Os Sistemas de Proteção Dos Direitos Humanos
Os Sistemas de Proteção Dos Direitos Humanos
Os Sistemas de Proteção Dos Direitos Humanos
2019
O sistema global de proteção dos direitos humanos foi criado e vem sendo
administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tem início com a
Carta da ONU (também conhecida como Carta de São Francisco)1, documento
que estabeleceu a ONU em 1945 e que dispôs em seu art. 1º (3) ser propósito da
Organização “conseguir uma cooperação internacional para resolver os
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário,
e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. (Grifo
nosso)
O sistema desenvolveu-se posteriormente com a proclamação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução 217 A III) em 10 de dezembro
1948, que foi complementada (material e processualmente) por dois importantes
tratados internacionais: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
(PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais
1
É preciso aqui fazer uma advertência a todos que se preparam para concursos
públicos e para o exame da OAB: estes exames jurídicos têm exigido
conhecimentos não apenas acerca das normas que tutelam os direitos
humanos (nome dos instrumentos), mas também do conteúdo do tratado ou
documento internacional, razão pela qual recomenda-se fortemente o estudo
detido de seus textos, para que se domine a informação acerca dos diplomas
jurídicos onde podem ser encontradas determinadas normas.
2RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, e-
book.
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3 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Incluindo Noções
de Direitos Humanos e de Direito Comunitário. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 916.
4 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.
5 Vide página da RPU relativa ao Brasil no sítio da ONU: <https://goo.gl/j21jVZ>. Acesso em 04
out. 2018.
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6 O procedimento confidencial tem alcance diminuto, pois visa apenas detectar quadro de
violação grave e sistemática de direitos humanos em um país.
7 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.
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8 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 914.
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9 O Brasil depositou a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
junto à ONU em 24 de janeiro de 1992. Posteriormente, o país internalizou o referido tratado por
meio do Decreto Presidencial n. 592, de 06 de julho de 1992, momento em que passou a integrar
a ordem jurídica brasileira com força de norma supralegal.
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10 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 935.
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direitos humanos.
11GUERRA, Sidney. Direito Internacional dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2011, p.
164.
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12 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Os Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos. Uma
análise comparativa dos sistemas interamericano, europeu e africano. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011, p. 16.
13 SMITH, Rhona K. M. Textbook on International Human Rights. 6. ed. Oxford: Oxford University
14 A OEA é também uma organização regional, de acordo com o art. 52 (1) da Carta das Nações
Unidas: “Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais,
destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais
que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e
suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas”.
15 O texto da Carta está disponível em: <https://goo.gl/EQKcFN>. Acesso em 25 abr. 2018. A
Carta foi posteriormente reformada pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos
Estados Americanos (“Protocolo de Buenos Aires”), assinado em 27 de fevereiro de 1967, na
Terceira Conferência Interamericana Extraordinária; pelo Protocolo de Reforma da Carta da
Organização dos Estados Americanos (“Protocolo de Cartagena das Índias”), assinado em 5 de
dezembro de 1985, no Décimo Quarto período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral;
pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados Americanos “Protocolo de
Washington”), assinado em 14 de dezembro de 1992, no Décimo Sexto período Extraordinário de
Sessões da Assembleia Geral; e pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados
Americanos (“Protocolo de Manágua”), assinado em 10 de junho de 1993, no Décimo Nono
Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da OEA.
16 “Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não pode
ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições
democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos
direitos essenciais do Homem”.
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Artigo 53. A Organização dos Estados Americanos realiza os seus fins por
intermédio:
a) Da Assembleia Geral;
b) Da Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores;
c) Dos Conselhos;
d) Da Comissão Jurídica Interamericana;
e) Da Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
f) Da Secretaria-Geral;
g) Das Conferências Especializadas; e
h) Dos Organismos Especializados.
Poderão ser criados, além dos previstos na Carta e de acordo com suas disposições,
os órgãos subsidiários, organismos e outras entidades que forem julgados
necessários.
17 A Carta da OEA, em sua redação original, não contemplava nenhum órgão ou mecanismo
encarregado da promoção ou proteção dos direitos humanos, não havia nenhuma instância
encarregada de supervisionar a vigência destes direitos no continente. Originariamente a
Comissão IDH foi criada pela Resolução n. VIII, adotada durante a V Reunião de Consulta de
Ministros de Relações Exteriores, em 1959 e iniciou suas operações em 1960, quando o Conselho
da OEA aprovou seu Estatuto e elegeu os seus primeiros membros. “Em decorrência da criação
da Comissão não ter sido realizada por um instrumento convencional e nem sido contemplada
na estrutura institucional da OEA, mediante o Protocolo de Buenos Aires, em 1967, é que foi
corrigida tal situação jurídica precária com a revisão da Carta da OEA, incorporando a Comissão
IDH ao texto da Carta e designando-a como um órgão principal da Organização, que tem como
função essencial promover a observância e proteção dos direitos humanos e servir como órgão
consultivo da Organização, nestes assuntos” (FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de
Direitos Humanos e o Sistema Interamericano. Timburi, 2016, e-book).
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Artigo 33. São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção:
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a
Comissão; e b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada
a Corte.
24
Página
Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, realizado em La Paz,
Bolívia, em outubro de 1979. O texto integral do documento pode ser encontrado em:
<https://goo.gl/5zEqA5>. Acesso em 15 mai. 2018.
28 O regulamento da Comissão foi por ela aprovado em seu 137° período ordinário de sessões,
30 Conforme explica Caio Paiva, “ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração
normal do mandato (renúncia e morte de um comissário p. ex.), o preenchimento desta deve
obedecer ao que preveem a CADH (art. 38) e o Estatuto da Comissão (art. 11), funcionando da
seguinte forma: (I) Ao verificar-se uma vaga que não se deva à expiração normal de mandato, o
Presidente da Comissão notificará imediatamente ao Secretário-Geral da OEA, que, por sua vez,
levará a ocorrência ao conhecimento dos Estados membros da Organização; (II) Para preencher
as vagas, cada Governo poderá apresentar um candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar
da data de recebimento da comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de
vaga; (III) O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos candidatos e a
encaminhará ao Conselho Permanente da Organização, o qual preencherá a vaga. Finalmente,
prevê o art. 11.4 do Estatuto da CIDH que ‘Quando o mandato expirar dentro dos seis meses
seguintes à data em que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida’” (PAIVA, Caio. (Quase) Tudo
sobre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, op. cit.).
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Artigo 44
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente
reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta
Convenção por um Estado Parte”.
28
Página
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31 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p.
338.
32 A Corte IDH já se pronunciou sobre o que entende por recursos adequados. Para a Corte, dizer
que os recursos são adequados significa “(...) que a função desses recursos, dentro do sistema
do direito interno, seja idônea para proteger a situação jurídica infringida. Em todos os
ordenamentos jurídicos internos existem múltiplos recursos, porém nem todos são aplicáveis em
todas as circunstâncias. Se, em um caso específico, o recurso não é adequado, é óbvio que não
há que se esgotá-lo. Assim, ele indica o princípio de que a norma está encaminhada a produzir
um efeito e não pode interpretar-se no sentido de que não produza nenhum ou seu resultado
seja manifestamente absurdo ou irrazoável” (Caso Fairén Garbi e Solís Corrales vs. Honduras.
Mérito. Sentença de 15 de março de 1989. Série C, n. 6, § 88). Disponível em:
<https://goo.gl/16iaU9>. Acesso em 22 mai. 2018.
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Os três primeiros casos acima são apontados pela CADH (art. 46, 2, “a”,
“b”, “c”). Já as últimas hipóteses são trazidas pela doutrina e também podem ser
encontradas na jurisprudência da Corte IDH.33
A Corte IDH entende que a exceção de admissibilidade por ausência de
esgotamento dos recursos internos deve ser invocada pelo Estado no início do
procedimento perante à Comissão IDH.34 Desse modo, se o Estado nada alega
durante esse procedimento, subentende-se que houve a renúncia ou
desistência tácita dessa objeção.35 Posteriormente não poderá o Estado alegar
a falta de esgotamento perante a Corte IDH, pois ter-se-á operado a preclusão
de tal faculdade processual.
31
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sobre Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 313.
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consideração de petições.
41 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana
47 Além desses requisitos, o art. 28 do Regulamento da Comissão IDH também estabelece que a
parte deve indicar: a) o cumprimento do prazo previsto no art. 32 do Regulamento (6 meses); as
providências tomadas para esgotar os recursos da jurisdição interna ou a impossibilidade de
fazê-lo, de acordo com o art. 31 do Regulamento; e, a indicação de se a denúncia foi submetida
a outro procedimento internacional de solução de controvérsias, de acordo com o art. 33 do
Regulamento. Trata-se da indicação do cumprimento dos requisitos de fundo, previstos no art.
art. 46 da CADH.
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48Para maiores detalhes sobre o trâmite inicial por intermédio da Secretaria Executiva da
Comissão, vide art. 29 do seu Regulamento, que trata da tramitação inicial.
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Nos termos do art. 48, 1, “d”, da CADH, se o expediente não houver sido
arquivado, com a finalidade de comprovar os fatos alegados, a Comissão
procederá, com conhecimento das partes, a um exame acurado do assunto
exposto na petição ou comunicação. Dispõe ainda o mesmo dispositivo
37
previsto no art. 48, 1, “d” reside no fato de não se tratar aqui de um procedimento
Página
atribuível aos termos do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade”.
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Ramos explica que “o Estado é beneficiado pela prorrogação do prazo, pois teria
op. cit.,
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mais tempo para evitar uma ação da Comissão perante a Corte de San José. Não
pode, depois, justamente alegar perante a Corte IDH a decadência do direito da
Comissão em propor a ação. Seria mais um exemplo do princípio do estoppel,
também chamado de proibição de venire contra factum proprium”.58
Conforme aponta Adriano Fernandes Ferreira, o “relatório previsto no art.
51, da CADH, pressupõe um pronunciamento definitivo sobre o mérito da
controvérsia, devendo expressar a opinião e conclusões da Comissão sobre a
questão submetida a sua consideração, podendo formular as recomendações
pertinentes para o Estado denunciado”.59
Ao elaborar esse segundo relatório, que diferentemente do primeiro, tem
natureza pública, a Comissão IDH fará as recomendações pertinentes e fixará
um novo prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe
competirem para remediar a situação examinada (art. 51, 2). Este novo prazo é
adicional ao prazo de três meses e sua extensão deve ser compatível com a
natureza das novas recomendações formuladas pela Comissão.
A doutrina aponta que o conteúdo deste relatório “depende de cada caso
particular: a) restabelecimento da situação jurídica infringida; b) garantir o
exercício dos direitos violados; c) adaptar a legislação interna às obrigações
contraídas na Convenção; d) adotar as medidas legislativas; e) de outro caráter
que sejam indispensáveis para assegurar o exercício dos direitos humanos; f)
pagar indenizações compensatórias às vítimas; g) necessidade de ações judiciais
dirigidas a evitar a impunidade; h) punir os responsáveis de graves violações de
direitos humanos; i) reabertura das investigações sobre os fatos denunciados; j)
adotar medidas indispensáveis para proteger a testemunhas; k) evitar que fatos
de tal gravidade possam voltar a ocorrer; l) convidar o Estado denunciado a
ratificar algum tratado de direitos humanos; e, m) convidar o Estado denunciado
a aceitar ser submetido à jurisdição da Corte IDH”.60
43
Página
op. cit.,
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61 O estatuto da Corte foi aprovado pela resolução AG/RES. 448 (IX-O/79), adotada pela
Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, realizado em La Paz,
Bolívia, outubro de 1979. O texto integral do documento pode ser encontrado em:
<https://goo.gl/KyxK8w>. Acesso em 15 mai. 2018.
62 O primeiro Regulamento da Corte foi aprovado pelo Tribunal em seu III Período Ordinário de
Edição 6085, pp. 07-13. Disponível em: <https://goo.gl/RhdZ8F>. Acesso em 07 out. 2018.
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entendimento está previsto nos art. 62.3 e 62.1, ambos da CADH, pois, segundo a
Corte, os instrumentos de aceitação da cláusula facultativa da jurisdição obrigatória
Página
84 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 249-250.
85 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 342.
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do processo”.86
Página
86 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 251.
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Artigo 2. Definições
Para os efeitos deste Regulamento:
(...)
11. a expressão “Defensor Interamericano” significa a pessoa que a Corte designe
para assumir a representação legal de uma suposta vítima que não tenha designado
um defensor por si mesma;
(...)
Artigo 37. Defensor Interamericano
Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente
credenciadas, o Tribunal poderá designar um Defensor Interamericano de
ofício que as represente durante a tramitação do caso.
Nos casos em que a situação econômica da vítima não lhe permita pagar
advogados para atuar perante a Corte ou a Comissão IDH, competirá à
Associação Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF)87, entidade
privada, sem fins lucrativos, apolítica, não religiosa, social e cultural integrada
por Defensorias Públicas e associações de defensores públicos de cada um dos
países que a integram88, indicar o defensor ou a defensora pública pertencente
aos quadros da entidade a quem incumbirá o encargo, a teor do que dispõem os
arts. 2º (11) e 37 do Regulamento da Corte IDH.89
Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Honduras, México,
Nicarágua, Paraguai, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Posteriormente
se incorporaram Bahamas, Bolívia, Estados Unidos, Guatemala, Jamaica, Panamá, Peru e
Trinidade e Tobago.
89 Para maiores informações sobre a figura do defensor público interamericano vide: COSTA,
90 Nos termos do art. 2º (1) do Regulamento da Corte, “o termo ‘Agente’ significa a pessoa
designada por um Estado para representá-lo perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos”. E conforme dispõe o art. 2º (2) do mesmo documento, “a expressão ‘Agente assistente’
significa a pessoa designada por um Estado para assistir o Agente no exercício de suas funções
e substituí-lo em suas ausências temporárias”.
91 Conforme estabelece o art. 2º (12) do Regulamento da Corte, “o termo ‘Delegados’ significa as
petições, argumentos e provas (o que pode ser sintetizado como uma espécie
de petição inicial).
Essa petição inicial deverá conter a descrição dos fatos dentro do marco
fático estabelecido na apresentação do caso pela Comissão; as provas oferecidas
devidamente ordenadas, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos sobre
os quais versam; a individualização dos declarantes e o objeto de sua declaração
(no caso dos peritos, deverão ademais remeter seu currículo e seus dados de
contato); as pretensões, incluídas as que concernem a reparações e custas.
92 A presidência da Corte poderá fixar outro prazo na hipótese do art. 25(2) do Regulamento
(pluralidade de supostas vítimas ou representantes).
93 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 251.
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A Corte poderá considerar aceitos aqueles fatos que não tenham sido
expressamente negados e as pretensões que não tenham sido expressamente
controvertidas (art. 41, 3).
Em razão do disposto no art. 42(1) do Regulamento, na própria
contestação, o Estado deverá, caso assim entenda, apresentar suas exceções
preliminares. “São exceções preliminares toda a matéria que impeça que a Corte
se pronuncie sobre o mérito da causa”.94 Geralmente os Estados alegam a
ausência de requisitos que já foram trazidos perante o trâmite da questão junto
à Comissão, tais como a incompetência da Corte, a falta de interesse processual,
a regra da quarta instância, a ausência do esgotamento de recursos internos95
ou ainda a caducidade do prazo de três meses para propor a demanda.96
Também há casos em que os Estados alegam como exceção preliminar matéria
de mérito, v.g., a suficiência das reparações ajustadas no âmbito do Direito
Interno, fato que leva a Corte IDH a continuar com a análise do caso.97
Regra ou Teoria da Quarta Instância
Há no âmbito da Corte Interamericana um claro entendimento de que este órgão do
Sistema Interamericano não constitui um tribunal de apelações e nem uma quarta
instância que se encontra legitimada para revisar supostos erros de fato ou de direito
cometidos pelos tribunais nacionais. Em razão desta regra, os órgãos do SIDH se
abstém de revisar a correção ou equívoco das decisões dos tribunais nacionais em
matérias não disciplinadas diretamente pela CADH, caso sejam respeitadas as
garantias do procedimento (devido processo legal). Esta regra “funciona como uma
espécie de margem de deferência aos sistemas judiciais nacionais, pois reconhece
sua ampla margem de autonomia para atuar na interpretação das normas locais e
61
na decisão dos casos concretos, sob a única condição de que sejam respeitadas as
Página
94 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 252.
95 Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,
Reparações e Custas. Sentença de 24 de novembro de 2010, Série C, n. 2019, §§ 10 a 49.
Disponível em: <https://goo.gl/Dp4Bb9>. Acesso em 24 mai. 2018.
96 Caso Cayara vs. Peru. Exceções Preliminares. Sentença de 3 de fevereiro de 1993, Série C, n.
14. Neste caso a Corte IDH deu razão ao Peru e extinguiu o caso em razão da perda do prazo
para a propositura da ação internacional. Disponível em: <https://goo.gl/7Oeulo>. Acesso em
24 mai. 2018.
97 Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,
clássicas tensões no sistema interamericano de direitos humanos. In: Sur, Revista Internacional
de Direitos Humanos, vol. 6, n. 11, São Paulo, dezembro, 2009.
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8) Abertura
100RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 252-253.
101Nos termos do art. 2º (10) do Regulamento da Corte IDH, “o termo ‘declarantes’ significa as
supostas vítimas, as testemunhas e os peritos que declaram no procedimento ante a Corte”.
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14) Audiência
102“Artigo 52. Perguntas durante os debates. 1. Os Juízes poderão formular as perguntas que
estimem pertinentes a toda pessoa que compareça ante a Corte. 2. As supostas vítimas, as
testemunhas, os peritos e toda outra pessoa que a Corte decida ouvir poderão ser interrogados,
sob a moderação da Presidência, pelas supostas vítimas ou seus representantes, o Estado
demandado e, se for o caso, o Estado demandante. 3. A Comissão poderá interrogar os peritos
que a mesma propuser, conforme o artigo 35.1.f do presente Regulamento; bem como os das
supostas vítimas, do Estado demandado e, se for o caso, do Estado demandante, se a Corte o
autorizar em solicitação fundada da Comissão, quando se afete de maneira relevante a ordem
pública interamericana dos direitos humanos e sua declaração versar sobre alguma matéria
contida em uma perícia oferecida pela Comissão. 4. A Presidência estará facultada a resolver
sobre a pertinência das perguntas formuladas e a dispensar de respondê-las a pessoa a quem
se dirijam, a menos que a Corte resolva de outra forma. Não serão admitidas as perguntas que
induzam as respostas”.
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16) Prova
O art. 66 (1) da CADH estabelece que a sentença da Corte IDH deverá ser
fundamentada e, caso não expresse no todo ou em parte a opinião unânime dos
juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto
dissidente ou individual (art. 66, 2). Nesse sentido, conforme dispõe o art. 65
(2) do Regulamento da Corte, todo juiz que houver participado no exame de um
caso tem direito a acrescer à sentença seu voto concordante ou dissidente,
que deverá ser fundamentado. Esses votos deverão ser apresentados dentro do
prazo fixado pela Presidência, para que possam ser conhecidos pelos juízes antes
da notificação da sentença. Os mencionados votos só poderão referir-se à
matéria tratada nas sentenças (art. 65, 2).
De acordo com o art. 67 da CADH, a sentença da Corte IDH é definitiva
e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a
Corte deverá interpretá-la, a pedido de qualquer das partes, desde que o
pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação
da sentença.103
As sentenças são de cumprimento obrigatório por parte dos Estados
Partes na CADH em todo caso em que forem partes, por força do que dispõe o
art. 68 (1) da Convenção.
Quanto aos seus requisitos, o art. 65 (1) do Regulamento estabelece que
as sentenças da Corte IDH deverão conter:
69
Página
103O art. 68 do Regulamento da Corte dispõe sobre o pedido de interpretação das sentenças da
Corte IDH.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019
A indenização por dano material que tem sido fixada pela Corte IDH
abrange os danos emergentes (detrimento direto, prejuízo ou destruição
material dos bens, com independência dos outros efeitos, patrimoniais ou de
outra índole, que possa derivar do ato que os causou, compreendendo o valor
dos bens destruídos, os gastos para obter informação acerca do paradeiro das
vítimas, a recuperação do cadáver, os custos adicionais que essa violação possa
ter causado à vítima e incluindo os gastos futuros de reabilitação da vítima) e
também os lucros cessantes (o que a vítima ou seus familiares deixaram de
auferir em razão das violações de direitos humanos experimentadas).
71
Página
105Corte IDH. Caso Castillo Páez. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de novembro
de 1998, parágrafo 48; Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27
de novembro de 1998, parágrafo 85.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019
op. cit. Corte IDH. Caso Cantoral Benavides. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 3 de
dezembro de 2001, parágrafos 42, 53 e 57.
108 Corte IDH. Caso Trujillo Oroza vs. Bolívia. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27
de fevereiro de 2002, parágrafo 77; Caso de Caracazo vs. Venezuela. Reparações (Art. 63.1, da
CADH), sentença de 29 de agosto de 2002, p. 94; Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras,
sentença de 7 de junho de 2003, parágrafo 168; Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de
setembro de 2003, parágrafo 90.
109 Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo 96.
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110Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,
Reparações e Custas. Sentença de 20 de outubro de 2016, Série C, n. 318, §§ 496 a 501.
Disponível em: <https://goo.gl/q2DOjs>. Acesso em 30 mai. 2018.
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111 Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez. Indenização compensatória (Art. 63.1, da CADH),
sentença de 21 de julho de 1989, parágrafo 34; Caso Godínez Cruz. Indenização compensatória
(Art. 63.1, da CADH), sentença de 21 de julho de 1989, parágrafo 32.
112 Corte IDH. Caso Aloeboetoe e outros. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 10 de
fevereiro de 2002, parágrafos 76 e 81; Caso Trujillo Oroza vs. Bolívia. Reparações (Art. 63.1, da
CADH), sentença de 27 de fevereiro de 2002, parágrafos 114 e 115; Caso de Caracazo vs.
Venezuela. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 29 de agosto de 2002, parágrafo 123;
Caso Las Palmeras vs. Colômbia. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 26 de novembro
de 2002; Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras, sentença de 7 de junho de 2003, parágrafo
187.
114 Corte IDH. Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de
que os fatos lesivos não se repitam.117 Esta obrigação de garantir a não repetição
Página
115 Corte IDH. Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de
novembro de 1998, parágrafos 113 e 192.
116 Corte IDH. Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras, sentença de 7 de junho de 2003,
parágrafo 166.
117 Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo 73.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019
op. cit. Corte IDH. Caso Garrido e Baigorria. Reparações (Art. 1, CADH), sentença de 27 de agosto
de 1998, parágrafo 79; Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27
de novembro de 1998, parágrafo 176; Caso Cesti Hurtado. Reparações (Art. 63.1, da CADH),
sentença de 31 de maio de 2001, parágrafo 71.
120 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,
op. cit. Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo
153.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Saraiva, 2011, e-book.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2004.
GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar. 3. ed. São Paulo: 2015.
________. Direito Internacional dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2011.
HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos: uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
________. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, e-book.