Dossie Dinamicas Migratorias Haitianas N PDF
Dossie Dinamicas Migratorias Haitianas N PDF
Dossie Dinamicas Migratorias Haitianas N PDF
ano 25
2017
temáticas
Dinâmicas migratórias haitianas no Brasil:
desafios e contribuições
Dossiê
DINÂMICAS MIGRATÓRIAS
HAITIANAS NO BRASIL:
DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES
temáticas
revista dos pós-graduandos em ciências sociais
ano 25, nº49/50, 2017 - IFCH/UNICAMP
Dossiê
Dinâmicas migratórias haitianas no Brasil:
desafios e contribuições
SUMÁRIO
1
Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (2010) e mestra em Antropologia
Social pela Universidade Estadual de Campinas (2015). Atualmente é doutoranda no Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas, onde
desenvolve pesquisa com especial interesse nas áreas de Antropologia Médica e da Saúde,
Antropologia do Desenvolvimento e da Ajuda Humanitária, com ênfase em contextos de crise
e pós-desastre. E-mail: [email protected]
2
Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ (2015), com doutorado
Sanduíche pela École Normale Supérieure (ENS) e pela École des Hautes Études en Sciences
Sociales (EHESS) em Paris. Atualmente é Professor do Programa de Pós-Graduação em
Estudos de Fronteira (PPGEF) da Universidade Federal do Amapá e do Programa de Pós-
Graduação em Antropologia pela Université d`État d`Haïti, atuando principalmente nos
seguintes temas: Diáspora; Mobilidade; Migrações transfronteiriças; Relações Étnicorraciais;
Religiões afro-brasileiras e caribenhas; Pós-colonialismo. E-mail: [email protected]
3
Estima-se que 20 mil haitianos estejam residindo atualmente no Equador (Dirección Nacional
de Migración), 10 mil no Peru (Superintendencia Nacional de Migraciones), 50 mil no Chile
10 Ana Elisa Bersani e Handerson Joseph
ESTRUTURA DO DOSSIÊ
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERSANI, Ana Elisa. “Chache lavi Deyò: uma reflexão sobre a categoria
refúgio a partir da diaspora haitiana no Brasil”. Cadernos de Campo,
São Paulo, 25, 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/
cadernosdecampo/article/download/129282/134127
JOSEPH, Handerson. Diaspora. As dinâmicas da mobilidade haitiana no Brasil,
no Suriname e na Guiana Francesa. Tese de (Doutorado em Antropologia
Social) – PPGAS, Museu Nacional/Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015a. Disponível em: https://
www.academia.edu/15267521/Tese_de_doutorado_Diaspora._
As_din%C3%A2micas_da_mobilidade_haitiana_no_Brasil_no_
Suriname_e_na_Guiana_Francesa_?auto=download
Kassoum Dieme 2
institutional (humanitarian) reception which ran from January 2012 to October 2017. In
this regard, this article reflects on Resolutions No. 97/12 and No. 08/06, mobilized for
humanitarian reasons, raising questions about the conditions of existence and permanence
of Haitians in Brazil over the last eight years.
KEYWORDS: Haitian migrations; Brazil and the Haitians; Conditions of existence ;
permanence.
INTRODUÇÃO
IMIGRAÇÃO NO HAITI?
A EMIGRAÇÃO HAITIANA
4
No caso dos libaneses ver : L’implantation de la communauté arabe en Haïti vue par Jean-
Henri Céant. Publicado em: 04/02/2014. Disponível em: <http://mediamosaique.com/
General/2014-02-04-21-19-34.html> Acesso em: 17/12/2015, e Les Arabes Haïtiens. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=Vm8M8_o9NJ0>. Acesso em: 08/10/2015.
A busca por trabalho num país cuja moeda garante maior poder
de compra e que apresenta maiores possibilidades de emprego e renda é
um dos fatores de atração que os Estados Unidos têm sobre cidadãos de
diversas partes do mundo, particularmente sobre aquelas fronteiriças e
economicamente menos desenvolvidas. Entre estes podemos citar como
exemplos os mexicanos, os brasileiros e os haitianos, com pelo menos um
milhão de seus respectivos cidadãos naquele país. Contudo, ainda que os
Estados Unidos sejam o destino privilegiado pelos migrantes haitianos, o
processo não ocorre de forma pacífica. Em seu estudo, Scaramal (2006)
Temáticas, Campinas, 25, (49/50): 17-48, fev./dez. 2017
24 Kassoum Dieme
9
Ver: Ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide está em prisão domiciliar. Disponível em:
< http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em 30 de agosto de 2017.
10
HAITI-REFERENCE. Liste des Chefs d’État Haitiens. Disponível em: <http://haiti-reference.
com/pages/plan/histoire-et-societe/notables/chefs-detat/>. Acesso em 30 de agosto de
2017.
17
Este Programa “é coordenado pela Capes, em conjunto com a Secretaria de Educação
Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC) e o Ministério das Relações Exteriores
(MRE), e foi criado para auxiliar na reconstrução do Haiti, atuando no fortalecimento e na
recomposição do Sistema de Educação Superior do país. O programa baseia-se na concessão
de bolsas de estudos a estudantes das instituições de ensino superior de Porto Príncipe em
instituições de ensino superior brasileiras (IES)”. Ver: CAPES, Resultado do Programa
Emergencial Pró-Haiti. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/cooperacao-internacional/
haiti/pro-haiti>. Acesso em: 31/08/2017.
18
Trata-se de Padre Molinari, em Manaus em 2014; do sociólogo Pereira, em Campinas em
2014; e do Padre Paolo Parise, em São Paulo em 2015.
19
Lembrando que Cogo e Badet (2013) o citam entre as justificativas do aumento de imigrantes
no Brasil nos últimos anos.
20
Foram países onde o Visto Humanitário podia ser emitido: a República Dominicana, Peru,
Equador e Panamá (CONECTAS DIREITOS HUMANOS). Disponível em: <www.conectas.
org>. Acesso em: 06/02/2015. O objetivo principal do Visto Humanitário, que é pôr fim à
CONSIDERAÇÕES FINAIS
como marco divisório, caberia dizer que dessa data aos dias de hoje o
Haiti passou a ser mais um país de emigração do que de imigração, sendo
o inverso no período em que era colônia. Se os haitianos emigraram
para diversos destinos antes e durante o século XVIII e desde então,
Cotinguiba (2014, p.83) sublinhou, contudo, que “a emigração só se torna
um fenômeno social no país a partir do século XX e isso se justifica, em
parte, por questões econômicas e políticas consideradas desastrosas para
o país”. Os motivos na base das emigrações de haitianos variam de um
fluxo para outro e também dentro de cada um dos quatro grandes fluxos,
cujos destinos foram a República Dominicana e Cuba, os Estados Unidos
e o Canadá e Brasil. Podem ser tanto endógenos quanto exógenos, ou
mesmo uma combinação de ambos. A colonização, a influência cultural, a
proximidade geográfica, a economia, a política de acolhimento institucional
a imigrantes ou solicitantes de refúgio, a situação ambiental, a instabilidade
política são alguns deles.
No que tange à vinda de haitianos para o Brasil a partir de 2010,
último grande fluxo e objeto de análise mais detida neste artigo, a
dimensão ambiental é destacada, mas sabe-se que a economia e a política
são centrais neste processo. Embora tenham sido acolhidos no Brasil por
razões humanitárias, boa parte dos haitianos depende da condição laboral,
da capacidade comprovada de contribuir para o desenvolvimento do
Brasil para aqui permanecer regularmente, e está, em conjunto com outros
migrantes, em postos de trabalho pouco almejados por trabalhadores
nacionais, além de receberem remuneração modesta. Neste sentido, a
contribuição destes migrantes ao desenvolvimento poderia ser maior se a
eles se abrissem mais oportunidades que considerassem suas competências.
No primeiro semestre de 2016, o desemprego, que já os vinha
afetando, ultrapassou as admissões no mercado de trabalho brasileiro. Em
termos de rendas baixas, o caso das haitianas é ainda mais emblemático.
Foi possível observar em estudo anterior que, no geral, seus empregadores
colocam os imigrantes negros em posições socialmente reservadas aos
negros brasileiros, o que faz com que, muitas vezes, as competências
destes trabalhadores migrantes não cheguem a ser sequer avaliadas, pois
os trabalhos a que são direcionados não exigem muitas habilidades,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Stéphane Granger1
migrations arrived in Suriname, the gateway of the Caribbean migrations due to their
interface between the Amazonian and Caribbean worlds, they now also transit through
Brazil, a country that has recently become a new destination for Haitian emigration. The
new Haitian migrants are now, in addition to this new path, trying to find a new way of
staying in French-Guyanese territory, for the application for political asylum. The aim of
this article is to analyze, on the basis of statistical data sources, recent research, leading
articles and field studies, these new dynamics of Haitian migrations in French Guiana.
Within a context of changing traditional migration flows, we will try to explain the new
strategies of the Haitian migrants for arriving and staying in French Guiana, using both
the new interface made up of Brazil and the flaws of the French legislation regarding the
migratory statutes.
KEYWORDS: Migrations; Borders; French Guiana; Haiti; Brazil; Suriname.
INTRODUÇÃO
Brasileiros
1.559 3.123 5.962 7.171 17.990
(33,16%) (18,51%) (15,99%) (15,40%) (23,15%)
por motivos diplomáticos, o país não podia ao mesmo tempo assumir uma
missão militar no Haiti e impedir a entrada de haitianos em seu próprio
território, tendo por isso lhes concedido “vistos humanitários” (SANTOS;
BURGEILE, 2017).
A forte demanda de mão de obra no Brasil permitiu o emprego
de milhares de haitianos, regularizados ou não, na construção civil
(equipamentos para a Copa do mundo de futebol de 2014, ou as Olimpíadas
de 2016), ou nas fazendas do Goiás ou do Mato Grosso do Sul. Por isso,
a porta de entrada dessas migrações, que antigamente passavam por
Tabatinga (AM) vindas da Colômbia ou do Equador, foi substituída por
Brasileia (AC), passando pelo Peru, com a cidade de São Paulo sendo um
dos grandes destinos dessa nova migração (GRANGER, 2014; SANTOS;
BURGEILE, 2017). Aliás, até se criou na metrópole paulista um novo
bairro “haitiano”, com igrejas onde se reza em crioulo e francês.
Mas a tolerância das autoridades francesas, que provisoriamente
concederam com maior facilidade autorizações de permanência na
Guiana Francesa após o terrível terremoto de 2010 no Haiti, ofereceu
também outras oportunidades para esses haitianos chegados em território
brasileiro. Segundo testemunhas recolhidas em Brasileia, alguns haitianos,
principalmente aqueles com família já estabelecida na Guiana Francesa,
viajaram até Manaus para pegar um navio trazendo-os até Macapá, e
entraram na Guiana Francesa pela fronteira do Oiapoque (GRANGER,
2014). Depois, pode-se supor que se hospedaram em bairros mais ou
menos informais de Caiena e sua periferia, acolhidos por familiares.
Essa tolerância das autoridades francesas foi de pouca duração. Mas
hoje, dois fatos estão reforçando as migrações de haitianos até a Guiana
Francesa: o furacão Mathew em 2016, que provocou a fuga de centenas
de haitianos do sul do país, e a crise econômica assolando o Brasil, que
faz muitos migrantes deixarem o país para tentar a sorte nos EUA,
mas também na Guiana Francesa. As autoridades da Polícia federal do
Oiapoque, bem como o Centro de cooperação policial de Saint-Georges,
cidade franco-guianense fronteiriça com o Brasil, registraram um aumento
recente dos fluxos de haitianos para a Guiana Francesa.
Mapa 1. Os caminhos das migrações haitianas para o Brasil e a Guiana Francesa. Fonte:
Stéphane Granger (2014).
ESTRATÉGIAS NOVAS
3
Centres de Formation et d’Information pour la Scolarisation des Enfants de Migrants, organismo nacional
encarregado de testar o nível de língua e alfabetização de menores estrangeiros recem chegados
no território francês. Pois o Estado francês tem a obrigação de escolarizar qualquer jovem até
os 16 anos, seja ele regularizado ou não.
4
Fonte: CEFISEM de Caiena (outubro de 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Discurso em Caiena, 27/10/2017. Disponível em: <http://la1ere.francetvinfo.fr/guyane/
emissions/guyane-soir>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO: O presente artigo visa refletir sobre o recente fluxo de haitianos no Brasil
e suas implicações práticas, considerando aspectos sociais e políticos imbricados no
espaço e no tempo da permanência de haitianos no país. Busca-se, também, perceber
as implicações de ordem conceitual, sobretudo à luz de conceitos contemporâneos da
geografia que promovem a ideia de movimento e mobilidade. Entendendo a singularidade
da imigração haitiana ao Brasil e seus reflexos, dentre eles o poder de capilaridade
expressivo dos haitianos no território brasileiro, a proposta é analisar a ideia de território-
rede, caracterizada pela promoção de diversas relações de poder no espaço, atraída por
diversos agentes, no qual a capilaridade aponta certamente a importância das redes
múltiplas que grupos haitianos apostam em suas estratégias de permanência.
PALAVRAS-CHAVE: Imigrantes Haitianos; Capilaridade; Território-Rede; Agentes
Espaciais.
1
Doutora pelo Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Bolsista CNPq. Pesquisadora vinculada ao Núcleo Interdisciplinar
de Estudos Migratórios. E-mail: [email protected].
64 Isis do Mar Marques Martins
ABSTRACT: The work sees to reflect about the mobility actually of Haitians in Brazil
and your practices implication, or your social and polices way in the space and time of
Haitians here. Also, your implications in conceptual order, especially from the point of
view of Geographic’s recent concepts what movement and mobility idea are promoters.
Understanding the Haitian’s immigration in Brazil singularities and your reflects, mainly
the power of Haitian’s capillarity in the Brazil, the proposer is to analyses the territory-
network, what is the promotion of powerships in the space, agencies multiply attract, what
this capillarity this is a target the understand the multiply networks to Haitians groups.
KEYWORDS: Haitians Immigrants; Capillarity; Territory-Network; Spacial Agents.
INTRODUÇÃO
“Cada pessoa vai viajar, vai no outro país, vai buscar a vida
melhor...”. A frase, de um haitiano em Caxias do Sul, talvez seja uma
das mais mencionadas por migrantes no mundo. Em muitos casos, o
migrante é visto sem cidadania na execução de políticas públicas, por
ser considerado efêmero. Para parte da intelectualidade, por exemplo, o
migrante é desprovido de cidadania por sua superficial apropriação de
bens e serviços que acarretem diretamente uma mudança mais complexa
de sua realidade. Ora, nos interessa saber se realmente é isso que ocorre.
É certo que muitos discursos legitimam para a sociedade um sentido
de barganha em relação ao termo cidadania. Nesse sentido, é salutar o
entendimento do papel do migrante no lugar de chegada, considerando
suas transformações e compreendendo as dinâmicas de espacialidades
que envolvem o migrante. Torna-se também iminente a construção de
políticas públicas concernentes às escolhas desses migrantes, ainda que
essas escolhas partam de um alheamento, ou de fatores que subordinam
ainda mais sua condição. A reflexão geográfica, por meio de categorias
como espaço e território, são fundamentais para constituir uma análise
conjunta das espacialidades de imigrantes e de políticas públicas que
garantam a cidadania.
Destarte, o presente artigo propõe compreender esse processo de
mobilidade haitiana no Brasil, sobretudo àquela iniciada após o terremoto
de 12 de janeiro de 2010 no Haiti. Tal mobilidade foi impulsionada por
grupos migrantes, mas sobretudo dos agentes pelos quais esses migrantes
passam. O primeiro elemento se refere ao que denominou essa política do
medo. Tal política tem pelo menos duas escalas importantes: a primeira,
a escala do migrante haitiano e o medo do fracasso no trânsito ao lugar
chegado, que se reflete na multiplicação das trajetórias e das possibilidades
de fluxos entre Américas; e, a segunda, a escala dos países cuja importância
política é intrínseca à migração, como no caso dos Estados Unidos e
da França (no sentido da primazia política e econômica para o Haiti),
e da República Dominicana (no sentido da articulação política, social
e geográfica como país vizinho). Tanto os Estados Unidos e a França
quanto a República Dominicana arrefecem em meados da década de
2010 – e no transcurso da década, como em 2017/2018 – a entrada de
haitianos em seus territórios. Isso fica claro no relato de Handerson (2015),
acompanhando o trajeto de um de seus entrevistados haitianos:
“A gente traz sonhos, traz metas. Traz as malas nas costas querendo
vencer na vida. As pessoas acabam se aproveitando, nos fazendo passar
fome, sono.. Os meus sonhos são muito altos...”. O relato é de Abel
Marti, imigrante haitiana no Brasil desde 2011.3 Ela chegou a São Paulo,
ficou primeiro em hotéis, e a partir de um grupo de haitianos conheceu
a Casa do Migrante, onde permaneceu 22 dias instalada, recorrendo às
orientações disponíveis (documentação, busca por emprego, as palestras e
a própria estadia). Conseguiu um emprego pela mediação do eixo trabalho
em uma empresa paranaense, onde ficou por um mês. Mas, segundo ela,
“lá brasileiro fica em um lugar diferente dos haitianos. Trabalho muito
difícil, então voltei pra São Paulo...”. Abel retornou cerca de quatro vezes
na Missão Paz até se fixar no trabalho presente em 2014: “trabalhei
em restaurante, ganhando quinhentos reais pagando quatrocentos de
aluguel... Conseguiram trabalho que seria de babá, mas cheguei lá, era
como doméstica. Agora estou há um ano e nove meses como babá de
uma procuradora”.
O vaivém de Abel não é uma exceção entre imigrantes nos
recentes fluxos. Na tentativa de estabelecer não somente um local, mas
principalmente uma atividade que gere um retorno para viver e enviar
recursos ao seu grupo, a surpresa de encontrar um país cujas desigualdades
3
Em novembro de 2014 ocorreu a terceira edição do Seminário Vozes e Olhares Cruzados,
que ocorre anualmente na Missão Paz, com vistas a trocar experiências entre imigrantes e a
própria entidade. O público é composto por pesquisadores na área, outras entidades, bem
como representantes cuja temática abordada é migração e migrantes. É neste evento que
ocorreu a fala de Abel.
marcado pela capilaridade desde o início, até que ponto eles contemplam
sua espacialização de maneira subordinada ou até que ponto a capilaridade
deixa de potencializar politicamente o papel de suas escolhas em sair do
Haiti.
A reflexão das relações de poder imbricadas nos espaços formando
novos territórios possui também o caráter dinamizador de novas
territorialidades construídas nestes, que muitas vezes divergem dessas
relações de poder. Parece, portanto, que a mobilidade haitiana no Brasil
anunciou uma série de transformações na política brasileira, tirou da zona
de conforto uma série de debates e perspectivas no qual o instituído era o
resoluto, e propiciou novas fontes de relação entre imigrantes, em várias
escalas.
Contudo, os imigrantes haitianos continuam vítimas de uma série
de ações, sejam discursos racistas, ou superexploração escusa – muitos
alegam que visivelmente trabalham mais que funcionários locais em
fábricas ou empresas no qual empregam imigrantes, ainda que com os
mesmos direitos e ganhando o mesmo salário – ou movimentam um
mercado imobiliário alternativo das periferias pela falta de documentos
exigidos em um aluguel regularizado (como é o caso de boa parte dos
haitianos que vivem na serra sul-rio-grandense).
Entende-se que essa apreensão da constituição de territórios-rede
por haitianos no Brasil não é e nem deve ser maniqueísta, e talvez esse
seja o caráter nebuloso da ideia de aglomerados de exclusão. É do próprio
vaivém característico do migrante, inclusive na forma de compreender e
agir no espaço. Da maneira em que é subordinado a determinadas decisões,
as atitudes e os conflitos são postos e são cotidianamente convertidos em
luta sócio-espacial.
A corrupção, a violência e a dependência são as três marcas
profundas no Haiti, e são as marcas que romperam outras fissuras com
o agravamento de caráter geomorfológico – o terremoto é uma ponte
para tal – donde qualquer problema de ordem ambiental se torna mais
grave se unido a problemas muito mais abrangentes de natureza política
e socioeconômica. Por isso, além de ressaltar o terremoto como um dos
motivos para a intensificação da saída de haitianos, também é preciso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BROWN, Wendy. Walled states, waning sovereignty. Nova York: Zone Books,
2011.
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios”
à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
HANDERSON, Joseph. Diáspora: As dinâmicas da mobilidade haitiana
no Brasil, no Suriname e na Guiana Francesa. Rio de Janeiro, Tese de
doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional,
2015.
HARVEY, David. O novo imperialismo. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
MAGALHÃES, Luís Felipe Aires; BAENINGER, Rosana. Trabalhadores
Imigrantes: haitianos e haitianas em Santa Catarina – SC. In.:
VIICongreso de la Asociación Latino-Americana de Población e XX Encontro
Nacional de Estudos Populaiconais, 2016.
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir princípios e ideias
norteadoras de uma pesquisa em andamento sobre os significados atribuídos à presença
haitiana no oeste catarinense cuja constituição local está fortemente associada à identidade
branca, marcadamente italiana e alemã, em prejuízo de outras identidades: caboclos e
povos indígenas. O objetivo é evidenciar como essa branquitude hegemônica tem sido
acionada nas relações entre moradores locais e imigrantes haitianos. Como forma de
organizar os caminhos da pesquisa, revisitamos as categorias “preconceito de marca”
e “preconceito de origem” cunhadas por Oracy Nogueira e acionamos as categorias de
“estabelecidos” e “outsiders” de Elias e Scotson (2000). O trabalho de campo tem mostrado
um processo de estereotipagem racial (STUART HALL, 2016) dos imigrantes haitianos
pelos moradores brasileiros, fundamentado na suposta superioridade da origem europeia.
PALAVRAS-CHAVE: Relações Raciais; Imigração; Haiti; Santa Catarina.
ABSTRACT: This paper aims at presenting and discussing guiding principles and ideas
of an ongoing research regarding the meanings assigned to Haitian presence in the west
area of Santa Catarina, which local constitution is strongly associated to Caucasian identity,
specially Italian and German over other identities: “caboclos” and indigenous groups.
The goal is to make evident how this hegemonic whiteness have been trigged in the
social relations between local habitants and Haitian immigrants. As a mean for organizing
the research path, we have revisited “mark prejudice” and “origin prejudice” categories,
named by Oracy Nogueira, and we have used Elias e Scotson (2000) “established” and
“outsiders” categories. The fieldwork has been showing a process of racial stereotyping
(STUART HALL, 2016) of Haitian immigrants by Brazilian residents, built on the
supposed superiority of the European origin.
KEYWORDS: Racial Relations; Immigration; Haiti; Santa Catarina.
INTRODUÇÃO
5
Ver comentários em NEABI-UFFS-CH. Vídeo Ser imigrante e negra no Sul do Brasil.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3bDrSEZgtvw&t=14s Acesso em:
1/02/2018.
tem pessoas ruins que ficam dizendo coisa para a gente que é de fora”
(Entrevistado Pablo).
Como o país do racismo cordial pode ser experimentando como
um lugar de racismo intenso? O racismo intenso experimentado pelos
haitianos na região oeste se revela na aversão ao contato com os novos
imigrantes, uma das características da exclusão imposta aos outsiders pelo
grupo estabelecido e nos discursos de desprezo. Nas representações da
população, os haitianos não são limpos, são portadores de doença, são
mortos de fome, preguiçosos, perdulários, e os homens são vistos como
uma ameaça às mulheres.
Nas relações de sociabilidade cotidiana os moradores locais evitam
sentar ao lado de pessoas haitianas (por exemplo no transporte público) ou
evitam frequentar os mesmos espaços públicos. Outro aspecto observado
pelo trabalho de campo é a ausência de interação entre os dois grupos
fora de espaços onde ela ocorre de forma obrigatória: escolas e locais de
trabalho. “o povo [do bairro] gosta de olhar, há quem diga, eles [haitianos]
vão trazer doenças, mas acho que é só um pouco de disfarce para não
se misturarem” (Entrevistada Maria). Uma outra entrevistada revela
mecanismos para evitar o contato: “No bairro, eles ficam com o celular na
rua, vivem na esquina, ali tem o ginásio e a academia, minhas meninas iam
lá e das vizinhas fazer academia, não dá para deixar, eles ficam lá, acho que
eles não são acostumados a ficar dentro de casa, parece”. (Entrevistada
Chica).
A cidade, bem como o bairro, tem uma população que se
autodenomina “desbravadora e trabalhadora” e que compreende a cidade
como um lugar de trabalho e privilégio, associada às virtudes da presença
europeia. Em contraposição à imagem positiva que essa população produz
de si, a cor dos trabalhadores haitianos é utilizada como um mecanismo
de rebaixamento social, assim como o suposto vínculo à pobreza. Um
senhor do grupo estabelecido, faz referência explicita a cor: “a diferença
entre brasileiro e estrangeiro, no começo deu um baque [impacto,
estranhamento] aquele negócio da cor deles, os brasileiros não aceitam
bem, é estranho”. Segundo os relatos, é comum os vizinhos brasileiros se
referirem aos vizinhos haitianos como “essa pretaiada”.
Temáticas, Campinas, 25, (49/50): 85-114, fev/dez. 2017
106 Claudete Gomes Soares e Neuri José Andreola
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Daniel Granada2
Priscila Pavan Detoni3
RESUMO: A mobilidade humana é um fenômeno que cada vez mais tem sido notado em
função das consequências para a saúde, tanto das populações locais quanto das migrantes
em ambos os polos do circuito. Partindo de uma revisão de alguns autores que abordam
as patologias associadas aos corpos dos imigrantes, o artigo problematiza as questões
relacionadas com as representações sociais das agentes comunitárias de saúde sobre os
novos imigrantes haitianos em uma cidade de médio porte no Sul do Brasil. A pesquisa foi
realizada etnograficamente, por meio de observações participantes, entrevistas, conversas
formais e informais com imigrantes, gestores do sistema de saúde e agentes comunitárias
de saúde entre 2014 e 2016. Os resultados apontam para a necessidade de se qualificar
o acolhimento aos imigrantes junto aos serviços de saúde com o objetivo de prevenir
possíveis situações de sofrimento e dificuldade de acesso aos serviços de saúde por parte
desta população vulnerável.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo; Saúde e doença; Migração haitiana; Saúde e migrações.
1
Agradecemos os comentários e contribuições dos pareceristas anônimos da revista Temáticas
que auxiliaram na elaboração desta versão final.
2
É cientista social, Mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Doutor em Etnologia e História pela Université de Paris Ouest Nanterre la Défense e University of
Essex. Professor adjunto na Universidade Federal de Santa Catarina, no Departamento de Ciências
Naturais do Centro de Ciências Rurais de Curitibanos. Membro colaborador do Centro de Estudos
das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade Aberta de Lisboa no projeto
de pesquisa Saúde, Cultura e Desenvolvimento. E-mail: [email protected].
3
É Psicóloga, Mestra e Doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul; Membro do Núcleo de Pesquisa em Relações de Gênero e Sexualidade
(Nupsex/UFRGS) e do Centro de Referência em Direitos Humanos: Relações de Gênero,
Diversidade Sexual e de Raça (CRDH/UFRGS); Docente na Universidade do Vale do Taquari -
Univates, junto ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. E-mail: [email protected].
116 Daniel Granada e Priscila Pavan Detoni
INTRODUÇÃO
5
A biopolítica pode ser entendida como a forma de governo que se dá por meio da constituição
de políticas direcionadas à vida. Ao pensarmos sobre as políticas públicas podemos destacá-las
como estratégias de condução da conduta, nas quais os sujeitos se constituem pelas relações
de poder. Contudo, o poder não é exercido somente pelos chamados poderes de Estado,
sob a forma jurídica, legislativa e administrativa, mas também nas práticas disciplinares das
diferentes instituições que produzem sujeitos, como as escolas, as famílias e as instituições de
saúde. O termo biopolítica surge pela primeira vez na conferência “O Nascimento da Medicina
Social”, proferida por Michel Foucault (2007), na qual ele traz a ideia de que o poder passa
a se concentrar no corpo dos indivíduos, ou seja, o corpo seria uma realidade biopolítica. A
análise foucaultina afirma que vários saberes e estratégias compõem o governo da população
conforme as contingências de cada época (FOUCAULT, 2008). Como assinala Fassin (2001),
Foucault (2002) não estendeu sua análise para as migrações, mas contribuiu muito para pensar
o racismo de Estado, nas formas de deixar viver e deixar morrer.
6
Moradias com aluguel moderado na França são prédios em que os apartamentos são
destinados a famílias com rendimentos modestos (BRUN et al., 2003, p.211).
7
Ver Silva (2012), Cavalcanti et al. (2015), Ferreira et al. (2010), Zanini et al. (2013), Gediel &
Godoy (2016) e Baeninger et al. (2017).
8
É preciso notar que o Haiti é um país caracterizado pela emigração de sua população. O
fenômeno é notável mesmo nas primeiras três décadas do século XX (PERUSEK, 1984),
entretanto, ganha amplitude considerável a partir dos anos 60 do século XX.
9
A população haitiana residente no país em 2014 é estimada em 9.996.731 habitantes.
Disponível em: <http://www.statistiques-mondiales.com/haiti.htm>. Acesso em: 11 nov.
2014.
10
Handerson (2015a, 2015b) faz importante contribuição sobre os usos do termo diáspora
como categoria nativa (emic) e seus diversos usos e significados empregados pelos haitianos.
Assinala o autor que diáspora é uma categoria organizadora do mundo, pois designa pessoas,
objetos, qualificando dinheiro, bens e ações. Explica ainda que o termo está relacionado com
residir no exterior, mas manter vínculos com o país, retornando a ele periodicamente, ou
através do envio de recursos financeiros e bens (HANDERSON, 2015b, p.52-54).
12
Depoimento recolhido durante reunião ocorrida em maio de 2014 no CRAS do município
de Lajeado.
pela impossibilidade de enviar recursos aos que lá ficaram, visto que suas
imigrações não são projetos individuais, mas investimentos familiares.
Muitos deixam seus familiares próximos, inclusive esposas, maridos e
filhos na busca de uma melhor condição de vida.
No caso dos haitianos e das haitianas, as observações de Massey
(2013) possuem grande pertinência, pois afirma que a imigração é um
projeto da família ou do casal. Frequentemente, a inserção de um membro
da família no circuito migratório é fruto de um esforço coletivo em que
diversos familiares colaboram financeiramente para a sua realização, na
expectativa de retribuição uma vez o emigrante instalado em seu novo
país. Ocorre que no Brasil, em função dos baixos salários, do custo de vida
e das variações cambiais frequentes, o envio de recursos para os familiares
que ficaram no país de origem se torna difícil, senão impossível. Esse fator
gera estresse e sofrimento no migrante em função da impossibilidade de
auxiliar suas famílias de maneira satisfatória.
Os haitianos da região podem ser classificados como
“transmigrantes”, pessoas que reconfiguram suas identidades em função de
mais de um pertencimento nacional (BASCH et al., 1993). Recentemente,
tem ocorrido na região um fenômeno de repetição da migração ou
“remigração”, que “pode ser definido como o movimento de pessoas que
fizeram um primeiro deslocamento inter-regional e realizam outro um ou
dois anos depois, alguns voltando para seus países de origem enquanto
outros mudam para outras regiões” (GRANT & VANDERKAMP, 1986,
p.299).
Em função da crise que se instalou no país, depois de 2015 muitos
haitianos estão estabelecendo novas rotas migratórias. Nesta região
temos identificado o surgimento de rotas para o Chile e Guiana Francesa,
enquanto outros partem em uma longa e perigosa migração para a
fronteira entre México e Estados Unidos, rota que estava sendo bastante
utilizada durante o ano de 2016. Contudo, é provável que com a ascensão
do presidente Donald Trump ao poder nos Estados Unidos e com as
políticas de imigração cada vez mais restritivas, novas rotas se estabeleçam
e que novos países passem a fazer parte do circuito, fazendo com que os
imigrantes sejam vistos como corpos “indesejados”, ou seja, fora do lugar,
bem como seus modos de vida, como analisa Fassin (2004), através da
biopolítica que opera em cada local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO: O artigo objetiva discutir a recente imigração haitiana para o Brasil a partir
da experiência feminina, visando à construção de uma análise centrada em agentes
frequentemente silenciados e invisibilizados, para quem o significado do projeto migratório
reforça uma perspectiva laboral e familiar, englobando tanto os membros que permanecem
na terra natal quanto os que partem em busca de alternativas. Acompanhando seus pais
ou companheiros, mas também de maneira independente ou como chefes de família,
manifestam aspirações básicas de trabalhar, obter renda suficiente para sua manutenção
no Brasil e da família no Haiti. A abordagem do percurso feminino nesse processo, sob a
perspectiva crítica da Sociologia do Trabalho, é construída em diálogo com a etnografia
multisituada de itinerários de haitianos que residem e trabalham na região Sul do Brasil,
conectados à cadeia agroindustrial da carne. Em vista da modernização dependente do
capitalismo em uma sociedade de base escravista, a haitiana, como imigrante, mulher e
negra, socialmente vulnerável, enfrenta um mercado de trabalho desigual e segregado, em
termos ocupacionais e salariais, segundo o gênero, a raça e a origem, que a direciona ao
polo dos trabalhos mais precários e explorados.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho; Migração; Gênero; Mulher Haitiana; Agroindústria;
Brasil.
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de
Campinas, com bolsa do Programa de Formação Doutoral Docente (Prodoutoral/UFAC/
CAPES). É professora de Teoria Social/Sociologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Federal do Acre, e membro dos grupos de pesquisa Mundos do Trabalho na
Amazônia (UFAC-CNPq) e Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses (CNPq/UNICAMP).
Contato: [email protected]
ABSTRACT: This article aims to discuss the recent Haitian immigration to Brazil from
the female experience; it aims to construct an analysis centered on agents that are often
silenced and invisible, for whom the meaning of the migration project reinforces a work
and family perspective, including both members who remain in the homeland and those
who leave in search of alternatives. They accompany their parents or partners, but,
whether independently or as heads of families, they manifest basic aspirations to work, to
obtain sufficient income for their maintenance in Brazil and their families in Haiti. From
the critical perspective of Sociology of Work, the approach of women in this process
is constructed in dialogue with the multi located ethnography of itineraries of Haitians
residing and working in the South region of Brazil, connected to the agribusiness meat
network. In view of the modernization dependent on capitalism in a slave-based society,
Haitian women - being an immigrant, a black and a socially vulnerable woman - faces an
unequal and segregated labor market, in terms of employment and wages, according to
nationality, race and the genre, which leads to more precarious and exploited jobs.
KEYWORDS: Job; Migration; Genre; Haitian Women; Agroindustry; Brazil.
INTRODUÇÃO
3
Durante as atividades de campo da pesquisa no Haiti, entre março e abril de 2017, com vivência
e entrevistas no âmbito do Batalhão brasileiro, registrou-se parte do processo de encerramento
da Minustah. Posteriormente, em 31 de agosto, foi oficialmente declarado o seu término, com
retirada das tropas do país entre outubro e novembro daquele ano. Desde então teve início
uma nova operação da ONU, chamada Missão das Nações Unidas para o Apoio à Justiça no
Haiti - Minujusth, uma espécie de programa para fortalecimento das instituições haitianas.
Em uma atuação marcada por críticas e controvérsias, que englobam desde a disseminação
de epidemias (FOLHA, 2016) a denúncias de abuso e exploração sexual cometidos por seus
militares (BRASIL, 2017), a Minustah apresentou gastos anuais da ordem de U$ 400 milhões e
envolveu 37,5 mil militares brasileiros no país (FÉLIX, 2017).
4
Nome fictício adotado para garantir o sigilo da identidade, proteção da privacidade e
individualidade da imigrante, conforme o protocolo de ética adotado pela pesquisa.
6
Fundada em 1970, por um grupo de 45 agricultores, a cooperativa visava concentrar a produção
de grãos da região de Cascavel. Hoje é uma das 20 maiores empresas do agronegócio brasileiro,
contando com 26 filiais instaladas em 17 municípios do Oeste e Sudoeste paranaenses. Possui
4.398 associados e 5.169 empregados diretos, com faturamento de mais de R$ 1,6 bi em 2014.
Conta com unidades de pesquisa, ensino, laboratórios e incubadoras, além de um parque de
produção composto por 11 indústrias, que recebem os produtos in natura e os processam.
Essas indústrias, que vão da soja à carne (aves, suínos e bovinos), contribuem para 75% do seu
faturamento, com produtos comercializados em todo o país e no exterior. Essas informações
estão indicadas no perfil da empresa, em sua página oficial na internet. Disponível em: <http://
www.coopavel.com.br>.
A estratégia de Delfort foi convocar para o Brasil dois dos seus cinco
filhos mais velhos, para que pudessem trabalhar e seguir o projeto. Para
tanto, novamente a família levantou os recursos suficientes para a viagem
dos jovens. Posteriormente, a própria mãe de Delfort chegou para ajudá-la
nas atividades domésticas e buscar trabalho na região. Reunidos no Brasil,
ela decidiu mudar-se para Toledo, cidade vizinha a Cascavel, onde o custo
de vida é menor e, conforme as redes, os frigoríficos ofereciam mais vagas
de trabalho naquele momento.
Conforme assinalado, Delfort cumpria jornada diária de 10 a
13 horas, trabalhando de segunda a sábado. No seu turno, o da noite,
a proporção era de mais haitianos que brasileiros, e no seu setor, mais
mulheres que homens. Diariamente, todos procuravam fazer hora extra,
inclusive aos sábados, pois isso ajudava no salário. Para se deslocar até
o trabalho, ela utilizava o transporte assegurado pela empresa e também
fazia uma refeição no próprio frigorífico. Do salário previsto para os que
estavam começando, eram realizados os descontos regulares como INSS,
seguro de vida obrigatório e contribuição sindical, razão pela qual todos
buscavam, na hora extra e nas pequenas economias diárias, formas de
compensação dessas subtrações.
O diálogo da pesquisa com Delfort suscitou muitos questionamentos
sobre o processo de orientação e treinamento oferecido pela empresa aos
operários recém-contratados, especialmente aos de origem estrangeira,
que desconhecem o idioma nacional e sequer compreendem os contratos
de trabalho que assinam:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO: Procuro discutir neste artigo alguns acontecimentos que marcaram as vidas
e os corpos das haitianas Marli e Rose e, a partir de suas narrativas e das nossas vivências
cotidianas, apresento algumas reflexões sobre “ser mãe” entre essas haitianas que se
estabeleceram em Santa Bárbara d’Oeste. Através de suas experiências com trabalhos
precários, com o racismo em sua violência mais diluída e corriqueira, como ocorre no
Brasil, elas mostram as possibilidades de “ser mãe” em contextos em que o “prover” e o
“cuidar” não podem ser feitos presencialmente e no dia a dia. Apresenta-se, assim, nas
estratégias de construto de laços pelas de remessas, do contato frequente por meio de
novas tecnologias, uma forma de resiliência à saudade que permeia seu cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: Migração; Transmigração; Haiti; Maternidade.
ABSTRACT: In this article I intend to discuss some events that marked the lives and
bodies of Haitians Marli and Rose and from their narratives and our daily experience
I present some reflections on “being a mother” among these Haitians who settled in
Santa Barbara d’Oeste. Through their experiences with precarious work, with racism in
1
Graduada em Ciências Socias pela Universidade Federal de São Carlos. Mestra pelo Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas. E-mail:
[email protected]
178 Rafaela Gava Etechebere
their most diluted and commonplace violence, as is common in Brazil, they show the
possibilities of “being a mother” in contexts where “providing” and “caring” can not be
done face-to-face and day-to-day. In this way, it presents itself in the strategies of building
bonds through remittances, through frequent contact through new technologies, a form
of resilience to the constant missing that permeates everyday life.
KEYWORDS: Migration; Transmigration; Haiti; Mothering.
INTRODUÇÃO
4
“Working at motherhood: Chicana an Mexican immigrant mothers and employment”, Denise
A. Segura
seu trabalho –, Marli precisava sustentar quase que totalmente sozinha sua
vida no Brasil pagando aluguel, contas e alimentação, além de sustentar os
filhos que estão longe e auxiliar as pessoas que se prontificaram a cuidar
deles. Sua localização social a posiciona em um espaço muito mais definido e
sem muitas possibilidades de mobilidade.
As poucas mulheres jovens e solteiras com quem tive contato (uma
delas, Phahidra) vinham para o Brasil para estudar e trabalhar, tornando
a qualificação profissional um motivo das haitianas migrarem. Entre as
haitianas, as jovens são definidas menos no sentido da faixa etária e mais
no sentido da localização social, pois eram mulheres solteiras, sem filhos,
com uma vasta rede de ajuda que incluía remessas de parentes que residem
principalmente na República Dominicana e nos Estados Unidos. Diferente
das mães haitianas, as quais divido parte de suas histórias nesse artigo,
mulheres como Phahidra, migram para o Brasil não porque a vida estava
difícil no Haiti, mas porque ouviram que aqui, além de trabalhar, elas
poderiam estudar em instituições brasileiras. Essa era a principal vantagem
para estas jovens na escolha do Brasil ao invés dos Estados Unidos, local
em que só poderiam estudar se possuíssem o Green Card7. Ou seja, o
trabalho não era uma prioridade na trajetória de migração dessas jovens,
diferentemente das mães que estão nesse artigo e das outras mães que não
tem marido e não podiam contar com a ajuda de seus familiares.
Quando nos voltamos ao mercado de trabalho, a única “vantagem”
que Phahidra tem sobre Marli diz respeito somente ao tempo que ela tem
para selecionar um emprego, mas não diz respeito aos tipos de emprego
que são ofertados aos haitianos e haitianas que estão vindo ao Brasil.
No decorrer da pesquisa acompanhei, não apenas no próprio campo,
mas também através de várias reportagens, a precariedade dos trabalhos
atribuídos aos imigrantes haitianos8. Em duas destas notícias, publicadas
7
O Green Card se refere ao processo de imigração para que qualquer estrangeiro nos Estados Unidos
se torne um residente permanente. O Green Card serve como prova de que o seu titular é um residente
permanente legal (lawful permanent resident – LPR), ao qual foi concedido oficialmente benefícios de
imigração, que incluem a permissão para residir e ter um emprego nos Estados Unidos.
8
Entendo trabalho precário a partir da definição de Hirata (2009), que traz, através das pesquisas
realizadas sobre o trabalho e o desemprego em âmbito internacional, três indicadores do trabalho
precário: 1) ausência de proteção social e de direitos sociais, inclusive de direitos sindicais; 2) horas
reduzidas de trabalho, que resultam em salários baixos e que levam frequentemente à precariedade; 3)
níveis baixos de qualificação: a ausência de qualificação formal e a consequente baixa renda levam, em
inúmeros casos, à precariedade e ao desemprego. Esses indicadores direcionam-se para uma marcada
divisão sexual da precariedade, já que as mulheres são mais numerosas do que os homens tanto no
trabalho informal quanto no trabalho em tempo parcial, além do número inferior de horas trabalhadas
e de níveis mais baixos na escala de qualificação (Hirata, 2009).
9
“Robert tem quatro filhas. Professor de matemática no Haiti, em São Paulo, ele conseguiu
emprego de operário, mas não gostou do que viu. ‘Encontro muitas injustiças. Muitos brasileiros ou
brasileiras consideram os haitianos, nas empresas, como escravos’, afirma.”. Imigrante diz que muitos
brasileiros consideram haitianos como escravos. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/
noticia/2015/07/imigrante-diz-que-muitos-brasileiros-consideram-haitianos-como-escravos.html>.
Acesso em: 07/03/2016. “Laurie Jeanty: Alguns brasileiros usam os haitianos, eles não têm direitos
iguais aos dos outros empregados. Nem todo mundo é assim, mas alguns [empregadores] manipulam
bem. Alguns tratam os haitianos como escravos. Eles não conseguem fazer nada quanto a isso, como
vão conseguir ajuda, se não sabem falar bem a língua portuguesa? Não tem ninguém para interagir, não
tem ninguém para falar por eles.” “Alguns brasileiros tratam os haitianos como escravos”, diz organização
de defesa dos imigrantes. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/43152/
alguns+brasileiros+tratam+os+haitianos+como+escravos+diz+organizacao+de+defesa+dos+imigrantes.
shtmlhttp://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/43152/
alguns+brasileiros+tratam+os+haitianos+como+escravos+diz+organizacao+de+defesa+dos+imigrantes.
shtml>. Acesso em 07/03/2016.
O COTIDIANO NA DIÁSPORA
ajudar a mãe com o comércio. Foi nesse período que aprendeu com sua
mãe a fazer negócios em Dajabón13. Já mais velha, Rose se casou com seu
marido e teve dois filhos. Nessa época ela não precisou trabalhar fora, pois
seu marido mantinha um emprego na capital, Porto Príncipe, e provia o
que a família precisava em Limonade.
Essa realidade mudou no dia 12 de janeiro de 2010. O marido de
Rose estava trabalhando quando o relógio começava a aproximar seus
ponteiros das 17 horas e os abalos do grande terremoto que assolou o
país foram sentidos na capital haitiana. Era um terremoto de magnitude
7,0 na escala Richter. Metade da capital haitiana ficara destruída. Estima-
se que 250 mil pessoas foram feridas, 1,5 milhão de habitantes ficaram
desabrigados e o número de mortos ultrapassou 200 mil14. Entre os
mortos, estava o marido de Rose. Viúva, Rose voltou a trabalhar com
comércio para sustentar seus filhos. No início de 2015, ela ficou sabendo
pela avó de Phahidra que seus netos estavam conseguindo bons trabalhos
no Brasil e decidiu deixar os filhos para trás e se mudar, em maio deste
ano, para a casa onde sempre nos encontrávamos em meu trabalho de
campo. Nos primeiros meses, ela conseguiu um emprego em uma fábrica
e investiu, com seu primeiro salário, em um tablet para o filho. Um mês se
passou e ela foi demitida. “Eu ia comprar um smartphone pra mim”.
Rose e Marli, assim como Mercina, Marlene, Alina, Santana e
tantas outras haitianas de Santa Bárbara d’Oeste procuram meios para se
comunicarem com seus filhos que ficaram no Haiti. Ao se comunicarem
com essas crianças e adolescentes, essas mães não só obtêm notícias e
dão informações sobre o que está se passando: elas cuidam efetivamente
dos seus filhos. A distância, que apartaria a participação dessas mulheres
13
Dajabón é uma cidade localizada na República Dominicana, na fronteira com o Haiti. Ela
é descrita como uma cidade mercado. Às segundas-feiras até sextas-feiras, os haitianos estão
autorizados a atravessar temporariamente a ponte para vender seus produtos. A maioria dos
produtos são roupas usadas, sapatos, produtos secos a granel, e eletrodomésticos. Nesses dias,
uma área de vários acres na borda ocidental da cidade torna-se um lugar de negócios lotado.
Além dos haitianos, dominicanos vão ao mercado para vender alimentos (legumes cultivados
em sua parte do país).
14
Disponível em <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1446514-5602,00-COBER
TURA+COMPLETA+TERREMOTO+NO+HAITI.html>.
15
Depende da conexão com a internet.
ela está dizendo que teria comprado o meio para entrar no cotidiano de
seus filhos, amigos e parentes que estão no Haiti e fora dele via Whatsapp,
além de que, sempre que possível, faria videoconferências com as crianças
via Skype pelo aparelho. Cada vez que tivesse saudades ou estivesse
preocupada, poderia ver, através do aparelho, as fotos de seus filhos
arrumados e saberia que eles ficariam menos preocupados quando vissem
as suas fotos no Facebook. Além disso, ela poderia se sentir mais próxima
do seu país ao poder ouvir rádios haitianas pelo aparelho quando estivesse
conectada à internet ou ouvir suas músicas favoritas, compartilhadas via
Bluetooth17 com outros haitianos próximos. Sendo assim, Rose poderia se
fazer mais presente na criação dos seus filhos, atendendo suas necessidades
de maneira mais eficaz.
AGENCIANDO AFETOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
Este trabalho contempla os resultados da iniciação científica desenvolvida em 2015 sob a
orientação do prof. Dr. Ronaldo de Almeida, do Departamento de Antropologia da Unicamp.
2
Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo. Licenciado em
Ciências Sociais e Bacharel em Sociologia e em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de
Campinas. E-mail: [email protected]
204 Frantz Rousseau Déus
ABSTRACT: This article investigates the support offered and the role played by religion
in the building of affective and religious ties that facilitated the social integration of Haitian
immigrants into Brazilian society from 2012 to 2015. In order to achieve this goal, I made
an accompanying observation in the Kingdom Hall of Jehovah, located in Jardim Londres
in Campinas. Also, I followed several religious activities done by Jehovah’s Witnesses in
Brazil personally and online. I have also analyzed the textual corpus related to the question
of religion and migration; as well as other important texts such as newspaper articles, etc.
From this study, it was possible to understand that the Jehovah’s Witness religion, in the
attempt to preach and convert Haitian migrants, built bonds of friendship and affection
that facilitate the acceptance of the biblical studies by these immigrants. It is part of the
preaching policy itself to build such ties in a symbolic way. Immigrants I talked to during
this research mentioned the support they receive from followers of this religion, such
as information about the daily life of Brazilian society and linguistic support (teaching
Portuguese by some members).
KEYWORDS: Haitian Migration; Jehovah’s Witness; Creole Congregation; Support.
INTRODUÇÃO
6
Handerson (2015, p.70) salienta que: no plano cultural, no Governo Élie Lescot (1941-1946),
o inglês tornou-se obrigatório no sistema educacional do país e cresceram significativamente
as igrejas protestantes americanas. Na década de 1950, a elite haitiana mandava seus filhos
estudarem nos Estados Unidos e alguns dos agricultores que já haviam residido em Cuba
ou na República Dominicana viam os Estados Unidos como uma nova possibilidade para a
emigração.
7
Destaca-se que no contexto de ditadura, em um primeiro momento, haitianos oriundos de
várias camadas sociais passaram a deixar o país, conforme exemplifica Handerson (2015);
o autor também comenta que ao longo da década de 1960 a maioria dos haitianos que se
instalaram em Nova York eram profissionais e intelectuais. Mais tarde, haitianos com o mesmo
perfil se ampliaram em Boston, Chicago, Miami (Estados Unidos), Montreal e Quebec (Canadá)
e em certos países africanos francófonos, como Senegal, Benin e República do Congo. O autor
salienta também que a migração haitiana para Bahamas se iniciou em 1960; já para Guiana
Francesa, em 1963; (HANDERSON, 2015, p.71).
8
Handerson enfatizou que em torno de 46.000 boat people foram interceptados em alto mar e
conduzidos aos campos de detenção de Baía de Guantánamo em Cuba. Foi constatado que mais
de 100.000 haitianos deixaram o Haiti na época da deportação do ex-presidente Jean-Bertrand
Aristide, no ano de 1991. Alguns dirigiram-se para os países vizinhos, cruzaram a fronteira da
República Dominicana de ônibus, enquanto outros navegaram para Guantânamo, Cuba e os
Estados Unidos (WOODING E MOSELEY-WILLIAMS 2009, apud HANDERSON, 2015,
p.73).
exigiam vistos aos haitianos para ingressar nesses lugares como turistas.
A primeira tentativa foi um pedido feito pelos agentes do Ministério
de Relações Exteriores, Ministério da Justiça, Departamento da Polícia
Federal e da ABIN no dia 28 de fevereiro de 2011 às autoridades peruanas
e equatorianas para exigir visto aos haitianos. O Peru concordou e o
Equador refutou tal proposta (VIEIRA, 2017, p.240).
Mesmo com vários jornais brasileiros publicando manchetes que
denunciavam as más condições de imigrantes haitianos em vários estados
brasileiros, a mídia haitiana seguia apresentando o Brasil como um país
dotado de uma política estabelecida para receber os haitianos, fornecendo
informações positivas e passando ao largo das dificuldades reais existentes.
O jornal haitiano Le Nouveliste publicou um artigo no dia sete de outubro
de 2015, intitulado Le Brésil, bras ouverts, attend tous les haïtiens9 em que
Fernando Vidal, embaixador brasileiro no Haiti, destaca:
9
Le Nouveliste: Le Brésil, bras ouverts, attend tous les haïtiens “O Brasil, braços abertos, esperando
todos os haitianos”. Disponível em http://lenouvelliste.com/lenouvelliste/article/150801/
Le-Bresil-bras-ouverts-attend-tous-les-Haitiens.Acesso 10/09/2015.
Tal fato, segundo Araújo e Javorski (2014), foi uma das causas para o
grande número de imigrantes que começou a chegar a São Paulo em 2014.
Porém, mesmo antes disso, Maroni da Silva (2014, p. 201) explica
que, a partir de 25 de janeiro de 2012, a emissora de TV da região do
Acre anunciou que alguns empresários iriam à região para contratar
imigrantes haitianos. E o fato de os imigrantes estarem procurando
melhores oportunidades de trabalho fez com que eles se orientassem
rumo aos grandes centros urbanos do Brasil. Então, foi dessa maneira que
os imigrantes haitianos começaram a se espalhar pelos outros estados do
Brasil.
Em um artigo intitulado “Região Sul receberá mais 800 haitianos”11,
do Jornal do Comércio, estão registradas as seguintes informações:
12
Porém, minha presença não foi uma transgressão como a presença de Díaz Benítez (2007).
Mesmo não pertencendo às Testemunhas de Jeová , considero ter sido bem recebido pela
comunidade.
13
Como eu estava presente com o objetivo de fazer pesquisa, conversei com várias Testemunhas
de Jeová e constatei que quase todas me abordavam da mesma maneira.
14
Desafios a migração: Prefeitura busca a integração de haitianos que vieram para Campinas,
disponível em: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/08/capa/campinas_e_rmc/307742-
integracao-de-haitianos-e-desafio-a-ser-superado.html acesso 27/12/2015.
15
Em sentido religioso, um Ancião é um Ministro de Culto ordenado para servir numa igreja
ou congregação. São superintendentes “vigilantes”, “bispos”, no sentido de serem guardiões
da verdadeira doutrina religiosa, da disciplina religiosa e como pastores de almas. Podem ser
juízes nos casos de transgressão religiosa. (Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1 pág. 128-
131) Ou seja, Ancião é a qualificação religiosa que lhe é reconhecida pela liderança da religião,
enquanto Superintendente, o cargo que exerce. A Comissão de Tradução da Tradução do Novo
Mundo da Bíblia não usa os termos bíblicos clássicos Presbítero e Presbitério, usando em seu
lugar Ancião e Corpo de Anciãos. (Enciclopédia das Testemunha de Jeová, online), consultado
03/02/2018, disponível: http://testemunhas.wikia.com/wiki/Anci%C3%A3o
16
Aristilde Sténio é um haitiano, estudante da Bíblia com Testemunhas de Jeová desde que
residia no Haiti, tendo começado a frequentar o Salão do Reino no Brasil em 2011, onde foi
batizado. A primeira vez que foi conversar com uma testemunha de Jeová, ele tinha menos de
8 dias no Brasil. Naquele dia eu estava junto com ele e, por falar espanhol, fui eu quem iniciei
a conversa com um senhor testemunha de Jeová, chamado Sebastião. Depois da conversa,
o senhor Sebastião pediu nosso endereço, e começou a nos visitar, convidando-nos para
participar nas reuniões. O senhor Sebastião orientou Sténio Aristilde para o Salão do reino
mais próximo da casa dele. Como eu não tinha interesse, não dei continuidade ao contato.
No entanto, nessa época, todo sábado o senhor Sebastião dava aula de português para dois
haitianos que moravam na mesma casa que eu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Três haitianos enfatizam: “frè temwen Jewova yo, se moun ke nou ka konfye nan yo,
yo p-ap ba nou move konsèy, yo viv avek nou kòm frè” (Os irmãos Testemunhas
de Jeová são pessoas em quem podemos confiar, eles não vão enganar a
gente, nós temos uma relação de fraternidade).
É importante ressaltar que, além da religião Testemunha de
Jeová oferecer um suporte aos imigrantes haitianos que lhes permite se
adaptarem à sociedade brasileira, elas também inculcam valores morais que
visam preservar os imigrantes diante da vida mundana. Isso é percebido
na fala de vários haitianos e várias haitianas com quem conversei durante
essa pesquisa, que ressaltam como o ensino que eles/elas receberam, por
intermédio das Testemunhas de Jeová, guia as suas vidas cotidianamente.
Um deles afirma “fanmi mwen gen isit la se temwen yo, se ak yo mwen soti, paske yo
pap mennen mwen nan sa ki pa bom. Pafwa mwen konn al pase fen semèn ak yon fanmi
temwen, mwen santi mwen vrèman byen”. (Tenho os membros da Testemunha
de Jeová são como família aqui, é com eles que eu passeio, eles não vão me
incentivar a fazer coisa errada. Às vezes eu passo meus fins de semana na
casa de uma família testemunha, com eles me sinto realmente bem).
Acerca das atitudes diante da vida mundana, o Congresso realizado
em crioulo haitiano no mês de outubro de 2015 em Vargem Grande
Paulista e a Grande Assembleia – realizada nos dias 06 e 07 de fevereiro
de 2016 em Curitiba, e que reuniu todas as Congregações haitianas de
Testemunhas de Jeová, tendo como principal tema “Imite Jewova” (Imite
a Jeová) – reforçaram os ensinamentos sobre como as Testemunhas de
Jeová precisam viver para agradar a Deus. O Congresso e a Assembleia
são atividades de amplitude nacional, isto é, todas as “congregações
e grupos haitianos” da religião Testemunha de Jeová assistiram a esse
evento presencialmente ou online por meio de transmissão. Portanto, por
meio desta religião, os haitianos conseguem manter contato com outros
haitianos vivendo no Brasil e estabelecer laços de solidariedade e amizade
tanto com seus conterrâneos quanto com outros brasileiros.
Em suma, foi exposto nesse trabalho que a presença de uma diáspora
haitiana no Brasil é devida ao terremoto que abalou o Haiti em janeiro de
2010 e deixou o país em estado de precariedade. Isso fez com que o Estado
haitiano não conseguisse responder às demandas da população, de modo
Temáticas, Campinas, 25, (49/50): 203-232, fev/dez. 2017
228 Frantz Rousseau Déus
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fritznel Alphonse2
José Rivair Macedo3
ABSTRACT: The present article intends to analyze of the program Pró-Haiti implemented
in the Brazilian public universities UNICAMP, UFSC, UFSCAR and UFRGS in the years
from 2011 to 2016, in the extent of the proposition done by several countries of making
possible that Haitian youths continued their academical studies in the exterior in order to
strengthen the Haitian superior education in the context powder-earthquake that affected
Haiti in 2010. We will analyze the historicity and development of the bilateral relationships
shortly between Brazil and Haiti; the report of Pró-Haiti and their proposals to Haiti; the
implementation and the results reached by the Program in the four Universities partners.
The proposed reflections look for to problematize in that measured the Program Pro
- Haiti was inserted as one of the promises done by Brazil to Haiti in the period powder-
earthquake of 2010 of the parents, in order to verify that Brazil didn’t accomplish and it
won’t accomplish that promise and that for that, Brazil would not be contributing to the
reconstruction of Haiti for middle of that program.
KEYWORDS: Relationship International-Haiti/Brazil; MINUSTAH; Pro-Haiti -
Support to the Haitian Institution of Higher education; Formation of Human resources
in Haiti.
INTRODUÇÃO
4
Os danos materiais foram avaliados da seguinte forma: “105.000 residências foram destruídas,
mais de 208.000 irreversivelmente danificadas, mais de 1.300 estabelecimentos de educação,
mais de 50 hospitais e centros de saúde desabaram ou ficaram inutilizados dentre os principais
estabelecimentos públicas que foram destruídos nesta tragédia”. Dessa forma o valor total
de danos e perdas materiais causados pelo terremoto “foi avaliado e estimado em US$
79.000.000.000, o equivalente a 120% de produto interno bruto do país (PIBP) em 2009”
(HAITI, 2010, p.7). Esses dados devem ser problematizados, já que a pesquisa nos materiais
disponíveis sobre o Haiti no período pós-terremoto demonstra não haver nenhum consenso
entre as agências e os autores que produziram os dados estatísticos sobre essa tragédia no que
diz respeito ao número de mortos pelo terremoto, e tampouco aos amputados, desabrigados,
os danos materiais, os desabamentos e o número de estabelecimentos que ficaram inutilizados
nesse terremoto, o valor total de danos e perdas materiais, os deslocados para as regiões do
interior e de fora do país. Mas, de qualquer forma, eles são importantes na medida em que
mostram tanto o quadro de destruição material quanto de pessoas afetadas.
5
Com efeito, logo após o terremoto, a propaganda em torno da reconstrução do Haiti
impõe-na enquanto a mais nova e próspera indústria neste país, transformado em paraíso das
Organizações não governamentais (ONGs) nos últimos três decênios. Em 1987, quando foi
criada a Unité de coordination des activités d’ONG (UCAONG), o número total do conjunto de
ONGs computadas no território haitiano era ainda abaixo de 1.000 (LOUIS-JUSTE, 2007, p.
106). Já em fevereiro de 2010 (um mês depois do terremoto), o então Primeiro-Ministro Jean-
Max Bellerive lançara a seguinte acusação contra os grandes financiadores de ONGs: “São eles
que permitem que as ONGs façam o que querem. (...)” Jean Michel (2010).
6
A respeito da diáspora haitiana espalhada pelo mundo, cf. o livro Espace et Liberté en Haïti
de Georges Anglade (1982, p. 132). Nesse livro, o geógrafo haitiano produziu um mapa para
ilustrar os diferentes espaços internacionais das mobilidades haitianas. A partir desse estudo
sobre a diáspora haitiana espalhada pelo mundo, o referido autor cunhou a expressão “novo
espaço haitiano”.
7
De acordo com os dados do Congresso Mundial Haitiano (CMH) do ano de 2005, em Nova
York e Nova Jersey, são estimados em 1 milhão; em Miami, 750 mil; em Boston, Chicago e
Los Angeles, 150 mil; no Canadá, 120 mil; na França, 100 mil, incluindo os Departamentos
Ultramar; na República Dominicana, 750 mil; em Cuba, 400 mil, e nos demais países da América
Latina, 75 mil, além daqueles instalados na África e na Ásia (CAHIER nº 1, p. 16, janeiro 2005).
8
Dentre as Motivações brasileiras para liderar MINUSTAH no marco da Política Externa: “De
um lado, condiz com as narrativas de política externa humanista e diplomacia da solidariedade
construídas durante a gestão do então presidente Lula. De outro lado, responde as aspirações
mais pragmáticas como a obtenção de um assento no Conselho de Segurança da ONU -
CSONU, possíveis ganhos econômicos indiretos e a possibilidade de aperfeiçoar a atuação de
tropas nacionais” (WAISBICH & POMEROY, 2014, p.4).
16
Cf.https://noticias.r7.com/internacional/fotos/brasileiros-estao-entre-soldados-das-forcas-
de-paz-da-onu-acusados-de-abuso-sexual-no-haiti-18042017#!/foto/1
Fonte: Manual do coordenador do pró-Haiti, 2010, p.6 & anexo I da portaria nº092, de 28 de
abril de 2010.
em cada uma das etapas da seleção do programa. Essa etapa foi composta
de três fases, com caráter eliminatório e classificatório, de acordo com
a tradição brasileira na maioria dos processos seletivos, não cabendo
recurso em nenhuma das fases dessa seleção. Conforme foi descrito nesse
edital, para se candidatar a uma bolsa do Programa Federal de Graduação
sanduíche Pró-Haiti, os candidatos deveriam entregar em um dos locais
mencionados anteriormente os documentos a seguir:
Vale destacar que, dentre esse grupo de 7 alunos que ingressaram nos
cursos de Pós-Graduação da UNICAMP, identificamos que 2 desistiram
19
Como Institutos, Faculdades e as Pró-reitorias de Graduação e de Pós-Graduação, bem
como a Coordenação das Relações Internacionais (CORI), vinculadas ao Programa por meio
da UNICAMP. Houve também o envolvimento da Diretoria de Relações Internacionais (DRI)
da CAPES, Embaixada do Haiti no Brasil, Ministério de Relações Exteriores – MRE e da
Delegacia da Polícia Federal, conforme esclarece a professora Dra. Eliana Amaral, assessora da
Pró-Reitoria de Graduação e responsável do Pró-Haiti. (KÄMPF, 2012).
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da UNICAMP; UFSC; UFSCAR; UFRGS
(2011 a 2012, e 2013 a 2016). Esses dois períodos são considerados muito
importantes para nossa análise do Programa, tendo em vista que:
21
Nesse grupo de estudantes, alguns deles do programa na UNICAMP, sejam nos cursos de
graduação ou de mestrado, ingressaram nos cursos de mestrado e doutorado na instituição por
desejarem continuar estudando no Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da UNICAMP; UFSC; UFSCAR; UFRGS
Haiti – MINUSTAH, a qual o Brasil liderou desde 2004 até final de 2017,
além de ampliar sua pasta de políticas externas de cunho subimperialista
na região.
O Haiti apresentara-se como uma vitrine do savoir-faire (saber-fazer)
brasileiro, e por isso denotava importância estratégica (VÉRAN; NOAL;
FAINSTAT, 2014). Nessa perspectiva, o posicionamento do governo
brasileiro no processo de recolonização do Haiti por meio da MINUSTAH
a partir de 2004, do Pró–Haiti, bem como do processo migratório haitiano
para seu território desde 2010, visa apenas priorizar a possibilidade de
aumentar a reputação internacional do Brasil. Tudo isso acabou elevando
a projeção de poder econômico e político do país, contribuindo para
garantir o seu peso regional na América Latina, a sua presença em assuntos
militares e econômicos internacionais (BRACEY, 2011).
A respeito do processo de recolonização do Haiti, Franck Seguy
afirmou que tal projeto já ficava claro no texto do “Plano de Ação para a
Recuperação e o Desenvolvimento o Haiti” (PARDN), apresentado pelo governo
haitiano dois meses depois do terremoto. O governo haitiano escreveu um
plano de reconstrução que ele apresenta aos seus parceiros da chamada
comunidade internacional, e não à sociedade civil haitiana (SEGUY, 2014).
Segundo o pesquisador, esse plano foi apenas uma versão atualizada de
um estudo realizado por um economista da Universidade de Oxford, Paul
Collier, que foi enviado ao Haiti pelo Secretário Geral da ONU, tendo
publicado seu relatório em janeiro de 2009. Assim, podemos dizer o que
está sendo implementado hoje no Haiti, como ‘reconstrução’, na verdade
é um plano anterior ao terremoto (SEGUY, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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WAISBICH, Laura. & POMEROY, Melissa. Haiti. Um laboratório de
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Território (informativo), 2014.
Wendy Ledix1
ABSTRACT: Migration is a social fact that consists of individuals entering and leaving
a given geographic space. From 2010, Brazil became the destination of many Haitians
in search of better living conditions, soon after the collapse of Haiti by the January 12,
2010 earthquake. Their presence in Brazilian territory generated the necessity of their
insertion into the labor market and in higher education. In this perspective, this article
has as main objective to retrace the Haitian migration, emphasizing the insertion and
1
Graduando em Saúde Coletiva na Universidade Federal da Integração Latino-Americana.
E-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
O estudo aqui apresentado é de natureza quantitativa e qualitativa
e busca contribuir para: apresentar as linhas gerais da história da
migração haitiana, ainda que sem uma análise de suas causas mais
profundas; além disso, informar de que forma está sendo feita a inserção
de imigrantes haitianos no ensino superior no Brasil, especialmente em
duas universidades federais, a saber, a Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana
(UNILA); e, por fim, mostrar como esses imigrantes estão participando
no tripé da universidade: ensino-pesquisa-extensão.
Oriundo de uma observação empírica, o estudo foi feito pelas
seguintes perguntas de pesquisa: Com que sentimento você deixou o
Haiti? O que fez você migrar para o Brasil? Como foi a adaptação no meio
universitário? Você já pensou em abandonar tudo e voltar definitivamente
para o seu país? Como você encara o desafio de ser estudante num país
estrangeiro? Você recebe alguns auxílios por parte da Universidade? Você
participa em alguns projetos de extensão e/ou pesquisa?
ÉPOCA COLONIAL
3
O Tratado de Ryswick gerou a cisão da ilha do Haiti em República do Haiti que representa
um terço do território, sob o controle da França e da República Dominicana – que, por sua vez,
representa os dois terços sob o controle da Espanha. É esse ato jurídico e histórico que justifica
o porquê de se falar francês na República do Haiti e espanhol na República Dominicana.
4
O Código negro é um documento no qual o legislador finge considerar a humanidade do
escravo negro, apresentando-o, do ponto de vista jurídico, como uma mercadoria submetida às
leis do mercado e ao desejo do seu dono.
MIGRAÇÃO NO SÉCULO XX
5
O artigo 9 da declaração Universal dos Direitos Humanos estipula que ninguém pode ser
arbitrariamente preso, detido ou exilado.
O CENÁRIO PÓS-TERREMOTO
9
Memorando de entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo
da República do Haiti para a reconstrução, o fortalecimento e a recomposição do Sistema de
Educação Superior do Haiti, 25/02/2010.
Artigo 3 – Objetivos
O presente Memorando de Entendimento tem como objetivos:
a) Criar mecanismos para o envio de pesquisadores brasileiros ao Haiti com vistas a apresentar
diagnósticos da situação das instituições de ensino superior do país;
b) Possibilitar a implementação de programa de graduação sanduíche para estudantes haitianos
em instituições de ensino superior brasileiras;
c) Apoiar os cursos de português para estrangeiros nas universidades brasileiras, por meio de
concessão de recursos de custeio;
d) Conceder bolsas de mestrado e de doutorado, nos moldes do Programa Estudante Convênio
– PEC-PG, para estudantes haitianos;
e) Contribuir para a reestruturação das instituições de ensino superior haitianas por meio
do envio de professores brasileiros em nível de pós-doutorado para ministrar aulas nas
universidades e realizar seminários e missões de diagnóstico.
NA UNILA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WARGNY, Christophe. Haïti n’existe pas 1804-2004: deux cents ans de
solitude. Paris: Éditions Autrement Frontières, 2008.
Foto 03: Imigrantes haitianas aguardam vaga em ônibus para sair do Acre
Foto 04: No Natal de 2014, mãe e filha haitianas chegam ao Brasil pelo Acre
Julho de 2014 - Grávida de oito meses, haitiana de 18 anos viajou por mais
de quatro semanas do Haiti até o Acre e foi recebida no acampamento
Chácara Aliança, em Rio Branco (AC). Seu destino final era Chapecó (SC),
onde sua mãe trabalhava e a aguardava.
Pedidos:
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – IFCH
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