TCC Relacionamentos Abusivos

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Universidade Federal Fluminense

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Curso de Psicologia

Entendendo os Relacionamentos Íntimos com Comportamento Abusivo por

meio da Teoria do Apego

Amanda de Souza Tosta

Volta Redonda, RJ 2017


Universidade Federal Fluminense

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Curso de Psicologia

Entendendo os Relacionamentos Íntimos com Comportamento Abusivo por meio da

Teoria do Apego

Amanda de Souza Tosta

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao

Curso de Psicologia como requisito à obtenção

do grau de Bacharel em Psicologia

Orientador: Prof. Dr. Vicente Cassepp-Borges

Volta Redonda, RJ

Junho, 2017
AMANDA DE SOUZA TOSTA

Entendendo os Relacionamentos Íntimos com Comportamento Abusivo por meio

da Teoria do Apego

Trabalho de conclusão de curso apresentada

ao Curso de Psicologia como requisito à

obtenção do grau de Bacharel em Psicologia

Aprovada em 14 de julho de 2017.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Vicente Cassepp-Borges (Orientador – UFF/VR)

Prof. Dr. Antônio Augusto Pinto Júnior (UFF/VR)

Prof. Dr. Jean Carlos Natividade (PUC/RJ)

Volta Redonda, RJ

Junho, 2017
À todas as mulheres que sofrem ou já
sofreram algum tipo de abuso.
AGRADECIMENTOS

Talvez não existam palavras suficientes e significativas que me permitam agradecer

como realmente gostaria. Começo agradecendo ao meu orientador Vicente Cassepp-

Borges que aceitou prontamente me orientar, e acompanhou minhas crises e me

incentivou a aprender mais e buscar por novas fontes de conhecimento.

A todos que responderam ao questionário base desse trabalho, sem vocês nada

disso seria possível. Agradeço principalmente a todos que deixaram um pouco de suas

vivências, descrevendo como foi passar por momentos de abuso em seus relacionamentos

enriquecendo ainda mais a pesquisa.

Ao meu primo Jorge que com ideias brilhantes me ajudou com o pontapé inicial do

trabalho. Sem falar nas traduções de última hora e as longas conversas sobre o tema. Ao

Fábio, meu companheiro, que aguentou até o final todas as minhas crises, ameaças de

desistência e falta de crença em mim mesma. Obrigada pelos finais de semana de castigo

em casa e por acreditar em mim e no meu trabalho, mesmo quando tudo parecia perdido.

Aos Professores Jean e Antônio que fizeram parte da banca examinadora desse

trabalho, obrigada pela disponibilidade e correção atenciosa.

Vale agradecer aqueles que indiretamente participaram desse trabalho. Pessoas que

participaram não só desses anos de graduação, mas de todo caminho para chegar aqui,

pessoas sem as quais esse sonho não se realizaria.

Aos meus pais Josi e Aloisio por todo amor, carinho, dedicação, apoio e esforços

para que eu conseguisse concluir meus estudos. A minha irmã por toda companhia e

conversas nas magrugadas de insônia.

Ao meu tio Jorge e minha avó Neide que não só apoiaram emocionalmente, mas

também nos momentos mais difíceis investiram financeiramente para que eu

permanecesse na universidade.

A minha família de sangue e aos amigos da casinha que o coração escolheu chamar

de família por incentivarem e nunca me deixarem desistir.


A Lívia e Carol por dividirem não só a casa durante esses cinco anos, mas também

toda vida, vivência e experiência. Obrigada por escutarem minhas histórias sem fim e

exageradamente detalhadas.

Aos amigos que fiz no intercâmbio. Rebeca, Mari, Priscila, Mara, Miguel,

Giordano, Javier obrigada por fazerem dos seis meses que morei com vocês uma

experiência de grande valor não só academicamente, mas também para alma. Nos

encontramos, e foi lindo!

Por fim, agradeço а todos оs professores pоr mе proporcionar о conhecimento nãо

apenas racional, mаs а manifestação dо caráter е afetividade dа educação nо processo dе

formação profissional, pоr tanto qυе sе dedicaram а mim, nãо somente pоr terem mе

ensinado, mаs por terem mе feito aprender.


RESUMO

A problemática acerca de relacionamentos abusivos tem sido amplamente discutida, devido

ao atual e crescente movimento que busca ratificar e enraizar o direito das mulheres através de

seu empoderamento. Este trabalho propõe o entendimento de relacionamentos abusivos por

meio da Teoria do Apego. O trabalho ainda abordou o conceito de violência, quais os tipos de

violência dentro de relacionamentos íntimos (Física, Sexual, Verbal e Psicológica),

explanações estatísticas e correlações entre as causas de comportamentos abusivos e os efeitos

na vida de quem os sofre. Participaram desse estudo 464 mulheres e 85 Homens. Eles

responderam à Experiencie in Close Relationships (ECR), à Escala de Abuso em

Relacionamento Íntimos (ARI) que se subdivide em Abuso em Relacionamento Íntimos

baseado no comportamento do outro em relação ao respondente (ARI-O) e Abuso em

Relacionamento Íntimos baseado no comportamento do respondente em relação ao outro

(ARI-E) e um questionário demográfico por meio eletrônico. Os resultados indicaram que as

escalas ARI e ECR apresentam boas propriedades psicométricas. Com relação à violência

sofrida, as mulheres relataram sofrer violência física significativamente maior do que homens,

enquanto homens relataram sofrer uma violência psicológica e atitudes controladoras

significativamente maior que mulheres. A violência psicológica se associa com as atitudes

controladoras, e ambas são inversamente associadas com a violência física. O estilo de apego

ansioso provavelmente diminui a violência praticada pelos participantes. Os resultados

sugerem bons instrumentos de medida e uma maior compreensão para lidar com o fenômeno

da violência em relacionamentos íntimos.

Palavras chaves: Relacionamentos abusivos, Apego, Apego Seguro, Apego Inseguro,

Teoria do apego, Vinculação, Violência Verbal, Violência Psicológica e Violência

Física.
ABSTRACT

The problematic of abusive relationships has been widely discussed, due to the current and

growing movement that seeks to ratify and root the right of women through their

empowerment. This work proposes the understanding of abusive relationships through the

Attachment Theory. The study also dealt with the concept of violence, which types of

violence within intimate relationships (Physical, Sexual, Verbal and Psychological),

statistical explanations and correlations between the causes of abusive behavior and the

effects on the life of the sufferer. 464 women and 85 men participated of this study. They

answered to the Experiencie in Close Relationships (ECR), the Intimate Relationship Abuse

Scale (ARI) which subdivides into Intimate Relationship Abuse based on the behavior of the

other in relation to the respondent (ARI-O) and Intimate Relationship Abuse based on

Behavior of the respondent in relation to the other (ARI-E) and a demographic questionnaire

by electronic means. The results indicated that the ARI and ECR scales present good

psychometric properties. Regardig to suffered violence, women reported experiencing

significantly greater physical violence than men, while men reported experiencing

psychological violence and controlling attitudes significantly higher than women.

Psychological violence is associated with controlling attitudes, and both are inversely

associated with physical violence. The anxious attachment style is likely to lessen the

violence practiced by the participants. The results suggest good measuring tools and greater

understanding to deal with the phenomenon of intimate partner violence.

Key Words: Abusive Relationships, Attachment, Secure Attachment, Unsafe Attachment,

Attachment Theory, Binding, Verbal Violence, Psychological Violence, and Physical

Violence.
9

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... 5

RESUMO ............................................................................................................................................... 7

ABSTRACT ........................................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 11

2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................................... 12

2.1 Violência e abuso nos relacionamentos ...................................................................................... 12

2.2 Caracterizações do abuso ........................................................................................................... 14

2.3 Dados estatísticos da violência contra a mulher ........................................................................ 16

2.4 Causas e Efeitos .......................................................................................................................... 18

2.5 A Teoria do Apego ...................................................................................................................... 19

3 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 24

4 METODO.......................................................................................................................................... 24

4.1 Participantes ............................................................................................................................... 24

4.2 Instrumentos ................................................................................................................................ 25

4.3 Procedimentos ............................................................................................................................. 26

5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................................. 26

6 RESULTADOS ................................................................................................................................. 27

7 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 39

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 44

ANEXO A ............................................................................................................................................ 50

ANEXO B ............................................................................................................................................. 53
10

ARI-O................................................................................................................................................ 53

ANEXO C ............................................................................................................................................ 54

ARI-E ................................................................................................................................................ 54

ANEXO D ............................................................................................................................................ 55

ECR Brasil (Reduzida) ..................................................................................................................... 55

ANEXO E ............................................................................................................................................. 56

Convite............................................................................................................................................... 56

ANEXO F.............................................................................................................................................. 57

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................................................................. 57


11

INTRODUÇÃO

É possível qualificar a violência como um fato cotidiano e universal, que sobre-existe

desde os primórdios das civilizações. Como qualquer conceito relacionado a processos

culturais amplos, carrega uma carga semântica rica, cuja complexidade é expressão da própria

variedade social humana. Para Piosiadlo (2014), embora exista um consenso razoável a

respeito do que seja a violência, o contexto temporal é determinante no grau de aceitação das

suas variadas modalidades. A Organização Mundial de Saúde (OMS) por Krug et al. (2002)

define a violência como ação que tem como resultado possível de pior intensidade a morte e

em gradações menores lesões físicas, comprometimento do desenvolvimento do indivíduo

que a sofre ou dano psicológico, ação empreendida pelo uso da força física ou do poder, na

forma de ameaça ou de violência atual, de maneira intencional – contra si ou outra pessoal,

contra comunidades ou agrupamentos.

Segundo Paiva & Figueiredo (2003) o relacionamento abusivo é caracterizado pela

recorrência significativa de atos de violência. Não é um tema “novo”, e remete a muitos anos

de uma história de opressões de gênero e de sexualidade, em especial às mulheres. O abuso no

relacionamento íntimo tem efeitos nocivos na qualidade de vida, na saúde mental e física da

vítima. Algumas pesquisas (Caridade & Machado, 2006; Matos, 2006; Paiva &

Figueiredo,2003) indicam ser cada vez mais frequente o comportamento abusivo dentro dos

relacionamentos íntimos. É sabido que homens, embora em uma escala muito menor, também

sofrem com abuso em relacionamentos íntimos (Hohendorf, Habigzang, & Koller, 2017), mas

a literatura científica apresenta mais dados sobre as mulheres (Hohendorff, Santos,

Dell’Aglio, 2015). É essencial realizar uma problematização acerca das bases materiais,

subjetivas e sociais que sustentam essa realidade cruel e tão naturalizada pela ideologia

dominante.
12

O presente trabalho tem por objetivo fornecer um estudo exploratório, teórico e

empírico acerca da teoria do apego/vinculação afetiva adulta de Hazan & Shaver (1987) e a

possibilidade de usá-la como chave de leitura do fenômeno do abuso nos relacionamentos

íntimos. Baseadas nas experiências e nos padrões típicos de interação com as figuras

significativas durante a infância, cada pessoa eventualmente constrói “modelos internos

dinâmicos” que irão guiar os seus comportamentos interpessoais posteriores (Paiva &

Figueiredo, 2003). É a partir desses modelos que a mesma estabelece expectativas acerca do

que pode esperar de si e dos outros em relacionamentos.

O presente trabalho justifica-se principalmente pela grande importância que tem a

temática em diversos ramos e subáreas da Psicologia, bem como pelo crescente destaque dos

estudos a respeito da origem, dos mecanismos e motivos de permanência dos processos

psicológicos e sociais de opressão feminina. Somente através da reunião de dados e reflexões

que medidas hábeis podem ser tomadas para que essas práticas sejam suprimidas – o que faz

da nossa temática relevante em âmbito prático e teórico, além do acadêmico.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Violência e abuso nos relacionamentos

Paiva & Figueiredo (2004, p. 244) julgam que o “conhecimento empírico é consensual

quanto à presença de algum índice de disfunção ou de abuso no contexto das relações

íntimas”. As pesquisas sobre a violência em relacionamentos íntimos de adolescentes são bem

numerosas no mundo anglo-saxão (Hickman et al., 2004; Cornelius & Resseguie, 2007);

Ting, 2009), o que talvez seja indicativo tanto do destaque social dado ao tema na última

década quanto da gravidade das suas consequências. Um exame rápido dos estudos de

Barnett, Miller-Perrin e Perrin (1997) ou Henderson et al. (2005) revela que o abuso em

relacionamento íntimo no começo da vida adulta é, pelo menos, frequente. Nos Estados
13

Unidos, 10% das meninas de 12 a 15 anos e 22% das garotas entre 16 e 19 anos foram mortas

entre os anos de 1993 e 1999, vítimas de seus namorados (Murta et al., 2013).

Um estudo brasileiro indica que cerca de 87% de mais de 3000 jovens adultos de dez

estados da nação entrevistados já foram vítimas de algum tipo de abuso (Oliveira et al., 2011).

As várias modalidades do abuso (físico, psicológico, verbal, sexual) acontecem de maneira

interrelacionada na maior parte das vezes, conforme indicam Anacona (2008) e Aldrighi

(2004). O abuso é, também, como já mencionado, bidirecional e multicausal (Williams et al.,

2008), proveniente de elementos familiares, culturais e pessoais – ter sofrido abuso sexual ou

conviver em comunidades pronunciadamente sexistas (Dilillo et al., 2001); Caridade &

Machado, 2006), ter testemunhado repetidas vezes o abuso entre os próprios pais ou

familiares próximos ou ser portador de problemas graves de controle emocional (Anacona,

2008; Ting, 2009), entre outros.

A violência em relacionamentos íntimos é uma questão de saúde, já que suas

implicações na saúde física e mental das pessoas envolvidas não pode ser ignorada. Interessa-

nos aqui, sobretudo o abuso no relacionamento íntimo como um fenômeno que influi sobre o

quadro da saúde mental dos indivíduos. Entre as consequências psicológicas mais graves do

abuso estão o estresse pós-traumático, a queda na autoestima e a ideação suicida, todos

prevalentes no sexo feminino (Caridade & Machado, 2006). Um efeito grave da violência nos

relacionamentos íntimos é que a violência iniciada na fase de namoro acabe em diversos casos

por ser determinante do padrão de comportamento na coabitação matrimonial (Chan et al.,

2008). É fundamental considerar que o namoro é o momento da relação onde são construídas

as relações conjugais futuras. Assim sendo, é possível que o namoro possa servir como um

fator decisivo para prevenção da violência nos relacionamentos íntimos (Flake et al., 2013).

Até a década de 1980, porém, a maior parte dos estudos lidava apenas com a violência

conjugal. A partir de então, o seu escopo tem sido ampliado para o namoro e até mesmo a
14

intimidade de um tipo mais casual. Há estudos importantes sobre a violência em

relacionamentos íntimos na fase escolar, que indicam que de 15 a 43% da violência vivida por

jovens nesta fase ocorrem dentro das dependências escolares (Flake et al., 2013).

Gelles (1988) aponta que os estudos sobre a violência nos relacionamentos íntimos

surgiram como uma tentativa de encontrar subsídios para o entendimento das relações entre os

gêneros. O conhecimento de um fenômeno de importância tão determinante para tantos ciclos

vitais é essencial para a compreensão de uma variedade de questões relacionadas ao

desenvolvimento humano, as relações sociais e de gênero, a saúde física e mental de homens e

mulheres das mais variadas idades, classes e ocupações.

2.2 Caracterizações do abuso

O abuso físico é definido por Sugarman e Hotaling (em Paiva & Figueiredo, 2003, p.

167) como “o uso de ameaça ou força física ou restrição levada a cabo no sentido de causar

dor ou injúria a outrem”. A OMS classifica a violência física por gravidade: o ato moderado é

a ameaça, feita sem uso de armas e sem o acréscimo do abuso sexual de qualquer natureza,

também as agressões contra objetos pessoais da vítima, seus animais, empurrões, beliscões e

tapas, bem como o uso de instrumentos perfurantes, cortantes ou que causem contusões; os

atos severos são aqueles que provocam lesões físicas, temporárias ou permanentes – são

também os atos de agressão que deixam cicatrizes ou queimaduras e qualquer tipo de ameaça

que envolva o uso de uma arma (branca ou de fogo) (Organizacion Panamericana de la Salud,

1998).

O abuso sexual é definido por Koss (em Paiva & Figueiredo, 2003 p.168), como “uma

interação sexual conseguida contra a vontade do outro, através do uso da ameaça, força física,

persuasão, uso de álcool/drogas, ou recurso a uma posição de autoridade”. As mesmas autoras

afirmam ainda que em torno de 28% das mulheres em Portugal afirma já ter sido estuprada
15

por uma pessoa com quem tem ou teve relação íntima. Considerada também a tentativa de

violação, a proporção de mulheres quase dobra. O abuso sexual pode acontecer em uma

variedade formas com consequências graves para a saúde psíquica da vítima: a prostituição

forçada, a produção de material pornográfico ou obsceno, a exposição a situações sexuais de

extrema humilhação, etc.

A definição de abuso psicológico, para Straus e Sweet (em Paiva & Figueiredo, 2003,

p. 169),é a de “um padrão de comunicação, quer verbal ou não verbal, com a intenção de

causar sofrimento psicológico na outra pessoa, ou que é percebido como tendo essa intenção”.

O abuso psicológico pode acontecer como rejeição, discriminação, depreciação, por meio de

punições absurdas e um desrespeito pronunciado. É uma agressão que não deixa marcas

físicas, mas nem por isso menos prejudicial – a mobilização do outro para satisfação de

necessidades patológicas por meio de expedientes comportamentais agressivos, histéricos ou

humilhantes pode ser um fator imenso de diminuição de qualidade de vida. A diminuição da

autoestima, as repreensões frequentes, a tentativa de fazer o outro se sentir dependente ou

inferior, ou omisso e sem a mesma capacidade de investimento emocional no relacionamento,

a virulência e a dissimulação emocional constante também podem configurar abuso de tipo

psicológico.

A violência psicológica é talvez a mais frequente de todas. Aparece da seguinte

maneira no inciso II do Art. 7º da Lei número 11.340 - Lei Maria da Penha (Brasil, 2006):

II – À violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano

emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno

desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,

crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,

isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,


16

ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio

que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

2.3 Dados estatísticos da violência contra a mulher

"A cada 15 segundos uma mulher cai da escada,


escorrega no banheiro ou tropeça no tapete. E a cada
uma hora e meia uma mulher não sobrevive para
contar a próxima desculpa".
(Globo & ONU Mulheres, 2015)

Diversas organizações não governamentais e empresas tem se preocupado com os

relacionamentos abusivos. No Brasil, foi realizada uma pesquisa conduzida por Énois I

Inteligência Jovem (2015), em parceria com o Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia

Galvão e pesquisas realizada pelo Instituto Avon (2013), disponíveis em websites de suporte a

vítimas de relacionamentos abusivos – um norte americano, Love is Respect (2016) e um

nacional inspirado nele, Livre de Abuso (2016) com cerca de 2300 meninas com idades entre

14 e 24 anos de diversas regiões do país. Foi possível inferir os seguintes dados estatísticos:

cerca de 75% das entrevistadas confirmam ter recebido tratamento diferenciado em sua

criação por serem mulheres; 77% crêem que o machismo atrapalhou de alguma maneira o seu

desenvolvimento e mais de 90% já deixaram de fazer algumas atividades por medo da

violência de gênero.

A delimitação conceitual da categoria do feminicídio e da violência à mulher é

complicada, sobretudo porque não há dados estatísticos fornecidos pela polícia ou pelo setor

Judiciário que tragam informações pertinentes ao gênero das vítimas (Pasinato, 2011).

Ademais, Pasinato (2011) afirma que em casos de crime de violência contra a mulher poucos

são os países que possuem um sistema de informação em que se é possível tomar

conhecimentos sobre os processos judiciais, e o que seria mais decisivo ainda, quais são as

decisões que acabam por pesar sobre o destino dessas mulheres. Sabe-se, porém, através do
17

Mapa da Violência de 2015, que entre os anos 2003 e 2013 houve um aumento significativo

de 21,0% no número de mulheres vítimas fatais da violência dentro de relacionamentos,

passando de 3.937 mortes em 2003 para 4.762 em 2013. Um assustador número de 13

homicídios femininos por dia para a década considera. (Waiselfisz, 2015). A consideração do

próprio crescimento da população feminina, que no mesmo período de dez anos foi de quase

90 milhões a 99,8 milhões (mais de 11% de crescimento), revela um crescimento de quase 9%

da violência nesse tempo. Mais assustador que esse crescimento é lembrar que nem mesmo a

vigência da Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006 (Brasil, 2006), foi capaz de deter o

crescimento da violência homicida à mulher.

De modo geral, porém, os dados específicos sobre a violência nos relacionamentos

íntimos e a sua prevenção são ainda mais escassos. A maior parte dos estudos (Antonio et al.,

2012; Oliveira et al., 2011) que lidam com a violência íntima são voltados à compreensão do

fenômeno em seus vários aspectos, dando preferência a explicações qualitativas a

quantitativas. Todavia, o enfoque dado à violência doméstica pelo Sistema de Informação de

Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, que registra os atendimentos do

Sistema Único de Saúde (SUS) em relação às violências, pode fornecer dados úteis sobre o

problema.

A partir de 2009, foi implantada a notificação de violência doméstica e/ou sexual no

Sinan, registro que passou a ser feito de maneira compulsória, sempre que exista suspeita

sobre violências direcionadas a crianças, adolescentes, mulheres e idosos, em conformidade

com as Leis 8.069 - Estatuto da Criança e Adolescente (Brasil, 1990), 10.741 - Estatuto do

Idoso (Brasil, 2003a) e 10.778 - Notificação compulsória da violência contra a mulher (Brasil,

2003b). Em relação a 2014, as informações resultantes dessa medida são elevadas, segundo

dados coletados, foram atendidas 223.796 vítimas de diversos tipos de violência.

Estatisticamente duas em cada três dessas vítimas de violência (147.691) foram mulheres que
18

precisaram de atenção médica por violências domésticas, sexuais e/ou outras. Isto é: a cada

dia de 2014, 405 mulheres demandaram atendimento em uma unidade de saúde, por alguma

violência sofrida (Waiselfisz, 2015)

Outro fato notável no Mapa da Violência (Waiselfisz, 2015) é que comparativamente, em

todas as etapas da vida, os atendimentos femininos são preponderantes. O equilíbrio no

atendimento às crianças é mais ou menos mantido até que, a partir dos 17 anos, 71,3%

(n=223.796) dos atendimentos passam a ser de mulheres, e apenas 28,6% (n=223.796) de

homens.

2.4 Causas e Efeitos

Como sugerido anteriormente, o abuso nos relacionamentos é um fenômeno

multicausal, ligado a elementos tão variáveis quanto o controle emocional do perpetrador do

abuso e as condições familiares em que um casal teve seu desenvolvimento psicológico. Esse

último é fator com uma ampla variedade de estudos a respeito (Levendosky et al., 2003). A

exemplo dessas condições familiares para a formação do indivíduo, pode-se imaginar uma

criatura com vivência em um âmbito familiar em que a violência é tolerada e debilitante

àquele que a experimenta. Estas condições para o desenvolvimento do indivíduo podem

alterar-lhe a percepção quanto à relação entre abuso e sofrimento, tornando-o insensível a

estes fatores. Essa alteração da percepção da realidade trará uma falsa sensação de que o

sofrimento é algo comum e, pela mesma razão, não há parâmetros para acreditar que suas

ações caracterizem comportamentos abusivos. As consequências do abuso são inúmeras:

depressão, ansiedade, baixa autoestima, diminuição das suas potencialidades parentais,

sentimentos de culpa – é também causa de neuroses diversas e afeta até mesmo algumas

capacidades cognitivas básicas (Paiva & Figueiredo, 2008).


19

Para além das consequências mais imediatas na percepção de si mesma e nas suas

próprias capacidades, a violência, sobretudo de tipo doméstica, pode fazer a mulher se sentir

desprovida de capacidade parental. Proteger as crianças parece cada vez mais difícil à mulher,

e a concentração das preocupações muitas vezes precisa estar voltada para os estados

emocionais do seu parceiro (De Antoni & Bastista, 2014). Sani (2008) mostra que a

vinculação segura pode ser comprometida quando a criança percebe que o progenitor é

incapaz de dar proteção e segurança, deixando a criança vulnerável a afecções negativas.

É de comum acordo entre pesquisadores que o ambiente violento afeta de forma

negativa a estrutura psicológica das vítimas, prejudicando muitas das suas capacidades.

Muitas vezes o estresse que tem por causa a vivência de vitimação pode ser causa de

fortalecimento de competências e de superação. Entretanto, geralmente os efeitos da violência

são nocivos, afetando a autopercepção da vítima e a sua funcionalidade familiar, social e até

mesmo física. Conforme afirma Santos (2014), a violência contra a mulher é um fator de

preocupação com a saúde. Além de danos físicos e psicológicos a curto prazo, dependendo do

tipo de violência sofrida, pode-se aumentar substancialmente o risco de trazer graves

problemas de saúde a longo prazo (depressão, dores crônicas, ansiedade, fobias e etc.).

2.5 A Teoria do Apego

Apego diz respeito ao vínculo afetivo/emocional estabelecido entre seres humanos, em

que um deles representa uma figura de apego e o outro busca proximidade a essa figura em

situações de desconforto ou ameaça (Natividade & Shiramizu, 2015). Bowbly (1958, 1960a,

1960b) apresentou sua teoria à Sociedade Britânica de Psicanálise, em Londres, por meio dos

seus artigos “The nature of the child’s tie to his mother”, ”Separation anxiety” e “Grief and

Mourning in infancy and early childhood”. Foram trabalhos de grande impacto, que
20

receberam críticas de Winnicott e Anna Freud Muitas das reações opositivas ao seu trabalho

se devem ao fato de que Bowlby rejeitava algumas das principais ideias de Freud.

Bowbly (1958) rejeita a ideia de que é a libido o princípio de ligação entre mãe e bebê.

Ademais, ignora as noções de ego e superego, sugerindo que uma série de instintos do bebê

permitem sua ligação com a mãe – os atos de agarrar, mamar e sugar sendo os mais óbvios.

Bowlby (1960a) ainda ataca a ideia de Anna Freud de que “recém-nascidos privados de um

cuidador não conseguem fazer luto devido a um desenvolvimento insuficiente do ego e assim

apenas experienciam nada mais que breves traços de ansiedade relacionada com a separação”

(Silva, 2014, p.6), defendendo que luto e desgosto sempre existem se há vinculação e a figura

de vinculação não se encontra presente.

Nos estudos de Bowlby (1960a) há a sugestão de que a qualidade dos vínculos entre

cuidador e criança seria determinante das idiossincrasias comportamentais do indivíduo em

desenvolvimento – o que também se reflete nos diferentes estilos de apego daquele indivíduo.

Mais tarde, explicam ainda os mesmos autores, investigaram-se as relação entre os diferentes

tipos de apego durante a infância do indivíduo e seus impactos nas interações sociais em sua

fase adulta (Silva, 2014). A Teoria da Vinculação, então, demonstraria que as crianças são

motivadas desde muito cedo a relacionar-se e estabelecer um vínculo ou apego, e forneceria

informações valiosas para que psicólogos e psiquiatras inferissem condicionantes nas

moléstias psíquicas e desenvolvessem abordagens terapêuticas considerando esses problemas

emocionais e sociais com origem na vinculação na infância.

O apego é o mecanismo básico dos seres humanos (e de outros primatas), um

comportamento de origem biológica, como a própria alimentação e a sexualidade,

considerado um sistema de controle homeostático que funciona junto com um complexo de

outros sistemas comportamentais (Bowlby, 1958). Na vida humana, o apego envolve a eleição

de uma figura de apego disponível que forneça um sentimento de segurança que fortalece essa
21

relação retroativamente. O vínculo da criança com seus pais aconteceria por causa de uma

série de potencialidades inatas do indivíduo, atualizadas pela proximidade entre eles. O

vínculo afetivo de fato seria a condição para o desenvolvimento de capacidades emocionais,

sociais e afetivas “saudáveis”.

A necessidade de proteção e segurança do indivíduo (Bowlby, 1960b) determina que o

apego se dê com um indivíduo que se demonstre apto na sua relação com o mundo. Nem tudo

deve ser considerado inato, porém. Conforme observa Golse (1998 em Dalbem & Dell Áglio,

2005), o comportamento de apego não é algo herdado, ele se desenvolve ao longo da vida e

possui bases instintivas, o que é herdado é a capacidade de adaptação para evolução e

preservação presentes num tipo de código genético. Há ainda evidências que o

comportamento de apego não é sustentado apenas por associações de prazer, pois crianças por

vezes também se apegam a modelos abusivos.

Em outras palavras, o apego é desenvolvido quando as necessidades fisiológicas das

crianças encontram resposta e também quando não encontram. As formas de apego podem ser

ativas ou aversivas e se manifestar em uma variedade surpreendente. A teoria da vinculação e

do comportamento de apego teve ricos frutos, sendo um deles a contribuição de Ainsworth

(1963). A autora concebeu, com seus colaboradores, um procedimento aplicável a crianças

entre 12 e 18 meses de idades para aferir uma tipologia do apego. O sistema de Ainsworth foi

a base da maior parte das investigações posteriores a elas, estudos sobre a infância e a vida

adulta. Na avaliação de indivíduos adultos, surgiram duas correntes. A primeira, realizada

principalmente por colaboradores de Ainsworth, usa de entrevistas.

A segunda, inaugurada por Hazan e Shaver (1987), utiliza-se principalmente de

questionários de autodescrição. Segundo os autores, baseados em uma extrapolação da teoria

fundamental de Bowbly e dos estudos empíricos anteriores, seria nos relacionamentos

amorosos que os comportamento de vinculação melhor se expressariam nos adultos. Por meio
22

de uma medida de autorrelato, Hazan e Shaver perceberam que indivíduos com um estilo de

apego seguro percebiam a relação com o parceiro como mais afetuosa, amigável e confiante.

Já indivíduos com estilos de apego inseguro ansioso (que remete a um cuidado inconsistente

durante a infância) relataram uma maior necessidade de desejo por união e reciprocidade com

o parceiro romântico. Por último, indivíduos apresentando um estilo de apego inseguro

evitativo (associado com um cuidado insensível durante a infância) relataram sentir-se

incomodados com a proximidade física e emocional com o parceiro romântico.

Até os estudos de Hazan e Shaver (1987), a teoria do apego parecia limitada antes de

tudo por seu foco em crianças pequenas. Embora seja verdade que Bowlby (1958) já declarara

que o apego caracterizava a experiência humana “do berço ao túmulo”, e também que a

psicologia do desenvolvimento em princípio deva lidar com o ser humano em todas as fases

do seu crescimento e vida, não só na infância, foi só nos anos 1980 que o conceito foi

realmente explorado no contexto dos relacionamentos românticos adultos.

Examinando o relacionamento de um número considerável de casais, Hazan e Shaver

(1987) puderam observar diferentes reações a estressores e estímulos, experimento

providencial na percepção de que também em adultos o apego é fator de grande importância.

Nos casos de um apego fraco, prevaleciam sentimentos de inadequação e falta de intimidade

por parte dos parceiros; nos casos em que o apego era mais forte, muitos comportamentos de

co-dependência podiam ser observados. O melhor cenário parecia aquele em que os casais

conseguiam equilibrar a medida de independência e intimidade romântica: assim como na

infância o apego deve ser base para o desenvolvimento de uma independência relativa dos

sujeitos de vinculação.

Hazan e Shaver (1987) foram mais longe na proposta de que não só existiam estilos de

apego semelhantes na infância e na vida adulta: sugeriram que a vinculação que se forma

entre parceiros românticos é uma função parcial do mesmo sistema de motivações do apego
23

infantil. Assim como as crianças com seus cuidadores, adultos em relacionamentos se sentem

seguros com a presença do parceiro, demonstram necessidade de contato físico íntimo, sentem

certa insegurança quando pressentem a inacessibilidade dos seus parceiros, compartilham

descobertas, exibem uns aos outros emoções que considerariam vergonhoso mostrar pra

outras pessoas, demonstram um fascínio, uma atenção e uma preocupação incomuns uns com

os outros, fazem vozes e conversam como bebês.

Como já dito, Bowlby (1960b) e Ainsworth (1963) mencionaram o papel do apego nos

relacionamentos românticos adultos, mas a sistematização desse estudo foi inovação de Hazan

e Shaver (1987). Extrapolando noções de Ainsworth (1963), eles formaram esquema em três

categorias, que veio a se tornar o quadro dentro do qual as diferenças individuais na forma de

pensamento, sentimento e comportamento romântico poderiam ser localizados. Três

qualidades ou tipos de apego romântico foram propostas, então: seguro, ansioso-ambivalente

e o evitativo. Uma breve descrição de cada um dos tipos foi desenvolvida pelos estudiosos

Hazan e Shaver na mesma fase das suas pesquisas:

a) o apego seguro corresponderia à frase: “eu acho relativamente fácil me aproximar das

outras pessoas e me sinto confortável em depender delas e que elas dependam de mim. Não

me preocupo em ser abandonado ou que alguém se aproxime demais de mim”;

b) ao apego evitativo corresponderia a frase: “eu fico de algum modo desconfortável em

estar muito próximo dos outros; eu acho difícil confiar completamente nas pessoas, difícil me

permitir ser dependente delas. Eu fico nervoso quando qualquer um se aproxima demais, e,

frequentemente, outros desejam que eu fique ser mais íntimos do que eu acho confortável”;

c) ao apego ansioso-ambivalente corresponderia: “eu acho que os outros são relutantes

em se aproximar como eu gostaria. Eu me preocupo frequentemente que os meus parceiros

não me amem ou queiram estar comigo. Eu quero estar muito próximo do meu parceiro, e isso

às vezes afasta as pessoas”.


24

O trabalho de Hazan e Shaver (1987) foi a origem de um novo campo de investigação a

respeito do apego. Sua metodologia, porém, foi amplamente criticada. Uma das críticas é a de

que a tipologia elaborada pelos estudiosos era sobremaneira restritiva (são três os tipos),

sendo impossível estabelecer gradações mais detalhadas entre os estilos de apego dos

indivíduos. Por essa razão mesmo, há a busca pelo desenvolvimento de métodos para a

aferição do apego adulto como uma opção para mensurar o apego do indivíduo continuamente

(e.g. Natividade & Shimizu, 2015).

3 OBJETIVOS

1. Esta pesquisa propõe testar relações entre apego adulto e o envolvimento em

relacionamentos abusivos.

2. Também se tem o objetivo de conhecer as propriedades psicométricas dos

instrumentos para medir apego adulto e relacionamentos abusivos.

3. Por fim, este trabalho teve como objetivo comparar os níveis de violência sofrida e

praticada por homens e mulheres.

4 MÉTODO

4.1 Participantes

A pesquisa teve a participação de 549 pessoas, sendo 85 homens (15,5%) e 464

mulheres (84,5%). A faixa etária dos participantes foi de 14 e 62 anos, com uma média de

idade de 25,2 anos (DP = 7,4X). A amostra foi composta por uma maioria de heterossexuais

(n=440, 80,1%), mas com um considerável numero de bissexuais (n=87, 15,8%) e

homossexuais (n=22, 4,0%). Mais da metade (n=326, 59,4%) eram estudantes. As principais

religiões encontradas foram Catolicismo (n=167, 30,4%) e Espiritismo (n=63, 11,5%), sendo
25

que um considerável número declarou-se sem religião (n=118, 21,5%) ou Ateu/Agnóstico

(n=79, 14,4%). Quanto ao status de relacionamento no momento da realização da coleta de

dados, a maioria namora ou já namorou (n=411, 74,9%), seguido de casados (n= 82, 14,9%),

relacionamentos sem compromisso (n=41, 7,5%) e divorciados/viúvos (n=13, 2,4%).

4.2 Instrumentos

Foi aplicado um protocolo dividido em quatro partes. A primeira foi um questionário

demográfico (Anexo A). A segunda foi uma adaptação de um teste disponível no website

norte americano de apoio a vítimas de abuso em relacionamento íntimo Love is Respect

(2016). Essa adaptação deu origem a Escala de Abuso em Relacionamento Íntimos (ARI) que

se subdivide em Abuso em Relacionamento Íntimos baseado no comportamento do outro em

relação ao respondente (ARI-O, Anexo B) e Abuso em Relacionamento Íntimos baseado no

comportamento do respondente em relação ao outro (ARI-E, Anexo C). A terceira parte

(Anexo D) está baseada no trabalho de Natividade e Shiramizu (2015), que se propõe aferir

apego adulto através do instrumento traduzido e adaptado para o Brasil: Experience in Close

Relationships Inventory (ECR). A quarta e última parte, uma questão aberta para relatar

experiências em relacionamento abusivo.

No questionário, as dimensões evitação e ansiedade, foram inferidos através de 10

afirmações nas quais os participantes responderam em uma escala de sete pontos o quanto

concordavam com os itens, em que o ponto 1 corresponde a ‘discordo fortemente’ e o 7, a

‘concordo fortemente’ para a escala ECR adaptada e reduzida para o Brasil (Shiramizu &

Natividade, 2015). O ARI possui 25 afirmações cada, nas quais o respondente teria que em

uma escala de cinco pontos variando em “nunca”, “raramente”, “às vezes”, “frequentemente”

e “sempre” assinalar a frequência que os comportamentos acontecem no relacionamento.


26

Não foram encontrados estudos psicométricos anteriores ao presente estudo com a

escala ARI.

4.3 Procedimentos

As coletas de dados foram realizadas de modo individual, por meio da aplicação de um

questionário online na plataforma Googleforms, sobre o qual os participantes foram instruídos

pela pesquisadora. O questionário foi divulgado em grupos de redes sociais e sites de vítimas

de abuso, estudantes universitários e via aplicativos de mensagem por telefone celular. O

convite padrão encontra-se no Anexo E. Os participantes também foram solicitados a

compartilhar o questionário em seu círculo de amizades (método da bola de neve).

Os procedimentos éticos, conforme dispostos na resolução 510/2016 do Conselho

Nacional de Saúde, foram cuidadosamente observados. Por se tratar de uma pesquisa de

opinião não houve a necessidade de submeter o projeto a um Comitê de Ética em Pesquisa. Os

participantes foram informados por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(Anexo F) sobre as condições de estudo e selecionaram a opção concordando com a sua

participação no estudo.

5 ANÁLISE DOS DADOS

A relação entre apego e no nível de abuso também foi analisada por correlação de

Pearson. As médias de homens e mulheres foram comparadas por meio de teste t de Student.

A idade foi correlacionada (Pearson) com o apego e o nível de abuso. Os dados foram

analisados por meio de análise fatorial exploratória com extração Principal Axis Factoring e

rotação oblíqua Direct Oblimin para todas as escalas exceto para a escala ARI-E na qual foi

realizada uma análise fatorial confirmatória. Foram calculados os valores de alfa de Cronbach

para avaliar a consistência interna dos instrumentos e seus respectivos fatores.


27

6 RESULTADOS

O primeiro passo foi realizar uma análise exploratória da escala ARI-O. Observou-se

que a escala ARI-O teve um Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de 0,95 e um Teste de Esfericidade

de Bartlett significativo (χ²=9880,3; gl=300 e p<0,001). Esses valores indicam uma boa

fatorabilidade da matriz de correlações. A partir do scree plot (Figura1), é possível inferir que

com certa segurança que a escala tem três fatores. Estes fatores foram denominados: violência

física, violência psicológica e atitudes controladoras. Observa-se na Tabela 1 a carga fatorial

de cada item em seu respectivo fator. Em geral, os itens possuem elevadas cargas fatoriais.

Para fazer a avaliação da escala ARI-E, foi realizada uma análise fatorial

confirmatória, a partir do modelo encontrado na analise fatorial exploratória da ARI-O. Foi

testado, ainda, um modelo alternativo com todos os itens carregando em um único fator.

Pode-se perceber, na comparação das estruturas da ARI-O com a ARI-E, que o CFI e o TLI

pioraram, mas o RMSEA permaneceu praticamente no mesmo lugar, e o χ² melhorou (Tabela

2). Também se comparou uma solução da escala ARI-E com um fator só, piorando bastante

todos os índices de ajustes, o que demonstra que essa solução com um fator não obteve

nenhum suporte empírico. Embora não tenha repetido os índices de ajuste da escala ARI-O, a

solução com três fatores da ARI-E tem um ajuste melhor do que a solução com um fator. Para

manter a comparabilidade das estruturas da ARI-O com a ARI-E, optou-se pela escala com

três fatores, que obteve um maior suporte empírico que a solução com um fator.
28

Figura 1. Scree plot da ARI-O

Tabela1- Carga Pattern dos itens nos fatores da ARI-O


Violência Violência Atitudes
Psicológica Física Controladoras
O3A -0,932
O1A -0,865
O2A -0,823
O4A -0,695
O15A 0,645
O16A 0,639
O21A 0,619
O17A 0,534
O5A 0,531
O14A 0,498
O23A 0,884
O20A 0,830
O22A 0,821
O18A 0,791
O24A 0,562
O25A 0,408
O19A 0,405
O9A 0,344 0,657
O7A 0,609
O12A 0,410 0,576
O10A 0,427 0,487
O11A 0,320 0,485
O13A 0,469
O6A 0,437
O8A 0,304
Nota: Método de extração: Principal Axis Factoring.
Método de rotação: Oblimin com normalização de Kaiser .
A rotação convergiu em 9 rinterações.
29

Tabela 2 – Análise Fatorial confirmatória da ARI-O e da ARI-E


ARI-O ARI-E_3F ARI-E_1F
RMSEA 0,095 0,091 0,111
TLI 0,848 0,691 0,545
CFI 0,862 0,72 0,583
χ² 1620 1511 4727
Gl 272 272 300

A Tabela 3 compara a carga fatorial da ARI-O com a ARI-E na análise fatorial

confirmatória. Na referida Tabela, pode-se analisar item por item para a verificação de quais

são os itens que na escala ARI-O de fato carregaram o fator e que na escala ARI-E tiveram

uma carga bem menor. Assim, é provável que os participantes tenham interpretado aquele

item como sendo de algum outro fator, e não como sendo um item associado naquele fator:

seja violência psicológica, física ou atitudes controladoras.

Os itens que tiveram uma carga fatorial muito diferente na ARI-O e ARI-E foram

1,2,3,4,5 no fator Violência Psicológica e 8 e 11 no fator Violência Física (ver itens nos

Anexos B e C). Nota-se que os itens invertidos da sub-escala da violência psicológica tiveram

uma carga com o seu fator na ARI-O, mas não tiveram uma carga com a mesma força na

ARI-E. Isso significa que esses itens se refiram a uma violência psicológica somente quando a

pessoa sofre a violência, mas não quando a pessoa pratica a violência. Como exemplo temos o

item 2. Quando se refere a um comportamento do outro para com o respondente (Incentiva-

me a tentar coisas novas) ele é associado ao inverso da violência psicológica. Quando é um

comportamento do respondente para com o outro (Incentivo a tentar coisas novas) não está

associado a uma violência psicológica.

A partir desse dado, percebe-se que a violência psicológica é tão sutil que, quando

praticada pelo respondente, ela não é percebida como uma violência. Mas quando o

respondente sofre, isso é violento e tem algum impacto. Com relação a atitudes controladoras,

percebeu-se que os itens 8 e 11 se referem a questão de vestimenta apenas são considerados


30

atitudes controladoras quando o respondente sofre esse comportamento (ARI-O). Pode-se

hipotetizar que isso tenha relação com o fato da amostra ser composta por 84,5% de mulheres.

Controlar a vestimenta é um comportamento mais masculino do que feminino, como aponta

Marques (2005).

Tabela 3 - Comparação da carga fatorial da ARI-O e ARI-E


ARI-O ARI-E
Erro Erro
Estimativa p Estimativa p
Padrão Padrão
Psicológica Psicológica
O3A 0,683 0,024 0,000 E3A 0,301 0,044 0,000
O1A 0,721 0,022 0,000 E1A 0,236 0,045 0,000
O2A 0,702 0,023 0,000 E2A 0,177 0,046 0,000
O4A 0,747 0,020 0,000 E4A 0,351 0,043 0,000
O15A -0,883 0,011 0,000 E15A -0,719 0,027 0,000
O16A -0,864 0,012 0,000 E16A -0,696 0,028 0,000
O21A -0,846 0,013 0,000 E21A -0,523 0,036 0,000
O17A -0,768 0,019 0,000 E17A -0,627 0,032 0,000
O5A -0,692 0,023 0,000 E5A -0,259 0,044 0,000
O14A -0,798 0,017 0,000 E14A -0,604 0,032 0,000
Física Física
O23A 0,789 0,019 0,000 E23A 0,722 0,023 0,000
O20A 0,792 0,019 0,000 E20A 0,788 0,020 0,000
O22A 0,822 0,017 0,000 E22A 0,742 0,022 0,000
O18A 0,763 0,021 0,000 E18A 0,858 0,015 0,000
O24A 0,726 0,023 0,000 E24A 0,483 0,036 0,000
O25A 0,551 0,032 0,000 E25A 0,350 0,040 0,000
O19A 0,541 0,033 0,000 E19A 0,670 0,026 0,000
Atitudes Atitudes
Controladoras Controladoras
O9A 0,848 0,014 0,000 E9A 0,661 0,031 0,000
O7A 0,390 0,038 0,000 E7A 0,297 0,044 0,000
O12A 0,920 0,009 0,000 E12A 0,784 0,026 0,000
O10A 0,825 0,015 0,000 E10A 0,616 0,033 0,000
O11A 0,793 0,017 0,000 E11A 0,374 0,042 0,000
O13A 0,812 0,016 0,000 E13A 0,532 0,037 0,000
O6A 0,290 0,040 0,000 E6A 0,161 0,046 0,001
O8A 0,503 0,033 0,000 E8A 0,178 0,046 0,000
31

Continuação - Tabela 3 - Comparação da carga fatorial da ARI-O e ARI-E


Correlações Correlações
Física/ Física/
-0,655 0,029 0,000 -0,631 0,035 0,000
Psicológica Psicológica
Atitudes Atitudes
Controladoras -0,837 0,016 0,000 Controladoras/ -0,655 0,038 0,000
/Psicológica Psicológica
Atitudes Atitudes
Controladoras 0,596 0,032 0,000 Controladoras/ 0,505 0,041 0,000
/Física Física
Interceptos Interceptos
O3A 3,277 0,108 0,000 E3A 5,853 0,182 0,000
O1A 3,721 0,120 0,000 E1A 3,528 0,115 0,000
O2A 2,870 0,097 0,000 E2A 5,293 0,165 0,000
O4A 2,604 0,089 0,000 E4A 5,132 0,161 0,000
O15A 1,521 0,063 0,000 E15A 1,892 0,071 0,000
O16A 1,543 0,063 0,000 E16A 1,959 0,073 0,000
O21A 1,646 0,066 0,000 E21A 1,873 0,071 0,000
O17A 1,366 0,059 0,000 E17A 2,710 0,092 0,000
O5A 1,678 0,066 0,000 E5A 1,647 0,066 0,000
O14A 1,570 0,064 0,000 E14A 1,737 0,068 0,000
O23A 1,725 0,067 0,000 E23A 2,890 0,097 0,000
O20A 1,669 0,066 0,000 E20A 2,677 0,091 0,000
O22A 1,709 0,067 0,000 E22A 2,862 0,096 0,000
O18A 1,719 0,067 0,000 E18A 3,745 0,121 0,000
O24A 1,532 0,063 0,000 E24A 2,742 0,093 0,000
O25A 1,486 0,062 0,000 E25A 3,019 0,101 0,000
O19A 1,555 0,063 0,000 E19A 2,286 0,081 0,000
O9A 1,648 0,066 0,000 E9A 1,908 0,072 0,000
O7A 2,150 0,078 0,000 E7A 2,087 0,076 0,000
O12A 1,530 0,063 0,000 E12A 1,814 0,069 0,000
O10A 1,451 0,061 0,000 E10A 1,705 0,067 0,000
O11A 1,469 0,062 0,000 E11A 2,293 0,081 0,000
O13A 1,468 0,062 0,000 E13A 3,113 0,103 0,000
O6A 1,833 0,070 0,000 E6A 1,696 0,067 0,000
O8A 1,617 0,065 0,000 E8A 1,554 0,063 0,000
32

Continuação - Tabela 3 - Comparação da carga fatorial da ARI-O e ARI-E


Variâncias Variâncias
Física 1000 0,000 999 Física 1000 0,000 999
Atitudes Atitudes
1000 0,000 999 1000 0,000 999
Controladoras Controladoras
Psicológica 1000 0,000 999 Psicológica 1000 0,000 999
Variância Variância
Residual Residual
O3A 0,534 0,033 0,000 E3A 0,910 0,026 0,000
O1A 0,481 0,032 0,000 E1A 0,944 0,021 0,000
O2A 0,508 0,032 0,000 E2A 0,969 0,016 0,000
O4A 0,442 0,030 0,000 E4A 0,877 0,030 0,000
O15A 0,220 0,019 0,000 E15A 0,483 0,038 0,000
O16A 0,253 0,021 0,000 E16A 0,515 0,039 0,000
O21A 0,284 0,023 0,000 E21A 0,726 0,038 0,000
O17A 0,410 0,029 0,000 E17A 0,607 0,040 0,000
O5A 0,522 0,032 0,000 E5A 0,933 0,023 0,000
O14A 0,364 0,027 0,000 E14A 0,635 0,039 0,000
O23A 0,377 0,030 0,000 E23A 0,479 0,034 0,000
O20A 0,373 0,030 0,000 E20A 0,378 0,031 0,000
O22A 0,325 0,028 0,000 E22A 0,449 0,033 0,000
O18A 0,418 0,031 0,000 E18A 0,263 0,026 0,000
O24A 0,473 0,033 0,000 E24A 0,767 0,034 0,000
O25A 0,696 0,035 0,000 E25A 0,878 0,028 0,000
O19A 0,708 0,035 0,000 E19A 0,551 0,035 0,000
O9A 0,281 0,023 0,000 E9A 0,563 0,042 0,000
O7A 0,848 0,029 0,000 E7A 0,912 0,026 0,000
O12A 0,153 0,016 0,000 E12A 0,385 0,040 0,000
O10A 0,319 0,025 0,000 E10A 0,620 0,041 0,000
O11A 0,372 0,028 0,000 E11A 0,860 0,031 0,000
O13A 0,340 0,026 0,000 E13A 0,717 0,039 0,000
O6A 0,916 0,023 0,000 E6A 0,974 0,015 0,000
O8A 0,747 0,033 0,000 E8A 0,968 0,017 0,000

Posteriormente, foi avaliada a estrutura fatorial da ECR-Brasil. na Figura 2, a estrutura bi-

fatorial possui suporte empírico. A escala obteve um KMO de 0,757 e um Teste de

Esfericidade de Bartlett significativo (χ²=1282,912; gl=45 e p<0,001). Esse KMO indica uma

adequada fatorabilidade da matriz de correlações. Como pode ser observado no scree plot

(Figura 2), conseguiu a estrutura bi-fatorial possui um bom suporte empírico., Os fatores
33

corresponderam a ansiedade e evitação. A Tabela 4 apresenta a carga fatorial de cada item em

seu respectivo fator.

Figura 2. Scree plot da ECR-R-Brasil

Tabela 4 - Carga Pattern dos itens nos fatores da ECR-R-Brasil


Ansiedade Evitação
A10A 0,743
A4A 0,712
A2A 0,604
A6A 0,571
A8A 0,532
A3A 0,319 0,675
A7A 0,618
A1A 0,577
A5A -0,429
A9A -0,366
Alfa 0,765 0,643
Nota: Método de extração: Principal Axis Factoring.
Método de rotação: Oblimin com normalização de Kaiser .
A rotação convergiu em 7 interações.
34

Desse modo, juntou-se todos os itens de todas as escalas e criou-se uma média de

todos os itens que compõem cada fator, obtendo um score do fator. Foi feito um escore para

evitação, um para ansiedade, um para violência psicológica, um para violência física e outro

para atitudes controladoras.

Comparou-se os scores dos fatores de homens e mulheres, para que se pudesse

descobrir diferenças de sexo com relação a cada tipo de violência e estilos de apego (Tabela

5). Fez-se a comparação de médias com o Teste t de Student. Observa-se então, que o estilo de

apego evitativo foi mais comum em homens, enquanto as mulheres apresentaram scores

significativamente mais altos no apego ansioso. Quanto aos tipos de violência, não foi

encontrada diferença significativa na escala ARI-E, ou seja, os respondentes não diferem em

gênero na violência que admitem cometer, mesmo que tenha havido uma tendência à

significância na ARI-E Atitudes Controladoras. No que tange a ARI-O, foi encontrada uma

diferença de médias de gênero nas três sub-escalas. Homens percebem que sofrem

significativamente mais atitudes controladoras e violência psicológica, enquanto mulheres

sofrem significativamente mais com as violências físicas.

Observando o fator atitudes controladoras, verificou-se que as médias dos homens na

ARI-E é maior do que na ARI-O. Consequentemente, eles praticam mais atitudes

controladoras do que sofrem. O mesmo fato pode ser observado nas mulheres nos fatores

atitudes controladoras e violência psicológica. Ressalta-se que, com relação à violência

psicológica, menores escores indicam maior nível de violência.


35

Tabela 5 – Comparação por sexo nos escores da ECR-Brasil, ARI-O e ARI-E


Desvio Erro
Sexo N Média t gl P
Padrão Padrão
Feminino 464 2,2728 0,9485 0,04403
Evitação -2,109 547 0,035*
Masculino 85 2,5106 0,99211 0,10761
Feminino 464 3,7793 1,33642 0,06204
Ansiedade 2,642 547 0,008*
Masculino 85 3,36 1,39174 0,15096
Atitudes Feminino 464 3,7466 1,08635 0,05043
-3,404 152,626 0,001*
ControladorasO Masculino 85 4,0788 0,7706 0,08358
Atitudes Feminino 464 4,4082 0,44404 0,02061
-1,869 547 0,062
ControladorasE Masculino 85 4,5047 0,40027 0,04342
Feminino 464 1,3334 0,6365 0,02955
FísicoO 4,159 209,034 0,000*
Masculino 85 1,1361 0,34214 0,03711
Feminino 464 1,0791 0,28561 0,01326
FísicoE 1,462 196,799 0,145
Masculino 85 1,0471 0,16106 0,01747
Feminino 464 2,1492 0,97607 0,04531
PsicológicoO 2,028 157,022 0,044*
Masculino 85 1,975 0,67281 0,07298
Feminino 464 1,6387 0,48608 0,02257
PsicológicoE -0,173 547 0,863
Masculino 85 1,6485 0,4509 0,04891
Nota: * p<0,05
Menores escores de violência psicológica indicam maior nível de violência.

Observando a Tabela 6, percebe-se elevadas correlações entre Atitudes Controladoras-O

e Físico-O(r= -0,639) indicando que quanto mais a pessoa percebe que sofre violência física,

menos ela percebe que sofre atitudes controladoras e vice versa; Atitudes Controladoras-O e

Psicológico-O (r= -0,728) indicando que pessoas que sofrem com atitudes controladoras,

também percebem a violência psicológica (note-se que menores escores de violência

psicológica, indicam maior violência sofrida) e por fim Físico-O com Psicológico-O (r=

0,552) indica que a pessoa que sofre com violência física tende a não sofrer com a violência

psicológica. Em resumo, os dados mostram que a violência psicológica e as atitudes

controladoras andam em um mesmo sentido, enquanto a violência física anda em sentido

oposto.

O apego evitativo encontrou uma correlação fraca com as atitudes controladoras

sofridas (r= -0,332). Ao mesmo tempo, a ansiedade correlacionou-se com as atitudes

controladoras (r=-0,307) e a violência psicológica praticadas pelo participante (r=0,380), no


36

sentido de que uma maior ansiedade está associada com a realização de poucas atitudes

controladoras e pouca violência psicológica. Não foram encontradas correlações de grande

magnitude com a idade.


37

Tabela 6 - Correlação de Pearson entre idade e a ECR-Brasil, ARI-O e ARI-E


Aitudes Aitudes
Evitação Ansiedade FísicoO FísicoE PsicológicoO PsicológicoE Idade
ControladorasO ControladorasE
Evitação - 0,001 -0,332** -0,293** 0,191** 0,067 0,202** -0,041 0,111**
Ansiedade - -0,273** -0,307** 0,113** 0,149** 0,102* 0,380** -0,107*
Aitudes
- 0,418** -0,639** -0,220** -0,728** -0,127** -0,058
ControladorasO
Aitudes
- -0,305** -0,451** -0,249** -0,441** -0,089*
ControladorasE
FísicoO - 0,402** 0,552** 0,146** 0,021
FísicoE - 0,201** 0,337** 0,052
**
PsicológicoO - 0,115 0,005
PsicológicoE - -0,018
Idade -
**. Correlação significativa (p<0,01- bi-caudal)
*. Correlação significativa (p<0,05 - bi-caudal)
Menores escores de violência psicológica indicam maior nível de violência.
38

Relatos qualitativos

Quanto aos relatos de experiências, observa-se uma prevalência de abusos dos mais

diversos tipos. Predominam relatos de chantagem, abuso psicológico, ameaça de morte,

ataque de ciúmes, abuso sexual, agressão física, humilhações em público. Todos os tipos de

violência descritos na estrutura fatorial dos instrumentos estiveram presentes nos relatos dos

participantes. A seguir serão apresentados desses relatos, que exemplificam cada uma das

formas de violência encontradas na ARI.

Violência Psicológica

“Mas ele me forçava ficar acordada até as 4h da manhã conversando com ele, se eu não

ficasse ele falava cometeria alguma loucura, e eu ficava, pois na primeira vez que ele falou

que iria fazer algo ele fez e acabou ficando uma semana no hospital.”(sic)

“Durante o relacionamento eu me sentia sufocada e mesmo após o término foi difícil me

livrar dele, pois ele ia atrás de mim onde eu estivesse e eu voltava sozinha da faculdade que

era longe às 22h e ele estava lá e pegava o mesmo ônibus que eu e me cercava. Eu não achava

que ele tinha coragem de me machucar, mas era sufocante.”(sic)

“Sofri durante muito tempo deste meu relacionamento uma pressão emocional como se

tudo de errado que viesse a acontecer ou acontecia na nossa história dizia respeito ao meu

comportamento, que devia ser sempre amável e gentil, eu não podia reclamar de nada pq tudo

se transformava em discussão e isso ele abominava e me culpava, a ponto de ameacar

terminar sempre o relacionamento por "minha culpa" pq ele alegava que vinha de uma relação

hostil durante anos e não queria ter brigas e discussões mais na vida.” (sic)
39

Violência física

“Meu ex namorado já me trancou em um quarto, me sacudiu e meu jogo na cama para

que eu pudesse escuta-lo, sendo que eu não queria.”(sic)

“Ele me agredia com frequência, ameaçava me matar, sumir com nosso filho..”(sic)

“Um ex namorado me deu três chutes na canela e um tapa no rosto por ficar

extremamente irritado quando eu descobri uma traição”(sic)

“Esta situação culminava numa relação sexual abusiva, meio feroz, que me machucava,

era a maneira que ele demonstrava que "me amava", "me queria", "me dominava"(...) Tive por

diversas vezes lacerações vaginais que pareciam aos olhos da minha ginecologista relações de

estupro!”(sic)

Atitudes Controladoras

“Estava num jantar de amigos no qual um deles contou uma piada e consequentemente

me ri... O meu parceiro nessa altura começou a gritar em frente a todos que eu me estava a

atirar a quem contou a piada e que era oferecida entre outras coisas duras”(sic)

“Sempre que podia, me rebaixava, dizia que minha roupa não condizia com o local que

íamos, que meu cabelo e minha pele estavam horríveis, coisas assim que me machucavam

muito! Ele me fazia sentir mal e só, sem amigos, sem família, eu sempre achava que estava

‘pisando em ovos’”(sic)

“Minha ex não gostava de xingamentos. Certa vez, discutimos e, sabendo que ela ficaria

chocada, a xinguei”(sic)

7 DISCUSSÃO

Com a conscientização acerca da violência sobre a mulher como degradação dos

princípios básicos dos direitos humanos, aumentou-se a percepção da manutenção dessas


40

práticas em diferentes locais ao longo do mundo. O “despertar” social dessa temática reafirma

a relevância em se pesquisar e trazer a luz dos fatos a estruturação sócio-histórica e científica

da violência sofrida pelas mulheres dentro de relacionamentos íntimos. Esse “despertar” se dá

como consequência do novo posicionamento da mulher perante a sociedade e ela mesma,

provocado pela maior transparência nas relações interpessoais, movimentos públicos e

políticos, rede de apoio às vítimas e a própria manifestação destas sobre as violências que

sofrem.

Somente a partir dos anos noventa, uma série de fatores despertaram o interesse a

respeito da temática sobre relacionamentos abusivos. Dentre esses fatores, estão a necessidade

de desenvolver novas ferramentas teóricas que permitissem aumentar a sua compreensão e a

sua abordagem; a necessidade do desenvolvimento de novas metodologias de aproximação ao

objeto que permitissem “registrá-lo” e caracterizá-lo, culminando em uma ampla gama de

publicações acerca do tema (Matos, 2006).

Esse estudo colaborou com dois instrumentos de medida úteis para a área. Além de

reiterar as boas propriedades psicométricas da ECR-R-Brasil já descritas na literatura

(Natividade & Shiramizu, 2015), foram evidenciadas boas propriedades também para as

escalas ARI-E e ARI-O. Dada a escassez de instrumentos de medida na área da violência em

relacionamentos íntimos, este estudo apresenta uma ferramenta importante na detecção desse

problema social. Mesmo que a estrutura fatorial precise ser lapidada em outros estudos, a

escala ARI é precisa e tem boas propriedades psicométricas. Assim, este estudo colabora com

a crescente tendência de se investigar instrumentos associados a relacionamentos no Brasil

(Cassepp-Borges & De Andrade, 2013).

Apesar da tendência de publicações sugerindo uma violência por parte dos homens em

relação à mulher (Matos,2006; Marques, 2005; Miranda, 2010; Caridade & Machado,2006),

este estudo sugere que isso é verdadeiro somente em relação à violência física. As atitudes
41

controladoras e violência psicológica parecem ser mais praticadas pelo sexo feminino do que

pelo masculino. Entretanto, há uma restrição nesse dado, pois a amostra é composta por

voluntários. Acredita-se que pessoas que sofrem abuso, independente do gênero, têm uma

maior tendência a responder a um questionário sobre o tema. Assim, a amostra de homens que

responderam o questionário pode não ser representativa do universo de homens na sociedade

(a mesma observação é válida para as mulheres).

Os três tipos de apegos são, como já dito anteriormente: seguro, evitativo, ambivalente.

Pode-se relacionar a permanência de padrões de apegos “inseguros” durante a vida adulta

como um reflexo da consolidação de relações abusivas durante a infância. Assim, esses

padrões perenizam nos relacionamentos íntimos estabelecidos na vida adulta (Hazan &

Shaver, 1987). Essa afirmação não significa que os relacionamentos são idênticos, mas sim

partilham dos mesmos princípios da teoria do apego.

A partir dos resultados encontrados nas correlações de Pearson, percebeu-se uma leve

influência do apego em relação à violência. A correlação negativa entre o apego evitativo e

atitudes controladoras sofridas pode ser explicada pelo fato de que as pessoas que possuem

apego evitativo tendem a se distanciar de pessoas controladoras. Ao mesmo tempo, pessoas

com apego ansioso tendem a praticar menos violência psicológica e atitudes controladoras.

Uma hipótese para isso é a de que pessoas com apego ansioso sintam algum medo de perder o

seu parceiro e por isso controlem mais esses impulsos.

A presente pesquisa deu suporte a um modelo teórico com os elementos constituintes

de relacionamentos abusivos de diversas naturezas, evidenciando a presença de

comportamentos violentos entre os jovens participantes. Segundo resultados, esses

comportamentos não são prevalecentes em relações maritais, ocorrendo principalmente entre

solteiros que correspondem a três quartos da amostra.


42

Embora haja, neste estudo, a correlação estatística entre os diferentes tipos de abusos e

violências em busca do entendimento de sua origem, a abordagem estatística inviabiliza o

entendimento da contextualização da relação entre vítima e abusador. Abordagens

quantitativas desconsideram fatores circunstanciais acerca do evento, tais como as causas e

razões que levaram à ocorrência, possíveis sequências de atos entre os envolvidos e a

percepção do abuso propriamente dito pela ótica da vítima. No entanto, a presença da questão

em aberto para que os entrevistados pudessem relatar suas próprias experiências dentro de

relacionamentos abusivos permitiu a identificação dessas lacunas provocadas pelo estudo

quantitativo da análise. Desta forma, atribui-se a estes relatos um peso de proporção

igualitária às demais questões elaboradas, considerando-a um fator de fundamental

importância para o entendimento da percepção do fenômeno. Vale ressaltar, neste tocante, que

os estudos sobre o tema apresentam pouco volume de conteúdo, ainda em fase de

amadurecimento em busca de evoluções na abordagem tanto para o entendimento de

problemáticas que permeiam as questões de violências inerentes aos relacionamentos, bem

como o aprofundamentos em questões conceituais que possibilitem o desenvolvimento de

novas metodologias analíticas e assim chegar a teorias e conclusões mais assertivas quanto

aos relacionamentos.

Por meio desta ótica, nota-se que há muitas opções de atuação dentro da Psicologia em

função da redução de transtornos causados dentro de relacionamentos abusivos, considerando

que muitas das relações de possíveis causas e efeitos potenciais são vastamente estudados por

esta área do conhecimento. Seja com atuação direta acompanhando o casal no entendimento

da relação em clínicas particulares ou recebendo pessoas que necessitem de ajuda em locais

especializados em apoio à vítima, tal qual em uma Delegacia da Mulher, o auxílio profissional

de um psicólogo prova ser essencial em casos de violência conjugal.


43

Espera-se que este trabalho possa contribuir para o alinhamento entre teoria e prática

durante a busca pela compreensão de comportamentos descritos e suas origens, tornando-se

suporte auxiliar aos profissionais analíticos e/ou pesquisadores focados no tema.


44

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50

ANEXO A

Questionário Demográfico

1. Idade *_____________

2. Sexo *

( ) Feminino

( ) Masculino

3. Orientação Sexual *

( ) Heterossexual

( ) Homossexual

( ) Bissexual

4. Religião *_________________

5. Religião – Freqência que pratica:

( ) Nunca

( ) Raramente

( ) Às Vezes

( ) Frequentemente

( ) Sempre

6. Ocupação *

( ) Desempregado

( ) Estudante

( ) Atividade remunerada mas, depende financeiramente de outra pessoa

( ) Atividade remunerada com independência financeira

( ) Outro:________________________
51

7. Profissão (se estudante, indicar a área): _________________________________

8. Marque a opção que se aplica melhor a sua situação:

( ) Nunca namorei (no caso não precisa responder o questionário)

( ) Saí ou saio com alguém apesar de não existir um compromisso de namoro

( ) Namoro ou já namorei

( ) Estou casado (a)

( ) Sou divorciado (a)

( ) Sou viúva

9. Escolha uma pessoa com quem você tem ou teve um relacionamento. As questões a

seguir são a respeito dessa pessoa. Marque em quem está pensando para responder essa

questão. (É possível que responda o teste novamente pensando em outra pessoa)

( ) Estou pensando na pessoa que estou tendo um relacionamento agora

( ) Estou pensando em um(a) ex-namorado(a) do último ano

( ) Estou pensando em um(a) ex-namorado(a) há mais de um ano

Responda os itens abaixo acerca da pessoa que está pensando

10. Idade da pessoa em quem estou pensando: ______________________________

11. Sexo da pessoa em quem estou pensando

( ) Masculino

( ) Feminino

12. Religião da pessoa em quem estou pensando: ___________________________

13. Religião da pessoa em quem estou pensando – Frequência que pratica

( ) Nunca

( ) Raramente
52

( ) Às Vezes

( ) Frequentemente

( ) Sempre

( ) Não sei

14. Ocupação da pessoa em quem estou pensando

( ) Desempregado

( ) Estudante

( ) Atividade remunerada mas, depende financeiramente de outra pessoa

( ) Atividade remunerada com independência financeira

( ) Outro: _____________________________________________________________
53

ANEXO B

Abuso em Relações Íntimas (ARI)

As perguntas que se seguem são acerca de coisas que poderão ter acontecido contigo e com a
pessoa com quem está pensando. Assinale o que melhor identifica a frequência que os
comportamentos acontecem no relacionamento pensado. Lembre-se que todas as respostas
são confidenciais. Como guia de resposta, utiliza a seguinte escala: Nunca, Raramente, Às
Vezes, Frequentemente e Sempre.
ARI-O

15. A pessoa em quem estou pensando...

Às vezes

Sempre
Poucas

Muitas
Nunca

vezes
Vezes
1 É favorável às coisas que faço
2 Incentiva-me a tentar coisas novas.
3 Gosta de ouvir quando tenho algo em mente.
4 Compreende que eu tenho a minha própria vida também.
5 É indesejado(a) pelos meus amigos.
6 Diz que eu sou muito envolvido(a) em diferentes atividades.
7 Envia-me mensagens e liga o tempo todo.
8 Pensa que eu gasto muito tempo me arrumando.
9 É extremamente ciumento(a) ou possessivo(a)
10 Me acusa de flertar ou traí-lo.
11 Controla o que eu visto ou com o que me pareço.
12 Tenta controlar o que eu faço e quem eu vejo.
13 Tenta me impedir de ver ou falar com a minha família e amigos.
Tem grandes variações de humor se irrita e grita comigo um minuto, mas é doce e
14
apologético em seguida.
15 Rebaixa-me, me xinga ou me critica.
16 Faz-me sentir como se eu não pudesse fazer nada direito ou me culpa por problemas.
17 Faz-me sentir como que ninguém fosse me querer.
18 Ameaça ferir a mim, meus amigos ou familiares.
19 Ameaça a machucar a si próprio(a) por minha causa.
20 Ameaça a destruir minhas coisas.
21 Faz-me sentir nervoso(a) ou como se estivesse "pisando em ovos".
Agarra, empurra, puxa, esgana, dá socos, tapas, prende-me, joga as coisas ou me fere de
22
alguma forma.
23 Quebra coisas ou as lança para me intimidar.
24 Grita ou me humilha na frente de outras pessoas.
25 Pressiona-me ou força-me a ter relações sexuais ou ir mais longe do que eu quero.
54

ANEXO C

ARI-E
16. Acerca desses mesmos comportamentos, EU...

Às vezes

Sempre
Poucas

Muitas
Nunca

Vezes

vezes
1 Sou favorável às coisas ele(a) faz
2 Incentivo a tentar coisas novas.
3 Gosto de ouvir quando ele(a) tem algo em mente.
4 Compreendo que ele(ela) tem a própria vida também.
5 Sou indesejado(a) pelos seus amigos.
6 Digo que ele(ela) é muito envolvidos em diferentes atividades.
7 Envio mensagens e ligo o tempo todo.
8 Penso que ele(ela) gasta muito tempo se arrumando.
9 Sou extremamente ciumento(a) ou
10 Acuso o(a) de flertar ou trair-me.
11 Controlo o que ele(ela) viste ou com o que se parece.
12 Tento controlar o que ele(ela) faz e quem vê.
13 Tento impedi-lo(a) de ver ou falar com a sua família e amigos.
Tenho grandes variações de humor se irrita e grita num minuto,
14
mas é doce e apologético em seguida.
15 Rebaixo, xingo ou critico.
Faço ele(ela) sentir como se não pudesse fazer nada direito ou
16
culpo-o(a) por problemas.
17 Faço ele(ela) se sentir como que ninguém fosse querê-lo(a).
18 Ameaço feri-lo(a), seus amigos ou familiares.
19 Ameaço a machucar-me por causa dele(a)
20 Ameaço a destruir suas coisas.
Faço-o(a) se sentir nervoso ou como se estivesse "pisando em
21
ovos".
Agarro, empurro, puxo, esgano, dou socos, tapas, prendo-o(a), joga
22
as coisas ou o(a) machuco de alguma forma.
23 Quebro coisas ou as lanço para intimidá-lo(a).
24 Grito ou humilho ele(ela) na frente de outras pessoas.
Pressiono ou forço ele(ela) a ter relações sexuais ou ir mais longe
25
do que ele(ela) quer.
55

ANEXO D

ECR Brasil (Reduzida)


As afirmações abaixo dizem respeito a como as pessoas podem se sentir em relacionamentos
românticos. Nós estamos interessados em saber como você geralmente vivência relações.

17. Responda cada afirmação indicando o quanto você concorda ou discorda com ela.
Observe que o ponto 1 significa “Discordo Totalmente” e o ponto 7 significa
“Concordo Totalmente”. OBS.: Para ver todas as alternativas, utilize a barra de
rolagem.

Moderadamente

Moderadamente
Totalmente

Fortemente

Fortemente

Totalmente
Concordo

Concordo

Concordo
Discordo

Discordo

Discordo

Neutro
Ajuda muito poder contar com meu(minha) parceiro(a) em momentos
1
de necessidade.

Eu preciso de muitas garantias de que sou amado por meu(minha)


2
parceiro(a).

Eu recorro ao(à) meu(minha) parceiro(a) para muitas coisas,


3
incluindo para conforto e segurança emocional.

Frequentemente, eu acho que meu(minha) parceiro(a) não quer tanta


4
proximidade afetiva quanto eu gostaria.

Geralmente, tento evitar muita proximidade afetiva com meu(minha)


5
parceiro(a)

Às vezes, meu desejo de ficar muito próximo afetivamente acaba


6
assustando as pessoas.

Eu costumo conversar sobre os meus problemas e preocupações com


7
meu(minha) parceiro(a).

Eu fico frustrado se meu(minha) parceiro(a) não está disponível


8
quando eu preciso dele(a).
Eu fico preocupado quando meu(minha) parceiro(a) fica muito
9
próximo afetivamente de mim.
Preocupa-me que meu(minha) parceiro(a) não se importe comigo
10
tanto quanto eu me importo com ele(a).
56

ANEXO E

Convite

Gostaria de pedir a colaboração de vocês para responder o questionário abaixo. O tempo

estimado é menos de 10 min. Ele faz parte do meu TCC e agradeço imensamente a participação

de quem puder dispor de um tempinho para fazê-lo. E peço a quem quiser e puder, compartilhar

com os colegas/grupos para que consiga um alcance maior.

Desde já muito obrigada! :*

http://goo.gl/X9MldF
57

ANEXO F

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Esta pesquisa tem por objetivo avaliar o abuso em relacionamentos íntimos e o apego em

adultos. Para a sua participação é necessário responder as questões a seguir de acordo com as

instruções. Estima-se que o tempo de participação seja inferior a 10 minutos.

Na sua participação, em nenhum momento você será identificado. Os resultados da pesquisa

serão publicados e ainda assim a sua identidade será preservada. Você não terá nenhum gasto

e ganho financeiro por participar na pesquisa.

Você é livre para deixar de participar da pesquisa a qualquer momento sem nenhum prejuízo

ou coação. Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são Amanda Tosta e Vicente

Cassepp-Borges do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense do Polo

Universitário de Volta Redonda. Caso tenha alguma dúvida pode-se entrar em contato através

dos emails: [email protected] ou [email protected].

18. Ciente do termo acima referido:

( ) Eu concordo em participar do estudo

( ) Eu não quero participar do estudo


58

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Aterrado de Volta Redonda da UFF

T716 Tosta, Amanda de Souza


Entendendo os relacionamentos íntimos com
comportamento abusivo por meio da Teoria do Apego/
Amanda de Souza Tosta. – 2017.
55 f.

Orientador: Vicente Cassepp-Borges


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Psicologia). --
Departamento de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas e
Sociais,
Universidade Federal Fluminense, Volta Redonda, 2017.

1. Violência contra a mulher. 2. Comportamento de


apego. I. Universidade Federal Fluminense. Instituto de
Ciências Humanas e Sociais. II. Cassepp-Borges, Vicente,
orientador. III. Título
CDD 152.41

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