por observação direta, mas por instrumentos
como teste, questionário, redação, monografia, participação em uma tarefa,

diálogo. Em uma classe numerosa, não posso usar entrevistas de meia hora para
cada aluno. Vou produzir questionários de perguntas fechadas e trabalhar mais de

perto com quem não tiver um desempenho satisfatório.


Quais são as vantagens e desvantagens dos trabalhos em grupo?

Se a intenção do professor é fazer um diagnóstico do desempenho de cada um, o


trabalho em grupo não vai ajudar muito, porque só avalia o conjunto. Ele é mais

útil como atividade de aprendizagem ou construção de tarefa. Por outro lado, o


trabalho em grupo favorece o crescimento do indivíduo entre seus pares.

Avaliação envolve um alto grau de subjetividade. Como evitar ou atenuar isso?


Há dois aspectos a considerar. Um é que o professor precisa estar honestamente

comprometido com o que acredita, e isso é uma atitude subjetiva, não tem jeito.
Outro aspecto é psicológico e exige autotrabalho para não deixar que questões

pessoais interfiram nas profissionais. Evitar a subjetividade, nesse sentido, tem a


ver com cuidar de si mesmo e do cumprimento de seus compromissos.

Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/cipriano-carlos-luckesi-

424733.shtml
25
UNIDADE 03 - A AVALIAÇÃO NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Conhecer o conceito de avaliação apresentado nos parâmetros curriculares


Nacionais

ESTUDANDO E REFLETINDO

Segundo a Introdução dos Parâmetros


Curriculares Nacionais - PCNs (2000) para o

Ensino Fundamental, a concepção de avaliação


está além da visão tradicional, que defende o

controle externo do aluno, mediante notas ou


conceitos para ser compreendida como parte

integrante e intrínseca ao processo educacional.


A avaliação, ao não se restringir a

julgamentos sobre sucessos ou fracassos do


aluno, é compreendida como um conjunto de

atuações que possui a função de sustentar e orientar a intervenção pedagógica.


Ocorre contínua e sistematicamente, por meio da interpretação qualitativa do

conhecimento construído pelo aluno, possibilitando conhecer o quanto este se


aproxima ou não da expectativa de aprendizagem que o professor tem em

determinados momentos da escolaridade, em função da intervenção pedagógica


realizada. Portanto, a avaliação das aprendizagens só pode acontecer se for

relacionada com oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das


situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos

desafios que estão em condições de enfrentar.


A avaliação, ainda, subsidia o docente com elementos para uma reflexão

contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e


26
a retomada de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como

adequados para o processo de aprendizagem individual e ou de todo grupo. Para


o aluno, é o instrumento de tomada de consciência de suas conquistas,

dificuldades para reorganizar o seu investimento na tarefa de aprender.


Para a escola, possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das

ações educacionais demandam maior apoio e, nessa perspectiva, como, em todas


as suas dimensões de avaliar. Nesse sentido, requer que ação avaliativa ocorra

sistematicamente durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não


somente após o fechamento de etapas do trabalho, como é o habitual. Isso

possibilita ajustes constantes, num mecanismo e regulação do processo de ensino


e aprendizagem que efetivamente contribui para a tarefa educativa, rumo ao

sucesso.

BUSCANDO CONHECIMENTO
Afinal, o que o aluno deve aprender?

A resposta à principal pergunta “o que o aluno deve aprender” é


aquela que norteia toda a avaliação e envolve grande se
intermináveis discussões. Apesar disso, a resposta é simples: os
alunos precisam desenvolver conhecimentos e habilidades que os
capacitem a viver em sociedade, da forma mais plena possível.
Esse desenvolvimento implica a possibilidade de a escola
contribuir com a construção da autonomia de seus alunos para
ser e conviver em uma sociedade fundada nos princípios dos
direitos humanos. A relevância e a pertinência da aprendizagem
de conteúdos da educação para a formação do cidadão devem
estar claramente definidas na organização curricular, proposta a
todas as escolas. O sistema de ensino precisa assumir a indicação
de elementos básicos para que suas escolas possam promover
uma qualidade de educação que atenda aos objetivos sociais
(Matrizes de referência para avaliação do rendimento escolar da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, 2007, p.15).

27
O acompanhamento e a reorganização do processo de ensino e

aprendizagem na escola incluem, necessariamente, a avaliação inicial, conhecida


como diagnóstica e ou investigativa, para o planejamento do professor e uma

avaliação ao final de uma determinada etapa de trabalho.


A avaliação investigativa, segundo o PCNs (2000), instrumentalizará o

professor para que este possa colocar em prática seu planejamento de forma
adequada às características de seus alunos.

Esse é o momento em que o professor toma ciência sobre o que o aluno já


sabe sobre determinado conteúdo para, a partir desta, estruturar sua prorrogação,

definindo os conteúdos e o nível de profundidade em que devem ser abordados.


A avaliação inicial tem como objetivo oferecer ao professor informações

necessárias para propor atividades e gerar novos conhecimentos, assim como


para o aluno tomar consciência do que já sabe e do que pode ainda aprender

sobre determinado conjunto de conteúdos.


É importante ressaltar que a avaliação inicial não implica a instauração de

um longo período de diagnóstico, que acabe por se destacar do processo de


aprendizagem que está em curso, impedindo que o professor avance em suas

propostas, perdendo o escasso e precioso tempo escolar de que dispõe. Pode ser
realizada no interior mesmo de um processo de ensino e aprendizagem, já que os

alunos colocam, inevitavelmente, em jogo seus conhecimentos prévios, ao


enfrentar qualquer situação didática.

Ao tentar ver o aluno como um todo, corre-se o risco de avaliar da mesma


forma tudo o que ele apresenta. Quando observamos atentamente o caminho

percorrido pelo aluno e o produto por ele realizado, observamos, também, suas
atitudes e comportamentos: participação, interesse, iniciativa, autonomia,

facilidade para trabalhar em grupo e, assim, surgem as questões:

28
Essas manifestações devem ser avaliadas?

Será que a melhor forma de avaliá-las é com

notas?
Até que ponto a avaliação formal desses

aspectos não se transforma em “controle”?

Debater entre os seus pares no “Fórum de debates”

O fato de considerar todos os aspectos do desempenho do aluno não


implica a necessidade de avaliá-los formalmente, nem contabilizá-los através de

notas. A avaliação de atitudes está sujeita a um alto grau de subjetividade por

parte do docente.
A atribuição de notas, além de não ajudar os alunos a desenvolver atitudes

adequadas, acaba servindo apenas para controle de comportamento. Melhor do


que atribuir nota é apresentar retorno ao aluno sobre a conveniência ou não de

suas atitudes e ajudá-lo a desenvolver novos comportamentos mais favoráveis a


sua aprendizagem e a sua participação no grupo.

29
UNIDADE 04 - AS PROVAS COMO INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Analisar as provas como instrumentos de avaliação nas suas potencialidades e


limites formativos

ESTUDANDO E REFLETINDO

As provas são compatíveis com outras formas de avaliação, desde que se


tenha clareza de seus limites:

 Seus resultados não devem ser utilizados


como único indicador de empenho escolar.

Em geral, as provas mostram somente o


que as crianças sabem sobre uma pequena

amostra de um universo de possibilidades;


 Seus resultados não devem ter valor

absoluto, já que sua elaboração e correção


têm certo grau de subjetividade. Além disso, os resultados obtidos pelo aluno

podem estar relacionados a outros fatores, que nada têm a ver com a maior ou
menor apropriação dos conhecimentos testados e analisados: falta de

familiaridade com a linguagem, contexto imediato da aplicação, tempo


insuficiente, dentre outros fatores.

Não se pode esquecer de que o retorno para os alunos, sobre os


resultados corretos ou esperados, faz parte da prova: cada aluno necessita tomar

ciência do que acertou e errou, o porquê e quais as providências que devem ser
tomadas para promover melhorias no resultado e aquisição do conhecimento.

A correção pode ser realizada, a partir da problematização e discussão das


repostas, as incompletas, as incompreensíveis, as que mostram que o aluno não

compreendeu o que foi solicitado, as que reproduzem “fielmente” os assuntos


30
tratados, as que mostram que não havia uma única resposta possível, dentre

outras possibilidades. As formas de correção, os critérios, a atribuição de valores,


também devem ser discutidos com a classe.

Tomando determinados cuidados, as provas podem compor, com outros


instrumentos, um conjunto coerente de práticas de avaliação. É vital considerar a

avaliação como um processo interativo, por meio do qual educadores e


educandos aprendem sobre si mesmos. A reflexão sobre o desempenho é mais

rica quando realizada por todos os envolvidos: o professor, o próprio aluno e o


grupo-classe.

O processo também contempla a observação (outro instrumento para


auxiliar na avaliação) dos avanços e da qualidade de aprendizagem alcançada

pelos alunos ao final de um período de trabalho, seja este determinado pelo fim
de um bimestre, ou de um ano, seja pelo encerramento de um projeto ou

sequência didática.
Na realidade, a avaliação contínua do processo acaba por subsidiar a

avaliação final, isto é, se o docente acompanha o aluno sistematicamente ao


longo do processo pode saber, em determinados momentos, o que o aluno já

aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Tais momentos, por outro lado, são
importantes por se constituírem boas situações para que alunos e docentes

formalizem o que foi aprendido.

Um sistema educacional comprometido com o desenvolvimento


das capacidades dos alunos, que se expressam pela qualidade as
relações que estabelecem e pela profundidade dos saberes
constituídos, encontra, na avaliação, uma referência à análise de
seus propósitos, que lhe permite redimensionar investimentos, a
fim de que os alunos aprendam cada vez mais e melhor e atinjam
os objetivos propostos (PCN, 2000, p.83).

31
BUSCANDO CONHECIMENTO

Como elaborar provas que ajudam na aprendizagem

Uma reunião de formação vai ajudar os professores a elaborar exames cada vez
mais eficientes para a avaliação dos alunos

Cinthia Rodrigues

Temida pelos alunos e questionada quanto aos resultados, a prova deixou de ser
o único instrumento de avaliação usado pelo professor. Hoje, ele dispõe de outras

ferramentas para verificar o conhecimento da turma. Contudo, isso não significa


que a prova deva ser banida das salas de aula. Quando elaborada com precisão,

pode ser uma ótima aliada para produzir um bom diagnóstico do que a turma
aprendeu. O resultado de uma prova vai servir de parâmetro para que o professor

aprimore seu planejamento e seu trabalho em sala de aula. Para que seja
eficiente, porém, ela precisa ser preparada com cuidado e o coordenador

pedagógico pode ajudar muito a equipe (veja os pontos que devem ser levados em
consideração na elaboração de uma prova nos infográficos do último quadro).

"Apesar da necessidade de tornar a avaliação contínua e diversificada, a simples

observação do professor nunca é suficientemente profunda e individualizada em


uma classe com dezenas de estudantes. A avaliação por escrito, portanto, sempre

terá sua importância", afirma Jussara Hoffmann, autora de livros sobre o tema e
uma das críticas dos testes feitos apenas para atribuir um conceito aos alunos.

Jussara propõe o uso de questões cujas respostas indiquem o que cada um


aprendeu e, com isso, ajudem o professor a melhorar as aulas. Cabe ao gestor

responsável pela formação permanente - em geral, o coordenador pedagógico -


32
fazer reuniões para discutir os critérios de elaboração (leia mais no quadro

abaixo).
Pauta da reunião

Oficina de prova
- Marque com os professores um encontro de formação para falar sobre os

métodos de avaliação e o papel da prova escrita. Para que haja exemplos, peça ao
grupo um exame elaborado com base no caderno de um aluno.

- Inicie falando sobre a importância de elaborar questões específicas para cada


turma e baseadas nas práticas desenvolvidas em classe.

Peça que os professores troquem entre si as provas e os materiais usados para


elaboração.

- Os educadores devem ler os exames e analisar se entenderam o enunciado e se


as questões coincidem em forma e conteúdo com as encontradas nos cadernos.

- Pergunte: as atividades são parecidas com as realizadas pelos alunos? As


perguntas se justificam diante do que o professor quer saber? As questões estão

claras? Há espaço para as respostas? As orientações estão adequadas?


- Cada educador devolve a prova ao colega que a elaborou com observações e

sugestões de pontos a melhorar.


- Proponha a reformulação das provas atendendo às solicitações do colega.

- Por fim, peça que os participantes troquem novamente as produções e debatam


se a nova versão resulta em um diagnóstico mais preciso do que os alunos

aprenderam.

Consultoria: Priscila Monteiro, coordenadora da formação em Matemática da


prefeitura de São Caetano do Sul, SP, e formadora do projeto Matemática É D+,

da Fundação Victor Civita.


Questões devem ter familiaridade com as atividades desenvolvidas nas aulas

33
O principal problema destacado por especialistas é a falta de conexão entre as

provas e o dia a dia da sala de aula. "As práticas pedagógicas estão mais
diversificadas. Contudo, na hora de avaliar, os professores dão para o aluno uma

folha com questões que não têm nenhuma relação com as atividades que ele está
habituado a fazer", afirma Jussara .

O correto é tomar como base não apenas o conteúdo ensinado em sala mas

também a forma como ele foi apresentado. Se uma turma trabalhou em duplas
nas aulas e explorou as possibilidades de respostas de forma colaborativa, por

exemplo, o mesmo método pode ser adotado no exame. "Não há motivo para
fazer da prova uma surpresa para o grupo", afirma Beatriz Cortese, formadora do

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária


(Cenpec), de São Paulo. Para ela, a melhor maneira de conferir se há a ligação

entre o cotidiano da classe e as solicitações da prova é compará-la com as


anotações nos cadernos.

Além de fazer a formação da equipe docente, debatendo as diversas estratégias

possíveis para preparar uma boa prova, o coordenador pode avaliar uma cópia do
exame antes de ele ser dado aos alunos, observando se as atividades conferem

com o que foi ensinado. É interessante notar também a linguagem utilizada. O


enunciado das perguntas explicita claramente o que os estudantes precisam

fazer? Pegadinhas ou enigmas são inúteis, pois a equipe não terá condições de
avaliar se o estudante não sabia o conteúdo ou se não entendeu o que foi pedido.

Lea Depresbiteris, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo,

destaca também a importância de entregar aos estudantes provas que não sejam
muito fáceis nem difíceis demais. "O nível do desafio não deve ser nem tão alto

que frustre o aluno, nem tão baixo que o torne desmotivado", explica. O ideal é
34
que o exame não seja muito extenso porque a capacidade de concentração dos

menores - principalmente nos primeiros anos do Ensino Fundamental - ainda está


em desenvolvimento. "Aos 9 ou 10 anos, a criança costuma manter o interesse e a

concentração em uma só atividade por cerca de uma hora", afirma Lea. Para evitar
o cansaço, oriente os professores a mesclar perguntas objetivas e dissertativas e a

pedir que todos leiam as questões no início. Os mais ansiosos certamente


começarão pelas mais simples, e os que se cansam rapidamente, por sua vez,

poderão responder antes as mais complexas. [...]

Disponível em: http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/como-elaborar-


provas-ajudam-aprendizagem-avaliacao-teste-exame-539183.shtml

35
UNIDADE 05 - A AVALIAÇÃO MEDIADORA

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Propiciar condições para que o acadêmico possa:


Ter contato com diferentes visões sobre “Avaliação e a construção do

conhecimento”, através de pesquisas e estudos na área.


Perceber que a avaliação é um instrumento de grande relevância para a

contribuição da construção do conhecimento no processo de ensino


aprendizagem.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A avaliação, como promotora da construção do conhecimento, está


voltada para uma relação construtiva entre docente, saber e aluno de forma

dinâmica e dialógica frente ao processo de ensino aprendizagem. No entanto, a


forma como cada profissional, sistema, gestores e educação estão articulados ao

interesse de políticas públicas e influenciados pelos fatores histórico, social e


cultural de cada época vai moldando diferentes concepções de Homem, mundo,

aprendizagem, educação, escola, metodologia e avaliação. Não se pode falar em


avaliação sem contextualizá-la. Vejamos mais adiante essa questão.

Segundo a pesquisadora em avaliação


educacional, Jussara Hoffmam (1991), a avaliação é

colaboradora e parceira na construção do


conhecimento, desenvolvendo a ideia de avaliação

mediadora: que encoraja a reorganização do saber


onde o professor e o aluno buscam coordenar seus

pontos de vista, trocando ideias, reorganizando-as.

36
Tal referencial: avaliação mediadora se opõe ao paradigma sentencioso e

classificatório. Opõe-se ao modelo do transmitir, verificar, regular e evolui no


sentido de uma ação avaliativa reflexiva e desafiadora dos educadores em relação

a construir, elucidar, favorecer a troca de ideias entre e com seus alunos e


profissionais, em um movimento de superação do saber transmitido, á uma

produção de saber enriquecido, construído a partir da compreensão dos


fenômenos estudados.

O quadro a seguir apresenta as possíveis relações de investigação entre as


diferentes concepções sobre o aprender e o avaliar, bem como o entendimento

dos termos acompanhamento e diálogo a partir dessas concepções.

37
Fonte: Jussara Hoffmann. Avaliação Mediadora: Uma Relação Dialógica na

Construção do Conhecimento. Disponível em:


http://www.jurandirsantos.com.br/outros_artigos/ea_avaliacao_mediadora_uma_rel

acao_dialogica_na_construcao_do_conhecimento.pdf. Acesso em 20/03/2012.

BUSCANDO CONHECIMENTO.
Entrevista: Jussara Hoffmann

Por uma mudança efetiva da avaliação


Crítica da avaliação classificatória, a autora propõe que a aprendizagem seja o

objetivo da avaliação mediadora.


Por Luiza Oliva

[...]
Pode-se dizer que, atualmente, a avaliação é a maior preocupação dos

professores?
Posso dizer que acompanho essa preocupação das escolas e professores ao longo

de toda a minha vida de educadora. Hoje, como editora e diretora da Editora


Mediação, converso com educadores de várias áreas e leio em seus textos, sobre

outros temas, questões críticas nas escolas - reflexos da avaliação classificatória -


modelo que perdurou no último século. As dificuldades só aumentaram. O

número de alunos aumentou, porque se resolveram em parte (e mal resolvidos,


porque com aprendizagem mínima) os índices de reprovação. As escolas

empobreceram em termos de recursos humanos e materiais para atender a


demanda dos alunos. As famílias ficaram mais pobres, mais ocupadas, a vida em

sociedade mais violenta e agitada. Os professores tiveram de ser em número


muito maior para dar conta da população estudantil. Também os docentes

ficaram mais pobres, com salários piores, piores leitores, oriundos de cursos de
formação muito menos exigentes.

38
[...]

Qual deve ser o objetivo da avaliação hoje?

APRENDIZAGEM. APRENDIZAGEM. APRENDIZAGEM. A expressão MEDIADORA,


que utilizo desde 1991, tem por objetivo salientar a importância do papel do

professor no sentido de observar o aluno PARA MEDIAR, ou seja, para refletir


sobre as melhores estratégias pedagógicas possíveis que visem promover sua

aprendizagem. Avaliar não é observar se o aluno aprende. Esta resposta já se tem:


todos aprendem sempre, senão não estariam sequer vivos, pois enquanto se

respira, se aprende, se descobrem novas coisas sobre o mundo em que vivemos.


Entretanto, ninguém aprende apenas sozinho, aprende muito melhor com o

outro, em interação com seus pares e com desafios intelectuais significativos. O


melhor ambiente de aprendizagem é rico em oportunidades de convivência, de

diálogo, de desafios, de recursos de todas as ordens. Para cada aluno, entretanto,


não podem ser oferecidos os mesmos desafios, em tempos programados ou do

mesmo jeito. E aí entra o professor, o avaliador. Olhando cada um, investigando e


refletindo sobre o seu jeito de aprender, conversando, convivendo, organizando o

cenário dessa interação, fazendo a pergunta mais desafiadora possível, escutando


o silêncio, se for o caso. O professor MEDIADOR é o avaliador essencial. Cuidar

para que o aluno aprenda mais e melhor, todos os dias. Isso é avaliar.

[...]

Dentro do sistema tradicional, crianças que não atingem notas altas se sentem
diminuídas frente aos colegas. Esse dano à auto-estima das crianças pode ser

irreversível?
A comparação é injusta quando as oportunidades e a ajuda são desiguais. A

criança e o jovem costumam ser muito éticos. Eles sabem quando se


39
comprometeram ou não em realizar um trabalho de aula, uma leitura ou em

participar de uma atividade com todo o empenho que poderiam. Mas quando
entra arbitrariedade nesse julgamento, eles não aceitam. Os alunos são diferentes.

Portanto, é natural que alguns escrevam melhor, joguem melhor, desenhem


melhor que os outros. Mas não é tarefa da escola fazer tal julgamento. O papel do

professor é cuidar para que os que não escrevem tão bem sejam mais cuidados
do que aqueles que já escrevem bem. O que se faz, entretanto? Apenas se

enaltece a competição, divulgando notas e prêmios. Divulgam-se resultados


(avaliação classificatória) e nada se faz para oportunizar aos que precisam ajuda

para avançarem naquelas áreas. Com certeza, esses que não escrevem bem, por
exemplo, também são melhores em outros aspectos da escola ou da vida. Muitas

vezes são jovens que têm de trabalhar para sustentar a família, são ótimos
músicos, são excelentes jogadores de futebol. E a escola tende a desconsiderar

essas áreas como de menor valor. Não são! Trata-se de pessoas diferentes, só
isso! Nem piores, nem melhores, diferentes, especiais, todos. A comparação é

nociva em qualquer circunstância, porque sempre crianças e jovens sairão


perdendo com isso. Por que se entende ainda que alguns devem perder? Esse é o

preceito básico de uma sociedade excludente e elitista.

[...]

O que significa promover a avaliação contínua?


O termo continuidade significa seqüência, processo, gradação. O que vemos

muitas vezes nas escolas e que se denomina de “processo avaliativo”? Uma soma
de tarefas que resulta numa soma de notas ou conceitos. Ora, o conhecimento

não é linear e muito menos calculável - uma etapa que se soma à outra e da qual
se calcula um resultado.

40
Avaliar é interpretar um percurso de vida do aluno durante o qual ocorrem

mudanças em múltiplas dimensões. Avaliar é acompanhar para promover o


processo de construção do conhecimento do educando. Nessa frase,

relativamente curta, encontram-se expressões altamente complexas. Analisemos


algumas delas para entender avaliação contínua:

Acompanhar , segundo o dicionário Aurélio, quer dizer também vir-a-ser, não


apenas estar junto a ou ao lado de. Tomemos, então, o primeiro sentido –

acompanhar como favorecer o aluno em seu vir-a-ser– , de desenvolver-se. O que


sugere ao professor observá-lo, compreendê-lo, admirá-lo em seu jeito de ser e

de aprender.
Promover significa proporcionar, oferecer, propiciar diferentes oportunidades.

Nesse sentido, expressão promover difere de dirigir, predeterminar, controlar.


Significa organizar situações múltiplas de aprendizagem que contemplem a

diversidade das crianças e jovens de uma sala de aula.


Processo envolve transformação, evolução, algo que muda de forma e de jeito. O

termo subentende dois princípios essenciais em avaliação contínua:


provisoriedade e complementaridade. O primeiro significa que toda a resposta ou

manifestação do aluno é ponto de partida para novas perguntas ou desafios do


professor. Uma só tarefa nunca deve ser tomada como definitiva para se dizer que

ele aprendeu ou não algo, porque ele está em “processo de aprendizagem”. O


segundo – complementaridade -, quer dizer que novas observações que se façam

irão permitir compreender melhor o processo em andamento, servirão para


complementar a observação do processo. Ou seja, é necessário que se ofereçam

aos alunos muitas oportunidades de expressar suas idéias sobre um mesmo


assunto ou não que está aprendendo, para observar as hipóteses em construção,

e/ou construídas.
Construção do conhecimento envolve uma visão epistemológica muito diferente

da visão bancária, de memorização de conteúdos e de treinamento que ainda


41
perdura em muitas escolas. Tal concepção é pano de fundo para os preceitos aqui

defendidos, tal como a visão que se tem sobre a construtividade do erro e das
concepções prévias dos educandos. Sem tais fundamentos, não se concebe, de

fato, um processo de avaliação contínua nas escolas.


Embora minha resposta tenha sido um pouco longa, pretendi dizer que há que se

debruçar sobre uma série de preceitos que constituem a concepção de avaliação


contínua. Não é tão simples essa resposta. Ela se baseia em teorias de

conhecimento, em preceitos filosóficos, políticos, sociológicos mais profundos do


que simplesmente metodológicos.

[...]

Entrevista publicada edição 09 - outubro/2005 da Revista Direcional Educador

Disponível em: http://www.direcionaleducador.com.br/artigos/entrevista-jussara-

hoffmann

42
UNIDADE 06 - A AVALIAÇÃO CRÍTICA E CONSTRUTIVA

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Propiciar condições para que o acadêmico possa:


Ter contato com diferentes visões sobre “Avaliação e a construção do

conhecimento”, através de pesquisas e estudos na área.


Perceber que a avaliação é um instrumento de grande relevância para a

contribuição da construção do conhecimento no processo de ensino


aprendizagem.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A abordagem crítica e construtiva da avaliação de aprendizagem escolar,


defendida por Luckesi (2005), apresenta questionamentos a respeito da avaliação

praticada nas escolas e a influência dos resultados obtidos na organização e no


desenvolvimento do trabalho pedagógico, tanto da escola como da sala de aula.

O conhecimento é significativo por definição. É o produto


significativo de um processo psicológico cognitivo (“saber”) que
envolve a interação entre ideias “logicamente” (culturalmente)
significativas, ideias anteriores (“ancoradas”) relevantes da
estrutura cognitiva particular do aprendiz e o“mecanismo” mental
do mesmo para aprender de forma significativa ou para adquirir e
reter conhecimentos (AUSEBEL, 2003,p.34).

Para Alegro, 2008, aprender significativamente corresponde a

compreender a organização lógica do material a ser aprendido. Nesta perspectiva,


segue-se a concepção de aprendizagem significativa nos termos destacados por

Moreira (1999, p. 185):


a) Processo através do qual uma nova informação relaciona-se com um

aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo (conceitos e


43
proposições) permitindo um avanço contínuo, idiossincrático, intencional,

interativo;
b) Organização e integração de novo material na estrutura cognitiva.

Apresenta a aprendizagem significativa como produto porque caracteriza


um significado identificado em um momento específico, entretanto, é

sempre um produto provisório porque no instante seguinte, dependendo


dos fatores contextuais e da intencionalidade do sujeito, esse

conhecimento poderá modificar-se;


c) Relativamente à aprendizagem mecânica, também chamada

aprendizagem automática ou de simples memorização, é um continuum e


não uma oposição dicotômica.

d) Nos estudos referentes aos assuntos educacionais, destacam-se quatro


concepções pedagógicas e suas respectivas relações com os significados

de avaliação. São descritas no trabalho: a concepção de avaliação


representada pelos exames; a concepção de avaliação como instrumento

para classificação e regulação do desempenho do educando, ambas


dentro da Pedagogia Tradicional; a concepção que se utiliza da avaliação

como medida, a qual prevaleceu durante a Pedagogia Tecnicista e, por fim,


a concepção qualitativa da avaliação a qual surgiu como reação aos

modelos e práticas avaliativas utilizados nas concepções tecnicistas e


quantitativas, com base nas Pedagogias Críticas.

BUSCANDO CONHECIMENTO

“Avaliação da aprendizagem... mais uma vez”


*Cipriano Carlos Luckesi
Artigo publicado na Revista ABC EDUCATIO nº 46, junho de 2005, páginas 28 e 29. -
http://www.luckesi.com.br/index.htm

44
Recentemente, tenho acompanhado crianças que saíram de uma escola

que atende do maternal ao final do quinto ano do Ensino Fundamental, passando


para um sexto ano, em outra escola. Impressiona-me ver a mudança dessas

crianças em suas falas e em suas crenças sobre o que, nesse espaço de ensino,
denominamos de avaliação.

A experiência anterior dessas crianças estava relacionada com uma ação


pedagógica que investe no processo da aprendizagem, a atual experiência está

comprometida com o investimento no seu produto. Isso faz a diferença. Em


pequeno espaço de tempo, as crianças mudaram seu centro de atenção, seus

valores, assim como sua expressão. Antes, eu ouvia as crianças dizendo --- “Hoje,
tivemos uma atividade legal na escola”, agora, ouço-as dizendo: “Tirei 3.2, valendo

5”; “Tirei 2, valendo 3”; “Tirei 7. Graças a Deus, já passei nessa unidade; com isso é
mais fácil chegar ao final do ano com 28 pontos, necessários para a aprovação”;

“Amanhã é dia de prova. Todos, na escola, vão fazer prova e vai ser com fiscal”.
Meu Deus, do dia para a noite, os conceitos e os valores deram um salto, para

pior, acredito eu! Neste momento do ano escolar, estamos vivendo os primeiros
dias do mês de maio, portanto a dois meses do início do ano letivo, e, nesse curto

espaço de tempo, as crianças mudaram sua linguagem e seu modo de ser, vivido
durante os longos anos da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino

Fundamental. Elas vinham de uma experiência de investimento no processo e


passaram para uma experiência de investimento no produto e esse fato é

fundamental para compreender essa mudança.


Exatamente esta é questão que tenho exposto em escritos e em falas,

sinalizando a diferença entre avaliar e examinar. Parece que ela tem sido
compreendida conceitualmente, mas, de fato, não tem gerado condutas novas

entre os educadores. Daí, mais uma vez, insistir no tema.


O ato de examinar tem como função a classificação do educando,

minimamente, em “aprovado ou reprovado”; no máximo, em uma escala mais


45
ampla de graus, tais como as notas, que variam de 0 (zero) a 10 (dez) ou como é

uma escala de conceitos, que pode conter cinco ou mais graus. Ao ato de
examinar não importa que todos os estudantes aprendam com qualidade, mas

somente a demonstração e classificação dos que aprenderam e dos que não


aprenderam. E isso basta. Deste modo, o ato de examinar está voltado para o

passado, na medida em que deseja saber do educando somente o que ele já


aprendeu; o que ele não aprendeu não traz nenhum interesse.

Diversamente, o ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do


desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a

melhoria dos resultados, caso seja necessária.


Assim, a avaliação é diagnóstica. Como investigação sobre o desempenho

escolar dos estudantes, ela gera um conhecimento sobre o seu estado de


aprendizagem e, assim, tanto é importante o que ele aprendeu como o que ele

ainda não aprendeu.


O que já aprendeu está bem; mas, o que não aprendeu (e necessita de

aprender, porque essencial) indica a necessidade da intervenção de


reorientação..., até que aprenda. Alguma coisa que necessita de ser aprendida,

como essencial, não pode permanecer não aprendida. Tomar conhecimento


somente do que o educando aprendeu não permite investir no processo, porém

somente no produto. Foi isso que as crianças, acima citadas, aprenderam


rapidamente sob a imposição da autoridade do sistema escolar: centrar-se no

“tirar nota” e não no “aprender”.


O que é mesmo investir no processo e não no produto? O processo

compõe-se do conjunto de procedimentos que adotamos para chegar ao


resultado mais satisfatório; o que nos motiva, no caso, é a obtenção do melhor

resultado. Produto, por sua vez, significa o resultado final ao qual chegamos e, na
escola, infelizmente, admitimos que ele é o suficiente do “jeito que ele se

manifesta”.
46
Se, dessa forma, investimos no produto, qualquer resultado está bom, pois

que dizemos que o estudante foi responsável por obter somente a nota que tirou,
e acreditamos que ela expressa o que ele aprendeu e que ele não consegue

mesmo ir para além disso; por isso, damos por encerrado o processo.
Não importa se o resultado foi satisfatório ou insatisfatório, importa que foi

esse o obtido pelo estudante. Se, por outro lado, investimos no processo, o
resultado da aprendizagem, manifestado pelo estudante vai se qualificado em

satisfatório ou em insatisfatório. Se for satisfatório, está bem; porém, se for


insatisfatório, há que se intervir para que a aprendizagem se manifeste satisfatória.

Então, podemos perguntar: “Mas, nós não agimos para atingir um


produto?” Claro que sim, porém o mais satisfatório, decorrente do investimento

adequado no processo. Não é qualquer produto, seja lá qual for; é o melhor


produto buscado.

Tanto os atos de centrar nossa atenção exclusivamente sobre o produto ou


sobre o processo da aprendizagem na escola, seguido do melhor produto,

dependem da concepção que temos sobre o ser humano e sua trajetória na vida,
ou seja, dependem da teoria pedagógica e do projeto pedagógico, que temos.

Caso assumamos uma teoria que compreende o ser humano como “pronto”,
somente desejamos olhar para o produto, qualquer produto, atitude expressa

pela frase: “caso tenha atingido o nível esperado, está bem; caso, não tenha
chegado a esse produto, a questão é do estudante”. Porém, se, pelo contrário,

assumimos o ser humano como um ser “em desenvolvimento”, então, temos


certeza de que o estudante ainda não aprendeu o que tinha que aprender e, por

isso, vamos investir nele novamente, até que aprenda.


A pedagogia que sustenta o exame se contenta com a classificação, seja

ela qual for; a pedagogia que sustenta o ato de avaliar não se contenta com
qualquer resultado, mas somente com o resultado satisfatório.

47
Mais que isso: não atribui somente ao educando a responsabilidade pelos

resultados insatisfatórios; investiga suas causas, assim como busca e realiza ações
curativas. O ato de avaliar dedica-se a desvendar impasses e buscar soluções.

Qual será a pedagogia que está por detrás da atividade escolar que se
centra na preparação dos estudantes quase que exclusivamente para o vestibular,

que é um exame?
Óbvio que é uma pedagogia que não investe no educando como um ser

histórico, inacabado, como dizia Paulo Freire, mas somente como um ser que
deve apresentar produtos, segundo os parâmetros esperados por aquela escola.

Para o educador atuar centrado na avaliação, necessita conceber o


educando como um ser em movimento, em formação e agir coerentemente a

partir dessa concepção.


Então, não vamos preparar nossos educandos para o vestibular? Claro que

sim; contudo o vestibular permanece como “uma” das atenções da prática


educativa escolar, não a única.

Para treinar para o vestibular, podemos fazer simulados na escola e não


exames que ameaçam e geram excessivas ansiedades em nossas crianças e

nossos adolescentes.
Deixemos os exames para as situações de exames (concursos); na sala de

aulas, sirvamo-nos da avaliação. Bom ensino é o ensino de qualidade que investe


no processo e, por isso, chega a produtos significativos e satisfatórios. Os

resultados não nos chegam, eles são construídos.


Por último, para fazermos diagnóstico e intervenção, nossos instrumentos

de coleta de dados para avaliação terão que ser estruturados como instrumentos
para investigação sobre o desempenho de nossos educandos e não como “cascas

de banana ao chão, para que pisem, escorreguem e caiam na armadilha”. Isso


implica em que estejam focados no essencial ensinado e que deveria ser

aprendido; todavia, devem estar focados sobre todo o essencial ensinado, ou seja,
48
tudo o que é essencial deve ser investigado, pois que, se é essencial, deve ser

buscado.
Um teste, um questionário (com perguntas abertas e fechadas), uma

redação, uma ficha de observação, todos os instrumentos necessitam de cobrir


todo o essencial, não somente um que outro ponto e sim todos os pontos

essenciais, tendo presente informações, habilidades, procedimentos e valores


componentes da conduta em construção.

Afinal, como poderemos proceder a um diagnóstico se não cobrimos, ao


mesmo tempo, “tanto o que é essencial, assim como tudo o que é essencial”? É

assim que age qualquer investigador que tem a intenção clara de produzir um
diagnóstico e uma conseqüente ação eficaz sobre alguma coisa.

Um médico não pode, sob pena de não atingir a sua meta, que é garantir
melhoria de saúde para seu cliente, usar como critério para escolher os exames a

serem realizados no cliente “os que ele mais gosta de fazer” ou “os que mais
fazem o cliente sofrer”; diversamente disso, ele seleciona todos os recursos

necessários ao diagnóstico, para que possa ter a melhor compreensão do estado


de saúde do seu cliente, o que lhe possibilitará a mais adequada intervenção.

De forma semelhante necessita de agir o educador: o melhor diagnóstico


possibilitará a melhor intervenção e, conseqüentemente, os melhores resultados.

Isso é investir no processo, o que, por sua vez, produzirá o melhor produto para
todos. E, então, nossas crianças e nossos adolescentes criarão para si mesmos

valores, que os orientarão na vida para dar o melhor de si naquilo que fazem, com
cuidado e com alegria, muito além do cumprimento de uma tarefa para somente,

e tão somente, “tirar uma nota”.


No que se refere à avaliação da aprendizagem, credito que já estamos

passando da hora de transformar conceitos em práticas. A avaliação da


aprendizagem exige a apropriação dos conceitos de forma encarnada, traduzidos

49
no cotidiano das nossas salas de aulas. Não bastam somente bons discursos,

importam boas ações baseadas em conceitos adequados.


____________________________________________________________________________

* Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da

Bahia, e-mail: [email protected]. Este material foi obtido através do website de Cipriano Carlos Luckesi.
Website:www.luckesi.com.br / e-mail:[email protected]

50
UNIDADE 07 - AS DIFERENTES VISÕES QUE INFLUENCIAM NA AVALIAÇÃO DO

PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: Identificar e analisar as diferentes visões de avaliação do processo de

aprendizagem

ESTUDANDO E REFLETINDO
Concepção de educação tradicional:
No século XIX o estudo era concebido como forma de ascensão
social e estava voltado para o controle dos processos de
certificação. Nesta concepção o ensino tinha caráter verbalista,
extremamente autoritário, inibidor da ação ativa por parte do
aluno, não permitia o desenvolvimento da iniciativa ou
espontaneidade na realização de qualquer criação dele. O ensino
era centrado no professor que apresentava os conteúdos
totalmente desvinculados da realidade, não havendo nenhuma
articulação com o contexto social ou com o momento histórico
que estava sendo vivenciado (BACKES, 2010, p.4).

Concepção de educação tecnicista:


A concepção tecnicista teve início no século XX, nos Estados
Unidos, com estudos do teórico Thorndike sobre os testes
educacionais, com influência da Psicologia. Os testes psicológicos
de inteligência têm a função de mensurar os comportamentos e a
aprendizagem pode ser então quantificada. Segundo Chueiri
(2008, p.56), essa forma de conceber a avaliação, oportunizou a
“expansão de uma cultura dos testes e medidas na educação”;
nessa pedagogia se comprova o rendimento com base nos
objetivos comportamentais, os quais se reduzem a uma medida
e, portanto, separa o processo de ensino de seu resultado. Para
esta autora “a ideia de avaliar, não só para medir mudanças
comportamentais, mas também a aprendizagem, portanto para
quantificar resultados, encontra-se apoiada na racionalidade
instrumental preconizada pelo Positivismo” (BACKES, 2010,p.6).

51
Concepção qualitativa de avaliação:
A característica marcante desta concepção está na busca de se
compreender o significado dos resultados imediatamente e
durante todo o processo de ensino e aprendizagem, os quais se
expressam de diferentes formas, não só no desempenho
quantitativo do aluno, mas também em fenômenos perceptíveis
ou não. Isso exige outra postura profissional de todos envolvidos
no processo ensino aprendizagem (Apud, 2010, p.8).

BUSCANDO CONHECIMENTO
Observe os três quadros que podem ilustrar bem as diferentes visões que

influenciam na avaliação do processo de ensino aprendizagem e,


consequentemente, na construção do conhecimento dos alunos e dos

profissionais que atuam na área educacional.

Quadro 01- Tendências da Educação e comparações curriculares.

A Escola tradicional A Escola Nova A Escola tecnicista A Escola Crítica


É o transmissor dos É o facilitador da É o técnico que É o educador que
conteúdos aos aprendizagem seleciona, organiza e direciona e conduz o
alunos Orientador aplica um conjunto processo Ensino –
Professor

O Professor de meios que aprendizagem


garantam a eficiência Autoridade
e eficácia do ensino competente:
Técnico. Educador
Um ser “passivo” que Um ser “ativo”, Um elemento para Uma pessoa concreta,
deve assimilar os centro do processo quem o material é objetiva que
conteúdos de ensino preparado determina e é
Aluno

transmitidos pelo aprendizagem determinada pelo


professor social/político/econô-
mico/individual - pela
história.

52
Obedecem a Seguem fielmente Operacionalizados e São definidos pelas
sequência lógica dos ao desenvolvimento categorizados a partir necessidades
conteúdos. Não são psicológico do das classificações: concretas do
Objetivos

muito explicativos. aluno. educacional e contexto histórico-


Baseados em Autorrealização instrumental social no qual se
documentos legais encontram os
sujeitos.
Selecionados a partir Selecionados a partir Qualquer conteúdo Selecionados a partir
da cultura universal dos interesses dos Estruturas baseadas das culturas
Conteúdos

acumulada. alunos. em objetivos dominantes.


Organizados em Desenvolvimento Apropriação para a
disciplinas. psicológico superação..
Quantidade de
conhecimentos
Aulas centradas no Atividades centradas Ênfase muito Gr ande Distingue claramente
professor- no aluno nos meios de os papéis de
expositivas. Utiliza de comunicação e professor e aluno
Metodologia

exercícios de fixação informação para fazer a


articulação entre eles.
Possibilita a
apreensão crítica dos
conteúdos.
Valorização dos Valorização dos Dos objetivos Preocupa-se com a
aspectos cognitivos aspectos afetivos propostos com superação do estágio
com ênfase na (atitudes) com ênfase na do senso comum
Avaliação

memorização ênfase em produtividade do para a consciência


Avaliação para o autoavaliação aluno sob a forma de crítica.
professor um sistema de
avaliação
Domina o conteúdo Aluno criativo que O aluno eficiente, Domina os conteúdos
cultural universal aprendeu a produtivo que lida e portanto, percebe-
transmitido pela aprender. É cientificamente com se determinado e
Aluno

escola participativo os problemas da capaz de operar


realidade conscientemente
mudanças na
realidade.

53
Privilégio das Democrática Sociedade É muito importante e
camadas mais midiatizada: deve ser de boa
Escola

favorecidas Ensino não formal: qualidade para todas


as camadas da
população.
Normas disciplinares Deixa fazer- Modelo empresarial A organização é meio
Organização

rígidas. autoridade aplicado à escola para que a escola


da Escola

disfarçada funcione bem nos


seus diversos
aspectos.
Na maioria das vezes Na maioria das Esta questão não está O diálogo é
Interação professor-

uma integração vezes uma interação explicitada nesta valorizado. O


autoritária democrática tendência professor interage
aluno

embutida em um com o aluno em


autoritarismo diluído função do conteúdo
na fisionomia de do ensino
camaradagem

Quadro 2- Concepção de Ensino

Escola
Tradicional Tecnicista
Nova/Renovada
Professor como
referência para a
Centro Aluno Técnica
aquisição do
conhecimento
Professor é considerado
Agente ativo Aluno Técnica
enciclopedista
Aluno, função: Facilitador- professor,
Agente passivo Professor/aluno
obedecer. porém controlador.
O livro didático é o que
Conteúdo Pré - determinado O aluno programa deve ser seguido
fielmente.
Metodologia Expositiva Descoberta Didática instrumental
Exame, classificatória- Discriminadora, punitiva
Avaliação Classificatória
Aprovado/Reprovado. e seletiva.

54
Missão Seletiva Para poucos-elitizada Exclusão das massas
Anula o compromisso
Métodos de
político do
Observações Conservadora Aprendizagem da Escola
professor=neutro.
Behaviorista
Evasão escolar.

Quadro 3- Tipos de avaliação

Diagnóstica Caráter investigativo. Pré- requisitos para a aptidão ou competência- Luckesi

Formativa Ocorre durante o processo de ensino aprendizagem.


Mediadora- avalia a prática docente- Jussara Hoffmann
Dialógica- avalia o aluno- Paulo Freire /Jean Piaget.
Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias teorias que postulam o
caráter diferenciado e singular dos processos de formação humana, que é
constituída por dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural, social,
simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A aprendizagem é uma atividade
que se insere no processo global de formação humana, envolvendo o
desenvolvimento, a socialização, a construção da identidade e da subjetividade.
Somativa Classificatória e pontual.
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação vinculada à noção de
medida, ou seja, à idéia de que é possível aferir, matemática, e objetivamente, as
aprendizagens escolares. A noção de médica supõe a existência de padrões de
rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o desempenho de um aluno
será avaliado e hierarquizado. A Avaliação Classificatória é realizada através de
variadas atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos, trabalhos,
provas, testes, entre outros. Sua intenção é estabelecer uma classificação do aluno
para fins de aprovação ou reprovação.

55
AVALIAÇÃO NAS PERSPECTIVAS CONSERVADORA E PROGRESSISTA

ESCOLA CONSERVADORA ESCOLA PROGRESSISTA

Professor
Professor Aluno
QUEM AVALIA
Comunidade
Pais

Aluno
Professor
QUEM É AVALIADO Aluno Processo ensino/aprendiz.
Currículo
Escola

Classificar Diagnosticar
Sentenciar Acompanhar
PARA QUE AVALIAR Aprovar Retomar
Reprovar Informar
Verificar o que foi retido Avançar

Todos os dias
Periodicamente
Todos os momentos
QUANDO AVALIAR No final do mês / bimestre
Ao longo do processo
(momentos formais)
Ao completar o ciclo docente

Observação e registro
Provas Valorização da aprendizagem diária
COMO AVALIAR Atribuição de notas, Construção passo a passo
conceitos, menções dos resultados Instrumentos e situações
variadas

Questionamento da prática
Destaque negativo
CONCEPÇÕES E Reorientação do processo
Rotulação
ensino/aprendiz.
USOS DO ERRO Intimidação
Erro como hipótese do aluno
Punição
Sintoma de dúvida do aluno

56
UNIDADE 08 - ASPECTOS METODOLÓGICOS DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Conhecer e refletir sobre os diferentes aspectos metodológicos da


avaliação educacional

ESTUDANDO E REFLETINDO

Uma das condições de Ausubel (1986) considerava indispensável para a


concretização de aprendizagens significativas que o aluno manifeste uma

disposição para a aprendizagem significativa, conforme já ressaltado em unidades


anteriores acima. Ou seja, uma disposição para ir fundo no tratamento da

informação que se pretende aprender, para estabelecer relações entre ela e o que
já se sabe, para esclarecer e detalhar os conceitos.

Há alguns anos, Coll (1998) ressaltou que esta disposição para a


aprendizagem foi relacionada com um dos enfoques da aprendizagem,

apresentados pelos próprios alunos, ao serem interrogados sobre a forma como


abordavam a tarefa de estudar: o enfoque profundo

Logo, neste enfoque, o intuito dos alunos é compreender o significado do


que leva a relacionar seu conteúdo com conhecimentos prévios, com a

experiência pessoal ou outros temas, a avaliar o que está sendo realizado e a


persistir até conseguir um grau aceitável de compreensão.

Talvez, possa facilitar a compreensão em relação ao que esse enfoque


pressupõe, se o compararmos com o enfoque superficial, no início da

aprendizagem.
Nesta situação, a intenção limita-se a preencher os requisitos da tarefa;

assim, mais importante do que a compreensão do conteúdo é prever o tipo de


perguntas que possam ser formuladas sobre ele, aquilo que o professor

57
considerará relevante e situações similares. O interesse é deslocado do centro

intrínseco de conteúdo para a periferia das exigências extrinsecamente realizadas.

BUSCANDO CONHECIMENTO
Como se pode observar, as diferenças não são desprezíveis. De uma forma

talvez simplificadora, embora clara, Entwistle (1998) as sintetiza da seguinte


maneira:

 Enfoque profundo: intuito de entender; forte interação com o

conteúdo; relação de novas ideias com o conhecimento anterior;


relação de conceitos com a experiência cotidiana; relação de dados

com conclusões; exame da lógica dos argumentos.

 Enfoque superficial: intuito de executar os requisitos da tarefa;


memorização da informação necessária para as provas ou exames; a

tarefa é encarada como imposição externa; ausência de reflexão


sobre os propósitos ou estratégias; foco em elementos soltos, sem

interação e articulação com outras informações; os princípios não


são distinguidos a partir de exemplos.

É preciso levar em considerações que esses enfoques se aplicam


à forma de abordar a tarefa e não ao estudante; ou seja, um
aluno pode modificar seu enfoque de uma tarefa para outra ou
de um professor para outro, embora sejam observadas
tendências para o uso de enfoques profundos e superficiais
(COLL,1998,p.35)

Procura-se questionar: quais são as causas que levam os alunos para um

ou outro enfoque na aprendizagem? O que faz com que um aluno mostre maior
ou menor disposição para a realização de aprendizagem significativa?
58
Falando inicialmente, essas causas são variadas e, além disso, aparecem

estreitamente interligadas. Acrescente-se a isso que o que se pode ver


imediatamente não está e nem pertence exclusivamente ao universo do aluno,

mas é criado, pelo menos em parte, na própria situação de ensino. Funciona


como o “contexto físico” em que os protagonistas do processo de

ensino/aprendizagem constroem o “contexto percebido” e, considera-se que


neste caso devem-se procurar as razões da atribuição de sentido.

De tudo o que acontece na escola, no ensino e na aprendizagem, aquilo


que parece ser mais imediatamente lembrado são os mecanismos e as

consequências da avaliação. As memórias dos tempos escolares marcam muito


pelas lembranças das provas ou exames, momentos quase sempre muito sérios,

em que era necessário até mesmo adotar uma postura corporal e mental
diferente das aulas ditas normais: sentar-se direito, não conversar com os colegas,

não olhar para os lados, não permitir que suas respostas fossem observadas.
Também, por vezes, os lugares habituais dos alunos eram alterados, a

distância entre as carteiras era controlada, sobre a mesa só restavam materiais


permitidos, raramente sendo possível consultar determinados materiais didáticos

auxiliares. Nessas ocasiões, ao contrário da maioria das aulas, não era possível se
estender além do momento do sinal. Ressalte-se que ocorria outra mudança

sensível: o fato de docentes não poderem ou não queriam ajudar na


compreensão dos textos ou enunciados da prova nem na descoberta das

respostas.
Essas situações de mudança das práticas habituais de sala de aula

transformavam os momentos da avaliação numa espécie de ritual em que eram


produzidas e proclamadas as hierarquias, os vitoriosos e os derrotados. Tal carga

de solenidade permanece na memória das pessoas, marcando fortemente uma


grande parte das relações dos alunos, professores, pais e sociedade em geral com

a escola, a escolarização, o ensino, a aprendizagem, o saber.


59
É fato que muitas das ações dos professores apresentam origem na

formação inicial que obtiveram e de experiências dos bancos escolares, anteriores


a esta.

Logo, falar de metodologias da aprendizagem escolar referentes à


avaliação também implica olhar um pouco para quem é o professor que atua na

sala de aula. Quais perspectivas apresentam e quais concepções forma para poder
entender, avaliar e apresentar condições para que as aprendizagens sejam

significativas durante o processo de ensino aprendizagem.

60
UNIDADE 09 - A FORMAÇÃO DOCENTE E A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Identificar nos processos de formação docente a concepção de


avaliação que orienta os currículos na universidade

ESTUDANDO E REFLETINDO

Como já estudamos na unidade anterior, falar de metodologias da


aprendizagem escolar referentes à avaliação também implica olhar um pouco

para quem é o professor que atua na sala de aula. Por essa razão, foi selecionado
um artigo para que você acadêmico possa ter acesso a mais um material

diferenciado sobre o assunto aqui abordado.


Nessa unidade faremos a análise das duas partes iniciais desse artigo,

tratando dos temas “A universidade a formação de docentes” e “revisão dos


conceitos de avaliação”

Espera-se que com isso, você possa refletir uma pouco mais sobre a
importância e influência da ação docente, das suas concepções e crenças na

contribuição para a construção dos saberes necessários para com os alunos.

BUSCANDO CONHECIMENTO
“Formação Docente e a Nova Visão da Avaliação Educacional” – Parte I
*ANA MARIA PORTO CASTANHEIRA
*MARY ROSANE CERONI

[...]

INTRODUÇÃO
Pesquisas realizadas sobre a importância da formação de professores do

ensino superior, que destacam transformações relevantes para a atuação desses

61
docentes, evidenciam, ainda, como predominantes, os currículos organizados por

justaposição de disciplinas; a figura do professor repassador de conteúdos


curriculares fragmentados e desarticulados, nem sempre significativos para os

alunos ou mesmo para a realidade presente. Verifica-se que iniciativas precisam


ser tomadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES), para que propostas

educacionais possam ser desenvolvidas pelo professor de maneira significativa,


contribuindo, dessa forma, com a própria universidade. Cabe, hoje, ao docente

participar com idéias e ações na transformação da gestão (nas dimensões


didáticas pedagógicas e comunitárias), da organização curricular, dos projetos

educacionais e sociais.
Essas oportunidades implicam valorizar o seu trabalho ao criar condições

para análise e compreensão dos contextos organizacional, cultural, histórico-


social, inseridos na sociedade e na sua própria atividade docente.

Os contextos acima citados, permeados de conflitos que exigem atitudes


éticas e políticas em suas atividades características – o ensino, a pesquisa e a

extensão – evidenciam, assim, a indissociabilidade desses três pilares como


condição de trabalho para que o processo de ensino e aprendizagem atinja o

padrão de excelência, no momento em que a educação superior assume o


compromisso com a tão necessária responsabilidade social, por meio de ações

comunitárias.
Ao mesmo tempo, deve-se garantir, por meio de processos avaliativos

adequados, a qualidade das atividades que compõem a docência, a pesquisa e a


extensão, para que possam, efetivamente, contribuir para a formação do

educador, apto a enfrentar o cotidiano acadêmico com ações eficientes e eficazes.


A avaliação deve constituir instrumento importante de gestão universitária

capaz de indicar caminhos e rever processos. Mais que medir índices de crítica e
satisfação, ela está comprometida com a real reflexão acerca de todos os

processos e procedimentos. Há necessidade de cuidadosas e profundas análises


62
qualitativas dos resultados obtidos, e todos os agentes envolvidos devem

participar e interagir com o processo, a fim de garantir a qualidade.

1- UNIVERSIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES


Os pressupostos do ensino e da aprendizagem na universidade, hoje,

apresentam os seguintes compromissos: organizar e oferecer um conjunto de


conhecimentos, habilidades e atitudes que assegurem, aos estudantes,

aprendizagem nos campos científico, pessoal e profissional; incentivar o


comprometimento com as questões culturais e sociais, de forma crítica e

autônoma, e com a produção de novos conhecimentos; considerar o processo de


ensinar e aprender como atividade integrada à investigação; desenvolver a

capacidade de investigação, ação-reflexão- ação; criar e recriar situações de


aprendizagem.

Os pressupostos de estratégias de sala de aula estão relacionados à


ensinagem (termo usado por Anastasiou, 2003), que significa uma situação de

ensino da qual necessariamente decorra a aprendizagem, que estabelece parceria


entre professor e aluno –, condição fundamental para o enfrentamento do

conhecimento, necessário à formação do graduando; a aula, entendida como


momento e espaço privilegiado de encontro e de ações, não deve ser dada pelo

professor, mas construída na ação conjunta entre ele e o aluno. Masetto (1998,
2003), entre outras ponderações relativas às mudanças no ensino superior, alerta

sobre a superação da formação voltada apenas para o aspecto cognitivo, e


pontua que no processo de ensino é indispensável a preocupação com o

desenvolvimento da aprendizagem dos alunos:

O que se busca é que o aluno em seus cursos superiores esteja


desenvolvendo competências e habilidades que se esperam de
um profissional capaz e de um cidadão responsável pelo
desenvolvimento de sua comunidade. Isso fez com que os
63
cronogramas curriculares se abrissem para atividades práticas
integrando-se com teorias estudadas e a discussão de valores
éticos, sociais, políticos, econômicos, por ocasião do estudo de
problemas técnicos, integrando-se à análise teórico-técnica de
determinada situação com os valores humanos e ambientais
presentes e decorrentes da solução técnica apresentada. (p. 23)

Assim, o estudante de hoje nota rapidamente quando está recebendo


assuntos copiados de material ultrapassado, informações reproduzidas que não

vão agregar nenhum valor à sua educação profissional. Percebe-se a necessidade


de investir na valorização da capacidade de decisão do docente nessa prática

social tão complexa por meio de discussão de temas relativos ao cotidiano


universitário, como projeto pedagógico, ação coletiva interdisciplinar, cultura,

identidade profissional, entre outros contextos articulados com os institucionais e


comunitários.

2- AVALIAÇÃO – BREVE REVISÃO DE CONCEITOS

Para Sobrinho (2006), o conceito de avaliação é globalizado: A Avaliação não é


um processo auto limitado, que basta em si mesmo.

Visando tornar mais visível e compreensível o cotidiano de uma


instituição, a avaliação ultrapassa os âmbitos mais restritos do
objeto a avaliar e lança seus efeitos sobre o sistema de educação
superior e suas funções relativamente à construção da sociedade.
Ela ilumina e instrumentaliza as reformas educacionais, desde a
mudança nos currículos, maneiras de organização de cursos e
formas gerenciais, até novas estruturas do sistema. Em outras
palavras, a avaliação está no centro do processo de reformas, no
foco de competições institucionais, e só ela garante a
sobrevivência do ensino de excelência buscado pelas sociedades
contemporâneas. (p. 95)

64
Na verdade, o ato de avaliar está incorporado de forma intuitiva e

espontânea no cotidiano, principalmente escolar. São inúmeros os conceitos


formais de avaliação; cada um deles mostra um enfoque diferente e deixa claro

sua complexidade.
A avaliação da aprendizagem é a mais estudada; no entanto, cada vez mais

existe grande preocupação em aplicar esses conceitos de forma regular e


sistêmica para contribuir com as mudanças da sociedade.

A concepção de avaliação está ligada ao ato de escolher, de optar. No


mundo contemporâneo, a avaliação é usada como instrumento para selecionar,

aprovar ou capacitar trabalhadores, contribuindo para uma melhor gestão.


Todavia, na educação, sempre teve seu lugar privilegiado como prática

pedagógica, mas também é utilizada na regulação, seleção e hierarquização, seja


na sala de aula seja em domínios mais amplos.

Stuffebeam e Shinkfield (1987) destacam cinco períodos nos quais a


avaliação foi entendida de forma diversa. Ambos consideram Ralph Tyler o pai da

avaliação educativa. O primeiro período, conhecido como pré-Tyler, começa no


final do século XIX e se estende até o início do século XX. Caracteriza-se pela

elaboração e aplicação de testes e práticas de mensuração. Aqui, avaliar


confundia-se com medir.

No século XX, a avaliação começa a se desenvolver como prática aplicada à


educação. Edward L. Thorndike foi muito importante no que se refere ao uso de

testes com fins classificatórios, na elaboração de escalas e nas técnicas


quantitativas, além de ser o precursor do movimento que mais tarde chamou-se

gestão científica.
A avaliação era técnica com seus testes de verificação, mensuração e

quantificação de aprendizagem dos estudantes. Esta última foi o problema central


da psicologia naquele momento, pois acreditava-se que pudesse haver um

controle do processo por meio de métodos científicos de análise. Tyler (1976) é


65
considerado o maior expoente do segundo período, pois, como pai da avaliação

educacional, focaliza os objetivos educacionais.


A preocupação é a gestão que envolve o desenvolvimento curricular, e as

instituições passam a determinar metas previamente formuladas. O autor as


define em termos de comportamento dos estudantes, e estes devem ser capazes

de diferenciar os objetivos previstos dos obtidos.


A avaliação caracteriza-se como instrumento de regulação, pois define

aonde quer chegar com clareza. Nessa época, também há a expansão da


tecnologia de elaboração dos testes, movidos pela sensação de que os

instrumentos técnicos são capazes de quantificar e classificar sem risco de erros.


A característica principal deste segundo momento é a descrição de padrões

e critérios relativos ao alcance dos objetivos previamente descritos. O importante


é a relação entre o prometido e o cumprido. Ainda neste segundo momento, a

avaliação se desenvolve de acordo com o paradigma da racionalização científica


que caracteriza a pedagogia por objetivos, e já apresenta a idéia de eficiência,

conceito até então utilizado nas indústrias. Ela passa a ser o instrumento para
diagnosticar a eficiência da escola e dos processos pedagógicos e administrativos.

O terceiro período (considerado a era da inocência) vai de 1946 a 1957.


Caracteriza-se por certo descrédito da avaliação e da educação.

No quarto período, chamado de realismo, a avaliação torna-se mais


complexa e sistêmica. Ela passa a ser formativa e o foco são as decisões a serem

tomadas. O processo interno adquire importância e as decisões de mudança são


tomadas durante o desenvolvimento do programa.

Para Scriven (1967), a noção de decisão para a melhoria de cursos e


programas é alvo de estudos e a distinção entre funções e objetivos, sendo que as

funções se referem ao emprego das informações para tomadas de decisão. Tem-


se então a clássica diferenciação entre avaliação formativa (que se realiza no

66
decorrer do processo com intervenções imediatas) e a somativa (realizada

somente ao final do processo).


O quinto período é denominado período do profissionalismo ou

profissionalização da avaliação. É uma fase de construção teórica e proposta de


novos modelos, e a avaliação ganha visibilidade. Stuffebeam e Shinkfield (1987)

destacam as principais contribuições dessa época: incremento e melhora da


comunicação, qualificação, preparação e titulação de avaliadores, cooperação

entre organizações profissionais relacionadas à avaliação educacional, melhor


comunicação entre partidários dos métodos positivistas quantitativos e

fenomenológicos qualitativos.
O paradigma positivista é questionado e o enfoque qualitativo é

enfatizado. Nesse momento a avaliação é caracterizada como julgamento de


valor, superando seu sentido descritivo e diagnóstico. Já na gestão

contemporânea a avaliação não pode se limitar a descrever, levantar informações,


informar, mas passa a ter função ativa, procurando a melhoria do processo

enquanto o mesmo se desenvolve, agindo em cada etapa e garantindo maior


efetividade educacional.

Para Castanheira e outros (2005): A avaliação de caráter educativo é uma


prática social, voltada para obtenção de informações que gerem reflexões sobre a

melhoria real da qualidade e da quantidade das atividades pedagógicas,


científicas, administrativas e até sociais e profissionais.

A avaliação não deve ser um processo de simples controle, pois deve


haver sempre reais questionamentos e análises que facilitem o cumprimento dos

compromissos institucionais. A avaliação é formativa, sem deixar de utilizar certos


instrumentos e procedimentos de controle.

A avaliação deve ser, além de somativa sob certo aspecto, prioritariamente


formativa, interferindo continuamente nos processos desenvolvidos; portanto, não

67
é vista como um processo exterior; são os participantes que melhor conhecem os

significados e ocupam funções ativas no conjunto de ações.


Para Sobrinho (2003)

Na avaliação educacional há uma mudança significativa de


conceitos de aprendizagem que já não é entendida como
mudança de comportamento, mas sim como construção de
significado. O currículo passa a ser concebido em seu sentido
mais amplo, os projetos pedagógicos ganham espaço e a
avaliação busca dar conta das inúmeras facetas tendo que se
utilizar de muitas metodologias. (p. 28)

Atualmente, a avaliação e suas práticas ocupam o centro das

preocupações, tanto das instituições de ensino superior como do próprio Governo


Federal que, por meio da Lei n. 10.861 de 14 de abril de 2004, institui o Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Essa lei, em seu art. 11,
previu que cada instituição pública ou privada deveria constituir uma Comissão

Própria de Avaliação, com atribuições de condução de processos avaliativos


internos. Todas as instituições serão avaliadas levando em conta dez dimensões

do Sinaes, sendo a segunda dimensão dedicada especialmente ao corpo de


professores da instituição. Alguns aspectos são muito relevantes e contribuirão de

forma decisiva para a avaliação positiva das universidades:


• Avaliar a coerência da constituição e da formação do corpo docente com

as funções essenciais da instituição.


• Avaliar as formas e a intensidade do envolvimento dos professores no

cumprimento dos principais objetivos institucionais


• .Identificar e avaliar as políticas de formação continuada dos professores,

mencionando, quando for o caso, os incentivos claramente estabelecidos


na carreira docente e as principais carências e dificuldades

68
• Avaliar a articulação entre professores das diferentes disciplinas, dos

distintos cursos, centros ou áreas.


• Avaliar as políticas de capacitação contínua do corpo docente que

estimulam as práticas de pesquisa e de reflexão individual e coletiva sobre


a própria atividade.

69
UNIDADE 10 - A FORMAÇÃO DOCENTE E A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Identificar e analisar as competências da universidade no que diz


respeito ao preparo do professor para o exercício da avaliação escolar.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Em continuidade ao que já estudamos na unidade anterior, analisaremos


aqui as competências da universidade no que diz respeito a formação e preparo

do professor da educação básica para o ato de avaliar a aprendizagem.


Nessa unidade faremos a análise das duas partes finais do artigo, tratando

dos temas “As competências pertinentes docência na Universidade” e “Reflexão


sobre a prática docente”

Aqui, é esperado que você consiga identificar a importância do processo


de formação inicial para romper com a visão de avaliação excludente e

classificatória.

BUSCANDO CONHECIMENTO

“Formação Docente e a Nova Visão da Avaliação Educacional” – parte II


*ANA MARIA PORTO CASTANHEIRA

*MARY ROSANE CERONI

3- AS COMPETÊNCIAS PERTINENTES À DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE


Levando em conta as orientações do Sinaes (Brasil, 2004), quanto às

competências docentes, tem-se algumas considerações. Atualmente, as


estratégias em sala de aula estão relacionadas a uma situação de ensino da qual

necessariamente decorre a aprendizagem. O professor passa a ser o moderador


70
das atividades, orientando, provocando, refletindo, e não somente expondo suas

idéias.
A questão necessária à identificação das competências pertinentes à

docência no ensino superior é apresentada a seguir: como formar seres humanos


integralmente sem manifestar nas relações intra e interpessoais o respeito mútuo,

a coerência, a ética, a humildade, a autenticidade e a solidariedade, entre outros


atributos necessários na relação com o outro?

Nesse contexto, como possibilidade de encaminhamento para a formação


de professores para o ensino superior – mediadores no processo de ensinagem –,

evidencia-se que a universidade e o meio acadêmico não podem se furtar ao


chamamento que lhes é imposto e às graves responsabilidades de que são

depositários como fórum competente, que se constituem para o debate, a


reflexão, a exposição de idéias e a consolidação de ideais, com base em uma

educação compreensiva e significativa, apresentando-se para tal finalidade uma


conduta interdisciplinar, tendo por objetivo a construção coletiva desses

programas de formação e suas práticas avaliativas.


Libâneo e outros (2003) enfatizam que a formação docente, tanto inicial

como continuada, precisa incluir em seus estudos as ações de desenvolvimento


organizacional, o desenvolvimento de competências individuais e grupais, visando

a participação de modo ativo e eficaz da organização e da gestão no âmbito


educacional. Assim, o trabalho na universidade está relacionado aos processos de

mudança nas formas de gestão e avaliação, e mudanças nos modos individuais de


perceber, pensar e agir a serviço da organização escolar, o que requer

conhecimentos, habilidades, atitudes e procedimentos práticos para melhor


atender a aprendizagem dos estudantes.

Os autores elencam ações concretas que devem ser desenvolvidas com o


intuito de assegurar um clima de trabalho adequado, eficiente e eficaz, em que

objetivos e processos de decisão compartilhados existem de fato, permitindo


71
canalizar o envolvimento e as atividades das pessoas para realizarem as tarefas e

obterem resultados, colaborando para o funcionamento adequado por meio de


avaliações em diferentes contextos.

Libâneo e outros (2003) indicam como necessárias as seguintes


ações:
Formação de uma boa equipe de trabalho; construção de uma
comunidade democrática de aprendizagem; promoção de ações
de desenvolvimento profissional; envolvimento dos alunos em
processos de solução de problemas e de tomada de decisões;
fortalecimento de formas de comunicação e de difusão de
informações, entre outros. O que exige pesquisar formas
avaliatórias que contemplem conjuntamente aspectos do
processo e dos resultados. (p. 295)

Convida-se, assim, para um fórum permanente de debates que se confirma


por meio de projetos interdisciplinares, apresentando nas atividades

desenvolvidas, eficiência, eficácia e efetividade na busca pela qualidade do ensino,


da pesquisa e nos relevantes serviços prestados à comunidade, relativos às

questões acadêmicas e sociais.


Para Monezi (2004), a otimização no processo de formação do educador

implica conquistar a autonomia para a construção do próprio caminho na nova


trajetória transformacional, o que exige atitudes proativas , organizadas, éticas,

positivas, flexíveis, bem como iniciativas educacionais que valorizem a diversidade,


e, ainda, participação efetiva nos relacionamentos interpessoais.

Anastasiou e Alves (2003), com base em suas pesquisas, indicam quatro


competências que o professor deve ter: competência pessoal (aprender a ser);

competência relacional (aprender a conviver); competência produtiva (aprender a


fazer); competência cognitiva (aprender a conhecer), que Estudos em Avaliação

Educacional, correspondem aos quatro pilares da Educação, apontados por Delors


(1998).

72
Para Masetto (2003), a docência na universidade exige competências

próprias que, por uma questão de profissionalismo, precisam ser refletidas na


Didática do Ensino Superior.

[...]

5- AVALIAÇÃO DAS TEMÁTICAS PROPOSTAS


Ressaltando mais uma vez as políticas que estimulam as práticas de

reflexão individual sobre a própria atividade, algumas questões foram levantadas


no sentido de discutir a respeito do curso e sua contribuição na formação

continuada dos docentes do CCL. Destaca-se, nesta reflexão, o instrumento de


avaliação de caráter formativo com as respectivas respostas dos participantes e

seus comentários:
5.1- Avaliação do curso: nível de satisfação

Atribuiu-se valores de 1 a 5, sendo 1 muito ruim e 5 muito bom. Após a


tabulação obteve-se os seguintes resultados: Tabela 1 - Médias obtidas sobre as

Temáticas Desenvolvidas Temáticas Interesse do conteúdo Desenvolvido Tempo


da atividade Ensino Superior –

Profissão Professor 4,29 3,88;


Habilidades Didáticas do Professor Competente 4,37 4,00

Dimensões do Processo Ensino-aprendizagem Relação Professor-aluno


4,28 3,78

Ação Pedagógica – Orientação para Elaboração de Plano de Ensino 4,72


4,36

Avaliação Institucional e de Aprendizagem 4,71 4,61


A origem do Mackenzie 4,21 4,00

Estratégias de Ensino e Aprendizagem 4,92 4,69


Projetos Interdisciplinares no Ensino Superior 4,70 4,47

Elaboração do Plano de Ensino com Planejamento de Aulas 4,92 4,46


73
Socialização dos Planos de Ensino 4,88 4,72

Os professores que orientaram os trabalhos também foram avaliados pelos

alunos-docentes. A média de satisfação foi de 4,8, Estudos em Avaliação


Educacional, demonstrando, assim, a importância do evento e quanto todos

estavam motivados.
Para uma participação de caráter mais qualitativo, foram propostas

questões abertas, abrindo espaço para sugestões e opiniões de forma efetiva.


[...]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A auto-avaliação institucional deve ter caráter educativo, de melhoria

constante e de auto-regulação. Quanto mais ampla e dedicada a será a eficiência


dos processos pedagógicos desenvolvidos.

Para Monezi (2003), como efeito dessa iniciativa promovida pela


universidade quanto ao incentivo ao desenvolvimento profissional, manifestam-se

os compromissos científicos (princípios, fatos, conceitos) e filosóficos (valores,


atitudes e normas) do professor para a resolução de conflitos, e indicação de

caminhos para que um método dialético de construção do conhecimento seja


evidenciado para o enfrentamento dos desafios educacionais e comunitários.

O professor é, sem dúvida, o ator principal do processo de ensino


aprendizagem, e a motivação torna-se essencial para que as metas e objetivos

educacionais sejam atingidos. Ele deve participar sempre, se envolver com os


cursos oferecidos, avaliando cada passo, contribuindo com suas idéias e

concepções, e tendo acesso a toda informação possível sobre a instituição na qual


leciona.

74
Analisando-se os resultados da avaliação do curso de Didática oferecido,

percebe-se claramente a falta de iniciativas para elucidar alguns pontos nebulosos


e para discutir projetos pedagógicos e planos de ensino. Após refletir sobre

aspectos tão significativos da educação profissional para a docência na


universidade, pode-se inferir que nos dias de hoje a universidade perdeu suas

fronteiras espaciais e temporais, destacando-se o compromisso de todos com o


social, o cultural e o comunitário.

A universidade tem o papel de proporcionar condições para que os


educadores/professores sintam-se envolvidos como sujeitos éticos do processo,

que, entusiasmados, tenham vontade de sonhar, e que, comprometidos,


percebam a articulação e a indissociabilidade do ensino pesquisa- extensão, com

oportunidades para criar, fazer acontecer.


[...]

75
UNIDADE 11- O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO ENTRE ALUNOS E PROFESSORES

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Reconhecer a necessidade de “negociar” a avaliação com as partes


envolvidas: aluno e docente, um acordo em relação ao interesse pelo conteúdo,

às características da tarefa proposta e aos requisitos da avaliação.

ESTUDANDO E REFLETINDO
Para sentir interesse, deve-se saber o que se deseja e sentir que isso

completa alguma necessidade (de saber, de realizar, de informar-se, de


aprofundar). Naturalmente, se um aluno não conhece o propósito de uma tarefa e

não pode relacionar esse propósito à compreensão daquilo que implica a tarefa e
às suas próprias necessidades, muito dificilmente poderá realizar aquilo que o

estudo envolve profundidade. Muito pelo contrário, quando isso permanece


desconhecido, o que implica como guia são as indicações do professor para

cumprir os requisitos da tarefa que , como não podem ser relacionadas às


finalidades a que respondem, podem levar à adoção de um enfoque superficial

Tal enfoque prevalece em classes, cujo método de ensino favorece a


dependência e nas quais combina-se excesso de trabalho com a falta de tempo.

A dinâmica, aqui, fica estabelecida em um grupo que exige do professor detalhar


minuciosamente as orientações que acompanham uma tarefa, ou que venha a

favorecer a dependência dos alunos; é importante dar conta de que eles não
precisam preocupar-se muito com o compreender o que fazem, pois, ao seguirem

as indicações dos professores, garantem êxito. Aqui nesta metodologia, fica


perceptível a condução do passo-a–passo, a necessidade de ter um “modelinho”

para prosseguir na tarefa. Assim, questiona-se: Até que ponto esse tipo de
atividade promove o aluno à aquisição do conhecimento para uma aprendizagem

significativa?
76
Situação parecida é quando o aluno passa de um professor para outro e de

uma disciplina para outra, sem solução de continuidade, situando-se cada hora no
âmbito de um conhecimento com pouca ou nenhuma relação aparente com o

âmbito anterior ou posterior, e ocupando boa parte dos seus esforços para
conhecer e adaptar-se às distintas exigências, estilos diferentes de trabalhos de

cada professor.

A situação toda pode também ser salpicada pelas características


dos processos de avaliação, pelos rituais que os acompanham e,
mais concretamente, pelos exames ou provas aos quais os alunos
são submetidos. Muitas vezes, as perguntas incluídas são de
caráter fechado e convidam os alunos a reproduzir, com o
mínimo de variações possível, dados, conceitos ou noções que
foram estudados anteriormente (Coll, 1998, p.37)

As estatísticas educacionais não se

contentam mais apenas com apresentação


de informações sobre os números de

matrículas e conclusões de curso. Surgem


mecanismos de avaliação externa, nacionais

e internacionais, para verificar o trabalho


realizado nas escolas. Obtendo índices de

escolarização mais refinados, como o do


analfabetismo funcional, o qual procura

confrontar escolaridade e saberes mínimos


que se espera sejam adquiridos. Há também a imprensa que explora os diversos

resultados e apresenta quadros desoladores para o Brasil.


Esse debate afeta os profissionais da área envolvidos, principalmente: os

professores. Trabalhando do outro lado do sistema, os professores são levados a


77
incorporarem culpas e assumirem responsabilidades por situações muito

complexas, que somente podem ser resolvidas diante de um conjunto de esforços


a se realizarem tanto no plano local, em cada sala de aula ou escola, quanto nos

planos mais amplos do sistema político educacional.


Resgatando todas as concepções aqui apresentadas e construídas,

questiona-se: “Qual significado atribui-se ao ato de avaliar a aprendizagem?”


A avaliação da aprendizagem escolar se faz presente na vida de todos nós

que, de alguma forma, estamos comprometidos com atos e práticas educativas.


Pais, educadores, educandos, gestores das atividades educativas públicas e

particulares, administradores da educação, todos, estão comprometidos com esse


fenômeno: “A avaliação da aprendizagem escolar”, que cada vez mais assume

espaço de grande relevância nas preocupações educativas.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Segundo Luckesi, 2002, o ato de avaliar,


devido a estar a serviço da obtenção do

melhor resultado possível, antes de qualquer


coisa, implica a “disposição de acolher”. Isso

significa a possibilidade de tomar uma situação


da forma como se apresenta, seja ela

satisfatória ou insatisfatória, agradável ou


desagradável, bonita ou feia. Ela é assim, nada

mais. Acolhê-la como está é o ponto de


partida, para se fazer qualquer coisa que possa

ser feita com ela. Avaliar um educando implica,


acolhê-lo no seu ser e no seu modo de ser,

como está, para, a partir daí, decidir o que fazer.


78
A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e não no objeto da

avaliação. O avaliador é o adulto da relação de avaliação, por isso ele deve possuir
a disposição de acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem ela, não há

avaliação. Ou seja, não é possível avaliar um objeto, uma pessoa ou uma ação
caso ela seja recusada ou excluída, desde o início, ou mesmo julgada previamente.

Que mais, se pode fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram recusados,
desde o primeiro momento? Nada, com certeza!

Imagina-se um médico que não tenha a disposição de acolher o seu cliente


no estado em que está; um empresário que não tenha a disposição para acolher a

sua empresa na situação em que se encontra. Assim também é a prática de


avaliação. É um estado psicológico oposto ao estado de exclusão, que apresenta

em sua base, o julgamento prévio. Este julgamento, por sua vez, está sempre na
defesa ou no ataque, nunca no acolhimento. A disposição para julgar previamente

não serve a uma prática de avaliação porque exclui.


Para ter essa disposição para acolher, importa estar atento a ela. Não se

nasce, naturalmente, como esta, mas sim constrói-se, desenvolve-se, estando


atento ao modo como se recebem as coisas. Se antes de ouvir ou ver, observar,

alguma situação já se esta julgando, positiva ou negativamente, com certeza, não


se é capaz de acolher.

79
UNIDADE 12- DIAGNOSTICAR E DECIDIR: PROCESSOS ARTICULADOS E

INDISSOCIÁVEIS

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: Compreender a avaliação como processo de escolha, diagnóstico e

decisão de retomada de procedimentos, para a obtenção da qualidade da


aprendizagem.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Assentando no ponto de partida acima estabelecido, o ato de avaliar


implica em dois processos articulados e indissociáveis: diagnosticar e decidir. Não

é possível uma decisão sem um diagnóstico, e um diagnóstico sem uma decisão é


um processo abortado.

Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, que se constitui de


uma constatação e de uma qualificação do objeto da avaliação. Fica necessário

constatar o estado de alguma coisa, tendo por base suas propriedades


específicas. Como por exemplo, constata-se a existência de uma cadeira e seu

estado, a partir de suas propriedades físicas (características). A constatação


sustenta a configuração do objeto, tendo por base suas propriedades, como estão

no momento. O ato de avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, inicia-se


pela constatação, que dá a garantia de que o objeto é como é. Não existe a

possibilidade de avaliação sem constatação. Esta por sua vez, oferece a base
material para a segunda parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja,

atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto avaliado. No exemplo


acima, qualifico a cadeira como satisfatória ou insatisfatória, tendo por base as

suas propriedades atuais. Só a partir da constatação é que se qualifica o objeto de


avaliação. A partir dos dados constatados, é que se atribui ao objeto ou coisa uma

qualidade.
80
Entretanto, essa qualificação não ocorre do nada. Ela é estabelecida, a

partir de um determinado padrão, de um determinado critério de qualidade que


se tem, ou que se estabelece para esse objeto. No caso da cadeira, ela está sendo

qualificada de satisfatória ou insatisfatória em função do quê? Ela, no caso, será


satisfatória ou insatisfatória em função da finalidade à qual irá servir. Ou seja, o

objeto da avaliação está envolvido em uma tessitura cultural (teórica),


compreensiva, que o envolve. Mantendo o exemplo acima, a depender das

circunstâncias onde esteja a cadeira, com suas propriedades específicas, ela será
qualificada como satisfatória para um determinado ambiente, mas insatisfatória

para outro ambiente, possuindo as mesmas propriedades específicas.


Desde que diagnosticado um objeto de avaliação, ou seja, configurado e

qualificado, há algo, obrigatoriamente, a ser feito: uma tomada de decisão sobre


ele. O ato de qualificar, por si, implica uma tomada de posição- positiva ou

negativa, que por sua vez, conduz a uma tomada de decisão. Caso um objeto seja
qualificado como satisfatório, o que fazer com ele? Caso seja qualificado como

insatisfatório, o que fazer com ele?


Sem este ato de decidir, o ato de avaliar não se completa. Ele não se

realiza. Chegar ao diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de


diagnosticar, sem tomar decisão, assemelha-se à situação do náufrago que, após

o naufrágio, nada com todas as suas forças para salvar-se e, chegando às


margens, morre antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem tomada de

decisão é um curso de ação avaliativa que não se completou.


Como qualificação, a tomada de decisão também não se faz num vazio

teórico. Toma-se decisão em função de um objetivo que se tem a alcançar. Um


médico toma decisões, em relação à saúde de seu paciente, na condição de

melhorar a sua qualidade de vida; um empresário toma decisões a respeito de sua


empresa, em função de melhorar seu desempenho e assim por diante, em todas

81
as decisões da vida, em todas as áreas, a qualidade se dá em função de análise

dos fatos e das ações decorridas, em avaliação constante.


Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma disposição

acolhedora, qualificamos alguma situação e ou coisa (objeto, ação ou pessoa),


tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão sobre ela.

Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a decisão necessitam ser


dialogadas. O ato de avaliar não é um ato impositivo, mas sim um ato dialógico e

construtivo. Desse modo, a avaliação é um auxiliar de uma vida melhor, mais rica
e mais plena, em qualquer de seus setores, desde que constata, qualifica e orienta

novas possibilidades e, certamente, mais adequadas e assentadas nos dados do


momento presente.

Transpõe-se tal conceito da avaliação para a compreensão da avaliação da


aprendizagem escolar. Tomam-se as elucidações conceituais anteriores para

explanar tais fatos. Primeiramente, resgata-se a disposição de acolher. Para se


processar a avaliação da aprendizagem, o educador professor necessita dispor-se

a acolher o que está acontecendo. Certamente, o educador poderá ter alguma


expectativa em relação a possíveis resultados de sua atividade, mas necessita estar

disponível para acolher seja lá o que for que estiver acontecendo. Isso não quer
dizer que o que está acontecendo, seja o melhor estado da situação avaliada.

Importa estar disponível para acolhê-la do jeito em que se encontra, pois só a


partir daí é que se pode fazer alguma coisa.

BUSCANDO CONHECIMENTO

No caso da aprendizagem, como se esta trabalhando com a pessoa, o


educando, aluno, importa acolhê-lo como ser humano na sua totalidade e não só

na aprendizagem específica que se avalia, tais como o desempenho em Língua


Portuguesa, Matemática, Geografia, dentre outras áreas do conhecimento.

82
Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder as atividades de

avaliação, segundo Luckesi, 2002, assim como para proceder a toda e qualquer
prática educativa. Sem acolhimento, temos a recusa. E a recusa significa a

impossibilidade de estabelecer um vínculo de trabalho educativo com quem está


sendo recusado.

A recusa pode manifestar de muitos modos, desde os mais explícitos até os


mais sutis. A recusa explícita se dá, quando deixamos claro que estamos

recusando alguém.
No entanto, existem modos sutis de recusar, tal como o exemplo seguinte:

só para nós, em nosso interior, sem dizer nada para ninguém, julgamos que um
aluno X é do tipo que dá trabalho e que não vai mudar. Esse juízo, por mais

silencioso que seja em nosso ser, está lá colocando esse educando de lado, o que
o faz estar fora do nosso círculo de relações. Acolhê-lo significa estar aberto para

recebê-lo como é. Só vendo a situação como é que podemos compreendê-la,


para dialogicamente, ajudá-lo. Isso não significa que se deve aceitar como certo

tudo que vem do educando. Acolher, neste caso, significa a possibilidade de abrir
espaço para a relação que, por si mesma, terá confrontos que poderão ser de

aceitação, de negociação, de redirecionamento. Por isso, a recusa,


consequentemente, impede as possibilidades da prática educativa. O ato de

acolher é um ato amoroso, que traz para dentro, para depois e, somente depois,
verificar as possibilidades do que fazer.

Assentados no acolhimento do educando, podem-se praticar todos os atos


educativos, inclusive a avaliação. E, para avaliar, o primeiro ato básico é o de

diagnosticar, que implica, como seu primeiro passo, coletar dados relevantes, que
configurem o estado de aprendizagem do educando ou dos educandos. Para

tanto, necessita-se de instrumentos. Aqui, três pontos básicos devem ser levados
em consideração: 1- dados relevantes, 2- instrumentos, 3- utilização dos

instrumentos.
83
Cada um desses pontos merece atenção. Os dados coletados para a prática

da avaliação da aprendizagem não podem ser quaisquer. Devem ser coletados os


dados essenciais para avaliar o que se pretende avaliar, pois são eles que

caracterizam especificamente o objeto em pauta de avaliação. Ou seja, a avaliação


não pode assentar-se sobre dados secundários do ensino-aprendizagem, mas

sim, sobre os que efetivamente configuram a conduta ensinada e aprendida pelo


educando. Caso esteja avaliando aprendizagens específicas de matemática, dados

sobre essa aprendizagem devem ser coletados, e não outros de qualquer outra
área do conhecimento. Dados essenciais são aqueles que estão definidos nos

planejamentos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e que forma


traduzida em práticas educativas nas aulas.

Isso implica que o planejamento de ensino necessita ser produzido de


forma consciente e qualitativamente satisfatória, tanto do ponto de vista cientifico

como do ponto de vista político-pedagógico.

84
UNIDADE 13 - INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO: CARACTERÍSTICAS E

POTENCIALIDADES

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: Identificar os adequados instrumentos de avaliação da aprendizagem

para se coletarem os dados necessários, para promover a avaliação qualitativa.

ESTUDANDO E REFLETINDO
Os instrumentos de avaliação da aprendizagem também não podem ser

quaisquer instrumentos, mas sim os adequados para se coletarem os dados


necessários, para configurar o estado de aprendizagem do aluno. Isso implica

que os instrumentos:
1- Sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que se esta avaliando;

2- Sejam adequados aos conteúdos essenciais planejados e, de fato, realizados


no processo de ensino- o instrumento necessita cobrir todos os conteúdos

que são considerados essenciais em uma determinada unidade de ensino-


aprendizagem.

3- Sejam adequados na linguagem, na clareza e na precisão da comunicação,


importando que o educando, aluno, compreenda exatamente o que se pede

a ele.
4- Sejam adequados ao processo de aprendizagem do educando, pois um

instrumento não lhe deve dificultar a aprendizagem, mas, ao contrário, servir-


lhe de reforço do que já aprendeu. Responder às questões significativas

significa aprofundar as aprendizagens já realizadas.


Um instrumento de coleta de dados pode ser desastroso, do ponto de vista

da avaliação da aprendizagem, como em qualquer avaliação, na medida em que


não colete, com qualidade, os dados necessários ao processo em curso. Um

instrumento inadequado ou defeituoso pode distorcer completamente a realidade


85
e, por isso, oferecer base inadequada para a qualificação do objeto da avaliação e,

conseqüentemente, conduzir a uma decisão também distorcida.


Quaisquer que sejam os instrumentos: prova, teste, redação, exposição

oral, enfim, necessitam manifestar qualidade satisfatória como instrumento para


ser utilizado na avaliação da aprendizagem escolar, sob pena de estar

qualificando inadequadamente o educando. Muitas vezes, o educando é


competente em suas habilidades, mas os instrumentos utilizados de coleta de

dados não foram adequados e, por isso, julga-se, incorretamente, qualificando-o


como incompetente.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Alguns instrumentos que podem ajudar na decisão da coleta e análise de


dados, no trabalho do educador de avaliar o processo de ensino aprendizagem,

segundo Santana, 1995, são:


1- Conselho de classe: instrumento que visa levantar o perfil de cada educando e

do grupo estudado.
2- Pré-teste: teste aplicado para averiguar pré-requisitos na aquisição de novos

conhecimentos.
3- Autoavaliação: instrumento capaz de conduzir o educando a uma modalidade

de autoconhecimento que se põe em prática a vida toda.


Graças a ela os alunos adquirem uma capacidade cada vez
maior de analisar suas próprias aptidões, atitudes,
comportamentos, pontos fortes, necessidades e êxito na
consecução de propósitos. Eles desenvolvem sentimentos de
responsabilidade pessoal ao apreciar a eficácia dos esforços
individuais e de grupo. Aprendem a enfrentar corajosamente
as competências necessárias em várias tarefas e aquilatar suas
próprias potencialidades e contribuições. Para que a
autoavaliação tenha êxito é necessário que o professor
acredite no aluno e ofereça condições favoráveis à

86
aprendizagem, pois só assim este se sentirá seguro, confiante
e manifestará autenticidade (SANT’ANNA, 1995, P.94).

4- Avaliação cooperativa: instrumento que oportuniza uma avaliação


compreensiva, onde cada indivíduo contribui com os dados que possui no

intuito do desenvolvimento individual e grupal.


Dentre outras vantagens oferece ao aluno individualmente e
ao grupo o reconhecimento da colaboração de cada um, a
satisfação por haverem exercido uma ação convergente na
comunidade escolar, a conscientização do valor do exercício
da atividade em comum. Visto o caráter de subjetividade que
envolve a avaliação, a avaliação conjunta, integrada, dá maior
objetividade à mesma (SANT’ANNA, 1995, P.96).

5- Observação: Contempla, da mesma maneira, como o outro nos enxerga. É a

análise dos fatos, comportamentos dos educandos, mediante uma situação de

aprendizagem. Na realidade, é o que o educador consegue enxergar, dentro


do que o educando consegue demonstrar. Muito cuidado aqui, pois, nem

sempre o aluno demonstra o que sabe realmente e nem sempre o professor


consegue observar o que realmente o aluno sabe. Observa-se para: constatar

um fato, comprovar hipóteses e interpretar certo fenômeno, podendo ser


considerada em duas dimensões: 1- como processo mental- ato de apreender

coisas e acontecimentos, comportamentos e atributos pessoais e 2- como


técnica organizada que é o meio de medir por descrição , classificação e

ordenação.
6- Inquirição- questionar o outro sobre o que realmente sabe, sobre o que ficou,

aprendeu e ou entendeu das situações desenvolvidas pelo educador. O


questionário é um instrumento de coleta de dados para a inquirição. Alguns

elementos necessários a serem considerados na elaboração de um questionário


segundo a autora acima:

87
a- Determinar os objetivos.

b- Selecionar os itens.
c- Selecionar as informações.

d- Ordenar as informações e redigi-las em forma de questões.


e- Redigir as instruções.

f- Reproduzir o questionário, ressaltando-se que, para aplicação, faz-


se necessário tabular as respostas e analisar os resultados.
7- Relatório: constitui-se pelo registro de dados que expressa a comunicação dos
resultados de planejamentos concretizados. Aqui também refere ao registro

realizado pelo professor decorrente ao desenvolvimento de cada aluno em


atividades trabalhadas. Requer muito da habilidade de observar e registrar as

situações apresentadas pelos alunos.


O relatório tem por finalidade informar, relatar, fornecer
resultados, dados, experiências que permitam à autoridade
competente constatar a realidade das atividades desenvolvidas
pelos órgãos ou serviços pelos quais são responsáveis.
(SANT’ANNA, 1995, P.120).

O que se deve considerar em um relatório, segundo a autora acima:


A- Análise do problema:

• Quem lerá o relatório?


• Qual o propósito do relatório?

• Que objetivo pretende atingir?


• Qual o alcance do relatório?

• Para que se faz especificamente?


• Quanto tempo há para ele ser elaborado?

• Que diretrizes, instruções, normas devem-se levar em


consideração?

B- Planejamento do trabalho.

88
C- Investigação do problema.

D- Exposição do informe.
E- Organização do informe.

F- Controle do informe
G- Modificação do estudo.

H- Preparação final.
Cabe, aqui, outra consideração sobre o uso dos instrumentos. Como nós

nos utilizamos dos instrumentos de avaliação da aprendizagem? Eles são


utilizados, na verdade, como recursos de coleta de dados sobre a aprendizagem

de nossos educandos ou são utilizados como recursos de controle disciplinar, de


ameaça e submissão de nossos educandos aos nossos desejos? Podemos utilizar

um instrumento de avaliação junto aos nossos educandos, simplesmente, como


um recurso de coletar dados sobre suas condutas aprendidas ou podemos utilizar

esse mesmo instrumento como recurso de disciplinamento externo e aversivo,


através da ameaça da reprovação, da geração do estado de medo, da submissão,

e outros? Afinal, aplicamos os instrumentos com disposição de acolhimento ou de


recusa dos nossos educandos? Ao aplicar os instrumentos de avaliação, cria-se

um clima leve entre nossos educandos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar


instrumentos de avaliação exige muitos cuidados para não distorcer a realidade,

pois nossos educandos são seres humanos e, nessa condição, estão submetidos a
múltiplas variáveis intervenientes em nossas experiências de vida.

Logo após, coletados dados através dos instrumentos, como são utilizados
pelo docente educador? Os dados coletados devem retratar a situação de

aprendizagem em que o educando se encontra. Isto feito, importa saber se esta


situação é satisfatória ou não. Daí, então, a necessidade que se tem de qualificar

a aprendizagem, manifestada através dos dados coletados. Para isso, é necessário


utilizar de um padrão de qualificação. Esse padrão, comparado ao estado de

aprendizagem do educando, é estabelecido no planejamento de ensino,


89
importando, para a prática da qualificação dos dados de aprendizagem dos

educandos, tanto a teoria pedagógica que a sustenta como o planejamento de


ensino que se faz. A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e o

planejamento do ensino faz a mediação entre a teoria pedagógica e a prática de


ensino na aula. Sem eles, a prática da avaliação escolar não tem sustentação.

Desta maneira, caso se utilize uma teoria pedagógica que considere a


retenção da informação como suficiente para o desenvolvimento do educando, os

dados serão qualificados diante desse entendimento. No entanto, caso a teoria


pedagógica utilizada leve em conta que, para o desenvolvimento do educando,

importa a formação de suas habilidades de compreender, analisar, sintetizar,


aplicar, os dados coletados serão qualificados, positiva ou negativamente, diante

dessa exigência.
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos educandos, importa, de

um lado, ter clareza da teoria que se utiliza como suporte da prática pedagógica;
de outro, o planejamento de ensino que se estabelece como guia para a prática

de ensino no decorrer das unidades em desenvolvimento. Sem clareza e


consistência teórica e sem um planejamento de ensino, com sua consequente

execução, os atos avaliativos serão praticados aleatoriamente, de forma mais


arbitrária do que o são em sua própria constituição.

90
UNIDADE 14 - EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS VIGENTES EM AVALIAÇÃO

EDUCACIONAL.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: Tomar conhecimento e refletir sobre as práticas vigentes em avaliação

educacional.

ESTUDANDO E REFLETINDO
Os instrumentos de avaliação têm predominado nas escolas de todo o país,

desde tempos remotos até o presente momento, com a utilização de um número


muito restrito de instrumentos de avaliação de aprendizagem. Refere-se, quase

sempre, a instrumentos que exigem dos alunos a apresentação de respostas


escritas a questões que supõem uma única resposta correta. Alternativamente,

também são utilizados em larga escala, os conhecidos, testes objetivos, que por
sua vez muito utilizados em processos seletivos: concursos e vestibulares, em que

o aluno tem que optar pela resposta diante de algumas alternativas oferecidas.
Tanto em um caso como em outro, o que se procura verificar é a

incorporação pelos alunos de determinadas ideias, fatos ou conceitos que podem


ser expressos mediante o uso de formas verbais relativamente simples, com o

mínimo possível de ambiguidade.


Cordeiro (2007) questiona: Sendo os exames aplicados igualmente a todos

os alunos de uma classe, seria possível discernir, mediante um processo de


comparação com um determinado padrão ideal, em relação àqueles que

assimilaram e aos que não assimilaram o conhecimento verificado e estabelecido


uma avaliação supostamente mais “justa”? Essa alegação da necessidade de

justiça na avaliação escolar, no entanto, costuma ser aplicada de maneira muito


confusa. Prega-se uma avaliação que esteja de acordo com o processo de ensino

91
aprendizagem e seja significativa esta aprendizagem, como estar então

procedendo de maneira objetiva e pontual?

Ora, valendo-se de provas padronizadas e testes objetivos, só é


possível lidar com de terminados conhecimentos e determinadas
competências que não se prestam a respostas de múltiplas ou
ambíguas. Neste caso, portanto, só se pode lidar com o
conhecimento proposicional. Uma prova desse tipo não serve
para avaliar outras modalidades de conhecimento que exijam
elaboração pessoal pelo aluno, confronto de posições diferentes
ou emissão de um julgamento ou opinião pessoal, por exemplo.
(CORDEIRO, 2007, p.159)

Logo, percebe-se que um vasto conjunto de práticas e saberes muito


significativos que sempre são postos como objetivos relevantes a serem

alcançados no processo de ensino e de aprendizagem, não devem ser

aprendidos, mediante a aplicação dos procedimentos avaliativos do cotidiano


aplicados casualmente, aleatoriamente.

BUSCANDO CONHECIMENTO
Na medida em que a Educação Básica e, dentro dela, a escola vai se
organizando, inserem-se, em seu contexto, práticas de reorganização do trabalho

nos ciclos básicos de alfabetização, no Ensino Fundamental e Médio, iniciando aí,


a busca de outra concepção de avaliação. O modelo baseado na lógica da seleção

é insuficiente para uma prática escolar que pense o processo de aprendizagem,


como bem foi possível verificar nas unidades anteriores aqui apresentadas. O

desafio da construção de uma dimensão pedagógica mais descritiva, de iniciativas


diferenciadas para que os alunos aprendam com mais sucesso, deve estender-se à

necessidade de novas formas de registro burocrático: novos formulários de


transferência, novos formulários de arquivo dos dados sobre a história escolar do

92
aluno. Novos modelos de registro burocrático então são criados para sustentar

uma lógica da avaliação a serviço da aprendizagem.


A ação avaliativa está totalmente relacionada com o planejamento da ação

educativa. Tem o seu processo no início da discussão do projeto da escola: o que


é e para que avaliar? Da discussão e definição coletiva, passa-se ao planejamento

do currículo em ação, dos projetos a serem desenvolvidos, das intenções


educativas a serem trabalhadas. Essa é a primeira parte da ação. Após essas

definições, segue-se rumo ao pensar quais deverão ser os instrumentos que darão
conta das dimensões do conteúdo escolar entendido em sua tipologia, como

fatos, conceitos, procedimentos e atitudes. Reflete-se e defini-se sobre a utilização


dos instrumentos, analisando sua viabilidade e seu valor no levantamento de

dados. A escola se pergunta: qual instrumento é melhor para conhecer o que os


alunos estão sabendo sobre fatos, sobre conceitos, sobre procedimentos e

atitudes?
Passa-se, daí para frente, a elaborar os suportes da implantação e os

encaminhamentos, tais como: conversar com a comunidade escolar, conversar


com os alunos, preparar fichas ou formulários diferentes. A realização do processo

de avaliar é a outra fase da Ação Avaliativa. Compõe a ação, mas não a esgota.
Os professores e alunos vivenciam com a maior ou menor participação da

comunidade através de conselhos escolares, reuniões pedagógicas, conselhos e


ciclo ou série, conselhos de turma, assembleias de turma, instâncias de avaliação

importantíssimas na democratização dessa ação. Nesse caso, quanto mais a


escola avançar na democratização de suas estruturas e relações, maior será a

participação organizada dos atores internos e externos.


A definição destes atores é outra iniciativa que deverá integrar a Ação

Avaliativa. Um conselho de classe, formado, também, por pais e alunos ou um


conselho de classe apenas de educadores já demonstra o grau de democratização

93
desta Ação Avaliativa. Algumas escolas já desenvolvem conselhos de ciclo, com

uma participação representativa de todos os envolvidos.


Por sua vez, a escola precisa definir como fará com os alunos que, no

processo, demonstrarem a necessidade de atendimento diferenciado para


aprender o que é importante no período da sua formação. Faz parte da ação

avaliativa a definição desses formatos de trabalho diferenciado, sempre com a


intenção de contribuir nas aprendizagens dos alunos. Feito isso, a escola deve

pensar como será o seu registro burocrático, aquelas informações sobre a vida
escolar do aluno que serão importantes administrativamente: boletim ou portfólio,

ficha descritiva ou notas, relatórios individuais, formulários de transferência, diário


de anotações, observações, enfim, procedimentos necessários para obtenção de

dados que auxiliem em uma nova forma de trabalhar a avaliação rumo ao sucesso
do aprendizado do aluno e sucesso no trabalho do professor. A ação avaliativa

comporta, portanto, duas dimensões de avaliação: a pedagógica e a burocrática.

94
UNIDADE 15 - A DIMENSÃO ATITUDINAL DA AVALIAÇÃO.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivo: Identificar caminhos para que se desenvolva uma avaliação mais


significativa: conteúdos, procedimentos e atitudes.

ESTUDANDO E REFLETINDO

A avaliação precisa, segundo os Parâmetros curriculares nacionais, levar em


conta os Conteúdos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais como dimensões

que contribuem para o desenvolvimento de capacidades motoras, de equilíbrio,


de autonomia, de relação interpessoal e de inserção social.

O professor, no exercício da sua prática educativa, precisa ter claro que


essas dimensões também estão presentes no momento da avaliação, sendo

conveniente cuidar da seleção e da organização desses componentes essenciais


no processo avaliativo.

Dimensão Atitudinal

A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que indicará os valores


em construção. É mais difícil de ser trabalhada, porque não se descola da

formação mais ampla em outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus
componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos (sentimentos e

preferências) e referentes a condutas (ações e declaração de intenção). Manifesta-


se mais através do comportamento referenciado em crenças e normas. Por isso,

precisa ser amplamente entendida à luz dos valores que a escola considera
formadores. A aquisição de valores é alcançada através do desenvolvimento de

atitudes de acordo com esse sistema de valores. Depende de uma auto-persuasão


que está sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as pessoas

95
têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em relação ao mundo. As

atitudes e valores envolvem também as normas.


Os valores são princípios ou ideias éticas que permitem às pessoas emitir

um juízo sobre as condutas e seu sentido. A solidariedade, a responsabilidade, a


liberdade, o respeito aos outros são exemplos de tais valores e princípios. Atitudes

são tendências relativamente estáveis das pessoas para atuarem de certas


maneiras: cooperar com o grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas

escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados. Normas são padrões ou


regras de comportamentos que as pessoas devem seguir em determinadas

situações sociais. Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos
debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza do planejamento

das atividades de sala de aula.


Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem de atitudes são a

observação e autoavaliação.
Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos, procedimentos

e atitudes), deve-se formalizar sempre o momento da avaliação inicial. Ela é um


início de diagnóstico que ajudará os professores e os alunos a conhecerem o

processo de aprendizagem. O professor deve diversificar os instrumentos para


cobrir toda a tipologia dos conhecimentos: provas, trabalhos e observação, para

avaliar fatos e conceitos, observação para concluir na avaliação da construção


conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de procedimentos e atitudes;

auto-avaliação para avaliar atitudes e conceitos.


Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial em todo o

processo de aprendizagem, usando a prática de datar o que está sendo registrado


e propiciando ao próprio aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um

conteúdo novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele.

BUSCANDO CONHECIMENTO
96
SUGESTÕES DE AVALIAÇÃO INICIAL / CAMPO ATITUDINAL

Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada conteúdo que é


introduzido, pois, é a partir dela que se pode fazer uma avaliação do que

realmente pode ser considerado aprendido.


Como são os alunos individualmente em grupos?

Que grupos sociais representam?


Como se comportam e se vestem?

O que apreciam?
Quais seus interesses?

O que valorizam?
O que fazem quando não estão na escola?

Como suas famílias vivem?


O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram?

Como se organiza o espaço que compartilham fora da escola?


Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores, sua adesão/rejeição às

normas, suas atitudes?


Realizado isso, planeja-se como trabalhar as atitudes importantes para a

formação dos alunos na adolescência. Para mudança de atitudes é que são feitos
os projetos.

 Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às pessoas emitir juízo
sobre as condutas e seu sentido. Ex: a solidariedade, a responsabilidade, a

liberdade, o respeito aos outros.


 Atitudes são tendências relativamente estáveis das pessoas para atuarem

de certas maneiras: cooperar com o grupo, respeitar o meio ambiente,


participar das tarefas escolares, respeitar datas, prazos, horários,

combinados.
 Normas são padrões ou regras de comportamentos que a pessoas devem

seguir em determinadas situações sociais.


97
UNIDADE 16 - ORIENTAÇÕES PARA CONHECER A APRENDIZAGEM DE

PROCEDIMENTOS

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: Analisar os conteúdos procedimentais nos processos de aprendizagem

escolar

ESTUDANDO E REFLETINDO
A dimensão procedimental

Na dimensão procedimental é imprescindível que os processos formativos


proporcionem aos alunos autonomia para analisar, comparar e criticar os

resultados e os processos realizados durante as atividades escolares.


São os conteúdos procedimentais que permitem a inclusão de

conhecimentos que geralmente não são considerados nos processos escolares.


Exemplos desses conteúdos: documentação, organização, comparação dos dados,

argumentação, verificação, revisão de textos escritos, dentre outros exemplos que


poderíamos aqui apresentar.

Anotar sempre, registrar o que os alunos já sabem em relação às


habilidades que a escola valoriza e ensina (e o que ainda não sabem).

As habilidades implicam “saber fazer”, “colocar em ação”, sendo


identificados como conteúdos procedimentais. Esses conteúdos envolvem um

conjunto de ações ordenadas com um fim, um objetivo. Por exemplo: ler,


desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir, recortar, saltar, inferir, propor,

envolvendo operações motoras e cognitivas.


Envolvem também a realização das ações, exercitação múltipla e a reflexão

sobre a ação, a atividade desenvolvida e a aplicação do conhecimento em


situações e contextos diferenciados. Possibilitam aos alunos proceder (saber o que

fazer) ao longo de uma construção conceitual.


98
Os docentes necessitam identificar as inúmeras habilidades que

pressupõem estratégias cognitivas para a aprendizagem e torná-las objeto do (re)


planejamento e conteúdo do registro na ficha/relatório. Desde que identificadas,

os professores podem se organizar para ensinar, ou seja, criar situações


orientadas para os alunos desenvolvê-las.

Citamos, baseado em COLL et al., 2000, exemplos de habilidades na busca


de informação:

Como e onde está armazenada a informação em relação a uma matéria?


 Como fazer perguntas?

 Como usar uma biblioteca?


 Como usar material de referência?

A cada grupo de habilidades (sociais, habilidades de comunicação,


habilidades analíticas, habilidades inventivas ou criativas, habilidades

organizativas, habilidades de assimilação e retenção da informação)


correspondem as estratégias cognitivas para a aprendizagem. Os professores

devem planejar o trabalho com base nessas estratégias cognitivas para a


aprendizagem. Quando uma intenção educativa for o “posicionamento diante da

informação”, os meios para se chegar onde se quer são importantes e precisarão


ser ensinados. O planejamento dos professores deve envolver a possibilidade de

posicionamento dos alunos.

BUSCANDO CONHECIMENTO
Para ajudar na compreensão dos procedimentos para aprendizagem veremos um

fragmento do artigo de César Cool intitulado “Significado e sentido na


aprendizagem escolar. Reflexões em trono do conceito de aprendizagem

significativa”. Disponível em:


http://www.pbh.gov.br/smed/cape/artigos/textos/cesar

[...]
99
1 - APRENDIZAGEM ESCOLAR E CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS
Falar de aprendizagem significativa equivale, antes de tudo, a pôr em relevo o

processo de construção de significados como elemento central do processo de


ensino/aprendizagem. O aluno aprende um conteúdo qualquer - um conceito,

uma explicação de um fenômeno físico ou social, um procedimento para resolver


determinado tipo de problemas, uma norma de comportamento, um valor a

respeitar, etc. - quando é capaz de atribuir-lhe um significado. De fato, no sentido


estrito, o aluno pode também aprender estes conteúdos sem lhes atribuir

qualquer significado; é o que acontece quando aprende de uma forma puramente


memorística e é capaz de repeti-los ou de utilizá-los mecanicamente sem

entender em absoluto o que está dizendo ou o que está fazendo.


A maioria das vezes, no entanto, o que acontece é que o aluno é capaz de

atribuir unicamente significados parciais ao que aprende: o conceito aprendido -


ou a explicação , ou o valor, ou a norma de conduta, ou o procedimento de

resolução de problemas - não significa exatamente o mesmo para o professor que


o ensinou que para o aluno que o aprendeu, não tem as mesmas implicações ,

nem o mesmo poder explicativo para ambos, que não podem utilizá-los ou
aplicá-lo em igual extensão e profundidade ??? não possui para eles a mesma

força como instrumento de compreensão de ação sobre a parcela da realidade a


que se refere. Isto quer dizer que a significância da aprendizagem não é uma

questão de tudo ou nada de grau; em consequência, em vez de propormo-nos


que os alunos ???? aprendizagem significativas, talvez fosse mais adequado tentar

que as aprendizagens que executam sejam a cada momento da escolaridade a


mais significativas possível. Longe de ser um jogo de palavras, esta mudança de

perspectiva é importante porque sublinha o caráter aberto e dinâmico da


aprendizagem escolar e coloca o problema na direção ou direções??? o ensino

100
deve agir para que os alunos aprofundem e ampliem os significados que

constroem mediante a sua participação nas atividades de aprendizagem.


Mas o que exatamente quer dizer que os alunos constroem significados? Uma

primeira aproximação, sem lugar à dúvida mais conhecida é a que proporcionam


Ausubel e seus colaboradores (veja, por exemplo, Ausubel, Novak e Hanesian,

1983, Novak, 1982). Segundo estes autores, construímos significados cada vez que
somos capazes de estabelecer relações "??? e não arbitrárias" entre o que

aprendemos e o que já conhecemos, ??? a maior ou menor riqueza de


significados que atribuiremos ao ??? aprendizagem dependerá da maior ou

menor riqueza e complexidade das relações que formos capazes de estabelecer.


Por exemplo, a observação da fauna e da flora de uma região qualquer dará lugar

à construção de ??? dos distintos no caso de um aluno que não possui


conhecimentos BBBBB da biologia, no caso de um aluno que não possui algum

tipo de conhecimento deste tipo e que, portanto, pode estabelecer múltiplas


relações de ???? e de contraste, ou no caso de um aluno que, além disso, pode

relacionar o observado às relações econômicas, às formas de habitat e aos


costumes dos habitantes da região. Nos três casos, o aluno em questão atribui

significados ao que observa, mas estes significados têm uma amplitude e uma
natureza nitidamente distinta.

Em termos piagetianos, poderíamos dizer que construímos significados


integrando ou assimilando o novo material de aprendizagem aos ???? que já

possuímos de compreensão da realidade. O que empresta ????? ao material de


aprendizagem é precisamente a sua assimilação e a sua inserção nestes esquemas

prévios. Num caso extremo, o que não podemos assimilar a qualquer esquema
prévio carece totalmente de significado para nós. A experiência cotidiana informa-

nos que podemos estar em contato com uma variedade de fatos, de fenômenos e
de situações que praticipam e não existem para nós, que não significam nada até

que seja por que ???? inserem-se em nossos esquemas de atuação ou de


101
conhecimento, ???? de chofre um significado até este momento desconhecido.

Mas seguindo com a terminologia piagetiana, a construção de significados implica


igualmente numa acomodação, numa diversificação, num enriquecimento, numa

maior interconexão dos esquemas prévios. Ao relacionar o que já sabemos com o


que estamos aprendendo, os esquemas de ação e de conhecimento - o que já

sabemos - modificam-se e, ao modificarem-se, adquirem novas potencialidades


como fonte futura de atribuição de significados.

Já mencionamos que nem sempre a aprendizagem significativa, isto é, que


nem sempre dá lugar à construção de significados. Em muitas ocasiões, a

aprendizagem limita-se à mera repetição memorística. De fato, é bem mais difícil


alcançar um nível elevado de significância na aprendizagem escolar. As condições

que a sua realização exige nem sempre são fáceis de cumprir. Ausubel e seus
colaboradores insistiram em inúmeras ocasiões sobre as exigências que a

aprendizagem significativa coloca. Antes de tudo, é necessário que o novo


material de aprendizagem, o conteúdo que o aluno vai aprender, seja

potencialmente significativo, isto é, seja suscetível de dar lugar à construção de


significados. Para isto, deve cumprir duas condições, uma intrínseca ao próprio

conteúdo de aprendizagem e a outra relativa ao aluno particular que vai aprendê-


lo.

A primeira condição é que o conteúdo possua uma certa estrutura interna,


uma certa, lógica intrínseca, um significado em si mesmo. Dificilmente o aluno

poderá construir significados se o conteúdo de aprendizagem é vago, está pouco


estruturado ou é arbitrário; isto é, se não é potencialmente significativo do ponto

de vista lógico. É certo, esta significância lógica em potencial, como a denomina


Ausubel, não depende só da estrutura interna do conteúdo como também da

maneira como este é apresentado ao aluno. Assim, por exemplo, um conteúdo


como o usa das preposições em inglês apresenta, em princípio, uma escassa

significância lógica, ao menos para um falante latino; no entanto, pode ser


102
apresentado aos alunos de tal maneira que a sua significância lógica fique

amplamente realçada (Pla, 1987). Mas não é suficiente que o conteúdo possua
significância lógica. Requer-se ainda uma segunda condição para que um aluno

determinado construa significados a propósito deste conteúdo é necessário, além


disso, que possa relacioná-lo de forma não arbitrária com o que já conhece, que

possa assimilá-lo, que possa inseri-lo nas redes de dignificados já construídas no


decurso de suas experiências prévias de aprendizagem; em outros termos, é

necessário que o conteúdo seja potencialmente significativo do ponto de vista


psicológico. Esta significância psicológica do material de aprendizagem explica,

por outro lado , a importância concedida por Ausubel e seus colaboradores ao


conhecimento prévio do aluno como o fator decisivo no momento de defrontar-

se com a aquisição de novos conhecimentos.


A significância lógica e psicológica em potencial do conteúdo de

aprendizagem, apesar de serem duas condições necessárias, não são, no entanto,


ainda suficientes para que o aluno construa significados. É necessário, além disso,

que este, o aluno, tenha uma atitude favorável para aprender significativamente.
Este requisito, em geral esquecido nas discussões sobre o tema que nos ocupa, é

uma consequência lógica do protagonismo do aluno e da sua responsabilidade na


aprendizagem. A atitude favorável para a aprendizagem significativa faz referência

a uma intencionalidade do aluno para relacionar o novo material de


aprendizagem com o que já conhece, com os conhecimentos adquiridos

previamente, com os significados já construídos. Quando a intencionalidade é


escassa, o aluno limitar-se-á, provavelmente, a memorizar o aprendido de uma

forma um tanto mecânica e repetitiva: ao contrário, quando a intencionalidade é


elevada, o aluno estabelecerá múltiplas e variadas relações entre o novo e o que

já conhece. Que um aluno situe-se em um ou outro lugar do contínuo que estes


dois extremos delimitam vai depender, sem dúvida, da sua motivação para

aprender significativamente e da habilidade do professor neste sentido é um fator


103
determinante, pois a memorização mecânica e repetitiva do aprendido costuma

aparecer, em princípio, como um procedimento muito mais cômodo e econômico


em tempo e energia para o aluno do que a construção de significados mediante a

busca e o estabelecimento de relações substantivas entre o novo e o que já


conhece.

O que já foi dito até aqui é suficiente para se dar conta de que a aprendizagem
significativa de um conteúdo qualquer implica inevitavelmente em sua

memorização compreensiva, a sua situação ou armazenamento numa rede mais


ou menos ampla de significados. Assim mesmo, na medida em que contribui para

ampliar e estender tal rede de significados, incrementa-se a capacidade do aluno


para estabelecer novas relações quando enfrentar-se com tarefas ou situações

posteriores, pelo que uma aprendizagem realizada de forma significativa é, ao


mesmo tempo, uma aprendizagem que tem um elevado valor funcional, isto é,

uma aprendizagem útil, uma aprendizagem que pode ser utilizada com relativa
facilidade para gerar novos significados.

Dois últimos comentários para terminar com esta seção. Em primeiro lugar, o
conceito de aprendizagem significativa, tal como aparece nas formulações de

Ausubel e de seus colaboradores, implica numa mudança de perspectiva na


solução dada ao clássico problema pedagógico da preparação ou disponibilidade

(readiness) para a aprendizagem escolar. A ênfase já não reside na aptidão


intelectual do aluno, direta ou indiretamente relacionada com seu nível de

desenvolvimento evolutivo, e sim bem mais na existência de conhecimentos


prévios pertinentes para o conteúdo a aprender, que dependem, naturalmente,

em parte, de tal aptidão intelectual, mas também, e sobretudo, das experiências


prévias de aprendizagem, tanto escolares como extra-escolares.

Mas o conceito de aprendizagem significativa supõe, antes de tudo, uma


mudança de perspectiva radical na maneira de entender o processo de

ensino/aprendizagem. Frente à concepção tradicional e habitual de que a


104
aprendizagem do aluno depende diretamente da influência do professor e da

metodologia de ensino utilizada, põe-se em relevo a importância do


conhecimento prévio do aluno e, em geral, dos seus processos de pensamento.

Esses processos sobrevêm, assim, do elemento mediador entre, por um lado, os


procedimentos instrutivos ou didáticos e, por outro, os resultados da

aprendizagem. A construção de significados que o aluno executa a partir do


ensino é o elemento mediador suscetível de explicar os resultados de

aprendizagem finalmente obtidos.


Pois bem, como colocou em relevo Wittrock (1986), numa revisão recente

sobre os processos de pensamento do aluno, existe evidência empírica para


afirmar que, junto ao conhecimento prévio, existem outros aspectos ou processos

psicológicos que agem como mediadores entre o ensino e os resultados da


aprendizagem: a percepção que o aluno tem da escola, do professor e das suas

atuações; as suas expectativas perante o ensino; as suas motivações, crenças,


atitudes e atribuições; as estratégias de aprendizagem que é capaz de utilizar,

etc.

105
UNIDADE 17 - ORIENTAÇÕES PARA CONHECER A APRENDIZAGEM DE

CONCEITOS E FATOS.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE


Objetivo: analisar os conteúdos conceituais presentes no processo de

aprendizagem escolar

ESTUDANDO E REFLETINDO
A dimensão conceitual

No que diz respeito aos conteúdos conceituais é desejável que se


apresente aos estudantes, fatos e princípios que contribuam para que o aluno

tenha elementos para a representação da realidade. Para isso, é necessário que o


professor tenha elementos formativos que o favoreça no trabalho com símbolos,

ideias, signos e imagens.


Deve-se estimular o aluno a vivenciar situações-problema que contribuam

para que esse estudante se aproprie de novos conhecimentos, que permitindo


formulação de generalizações parciais que, gradualmente, articulando-se com

suas experiências reais, possibilitem a elaboração de conceitos mais abrangentes.


Roteiro do professor: Que conceitos e fatos (próprios da escolaridade) os

alunos já desenvolveram? É preciso definir que fatos e conceitos serão objetos da


observação dos professores para planejar a comunidade das aprendizagens. As

referências são disciplinares (na perspectiva dos conteúdos curriculares), enquanto


as habilidades e valores são transdisciplinares.

Uma boa maneira de avaliar conceitos é propor uma exposição temática


escrita, ou realizar um debate, se a intenção for obter o conhecimento oral das

ideias.

106
Outra boa alternativa é propor aos alunos situações-problema para

resolução. Através de suas respostas, são fornecidos dados para os professores


analisarem como se encontram em relação à construção conceitual.

Outro instrumento muito importante na avaliação, seguida de registros do


docente sobre como a aprendizagem do conceito é manifestada pelo aluno: nos

exercícios em sala, nas questões levantadas, nas dúvidas que persistem, nas
interpretações inadequadas, no que parece ainda não saber. Só que a observação

inicial; estende-se por todo o processo de aprendizagem e de avaliação,


compondo com a avaliação final.

Realizada a avaliação inicial, os professores terão dados para dar


continuidade ao trabalho com a Avaliação Formativa a serviço das aprendizagens.

Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma reprodutiva: não é necessário


compreendê-los, como no caso de saber capital de um estado ou de um país,

data de acontecimento, tabela de símbolos químicos. Vale dizer que


correspondem a uma informação verbal literal vocabulários, nomes ou informação

numérica que não envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso, usa-se a
repetição, buscando mesmo a automatização da informação.

Esse processo de repetição não é adequado à construção conceitual. Um


aluno aprende, atribui significado, adquire um conceito, quando o explica com

suas próprias palavras.


É comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse caso, eles

estão num início de processo de compreensão do conceito. Precisam trabalhar


mais a situação, o que vai ajudá-los a entender melhor, até saberem explicar com

as suas palavras.
Tal processo de construção conceitual não é estanque, ele está em

permanente movimento entre o conceito espontâneo, construído nas


representações sociais e o conceito científico. Dentro dos conceitos científicos,

107
POZO (2000) chama a atenção para a distinção entre os princípios, ou conceitos

estruturadores e os conceitos específicos.


Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de abstração,

subjacentes à organização conceitual de uma área e nem sempre explícitos.


Atravessam todos os conteúdos das matérias, devendo ser o objetivo maior da

aprendizagem na educação básica. Eles orientam a compreensão de noções


básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos como sociedade e

cultura são princípios das áreas de humanas, eles devem referenciar o trabalho
nos conceitos específicos.

Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos como o


de migração, democracia, crescimento populacional, estariam subjacentes.

Portanto, ao definir o que referenciará o trabalho do professor, será muito


importante uma revisão conceitual por área de conhecimento e por disciplina.

Será preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos como objetos
de conhecimento.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Para ajudar na compreensão dos procedimentos para aprendizagem


veremos um fragmento do artigo de César Cool intitulado “Significado e sentido

na aprendizagem escolar. Reflexões em trono do conceito de aprendizagem


significativa”. Disponível em:

http://www.pbh.gov.br/smed/cape/artigos/textos/cesar
[...]

2- SIGNIFICADO E SENTIDO NA APRENDIZAGEM ESCOLAR


Utilizamos o termo "sentido" com a finalidade de sublinhar o caráter

experiencial que, em boa lógica construtivista, impregna a aprendizagem escolar.


A percepção que o aluno tem de uma atividade concreta e particular de

aprendizagem não coincide necessariamente com a que o professor tem; os


108
objetivos do professor e do aluno, as suas intenções e as suas motivações ao

propô-la e participar dela são em geral diferentes. Há, portanto, todo um


conjunto de fatores, que poderíamos qualificar como motivações, relacionais ou

inclusive afetivas, que desempenham um papel de primeira grandeza na


mobilização dos conhecimentos prévios do aluno e sem cuja consideração é

impossível entender os significados que o aluno constrói a propósito dos


conteúdos que lhe são ensinados na escola. Uma interpretação radicalmente

construtivista do conceito de aprendizagem significativa obriga a ir mais além da


simples consideração dos processos cognoscitivos do aluno como elemento

mediador do ensino.
A construção de significados implica o aluno em sua totalidade e não só nos

seus conhecimentos prévios e sua capacidade para estabelecer relações


substantivas entre estes e o novo material de aprendizagem, ou entre as

deferentes partes do material de aprendizagem como assinalou o próprio Wittock


(1974) em seu modelo de "aprendizagem generativa".

Ainda que neste momento tenhamos uma compreensão muito limitada dos
processos psicológicos mediante os quais os alunos atribuem um sentido às

atividades de aprendizagem, não há qualquer dúvida acerca de sua existência e


de sua importância para a realização de aprendizagens significativas. São

enormemente ilustrativos a este respeito os trabalhos de Marton e seus


colaboradores da Universidade de Gothenburg (Marton, 1981, 1983) e os de

Entwistle e seus colaboradores da Universidade de Edimburgo (Entwistle e


Ramsden, 1983; Entwistle, 1987). Numa série de investigações dirigidas para

estudar a aprendizagem a partir da perspectiva dos próprios alunos -


concretamente, de alunos de ensino superior - , estes autores identificaram até

três maneiras típicas de abordar ou focalizar as tarefas de aprendizagem, que


denominam respectivamente, de enfoque em profundidade (deep aproach),

enfoque superficial (surface aproach) e enfoque estratégico (strategic aproach).


109
O primeiro apresenta fortes semelhanças com a disposição de realizar

aprendizagens altamente significativas, posto que se caracteriza entre outros


fatores, porque os alunos mostram um elevado grau de implicação no conteúdo,

tentam aprofundar-se ao máximo em sua compreensão e exploram as suas


possíveis relações e interconexões com conhecimentos prévios e experiências

pessoais. O segundo, ao contrário, apresenta uma certa semelhança com a


tendência descrita por Ausubel para realizar aprendizagens pouco significativas e

um tanto repetitivas ou mecânicas; os alunos que adotam este enfoque perante


uma tarefa determinada preocupam-se sobretudo em memorizar a informação

cuja lembrança, supõem será avaliada posteriormente, por aterem-se de forma


estrita às exigências ou instruções proporcionadas para a sua realização, por não

ser interrogarem acerca dos objetivos ou da finalidade da tarefa, por


concentrarem-se em aspectos parciais da mesma e por uma certa incapacidade

para distinguir os aspectos essenciais dos acessórios ou circunstanciais. O enfoque


estratégico, por último, caracteriza-se pela intenção de alcançar o máximo

rendimento possível na realização da tarefa mediante a planificação cuidadosa


das atividades, do material necessário, dos esforços e do tempo disponível.

Á margem do interesse que o paralelismo existente supõem entre, por um


lado, as descrições que os alunos proporcionam dos seus próprios processos de

aprendizagem e, por outro, as descrições que os psicólogos proporcionam, o fato


mais importante que estes trabalhos expuseram, é, como a ponta acertadamente

Entwistle, que a adoção de um outro enfoque depende, em última estância, da


intenção com a qual o aluno confronta a tarefa concreta de aprendizagem. Uma

mesma tarefa, apresentada de forma idêntica a um grupo de alunos, dará lugar à


adoção de enfoques de aprendizagem distintos, segundo a intenção destes dirija-

se preferencialmente a buscar e estabelecer conexões com seus conhecimentos


prévios e suas experiências pessoais (infoque em profundidade) , a memorizar

elementos discretos de informação (infoque superficial) ou a fazer render ao


110
máximo o esforço e o tempo disponíveis (infoque estratégico). O mesmo aluno,

por outro lado, pode adotar sucessivamente um outro infoque de aprendizagem,


segundo a intenção com que execute as respectivas tarefas. É certo que também,

o mesmo ensino dirigido a um grupo de alunos pode dar lugar a interpretações


muito diferentes e, consequentemente, à construção de significados também

muito distintos em profundidade e em amplitude, segundo a intenção com a qual


tais alunos participam da mesma.

Chegando a este ponto, é inevitável interrogar-se sobre a origem da


intencionalidade com a qual os alunos abordam as atividades de aprendizagem -

ou, voltando à terminologia que introduzimos antes, sobre a origem do sentido


que atribuem à sua participação nas mesmas - e sobre os processos psicológicos

que intervém em sua formação. Embora naturalmente esteja fora do alcance


destas páginas tentar sequer um resumo do que sabemos atualmente sobre

fatores e processos implicados na intencionalidade ou sentido que os alunos


atribuem às atividades de aprendizagem, tudo parece indicar que são numerosos

e complexos e que, neste ponto como em tantos outros, convêm fugir das
explicações simples e excessivamente esquemáticas. Éntwistle e seus

colaboradores, por exemplo, colocaram em relevo que existe uma certa relação
entre o tipo de motivação e os enfoques de aprendizagem que os alunos adotam

numa atividade determinada de aprendizagem. A motivação intrínseca, isto é um


elevado grau de interesse pelo conteúdo e por sua relevância, costuma ir

associada com o infoque em profundidade; quando o que predomina é o desejo


de êxito, ou a motivação pelo lucro, o infoque de aprendizagem costuma ser de

tipo superficial: finalmente, se o motivo dominante é o medo ao fracasso, cabe


esperar o infoque de aprendizagem do tipo estratégico.

Pois bem, a motivação de um aluno perante uma atividade concreta de


aprendizagem é, por sua vez, o resultado de uma série de processos que é

necessário indagar. Apelar para a motivação sem mais nada não oferece uma
111
explicação satisfatória. A maneira como o professor apresenta a tarefa e

sobretudo, a interpretação que o aluno faz disto em função de fatores tais como o
autoconceito acadêmico, os seus hábitos de trabalho e de estudo, os seus estilos

de aprendizagem, etc., são, sem dúvida alguns dos elementos - chave a levar em
conta. O fato importante a destacar, no entanto, é que esta interpretação tem um

caráter dinâmico, não vem dada de uma vez por todas, mas é forjada e
modificada no próprio decorrer de aprendizagem. Isto quer dizer que o sentido

que os alunos atribuem a uma tarefa escolar, e, consequentemente, os


significados que podem construir a respeito, não estão determinados apenas por

seus conhecimentos, habilidades, capacidades ou experiências prévias, mas


também pela complexa dinâmica de intercâmbios comunicativos que se

estabelece a múltiplos níveis entre os participantes, entre os próprios alunos e,


muito especialmente, entre o professor e os alunos. Mediante o jogo das

representações mútuas, das expectativas que são geradas, dos comportamentos a


que estas dão lugar, do intercâmbio de informações, do estabelecimento mais ou

menos explícitos e de consenso das regras ou normas de atuação , em suma,


mediante o jogo dos processos psico-sociológicos presentes na situação de

ensino, vai-se definindo progressiva e conjuntamente o contexto em cujo âmbito


o aluno atribui um sentido ao que faz e constrói alguns significados, isto é, realiza

algumas aprendizagem com um determinado grau de significância.

112
UNIDADE 18 - AVALIAÇÃO DE RESULTADOS – COMO O ESTADO AVALIA

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Analisar os processos e as concepções que orientam os processos de


avaliação de resultados, bem como a forma pelas quais o Estado exerce sua

função reguladora dos sistemas educacionais.

ESTUDANDO E REFLETINDO
A forma como a sociedade se organiza e define suas demandas

produtivas interfere na dinâmica do sistema de educação. Além disso, compete ao


Estado cuidar para que o sistema educacional seja eficiente e consiga produzir

resultados condizentes com o que se espera para o desenvolvimento da nação.


Para isso, o planejamento é fundamental.

Nesta unidade analisaremos aspectos relacionados às formas para avaliar


os resultados da educação.

Além do trabalho de avaliação que acontece no âmbito da escola é


importante termos claro que existem outros mecanismos de regulação da

Educação. O Ministério da Educação (MEC) atua como regulador do sistema


educacional brasileiro e, para isso, criou o SAEB (Sistema de Avaliação da

Educação Básica). O SAEB teve como objetivos:


• Monitorar a qualidade, a equidade e a efetividade do sistema de educação

básica;
• Oferecer ás administrações públicas de educação informações técnicas e

gerenciais que lhes permitam formular e avaliar programas de melhoria da


qualidade de ensino;

• Proporcionar aos agentes educacionais e á sociedade, uma visão clara e


concreta dos resultados dos processos de ensino e das condições em que

são desenvolvidos e obtidos.


113
Essa avaliação acontece a cada dois anos, além de avaliar o rendimento,

investigam-se fatores socioeconômicos e contextuais que interferem na


aprendizagem, avalia a escola, a gestão escolar, professor e aluno.

Os alunos que participam dessa avaliação são os alunos do final de cada


ciclo de escolaridade a 4ª série e 8ª série do EF e a 3ª série do EM.

O SAEB procura aferir a proficiência do aluno, entendida como um


conjunto de competência habilidades evidenciadas pelo rendimento apresentado

nas disciplinas avaliadas. Nesse sentido o SAEB revela se há distância entre o


currículo proposto e o currículo ensinado, assim, permite identificar as principais

deficiências na aprendizagem do aluno.


Com base no resultado do SAEB é possível mudar o currículo que vem

sendo proposto e desnecessário para a formação geral na educação básica, bem


como permitir que os órgãos responsáveis, dirigentes estaduais e municipais

promovam um trabalho de formação continuada para os professores.


Vale ressaltar que as disciplinas avaliadas são Português, Matemática e

Ciências para os alunos da 4ª e 8ª séries do ensino fundamental, e de Português,


Matemática, Biologia e Física para os alunos da 3ª série do EM.

O SAEB, coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Educacionais (INEP), é um dos mais amplos esforços empreendidos em nosso país

de coleta, sistematização e análise de dados sobre o ensino fundamental e médio.


Para atingir seus objetivos, articula-se com um conjunto de ações voltadas para a

melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.


Por um lado, o SAEB pretende contribuir para a universalização do acesso

á escola e, por outro, para a ampliação da equidade e da eficiência do sistema


educacional brasileiro. Ele utiliza procedimentos metodológicos de pesquisa,

formais e científicos. Os instrumentos de avaliação são: provas e questionários


contextuais. É uma avaliação em larga escala, pois é realizada por amostragem

representativa do aluno brasileiro da 4ª a 8ª séries do EF e da 3ª série do EM.


114
Como objetivos específicos podem citar:

• identificar os problemas do ensino e suas diferenças regionais;


• oferecer dados e indicadores que influenciam o desempenho dos alunos;

• desenvolver competência técnica e científica na área de avaliação


educacional;

• consolidar uma cultura de avaliação nas redes e instituições de ensino.


Como avaliação de larga escala o conteúdo que podem ser relacionados

são: cidadania, participação social e política, exercício de direitos e deveres,


valores, atitudes e condutas, identidade pessoal e nacional, respeito ás

diversidades, auto confiança, desenvolvimento da capacidade afetiva, física,


cognitiva, ética, estética, musical, matemática, gráfica, plástica, corporal, para

expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir produções culturais,


capacidade de intervir para o uso do pensamento lógico, a criatividade,a intuição,

a capacidade de análise crítica.


Quanto às finalidades da avaliação podem-se inferir: certificação;

comparação; seleção/classificação/progressão; diagnóstico e controle

BUSCANDO CONHECIMENTO

Prova Brasil - Apresentação

A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são


avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Têm o objetivo


de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a

partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos.


Nos testes aplicados na quarta e oitava séries (quinto e nono anos) do ensino

fundamental, os estudantes respondem a itens (questões) de língua portuguesa,


com foco em leitura, e matemática, com foco na resolução de problemas. No

115
questionário socioeconômico, os estudantes fornecem informações sobre fatores

de contexto que podem estar associados ao desempenho.


Professores e diretores das turmas e escolas avaliadas também respondem a

questionários que coletam dados demográficos, perfil profissional e de condições


de trabalho.

A partir das informações do Saeb e da Prova Brasil, o MEC e as secretarias


estaduais e municipais de Educação podem definir ações voltadas ao

aprimoramento da qualidade da educação no país e a redução das desigualdades


existentes, promovendo, por exemplo, a correção de distorções e debilidades

identificadas e direcionando seus recursos técnicos e financeiros para áreas


identificadas como prioritárias.

As médias de desempenho nessas avaliações também subsidiam o cálculo do


Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ao lado das taxas de

aprovação nessas esferas.


Além disso, os dados também estão disponíveis para toda a sociedade que, a

partir dos resultados, pode acompanhar as políticas implementadas pelas


diferentes esferas de governo. No caso da Prova Brasil, ainda pode ser observado

o desempenho específico de cada rede de ensino e do sistema como um todo das


escolas públicas urbanas e rurais do país.

Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=210&It
emid=324

Provinha Brasil

A Avaliação da Alfabetização Infantil – Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica


que visa investigar o desenvolvimento das habilidades relativas à alfabetização e

ao letramento em Língua Portuguesa e Matemática, desenvolvidas pelas crianças


116
matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras.

Aplicada duas vezes ao ano (no início e no final), a avaliação é dirigida aos alunos
que passaram por, pelo menos, um ano escolar dedicado ao processo de

alfabetização. A aplicação em períodos distintos possibilita a realização de um


diagnóstico mais preciso que permite conhecer o que foi agregado na

aprendizagem das crianças, em termos de habilidades de leitura e de matemática.


Composta pelos testes de Língua Portuguesa e de Matemática, a Provinha Brasil

permite aos professores e gestores obter mais informações que auxiliem o


monitoramento e a avaliação dos processos de desenvolvimento da alfabetização

e do letramento inicial e das habilidades iniciais em matemática, oferecidos nas


escolas públicas brasileiras, mais especificamente, a aquisição de habilidades de

Leitura e de Matemática.
A Portaria Nº 867, de 4 de julho de 2012, instituiu o Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa – PNAIC com a proposta de assegurar que todas as


crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do

ensino fundamental, conforme uma das metas previstas pelo Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação, utiliza a Provinha Brasil como meio de aferir

os resultados.
A Provinha Brasil é elaborada e distribuída pelo Inep, para todas as secretarias de

educação municipais, estaduais e do Distrito Federal. Assim, todos os anos os


alunos da rede pública de ensino, matriculados no 2º ano do ensino fundamental,

têm oportunidade de participar do ciclo de avaliação da Provinha Brasil. A adesão


a essa avaliação é opcional, e a aplicação fica a critério de cada secretaria de

educação das unidades federadas.


Ressalte-se que a data de aplicação da Provinha Brasil segue sendo uma decisão

de cada rede de ensino. A novidade deste ano de 2013 é que, por conta das ações
do PNAIC, o Inep está desenvolvendo um Sistema online para apoiar as redes de

ensino que queiram lançar seus resultados da Provinha Brasil, gerar relatórios e
117
analisar os dados de forma mais sistematizada. O referido sistema está em fase de

finalização e em breve estará acessível às escolas e redes.

Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/provinha-brasil/apresentacao

ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio


Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem o objetivo de

avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem


participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino

médio em anos anteriores.


O Enem é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem

concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além


disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de

seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo


o vestibular.

Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=183&It

emid=310

São objetivos do ENEM:


a. oferecer uma referência para que cada cidadão possa proceder
a sua auto-avaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto
em relação ao mercado de trabalho quanto em relação à
continuidade de estudos;
b. estruturar uma avaliação da educação básica que sirva como
modalidade alternativa ou complementar aos processos de
seleção nos diferentes setores do mundo do trabalho;
c. estruturar uma avaliação da educação básica que sirva como
modalidade alternativa ou complementar aos exames de acesso
aos cursos profissionalizantes pós-médios e ao
ensino superior.
118
UNIDADE 19 - AVALIAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Compreender o que é um sistema de ensino quanto a sua definição, seu


processo de escolarização e avaliação.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Em 1954, Querino Ribeiro apresentou a seguinte definição de sistema


escolar:
Por sistema escolar se entende um conjunto de escolas que,
tomando o individuo desde quando, ainda na infância, pode ou
precisa distanciar-se da família, leva-o até que , alcançado o fim
da adolescência ou a plena maturidade , tenha adquirido as
condições necessária para definir-se e colocar-se socialmente ,
com responsabilidade econômica , civil e política. Dias, in,
MENESES 2001, p. 127.

Ainda em Meneses, 2001 encontra-se outra definição por Lalande, André


(1960):
Conjunto de elementos, materiais ou não, que dependem
reciprocamente uns dos outros, de maneira a formar um todo
organizado.

A definição dada por José Augusto Dias trata do resultado do processo


de escolarização, enquanto que, André Lalande aborda a questão da estrutura do

sistema, tendo o olhar para o interior do sistema. A escola está contida no sistema
escolar e, esse, está contido no super sistema escolar, que por sua vez esta

contidos na sociedade.
Meneses (2001) considera que sistema de ensino é uma denominação

ampla, pois é uma expressão que engloba a sociedade, portanto, vê a razão em

119
dizer sistema escolar, porque abrange a educação dada na escola, e que

compreende uma rede de escola e sua estrutura de sustentação.


Meneses (2001) afirma:
O sistema escolar recebe da sociedade uma multiplicidade de
elementos (inputs) e devolve o elo os produtos de sua atuação
(outputs). MENESES, 2001, p. 129.

Como colaboradora do sistema escolar, a sociedade tem objetivos a serem


buscados, destacando-se:

• Conteúdo cultural: o sistema escolar retiro da sociedade o conteúdo de


seus currículos e programa.

• Recursos humanos: é da sociedade que o sistema escolar retira pessoas


com diferentes graus e tipos de qualificação para as exigências do

trabalho.
• Recursos financeiros: os sistemas escolares absorvem parcela dos

orçamentos públicos e particulares.


• Recursos materiais: a indústria é grande colaboradora, possui: material

didático, mobiliário, artigos de escritório, artigos para manutenção e


limpeza e recursos da informática.

• Alunos: os sistemas escolares existem porque existem alunos.


A contribuição do sistema escolar para a sociedade deve ser:

 melhoria do nível cultural da população


 aperfeiçoamento individual

 formação de recursos humanos


 resultados de pesquisas: realizada dentro das universidades.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Sistema Escolar Brasileiro

120
Seria difícil justificar a existência de um sistema escolar brasileiro no sentido

que Lalande dá à palavra sistema. Há uma série de dificuldades que debilitam esta
noção de sistema como “conjunto de elementos que formam um todo

organizado”. Contudo, existem alguns fatores que contribuem para unificação do


sistema escolar brasileiro, a saber:

• O fato óbvio de estarem as escolas localizadas dentro dos limites do


território nacional;

• O fato de o sistema escolar estar a serviço da cultura brasileira, de tal


maneira que escola e cultura se influenciam mutuamente;

• O fato de o ensino ser dado na língua nacional;


• O fato de que todas as escolas estão sujeitas a uma legislação comum;

• O fato de existirem disposições legais que determinam, ao menos


formalmente, articulação entre os graus e a equivalência entre as

modalidades de ensino.

Funcionamento do Sistema Escolar Brasileiro


Um sistema escolar que funcionasse em sua plenitude deveria apresentar

as seguintes características:
a) Do ponto de vista das entradas para o sistema (inputs):

• Entrada de recursos financeiros em quantidade suficiente para manter o


sistema em plena atividade.

• Recrutamento de pessoal em número e qualidade adequados para os


diferentes postos.

• Admissão de alunos de maneira a que não houvesse falta, nem excesso


de vagas, com atendimento de 100% da clientela, na idade certa.

b) Do ponto de vista do processo:


• Currículos e programas constantemente atualizados, em função das

necessidades individuais e sociais.


121
• Pessoal -em especial pessoal docente – com qualificação adequada ás

suas atribuições.
• Índices satisfatórios de desempenho dos estudantes, respeitadas as

diferenças individuais. Ausência de evasão e repetência.


c) Do ponto de vista das saídas do sistema (outputs):

• Formação de profissionais dos vários níveis em quantidade adequadas


ás necessidades sociais.

• Desenvolvimento cultural da população em nível suficiente para cada


indivíduo pudesse expressar-se, oralmente ou por escrito, com fluência

e elegância e usufruir nosso patrimônio artístico e cultural.


• Suficiente orientação individual no sentido do emprego dos próprios

recursos para fruição de uma vida plena.


Um exame, ainda que superficial, de nossa realidade educacional levará à

constatação de que vamos longe de um funcionamento do sistema escolar que,


de leve, se aproxime do quadro acima descrito. Não dispomos de recursos

financeiros suficientes; os recursos existentes nem sempre são bem empregados;


legiões de crianças continuam sem possibilidade de frequentar escola. Os

currículos e programas não se renovam com a velocidade necessária, o pessoal


docente, muitas vezes, não tem a qualificação exigida. Há excesso de evasão e

repetência; não formamos os técnicos de que precisamos e formamos em


excesso para determinadas ocupações cujo mercado de trabalho está saturado.

A estrutura e a funcionalidade da educação no Brasil são estabelecidas, sob


a forma de um sistema, por isso, faz-se necessário entender a definição de

sistema.
O sistema educacional vincula-se à formação formal, informal e não formal.

O sistema educacional formal é aquele que acontece dentro da escola. O


processo ensino aprendizagem está organizado em parâmetros específicos como:

122
currículo, disciplinas, metodologias, objetivos, avaliação e planejamento. O corpo

normativo de sustentação desse sistema é a LDBEN.


O sistema educacional não formal está vinculado a outras instituições que

não sejam a escola: a família, a igreja, a mídia, associações, clubes e comunidades.


Nesse caso, o processo ensino aprendizagem dispensa a rigorosidade sistemática

do modelo do sistema formal. Já, o sistema educacional informal se dá nas


relações interpessoais travadas no cotidiano de cada individuo e se pauta no

senso comum.
O sistema de ensino brasileiro está organizado em séries anuais, períodos

semestrais, cestos, alternaria regular de períodos de estudos, com base na idade,


na competência e em outros critérios, sempre que o processo de aprendizagem

assim recomendar. (Art. 23 da LDBE)


Conforme Meneses, 2001, para a efetiva funcionalidade do sistema Escolar

no Brasil de acordo com as características acima apresentadas precisamos de:


• dispor de recursos financeiros suficientes e serem bem empregados;

• o número de crianças que se encontram fora da escola, ainda é grande;


precisam ser colocados na escola;

• o currículo e programas precisam serem reprovados renovados com mais


velocidade;

• qualificar o pessoal docente;


• acabar com evasão e a retenção;

• formar técnicos para atenderem ás necessidades do mercado de trabalho.

123
UNIDADE 20 - A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NA AVALIAÇÃO.

CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Analisar o estudo de Lucia Alves Faria Mattos, sobre a necessidade de


mudanças na forma de avaliar para a superação do fracasso escolar e a

efetividade da educação como instrumento de ascensão social

ESTUDANDO E REFLETINDO
De acordo com o que estudamos até o momento foi possível perceber que

a avaliação é uma dimensão essencial para assegurar a reflexão e retomada dos


processos educativos.

Diante disso, mudar é imprescindível para a mudança de paradigma de


uma avaliação classificatória para uma avaliação diagnóstica que ajudar na

superação do fracasso escolar.


Para aprofundar sua análise faça a leitura do texto a seguir.

BUSCANDO CONHECIMENTO

Texto: Avaliar significa identificar o que o aluno sabe, o que ele não sabe e os
diferentes fatores que contribuem para os resultados observados

Lúcia Alves Faria Mattos*

1. A necessidade de mudanças na avaliação


Nos últimos anos, nós, os professores, temos recebido informações

freqüentes de que reformas educacionais estão sendo implantadas tanto em


estados brasileiros quanto em países como a Espanha, o Chile e outros. Na

verdade, a necessidade de transformações nos processos educacionais vem sendo


percebida há muito tempo pela sociedade de modo geral. Os próprios

educadores iniciaram esse processo ao questionarem sobre quais seriam, de fato,


124
os meios para superar o fracasso escolar - o problema mais sério do ensino

brasileiro. Buscando respondera esse questionamento, surgiram propostas


inovadoras como o Ciclo Básico de Alfabetização - CB A, desenvolvido, num

primeiro momento, como um projeto experimental nas escolas estaduais de


Minas Gerais e, posteriormente, suas idéias e princípios básicos incorporaram-se

às diretrizes educacionais do Sistema de Ensino.


Na verdade, o que se observa é que a educação necessita de uma nova

forma de abordagem para poder eliminar o problema do fracasso escolar, pois a


sociedade do futuro requer um homem educado, capaz de viver e conviver numa

nova realidade social e econômica. As escolas precisam atualizar-se e rever sua


organização administrativo-pedagógica com o objetivo de efetivamente

propiciarem a educação necessária ao homem/cidadão que vive nesse novo


contexto.

Um primeiro passo nesse sentido está na análise das principais


características e tendências que apontam qual é a sociedade em que o nosso

aluno vive e na qual irá conviver no futuro. Essencialmente, é importante analisar


o rápido desenvolvimento das tecnologias da comunicação, dos meios de

comunicação de massa, das novas formas de organização e relação social, da


formação de grandes centros caracteristicamente urbanos e das novas exigências

do mercado profissional e de trabalho.


A educação precisa ser planejada e desenvolvida para atender às

necessidades formativas dos alunos que se desenvolvem no atual contexto social,


com o objetivo de torná-los capazes e preparados para enfrentar as mudanças e

os desafios que o progresso e a evolução social naturalmente irão trazer. Diante


dessa constatação fica a questão: como planejar e desenvolver as ações

apropriadas às necessidades educacionais dos alunos?


2. O processo avaliativo deve assegurar aprendizagens efetivas

125
O primeiro ponto de mudança exige uma postura pedagógica do educador

na qual ele reconheça que a sua função é assegurar ao aluno condições reais que
lhe possibilitem aprender e conhecer. Para isso, é importante que ele analise

algumas questões:
1. Quem é o aluno?

2. Como o aluno aprende?


3. O que o aluno precisa desenvolver?

4. Como acompanhar esse desenvolvimento?


5. Como organizar atividades apropriadas aos alunos?

6. Como planejar, desenvolver e avaliar os processos em sala de aula?


7. Como utilizar construtivamente os resultados da avaliação da aprendizagem?

3. Aprendizagem e avaliação
Como todo ser humano, o aluno é um projeto em construção, portanto sua

vida é uma dinâmica de desenvolvimento gradual e progressivo. Essa dinâmica


porém, não é igual para todos. O processo de desenvolvimento individual

depende das características pessoais, do contexto sócio-cultural, e de estímulos


apropriados. Esse conjunto de fatores faz com que, dependendo da situação,

alguns alunos apresentem desenvolvimento similar e, em outras, um ritmo


diferenciado.

A aprendizagem constitui, basicamente, o processo interno de


desenvolvimento do aluno. É uma construção, também dinâmica e progressiva,

que depende das interações entre o aluno, o contexto sócio-cultural e as ações


educativas. As peculiaridades do aluno, o seu contexto de vida e a eficiência das

ações escolares fazem com que alunos diferentes tenham também ritmo diferente
de desenvolvimento.

O conhecimento constitui um conjunto de formulações construídas pelo


aluno ao longo de sua vida, nos processos de interação com o mundo natural e

nas relações sociais. E, portanto, uma construção individual mas realizada


126
socialmente. Cabe à sociedade fornecer condições adequadas a essa construção.

Na educação formal, cabe à escola esse papel, a ser exercido principalmente pelo
professor, como mediador/catalizador que organiza atividades propiciadoras de

construções do aluno.
A aprendizagem resulta de um processo interativo e dinâmico que ocorre

quando o aluno constrói o conhecimento. Esse modelo interativo comporta uma


prática avaliativa inerente ao próprio processo de construção do conhecimento,

como objetivo de acompanhá-lo. É, ao mesmo tempo, dinamizadora das


construções do aluno e reguladora da sua aprendizagem.

4. Mudar a avaliação, mudar a escola.


Ao analisarmos a condição dos nossos alunos, como sujeito humano com

individualidades determinadas pelas suas características pessoais e socioculturais e


com desenvolvimento em ritmo diferenciado tem de reconhecer que eles têm

necessidade de um atendimento também diferenciado, conforme seu


desenvolvimento. Forçosamente, temos ainda que reconhecer que a flexibilidade

deve ser um princípio básico da organização curricular da escola e da organização


e planejamento das atividades de sala de aula - á flexibilidade é necessária para

atender os alunos naquilo que são diferentes.


A escola, até recentemente, se organizava pêlos princípios da

indiferenciação dos alunos e da homogeneidade de ensino, alicerçados nos


pressupostos da igualdade de oportunidades educacionais e de neutralidade do

atendimento escolar. O reconhecimento de que os alunos apresentam


naturalmente diferenças culturais e de desenvolvimento exige ruptura com esse

modelo rígido de organização escolar e evidencia a importância de se introduzir


modelos mais flexíveis nos quais seja possível diversificar o atendimento conforme

as necessidades básicas dos educandos.


O objetivo da flexibilidade curricular é atender os alunos em suas

diferenças culturais e de desenvolvimento, criando condições concretas e


127
apropriadas às aprendizagens necessárias para que possam viver e conviver nas

diferentes instâncias sociais: a família, o trabalho, o grupo de amigos, no


comércio, no espaço público, no lazer, no esporte, no trânsito, no convívio social,

na decisão através do voto, etc.


A flexibilidade, como nova lógica de organização escolar, impõe uma certa

liberdade e autonomia, da escola e do professor, para reorganizar e adaptar o


currículo e o tempo escolar conforme as necessidades de desenvolvimento de

seus alunos. Essa característica de liberdade e de autonomia relativa é muito


importante de ser percebida porque transfere grande parte da responsabilidade

do sucesso/fracasso escolar para a escola e os professores. Por isso, o trabalho


docente e da escola ficam mais difíceis, pois exigem transformações contínuas

que dependem de um processo de criação e construção de um novo modelo de


ensino, ainda sem um padrão de referência.

A mudança nos processos de ensino, entretanto, só se efetivará se os


professores forem capazes de compreender a necessidade de reorganizar o

trabalho de sala de aula a partir do princípio da flexibilidade e construir uma outra


prática pedagógica.

Basicamente, o primeiro momento das transformações escolares depende


do desejo e da intenção dos educadores e decorre do conhecimento de que os

modelos de ensino tradicionais não atendem atualmente às demandas individuais,


profissionais e sociais dos alunos e às necessidades impostas por um novo

contexto socioeducacional. Esse conhecimento sensibiliza o educador e o faz


romper com as formas tradicionais de trabalho pedagógico na escola e em sala

de aula.
O segundo momento é de busca e investigação. Constitui uma

aprendizagem profissional, em serviço, pois os professores procuram se atualizar


e buscam os conhecimentos pedagógicos mais recentes, pesquisam materiais e

128
discutem idéias para criarem estratégias e atividades de ensino que experimentam

em suas classes, com seus alunos.


Na prática das escolas estaduais, observa-se que muitas já estão neste

segundo momento de mudanças. A característica básica dessa fase é o


questionamento sobre como proceder em relação à avaliação da aprendizagem e

aos resultados escolares. Um veio essencial das transformações educacionais está


na avaliação da aprendizagem. Ao alinhar-se aos princípios de flexibilidade

curricular e de atendimento ao aluno, a avaliação assume importância


fundamental no "continuum" do processo de ensino e de aprendizagem, do

planejamento aos resultados, com um novo significado.


5 .0 significado da avaliação

Para ser coerente com os princípios da flexibilidade curricular e da


individualização do atendimento escolar, a avaliação deixa de ser um

procedimento de verificação do conhecimento e passa a ser uma ação processual


e dinâmica de intervenção contínua no processo de construção do conhecimento,

inerente à própria aprendizagem. É interativa e mediadora, pois, ao mesmo


tempo em que aval ia, propicia também o aprender.

A avaliação tem como função básica acompanhar o desenvolvimento do aluno


identificando o "aprendido" e o "não aprendido" e, principalmente, o "como" e o

"porquê" do pensamento e das respostas das crianças. Ela fornece informações


fundamentais para o professor interpretar o estágio de desenvolvimento do aluno

e mapear os aspectos para os quais deve direcionar a intervenção pedagógica.


Sua principal finalidade é dar suporte ao planejamento das aulas e ao

atendimento aos alunos.


Em relação ao "aprendido", o professor se organiza para seqüenciar as

próximas aprendizagens selecionando conteúdos, materiais e estratégias


pedagógicas que apresentem coerência de sentido e uma continuidade de

129
significados com as aprendizagens anteriores. O "não aprendido" precisa de maior

investigação e deve ser analisado a partir de questões como:


1. O que, especificamente, não foi aprendido?

2. Em que momento o aluno apresentou dificuldades?


3. Qual a natureza da dificuldade apresentada? Ela pode estar vinculada à

organização do conteúdo?
4. O conteúdo trabalhado estava adequado ao nível de desenvolvimento do

aluno?
5. A lógica do raciocínio desenvolvido foi coerente?

6. A lógica e a seqüência das atividades foram apropriadas?


7. As estratégias didático-pedagógicas eram as mais indicadas?

8. Os materiais de apoio à aprendizagem correspondiam à motivação dos alunos


e desafiavam seu interesse para explorá-los?

9. O tempo destinado à construção do conhecimento foi suficiente?


10. A avaliação precisa ser revista?

Como se pode observar, nesse processo a avaliação apresenta as etapas de


um diagnóstico das aprendizagens, o que significa identificar o que o aluno sabe,

o que ele não sabe e os diferentes fatores que contribuíram para os resultados
observados.

6. Avaliação diagnóstica
O objetivo da avaliação da aprendizagem é o desenvolvimento do aluno,

processo dinâmico e contínuo. Esse desenvolvimento abrange aquisições


individuais e construções coletivas produzidas nas interações entre o mundo

individual e o mundo social. Somente porque existe esse espaço de interações


entre o indivíduo e o social é possível haver processo de ensino. A preocupação

do professor precisa se concentrar nesse espaço de interações para que ele possa
ser elemento efetivamente mediador de aprendizagens.

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A avaliação diagnóstica consiste na investigação de qual é o "patamar" de

desenvolvimento do aluno, tendo em vista orientar a programação do seu


atendimento, ou seja, as atividades de ensino. Considerando o princípio

piagetiano de que o conhecimento decorre da construção de estruturas


cognitivas, a função da avaliação diagnóstica tem sentido investigativo, buscando

compreender se e como o aluno organiza novas estruturas de conhecimento no


processo de assimilação/acomodação.

A avaliação é diagnóstica porque está continuamente investigando o


processo de estruturação, desestruturação e reestruturação cognitiva, o que

proporciona ao professor um conhecimento do progresso das aprendizagens do


aluno e lhe permite atuar como elemento estimulante das trocas entre o sujeito

do conhecimento (aluno) e o mundo (objeto do conhecimento) com o objetivo de


propiciar condições para que o aluno avance "de um estado de menor

conhecimento para um estado de maior conhecimento". Noutras palavras, para


que o aluno progrida de um patamar ou nível conceituai mais simples (descritivo)

para patamares que exigem interpretações conceituais mais complexas (análise de


relações e transformações).

A avaliação diagnóstica torna-se essencialmente educativa quando


funciona como critério básico de referência para as intervenções pedagógicas dos

professores. Torna-se, também, funcional, pois age como fator preventivo e


estratégico, uma vez que possibilita um conhecimento continuamente atualizado

do estágio de desenvolvimento do aluno (diagnóstico).


Esse conhecimento orienta o docente na preparação de suas aulas com

atividades planejadas para atender as características e as necessidades específicas


do estágio de desenvolvimento apresentado pelo educando. Conhecendo o aluno

dessa forma, as atividades podem ser motivadoras e desafiantes. Podem propiciar


a evolução contínua a outros patamares de conhecimento e facilitar ao aluno

progredir para estágios mais elevados de desenvolvimento. Sendo assim, os


131
resultados de uma avaliação diagnóstica são específicos e contextualizados. Sua

validade refere-se a uma situação e a um momento.


O sucesso escolar depende de avaliações específicas realizadas contínua e

progressivamente de forma a oferecer ao professor dados também específicos


para sistematicamente proceder à análise "do aprendido" e "do não aprendido"

pêlos alunos e localizar os fatores "facilitadores" e os "dificultadores" das


aprendizagens. Tais fatores constituem os "pontos chave" para os projetos

pedagógicos, os planos de aula, os planos de atividades, a seleção de conteúdos,


materiais e técnicas pedagógicas. Além do diagnóstico contínuo dos progressos

dos alunos, a avaliação diagnóstica deve abranger todo o processo escolar.


Ela antecede imediatamente um tipo específico de programa educacional,

a organização de planos de trabalho escolar (plano de aula, plano de unidade


temática, plano de atividades, etc.) e acompanha todo o seu desenvolvimento.

Refere-se ao processo total engendrado na investigação para perceber as


necessidades do trabalho escolar coletivo e do trabalho docente no cotidiano da

sala de aula e visa assegurar o sucesso do aluno e da escola.


7. Avaliação da aprendizagem e sucesso escolar

Um diagnóstico da aprendizagem é mais amplo e mais detalhado que a


avaliação. No processo educativo a situação do diagnóstico inclui uma variedade

de dados que se relacionam aos contextos escolares e extra-escolares. Alguns são


de ordem interna ao aluno: fatores físicos, intelectuais e emocionais; outros são de

ordem externa e ligada ao ambiente escolar: à sala de aula e à escola; outros,


ainda, são ligados à família, à sociedade.

De modo geral, a avaliação em forma de diagnóstico está atenta a esta


variedade de dados que podem e devem ser coletados e os analisa estabelecendo

inter-relações, sem perder de vista o caráter de globalidade, ou seja, analisa um


aspecto em particular relacionando-o com o processo total.

132
Por exemplo: se um aluno tem dificuldades especialmente em Matemática

e o professor observa uma constante dispersão durante as aulas, é importante


que ele analise: por que o aluno dispersa? o que lhe chama atenção mais do que

a aula? de que maneira a aula poderia se orientar pelo foco do seu interesse?
como a criança interage com o grupo de colegas? como participa dos projetos?

Em muitas situações, um resultado escolar pode ser uma questão que ultrapassa o
âmbito da sala de aula e a responsabilidade não é apenas do professor. Envolve o

projeto coletivo da escola. Há necessidade, portanto, de um trabalho integrado


com a participação do aluno, do professor, da direção, da família.

O sucesso escolar envolve um avaliação em duas dimensões:


a) a dos resultados imediatos que traduzem aquisições de conhecimentos no

cotidiano escolar;
b) a dos resultados mais amplos que apontam comportamentos gerais,

indicadores de que o aluno está desenvolvendo o senso crítico,


E está participando e se envolvendo em assuntos sociais e políticos, está

assumindo suas responsabilidades de cidadão.


Os resultados imediatos vão se associando e integrando progressivamente

e viabilizam configurar os resultados mais amplos. Por isso, a preocupação


primeira da escola é com esses resultados imediatos, do aluno no cotidiano da

sala de aula, mas sem perder de vista o horizonte maior que a educação busca, ou
seja, a formação contínua do cidadão.

8. Avaliação da aprendizagem e organização escolar


Considerando a escola como um espaço social cuja função principal é

constituir-se num "locus" de formação da cidadania, importa analisarmos o que


substantivamente produz essa formação. Para viver e conviver participativamente

na escola, na família, no bairro, no trabalho, etc, a pessoa precisa em primeiro


lugar saber comunicar-se com o outro: o irmão, o amigo, o patrão, a autoridade,

o prestador de serviços, etc. A comunicação exige: domínio de conhecimentos (o


133
que comunicar), desenvolvimento de habilidades (o como) e a formação de

atitudes (posturas). Esses três aspectos são indissociáveis e se intercomplementam


dinâmica e progressivamente. São, por conseguinte, o alvo, a preocupação maior

da educação formal, do ensino em sala de aula.


Ao se pensar a avaliação da aprendizagem, a primeira preocupação situa-

se sobre "o que" deve ser avaliado. Essa definição, de fato, antecede o momento
específico da avaliação da aprendizagem e se reporta à demarcação de quais são

as necessidades formativas dos alunos, com o objetivo de explicitar quais são as


competências básicas a serem desenvolvidas pelo processo pedagógico da

educação escolar.
Definir quais são as competências básicas configura um momento em que,

de fato, definimos os objetivos do ensino. Esse não é um momento específico do


professor, mas da escola, coletivamente. Deve se basear nos documentos

oficiais(2) da educação brasileira, nas diretrizes de Minas Gerais, na análise da


clientela escolar, do contexto no qual a escola se insere e em todos aqueles

aspectos socioculturais e político-pedagógicos que interferem em um


planejamento.

A seguir, é importante refletir sobre os conteúdos que se constituem em


instrumentais para o desenvolvimento das competências básicas: os conteúdos

cognitivos, os procedimentais e os atitudinais e na organização curricular, o


tempo e as disciplinas.

Até aqui, o planejamento é global, da escola. Somente após a organização


curricular é que os professores têm condições de pensar nos processos de sala de

aula e em seu cotidiano.


9. Avaliação da aprendizagem no cotidiano da sala de aula

O primeiro momento da avaliação diagnóstica antecede o próprio


processo de aprendizagem e tem por finalidade o planejamento do ensino na sala

de aula. O professor coleta informações para conhecer seus alunos e organizar


134
atividades apropriadas ao seu nível de desenvolvimento e às suas necessidades.

Com esse objetivo, o professor analisa e reflete sobre questões como:


1. Quem são os alunos?

2. Qual é a sua realidade social e econômica?


3. Qual o seu universo cultural e quais são as suas capacidades especiais?

4. Que atividades realiza diariamente em casa, na vizinhança?


5. Como é o clima familiar e suas condições de vida?

6. A que tipos de programas de televisão assistem?


7. De quais atividades eles gostam e como se comportam?

8. O que desejam fazer na escola?


9. Que expectativas eles têm em relação à escolarização?

10. O que esperam aprender e quais são as suas necessidades especiais?


Os dados acima podem ser obtidos por meio de vários instrumentos de

avaliação. Por exemplo, utilizando o "diálogo" com os alunos, em círculos de


conversa ou a observação direta em atividades como pantomimas em que os

alunos simulam o seu dia-a-dia, teatrinhos; diálogo com os pais, em reuniões,


entrevistas e questionários. O importante é que os dados fiquem registrados para

fundamentar o segundo momento da avaliação.


O professor não pode perder de vista que o espaço da aula destina-se à

aquisição de saberes, à formação de atitudes e ao desenvolvimento de


habilidades. Seu projeto de ensino deve se associar integradamente ao projeto de

aprendizagem dos alunos, sendo um projeto/síntese dos conhecimentos, relações,


inter-relações e interações. Vale dizer, um projeto de ensino-aprendizagem

gestado coletivamente - professor, alunos e escola.


Na avaliação inicial, os alunos expressam suas condições, suas "limitações

temporais", seus interesses, seus valores, seus desejos, suas expectativas refletindo
o "que são". O professor vai além, ao que "deverão ser". "O que os alunos são"

significa a realidade imediata e concreta; "o que os alunos deverão ser" significa
135
os objetivos educacionais, os resultados que a escola busca. No atual contexto da

educação, os resultados que se buscam são aqueles indicadores do


desenvolvimento da cidadania humana numa sociedade democrática.

O espaço entre "o que os alunos são" e "o que deverão ser" é o espaço do
ensino e da aprendizagem, para o qual o currículo é organizado. O professor deve

partir da realidade dos alunos, criando atividades ao mesmo tempo acessíveis ao


que são capazes e desafiadoras no sentido do que "deverão ser". A avaliação

diagnóstica acompanha esse movimento, atenta ao que já desenvolveram e ao


que precisam desenvolver ainda.

A "arte" de ser professor é extremamente exigente. A sala de aula busca


formar o aluno para a macro sociedade mas ela já é, em si mesma, micro

sociedade. Nesse sentido, o "formar para..." constitui no "exercício de ...", ou seja,


a aula não prepara para a participação se ela não for participativa, não desenvolve

habilidades de comunicação se ela é apenas transmissão/ recepção de conteúdos,


não desenvolve iniciativas e criatividade se ela é comando/obediência.

Ao pretender formar para cidadania, o professor trabalha a sala de aula


considerando que ela é, de fato, o espaço peculiar da cidadania dos alunos, do

individual e do coletivo. Isso, sem perder de vista, a "cidadania" do futuro


trabalhador, do pai de família, do homem adulto em sua vida social.

Em síntese, o primeiro momento da avaliação visa o projeto da ação


educativa na sala de aula para fundamentá-lo na realidade dos alunos e nas

diretrizes educacionais. Para ser viável, o projeto educativo da aula precisa


considerar o aluno em suas especificidades e os padrões mínimos necessários

para o seu desenvolvimento social. Implica, pis, individualização e flexibilidade.


Individualização significa avaliar as diferenças peculiares das crianças-

estágio de desenvolvimento dos processos cognitivos, conhecimentos já


construídos, nível de participação, de socialização, de responsabilidade,

dificuldades em relação aos saberes a serem adquiridos. Flexibilidade significa


136
atender positivamente a essas diferenças prestigiando os alunos com atividades e

tempos diferenciados, que sejam capazes de propiciar condições para que todos
possam atingir um desenvolvimento melhor.

Atividades diferenciadas significam uma outra forma de "aula", planejada


com diversificação de tarefas para atender às características" dos alunos. Podem-

se formar grupos segundo tais características e serão estas características que


nortearão a organização da aula e de suas atividades. Assim como atividades

diferenciadas consideram as peculiaridades das crianças nos momentos iniciais,


tempos diferenciados consideram as diferenças de ritmo de desenvolvimento das

crianças e permitem a elas avanços progressivos que constituem formas


intermediárias de promoção, de modo a não "reter" o aluno mais lento como se

ele nada tivesse aprendido.


O segundo momento da avaliação diagnóstica consiste numa reflexão sobre os

Projetos de Aula:
1. Eles atendem às peculiaridades avaliadas anteriormente?

2. Eles permitem a cada aluno o tempo necessário ao seu ritmo?


3. Mesmo considerando as dificuldades dos alunos, a aula é um desafio que

estimula ao progresso individual e coletivo ?


4. Os saberes escolares estão abrindo "janelas para o mundo"?

5. Os conteúdos escolares e as atividades foram organizados segundo o princípio


da individualização ë convergem para o padrão mínimo necessário à formação

geral do aluno?
6. Os avanços observados permitem concluir que os alunos estão se

desenvolvendo?
Essa avaliação pode ser feita por meio de instrumentos como a observação

direta do desempenho dos alunos nos trabalhos em grupo ou através de


exercícios escritos ou orais, provas e trabalhos de pesquisa na escola ou em casa.

137
Aliás, o papel do Para Casa é extremamente importante, desde que seja

programado como atividade avaliativa da aula e seja "reflexo dela". É importante


considerar a necessidade de se redimensionar a atividade extra-escolar, como o

Para Casa e a pesquisa. São atividades relevantes que estimulam a capacidade de


estudos autônomos e contribuem para a formação de atitudes responsáveis e

comprometidas com a própria aprendizagem, porém exigem adequação às


características do aluno, ao seu estágio de desenvolvimento cognitivo, ao seu

contexto sociofamiliar e aos recursos materiais de que dispõe. Dessa forma, tanto
a pesquisa extra-escolar quanto o Para Casa requerem do professor um trabalho

de organização fundamentada no conhecimento do contexto de cada um dos


seus alunos e a aceitação de desempenhos diferenciados conforme tais contextos.

Por ser dinâmica, contínua e progressiva, a avaliação nesse segundo


momento não é, de fato, um momento temporal fixo. É reflexão sobre o

planejamento, mas também sobre o desenvolvimento e os resultados, pois, se a


preocupação é verificar avanços progressivos, estes não têm tempo certo, são

tempos individuais, portanto, exigem flexibilização. A flexibilidade repercute nos


próprios projetos de ensino/aprendizagem porque o sucesso requer um ciclo

constante de ação/avaliação.
Os resultados só são importantes porque apontam em que aspectos a ação

docente deve ser modificada ou adaptada de forma a atenderás necessidades de


desenvolvimento da turma. As modificações e/ou adaptações podem incluir uma

reorientação dos conteúdos, a criação de novas atividades, uma nova


programação de exercícios, a construção de novas relações professor/aluno e

aluno/aluno, a busca de maior interação escola/família.


O papel mais importante da avaliação diagnóstica em sala de aula é

monitorar o ensino por meio dos resultados de desempenho dos alunos no


cotidiano escolar. Esses resultados constituem dados que informam sobre as

138
necessidades e/ou dificuldades dos aprendizes e orientam o atendimento a ser

feito pelo professor. Jamais devem servir para "reprovar".


10. Indicadores de progresso dos alunos

A principal dificuldade encontrada pêlos professores nessa nova forma de


avaliação situa-se no como operacionalizá-la. Antes, era mais fácil, pois

utilizavam-se principalmente as provas escolares que focalizavam o domínio de


conteúdos, quase exclusivamente, e os alunos eram avaliados pêlos resultados

obtidos nas provas e representados pelas notas. No ensino voltado para o


desenvolvimento de competências, essa forma de avaliação não é importante. A

avaliação do desempenho escolar, numa educação voltada para o


desenvolvimento de competências básicas, deve se operacionalizar com base em

outros referenciais: a observação dos indicadores de progresso dos alunos.


As competências são modalidades estruturais da inteligência. Delas

decorrem as habilidades, condição para o saber fazer. Através das ações e


operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se possibilitando nova

reorganização das competências.


A aprendizagem associa competências cognitivas que lhe são próprias e

habilidades instrumentais delas advindas. As competências básicas explicitam-se


através de ações e operações utilizadas pêlos homens para estabelecerem

relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejam


conhecer. Para se avaliar o desenvolvimento dessas competências, os professores

precisam ter clareza sobre quais são as ações e operações pertinentes que
indicam progresso do aluno.

Indicadores de progresso consistem em referenciais que fornecem


elementos de análise para concluirmos sobre o grau de desenvolvimento dos

educandos. São, portanto, os alvos que o professor deve observar no processo


contínuo da avaliação.

139
Os indicadores de progresso são demonstrativos que dão visibilidade às

construções do aluno e constituem evidências de que ele está ampliando sua rede
de significados em patamares mais amplos e aprofundados. São indicadores de

aprendizagem os comportamentos dos alunos que indicam, por exemplo: que ele
capta informações do seu meio; que ele dá sentido às informações que capta; que

ele organiza e reorganiza essas informações criando uma rede de significados.


Na avaliação, os indicadores estão contidos nas especificações dos itens

dos trabalhos e exercícios escolares, nas questões de prova, nos roteiros de


pesquisa. No processo de ensino, esses indicadores orientam a organização das

atividades a serem desenvolvidas em sala de aula e são expressos quase sempre


na forma de tarefa para os alunos executarem. Na análise avaliativa, os

professores procuram identificar sua presença no desempenho de cada tarefa,


exercício ou prova, e aquilatar até que ponto a qualidade e profundidade com

que foram expressos possibilitam concluir que o aluno desenvolveu as habilidades


e competências básicas definidas como os objetivos de sua educação.

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