Os Sistemas de Proteção Dos Direitos Humanos

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Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set.

2019

OS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A proteção internacional dos direitos humanos é feita atualmente por meio


dos chamados Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos,
arquitetados tanto em nível global como regional. O sistema global de proteção
está arquitetado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Já os
sistemas regionais de proteção estão afetos a regiões específicas do planeta,
encontrando-se arquitetados no âmbito de organizações internacionais
específicas. Atualmente encontram-se consolidados três sistemas regionais de
proteção: (i) o sistema europeu, no âmbito da União Europeia (EU), (ii) o sistema
interamericano, no plano da Organização dos Estados Americanos (OEA) e (iii) o
sistema africano, no âmbito da União Africana (UA).

1. O SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O sistema global de proteção dos direitos humanos foi criado e vem sendo
administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tem início com a
Carta da ONU (também conhecida como Carta de São Francisco)1, documento
que estabeleceu a ONU em 1945 e que dispôs em seu art. 1º (3) ser propósito da
Organização “conseguir uma cooperação internacional para resolver os
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário,
e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. (Grifo
nosso)
O sistema desenvolveu-se posteriormente com a proclamação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução 217 A III) em 10 de dezembro
1948, que foi complementada (material e processualmente) por dois importantes
tratados internacionais: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
(PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais
1

(PIDSEC), ambos adotados pela Assembleia Geral da ONU em 1966. Esse


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1A Carta da ONU pode ser baixada na íntegra no seguinte endereço: <https://goo.gl/KzC7cu>.


Acesso em 26 set. 2018.
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conjunto de textos recebeu o nome de Carta Internacional dos Direitos


Humanos.
O sistema global de proteção dos direitos humanos também é conhecido
como sistema internacional de proteção dos direitos humanos, sistema
onusiano ou sistema universal de proteção dos direitos humanos e tem como
finalidade alcançar a promoção, a proteção e o respeito dos direitos humanos de
todas as pessoas que se encontram espalhadas ao redor do globo.
Trata-se de um sistema composto por (i) tratados internacionais abertos
à adesão de todos os Estados (e também de Organizações Internacionais),
indistintamente de sua localização geográfica; e por (ii) órgãos (mecanismos de
proteção, v.g., os Comitês) voltados à promoção da dignidade humana em todo
o mundo. Cumpre ainda lembrar que, além dos tratados internacionais (que são
instrumentos juridicamente vinculantes para os Estados que deles fazem parte),
existem no sistema global várias declarações internacionais (que não geram
propriamente uma vinculação jurídica para os Estados que as proclamam, senão
uma vinculação de ordem moral) voltadas genérica ou especificamente para a
proteção dos direitos humanos no plano global, além de normas de outra
natureza que de algum modo estão relacionadas aos direitos humanos.
Em relação aos instrumentos internacionais (tratados, declarações,
resoluções etc.) de proteção dos direitos humanos, além da Carta Internacional
dos Direitos Humanos, composta pela DUDH, pelo PIDCP e pelo PIDSEC, torna-
se importante aqui destacar os principais instrumentos onusianos até o
momento existentes e que protegem a todos os seres humanos em geral ou a
categorias mais específicas ao redor do globo.

É preciso aqui fazer uma advertência a todos que se preparam para concursos
públicos e para o exame da OAB: estes exames jurídicos têm exigido
conhecimentos não apenas acerca das normas que tutelam os direitos
humanos (nome dos instrumentos), mas também do conteúdo do tratado ou
documento internacional, razão pela qual recomenda-se fortemente o estudo
detido de seus textos, para que se domine a informação acerca dos diplomas
jurídicos onde podem ser encontradas determinadas normas.

Vide tabela dos instrumentos internacionais globais abaixo:


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INSTRUMENTOS GLOBAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


* Tabela elaborada a partir dos textos originais dos instrumentos internacionais, extraídos da internet,
bem como das obras Curso de Direitos Humanos (André de Carvalho Ramos) e Direito Internacional
Público e Privado (Paulo Henrique Gonçalves Portela)

Instrumento Ano Comentários

Cria a ONU e inicia o sistema internacional de


proteção dos direitos humanos (art. 1º, 3). Não
consagra direitos, nem cria órgãos
especificamente voltados a promover a
observância dos direitos humanos no plano
Carta das Nações Unidas 1945 internacional. No entanto, define que a proteção
da dignidade humana é um dos fundamentos da
paz e do bem-estar no mundo e atribui, portanto,
à promoção dos direitos humanos, o caráter de
tema prioritário da sociedade internacional (art.
55, “c”).

Documento mais respeitado em matéria de


direitos humanos no âmbito global; juntamente
com o PIDCP e o PIDSEC, dá início ao
desenvolvimento do Direito Internacional dos
Declaração Universal dos Direitos Humanos como um ramo autônomo do
1948
Direitos Humanos Direito Internacional. Do ponto de vista técnico-
formal não é um tratado, mas uma resolução da
Assembleia Geral da ONU, razão pela qual há
discussão na doutrina acerca de seu caráter
jurídico vinculante.

É um tratado cujos preceitos são juridicamente


vinculantes e que tem como objetivo principal
detalhar os direitos estabelecidos na DUDH e
contribuir para sua aplicação. Cria mecanismos
Pacto Internacional dos
1966 de monitoramento internacional de sua
Direitos Civis e Políticos implementação pelos Estados Partes (Comitê de
Direitos Humanos, que recebe relatórios sobre as
medidas adotadas para tornar efetivos os direitos
civis e políticos e comunicações interestatais).

Tratado com a finalidade de instituir mecanismo


Protocolo Facultativo ao
de análise de petições de vítimas ao Comitê de
Pacto Internacional dos 1966 Direitos Humanos por violações a direitos civis e
Direitos Civis e Políticos políticos previstos no Pacto.

Tratado que tem como objetivo a abolição da pena


Segundo Protocolo Adicional
de morte. Visa a avançar no sentido de proibir
ao Pacto Internacional dos 1989 quase que completamente a pena de morte no
Direitos Civis e Políticos mundo.

Tratado que visa a promover e proteger os direitos


econômicos, sociais e culturais, que também
Pacto Internacional dos deverão ser objeto da atenção dos Estados, os
Direitos Sociais, Econômicos 1966 quais deverão progressivamente assegurar seu
e Culturais gozo, por esforços próprios ou pela cooperação
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internacional, com o auxílio de todos os meios


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apropriados nos planos econômico e técnico e até


o máximo de seus recursos disponíveis (art. 2, 1).
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Importante Lacuna: não foi criado um Comitê


específico para monitorar o cumprimento do
PIDESC pelos Estados, como ocorreu no PIDCP.

Tratado que veio contribuir para a efetivação dos


direitos econômicos, sociais e culturais, ao
combinar o sistema de petições, o procedimento de
investigação e as medidas provisionais
(cautelares), reafirmando, assim, a exigibilidade e
Protocolo Facultativo ao a justiciabilidade de tais direitos e os equiparando,
Pacto Internacional dos finalmente, ao regime jurídico internacional dos
2008
Direitos Sociais, Econômicos direitos civis e políticos. O seu art. 1º prevê a
e Culturais competência do Comitê de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais para receber petições
individuais ou no interesse de indivíduos e grupos
de indivíduos, que noticiem violação de direitos
econômicos, sociais e culturais realizadas pelo
Estado Parte.

Tratado celebrado logo após a 2ª Guerra Mundial


que denota a preocupação da comunidade
internacional em evitar a repetição de
determinados atos de violência ocorridos durante
o conflito, que foram dirigidos especificamente a
Convenção para a Prevenção
certos grupos nacionais, raciais e religiosos. A
e a Repressão do Crime de 1948 Convenção parte da percepção de que o genocídio
Genocídio é algo “odioso”, que causou grandes perdas para a
humanidade no decorrer da história, e cujo
enfrentamento requer a cooperação internacional.
Genocídio como crime de jus cogens. Foi o primeiro
tratado a definir o crime (art. 2º).

Tratado internacional que tem como objetivo


precípuo a proteção dos refugiados ao redor do
globo. Inicialmente, a Convenção possuía uma
Convenção Relativa ao limitação temporal (para acontecimentos ocorridos
1951
Estatuto dos Refugiados antes de 1º de janeiro de 1951) e outra geográfica
(somente para os eventos ocorridos na Europa)
para a definição de refugiado, que foram abolidas
posteriormente por um Protocolo adicional.

Tratado que eliminou as limitações (temporal e


geográfica) trazidas pela Convenção de 1951.
Combinando-se o art. 1º do Protocolo com o art.
1º da Convenção, refugiado é a “pessoa que é
Protocolo de 1967 Relativo ao perseguida ou tem fundado temor de perseguição;
1967
Estatuto dos Refugiados por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo
social ou opiniões políticas e encontra-se fora do
país de sua nacionalidade ou residência; e que não
pode ou não quer voltar a tal país em virtude da
perseguição ou fundado temor de perseguição”.

Estabelecem os padrões internacionais mínimos


para o tratamento de reclusos. Foram adotadas
Regras Mínimas das Nações pelo I Congresso das Nações Unidas para a
Unidas para o Tratamento de 1955 Prevenção do Crime e para o Tratamento de
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Presos (Regras de Mandela) Delinquentes, em 1955, aprovadas pelo Conselho


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Econômico e Social em 1957 e 1977. Em maio de


2015, foram atualizadas pela Comissão das
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Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Justiça


Criminal, tendo tais atualizações sido aprovadas,
à unanimidade, pela Assembleia Geral da ONU em
dezembro de 2015. Foi aprovada, pela Assembleia
Geral da ONU, a denominação honorífica da
Resolução como “Regras Nelson Mandela”, em
homenagem a quem passou 27 anos de sua vida
preso, na luta pelos direitos humanos, igualdade,
democracia e promoção da cultura da paz. Estas
regras possuem natureza de soft law (conjunto de
normas não vinculantes de Direito Internacional)
e espelham diversos direitos dos presos, previstos
em tratados, como, por exemplo, o direito à
integridade física e psíquica, igualdade, liberdade
de religião, direito à saúde, entre outros. A
aplicação dessas regras deve ser feita de forma
imparcial, sem qualquer tipo de discriminação
(com base em raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou outra, origem nacional ou
social, meios de fortuna, nascimento ou outra
condição). Entretanto, as crenças religiosas e os
preceitos morais do grupo a que pertença o recluso
devem ser respeitados. Devem ser respeitados os
demais direitos fundamentais do preso não
afetados pela restrição de sua liberdade.

O tratado sucedeu a Convenção sobre Escravatura


de 1926, emendada pelo Protocolo de 1953, com o
Convenção Suplementar intuito de intensificar os esforços para abolir a
sobre Abolição da escravidão, o tráfico de escravos e as instituições
e práticas análogas à escravidão. Veio em resposta
Escravatura, do Tráfico de
1956 a um problema persistente em todo o mundo
Escravos e das Instituições e ainda hoje: as práticas análogas à escravidão,
Práticas Análogas à também denominadas “escravidão
Escravatura contemporânea”, já que episódios de redução a
condição análoga de escravo ainda ocorrem no
mundo, inclusive no Brasil.

Tratado que tem como finalidade promover e


encorajar o respeito universal e efetivo pelos
direitos humanos, sem qualquer tipo de
discriminação, em especial a liberdade e a
igualdade em direitos, tendo em vista que a
discriminação entre seres humanos constitui
ameaça à paz e à segurança entre os povos. O
Convenção Internacional combate à discriminação racial parte dos
princípios da universalidade, da igualdade e da
sobre a Eliminação de todas
1966 não discriminação, que levam à premissa de que
as Formas de Discriminação todos os indivíduos possuem uma dignidade que
Racial lhes é inerente e que não pode ser afetada por
qualquer motivo, inclusive de raça. A Convenção
fundamenta-se também no entendimento de que
qualquer doutrina de superioridade baseada em
diferenças raciais é cientificamente falsa,
moralmente condenável, socialmente injusta e
perigosa, e que não existe justificativa para a
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discriminação racial, teórica ou prática.


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Tendo em vista a persistente manutenção das


discriminações contra a mulher ao redor do
mundo, esse tratado visa a contribuir para
Convenção sobre a conferir maior peso político e jurídico à proteção
da dignidade da mulher, cuja situação na maioria
Eliminação de Todas as
1979 das sociedades do mundo, no decorrer da história
Formas de Discriminação e na atualidade, nem sempre tem sido marcada
contra a Mulher (CEDAW) pelo gozo de direitos em patamar de igualdade com
os homens. Além disso, a Convenção visa a tutelar
certas peculiaridades da condição da mulher,
como a maternidade.

O tratado teve por objetivo aperfeiçoar o sistema


de monitoramento da CEDAW, assegurando o
direito de petição quanto às violações dos direitos
nela garantidos. Por meio dele o Estado reconhece
Protocolo Facultativo à a competência do Comitê sobre a Eliminação da
Discriminação contra a Mulher para receber e
Convenção sobre a
considerar comunicações apresentadas por
Eliminação de Todas as 1999 indivíduos ou grupo de indivíduos – ou em nome
Formas de Discriminação deles, se contarem com seu consentimento ou se
contra a Mulher for justificada a ação independente do
consentimento – que se encontrem sob sua
jurisdição e que sejam vítimas de violações de
quaisquer dos direitos estabelecidos na
Convenção (arts. 1º e 2º).

A conclusão de um tratado específico quanto ao


tema demonstra a preocupação da sociedade
internacional com a tortura, fato recorrente na
Convenção contra a Tortura história da humanidade, que atinge diretamente a
e Outros Tratamentos ou vida e à integridade física e mental da pessoa e que
1984
Penas Cruéis, Desumanos ou é promovido pelo ente que tem como compromisso
Degradantes primário proteger a dignidade humana: o Estado.
A Convenção dispõe expressamente que ninguém
será sujeito à tortura ou a pena ou tratamento cruel,
desumano ou degradante.

Adotadas pela Assembleia Geral das Nações


Unidas na sua Resolução 40/33, de 29 de
novembro de 1985, estas regras, que são normas
soft law, têm como objetivo instar os Estados
Membros a procurar, em consonância com seus
respectivos interesses gerais, promover o bem-
estar da criança e do adolescente e de sua família,
Regras Mínimas da ONU bem como a se esforçar para criar condições que
para Administração da garantam à criança e ao adolescente uma vida
Justiça da Infância e 1985 significativa na comunidade, fomentando, durante
Juventude (Regras de o período de idade em que ele é mais vulnerável a
um comportamento desviado, um processo de
Beijing)
desenvolvimento pessoal e de educação o mais
isento possível do crime e da delinquência. Deverá
ser concedida a devida atenção à adoção de
medidas concretas que permitam a mobilização de
todos os recursos disponíveis, com a inclusão da
família, de voluntários e outros grupos da
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comunidade, bem como da escola e de demais


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instituições comunitárias, com o fim de promover


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o bem-estar da criança e do adolescente, reduzir a


necessidade da intervenção legal e tratar de modo
efetivo, equitativo e humano a situação de conflito
com a lei.

Protocolo Facultativo à Tratado que teve por objetivo estabelecer um


sistema de visitas regulares de órgãos nacionais e
Convenção contra a Tortura
internacionais independentes a lugares onde as
e Outros Tratamentos ou 2002 pessoas são privadas de liberdade, com o intuito
Penas Cruéis, Desumanos ou de prevenir a tortura e outros tratamentos ou
Degradantes penas cruéis, desumanos ou degradantes (art. 1º).

A incompatibilidade entre a proibição da tortura e


sua subsistência no cenário contemporâneo
evidencia a necessidade constante de
implementação de medidas eficazes contra
tratamentos desumanos por parte dos Estados.
Por este motivo, foi apresentado ao Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos, em 1999, um manual para a
investigação e documentação eficazes da tortura e
Protocolo de Istambul 1999
outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes, que foi denominado Protocolo de
Istambul. Em 2003, o documento foi oficialmente
adotado pelo Alto Comissariado, como manual
modelo na área, bem como tem sido sua utilização
recomendada no âmbito do Conselho de Direitos
Humanos (relatoria especial contra a tortura, por
exemplo). Juridicamente o Protocolo não é
vinculante, por ser norma soft law.

Tratado voltado especificamente para a proteção


dos direitos humanos das crianças. A Convenção
leva em conta o direito de que as pessoas na
infância recebam cuidados e assistência especiais,
em virtude da falta de maturidade física e mental,
conforme reconheceu a DUDH, bem como a
Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos
Convenção sobre os Direitos
1989 da Criança, a Declaração dos Direitos da Criança
da Criança adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de
novembro de 1959 e PIDCP e PIDSEC. Embora
outros diplomas internacionais também confiram
proteção às crianças, a Convenção sistematizou
não só direitos civis e políticos, mas também
econômicos, sociais e culturais em um só texto,
voltado especificamente para a sua proteção.

Tratado adotado com a finalidade de ampliar


medidas previstas na Convenção, com a finalidade
Protocolo Facultativo à
de garantir a proteção das crianças (grupo
Convenção sobre os Direitos particularmente vulnerável e mais exposto ao risco
da Criança referente à venda de exploração sexual) contra a venda de crianças,
2000
de crianças, à prostituição a prostituição infantil e a pornografia infantil, ante
infantil e à pornografia a preocupação com o significativo e crescente
infantil tráfico internacional de crianças para tais fins,
com a prática disseminada do turismo sexual e
7

com a crescente disponibilidade de pornografia


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infantil na internet e em outras tecnologias


modernas.

Tratado firmado com o objetivo de aumentar a


idade para o possível recrutamento (forçado ou
voluntário) de pessoas pelas forças armadas,
reconhecendo-se as necessidades especiais das
crianças particularmente vulneráveis ao
recrutamento ou utilização em hostilidades, em
decorrência de sua situação econômica, social ou
O Protocolo Facultativo à de sexo. Leva em consideração as causas
econômicas, sociais e políticas que levam ao
Convenção Sobre os Direitos
envolvimento de crianças em conflitos armados.
da Criança Relativo ao 2000
Enuncia que os Estados Partes deverão adotar
Envolvimento de Crianças todas as medidas possíveis para assegurar que
em Conflitos Armados membros de suas forças armadas menores de 18
anos não participem diretamente de hostilidades e
deverão assegurar que menores de 18 anos não
serão recrutados de maneira compulsória em suas
forças armadas (arts. 1º e 2º). Devem ainda elevar
a idade mínima para o recrutamento voluntário de
pessoas em suas forças armadas nacionais acima
de 15 anos (art. 3º).

Adotadas pela Assembleia Geral da ONU por meio


da Resolução 45/113, de 14 de dezembro de 1990,
estas regras, de caráter soft law, têm como
objetivo fixar os padrões internacionais mínimos
para o tratamento de jovens privados de sua
liberdade. Afirmam que a reclusão de um jovem
Regras Mínimas da ONU
em um estabelecimento deve ser feita apenas em
para Proteção dos Jovens 1990 último caso e pelo menor espaço de tempo
Privados de Liberdade necessário; e também se reconhece que, devido a
sua grande vulnerabilidade, os jovens privados de
liberdade requerem e proteção especiais e que
deverão ser garantidos seus direitos e bem-estar
durante o período em que estejam privados de sua
liberdade e também após este.

Adotado pela Resolução 45/112, de 14 de


Diretrizes das Nações Unidas dezembro de 1990, este documento, também de
caráter soft law, fixa princípios orientadores para
para a Prevenção da
1990 a atuação dos Estados, auxiliando-os no
Delinquência Juvenil desenvolvimento de abordagens e estratégias
(Diretrizes de Riade) nacionais, regionais e internacionais para a
prevenção da delinquência juvenil.

Este tratado foi elaborado tendo em vista uma


série de diplomas internacionais já existentes
sobre os direitos dos trabalhadores migrantes,
Convenção Internacional bem como considerando a amplitude do fenômeno
sobre a Proteção dos Direitos da migração, nessa era de globalização. Seu
de Todos os Trabalhadores 1990 objetivo fundamental foi estabelecer normas para
Migrantes e dos Membros uniformizar princípios fundamentais relativos ao
tratamento dos trabalhadores migrantes e de suas
das suas Famílias
famílias, por meio de uma proteção internacional
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adequada, especialmente tendo em vista sua


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situação de vulnerabilidade e seu afastamento do


Estado de origem. A elaboração do tratado
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considerou ainda os problemas das migrações


irregulares, em que os trabalhadores são
frequentemente empregados em condições de
trabalho menos favoráveis que outros, o que leva
a que se procure tal mão de obra a fim de se
beneficiar da concorrência desleal. Assim, seu
texto considerou a necessidade de encorajar a
adoção de medidas adequadas para prevenir e
eliminar os movimentos clandestinos e o tráfico
dos trabalhadores migrantes, assegurando, ao
mesmo tempo, a proteção dos direitos
fundamentais desses trabalhadores.

A Declaração e Programa de Ação de Viena foi


firmada em 1993, por ocasião da Conferência
Mundial sobre Direitos Humanos. O objetivo da
Declaração é o de reafirmar, no contexto
internacional pós-Guerra Fria e de
aprofundamento da globalização, os princípios
relativos à proteção da dignidade humana e
Declaração e Programa de
1993 atualizá-los ao novo quadro internacional.
Ação de Viena Tecnicamente, a Declaração de Viena não é um
tratado, consistindo apenas em documento de
caráter político. Entretanto, seus dispositivos já
fazem parte de tratados e de normas internas dos
Estados e, desse modo, são vistos, por boa parte
da doutrina, como normas costumeiras ou
princípios gerais do Direito.

Protocolo de Prevenção, Este tratado é complementar à Convenção das


Supressão e Punição do Nações Unidas contra o Crime Organizado
Tráfico de Pessoas, Transnacional, de 2000. Sua finalidade está
pautada na prevenção e no combate ao tráfico de
especialmente Mulheres e
2000 pessoas, que requer atuação conjunta dos países
Crianças, complementar à de origem, trânsito e destino, com medidas
Convenção das Nações destinadas a prevenir o tráfico, punir os
Unidas contra o Crime traficantes e proteger suas vítimas, nos termos de
Organizado Transnacional seu preâmbulo.

Este tratado ressalta a necessidade de prevenir o


desaparecimento forçado de pessoas e de
combater a impunidade nesses casos, afirmando
o direito à verdade das vítimas sobre as
circunstâncias do desaparecimento forçado e o
destino da pessoa desaparecida, bem como o
Convenção Internacional direito à liberdade de buscar, receber e difundir
para a Proteção de Todas as informação com este fim. Foi adotada após a
2006
Pessoas contra o adoção da Declaração sobre a Proteção de Todas
Desaparecimento Forçado as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados
pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(Resolução n. 47/133), de 1992, tendo em vista a
gravidade do desaparecimento forçado, que
constitui crime e, em certas circunstâncias
definidas pelo Direito Internacional, crime contra
a humanidade.
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A Convenção visa a promover, a proteger e a


assegurar o exercício pleno e equitativo dos
direitos humanos por todas as pessoas com
deficiência e a fomentar o respeito pela dignidade
que lhes é inerente (art. 1°), tratando-as em
condições de igualdade em face dos demais
Convenção Internacional
integrantes do gênero humano e contribuindo,
sobre os Direitos das Pessoas 2007 desse modo, “para corrigir as profundas
com Deficiência desvantagens sociais” com que convivem e para
permitir sua maior participação na vida social. Foi
o primeiro tratado aprovado pelo Brasil na
forma do § 3º, do art. 5º, da CRFB, tendo,
portanto, equivalência de emenda
constitucional na ordem jurídica brasileira.

Por meio deste Protocolo, os Estados reconhecem


a competência do Comitê sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência para receber e considerar
Protocolo Facultativo à comunicações submetidas por pessoas ou grupos
Convenção Internacional de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua
2007
sobre os Direitos das Pessoas jurisdição, alegando serem vítimas de violação das
com Deficiência disposições da Convenção pelo referido Estado
Parte. O Comitê tem competência para o exame
dos relatórios periódicos e para o exame de
petições das vítimas.

Trata-se de um conjunto de normas de soft law,


Regras das Nações Unidas não possuindo força vinculante aos Estados.
para o Tratamento de Porém, serve como importante vetor de
interpretação do alcance de normas nacionais e
Mulheres Presas e Medidas
2010 internacionais sobre direitos humanos que podem
não Privativas de Liberdade incidir sobre as mulheres presas, como, por
para Mulheres Infratoras exemplo, o direito à integridade pessoal, devido
(Regras de Bangkok) processo legal, entre outras, bem como para
orientar a produção normativa posterior.

Vale aqui ressaltar o Tratado de Marraquexe para Facilitar o Acesso a


Obras Publicadas para Pessoas Cegas, adotado em 2013 pela conferência
diplomática da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Este
tratado tem como objetivo possibilitar às pessoas cegas, com deficiência visual
ou com outras dificuldades de leitura, o acesso ao conteúdo de livros
originalmente impressos, principalmente “a criação de instrumentos normativos
e administrativos internos voltados a assegurar o acesso facilitado à reprodução
e distribuição de obras em formato acessível aos cegos e deficientes visuais,
superando limitações (por exemplo, direitos autorais). Visa, assim, eliminar a
escassez crônica de publicação de obras em formatos acessíveis a pessoas com
deficiência visual, democratizando o acesso à cultura, educação, bem como ao
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desenvolvimento pessoal e ao trabalho em igualdade de oportunidades”.2 Trata-


se de mais um tratado aprovado pelo Brasil de acordo com o § 3º, do art.
5º, da CRFB, tendo, portanto, equivalência de emenda constitucional no
ordenamento jurídico brasileiro.
Além da proteção de caráter normativo, que se dá por meio de todos os
tratados internacionais (e por textos de outra natureza, v.g., declarações,
diretrizes, regras etc.) acima elencados, o sistema global conta ainda com órgãos
e mecanismos internacionais de monitoramento dos direitos humanos, que
serão os responsáveis pela aplicação e efetivação das normas internacionais.
A ONU possui órgãos próprios e também relações de apoio administrativo
e técnico com vários órgãos criados pelos diversos tratados que são elaborados
sob seu patrocínio, voltados à proteção dos direitos humanos. Esse conjunto de
mecanismos de proteção geridos tanto por órgãos onusianos quanto por órgãos
previstos em tratados diversos apoiados pela ONU também integra o denominado
“sistema global, internacional, onusiano ou universal de direitos humanos”. O
ponto que une esses órgãos é a atuação da ONU, quer (i) diretamente (órgãos da
própria organização) ou (ii) indiretamente (órgãos independentes, previstos em
tratados elaborados sob seu patrocínio e que recebem apoio técnico e
administrativo da Organização).
São órgãos das Nações Unidas voltados à proteção dos direitos humanos:
• o Conselho de Direitos Humanos – criado em 2006, por meio da
Resolução n. 60/251 da Assembleia Geral da ONU, o Conselho
substituiu a antiga Comissão de Direitos Humanos (1946-2006), que
havia sido criada pelo Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC).
Sua principal função é promover o respeito universal aos direitos
humanos por meio do acompanhamento do cumprimento dos
compromissos internacionais celebrados pelos entes estatais na
matéria. É composto por 47 Estados-membros, escolhidos por votação
secreta da Assembleia Geral da ONU, para um mandato de 3 (três)
11

anos. Tem competência para (i) promover e fiscalizar a observância da


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proteção de direitos humanos pelos Estados da ONU e (ii) atualmente,

2RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, e-
book.
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gere o sistema dos procedimentos especiais e o Mecanismo da Revisão


Periódica Universal (RPU);

Procedimentos Especiais – Paulo H. G. Portela explica que os


procedimentos especiais são aqueles previstos nas Resoluções n. 1235, de
1967 (procedimento público), e n. 1503, de 1970 (procedimento confidencial), do
Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC). “São objeto de um
mandato conferido a um especialista, chamado de ‘relator especial’ (special
rapporteur), ou a um grupo de trabalho, competentes para examinar
transgressões das normas de direitos humanos e para elaborar estudos e
relatórios e emitir recomendações a respeito, podendo receber reclamações
individuais, prestar assessoria aos interessados e formular e executar
iniciativas dirigidas à promoção dos direitos humanos. Os procedimentos
especiais podem incluir visitas aos Estados. Tais missões dependem, porém,
de que os entes estatais a serem visitados tenham, previamente, declarado sua
anuência em receber tais missões, por meio dos chamados ‘convites
permanentes’ (standing invitations), os quais, quando apresentados, implicam
que os Estados deverão sempre aceitar pedidos de visitas em sede de
procedimentos especiais”.3
Revisão Periódica Universal (RPU) – Um dos mais importantes
instrumentos de ação do Conselho de Direitos Humanos é o do RPU. A
essência desse mecanismo é o peer review (monitoramento pelos pares), pelo
qual um Estado tem a sua situação de direitos humanos analisada pelos
demais Estados da ONU. Conforme explica André de Carvalho Ramos, o
“RPU prevê que todos os Estados da ONU serão avaliados em períodos de
quatro a cinco anos, evitando-se a seletividade e os parâmetros dúbios da escolha
de um determinado país e não outro”.4 O procedimento do RPU foi
estabelecido pela Resolução n. 5/1 do Conselho de Direitos Humanos, de 18
de junho de 2007. Quanto à composição, são os Estados-membros do
Conselho de Direitos Humanos avaliam o Estado. Todos os Estados da
ONU devem passar pela RPU a cada quatro anos. Quanto à competência, o
RPU visa estabelecer um “diálogo construtivo” com o Estado examinado, de
modo que os compromissos são voluntários e não podem ser impostos ao
Estado sob revisão. Portanto, não há nesse procedimento qualquer condenação
formal dos Estados como haveria, v.g., perante os tribunais internacionais de
direitos humanos. No caso do peer review o cumprimento das recomendações
12

é totalmente voluntário, dependendo a sua efetividade da boa vontade (e,


sobretudo, da ética) dos Estados.5
Página

3 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Incluindo Noções
de Direitos Humanos e de Direito Comunitário. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 916.
4 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.
5 Vide página da RPU relativa ao Brasil no sítio da ONU: <https://goo.gl/j21jVZ>. Acesso em 04

out. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

• os Relatores Especiais de Direitos Humanos – a partir da criação dos


procedimentos especiais pelas Resoluções n. 1235 (procedimento
público) e n. 1503 (procedimento confidencial)6 do ECOSOC,
especialmente em razão do primeiro surgiu a necessidade de nomeação
de órgãos de averiguação de violações de direitos humanos, cuja
abrangência pode ser geográfica (por país) ou temática. Tais órgãos
podem ser unipessoais ou coletivos e a denominação é variada, isto é,
nos casos unipessoais, há o uso da expressão “Relator Especial” ou
ainda “Especialista Independente”; no caso dos órgãos colegiados,
utiliza-se a expressão “Grupo de Trabalho”. Conforme explica André de
Carvalho Ramos, o trabalho desses órgãos “consiste em realizar visitas
aos países, em missões de coleta de dados (fact-finding missions), bem
como em agir diante de violações de direitos humanos solicitando (não
podem exigir) atenção do Estado infrator sobre os casos. Seus relatórios
não vinculam, apenas contêm recomendações, que são enviadas aos
Estados e também ao Conselho de Direitos Humanos e Assembleia
Geral da ONU”.7
• o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos
(OHCHR) – é o principal órgão da ONU encarregado de promover e
proteger os direitos humanos. Foi criado pela Resolução 48/141 da
Assembleia Geral da ONU, de 1993, a partir de recomendação da
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena, ocorrida no
mesmo ano. Conforme explica Paulo H. G. Portela a “função precípua
do OHCHR é promover e proteger os direitos humanos no mundo e
liderar os esforços das Nações Unidas nesse sentido, conferindo
também maior relevância política ao tratamento do tema (...) inclui,
entre suas competências específicas, o apoio aos demais órgãos da ONU
envolvidos com a matéria, abrangendo a coordenação das atividades
que desenvolvem e o esforço para que todas as áreas das Nações Unidas
13
Página

6 O procedimento confidencial tem alcance diminuto, pois visa apenas detectar quadro de
violação grave e sistemática de direitos humanos em um país.
7 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

incluam considerações relativas à proteção da dignidade humana no


tratamento dos temas de sua competência”.8
São órgãos e entes externos, criados por tratados diversos elaborados com
incentivo explícito da ONU e que recebem apoio da Organização:
• os Comitês criados por tratados internacionais de âmbito universal
– têm como principal atribuição monitorar o cumprimento das
obrigações que os Estados assumiram dentro do sistema global ao
aderirem ou ratificarem determinado tratado. Estão voltados, portanto,
a assegurar a observância das normas convencionais (seja de um único
tratado ou de uma restrita série de acordos específicos);

COMITÊS QUE INTEGRAM A ARQUITETURA DE PROTEÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

Nome do Comitê Tratado determinante da criação

Pacto Internacional dos Direitos Civis e


Comitê de Direitos Humanos
Políticos

Protocolo Facultativo ao Pacto


Comitê de Direitos Sociais, Econômicos e
Internacional dos Direitos Econômicos,
Culturais
Sociais e Culturais

Comitê para a Eliminação da Convenção sobre a Eliminação de Todas


Discriminação Racial as Formas de Discriminação Racial

Convenção sobre a Eliminação de Todas


Comitê sobre a Eliminação da
as Formas de Discriminação contra a
Discriminação contra a Mulher
Mulher (CEDAW)

Convenção contra a Tortura e outros


Comitê contra a Tortura Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes

Comitê para os Direitos da Criança Convenção sobre os Direitos da Criança

Comitê sobre os Direitos das Pessoas Convenção Internacional sobre os


com Deficiência Direitos das Pessoas com Deficiência

Convenção Internacional para a Proteção


Comitê contra Desaparecimentos
de Todas as Pessoas contra o
Forçados
Desaparecimento Forçado
14
Página

8 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 914.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

O Comitê de Direitos Humanos é um órgão da ONU, composto por 18


peritos independentes, cuja criação e funcionamento foram regulados pelo
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – PIDCP (arts. 28 a 39).9
O primeiro Protocolo ao referido Pacto instituiu um mecanismo de
análise de petições de vítimas ao Comitê, por violações a direitos civis
e políticos previstos no PIDCP. Estes dois tratados, PIDCP e Protocolo são
normas de caráter supralegal no ordenamento jurídico brasileiro, de
acordo com o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal.
Em 17 de agosto de 2018, o Comitê proferiu uma decisão (medida
provisória ou interim measures) contra o Estado brasileiro, envolvendo o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o Comitê, o Brasil estaria
violando direitos civis e políticos previstos no PIDCP (precisamente o art.
25), razão pela qual “solicitou” ao país a adoção de medidas provisórias
aptas a fazer cessar a violação de tais direitos e possibilitar que Lula
concorresse “nas eleições de 2018” até a existência de uma sentença
irrecorrível (o que até o presente momento não há) e com “acesso
adequado à imprensa e aos membros do seu partido político”. Em outra
decisão subsequente, proferida em 10 de setembro de 2018, o Comitê
reafirmou que o Judiciário, Executivo e Legislativo brasileiros têm que
cumprir a sua decisão e permitir candidatura de Lula.
A questão foi muito debatida no Brasil. Em relação a tais decisões, há
basicamente dois posicionamentos divergentes. Alguns alegam que as
decisões do Comitê são obrigatórias e vinculantes para o Brasil, sob o
argumento de que: (i) as decisões do Comitê são de um órgão internacional
ao qual o Brasil reconheceu a competência para fiscalizar o cumprimento
e eventuais violações dos direitos previstos no PIDCP; (ii) o Brasil aderiu
internacionalmente ao Protocolo ao depositar a carta de adesão. Por outro
lado, outros alegam que tais decisões seriam apenas uma recomendação
e por isso não poderiam vincular juridicamente o Estado brasileiro,
argumentando que: (i) as recomendações são de cunho político e não têm
força vinculante para o país; (ii) a não existência de um decreto
presidencial internalizando o Protocolo, de modo que ele ainda não integra
a ordem jurídica brasileira.
É preciso ressaltar que o Congresso Nacional brasileiro aprovou o referido
Protocolo ao PIDCP por meio do Decreto Legislativo n. 311, de 17 de junho
de 2009, ratificando-o em 25 ele setembro ele 2009. No entanto, até o
presente momento o Brasil ainda não internalizou o referido tratado por
meio de um decreto presidencial que, de acordo com o entendimento do
STF, é o instrumento necessário para a vigência dos tratados
internacionais no plano interno brasileiro. No entanto, com a ratificação
do tratado internacional, o Brasil já se torna obrigado internacionalmente
ao seu cumprimento, sob pena de responsabilização internacional.
15
Página

9 O Brasil depositou a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
junto à ONU em 24 de janeiro de 1992. Posteriormente, o país internalizou o referido tratado por
meio do Decreto Presidencial n. 592, de 06 de julho de 1992, momento em que passou a integrar
a ordem jurídica brasileira com força de norma supralegal.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

• o Tribunal Penal Internacional (TPI) – criado pelo Estatuto de Roma


de 1998, o TPI visa, precipuamente, a processar e a julgar indivíduos
que tenham cometido “crimes internacionais”', assim entendidos
aqueles atos ilícitos, tipificados no Estatuto, que se revestem de maior
gravidade, que tenham alcance internacional e que incluem atos
atentatórios aos direitos humanos, como os crimes de genocídio e de
guerra e os crimes contra a humanidade. No entanto, conforme
esclarece Paulo H. G. Portela, “o TPI ainda não está aberto a examinar
todas as causas envolvendo direitos humanos, mas apenas aquelas de
maior gravidade e de alcance internacional (...). Outrossim, o TPI não é
proclamado especificamente como cone internacional de direitos
humanos, nem pela doutrina nem por seus próprios instrumentos
constitutivos”.10
Além destes órgãos que foram analisados, importa ainda mencionar o
Conselho Econômico e Social (ECOSOC), criado pela Carta das Nações Unidas
(Capítulo X, arts. 61 a 72) como órgão ONU responsável por coordenar assuntos
internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, de saúde e
conexos. Trata-se do foro central para discussão desses temas e de formulação
de recomendações aos Estados e ao sistema das Nações Unidas. É composto por
54 Estados das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral e cada membro tem
um voto. As decisões são tomadas por maioria dos membros presentes e
votantes.
16
Página

10 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 935.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

2. OS SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Além do sistema onusiano de proteção dos direitos humanos, de


abrangência global, conforme visto, existem também os sistemas regionais de
proteção desses direitos, que se encontram afetos a regiões distintas do globo e
arquitetados junto a organizações internacionais específicas. Atualmente
existem 3 (três) sistemas que se encontram estruturados em diferentes
continentes:
1) o Sistema Europeu de Proteção dos Direitos Humanos – arquitetado no
âmbito da União Europeia (UE), pelo Conselho da Europa (CE);
2) o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos –
arquitetado no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA);
3) o Sistema Africano de Proteção dos Direitos Humanos – arquitetado no
âmbito da União Africana (UA).
Apesar da existência de alguns documentos voltados à proteção dos
direitos humanos no plano regional árabe-islâmico, não é possível afirmar-se na
atualidade a existência de um Sistema Árabe-Islâmico de Proteção dos Direitos
Humanos, o que ainda é uma grande aspiração. Nesse contexto é possível
destacar a existência dos seguintes documentos: (i) a Declaração Universal
Islâmica de Direitos Humanos, de 1981; a Declaração dos Direitos Humanos do
Cairo ou Declaração dos Direitos Humanos do Islam, adotada em 1990 pela
Organização para a Cooperação Islâmica (OCI); e (iii) a Carta Árabe dos Direitos
do Homem, adotada pelo Conselho da Liga dos Estados Árabes, em 1994 e
atualizada em 2004. Vale destacar que os direitos humanos para os povos árabes
se apresentam como um poder derivado de um poder divino, o que acaba por
produzir situações complexas para determinados segmentos sociais, v.g., para
as mulheres.11
Por sua vez, no continente asiático não existe até o presente momento
qualquer documento relevante sobre a proteção dos direitos humanos e sequer
17

uma expectativa de conclusão de uma convenção regional ou sub-regional de


Página

direitos humanos.

11GUERRA, Sidney. Direito Internacional dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2011, p.
164.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Por fim, vale esclarecer que os sistemas internacionais (global e regionais)


de proteção dos direitos humanos não são estanques, separados ou distantes
um dos outros. Conforme ressalta Valerio Mazzuoli, “pelo contrário, o sistema
global e os sistemas regionais são coadjuvantes e complementares. Isso significa
que a falta de solução para um caso concreto no sistema interamericano (ou no
sistema europeu, ou africano) de direitos humanos não impede a vítima de se
dirigir às Nações Unidas para vindicar o mesmo direito, previsto num tratado
pertencente ao sistema global (v.g., o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos de 1966)”.12
Verifica-se então que os sistemas regionalizados de proteção dos direitos
humanos são organizados paralelamente ao sistema de proteção global da ONU,
sendo que a finalidade do sistema global é atuar de forma ampla em todos os
Estados soberanos, tendo os sistemas regionais uma atuação complementar
àquele, buscando-se aperfeiçoar e fortalecer as determinações dos moldes gerais,
bem como tratar das especificidades relativas aos direitos humanos em cada
âmbito regional.
Rhona K. M. Smith, ao apontar algumas vantagens dos sistemas regionais,
destaca que, “na medida em que um número menor de Estados está envolvido,
o consenso político se torna mais facilitado, seja com relação aos textos
convencionais, seja quanto aos mecanismos de monitoramento. Muitas regiões
são ainda relativamente homogêneas, com respeito à cultura, à língua e às
tradições, o que oferece vantagens”.13
Atualmente, portanto, está consolidada a convivência entre o sistema
global de proteção dos direitos humanos (integrado pelos instrumentos das
Nações Unidas acima analisados) e os sistemas regionais de proteção desses
direitos (europeu, interamericano e africano), cada um apresentando um aparato
jurídico próprio.
Na sequência será estudado o sistema interamericano de proteção dos
18

direitos humanos, por ser aquele do qual o Brasil faz parte.


Página

12 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Os Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos. Uma
análise comparativa dos sistemas interamericano, europeu e africano. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011, p. 16.
13 SMITH, Rhona K. M. Textbook on International Human Rights. 6. ed. Oxford: Oxford University

Press, 2014, p. 87.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

2.1 O SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

2.3.1 Aspectos introdutórios

O sistema interamericano de direitos humanos (SIDH) está constituído no


âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA)14, uma organização
internacional intergovernamental, criada por um ato internacional, isto é, por um
tratado, especificamente pela Carta da Organização dos Estados Americanos (ou
Carta da OEA)15, aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana,
realizada em Bogotá, em 1948.
Pode-se afirmar que o sistema interamericano de direitos humanos foi
“inaugurado” formalmente pela Carta da OEA, que destacou em seu preâmbulo
a necessidade de contemplar um sistema capaz de garantir o respeito aos direitos
humanos no continente americano.16 Mais tarde previu o seu atual art. 53 que
a OEA realiza os seus fins por intermédio de alguns órgãos específicos, dentre
eles a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Comissão IDH).
19
Página

14 A OEA é também uma organização regional, de acordo com o art. 52 (1) da Carta das Nações
Unidas: “Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais,
destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais
que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e
suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas”.
15 O texto da Carta está disponível em: <https://goo.gl/EQKcFN>. Acesso em 25 abr. 2018. A

Carta foi posteriormente reformada pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos
Estados Americanos (“Protocolo de Buenos Aires”), assinado em 27 de fevereiro de 1967, na
Terceira Conferência Interamericana Extraordinária; pelo Protocolo de Reforma da Carta da
Organização dos Estados Americanos (“Protocolo de Cartagena das Índias”), assinado em 5 de
dezembro de 1985, no Décimo Quarto período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral;
pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados Americanos “Protocolo de
Washington”), assinado em 14 de dezembro de 1992, no Décimo Sexto período Extraordinário de
Sessões da Assembleia Geral; e pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados
Americanos (“Protocolo de Manágua”), assinado em 10 de junho de 1993, no Décimo Nono
Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da OEA.
16 “Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não pode

ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições
democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos
direitos essenciais do Homem”.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Artigo 53. A Organização dos Estados Americanos realiza os seus fins por
intermédio:
a) Da Assembleia Geral;
b) Da Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores;
c) Dos Conselhos;
d) Da Comissão Jurídica Interamericana;
e) Da Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
f) Da Secretaria-Geral;
g) Das Conferências Especializadas; e
h) Dos Organismos Especializados.
Poderão ser criados, além dos previstos na Carta e de acordo com suas disposições,
os órgãos subsidiários, organismos e outras entidades que forem julgados
necessários.

A existência de uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos para


a proteção dos direitos humanos no continente americano foi prevista, ainda que
não originariamente, pelo art. 106 da Carta da OEA17, que também previu que
um tratado internacional posterior (no caso, a CADH), estabeleceria a sua
estrutura, competência e normas de funcionamento:
Artigo 106. Haverá uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos que terá por
principal função promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e servir como
órgão consultivo da Organização em tal matéria.
Uma convenção interamericana sobre direitos humanos estabelecerá a estrutura, a
competência e as normas de funcionamento da referida Comissão, bem como as dos
outros órgãos encarregados de tal matéria.
20
Página

17 A Carta da OEA, em sua redação original, não contemplava nenhum órgão ou mecanismo
encarregado da promoção ou proteção dos direitos humanos, não havia nenhuma instância
encarregada de supervisionar a vigência destes direitos no continente. Originariamente a
Comissão IDH foi criada pela Resolução n. VIII, adotada durante a V Reunião de Consulta de
Ministros de Relações Exteriores, em 1959 e iniciou suas operações em 1960, quando o Conselho
da OEA aprovou seu Estatuto e elegeu os seus primeiros membros. “Em decorrência da criação
da Comissão não ter sido realizada por um instrumento convencional e nem sido contemplada
na estrutura institucional da OEA, mediante o Protocolo de Buenos Aires, em 1967, é que foi
corrigida tal situação jurídica precária com a revisão da Carta da OEA, incorporando a Comissão
IDH ao texto da Carta e designando-a como um órgão principal da Organização, que tem como
função essencial promover a observância e proteção dos direitos humanos e servir como órgão
consultivo da Organização, nestes assuntos” (FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de
Direitos Humanos e o Sistema Interamericano. Timburi, 2016, e-book).
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Em razão destas disposições da Carta da OEA se afirma que a Comissão


IDH é um órgão da OEA, embora ela também seja um órgão da Convenção
Americana Sobre Direitos Humanos (CADH), conforme dispôs a própria
Convenção, como se verá adiante.
Na mesma Conferência em que foi adotada a Carta, os Estados americanos
também adotaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
(1948)18, primeiro instrumento regional americano específico sobre direitos
humanos. Esta Declaração não foi adotada na forma de um tratado
internacional, de modo que não constitui um instrumento juridicamente
vinculante que resulta obrigatório para os Estados. No entanto, tem-se
sustentado que os direitos previstos nela têm a categoria de costume
internacional ou que enuncia princípios fundamentais reconhecidos pelos
Estados americanos.19
Anos mais tarde, em 1969 é adotada no âmbito da OEA a Convenção
Americana Sobre Direitos Humanos (CADH)20, o tratado regente e mais
importante de proteção dos direitos humanos no continente americano.
Portanto, atualmente o sistema de proteção internacional dos direitos
humanos no continente americano abarca os procedimentos contemplados na
Carta da Organização dos Estados Americanos e na Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem, bem como na Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos. Em razão disso se costuma afirmar que no âmbito americano existe
um duplo sistema de proteção dos direitos humanos:21
a) o sistema geral da Carta e da Declaração Americana; que abrange todos
os 35 países independentes e soberanos das Américas; e,
b) o sistema específico da CADH, que abarca apenas os Estados que são
partes na Convenção.
21
Página

18 Disponível em: <https://goo.gl/NgsnGz>. Acesso em 25 abr. 2018.


19 Corte IDH – Interpretação da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem no
âmbito do art. 64, da CADH, Opinião Consultiva OC - 10/89 de 14 de julho de 1989, parágrafos
11, 14 e 18.
20 Disponível em: <https://goo.gl/oGMsJh>. Acesso em 25 abr. 2018.
21 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar. 3. ed. São Paulo: 2015, p. 143.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

O “sistema americano é um sistema duplo com a presença de dois


subsistemas normativos em matéria de direitos humanos, que são resultados da
pluralidade de fontes jurídicas aplicáveis nessa matéria e do grau em que elas
resultam vinculantes para os Estados. O primeiro subsistema compreende
competências que possui a Organização de Estados Americanos com relação a
todos seus membros [em decorrência da Carta da OEA e da Declaração
Americana], o segundo somente é aplicável aos Estados Partes da Convenção e
documentos conexos [em decorrência da CADH”.22
A Carta da OEA é um documento mais abrangente no que tange ao número
de Estados a ela submetidos, porém menos protetivo, por contemplar apenas a
Comissão IDH como órgão voltado à proteção dos direitos humanos (art. 53). Já
a CADH se apresenta como um documento menos abrangente no que diz respeito
ao número de Estados a ela submetidos (só aqueles que a ratificaram ou a ela
aderiram posteriormente), porém mais protetivo, pois além de contemplar a
Comissão IDH como órgão de proteção dos direitos humanos, também instituiu
a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), que é o órgão
jurisdicional do sistema interamericano para a proteção dos direitos humanos,
a ela se submetendo todos os Estados que reconhecem a sua jurisdição (art.
33).23
Além da Carta da Organização dos Estados Americanos (1948), da
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948) e da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (1969), o SIDH conta ainda com diversos
outros tratados internacionais que compõem o corpus juris interamericano, que
pode ser sintetizado conforme quadro abaixo:
22
Página

22FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos, op. cit.


23 “Artigo 33. São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento
dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção: a) a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e b) a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte”.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

INTRUMENTOS NORMATIVOS DO SISTEMA INTERAMERICANO


Os instrumentos abaixo podem ser acessados na íntegra no site da Comissão IDH:
<https://goo.gl/5Ck4Ps>. Acesso em 15 mai. 2017.

Documentos institutivos da OEA e do Sistema Interamericano


1. Carta da Organização dos Estados Americanos (1948) (tratado);
2. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948);
Tratados internacionais de direitos humanos
3. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969);
4. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985);
5. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em
Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, “Protocolo de San
Salvador” (1988);
6. Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referente à
Abolição da Pena de Morte (1990);
7. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará” (1994);
8. Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas
(1994);
9. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999);
10. Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e
Formas Correlatas de Intolerância (2013);
11. Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e
Intolerância (2013);
12. Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das
Pessoas Idosas (2015);
Outros instrumentos relativos aos direitos humanos (soft law)
13. Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão (2000);
14. Carta Democrática Interamericana (2001);
15. Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas Privadas de
Liberdade nas Américas (2008);
16. Carta Social das Américas (2012);
17. Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2016);
23

Estatutos e Regulamentos dos órgãos do Sistema Interamericano


Página

18. Estatuto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos;


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

19. Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos;


20. Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o
Fundo de Assistência Jurídica do Sistema Interamericano de Direitos
Humanos;
21. Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos;
22. Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos;
23. Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o
Funcionamento do Fundo de Assistência Jurídica às Vítimas.

O Sistema Interamericano “apresenta-se como ferramenta de importância


inestimável para a garantia efetiva dos direitos humanos no continente
americano, pois através dos dois órgãos de proteção dos direitos humanos
previstos nos documentos internacionais americanos (Comissão e Corte
Interamericana) garante-se não só o acompanhamento da conduta dos Estados-
membros, mas também a possibilidade de julgar casos atentatórios aos direitos
humanos”.24

2.3.2. Os órgãos de proteção dos direitos humanos no Sistema


Interamericano

De acordo com o art. 33 da Convenção Americana sobre Direitos


Humanos, tem competência para realizar a proteção dos direitos humanos
previstos na CADH dois importantes órgãos: (i) a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Artigo 33. São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção:
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a
Comissão; e b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada
a Corte.
24
Página

24 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 151.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (COMISSÃO IDH)

A Comissão IDH25 é um órgão principal e autônomo da OEA, instituído


pela Carta da OEA, conforme visto. Mas também é um órgão de proteção dos
direitos humanos consagrado na Convenção, conforme estabelecido pelo art.
33 da CADH. Conforme se nota, a Comissão possui tratamento normativo em
dois tratados internacionais (Carta da OEA e a CADH). Ela tem, portanto, uma
natureza dúplice ou ambivalente, isto é, constitui um órgão da OEA e também
um órgão da CADH.
De acordo com Adriano Fernandes Ferreira, com relação aos Estados que
não ratificaram a CADH (mas que são membros da OEA), a Comissão IDH exerce
funções puramente políticas ou diplomáticas. Já com relação aos Estados
partes na Convenção, a Comissão também cumpre importantes funções de
natureza “semi-jurisdicional”.26
A Comissão IDH é um órgão criado pela Organização dos Estados
Americanos para “promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e
servir como órgão consultivo da Organização” sobre a matéria, conforme
estabelecido pelo art. 106 da Carta da OEA. Por determinação desse dispositivo
convencional previsto na Carta, a CADH dispôs sobre a organização, funções,
competência e procedimento da Comissão IDH em seus arts. 34 a 51.
O art. 39 da CADH estabeleceu que “a Comissão elaborará seu estatuto e
submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio
regulamento”. Portanto, importante notar que além da regulação prevista na
CADH, a Comissão Interamericana também conta com normas
25

regulamentadores em seu Estatuto27 e em seu Regulamento.28


Página

25 Vide site da Comissão IDH em: <http://www.oas.org/pt/cidh/>. Acesso em 15 mai. 2018.


26 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos, op. cit.
27 O estatuto da Comissão foi aprovado pela Resolução AG/RES. 447 (IX-O/79), adotada pela

Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, realizado em La Paz,
Bolívia, em outubro de 1979. O texto integral do documento pode ser encontrado em:
<https://goo.gl/5zEqA5>. Acesso em 15 mai. 2018.
28 O regulamento da Comissão foi por ela aprovado em seu 137° período ordinário de sessões,

realizado de 28 de outubro a 13 de novembro de 2009 e foi modificado em 02 de setembro de


2011, em seu 147º período de sessões, celebrado de 08 a 22 de março de 2013, para entrada em
vigor em 01 de agosto de 2013. O texto integral do documento pode ser encontrado em:
<https://goo.gl/Kn0rMQ>. Acesso em 15 mai. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

A Comissão IDH representa todos os membros da Organização dos


Estados Americanos (CADH, art. 35). Por isso, sua competência “alcança todos
os Estados-partes da Convenção Americana em relação aos direitos da pessoa
humana nela consagrados, como também a todos os Estados integrantes da
Organização dos Estados Americanos, em relação aos direitos consagrados na
Declaração Americana de 1948”.29
Sua sede está situada em Washington, D.C., nos Estados Unidos.
A Comissão realiza pelo menos dois períodos ordinários de sessões por
ano, no lapso que haja determinado previamente, bem como tantas sessões
extraordinárias quantas considerem necessárias. Antes do término do período
de sessões, a Comissão determinará a data e o lugar do período de sessões
seguinte (Art. 14, 1, do Regulamento). As sessões, como regra geral, serão
realizadas em sua sede; no entanto, pelo voto da maioria absoluta de seus
membros, a Comissão poderá decidir por reunir-se em outro lugar, com a
anuência ou a convite do respectivo Estado (Art. 14, 2, do Regulamento).
Em relação à sua composição, a CIDH é composta por 07 (sete) membros
(denominados Comissários ou Comissionados), que devem ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos
(CADH, art. 34). Estes membros são eleitos a título pessoal (não como
representantes dos seus Estados de origem), pela Assembleia Geral da OEA, de
uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados membros, sendo
que cada governo pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que
os propuser ou de qualquer outro Estado membro da OEA. Quando for proposta
uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado
diferente do proponente (CADH, art. 36).
No tocante ao mandato de seus membros, eles serão eleitos por quatro
anos e só poderão ser reeleitos uma única vez, não podendo fazer parte da
Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado (CADH, art. 37).
26
Página

29 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 152.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

As vagas na Comissão, não resultantes da expiração normal do mandato,


serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com o
que dispuser o Estatuto da Comissão (CADH, art. 38).30
Conforme previsto no art. 106 da Carta da OEA e também no art. 41 da
CADH, a principal função da Comissão IDH é “promover a observância e a
defesa dos direitos humanos” no continente americano, sendo que, para
desempenhar esta tarefa, no exercício de seu mandato ela desempenha funções
e atribuições no sentido de (CADH, art. 41):
a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;
b) formular recomendações aos governos dos Estados membros, quando
o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas
progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis
internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições
apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;
c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o
desempenho de suas funções;
d) solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem
informações sobre as medidas adotadas no âmbito interno em matéria
de direitos humanos;
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da OEA, lhe
formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os
direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o
assessoramento que eles lhe solicitarem;
27
Página

30 Conforme explica Caio Paiva, “ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração
normal do mandato (renúncia e morte de um comissário p. ex.), o preenchimento desta deve
obedecer ao que preveem a CADH (art. 38) e o Estatuto da Comissão (art. 11), funcionando da
seguinte forma: (I) Ao verificar-se uma vaga que não se deva à expiração normal de mandato, o
Presidente da Comissão notificará imediatamente ao Secretário-Geral da OEA, que, por sua vez,
levará a ocorrência ao conhecimento dos Estados membros da Organização; (II) Para preencher
as vagas, cada Governo poderá apresentar um candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar
da data de recebimento da comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de
vaga; (III) O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos candidatos e a
encaminhará ao Conselho Permanente da Organização, o qual preencherá a vaga. Finalmente,
prevê o art. 11.4 do Estatuto da CIDH que ‘Quando o mandato expirar dentro dos seis meses
seguintes à data em que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida’” (PAIVA, Caio. (Quase) Tudo
sobre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, op. cit.).
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

f) atuar com respeito às petições (individuais) e outras comunicações


(interestatais), no exercício de sua autoridade, de conformidade com o
disposto na Convenção; e,
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos
Estados Americanos.
Um Estado membro da OEA pode vir a sofrer uma “sanção” aplicada pela
Comissão IDH, em razão de não observar os preceitos contidos nos documentos
internacionais componentes do corpus juris interamericano. Nesse caso, o
Estado violador dos direitos humanos será submetido a um constrangimento
internacional público (power of shame and embarasment) por meio da
divulgação de um relatório para os Estados-membros da OEA.
Por não se tratar de um órgão jurisdicional, esta é a “sanção” máxima que
a Comissão poderá impor a um Estado membro (da OEA e/ou da CADH), isto é,
a publicação no seu Relatório Anual sobre a condenação do Estado,
documento este que será divulgado na Assembleia Geral da OEA. E além
disso, a Comissão poderá ainda incluir em seu relatório, recomendações para
que o Estado solucione o problema denunciado.
A CADH criou um sistema de petições individuais e de comunicações
interestatais, possibilitando à Comissão IDH o recebimento de denúncias ou
queixas contendo alegações de violações de direitos humanos protegidos pela
Convenção e por outros tratados do Sistema Interamericano.
O procedimento de petição individual é considerado de adesão
obrigatória para os Estados que aderem ou ratificam a CADH (art. 44).

Artigo 44
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente
reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta
Convenção por um Estado Parte”.
28
Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Por outro lado, o procedimento de comunicação interestatal (entre


Estados) é estabelecido pela própria Convenção como facultativo (art. 45).
Artigo 45
1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de
ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior,
declarar que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar
as comunicações em que um Estado Parte alegue haver outro Estado Parte
incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.
2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e
examinadas se forem apresentadas por um Estado Parte que haja feito uma
declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão
não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado Parte que não haja feito tal
declaração.
3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que
esta vigore por tempo indefinido, por período determinado ou para casos específicos.
4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Organização dos
Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados membros
da referida Organização.

Para que um procedimento de petição individual (art. 44) ou comunicação


interestatal (art. 45) contendo uma denúncia ou queixa de violação dos direitos
humanos previstos na CADH possa ser iniciado junto à Comissão IDH, devem
estar presentes algumas condições de admissibilidade, conforme o
estabelecido pelo art. 46 da Convenção:
Artigo 46
1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou
45 seja admitida pela Comissão, será necessário:
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo
com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de
solução internacional; e
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão,
o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade
que submeter a petição.
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal
para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos
recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.
29
Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Com fundamento neste dispositivo da Convenção, a doutrina aponta como


condições de admissibilidade as seguintes:
1) Esgotamento dos recursos internos (local remedies rule) – o art. 46,
1, “a”, da CADH estabelece que antes do peticionamento à Comissão
devem ter “sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição
interna, de acordo com os princípios de direito internacional geralmente
reconhecidos”;
A jurisdição internacional de proteção aos direitos humanos apresenta
um caráter subsidiário, isto é, somente atua quando o Estado supostamente
violador dos direitos não atua ou atua deficientemente. Portanto, compete
primeiramente ao Estado, num legítimo exercício de sua soberania, apurar e
tomar providências relativas a violações que tenham sido aplicadas em sua
contingência territorial.
Conforme expõe André de Carvalho Ramos, o “esgotamento dos recursos
internos exige que o peticionante prove que tenha esgotado os mecanismos
internos de reparação, quer administrativos, quer judiciais, antes que sua
controvérsia possa ser apreciada perante o Direito Internacional”, pois desse
modo, “fica respeitada a soberania estatal ao se enfatizar o caráter subsidiário
da jurisdição internacional, que só é acionada após o esgotamento dos recursos
internos”.31
Desse modo, os recursos internos devem apresentar-se de maneira
adequada e acessível para que possam satisfazer as pretensões daqueles
indivíduos que tenham sido alvo de violações no plano interno estatal.32 Ou seja,
constitui um dever do Estado, prover os recursos internos aptos a reparar
30

os danos porventura causados aos indivíduos, sob pena de responder


Página

31 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p.
338.
32 A Corte IDH já se pronunciou sobre o que entende por recursos adequados. Para a Corte, dizer

que os recursos são adequados significa “(...) que a função desses recursos, dentro do sistema
do direito interno, seja idônea para proteger a situação jurídica infringida. Em todos os
ordenamentos jurídicos internos existem múltiplos recursos, porém nem todos são aplicáveis em
todas as circunstâncias. Se, em um caso específico, o recurso não é adequado, é óbvio que não
há que se esgotá-lo. Assim, ele indica o princípio de que a norma está encaminhada a produzir
um efeito e não pode interpretar-se no sentido de que não produza nenhum ou seu resultado
seja manifestamente absurdo ou irrazoável” (Caso Fairén Garbi e Solís Corrales vs. Honduras.
Mérito. Sentença de 15 de março de 1989. Série C, n. 6, § 88). Disponível em:
<https://goo.gl/16iaU9>. Acesso em 22 mai. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

duplamente no plano internacional, isto é, (i) pela violação inicial de direitos


humanos protegidos nos tratados internacionais e (ii) por não prover o indivíduo
de recursos internos aptos a reparar o dano causado.
A própria CADH, em seu art. 46 (2), estabelece os casos de dispensa da
necessidade de prévio esgotamento dos recursos internos, a saber:
a) quando não existir o devido processo legal para a proteção do direito
violado (art. 46, 2, “a”);
b) quando não se houver permitido à vítima o acesso aos recursos da
jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los (art. 46,
2, “b”);
c) quando houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados
recursos (artigo 46, 2, “c”);
d) quando o recurso disponível for inidôneo (por exemplo, o recurso não
é apto a reparar o dano); ou inútil (por exemplo, já há decisão da
Suprema Corte local em sentido diverso); ou,
e) quando faltarem defensores ou houver barreiras de acesso à justiça.

Os três primeiros casos acima são apontados pela CADH (art. 46, 2, “a”,
“b”, “c”). Já as últimas hipóteses são trazidas pela doutrina e também podem ser
encontradas na jurisprudência da Corte IDH.33
A Corte IDH entende que a exceção de admissibilidade por ausência de
esgotamento dos recursos internos deve ser invocada pelo Estado no início do
procedimento perante à Comissão IDH.34 Desse modo, se o Estado nada alega
durante esse procedimento, subentende-se que houve a renúncia ou
desistência tácita dessa objeção.35 Posteriormente não poderá o Estado alegar
a falta de esgotamento perante a Corte IDH, pois ter-se-á operado a preclusão
de tal faculdade processual.
31
Página

33 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 338-339.


34 Caso Moiwana vs. Suriname. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença
de 15 de junho de 2005, Série C, n. 124, § 49. Disponível em: <https://goo.gl/lAapH4>. Acesso
em 22 mai. 2018.
35 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana

sobre Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 313.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Além disso, para a Corte IDH isso implicaria na violação do princípio do


estoppel36, ou seja, da proibição de se comportar de modo contrário a uma
conduta anterior (non concedit venire contra factum proprium).37
2) Ausência do decurso do prazo de 06 (seis) meses, contados do
esgotamento dos recursos internos, para a apresentação da petição
(regra) – o art. 46, 1, “b”, da CADH estabelece que a petição deve ser
apresentada à Comissão IDH dentro do prazo de 6 (seis) meses, “a partir
da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido
notificado da decisão definitiva” por parte do Estado;
Por decisão definitiva pode-se aqui entender aquela não mais sujeita a
recurso no âmbito do ordenamento jurídico do Estado onde ocorreu a violação
do direito. É o Estado quem deverá demonstrar perante a Comissão que o prazo
de seis meses contados da data da decisão definitiva já se esgotou.
3) Ausência de litispendência internacional – o art. 46, 1, “c”, da
CADH38 prevê que “a matéria da petição ou comunicação não esteja
pendente de outro processo de solução internacional”, vedando assim
a litispendência internacional e impedindo, portanto, o uso simultâneo
de dois mecanismos internacionais de proteção de direitos humanos;
Deve-se aqui esclarecer que o impedimento da litispendência
internacional previsto nesse dispositivo convencional não diz respeito apenas
a ações iniciadas em dois tribunais internacionais simultaneamente, mas
aplica-se também a outros órgãos de proteção dos direitos humanos, tais
como Comitê de Direitos Humanos da ONU (pertencente ao sistema do Protocolo
Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – 1966) ou uma
32
Página

36 O estoppel pode ser entendido como a preclusão, a caducidade ou a renúncia (expressa ou


tácita) de um direito material ou processual. Simboliza a proibição do comportamento
contraditório (venire contra factum proprium) em âmbito internacional, não podendo o Estado se
comportar de modo contrário à sua conduta anterior.
37 Caso Moiwana vs. Suriname. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença

de 15 de junho de 2005, Série C, n. 124, § 58. Disponível em: <https://goo.gl/lAapH4>. Acesso


em 22 mai. 2018. Caso Acevedo Jaramillo et. al. vs. Peru. Exceções Preliminares, Mérito,
Reparações e Custas. Sentença de 07 de fevereiro de 2006, Série C, n. 144, §§ 176-177.
Disponível em: <https://goo.gl/y9P8zM>. Acesso em 22 mai. 2018.
38 Vide também o art. 33 do Regulamento da Comissão IDH, que trata da duplicação de

processos. Em especial, art. 33, 1, “a”.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Organização Internacional Intergovernamental da qual o Estado faça parte. A


expressão “outro processo”, não significa exatamente um processo judicial.39
4) Identificação do peticionário – o art. 46, 1, “d”, da CADH40 estabelece
que, no caso do art. 44, a petição deverá conter o nome, a
nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou
pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição.
Tratam-se de “elementos caracterizadores da pessoa, sem os quais a
Comissão não poderá aferir a veracidade dos fatos alegados como
violadores da Convenção”;41
5) Ausência de coisa julgada internacional – embora o art. 46 da CADH
não faça menção à essa condição, o art. 47, “d”, da CADH42, prevê a
declaração de inadmissibilidade pela Comissão, de toda petição ou
comunicação, nos termos dos arts. 44 ou 45, quando forem
substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior,
já examinada pela Comissão ou por outro organismo internacional,
o que impede a deflagração do procedimento perante a Comissão, pois
nesse caso está presente a coisa julgada internacional, isto é, uma
matéria que já foi apreciada pela própria Comissão, pela Corte IDH ou
por outro organismo internacional. Com isso impede-se o uso
sucessivo de dois mecanismos internacionais de proteção de direitos
humanos.43
Ao lado destas condições, deve-se destacar que o art. 47 da CADH44 prevê
outras situações onde a Comissão IDH deverá declarar a inadmissibilidade da
petição ou comunicação quando ela:
a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46 (CADH,
33

art. 47, “a”);


Página

39 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana


sobre Direitos Humanos, op. cit., p. 315.
40 Vide também o art. 28 do Regulamento da Comissão IDH, que trata dos requisitos para a

consideração de petições.
41 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana

sobre Direitos Humanos, op. cit., p. 316.


42 Vide art. 33 do Regulamento da Comissão, que trata da duplicação de processos. Em especial,

art. 33, 1, “b”.


43 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 338.
44 Vide art. 34 do Regulamento da Comissão, que trata de outras causas de inadmissibilidade.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos


pela Convenção (CADH, art. 47, “b”). Não se pode admitir aventuras
jurídicas perante a Comissão;
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for
manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evidente
sua total improcedência (CADH, art. 47, “c”). Por outras palavras, a
petição ou comunicação apresentadas devem contar alegações
verossímeis e fundamentadas;
A declaração de inadmissibilidade de uma petição ou comunicação deverá
ser exarada em ato expresso da Comissão IDH, em todos os casos previstos pelo
art. 47 da CADH. Nesse caso, “a Comissão perde ipso juris a sua competência
para resolver o assunto” objeto da petição ou comunicação.45

PROCEDIMENTO PERANTE A COMISSÃO IDH

O procedimento perante a Comissão IDH está previsto nos arts. 48 a 51


da CADH e também nos arts. 22 a 50 do seu Regulamento. Em síntese,
percorrem-se as seguintes etapas:

1) Petição ou comunicação dirigida à Comissão IDH

O procedimento inicia-se com a provocação da Comissão por qualquer


pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente
reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização (CADH, art.
44) ou por outro Estado (CADH, art. 45), por meio de uma petição ou
comunicação escrita contendo uma denúncia ou queixa de supostas violações
dos direitos humanos previstos na CADH ou em outros instrumentos do sistema
interamericano.46
De acordo com o art. 24 do seu Regulamento, a Comissão também poderá,
motu próprio (por vontade própria), iniciar a tramitação de uma petição que
reúna, a seu juízo, os requisitos para tal fim.
34
Página

45 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana


sobre Direitos Humanos, op. cit., p. 318.
46 Vide o art. 23 do Regulamento da Comissão, que trata da apresentação de petições.
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Os requisitos da petição estão previstos no art. 28 do Regulamento da


CIDH, de modo que as petições dirigidas à Comissão deverão conter o seguinte:
a) o nome, a nacionalidade e a assinatura do denunciante ou
denunciantes ou, no caso de o peticionário ser uma entidade não-
governamental, o nome e a assinatura de seu representante ou seus
representantes legais;
b) se o peticionário deseja que sua identidade seja mantida em reserva
frente ao Estado;
c) o endereço para o recebimento de correspondência da Comissão e, se
for o caso, número de telefone e fax e endereço de correio eletrônico;
d) uma relação do fato ou situação denunciada, com especificação do
lugar e data das violações alegadas;
e) se possível, o nome da vítima, bem como de qualquer autoridade
pública que tenha tomado conhecimento do fato ou situação
denunciada;
f) a indicação do Estado que o peticionário considera responsável, por
ação ou omissão, pela violação de algum dos direitos humanos
consagrados na CADH e outros instrumentos aplicáveis, embora não
se faça referência específica ao artigo supostamente violado;
g) o cumprimento do prazo previsto no art. 46, 1, “b”, da CADH e no art.
32 do Regulamento (6 meses);
h) as providências tomadas para esgotar os recursos da jurisdição interna
ou a impossibilidade de fazê-lo de acordo com o art. 46, 1, “a”, da CADH
e art. 31 do Regulamento;
i) a indicação de se a denúncia foi submetida a outro procedimento
internacional de solução de controvérsias de acordo com o art. 33 do
Regulamento.47
35
Página

47 Além desses requisitos, o art. 28 do Regulamento da Comissão IDH também estabelece que a
parte deve indicar: a) o cumprimento do prazo previsto no art. 32 do Regulamento (6 meses); as
providências tomadas para esgotar os recursos da jurisdição interna ou a impossibilidade de
fazê-lo, de acordo com o art. 31 do Regulamento; e, a indicação de se a denúncia foi submetida
a outro procedimento internacional de solução de controvérsias, de acordo com o art. 33 do
Regulamento. Trata-se da indicação do cumprimento dos requisitos de fundo, previstos no art.
art. 46 da CADH.
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A Secretaria Executiva da Comissão será responsável pelo estudo e pela


tramitação inicial das petições que forem apresentadas à Comissão
(Regulamento, art. 26, 1).

2) Exame de admissibilidade pela Comissão IDH

No primeiro contato que a Comissão toma com uma petição ou


comunicação que lhe foi submetida ela deve decidir sobre a sua admissibilidade.
Por outras palavras, ao receber qualquer desses expedientes, a Comissão deverá
realizar um exame a fim de declarar a sua admissibilidade ou inadmissibilidade.
A Comissão somente tomará em consideração as petições sobre
presumidas violações de direitos humanos definidas na CADH e outros
instrumentos aplicáveis, com relação aos Estados membros da OEA, quando
preencherem os requisitos de admissibilidade estabelecidos nos
mencionados instrumentos, no Estatuto e no Regulamento (Regulamento,
art. 27)48, conforme analisado anteriormente.
Não há qualquer recurso cabível à vítima no caso de declaração de
inadmissibilidade da petição ou comunicação pela Comissão. Na ocorrência
desta declaração, o caso simplesmente será arquivado.
Caso a Comissão declare que a petição ou comunicação é admissível,
deverá então proceder da forma estabelecida pelo art. 48 da CADH e com as
normas pertinentes constantes em seu Regulamento.

3) Solicitação de informações ao governo do Estado

O art. 48, 1, “a”, da CADH estabelece que, uma vez declarada a


admissibilidade da petição ou da comunicação, num segundo momento a
Comissão deverá solicitar informações ao Governo do Estado ao qual pertença
a autoridade apontada como responsável pela violação dos direitos humanos
alegada e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação.
O dispositivo prevê ainda que as referidas informações deverão ser
enviadas pelo Estado à Comissão dentro de um prazo razoável, que será fixado
36

pela Comissão, levando-se em consideração as circunstâncias de cada caso.


Página

48Para maiores detalhes sobre o trâmite inicial por intermédio da Secretaria Executiva da
Comissão, vide art. 29 do seu Regulamento, que trata da tramitação inicial.
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Verifica-se aqui a existência de um típico contraditório estabelecido pela


Convenção, em que a parte denunciada (potencialmente violadora de direitos
humanos) tem a possibilidade de responder à Comissão, fornecendo a ela o seus
argumentos e pontos de vista sobre a questão.

4) Verificação da existência ou subsistência dos motivos da petição


ou comunicação

Conforme dispõe o art. 48, 1, “b”, da CADH, a Comissão (i) ao receber as


informações do Estado ou (ii) transcorrido in albis o prazo por ela estabelecido
sem que o ente estatal tenha prestado as informações requeridas, “verificará se
existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação” e, “no caso de não
existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente”.
Por outras palavras, no primeiro caso, se o Estado ao responder às
informações solicitadas demonstrar que não subsistem os motivos alegados pela
vítima na petição ou comunicação, a Comissão poderá então arquivar o
expediente caso esteja convencida de que não houve uma violação capaz de dar
início a um procedimento no âmbito de sua competência.
Além disso, o art. 48, 1, “c”, da CADH, prevê que a Comissão poderá
declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petição ou comunicação, com
base em informação ou prova supervenientes, isto é, quando restar cabalmente
demonstrado que tal petição ou comunicação não tem qualquer aptidão para
produzir efeitos perante ela. Nesse caso não há recurso disponível à vítima para
reverter essa decisão da Comissão.
Estas informações ou provas devem ser levadas pelo Estado à Comissão
em qualquer momento, desde que seja antes de a Comissão ter submetido a
questão à Corte IDH (quando esse for o caso).

5) Exame do caso pela Comissão IDH

Nos termos do art. 48, 1, “d”, da CADH, se o expediente não houver sido
arquivado, com a finalidade de comprovar os fatos alegados, a Comissão
procederá, com conhecimento das partes, a um exame acurado do assunto
exposto na petição ou comunicação. Dispõe ainda o mesmo dispositivo
37

convencional que, caso seja necessário e conveniente, a Comissão também


Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

procederá a uma investigação, ficando os Estados obrigados a proporcionar-


lhe todas as facilidades necessárias para a sua eficaz realização.
No ato de adesão do Brasil à CADH, o governo brasileiro apresentou uma declaração
interpretativa a esta alínea “d”, do art. 48 (1), afirmando entender que referida
disposição não inclui “o direito automático de visitas e inspeções in loco da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do
Estado” brasileiro.

Valerio Mazzuoli explica que as inspeções in loco “têm importantes efeitos


preventivos, dentre eles o de alertar o governo de determinado Estado da
necessidade de derrogação ou modificação de leis e demais normas que afetam
negativamente a eficácia dos direitos humanos em seu país, bem como de
estabelecimento ou aperfeiçoamento de recursos internos (garantias processuais
etc.) voltados para melhor salvaguarda desses mesmos direitos”.49
O art. 48, 1, “e”, da CADH, dispõe que a Comissão poderá também “pedir
aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso lhe
for solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresentarem os
interessados”. Nada impede que tais informações sejam também solicitadas à(s)
vítima(s) ou seus familiares.
Os Estados devem prontamente atender às indagações e formulações da
Comissão, pois trata-se de uma obrigação que decorre do seu próprio aceite
quando da adesão ou ratificação à CADH, fato que impede uma eventual
alegação, por parte do Estado, de violação à sua soberania, ordem pública etc.
38
Página

49MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana


sobre Direitos Humanos, op. cit., p. 322.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Medidas Cautelares pela Comissão IDH


Com fundamento nos artigos 106 da Carta da OEA, 41, “b” da CADH, 18, “b” do
Estatuto da Comissão e XIII da Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento
Forçado de Pessoas, a Comissão poderá, por iniciativa própria ou a pedido de parte,
solicitar que um Estado adote medidas cautelares para proteger pessoas ou grupo
de pessoas do (i) risco de dano irreparável em (ii) situações de gravidade e urgência,
quer haja relação ou não com petição em trâmite. Não há dispositivo expresso na
CADH sobre a eficácia vinculante dessas medidas, que são entendidas como
recomendações, à luz do art. 41, “b”, da Convenção50, carecendo, portanto, de força
vinculante para os Estados. As medidas cautelares estão disciplinadas
pormenorizadamente no art. 25 do Regulamento da Comissão IDH.

6) Busca de uma solução amistosa pela Comissão IDH

Uma vez superada a fase da admissibilidade da petição ou comunicação,


nos termos do art. 48, 1, “f”, da CADH, a Comissão deve adentrar na fase
conciliatória do procedimento51, momento em que buscará compor os
interesses das partes, isto é, da(s) vítima(s) e do Estado, com o fim de alcançar
uma solução amigável, o que na prática pouco tem ocorrido, uma vez que os
Estados ainda nesse momento se negam a reconhecer a violação dos direitos
humanos alegada.
Este procedimento de conciliação tem natureza política-diplomática
(concertação entre Estados para se chegar a um acordo sobre um problema de
interesse comum ou recíproco) e, portanto, não obrigatório, uma vez que “o
início e a continuação do procedimento de solução amistosa basear-se-ão no
consentimento das partes” (Regulamento, art. 40, 2).
O art. 48 (2) prevê ainda que “em casos graves e urgentes, pode ser
realizada uma investigação, mediante prévio consentimento do Estado em cujo
território se alegue haver sido cometida a violação, tão somente com a
apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos
formais de admissibilidade”. A diferença desse procedimento para com aquele
39

previsto no art. 48, 1, “d” reside no fato de não se tratar aqui de um procedimento
Página

50RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.


51O procedimento de conciliação está previsto detalhadamente no art. 40 do Regulamento da
Comissão.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

espontâneo da Comissão, mas de uma solicitação da parte interessada, mediante


a apresentação de uma petição que reúna os requisitos formais de
admissibilidade.52
Conforme dispõe o art. 49 da CADH, se a Comissão lograr êxito na
tentativa de uma solução amistosa (conforme art. 48, 1, “f”), deverá redigir um
relatório que será encaminhado ao peticionário e aos Estados-Partes da CADH
e posteriormente transmitido ao Secretário-Geral da OEA para sua publicação.
Esse relatório deverá conter (i) uma breve exposição dos fatos e (ii) a solução
alcançada (o mais importante). Se qualquer das partes no caso solicitar, deverá
ser-lhe proporcionada a mais ampla informação possível.
Infelizmente têm sido poucas as vezes que a Comissão tem logrado chegar
a uma solução pacífica, caso em que fica obrigada a proceder na forma dos arts.
50 e 51 da CADH, isto é, demandar o Estado perante a Corte IDH (caso tal Estado
tenha aceitado a competência contenciosa da Corte) ou repreendê-lo em seu
segundo relatório.

7) Decisão da Comissão IDH

A CADH nos arts. 50 e 51 estabelece o procedimento para a tomada de


decisão da Comissão para com os Estados-Partes. Tais dispositivos
convencionais se referem a dois relatórios (também conhecidos como
informes) distintos, cujo conteúdo pode ser similar, mas não pode subsumir
em um só, já que correspondem a etapas distintas do procedimento.
• Primeiro relatório ou informe (Relatório Preliminar)
O art. 50 (1) da CADH dispõe que “se não se chegar a uma solução, e
dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um
relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não
representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão,
qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado.
Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que
houverem sido feitas pelos interessados...”. (Grifo nosso)
40
Página

52MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; GOMES, Luiz Flávio. Comentários à Convenção Americana


sobre Direitos Humanos, op. cit., p. 323.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Trata-se do primeiro relatório ou primeiro informe, de caráter preliminar,


que deve ser elaborado pela Comissão, no prazo de 180 dias contados do não
alcance da conciliação (art. 23, 2, do Estatuto da Comissão), no caso de
constatação de violação de direitos humanos. Cuida-se aqui de um relatório mais
completo do que aquele exigido pelo art. 49 da CADH, no caso de as partes terem
chegado a um acordo amigável. O conteúdo e as características desse relatório
previsto no art. 50, da CADH, estão regulados pelo art. 44, do Regulamento da
Comissão.
Este primeiro relatório, de natureza confidencial (não pode ser publicado
pelo Estado) será encaminhado ao Estado interessado53 (CADH, art. 50, 2),
cabendo-lhe então cumprir as proposições e recomendações feitas pela Comissão
IDH (CADH, art. 50, 3). O relatório é obrigatório em duplo sentido: (i) para a
Comissão IDH, que não pode omitir este trâmite; e, (ii) é vinculante para o
Estado, que tem o dever de dar cumprimento às proposições e recomendações
nele contidas. No entanto, muitos Estados entendem que o relatório veicula
apenas recomendações que não são vinculantes.54
Sobre esse ponto, Adriano Fernandes Ferreira explica que “as
recomendações da Comissão devem ser interpretadas conforme o sentido da
regra geral de interpretação dos tratados contida no art. 31.1, da Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT)55 e, por isso, não tem caráter de
decisão jurisdicional obrigatória cujo descumprimento geraria a
responsabilidade do Estado, em virtude do princípio de boa-fé, se um Estado
subscreve e ratifica um tratado internacional, especialmente se se tratar de
direitos humanos, tem a obrigação de realizar seus melhores esforços para
aplicar as recomendações de um órgão de proteção como a Comissão
41

Interamericana. O art. 33, da CADH, dispõe que a Comissão Interamericana é


Página

53 O relatório não é encaminhado ao peticionário.


54 No Caso Baena Ricardo e outros, o Panamá não acatou as recomendações do Relatório n.
26/99 da Comissão IDH porque não as considerou obrigatórias, e rejeitou referido relatório
aduzindo obstáculos, motivações e fundamentos jurídicos de direito interno que impediam de
executar as recomendações emitidas pela honorável Comissão. Esta circunstância conduziu a
Comissão a solicitar à Corte IDH que declarasse que o Estado violou o dever de cumprir de boa-
fé suas recomendações, de acordo com os arts. 33 e 50.2, da Convenção (Corte IDH. Caso Baena
Ricardo e outros vs. Panamá. Sentença de 2 de fevereiro de 2001, §§ 12 e 185).
55 CVDT, art. 31 (1). “Um tratado deve ser interpretado de boa-fé segundo o sentido comum

atribuível aos termos do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade”.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

um órgão competente, conjuntamente com a Corte, para conhecer dos assuntos


relacionados com o cumprimento dos compromissos contraídos pelos Estados
Partes, pelo que, ao ratificar referida Convenção, os Estados Partes se
comprometeram a atender as recomendações que a Comissão aprovar em seus
relatórios”.56 (Grifo nosso)
• Segundo relatório ou informe (Relatório Definitivo)
A Comissão IDH “possui um mecanismo de intensidade crescente,
destinado a estimular o Estado denunciado para que cumpra com seu dever de
cooperar na solução do caso, oferecendo a possibilidade de resolver o assunto
antes de se ver demandado perante a Corte, e proporcionar ao reclamante a
possibilidade de obter um remédio apropriado, de maneira mais rápida e simples
do que um processo perante a Corte”.57
O art. 51 (1) da CADH estabelece que se no prazo de três meses, a partir
da remessa aos Estados interessados do primeiro relatório da Comissão IDH, o
assunto não houver sido solucionado (por meio da reparação dos danos pelo
Estado violador) ou submetido à decisão da Corte IDH pela Comissão (no caso de
petições individuais) ou pelo Estado interessado (no caso de comunicações
interestatais), aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto
da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a
questão submetida à sua consideração”.
Trata-se aqui do segundo relatório ou segundo informe, de caráter
definitivo, que será elaborado pela Comissão, no prazo de três meses contados
do envio do primeiro relatório ao Estado, (i) quando o Estado violador não tiver
cumprido suas recomendações e reparado os danos causados pelas violações de
direitos humanos dentro do prazo fixado, ou (ii) quando o Caso não tiver sido
enviado à Corte IDH para julgamento, o que somente pode ocorrer caso o Estado
demandado tenha reconhecido expressamente a jurisdição da Corte.
A prática interamericana contempla a prorrogação do prazo de três
42

meses, bastando a anuência da Comissão e do Estado. André de Carvalho


Página

Ramos explica que “o Estado é beneficiado pela prorrogação do prazo, pois teria

56 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,


op. cit.,
57 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,

op. cit.,
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

mais tempo para evitar uma ação da Comissão perante a Corte de San José. Não
pode, depois, justamente alegar perante a Corte IDH a decadência do direito da
Comissão em propor a ação. Seria mais um exemplo do princípio do estoppel,
também chamado de proibição de venire contra factum proprium”.58
Conforme aponta Adriano Fernandes Ferreira, o “relatório previsto no art.
51, da CADH, pressupõe um pronunciamento definitivo sobre o mérito da
controvérsia, devendo expressar a opinião e conclusões da Comissão sobre a
questão submetida a sua consideração, podendo formular as recomendações
pertinentes para o Estado denunciado”.59
Ao elaborar esse segundo relatório, que diferentemente do primeiro, tem
natureza pública, a Comissão IDH fará as recomendações pertinentes e fixará
um novo prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe
competirem para remediar a situação examinada (art. 51, 2). Este novo prazo é
adicional ao prazo de três meses e sua extensão deve ser compatível com a
natureza das novas recomendações formuladas pela Comissão.
A doutrina aponta que o conteúdo deste relatório “depende de cada caso
particular: a) restabelecimento da situação jurídica infringida; b) garantir o
exercício dos direitos violados; c) adaptar a legislação interna às obrigações
contraídas na Convenção; d) adotar as medidas legislativas; e) de outro caráter
que sejam indispensáveis para assegurar o exercício dos direitos humanos; f)
pagar indenizações compensatórias às vítimas; g) necessidade de ações judiciais
dirigidas a evitar a impunidade; h) punir os responsáveis de graves violações de
direitos humanos; i) reabertura das investigações sobre os fatos denunciados; j)
adotar medidas indispensáveis para proteger a testemunhas; k) evitar que fatos
de tal gravidade possam voltar a ocorrer; l) convidar o Estado denunciado a
ratificar algum tratado de direitos humanos; e, m) convidar o Estado denunciado
a aceitar ser submetido à jurisdição da Corte IDH”.60
43
Página

58 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.


59 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,
op. cit.,
60 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,

op. cit.,
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Decorrido o prazo fixado, a Comissão IDH agrega a informação sobre o


cumprimento das medidas requeridas, publicando então o segundo relatório
(art. 51, 3). Segundo o art. 47 (3), do Regulamento da Comissão IDH, a própria
Comissão avaliará o cumprimento de suas recomendações com base na
informação disponível e decidirá, por maioria absoluta de votos de seus
membros, a respeito da publicação do relatório definitivo. Ademais, a Comissão
disporá a respeito de sua inclusão no Relatório Anual à Assembleia Geral da
Organização ou em qualquer outro meio que considerar apropriado.
Normalmente, no caso de descumprimento deste segundo relatório, a
Comissão IDH encaminha seu Relatório Anual à Assembleia Geral da OEA,
fazendo constar as deliberações não cumpridas pelos Estados para que a
Organização possa adotar as medidas necessárias para convencer o Estado a
restaurar os direitos protegidos que foram violados.
44
Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CORTE IDH)

O segundo órgão de proteção dos direitos humanos no Sistema


Interamericano é a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH),
uma instituição judicial autônoma, que não é um órgão da OEA, mas sim da
CADH. Sua criação decorre diretamente do art. 33, “b”, da Convenção.
A Corte IDH tem sua disciplina jurídica na CADH, que estabeleceu a sua
organização, competências, funções, procedimentos e disposições comuns nos
arts. 52 a 73. O art. 60 da CADH dispôs que a “Corte elaborará seu estatuto e
submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu regimento”. Assim
como a Comissão, além da regulação prevista na CADH, a Corte IDH também
conta com normas regulamentadores em seu Estatuto61 e em seu
Regulamento.62
A Corte não pôde ser estabelecida e organizada até que a CADH entrasse
em vigor, o que ocorreu em 18 de julho de 1978, conforme disposto no seu art.
74.2.63 Em 22 de maio 1979, os Estados Partes na CADH elegeram, durante o
VII Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da OEA, os juristas
que, por sua capacidade pessoal, seriam os primeiros juízes a compor a Corte. A
primeira reunião da Corte foi realizada em 29 e 30 de junho de 1979 na
sede da OEA em Washington, D.C.
45
Página

61 O estatuto da Corte foi aprovado pela resolução AG/RES. 448 (IX-O/79), adotada pela
Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, realizado em La Paz,
Bolívia, outubro de 1979. O texto integral do documento pode ser encontrado em:
<https://goo.gl/KyxK8w>. Acesso em 15 mai. 2018.
62 O primeiro Regulamento da Corte foi aprovado pelo Tribunal em seu III Período Ordinário de

Sessões, celebrado de 30 de junho a 09 de agosto de 1980; o segundo Regulamento foi aprovado


em seu XXIII Período Ordinário de Sessões, celebrado de 09 a 18 de janeiro de 1991; o terceiro
Regulamento foi aprovado em seu XXXIV Período Ordinário de Sessões, celebrado de 09 a 20 de
setembro de 1996; o quarto Regulamento foi aprovado em seu XLIX Período Ordinário de
Sessões, celebrado de 16 a 25 de novembro de 2000, o qual foi reformado em seu LXI Período
Ordinário de Sessões, celebrado de 20 de novembro a 04 de dezembro de 2003, e em seu LXXXII
Período Ordinário de Sessões, celebrado de 19 a 31 de janeiro de 2009. O texto integral do
documento pode ser encontrado em: <https://goo.gl/54vCuQ>. Acesso em 15 mai. 2018.
63 “...Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem depositado os seus

respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão...”.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

De acordo com o art. 1º de seu Estatuto, a “Corte Interamericana de


Direitos humanos é uma instituição judiciária autônoma cujo objetivo é a
aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos”, exercendo suas funções em conformidade com as disposições da
Convenção e do seu Estatuto. Trata-se, portanto, de um Tribunal “com o
propósito primordial de resolver os casos que lhe são apresentados por
supostas violações aos direitos humanos protegidos pela Convenção
Americana”.64
O art. 58 da CADH previu que a Corte teria sua sede no lugar em que fosse
determinado pelos Estados Partes na CADH, durante a Assembleia Geral da
OEA. Atualmente sua sede está situada em San José, capital da Costa Rica.65
Conforme previsto pelo mesmo dispositivo, os Estados Partes na Convenção
podem, na Assembleia Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da
Corte.
Em relação ao seu funcionamento, de acordo com o art. 22 (1) de seu
Estatuto, a Corte IDH pode realizar sessões ordinárias e extraordinárias (pois
não é um Tribunal permanente), sendo que os períodos ordinários de sessões
serão determinados regularmente pela própria Corte (art. 22, 2) e os períodos
extraordinários de sessões serão convocados pelo Presidente ou por solicitação
da maioria dos juízes (art. 22, 3). Conforme estabelece o art. 11 de seu
Regulamento, a Corte realizará os períodos ordinários de sessões que se fizerem
necessários durante o ano para o pleno exercício de suas funções, nas datas que
tiver fixado em sua sessão ordinária imediatamente anterior.
De acordo com o art. 58 da CADH, a Corte realiza suas reuniões em sua
sede, mas também poderá realizá-las no território de qualquer Estado membro
46

da OEA em que o considerar conveniente pela maioria dos seus membros e


Página

mediante prévia aquiescência do Estado respectivo.

64 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 166.


65 A Assembleia Geral da OEA, em 1 de julho de 1978, recomendou a aprovação do oferecimento
formal do Governo da Costa Rica para sediar a Corte no país. A decisão foi ratificada mais tarde
pelos Estados Partes na CADH, durante a Sexta Sessão Especial da Assembleia Geral, ocorrida
em novembro de 1978. A cerimônia de instalação da Corte IDH foi realizada em San José, em 3
de setembro de 1979. Em 10 de setembro de 1981, a Costa Rica celebrou um Acordo de Sede
com a Corte, que estabelece o regime de imunidades e prerrogativas da Corte, de seus juízes e
pessoal necessário para o desenvolvimento das suas atividades judicantes. Em novembro de
1993, o governo da Costa Rica repassou à Corte IDH uma casa, que é sede da Corte até hoje.
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No tocante à sua composição, conforme dispõe o art. 52 (1) da CADH, a


Corte é composta de 07 (sete) juízes, nacionais dos Estados membros da OEA,
eleitos a título pessoal, que devem ser pessoas de alta autoridade moral e de
reconhecida competência em matéria de direitos humanos, reunindo as
condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de
acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os
propuser como candidatos.
Estes juízes são eleitos em votação secreta e pelo voto da maioria
absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia Geral da OEA, de
uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados (CADH, art. 53, 1),
sendo que cada um dos Estados pode propor até três candidatos, nacionais
do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da OEA.
Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá
ser nacional de Estado diferente do proponente (CADH, art. 53, 2). Não deve
haver dois juízes da mesma nacionalidade compondo a Corte simultaneamente
(CADH, art. 52, 2).
Em relação ao mandato, os juízes da Corte IDH são eleitos por um período
de 06 (seis) anos e só poderão ser reeleitos uma vez (art. 54, 1). Nos termos do
art. 54 (3) da CADH, os juízes permanecerão no exercício de suas funções até o
término de seus mandatos, entretanto, continuarão funcionando nos casos de
que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de
sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.
A Corte também pode contar com juízes ad hoc (juízes nomeados para
certos casos específicos) para atuar em determinados casos na jurisdição
contenciosa, caso o Estado Réu não possua um juiz de sua nacionalidade em
exercício na Corte, conforme estabelece o art. 55 da CADH, sendo que esse juiz
deverá atender os mesmos requisitos estabelecidos para os demais juízes da
Corte.66
47
Página

66 Conforme explica André de Carvalho Ramos, esse “instituto é tradicional no Direito


Internacional Geral, nas demandas clássicas entre Estados, e serve para diminuir os receios
estatais sobre o reconhecimento da jurisdição de um Tribunal estatal” (RAMOS, André de
Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 245).
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Por meio da Opinião Consultiva n. 20, no ano de 2009 a Corte IDH


restringiu a “interpretação do art. 55 da Convenção, que trata do juiz ad hoc,
eliminando tal figura nas demandas iniciadas pela Comissão a pedido de vítimas
(ou seja, todas até o momento) e mantendo-o somente para as demandas
originadas de comunicações interestatais”.67 Na mesma Opinião Consultiva, a
Corte também “restringiu a possibilidade do juiz que porventura possuir a
mesma nacionalidade do Estado Réu atuar no caso. Somente o fará nas
demandas interestatais (inexistentes, até o momento). Nas demandas iniciadas
pela Comissão a pedido das vítimas, o juiz da nacionalidade do Estado Réu deve
se abster de participar do julgamento”.68
De acordo com o art. 56 da CADH e art. 23 (1) de seu Estatuto, o quorum
para as deliberações da Corte IDH é de 05 (cinco) juízes, sendo que as decisões
da Corte serão tomadas pela maioria dos juízes presentes (Estatuto, art. 23,
2). Em caso de empate, o Presidente terá o voto de qualidade (Estatuto, art.
23, 3).
As audiências da Corte serão públicas, a menos que ela própria, em
casos excepcionais, decida de outra forma (Estatuto, art. 24, 1).69 As
deliberações da Corte ocorrem em privado, permanecendo secretas, a menos
que a própria Corte decida de outra forma (Estatuto, art. 24, 2). As decisões,
juízos e opiniões da Corte serão comunicados em sessões públicas e serão
notificados por escrito às partes. Além disso, serão publicados, juntamente
com os votos e opiniões separados dos juízes e com quaisquer outros dados ou
antecedentes que a Corte considerar conveniente (Estatuto, 24, 3).
De acordo com a CADH, a Corte IDH pode exercer uma função consultiva
(art. 64) e uma função contenciosa (arts. 61, 62 e 63).70
48
Página

67 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 341-342.


68 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 342. Vide a Opinião
Consultiva n. 20 no próprio site da Corte IDH. Disponível em: <https://goo.gl/dEDuwN>. Acesso
em 24 mai. 2018.
69 Vide informações detalhadas sobre as audiências da Corte no art. 15 do seu Regulamento.
70 Vale ressaltar nesse ponto que na doutrina há autores que empregam terminologias distintas

para referir-se às funções da Corte, tais como jurisdição e competência.


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No exercício de sua função consultiva, a Corte IDH pode emitir pareceres


consultivos ou opiniões consultivas71 que, segundo entendimento doutrinário
majoritário, não são vinculantes para os Estados Partes da CADH, pois não
geram a responsabilidade internacional do Estado com uma consequente sanção
jurídica internacional. No entanto, a doutrina afirma que tais pareceres ou
opiniões têm o poder de gerar uma pressão moral e política sobre o ente Estatal,
um constrangimento internacional por humilhação e vergonha pública (power of
shame and embarasment ou mechanism of shame).72
No entanto, no Brasil há um recente (31.10.2017) e importante
precedente no sentido de se reconhecer a força vinculante as opiniões
consultivas da Corte IDH. Em um “acórdão da 2ª Turma da Câmara Cível do
Tribunal de Justiça de Roraima, que julgou improcedente agravo de instrumento
pelo qual o município de Boa Vista contestava decisão monocrática nos autos de
Medida Protetiva, que lhe obrigava ao fornecimento de alimentação e prestação
de serviços assistenciais em favor de crianças migrantes venezuelanas (e de seus
pais) em situação de rua ou extrema vulnerabilidade na capital roraimense”, o
relator do processo destacou a aplicabilidade ao caso da Opinião Consultiva n.
21 de Corte IDH73, para dela concluir pelo dever de assistência social do ente
municipal, ressaltando que
“embora haja um debate em curso sobre o grau de vinculatividade das Opiniões
Consultivas da Corte Interamericana (ou mesmo de outros tribunais internacionais),
alinho-me à corrente defendida por Héctor Faúndez Ledesma, que entende que as
chamadas Opiniões Consultivas não apenas estão dotadas da autoridade do órgão
judicial das quais emana, mas possuem efeito jurídico vinculante. Esse efeito,
segundo penso, deve ser reconhecido pelo menos para o(s) Estado(s) que
solicitou(aram) a consulta, de modo que, ainda que se discuta a vinculatividade de
todas as Opiniões Consultivas para o Brasil, pode-se dizer, de pronto, que a OC-21
se revela a ele obrigatória”.74
49
Página

71 Os pareceres consultivos estão disciplinados pelos arts. 70 a 75 do Regulamento da Corte.


72 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 364-369.
73 Corte IDH. Direitos e garantias de crianças no contexto da migração e/ou em necessidade de

proteção internacional. Opinião Consultiva OC-21/14 de 19 de agosto de 2014. Serie A n. 21.


Disponível em: <https://goo.gl/W4S7d9>. Acesso em 07 out. 2018.
74 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE RORAIMA. Diário da Justiça Eletrônico. Ano XX -

Edição 6085, pp. 07-13. Disponível em: <https://goo.gl/RhdZ8F>. Acesso em 07 out. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Conforme previsto no art. 64 (1), os Estados membros da OEA poderão


consultar a Corte sobre a interpretação da Convenção ou de outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.75 No
exercício dessa competência, a Corte tem produzido um vasto material, a
exemplo das opiniões consultivas, consideradas importantes fontes
jurisprudenciais.76
Já nos termos do art. 64 (2), a Corte, a pedido de um Estado membro da
OEA, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas
leis internas e os instrumentos internacionais de proteção dos direitos
humanos do Sistema Interamericano.77
Em relação à sua função contenciosa, cumpre inicialmente ressaltar que
não se trata de uma função que a Corte IDH pode exercer automaticamente. Por
outras palavras, um Estado que adere ou ratifica a CADH, não está
reconhecendo por meio de tais atos, a jurisdição contenciosa da Corte e sua
competência para apreciar eventuais casos de violação dos direitos humanos
previstos na Convenção e denunciados ao Sistema Interamericano em desfavor
desse Estado. Portanto, a jurisdição contenciosa da Corte IDH não é
automática, mas precisa ser reconhecida expressamente pelo Estado Parte
da CADH.78
Para que a Corte possa exercer sua jurisdição contenciosa sobre
determinado Estado Parte da CADH, no momento da adesão ou ratificação (ou
em qualquer outro momento) o Estado deve declarar expressamente que
reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a
competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação
desta Convenção (art. 62, 1).
50
Página

75 Vide especificamente os arts. 70 e 71 do Regulamento da Corte.


76 Sobre a importante atividade da Corte IDH nesse sentido vide: PIOVESAN, Flávia. Direitos
Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 360-363.
Todas as opiniões consultivas podem ser acessadas diretamente no site da própria Corte IDH.
Disponível em: <https://goo.gl/y8Ncr8>. Acesso em 24 mai. 2018.
77 Vide especificamente o art. 72 do Regulamento da Corte.
78 O status atual dos Estados que aderiram ou ratificaram e CADH, bem como aqueles que

reconheceram a jurisdição contenciosa da Corte IDH pode ser consultado aqui:


<https://goo.gl/phQOW4>. Acesso em 16 mai. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

No Brasil esse reconhecimento foi aprovado pelo Congresso Nacional por


meio do Decreto Legislativo n. 89, de 3 de dezembro de 1998. Por meio de nota
transmitida ao Secretário-Geral da OEA no dia 10 de dezembro de 1998, o Brasil
reconheceu a jurisdição e a competência obrigatória da Corte IDH a partir
de 10 de dezembro de 1998, conforme disposto no Decreto n. 4.463, de 08 de
novembro de 2002:79

Art. 1º É reconhecida como obrigatória, de pleno direito e por prazo indeterminado,


a competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos em todos os casos
relativos à interpretação ou aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de São José), de 22 de novembro de 1969, de acordo com art. 62 da citada
Convenção, sob reserva de reciprocidade e para fatos posteriores a 10 de dezembro
de 1998.

Essa declaração de reconhecimento poderá ser feita incondicionalmente,


ou sob condição de reciprocidade, por prazo determinado ou para casos
específicos. Nesse sentido a doutrina afirma que a competência ratione
temporis (competência temporal) da Corte pode sofrer limitações, já que pode
ser reconhecida por prazo determinado pelo Estado.80 A declaração estatal
deverá ser apresentada ao Secretário-Geral da OEA, que encaminhará cópias da
mesma aos outros Estados membros da Organização e ao Secretário da Corte
(art. 62, 2).
Sem prejuízo do direito de os Estados-Partes da CADH submeterem-se
voluntariamente à Corte IDH, nos termos da cláusula facultativa de jurisdição
obrigatória constante do Pacto de San José da Costa Rica (art. 62, 1), a Corte tem a
faculdade, inerente às suas atribuições, de determinar o alcance de sua própria
competência (compétence de la compétence). Sobre esse tema, Adriano Fernandes
Ferreira afirma que a “Corte é competente para se pronunciar sobre sua própria
competência, é uma faculdade inerente de todo tribunal internacional, é um princípio
geral de Direito Internacional Público, princípio da competência-competência
(compétence da compétence, Kompetenz-Kompetenz), estabelecida tanto na
jurisprudência da Corte, como por uma prática arbitral e judicial uniforme e
constante. Todo órgão com competências jurisdicionais, tem o poder inerente de
determinar o alcance de sua própria competência. O fundamento para esse
51

entendimento está previsto nos art. 62.3 e 62.1, ambos da CADH, pois, segundo a
Corte, os instrumentos de aceitação da cláusula facultativa da jurisdição obrigatória
Página

79 Disponível em: <https://goo.gl/sTisrj>. Acesso em 29 mai. 2018.


80 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 169.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

pressupõem a admissão, pelos Estados que apresentam, do direito da Corte de


resolver qualquer controvérsia relativa à sua jurisdição. Esta faculdade atende um
imperativo de segurança jurídica. (...) Desta forma, a impugnação da competência da
Corte é inócua, pois em qualquer circunstância tem a competência para determinar
sua própria competência (compétence da compétence), por ser fiscal de sua
jurisdição”.81

Uma vez reconhecida a jurisdição contenciosa da Corte, poderá ela


conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições
da CADH que lhe seja submetido (CADH, art. 62, 3). Manifesta-se aqui a
competência ratione materiae da Corte, isto é, a sua competência em razão
da matéria.
Acerca da legitimidade ativa, de acordo com o art. 61 da CADH, somente
os Estados Partes (que tenham também reconhecido a jurisdição da Corte) e a
Comissão têm o direito de submeter um caso para apreciação e decisão da
Corte IDH. Nesse sentido, a Corte só terá competência para apreciar um
determinado caso de violação dos direitos humanos quando a questão lhe tiver
sido submetida por um Estado Parte da CADH ou pela Comissão IDH,
manifestando-se aqui a sua competência ratione personae, isto é, sua
competência em razão da pessoa.
Nesse ponto específico deve-se aqui mencionar uma crítica doutrinária
muito contundente no sentido de que o Sistema Interamericano se mostra, pelo
menos até o presente momento, menos evoluído que o Sistema Europeu de
Proteção dos Direitos Humanos, que permite que um indivíduo peticione
diretamente junto à Corte Europeia dos Direitos do Homem.82 No Sistema
Interamericano os indivíduos dependem da Comissão ou de outro Estado
(actio popularis) para que suas vindicações possam chegar à Corte IDH, pois
até o presente momento lhe é vedado o direito de ação internacional (jus standi).
52
Página

81 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,


op. cit.
82 Sobre o tema vide: GROSSI, Ana Paula; PEREIRA, Luciano Meneguetti. A Proteção dos Direitos

Humanos no Continente Europeu: Breves Apontamentos. In: Revista FIDES, Natal, v. 6, n. 1,


jan./jun., 2015, pp. 163. Disponível em: <https://goo.gl/0fV4fN>. Acesso em 24 mai. 2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Para Antônio Augusto Cançado Trindade, a Comissão IDH figura como


parte apenas processual no caso perante a Corte, pois a verdadeira parte material
é aquela que é titular do direito humano supostamente violado, sendo, portanto,
inexplicável que essa atual situação perdure.83
A Corte IDH tem dado passos importantes no sentido de corrigir essa
distorção existente no Sistema Interamericano. Conforme explica André de
Carvalho Ramos:
“Em 2001, o regulamento da Corte IDH permitiu a participação da vítima
e de seus representantes em todas as fases do processo judicial, com direito a
se manifestar em igualdade de condições com a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e o Estado-réu, tal qual um assistente litisconsorcial do Autor.
Em 2009, a Corte deu mais um passo rumo a um processo mais
equilibrado entre os direitos das vítimas e dos Estados: na Opinião Consultiva
n. 20, a Corte reinterpretou o artigo 55 da Convenção (que trata dos juízes ad
hoc) e decidiu não mais aceitar a indicação de juiz ad hoc por parte do Estado-
réu (que não possua nenhum juiz de sua nacionalidade na composição da Corte)
nos casos iniciados na Comissão por petição de vítimas de violação de direitos;
na nova interpretação do artigo 55, o juiz ad hoc somente será chamado nas
demandas interestatais (aliás, até hoje inexistentes). Na mesma Opinião
Consultiva a Corte decidiu não mais permitir que o juiz da nacionalidade do
Estado-réu atue no processo iniciado pela Comissão a partir de petições
individuais, para fortalecer a imagem de imparcialidade.
Ainda em 2009, o novo Regulamento da Corte absorveu tais mudanças e
deu mais um passo rumo ao futuro afastamento da Comissão como Parte
Autora: a ação é iniciada pelo envio de Informe da Comissão (“Primeiro Informe”
ou “Relatório 50”), que não mais faz uma petição inicial própria. Antes dessa
Reforma de 2009, a Comissão elaborava a petição inicial e (após 2001) as vítimas
eram agregadas ao processo internacional como assistentes do Autor (a
Comissão). Agora, a partir da entrada em vigor do novo Regulamento e para as
53

demandas apresentadas a partir de 1º de janeiro de 2010, as vítimas ou seus


Página

representantes são intimados a apresentar a petição inicial do processo

83 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O Direito Internacional em um Mundo em


Transformação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 686.
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internacional. Ademais, todas as etapas processuais incluindo a petição inicial


são focadas nas vítimas, no Estado-réu e, secundariamente, na Comissão caso
ela mesmo deseje.
Inclusive pode a vítima requerer diretamente à Corte medida provisória (...)
no curso do processo. Assim, há direitos processuais da vítima, desde que, é
claro, a Comissão tenha provocado inicialmente a Corte. No caso de a Comissão
ainda não ter provocado a Corte (...), somente a própria Comissão pode requerer
medida provisória. Simbolicamente, a Corte tenta caracterizar a Comissão não
como uma “Autora”, mas sim como órgão do sistema interamericano, verdadeiro
“custos legis” (fiscal da lei)”.84
Quanto à legitimidade passiva, esclarece André de Carvalho Ramos ser
“sempre do Estado: a Corte IDH não é um Tribunal que julga pessoas (...) a Corte
julga, assim, uma ação de responsabilidade internacional do Estado por violação
de direitos humanos”.85
Nos termos do art. 61(2), para que a Corte possa conhecer de qualquer
caso, é necessário que sejam esgotados os procedimentos previstos nos arts. 48
a 50, estudados anteriormente, quando se abordou a Comissão IDH.

PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE IDH

O processo perante a Corte IDH está regulado pelos arts. 66 a 69 da CADH


e bastante detalhado em seu Regulamento, especificamente nos arts. 22 a 69.
De acordo com o Regulamento, o processo que tramita perante a Corte é
composto por três etapas distintas:
1) Procedimento inicial escrito (arts. 34 a 44);
2) Procedimento oral (arts. 45 a 55);
3) Procedimento final escrito (art. 56).
Além destas etapas, que dizem respeito especificamente aos atos que
comporão o iter procedimental junto à Corte, ainda em relação ao processo, o
Regulamento prevê:
54
Página

84 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 249-250.
85 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 342.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

a) diversas regras gerais que envolvem os seguintes assuntos: idiomas


oficiais de trabalho da Corte IDH (art. 22), representação dos Estados
(art. 23), representação da Comissão IDH (art. 24), participação das
supostas vítimas ou seus representantes (art. 25), cooperação dos
Estados (art. 26), medidas provisórias (art. 27), apresentação de
escritos (art. 28), procedimento por não comparecimento ou falta de
atuação (art. 29), acúmulo de casos e de autos (art. 30), resoluções (art.
31), publicação das sentenças e outras decisões (art. 32), transmissão
de escritos (art. 33);
b) disposições pertinentes às provas no âmbito da Corte (arts. 57 a 60);
c) disposições relativas à desistência, reconhecimento e solução amistosa
(arts. 61 a 64);
d) disposições específicas sobre a sentença e (arts. 65 a 67);
e) regras relativas ao pedido de interpretação da sentença (art. 68);
f) regras concernentes à supervisão de cumprimento de sentenças e
outras decisões da Corte (art. 69).
Em síntese, o iter procedimental a ser seguido perante a Corte IDH pode
ser sintetizado conforme as três etapas descritas acima e conforme detalhamento
feito a seguir.

I) Procedimento Inicial Escrito (arts. 34 a 44)

1) Submissão do caso à Corte IDH e petição inicial da demanda

O processo perante a Corte IDH tem início com a apresentação de uma


causa, em um dos idiomas oficiais (espanhol, inglês, português e francês),
perante à Secretaria da Corte (Regulamento, art. 34), por um dos Estados Partes
na CADH ou pela Comissão (CADH, art. 61, 1).
Vale aqui lembrar, conforme visto anteriormente, que até o presente
momento, contrariamente ao que ocorre no Sistema Europeu de Direitos
Humanos, o indivíduo não tem legitimação para submeter um caso diretamente
à Corte IDH, embora possa atuar de maneira mais ativa em momentos
posteriores à submissão do caso.
55
Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Submissão do caso pela Comissão (mais utilizado e mais importante)

Nos termos do art. 35(1) do Regulamento da Corte, o caso será submetido


à Corte mediante apresentação do relatório ao qual se refere o art. 50 da CADH,
que contenha todos os fatos supostamente violatórios, inclusive a identificação
das supostas vítimas. Para que o caso possa ser examinado pela Corte, deverão
estar presentes as seguintes informações:
a) os nomes dos Delegados (representantes da Comissão);
b) os nomes, endereço, telefone, correio eletrônico e fac-símile dos
representantes das supostas vítimas devidamente credenciados, se for
o caso;
c) os motivos que levaram a Comissão a apresentar o caso ante a Corte e
suas observações à resposta do Estado demandado às recomendações
do relatório ao qual se refere o art. 50 da Convenção;
d) cópia da totalidade do expediente ante a Comissão, incluindo toda
comunicação posterior ao relatório ao que se refere o art. 50 da CADH;
e) as provas que recebeu, incluindo o áudio ou a transcrição, com
indicação dos fatos e argumentos sobre os quais versam. Serão
indicadas as provas que se receberam em um procedimento
contraditório.
f) quando se afetar de maneira relevante a ordem pública interamericana
dos direitos humanos, a eventual designação dos peritos, indicando o
objeto de suas declarações e acompanhando seu currículo;
g) as pretensões, incluídas as que concernem a reparações.
Quando se justificar que não foi possível identificar alguma ou algumas
supostas vítimas dos fatos do caso, por se tratar de casos de violações massivas
ou coletivas, o Tribunal decidirá em sua oportunidade se as considera vítimas
(art. 35, 2).
A Comissão deverá indicar quais dos fatos contidos no relatório ao qual se
refere o art. 50 da Convenção submete à consideração da Corte (art. 35, 3). “Os
fatos expostos pela Comissão determinam os limites objetivo e subjetivo do objeto
56

do processo”.86
Página

86 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 251.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Submissão do caso pelo Estado

Conforme dispõe o art. 36 do Regulamento da Corte, um Estado Parte


poderá submeter um caso à Corte, conforme prevê o art. 61 da CADH, através
de um escrito motivado que deverá conter as seguintes informações:
a) os nomes dos Agentes e Agentes assistentes e o endereço no qual se
considerarão oficialmente recebidas as comunicações pertinentes;
b) os nomes, endereço, telefone, correio eletrônico e fac-símile dos
representantes das supostas vítimas devidamente credenciados, se for
o caso;
c) os motivos que levaram o Estado a apresentar o caso ante a Corte;
d) a cópia da totalidade do expediente ante a Comissão, incluindo o
relatório ao qual se refere o art. 50 da Convenção e toda comunicação
posterior a esse relatório;
e) as provas que oferece, com indicação dos fatos e argumentos sobre os
quais versam;
f) a individualização dos declarantes e o objeto de suas declarações. No
caso dos peritos, deverão ademais remeter seu currículo e seus dados
de contato.
Nas submissões de casos interestatais à Corte se aplicam os incisos 2 e 3
do art. 35 do Regulamento.

A figura do Defensor Público Interamericano

A figura do defensor público interamericano está prevista nos arts. 2º (11)


e 37 do Regulamento da Corte IDH. Os defensores públicos interamericanos
atuam por designação da Corte IDH para que assumam a representação legal de
vítimas que não tenham designado defensor próprio. Até 2009, a representação
das vítimas era feita pela própria Comissão IDH.
57
Página
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Artigo 2. Definições
Para os efeitos deste Regulamento:
(...)
11. a expressão “Defensor Interamericano” significa a pessoa que a Corte designe
para assumir a representação legal de uma suposta vítima que não tenha designado
um defensor por si mesma;
(...)
Artigo 37. Defensor Interamericano
Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente
credenciadas, o Tribunal poderá designar um Defensor Interamericano de
ofício que as represente durante a tramitação do caso.

Nos casos em que a situação econômica da vítima não lhe permita pagar
advogados para atuar perante a Corte ou a Comissão IDH, competirá à
Associação Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF)87, entidade
privada, sem fins lucrativos, apolítica, não religiosa, social e cultural integrada
por Defensorias Públicas e associações de defensores públicos de cada um dos
países que a integram88, indicar o defensor ou a defensora pública pertencente
aos quadros da entidade a quem incumbirá o encargo, a teor do que dispõem os
arts. 2º (11) e 37 do Regulamento da Corte IDH.89

2) Exame preliminar da demanda

Recebido o caso, se no exame preliminar da demanda, o Presidente da


Corte IDH verificar que os requisitos fundamentais não foram cumpridos,
solicitará ao demandante (Estado ou Comissão) que supra as lacunas dentro de
um prazo de 20 dias (Regulamento, art. 38).
58
Página

87 Vide maiores informações no site da Associação Interamericana de Defensorias Públicas.


Disponível em: <http://aidef.org/>. Acesso em 29 mai. 2018. Informações detalhadas sobre o
processo de escolha e nomeação do defensor público interamericano podem ser encontradas no
Regulamento Unificado para a Atuação da AIDEF ante a Comissão e a Corte Interamericanas de
Direitos Humanos. Disponível em: <https://goo.gl/xPl9oJ>. Acesso em 29 mai. 2018.
88 Participaram da assinatura da ata constitutiva os seguintes países: Antigua e Barbuda,

Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Honduras, México,
Nicarágua, Paraguai, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Posteriormente
se incorporaram Bahamas, Bolívia, Estados Unidos, Guatemala, Jamaica, Panamá, Peru e
Trinidade e Tobago.
89 Para maiores informações sobre a figura do defensor público interamericano vide: COSTA,

Aldo de Campos. O processo de escolha e designação do defensor público interamericano. In:


Conjur, 11 de dezembro de 2014. Disponível em: <https://goo.gl/hQ7Jnc>. Acesso em 29 mai.
2018.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

3) Notificação da demanda (“citação”)

Supridas as lacunas constatadas no exame preliminar da demanda ou


estando ela em ordem no ato do recebimento pela Corte, o Secretário notificará
da demanda: (i) o Presidente e os juízes da Corte; (ii) o Estado demandado; (iii) a
Comissão, se não for a demandante; (iv) a suposta vítima, seus representantes
ou o Defensor Interamericano, se for o caso (Regulamento, art. 39, 1).
O Secretário também deverá informar sobre a apresentação da demanda
os outros Estados Partes, ao Conselho Permanente por intermédio do seu
Presidente e ao Secretário Geral da OEA (Regulamento, art. 39, 2).
Junto com a notificação, o Secretário solicitará que, no prazo de 30 dias,
o Estado demandado designe os seus respectivos Agentes.90 Ao credenciar os
Agentes, o Estado interessado deverá informar o endereço no qual se
considerarão oficialmente recebidas as comunicações pertinentes (Regulamento,
art. 39, 3).
Enquanto os Delegados da Comissão IDH não tiverem sido nomeados, ela
será tida como suficientemente representada por sua Presidência, para todos os
efeitos do caso (Regulamento, art. 39, 4).91
Junto com a notificação, o Secretário solicitará aos representantes das
supostas vítimas que no prazo de 30 dias confirmem o endereço no qual se
considerarão oficialmente recebidas as comunicações pertinentes (Regulamento,
art. 39, 5).

4) Apresentação de escrito de petições, argumentos e provas pelas


supostas vítimas ou seus representantes

O art. 40 do Regulamento da Corte IDH estabelece que uma vez notificada


a demanda à suposta vítima ou aos seus representantes, estes disporão de um
prazo improrrogável de 2 (dois) meses, contado a partir do recebimento desse
59

escrito e de seus anexos, para apresentar autonomamente à Corte suas


Página

90 Nos termos do art. 2º (1) do Regulamento da Corte, “o termo ‘Agente’ significa a pessoa
designada por um Estado para representá-lo perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos”. E conforme dispõe o art. 2º (2) do mesmo documento, “a expressão ‘Agente assistente’
significa a pessoa designada por um Estado para assistir o Agente no exercício de suas funções
e substituí-lo em suas ausências temporárias”.
91 Conforme estabelece o art. 2º (12) do Regulamento da Corte, “o termo ‘Delegados’ significa as

pessoas designadas pela Comissão para representá-la perante a Corte”.


Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

petições, argumentos e provas (o que pode ser sintetizado como uma espécie
de petição inicial).
Essa petição inicial deverá conter a descrição dos fatos dentro do marco
fático estabelecido na apresentação do caso pela Comissão; as provas oferecidas
devidamente ordenadas, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos sobre
os quais versam; a individualização dos declarantes e o objeto de sua declaração
(no caso dos peritos, deverão ademais remeter seu currículo e seus dados de
contato); as pretensões, incluídas as que concernem a reparações e custas.

5) Contestação do Estado demandado e exceções preliminares

Após a apresentação da petição inicial pelas supostas vítimas ou por seus


representantes, nos termos do art. 41 do Regulamento o Estado demandado será
notificado para também, no prazo idêntico de 2 (dois) meses92, contado a partir
do recebimento desse escrito e de seus anexos, oferecer a sua contestação
(exposição por escrito de sua posição sobre o caso) ao caso submetido à Corte e
à petição inicial apresentada pelas vítimas.
O Estado demandado pode não impugnar os fatos e as pretensões,
acatando sua responsabilidade internacional (art. 41, “a”). “Nesse caso, a Corte
estará apta a sentenciar tout court” 93 (simplesmente, sem mais). No entanto, caso
o Estado queria contestar, deverá então indicar as provas (inclusive as periciais)
que pretende produzir, bem como os fundamentos de direito, as observações às
reparações e às custas solicitadas, bem como as conclusões pertinentes (art. 41,
“b”, “c” e “d”).
A contestação apresentada pelo Estado deverá ser comunicada pelo
Secretário à Presidência e aos juízes da Corte, à Comissão IDH (se não for ela
que tiver apresentado o caso), à(s) suposta(s) vítima(s), seus representantes ou o
Defensor Interamericano, se for o caso, bem como ao Estado demandante nos
casos a que se refere o art. 45 da Convenção (casos de comunicações
interestatais).
60
Página

92 A presidência da Corte poderá fixar outro prazo na hipótese do art. 25(2) do Regulamento
(pluralidade de supostas vítimas ou representantes).
93 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 251.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

A Corte poderá considerar aceitos aqueles fatos que não tenham sido
expressamente negados e as pretensões que não tenham sido expressamente
controvertidas (art. 41, 3).
Em razão do disposto no art. 42(1) do Regulamento, na própria
contestação, o Estado deverá, caso assim entenda, apresentar suas exceções
preliminares. “São exceções preliminares toda a matéria que impeça que a Corte
se pronuncie sobre o mérito da causa”.94 Geralmente os Estados alegam a
ausência de requisitos que já foram trazidos perante o trâmite da questão junto
à Comissão, tais como a incompetência da Corte, a falta de interesse processual,
a regra da quarta instância, a ausência do esgotamento de recursos internos95
ou ainda a caducidade do prazo de três meses para propor a demanda.96
Também há casos em que os Estados alegam como exceção preliminar matéria
de mérito, v.g., a suficiência das reparações ajustadas no âmbito do Direito
Interno, fato que leva a Corte IDH a continuar com a análise do caso.97
Regra ou Teoria da Quarta Instância
Há no âmbito da Corte Interamericana um claro entendimento de que este órgão do
Sistema Interamericano não constitui um tribunal de apelações e nem uma quarta
instância que se encontra legitimada para revisar supostos erros de fato ou de direito
cometidos pelos tribunais nacionais. Em razão desta regra, os órgãos do SIDH se
abstém de revisar a correção ou equívoco das decisões dos tribunais nacionais em
matérias não disciplinadas diretamente pela CADH, caso sejam respeitadas as
garantias do procedimento (devido processo legal). Esta regra “funciona como uma
espécie de margem de deferência aos sistemas judiciais nacionais, pois reconhece
sua ampla margem de autonomia para atuar na interpretação das normas locais e
61

na decisão dos casos concretos, sob a única condição de que sejam respeitadas as
Página

garantias processuais estabelecidas na Convenção”.98

94 RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 252.
95 Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,
Reparações e Custas. Sentença de 24 de novembro de 2010, Série C, n. 2019, §§ 10 a 49.
Disponível em: <https://goo.gl/Dp4Bb9>. Acesso em 24 mai. 2018.
96 Caso Cayara vs. Peru. Exceções Preliminares. Sentença de 3 de fevereiro de 1993, Série C, n.

14. Neste caso a Corte IDH deu razão ao Peru e extinguiu o caso em razão da perda do prazo
para a propositura da ação internacional. Disponível em: <https://goo.gl/7Oeulo>. Acesso em
24 mai. 2018.
97 Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,

Reparações e Custas. Sentença de 24 de novembro de 2010, Série C, n. 2019, §§ 20 a 31.


Disponível em: <https://goo.gl/Dp4Bb9>. Acesso em 24 mai. 2018.
98 ABRAMOVICH, Víctor. Das violações em massa aos padrões estruturais: novos enfoques e

clássicas tensões no sistema interamericano de direitos humanos. In: Sur, Revista Internacional
de Direitos Humanos, vol. 6, n. 11, São Paulo, dezembro, 2009.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Ao opor exceções preliminares, o Estado deverá expor os fatos, os


fundamentos de direito, as conclusões e os documentos que as embasem, bem
como oferecer as provas (art. 42, 2). A apresentação de exceções preliminares
não suspenderá o procedimento em relação ao mérito, nem aos prazos e aos
termos respectivos (art. 42, 3). A Comissão, as supostas vítimas ou seus
representantes e o Estado demandante (no caso de se tratar de uma
comunicação estatal) poderão apresentar suas observações às exceções
preliminares no prazo de 30 dias, contado a partir do recebimento das mesmas
(art. 42, 4). Quando considerar indispensável, a Corte poderá convocar uma
audiência especial para as exceções preliminares, depois da qual, decidirá (art.
42, 5).
Ao final desse procedimento contraditório, a Corte IDH então decidirá
sobre as exceções preliminares, podendo arquivar o caso ou ordenar o seu
prosseguimento. Com fundamento no art. 42(6) do Regulamento, tem sido uma
prática da Corte a adoção de uma única sentença, contendo as exceções
preliminares, o mérito e as determinações de reparações e as custas. Desse
modo, as exceções preliminares têm ficado acostadas ao feito, que segue
normalmente com a produção probatória, para serem decididas ao final em
conjunto com o mérito.

6) Outros atos do procedimento escrito

Conforme dispõe o art. 43 do Regulamento, posteriormente à recepção do


escrito de submissão do caso (pela Comissão ou pelo Estado), ao escrito de
petições, argumentos e provas (pelas supostas vítimas ou seus representantes)
e ao escrito de contestação (pelo Estado demandado), e antes da abertura do
procedimento oral, a Comissão IDH, as supostas vítimas ou seus
representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o Estado demandante (no
caso de uma comunicação estatal) poderão solicitar à Presidência a realização
de outros atos do procedimento escrito. Neste caso, se a Presidência da Corte
considerar pertinente, fixará então os prazos para a apresentação dos
respectivos documentos.
62
Página
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7) Apresentação de amicus curiae

A figura do amicus curiae está prevista nos arts. 2º (3) e 44 do Regulamento


da Corte IDH. Nos termos do art. 2º, “a expressão ‘amicus curiae’ significa a
pessoa ou instituição alheia ao litígio e ao processo que apresenta à Corte
fundamentos acerca dos fatos contidos no escrito de submissão do caso ou
formula considerações jurídicas sobre a matéria do processo, por meio de um
documento ou de uma alegação em audiência”.
Conforme esclarece André de Carvalho Ramos, no “Direito Internacional,
o amicus curiae (na tradução literal, amigo do Tribunal) consiste em um ente que
não é parte na disputa e que oferece a determinada Corte Internacional uma
perspectiva própria, argumentos ou determinado saber especializado, que
poderão ser úteis na tomada de decisão”.99
O escrito de quem deseje atuar como amicus curiae poderá ser apresentado
à Corte, junto com seus anexos, através de qualquer dos meios estabelecidos por
seu Regulamento (art. 28.1), no idioma de trabalho do caso, e com o nome do
autor ou autores e assinatura de todos eles (art. 44, 1).
Nos casos contenciosos que tramitam perante a Corte IDH, um escrito em
caráter de amicus curiae poderá ser apresentado em qualquer momento do
processo, porém no mais tardar até os 15 dias posteriores à celebração da
audiência pública destinada à coleta de testemunhos. Nos casos em que não
se realize audiência, deverá ser remetido dentro dos 15 dias posteriores à
resolução correspondente na qual se outorga prazo para o envio de alegações
finais. Após consulta à Presidência, o escrito de amicus curiae, junto com seus
anexos, será posto imediatamente em conhecimento das partes para sua
informação (art. 44, 3).
Nos termos do art. 44 (4) do Regulamento, nos procedimentos de
supervisão de cumprimento de sentenças e de medidas provisórias, poderão
apresentar-se escritos de amicus curiae.
63
Página

99 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 344.


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II) Procedimento Oral – Fase Probatória (arts. 45 a 55)

8) Abertura

Terminada a fase inicial de escritos, a Presidência determinará a data de


abertura do procedimento oral e indicará as audiências necessárias
(Regulamento, art. 45).
Conforme aponta André de Carvalho Ramos, o “novo Regulamento é
nitidamente informado pelo princípio acusatório, dando relevo à atividade das
partes materiais (vítimas ou representantes e Estados). O procedimento é
essencialmente oral, com determinação de audiências para a coleta dos
depoimentos das vítimas, testemunhas e peritos”.100

9) Lista definitiva de declarantes

Conforme dispõe o art. 46(1) do Regulamento, inicialmente a Corte IDH


solicitará às supostas vítimas ou seus representantes, ao Estado demandado e
ao Estado demandante (no caso de comunicações interestatais), uma lista
definitiva de declarantes101, na qual deverão fazer constar a confirmação ou a
desistência da propositura das declarações das supostas vítimas, das
testemunhas e dos peritos que indicaram anteriormente por ocasião da
submissão do caso (pela Comissão ou pelo Estado), da apresentação da petição
inicial (pelas supostas vítimas ou seus representantes) e da contestação (pelo
Estado demandado).
Além disso, as partes deverão indicar quais declarantes oferecidos deverão
ser convocados para a audiência (nos casos em que esta houver) e quais poderão
prestar sua declaração ante um affidávit, isto é, perante um agente dotado de fé
pública, v.g., um notário no Brasil (art. 46, 1). Neste caso, as vítimas ou seus
representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o Estado demandante
(casos de comunicações interestatais), em momento oportuno poderão formular
perguntas por escrito aos declarantes oferecidos pela parte adversa, que tenham
sido convocados a prestar declaração pela via do affidávit” (art. 50, 5).
64
Página

100RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos, op. cit., p. 252-253.
101Nos termos do art. 2º (10) do Regulamento da Corte IDH, “o termo ‘declarantes’ significa as
supostas vítimas, as testemunhas e os peritos que declaram no procedimento ante a Corte”.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

Vale aqui ressaltar que, nos termos do art. 51 (11) do Regulamento da


Corte, ela também poderá receber, durante suas audiências, declarações
testemunhais, periciais ou de vítimas fazendo uso de meios eletrônicos
audiovisuais (teleconferência).
Recebidas as listas definitivas de declarantes, a Corte as transmitirá à
contraparte e concederá um prazo para que possam apresentar, se assim
quiserem, as observações, objeções ou recusas (art. 46, 2).

10) Impugnação de testemunhas

O art. 47(1) do Regulamento estabelece que a testemunha poderá ser


impugnada pela contraparte dentro dos 10 dias seguintes ao recebimento da
lista definitiva na qual se confirma o oferecimento de tal declaração, sendo que
o valor das declarações e das impugnações das partes será objeto de apreciação
da Corte ou da Presidência, conforme for o caso (art. 47, 2).

11) Recusa de peritos

O art. 48(1) do Regulamento prevê que os peritos indicados pelas partes


poderão ser recusados nas hipóteses ali previstas: (i) parentesco por
consanguinidade ou afinidade; (ii) representação anterior (no âmbito doméstico
do Estado ou no âmbito da Comissão) de alguma das supostas vítimas em
relação ao caso; (iii) vínculos estreitos ou subordinação funcional capaz de afetar
a sua imparcialidade; (iv) atuação como funcionários da Comissão que tenha
possibilitado o conhecimento do caso em questão; (v) atuação como Agentes do
Estado demandado; e, (vi) intervenção anterior a qualquer título, e em qualquer
instância, nacional ou internacional, em relação com a mesma causa.
A recusa deverá ser proposta dentro dos dez dias subsequentes à recepção
da lista definitiva na qual se confirma o oferecimento do referido ditame (art. 48,
2). A Presidência transladará ao perito em questão a recusa formulada contra
ele e lhe outorgará um prazo determinado para que apresente suas observações.
Tudo isso será submetido às considerações dos intervenientes no caso.
Posteriormente, a Corte ou quem a presida resolverá o que for pertinente (art.
48, 3).
65
Página
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12) Substituição dos declarantes oferecidos

Excepcionalmente, diante de um pedido fundado e depois de escutado o


parecer da contraparte, a Corte IDH poderá aceitar a substituição de um
declarante, desde que se individualize o substituto e se respeite o objeto da
declaração, testemunho ou perícia originalmente oferecida (art. 49).

13) Oferecimento, citação e comparecimento dos declarantes

Nos termos do art. 50 (1), a Corte ou sua Presidência emitirá uma


resolução na qual, segundo o caso: (i) decidirá sobre as observações, objeções
ou recusas que tenham sido apresentadas; (ii) definirá o objeto de declaração de
cada um dos declarantes; (iii) requererá a remessa das declarações prestadas
ante agente dotado de fé pública (affidávit) que considere pertinentes; e, (iv)
convocará para audiência, se assim entender necessário, aquelas pessoas cuja
participação entender necessária.
A parte que propôs a declaração deverá notificar o declarante acerca da
resolução da Corte (art. 50, 2).
As declarações versarão unicamente sobre o objeto definido na resolução
da Corte, sendo que, excepcionalmente, diante da solicitação fundada e depois
de escutado o parecer da contraparte, a Corte poderá modificar o objeto da
declaração ou aceitar uma declaração que tenha excedido o objeto fixado (art.
50, 3).
A parte que tiver indicado um declarante ficará encarregada, conforme o
caso, do seu comparecimento perante a Corte IDH ou da remessa ao Tribunal,
da declaração prestada perante um agente dotado de fé pública (affidávit) (art.
50, 4). Uma vez recebida a declaração prestada ante agente dotado de fé pública
(affidávit), esta será transmitida à contraparte e, se for o caso, à Comissão para
que apresentem suas observações dentro do prazo que fixe a Corte ou a
Presidência (art. 50, 6).

14) Audiência

O art. 51 do Regulamento da Corte disciplina os atos e o iter procedimental


que deverá ser obedecido durante uma audiência da Corte IDH, que
66

sinteticamente podem ser assim colocados:


Página
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1) Oitiva da Comissão IDH (art. 51,1);


2) Interrogatório dos declarantes (supostas vítimas, testemunhas e
peritos), que serão interrogados na forma estabelecida pelo art. 52102
do Regulamento (art. 51, 2), depois de serem identificados e prestarem
juramento, no caso das testemunhas e peritos (art. 51, 3 e 4), já que as
vítimas estão dispensadas de prestarem juramento, bastando a sua
identificação (art. 51, 5);
3) Alegações das supostas vítimas ou seus representantes e do Estado
demandado, com a possibilidade de uma réplica e uma dúplica (art. 51,
7);
4) Observações finais pela Comissão IDH (art. 51, 8);
5) Formulação de perguntas à Comissão, às supostas vítimas ou a seus
representantes e ao Estado, pelos juízes da Corte, caso assim entendam
(art. 51, 9).
Nos casos não apresentados pela Comissão, a Presidência da Corte dirigirá
as audiências, determinará a ordem em que tomarão a palavra as pessoas que
nelas possam intervir e disporá as medidas que sejam pertinentes para sua
melhor realização (art. 51, 10).
O art. 53 do Regulamento da Corte trata da proteção de supostas
vítimas, testemunhas, peritos, representantes e assessores legais,
estabelecendo que os Estados não poderão processar as supostas vítimas, as
testemunhas, os peritos, os representantes ou assessores legais, nem exercer
represálias contra os mesmos ou seus familiares, em virtude de suas
67

declarações, laudos rendidos ou sua defesa legal perante Corte.


Página

102“Artigo 52. Perguntas durante os debates. 1. Os Juízes poderão formular as perguntas que
estimem pertinentes a toda pessoa que compareça ante a Corte. 2. As supostas vítimas, as
testemunhas, os peritos e toda outra pessoa que a Corte decida ouvir poderão ser interrogados,
sob a moderação da Presidência, pelas supostas vítimas ou seus representantes, o Estado
demandado e, se for o caso, o Estado demandante. 3. A Comissão poderá interrogar os peritos
que a mesma propuser, conforme o artigo 35.1.f do presente Regulamento; bem como os das
supostas vítimas, do Estado demandado e, se for o caso, do Estado demandante, se a Corte o
autorizar em solicitação fundada da Comissão, quando se afete de maneira relevante a ordem
pública interamericana dos direitos humanos e sua declaração versar sobre alguma matéria
contida em uma perícia oferecida pela Comissão. 4. A Presidência estará facultada a resolver
sobre a pertinência das perguntas formuladas e a dispensar de respondê-las a pessoa a quem
se dirijam, a menos que a Corte resolva de outra forma. Não serão admitidas as perguntas que
induzam as respostas”.
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Por sua vez, o art. 54 cuida do não comparecimento ou do falso


testemunho perante a Corte, dispondo que o Tribunal levará ao conhecimento
do Estado que exerce jurisdição sobre a testemunha os casos em que as pessoas
convocadas a comparecer ou declarar não comparecerem ou se recusem a depor
sem motivo legítimo ou que, segundo o parecer da própria Corte, tenham violado
o juramento ou declaração solene, para os fins previstos na legislação nacional
correspondente.

III) Procedimento Final Escrito (art. 56)

15) Alegações finais escritas

Superada a segunda fase (procedimento oral), tem início a última fase do


processo junto à Corte IDH, consistente num procedimento final escrito,
conforme o disposto no art. 56 do Regulamento da Corte, em que (i) as supostas
vítimas ou seus representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o Estado
demandante (no caso de comunicações interestatais) terão a oportunidade de
apresentar alegações finais escritas no prazo que determinar a Presidência
(art. 56, 1) e (ii) a Comissão IDH poderá, se entender conveniente, apresentar
observações finais escritas no mesmo prazo fixado (art. 56, 2).

16) Prova

Os arts. 57 a 60 do Regulamento dispõe sobre a prova nos procedimentos


ocorridos no âmbito da Corte.

17) Desistência, reconhecimento e solução amistosa

O art. 61 do Regulamento da Corte, que trata da desistência, estabelece


que no caso de quem fez a apresentação do caso (Estado ou Comissão) notificar
a Corte de sua desistência, o Tribunal deverá decidir, ouvida a opinião de todos
os intervenientes no processo, sobre sua procedência e seus efeitos jurídicos.
Por sua vez, o art. 62, que cuida do reconhecimento da
responsabilidade, dispõe que se o demandado comunicar à Corte sua aceitação
dos fatos ou seu acatamento total ou parcial das pretensões que constam na
submissão do caso ou no escrito das supostas vítimas ou seus representantes,
68

a Corte, ouvido o parecer dos demais intervenientes no processo, resolverá, no


Página

momento processual oportuno, sobre sua procedência e seus efeitos jurídicos.


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Quanto à solução amistosa do caso, prevê o art. 63 do Regulamento que


quando a Comissão, as vítimas ou supostas vítimas ou seus representantes, o
Estado demandado e, se for o caso, o Estado demandante (no caso de
comunicações interestatais) em um caso perante a Corte, a comunicarem sobre
a existência de uma solução amistosa, de um acordo ou de outro fato idôneo
para dar solução ao litígio, a Corte resolverá, no momento processual oportuno,
sobre sua procedência e seus efeitos jurídicos.

18) Sentenças da Corte IDH

O art. 66 (1) da CADH estabelece que a sentença da Corte IDH deverá ser
fundamentada e, caso não expresse no todo ou em parte a opinião unânime dos
juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto
dissidente ou individual (art. 66, 2). Nesse sentido, conforme dispõe o art. 65
(2) do Regulamento da Corte, todo juiz que houver participado no exame de um
caso tem direito a acrescer à sentença seu voto concordante ou dissidente,
que deverá ser fundamentado. Esses votos deverão ser apresentados dentro do
prazo fixado pela Presidência, para que possam ser conhecidos pelos juízes antes
da notificação da sentença. Os mencionados votos só poderão referir-se à
matéria tratada nas sentenças (art. 65, 2).
De acordo com o art. 67 da CADH, a sentença da Corte IDH é definitiva
e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a
Corte deverá interpretá-la, a pedido de qualquer das partes, desde que o
pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação
da sentença.103
As sentenças são de cumprimento obrigatório por parte dos Estados
Partes na CADH em todo caso em que forem partes, por força do que dispõe o
art. 68 (1) da Convenção.
Quanto aos seus requisitos, o art. 65 (1) do Regulamento estabelece que
as sentenças da Corte IDH deverão conter:
69
Página

103O art. 68 do Regulamento da Corte dispõe sobre o pedido de interpretação das sentenças da
Corte IDH.
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a) o nome de quem presidir a corte e dos demais juízes que a proferiram,


do secretário e do secretário adjunto;
b) a identificação dos intervenientes no processo e seus representantes;
c) uma relação dos atos do procedimento;
d) a determinação dos fatos;
e) as conclusões da comissão, das vítimas ou seus representantes, do
estado demandado e, se for o caso, do estado demandante;
f) os fundamentos de direito;
g) a decisão sobre o caso;
h) o pronunciamento sobre as reparações e as custas, se procede;
i) o resultado da votação; e,
j) a indicação sobre qual é a versão autêntica da sentença.
A Corte IDH poderá decidir pela procedência ou improcedência, parcial ou
total, da ação de responsabilização internacional do Estado por violação de
direitos humanos.
Quando a Corte IDH decidir que houve violação de um direito ou liberdade
protegidos pela CADH, determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do
seu direito ou liberdade violados. Também determinará, se isso for procedente,
que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja
configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de
indenização justa à parte lesada (CADH, art. 63, 1).

Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário


evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que
estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que
considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não
estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da
Comissão (CADH, art. 63, 2).

André de Carvalho Ramos explica que em suas sentenças, “a Corte IDH


pode determinar toda e qualquer conduta de reparação e garantia do direito
70

violado, abrangendo obrigações de dar, fazer e não fazer”.104


Página

104 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit.


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A reparação do dano, mencionada no art. 63 (1), da CADH, deve ser


orientada pelo princípio da restitutio in integrum, o que inclui o
restabelecimento ao status quo (quando possível), mais o pagamento de uma
indenização como compensação pelos danos patrimoniais e extrapatrimoniais. A
Corte IDH entende que a reparação é um fim genérico que compreende as
diferentes formas pelas quais um Estado pode fazer frente à responsabilidade
internacional em que tem incorrido, seja através da: a) restitutio in integrum, b)
indenização, c) satisfação, ou, d) garantias de não repetição.105
Nesse contexto, no âmbito do conteúdo das sentenças da Corte IDH
normalmente são encontradas as seguintes condenações:

1. Condenação ao pagamento de indenizações compensatórias

Quando não é possível a restitutio in integrum, torna-se necessário buscar


formas substitutivas de reparação em favor das vítimas de violações, como a
indenização pecuniária em favor dos familiares e dependentes das vítimas. A
condenação ao pagamento de indenizações pela Corte IDH pode ocorrer em pelo
menos três modalidades: (i) por danos materiais, (ii) por danos imateriais (ou
morais), e (iii) por danos ao projeto de vida.

1.1. Indenização por dano material

A indenização por dano material que tem sido fixada pela Corte IDH
abrange os danos emergentes (detrimento direto, prejuízo ou destruição
material dos bens, com independência dos outros efeitos, patrimoniais ou de
outra índole, que possa derivar do ato que os causou, compreendendo o valor
dos bens destruídos, os gastos para obter informação acerca do paradeiro das
vítimas, a recuperação do cadáver, os custos adicionais que essa violação possa
ter causado à vítima e incluindo os gastos futuros de reabilitação da vítima) e
também os lucros cessantes (o que a vítima ou seus familiares deixaram de
auferir em razão das violações de direitos humanos experimentadas).
71
Página

105Corte IDH. Caso Castillo Páez. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de novembro
de 1998, parágrafo 48; Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27
de novembro de 1998, parágrafo 85.
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1.2. Indenização por dano imaterial (moral)

No início de suas atividades, a Corte IDH tratava do dano imaterial


juntamente com o dano moral, entendido este último por ela como “o resultado
da humilhação, do sofrimento, aflições e dor causada à vítima decorrente da
violação de seus direitos humanos, trazendo consequências psicológicas para a
própria vítima ou para seus familiares, pela natureza somente pode ser
compensado mediante uma indenização pecuniária”.106
No entanto, a partir do Caso Cantoral Benavides, “a Corte tem tendido a
omitir toda referência ao dano moral e substituir por dano imaterial. O dano
imaterial tem um caráter mais amplo e não é meramente semântico, tem
um caráter eminentemente qualitativo e é mais apropriado às reparações no
âmbito dos direitos humanos, levando em conta o indivíduo como um todo e
apreciando o impacto que tiveram sobre ele as violações dos direitos
humanos”.107
A Corte IDH tem sustentado que o dano imaterial pode compreender tanto
os sofrimentos e as aflições causados às vítimas diretas e aos seus entes
próximos, a diminuição de valores muito significativos para as pessoas, assim
como as alterações, de caráter não pecuniário, nas condições de existência da
vítima ou de sua família.108 A noção de danos imateriais também foi utilizada
pela Corte no Caso Bulacio, para caracterizar não somente os sofrimentos que
os fatos causaram à vítima e a seus familiares, senão também a mudança nas
condições de existência da família e as demais consequências de ordem não
material ou não pecuniária que sofreram.109
72
Página

106 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,


op. cit. Corte IDH. Caso dos “Niños de la Calle” (Caso Villagrán-Morales e outros vs. Guatemala).
Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 26 de maio de 2001, parágrafo 84.
107 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,

op. cit. Corte IDH. Caso Cantoral Benavides. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 3 de
dezembro de 2001, parágrafos 42, 53 e 57.
108 Corte IDH. Caso Trujillo Oroza vs. Bolívia. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27

de fevereiro de 2002, parágrafo 77; Caso de Caracazo vs. Venezuela. Reparações (Art. 63.1, da
CADH), sentença de 29 de agosto de 2002, p. 94; Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras,
sentença de 7 de junho de 2003, parágrafo 168; Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de
setembro de 2003, parágrafo 90.
109 Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo 96.
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1.3. Dano ao projeto de vida

O dano ao projeto de vida é um dano existencial, que afeta o ser individual


(a ideia de indivíduo prepondera), específico aos casos em que há a inviabilização
do projeto de vida desenvolvido até então pela vítima no âmbito da sua
autonomia privada.
Trata-se de um tipo de dano que decorre do direito à autodeterminação e
das escolhas que cada indivíduo pode fazer em sua vida com o objetivo de
alcançar um projeto de vida futuro. Nesse sentido, quando as suas escolhas são
frustradas por meio da ação de terceiros ou, então, naquelas situações em que
a pessoa é levada a ter que reformular, por ato lesivo de outrem, as suas
escolhas.
Em relação à condenação ao pagamento de uma indenização pecuniária
por estas espécies de dano, as sentenças da Corte IDH têm estabelecido a
modalidade de cumprimento dos pagamentos ordenados, ponto em que a
Corte indica na sentença, v.g., (i) a que título serão pagas as indenizações (se
dano material, imaterial ou ao projeto de vida), (ii) as pessoas a quem o Estado
deverá pagar (vítimas, herdeiros etc.), (iii) o prazo em que os pagamentos deverão
ser realizados, (iv) a moeda (normalmente em dólares americanos) e o câmbio em
que os pagamentos serão feitos, (v) os juros devidos em caso de atraso do
pagamento por parte do Estado.110

2. Condenação a obrigações de fazer e não fazer

No âmbito do direito doméstico dos Estados é bastante comum as


legislações nacionais preverem as chamadas obrigações de fazer ou não fazer
algo, obrigações estas que também estão presentes nas condenações que têm
sido proferidas pela Corte IDH, sendo elas as mais diversas. Na jurisprudência
da Corte é possível encontrar diversas obrigações desta natureza (que inclusive
abrangem as demais formas de reparação analisadas no tópico 3, abaixo), tais
como:
73
Página

110Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil. Exceções Preliminares, Mérito,
Reparações e Custas. Sentença de 20 de outubro de 2016, Série C, n. 318, §§ 496 a 501.
Disponível em: <https://goo.gl/q2DOjs>. Acesso em 30 mai. 2018.
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2.1. Obrigação de investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os


responsáveis pelas violações de direitos humanos

A Corte IDH de forma reiterada tem se posicionado no sentido de que é


dever do Estado violador de direitos humanos investigar, processar e punir os
agentes estatais envolvidos nos casos de desaparecimentos forçados, comuns no
contexto das diversas ditaduras vivenciadas pelos Estados latino-americanos.111
Essa obrigação na elide o Estado do dever de prevenir a não ocorrência dos
desaparecimentos forçados em seu território.
Nesse contexto, surge para o Estado a obrigação identificar os
responsáveis dos crimes de sequestros, torturas e execuções das vítimas e impor
a estes as punições previstas em seu ordenamento jurídico interno.

2.2. Obrigação de determinar o paradeiro das vítimas

A Corte IDH também tem fixado a sua jurisprudência no sentido de ser


dever do Estado determinar o paradeiro das vítimas desaparecidas e
providenciar, em caso de morte, a entrega dos cadáveres ou dos restos mortais
aos familiares112, visando dignificar as vítimas e honrar o valor de sua memória,
bem como permitir que os parentes realizem um adequado sepultamento.113

2.3. Obrigação de restabelecer a situação trabalhista com a


reincorporação da pessoa afetada no emprego ou no registro de
aposentadoria.114
74
Página

111 Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez. Indenização compensatória (Art. 63.1, da CADH),
sentença de 21 de julho de 1989, parágrafo 34; Caso Godínez Cruz. Indenização compensatória
(Art. 63.1, da CADH), sentença de 21 de julho de 1989, parágrafo 32.
112 Corte IDH. Caso Aloeboetoe e outros. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 10 de

setembro de 1993, parágrafo 20.


113 Corte IDH. Caso Bámaca Velásquez. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 22 de

fevereiro de 2002, parágrafos 76 e 81; Caso Trujillo Oroza vs. Bolívia. Reparações (Art. 63.1, da
CADH), sentença de 27 de fevereiro de 2002, parágrafos 114 e 115; Caso de Caracazo vs.
Venezuela. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 29 de agosto de 2002, parágrafo 123;
Caso Las Palmeras vs. Colômbia. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 26 de novembro
de 2002; Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras, sentença de 7 de junho de 2003, parágrafo
187.
114 Corte IDH. Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de

novembro de 1998, parágrafos 113 e 192.


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2.4. Anulação dos antecedentes criminais, judiciais e carcerário da


vítima.115

3. Outras medidas de reabilitação, satisfação e garantias de não


repetição

Além da condenação (i) ao pagamento de indenizações compensatórias e


(ii) à realização de obrigações de fazer ou não fazer, a Corte IDH tem ainda
determinado em suas sentenças, a realização, pelo Estado, de outras medidas
específicas (que acabam consistindo em obrigações de fazer ou não fazer) tais
como:

3.1. Medidas de reabilitação

Em sua jurisprudência, a Corte IDH tem incluído no âmbito de suas


condenações as despesas com tratamentos médicos e assistência psicológica
recebidos pela vítima e seus familiares, como consequência dos padecimentos
que possam ter sofrido em sua saúde.116

3.2. Medidas de satisfação

As medidas de satisfação (inclusas no âmbito das medidas de reparação)


que têm sido fixadas pela Corte IDH, são aquelas de caráter essencialmente
simbólico, tais como:
a) Publicação da sentença no Diário Oficial do Estado violador;
b) Ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional;
c) Fixação de datas oficiais “comemorativas”;
d) Construção de memoriais.

3.3. Garantias de não repetição

A Corte IDH em suas sentenças estabelece medidas de caráter positivo,


nas quais os Estados denunciados e condenados devem assegurar medidas para
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que os fatos lesivos não se repitam.117 Esta obrigação de garantir a não repetição
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dos fatos não deriva somente da responsabilidade internacional do Estado, mas

115 Corte IDH. Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de
novembro de 1998, parágrafos 113 e 192.
116 Corte IDH. Caso Juan Humberto Sánchez vs. Honduras, sentença de 7 de junho de 2003,

parágrafo 166.
117 Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo 73.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

também é resultado do compromisso assumido pelos Estados no âmbito do art.


2º, da CADH, segundo o qual eles se comprometem a adotar as medidas
legislativas ou de outro caráter que sejam necessárias para fazer efetivos os
direitos e liberdades consagrados na Convenção.
Dentre as medidas que têm sido determinadas pela Corte IDH como
garantia de não repetição citam-se como exemplos as seguintes:
a) Implementação de programas de educação em direitos humanos;
b) Adoção de políticas públicas em geral;
c) Tipificação e definição de delitos no âmbito doméstico;
d) Imprescritibilidade de delitos no âmbito doméstico;
e) Acesso, sistematização e publicação de documentos oficiais; e
f) Criação de comissões.

4. Condenação ao pagamento das custas e gastos

A condenação ao pagamento das custas e gastos com o procedimento


perante a Comissão IDH e a Corte IDH também tem sido imputada pela Corte ao
Estado violador por ocasião de sua decisão.
A Corte IDH tem distinguido entre custas (que são os honorários
advocatícios) e gastos (que compreendem qualquer outra despesa em que se
tenha incorrido no curso do procedimento).
A doutrina aponta que “a utilização do sistema impõe ao peticionário a
necessidade de incorrer em gastos vultosos, cuja quantia dependerá de diversos
fatores, tais como a duração do procedimento, a necessidade de assistir a
audiências na sede da Comissão ou da Corte, de reunir e juntar provas, despesas
das comunicações com a Comissão, gastos de estadia, despesas de traslado de
testemunhas à sede da Comissão, serviços de tradutores e de assessores, os
gastos em que deve incorrer para cooperar com a Comissão uma vez que o caso
foi submetido à Corte, assistência profissional tanto perante os tribunais
nacionais quanto perante os órgãos do sistema interamericano de proteção dos
direitos humanos. O pagamento das custas legais é tão importante que, se não
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Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

se reconhecessem, o sistema interamericano podia ser utilizado somente por


quem tem recursos econômicos”.118
A Corte IDH entende que as custas e gastos devem ser compreendidos
dentro do conceito de reparação estabelecido no art. 63 (1), da CADH, “pois a
atividade desempenhada pela vítima, seus titulares ou seus representantes, para
acessar a justiça internacional implica despesas e compromissos de caráter
econômico que devem ser indenizados ao proferir sentença condenatória”.119
Ressalte-se que a Corte IDH “também tem considerado os gastos futuros
em que deverão incorrer as vítimas ou seus familiares para impulsionar os
procedimentos condizentes à investigação dos fatos, dispondo para esse efeito o
pagamento de um valor estimado por equidade”.120

ESTE MATERIAL CONSTITUI UM COMPLEMENTO DAS AULAS


MINISTRADAS EM SALA, NÃO AS SUBSTITUINDO EM QUALQUER
HIPÓTESE.
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118 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,


op. cit. Corte IDH. Caso Castillo Páez. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27 de
novembro de 1998, parágrafo 109.
119 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,

op. cit. Corte IDH. Caso Garrido e Baigorria. Reparações (Art. 1, CADH), sentença de 27 de agosto
de 1998, parágrafo 79; Caso Loayza Tamayo. Reparações (Art. 63.1, da CADH), sentença de 27
de novembro de 1998, parágrafo 176; Caso Cesti Hurtado. Reparações (Art. 63.1, da CADH),
sentença de 31 de maio de 2001, parágrafo 71.
120 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano,

op. cit. Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina, sentença de 18 de setembro de 2003, parágrafo
153.
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019

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