Teoria Geral Dos Direitos Humanos
Teoria Geral Dos Direitos Humanos
Teoria Geral Dos Direitos Humanos
2019
1 Os textos convencionais referem-se aos tratados ou convenções de direitos humanos que têm
sido adotados pelos países ao longo dos tempos.
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2 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004, p. 16.
3 LISBOA, Roberto Senise. Prefácio à 2ª Edição. MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos
não mais é possível conceber-se um curso de Direito que não proporcione aos
Página
5GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito: teoria geral do direito. 3. ed.
Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2015, e-book.
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6 NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2016,
pp. 73-74.
7 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito, op. cit.
8 DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Revista dos
Portanto, embora possa parecer óbvio, é preciso aqui frisar que direitos
humanos são aqueles direitos de todos os seres humanos, simplesmente em
razão disso: por ser um humano racional, sentimental e corporal. Nesse sentido,
direitos humanos são os direitos do branco, do negro, do pardo, da criança, do
adolescente, do adulto, do idoso, do homem, da mulher, do homossexual, do
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Página
12 ASSIS, Olney Queiroz Assis; KÜMPEL, Vitor Frederico. Manual de Antropologia Jurídica. São
Paulo: Saraiva, 2011, e-book.
13 “Capacidade para resolver (alguma coisa) através do raciocínio; aptidão para raciocinar, para
compreender, para julgar; a inteligência de modo abrangente: todo indivíduo é dotado ou faz uso
da razão” (Dicionário Aurélio).
14 “Percepção dos fenômenos próprios da existência; capacidade para discernir; discernimento,
bom senso; noção do que se passa em nós; conhecimento; sentimento do dever; moralidade”
(Dicionário Aurélio).
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Artigo 2º. 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e
as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita
nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se
trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer
sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
3. CONCEITOS DOUTRINÁRIOS
Pela leitura do tópico anterior já é possível ter uma noção acerca do que
são os direitos humanos, enquanto direitos de todas as pessoas, simplesmente
pelo fato de serem humanas (definição tautológica).15
No entanto, a delimitação conceitual dos direitos humanos é objeto de
grande controvérsia e cercada de equívocos doutrinários. Direitos humanos é
expressão ambígua e de significação heterogênea. Na doutrina há uma vasta
quantidade de definições relativas a esses direitos e que não poderiam ser todas
7
Página
15Uma definição tautológica dos direitos humanos é aquela que não traz nenhum elemento novo
que permita caracterizar tais direitos (PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos,
Estado de Derecho y Constitucion. 6. ed. Madrid: Tecnos, 1999, p. 25).
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16 Para um estudo aprofundado sobre a evolução história dos direitos humanos vide:
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013; HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos: uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
17 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Método, 2016,
p. 23.
18 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitucion, op. cit.,
p. 25.
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19 PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitucion, op. cit.,
p. 48.
20 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Direitos Humanos. Vol. 3 (Coleção OAB nacional. Primeira
29.
22 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 29 e ss.
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MEMORIZAR
Direito-poder Sujeição
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica),
Página
de 1969:
23 Para um estudo mais aprofundado sobre a dignidade humana vide: SARMENTO, Daniel.
Dignidade Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo Horizonte: Fórum, 2016; SARLET,
Ingo Wolfgang. Dignidade (da Pessoa) Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 10. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, e-book; NUNES, Rizzatto. O Princípio
Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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Esquematizando o conceito28
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Toda vez que o ser humano for coisificado, isto é, tratado como um
objeto, haverá uma violação da dignidade humana.
6. DIVERSIDADE TERMINOLÓGICA
Inicialmente, o art. 4º, II, menciona ‘direitos humanos’. Em seguida, o Título II intitula-se
‘direitos e garantias fundamentais’. Nesse título, o art. 5º, XLI, usa a expressão ‘direitos e
liberdades fundamentais’ e o inciso LXXI adota a locução ‘direitos e liberdades constitucionais’.
Por sua vez, o art. 5º, § 1 º, menciona ‘direitos e garantias fundamentais’. Já o art. 17 adota a
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a) Liberdades públicas;
b) Liberdades fundamentais;
c) Direitos da pessoa;
d) Direitos da pessoa humana;
e) Direitos individuais ou garantias individuais;
f) Direitos públicos subjetivos;
g) Direitos naturais;
h) Direitos fundamentais da pessoa humana;
i) Direitos fundamentais do homem;
j) Direitos e liberdades fundamentais do homem;
k) Direitos do homem;
l) Direitos essenciais do homem;
m) Direitos e garantias fundamentais;
n) Direitos humanos; e
o) Direitos fundamentais.
É possível afirmar que essa imprecisão terminológica é fruto do
reconhecimento e da evolução dos direitos essenciais da pessoa humana ao
longo dos tempos, levando-se em consideração o local onde gradativamente
foram sendo positivados (nas declarações e nos tratados internacionais, bem
como nas Constituições) e também sua delimitação e conteúdo.
No século XXI não há dúvida de que as duas expressões mais utilizadas
são: direitos humanos e direitos fundamentais.
Conforme já se ressaltou anteriormente, materialmente falando, tanto os
direitos humanos como os direitos fundamentais estão voltados para a proteção
da dignidade humana e dos direitos essenciais para que essa dignidade seja
efetiva. A dissonância, portanto, verifica-se apenas em relação ao plano em que
15
dicção ‘direitos fundamentais da pessoa humana’. O art. 34, ao disciplinar a intervenção federal,
insere uma nova terminologia: ‘direitos da pessoa humana’ (art. 34, VII, b). Quando trata das
cláusulas pétreas, a Constituição ainda faz menção à expressão ‘direitos e garantias individuais’
(art. 60, § 4º). No art. 72 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, há o uso,
novamente, da expressão ‘direitos humanos’”. (RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos
Humanos, op. cit., p. 51)
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dignidade humana, razão pela qual devem passar por uma filtragem pro
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homine;32
32RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit., p. 91. A filtragem pro homine
consiste no processo de verificação de compatibilidade da norma, seja ela interna ou
internacional, com a promoção da dignidade humana.
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36PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016, p. 234.
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reconhece que “a dignidade inerente a todos os membros da família humana e seus direitos
iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.
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39 WEIS, Carlos. Direitos Humanos Contemporâneos. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 176.
40 WEIS, Carlos. Direitos Humanos Contemporâneos, op. cit., p. 177.
41 GARCIA, Bruna Pinotti; LAZARI, Rafael de. Manual de Direitos Humanos. Volume Único.
explica que “Os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos em
todos os Estados, embora existam algumas variações quanto à enumeração desses direitos, bem
como quanto à forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou
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cidadania, sendo assegurados a qualquer pessoa” (DALLARI, Dalmo de Abreu. O Que São Direitos
da Pessoa. São Paulo: Abril Cultural/Brasiliense, 1984, p. 22).
44 WEIS, Carlos. Direitos Humanos Contemporâneos, op. cit., p. 184. Sob essa ótica, a
dos expectadores’. Explicou ainda o TCF que a violação da dignidade não seria afastada ou
justificada pelo fato de a mulher que atua em um peep-show estar ali voluntariamente. Afinal,
‘a dignidade da pessoa humana é um objetivo e valor inalienável, cujo respeito não pode ficar ao
arbítrio do indivíduo’” (MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2016, p. 507).
50 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros,
2014, p. 183; GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso elementar. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2015, p. 230; MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 144.
51 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional,
É preciso destacar que ser inalienável não significa que não se possa
desempenhar atividades econômicas utilizando-se de um direito humano, v.g.,
negociação da atividade resultante do exercício do direito humano à livre
manifestação do pensamento, do qual resultam várias formas de criação
humana (produção científica, literária ou artística), tais como uma pintura, uma
música, um livro etc. O que se negocia aqui não é o direito humano, mas a
atividade resultante do exercício desse direito.
12) Imprescritibilidade – os direitos humanos são imprescritíveis porque
são sempre exigíveis (vindicáveis), não se esgotando ou se perdendo
com o decurso do tempo. Isto significa que, existindo ser humano,
haverá esses direitos inerentes a ele.
No entanto, deve-se aqui destacar o seguinte: (i) pode haver a prescrição
do direito decorrente do exercício dos direitos humanos. Exemplificativamente,
se uma pessoa sofre alguma espécie de dano (v.g., material, moral, estético),
como decorrência da violação de um direito humano que está sendo exercido por
determinada pessoa (v.g., o direito à intimidade), abre-se então o prazo
prescricional para que ela possa reclamar, junto ao Judiciário, uma reparação
pecuniária (ou de outra natureza) pela lesão sofrida.
13) Vedação do retrocesso – consiste na proibição de o Estado retroceder
em matéria de proteção dos direitos humanos. Por outras palavras, “os
direitos humanos devem sempre (e cada vez mais) agregar algo de novo
e melhor ao ser humano, não podendo o Estado proteger menos do que
já protegia anteriormente”.54
Portanto, os direitos humanos caracterizam-se pela proibição do
retrocesso, que é um princípio internacional também conhecido como proibição
do regresso, não retorno, efeito cliquet ou não retorno da concretização, vedando-
se a eliminação da concretização já alcançada na proteção de algum direito
humano, admitindo-se somente de aprimoramentos e acréscimos.
André de Carvalho Ramos aponta que outra expressão utilizada pela
doutrina, para referir-se à proibição do retrocesso “é o entrenchment ou
25
ativo.
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594-601.
68 SYMONIDES, Janusz. Direitos Humanos: novas dimensões e desafios. Brasília: UNESCO
69 GARCIA, Bruna Pinotti; LAZARI, Rafael de. Manual de Direitos Humanos, op. cit., p. 97.
70 MARMELSTEIN, George. Curso de Direitos Fundamentais, op. cit., p. 59.
71 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional, op. cit., p. 65.
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REFERÊNCIAS
ASSIS, Olney Queiroz Assis; KÜMPEL, Vitor Frederico. Manual de Antropologia Jurídica.
São Paulo: Saraiva, 2011, e-book.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2004.
BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 12. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Que São Direitos da Pessoa. São Paulo: Abril
Cultural/Brasiliense, 1984.
GARCIA, Bruna Pinotti; LAZARI, Rafael de. Manual de Direitos Humanos. Volume
Único. Salvador: JusPODIVM, 2014.
GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar. 3. ed. São Paulo: 2015.
HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos: uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
MORAES, Guilherme Peña de. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.
NUNES, Rizzatto. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
________. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, e-book.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014.
DIGNIDADE HUMANA
intrínseca distintiva
respeito consideração
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