Livro Tomate Incaper PDF

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tomate

Tomate

Vitória, ES
2010
© 2010 - Incaper
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

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Todos os direitos reservados nos termos da Lei no 9.610, que resguarda os direitos autorais. É
proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou forma, sem a expressa autorização
do Incaper.

ISBN 978-85-89724-17-3
Editor: DCM/Incaper
Tiragem: 2.000
Junho 2010

Equipe de edição

Chefe do Departamento de
Comunicação e Marketing
| João Anselmo Molino

Coordenação editorial | Liliâm Maria Ventorim Ferrão

Projeto gráfico, editoração


eletrônica, arte-finalização e capa | Laudeci Maria Maia Bravin

Revisão de português | Raquel Vaccari de Lima Loureiro

Ficha catalográfica | Cleusa Zanetti Monjardim


| Augusto Barraque, Laudeci M Maia Bravin,
a
Créditos das fotos
Arquivos dos autores e Arquivos do Incaper
Fotos da capa | Augusto Barraque

O texto desta obra foi composto na família de tipos Myriad Pro no corpo 11/16.
Miolo impresso em papel couché fosco 115 g.

635.642 Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão


I59t Rural. Tomate. Vitória, ES: Incaper, 2010.
2010 430 p.

ISBN 978-85-89724-17-3

1. Tomate I. Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência


Técnica e Extensão Rural II. Título
Apresentação
O objetivo da elaboração deste livro foi reunir em uma obra técnica as
principais tecnologias de produção, colheita e pós-colheita do tomate, tendo
por base princípios de produção que sejam economicamente viáveis, de
reduzido impacto sobre o homem e o meio ambiente, visando à obtenção de
frutos que atendam aos requisitos dos mercados mais exigentes em termos
de padrão de qualidade e segurança do alimento.
Para a sua elaboração, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural (Incaper) adotou como estratégia congregar
especialistas das principais áreas do conhecimento da cultura do tomate,
buscando organizar em uma obra as experiências e conhecimentos técnico-
científicos mais relevantes gerados com a tomaticultura no Estado do
Espírito Santo, agregando a esses os resultados de pesquisas locais e de
diversos pesquisadores do Brasil, conhecedores do perfil dos agricultores e
da realidade de produção deste Estado. E também alicerçar uma atividade
que representa a base econômica de muitas famílias, que têm na cultura do
tomate a esperança de manter sua dignidade e visualizar seus sonhos. Nunca
como proposta da verdade absoluta, mas instigando o debate à reflexão e
acreditando em construir, a partir do conhecimento já adquirido pela prática
e pela academia, um mundo cada vez melhor.
Assim sendo, o Incaper, com este novo produto, disponibiliza para o
setor agrícola uma obra inédita no Estado do Espírito Santo, com conteúdo
diversificado, de elevado valor público, preenchendo mais uma lacuna na
demanda de referências para a melhoria do padrão tecnológico da agricultura
capixaba.

Evair Vieira de Melo


Diretor-presidente do Incaper
Palavra do Secretário de Agricultura
TOMATE: DESTAQUE ENTRE AS HORTALIÇAS

O Espírito Santo é autossuficiente na produção da maioria das hortaliças


consumidas no Estado com excedentes exportáveis, sendo o tomate o principal
responsável por esta proeza. Ocupa o 8º lugar no ranquig nacional, mesma
posição ocupada pelo Brasil em escala mundial. Posição de destaque!
Mais do que isso, exporta tomate para vários Estados importantes da
federação como os da região Nordeste, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais
e até para Brasília.
Sua importância econômica e social é altamente significativa, pois em
700 propriedades são cultivados cerca de 2 mil hectares/ano, que ocupa 10
mil trabalhadores diretos, produzem em torno de 140 mil toneladas, e geram
aproximadamente R$ 100 milhões. Os números impressionam!
Importante realçar que essa atividade é altamente intensiva de mão de
obra, tendo em vista que a cada hectare ocupa, em média, cinco trabalhadores
rurais. Daí sua importância social!
Cabe ainda destacar que o Espírito Santo é tradicional produtor desta
hortaliça, com utilização de duas épocas distintas de plantio: a “de verão”,
realizada nas regiões de montanhas, que se traduz em cerca de 60% da área
cultivada, e a de “de inverno”, naturalmente realizada nas regiões quentes.
Garantia de oferta de produção!
O nível tecnológico da cultura é considerado muito alto, uma vez que se
posiciona nos mesmos patamares de outros importantes estados produtores,
tais como Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A produtividade
oscila entre 60 a 70 toneladas por hectare, perdendo apenas para Goiás que
chega a 80 t/ha, porém este produz, principalmente, o tomate industrial.
Do total produzido, em torno de 70% é comercializada através de
caminhoneiros para diversos mercados nacionais. Do volume de produção
que fica no Estado, 20 a 30% passa pela Central de Abastecimento do Espírito
Santo (Ceasa-ES) e desses 72% é comercializado na Grande Vitória, sendo
76% em rede de supermercados e quilões, e 24% em feiras livres e cozinhas
industriais. Mercado diversificado!
A Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento Aquicultura e
Pesca (Seag), através do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica
e Extensão Rural (Incaper), vem conduzindo um programa de Produção
Integrada (PI) para as propriedades que cultivam este fruto, que consiste
em introduzir o conceito de Boas Práticas Agrícolas (BPA), visando garantir
produtos de qualidade e ganhos nos indicadores de sustentabilidade. Os
mercados estão mais exigentes.
Da mesma forma, através do Instituto de Defesa Agropecuária e
Florestal do Espírito Santo (Idaf ) essa Secretaria mantém um programa de
Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos, que tem proporcionado ganhos
significativos nas ações de caráter educativo, preventivo e fiscalizatório à
atividade. Medida mais que necessária!
Ainda tem se desenvolvido programas de capacitação de técnicos e
produtores, tanto em BPA, quanto em Tecnologia de Aplicação Adequada
de Agrotóxicos, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Senar). Na mesma direção, a Seag tem criado mecanismos para ampliação da
rede de extensão rural, através de ações técnicas compartilhadas, tanto com
a iniciativa privada, quanto com as Prefeituras, através de suas Secretarias
Municipais de Agricultura. Qualificação e parcerias são fundamentais!
Pela importância dessa atividade para o Estado do Espírito Santo, e pela
performance que ela apresenta, o tomate merece a dedicação dos autores
que culminou na publicação desta obra, tão esperada pelos diversos agentes
da cadeia produtiva, especialmente para os produtores que já estão vendo
seu produto ser comercializado no Mercosul. Conquista merecida!
Parabéns a todos que fazem da cultura do tomate um caso de sucesso
do agronegócio capixaba!

Enio Bergoli da Costa


Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag)
Dedicatória
Esta obra é dedicada aos agricultores capixabas, em especial àqueles
que vêm construindo a tomaticultura no Estado do Espírito Santo. Aos
pesquisadores, extensionistas e aos profissionais ligados à comercialização e
ao processo de fiscalização, que vêm contribuindo com a construção dessa
história, e aos professores das diversas instituições de ensino superior e médio,
que, com os seus ensinamentos, transferem e fazem crescer o conhecimento
da Olericultura no Brasil. Suas lutas e seus ideais permitiram o momento de
destaque desta importante olerícola para a economia do Estado do Espírito
Santo e do país. Nesse contexto, prestamos nossas homenagens a pessoas
que muito influenciaram na construção desta história, liderando, ensinando
ou transferindo seus conhecimentos aos técnicos, aos agricultores ou atuando
na formação de profissionais:
• Engenheiro Agrônomo Aquira Mizubuti (in memoriam)
Professor da UFV, Viçosa/MG
• Engenheiro Agrônomo Fernando Antônio Reis Filgueira (in memoriam)
Professor da UFU, Uberlândia/MG
• Técnico Agrícola Gilberto Luiz Mazzo (in memoriam)
Extensionista do Incaper
• Engenheiro Agrônomo Joênes Pelúzio Campos
Professor aposentado da UFV, Viçosa/MG
• Engenheiro Agrônomo José de Barros Fernandes
Extensionista aposentado do Incaper
• Engenheiro Agrônomo Laércio Zambolim
Professor da UFV, Viçosa/MG
• Engenheiro Agrônomo Vicente Wagner Dias Casali
Professor da UFV, Viçosa/MG

Homenagem especial
À Associação Brasileira de Horticultura (ABH) e à sua atual diretoria,
liderada pelo Professor Paulo César Tavares de Melo e o Dr. Dimas Menezes,
que, juntamente com todos aqueles que a dirigiram com dedicação e
compromisso durante esses 50 anos, vêm contribuindo para a transformação
da olericultura neste país.
Agradecimentos
Ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
(Incaper), pelo apoio técnico, financeiro e operacional para a confecção desta
obra, em especial aos seus servidores ligados direta ou indiretamente ao
Departamento de Comunicação e Marketing, pelo esforço e dedicação nos
serviços de editoração: Augusto Carlos Barraque, Dirley Paulina Nodari de
Castro, Laudeci Maria Maia Bravin e Liliâm Maria Ventorim Ferrão.
Ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) pela
coordenação dos trabalhos com a Produção Integrada (PI) e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo
financiamento do projeto da PI Tomate de Mesa no Espírito Santo, que
permitiram a retomada dos trabalhos com a cultura do tomate no Estado e
a reorganização de uma equipe multidisciplinar, o que motivou e resultou
na elaboração desta obra. Em especial agradecemos ao Dr. José Rozalvo
Andrigueto e ao Dr. Luiz Carlos Bhering Nasser pela liderança nesse processo
da PI no Brasil.
Aos autores e revisores pela dedicação, esforço e empenho na
elaboração e revisão dos capítulos, primando sempre pela qualidade técnica,
pela atualidade e veracidade das informações contidas em cada parte deste
livro.
A todas as instituições cujos profissionais participaram na elaboração e
no lançamento desta obra, que esperamos possa atender a sua finalidade de
contribuir para o desenvolvimento da tomaticultura, através da melhoria do
seu sistema de produção.
Autores
Antônio Alberto Silva
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Solos e Nutrição de Plantas, Professor da UFV
Viçosa/MG – [email protected]

Carlos Alberto Simões do Carmo


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Fitotecnia, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Celso Luiz Moretti


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitotecnia, Pesquisador Embrapa/Hortaliças
Brasília/DF – [email protected]

Cláudio Pagotto Ronchi


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fisiologia Vegetal, Professor UFV/Campus de Rio Paranaíba
Rio Paranaíba/MG – [email protected]

David dos Santos Martins


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Entomologia, Pesquisador do Incaper
Vitória/ES – [email protected]

Dirceu Pratissoli
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Entomologia, Professor CCA-UFES
Alegre/ES – [email protected]

Eveline Monteiro Cordeiro de Andrade


Nutricionista, D.Sc. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Professora UNIFAL
Alfenas/MG – [email protected]

Francisco Cláudio Lopes de Freitas


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitotecnia, Professor da UFERSA
Mossoró/RN – [email protected]

Gustavo Costa de Almeida


Engenheiro Agrônomo, CEASAMINAS
Contagem/MG – [email protected]

Hélcio Costa
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitopatologia, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Jacimar Luis de Souza


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitotecnia/Agroecologia, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

José Aires Ventura


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitopatologia, Pesquisador do Incaper
Vitória/ES – [email protected]

José Mauro de Sousa Balbino


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fisiologia Vegetal, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]
José Sérgio Salgado
Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador do Incaper
Vitoria/ES – [email protected]

Leonardo Falqueto Caliman


Engenheiro Agrônomo, Empresário e Produtor Rural
Venda Nova do Imigrante/ES – [email protected]

Lino Roberto Ferreira


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Agronomia, Professor da UFV
Viçosa/MG – [email protected]

Lúcio Lívio Fróes de Castro


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Recursos Hídricos, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Luís Henrique Lopes de Freitas


Técnico em Agropecuária, Departamento de Fitotecnia/UFV
Viçosa/MG

Luiz Carlos Prezotti


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Marcos José de Oliveira Fonseca


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Produção Vegetal, Pesquisador Embrapa/Agroindústria de Alimentos
Guaratiba/RJ – [email protected]

Maria Elizabete Oliveira Abaurre


Engenheira Agrônoma, M.Sc. Fitotecnia, Pesquisadora do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Mário Puiatti
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Biologia Vegetal, Professor da UFV
Viçosa/MG – [email protected]

Maurício José Fornazier


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Entomologia, Pesquisador do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Rosana Maria Altoé Borel


Economista, Técnica Planejamento do Incaper
CRDR-Centro Serrano, Domingos Martins/ES – [email protected]

Tarcísio da Silva
Estatístico, CEASAMINAS
Contagem/MG – [email protected]
Revisores Técnicos
André Guarçoni Martins
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador do Incaper

Carlos Alberto Simões do Carmo


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Fitotecnia, Pesquisador do Incaper

César José Fanton


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Entomologia, Pesquisador do Incaper

César Pereira Teixeira


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Fitotecnia, Pesquisador do Incaper

Cláudio Pagotto Ronchi


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fisiologia Vegetal, Professor da UFV, Rio Paranaíba/MG

Edgar Antonio Formentini


Engenheiro Agrônomo, Extensionista do Incaper

Francisco Xavier Ribeiro do Vale


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitopatologia, Professor da UFV

Frederico de Pina Matta
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Melhoramento de Plantas, Professor do CCA-UFES

João Batista Silva Araújo


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Fitotecnia, Pesquisador do Incaper

José Aires Ventura


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitopatologia, Pesquisador do Incaper

José Mauro de Sousa Balbino


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fisiologia Vegetal, Pesquisador do Incaper

José Altino Machado Filho


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Ciências Agrárias, Pesquisador do Incaper

Liliâm Maria Ventorim Ferrão


Administradora de Empresa, M.Sc. Economia Doméstica, Técnica Planejamento do Incaper

Lino Roberto Ferreira


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Agronomia/Produção Vegetal, Professor da UFV

Luciano Macal Fazolo


Economista, Extensionista do Incaper

Lúcio Lívio Fróes de Castro


Engenheiro Agrônomo, M.Sc. Recursos Hídricos, Pesquisador do Incaper
Luiz Fernando Ganassali de Oliveira Junior
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fisiologia e Manejo Pós-colheita, Professor da UFES

Marcelo Antônio Thomaz


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Fitotecnia, Professor do CCA-UFES

Maria Amélia Gava Ferrão


Engenheira Agrônoma, D.Sc. Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisadora Embrapa/Incaper

Maria da Penha Angeletti


Engenheira Agrônoma, M.Sc. Fitotencia, Pesquisadora do Incaper

Marlon Vagner Valentim Martins


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Produção Vegetal, Pesquisador do Incaper

Ricardo da Silva Baptista


Engenheiro Agrônomo, Extensionista do Incaper

Romário Gava Ferrão


Engenheiro Agrônomo, D.Sc. Genética e Melhoramento de Plantas, Pesquisador do Incaper

Scheilla Marina Bragança


Engenheira Agrônoma, D.Sc. Fitotecnia, Pesquisadora do Incaper

Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi


Bióloga, D.Sc. Entomologia, Pesquisadora do Incaper
Sumário
CAPÍTULO 1
UTILIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PRODUÇÃO INTEGRADA NA
TOMATICULTURA
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 23
2. DEMANDA MERCADOLÓGICA ........................................................................ 25
3. ORIGEM DA PRODUÇÃO INTEGRADA .......................................................... 26
4. O SISTEMA DE PRODUÇÃO INTEGRADA .................................................... 28
5. A PRODUÇÃO INTEGRADA NO BRASIL ........................................................ 29
6. A PRODUÇÃO INTEGRADA NO ESPÍRITO SANTO .................................... 30
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 31
8. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 32

CAPÍTULO 2
SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO DE TOMATE
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 35
2. O AGROECOSSISTEMA ORGÂNICO ................................................................ 36
2.1 PRINCÍPIOS GERAIS DA AGRICULTURA ORGÂNICA .................................... 36
2.1.1 A “construção” do agroecossistema produtivo e a conversão ... 36
2.1.2 Diversificação e equilíbrio ecológico .................................................... 39
2.1.3 Teoria da trofobiose ...................................................................................... 42
2.1.4 Manejo e conservação do solo ................................................................. 43
2.1.5 Fertilização do solo e reciclagem de matéria orgânica ................ 45
2.2 MANEJO DO SISTEMA ORGÂNICO ................................................................... 48
3. MANEJO ORGÂNICO DO TOMATEIRO DE MESA........................................ 49
3.1 CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO ................................................... 49
3.2 FORMAÇÃO DAS MUDAS ................................................................................... 51
3.3 PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO ................................................................... 53
3.4 PLANTIO E ESPAÇAMENTO ................................................................................. 54
3.5 MANEJO DA CULTURA ......................................................................................... 55
3.6 PRAGAS E DOENÇAS ............................................................................................ 59
3.7 COLHEITA E RENDIMENTO .................................................................................. 61
3.8 CUSTO DE PRODUÇÃO ........................................................................................ 63
4. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 65

CAPÍTULO 3
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DO CULTIVO DO
TOMATEIRO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 69
2. MERCADO NACIONAL ......................................................................................... 71
3. PANORAMA DA TOMATICULTURA NO ESPÍRITO SANTO ..................... 73
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ....................................... 76
3.1.1 Mão de obra e o uso de insumos ............................................................. 77
3.1.2 Arrendamento da terra ................................................................................ 79
3.2 COMERCIALIZAÇÃO E ORIGEM DOS RECURSOS ......................................... 80
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 82
5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 83

CAPÍTULO 4
FISIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO DO TOMATEIRO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 85
2. INTERAÇÃO GENÓTIPO X AMBIENTE .......................................................... 86
3. GERMINAÇÃO ......................................................................................................... 87
4. CRESCIMENTO VEGETATIVO ............................................................................. 90
5. FLORESCIMENTO ................................................................................................... 91
6. ESTRUTURA REPRODUTIVA .............................................................................. 92
7. DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA REPRODUTIVA ATÉ A
ANTESE ...................................................................................................................... 93
7.1 FATORES AMBIENTAIS .......................................................................................... 93
7.2 REGULADORES DE CRESCIMENTO ................................................................... 95
8. FRUTIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO FRUTO ................................. 97
8.1 FATORES AMBIENTAIS .......................................................................................... 97
8.2 REGULADORES DE CRESCIMENTO ................................................................... 99
9. DESENVOLVIMENTO DO FRUTO ATÉ O INÍCIO DO
AMADURECIMENTO ............................................................................................. 99
10. AMADURECIMENTO DO FRUTO ................................................................... 101
11. DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS ........................................................................... 104
11.1 ABSCISÃO DE FLORES E DE FRUTOS ............................................................. 105
11.2 PODRIDÃO ESTILAR (PE) OU APICAL DE FRUTOS .................................... 106
11.3 RACHADURAS DE FRUTOS ............................................................................... 108
12. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 109

CAPÍTULO 5
CLIMA, ÉPOCA DE PLANTIO E CULTIVAR
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 121
2. CLIMA ......................................................................................................................... 122
3. ÉPOCA DE PLANTIO .............................................................................................. 124
4. CULTIVARES ............................................................................................................. 125
4.1 VARIEDADE, CULTIVAR E HÍBRIDO ................................................................... 125
4.1.1 Grupo Santa Cruz ........................................................................................... 128
4.1.2 Grupo Caqui .................................................................................................... 129
4.1.3 Grupo Salada .................................................................................................... 129
4.1.4 Grupo Saladete ou Italiano ....................................................................... 129
4.1.5 Grupo Cereja .................................................................................................... 129
4.1.6 Grupo Holandês (tipo cacho ou penca) .................................................... 130
5. referências .......................................................................................................... 130

CAPÍTULO 6
PRÁTICAS CULTURAIS
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 133
2. LOCAL DE PLANTIO ................................................................................................ 135
3. PREPARO DO SOLO ............................................................................................... 136
4. PRODUÇÃO DE MUDAS ...................................................................................... 137
5. SUBSTRATO ............................................................................................................. 138
6. TRANSPLANTIO ...................................................................................................... 139
7. ESPAÇAMENTO ....................................................................................................... 140
8. TUTORAMENTO ...................................................................................................... 141
9. AMONTOA ................................................................................................................. 144
10. DESBROTA .............................................................................................................. 144
11. PODA OU CAPAÇÃO .......................................................................................... 145
12. PODA DE FOLHAS ............................................................................................... 145
13. RALEAMENTO DE PENCAS .............................................................................. 146
14. ROTAÇÃO DE CULTURA E ADUBAÇÃO VERDE ........................................ 146
15. COBERTURA DO SOLO ...................................................................................... 147
16. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 147

CAPÍTULO 7
MANEJO DA ÁGUA PARA A CULTURA
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 149
2. NECESSIDADE DE ÁGUA PARA A CULTURA ............................................... 151
3. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SOLO PARA AS PLANTAS ................ 153
3.1 CAPACIDADE DE CAMPO E PONTO DE MURCHA PERMANENTE ........... 154
4. A ÁGUA PARA A CULTURA DO TOMATE ....................................................... 155
5. SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO PARA A CULTURA ............................................. 160
6. MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA IRRIGAÇÃO ................................. 161
7. ESTIMATIVA DE PARÂMETROS PARA O CÁLCULO DA IRRIGAÇÃO .. 162
7.1 EVAPOTRANSPIRAÇÃO ........................................................................................ 162
7.2 ÁGUA DISPONÍVEL NO SOLO ............................................................................. 163
8. DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE HÍDRICA EM
MICROIRRIGAÇÃO ................................................................................................ 165
8.1 CÁLCULO DO VOLUME DE ÁGUA POR GOTEJADOR .................................. 165
9. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 166

CAPÍTULO 8
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO TOMATEIRO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 169
2. CALAGEM .................................................................................................................. 170
3. CÁLCULO DA QUANTIDADE DE NUTRIENTES A SER APLICADA ....... 171
4. ADUBAÇÃO ORGÂNICA ....................................................................................... 173
5. SINTOMAS DE DEFICIÊNCIAS E PARTICULARIDADES DOS
NUTRIENTES ............................................................................................................ 174
5.1 NITROGÊNIO ........................................................................................................... 174
5.2 FÓSFORO ................................................................................................................. 175
5.3 POTÁSSIO ................................................................................................................. 176
5.4 CÁLCIO ...................................................................................................................... 176
5.5 MAGNÉSIO ............................................................................................................... 178
5.6 ENXOFRE .................................................................................................................. 178
5.7 BORO ......................................................................................................................... 178
5.8 ZINCO ........................................................................................................................ 179
5.9 SILÍCIO ....................................................................................................................... 179
6. ANÁLISE FOLIAR .................................................................................................... 180
7. FERTIRRIGAÇÃO .................................................................................................... 180
8. QUALIDADE DA ÁGUA ........................................................................................ 182
9. SALINIZAÇÃO DO SOLO ..................................................................................... 183
10. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 183

CAPITULO 9
PRINCIPAIS PRAGAS DA CULTURA DO TOMATEIRO ESTAQUEADO
NA REGIÃO DAS MONTANHAS DO ESPÍRITO SANTO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 185
2. VETORES DE VIROSES .......................................................................................... 188
2.1 TRIPES, LACERDINHA ........................................................................................... 188
2.2 MOSCA-BRANCA .................................................................................................... 190
2.3 PULGÃO-DA-BATATINHA ..................................................................................... 191
2.4 PULGÃO-VERDE ...................................................................................................... 192
3. TRAÇAS, MINADORES E BROCAS ................................................................... 194
3.1 TRAÇA DO TOMATEIRO ....................................................................................... 194
3.2 MOSCA-MINADORA, larva-minadora .................................................... 197
3.3 BROCA-PEQUENA; BROCA-PEQUENA-DO-TOMATEIRO; BROCA-
PEQUENA-DO-FRUTO .......................................................................................... 199
3.4 LAGARTA DA ESPIGA-DO-MILHO; BROCA-GRANDE-DO-TOMATE;
BROCA-GRANDE-DO-FRUTO; BROCÃO .......................................................... 202
4. MÉTODOS DE AMOSTRAGEM DAS PRINCIPAIS PRAGAS .................... 204
5. PRAGAS QUE OCORREM EM SURTOS ........................................................... 205
5.1 COLEÓPTEROS ......................................................................................................... 205
5.1.1 Desfolhadores .................................................................................................. 205
5.1.1.1 Larva alfinete; Vaquinha verde-amarela; Brasileirinho; Patriota .... 205
5.1.1.2 Vaquinha da batatinha; Burrinho da batatinha; Vaquinha das
solanáceas; Burrinho das solanáceas ...................................................... 206
5.1.2 Broqueadores de caule e raízes .............................................................. 206
5.1. 2.1 Bicho-de-tromba-do-elefante .................................................................... 206
5.1.2.2 Broca-do-caule-do-tomateiro; Bicho-de-tromba-de-elefante ........ 206
5.2 LEPIDÓPTEROS ...................................................................................................... 207
5.2.1 Pragas Iniciais ................................................................................................... 207
5.2.1.1 Lagarta rosca ................................................................................................... 207
5.2.2 Desfolhadores ................................................................................................. 207
5.2.2.1 Lagarta das solanáceas ................................................................................ 207
5.2.3 Brocas dos frutos ............................................................................................ 207
5.2.3.1 Lagarta-da-maça-do-algodoeiro .............................................................. 207
5.2.3.2 Brocão ................................................................................................................ 208
5.2.3.3 Falsa-medideira-da-couve .......................................................................... 208
5.2.3.4 Traça-da-batatinha ........................................................................................ 210
5.3 ORTÓPTEROS .......................................................................................................... 210
5.3.1 Pragas iniciais .................................................................................................. 210
5.3.1.1 Grilo preto .......................................................................................................... 210
5.3.1.2 Cachorrinho d´água; Grilo toupeira; Paquinha .................................... 210
5.4 HEMÍPTEROS/HETERÓPTEROS .......................................................................... 211
5.4.1 Percevejo ............................................................................................................ 211
5.4.1.1 Percevejo-do-tomate; Chupador-do-tomate ........................................ 211
5.4.1.2 Percevejo-de-renda; Mosquito-do-tomateiro ...................................... 211
5.5 ÁCAROS .................................................................................................................... 211
5.5.1 Ácaro ..................................................................................................................... 211
5.5.1.1 Ácaro rajado ...................................................................................................... 211
5.5.1.2 Ácaro-branco; Ácaro tropical; Ácaro da rasgadura; Ácaro da
queda do chapéu do mamoeiro ................................................................ 212
5.5.1.3 Microácaro; Ácaro do bronzeamento ..................................................... 212
6. CONTROLE DE VETORES ..................................................................................... 213
7. CONTROLE DE TRAÇAS E BROCAS ................................................................. 214
8. CONTROLE DA MOSCA-MINADORA ............................................................. 215
9. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS ..................................................................... 226

CAPITULO 10
DOENÇAS DO TOMATEIRO NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO:
RECONHECIMENTO E MANEJO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 227
2. DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS ............................................................ 228
2.1 FUNGOS DA PARTE AÉREA ................................................................................. 228
2.1.1 Mela ou requeima .......................................................................................... 228
2.1.2 Pinta-preta ........................................................................................................ 233
2.1.3 Septoriose ......................................................................................................... 237
2.1.4 Mancha de estenfílio .................................................................................... 239
2.1.5 Oídio e mancha de oidiopsis ..................................................................... 242
2.1.6 Mancha de cladosporium ........................................................................... 245
2.2 FUNGOS DE SOLO ................................................................................................. 247
2.2.1 Murcha de fusarium ...................................................................................... 247
2.2.2 Murcha de verticillium ................................................................................. 253
2.2.3 Mofo cinzento .................................................................................................. 257
2.2.4 Podridão ou mofo de esclerotínia .......................................................... 261
2.2.5 Murcha de escleródio ou podridão do colo ...................... ................. 265
3. DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS ...................................................... 267
3.1 MURCHADEIRA ...................................................................................................... 267
3.2 TALO-OCO ................................................................................................................ 271
3.3 MANCHA BACTERIANA ....................................................................................... 274
3.4 PINTA BACTERIANA .............................................................................................. 277
3.5 CANCRO BACTERIANO ........................................................................................ 282
4. DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATOIDES ................................................ 288
4.1 NEMATOIDES DAS GALHAS ................................................................................ 288
5. DOENÇAS CAUSADAS POR VIRUS E FITOPLASMAS ................................ 291
5.1 MOSAICO-AMARELO ............................................................................................ 291
5.2 VIRA-CABEÇA DO TOMATEIRO .......................................................................... 295
5.3 MOSAICO COMUM ................................................................................................ 297
5.4 RISCA OU MOSAICO Y .......................................................................................... 299
5.5 BROTO-CRESPO ...................................................................................................... 300
5.6 TOPO-AMARELO E AMARELO-BAIXEIRO ........................................................ 301
5.7 MOSAICO - Geminivirus (complexo de espécies) ....................................... 303
5.8 CÁLICE GIGANTE ................................................................................................... 306
7. referências ......................................................................................................... 314

CAPÍTULO 11
MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO TOMATEIRO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 317
2. MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS ...................................... 318
3. CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS DANINHAS E SEUS
PREJUÍZOS AO TOMATEIRO .............................................................................. 319
4. ASPECTOS DA COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS ........................ 322
5. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DAS PLANTAS DANINHAS ...... 323
6. MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS .............................. 327
6.1 CONTROLE PREVENTIVO ..................................................................................... 327
6.2 CONTROLE CULTURAL ......................................................................................... 329
6.3 CONTROLE MECÂNICO ........................................................................................ 330
6.4 CONTROLE QUÍMICO ........................................................................................... 333
6.4.1 Principais herbicidas recomendados para a cultura do
tomateiro ........................................................................................................... 334
6.4.1.1 Clethodim ......................................................................................................... 334
6.4.1.2 Fluazifop-p-butil ............................................................................................. 335
6.4.1.3 Metribuzin ........................................................................................................ 336
6.4.1.4 Trifuralin ............................................................................................................ 337
7. DICAS PARA DETECÇÃO DE RESÍDUOS DE HERBICIDAS EM
ESTERCO BOVINO ................................................................................................. 340
8. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 342
9. APENDICE ................................................................................................................. 347

CAPITULO 12
APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS NA CULTURA DO TOMATE
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 349
2. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL ........................................... 351
2.1 LUVAS ........................................................................................................................ 352
2.2 BOTAS IMPERMEÁVEIS ......................................................................................... 353
2.3 JALECO E CALÇAS ................................................................................................. 354
2.4 BONÉ ÁRABE ........................................................................................................... 354
2.5 VISEIRA FACIAL ...................................................................................................... 354
2.6 RESPIRADORES (MÁSCARAS) ............................................................................ 354
2.7 AVENTAL ................................................................................................................... 355
2.8 LIMPEZA DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL .................. 355
3. APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS ................................................. 355
4. EQUIPAMENTOS PARA APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
NO TOMATEIRO ...................................................................................................... 356
4.1 PULVERIZADOR COSTAL MANUAL .................................................................. 356
4.2 PULVERIZADOR COSTAL MOTORIZADO ........................................................ 359
4.3 PULVERIZADOR ACOPLADO SOBRE RODAS ................................................ 359
4.4 PULVERIZADOR ESTACIONÁRIO ....................................................................... 360
4.5 PULVERIZADOR DE BARRA ACOPLADO AO TRATOR ................................. 362
5. PONTAS DE PULVERIZAÇÃO ............................................................................ 363
5.1 PONTAS DE JATO PLANO ....................................................................................... 364
5.2 PONTAS DE JATO CÔNICO ................................................................................... 366
6. TAMANHO DAS GOTAS ....................................................................................... 367
7. COBERTURA DO ALVO ......................................................................................... 369
8. USO DE SURFATANTES ........................................................................................ 370
9. SISTEMA DE CONDUÇÃO DA CULTURA ........................................................ 371
10. VOLUME DE CALDA ............................................................................................ 372
11. CALIBRAÇÃO DO PULVERIZADOR .............................................................. 373
12. AVALIAÇÃO DOS PULVERIZADORES ANTES DO INÍCIO DAS
OPERAÇÕES .......................................................................................................... 374
13. CONDIÇÕES AMBIENTAIS NA APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS
AGRÍCOLAS ........................................................................................................... 374
14. PRESSÃO DE TRABALHO ................................................................................. 376
15. MISTURA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NO TANQUE DO
PULVERIZADOR ................................................................................................... 376
16. DESTINO FINAL DAS EMBALAGENS VAZIAS .......................................... 377
17. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 378

CAPITULO 13
MANEJO NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 381
2. PADRÃO DE QUALIDADE DO TOMATE .......................................................... 382
3. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA PERDA DO PADRÃO DE
QUALIDADE ............................................................................................................. 384
4. FISIOLOGIA DO AMADURECIMENTO DO TOMATE ................................. 385
4.1 DESORDENS FISIOLÓGICAS ............................................................................... 387
5. PONTO DE COLHEITA .......................................................................................... 388
6. CUIDADOS NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA ............................................... 389
7. PROCEDIMENTOS E MANEJO EM PÓS-COLHEITA DOS FRUTOS ...... 392
7.1 SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO .............................................................................. 392
7.1.1 Grupos ................................................................................................................. 394
7.1.2 Subgrupos ......................................................................................................... 394
7.1.3 Classes ou calibres ......................................................................................... 394
7.1.4 Tipos ou graus de seleção ou categoria ............................................... 395
7.1.5 Requisitos gerais ............................................................................................ 395
7.2 LAVAGEM DOS FRUTOS ....................................................................................... 396
7.2.1 Qualidade da água ........................................................................................ 397
7.2.2 Agentes químicos antimicrobianos ....................................................... 399
7.2.3 Saúde e higiene dos trabalhadores ....................................................... 399
7.3 INFRAESTRUTURA DA CASA DE EMBALAGEM ............................................ 400
7.4 EMBALAGEM ........................................................................................................... 401
7.5 ARMAZENAMENTO REFRIGERADO ................................................................. 405
7.6 TRANSPORTE .......................................................................................................... 409
8. RASTREABILIDADE ............................................................................................... 410
9. POSSIBILIDADE DE USO COMO PRODUTO MINIMAMENTE
PROCESSADO ......................................................................................................... 411
10. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 411

CAPITULO 14
COMERCIALIZAÇÃO DO TOMATE
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 415
2. COMERCIALIZAÇÃO DE TOMATE SANTA CRUZ NAS CEASAS DA
REGIÃO SUDESTE .................................................................................................. 416
3. LEGISLAÇÃO NA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
HORTÍCOLAS ........................................................................................................... 420
3.1 A CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS HORTÍCOLAS .......................................... 421
3.1.1 Embalagem ........................................................................................................ 421
3.1.2 Rotulagem .......................................................................................................... 422
4. UTILIZAÇÃO DO MARKETING NA COMERCILIZAÇÃO DE FRUTAS
E HORTALIÇAS ........................................................................................................ 425
5. REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 427
Capítulo 1
UTILIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PRODUÇÃO
INTEGRADA NA TOMATICULTURA
José Mauro de Sousa Balbino
José Sérgio Salgado
David dos Santos Martins

1. INTRODUÇÃO

Busca-se, com a implantação da Produção Integrada (PI) para o tomate,


envolver, organizar e normatizar a cadeia produtiva dessa cultura, visando
desenvolver ações que levem a uma produção economicamente viável e
socialmente justa, à eliminação do uso de defensivos extremamente tóxicos,
à redução da quantidade de tratamentos fitossanitários por ano nas culturas,
à redução da pressão seletiva sobre predadores das pragas, à diminuição
dos riscos de contaminação do solo, da água, do fruto e do próprio homem
e à capacitação de técnicos e agricultores envolvidos no agronegócio.
Capítulo 1

Enfim, busca-se a implementação de um sistema produtivo sustentável que


proporcione a produção de frutos com padrão de qualidade, visando atender
tanto o mercado nacional como o internacional.
A normatização que vem sendo implementada para o tomate tem por
base as experiências acumuladas, principalmente com a Produção Integrada
de Frutas (PIF).
A Produção Integrada (PI) surgiu na Europa como uma extensão do
manejo integrado de pragas e evoluiu, ocupando muitas áreas em países
tradicionalmente produtores de frutas. Na América do Sul, a Argentina foi
o primeiro país a implantá-la. No Brasil, iniciou-se com a cultura da maçã,
marco da PI no país, e no Estado do Espírito Santo, iniciou-se com a cultura
do mamão.
O uso da PI vem se intensificando em diversas regiões produtoras
de frutas e hortaliças da Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, Espanha, Bélgica e
Portugal. Nesses países, as frutas e hortaliças obtidas da PI são certificadas,
sendo preferidas pelos grandes canais de comercialização (sanhveza, 2000).
Quanto à produção de hortaliças, a Espanha é o país que tem a maior área
cultivada com esse sistema (lopes; silva, 2010).
No Brasil, os estudos com a Produção Integrada de hortaliças iniciaram-
se recentemente com as culturas da batata e do tomate de mesa e para
indústria, visando atender a sustentabilidade da cultura e as exigências de
mercados.
O tomate, principal olerícola produzida no Espírito Santo, apresenta
alta infestação de pragas e incidência de doenças, exigindo frequentes
intervenções com defensivos nos sistemas de produção convencional. Estas
intervenções aumentam a probabilidade de contaminação dos agricultores,
do ambiente e do consumidor, sendo esse o principal impacto desse sistema
de produção.
Assim sendo, para a tomaticultura e para a agricultura de maneira geral,
o desafio que se apresenta é a substituição do manejo convencional, baseado
no uso intensivo dos insumos agrícolas, muitas vezes utilizados de forma
abusiva, por sistemas alternativos, apoiados na utilização racional e eficiente
desses produtos, de forma a estimular os processos biológicos e manter e/ou
recuperar o potencial da biodiversidade ambiental (PROTAS, 2003).
Neste capítulo, serão abordados aspectos relacionados às exigências de
mercado, a proposição das normas da Produção Integrada, como alternativa

24
Utilização dos princípios da produção integrada na tomaticultura

para atender a essas demandas, com ênfase para o tomate, e apresentar


alguns avanços obtidos pela PI, principalmente no Estado do Espírito Santo.

2. DEMANDA MERCADOLÓGICA

Embora no Brasil a produção de hortaliças seja de aproximadamente 19


milhões de toneladas, menos de 2% são exportados (embrapa, 2010). Esses
resultados refletem, em parte, limitações desse segmento, quando buscam
competir em mercados mais exigentes e apontam para a necessidade de
ações emergenciais que favoreçam a sua competitividade. Nesse contexto,
destacam-se: o planejamento e a adequação da infraestrutura da base de
produção, a qualidade do produto, a segurança do alimento, a logística de
distribuição e o marketing para os diversos produtos. Ou seja, há muito o que
ser realizado para se conquistar mercados mais exigentes.
O cenário mercadológico internacional sinaliza que cada vez mais
será valorizado o aspecto qualitativo e o respeito ao ambiente na produção
agrícola. Os países maiores importadores e as principais frutas exportadas
pelo Brasil, por exemplo, mostram a grande potencialidade do mercado ainda
existente nesse setor, tendo em vista, principalmente, o aperfeiçoamento dos
mercados, a mudança de hábitos alimentares e a necessidade de alimentos
seguros (SANHUEZA; ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2003). Nesse sentido, é
fundamental que seja entendido por todos os envolvidos nas cadeias
produtivas das diversas hortaliças que esse segmento deverá seguir o mesmo
propósito, e o tomate, como uma das principais culturas no setor, deverá
servir de um desses modelos tanto no sentido de atender ao mercado interno,
quanto para garantir padrão de qualidade para exportação. Assim sendo,
vale como referencial para o tomate as mesmas questões que vêm sendo
apontadas de maneira geral pelos mercados mais exigentes: (i) movimento
dos consumidores, principalmente europeus, na busca de frutas e hortaliças
sadias e com ausência de resíduos de defensivos prejudiciais à saúde humana;
e (ii) a presença de importantes cadeias de distribuidores e de supermercados
europeus, que têm pressionado exportadores de frutas e hortaliças para
o estabelecimento de regras de produção que levem em consideração:
ausência de resíduos de agroquímicos, adequação do ambiente e condições
de trabalho e higiene do produto e do trabalhador (ANDRIGUETO; KOSOSKI,
2003; SANHUEZA; ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2003).

25
Capítulo 1

Também o mercado interno vem apontando e exigindo mudanças


rápidas e radicais para o segmento produtivo, seja para distribuição in natura,
seja para processamento ou para refeições coletivas. Mostra que há grandes
oportunidades dentro do agronegócio, mas que essas oportunidades exigem
mudanças de comportamento pelas pessoas envolvidas, visando a alterações
no padrão tecnológico de gerenciamento da produção e sua distribuição,
estabelecendo um compromisso de buscar um processo sustentável e de
melhoria continuada.
Para que essa atividade se torne sustentável, é fundamental que se
procure, mais do que um produto de qualidade, uma produção de qualidade.
Esta produção de qualidade é um nome genérico que apresenta múltiplos
aspectos. No sentido amplo, implica que os produtos devam apresentar certos
requisitos como gosto, consistência, maturação, apresentação, inexistência
de resíduos tóxicos acima dos níveis permitidos, e que a tecnologia utilizada
seja de mínimo impacto sobre o meio ambiente e não prejudique a saúde do
agricultor (PROTAS, 2003).
O vertiginoso crescimento das atividades industriais, ocorrido no
último quarto do século XX, despertou, principalmente nas comunidades
mais esclarecidas, uma forte conscientização de que a natureza não é infinita
em sua capacidade de absorver os impactos de todas as atividades humanas,
no ritmo em que vem ocorrendo, sem que sejam alteradas as condições
ambientais globais. Especificamente no caso da produção agrícola, os
grandes benefícios decorrentes da utilização dos defensivos, descobertos a
partir da década de 40, traduzidos em maior eficácia e facilidade de utilização,
bem como na solução de problemas fitossanitários até aí insolúveis, foram
perturbados pela frequência de ocorrências de efeitos secundários. Dentre
esses efeitos vale ressaltar a possibilidade de intoxicação do homem e de
animais domésticos, a degradação do ambiente e, em particular, o efeito
sobre os organismos auxiliares benéficos, a poluição da água e do solo pelos
defensivos e a seleção de organismos de espécies de pragas com resistência
aos defensivos em uso (PROTAS, 2003).

3. ORIGEM DA PRODUÇÃO INTEGRADA

Os primeiros trabalhos com a PI surgiram na Alemanha e Suíça na década


de 70 e posteriormente na Itália com a PIF. A PI surgiu como uma extensão

26
Utilização dos princípios da produção integrada na tomaticultura

do manejo integrado de pragas, uma vez que, juntamente, agricultores e


pesquisadores constataram que era possível estender esses conhecimentos
para produzir frutas com qualidade, reduzir o uso de defensivos e o impacto
ambiental, desde que as práticas fossem realizadas dentro do pomar de
forma integrada (FACHINELLO, 2003). Porém, foi a partir dos anos 80 e 90
que a PI tomou grande impulso em função do movimento de consumidores
que buscavam frutos sadios, com qualidade e sem resíduos de defensivos
(SANSAVINI, 1998). No entanto, apenas em 1993, a Organização Internacional
de controle Biológico e Integrado contra os Animais e Plantas Nocivos (OICB)
publicou as diretrizes gerais para pomáceas, e em 1997, para frutas de caroço
(CROSS; DCKER, 1994; CROSS et al., 1996, apud FACHINELLO, 2003).
A adoção do sistema de produção integrada evoluiu em curto espaço de
tempo, tomando conta de muitas áreas existentes em países tradicionalmente
produtores de frutas. Na América do Sul, a Argentina foi o primeiro país a
implantar o sistema, em 1997 (ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2003), seguindo-se no
mesmo ano o Uruguai, que, embora tenha iniciado as primeiras discussões
sobre o tema em 1994, somente em 1997 iniciou formalmente o primeiro
programa de produção integrada em frutas e um ano depois em hortaliças
(NUNES et al., 2003).
Quanto às hortaliças, a Espanha vem desenvolvendo a PI para cultivo
sob túnel desde o início da década de 90, havendo uma evolução do processo
que permitiu a aprovação, em dezembro de 1997, de um regulamento
específico para a Produção Integrada de tomate sob túnel. Assim sendo,
segue-se a tendência de adoção de métodos mais racionais para o manejo
de pragas e a aplicação de tecnologias voltadas para o respeito ao ambiente
(BELTA; LASTRES, 2005).
A Organização Internacional de controle Biológico e Integrado contra
os Animais e Plantas Nocivos (OICB) define a PI como “o sistema de produção
que gera alimentos e demais produtos de alta qualidade, mediante a aplicação
de recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de
insumos poluentes e a garantia da sustentabilidade agrícola. A PI enfatiza
o enfoque do sistema holístico, envolvendo a totalidade ambiental como
unidade básica; o papel central do agroecossistema; o equilíbrio do ciclo
de nutrientes; a preservação e o desenvolvimento da fertilidade do solo e a
diversidade ambiental como componentes essenciais; e métodos e técnicas
de controle biológico e químico cuidadosamente equilibrados, levando-

27
Capítulo 1

se em conta a preservação ambiental, o retorno econômico e os requisitos


sociais (ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2002).
A PI, além de ser uma proposta de agricultura sustentável sob o ponto
de vista ecológico, social e econômico, é uma possibilidade de sobrevivência
e garantia de concorrer com os mercados externos, pois as normas técnicas
são aceitas pela sociedade e pelos distribuidores (FACHINELLO, 2003).

4. O SISTEMA DE PRODUÇÃO INTEGRADA

A PI é um sistema de diretrizes técnicas e de normas, sendo as


especificidades definidas, por consenso, por meio de um Comitê Gestor
Voluntário. Este conjunto de normas busca a produção de alimentos e outros
produtos de alta qualidade com a utilização racional dos recursos naturais e
de mecanismos reguladores para controlar os insumos agrícolas, assegurando
uma produção agrícola sustentada, auditada por Organismos de Avaliação da
Conformidade (OAC) nacionais ou internacionais.
A PI é baseada em três componentes básicos:
• prevenção: com base na utilização de cultivares resistentes, proteção
aos inimigos naturais, fertilização dirigida e diversificação de cultivos e outras
de ação similares;
• observação: aplicação de sistemas de alerta, de medidas quarentená-
rias e adoção de níveis de danos para monitoramento e detecção de pragas e
doenças e capacitação e aperfeiçoamento da equipe envolvida no processo; e
• intervenção: por intermédio da adoção de métodos mecânicos, quí-
micos e biológicos para controle de pragas e doenças, como o emprego de
feromônios, produtos biológicos, inimigos naturais e produtos fitossanitários
registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
As normas da PI estão organizadas em 15 áreas temáticas, distribuídas
em normas técnicas obrigatórias, recomendadas, proibidas e permitidas com
restrições (ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2002). As áreas temáticas contempladas
são:
• capacitação de recursos humanos;
• organização de produtores;
• recursos naturais;
• material propagativo;
• implantação de lavoura;

28
Utilização dos princípios da produção integrada na tomaticultura

• nutrição de plantas;
• manejo e conservação do solo;
• recursos hídricos e irrigação;
• manejo da parte aérea;
• proteção integrada da planta;
• colheita e pós-colheita;
• análise de resíduos;
• processo de empacotadoras (casas de embalagem);
• sistema de rastreabilidade e cadernos de campo e
• assistência técnica.
Com essas normas busca-se, com a integração, o envolvimento e a
organização da cadeia produtiva do tomate, visando desenvolver ações que
levem a atender aos objetivos e às metas da PI.

5. A PRODUÇÃO INTEGRADA NO BRASIL

No Brasil, a busca de soluções tecnológicas que viabilizassem técnica


e economicamente a produção integrada iniciou em 1997, com a cultura
da maçã, por intermédio de um projeto de pesquisa multi-institucional e
interdisciplinar liderado pela Embrapa Uva e Vinho. Devido ao seu sucesso,
esse projeto foi levado a condição de programa de referência para outras
cadeias produtivas no país (PROTAS, 2003). Após a inclusão de várias fruteiras
no programa, em 2004, outras solicitações foram enviadas ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), dentre as quais a inclusão de
projetos para a Produção Integrada de hortaliças, como tomate para indústria
e para mesa, batata, gengibre, inhame e taro.
Uma das ações prioritárias do programa da produção integrada no Brasil
consiste num sistema de produção orientada e de livre adesão por parte dos
agricultores e das empacotadoras, que poderá ser utilizado como ferramenta
para se concorrer nos mercados nacional e internacional (ANDRIGUETO;
KOSOSKI, 2003).
Os avanços com os projetos da PI no Brasil levaram à construção do seu
marco legal com base na Normativa nº 20 do MAPA em 2001 (ANDRIGUETO;
KOSOSKI, 2002).
O marco legal da PI no Brasil é composto pelas Diretrizes Gerais para
a Produção Integrada, pelo Regulamento de Avaliação da Conformidade,

29
Capítulo 1

pelas definições e conceitos da PI, pelo Regimento Interno da Comissão


Técnica, pelos Formulários de Cadastro e outros componentes (ANDRIGUETO;
KOSOSKI, 2002; ANDRIGUETO; KOSOSKI, 2003; MARTINS, 2003).

6. A PRODUÇÃO INTEGRADA NO ESPÍRITO SANTO

No Estado do Espírito Santo, o projeto da produção integrada teve seu


início com a cultura do mamão, efetivamente implantado no começo de 2001.
Esse projeto marcou também a implantação das ações visando à produção
integrada com essa cultura no Brasil (MARTINS; YAMANISHI; TATAGIBA, 2003).
Os principais benefícios alcançados com a implantação da PI de
Mamão têm sido verificados quanto à redução na utilização dos defensivos
e suas consequências nos aspectos ambientais, toxicológicos e econômicos;
à organização da base produtiva, ao treinamento e à profissionalização de
técnicos e agricultores (MARTINS, 2003).
Em razão dos resultados alcançados com a PI Mamão e da exigência do
mercado pela qualificação de outros produtos, o Incaper estendeu essa linha
de trabalho, solicitando ao MAPA novos projetos contemplando as culturas do
morango (COSTA et al., 2004) coco, tomate para mesa e as raízes e tubérculos
(gengibre, inhame e taro).
No final de 2004, iniciou-se, no Espírito Santo, um conjunto de ações
buscando-se adotar os princípios da PI na cultura do tomate de mesa,
tendo sido realizados, a partir do ano de 2005, seminários e divulgação de
materiais esclarecendo sobre as normas que regulamentam esse sistema
de produção e cursos técnicos sobre a cultura com base nas normas da PI.
Concomitantemente, criou-se um comitê para elaboração preliminar das
normas técnicas específicas para a produção integrada do tomate (BALBINO
et al., 2006). As normas para o tomate têm também por base o marco legal
da produção integrada descrito na Normativa nº 20 do MAPA (ANDRIGUETO;
KOSOSKI, 2002).
O conjunto de normas para o tomate nesse sistema visa, além do
padrão de qualidade dos frutos, reduzir os impactos da sua produção sobre o
ambiente, no que se refere principalmente aos cuidados com o solo, a água e
os inimigos naturais, visando minimizar a ocorrência das principais doenças
e pragas que atacam a cultura, o que certamente acarretará redução na
aplicação de defensivos. Assim, por consequência, estará contribuindo para

30
Utilização dos princípios da produção integrada na tomaticultura

atenuar a degradação do ecossistema, propiciando uma tendência para uma


agricultura de caráter sustentável, com maior segurança do alimento.
A PI exige normalmente ajustes no sistema produtivo, e para tanto tem-
se realizado acompanhamentos de lavouras com vistas a serem referências
para a cultura, incluindo, nesse caso, ajustes para o monitoramento de pragas
e doenças (BALBINO et al., 2006; FORNAZIER; PRATRISSOLI; BALBINO, 2006) e
testes de cultivares melhor adaptados ao sistema (COSTA; CARMO; VENTURA,
2007).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção integrada tem evoluído no mundo em resposta às


exigências de mercado pela geração de alimentos limpos e com reduzido
impacto negativo sobre o meio ambiente.
Para que os avanços que se procura alcançar dentro do agronegócio
do tomate se consolidem é necessária a implementação de mais ações que
busquem uma produção sustentável e uma vigília permanente, visando
minimizar os retrocessos oriundos de diversos princípios culturais, há muito
imbuídos em vários agentes envolvidos no desenvolvimento de sua cadeia
produtiva.
O conjunto de manejo para o tomate visa, além do padrão de qualidade
dos frutos, a ações de redução dos impactos da sua produção sobre o meio
ambiente, evitando a contaminação do solo e da água e à correta avaliação
da ocorrência das principais pragas e doenças, para seu adequado e efetivo
controle, reduzindo o uso de defensivos. Assim sendo, contribui para a
proteção do ecossistema, propiciando uma tendência para uma agricultura
de caráter sustentável, com maior segurança do alimento.
Merece também destaque o fato de que cada vez mais os mercados vêm
exigindo produtos de elevado padrão de qualidade, oriundos de sistemas de
produção voltados para o princípio da sustentabilidade ambiental e a busca
da preservação da saúde do agricultor e dos consumidores.
No Brasil, verifica-se que a atual tendência deva ser orientar a todos os
agentes da cadeia produtiva, no sentido de não só aplicar técnicas visando a
maior produtividade, mas também utilizar aquelas que permitam a geração
de produtos de melhor padrão de qualidade para consumo. Neste contexto, a
definição de um sistema de Produção Integrada para o Tomateiro (PI Tomate)

31
Capítulo 1

no Estado do Espírito Santo significa, no plano tecnológico, uma equiparação


aos países com agricultura mais desenvolvida; no plano mercadológico, a
habilitação para competir tanto no mercado interno quanto no externo; e
no plano estratégico, a possibilidade da oferta de produtos diferenciados,
capazes de conceder garantia da sustentabilidade da cultura no Estado.

8. REFERÊNCIAS

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Sociedade Brasileira de Fruticultura; Embrapa Agroindústria Tropical, 2000.
CD-ROM

SANHUEZA, R. M. V.; ANDRIGUETO, J. R.; KOSOSKI, A. R. Situação atual da


produção integrada de frutas no Brasil. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE

33
Capítulo 1

PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS, 5., 2003, Bento Gonçalves, Anais...


Bento Gonçalves, RS: Embrapa Uva e Vinho, 2003.

SANSAVINI, S. Integrated fruit production: process, issues, prospects after ten


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Poços de Caldas: MG, Anais... Poços de Calda, MG.

34
Sistema orgânico de produção de tomate

Foto: Laudeci M. M. Bravin (Domaine Orgânicos).


Capítulo 2
SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO
DE TOMATE
Jacimar Luis de Souza

1. INTRODUÇÃO

No campo da alimentação, certamente um dos maiores desejos de uma


pessoa é consumir tomates sem resíduos de agrotóxicos, principalmente pela
quantidade ingerida e pela forma de consumo in natura desta hortaliça na dieta
diária. Este capítulo apresenta inicialmente os princípios gerais e as técnicas
de produção da agricultura orgânica para aplicação no cultivo do tomate
orgânico de mesa. Posteriormente, enfoca-se o manejo orgânico específico
da cultura do tomate, detalhando as variáveis tecnológicas, cultivares,
formação de mudas, preparo do solo, adubação orgânica, biofertilização
suplementar, tratos culturais adaptados ao sistema, controle alternativo de

35
Capítulo 2

pragas e doenças, colheita e rendimento, além da avaliação e do desempenho


econômico da cultura. As tecnologias e os resultados apresentados, ao
contrário do pensamento da maioria dos técnicos e agricultores deste país,
indicam plena viabilidade técnica e, especialmente, econômica da produção
dessa importante espécie em sistema orgânico.

2. O AGROECOSSISTEMA ORGÂNICO

2.1 PRINCÍPIOS GERAIS DA AGRICULTURA ORGÂNICA

A produção de alimentos orgânicos não significa apenas substituir


insumos sintéticos por insumos orgânicos no manejo dos cultivos que se
pretende fazer. Representa muito mais que isto. Subentende-se cumprir
requisitos no âmbito dos direitos trabalhistas, do estatuto da criança e
do adolescente, dos princípios e das técnicas de produção e, em algumas
situações, da certificação dos produtos, para alcance de credibilidade no
mercado.
Neste momento, serão enfocados alguns desses aspectos citados,
especialmente os relacionados a um apropriado planejamento técnico
do sistema produtivo, apresentando as etapas necessárias para se chegar
à produção orgânica do tomate de mesa de forma sustentável e eficaz,
sem perder a ideia da inserção da cultura no contexto geral da agricultura
orgânica.

2.1.1 A “construção” do agroecossistema produtivo e a conversão

Ecossistema é um sistema funcional de relações entre organismos


vivos e seu ambiente, delimitado arbitrariamente, mantendo um equilíbrio
dinâmico no espaço e no tempo. A manipulação e a alteração dos ecossistemas
pelo homem, com o propósito de estabelecer uma produção agrícola,
tornam os agroecossistemas muito diferentes dos ecossistemas naturais, ao
mesmo tempo em que se conservam processos, estruturas e características
semelhantes. Os agroecossistemas, comparados aos ecossistemas naturais,
têm muito menos diversidade funcional e estrutural, além do que, quando a
colheita é o enfoque principal, há perturbações em qualquer equilíbrio que se
tenha estabelecido, e o sistema só pode ser mantido se a interferência externa

36
Sistema orgânico de produção de tomate

com trabalho e insumos for mantida (ALTIERI,1989; GLIESSMAN, 2000).


O desafio de criar agroecossistemas sustentáveis é o de alcançar
características semelhantes às de ecossistemas naturais, permitindo manter
uma produção desejada. Um agroecossistema que incorpore as qualidades de
ecossistemas naturais de estabilidade, equilíbrio e produtividade assegurará
melhor a manutenção do equilíbrio dinâmico necessário para estabelecer
uma base ecológica de sustentabilidade, principalmente quando se pensa
na produção de um determinado produto, como o tomate de mesa, no
presente caso. Isto pressupõe que o referido cultivo deva ser realizado dentro
de um processo, por exemplo, rotacionado com outras espécies, e/ou que
o ambiente onde se insira conte com um grau de diversificação dos fatores
envolvidos que garanta o mínimo de estabilidade ecológica. Caso contrário,
representaria uma produção com substituição de insumos sintéticos por
insumos orgânicos apenas – e não uma agricultura orgânica plena.
Nesse sentido, Gliessman (2000) propõe os seguintes princípios
orientadores para a conversão de propriedades agrícolas a sistemas
agroecológicos:

PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA CONVERSÃO DE SISTEMAS


AGRÍCOLAS PARA AGROECOLÓGICOS

O processo dessa conversão pode ser complexo, exigindo mudanças


nas práticas de campo, na gestão da unidade de produção agrícola em
seu dia-a-dia, no planejamento, no marketing e na filosofia. Os seguintes
princípios podem servir como linhas mestras orientadoras neste processo
geral de transformação:
• Mover-se de um manejo de nutrientes, cujo fluxo passa através do
sistema, para um manejo baseado na reciclagem de nutrientes, como uma
crescente dependência em relação a processos naturais, tais como a fixação
biológica do nitrogênio e as relações com micorrizas.
• Usar fontes renováveis de energia, em vez das não-renováveis.
• Eliminar o uso de insumos sintéticos não-renováveis oriundos de fora
da unidade produtiva, que podem potencialmente causar danos ao ambiente
ou à saúde dos produtores, assalariados agrícolas ou consumidores.
• Quando for necessário, adicionar materiais ao sistema de produção,
usando aqueles que ocorrem naturalmente, em vez de insumos sintéticos

37
Capítulo 2

manufaturados.
• Manejar pragas, doenças e ervas espontâneas, em vez de “controlá-
las”.
• Restabelecer as possíveis relações biológicas que possam ocorrer
naturalmente na unidade produtiva, em vez de reduzi-las ou simplificá-las.
• Estabelecer combinações mais apropriadas entre padrões de cultivo e
potencial produtivo e limitações físicas da paisagem agrícola.
• Usar uma estratégia de adaptação do potencial biológico e genético
das espécies de plantas agrícolas e animais às condições ecológicas da
unidade produtiva, em vez de modificá-la para satisfazer as necessidades das
culturas e animais.
• Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.
• Incorporar a ideia de sustentabilidade a longo prazo no desenho e
manejo geral do agroecossistema.

Entretanto, muito antes das questões relativas ao agroecossistema,


situa-se o homem contido nele. Nessa direção, Pereira (2000) discute a
conversão do homem e o período de transição da propriedade, acrescentando
substancial contribuição, relatada nos parágrafos listados a seguir.
• “A prática da agroecologia é um processo que passa por um estilo de
vida, isto é, transformar transformando-se”. Como processo, passa por várias
dimensões ou etapas importantes. Uma delas se refere à conversão ou período
de transição, que vem a ser aquele período de tempo variável que é preciso
para a propriedade passar do modelo convencional ao sistema agroecológico
ou orgânico, ou seja, constituir-se num agroecossistema.
• Por conversão, entende-se um processo gradual e crescente de
desenvolvimento interativo na propriedade até chegar a um agroecossistema.
Está orientado para a transformação do conjunto da unidade produtiva,
gradativamente, até que se cumpra por completo o todo. Só após transposta
essa fase, isto é, cumprido o conjunto de requisitos para a produção orgânica,
atendendo às normas observadas pelas entidades certificadoras, é que se
pode obter o selo orgânico. A transição deve ser feita a partir de pequenas
glebas, iniciando-se pelas áreas mais apropriadas, num processo crescente.
Essa etapa ou fase do processo contempla pelo menos três dimensões
principais: educativa, biológica e normativa.

38
Sistema orgânico de produção de tomate

• Por fim, considerar que o processo deve ser conduzido segundo uma
sequência lógica e explícita, isto é, um projeto de conversão. Este projeto
basicamente constitui-se de um diagnóstico de toda a propriedade, levantando
todos os recursos disponíveis, além das relações sociais e comerciais que esta
mantém, assim como a ocupação da área e o seu respectivo rendimento físico
e econômico.
• Neste diagnóstico, são identificadas as principais dificuldades ou
entraves, assim como o potencial da propriedade. Nesta fase, também são
identificadas as necessidades do agricultor, incluindo a sua capacitação. O
projeto deve incluir um cronograma e um fluxograma entre as atividades,
estabelecendo-se metas claras e viáveis.
• O aspecto comercial é também extremamente importante neste
processo. Um projeto bem feito não poderá prescindir desta fase ou etapa.
Os “canais” de comercialização devem ser previamente identificados e
definidos.
• A certificação é uma opção para assegurar aos agricultores um
mercado diferenciado. A área ou propriedade estará convertida quando se
tiverem cumpridos os prazos e prescrições previstas nas normas, quando
somente então estará habilitada a receber o “selo de qualidade”.

2.1.2 Diversificação e equilíbrio ecológico

A monocultura representa um dos maiores problemas do modelo de


produção agrícola praticado atualmente, porque, não existindo diversificação
de espécies numa determinada área, as pragas e doenças ocorrem de forma
mais intensa sobre a cultura, por ser a única espécie vegetal presente no local.
Portanto, o monocultivo torna o sistema de produção mais instável e sujeito
às adversidades do meio.
Os equilíbrios biológico ambiental e econômico de grandes regiões
não podem ser mantidos com as monoculturas. A diversificação de culturas é
o ponto-chave para a manutenção da fertilidade dos sistemas, para o controle
de pragas e doenças e para a estabilidade econômica regional. Nesse aspecto,
choca-se frontalmente com a ideia de especialização agrícola, frequentemente
levada ao extremo nas monoculturas regionais. Historicamente, as
monoculturas regionais apenas se têm viabilizado com doses crescentes de

39
Capítulo 2

agroquímicos ou com a incorporação de novas terras em substituição àquelas


já exauridas (KHATOUNIAN, 2001).
Reforçando o tema, Gliessman (2000) relata que a monocultura é uma
excrescência natural de uma abordagem industrial da agricultura, e suas
técnicas casam-se bem com a agricultura de base agroquímica, tendendo a
favorecer o cultivo intensivo do solo, a aplicação de fertilizantes inorgânicos,
a irrigação, o controle químico de pragas e as variedades “especializadas” de
plantas com estreita base genética que as tornam extremamente suscetíveis
em termos fitossanitários. A relação com os agrotóxicos é particularmente
forte; cultivos da mesma planta em grandes áreas são mais suscetíveis a
ataques devastadores de pragas específicas e requerem proteção química.
Sistemas de produção diversificados são mais estáveis, porque dificultam
a multiplicação excessiva de determinada praga e doença e permitem que
haja um melhor equilíbrio ecológico no sistema de produção, por intermédio
da multiplicação de inimigos naturais e outros organismos benéficos.
Assim, uma propriedade que utiliza a prática orgânica fundamental-
mente tem que se preocupar em buscar primariamente diversificar a paisagem
geral, de forma a restabelecer a cadeia alimentar entre todos os seres vivos,
desde micro-organismos até animais superiores e pássaros. Para tanto, se
faz necessário compor uma diversidade de espécies vegetais, de interesse
comercial ou não, recomendando que se opte por espécies locais, adaptadas
às condições edafoclimáticas da região. Como exemplo, em áreas marginais
às glebas de produção e nas bordas de riachos pode-se proceder ao plantio
de espécies como goiaba, ingá, pitanga, araçaúna, biribá, nêspera, abacate,
calabura, jamelão, amora, uva japonesa, dentre outras.
Além disso, é fundamental também proceder ao manejo da vegetação
espontânea. Este manejo pode ser realizado de três formas (Figura 1), visando
permitir a conservação natural da vegetação do próprio local, conforme
segue:
1º. Manter as áreas de refúgio fora das áreas cultivadas para interesse
comercial, inclusive áreas com alagamento natural, visando preservar ao
máximo os aspectos naturais estabelecidos pelo ecossistema local ao longo
de anos.
2º. Não utilizar intensivamente o solo, procedendo ao planejamento de
faixas de cultivo intercaladas com faixas de vegetação espontânea, chamadas

40
Sistema orgânico de produção de tomate

de corredores de refúgio. Para divisão dos talhões de plantios deixar corredores


de 2,0 a 4,0 m de largura, para abrigar a fauna local.
3º. Proceder ao controle parcial da vegetação ocorrente dentro das
áreas cultivadas, aplicando a técnica de capinas em faixas para culturas com
maiores espaçamentos nas entrelinhas (tomate, pimentão, couve-flor etc.)
e manter a vegetação entre os canteiros para culturas cultivadas por esse
sistema de plantio (alface, cenoura, alho etc.).

Figura 1 - Corredores de refúgio entre plantio de morango e tomate (à esquerda),


capina em faixa em cultivo de quiabo (à direita), manejo de ervas espontâneas
entre canteiros de morango (abaixo), em sistema orgânico de produção.

Esses três aspectos anteriores serão os responsáveis pela maior


estabilidade do sistema produtivo e representarão uma diminuição expressiva
de problemas com pragas e doenças, tão comuns em sistemas desequilibrados
ecologicamente. Vale lembrar que o não cumprimento desses princípios tem
sido uma das maiores falhas em propriedades rurais, mesmo com práticas
orgânicas, em franca atividade no Brasil.
Para completar, o estabelecimento de um desejável nível de diversidade

41
Capítulo 2

genética e a adoção de um sistema de produção com culturas diversificadas,


de interesse comercial, também são fundamentais. Para tanto, recomenda-se
que se adote um plano de uso do solo de forma mais sustentável possível,
procedendo ao planejamento dos plantios, visando permitir o descanso
(pousio) e a revitalização dos solos, no máximo de dois em dois anos, por
intermédio do plantio solteiro ou misto de leguminosas (exemplo: mucuna-
preta, crotalária, labe-labe) e gramíneas (exemplo: milho, aveia-preta),
ações que evidentemente promoverão a fixação biológica de nitrogênio e a
estruturação do solo, respectivamente.
Na natureza, existe uma forte relação biológica entre insetos, ácaros,
nematóides, fungos, bactérias, vírus e outros macro e micro-organismos,
a qual é responsável pelo equilíbrio do sistema, podendo-se citar, como
exemplos, pulgões (praga) controlados por joaninhas (predador); ácaros
(praga) controlados por ácaros predadores; lagarta-da-soja (praga) controlada
por Baculovirus (parasita); micro-organismos antagonistas presentes em
compostos orgânicos, inibindo o desenvolvimento de fungos de solo (por
exemplo: Fusarium), dentre tantos outros.

2.1.3 Teoria da trofobiose

Por meio da Teoria da Trofobiose sabe-se que todo ser vivo só sobrevive
se houver alimento adequado e disponível para ele. A planta ou parte dela
só será atacada por inseto, ácaro, nematóide ou micro-organismos (fungos
e bactérias) quando tiver na sua seiva o alimento que eles precisam,
principalmente aminoácidos (CHABOUSSOU, 1987).
Segundo Chaboussou (1987), o tratamento inadequado de uma planta,
especialmente com substâncias de alta solubilidade, conduz a uma elevação
excessiva de aminoácidos livres. Portanto, um vegetal saudável, equilibrado,
dificilmente será atacado por pragas e doenças. A explicação técnica do
processo se baseia em fatores ligados à síntese de proteínas (proteossíntese)
ou à decomposição das mesmas (proteólise). O metabolismo acelerado
pelos adubos de alta solubilidade ou qualquer outra desordem que interfira
nos processos de proteossíntese ou proteólise elevará a quantidade de
aminoácidos livres na seiva vegetal, servindo de alimento para alguns insetos
e micro-organismos.

42
Sistema orgânico de produção de tomate

Sabe-se que insetos, nematóides, ácaros, fungos, bactérias e vírus são


organismos que possuem uma pequena variedade de enzimas (responsáveis
pela formação de proteínas), o que reduz sua possibilidade de digerir
moléculas complexas como as proteínas, necessitando do seu desdobramento
em moléculas mais simples, como os aminoácidos (CHABOUSSOU, 1987).
Existem vários fatores que interferem na resistência das plantas, pois
interferem primeiramente no seu metabolismo, podendo, assim, aumentar
ou diminuir essa resistência. Dentre eles, podem ser destacados, a seguir, os
relacionados a:
• fatores que melhoram a resistência: espécie ou variedade adaptada ao
local de cultivo, solo, adubos orgânicos, adubos minerais de baixa solubilidade
e defensivos naturais;
• fatores que diminuem a resistência: idade e desnutrição da planta, solo,
luminosidade, umidade, tratos culturais, adubos minerais de alta solubilidade
e agrotóxicos.
Portanto, conhecendo esses fatores citados anteriormente, o agricultor
deve adequar o seu sistema de produção, empregando práticas recomendadas
para utilização em sistemas orgânicos, que certamente conduzirão à obtenção
do desejado equilíbrio nutricional e metabólico às suas culturas comerciais.

2.1.4 Manejo e conservação do solo

Para o cultivo de hortaliças, o uso do solo é feito de forma mais


intensiva, quando comparado a outras atividades agrícolas, existindo espécies
que exigem um preparo de solo mais refinado para expressarem melhores
rendimentos comerciais. Nessas áreas, o preparo com o uso de arado e
enxada rotativa ocasiona a pulverização da camada superficial do solo e a
compactação subsuperficial.
Assim, devem-se evitar as causas da degradação do solo indicadas na
Tabela 1, utilizando, o mínimo possível, equipamentos de desestruturam o
solo e, o máximo possível, práticas que preservam e fertilizam o solo, como
o emprego de plantio direto na palha, uso de cobertura morta, manejo
apropriado das ervas espontâneas, entre outras.

43
Capítulo 2

Tabela 1 - Grau de interferência negativa das causas da degradação do solo na sua


fertilidade química, física e biológica, segundo Werner, 2000

Grau de interferência negativa: * = Pouco ** = Médio *** = Muito

Diante do exposto até o momento e baseado em informações de Popia,


Cidade Júnior e Almeida (2000), Rowe (2000) e Souza e Resende (2006), podem
ser recomendados os seguintes procedimentos aplicáveis à olericultura
orgânica, dentre os quais muitos se aplicam ao cultivo orgânico do tomate:
• Uso de barreiras de árvores e/ou arbustos como quebra-ventos, para
melhorar o microclima, aumentar a produtividade e diminuir a erosão eólica.
A descrição dos princípios e as técnicas para implantação de quebra-ventos
podem ser verificadas em Gliessman (2000).
• Emprego do plantio direto, sempre que possível, utilizando-se dos
seguintes equipamentos:
rolo faca: para acamar espécies de cobertura; existem modelos de
tração animal, microtrator e tratores;

44
Sistema orgânico de produção de tomate

rolo-disco: usado para acamar espécies que apresentam maior


dificuldade de acamamento, como a mucuna, devido ao seu hábito de
crescimento;
triturador: implemento acoplado ao microtrator, igual a um triturador
de grãos, sendo indicado para espécies mais fibrosas (sorgo, milho, milheto,
crotalárias);
roçadeira: existem modelos para microtrator e trator, podendo ser
utilizada para adubos verdes menos fibrosos ou com muita rama (ex.: mucuna)
e ervas espontâneas.
Também já existem vários modelos de kits de plantio direto/cultivo
mínimo com maior ou menor grau de sofisticação, dependendo do fabricante
e do objetivo do kit, fabricados na forma de semeadeiras-adubadeiras para
plantio direto/cultivo mínimo, movidos à tração animal ou microtrator, que
podem ser adaptados para a semeadura de algumas espécies olerícolas ou
adubos verdes em sistema orgânico.
• Uso do sistema de preparo tradicional, com aração e gradagem, o
mínimo possível, de forma racional e utilizar a enxada rotativa apenas em caso
de extrema necessidade, limitando-se apenas para culturas que necessitam
de encanteiramento.
• Para hortaliças de espaçamentos maiores, plantadas em covas
ou sulcos, pode-se empregar diretamente o preparo manual ou utilizar
equipamentos como sulcador ou ainda a enxada com dois jogos de facas,
cultivando-se apenas a linha de plantio.
• É recomendável proceder à rotação de culturas, envolvendo espécies
que exigem sistemas de preparo de solo diferentes, intercalando tipos de
preparo intensivo com tipos de plantio direto.
• Uso do subsolador em áreas submetidas a cultivos intensivos, em
intervalos médios de dois a três anos.

2.1.5 Fertilização do solo e reciclagem de matéria orgânica

A fertilização do solo deve ser realizada por meio da matéria orgânica,


especialmente pela reciclagem de resíduos orgânicos de origem animal,
vegetal e agroindustrial. A matéria orgânica é um dos componentes vitais
do ciclo da vida, descrito por Kiehl (1985). Ela exerce importantes efeitos
benéficos sobre as propriedades do solo, isto é, nas propriedades físicas,

45
Capítulo 2

químicas, fisico-químicas e biológicas, contribuindo substancialmente para o


crescimento e desenvolvimento das plantas.
O correto manejo de solos em sistemas orgânicos de produção é uma
das atividades prioritárias e vitais, uma vez que o solo deve ser considerado
não apenas como suporte de plantas ou reservatório de nutrientes, mas como
um organismo vivo e um sistema complexo que abriga uma diversidade de
fauna e flora indispensável para a sustentabilidade do agroecossistema.
Existem diversos tipos de adubos orgânicos, de origem animal, vegetal
e agroindustrial, recomendados para utilização no cultivo orgânico de
hortaliças e, de maneira geral, deve-se atentar para a origem e a qualidade dos
mesmos. Em se tratando de adubos oriundos de fontes externas à propriedade
ou de sistemas convencionais de criação (no caso dos estercos de origem
animal), a atenção deve ser redobrada, pois muitos deles podem apresentar
contaminação por resíduos químicos, antibióticos e outras substâncias de
uso proibido pelas normas técnicas de produção.
Por este motivo, atualmente recomenda-se empregar sistemas de
compostagem no processo produtivo, que além de promover a “higienização”
da matéria orgânica, obtêm-se um produto parcialmente mineralizado, de
maior eficácia na nutrição das plantas em sistemas orgânicos de produção
de hortaliças (Figura 2). Se bem planejado, um pátio de compostagem de
apenas 300 m2 (20 m X 15 m), pode comportar a instalação de 7 medas no
formato trapezoidal a cada 4 meses, com as seguintes dimensões: 15,0 m de
comprimento, 1,5 m de altura, 2,0 m de largura inferior e 1,0 m de largura
superior (representando um volume inicial por meda = 34 m3). Isto significa
que se pode instalar 21 medas por ano, com um volume anual total de 714
m3. Sabendo-se que o rendimento médio de composto orgânico é de 250
kg do produto pronto (50% umidade) para cada m3 inicialmente empilhado,
este pátio poderá gerar aproximadamente 178,5 t de composto. Isto permite
adubar aproximadamente seis hectares de área em cultivo orgânico de
hortaliças, baseando-se num consumo médio de 30 t/ha de composto úmido
por ciclo.
Porém, estercos gerados na propriedade ou originados de fontes
conhecidas (que apresentem qualidade comprovada por análise) podem
ser utilizados diretamente como adubo orgânico, sem sofrer o processo de
compostagem, conforme algumas orientações de Popia, Cidade Júnior e
Almeida (2000).

46
Sistema orgânico de produção de tomate

Adubações orgânicas devem ser realizadas de forma adequada para não


provocar excessos de nutrientes no solo, especialmente quanto ao aporte de
fósforo e cálcio em áreas de cultivo intensivo de hortaliças, quando se usam
associados estercos e fosfatos naturais.
Dados obtidos pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica
e Extensão Rural (Incaper) (SOUZA, 2000), nos três primeiros anos de manejo
orgânico em cultivo de hortaliças, informaram sobre elevações muito rápidas
de fósforo e cálcio em solos trabalhados com compostagem à base de esterco
de galinha, enriquecida com 6 kg/m3 de fosfato de araxá no momento da
confecção da pilha.
De posse dessas informações, pode-se afirmar que o uso do calcário e
fosfato natural, em manejo orgânico intensivo do solo, devem ser realizados
(dependendo da análise do solo) apenas no início da implantação do sistema
orgânico e/ou durante a fase de conversão do sistema convencional para
o orgânico, uma vez que o próprio ciclo de matéria orgânica, nos anos
subsequentes, será suficiente para fornecer todos os nutrientes e manter o
pH do solo numa faixa ideal para o melhor desenvolvimento das plantas.

Figura 2 - Pátio de compostagem orgânica – Centro de Desenvolvimento Sustentável


Guaçu-virá. Venda Nova do Imigrante – ES.

47
Capítulo 2

2.2 MANEJO DO SISTEMA ORGÂNICO

Como se pode observar nas considerações anteriores, o manejo


recomendado para sistemas orgânicos compreende técnicas que conduzam à
estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento
ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura
no tempo. Assim, podem-se resumir tais procedimentos em algumas práticas
listadas a seguir:
• preparo mecânico do solo com mínimo impacto na estrutura,
lembrando que existe uma resposta diferenciada das espécies cultivadas ao
emprego da aração, gradagem e da enxada rotativa;
• aplicação de adubos orgânicos, na forma de estercos de animais,
compostos orgânicos ou outra fonte recomendada pelas normas técnicas de
produção orgânica;
• uso da adubação verde com leguminosas (fixação biológica de
nitrogênio) e com gramíneas (melhoria na estrutura física);
• emprego de cobertura morta em situações de necessidade de
proteção do solo ou favorecimento do desenvolvimento de plantas, aqui
também observando que nem todas as espécies respondem positivamente
ou oferecem um retorno econômico que viabilize o uso dessa prática;
• manejo de ervas espontâneas, como forma de proteção do solo
e reciclagem de nutrientes, além de induzir a preservação do equilíbrio
biológico na área de produção;
• utilização de adubações suplementares com biofertilizantes líquidos
via solo ou via foliar, em caso de necessidade;
• adubações auxiliares com adubos minerais de baixa solubilidade, a
exemplo de fosfatos de rochas, para a correção temporária de deficiências.
Essas práticas, em conjunto, têm demonstrado uma elevada eficiência,
conduzindo a um apropriado desempenho técnico e econômico de cultivos
orgânicos, reflexo da manutenção e melhoria da fertilidade dos solos,
conforme destacado em um trabalho realizado por Souza (2000). Nesse
estudo, o monitoramento das características químicas revelou uma melhoria
generalizada na fertilidade dos solos sob manejo orgânico. Após dez anos de
manejo orgânico (1990 a 1999), os níveis médios de fósforo elevaram-se até
390% (de 46,0 para 225,6 mg/dm3), e os níveis médios de potássio elevaram-
se em até 92% (de 144,0 para 276 mg/dm3), podendo ser considerados

48
Sistema orgânico de produção de tomate

plenamente suficientes para atender às necessidades nutricionais da maioria


das culturas. Observou-se, além disso, acréscimos significativos nos teores
de cálcio e magnésio, uma vez que o Ca evoluiu linearmente de 3,2 para 6,6
Cmol/dm3 e o Mg de 0,78 para 1,48 Cmol/dm3. Como reflexo das elevações
nos teores das bases K, Ca e Mg, a Saturação por Bases dos solos apresentou
progressão linear até o 7º ano, elevando-se de 61% para 82%.

3. MANEJO ORGÂNICO DO TOMATEIRO DE MESA

O manejo orgânico da cultura do tomate será apresentado por área


de conhecimento, detalhando-se as características gerais da cultura e as
técnicas de manejo orgânico recomendadas. Demais informações poderão
ser obtidas em Souza (1998), CULTIVO...(1999), CULTIVO...(2001) e Souza e
Resende (2006).

3.1 CULTIVARES, CLIMA E ÉPOCA DE PLANTIO

Por ser o tomate uma espécie suscetível a um grande número de pragas


e doenças, o seu cultivo orgânico pode exigir cuidados extras, em comparação
com outras culturas mais resistentes. O primeiro cuidado se refere à escolha
de variedades e cultivares adaptadas às condições locais e ao sistema de
plantio que será adotado – a campo ou em “estufa”. Portanto, a cultivar certa é
um dos pontos básicos no sistema de cultivo orgânico. Devem ser escolhidas
as cultivares mais rústicas e com maior resistência a pragas e doenças. Além
disso, é muito importante que se observe a preferência dos consumidores.
Atualmente, pode se utilizar cultivares de tomate do tipo Santa Cruz,
tipo Saladinha e tipo Cereja, que são as mais fáceis de comercializar. O mercado
atual tem apresentado também boa aceitação de tomates tipo Italiano, que
caracterizam-se pelos frutos alongados, de superfície irregular.
No grupo Santa Cruz, podem ser empregadas cultivares comerciais ou
optar por materiais botânicos regionais, como as cultivares Roquesso (ES),
Bocaina (SP), Coração de Boi (MG) e Saco de Bode (RR), que apresentam maior
adaptabilidade ao sistema e maior tolerância a doenças (Figura 3).
No grupo Saladinha existem diversos materiais genéticos comerciais,
do tipo longa vida, que podem ser alternativa pela elevada conservação
na pós-colheita. Por serem híbridos, a desvantagem desses genótipos é a

49
Capítulo 2

impossibilidade de utilização por sucessivas gerações de suas sementes,


tornando obrigatória a compra e encarecendo o custo de produção.

Figura 3 - Frutos da variedade Roquesso, multiplicada no sistema orgânico do


Incaper/ES há 18 anos (à esquerda); e plantas e frutos de tomate, variedade
Saco de Bode multiplicada por agricultores orgânicos de Boa Vista/RR (à
direita).

No tipo Cereja, existem muitas variedades regionais, de formato


arredondado ou alongado. Geralmente são de boa tolerância a doenças
foliares e, principalmente, boa tolerância ao ataque de pragas e incidência
de patógenos nos frutos. Também existem híbridos comerciais, com maior
potencial produtivo, porém mais sensíveis a enfermidades.
Uma recomendação extremamente importante é verificar a aceitação do
consumidor de tomates orgânicos quanto ao sabor e aos padrões comerciais
exigidos.
O clima fresco e seco e a alta luminosidade favorecem o desenvolvimento
da cultura do tomate. A faixa de temperatura ideal para o cultivo é de 20o a
25°C, de dia, e de 11o a 18°C, à noite. A temperatura noturna deve ser sempre
menor que a diurna, pelo menos seis graus. Temperaturas acima de 35°C
diurnas e noturnas prejudicam a frutificação, com queda acentuada de flores
e frutos novos. Temperaturas muito baixas também prejudicam a planta,
reduzindo seu crescimento.
O excesso de chuva é outro fator do clima que tem efeito negativo na
cultura, pois favorece a proliferação de fungos e bactérias, que reduzem a
parte aérea e, por consequência, diminuem a produção.
De modo geral, em regiões com altitudes superiores a 800 metros,

50
Sistema orgânico de produção de tomate

o plantio deve ser realizado de agosto a fevereiro. Já em localidades de


altitudes baixas e quentes, ou seja, em altitudes inferiores a 400 metros, a
época favorável ao cultivo do tomate é de fevereiro a julho.
O uso de estufas possibilita o cultivo do tomate fora de época,
viabilizando o plantio durante todo o ano em regiões altas. O plástico usado
na cobertura permite modificar o ambiente, de forma a torná-lo mais favorável
para as plantas, protegendo contra as chuvas excessivas e o grande número
de organismos que causam problemas fitossanitários. Por causa dessas
vantagens, as estufas têm sido cada vez mais usadas. Mas o manejo orgânico
da cultura dentro da estufa requer experiência do produtor no cultivo fora da
estufa.

3.2 FORMAÇÃO DAS MUDAS

A qualidade das mudas afeta profundamente o desenvolvimento da


cultura no campo. Por isso, a etapa de formação das mudas é muito importante
no processo de produção.
Para o tomate, a semeadura em recipientes é o melhor método,
trazendo vantagens como a produção de mudas de boa qualidade, a redução
do risco de contaminação por patógenos do solo, o menor gasto de sementes
e a redução do ciclo da cultura.
O recipiente mais indicado para mudas de tomate é o copinho de jornal,
com 10 cm de comprimento por 6 cm de diâmetro. Esse copinho pode ser
substituído pelo copo plástico descartável de 200 cm3.
Como substrato, pode-se empregar o composto orgânico puro,
associado a um recipiente maior, como os copos, para que as mudas tenham
os nutrientes na quantidade que necessitam, uma vez que este material não
contém minerais adicionais, como alguns substratos comerciais. Outra opção
é a utilização de substratos prontos, próprios para cultivo orgânico. Utilizando
substratos prontos, é possível a formação das mudas em bandejas de isopor,
devendo, neste caso, serem transplantadas mais cedo que pelo sistema de
copos.
Para usar o composto orgânico, primeiro é preciso peneirá-lo para
separar as partículas maiores ainda não decompostas, usando-se assim a
fração mais mineralizada, de pronto uso para as plântulas. Depois, misturar
um pouco de água, para que fique ligeiramente úmido. Usando-se os copos

51
Capítulo 2

plásticos, é importante lembrar de fazer um furo no fundo, usando um ferro


quente, de diâmetro mínimo de 2 cm. Em seguida colocar o composto nos
copos, compactando levemente.
As mudas devem ser produzidas em uma estufa, com cobertura
plástica e tela nas laterais, para evitar a entrada de insetos. A estufa, conforme
já mencionado, protege contra as chuvas, diminui a ocorrência de pragas e
doenças e forma mudas mais uniformes e em menos tempo.
Os recipientes devem ser colocados sobre bancadas, com cerca de 80
cm de altura. Dessa forma, as mudas não têm contato com o solo, a umidade à
sua volta é menor, e o trabalho fica mais confortável, além de permitir a poda
“aérea” das raízes.
São semeadas duas sementes de tomate por copo. A sanidade das
sementes é muito importante, por isso é primordial adquiri-las de firmas
idôneas ou produzir as próprias sementes, fazendo seleção das melhores
plantas de sua lavoura.
Depois de germinadas, procede-se ao desbaste, retirando a planta mais
fraca, deixando apenas uma por recipiente (Figura 4).

Figura 4 - Mudas de tomate em ambiente protegido, formada em copos com substrato


à base de composto orgânico. Área Experimental do Incaper.

O substrato deve ser mantido úmido, porém sem encharcar. O sistema


de irrigação mais indicado é a microaspersão ou nebulização aérea. Também
pode ser usada a irrigação com mangueira, de forma criteriosa, empregando-
se um crivo fino. Recomenda-se irrigar mais vezes ao dia, com menor
quantidade de água de cada vez. Dependendo da temperatura e da umidade

52
Sistema orgânico de produção de tomate

do ar, é recomendável irrigar de uma até três vezes ao dia.


As mudas estarão no ponto para serem transplantadas quando tiverem
de quatro a cinco folhas definitivas, cerca de 30 dias após a semeadura, para
o sistema de copos, ou de 20 a 25 dias no sistema de bandejas. Nos dias
anteriores ao plantio, é preciso reduzir a irrigação. E na véspera do plantio, é
preciso suspender a água, para tornar as mudas mais resistentes.

3.3 PREPARO DO SOLO E ADUBAÇÃO

O primeiro passo para se iniciar a produção em um sistema orgânico de


produção é a realização da análise do solo dois a três meses de antecedência
ao plantio. Se houver necessidade de aplicar calcário no solo, é preciso que
seja feito com cerca de dois a três meses de antecedência, para que possa
reagir. Em geral, para a suplementação de fósforo, recomenda-se aplicar
fosfato natural, misturado ao adubo orgânico aplicado na cova, por ocasião do
plantio, equivalente a 500 a 800 kg/ha. Optar por fontes de fosfatos reativos já
disponíveis no mercado. Pode-se também utilizar o fosfato de rocha nas pilhas
de composto orgânico, na base de 3 kg por m3, no momento da montagem.
Assim, tem-se o fosfato pré-solubilizado e o composto orgânico enriquecido,
apto a ser empregado na adubação das covas.
Havendo impossibilidade de análise do solo e do adubo orgânico
préviamente, para a adubação orgânica de plantio, pode-se empregar
composto orgânico ou esterco bovino (20 t por ha), esterco de aviário (10
t por ha) ou outro material orgânico disponível, atentando-se para a sua
composição mineral, origem e estado de decomposição.
O sistema de preparo de solo é dependente das condições locais. No
cultivo orgânico, sempre que possível, evita-se o uso de equipamentos pesados
e de enxadas rotativas no preparo do solo, para reduzir a compactação.
Havendo necessidade, pode-se utilizar a aração ou o preparo com
subsolador, quando se têm excesso de ervas espontâneas ou terrenos
compactados, respectivamente. Em seguida realiza-se a gradagem para
uniformizar o solo.
Se as condições do solo permitirem, recomenda-se optar pelo seu
preparo manual, procedendo-se à capina em linha, onde serão abertas as
covas, mantendo-se uma faixa de vegetação nativa nas entrelinhas, na fase
inicial da cultura, até o momento da amontoa.

53
Capítulo 2

Também é recomendável realizar o plantio direto sobre palhadas de


vegetação ou de adubos verdes previamente roçados e mantidos como
cobertura morta do terreno.

3.4 PLANTIO E ESPAÇAMENTO

O plantio das mudas do tomateiro pode ser feito em sulcos ou covas,


com 20 cm de profundidade, para comportar adequadamente a matéria
orgânica.
O espaçamento recomendado é de 1,20 m entre linhas e 40 cm entre
plantas. A direção ideal das linhas é no sentido norte-sul e ainda no sentido
do vento dominante. Esse espaçamento mais largo entre as linhas, associado
ao direcionamento recomendado, permite diminuir a umidade dentro da
lavoura, reduzindo significativamente a multiplicação excessiva de uma série
de doenças.
No momento do plantio, é preciso fazer uma seleção das mudas,
descartando aquelas mais fracas. Os sulcos ou covas devem ser irrigados com
auxílio de mangueira, imediatamente antes de se transplantar as mudas, de
forma que a primeira irrigação do campo será feita apenas no dia seguinte,
quando as mudas estarão eretas, com suas folhas distantes do solo.
Em estufas, o tomate é, usualmente, plantado em leiras (Figura 5), em
função da necessidade do emprego da cobertura plástica para manutenção
da umidade, a qual não permite a realização de amontoa normalmente
empregada na cultura, por ocasião da primeira capina.

Figura 5 - Leiras com adubação orgânica em sulco, para plantio de tomate em estufa
(à esquerda); leiras prontas para plantio de tomate orgânico, mostrando a
colocação das linhas de gotejamento e da cobertura plástica (à direita).

54
Sistema orgânico de produção de tomate

3.5 MANEJO DA CULTURA

a) Irrigação
Neste sistema, tem-se verificado, nas propriedades que praticam a
agricultura orgânica, que o manejo da água de irrigação é de vital importância
para o sucesso da produção. Excesso de água neste sistema pode proporcionar
multiplicação excessiva de patógenos, que prejudicarão o adequado
desenvolvimento das plantas.
No dia seguinte ao plantio, é preciso iniciar a irrigação. Daí em diante,
o solo deve ser mantido com um nível adequado de água, úmido, mas sem
encharcar.
O sistema de aspersão é contraindicado porque molha as folhas e
umedece o ambiente em torno das plantas, o que favorece o aparecimento
de doenças, como a requeima. Assim, as melhores opções são o gotejamento
e a microaspersão, que molham apenas o solo em torno da planta (Figura 5).
Dessa forma, o tipo de irrigação é um bom aliado na prevenção de problemas
fitossanitários. A frequência de irrigações é variável conforme o tipo de solo
e o clima.

b) Cobertura morta
A cobertura com palha retém água no solo, diminui o crescimento de
ervas espontâneas, diminui o impacto da chuva e evita que o solo se aqueça
excessivamente, além de fornecer nutrientes, após a decomposição do
material. Recomenda-se optar por materiais de pequena granulometria ou
triturados, para não elevar a umidade das plantas novas, o que favorece a
incidência de doenças precocemente.
Pode-se empregar também a lona plástica preta, possibilitando as
vantagens em comum com a palha e, ainda, permite reduzir as perdas
de nitrogênio por lixiviação e volatilização, tornando esse nutriente mais
disponível para as culturas, além de não elevar a umidade relativa do ar, na
superfície do solo.

c) Capinas
No sistema orgânico, recomenda-se a capina em faixas, mantendo limpa
a área junto às plantas, para não haver competição das ervas espontâneas com
a cultura. No meio das linhas, deve ser deixada uma estreita faixa de mato,

55
Capítulo 2

com cerca de 40 cm de largura. Essa vegetação espontânea é importante para


manter o equilíbrio ecológico de insetos.
Com o uso da cobertura morta nas linhas de plantio, o trabalho de
capina é facilitado, pois há redução no crescimento das ervas espontâneas.
Caso não se utilize cobertura morta, por ocasião da primeira capina do
tomate, é feita a amontoa das plantas, que consiste em chegar terra junto ao
“colo” das mesmas. Após esta fase, também pode ser empregada a cobertura
morta com palhas.

d) Amontoa
É uma operação muito importante em plantios de tomate realizados em
covas. Constitui-se do “chegamento” de terra nas linhas de plantio, deslocando-
se a terra da entrelinha para próximo às plantas. Deve ser realizada logo após
a adubação em cobertura.
A altura da amontoa deve ser de, no mínimo, 20 cm de altura, permitindo
preservar a qualidade do adubo orgânico usado na cobertura, concentrar
nutrientes na zona de raiz, propiciar a emissão de raízes adventícias e, ainda,
melhorar a sustentação do tomateiro. Esses fatores, em conjunto, permitem
uma maior absorção de nutrientes e elevam a produtividade de frutos.

e) Tutoramento e amarrio
O tutoramento do tomateiro que produz frutos para consumo in natura
é necessário porque suas hastes são herbáceas e flexíveis. Ele pode ser feito
com taquara ou bambu, com arame e com fitas (Figura 6). O objetivo é manter
a planta ereta e afastada do solo. O fundamental é que este tutoramento seja
vertical, evitando-se a cerca cruzada, pois assim tem-se um melhor arejamento
dentro do plantio, diminuindo a umidade relativa e, consequentemente,
reduzindo problemas com doenças.
O amarrio acompanha o tutoramento. A planta deve começar a ser
amarrada no tutor quando tiver 30 cm de altura, em média. À medida que
a planta cresce é preciso fazer novos amarrios. Para isso, podem ser usadas
fibras naturais ou sintéticas existentes no mercado. Com as fibras, é melhor
fazer um amarrio na forma de “oito”, para evitar atrito das hastes com o tutor.

56
Sistema orgânico de produção de tomate

Figura 6 - Tutoramentos verticais com taquara (à esquerda) e com fetilhos (à direita),


em plantios de tomate orgânico. Área Experimental do Incaper.

f) Adubação em cobertura
A adubação de cobertura visa, principalmente, ao fornecimento de
nitrogênio, que não se mantém no sistema por muito tempo, tornando
necessária uma reposição ou ciclagem constante.
A adubação de cobertura pode ser feita com composto orgânico, esterco
de aves, biofertilizante líquido, biofertilizante Supermagro ou chorume de
composto.
A recomendação de composto orgânico é de 10 t/ha (50% umidade), o
que dá 480 g/planta. O esterco de galinha pode ser usado na base de 3 t/ha
(30% de umidade), ou seja, 144 g/planta. Esses adubos orgânicos devem ser
colocados em torno da planta e, depois, cobertos com terra, o que pode ser
feito no momento da capina.
Uma alternativa, que tem se revelado muito eficiente, é a utilização de
biofertilizantes líquidos via solo, preparados especificamente para a cultura,
utilizando-se materiais orgânicos ricos em nitrogênio e potássio, como farelos
de soja e cacau, torta de mamona ou planta de mamona triturada, cinza
vegetal, dentre outros. Neste caso, fazer aplicações semanais a partir dos 30
dias após o plantio, até a fase de frutificação, na base de 200 ml por planta.
Veja, a seguir, o resumo do preparo desse biofertilizante.
Preparo de 1.000 litros de biofertilizante líquido enriquecido:
• Composto orgânico ou esterco bovino curtido ............................ 100 kg
• Mamona triturada (folhas, talos, bagas e astes tenras)*.............. 100 kg
• Cinza vegetal .............................................................................................. 20 kg
• Água .............................................................................................................. 700 L
*A mamona triturada pode ser substituída por outro resíduo vegetal na mesma quantidade ou resíduos
agroindustriais (torta de mamona, farelo de cacau etc. em quantidade menor: 50 kg).

57
Capítulo 2

Em um recipiente com capacidade volumétrica de 1.000 L, acrescenta-


se o ingrediente da base orgânica (composto ou esterco bovino) e 500 L
de água, fazendo uma pré-mistura. Após homogeneizada esta solução,
acrescentar a mamona (ou resíduo similar) e a cinza vegetal, agitando até nova
homogeneização. Completar com água até o volume total do recipiente. Para
evitar mau cheiro, advindo da fermentação anaeróbica, esta solução deve
ser agitada durante um tempo mínimo de 5 minutos, no mínimo 3 vezes ao
dia. Após 10 dias de fermentação, pode-se iniciar a retirada da parte líquida
(procedendo à um peneiramento fino e/ou coando), sempre após uma pré-
agitação, para aplicação nas culturas de interesse.
Em função da grande quantidade de partículas em suspensão e da
massa resultante no fundo do recipiente, após o uso deste primeiro preparado,
pode-se acrescentar novamente 500 L de água aos mesmos ingredientes,
agitar vigorosamente, e reutilizar este novo preparado com bons resultados.
Entretanto, não se recomenda reutilizar mais de uma vez a mistura, pois a
concentração dos nutrientes já estará reduzida.
Recomendações de uso:
1o. Diferentemente dos biofertilizantes bovino e Supermagro, a
aplicação do biofertilizante líquido enriquecido deve ser realizada via solo, na
região da raiz, lateralmente às plantas, como uma adubação em cobertura.
2o. Esta preparação rende aproximadamente 500 L de solução líquida
para pronto uso. A malha de filtragem dependerá do sistema de aplicação
que será adotado.
3o. A aplicação pode ser realizada manualmente (com regador), por
bombeamento ou em redes de fertirrigação. Neste último caso, a filtragem
deve ser bem feita para evitar entupimentos dos equipamentos.

g) Desbrota e capação
A desbrota ou poda de brotações consiste em eliminar todos os brotos
que saem das axilas das plantas, deixando apenas uma haste em cada planta,
para um melhor aproveitamento do adubo orgânico. Os brotos laterais
diminuem o vigor vegetativo da planta e consomem nutrientes que poderiam
ser conduzidos para a formação dos frutos.
A obtenção de frutos de melhor qualidade e maiores e a maior sanidade
do cultivo são alguns benefícios conseguidos com a poda.
Os brotos devem ser cortados quando ainda estão bem pequenos, para

58
Sistema orgânico de produção de tomate

que não haja muita perda de nutrientes pela planta.


A capação consiste na poda da haste principal após a emissão de um
certo número de cachos. Esta prática limita o número de frutos que se quer
colher e diminui o ciclo da planta. Assim, a quantidade de frutos produzidos é
menor, mas eles serão maiores e de melhor qualidade.
A capação permite, também, reduzir os problemas fitossanitários,
pela redução do ciclo vegetativo e pela não emissão de folhas novas, uma
vez que as folhas já estabelecidas estarão protegidas por caldas e extratos
protetores.
Em sistemas orgânicos, recomenda-se proceder à capação da haste
principal após a emissão do 3º ao 6º cacho, dependendo do vigor e do estado
fitossanitário da cultura. É recomendável deixar, no mínimo, um par de folhas
acima do último cacho mantido na planta. Em outras palavras, em plantas
manejadas com 4 cachos, a poda deve ser realizada imediatamente abaixo do
5º cacho. Pode-se também optar em manter todas as folhas acima do último
cacho, eliminando-se todos os novos cachos que forem sendo emitidos, como
forma de aumentar a taxa fotossintética e a translocação de fotoassimilados
para os frutos.

3.6 PRAGAS E DOENÇAS

As técnicas normalmente utilizadas na agricultura orgânica, objetivando


o equilíbrio ecológico do sistema, são capazes de prevenir o aparecimento e
a proliferação de grande parte de doenças e pragas. Dentre estas, podemos
citar: a escolha de variedades resistentes; o manejo correto do solo; a
adubação orgânica, com fornecimento equilibrado de nutrientes para as
plantas; o manejo correto das ervas espontâneas; a irrigação bem feita; e o
uso de rotação e consorciação de culturas.
Muitas vezes, os insetos, ácaros, vírus e bactérias estão presentes
na lavoura, mas não chegam a comprometer a produção. Por isso, não há
necessidade de usar técnicas para seu controle. Mas alguns organismos são
persistentes e podem causar danos econômicos se não forem controlados,
em especial a traça ou broca-do-ponteiro (Tuta absoluta) e a requeima ou
mela (Phytophthora infestans), em regiões de altitude, e as brocas de frutos e
a pinta-preta (Alternaria solani), em regiões baixas.

59
Capítulo 2

A requeima tem sido um dos principais problemas fitossanitários do


tomate cultivado organicamente. Para seu controle é indicado a aplicação de
calda bordalesa a 1% (SOUZA; VENTURA, 1997), semanalmente, a partir dos
20 a 30 dias do plantio. Ao aplicar a calda, deve ser feita a cobertura total das
folhas, aplicando-se na face superior e na inferior, mas evitando o excesso.
Aplica-se de forma que a calda não escorra e que as folhas não fiquem
azuladas. Com a aplicação excessiva, além de se desperdiçar a calda, a planta
estará sendo intoxicada.
Outras caldas e os biofertilizantes também são eficientes para o controle
de pragas e doenças no tomate, como a calda sulfocálcica, que pode ser usada
para o controle de ácaro e tripes.
Uma alternativa interessante para o controle do tripes, que transmite
viroses para o tomate, especialmente o virus do vira-cabeça, é a utilização de
extrato de primavera (Bouganvilles) duas vezes por semana a partir de 30 dias
do plantio até o início da frutificação. O preparo do extrato é feito triturando-
se, em liquidificador, 1 L de folhas maduras em 1 L de água. Este extrato é
diluído em 20 L (a 5%) e deve ser aplicado logo após o preparo.
O biofertilizante líquido e o Supermagro, pulverizados nas folhas,
fornecem nutrientes e melhoram o equilíbrio nutricional das plantas,
aumentando a resistência aos insetos e ajudando no controle de doenças
(VAIRO DOS SANTOS,1992; APTA, 1997).
Para a redução do problema com pragas, principalmente a broca-
do-ponteiro e as brocas pequena e grande do fruto, recomenda-se o uso
da armadilha luminosa, instalada a uma distância mínima de 50 m da área
de cultivo de tomate. A armadilha é usada somente para atrair os adultos
desses insetos (mariposas), sem proceder à captura, pois muitos inimigos
naturais poderiam ser eliminados junto com as pragas. A aplicação de extrato
pirolenhoso tem sido um auxiliar importante na redução de ataque de pragas
nesta cultura.
Existem atualmente muitas alternativas de controle biológico
adequadas à cultura do tomateiro. Dentre elas, a utilização de Bacillus
thuringiensis, semanalmente e de forma preventiva, para o controle da
broca-do-ponteiro e das brocas do fruto. O uso do fungo entomopatogênico
Beauveria bassiana tem sido utilizado com eficiência no controle de ácaros,
pulgões e mosca-branca, procedendo-se a aplicações semanais nos períodos
críticos de incidência, preferencialmente em pulverizações direcionadas ao

60
Sistema orgânico de produção de tomate

local de infestação da praga. Em regiões onde se tenha disponível para a


compra cartelas de Trichograma, pode-se adotar como alternativa eficaz no
controle da broca-do-ponteiro do tomate.
O emprego de armadilha de cor pode ser utilizada para redução
da população de insetos. A cor amarela atrai insetos como Diabrotica
(“brasileirinho”), mosca-branca, entre outros. As de cor azul são adequadas
para a atração de Tripes. Existem firmas que já comercializam fitas adesivas
apropriadas para esta finalidade. Uma forma artesanal de promover a “atração”
e captura consiste em confeccionar uma chapa de 20 x 30 cm, pintada da cor
desejada e coberta com goma colante ou com graxa bem grossa, que irão
reter os insetos que pousarem nela. Devem ser dispostas a 45% de inclinação,
distanciadas aproximadamente 20 m uma da outra dentro da lavoura.
Estes e demais métodos alternativos de controle de pragas e doenças
podem ser verificados em Abreu Júnior (1998) e Burg e Mayer (1999).
Outras medidas fitossanitárias importantes para o manejo fitossanitário
do tomate são a utilização de sementes sadias e a erradicação de plantas
atacadas por vírus. As plantas doentes devem ser arrancadas, retiradas da
área e queimadas.

3.7 COLHEITA E RENDIMENTO

Os frutos do tomateiro são colhidos assim que iniciam o processo


de amadurecimento, quando estão amarelados ou rosados. Para mercados
mais próximos, os frutos podem ser colhidos num estágio de maturação
mais adiantado, mas quando ainda estiverem bem firmes. O tempo gasto do
transplantio até o início da colheita varia de 70 a 90 dias, dependendo da
variedade, da região e da época de plantio.
Para a limpeza dos frutos de tomate que apresentem resíduos externos
de calda bordalesa, proceder à imersão dos frutos, por 5 minutos, em solução
de ácido acético (vinagre), na concentração de 2%. Deixar secar e proceder à
embalagem.
Em plantios a campo, o rendimento da cultura em sistemas orgânicos
em propriedades de agricultores tem variado de 30 a 40 t/ha, o que foi
similarmente confirmado por estudo realizado pelo Incaper (SOUZA, 2002),
em que se obteve uma produtividade média de 34.545 kg/ha de frutos
comerciais, também em condições de campo, ao longo de oito anos (Tabela 2).

61
Capítulo 2

Tabela 2 - Desenvolvimento agronômico do Tomateiro em sistema de cultivo


orgânico1

1
Souza (2002).
* Avaliação por notas de 0 = ausência de sintomas e 10 = 100% das folhas com lesões.

Em plantios orgânicos realizados em ambiente protegido, o


desenvolvimento vegetativo, a sanidade e a produtividade da cultura
podem ser elevados significativamente. A produtividade comercial de frutos
obtida nessas condições tem variado de 50 a 60 t/ha, em propriedades de
agricultores orgânicos. Considerando-se as características dessa espécie,
esses níveis de rendimentos podem ser considerados satisfatórios, dentro
dos princípios da produção orgânica de alimentos (Figuras 7, 8, 9, 10, 11 e
12). Considerando ainda o sobrepreço obtido por este produto no mercado
orgânico, a rentabilidade da cultura tem sido extremamente favorável.

Figura 7 - Produção orgânica de tomate Figura 8 - Produção orgânica de tomate


em estufa, na área experimental em estufa, em propriedade
do Incaper - Domingos Martins/ orgânica do agricultor Martim
ES. Uhlig - Santa Ma de Jetibá/ES.

62
Sistema orgânico de produção de tomate

Figura 9 - Produção de tomate orgânico, Figura 10 - Tomates orgânicos sendo em-


oriundos de cultivo em campo balados – forma padrão de
aberto. venda do produto no
respectivo mercado.

Figura 11 - Frutos de tomate, tipo Figura 12 - Frutos de tomate, tipo


Santa Cruz, embalados cereja, embalados para o
para o mercado. mercado.

3.8 CUSTO DE PRODUÇÃO

Para a composição de custos do cultivo orgânico do tomateiro, adotou-


se o rendimento médio do cultivo a campo (34.545 kg/ha). A rentabilidade
em cultivo protegido pode ser mais expressiva, pois os rendimentos médios
obtidos na produção orgânica de tomate têm variado entre 50 e 60 t/ha. O

63
Capítulo 2

preço de venda considerado nesta avaliação foi de R$ 2,00 por kg, que tem sido
o valor médio alcançado pelos agricultores com as empresas que procedem à
revenda do produto ao consumidor final. Por este motivo não se considerou
gastos com frete, que ficaria por conta dessas empresas.
Vale lembrar que a venda direta pelo agricultor poderia ser a melhor
opção econômica, elevando a lucratividade, uma vez que o produto pode
atingir uma média de R$ 4,00 por quilo no processo de venda direta.
Nas condições pré-estabelecidas, o total de despesas para produção de
1 ha de tomate em sistema orgânico foi de R$ 23.189,75, encerrando um custo
unitário de R$ 0,67 por quilo (Tabela 3). Estes custos estão muito abaixo de
sistemas convencionais, que pelo elevado aporte de insumos aumentam a pro-
dutividade, mas a custos médios de 1 ha ultrapassam R$ 30.000,00 atualmente.

Tabela 3 - Indicadores físicos e financeiros da cultura do tomate (1 ha) em sistema


orgânico de produção, no espaçamento de 1,2 m por 0,40 m = 20.800
plantas/ha1

1
Adaptado de Souza e Resende (2003).

A receita bruta esperada foi de R$ 69.090,00, o que conduz a uma


rentabilidade extremamente favorável de aproximadamente 3,0 reais para
cada 1,0 real investido. Fazendo um raciocínio rápido, sem considerar o custo de
implantação de uma “estufa” para cultivo protegido, obtendo-se produtividade
média de 60 t/ha, a rentabilidade poderia chegar a 5,2 para 1,0 (Tabela 4).

64
Sistema orgânico de produção de tomate

Tabela 4 - Coeficientes técnicos para produção de 1 ha de tomate em sistema


orgânico de produção, no espaçamento de 1,2 m por 0,40 m =
20.800 plantas/ha1

1
Adaptado de Souza e Resende (2006).
2
Não há custos com frete, pois convencionou-se o sistema de produção com entrega do produto na
propriedade, diretamente à firma que comercializa produtos orgânicos.

4. REFERÊNCIAS

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doenças na agricultura. EMOPI. Campinas,SP. 1998. 112p.

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65
Capítulo 2

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66
Sistema orgânico de produção de tomate

Horticultura brasileira. Suplemento (Resumo 374).

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Epagri, 2000 (Apostila - mimeografado).

67
Capítulo 2

68
Capítulo 3
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DO
CULTIVO DO TOMATEIRO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
Rosana Maria Altoé Borel
Maria Elizabete Oliveira Abaurre
Carlos Alberto Simões do Carmo

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a atividade agrícola requer maior eficiência por estar


inserida num ambiente demasiado competitivo. Há necessidade de se buscar
a melhoria do planejamento e do gerenciamento, além de aperfeiçoar as
técnicas de produção para garantir a sustentabilidade.
Nos últimos tempos, a agricultura vem demandando um acelerado
processo de estruturação e modernização, mas, mesmo assim, apresenta-se
com grande heterogeneidade entre as unidades produtivas em relação aos
Capítulo 3

fatores tecnológicos, socioeconômicos e ambientais. Existem agricultores que


adotam, em uma mesma região, tecnologias e estratégias para transformação
e evolução da sua atividade, enquanto outros não possuem nenhuma forma
de organização para obter um mínimo de avanço técnico-econômico.
A produção de tomate não foge a este quadro. É uma cultura que
demanda tecnologia em constante evolução e conhecimentos específicos
para o seu cultivo. Por esta razão, o agricultor menos capacitado e informado
encontra dificuldades para produzir satisfatoriamente.
A partir da década de 90, a tomaticultura nacional vivenciou diversas
mudanças, como a introdução de novas variedades, o desenvolvimento
de novas tecnologias de produção, a alteração no perfil do produtor e o
surgimento de uma nova estrutura de comercialização. Estas mudanças
permitiram incremento da produção, diminuição das perdas pós-colheita
e comercialização do produto a mercados mais distantes (SILVA; MARTINI,
2006).
No Brasil, a produção de tomate destina-se tanto para o consumo in
natura, quanto para a indústria, sendo uma hortaliça produzida e consumida
o ano inteiro. A produção de tomates no país é maior nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste e em algumas regiões do Nordeste e Sul, sendo normalmente
cultivados os rasteiros, para uso industrial e os estaqueados, para consumo de
mesa ou in natura.
No Espírito Santo, apenas o tomate de mesa é cultivado, e as
principais regiões produtoras caracterizam-se pela dominância de pequenas
propriedades com mão de obra de base familiar e localizadas próximas
ao mercado consumidor da Grande Vitória, dividindo com a cafeicultura
a primazia da importância agrícola dos principais municípios produtores
(CARMO; FORNAZIER, 2003).
O capítulo a seguir apresenta um panorama da tomaticultura no Estado
levantando dados de produção, área e rendimentos obtidos nos últimos
anos, e também aborda algumas características do sistema de produção,
como a mão de obra e outros insumos utilizados, o arrendamento da terra e a
comercialização do produto.

70
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

2. MERCADO NACIONAL

O Brasil situa-se entre os maiores produtores mundiais de tomate, ao


lado da China, dos Estados Unidos da Turquia e da Itália. Mas, apesar de ser
um grande produtor, o consumo de 18 kg/ano é pequeno se comparado a
muitos países da Europa, por exemplo, onde o consumo per capita excede 70
kg por ano (AGRIANUAL, 2008).
Segundo o IBGE, os estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais são os
maiores produtores de tomate do país, sendo cultivados 52% da área total,
obtendo-se aproximadamente 62% da produção nacional, no período de
2006 a 2008 (Tabela 1).
Em 2008, o Estado de Goiás foi o maior produtor, com 21% da área
cultivada e com produtividade de 89,4 t/ha, 40,8% acima da média nacional
(63,5 t/ha), seguido de São Paulo, com 18,4% da produção nacional e
rendimento de 68,6 t/ha, e Minas Gerais, com 12,1% da produção nacional e
rendimento de 62,8 t/ha. O Espírito Santo ficou em 8º lugar em produção e 5º
em produtividade (68,2 t/ha), dentre os principais estados produtores do país.
Nesse ano, a região Sudeste abrangeu aproximadamente 40% da produção
nacional, sendo que o Espírito Santo respondeu por 3,1% dessa produção e
ocupou o 4º lugar da produção regional, com 7,7% (Tabela 1).
Até o final da década de 80, a cultivar IAC - Santa Clara detinha a
hegemonia da produção de tomate in natura no país. Após esse período,
houve o predomínio dos híbridos “longa vida”, devido à maior durabilidade
do fruto pós-colheita (MELO, 2003).
Apesar das vantagens que os híbridos trouxeram aos produtores, como
vigor das plantas, potencial de rendimento, uniformidade de frutificação,
diminuição das perdas pós-colheita e incremento das remessas para
mercados mais distantes, há uma crítica por parte dos consumidores quanto
às características organolépticas dos frutos (MELO, 2003).
A busca por novas cultivares, como os dos grupos Salada e Santa Cruz,
além dos Cerejas, dos Caquis, dos Minipêras e dos Italianos, foi a forma de
diversificação que se buscou visando incrementar o consumo do tomate
in natura no país, principalmente nos anos de 2004 e 2005, uma vez que
os consumidores mais informados passaram a exigir melhor qualidade,
informações sobre as características nutricionais e segurança dos alimentos
(SILVA; MARTINI, 2006).

71
Capítulo 3

Tabela 1 - Quantidade produzida, área plantada e rendimento médio de tomate nos


estados brasileiros. 2006 a 2008

Fonte: Produção Agrícola Municipal, 2009.

O aumento de produtividade alcançado nos últimos anos é fruto,


principalmente, de novas tecnologias, em especial do melhoramento
genético, e das inovações no processo de produção, já que a área colhida não
sofreu grandes variações.
Os agricultores passaram a exercer o papel de corretores, classificadores
e até mesmo atacadistas, negociando seu produto diretamente com o atacado
ou com as grandes redes de supermercados. Alguns deles investiram em alta
tecnologia, automatizando o processo de classificação e diminuindo as perdas
pós-colheita. “Agentes de mercado calculam que as perdas no processo de
comercialização, que chegavam a 40% até a década de 90, caíram para 20%
nos dias de hoje” (SILVA; MARTINI, 2006, p. 8).
Quanto ao setor de comercialização, pesquisa realizada pela Hortifruti
Brasil, em maio de 2006, com os atacadistas de Belo Horizonte, Campinas, Rio

72
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

de Janeiro e São Paulo, detectou que 87% das compras de tomate eram feitas
diretamente com o setor produtivo. Por outro lado, o aumento da produção,
a classificação e a padronização do produto e a redução das margens de
comercialização permitiram a redução da intermediação tradicional no setor.
No entanto, em regiões mais distantes dos grandes centros consumidores,
onde predominam pequenos produtores, o intermediário continua tendo um
papel importante na venda e distribuição da produção. Na realidade, “o uso
da classificação e a venda direta do produto é uma das formas encontradas
pelos agricultores para aumentar o valor recebido” (SILVA; MARTINI, 2006, p.
10).
Outro fator positivo resultante da modernização das lavouras de
tomate in natura foi a redução da volatilidade dos preços a partir de 1994. As
oscilações dos preços ao longo do ano aconteciam em função da sazonalidade
da oferta, considerando-se as safras de verão e de inverno. Historicamente,
os preços mais elevados ocorriam entre março e junho, e os menores níveis,
entre outubro e janeiro. Nos últimos anos, estas diferenças têm sido menores,
com a entrada de novas regiões produtoras, com produções em épocas
diferenciadas, além de novas cultivares e técnicas de manejo, o que permitiu
um calendário de colheita mais distribuído (SILVA; MARTINI, 2006).
Também no setor de distribuição tem havido transformações nas
estratégias de comercialização e nos padrões de classificação e embalagem,
principalmente em relação à caixa “K”, que vem sendo substituída por caixas
de plástico e papelão (MELO, 2003).

3. PANORAMA DA TOMATICULTURA NO ESPÍRITO SANTO

O tomate é a hortaliça de maior expressão social e econômica do


Estado, com uma área cultivada em torno de 1.800 ha/ano, abastecendo tanto
o mercado capixaba quanto o nacional (IBGE, 2008). A maior concentração
da produção está na região central, com altitudes entre 600 e 1.200 m, onde
predominam agricultores de origens alemã e italiana, sendo definida como
zona de “Terras Frias, Acidentadas e Chuvosas” (FEITOZA et al., 1999). Esta
região apresenta solos profundos e pouco férteis e alta densidade de cursos
d’água. Predomina a economia de base familiar, em que cerca de 80% das
propriedades são consideradas pequenas (possuem áreas inferiores a 50 ha)
(IBGE, 1996). A economia agrícola regional é fundamentada na cafeicultura,

73
Capítulo 3

olericultura, fruticultura e silvicultura. O cultivo de tomate corresponde ao


“plantio de verão”, com cerca de 60% da área plantada no Estado, tendo como
principais municípios produtores Venda Nova do Imigrante, Santa Teresa,
Domingos Martins e Santa Maria de Jetibá.
Outro polo importante no contexto da produção também está
localizado na região central do Estado, porém com altitudes inferiores a
400 m e caracterizada como zona de “Terras Quentes, Acidentadas e Secas”
(FEITOZA et al., 1999), com longos períodos de seca e solos de baixa fertilidade,
apresentando concentração de pequenos estabelecimentos rurais. O café
conilon e as culturas tropicais são mais expressivos, e o plantio de tomate
corresponde ao “plantio de inverno”, tendo como principais municípios
produtores Laranja da Terra, Afonso Cláudio, Castelo, Alfredo Chaves e São
Roque do Canaã.
Em 2008, a área de cultivo de tomate no Estado foi de 1.766 ha (Tabela 2),
com o município de Santa Teresa sendo considerado, nas áreas com maiores
altitudes, o maior produtor, com 250 ha, seguido de Venda Nova do Imigrante,
com 181 ha. Laranja da Terra, com 210 ha, é o maior produtor da região de
menores altitudes, seguido de Afonso Cláudio, com 162 ha (Tabela 3). Dentre
os municípios produtores, Domingos Martins, Itarana, Baixo Guandu e São
Roque do Canaã apresentaram as maiores produtividades (80 a 85 t/ha),
ou seja, 17% e 25% acima da média estadual que foi de 68,2 t/ha nesse ano
(Tabelas 2 e 3).

Tabela 2 - Área, produção e rendimento de tomate no Estado do Espírito Santo,


período de 1998-2008

Fonte: IBGE (LSPA).

74
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

Tabela 3 - Principais municípios produtores de tomate no Estado do Espírito Santo,


no período de 2007-2008

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal.

À semelhança do que ocorreu em nível nacional, verifica-se que a área


colhida e a produção obtida praticamente não apresentaram alteração no
período de 1998 a 2008, enquanto a produtividade média sofreu cerca de
16% de elevação ao longo desses últimos dez anos (Tabela 2), que é atribuída
ao uso de novas tecnologias e melhorias no processo de produção.
Na Tabela 4, verifica-se que o tomate, em 2008, apresentou o segundo
maior valor de produção (R$ 100.856 mil), depois da cana-de-açúcar com R$
118.744 mil, dentre as principais culturas das lavouras temporárias no Espírito
Santo.
Comparando-se a área destinada ao plantio da cana-de-açúcar (78.249
ha) com aquela cultivada com tomate (1.766 ha), correspondentes a 49% e
1,1% respectivamente, a primeira mostra-se significativamente superior à
segunda, pois sua prática exige amplas extensões de terra. A área ocupada
com tomate, de menor tamanho físico, apresenta-se muito mais dinâmica
no que tange à diversidade de relações estabelecidas em seu interior, além
dos recursos técnicos utilizados para viabilizar a sua produção. Isso ratifica o
que Carmo e Guerini (2004, p.1) afirmam em relação aos empreendimentos

75
Capítulo 3

hortícolas no Estado que utilizam “[...] reduzido tamanho da área ocupada,


porém intensivamente utilizada, tanto no espaço quanto no tempo”.

Tabela 4 - Produção, área colhida e valor da produção das principais culturas


temporárias no Espírito Santo. 2008

Unidade corresponde a mil frutos


(1)

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal.

3.1 Caracterização do Sistema de Produção

No Espírito Santo, a condução das lavouras é feita preponderantemente


por apenas um sistema de produção, cujas características básicas são o
estaqueamento simples ou vertical, a irrigação por mangueira e a colheita
manual. O gotejamento é uma tecnologia de irrigação que começa a
ser adotada, assim como o uso do fitilho em substituição ao bambu no
estaqueamento. As mudanças recentes, como fertirrigação, condução da
lavoura no sistema de meia estaca ou com estaqueamento vertical, têm
como finalidade principal o aumento da produtividade e a redução de custos
(MELO, 2003).
O período de plantio é variável conforme a região do Estado, mas dentro
de uma mesma região ocorrem diversos plantios visando ao escalonamento
da colheita de acordo com a capacidade do mercado. No Caxixe, por exemplo,
maior região produtora do município de Venda Nova do Imigrante, alguns
agricultores plantam no mínimo oito safras por ano, com semeio de 20 em 20
dias, sendo os híbridos “longa vida” as variedades predominantes.
A cultura do tomate é muito suscetível a doenças, e por isso exige
grande rotatividade de áreas em seu cultivo, visando reduzir o uso de despesas
com defensivos. Geralmente, os produtores fazem no máximo dois plantios

76
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

na mesma área e depois utilizam outras áreas da propriedade ou arrendam


terras de terceiros, onde cultivam, após o tomate, feijão ou milho e hortaliças,
como o repolho, o pimentão, a couve-flor e o taro (inhame), para melhor
aproveitamento da área e do resíduo nutricional.
A colheita é manual e ocorre cerca de duas vezes por semana, sendo
os tomates limpos, classificados e embalados, normalmente, em máquinas
selecionadoras e classificadoras, conforme o formato, tamanho e coloração
do fruto, adequando-o a cada mercado. A classificação da produção via
maquinário não é prática adotada em proporção significativa, de modo
a justificar a sua inclusão como sistema dominante. Para este sistema, a
produtividade média observada é de, aproximadamente, 280 caixas por mil
plantas.
Ainda não há estrutura de armazenamento específica para o tomate
no Estado. Estruturas de outros produtos estão sendo adaptadas para essa
finalidade, principalmente na região de maior altitude, onde o produto é
colhido e comercializado imediatamente. Normalmente, o transporte é feito
por via terrestre, e o principal destino é o mercado do Nordeste (80%), seguido
de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.

3.1.1 Mão de obra e uso de insumos

A evolução genética vivenciada nos últimos anos tem levado às


constantes alterações no sistema produtivo e ao uso intensivo de insumos na
busca de maiores produtividades.
Os tomaticultores capixabas são sensíveis à adoção de novas tecnologias
de produção e à utilização de insumos modernos. A mão de obra empregada
é, normalmente, a familiar, e somente nos períodos de maior concentração de
trabalho são contratados os serviços de terceiros.
Dentre os insumos utilizados na lavoura de tomate, destacam-se não
só a elevada quantidade de defensivos mas também a sua diversidade, o que
se explica pela necessidade de controle de um amplo espectro de pragas e
doenças a que a cultura está sujeita. Os tratamentos fitossanitários são feitos
praticamente de forma preventiva, sendo normalmente feitas duas a três
pulverizações por semana. Em períodos de maior umidade e ocorrências
de chuvas, essas pulverizações aumentam consideravelmente. Agricultores
da região de Venda Nova do Imigrante chegam a afirmar que fazem, no

77
Capítulo 3

mínimo, cerca de 50 pulverizações em uma única safra. Por essa razão, houve
queda da rentabilidade na safra de 2005/06 devido à elevação dos custos de
produção.
Segundo relatos de agricultores, os defensivos representam o maior
custo de produção da lavoura, seguidos das sementes. Segundo o Centro de
Desenvolvimento do Agronegócio (Cedagro, 2007), o custo de produção
para uma lavoura com 13 mil plantas por hectare e produtividade de 60 mil kg/
ha é de R$ 32.468,43. A pesquisa da Hortifruti Brasil verificou o valor mínimo
para venda da produção, de forma a recuperar os gastos com a cultura, na
região de Venda Nova do Imigrante, como sendo de R$ 13,84 por caixa, bem
superior aos valores detectados para Caçador/SC (R$ 9,40/caixa) e Itapeva/
SP (R$ 9,90/caixa), principais regiões produtoras concorrentes. Silva e Martini
(2006) afirmam que o custo por caixa da região produtora capixaba, entre R$
9,40 e R$ 13,00 por caixa de 23 kg, está acima da média nacional.
Outro insumo frequentemente utilizado são as estacas (bambus ou
taquaras) para tutoramento da planta e que são adquiridas em diversas
regiões, inclusive de fora do Estado, podendo ser utilizadas por até três safras
consecutivas. A maioria dos agricultores adota o estaqueamento simples ou
vertical em sua lavoura, por diminuir custos e facilitar o manejo e os tratos
culturais. O estaqueamento cruzado, utilizado em menor proporção, predispõe
à maior incidência de doenças, pois aumenta a umidade do ambiente e
dificulta a pulverização correta.
As embalagens, por sua vez, têm o predomínio da caixa tipo “K”, porém já
estão sendo introduzidas caixas de plástico e papelão e embalagens menores,
principalmente com a venda direta às grandes lojas e redes de supermercados.
A pesquisa da Hortifruti Brasil aponta o uso médio de embalagens plásticas
para a região de Venda Nova do Imigrante e uso baixo e alto, respectivamente,
para as regiões produtoras concorrentes, como Itapeva/SP e Caçador/SC
(SILVA; MARTINI, 2006).
A água utilizada na lavagem dos frutos, quando da limpeza e classificação
via maquinário, pode gerar sérios problemas ambientais em decorrência de
uma possível presença de resíduos de agrotóxicos. É preciso monitorar a
quantidade e a composição química de possíveis contaminantes presentes e
verificar se a destinação desta água está sendo feita de forma correta.
O uso intensivo do solo, através de cultivos sucessivos, provoca
desbalanceamento nutricional, levando o agricultor a usar cada vez mais

78
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

adubo para cobrir suas deficiências. Além disto, há maior probabilidade de


erosão e presença de pragas e doenças, que resultam em maiores custos de
produção.
A mão de obra utilizada é basicamente a familiar, juntamente com
as parcerias agrícolas, cujos serviços também têm o predomínio da família.
Devido a problemas trabalhistas, geralmente essa mão de obra não reside
mais na propriedade, sendo feitos contratos destinando-se cerca de 30% a
35% da produção aos parceiros.
A cultura exige tratos culturais diários e intensivos, sendo que uma
pessoa bem treinada consegue cuidar de cerca 3-4 mil plantas/safra. Em
períodos de maior trabalho, como no amarrio, na desbrota e na colheita, há
necessidade de contratação de mão de obra externa. “Considerando 2.000
hectares cultivados por ano e uma densidade de 13.000 plantas por hectare,
significa que a cultura do tomate proporciona em torno de 10 mil postos de
trabalho, somente nas propriedades rurais” (CARMO; GUERINI, 2004, p. 5).
Considerando, ainda, um custo médio atual de produção em torno de R$
30.000,000 por hectare (CEDAGRO, 2007), verifica-se a circulação aproximada
de R$ 60 milhões somente no sistema produtivo.

3.1.2 Arrendamento da terra

A exploração da olericultura, conduzida em maior parte pelos pequenos


proprietários, torna-se viável em termos de ocupação de área física, por se
tratar de uma prática agrícola altamente intensiva, tanto em capital quanto
em mão de obra, pois, utilizando uma pequena área, apresenta grande volume
de produção. O tamanho das unidades produtoras voltadas à tomaticultura
é considerado pequeno em termos absolutos, se comparado com aquelas
destinadas à pecuária e a outras culturas extensivas. Mas quando se considera
o aspecto relativo, podemos observar o potencial dessas unidades no que se
refere à movimentação de capital para desenvolver as culturas (haja vista o
circuito comercial que foi formado ao seu redor). Vale salientar que, muitas
vezes, os pequenos proprietários não fazem uso total da área disponível com
plantios próprios, ou por falta de recursos ou por receio de prejuízos. Nesse
caso, a sobra de terra pode ser arrendada, constituindo-se em mais uma fonte
de renda.
O uso da terra no âmbito da pequena propriedade apresenta-se de

79
Capítulo 3

forma variada, havendo casos em que somente o dono da área a explora,


sem a presença de arrendatários. Outro cenário é aquele em que o dono da
terra arrenda parcelas da propriedade a terceiros, convivendo, às vezes, numa
mesma área o plantio do proprietário e dos arrendatários. É nessa situação que
ocorrem diferentes formas de acerto entre os proprietários e os arrendatários
quanto ao pagamento da renda, geralmente efetuado em forma de produto.
Dependendo da disponibilidade de insumos próprios a serem usados
no plantio, o arrendatário poderá pagar uma renda maior ou menor ao
proprietário. Uma forma predominante no Estado é aquela que o arrendatário
não tem recursos suficientes para arcar com despesas iniciais com o preparo
do solo, as adubações e os agrotóxicos utilizados no plantio. Nesse caso, o
proprietário arca com os gastos, porém o arrendatário deverá pagar um valor
maior pelo uso da terra.
Esse valor é determinado sobre o total apurado pelo agricultor. É
importante esclarecer que os agricultores consideram o apurado como sendo
o resultado da diferença entre a receita bruta e as despesas. Dessa diferença
é retirado o valor das duas partes, sendo o pagamento da renda efetuado em
mercadoria e não em dinheiro.

3.2 Comercialização e Origem dos Recursos

A principal marca da exploração hortícola no Espírito Santo é seu


vínculo com o mercado, caracterizando-se claramente como uma agricultura
comercial. É assim denominada porque ao mesmo tempo em que o objetivo
da produção é atender à demanda de mercado, necessita, também, absorver
insumos que assegurem a produção e a qualidade. Constitui, nesse caso, uma
via de mão-dupla, fornecendo determinados tipos de mercadorias (verduras,
legumes e raízes) e absorvendo outros (insumos modernos). É importante
mencionar que essa troca é desvantajosa para o agricultor, pois seu produto
está sujeito às oscilações de preços, normalmente com tendência de queda,
enquanto os insumos têm seus preços mais estáveis e com tendência a alta.
Assim, configura-se mais um mecanismo de transferência de renda e de
subordinação do pequeno agricultor.
Dentro da mão-dupla acima descrita, está a dependência cada vez
maior do agricultor em relação ao processo de comercialização que vai se
consolidando e aumentando de importância na medida em que o produtor

80
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

agrícola se especializa numa determinada exploração, como é o caso da


tomaticultura, com um crescente grau de desenvolvimento técnico. Desse
conjunto de fatores que passou a fazer parte da prática agrícola, deve-se lembrar
que a ampliação da rede de comércio em escala – incluindo-se aí as Centrais
de Abastecimento (Ceasas) e as grandes redes de supermercados – teve um
significado importante na redefinição do tipo de exploração a ser conduzido
pelos produtores. Após meados da década de 90, os supermercadistas
priorizaram a compra direta com o setor produtivo, o que “fez com que os
entrepostos (Ceasas) perdessem importância no abastecimento” (CANÇADO
JUNIOR et al., 2003, p. 13).
O pequeno agricultor, diante desse quadro, não tem muitas alternativas,
porque depende dos “donos” do mercado, que são o intermediário mais
próximo dele, e do atacadista, na ponta da comercialização. Quando não
comercializa com um, comercializa com outro, pois conta com o risco de
perder a produção e sofrer prejuízos. Para agravar ainda mais a condição
dos pequenos tomaticultores, os comerciantes (intermediários e atacadistas)
quando adquirem a produção, seja na propriedade, seja na Ceasa, não
efetuam o pagamento no ato da compra. O acerto é com prazos de 30 a 60
dias, havendo situações de pagamentos com até seis meses, o que acarreta
descapitalização do agricultor e dificuldades na formação de novos plantios.
Assim, começa a surgir no mercado a figura do agricultor que assume
o papel de atacadista especializado, adquirindo maquinário para seleção e
classificação da produção e infraestrutura de transporte. Além de processar
a própria produção, pode também processar a de terceiros, em valor
predeterminado ou não, e fornecer diretamente para o varejo. Os pequenos
agricultores, incapazes de adquirir sozinhos os equipamentos necessários,
encontram nesse agente uma alternativa para agregar valor ao seu produto
ou mesmo garantir a sua venda.
Aparece, ainda, o agente que, além do sistema acima citado, financia as
lavouras de vários agricultores, semelhante ao sistema de parceria1, comum
na produção de tomate in natura. Nesse caso, agricultores descapitalizados
têm suas lavouras financiadas por esses atacadistas, por meio de contratos
informais. O financiamento pode abranger desde despesas com insumos

1
Pessoas diretamente subordinadas ao responsável, que executam tarefas mediante recebimento de uma
cota-parte da produção obtida com seu trabalho (meia, terça, quarta, etc), e seus familiares que ajudam
na execução das tarefas” (INCRA, 2004).

81
Capítulo 3

até gastos com mão de obra, como o fornecimento de cestas básicas e


empréstimos para gastos pessoais.
Esses atacadistas influenciam no planejamento da produção pela escolha
das variedades que serão cultivadas, pelo sistema de produção a ser adotado
e pelo fornecimento de assistência técnica. Dessa forma, são beneficiados
pela garantia de fornecimento, evitando falta de produto em determinados
períodos. Porém, os atacadistas compartilham com os agricultores os riscos
associados à produção agrícola em casos de quebras de safras, uma vez que
assumem as despesas com os insumos utilizados no sistema de produção.
O produto é entregue ao atacadista, ainda na lavoura, conforme a
negociação, na maioria das vezes sem preço predeterminado. Após a venda,
cujo preço varia diariamente de acordo com a oferta e a procura, os atacadistas
descontam uma taxa de comercialização do valor a ser pago ao produtor.
Dependendo da negociação, são descontados ainda o frete e as embalagens.
Somente o produto “maquinado”, ou seja, classificado é considerado no
pagamento aos agricultores. Alguns deles mostram-se insatisfeitos com
essa situação, mas não buscam novas alternativas em função da grande
inadimplência vivida pelo segmento nos últimos anos. Percebe-se que os
agricultores esperam das relações contratuais principalmente preços, acesso
à tecnologia e segurança na obtenção da renda.

4. CONCLUSÃO

Azevedo (2000) esclarece que na agricultura a incerteza se manifesta


por meio das variações climáticas e da ocorrência de pragas e doenças. Isso
se torna claro no caso das hortaliças, em especial com a cultura do tomate, em
que variações climáticas criam condições favoráveis a infestações de pragas
e doenças. Destaca-se também a incerteza com relação à comercialização
dos produtos, uma vez que apresentam vida pós-colheita muito curta, e o
tempo para realizar as transações contribui para o oportunismo dos agentes
envolvidos. Apesar de o agricultor ter-se aproximado mais do mercado
consumidor, com entregas diretas às lojas e aos supermercados, observa-se
que suas margens de ganho não são ainda suficientes para lhes proporcionar
sustentabilidade em seus cultivos.
É importante estar atento ao que o consumidor deseja, como as
informações sobre a procedência e a data de colheita dos frutos frescos. A

82
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

busca de novas cultivares com sabor e características diferenciadas também


deve ser observada, bem como a divulgação à população dos aspectos
nutricionais e de saúde proporcionados pelo tomate, visando aumentar o seu
consumo.
Conhecer a cadeia de produção para melhorar o gerenciamento
da propriedade e orientar a atuação dos agentes envolvidos também é
importante.
Deve-se salientar ainda que essa prática agrícola de caráter intensivo tem
levado a uma exploração degradante dos recursos naturais, principalmente
à exaustão do solo e à possível contaminação da água. A necessidade de
incrementar o volume de produção e o uso indiscriminado de defensivos para
preservar a “qualidade” dos produtos, além da tentativa de garantir a própria
sobrevivência, impedem que os agricultores busquem outras formas de
explorar a terra. Junte-se a isso a não adoção de alternativas para desenvolver
uma agricultura mais equilibrada do ponto de vista ecológico.
A sobrevivência da pequena produção está intimamente relacionada
com uma prática menos danosa ao ambiente. Levando-se em consideração a
valorização crescente do fator de produção terra, a progressiva degradação do
solo, o aumento nos custos dos insumos e a baixa remuneração dos produtos,
percebe-se que a sustentabilidade do setor encontra-se comprometida.
A esses agricultores resta a busca de um produto diferenciado que seja
valorizado pelo consumidor e lhe proporcione sobreviver com dignidade.

5. REFERÊNCIAS

AGRIANUAL 2008. FNP. Consultoria e comércio. Anuário da agricultura


brasileira. São Paulo, 2007.

AZEVEDO, P. F. Nova economia institucional: referencial geral e aplicações


para a agricultura. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 47, t. 1, p. 33-52,
2000.

CANÇADO JUNIOR, F. L.; CAMARGO FILHO, W. P. de; ESTANISLAU, M. L.


L.; PAIVA, B. M. de; MAZZEI, A. R.; ALVES, H. S. Aspectos econômicos da
produção e comercialização do tomate para mesa. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte, v. 24, n. 219, p. 7-18, 2003.

CARMO, C. A. S. do; FORNAZIER, M. J. Plano Estratégico da Agricultura

83
Capítulo 3

Capixaba PEDEAG. Olericultura. Estudo Temático. Vitória, ES: Seag, 2003.


Disponível em: <http://www.incaper.es.gov.br/pedeag/setores17.htm>.
Acesso em: 18 ago. 2005.

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Venda Nova do Imigrante,ES: [s.Ed.], 2004.

CEDAGRO. Coeficientes técnicos e custos de produção na agricultura do


estado do Espírito Santo. Vitória,ES, 2007, CD-ROM.

FEITOZA, L. R.; CASTRO, L. L. F. de; RESENDE, M.; ZANGRANDE, M. B.;


STOCKING, M. A.; BOREL, R. M. A.; CERQUEIRA, A. F.; SALGADO, J. S.; FEITOZA,
H. N.; FULLIN, E. A.; STOCK, L. A.; DESSAUNE FILHO, N.; MANK, A. M.; FERINGA,
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Santo. Vitória,ES: Emcapa, 1999. Mapa na escala 1:400.000, colorido.

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colhida da lavoura temporária: tomate. Espírito Santo, 2008. Disponível
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INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Disponível


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MELO, P. C. T. de. Desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do


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Brasil, São Paulo: Cepea, Ano 5, n. 47, p.6-14, junho de 2006. Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/hfbrasil/edicoes/47/mat_capa.pdf> Acesso
em: 22 jun. 2006.

84
Características socioeconômicas do cultivo do tomateiro no Estado do Espírito Santo

Capítulo 4
FISIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
DO TOMATEIRO
Mário Puiatti
José Mauro de Sousa Balbino
Marcos José de Oliveira Fonseca
Cláudio Pagotto Ronchi

1. INTRODUÇÃO

Originário da costa ocidental da América do Sul, na extensão


compreendida entre Equador e Peru à porção norte do Chile, o tomateiro
(Solanum lycopersicum L.), após domesticação no México, foi introduzido
na Europa em meados do século XVI, de onde foi disseminado para várias
partes do mundo (RICK, 1978; ESQUINAS-ALCAZAR, 1981; KINET; PEET, 1997;
RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997). Devido à possibilidade de cruzamentos com
outras espécies do gênero Solanum, genes responsáveis por características

85
Capítulo 3

agronômicas foram incorporados em variedades cultivadas (KINET; PEET,


1997; RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997; GIORDANO; ARAGÃO; BOITEUX, 2003;
RICK, 2005), possibilitando a existência de respostas fisiológicas diferenciadas
entre elas.
Em decorrência do ciclo, de variedades culturais, mutantes unigênicos
e facilidades de cultivo e manipulação da planta, incluindo enxertia e
enraizamento de estacas, e também devido à sua importância econômica, o
tomateiro constitui-se em importante material para as pesquisas com plantas,
razões pelas quais já foram identificadas e descritas as funções de inúmeros
genes (KINET; PEET, 1997; RICK, 2005).
Para facilitar a discussão do tema, o desenvolvimento do tomateiro
será abordado por partes envolvendo os aspectos fisiológicos da germinação,
crescimento vegetativo, florescimento e frutificação e, finalmente, alguns
distúrbios fisiológicos que ocorrem na cultura.

2. INTERAÇÃO GENÓTIPO X AMBIENTE

As variedades cultivadas de tomate apresentam hábito de crescimento


indeterminado a altamente determinado (RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997).
As de hábito determinado, por possuírem o gene sp (self-pruning ou
autopodada), que limita o período de florescimento, permitindo colheitas mais
concentradas, são exploradas no Brasil basicamente para frutos destinados
ao processamento industrial (GIORDANO; ARAGÃO; BOITEUX, 2003). Já as
variedades de hábito indeterminado são utilizadas na exploração a campo ou
em ambiente protegido, visando à produção de frutos frescos para consumo
in natura. Além disso, essas cultivares emitem inflorescências (cachos florais)
continuamente durante o ciclo de vida, apresentando comportamento
perene, apesar de, comercialmente, serem exploradas como planta anual
(RICK, 1978; RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997).
Além do fator genético, os fatores de ambiente, luz e temperatura e os
tratos culturais, suprimentos nutricionais e de água são os que mais limitam
a produtividade da cultura (KINET; PEET, 1997). A luz, em termos de radiação
fotossintética ativa (RFA), é fundamental para o crescimento da planta e
síntese de assimilados para atender aos drenos ativos, que são os cachos
com flores e frutos, as porções vegetativas (caule e folhas jovens) e o sistema
radicular (GUAN; JANES, 1991a, 1991b; JANES; MCAVOY, 1991; MICALLEF et

86
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

al., 1995; KINET; PEET, 1997; WILLITS; PEET, 1998). Por sua vez, a temperatura
é importante para proporcionar a viabilidade de órgãos reprodutivos e
crescimento ótimo das plantas com maior taxa de assimilação líquida de
carbono (FERNANDEZ-MUÑOZ; CUARTERO, 1991; ERCAN; VURAL, 1994;
FERNANDEZ-MUÑOZ; GONZALES-FERNANDES, 1995; PEET; BARTHOLEMEW,
1996; KINET; PEET, 1997; WILLITS; PEET, 1998).
De maneira geral, a dificuldade no manejo da água é o fator cultural
que mais limita a obtenção de altas produtividade e a qualidade de frutos
(STEVENS, 1986, apud KINET; PEET, 1997), relacionando-se de forma estreita
com a disponibilidade de nutrientes às plantas e a desordens fisiológicas.
Apesar de o tomateiro ser uma planta C3 e, portanto, a concentração de
CO2 na atmosfera ser considerada limitante à fotossíntese, pouco sucesso tem
sido obtido com o enriquecimento do ar com CO2, uma vez que o tomateiro
é considerado planta que pouco responde ao incremento desse gás na
atmosfera, comparada a outras espécies C3. Sob alta concentração de CO2 há
redução do processo fotossintético (HICKLENTON; JOLLIFFE, 1980; YELLE et al.,
1989), em parte, em razão dos cloroplastos acumularem muito amido sob alta
concentração de CO2 (YELLE et al., 1989) e por decrescerem a razão de área
foliar e a taxa de crescimento relativo (HICKLENTON; JOLLIFFE, 1980). Além
disso, o tomateiro exige ar circulante (KITAYA et al., 2004) e longo período de
exposição ao CO2 (8-10 horas/dia), o que dificulta o manejo da cultura em
ambientes que não haja controle da atmosfera (WILLITS; PEET, 1989; TRIPP et
al., 1991; POORTER, 1993; CRAMER; OBERHOLZER; COMBRINK, 2001).

3. GERMINAÇÃO

As sementes das cultivares do tomateiro (S. lycopersicum L.) apresentam


de 2 a 3 mm de diâmetro, formato oval, com depressões laterais e superfície
externa (testa) creme-acinzentada, coberta de pelos (tricomas) e pesam de
2,4 a 4,4 mg (RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997). O embrião é completamente
circundado por endosperma relativamente duro, porém frágil, o qual é
recoberto pela testa. A testa e, sobretudo, o endosperma estão estritamente
relacionados à germinação (BRADFORD et al., 2000).
A germinação inicia-se pela embebição da semente, processo esse
mediado pelo tegumento, cuja permeabilidade influencia na taxa de

87
Capítulo 4

embebição e na velocidade de germinação. Contudo, a composição química


do tegumento em termos de polissacarídeos, lipídeos e lignina parece não
ser o principal fator responsável pela permeabilidade, mas sim a presença
de taninos condensados na camada epidérmica interna à testa, os quais
contribuem para a rigidez da estrutura celular, reduzindo a permeabilidade à
água (ATANASSOVA et al., 2004).
O período de tempo que vai da embebição à emergência da radícula
é considerado, em síntese, como período de germinação (BRADFORD et
al., 2000). Esta fase do desenvolvimento, após absorção inicial de água, é
caracterizada por pequenas alterações no conteúdo de água da semente,
até que se dê início o crescimento do embrião. Durante este período de
tempo, o metabolismo energético é retomado, os processos de reparo
são ativados e o ciclo celular é iniciado, enquanto os eventos associados à
maturação são suprimidos (HILHORST; GROOT; BINO, 1998; BRADFORD et al.,
2000; NONOGAKI; GEE; BRADFORD, 2000). Nestas alterações estão envolvidas
expressões de genes que rapidamente redirecionam o desenvolvimento para
o “modo” germinativo (NONOGAKI; GEE; BRADFORD, 2000). É provável que
milhares de genes estejam envolvidos no processo de redirecionamento do
desenvolvimento da semente, da maturação para um novo papel, que é a
plântula (BRADFORD et al., 2000).
Durante o processo de germinação, o tecido do endosperma, que
mantém o ápice da radícula encapsulado (denominado de endosperma de
revestimento ou micropilar), deve sofrer uma distensão, de modo a permitir a
emergência da radícula, e esse afrouxamento é um processo primariamente
controlado pelo ácido giberélico (AG). O próprio endosperma micropilar se
distingue anatomicamente do restante do endosperma (denominado de
endosperma lateral) por ter células pequenas e parede delgada (BRADFORD
et al., 2000).
Para que a emergência da radícula possa ocorrer, são necessários vários
processos bioquímicos que promovem o afrouxamento do endosperma
micropilar. Entre esses processos, destaca-se a ação de enzimas hidrolases de
parede e proteínas relacionadas à expansão de parede celular, denominadas de
expansinas (MCQUEEN-MASON; COSGROVE, 1995; TOOROP; AELST; HILHORST,
1998; BRADFORD et al., 2000; CHEN; BRADFORD, 2000; NONOGAKI; GEE;
BRADFORD, 2000). Endo-β-mananase, manosidase, galactosidase, celulase
(β-1-4-endogluconase), poligalacturonases (PGs), arabinosidase, xiloglucano

88
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

endotransglicosilase, β-1,3-glucanase, chitinase são exemplos de enzimas


cujos genes foram expressos em sementes de tomate após embebição, sendo
que as duas últimas enzimas podem contribuir para a defesa do endosperma
lateral contra a invasão por fungos, através da abertura promovida pela
radícula no endosperma micropilar (TOOROP et al., 1998; BRADFORD et al.,
2000; NONOGAKI; GEE; BRADFORD, 2000).
As expansinas são proteínas extracelulares que facilitam a extensão
da parede celular em plantas (MCQUEEN-MASON; COSGROVE, 1995; CHEN;
BRADFORD, 2000), provavelmente por romper ligações não covalentes
(ligações pontes de H) entre componentes hemicelulósicos de parede e
microfibrilas de celulose (MCQUEEN-MASON; COSGROVE, 1995; CHEN;
BRADFORD, 2000). A expressão dessas expansinas no endosperma micropilar
da semente de tomate é induzida pelo AG (BRADFORD et al., 2000; CHEN;
BRADFORD, 2000).
Embora a semente de tomate possa germinar na ausência de luz, há
evidências de que o fitocromo está envolvido no processo, pois luz vermelha
distante inibe a germinação, e o seu efeito pode ser revertido pela luz vermelha.
Todavia, o efeito da luz parece ser dependente da cultivar e de outros fatores,
especialmente a temperatura (KINET; PEET, 1997).
Reguladores de crescimento estão envolvidos no processo de
germinação, especialmente giberelinas (GAs) (já citado anteriormente) e
Ácido Abscísico (ABA). As GAs estimulam germinação, enquanto o ABA a
inibe (BRADFORD et al., 2000; TOOROP; AELST; HILHORST, 2000; FELLNER;
SAWHNEY, 2001). O efeito estimulador das GAs foi demonstrado em sementes
do mutante dwarf gib-1, no qual a biossíntese de GA foi inibida, e a germinação
só ocorreu com aplicação de GA exógena (GROOT; KARSSEN, 1987; GROOT
et al., 1988; BENSEN; ZEEVART, 1990). GA atuaria induzindo a enzima endo-
β-galactomanose, que promove o afrouxamento do endosperma antes da
protusão da radícula, via degradação da parede celular rica em galactomanose
(GROOT; KARSEN, 1987; GROOT et al., 1988; TOOROP; AELST; HILHORST,
1998). Por outro lado, ABA inibe a expressão da β-1,3-glucanase e da
ATPase vacuolar (BRADFORD et al., 2000) e a atividade da endo-β-mananase
(TOOROP; AELST; HILHORST, 2000). ABA seria responsável pela dormência de
sementes de tomateiro silvestre, uma vez que sementes de tomate cultivado
são caracterizadas por não apresentar dormência (KINET; PEET, 1997). ABA
também estaria relacionado com a inibição da germinação sob vários tipos de

89
Capítulo 4

estresse (salino, osmótico - ψ, matricial e de baixa temperatura), uma vez que


esse efeito inibitório foi parcial ou totalmente contornado pelo tratamento
com fluridone, inibidor da biosíntese de ABA (FELLNER; SAWHNEY, 2001).
A germinação também é altamente influenciada pela temperatura.
Considera-se, para o tomateiro, como temperaturas cardinais (mínima,
ótima e máxima) as faixas de 8-11ºC, 18-24ºC e de 35ºC, respectivamente,
com variação em resposta pelas cultivares à temperatura abaixo e acima
do ótimo (KINET; PEET, 1997; RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997). Sob condições
de temperatura subótima, podem ocorrer atraso na germinação e redução
na uniformidade da emergência (KINET; PEET, 1997), sendo reduzidos em
sementes com priming (RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997). O bio-osmopriming,
que consiste na combinação de osmocondicionamento com o biopriming com
bactéria Pseudomonas aurefaciens, é uma técnica em fase de estudos, com
resultados animadores, pela qual se tem o objetivo de proteger a semente
e/ou a plântula de tomate das condições adversas do substrato durante a
germinação (WARREN; BENNETT, 2000).
É razoável assumir, portanto, que a germinação da semente de tomate
é regulada, em última etapa, por genes expressos durante a embebição da
semente e antes da emergência da radícula, e que a expressão desses genes
é influenciada por fatores hormonais (GA e ABA) e ambientais (potencial
hídrico - ψ, luz e temperatura), os quais modulam a taxa ou percentagem de
germinação (BRADFORD et al., 2000).

4. CRESCIMENTO VEGETATIVO

O desenvolvimento vegetativo e reprodutivo precisa estar em harmonia,


visando otimizar a produção da planta.
No caso do tomateiro, para sustentar a produção, o processo se inicia
com a formação de 6 a 11 folhas abaixo da 1ª inflorescência. Nas plantas de
hábito de crescimento indeterminado, novas inflorescências são emitidas
continuamente a cada 2-3 folhas (são mais frequentes 3 folhas), variando de
acordo com a cultivar e as condições do ambiente (KINET; PEET, 1997).
Para a maioria das cultivares, a transição floral ocorre quando a 3ª
folha está se expandindo, aproximadamente três semanas após a expansão
dos cotilédones. Portanto, a fase vegetativa do tomateiro é curta, visto
que o crescimento vegetativo e o desenvolvimento reprodutivo ocorrem

90
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

concomitantemente durante a maior parte do ciclo de vida da planta (KINET;


PEET, 1997).
As folhas iniciais, abaixo da 1ª inflorescência, têm papel fundamental,
pois cumprem a função de fornecer assimilados para suportar os drenos
(inflorescência, frutos, ápice caulinar e sistema radicular). Sua importância
aumenta à medida que as plantas se tornam mais precoces, pois se
forem formadas poucas folhas antes da iniciação floral, o suprimento de
fotoassimilados poderá ser insuficiente para suportar os drenos (KINET; PEET,
1997).

5. FLORESCIMENTO

A transição floral, ou o número de folhas que precede a 1ª inflorescência,


é controlada por um simples gene (HONMA et al., 1963, apud KINET; PEET,
1997), mas, também, é fortemente influenciada pelas condições do ambiente,
principalmente intensidade luminosa, temperatura e sua interação (DIELEMAN;
HEUVELINK, 1992; KINET, 1977a; 1993). A concentração de CO2 do ar e a
disponibilidade de água e de nutrientes parecem exercer menor influência na
transição floral (DIELEMAN; HEUVELINK, 1992; KINET; PEET, 1997).
O número de dias necessários para a 1ª antese é determinado pelo
número de folhas que precedem a 1ª inflorescência e pela taxa de iniciação
foliar (DIELEMAN; HEUVELINK, 1992). Alta intensidade luminosa reduz o
número de folhas abaixo da 1ª inflorescência e estimula a taxa de iniciação
foliar, resultando em florescimento mais precoce (KINET, 1977a; DIELEMAN;
HEUVELINK, 1992). Decréscimos na temperatura, apesar de reduzir o número
de folhas abaixo da 1ª inflorescência, tornam mais lenta a taxa de iniciação
foliar (CALVERT, 1959), sem tornar evidente a precocidade do florescimento
(KINET; PEET, 1997).
Intensidade luminosa e temperatura estão diretamente relacionadas
com a disponibilidade de fotoassimilados. Quanto maior for a disponibilidade
de fotoassimilados, bem como da atividade da enzima sacarose sintase, mais
intenso será o desenvolvimento reprodutivo e menor será o tempo para a
floração (MICALLEF et al., 1995; KINET; PEET, 1997).
A medição da altura da 1ª inflorescência não deve ser utilizada como
forma de interpretar a precocidade do florescimento, pois o alongamento do
caule pode variar com a radiação solar incidente, de forma que a radiação na

91
Capítulo 4

faixa do comprimento de onda ultravioleta (UV-B) reduz o alongamento do


caule e na faixa do vermelho distante promove o seu alongamento (BERTRAM;
LERCARI, 2000).
Apesar da possível participação no processo, a aplicação exógena de
reguladores de crescimento não tem proporcionado resultados consistentes
quanto à antecipação da transição floral, provavelmente devido às condições
experimentais utilizadas, especialmente aquelas relacionadas ao local e
à época de aplicação (DIELEMAN; HEUVELINK, 1992; KINET; PEET, 1997).
Aparentemente, GAs incrementam o número de folhas iniciadas antes da
transição floral, mas como a taxa de iniciação também aumenta, o efeito sobre
o tempo para florescer é variável (KINET, 1978, citado por KINET; PEET, 1997).
Mesmo que o tomateiro seja uma planta de dia neutro (KINET; PEET, 1997;
RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997), sob condições controladas, o florescimento é
antecipado sob dias curtos a uma mesma radiação fotossinteticamente ativa
(RFA) diária (KINET, 1977a).
Normalmente, a duração das pesquisas sobre o surgimento da 1ª
inflorescência se limita somente ao seu surgimento. Presume-se, contudo,
que a 2ª e as demais inflorescências sejam moduladas pela mesma via (KINET,
1977a; KINET; PEET, 1997), apesar de interferências dos fatores ambientais
possivelmente serem menores em razão do incremento da fotossíntese
decorrente da maior área foliar formada antes da iniciação das inflorescências
superiores (KINET; PEET, 1997).

6. ESTRUTURA REPRODUTIVA

A inflorescência do tomateiro (cacho ou rácimo) inicia-se no meristema


apical (CALVERT, 1965; SAWHNEY; GREYSON, 1972; KINET; PEET, 1997). Devido
ao crescimento simpodial da gema adjacente à inflorescência na axila da última
folha formada, a inflorescência desloca-se da posição terminal e passa a se
desenvolver lateralmente na haste, enquanto a gema axilar assume a posição
terminal e arrasta a última folha para uma posição acima da inflorescência.
Esse processo é repetido a cada nova inflorescência (SAWHNEY; GREYSON,
1972; CALVERT, 1965; HAREVEN et al., 1994).
A inflorescência consiste do eixo principal comportando flores
laterais desprovidas de brácteas (KINET; PEET, 1997). Pode ser simples (um
eixo principal), bifurcada (dois eixos) ou ramificada (mais de dois eixos),

92
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

dependendo da cultivar, da posição na planta e da temperatura. Normalmente,


a 1ª inflorescência é simples, sendo que baixas temperaturas durante a
iniciação da inflorescência favorecem a bifurcação ou ramificação (HURD;
COOPER, 1970, apud KINET; PEET, 1997).
A estrutura e o número de flores da inflorescência são controlados
geneticamente (RICK, 2005). Mesmo assim, o número de flores por cacho
é incrementado sob temperatura mais baixa (ERCAN; VURAL, 1994; PEET;
BARTHOLOMEW, 1996), sendo que o efeito da temperatura noturna parece
ter uma influência maior do que a diurna (PEET; BARTHOLOMEW, 1996).
As flores do tomateiro, que são hermafroditas, se abrem durante o
dia, e os grãos de pólen são liberados ao longo de aberturas longitudinais
nas anteras e caem sobre a superfície do estigma. Desta forma, as flores são
essencialmente autopolinizadas (KINET; PEET, 1997; RUBATZKY; YAMAGUCHI,
1997).

7. DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA REPRODUTIVA ATÉ A ANTESE

Uma vez ocorrida a iniciação floral, fatores do ambiente e fatores


intrínsecos (endógenos) à planta interagem, às vezes, em forma sequencial,
para que a flor possa chegar à antese.

7.1 FATORES AMBIENTAIS

Apesar de vários fatores do ambiente atuarem no controle do


desenvolvimento reprodutivo do tomateiro, a luz (irradiância) parece exercer
o papel central.
Sob condições deficitárias de RFA, a iniciação floral é atrasada, bem
como o surgimento macroscópico dessa, levando a uma taxa mais lenta de
crescimento da inflorescência. Além disso, o desenvolvimento até a antese
normalmente é interrompido, ocorrendo o aborto individual ou coletivo
das flores do cacho (FERNANDEZ-MUÑOZ; CUARTERO, 1991; KINET, 1993;
KINET; PEET, 1997). O desenvolvimento do tecido esporogênico é paralisado
no estádio de célula-mãe do grão de pólen, enquanto nos óvulos aquele
nunca vai além do início da diferenciação da célula arquesporial (KINET; PEET,
1997).
O período entre 5-6 a 10-12 dias após o surgimento macroscópico da

93
Capítulo 4

inflorescência parece ser crítico quando há limitação da irradiância (Howlett,


1936, apud KINET; PEET, 1997). Todavia, considerando-se que o tomateiro de
hábito de crescimento indeterminado está sempre emitindo inflorescência, e
que as flores dessa apresentam abertura sequencial dentro do cacho, quanto
mais constante for a irradiância menor será o risco de aborto.
Sob condições de luz insuficiente há forte competição por assimilados
entre cachos e tecidos do meristema apical e folhas recém-iniciadas
(HAMMOND et al., 1984). Sob essas condições, decréscimos na temperatura
(de 20o para 16ºC) durante a esporogênese podem reverter o processo de
aborto, à semelhança da remoção sucessiva dessas folhas jovens (KINET,
1977b). Portanto, temperatura moderada parece atuar favorecendo a
distribuição de assimilados para estruturas reprodutivas em detrimento das
vegetativas (KINET; PEET, 1997).
Por outro lado, não há efeito morfogênico direto da luz sobre a
estrutura reprodutiva do tomateiro, visto que a ausência de luz direta sobre a
inflorescência, após seu surgimento macroscópico, não impede que ocorra o
seu desenvolvimento normal até a antese. Portanto, o efeito da luz promovendo
o desenvolvimento floral possivelmente está relacionado à elevada atividade
fotossintética das folhas-fonte, uma vez que, sob condições desfavoráveis de
luz, há queda acentuada da fixação de CO2, e consequentemente redução no
suprimento de fotoassimilados (HAMMOND et al., 1984; GUAN; JANES, 1991a;
1991b; KINET; PEET, 1997).
Em condições experimentais, sob baixa irradiância, o incremento
da concentração de CO2 na atmosfera diminuiu o percentual de aborto de
estruturas reprodutivas. Entretanto, este efeito moderador é menor do que
aquele proporcionado pelo abaixamento da temperatura (COOPER; HURD,
1968; CALVERT; SLACK, 1975; KINET, 1993; KINET; PEET, 1997). Um dos efeitos
do incremento do CO2 sob deficiência de luz seria de proporcionar aumento
da produção de assimilados e, consequentemente, reduzir o aborto. Todavia
parece também estar relacionado com a redução da síntese de etileno (KINET;
PEET, 1997).
Desde que não seja limitante a ponto de promover o aborto das
flores, o incremento da temperatura acelera a abertura floral do tomateiro
(CALVERT, 1964). Todavia, dos 9 aos 5 dias que antecedem a antese, durante a
esporogênese, temperaturas mais altas são limitantes e temperatura igual ou
abaixo de 10ºC, após a microsporogênese, também prejudica a produção de

94
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

pólen (MAISONNEUVE; PHILOUZE, 1982).


Também se observa forte interação entre nutrição nitrogenada e
irradiância. Sob alta irradiância, o incremento no suprimento de N estimula
o desenvolvimento reprodutivo, enquanto sob baixa irradiância, a excessiva
fertilização nitrogenada inibe o desenvolvimento floral e a frutificação
(LAROUCHE; GOSSELIN; VÉZINA, 1989). Portanto, a aplicação de nitrogênio
deve ser ajustada ao regime de irradiância disponível, pois seu excesso para
determinado regime de luz resulta em crescimento vegetativo vigoroso,
prejudicando o desenvolvimento reprodutivo, provavelmente pela menor
atividade dreno das flores e inflorescências, em relação àquela dos tecidos
vegetativos (KINET; PEET, 1997).
A disponibilidade de água também é outro fator que exerce efeito
sobre o desenvolvimento das flores e, posteriormente, no crescimento do
fruto. Sob estresse hídrico há redução do número de flores por cacho e,
consequentemente, da produtividade da planta (WUDIRI; HENDERSON, 1985).
Por outro lado, o excesso de água, além de atrasar a iniciação floral, também
reduz o número de flores e frutos (KINET; PEET, 1997). Existe uma provável
interação entre água disponível no solo e condições de luz e de temperatura
sobre o desenvolvimento floral (KLAPWIJK; LINT, 1974, apud KINET; PEET,
1997).
Em resumo, irradiância, temperatura e disponibilidade de N e de água
parecem ser fundamentais para o êxito do desenvolvimento da inflorescência.
São fatores que devem ser monitorados, principalmente no cultivo em
ambiente protegido no qual, normalmente, há limitação de luz e excesso de
temperatura, devendo-se, portanto, manejar bem a nutrição nitrogenada e a
água.

7.2 REGULADORES DE CRESCIMENTO

Evidências da atuação de fito-hormônios (citocininas, giberelinas e de


etileno) no processo de desenvolvimento floral do tomateiro foram obtidas
pela quantificação dessas substâncias nas inflorescências e/ou pela aplicação
exógena de reguladores de crescimento nessas estruturas sob condições que
levariam ou não ao aborto das mesmas. Contudo, a aplicação de reguladores
de crescimento em cultivos comerciais de tomate é ainda motivo de muitos
questionamentos.

95
Capítulo 4

Citocinina e giberelina atuam de forma sequencial, nesta ordem,


contornando o processo abortivo sob condições de luz desfavorável (KINET,
1977b; KINET et al., 1978; KINET; LÉONARD, 1983; LÉONARD et al., 1983).
Citocinina também atua incrementando o número de flores iniciadas na
inflorescência. Ademais, sob condições de luz insuficiente que levaria ao
aborto, cachos florais têm nível muito menor de citocinina que cachos sob
condições favoráveis de luz (KINET; LÉONARD, 1983; KINET et al., 1985).
As giberelinas parecem não ser fator limitante durante o início do
desenvolvimento da estrutura reprodutiva, uma vez que a elevação de
seus níveis, nesse estádio, pode ter efeito inibitório promovendo aborto
precoce (KINET; LÉONARD, 1983). A aplicação do retardante de crescimento
CCC (Cloreto de 2-Cloroetiltrimetilamonio), a partir da transição floral até o
surgimento macroscópico das flores, reduziu a produção de GAs difusivas
pelo ápice caulinar e o aborto induzido por tratamentos de alta temperatura
e de luz deficiente (ABDUL; CANHAM; HARRIS, 1978). Portanto, a ação das GAs
em tomate é tempo-dependente, pois estas exercem ação após a citocinina
(KINET, 1983; KINET; LÉONARD, 1983; LÉONARD et al., 1983; KINET; PEET,
1997).
O etileno também está envolvido no controle do aborto tardio da
inflorescência, antes da antese, uma vez que a pulverização do cacho com ACC
(ácido 1-carboxílico 1-aminociclopropano - precursor imediato do etileno) ou
com CEPA (ácido 2-cloroetilfosfônico – ingrediente ativo do ethephon) levou
a inflorescência a abortar, mesmo sob condições de elevada irradiância. Por
outro lado, o efeito promotor do aborto promovido pela baixa irradiância foi
revertido pela aplicação de AVG (ácido aminovinilglicina) ou de STS (tiosulfato
de prata), inibidores da síntese e da ação do etileno respectivamente (KINET;
El ALAOURI; HACHIMI, 1988; KINET; PEET, 1997).
O etileno também está envolvido na senescência das pétalas, uma vez
que sua síntese é incrementada rapidamente após a polinização (LLOP-TOUS;
BARRY; GRIERSON, 2000). As zonas de abscisão no pedicelo de flores também
são estimuladas pelo etileno e inibidas pelo ácido indolacético – AIA (HONG;
SEXTON; TUCKER, 2000).
Em síntese, o desenvolvimento da estrutura reprodutiva do tomateiro
é dependente de vários reguladores endógenos que podem atuar de forma
simultânea ou em sequência (KINET et al., 1985; KINET, 1993; KINET; PEET,
1997).

96
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

8. FRUTIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO FRUTO

A frutificação pode ser definida como a proporção de flores que produz


fruto de um tamanho mínimo em uma população de flores as quais parecem
que irão alcançar a antese normalmente (PICKEN, 1984).
Assim como a iniciação floral, este estádio do desenvolvimento
reprodutivo é crítico, uma vez que envolve uma sequência de eventos,
incluindo polinização, germinação do grão de pólen, crescimento do tubo
polínico, fertilização dos óvulos e iniciação do crescimento do fruto, os quais
são influenciados por fatores ambientais e endógenos (KINET; PEET, 1997).
Pouco antes da antese da 1ª flor do cacho, a atividade dreno da
inflorescência é mínima; na antese, o crescimento do ovário pára e é
retomado após a fertilização juntamente com o incremento na importação
de assimilados pela inflorescência e pelo ovário (ARCHBOLD; DENNIS; FLORE,
1982).

8.1 FATORES AMBIENTAIS

Apesar de a estrutura floral facilitar o processo de polinização e de os


cachos sofrerem movimentação pela ação do vento e/ou por práticas culturais,
como desbrotas e amarrios, a polinização pode ser insuficiente devido à
natureza pegajosa dos grãos de pólen, principalmente sob condição de alta
umidade relativa do ar e baixas intensidades de luz e de temperatura (PICKEN,
1984). Em casa de vegetação, sobretudo no Hemisfério Norte, é comum o uso
de vibradores nos cachos (eletric bee) com a função de promover a queda do
pólen sobre o estigma e, consequentemente, a polinização (PICKEN, 1984;
ERCAN; VURAL, 1994; KINET; PEET, 1997). A polinização é extremamente
importante, havendo relação linear e correlação positiva entre o número
de grãos de pólen liberados sobre o estigma e a frutificação (SATO; PEET;
THOMAS, 2000).
O prolongamento do estigma além do cone anteriodal também
pode causar falha na polinização e consequente aborto floral. Apesar de o
comprimento do estilo ser controlado geneticamente e de o estigma estar
receptivo a partir de 16-18h antes e até seis dias após a antese, condições
de luz deficientes, de altas temperaturas, disponibilidade de nitrogênio e
aplicação exógena de GA podem promover o crescimento antecipado e

97
Capítulo 4

demasiado do estilo, provocando falha na polinização (FERNANDES-MUÑOZ;


CUARTERO, 1991; KINET; PEET, 1997).
Quando viáveis e sob temperatura adequada, os grãos de pólen
germinam três horas após, e o tubo polínico penetra no óvulo 24 horas após a
polinização (ERCAN; VURAL, 1994). À temperatura de 18-25ºC, a viabilidade do
grão de pólen pode ser mantida por 2-5 dias após a antese. Porém, extremos
de temperatura (acima de 37,5ºC ou abaixo de 5ºC) limitam a germinação do
grão de pólen e inibem o crescimento do tubo polínico (ERCAN; VURAL, 1994;
SATO; PEET; THOMAS, 2000).
A receptividade do estigma também é prejudicada por temperaturas
elevadas (CHARLES; HARRIS, 1972), enquanto baixas temperaturas reduzem
a quantidade e a viabilidade do grão de pólen, afetando a frutificação e a
produtividade (ERCAN; VURAL, 1994). A temperatura noturna parece exercer
papel chave nos processos reprodutivos, uma vez que, em condições de clima
quente, o incremento na diferença da temperatura diurna/noturna de 1ºC
para 4ºC durante a frutificação proporcionou aumento no número total de
frutos e no percentual de frutos maiores (WILLITS; PEET, 1998).
Temperaturas entre 21-30ºC durante o dia e 15-21ºC durante a noite
são consideradas, para a maioria das variedades cultivadas do tomateiro, as
mais favoráveis ao processo de fertilização (RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997). A
irradiância e a umidade relativa do ar parecem exercer efeito menos acentuado
do que a temperatura sobre esses processos (PICKEN, 1984; FERNANDES-
MUÑOZ; CUARTERO, 1991). Uma vez ocorrida a fertilização, a irradiância
torna-se fundamental, pois ovários fertilizados cessam sua expansão devido
à baixa irradiância, alta temperatura e interação entre estes fatores (KINET;
PEET, 1997).
Em termos de irradiância, o estádio crítico ocorre entre a antese e o
início da frutificação, mas quanto mais tardia for a deficiência de luz, menos
afetado será o crescimento dos frutos, pois baixa irradiância durante duas
semanas seguidas à antese da primeira flor do cacho impede o crescimento
da maioria dos frutos do cacho (MCAVOY et al., 1989).
O efeito inibitório da deficiência de luz no crescimento dos frutos parece
estar relacionado com a competição por fotoassimilados entre as estruturas
reprodutivas e os órgãos vegetativos, visto que o decréscimo da temperatura
em 4ºC, o incremento na concentração de CO2 do ar ou a retirada contínua de
folhas jovens ou a decapitação da planta estimularam a frutificação (KINET,

98
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

1980, apud KINET; PEET, 1997). Existe forte competição por assimilados entre
cachos e entre frutos de uma mesma inflorescência, em que os distais são
inibidos pelos proximais (BANGERTH; HO, 1984), especialmente quando a luz
é limitante (KINET; PEET, 1997).

8.2 REGULADORES DE CRESCIMENTO

A atuação hormonal no estádio de frutificação ainda não está bem clara.


Entretanto, sementes são fontes de auxinas, sendo que o conteúdo de auxina
endógena alcança o pico entre 7 a 10 dias após a antese (IWAHORI, 1967;
MAPELLI et al., 1978). Além disto, a aplicação de auxina exógena também
estimula a frutificação (WITTWER; BUKOVAC, 1962, apud KINET; PEET, 1997;
RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997).
Apesar de que a presença de sementes pareça não ser essencial para
o crescimento do fruto (VERKERK, 1957, apud KINET; PEET, 1997), a aplicação
exógena de auxina durante períodos de frio promove a frutificação (como
forma de contornar a deficiência da polinização) (RUBATZKY; YAMAGUCHI,
1997).
As giberilinas também parecem estar envolvidas no controle da
frutificação em tomate, pois, sob baixa irradiância, quando aplicadas na
inflorescência durante a antese, promovem a frutificação. Ademais, seu
conteúdo é elevado em ovários de cultivares partenocárpicos (MAPELLI et al.,
1978). Altos níveis de poliaminas (putrescina, espermidina e espermina) foram
encontrados em grãos de pólen germinando, possivelmente participando do
crescimento do tubo polínico (SONG; NADA; TACHIBANA, 2001).

9. DESENVOLVIMENTO DO FRUTO ATÉ O INÍCIO DO AMADURECIMENTO

O crescimento do fruto é expresso por uma sigmóide (Figura 1), na


qual as duas semanas iniciais se caracterizam por crescimento absoluto lento,
seguido por 3-5 semanas de rápido crescimento, até o estádio de verde-
maduro, e finalizando com crescimento lento nas duas últimas semanas.
A divisão celular é limitada à fase de crescimento cumulativo inicial lento,
ao final da qual dá-se início o alongamento celular. A taxa de crescimento
relativo é máxima no final da 1ª semana, declinando durante o período de
rápido crescimento absoluto, que é resultado somente de alongamento

99
Capítulo 4

celular (MONSELISE; VARGA; BRUINSMA, 1978).

Figura 1 - Crescimento cumulativo (o; mL), taxa de crescimento (•; mL dia-1) e taxa de
crescimento relativo (∆; mL mL-1 dia-1) de frutos de tomate (Adaptado de
MONSELISE; VARGA; BRUINSMA, 1978).

No estádio verde-maduro, o fruto praticamente já alcançou seu


peso final (MONSELISE; VARGA; BRUINSMA, 1978), entretanto o importe de
fotoassimilados pelo fruto ainda pode ser detectado com a coloração vermelha
incipiente, sendo insignificante no estádio maduro. Cerca de 10 dias do início
da alteração de coloração, forma-se uma camada de abscisão entre cálice e
fruto, com a formação de material pético, provavelmente decorrente da ação
de peroxidases e β-galactosidase (TABUCHI; WADA; ABAI, 1999), impedindo
o transporte de fotoassimilados para o fruto (MCCOLLUM; SKOK, 1960, apud
KINET; PEET, 1997).
O tamanho final do fruto correlaciona-se com vários parâmetros, dentre
os quais: o número de carpelos no ovário, o número de sementes, a posição
do fruto na planta e no cacho, a sequência de abertura no cacho e condições
ambientais durante a fase de crescimento (KINET; PEET, 1997).
O gineceu de tomates cultivados tem dois ou vários carpelos (KINET;
PEET, 1997). O número de lóculos é controlado pelo gene Lc (GIORDANO;
ARAGÃO; BOITEUX, 2003; RICK, 2005). Todavia, fatores ambientais e hormonais
exercem efeito sobre a estrutura do ovário, de forma que maior número de
lóculos ocorre sob temperaturas mais baixas (SAWHNEY, 1983) e quando GA3
é aplicada na fase de transição floral (SAWHNEY; DABBS, 1978).
A seqüência de abertura floral no cacho exerce influência no tamanho
do fruto, uma vez que frutos iniciados primeiro constituem drenos mais fortes

100
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

e crescem mais (BANGERTH; HO, 1984; KINET; PEET, 1997). Como no cacho
a sequência natural de abertura é da flor proximal para a distal, os frutos
proximais, via de regra, são maiores que os distais.
A quantidade de fotoassimilados disponíveis parece determinar o
tamanho final do fruto, uma vez que a produtividade relaciona-se de forma
positiva com a radiação solar recebida pela cultura, sendo que a insuficiência
de luz reduz o tamanho de fruto, a proporção de frutos de tamanho maior e
o acúmulo de açúcares nos frutos (MCAVOY et al., 1989; GUAN; JANES, 1991a,
1991b; JANES; MCAVOY, 1991; COCKSHULL; GRAVES; CAVE, 1992).
Apesar de a duração do desenvolvimento do fruto não ser afetada pelo
sombreamento, a exposição do fruto à radiação solar direta promove aumento
da temperatura do fruto e encurta o período de crescimento (HURD; GAVES,
1984). Portanto, a retirada de folhas, desde que não promova escaldadura de
frutos e redução da fonte, e/ou a escolha de cultivares com menor grau de
enfolhamento seria(m) interessante(s) em períodos frios e/ou no cultivo em
ambiente protegido.
O tamanho do fruto e a produtividade são, portanto, dependentes da
produção e distribuição de assimilados, que são controlados pelas atividades
da fonte, do dreno e pela vascularização (HO, 1979; KINET; PEET, 1997). Quando
a disponibilidade de assimilados é menor que a demanda, a competição
entre drenos torna-se o fator determinante para o controle da distribuição de
assimilados, existindo competição entre estruturas vegetativa e reprodutiva,
entre inflorescências e entre frutos dentro de um mesmo cacho (HO, 1979;
HAMMOND et al., 1984).

10. AMADURECIMENTO DO FRUTO

Quanto ao padrão respiratório, o tomate é classificado como fruto


climatérico, apresentando, durante uma fase definida do desenvolvimento,
elevação significativa nos níveis de CO2 e do etileno (GRIERSON; FRAY, 1994;
MORETTI et al., 2002; MOSTOFI et al., 2003).
A composição química dos frutos varia com o estádio de amadurecimento,
sendo que frutos imaturos apresentam elevada concentração de clorofila e do
glicoalcalóide tomatina, reduzindo-se de cerca de 500mg de α-tomatina(kg)-1 de
massa fresca de fruto quando imaturos para apenas 5mg(kg)-1 quando maduros
(FRIEDMAN, 2002; KOZUKUE; FRIEDEMAN, 2003). Diferentemente, os teores

101
Capítulo 4

de licopeno e de β-caroteno, baixos em frutos imaturos, são incrementados


no processo de amadurecimento (KOZUKUE; FRIDEMAN, 2003).
O tomate alcança o estádio maduro aos 35-60 dias após a antese,
variando de acordo com a cultivar e os fatores ambientais, especialmente
temperatura (MONSELISE; VARGA; BRUINSMA, 1978; PICHA, 1987; RUBATZKY;
YAMAGUCHI, 1997). Durante a fase final de crescimento lento do fruto,
ocorrem mudanças intensas na coloração, no sabor e no aroma, na textura
e na composição química, num processo denominado de amadurecimento
(KINET; PEET, 1997; RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997; FRIEDMAN, 2002).
Acompanhando as alterações na cor entre os estádios verde-imaturo
até o vermelho intenso, ocorrem alterações na composição química dos
frutos (Figura 2), como aumento no teor de frutose, seguido do teor de
glucose, em maior concentração, havendo incrementos lineares durante
o amadurecimento. O teor de sacarose permanece uniforme e em baixa
concentração; o teor de ácido cítrico permanece em alta concentração e
praticamente constante, enquanto a concentração de ácido málico declina
com o tempo (PICHA, 1987).
O acúmulo de açúcares e de compostos aromáticos na presença de ácidos
dá ao fruto o sabor e o aroma característicos (RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997;
MATA et al., 2000). Este balanço é uma característica complexa correlacionada
com os conteúdos de sólidos solúveis (SS) e de ácidos orgânicos (AO),
sendo que a relação SS/AO normalmente tem sido utilizada como índice de
maturidade (MATA et al., 2000).

Figura 2 - Alterações na composição de açúcares e de ácidos durante o amadureci-


mento do fruto do tomate (Adaptado de dados de PICHA, 1987).

102
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

A degradação de parede celular inicia-se pela ação de várias enzimas,


sendo a poligalacturonase (PG) a mais importante, resultando numa textura
macia (GRIERSON; FRAY, 1994; KRAMER; REDENBAUGH, 1994; KINET; PEET,
1997). A atividade da endo-β-mananase, enzima normalmente associada à
germinação de semente, também foi detectada em frutos no amadurecimento
(BOURGAULT et al., 2001). Todavia, há possibilidade do amaciamento dos
frutos dar-se também por mecanismo não enzimático, via ascorbato, cujo
incremento no apoplasto pode levar à produção elevada de radicais hidroxil
(OH), que promoveriam a cisão não enzimática de pectinas, contribuindo para
o amolecimento natural do fruto durante o amadurecimento (DUMVILLE; FRY,
2003).
A alteração de coloração de verde-maduro para amarelo, laranja e
vermelho é o resultado da transformação de cloroplastos em cromoplastos
com acúmulo de vários pigmentos, sendo licopeno e β-caroteno os mais
expressivos (KINET; PEET, 1997; RUBATZKY; YAMAGUCHI, 1997; KOZUKUE;
FRIEDEMAN, 2003).
O processo de amadurecimento consiste em reações de degradação e
de síntese simultâneas e coordenadas, tornando-se difícil a identificação do
fator causal. Contudo, o incremento da produção de etileno endógeno parece
ser o disparador do processo (KINET; PEET, 1997). O envolvimento do etileno
no processo é evidenciado também pelo estímulo do amadurecimento
promovido por sua aplicação exógena e da inibição do amadurecimento pela
aplicação de inibidores de sua síntese e ação (HOBSON et al., 1984; GRIERSON;
FRAY, 1994; MORETTI et al., 2002; MOSTOFI et al., 2003; MIR; CANOLES;
BEAUDRY, 2004).
O etileno modula a expressão de vários genes relacionados com o
amadurecimento em tomate (GRAY et al., 1992; GRIERSON; FRAY, 1994). A
própria inibição da produção de etileno com RNA antisenso da ACC-sintase
(1-aminociclopropeno-1-carboxilato sintase), enzima chave da biosíntese
de etileno, impediu que os frutos se tornassem vermelhos, amaciassem e
desenvolvessem o aroma (OELLER et al., 1991; GRIERSON; FRAY, 1994).
Várias mutações são conhecidas por exercerem efeito pleiotrópico
sobre o amadurecimento de frutos em tomate, sem afetar o crescimento e
o desenvolvimento do resto da planta (GRIERSON; FRAY, 1994). Usualmente,
as mutações afetam a coloração, o sabor e o aroma, a maciez ou firmeza e
atrasam o amadurecimento. Neste contexto, encontram-se o inibidor do

103
Capítulo 4

amadurecimento (rin), o não amadurecimento (nor), nunca maduro (Nr)


e amadurecimento lento ou alcobaça (alc) (GRIERSON; FRAY, 1994; KINET;
PEET, 1997; DELLA VECCHIA; KOCH, 2000; GIORDANO; ARAGÃO; BOITEUX,
2003; RICK, 2005). O fenótipo desses mutantes também não é afetado de
forma significativa pelo etileno exógeno, sugerindo serem insensíveis ao
etileno ou apresentarem falha em algum passo que regula o processo de
amadurecimento (LANAHAN et al., 1994; KINET; PEET, 1997).
A luz não tem efeito direto sobre o amadurecimento dos frutos, uma vez
que o amadurecimento pode ocorrer no escuro (KINET; PEET, 1997), apesar de
a luz acelerar o seu desenvolvimento e a sua intensidade da cor (RUBATZKY;
YAMAGUCHI, 1997). Todavia, o conteúdo de açúcares no fruto correlaciona-
se diretamente com a irradiância recebida pela planta durante o período de
crescimento.
Por outro lado, a temperatura exerce grande efeito no amadurecimento
dos frutos, sendo a faixa ótima para o processo entre 20-24°C (RUBATZKY;
YAMAGUCHI, 1997). Baixa temperatura reduz a taxa de amadurecimento e a
síntese de licopeno. A degradação de clorofila e a síntese de licopeno também
são inibidas em temperaturas acima de 30ºC (KINET; PEET, 1997; RUBATZKY;
YAMAGUCHI, 1997).
No outono/inverno, quando há queda da temperatura por vários dias
seguidos, e em regiões tropicais onde a temperatura é constantemente
elevada, é comum ocorrer esse tipo de transtorno, quanto ao controle do
amadurecimento dos frutos. Nas situações em que o período de temperaturas
baixas é prolongado, a aplicação exógena de etileno ou ethephon em frutos
verde-maduro colhidos é uma alternativa (KINET; PEET, 1997). Entretanto, não
é prática difundida entre os agricultores.

11. DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS

Distúrbios fisiológicos são desordens atribuídas à genética e a fatores


ambientais, cuja causa exata na maioria das vezes não é bem entendida,
talvez por envolver um conjunto de fatores. Em muitos dos casos, há dúvidas
ou não se sabe porquê cultivares diferem em suscetibilidade e porquê certos
fatores ambientais ou práticas culturais predispõem as plantas a determinada
desordem (KINET; PEET, 1997).
Dentre os distúrbios fisiológicos que maiores danos têm causado à

104
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

tomaticultura estão a abscisão de flores e frutos, a podridão estilar ou apical e


as rachaduras de frutos, as quais serão abordadas a seguir.

11.1 ABSCISÃO DE FLORES E DE FRUTOS

A abscisão de botões florais e de frutos jovens está ligada a qualquer


condição, ambiental ou de outra natureza, que promova a ruptura do curso
normal de desenvolvimento do pólen, do óvulo ou do zigoto (KINET; PEET,
1997). A taxa de aborto de flores ou de frutos representa o tributo que a
planta paga para habilmente suportar o subsequente desenvolvimento dos
frutos remanescentes de acordo com as condições a que está submetida. Se as
condições são favoráveis, a planta poderá reter mais frutos e, se desfavoráveis,
menos (STEPHENSON, 1981, apud KINET; PEET, 1997). Todavia, a produtividade
em tomate é dependente tanto do número como da massa individual de cada
fruto, ou seja, da frutificação e do desenvolvimento desses frutos (KINET; PEET,
1997).
Sob condições de estresse, pode ocorrer a queda de botões florais
mesmo antes da antese ou do fruto ainda jovem. Causas típicas da fraca
frutificação são temperaturas altas ou baixas, baixa umidade relativa do ar,
baixa irradiância e ventos fortes, uma vez que reduzem a produção de pólen
em quantidade e qualidade, degeneram o óvulo e causam má formação de
estruturas florais, deficiência de carboidratos e desbalanço de reguladores de
crescimento (KINET; PEET, 1997).
O suprimento de carboidratos é outro fator importante na abscisão do
botão floral e está relacionado com a irradiância recebida pela planta. Se ocorrer
baixa irradiância entre 5-12 dias após o surgimento do cacho, a inflorescência
pode ser comprometida (KINET; EL ALAOUI; HACHIMI, 1988; MCAVOY et al.,
1989). Alta temperatura pode reduzir a produção de assimilados em cultivares
sensíveis por estas apresentarem menor taxa fotossintética (BAR-TSUR;
RUDICH; BRAVDO, 1985), e menor taxa de exportação de fotoassimilados a
partir das folhas-fonte (DINAR; RUDICH; ZAMSKI, 1983). Alta temperatura,
juntamente com luz deficiente, é mais danosa à frutificação do que os fatores
isolados (CALVERT, 1965).
A produção de reguladores de crescimento em quantidade e/ou
proporções alteradas pode ser outro, se não o principal, fator da abscisão de
flores e frutos (KUO; TSAI,1984). As zonas de abscisão no pedicelo de flores,

105
Capítulo 4

assim como no “joelho” (pedúnculo) de frutos de variedades que não possuem


o gene jointless (j), originam-se da degradação da lamela média (MAO et al.,
2000), e, nessas zonas, genes da PG são abundantemente expressados, com a
atividade incrementada pelo etileno (HONG; SEXTON; TUCKER, 2000; MAO et
al., 2000) e inibida pela auxina ácido indol acético (HONG; SEXTON; TUCKER,
2000).
Em trabalhos experimentais, o efeito da alta temperatura foi contornado
com a aplicação exógena de auxina e GA3 (KUO; TSAI, 1984), e o da irradiância
insuficiente, pela aplicação de citocinina (LÉONARD et al., 1983).

11.2 PODRIDÃO ESTILAR (PE) OU APICAL DE FRUTOS

Os sintomas têm início nos frutos verdes com formação de áreas brancas
ou marrons no tecido locular. Eles progridem na placenta, no caso da PE
interna, ou no pericarpo na cicatriz floral, no caso da PE externa (ADAMS; HO,
1992). Externamente no fruto surge pequeno ponto encharcado na cicatriz
floral ou próximo dela. A mancha aumenta com o tempo, e os tecidos afetados
secam externamente, passando de marrom-claro a escuro, gradualmente
desenvolvendo uma mancha bem definida, deprimida e coriácea (KINET;
PEET, 1997).
Apesar de há cerca de 60 anos ser conhecida a relação da PE com a
deficiência de cálcio (FONTES, 2003), em função da baixa disponibilidade de
cálcio e/ou de água na zona do sistema radicular, somente recentemente foi
determinada a complexidade dos fatores genéticos, anatômicos e ambientais
que determina se um fruto irá ou não desenvolver a PE (KINET; PEET, 1997). A
causa básica da PE é a falta de coordenação entre o transporte de assimilados
via floema e de cálcio via xilema, durante a fase de rápida expansão das células
nos tecidos da porção distal da placenta, ou seja, a falta de interação entre
taxas de crescimento do fruto e de aquisição de cálcio pela porção distal do
fruto (ADAMS; HO, 1993).
Concomitantemente às alterações nos fatores do ambiente que
exercerem influência marcante na incidência da PE, a suscetibilidade genética
é a maior causa da desordem (ADAMS; HO, 1993). Assim, cultivares que
produzem frutos de tamanho grande apresentam taxa de expansão celular
rápida e inabilidade do sistema vascular em transportar cálcio rapidamente
para a porção distal dos frutos e são mais suscetíveis a PE (BROWN; HO, 1993;

106
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

HO et al., 1993).
Em termos anatômicos, a deficiência de cálcio na porção distal do tecido
locular acarreta o rompimento dos tecidos (KINET; PEET, 1997). A insuficiência
de cálcio nessa região pode ser devido a várias razões, sendo que, em todas as
situações que ocorreram a PE, houve baixa deposição de frações de pectato e
de fosfato de cálcio (MINAMIDE; HO, 1993). Outro fator importante é a redução
no número de feixes vasculares da porção proximal para a distal do fruto
(BELDA; HO, 1993), ocorrendo queda acentuada desses feixes durante as duas
semanas seguidas à antese, quando há rápida expansão do fruto (KINET; PEET,
1997). Portanto, quando o suprimento de cálcio para os frutos é reduzido por
fatores externos, a demanda em cálcio pelas paredes e membranas celulares
pode não ser atendida. Desta forma, o extravasamento do conteúdo celular,
decorrente da perda de semipermeabilidade da membrana celular ou pelo
afrouxamento da parede celular, pode ser a causa direta dos sintomas da PE
(KINET; PEET, 1997).
Como o cálcio é transportado somente nos vasos do xilema, quando a
absorção de água e a transpiração pela planta forem reduzidas, a absorção de
cálcio será afetada de forma proporcional (KINET; PEET, 1997). A perda de água
pela transpiração é incrementada com a diminuição da umidade relativa do ar
(maior déficit de pressão de vapor), especialmente quando acompanhada por
altas temperaturas e irradiância, provocando competição entre folhas e frutos
por água. Como a superfície transpirante das folhas é muito maior do que a
dos frutos, sob condições deficitárias de água e de cálcio, proporcionalmente,
mais cálcio irá para as folhas do que para os frutos, instalando-se a PE (ADAMS;
HO, 1993). Portanto, disponibilidade de água para o sistema radicular e
umidade relativa do ar são fatores diretamente relacionados com a PE (PILL;
LAMBETH, 1980; BANUELOS; OFFERMANN; SEIN, 1985). Altas temperatura e
radiação solar podem também atuar incrementando a taxa de crescimento
dos frutos, levando a maior demanda por cálcio para a síntese da plasmalema
devido à alta taxa de expansão celular (HO et al., 1993).
A salinidade restringe a absorção de água e, consequentemente, a
absorção total de cálcio pela planta e seu conteúdo nos frutos, acentuando
a PE (ADAMS; HO, 1992; 1993). Além disso, sob condições salinas, o
desenvolvimento de vasos do xilema dentro do fruto é restrito (BELDA; HO,
1993), decrescendo ainda mais a habilidade do fruto em transportar o cálcio
para a porção distal (KINET; PEET, 1997).

107
Capítulo 4

Outro aspecto importante é a competição desfavorável do íon Ca++


com relação aos íons NH4+ e K+ por sítios de absorção que, em consequência,
incrementam a PE (PILL; LAMBETH, 1980; KINET; PEET, 1997; FONTES, 2003),
mesmo em condições de boa umidade no solo.
Apesar de a PE, atualmente, estar relativamente bem entendida em
termos fisiológicos, na prática as medidas de controle precisam ser mais
eficazes (KINET; PEET, 1997; FONTES, 2003). Dentre essas, as seguintes medidas
preventivas devem ser empregadas: o suprimento de cálcio na zona radicular
deve ser adequado e a concentração de cátions competidores não deve ser
excessiva; o suprimento de água deve ser mantido de forma que permita
a absorção, ou seja, nem em excesso e nem restrita; a água deve ir para os
frutos, em oposição às folhas, prevenindo a transpiração excessiva; deve-se
escolher as cultivares menos suscetíveis à PE e tentar proporcionar taxa de
crescimento do fruto de forma constante e relativamente lenta, evitando-se o
desbaste acentuado de frutos no cacho (KINET; PEET, 1997).

11.3 RACHADURAS DE FRUTOS

Rachaduras de fruto podem ocorrer em tamanhos e profundidades


variadas, sendo mais comuns as concêntricas, que ocorrem em círculos ao
redor da cicatriz peduncular, e as radiais, que ocorrem a partir da cicatriz
peduncular. Todavia, ainda não é claro por que razão estas rachaduras ora
tomam uma forma, ora outra (KINET; PEET, 1997). Embora ligadas a fatores
genéticos e possivelmente anatômicos, fatores ambientais são os que mais
têm sido pesquisados quanto ao desenvolvimento das rachaduras.
A causa básica das rachaduras é o influxo rápido de solutos e de água
no fruto, normalmente na época do amadurecimento, quando a força e
a elasticidade da pele são reduzidas (PEET, 1992) e a pressão manométrica
dos tecidos do lóculo é incrementada (ALMEIDA; HUBER, 2001). Em frutos
verdes, as rachaduras podem ocorrer, mas são minúsculas, expandindo-se
posteriormente durante o amadurecimento.
Quanto aos fatores climáticos, a alta radiação solar aumenta a
temperatura do fruto, o teor de sólidos solúveis e a taxa de crescimento do
fruto. Concomitantemente, o incremento na temperatura do fruto aumenta
o volume dos gases no seu interior e a pressão hidrostática da polpa sobre a
pele, resultando em rachaduras (KINET; PEET, 1997).

108
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

As rachaduras em frutos de tomate são também dependentes das


alterações da umidade do solo e da taxa de crescimento da planta e dos
frutos. Abaixando a umidade do solo, tende-se a aumentar a rigidez da
pele do fruto, ocorrendo o inverso ao aumentar a umidade (KAMIMURA et
al., 1972, apud KINET; PEET, 1997). A água proveniente de chuva e/ou de
irrigação por aspersão também penetra no fruto pelas pequenas rachaduras,
aumentando o distúrbio (KINET; PEET, 1997). Isso é observado em frutos que
ficam escondidos sob a folhagem, quando essa é intensa e não permite que o
fluxo de ar promova secagem rápida da superfície dos frutos após chuvas ou
noites frias, havendo condensação do vapor d’água sobre a superfície.
Cultivares mais suscetíveis a rachaduras apresentam frutos de tamanho
grande, com baixa força de tensão e/ou extensibilidade da pele durante o
amadurecimento; apresentam o pericarpo fino, poucos frutos por planta e
frutos desprotegidos da radiação solar direta pelas folhas (PEET, 1992).
Práticas culturais que resultam em taxa de crescimento do fruto mais
lenta e uniforme, tal como manutenção da umidade do solo relativamente
mais baixa e constante, às vezes têm funcionado prevenindo rachaduras (PEET,
1992; PEET; WILLITS, 1995). Entretanto, em termos de campo, as rachaduras
são atribuídas a flutuações no suprimento de água, com ocorrência clássica
quando longo período de escassez de água é seguido por chuvas pesadas
(KINET; PEET, 1997).

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119
Capítulo 4

120
Fisiologia do desenvolvimento do tomateiro

Capítulo 5
CLIMA, ÉPOCA DE PLANTIO E CULTIVAR
Carlos Alberto Simões do Carmo
Leonardo Falqueto Caliman

1. INTRODUÇÃO

A característica mais marcante da olericultura é o fato de ser uma


atividade agroeconômica altamente intensiva e com ampla utilização de
tecnologias modernas, em constante mudança. Nos últimos anos, o tomate
foi a hortaliça que mais sofreu seleções e transformações tecnológicas em
atendimento ao mercado cada vez mais exigente quanto à qualidade e
sanidade dos frutos. O plantio de híbridos cada vez mais produtivos, associado
à intensificação na utilização de insumos, ao avanço em tecnologias de irriga-
ção e às menores perdas pós-colheita, está contribuindo significativamente
para o aumento da produtividade nacional da cultura.
O tomate (Solanum lycopersicum L.) é uma planta originária da

121
Capítulo 5

Cordilheira dos Andes, pertencente à família Solanaceae, com hábitos de


crescimento determinado ou indeterminado e que se adapta em diferentes
ambientes, sendo o clima o fator determinante mais ponderável para seu
crescimento e desenvolvimento.

2. CLIMA

A temperatura, à semelhança da luz, consiste no fator climático mais


importante para o cultivo do tomateiro, estabelecendo limites para cada
plantio e fases de seu crescimento, existindo a necessidade de uma estação
quente relativamente prolongada durante o ciclo vegetativo.
Dependendo da latitude e da altitude, os limites extremos de
temperatura para o desenvolvimento do tomateiro podem variar de -2° a 42°C,
sendo esses extremos fatais quando as temperaturas perduram por horas
ou mesmo por minutos. A resistência da planta a determinada temperatura
extrema, além do tempo de exposição, pode variar de acordo com a umidade
do ar, ventilação, luminosidade e nebulosidade (MARANCA, 1981). Segundo
esse autor, a temperatura exerce grande influência no desenvolvimento da
cultura, apresentando adaptação tolerável entre 5° e 36°C, regular entre 10°
e 26°C e ótimo entre 15° e 24°C, o que é corroborado por Filgueira (2000).
Guimarães et al. (2007) citam as temperaturas entre 21° e 25°C como as ideais
para o desenvolvimento do tomateiro, enquanto para a máxima assimilação
líquida a temperatura ótima varia de 25° a 30°C.
Silveira da Mota, apud Maranca (1981), acredita que o cultivo do
tomateiro seja mais influenciado pelas temperaturas noturnas do que pelas
diurnas, sendo a fecundação e o pegamento dos frutos favorecidos pelas
temperaturas noturnas em torno de 13° a 15°C. Temperaturas do ar acima de
37°C podem prejudicar a fertilização das flores e o vingamento dos frutos.
O processo de germinação das sementes difere com a variação da
temperatura, tanto na percentagem quanto no número de dias. Com base
na Tabela 1, indica-se a temperatura de 20° a 30°C como a mais adequada.
Outrossim, na fase produtiva, a temperatura do solo quando muito baixa
influencia negativamente a absorção de nutrientes e a maturação dos frutos.

122
Clima, época de plantio e cultivar

Tabela 1 - Influência da temperatura na germinação de sementes de tomate


Temperatura (oC) Germinação (%) Tempo (dias)
5 0 0
10 82 82,9
15 98 13,6
20 98 8,2
25 97 5,9
30 83 5,9
35 46 9,2
40 0 0
Fonte: Alvarenga (2004).

A coloração dos frutos também é sensivelmente afetada pela


temperatura. O licopeno, pigmento responsável pela coloração vermelho-
intensa, tem sua síntese favorecida na faixa de temperatura entre 24° e
28°C, enquanto temperaturas acima de 30°C inibem a formação do licoleno
e favorecem a síntese do caroteno, pigmento responsável pela coloração
amarelada e indesejável do fruto (MELO, apud SEDYAMA; FONTES; SILVA,
2003).
Segundo Alvarenga (2004), quando o tomateiro é submetido a
temperaturas abaixo de 10°C, ocorrem os seguintes danos às plantas:
• redução da taxa de crescimento;
• polinização deficiente, influenciando negativamente na fecundação;
• abortamento de flores e queda de frutos;
• paralisação da absorção de água e nutrientes;
• amarelecimento das folhas; e
• hastes duras, quebradiças e arroxeadas, devido ao acúmulo de
antocianina.

Por outro lado, temperaturas acima de 35°C ocasionam:


• redução na porcentagem de germinação;
• prejuízo na polinização;
• menor aproveitamento dos nutrientes;
• morte prematura das plântulas,
• menor desenvolvimento das plantas;
• queda de flores; e
• abortamento e queima de frutos.

123
Capítulo 5

A umidade do ar quando elevada e associada a temperaturas entre


18° e 25°C favorece o desenvolvimento da maioria das doenças fúngicas e
bacterianas que atacam a parte aérea das hortaliças (ZAMBOLIM; VALE;
COSTA, 1997). Em ambiente protegido, a baixa umidade do ar e a ocorrência
de elevadas temperaturas provocam aumento da taxa de respiração,
fechamento dos estômatos, redução da taxa de polinização, abortamento de
flores e, consequentemente, menor produção (ALVARENGA, 2004).
A radiação luminosa é um fator essencial para a fotossíntese, que
é o processo que gera energia bioquímica para a síntese de esqueletos de
carbono e outros compostos necessários para o crescimento e produção
das culturas, sendo os processos vitais da planta, como germinação,
fotoperiodismo, crescimento dos tecidos, floração, entre outros, diretamente
influenciados pela luz em diferentes intensidades e momentos ao longo do
desenvolvimento da planta (GUIMARÃES et al., 2007).
As folhas compõem o principal sistema de captação de luz, e a eficiência
dessa captação depende da planta e do ambiente. No tocante à arquitetura
da planta, o ângulo de inclinação das folhas e sua distribuição uniforme são
os principais fatores que influenciam a interceptação da radiação, podendo
ser alterada com a mudança do arranjo espacial e da densidade de plantio
(PAPADOPOULOS; PARARAJASIN-GHAM, apud GUIMARÃES et al., 2007).

3. ÉPOCA DE PLANTIO

O tomateiro é uma espécie indiferente ao fotoperíodo (FILGUEIRA,


2000), sendo cultivado tanto sob dias curtos, quanto sob dias longos, existindo
duas épocas distintas de plantio na região Sudeste brasileira: o “plantio de
verão”, realizado em regiões de clima frio e com altitudes superiores a 600-700
metros, e o “plantio de inverno”, realizado em regiões de clima mais quente e
com altitudes abaixo de 400 metros. Em regiões de altitudes intermediárias,
normalmente o cultivo pode ser realizado durante todo o ano.
No Espírito Santo, o “plantio de verão”, que corresponde a
aproximadamente 60% da área cultivada, tem início no mês de julho, com
o semeio das mudas em estufas, indo até dezembro-janeiro, e a colheita se
estende até os meses de abril-maio. Nesse período, as elevadas temperaturas
e umidades relativas do ar predispõem a planta a maiores ocorrências de
pragas e doenças, havendo a necessidade do incremento nas pulverizações e

124
Clima, época de plantio e cultivar

nos tratos culturais, o que acarreta aumento no custo de produção.


O “plantio de inverno” tem início nos meses de março-abril, e a colheita
ocorre até setembro-outubro. As temperaturas amenas e as baixas umidades
relativas desse período contribuem para melhor desenvolvimento da cultura,
com menor custo de produção e maior produtividade, porém ocorre de o
preço do produto normalmente ser menos compensador.

4. CULTIVARES

Existem evidências de que a introdução do tomateiro no Brasil tenha


ocorrido há mais de um século pela imigração europeia, principalmente
a portuguesa e a italiana, quando também foram iniciados os trabalhos de
melhoramento (ALVARENGA, 2004). A partir de 1940, a cultivar Santa Cruz,
possivelmente oriunda de cruzamento ocasional entre a variedade italiana
Rei Umberto e a japonesa Redonda (MARANCA, 1981), estabeleceu-se na
região Sul do país, originando muitos outros materiais, através de seleção ou
hibridação.
Os registros dos primeiros plantios comerciais no Estado do Espírito
Santo datam de 1950, no município de Santa Leopoldina e, posteriormente,
na região serrana de Castelo, mais especificamente na Fazenda Califórnia,
localizada em Caxixe Frio, atualmente pertencente ao município de Venda
Nova do Imigrante.
A planta do tomateiro é autógama, sendo as flores hermafroditas e com
baixa frequência de fecundação cruzada. Nas condições da região Sudeste
brasileira, normalmente a floração tem início aos 65-70 dias após a semeadura
e é afetada por vários fatores, tais como cultivar, temperatura, luminosidade,
nutrição mineral e pela relação entre outros órgãos da planta, além do efeito de
reguladores de crescimento (ALVARENGA, 2004). O fruto é do tipo climatério,
podendo completar a maturação mesmo após a colheita, e normalmente se
desenvolve no período de sete a nove semanas após a fecundação do óvulo.

4.1 Variedade, cultivar e híbrido

Variedade é um grupo de plantas com características distintas,


homogêneas e estáveis, com identidade própria, que a distingue das demais
(BORÉM, 2004). Os descritores varietais que conferem identidade às variedades

125
Capítulo 5

podem ser ciclo, cor das sementes, caracteres morfológicos, reação a doenças,
produção, padrões isoenzimáticos ou de ácidos nucleicos. Segundo o autor, o
termo cultivar é utilizado como sinônimo de variedade e foi cunhado a partir
da contração das palavras inglesas cultivated variety (variedade cultivada).
Os híbridos são resultantes do cruzamento entre indivíduos
geneticamente distintos, visando à utilização prática da heterose, e podem
ser obtidos de duas linhagens endogâmicas (P1 x P2), os denominados híbridos
simples; de três linhagens endogâmicas [(P1 x P2) x P3], os híbridos triplos; ou
de quatro linhagens endogâmicas [(P1 x P2) x (P3 x P4)], os híbridos duplos. Na
obtenção de híbridos, além das linhagens endogâmicas, podem ser utilizadas
variedades de polinização aberta, clones ou linhas puras (BORÉM, 2004).
Tratando-se de variedade, o produtor pode aproveitar as sementes
colhidas numa safra para plantá-las e reproduzi-las nos cultivos subsequentes,
uma vez que se trata de indivíduos homozigotos e homogêneos, cujas
características são estáveis ao longo das gerações, excetuando-se a ocorrência
de misturas de sementes. Borém (2004) afirma que uma característica
importante para a identificação de uma variedade é a sua estabilidade geração
após geração.
Para as sementes colhidas de híbridos não se recomenda o seu replantio,
pois estas perdem seu vigor geração após geração, descaracterizando a
cultivar. A geração híbrida (F1) é constituída por indivíduos heterozigotos
e homogêneos, maximizando todo o vigor híbrido (heterose). Contudo,
a próxima geração (F2), originária da autofecundação ou cruzamento de
indivíduos F1, apresentará segregação, ou seja, indivíduos com diferentes
constituições genotípicas e heterogêneos, alguns mantendo características
desejáveis, outros não, comprometendo a produtividade, entre outras
características, tais como a resistência às pragas e doenças inerentes à
cultivar.
A produção de tomates para consumo in natura no mercado brasileiro
sofreu grandes transformações tecnológicas nas últimas décadas, dentre
elas a utilização de sementes híbridas de variedades que produzem frutos
do tipo “longa vida” (DELLA VECCHIA; KOCH, 2000). A terminologia longa
vida é designada aos frutos com características de maior conservação
pós-colheita, ou seja, demoram mais tempo para completar o processo de
amadurecimento, ao contrário das variedades tradicionais, que possuem uma
curta vida pós-colheita. A Tabela 2 apresenta a vida média pós-colheita, em

126
Clima, época de plantio e cultivar

dias, dos diferentes tipos de tomates longa vida.

Tabela 2 - Vida média pós-colheita de diferentes tipos de tomates longa vida


Vida média pós-colheita (dias)
Tipos
Verão Inverno
Tradicional 4 7
Longa vida estrutural 8 – 12 14 – 21
Longa vida Alc 8 – 12 14 – 21
Longa vida Rin 12 – 16 21 – 28
Longa vida Nor 12 – 20 21 – 35
Longa vida Rin/Nor 16 – 20 28 – 35
Adaptado de Alvarenga (2004).

Segundo Della Vecchia e Koch (2000), existem três estratégias básicas


para o desenvolvimento de uma cultivar híbrida de tomate do tipo longa vida.
A primeira consiste na utilização de métodos convencionais de melhoramento
genético, quando se procura aumentar a frequência dos alelos favoráveis
para uma maior firmeza do pericarpo do fruto, mediante seleção fenotípica
de genótipos com essa característica. O resultado dessa metodologia são os
tomates do tipo “longa vida estrutural”. Longa vida do tipo estrutural é um
caráter genético quantitativo predominantemente controlado por genes
cuja ação é aditiva. A comercialização de tomates longa vida estrutural no
mercado nacional teve início em 1988 pela antiga Agroflora, atual SAKATA
Seed Sudamérica, e como exemplos dessas cultivares temos: Andréa, Débora
Max, Débora Plus, Diana, Monalisa, Séculus, Bônus, Kindyo, Rodas, Rocio,
Thaty, entre outras.
A segunda estratégia se baseia na hibridação com mutantes de
amadurecimento. A terminologia “mutantes de amadurecimento” significa
alelos mutantes simples com efeitos múltiplos, que afetam o amadurecimento
do fruto do tomateiro. Entre eles se destacam o alelo rin (ripening inhibitor ou
inibidor de amadurecimento), o alelo nor (non ripening ou não amadurece)
e o alelo alc (Alcobaça). Durante o processo de amadurecimento dos frutos
provenientes destes mutantes ocorrem sensíveis reduções na degradação
das paredes celulares das células do pericarpo, na síntese do etileno e de
carotenóides e na respiração do fruto, o que dificulta o amadurecimento e
proporciona uma vida pós-colheita mais prolongada. Os híbridos F1 Avansus,
Carmen, Densus, Giuliana, Graziela, Lenor LSL, Sheila, Netta, Nemo-Netta,

127
Capítulo 5

Raísa, Styllus, Titan, Tyler e Vitara são exemplos de materiais comercializados


no mercado brasileiro.
Na terceira estratégia, trabalha-se com técnicas moleculares para o
desenvolvimento de cultivares transgênicas. No Brasil, ainda não existe a
comercialização de tomates transgênicos.
Nos Estados Unidos, segundo maior produtor mundial de tomate,
só ultrapassado pela China, tem crescido a aceitação de tomates de
tamanhos muito grandes (Beefsteak tomatoes) ou extremamente pequenos
(Grape tomatoes) e com coloração e formatos diferenciados (CARVALHO;
PAGLIUSA, 2007). Segundo esses autores, o desenvolvimento de variedades
que possibilitam a comercialização dos frutos ainda presos aos cachos
(Tomatoes-on-the-vine/TOVs) está se constituindo no grande marketing de
comercialização, devido às características desses materiais apresentarem
cheiro mais ativo de tomate, que funciona como indicativo de intenso sabor,
e tempo de prateleira superior aos longa vida tipo ‘Caqui’.
O agrupamento das cultivares e híbridos de tomate destinados ao
consumo in natura é polêmico e regionalizado. A norma de classificação de
tomate elaborada pelo Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp
(CQH/CEAGESP, 2003) define os grupos Caqui, Saladete, Santa Cruz, Italiano
e Cereja através da relação comprimento e diâmetro equatorial, a exceção
do grupo Cereja, que se baseia apenas no diâmetro equatorial. Alvarenga
(2004) também classifica os tomates, didaticamente, em cinco grupos: Santa
Cruz, Salada ou Caqui, Saladinha, Saladete ou Italiano e Cereja, sendo esta a
classificação utilizada por muitos melhoristas. Fiorini et al., (2007) incluem nessa
classificação o grupo ‘Holandês’, que agrupam os tomates comercializados em
cachos. O nome holandês é atribuído à Holanda, um dos primeiros países a
fornecer sementes desse grupo para o Brasil.
As principais características desses grupos são descritas a seguir.

4.1.1 Grupo Santa Cruz

É o grupo de tomates mais conhecido e que apresentam plantas


vigorosas, de crescimento indeterminado e frutos oblongos, bi ou triloculares,
com peso variando de 80 a 200 gramas. Enquadram-se nesse grupo as
cultivares: Avansus, Débora, Débora Plus, Bonus, Bravo, Clarisse, Colibri,
Delícia, Delta, Enduro, Kada Gigante, Kindyo, Kombat, Santa Clara 5800, Santa

128
Clima, época de plantio e cultivar

Clara VF 2000, Santa Clara Kada, Santa Fé, Santamélia, entre outras.

4.1.2 Grupo Caqui

Tomates Caqui, também denominados de tomatões, apresentam plantas


de crescimentos indeterminado ou determinado e frutos graúdos, com peso
entre 250 e 500g; pluriloculares, com quatro ou mais lóculos; formato globular
achatado, com diâmetro transversal maior que o longitudinal, e coloração
vermelha ou rosada. Normalmente, tomates desse grupo são pouco plantados
no Espírito Santo, e exemplos desses materiais são Accord, Cynthia, Nunhems,
Antilhas, Gisele, Flórida 91, Rocio, Vitara NF1, etc.

4.1.3 Grupo Salada

Esse grupo apresenta tomates com as mesmas características


agronômicas do grupo Caqui, diferindo apenas no tamanho dos frutos que
pesam entre 150 e 250 g. As cultivares mais comercializadas são as seguintes:
Alambra, Aquarius, Carmem, Dominador, Express, Express Gold, Fanny, Forty,
Giovanna, Império, Infinity, Itapitã, Leila, Liliane, Lumi, Majestade, Netta,
Nemo-Netta, Paron, Paty, Raisa N, Saladinha, Saladinha Plus, Serato F1, Styllus,
Thaty, Thomas, Topázio, Ty-Fanny.

4.1.4 Grupo Saladete ou Italiano

Os tomates deste grupo foram recentemente introduzidos para consumo


in natura, tendo obtido grande aceitação por parte dos consumidores.
Apresentam hábito de crescimento indeterminado ou determinado e frutos
compridos, em média de 7 a 10 cm e diâmetros entre 3 a 5 cm, com polpas
espessas e de coloração vermelha intensa, muito firmes e saborosos. Exemplos
dessas cultivares: Andréa, Giuliana, IPA-6, Júpter, Netuno, Pizzadoro, Rio
Grande HT, San Vito, Saturno, Supera, Toro, Vênus, Zuley.

4.1.5 Grupo Cereja

A principal característica do grupo Cereja é o tamanho reduzido dos


frutos, cujo diâmetro transversal é inferior a 4 cm e peso entre 15 e 30 g. A

129
Capítulo 5

comercialização é realizada em bandejas ou em pencas, contendo em média


12 a 18 frutos. Os principais materiais genéticos são ‘Carolina’, ‘Cascade’,
‘Durino’, ‘Cherry Tomato’, ‘Cristina 9173’, ‘Mascot’, ‘Pepe’, ‘Piccolo’, ‘Pori’, ‘Sweet
Million’, ‘Sweet Plus’, ‘Super san Cherry’.

4.1.6 Grupo Holandês (tipo cacho ou penca)

Neste grupo estão os tomates comercializados em cachos, tais como:


‘Amarelo Gold Boss’, Cocktail Red Vine’, ‘Red Taste’ (FIORINI et al., 2007).
Destaca-se que algumas variedades apresentam produtividades
superiores aos híbridos, contudo os híbridos sobressaem em muitos casos na
precocidade de produção e na maior resistência às pragas.
Segundo Fiorini et al., (2007), a importância do plantio de materiais
genéticos (variedades e híbridos) resistentes às pragas abrange aspectos
econômico, ambiental e social, uma vez que contribui para o aumento da
produtividade e redução do custo de produção; menor utilização de defensivos
agrícolas, proporcionando menor contaminação dos aplicadores, do solo
e dos mananciais hídricos; e redução dos efeitos residuais nos alimentos,
implicando diretamente em maior economia, qualidade e segurança do
alimento. Entretanto, a garantia de resistência é dada quanto se especifica
a praga ou a espécie viral nos rótulos das embalagens. Informações simples
como “resistente a vírus”, “resistente à vira-cabeça”, “resistente ao mosaico”,
entre outras, podem induzir à compra de sementes inadequadas.

5. referências

ALVARENGA, M. A. R. Tomate: produção em campo, em casa-de-vegetação e


em hidroponia. Lavras,MG: UFLA, 2004. 400p.

BORÉM, A. Cultivares e Genes: entidades distintas e essenciais à agricultura.


Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, n. 32, p. 61-63, jan-jun, 2004.

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crescer globalmente. Hortifruti Brasil, São Paulo, Ano 6, n. 58, 2007, 8p.
(Edição especial).

DELLA VECCHIA, P.T.; KOCH, P.S. Tomates longa vida: o que são, como foram
desenvolvidos? Horticultura Brasileira., v.18, n.1, p.3-4, mar. 2000.

130
Clima, época de plantio e cultivar

FILGUEIRA, F.A.R. Solanáceas II - Tomate: a hortaliça cosmopolita. In:


Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e
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84.

GUIMARÃES, M. de A.; CALIMAN, F.R.B.; SILVA, D.J.H. da; FLORES, M.P.;


ELSAYED, A.Y.A.M. Exigências climáticas da cultura do tomateiro. In: SILVA,
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MARANCA, G. Tomate: variedades, cultivo, pragas e doenças,


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Classificação do Tomate. Centro de Qualidade em Horticultura CQH/
CEAGESP. 2003. São Paulo. (CQH. Documento, 26).

SEDIYAMA, M. A. N.; FONTES, P. C. R.; SILVA, D. J. H. da. Práticas culturais


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n.219, 2003. p.19-25,

ZAMBOLIM, L; VALE, F. X. R.; COSTA, H. Controle integrado de doenças de


hortaliças. Viçosa,MG: UFV, 1997. p.122.

131
Capítulo 5

132
Clima, época de plantio e cultivar

Capítulo 6
PRÁTICAS CULTURAIS
Maria Elizabete Oliveira Abaurre

1. INTRODUÇÃO

A crescente exigência por hortaliças de alta qualidade e ofertadas


durante o ano todo tem contribuído para o investimento em novos sistemas
de cultivo que permitam produção adaptada a diferentes regiões e condições
adversas do ambiente.
A partir da década de 90, a tomaticultura nacional voltada à
comercialização do produto fresco passou por diversas transformações. Novas
variedades foram introduzidas no mercado, novas tecnologias de produção
foram desenvolvidas, o perfil do produtor mudou e uma nova estrutura de
comercialização surgiu (SILVA; MARTINI, 2006).
Em função das exigências do mercado e de um consumidor cada dia
mais atento, o tomaticultor tem procurado se adequar a este novo cenário,

133
Capítulo 6

buscando alcançar maior produtividade, regularidade na oferta e melhoria


da qualidade do produto. Os produtores de tomate vêm se modernizando,
tentando compatibilizar o uso de novas tecnologias com as condições de
ambientes mais favoráveis à cultura.
Sistema de produção é definido como um conjunto de práticas ou
operações indicadas a uma determinada cultura, com o objetivo de explorar ao
máximo o seu potencial produtivo e com menor custo possível (ALVARENGA,
2004).
Existe uma grande diversidade de sistemas de produção que variam de
acordo com a região, com o poder aquisitivo do produtor, com a classificação
quanto ao grupo a que pertence o tomateiro, com o hábito de crescimento e
com a cultivar. Estes sistemas podem ainda ser subdivididos em sistema a céu
aberto e sistema em ambiente protegido. No Brasil, o sistema mais utilizado é
a céu aberto, sendo que o sistema em ambiente protegido vem apresentando
um incremento na área plantada.
O tomateiro pode ser cultivado nas mais variadas condições de clima,
sendo plantado na maioria das regiões brasileiras, desde que não haja excesso
de chuvas, de temperaturas e umidade relativa e nem falta de luminosidade.
A produção do tomateiro é determinada por diversos fatores: o clima, as
cultivares, os híbridos melhores e mais bem adaptados, a produção de mudas
adequadas, as técnicas de plantio e a rotação de culturas. O uso de práticas
culturais adequadas, aliado às necessidades da cultivar, permite a exploração
do potencial produtivo e contribui para a obtenção de frutos de melhor
qualidade (SEDIYAMA; FONTES; SILVA, 2003).
Outros fatores importantes a ressaltar foram as mudanças de hábito do
consumidor a partir da década de 90. Os consumidores estão mais informados,
e na hora da compra exigem melhor qualidade, características nutricionais e
segurança do alimento, principalmente do destinado ao consumo in natura.
Geralmente o consumidor de tomate leva em consideração a aparência dos
frutos na hora da escolha, em particular o tamanho, a firmeza, a uniformidade
de cor e a ausência de defeitos, como sendo estes os requisitos que determinam
a qualidade dos frutos. Entretanto, já se questiona qual seria, na realidade,
este conceito de qualidade.
Apesar de já existirem nichos de mercado que valorizam outros
fatores, como a redução ou não utilização de agrotóxicos, a produção de
forma mais sustentável, levando em consideração não só a obtenção de altas

134
Práticas culturais

produtividades, mas também os fatores socioambientais, para a maior parcela


de consumidores, o preço ainda é o fator decisivo na hora da compra.
É de fundamental importância que o produtor forme sua lavoura com
um “mix” de cultivares, visando maior produtividade, menor custo, extensão
da época de colheita, maior ou menor precocidade, resistência etc. (SILVA;
MARTINI, 2006).

2. LOCAL DE PLANTIO

Quando da escolha dos locais para implantação da lavoura de tomate,


devem ser observados os seguintes aspectos: facilidade de acesso, boa
drenagem, água de qualidade e possibilidade de serem irrigados.
Atenção especial deve ser dada às áreas de declive acentuado, em regiões
montanhosas, onde as práticas de preparo do solo devem ser adaptadas às
condições locais. Grandes quantidades de solo são perdidas (arrastadas pela
chuva) em função da erosão, causada principalmente pelo processo de aração
que, na maioria dos casos, é realizado “morro abaixo”. A utilização de faixas
em contorno, com a finalidade de formar barreiras à passagem da água, seria
recomendada. Como opção poderia ser usado o capim cidreira, com as faixas
distanciadas de acordo com a declividade da área.
O solo argiloso, demasiadamente úmido, com pouca aeração, deve ser
evitado, uma vez que favorece o desenvolvimento de doenças. Normalmente,
recomendam-se solos com textura areno-argilosos ou argilo-arenosos, ricos
em matéria orgânica, com pH entre 5,5 e 6,8 e com saturação por bases entre
70 e 80%.
O cultivo repetido de uma mesma espécie vegetal pode aumentar a
incidência de doenças e pragas, já que os organismos fitopatogênicos podem
permanecer nos restos culturais. Em função disto, é recomendável a rotação
de culturas, o arranquio e queima ou enterrio de tomateiros velhos, fora da
área de plantio.
Outro fator importante é o planejamento da época de plantio, levando-
se em conta a variação das safras e dos preços impostos pelo mercado. A
obtenção de uma boa produção, com excelente qualidade de frutos, torna-
se insustentável se o mercado não pagar preços que cubram os custos de
produção atuais e de plantios futuros, sem falar na renda do agricultor e sua
família (CAPECHE et al., 1998).

135
Capítulo 6

3. PREPARO DO SOLO

Durante as operações de preparo do solo, devem ser observadas as


práticas conservacionistas e planejar cuidadosamente o sulcamento, tendo
em vista os problemas de irrigação por infiltração, levando-se em consideração
a água disponível e a declividade do terreno.
Os sulcos de plantio deverão ser marcados em nível ou com gradiente,
dependendo do sistema de irrigação a ser adotado. Quando o sistema de
irrigação for por infiltração por sulco, estes deverão ser marcados com gradiente
de 0,5 a 1,5%, para possibilitar um bom molhamento do solo e escoamento
da água. Neste caso, a área deve ser dividida em talhões, com comprimento
máximo do sulco de 15 metros, para facilitar o manejo da irrigação, e com
cerca de 30 a 40 fileiras, para facilitar o manejo geral da cultura, por ocasião
dos tratos culturais e da colheita. Quando o sistema de irrigação a ser usado
for por gotejamento, os sulcos deverão ser marcados em nível. O tamanho
dos talhões vai depender da declividade do terreno, do manejo adotado pelo
produtor e das características do tubo gotejador utilizado. A abertura dos
sulcos deve ser feita a uma profundidade de 20 a 25 cm, podendo ser usados
os sulcadores tradicionais, do tipo bico de pato (ALVARENGA, 2004).
Em condições de campo, recomenda-se a realização de uma ou duas
arações, sendo a primeira cerca de 60 a 30 dias antes do plantio, a uma
profundidade de 30 a 35 cm, e a segunda com aproximadamente 15 dias de
antecedência, sendo esta com 20 a 25 cm de profundidade. Em função da
declividade do terreno, a aração pode ser feita com tração animal ou mecanizada,
com arado de disco ou com grade aradora. Caso haja necessidade de correção
do pH, a aplicação do calcário deve ser feita nessa operação. Esta correção do
solo deve ser feita de acordo com os resultados da análise. O calcário deve ser
incorporado uniformemente em toda a área, com antecedência mínima de
60 dias. Também em condições de campo; normalmente duas gradagens são
suficientes. A primeira deve ser feita logo após a aração ou após a calagem,
para incorporar o calcário, e a segunda, à véspera do transplante, também
com o objetivo de eliminar as ervas invasoras.
Para o cultivo em casa-de-vegeteção, o preparo do solo pode ser feito
manualmente, com tração animal ou com microtratores. Em função do uso
intensivo do solo nesses ambientes, pode haver a formação de uma camada
de solo compactada, abaixo da camada arável. Essa camada compactada

136
Práticas culturais

prejudica o desenvolvimento do sistema radicular do tomateiro, favorece


o aumento da concentração salina do solo e prejudica a drenagem. Nestes
casos, o uso de subsoladores é indispensável como operação de preparo do
solo.

4. PRODUÇÃO DE MUDAS

No Centro-Sul do país, o tomateiro é propagado através da utilização


de sementes, podendo a cultura ser implantada por diferentes métodos:
semeadura direta, semeadura em sementeira, semeadura e repicagem,
semeadura em copinho e semeadura em bandeja.
A semeadura em linha diretamente sobre o terreno, por meio de
semeadeiras, tem sido utilizada em culturas rasteiras com finalidade industrial.
Para a produção de tomate para consumo in natura, até há alguns anos, os
métodos tradicionais mais utilizados eram o da sementeira e/ou copinho de
jornal.
Atualmente, o mais comum é a utilização de bandejas de isopor,
dispostas em canteiros suspensos, que originam plantas de alta qualidade
e reduz o tempo de produção, apesar do custo fixo mais alto, uma vez que
associado a esta técnica há o uso de casa de vegetação com proteção à
entrada de insetos vetores de vírus (Figura 1).

A B
Figura 1 - Estufas de produção com sistema de irrigação (A); mudas em ponto de
transplantio (B).

Para produção de mudas de tomate, são mais utilizadas as bandejas


de isopor com 128 células, sendo que estas poderão ser reutilizadas desde
que sejam adequadamente esterilizadas. Deve-se proceder à lavagem e à

137
Capítulo 6

desinfestação com hipoclorito de sódio (água sanitária a 2-3%), mergulhando-


as nesta solução por 15 minutos e, após esse período, expô-las ao sol.
A produção de mudas em recipientes apresenta algumas vantagens em
relação à sementeira, pelo fato de não haver rompimento de raízes por ocasião
do transplante. Verifica-se uma diminuição da incidência de várias doenças,
principalmente bacterianas e fúngicas, e o aumento do índice de pegamento
a campo, que se aproxima de 100%. Outra vantagem é em relação ao gasto
com sementes que onera em muito o custo de produção, principalmente
quando são utilizados os híbridos. Normalmente em sementeira gastam-se
em média 300 g de sementes para a produção de mudas, suficientes para
plantar um hectare, enquanto na produção de mudas em bandejas gastam-se
80 a 100 g (SEDIYAMA; FONTES; SILVA, 2003).
Em algumas regiões produtoras, já existem produtores ou firmas
especializadas na produção de mudas e, muitas vezes, é mais econômico
comprá-las prontas do que investir em estrutura e mão de obra para a sua
produção. Entretanto, alguns aspectos devem ser observados tanto com
relação à compra de mudas quanto a de sementes. As sementes devem ser
adquiridas de fornecedores idôneos, em embalagens fechadas, nas quais
se podem verificar o material genético, o poder germinativo e o prazo de
validade. Em relação às mudas, devem ser observados a qualidade, o estado
nutricional, o estágio de desenvolvimento e a cultivar ou híbrido desejado.
Para a germinação das sementes de tomate, a temperatura deve estar
entre 18°C e 29°C e a umidade do solo, a aproximadamente 80% da capacidade
de campo. O excesso ou a escassez de água é prejudicial à germinação e
ao crescimento das plântulas. Além da adequação dos fatores ambientais,
importantes na germinação das sementes, as mudas de tomate devem ser
produzidas com o mínimo possível de contato manual, de contato com insetos
e isentos de lesões nas raízes, para evitar a transmissão de doenças causadas,
principalmente, por vírus Tomato mosaic vírus (TMV) e bactérias (SEDIYAMA;
FONTES; SILVA, 2003).

5. SUBSTRATO

Substrato é uma mistura de materiais inerte e orgânico, normalmente


enriquecida com nutrientes minerais. A escolha do substrato exige que se
leve em consideração a capacidade de retenção de nutrientes e umidade,

138
Práticas culturais

boa aeração, baixa resistência à penetração das raízes e boa resistência à


perda de estrutura (SILVA JUNIOR; VISCONTI, 1991). Diferentes materiais
e proporções podem ser combinados para a composição do substrato.
Normalmente utiliza-se a mistura de dois ou mais dos seguintes compostos:
perlita, vermiculita, casca de pinus, turfa e outros compostos orgânicos.
De acordo com Silva Junior e Visconti (1991), a adição de cama de aviário
à terra favoreceu o desenvolvimento das mudas de tomate, sendo que a
melhor combinação ocorreu quando o substrato era composto de 70% de
terra e 30% de cama de aviário, proporcionando mudas de maior altura,
número de folhas e espessura de caule. A prática tem demonstrado que a
mistura de casca de arroz carbonizado ao substrato, na proporção de 1:1, tem
melhorado sensivelmente o enraizamento das plântulas. Deve-se observar a
condutividade elétrica do substrato, uma vez que as sementes de tomate são
muito sensíveis à concentração salina elevada, a qual não deve ultrapassar a
1,5 dS/m (ALVARENGA, 2004).
Caso o produtor decida por preparar o substrato na propriedade, este
deverá ser desinfestado 15 dias antes do preenchimento das bandejas. A
desinfestação poderá ser obtida com aplicação de agentes físicos e químicos.
O processo químico apresenta restrições quanto a resíduos, fitotoxicidade,
custos e segurança. No processo físico, pode-se utilizar diferentes métodos
para obtenção de calor necessário à esterilização. A pasteurização solar ou
solarização com utilização de plástico (polietileno) e radiação solar é um dos
métodos físicos mais econômicos e seguros para a esterilização de substrato.
Este método visa ao controle de patógenos, pragas e plantas daninhas por
meio da elevação da temperatura, obtida a partir da energia solar, com a
aplicação de cobertura plástica fina e transparente sobre o solo úmido.

6. TRANSPLANTIO

As mudas devem ser transplantadas para o local definitivo quando


apresentarem de quatro a seis folhas definitivas, sem estiolamento, e
estiverem bem desenvolvidas e enraizadas. Isso ocorre entre 20 a 30 dias
após a semeadura, dependendo das condições climáticas (temperatura
e luminosidade) e do tamanho da célula da bandeja de isopor. O estado
de sanidade das mudas deve ser observado, devendo o caule e as folhas
apresentar coloração verde característica, com aspecto firme.

139
Capítulo 6

7. ESPAÇAMENTO

A definição do espaçamento entre as plantas do tomateiro vai depender


das características da cultivar utilizada, do sistema de condução da planta, da
topografia da área e da época do ano em que for realizado o plantio. O ideal
é estabelecer um espaçamento que possibilite maximizar a produção, sem
prejuízo ao crescimento do fruto e ao manejo fitossanitário. O aumento do
número de plantas por unidade de área acarreta uma diminuição da entrada
de luz entre as plantas e da ventilação, favorecendo a formação de um
microclima que facilita a disseminação de patógenos, dificultando o controle
de doenças. Um dos fatores de maior influência no desenvolvimento das
plantas e na produtividade é a densidade de plantio, ou seja, a população de
plantas por área. O espaçamento adequado entre plantas e linhas é importante
para otimização do uso da área e prevenção de doenças. Quando se eleva o
número de plantas por unidade de área, tem-se acréscimo na produtividade
e, até certo ponto, não prejudica o tamanho dos frutos. Entretanto, população
acima daquela considerada adequada provoca sombreamento das folhas,
menor disponibilidade de luz, maior umidade, e menor ventilação, ficando
as plantas mais suscetíveis ao ataque de doenças (SEDIYAMA; FONTES; SILVA,
2003).
Em condições de campo, são sugeridos espaçamentos mais flexíveis,
geralmente entre 1,00 e 1,30 m entre fileiras e 0,50 a 0,70 m entre plantas.
Para tomate do grupo Santa Cruz, o espaçamento mais utilizado é 1,00 m
entre linhas e 0,50 a 0,60 m entre plantas, conduzidas com duas hastes e para
plantio de inverno e verão, respectivamente. No grupo Salada, utiliza-se 1,20 m
entre linhas e 0,60 a 0,70 m entre plantas, para plantio de inverno e verão,
respectivamente.
Em condições de casa de vegetação, para cultivares de crescimento
indeterminado do grupo Santa Cruz, Salada, Saladinha ou Saladete, sugere-
se espaçamento de 1,00 a 1,10 m entre fileiras por 0,30 a 0,35 m entre plantas,
para plantio em fileiras simples, conduzidas com uma única haste por planta,
ou com 0,40 a 0,50 m entre plantas, quando conduzidas com duas hastes por
planta.
Para cultivares do grupo Cereja, sugerem-se os espaçamentos de 1,0 a
1,10 m entre fileiras por 0,50 a 0,70 m entre plantas, para plantio em fileiras
simples, podendo a planta ser conduzida com até 3 a 4 hastes.

140
Práticas culturais

8. TUTORAMENTO

O tomateiro na sua forma natural apresenta desenvolvimento rasteiro,


uma vez que o caule não suporta o peso acrescido de folhas e frutos,
necessitando ser tutorado, para que os frutos de tomate para mesa não se
desenvolvam em contato com o solo.
O tutoramento é feito para as culturas intensivas e consiste em se
colocar um suporte para cada planta, de modo que a mesma não cresça sobre
o solo.
Como vantagens do tutoramento podemos citar: maior densidade
de plantas por área, maior facilidade para a realização dos tratos culturais,
como por exemplo o controle fitossanitário e a colheita e consequentemente
obter frutos de melhor aparência. Como desvantagens teríamos maior gasto
com mão de obra e materiais, como arames, estacas e mourões, e maior
possibilidade de transmissão de doenças em função do uso de estacas
contaminadas (MAKISHIMA, 1964). A reutilização dessas estacas somente
será recomendável após ser precedida de uma desinfecção com hipoclorito
de sódio (água sanitária a 2%-3%), com o objetivo de evitar a propagação de
patógenos.
Outro fator que vem dificultando a adoção desta prática é a escassez de
matéria-prima para a confecção das estacas (taquara ou hastes de bambu). No
Espírito Santo, os tomaticultores estão adquirindo estes materiais no Estado
de Minas Gerais, o que onera ainda mais o custo de produção.
São usados três sistemas de tutoramento: cruzado (“v” invertido),
cruzado alternado e vertical usando taquaras (ou hastes de bambu). O sistema
vertical também pode ser tutorado com fitilho. A tendência é predominar o
sistema vertical por ser menos favorável às doenças. As plantas conduzidas na
vertical são mais sadias, porque recebem mais aeração e insolação, embora a
estrutura da lavoura deva ser mais reforçada para evitar a queda das fitas, o
que eleva os custos e aumenta a mão de obra. Outra vantagem deste sistema
é facilitar o manejo de doenças, porque mantém as folhas com a superfície
molhada por menos tempo, e as pulverizações são feitas dos dois lados da
planta (Figura 2).

141
Capítulo 6

A B
Figura 2 - Condução no sistema vertical com bambu (A); detalhe da condução da
planta (B).

No sistema cruzado, é mais fácil montar a estrutura da lavoura com


menos mão de obra e menor custo. Este sistema facilita a realização da
colheita, porém aumenta a dificuldade no manejo de doenças, porque,
além de criar um microclima favorável a elas, dentro das filas cruzadas,
dificulta a pulverização da parte interna. Os frutos ficam mais expostos ao
sol, possibilitando queimaduras. Além disso, aumenta-se a quantidade de fita
gotejadora em função do espaçamento (EPAGRI, 2004)
À medida que as plantas vão crescendo, elas devem ser amarradas aos
suportes. Os amarrios podem ser feitos semanalmente ou a cada 15 dias,
dependendo da taxa de crescimento da planta. Este pode ser feito com fibra
natural ou com fitilho de plástico. O amarrio deve ser feito em forma de um
“oito” e não muito apertado para evitar um possível estrangulamento do caule
da planta, à medida que ele se desenvolve.
Além do tutoramento vertical com bambu, existe o método de
tutoramento vertical com fitilho (Figura 3). O sistema de condução das
plantas de tomate através de fitas plásticas vem sendo utilizado em vários
estados do Brasil e desponta como uma excelente alternativa para aumentar
o rendimento da cultura por área, reduzir os custos de produção, aumentar a
eficiência no controle de pragas e doenças, melhorar a qualidade dos frutos e
reduzir os riscos de degradação ambiental (CAPECHE et al., 1998).

142
Práticas culturais

A B
Figura 3 - Sistema de condução vertical com fitilhos vista geral (A) e detalhe da
condução da planta (B).

Este tipo de condução consiste em fincar no solo um mourão de 15 a


20 cm de diâmetro e 2,30 m de comprimento, na profundidade de 40 cm, a
intervalos de 4 a 5 m, ao longo da linha de plantio. São esticados dois fios de
arame nesses mourões. No topo, coloca-se arame nº 12 e, a 5 cm do solo, arame
nº 14. A cada duas ou três plantas, deve-se colocar uma estaca de bambu
para sustentar o arame superior, evitando-se sua curvatura acentuada. Deve-
se amarrar o fitilho de plástico aos dois arames, no mesmo espaçamento do
tomateiro.
Após o plantio e quando as plantas estiverem com 25 a 30 cm de altura,
inicia-se o tutoramento. É feito um laço folgado com a fita no colo (base)
da planta, enrolando-a ao redor da mesma. A outra extremidade da fita é
amarrada ao arame, devendo-se ter o cuidado de deixar uma sobra. Com o
crescimento da planta, a fita é enrolada em torno do seu caule, permitindo
sua sustentação. Dependendo da época do ano e do peso dos frutos, pode
haver rompimento do fitilho, se não for de boa qualidade (SEDIYAMA; FONTES;
SILVA, 2003).
Para híbridos de crescimento determinado e semideterminado,
normalmente conduzidos com mais de uma haste por planta, o sistema de
arames paralelos é muito aceito. Fios de arame são passados no sentido do
comprimento da linha de plantio, paralelos, distantes cerca de 30 cm um do
outro até a altura desejada (normalmente 1,50 a 1,60 m de altura). As plantas são
conduzidas nesses arames até a parte superior do sistema (MORAES, 1997).

143
Capítulo 6

9. AMONTOA

A amontoa é uma prática que consiste em chegar terra junto ao colo


da planta, favorecendo a emissão de raízes adventícias na região da base
do caule, especialmente quando efetuada juntamente com a primeira
adubação em cobertura, normalmente feita com N, P, e K, entre 15 e 20
dias após o transplantio. Estes nutrientes, juntamente com a terra aderida
à haste, favorecem o enraizamento da planta, obtendo-se um segundo
sistema radicular que propicia uma maior e melhor absorção de nutrientes.
O tutoramento, assim como a aplicação da primeira adubação em cobertura,
deve preceder à amontoa.

10. DESBROTA

Ao crescer, o tomateiro emite brotos nas axilas das folhas que devem
ser eliminados. A operação de desbrota é feita paralelamente à amarração,
e esta continua durante todo o ciclo da planta. Na condução das cultivares
de crescimento indeterminado, quando se opta por conduzir as plantas com
duas hastes, deve-se selecionar, como sendo a segunda haste, o primeiro
broto imediatamente abaixo do primeiro cacho (MAKISHIMA, 1964).
Esta prática tem como objetivo diminuir o número de ramos por
planta; com isso, diminui o número de pencas e de frutos por planta e,
consequentemente, possibilita um aumento no peso médio dos frutos.
Além disso, a desbrota promove um maior arejamento, tornando a planta
menos compacta, com menos folhas, o que favorece o controle fitossanitário,
contribuindo para diminuir a demanda de defensivos e proporcionando uma
melhor qualidade dos frutos (ALVARENGA, 2004).
A desbrota deve ser realizada quando os brotos estiverem com 2 a 5 cm
de comprimento. A operação é realizada quebrando o broto, se possível rente
à axila da folha, retirando-o dela. O corte dos brotos não deve ser feito com
lâmina de canivete e nem com a unha, para evitar que haja contaminação,
principalmente em relação a viroses.
A desbrota é uma das operações mais onerosas na cultura do tomateiro
para consumo in natura, podendo atingir até 20% do gasto de mão de obra
na cultura, para as cultivares de crescimento indeterminado. A operação
deve ser feita pelo menos duas vezes por semana, durante toda a fase do

144
Práticas culturais

desenvolvimento da cultura (ALVARENGA, 2004).

11. PODA OU CAPAÇÃO

A poda apical, também chamada de capação, realizada exclusivamente


em cultivares de crescimento indeterminado, é feita aproximadamente 60 dias
após o transplantio, ou quando as plantas apresentarem o número desejado
de cachos/planta. A poda consiste na eliminação do broto terminal da(s)
hastes(s) do tomateiro, visando interromper o crescimento vertical da planta.
O objetivo da poda é regular o crescimento da planta e manter o controle
sobre a floração e frutificação, limitando com isso o número de pencas e de
frutos por planta, promovendo, dessa forma, o aumento na percentagem
de frutos com maior tamanho. Assim como a desbrota, a poda deve ser feita
manualmente (ALVARENGA, 2004).
Normalmente, em condições de campo, para o tomate destinado ao
consumo in natura, que apresenta hábito de crescimento indeterminado, a
poda deve ser realizada a uma altura de 1,70 a 1,80 m. Entretanto, em condições
de casa de vegetação, visando aproveitar melhor o potencial de produção do
tomateiro, a poda poderá ser realizada a uma altura de pelo menos 2,0 m.

12. PODA DE FOLHAS

A eliminação de folhas velhas do tomateiro conduzido em casa


de vegetação é uma prática recomendada com objetivo de aumentar o
arejamento entre as plantas, melhorar o aproveitamento da luz solar e
diminuir a incidência e transmissão de doenças (ALVARENGA, 2004).
Inicialmente, devem-se eliminar as folhas alternadamente, evitando,
contudo, a eliminação da primeira folha imediatamente abaixo de cada
penca, já que ela contribui para a atividade fotossintética que nutrirá os frutos
em formação. A seguir, eliminam-se todas as folhas (sempre de baixo para
cima), com exceção da primeira, próxima e abaixo da penca, bem como das
que estiverem próximas aos cachos ainda sem definição de tamanho. Só se
elimina a primeira folha próxima e abaixo da penca dos frutos quando estes
mudarem a coloração para vermelho (CAPECHE et al., 1998).
Esta prática, entretanto, pode causar efeitos indesejáveis, uma vez que
possibilita a penetração de bactérias através dos ferimentos causados por

145
Capítulo 6

ocasião das podas.

13. RALEAMENTO DE PENCAS

Em algumas regiões onde se cultiva tomate para consumo in natura,


utiliza-se a técnica de raleio de frutos, sempre que se deseja diminuir o seu
número, em favor da qualidade, inclusive do seu tamanho. Este trato cultural
é mais vantajoso na produção de tomate do tipo Salada, e é utilizado também
para eliminar frutos defeituosos, inclusive aqueles que apresentam lóculo
aberto. Normalmente, deixa-se apenas 4-6 frutos em cada penca. Para alguns
híbridos que apresentam alta produtividade, chegando a dez frutos por
penca, o raleamento é indispensável.
O desenvolvimento dos frutos é um poderoso dreno de carboidratos. Por
isso, se uma parte dos possíveis frutos é removida em estádio de flores ou de
frutos pequenos, os fotoassimilados que poderiam ser usados no crescimento
desses frutos tornam-se disponíveis para os órgãos remanescentes. Uma
porção pode ser canalizada para os frutos restantes, e outra, para promover o
crescimento vegetativo (ALVARENGA, 2004).

14. ROTAÇÃO DE CULTURA E ADUBAÇÃO VERDE

A rotação de culturas é o planejamento da produção evitando que


uma mesma cultura seja plantada sequencialmente em uma mesma área.
Tem por objetivo prevenir a concentração de patógenos, pragas, plantas
daninhas, assim como a preservação da fertilidade do solo e a produtividade
das culturas. Para o tomate, recomenda-se retornar à mesma área após um
período mínimo de dois anos. Neste intervalo, a área poderá ser ocupada
com outras culturas de verão, pastagem ou adubos verdes. Com a rotação
de várias espécies na mesma área, ao longo do tempo, há um aumento da
diversidade de materiais orgânicos e, consequentemente, um aumento da
atividade biológica no sistema (EPAGRI, 2004).
Na escolha das espécies que irão compor a cobertura do solo, além
da produção de biomassa, deve-se dar preferência a plantas fixadoras
de nitrogênio, plantas que não sejam hospedeiras de nematóides e não
apresentem efeito alelopáticos para as culturas comerciais (SEDIYAMA;
FONTES; SILVA, 2003). Normalmente, é recomendada a utilização de culturas

146
Práticas culturais

de raiz profunda, seguida de uma de raiz superficial, para promover a ciclagem


de nutrientes no perfil do solo.
Em áreas onde já foi cultivado tomate ou outra Solanaceae, a rotação
deverá ser feita com gramíneas, como arroz, sorgo e milho. O milho pode ser
consorciado com mucuna ou com soja, que produz mais palha que o milho
solteiro e incorpora nitrogênio ao sistema (EPAGRI, 2004).
A adubação verde também visa à melhoria da capacidade produtiva do
solo. Espécies vegetais como aveia preta, tremoço e leguminosas incorporadas
ao solo no início da floração melhoram sua fertilidade, pois as folhas contêm
nutrientes, principalmente o nitrogênio. As leguminosas devem ser utilizadas
para adubação verde porque fixam nitrogênio, e a incorporação ao solo no
início da floração evita que se tornem fibrosas (SEDIYAMA; FONTES; SILVA,
2003).

15. COBERTURA DO SOLO

A prática da cobertura morta do solo com materiais inertes é indicada


na produção de tomate, tanto em condições de campo como em casa de
vegetação. Consiste em cobrir a superfície do solo, especialmente ao longo
das fileiras de plantio. O objetivo dessa prática é proteger o solo e o tomateiro
de plantas invasoras e agentes atmosféricos (ALVARENGA, 2004).
Nesta cobertura, poderá ser utilizado material palhoso ou, mais
recentemente, tem sido feita com filme plástico (mulching) preto ou de dupla
cor (preto de um lado e branco do outro). O mulching evita a evaporação
da água do solo, mantém-no mais aquecido à noite e controla plantas
invasoras.
As vantagens advindas do uso da cobertura morta são economia de água
na irrigação, redução das flutuações hídricas e térmicas na camada superficial
do solo, diminuição da incidência de ervas daninhas e efeito repelente sobre
afídeos vetores, reduzindo a disseminação de viroses. Não há tradição de uso
dessa prática em tomaticultura no Brasil (FILGUEIRA, 2000).

16. REFERÊNCIAS

ALVARENGA, M. A. R. Sistemas de produção em campo aberto e em


ambiente protegido. In: ALVARENGA, M. A. R. (Ed.). Tomate: produção em

147
Capítulo 6

campo, em casa-de-vegetação e em hidroponia. Lavras: Editora UFLA, 2004.


400p.

CAPECHE, C. L.; MACEDO, J. R. de; MELO, A. S.; SILVA, L. V. da. Sistema de


tutoramento com fita plástica para tomateiros cultivados no campo.
Comunicado técnico. CNPS/Embrapa, Brasília, DF. n. 3, dez. 1998, p. 1-6.
Disponível em: <http://www.cnps.embrapa.br.htm>. Acesso em: 09 dez.
2004.

EPAGRI. Sistema de Plantio Direto de Hortaliças: o cultivo do tomateiro no


Vale do Rio do Peixe, SC, em 101 respostas dos agricultores. Florianópolis,
2004, 53 p. (Epagri, Boletim Didático, 57).

FILGUEIRA, F. A. B. Novo Manual de Olericultura: agrotecnologia moderna


na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV, 2000. 402 p.

MAKISHIMA, N. Métodos culturais para o tomateiro. Boletim do Campo.


n.183, out/nov. 1964.

MORAES, C. A. G. de. Hidroponia: como cultivar tomates no sistema NFT


(técnica de fluxo laminar de nutrientes). Jundiaí: DISQ, 1997. 141 p.

SEDIYAMA, M. A. N.; FONTES, P. C. R.; SILVA, D. J. H. da. Práticas culturais


adequadas ao tomateiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,MG. v. 24,
n. 219, p.19-25, 2003.

SILVA JUNIOR, A. A.; VISCONTI, A. Recipientes e substratos para a produção


de mudas de tomateiro. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v. 4, p.
20-23, dez. 1991.

SILVA, R. C. da; MARTINI, R. Tomate mergulha na tecnologia. Hortifruti


Brasil, São Paulo: Cepea, Ano 5, n. 47, p. 6-14, junho de 2006. Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/hfbrasil/edicoes/47/mat_capa.pdf> Acesso
em: 22 jun. 2006.

148
Práticas culturais

Capítulo 7
MANEJO DA ÁGUA PARA A CULTURA
José Mauro de Sousa Balbino
Maria Elizabete Oliveira Abaurre
Lúcio Lívio Fróes de Castro

1. INTRODUÇÃO

O excesso ou a carência de água no solo interfere negativamente


no desenvolvimento das plantas em geral, sendo um dos maiores
determinantes da produtividade das culturas. Quando não se atende a todas
as suas necessidades, pode afetar o seu crescimento e, consequentemente, o
rendimento e a qualidade do produto.
A fitomassa é, na sua maior parte, composta por água. O protoplasma
contém em média 85-90% de água, e mesmo as organelas ricas em proteínas
e lipídios, como os cloroplastos e as mitocôndrias, contêm 50% de água. Os
frutos com alto conteúdo de polpa são especialmente ricos em água (85-95%
do peso fresco), bem como as folhas tenras (80-90%) e as raízes (70-95%)

149
Capítulo 7

(LARCHER, 2000).
Por outro lado, a água está se tornando rapidamente recurso escasso
em muitas áreas do mundo, exigindo-se cada vez mais sistemas de produção
que reduzam a sua utilização, o que pode ser obtido se o seu fornecimento
for adequadamente planejado e monitorado. Para tanto, o conhecimento e o
manejo adequado do sistema solo-água-planta-ambiente é de fundamental
importância para o sucesso do empreendimento.
A aplicação racional de água no solo, adotando-se a tecnologia de
irrigação adequada na quantidade e no momento certo com a finalidade de
proporcionar a umidade necessária ao pleno desenvolvimento da cultura,
contribui para a garantia da produtividade esperada e para o padrão de
qualidade desejado dos produtos, além de reduzir os riscos de perdas da
produção ocasionadas por períodos de estiagem (OLIVEIRA; TAGLIAFERRE,
2005).
O manejo da água em áreas irrigadas consiste em monitorar e quantificar,
periodicamente, o consumo de água das plantas, possibilitando determinar
o tempo de funcionamento do sistema de irrigação. A sua adoção poderá
ocasionar vários benefícios, destacando-se a economia de água e energia,
que possibilitam melhor aproveitamento dos recursos hídricos e aumento da
renda do agricultor (OLIVEIRA; TAGLIAFERRE, 2005).
Desse modo, ao se programar o cultivo das hortaliças, deve-se buscar
o planejamento da irrigação e adotar o cultivo em áreas próximas às fontes
de água, que devem ser abundantes e apresentar boa qualidade, e, nesse
planejamento, buscar adotar sistemas de irrigação que promovam o uso
sustentável da água.
O planejamento da irrigação é fundamental para qualquer cultura;
entretanto, para uma cultura tão exigente em água e de custo elevado como
o tomateiro, o seu manejo torna-se ainda mais importante, pois permite
minimizar os riscos do empreendimento.
O tomate é uma das hortaliças com consumo de água acima da média,
sendo, portanto, muito sensível à sua falta. No fruto maduro, a água participa
em cerca de 94% dos seus constituintes, sendo que o fornecimento insuficiente
de água à cultura prejudica o seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo,
culminando numa menor produtividade, e altera o padrão de qualidade dos
frutos (MANZAN, 1980; ALVARENGA, 2004).
Neste capítulo, busca-se destacar os principais parâmetros a serem

150
Manejo da água para a cultura

considerados para um eficiente uso da água pelo tomateiro relacionados


ao solo, ao ambiente e à planta, destacando-se alguns aspectos sobre
a importância da água para a cultura, associados ao desenvolvimento,
produtividade e qualidade dos frutos.

2. NECESSIDADE DE ÁGUA PARA A CULTURA

Em geral, as hortaliças têm seu desenvolvimento intensamente


influenciado pelas condições de umidade do solo. A deficiência de água é,
normalmente, o fator mais limitante à obtenção de produtividades elevadas
e produtos de boa qualidade, mas o excesso também pode ser prejudicial.
A reposição de água ao solo por irrigação na quantidade e no momento
oportuno é decisiva para o sucesso da horticultura (MAROuELLI et al., 1996).
A água necessária é a quantidade requerida pela cultura, em
determinado período de tempo, para o seu normal crescimento sob condições
de campo. Ela pode ser expressa como sendo igual à soma de uso consuntivo
com a água percolada para baixo da zona radicular, sendo que, pela própria
definição de água necessária à cultura, o uso consuntivo constitui a maior
e mais importante parte. Entende-se como uso consuntivo a soma da água
evapotranspirada mais a parte retida pelo tecido vegetal durante o seu
crescimento. Como a segunda parte é muito pequena em relação à primeira,
pode-se considerar o uso consuntivo (UC) igual à evapotranspiração (ET), ou
seja, UC = ET (BERNARDO, 1977).
Uma vez que o propósito básico da irrigação é abastecer as plantas com
água à medida que elas necessitam, de modo a obter-se ótima produção em
quantidade e qualidade, deve-se irrigar antes que a razão entre a quantidade
de água no solo com a quantidade demandada pela evapotranspiração
diminua muito, fazendo com que a deficiência d’água venha influenciar a
produção em quantidade e/ou qualidade (BERNARDO, 1977).
Para o manejo adequado da água para uma determinada cultura, é
necessário o controle diário da umidade do solo e/ou da evapotranspiração
durante todo o seu ciclo de desenvolvimento. Para tanto, é indispensável
o conhecimento de parâmetros relacionados às plantas, ao solo e ao clima
para determinar o momento oportuno de irrigar e a quantidade de água a ser
aplicada (MAROuELLI et al., 1996).

151
Capítulo 7

Existem vários fatores relacionados à planta, ao solo e ao clima que


interferem na absorção de água pela cultura e que, consequentemente,
irão afetar a frequência das irrigações. Dentre esses fatores encontram-se
(BERNARDO, 1977; REICHARDT, 1987):

Relacionados à planta
• Extensão, profundidade e idade das raízes.
• Estádio de desenvolvimento vegetativo da planta associado à atividade
metabólica e às condições climáticas.
• Parte da planta ou órgão e a forma de ser colhido (fresco ou seco).

Relacionados ao solo
• Profundidade e estrutura associadas ao crescimento das raízes.
• Capacidade de infiltração, de drenagem e aeração.
• Condutividade hidráulica do solo.
• Temperatura do solo.
• Frequência de doenças no sistema radicular ou ocorrência de
nematoides no solo.
• Salinidade do solo e/ou da água de irrigação.
• Localização de nutrientes no perfil do solo.

Relacionados ao clima
• Demanda evaporativa (umidade relativa do ar, disponibilidade de
radiação solar, vento e temperatura do ar).
• Intensidade e frequência das precipitações.

Além desses fatores devem ainda ser considerados:

Relacionados ao manejo
• Época de plantio.
• Densidade de plantio.
• Expectativa de produção.
• Aplicação de fertilizantes.
• Sistema de produção.

152
Manejo da água para a cultura

3. DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SOLO PARA AS PLANTAS

O solo é um sistema complexo, polidisperso, constituído pelas fases


sólida, líquida e gasosa (MARENCO; LOPES, 2005; REICHARDT, 1987).
O tamanho e a natureza das partículas minerais, bem como o arranjo dos
elementos estruturais, dão ao solo características próprias de armazenamento
de água (MAROuELLI et al., 1996). As partículas sólidas formam um arranjo
poroso tal que os espaços vazios, denominados poros, têm a capacidade de
armazenar líquido e gases. A parte líquida do solo constitui-se essencialmente
de água, contendo minerais dissolvidos e materiais orgânicos solúveis
(REICHARDT, 1987). Duas forças contribuem para a retenção de água no solo: a
adesão, ou atração das moléculas de água pelas partículas sólidas, e a coesão,
ou atração entre as próprias moléculas de água (MARENCO; LOPES, 2005).
A parte sólida é, principalmente, mineral e se constitui de partículas
classificadas, de acordo com o tamanho médio dos grãos, em areia, silte e argila,
sendo que a proporção entre essas partículas determina a textura do solo.
O arranjo das diversas partículas, juntamente com os efeitos cimentantes de
materiais orgânicos e inorgânicos, determina a estrutura do solo (REICHARDT,
1987).
Quanto menores forem as partículas do solo, maior a relação superfície/
volume, e como a adesão é um fenômeno de superfície, maior é a quantidade
de água que o solo pode reter. Assim sendo, os solos argilosos retêm mais
água do que os francos ou arenosos, em dado nível de tensão. Da mesma
forma, determinado conteúdo de água é retido mais tenazmente no argiloso
do que nos outros tipos de solos (MARENCO; LOPES, 2005). Além da textura
fina, aqueles solos com maior quantidade de coloides ou matéria orgânica
armazenam mais água do que solos com textura grossa (LARCHER, 2000).
A água no solo pode ser classificada em quatro tipos conforme a força
com que é retida pelas partículas do solo: água de constituição, higroscópica,
capilar e gravitacional.
A água é retida no solo, isto é, em seus poros, devido a fenômenos
de capilaridade e adsorção. A capilaridade está ligada à afinidade entre
as partículas sólidas do solo e a água, havendo, porém, a necessidade de
interfaces água-ar chamadas de meniscos. Essas interfaces apresentam uma
curvatura que é tanto maior, quanto menor for o poro. A curvatura determina
o estado de energia da água e, por isso, diz-se que quanto menor o poro, mais

153
Capítulo 7

retida se encontra a água. Assim, para esvaziar um poro grande, precisa-se


aplicar menos energia do que para esvaziar um poro pequeno (REICHARDT,
1987).
A água capilar é retida nos poros capilares e microcapilares
comportando-se de acordo com as leis que regem a capilaridade; sendo
retida com tensões entre 0,02 e 3,1 MPa (-0,02 < y solo >–3,1 MPa). Na faixa
de retenção, há dois extremos importantes para a sua absorção pelas plantas
superiores: a capacidade de campo (y solo @ –0,02 MPa) e o ponto de murcha
permanente (y solo @ –1,5 MPa). Fisicamente, esses dois conceitos pecam pela
falta de exatidão, pois a quantidade de água retida no solo tanto no ponto de
murcha permanente (PMP) quanto na capacidade de campo (CC) varia com
o tipo de solo (MARENCO; LOPES, 2005), aumentando na seguinte sequência:
areia, silte, argila e solo orgânico (LARCHER, 2000; MARENCO; LOPES, 2005).
O PMP das mesófitas ocorre quando o potencial hídrico do solo atinge
aproximadamente –1,5 MPa, em que se enquadra a maioria das plantas
cultivadas. Esses conceitos são úteis e largamente empregados devido à sua
praticidade agronômica (MARENCO; LOPES, 2005).
Muitos fatores afetam a retenção da água em um solo. O principal deles
é a textura, pois determina diretamente a área de contato entre as partículas
sólidas e a água, bem como as proporções de poros de diferentes tamanhos
(REICHARDT, 1987).

3.1 CAPACIDADE DE CAMPO E PONTO DE MURCHA PERMANENTE

A capacidade de campo pode ser definida como a máxima capacidade


de água que um solo pode reter depois de toda a água gravitacional ter
sido percolada para o lençol freático. O PMP, ou coeficiente de murcha, é a
quantidade de água retida no solo em tensão de aproximadamente 1,5
MPa (y solo @ –1,5 MPa), quando a maioria das plantas cultivadas não pode
absorver água. Atingindo o ponto de murcha permanente, o vegetal morre.
Nesse ponto, a planta não recupera sua turgidez nem em atmosfera saturada
com vapor de água. Portanto, a quantidade de água disponível para a planta
corresponde à diferença entre os volumes de água no solo entre a CC e o PMP.
Como na maioria das plantas cultivadas, o PMP ocorre entre –1,5 e –2 MPa.
Convencionalmente definiu-se o PMP correspondente ao y solo de –1,5 MPa
(KRAMER; BOYER, 1995, apud MARENCO; LOPES, 2005).

154
Manejo da água para a cultura

A capilaridade atua na retenção de água dos solos na faixa úmida


quando os poros se apresentam razoavelmente cheios de água (REICHARDT,
1987). A força de retenção da água nos capilares aumenta rapidamente
durante a secagem do solo conforme os poros maiores são exauridos, e a
água capilar fica retida somente nos poros pequenos, com diâmetro menor
do que 0,2 mm (LARCHER, 2000). Nessas condições, filmes de água recobrem
as partículas sólidas, e o fenômeno da adsorção passa a dominar a retenção
de água (REICHARDT, 1987). Nos solos arenosos com textura granular grossa,
essa transição é particularmente súbita. Já nos solos siltosos e nos solos
argilosos, a diminuição dos valores de potencial hídrico é menos abrupta
(LARCHER, 2000).

4. A ÁGUA PARA A CULTURA DO TOMATE

A água é um dos fatores mais importantes para a produção das culturas.


Além da sua participação na constituição celular e nos diversos processos
fisiológicos na planta, ela está diretamente relacionada aos processos de
absorção de nutrientes e resfriamento da superfície vegetal (CARRIJO;
MAROVELLI; SILVA, 1999).
Todos os processos fisiológicos da célula são direta ou indiretamente
afetados pelo fornecimento de água. Ou seja, as atividades metabólicas e
o crescimento celular estão associados ao teor de água no protoplasma. A
água tem diversas funções dentro da planta, porém as mais importantes são
as seguintes: constituinte do protoplasma, solvente de substâncias, reagente
e produto, manutenção de estruturas moleculares, manutenção de turgidez
(turgescência) e temorreguladora (MARENCO; LOPES, 2005).
O suprimento de água às plantas é de fundamental importância no
crescimento e produção econômica. A deficiência de umidade no solo altera
vários processos bioquímicos e fisiológicos nas plantas e induz a respostas
metabólicas e fisiológicas, como fechamento estomático, declínio na taxa
de crescimento, acúmulo de solutos e antioxidantes e expressão de genes
específicos de estresse (SINGH-SANGWAN et al., 1994, apud CARVALHO,
2001). A disponibilidade de água no solo depende das propriedades da
planta, propriedades do solo e das condições micrometeorológicas. A água
disponível às plantas é aquela presente em condições de ser prontamente
absorvida pelas raízes, ou seja, é o teor de água retido pelo solo entre a

155
Capítulo 7

capacidade de campo e o ponto de murcha permanente (WINTER, 1988).


Segundo Kudrev (1994), a deficiência hídrica interrompe o processo de
crescimento não só por diminuir o acúmulo de massa fresca e seca mas também
por alterar o processo de crescimento e acelerar os processos catabólicos.
Entre os estresses ambientais, a deficiência hídrica destaca-se como fator
adverso ao crescimento e produção vegetal. Quando existe carência de
água nas plantas, os estômatos tendem a se fechar. A perda de água pode
reduzir o potencial hídrico das plantas, causando redução na turgescência,
condutância estomática, fotossíntese e, finalmente, menor crescimento
e produtividade (LARCHER, 2000), principalmente por ser o veículo que
transporta os nutrientes nas plantas. Assim sendo, a sua carência temporal,
além de provocar ou poder provocar redução no crescimento vegetativo,
pode também, no caso do tomate, provocar distúrbios fisiológicos, como o
da podridão apical em frutos (RODRIGUEZ; RODRÍGUEZ; JUAN, 1984).
A necessidade de água das plantas varia com a sua fase de
desenvolvimento e com as condições climáticas locais. Plantas jovens
consomem menos água que adultas em pleno desenvolvimento. Além disso,
aquelas cultivadas em local de clima seco e quente necessitam, diariamente,
de maior quantidade de água em comparação com outras cultivadas em
ambientes úmidos e com temperaturas amenas (OLIVEIRA; TAGLIAFERRE,
2005). Além do estádio fenológico, o efeito do estresse hídrico sobre o
rendimento da cultura depende do tempo de duração desse estresse. Para
o tomate, o maior efeito ocorre durante o período de floração e frutificação,
quando um baixo estresse hídrico pode causar uma queda no número de
frutos por área (PRIETO; RODRIGUEZ, 1994; ALVARENGA, 2004). Entretanto,
não pode haver água em excesso a ponto de saturar o solo e prejudicar a
oxigenação da zona radicular do tomateiro (ALVARENGA, 2004). Por outro lado,
no estádio de amadurecimento, a ocorrência de um ligeiro estresse hídrico,
além de não causar perda significativa do rendimento, pode até melhorar a
qualidade dos frutos, no que se refere ao aumento do teor de sólidos solúveis,
como verificado em frutos de tomate para indústria (MAY; WOLCOTT; PETERS,
1990; PRIETO, 1996).
Os estádios de desenvolvimento do tomateiro, de um modo geral, são
os seguintes (MAROuELLI et al., 1996):
estádio I: da emergência até 10% do desenvolvimento vegetativo;
estádio II: do final do estádio I até 70 a 80% do desenvolvimento

156
Manejo da água para a cultura

vegetativo (início de florescimento);


estádio III: entre o florescimento e o início da maturação dos frutos;
estádio IV: desde o final do estádio III até a colheita.
A duração de cada fase irá depender da época de plantio e das condições
climáticas locais, influenciando, portanto, no manejo da irrigação. Associados
a essas fases, devem-se considerar aspectos do desenvolvimento da planta,
principalmente o das raízes (Tabela 1), órgão responsável pela absorção de
água e nutrientes.

Tabela 1 - Parâmetros básicos para a estimativa da necessidade de água para a cultura


do tomate sob condições irrigadas

Profundidade efetiva (p) máxima do 25 a 45 cm


sistema radicular¹

Período crítico para o déficit de água Do florescimento à colheita


no solo²

Coeficiente de cultura (Kc) I II III IV


em diferentes estádios de
desenvolvimento³ 0,60 0,85 1,15 0,90
¹ Solos de textura média.
² A falta de água promove uma queda pronunciada na produtividade.
³ Em função da umidade relativa do ar e velocidade do vento.

Em irrigação, normalmente não se considera todo o perfil do solo


explorado pelo sistema radicular das plantas, mas apenas a profundidade
efetiva, que deve conter de 80 a 90% do sistema radicular. Sua determinação
para fins de manejo da irrigação é fundamental; a adoção de valores maiores
que os reais pode implicar a aplicação de grandes quantidades de água com
consequências indesejáveis, enquanto valores menores podem resultar em
aplicações deficientes e em turnos de rega muito pequenos (MAROuELLI et
al., 1996).
O conhecimento dessas fases do desenvolvimento da planta é
fundamental para o manejo da água para a cultura e para auxiliar o
planejamento das irrigações.
Após o transplantio até o final do período vegetativo (25 a 30 dias iniciais
do ciclo), o tomateiro apresenta o sistema radicular concentrado nos primeiros
25 cm da superfície do solo. Com o início da frutificação, o crescimento radicular
acentua-se, explorando efetivamente os 40 cm de profundidade, com cerca

157
Capítulo 7

de 90 a 95% das raízes concentradas nessa faixa do solo (OLIVEIRA; CALADO;


PORTAS, 1996). Esse período após o transplantio caracteriza-se como uma
fase de crescimento pouco intenso e pouca demanda por nutrientes e água,
cuja ênfase deva ser pela formação de um sistema radicular vigoroso. Em
seguida, há o início da fase reprodutiva (floração e frutificação), ocorrendo a
produção de cachos florais, com posterior formação e enchimento simultâneo
de vários cachos de frutos. Intensificam-se as taxas de crescimento e absorção
de nutrientes e água, com pico máximo em torno de 70 a 80 dias de idade,
consistindo em aproximadamente 45 a 50 dias. Finalmente, com a maturação
e colheita dos frutos, que dura de 25 a 45 dias, há uma diminuição das
necessidades hídricas e nutricionais. Essa fase depende da longevidade das
plantas, variando em função da forma de condução, do trato fitossanitário,
do número de cachos por planta, entre outros fatores (GUIMARÃES; FONTES,
2003).
De maneira geral, entre o transplante e o aparecimento dos primeiros
cachos, as irrigações devem ser menores ou mais escassas, sendo que
paulatinamente a demanda de água vai aumentando até chegar a um
máximo quando a planta adquire um tamanho de aproximadamente 2,0 m
(RODRIGUEZ; RODRÍGUEZ; JUAN, 1984).
Pelos fatos relatados, de um modo geral, a deficiência de água, durante
o período de estabelecimento da cultura retarda o desenvolvimento e produz
uma planta menos vigorosa, e consequentemente há uma redução do
rendimento. Mesmo em períodos menos críticos, o déficit hídrico notado pela
planta traz consequências para o seu rendimento futuro. Atraso no início das
irrigações podem também causar perdas significativas na produção de frutos,
como verificado por Prieto (1996), ao estudar um atraso de duas semanas no
início das irrigações em tomate rasteiro. Nessas condições, verificou-se uma
redução de 19,5% na produção de frutos em relação à média dos tratamentos
iniciados pelo cálculo da demanda normal de água pela cultura. Essa perda
foi atribuída a uma redução na capacidade de interceptação da radiação
solar, devido à redução da área foliar da planta e, consequentemente, pelo
decréscimo no número de frutos e menor peso médio.
Em termos de rendimento do tomateiro, a disponibilidade de água
exerce efeito direto sobre o desenvolvimento das flores e, posteriormente, no
crescimento do fruto e sobre seu padrão de qualidade, no que se refere aos
distúrbios rachadura e podridão apical.

158
Manejo da água para a cultura

Assim como sob deficiência hídrica há redução do número de flores


por cacho e, consequentemente, da produtividade do tomateiro (WUDIRI;
HENDERSON, 1985). O excesso de água, além de atrasar a iniciação floral,
também reduz o número de flores e frutos (KINET; PEET, 1997).
Quanto à rachadura do tomate, a causa básica é associada ao
influxo rápido de solutos e de água no fruto, normalmente na época do
amadurecimento, quando a força e a elasticidade da pele é reduzida (PEET,
1992), e a pressão manométrica dos tecidos do lóculo é incrementada
(ALMEIDA; HUBER, 2001). Em frutos verdes, as rachaduras podem ocorrer, mas
são minúsculas, expandindo-se posteriormente durante o amadurecimento.
Abaixando a umidade do solo, tende-se a aumentar a rigidez da pele do fruto,
ocorrendo o inverso ao aumentar a umidade (KAMIMURA et al., 1972, apud
KINET; PEET, 1997).
Já para a podridão apical, há inúmeras maneiras através das quais a
umidade no solo pode promover esse distúrbio pelo suprimento de cálcio
nas plantas, pois tanto a sua concentração quanto a sua mobilidade estão
envolvidas. Aumentando-se o teor de umidade, há uma diminuição na
concentração de íons na solução do solo, sendo a de cálcio mais reduzida que
as dos íons monovalentes, como resultado do fenômeno de troca catiônica.
Entretanto, a quantidade total de cálcio dissolvido e a sua mobilidade são
aumentadas. O contrário acontece à medida que o solo vai secando. Esse
fato é agravado principalmente se o solo é pobre em cálcio. Por outro lado, a
excessiva umidade do solo também pode promover a incidência de podridão
apical. Neste caso, a rápida lixiviação de cálcio para fora do raio de ação do
sistema radicular ou as condições anaeróbias, inibindo a absorção de cálcio
e água, é considerada como a responsável pelas possíveis deficiências do
nutriente (GERALDSON, 1967).
Como o cálcio é transportado somente nos vasos do xilema quando a
absorção de água e a transpiração pela planta são reduzidas, a absorção de
cálcio é afetada de forma proporcional (KINET; PEET, 1997). A perda de água
pela transpiração é incrementada com a diminuição da umidade relativa do ar
(maior déficit de pressão de vapor), especialmente quando acompanhada por
altas temperaturas e irradiância, provocando competição entre folhas e frutos
por água. Ou seja, o suprimento adequado de água no solo é fundamental
para reduzir esse distúrbio fisiológico.
Associada ao sistema de irrigação deve-se considerar a qualidade da

159
Capítulo 7

água. Assim como para qualquer cultura, a água a ser usada na irrigação do
tomateiro deve ser livre de contaminação, visando evitar que seja veículo de
transmissão de doenças ao consumidor. Esse cuidado deverá ser adotado
mesmo que o sistema de irrigação seja por infiltração em sulcos (MANZAN,
1980; ALVARENGA, 2004). Deve-se também considerar o teor de sais, que
deve ser inferior a 1,5 g/l (equivalente à condutividade elétrica inferior a 2,2
dS/m), e de íon (cloreto inferior a 200 mg/l) (ALVARENGA, 2004).

5. SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO PARA A CULTURA

De maneira geral, a definição por um sistema de irrigação depende da


associação de vários fatores, dentre os quais destacam-se: eficiência do sistema
quanto ao uso da água, disponibilidade do recurso hídrico, compatibilidade
com o sistema de cultivo e manejo integrado da cultura, aplicação simultânea
de fertilizantes e de defensivos, topografia do terreno, custo e benefício para
o empreendimento etc.
Quanto à eficiência da aplicação, deve-se considerar que apenas parte
da água aplicada é efetivamente utilizada pela planta. Durante a irrigação,
podem ocorrer perdas por evaporação e arrastamento pelo vento, por
escoamento superficial, por percolação e por vazamento nas tubulações. De
maneira geral, quando o sistema de irrigação é bem dimensionado e manejado
adequadamente, pode-se considerar uma eficiência de aplicação de água
em torno de 60% para os métodos de irrigação por superfície, 70% para
autopropelido, 80% para os sistemas de aspersão convencional e subcopa,
85% para pivô central e sistema linear, 90% para irrigação por microaspersão
e 94% para irrigação por gotejamento (OLIVEIRA; TAGLIAFERRE, 2005).
Para o tomateiro tutorado, os métodos de irrigação que têm sido
mais empregados são por sulco e a microirrigação (microaspersão e por
gotejamento), sendo que a cultura rasteira se adapta à aspersão, principalmente
em regiões onde a umidade relativa do ar é baixa.
Para o tomateiro tutorado, o uso do gotejamento tem ampliado
bastante nas regiões produtoras do Espírito Santo, em razão de possibilitar a
aplicação conjunta de fertilizantes via a água de irrigação (fertirrigação) e por
contribuir no manejo integrado de doenças, pois desfavorece o microclima,
normalmente propício para a ocorrência das principais doenças. Além disso,
esse sistema propicia elevado grau de controle e completa automatização,

160
Manejo da água para a cultura

com maior economia e eficiência no consumo de água e energia, fertilizantes


e mão de obra. Todavia, existe a desvantagem de perigo de entupimento de
emissores, que pode ser minimizado pelo uso correto dos fertilizantes e de
eficientes sistemas de filtragem da água (MAROuELLI et al., 1996).
Assim sendo, definido o sistema a ser adotado, deverão ser tomadas as
decisões relacionadas às suas peculiaridades.

6. MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA IRRIGAÇÃO

Existem cinco métodos mais generalizados para a determinação da


época de irrigação (BERNARDO, 1977), os quais adotam um dos seguintes
aspectos: a deficiência de água na planta, os sintomas de deficiência de água
na planta, a evapotranspiração, a percentagem ou tensão de água no solo e o
cálculo do turno de rega, sendo os dois últimos os mais utilizados.
Já a quantidade de água aplicada por irrigação pode ser determinada
de duas maneiras: baseada no solo, determinando a sua umidade momentos
antes da irrigação, ou baseada na planta, através da determinação da água
evapotranspirada pela cultura entre duas irrigações consecutivas (MAROuELLI
et al., 1996).
O cálculo do turno de rega é o mais usado, permitindo calcular projetos
de irrigação, no que diz respeito a vazão, dimensionamentos de tubulação e
motobombas.
O turno de rega é calculado dividindo a “água disponível real” pela
evapotranspiração potencial diária da região.
Grande parte do sucesso de um programa de irrigação depende da
determinação correta do turno de rega, ou seja, do intervalo, em dias, entre
as irrigações sucessivas.
Já o método da percentagem ou tensão de água no solo é um dos
métodos mais usados e consiste em determinar direta ou indiretamente o
teor de umidade ou a tensão da água no solo. Por esse método, a irrigação
é realizada quando o teor de umidade ou a tensão de água no solo atinge o
limite pré-estabelecido. O equipamento que tem sido muito utilizado nesse
método é o tensiômetro.
O funcionamento do tensiômetro baseia-se na troca da umidade
contida no tensiômetro e no solo. Ou seja, com a redução da água disponível
no solo, devido ao consumo pela cultura, cria-se um fluxo de água do interior

161
Capítulo 7

do corpo do tensiômetro para o solo, sendo a força de sucção mensurada na


forma de pressão (GUIMARÃES; FONTES, 2003).

7. ESTIMATIVA DE PARÂMETROS PARA O CÁLCULO DA IRRIGAÇÃO

7.1 EVAPOTRANSPIRAÇÃO

As plantas obtêm praticamente toda a água de que necessitam através


do sistema radicular. Da água absorvida, a planta não retém mais do que 2%,
sendo o restante transferido para a atmosfera pela transpiração, após vários
processos fisiológicos. A água também pode se “perder” diretamente para a
atmosfera pela evaporação do solo e da superfície vegetal molhada. A esse
processo de “perda” conjunta de água do solo e da planta na atmosfera dá-se
o nome de evapotranspiração. A água evapotranspirada deve ser totalmente
resposta ao solo, sob pena de comprometer o desenvolvimento das plantas e
o sucesso do empreendimento (MAROUELLI et al., 1996).
Considerando o clima como o principal fator que determina a perda de
água pela evapotranspiração, a partir da estimativa desse parâmetro, pode-se
predizer o volume da água evapotranspirada num dado momento do ciclo da
cultura.
Uma das estimativas mais simples para se obter a evapotranspiração
das culturas (ET) é por um método indireto, que consiste em relacioná-la com
a evapotranspiração de um cultivo de referência (grama) (ETo).
Pode-se predizer o valor de ETo, pelo método do Evaporímetro tanque
“Classe A”, mediante a seguinte fórmula: ETo = Kp x Eo, onde:
Eto = evapotranspiração do cultivo de referência, em mm/dia;
Eo = evaporação do tanque em mm/dia;
Kp = coeficiente do tanque em função de sua exposição, umidade
relativa do ar, vento e posição (Tabela 2).
O valor da evapotranspiração da cultura pode ser obtido mediante
o uso do valor do fator Kc, coeficiente de cultura, que apresenta, para cada
planta específica, a evapotranspiração e condições de ótimos rendimentos
multiplicados pelo Eto, isto é: ET = Kc x Eto.
Vários fatores interferem no valor de Kc, principalmente as características
da cultura, as datas de plantio, o desenvolvimento, a duração do período
vegetativo e a frequência das chuvas ou da irrigação.

162
Manejo da água para a cultura

Tabela 2 - Coeficiente Kp para o tanque Classe A, para estimativa da ETo

1
Por R entende-se a menor distância (expressa em metros) do centro do tanque ao limite da bordadura
(grama ou solo nu).
Fonte: Doorenbos e Pruitt (1977).

7.2 ÁGUA DISPONÍVEL NO SOLO

A estimativa da ET do cultivo leva em consideração as condições


climáticas e as características da cultura, supondo que exista disponibilidade
de água no solo. Não havendo perdas por escoamento superficial e por
percolação, a água no solo se reduzirá devido à evapotranspiração.
O solo é um fator importante para a irrigação. Somente parte da água
que um solo pode armazenar fica disponível para as plantas. Essa parte é
geralmente aceita como sendo a água retida entre a capacidade de campo e
o ponto de murcha permanente (umidade de murchamento).
Desse modo, torna-se necessário conhecer o solo cultivado para manejo
racional de água de irrigação (Tabela 3).
Assim sendo, o cálculo de água disponível total de um solo (ADT) é
dado pela equação:
ADT= CC – PM x d x p, onde:
100
ADT = água disponível total de um solo em mm;

163
Capítulo 7

CC = capacidade de campo em % peso seco;


PM = ponto de murcha em % de peso seco;
d = densidade aparente do solo (g/cm3);
P = profundidade efetiva do sistema radicular em mm.
A água disponível é mais facilmente extraída pelas plantas quando o
nível de umidade do solo é mais elevado, podendo ocasionar efeitos adversos
ao se aproximar do ponto de murcha (umidade de murchamento).
De modo prático, torna-se necessário irrigar todas as vezes em que a
água disponível decrescer de (fator de disponibilidade – f ):
50-60% para solos de textura grossa – f = 0,50 a 0,60;
40-50% para solos de textura média – f = 0,40 a 0,50;
30-40% para solos de textura fina – f = 0,30 a 0,40.
O valor de ADT permite calcular a disponibilidade real de água – DRA
(ou água disponível real – ADR em mm) através da seguinte expressão: DRA
= ADTxf.
Com a determinação da DRA, poder-se-á calcular o turno de rega (TR),
dividindo-se esse valor pela evapotranspiração diária – ETc (em mm/dia),
conforme relatado anteriormente. TR = DRA/ETc.
A partir dessa informação, poder-se-á calcular a lâmina de água real
necessária – LRN (em mm) para a cultura, adotando-se a expressão: LRN =
TRxETc.

Tabela 3 - Características físicas do solo

164
Manejo da água para a cultura

8. DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE HÍDRICA EM MICROIRRIGAÇÃO

Com a microirrigação, a área molhada é menor do que a área total, o


que significa menor quantidade de água evaporada da superfície do solo.
Para esses sistemas, o ideal seria estimar, separadamente, a quantidade de
água transpirada pelas plantas e a quantidade evaporada pelo solo. Isso,
entretanto, não é prático, e, para contornar a dificuldade, surgiram conceitos
de fração de áreas molhadas e de área sombreada, para ajustar as necessidades
hídricas estimadas pelos métodos tradicionais às condições de microirrigação
(MAROuELLI et al., 1996).

8.1 CÁLCULO DO VOLUME DE ÁGUA POR GOTEJADOR

Considerando-se um gotejador por planta, pode-se proceder ao


cálculo do volume de água por planta do tomate estaqueado pela seguinte
expressão:
V= Eto [a + 0,15 (1 – a)] As Kc
Cu
Onde: V = volume de água aplicado por cada gotejador, em l/dia;
Eto = evapotranspiração do cultivo de referência, mm/dia;
a = fração da área molhada, em decimais;
As = área sombreada, em m2, que representa a área de projeção da
copa;
Cu = coeficiente de uniformidade de aplicação, em decimais;
Kc = coeficiente de cultura - adimensional.
Os coeficientes de uniformidade de aplicação (Cu) em sistemas de
microirrigação geralmente são elevados quando comparados a coeficientes
de outros sistemas de irrigação. O Cu deve ser determinado no próprio local,
considerando as características de cada instalação. Em geral, valores de Cu
abaixo de 90% para microirrigação não são aceitáveis, pois significam sistemas
com sérios problemas de dimensionamento e/ou de manejo (MAROuELLI et
al., 1996).
Nesse sistema, o manejo da irrigação se completa com o monitoramento
da água no solo. Isso geralmente é feito com tensiômetros instalados em várias
profundidades e distâncias da fonte, seja gotejador, seja microaspersor, no
volume de solo denominado bulbo molhado. Esse bulbo molhado tem forma

165
Capítulo 7

e tamanho que variam com o tipo de solo, principalmente. Em solos arenosos,


o bulbo é mais alongado verticalmente, como uma cenoura, em virtude de
o movimento da água ser dominado pela ação da gravidade e da pouca
capacidade de retenção de água desses tipos de solo. Em solos argilosos, o
movimento horizontal da água prevalece, e o bulbo toma uma forma mais
achatada como uma cebola (MAROuELLI et al., 1996). Em solos pesados,
os tensiômetros deverão ser instalados a 20 a 25 cm da linha das plantas e,
em solos leves, a 10 a 15 cm. De preferência, a instalação deve ser realizada
simultânea ou imediatamente após o transplantio das mudas, promovendo-
se contato íntimo do solo com a cápsula porosa. Para o tomateiro, a bateria de
tensiômetros deverá ser compostas por, no mínimo, dois tensiômetros, sendo
o primeiro instalado na profundidade de maior concentração do sistema
radicular (15 a 20 cm) e o segundo, imediatamente abaixo da profundidade
máxima de aplicação de água (40 a 50 cm). Em solos mais leves, a instalação
deverá ser mais superficial, atingindo no máximo 40 cm, enquanto em solos
mais pesados, o tensiômetro mais profundo deverá atingir 60 cm (GUIMARÃES;
FONTES, 2003).
Quando o sistema se encontra bem regulado, depois de certo tempo, o
volume do bulbo praticamente fica constante, porque a água consumida por
evapotranspiração é reposta por gotejo (REICHARDT, 1987).

9. REFERÊNCIAS

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Manejo da água para a cultura

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168
Manejo da água para a cultura

Capítulo 8
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO TOMATEIRO
Luiz Carlos Prezotti

1. INTRODUÇÃO

A agricultura atual se volta para a racionalidade do uso dos recursos


naturais, sendo introduzido o conceito da sustentabilidade, que, relacionado
à utilização agrícola do recurso solo, pode ser definido como a utilização de
técnicas que possibilitem a manutenção das condições físicas e químicas do
solo para a viabilização de cultivos futuros.
O primeiro item a ser considerado na implantação de qualquer cultura
é a aplicação de técnicas para manutenção da camada superficial do solo
(horizonte A), que é a que mantém a capacidade produtiva do solo por conter
os maiores teores de matéria orgânica e nutrientes.
O plantio em curva de nível, a manutenção de faixas a cada 20 metros
de vegetação natural ou cultivada (capim cidreira, capim colonião, amendoim

169
Capítulo 8

forrageiro etc.) e o controle das lâminas de irrigação, evitando escorrimento


superficial, são técnicas não onerosas que evitam a erosão e se enquadram no
conceito de sustentabilidade.
O segundo item de maior importância é a análise da fertilidade do
solo a ser cultivado, para determinar o grau de acidez e a capacidade de
fornecimento de nutrientes. Assim, com base na demanda da planta, são
estimadas as quantidades de nutrientes que deverão ser suplementadas para
a obtenção de produtividades satisfatórias.

2. CALAGEM

A acidificação do solo se dá pela remoção de bases, como o Ca++, Mg++ e


K+, da superfície das argilas, e adição de H+, que passa a ocupar suas posições.
A remoção de bases se dá, principalmente, por absorção pelas raízes das
plantas em cultivos sucessivos, pela adição de fertilizantes acidificantes e pela
percolação de água no perfil do solo, carreando estas bases para horizontes
mais profundos. Com isto, ocorre a redução do pH do solo, o que ocasiona
a passagem do alumínio na forma de Al(OH)3 (precipitado não tóxico) para
Al+++, que é um íon tóxico à maioria das plantas.
A calagem atua neutralizando o H+ e repondo Ca e Mg, que passam a
ocupar novamente a superfície das argilas, aumentando a saturação do solo
em bases. Consequentemente, há elevação do pH do solo fazendo com que o
Al+++ passe para a forma de Al(OH)3.
A estimativa da quantidade de calcário a ser aplicado, impreterivelmente,
tem que estar baseada na análise do solo, pois a aplicação em dose superior à
ideal proporciona sérios danos à nutrição das plantas, pois reduz a solubilidade
da maioria dos micronutrientes, dificultando a sua absorção, o que causa
acentuada redução de produtividade.
A aplicação de calcário deve ser feita a lanço, sobre toda a superfície
do terreno, antes da aração e gradagem, com antecedência mínima de dois
meses do plantio, para que haja a solubilização dos carbonatos de cálcio e
magnésio e elevação do pH até o nível exigido pelo tomateiro, que é de 5,5 a
6,5 com saturação em bases de 80%.
Para o cálculo da quantidade de calcário, utiliza-se a fórmula:
QC = T (80 – V)
PRNT

170
Nutrição e adubação do tomateiro

Sendo: QC = quantidade de calcário (t/ha);


T = CTC total do solo (cmolc/dm3);
V = saturação em bases do solo (%).

Por ser o tomateiro muito exigente em magnésio, deve-se utilizar


o calcário dolomítico (MgO > 12%), mantendo-se a relação Ca/Mg entre
3/1 e 4/1. Os teores de Ca e Mg devem ser superiores a 4 e 1,5 cmolc/dm3,
respectivamente. Em solos com baixos teores de Mg, recomenda-se aplicar
120 kg/ha de sulfato de magnésio, no sulco, misturado com os demais
fertilizantes (CARVALHO; BASTOS; ALVARENGA, 2004).

3. CÁLCULO DA QUANTIDADE DE NUTRIENTES A SER APLICADA

Para a estimativa da quantidade de fertilizantes minerais a ser fornecida


ao tomateiro, além do teor de nutrientes do solo, é necessário o conhecimento
da demanda de cada nutriente pela planta, nos seus diferentes estádios, para
atingir determinada produtividade.
A maior demanda de nutrientes do tomateiro coincide com o período
de maior produção dos frutos, 90 a 120 dias. Neste período, o tomateiro
apresenta maior frequência de sintomas de deficiências nutricionais e torna-
se mais suscetível ao ataque de patógenos, como fungos e bactérias.
No final do ciclo, o fruto representa, em média, 75% da matéria seca
total produzida. Como o desenvolvimento do fruto se dá num período
relativamente curto, há necessidade de que a velocidade de absorção de
nutrientes seja muito grande; e para atender a essa demanda, é necessário que
os nutrientes estejam em quantidades adequadas, prontamente disponíveis
e localizados próximo às raízes para facilitar a absorção.
A seguir, é apresentada parte dos cálculos que são realizados para a
estimativa da quantidade de nutrientes a ser aplicada à cultura, com base
na extração de nutrientes. Para cada tonelada de frutos de tomate, há uma
extração média de 2 kg de nitrogênio (N); 0,4 kg de fósforo (P) e 4 kg de
potássio (K). Para atingir uma produtividade de 100 t/ha, serão necessários
200 kg de N, 40 kg de P e 400 kg de K. Considerando-se uma taxa de
recuperação de nutrientes pelas plantas dos fertilizantes aplicados no solo,
de 70% para N, 20% para P e 80% para K, chega-se às seguintes quantidades
a serem aplicadas para todo o ciclo da cultura: 286 kg/ha de N, 460 kg de P2O5

171
Capítulo 8

e 600 kg de K2O. Dos valores obtidos, devem ser subtraídas as quantidades


de nutrientes disponíveis no solo, determinadas por sua análise. Esta é uma
estimativa aproximada, utilizada como referência, pois existem variações
quanto à capacidade de extração de nutrientes de cada cultivar, ao potencial
de produtividade e às características do solo.
Para auxiliar a recomendação de calagem e adubação do tomateiro e
demais culturas, elaborou-se um aplicativo, disponibilizado na home page do
Incaper: www. incaper.es.gov.br, onde o usuário digita os dados da análise
do solo, e o programa determina a quantidade de fertilizantes que deve ser
aplicado à cultura.
Outra ferramenta são as tabelas de recomendação de adubação para
o Estado do Espírito Santo (5o aproximação), com a seguinte indicação da
quantidade de nutrientes para o plantio:

Tabela 1 - Adubação de plantio


Fósforo Potássio
Baixo Médio Alto
-------------------- kg/ha de N – P2O5 – K2O --------------------
Baixo 100 - 400 - 200 100 - 400 - 150 100 - 400 - 100
Médio 100 - 300 - 200 100 - 300 - 150 100 - 300 - 100
Alto 100 - 200 - 200 100 - 200 - 150 100 - 200 - 100
Fonte: Prezotti et al. (2007).

Supondo um plantio no espaçamento de 1,3 m x 0,6 m, têm-se,


aproximadamente, 13.000 plantas por ha. Considerando um solo com baixos
teores de P e K, a recomendação para a adubação de plantio, baseada na tabela
acima, seria de 100 kg/ha de N, 400 kg/ha de P2O5 e 200 kg/ha de K2O. Neste
caso, a proporção N:P:K é de 1:4:2 que pode, por aproximação, ser ajustada
à fórmula 4-14-8. Assim, para suprir a quantidade recomendada de N, P e K,
deve-se aplicar, aproximadamente, 200 g por cova da fórmula 4-14-8 ou 100
g da fórmula 8-28-16.
Em solos com baixos teores de boro (B) e zinco (Zn), recomenda-se
aplicar 3 kg/ha de B e 5 kg/ha de Zn. Em razão da facilidade de lixiviação de B
e fixação de Zn pelas argilas, recomenda-se utilizar formas de liberação lenta,
como por exemplo, FTE, ou quelatos. Para atender às doses recomendadas,
sugere-se aplicar, aproximadamente, 5 g por cova de FTE.

172
Nutrição e adubação do tomateiro

Tabela 2 - Adubação de cobertura


Época (Dias após o plantio) Fórmula Dose (g/cova)
15 04 - 14 - 08 10
30 20 - 00 - 10 10
45 20 - 00 - 10 15
60 20 - 00 - 10 15
75 10 - 00 - 20 15
90 10 - 00 - 20 15
105 10 - 00 - 20 15
120 10 - 00 - 20 15

A alteração da fórmula 20-00-10 para 10-00-20 a partir do período de


desenvolvimento e início de maturação dos frutos é recomendada, pois o
aumento do fornecimento de K em relação ao N torna o fruto mais doce e com
coloração vermelha mais uniforme, além de proporcionar maior conservação
pós-colheita e aumentar a resistência da planta a doenças (ALVARENGA,
2004).

4. ADUBAÇÃO ORGÂNICA

A adubação orgânica é uma prática que não deve ser dispensada


no cultivo do tomateiro em razão do diferencial de crescimento que ele
proporciona, principalmente em solos com teores de matéria orgânica inferior
a 4 dag/kg. Os benefícios da aplicação de matéria orgânica são atribuídos à
liberação gradativa de nutrientes e à estruturação do solo, favorecendo o
crescimento do sistema radicular.
A utilização de adubos orgânicos permite que se reduza a quantidade
de fertilizantes minerais na proporção equivalente à quantidade de nutrientes
adicionados. Com base na Tabela 3, a aplicação de 5 t/ha de esterco de gaiola
de galinha representa a adição de 105 kg de N, 85 kg de P (195 kg de P2O5), 75
kg de K (90 kg de K2O), além de outros nutrientes. Supondo uma mineralização
de 100% do adubo orgânico durante o ciclo da cultura, as quantidades destes
nutrientes poderão ser reduzidas das fontes minerais.
A aplicação deve ser feita no fundo do sulco, misturando-se à terra, com
antecedência de pelo menos 15 dias do plantio.

173
Capítulo 8

Tabela 3 - Teores médios de macro e micronutrientes de alguns adubos orgânicos

Fonte: Kiehl (1985) e Souza, (1998).

5. SINTOMAS DE DEFICIÊNCIAS E PARTICULARIDADES DOS NUTRIENTES

5.1 NITROGÊNIO

Por ser facilmente perdido por lixiviação ou volatilização, o nitrogênio


é um dos elementos que mais frequentemente apresentam sintomas de
deficiência nas lavouras.
Por ter grande mobilidade na planta, quando o N é fornecido em
quantidades inferiores à demanda da planta, ocorre uma translocação
de N das folhas mais velhas para as folhas mais novas. Por esta razão, os
sintomas surgem primeiramente na parte inferior das plantas, inicialmente
apresentando folhas de coloração verde-pálida, progredindo para uma
clorose (amarelecimento) generalizada em todo o limbo foliar.
Tão prejudicial quanto à deficiência é o excesso de N. Aplicações
acima da exigência da cultura promovem o estiolamento das plantas, maior
suscetibilidade ao ataque de pragas e maior índice de frutos com podridão-
apical, frutos ocos e frutos com “ombro-verde”.
Quanto ao tipo de fertilizante nitrogenado a ser utilizado, se amídico
(uréia), nítrico (nitratos) ou amoniacais, não se têm observado diferenças
marcantes quanto à produtividade ou à qualidade de frutos. Qualquer uma
destas formas, quando aplicada ao solo, sofrem transformações, sendo que
a predominância de uma determinada forma de N depende de fatores, entre
outros, do pH e de micro-organismos do solo.
Em solos com acidez corrigida pela aplicação de calcário, independente

174
Nutrição e adubação do tomateiro

da forma do adubo nitrogenado utilizado, há predominância da forma nítrica


(NO3-), ao passo que, em solos ácidos, a forma de N predominante é a amoniacal
(NH4+). O tomateiro absorve N tanto na forma NO3- quanto na forma NH4+.
O íon NH4+, por possuir carga positiva, é adsorvido (retido) pelas cargas
negativas das argilas do solo, o que reduz as perdas por lixiviação. Já o íon NO3-,
por possuir carga negativa, não é adsorvido pelas argilas, sendo facilmente
lixiviado para horizontes mais profundos do solo, podendo atingir o lençol
freático.
Em culturas perenes, a maior preocupação após a adubação nitrogenada
são as perdas de N causadas por volatilização de NH3. No cultivo de hortaliças,
devido às elevadas doses de nutrientes e à maior frequência de irrigação, a
maior preocupação é com a lixiviação do NO3-. Recentemente, este fato tem
assumido grande importância, pois está relacionado com a poluição de
mananciais de águas, onde parte do nitrato é reduzida a nitrito (NO2), que,
quando na corrente sanguínea, reage com a hemoglobina, reduzindo sua
capacidade de carregar oxigênio (metahemoglobinemia). Outro problema
é a eutrofização (enriquecimento em nutrientes) das águas, aumentando a
produção de algas que consomem o oxigênio dissolvido, ocasionando a morte
da flora e fauna dos cursos d’água. Estes problemas são amenizados com o
maior parcelamento da dose recomendada de N e com o cálculo correto das
lâminas de irrigação.

5.2 FÓSFORO

Na cultura do tomateiro, não são comuns sintomas de deficiência


de fósforo (P). Somente em casos de deficiência aguda é que as plantas
apresentam sintomas. As folhas apresentam coloração arroxeada do lado
inferior, na região das nervuras. Há redução da floração e frutificação.
Apesar de ser absorvido em menor quantidade, o P proporciona
acentuado aumento de produtividade quando aplicado na dose exigida pela
cultura.
Há uma grande diferença entre a quantidade de P absorvida pela planta
e a quantidade a ser aplicada ao solo para atender à demanda da planta. Isto
se deve à forte adsorção de P pelas argilas do solo, formando compostos de
baixa solubilidade, ficando, portanto, indisponíveis às plantas. Este fenômeno
é tanto mais intenso quanto maior for a quantidade e atividade das argilas do

175
Capítulo 8

solo a ser cultivado.


Solos argilosos apresentam maior capacidade de adsorção (retenção)
de P, o que dificulta a absorção pelas plantas. Assim, para atender à demanda
da planta, é necessário elevar as doses a serem aplicadas. Em solos arenosos,
devido ao menor teor de argila, há menor retenção deste nutriente, o que
facilita a absorção pelas plantas. Neste caso, as doses a serem aplicadas
podem ser menores.
Para determinar a capacidade dos solos em adsorver P, já estão sendo
implementados métodos de rotina nos laboratórios de análises de solo, como
o fósforo remanescente (P-rem).
Para reduzir o problema da adsorção de P e consequentemente
aumentar a absorção pelas plantas, recomenda-se a aplicação de adubos
fosfatados de maneira localizada, em covas ou sulco, e na forma granulada,
reduzindo, assim, o contato P-argila.

5.3 POTÁSSIO

Mesmo sendo muito demandado pelo tomateiro, não são frequentes


os sintomas de deficiência de K+ nas lavouras de regiões produtoras. Em solos
com baixos teores de potássio (K+), os sintomas surgem primeiramente nas
folhas mais velhas como uma clorose entre as nervuras, que progride para a
morte dos tecidos das pontas e margens dos folíolos (queima das bordas).
O fornecimento adequado de K+ ao tomateiro, além de aumentar a
produção de frutos, melhora sua qualidade quanto à coloração vermelha, que
se torna mais intensa e sem a presença de espaços vazios. Há também menor
queda de frutos.
O K+, quando aplicado ao solo, é adsorvido às cargas negativas das
argilas, o que reduz seu movimento descendente no perfil do solo. Perdas
de K+ por lixiviação podem ocorrer em solos arenosos com baixo teor de
matéria orgânica. Por esta razão e devido ao seu efeito salino, recomenda-se
seu parcelamento, aplicando-se parte juntamente com o P, por ocasião do
plantio, e o restante, em cobertura, juntamente com o N.

5.4 CÁLCIO

Os sintomas de deficiência de cálcio (Ca) são muito frequentes em

176
Nutrição e adubação do tomateiro

lavouras de tomate. O Ca é um elemento imóvel no floema, não sendo


redistribuído na planta. Os seus sintomas de deficiência surgem primeiramente
como uma mancha preta no ápice do fruto. Daí a denominação de “podridão-
apical”, “podridão-estilar” ou “fundo preto”. Em casos de deficiência severa,
pode ocorrer necrose das pontas e margens dos folíolos, e as faces inferiores
das folhas assumem coloração arroxeadas.
As maiores incidências ocorrem em lavouras com calagem realizadas
pouco antes do plantio, o que dificulta a liberação de Ca2+ e Mg2+ em tempo
hábil para atender às necessidades nutricionais das plantas. Excesso de
adubação potássica localizada, adição de elevadas doses de N amoniacal e
déficit hídrico são fatores que contribuem para a ocorrência da deficiência de
Ca nas plantas.
A extração de Ca2+ pelos frutos é extremamente pequena, variando de
10 a 20% do total de Ca2+ absorvido pela planta, para um acúmulo de 75%
de peso de fruto em relação ao resto da planta. Esta é a razão das frequentes
deficiências de Ca2+ em frutos (“fundo preto”). A principal causa do menor
teor de Ca2+ nos frutos é a falta de transpiração, devido à impermeabilidade
da película, fazendo com que o fluxo da corrente transpiratória em direção
aos frutos seja praticamente nulo. A outra via de fluxo de nutrientes das folhas
para os frutos é o floema, que não é uma via eficiente para o seu suprimento.
A riqueza dos frutos em K+ é outro fator que contribui para a deficiência de
Ca2+. Aproximadamente 70% do K+ absorvido pelo tomateiro é carreado para
os frutos (TAKAHASHI, 1993).
Os frutos absorvem boa parte do Ca2+ fornecido via pulverização, mas
essa absorção diminui com a idade do fruto, a contar da antese (abertura das
flores). Segundo Barke (1968), apud Alvarenga (2004), a maior absorção de
Ca2+ ocorre entre 9 e 15 dias depois da antese, quando as aplicações com
cloreto de cálcio aumentaram em 30% o teor de Ca2+ no pericarpo, onde pode
ocorrer a podridão apical. Assim, como medida preventiva, as pulverizações
devem ser dirigidas para os cachos em início de formação. Nesta ocasião
pode-se adicionar o B.
No caso de aparecimento de frutos com podridão-apical, recomenda-
se pulverizações, a cada seis dias, de calda com 0,6 % de cloreto de cálcio ( 600
g por 100 litros de água), direcionadas principalmente para os frutos.
Entretanto, a prevenção da podridão-apical deve ser feita antes do
plantio, com uma calagem bem feita, com antecedência mínima de dois

177
Capítulo 8

meses do plantio e fornecimento dos demais nutrientes de forma equilibrada,


com bases na análise do solo. O emprego do superfosfato simples no sulco,
além de suprir P2O5, atua como fonte prontamente disponível de Ca e S, o que
reduz a incidência da podridão-apical.

5.5 MAGNÉSIO

Por ser o magnésio (Mg) um elemento muito demandado pelo


tomateiro, é comum o surgimento de sintomas de deficiência nas lavouras.
É um elemento de fácil translocação na planta, sendo carreado das folhas
velhas para as novas. Por esta razão, os sintomas de deficiência de Mg surgem
nas folhas mais velhas da parte inferior das plantas (amarelo baixeiro), que se
caracterizam por amarelecimento da região do limbo foliar localizado entre
as nervuras, as quais permanecem verdes (clorose internerval).
No caso de aparecimento de sintomas de deficiência de Mg, recomenda-
se pulverizações semanais com sulfato de magnésio a 2% (2kg/100L de
água).

5.6 ENXOFRE

São raros os relatos de deficiência de enxofre (S) na cultura do tomate.


Entretanto, com a utilização constante de adubos que não possuem este
nutriente em sua composição, como a ureia, o superfosfato triplo e o cloreto de
potássio, os teores no solo podem se tornar limitantes. Neste caso, as plantas
apresentam as folhas mais novas pequenas e com coloração verde-clara,
tornando-se amarelas e finas. Geralmente, a demanda de S pelo tomateiro
tem sido atendida quando se utilizam fertilizantes que o contenham em sua
composição, como os sulfatos e o superfosfato simples.

5.7 BORO

Nas regiões produtoras de tomate, o boro (B) é o micronutriente


que apresenta maior frequência de sintomas de deficiências. As plantas
apresentam leve clorose internerval nos folíolos das folhas jovens, que
permanecem pequenas, deformadas e enroladas para dentro. Ocorre,
também, encurtamento dos entrenós e morte da gema terminal. Já os frutos

178
Nutrição e adubação do tomateiro

novos apresentam manchas de coloração marrom, que progridem para toda


a superfície do fruto, havendo alto índice de lóculo aberto.
O B é imóvel no floema. Por esta razão, quando aplicado por via foliar
corrige a deficiência somente nas folhas e frutos que o recebem; as novas
folhas e frutos que se formam mais tarde poderão apresentar novamente sin-
tomas de carência, necessitando, portanto, de sucessivas aplicações. Obser-
vações de campo mostram que mesmo com a aplicação semanal de bórax via
foliar, esta não foi mais eficiente do que a aplicação de B via solo.
Limites entre deficiência e excesso de B no solo são bastante estreitos,
necessitando cuidados com a dose a ser aplicada. Aplicações de 30 kg/ha de
bórax têm suprido a demanda da planta para obtenção de altas produtivi-
dades. Em caso de deficiência, além da aplicação via solo, recomendam-se
pulverizações semanais de ácido bórico a 0,3% (300g/100L de água).

5.8 ZINCO

Deficiências de zinco (Zn) têm sido constatadas em lavouras instaladas


sobre solos argilosos, com excesso de calagem e altos teores de P. Por ser
imóvel no floema, os sintomas surgem nas partes novas da planta, com
encurtamento dos entrenós e folhas novas pequenas com leve clorose.
Neste caso, recomendam-se, além da aplicação no solo de 5 kg/ha de Zn,
pulverizações semanais com sulfato de zinco a 0,3% (300g/100L de água).

5.9 SILÍCIO

Do ponto de vista fisiológico, o silício (Si) não é considerado essencial


ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Entretanto, em diversos casos,
demonstrou-se efeito benéfico sobre a produtividade e resistência a doenças
de algumas plantas, como a cana-de-açúcar, o arroz e outras gramíneas
(EPSTEIN, 1994).
O tomateiro não é considerado planta acumuladora de Si. Alguns
trabalhos vêm mostrando resposta à aplicação de silicatos, principalmente
silicatos de cálcio. Porém, deve-se atentar para o fato de que a resposta pode
ser devido ao Ca2+, uma vez que o tomateiro é muito exigente deste elemento.
Aplicações de silicato de cálcio em lavouras de tomate bem supridas em cálcio
não responderam ao Si (LANA et al., 2002; PEREIRA; VITTI; KORNDORFER, 2003).

179
Capítulo 8

6. ANÁLISE FOLIAR

A diagnose foliar é uma ferramenta para monitoramento do estado


nutricional do tomateiro e deve ser realizada na época do florescimento, do
1º ao 6º cacho. Devem ser amostradas, aproximadamente, 20 plantas de cada
talhão homogêneo, coletando-se, de cada planta, 12 folhas com pecíolo,
próximo ao cacho correspondente. As amostras devem ser enviadas ao
laboratório no mesmo dia.
Plantas com boa nutrição devem possuir teores de nutrientes dentro
das faixas indicadas na Tabela 4.

Tabela 4 - Teores foliares de macro e micronutrientes considerados adequados para


o tomateiro

Fonte: Prezotti et al. (2007).

7. FERTIRRIGAÇÃO

É um método de fertilização complementar à realizada no plantio,


utilizando-se o sistema de irrigação. O método de irrigação mais adequado
para a utilização da fertirrigação do tomateiro é o gotejamento. Os fertilizantes
são dissolvidos em um tanque e injetados na tubulação. Os nutrientes mais
utilizados via fertirrigação são o nitrogênio e o potássio, por sua maior
necessidade de parcelamento e por serem mais solúveis. Entretanto, os demais
nutrientes também podem ser fornecidos, desde que se atenda aos níveis de
solubilidade de cada fertilizante, para que estes dissolvam-se completamente
e não produzam precipitados (Tabela 5). As soluções devem ser preparadas
respeitando-se o limite de 75% de solubilidade, haja vista que as solubilidades
apresentadas foram obtidas em condições ótimas e com produto puro. Deve-
se observar também a temperatura, pois esta influência a solubilidade; assim,
a dose de determinado fertilizante pode solubilizar-se totalmente no verão e
gerar precipitados no inverno.

180
Nutrição e adubação do tomateiro

Tabela 5 - Solubilidade de alguns fertilizantes

Fonte: Lopes, Vitti e Boareto, apud Alvarenga (2004).

As principais fontes de nitrogênio para o preparo das formulações são


ureia, sulfato de amônio, nitrato de amônio e MAP (fosfato monoamônio).
Os fosfatados mais utilizados são o ácido fosfórico e o MAP. A principal fonte
de K+ é o cloreto de potássio. Chapagain, apud Alvarenga (2004), testaram o
cloreto de potássio (KCl) e o nitrato de potássio (KNO3) como fonte de K+ na
solução de fertirrigação na cultura do tomate, constatando que não houve
diferenças na produtividade e na qualidade dos frutos. A firmeza dos frutos
foi melhorada com o uso do KCl, que também reduziu o número de frutos
podres e manchados.
Recomenda-se que a mistura dos fertilizantes seja feita de forma lenta
e sob agitação constante, para evitar que os fertilizantes precipitem no fundo
do tanque. Geralmente, a solubilização dos fertilizantes deve ser feita durante
aproximadamente 20 minutos, deixando-se a solução em repouso durante
outros 20 minutos para a observação de precipitados. Para o MAP e o nitrato
de cálcio, o repouso deve ser de seis horas.
Não se deve misturar fertilizantes que contenham P ou sulfato com

181
Capítulo 8

outro que contenha Ca2+.


Na presença de altas concentrações de Ca e Mg, deve-se optar por
adubos fosfatados com características ácidas, como ácido fosfórico ou fosfato
monoamônio.
Recomenda-se, antes das misturas, fazer o teste-da-jarra, misturando
em um recipiente de vidro transparente os fertilizantes na mesma proporção
que serão utilizados e aguardar por duas horas para observar a possibilidade
de formação de precipitados, os quais vão sendo depositados nas paredes
das tubulações e nos orifícios dos gotejadores, o que pode obstruir o sistema
de irrigação.

8. QUALIDADE DA ÁGUA

Água com alterações de pH e contendo concentrações elevadas


de alguns elementos químicos pode gerar precipitados danosos aos
equipamentos e causar toxidez às plantas. Para utilização na fertirrigação, a
água deve apresentar padrão de qualidade adequado conforme a Tabela 6.

Tabela 6 - Qualidade da água de irrigação

Unidades dos elementos em mg/L


1/
RAS = Razão de absorção de sódio = 1/[Na/(Ca + Mg)]1/2
Fonte: Adaptado de Kemira apud Alvarenga (2004).

182
Nutrição e adubação do tomateiro

Muitos fertilizantes, ao serem adicionados à solução, alteram o pH,


havendo risco de geração de precipitados. Neste caso, o pH deve ser corrigido
para valores entre 5,5 e 6,0.

9. SALINIZAÇÃO DO SOLO

Fertilizações intensivas ou fertirrigação localizada por um período


prolongado proporciona o acúmulo de sais, aumentando o potencial
osmótico da solução do solo, o que dificulta a absorção de água pelas raízes
das plantas. Plantas cultivadas nestas condições apresentam, inicialmente,
murchamento foliar nos períodos mais quentes do dia, mesmo o solo estando
úmido. Posteriormente, ocorre a queima dos bordos foliares e finalmente a
morte da planta (ALVARENGA, 2004).
Cada cultura apresenta diferentes graus de sensibilidade à salinidade
dos solos. O tomateiro é considerado moderadamente sensível, suportando
solos com condutividade elétrica de 2,5 dS/m no extrato de saturação do solo
(relação solo:água de 1 a 1,5:1).
A redução da salinidade do solo pode ser obtida realizando-se irrigações
com lâmina d’água suficiente para lixiviar os sais em excesso e incorporando-
se matéria orgânica de alta relação C/N.

10. REFERÊNCIAS

ALVARENGA, M. A. R. Tomate: produção em campo, em casa-de-vegetação e


em hidroponia. Lavras,MG: UFLA, 2004. 400p.

CARVALHO, J. G.de; BASTOS, A. R. R.; ALVARENGA, M. A. R. Nutrição mineral


e adubação. In: Tomate, produção em campo, em casa-de-vegetação e em
hodroponia. Lavras, MG: Alvarenga, M. A. R. (ed.). UFLA, p. 61-120. 2004.

EPSTEIN, E. The anomaly of silicon in plant biology. Proceedings National


Academy of Sciences, 91:11-17, 1994.

KIEHL, E. J. Fertilizantes Orgânicos. Piracicaba, SP: Editora Agronômica


Ceres, 1985. 492 p.

LANA, R. M. Q.; CÉSAR, E. U. R.; KORNDORFER, G. H.; ZANÃO JÚNIO, L. A.


Efeito do silicato de cálcio sobre a produtividade e acumulação de silício

183
Capítulo 8

no tomateiro. Horticultura Brasileira, Brasília, v.20, n.2, p.399, jul. 2002.


Suplemento 2.

PEREIRA, H.S.; VITTI, G.C.; KORNDORFER, G. H. Comportamento de diferentes


fontes de silício no solo e na cultura do tomateiro. Revista Brasileira de
Ciências do Solo. Viçosa, MG, v.27, n.1 p101-108. 2003.

PREZOTTI, L. C.; GOMES, J. A; DADALTO, G. G.; OLIVEIRA, J. A. de. Manual de


recomendação de calagem e adubação para o estado do Espírito Santo.
5ª aproximação. Vitória, ES: Seea, Incaper, Cedagro, 2007. 305p.

SOUZA, J. L. de. Agricultura Orgânica. Vitória,ES: Emcapa, 1998. 189P.

TAKAHASHI, H. W. Nutrição e adubação de tomate estaqueado. In:


NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE HORTALIÇAS. Piracicaba: POTAFOS, 1993, 487p.

184
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Capítulo 9
PRINCIPAIS PRAGAS DA CULTURA DO
TOMATEIRO ESTAQUEADO NA REGIÃO DAS
MONTANHAS DO ESPÍRITO SANTO
Maurício José Fornazier
Dirceu Pratissoli
David dos Santos Martins

1. introdução

Nos ecossistemas estáveis constata-se que as espécies têm existido


por milhares de gerações sem que suas populações cresçam a números
extremamente elevados ou que decresçam a ponto de ocorrer sua extinção.
As populações de insetos, nessas condições, apresentam um comportamento
de flutuação sem atingir valores extremos, fato este que se deve à existência
de fatores reguladores ou controladores do tamanho da população de cada
espécie, os quais são componentes primordiais da resistência do ambiente.
Esses fatores podem ser de dois tipos: os independentes da densidade

185
Capítulo 9

populacional, tais como os fatores climáticos (radiação solar, temperatura, luz,


vento, umidade relativa, pluviosidade e pressão) e os fatores físicos (edáficos,
planta cultivada, gravidade e som); os dependentes da densidade, tais como
os fatores alimentares e bióticos (inimigos naturais). As alterações bruscas
no tamanho das populações sempre advém de alterações ocorridas nos
fatores reguladores, levando ao rompimento do equilíbrio do ecossistema
(PASCHOAL, 1979).
Com a implantação pelo homem de ecossistemas artificiais, denomina-
dos de agroecossistemas, visando à produção de alimentos, bebidas, fibras etc.,
promove-se uma redução drástica da biodiversidade e consequentemente
da biomassa, isto porque os agroecossistemas implicam na simplificação
das estruturas do ambiente sobre extensas áreas, substituindo a diversidade
natural por um reduzido número de plantas cultivadas (ALTIERI; SILVA;
NICHOLLS, 2003).
O sistema de agricultura implantado pelo homem nas últimas décadas
caracterizou-se por ter uma estrutura denominada de químico-mecanizado
que é extremamente especializada e busca viabilizar uma maior escala de
produção num curto espaço de tempo. Esse sistema de produção apresenta
uma tendência à homogeneização e simplificação da cadeia produtiva através,
entre outros, da utilização intensiva da mecanização, fertilizantes inorgânicos,
agrotóxicos, irrigação, variedades e híbridos de alto rendimento.
Como a biodiversidade foi subjugada ao sistema simplificado do
agroecossistema, a maioria dos fatores de resistência do meio ambiente fica
impedida de agir com a desestabilização do ecossistema. Neste tipo de arranjo
produtivo, o homem encontra-se frente aos insetos, competidores com escala
evolucionária de 300 milhões de anos. No entanto, das aproximadamente 900
mil espécies de insetos já descritas, menos de 10% causam algum tipo de
dano.
A ocorrência dos insetos na condição de pragas está baseada em
ações implementadas pelo homem, de natureza econômica, histórica e
ambiental que, direta ou indiretamente, propiciam competição por alimento,
abrigo e território. Dentre essas ações podemos citar o estabelecimento de
monoculturas extremamente simplificadas e, portanto, sujeitas a flutuações
drásticas das populações de organismos associados, o plantio de cultivares
ou variedades em locais não favoráveis, a introdução de plantas exóticas sem
prévios estudos de adaptabilidade, o melhoramento genético de plantas

186
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

com a única finalidade de aumentar a produção que podem resultar em


plantas suscetíveis às pragas, práticas culturais inadequadas que favorecem
o aumento populacional de insetos-praga, fatores climáticos naturais ou
modificados pelo homem que favorecem determinadas espécies de insetos,
uso contínuo de inseticidas não-seletivos que promove o extermínio dos
inimigos naturais e o uso indiscriminado de inseticidas, que, pela pressão de
seleção, proporciona o surgimento de populações resistentes (PASCHOAL,
1979).
Os insetos, quando causam danos econômicos, podem ser classificados
em dois tipos de pragas. O primeiro é denominado de praga secundária,
que tem por característica ocorrer esporadicamente na cultura, causando,
eventualmente, danos significativos. Os surtos são constatados sempre
que ocorre um drástico desequilíbrio biológico com o uso contínuo de
agrotóxicos, em grandes quantidades e não seletivos. O segundo tipo é
denominado de praga primária ou praga-chave e tem sido caracterizado por
ocorrer sistematicamente na cultura todas as vezes em que ela for implantada,
sempre causando danos econômicos. Esse tipo tem sido subdividido em
dois grupos, em função do tipo de dano provocado. Os chamados de pragas
frequentes atacam todas as partes da planta, com exceção do produto a
ser comercializado, causando danos indiretos que irão refletir na perda por
qualidade ou quantidade da produção. O segundo grupo, chamado de pragas
nocivas, ataca diretamente o produto a ser comercializado causando perdas
tanto qualitativas quanto quantitativas.
Duas épocas distintas de cultivo do tomateiro podem ser observadas
na região de montanha do Estado do Espírito Santo. Na primeira, realizada em
regiões de altitudes mais elevadas, acima de 750 m, os plantios são realizados
no período de primavera/verão, com colheitas até os meses de junho/julho;
na segunda, realizada em regiões mais baixas, cujas temperaturas são
mais elevadas, os plantios são conduzidos no período de outono/inverno,
permitindo cultivo durante todo o ano.
Essa diversidade climática encontrada nos cultivos do tomateiro
influencia o desenvolvimento de populações das pragas, propiciando surtos
de difícil controle, principalmente de vetores de viroses e brocas de frutos.
As principais pragas encontradas na região de cultivo de tomate no
Estado do Espírito Santo são descritas a seguir.

187
Capítulo 9

2. VETORES DE VIROSES

2.1 Tripes, lacerdinha


Ordem: Thysanoptera
Família: Thripidae
Nome científico: Thrips tabaci (Lindeman, 1888)
Thrips palmi (Karny, 1925)
Frankliniella schultzei (Trybom, 1920)

Biologia
Os tripes são insetos de tamanho reduzido, o que dificulta a
sua visualização e, consequentemente, a sua identificação. O ciclo de
desenvolvimento é do tipo holometabolia (ovo, ninfa, pupa e adulto), sendo
os ovos depositados no interior da epiderme das folhas e ramos, tendo um
período de incubação em torno de 4 dias, de onde eclodem as ninfas, que são
ápteras (sem asas) e muitos ativas, permanecendo sempre junto aos adultos.
O período de desenvolvimento das ninfas dura de 5 a 10 dias. O período
de pupa ocorre no solo e é relativamente curto, variando de 1 a 4 dias.
Os adultos (Figura 1) apresentam asas delgadas e franjadas, as quais
permanecem apoiadas sobre o dorso do inseto quando estão em repouso.
Durante sua vida, as fêmeas podem colocar de 20 a 100 ovos.
As duas primeiras espécies são de menor tamanho, 1 mm de compri-
mento, tendo um ciclo biológico variando de 20 a 25 dias. F. schultzei pode
chegar a 3 mm de comprimento, com um ciclo biológico de 15 dias.

Descrição
Essas espécies de tripes abrigam-se nas flores e na face inferior das
folhas, de preferência nas mais novas, onde vivem em colônias. Por serem
polífagos, podem transferir-se de outras culturas ou de restos culturais para
os novos plantios de tomate, onde passam a raspar a epiderme dos tecidos, a
fim de alimentar-se da seiva.
A proliferação ocorre pelo vento ou por mudas, com maior intensidade
de infestação nos períodos quentes ou em períodos de baixa temperatura,
porém associadas à estiagem.
O número de plantas hospedeiras é relativamente grande, tendo sido
registrada a ocorrência em batata, amendoim, alface, berinjela, crisântemo,

188
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

dália, fumo, pimentão, melão, pepino, feijão, soja, batata-doce, algodão, além
de uma ampla gama de plantas daninhas.

Sintomas/Danos
Por terem preferência por tecidos mais tenros, o período crítico na
cultura do tomateiro ocorre até os 60 dias, quando raspam os tecidos para se
alimentar da seiva extravasada, caracterizando o dano direto. A consequência
indireta é a capacidade de transmissão de viroses, tanto pelas ninfas quanto
pelos adultos, que, ao se alimentar de plantas infectadas, passam a ser
veiculadores de um complexo de vírus, sendo os mais comuns denominados
de vira-cabeça do tomateiro.
Tanto a fase jovem como a fase adulta do tripes provocam numerosas
cicatrizes e, consequentemente, deformações, podendo acarretar até a morte
da planta. Quando ocorre a transmissão de virose, as plantas inicialmente
apresentam um escurecimento das folhas, de aspecto bronzeado, avançando
para o caule, onde ocorre o aparecimento de estrias escuras. Nos frutos
provocam manchas amareladas. Após a disseminação da virose por toda a
planta, percebe-se um curvamento da extremidade do ponteiro, de onde
provém o nome vulgar de vira-cabeça do tomateiro. Os critérios para
monitoramento de sua população são descritos na Tabela 1.

Foto: DPratissoli

Figura 1 - Fase adulta do tripes.

189
Capítulo 9

2.2 Mosca-branca
Ordem/Sub-ordem: Hemiptera/Sternorrhyncha
Família: Aleyrodidae
Nome científico: Bemisia tabaci (Gennadius, 1889)
B. tabaci raça B (~ B. argentifolii Bellows & Perring, 1994)
Sinonímias: Aleyrodes tabaci (Gennadius, 1889); A. inconspicua (Quaintance &
Baker, 1914); B. inconspicua (Quaintance & Baker, 1914); B. costalimai (Bondar,
1928); B. signata (Bondar, 1928); B. bahiana (Bondar, 1928); B. gossypiperda
(Misra & Lamba); B. longispina (Priesner & Hosny, 1934); B. goldini (Corbertt,
1935); B. nigenieris (Corbertt, 1935); B. rhodesianensis (Corbertt, 1936)

Biologia
O desenvolvimento desta praga é do tipo hemimetabolia, ou seja,
engloba as fases de ovo, ninfa e adulto, tendo o ciclo biológico uma duração
média de 15 dias.
Os ovos possuem uma coloração amarelada e apresentam um formato
de pera, fixados por um pedúnculo curto na face inferior das folhas mais novas
e são depositados isoladamente. O estágio de ovo pode variar de 3 a 6 dias.
Após a eclosão, surgem as ninfas, sendo estas translúcidas, corpo com
formato ovalado, cuja coloração pode variar do amarelo ao amarelo-pálido.
Logo no início de seu desenvolvimento, possuem pernas, período no qual
saem à procura de um local na planta onde possam introduzir o estilete e
começar o processo de sucção de seiva. O ciclo ninfal apresenta uma duração
que pode variar de 12 a 15 dias, aproximadamente.

Descrição
Os adultos (Figura 2) apresentam o branco como cor predominante,
uma vez que suas asas são brancas e cobrem a maior parte do corpo,
entretanto, o dorso do corpo do inseto é amarelo-claro. Quanto ao tamanho,
são considerados pequenos com 1 mm de comprimento, contudo tem-se
verificado que os machos são menores que as fêmeas. O aparelho bucal é
do tipo “picador-sugador”. As fêmeas podem ovipositar em média 150 ovos.
No entanto, a raça B, considerada mais agressiva, pode colocar cerca de 300
ovos.

190
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Foto: DPratissoli
Figura 2 - Adultos da mosca-branca em ponteiro, folha e fruto de tomateiro.

Sintomas/danos
É uma importante praga e por serem sugadores podem provocar
danos diretos e indiretos. Com a injeção de toxinas, induzem a alterações
no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, debilitando-a
e reduzindo a produtividade e qualidade dos frutos, podendo provocar
sintomas de afilamento do ápice, manchas cloróticas, folhas encarquilhadas,
com aspecto coriáceo e o arqueamento dos folíolos. Em infestações intensas
podem, também, ocasionar murchamento das plantas e maturação forçada
dos frutos.
O segundo tipo de dano ocorre com a transmissão de viroses (Figura
3) do tipo geminivírus, conhecida por mosaico-dourado do tomateiro,
provocando nanismo das plantas infectadas, encarquilhamento severo das
folhas terminais, amarelecimento de toda a planta e o amadurecimento
irregular dos frutos.
Outro tipo de dano indireto ocorre pela excreção de suas fezes que
cobrem folhas e frutos, propiciando o aparecimento do fungo denominado
de fumagina, que interfere no processo de fotossíntese da planta. O período
crítico do ataque se dá até os 60 dias de desenvolvimento da cultura. Pode
ser, ainda, encontrada em outras solanáceas, em cucurbitáceas e em plantas
ornamentais. Os critérios para monitoramento de sua população são descritos
na Tabela 1.

2.3 pulgão-da-batatinha
Ordem/Sub-ordem: Hemiptera/Sternorrhyncha
Família: Aphididae
Nome científico: Macrosiphum euphorbiae (Thomas, 1878)
Sinonímias: Siphonophora solanifolii (Ashmead, 1881); Macrosiphum solanifolii
(Ashmead, 1881); Macrosiphum gei (Kock, 1857)

191
Capítulo 9

2.4 Pulgão-verde
Ordem/Sub-ordem: Hemiptera/Sternorrhyncha
Família: Aphididae
Nome científico: Myzus persicae (Sulzer, 1776)
Sinonímia: Aphis persicae (Sulzer, 1776); Myzodes persicae (Sulzer, 1776)

Biologia
M. euphorbiae: São insetos de comprimento que pode variar de 3 a 4
mm, tendo, tanto a forma jovem quanto a alada, uma coloração em geral
esverdeada, com cabeça e tórax amarelados, possuindo as antenas de
coloração escura. A forma alada dessa espécie diferencia-se das ápteras pelo
seu tamanho, sendo esta última, maior.
M. persicae: Possuem cerca de 2 mm de comprimento, tendo sua forma
áptera uma coloração de tonalidade verde-clara, e os de forma alada possuem
coloração verde, sendo a cabeça, antenas e tórax de cor mais escura.
Em ambas as espécies, a reprodução ocorre por partenogênese
telítoca, em que há a produção de descendentes sem haver o acasalamento.
O desenvolvimento ninfal apresenta quatro ínstares, o qual ocorre em um
período em torno de 10 dias. Os adultos podem viver entre 15 e 20 dias, sendo
que cada fêmea pode gerar até 80 descendentes.

Descrição
São pragas que vivem em colônias (Figura 3), sugando de forma
contínua as folhas e brotos terminais, considerados esses os danos diretos.
Os danos indiretos têm sido relatados para esses insetos por serem,
na forma adulta, transmissores de viroses (Figura 4), sendo responsáveis
por inocularem os vírus-do-topo-amarelo do tomateiro, vírus Y da batata e
do vírus-do-mosaico do tomateiro. O que propicia a disseminação dessas
infecções é a presença das formas aladas, que podem dispersar-se através do
vento, infestando um grande número de plantas.
Por serem pragas polífagas, essas espécies podem ainda ocorrer em
plantas de batata, berinjela, pimentão, alface, algodão, melancia, couve,
repolho, feijão e fumo, além de uma diversidade de plantas daninhas.

Sintomas/Danos
Com a injeção de toxina durante a sucção de seiva, os primeiros sintomas

192
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

que podem ser percebidos são


o encarquilhamento das folhas
e o engruvinhamento dos bro-
tos terminais. A presença de
fumagina sobre as folhas e frutos
pode alterar a taxa fotossintética
da planta. As viroses, quando
inoculadas nas plantas, promo-
vem uma série de alterações em
todas as partes vegetativas que
se refletem na descoloração das
folhas, no atraso do crescimento
e do desenvolvimento dos frutos

Foto: DPratissoli
e ramos, com consequência na
qualidade e produção de frutos.

Figura 3 - Colônia de pulgões em folhas de


tomateiro.

Foto: DPratissoli

Figura 4 - Plantas de tomateiro com sintomas de diferentes viroses transmitidas por


mosca-branca, pulgões e tripes.

193
Capítulo 9

Outras consequências indiretas podem ocorrer através das fezes desses


insetos, que, por serem sugadores constantes, expelem grande quantidade
de líquido açucarado, favorecendo o desenvolvimento do fungo denominado
fumagina, que interfere na fotossíntese, na respiração das plantas e no
aspecto qualitativo dos frutos (Figura 5). Os critérios para monitoramento de
sua população são descritos na Tabela 1.

Foto: DPratissoli
Figura 5 - Frutos de tomateiro verde e maduro com sintomas de viroses transmitidas
por mosca-branca, pulgões e tripes.

3. TRAÇAS, MINADORES E BROCAS

3.1 Traça do tomateiro


Ordem: Lepidoptera
Família: Gelechiidae
Nome científico: Tuta absoluta (Meyrick, 1917)
Sinonímias: Phthorimaea absoluta (Meyrick, 1917)
Gnorimoschema absoluta (Meyrick, 1917)
Scrobipalpula absoluta (Meyrick, 1917)
Scrobipalpuloides absoluta (Meyrick, 1917)

Biologia
São insetos holometabólicos, ou seja, apresentam metamorfose
completa, com as fases de ovo, larva, pupa e adulto.
Os ovos são minúsculos, elípticos e de cor amarelada, sendo depositados
isoladamente na face inferior e superior das folhas, próximos às nervuras,
ou em qualquer reentrância, nos brotos terminais, nas hastes, no cálice das
flores e nos frutos. A maior concentração de postura sempre ocorre no terço

194
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

superior da planta. O período de incubação varia de 2 a 4 dias.


As lagartas apresentam uma coloração que varia do verde-claro ao
rosado, tendo uma placa quitinosa escura no dorso do primeiro segmento
torácico. Possuem três pares de pernas torácicas e cinco pares de falsas pernas
abdominais. Passam por 4 ínstares, com um desenvolvimento que varia de 13
a 17 dias, medindo de 6 a 9 mm de comprimento.
A pupas são do tipo obtecta, envolta em um casulo de seda, podendo
ser encontradas nas diversas partes das plantas (folhas, gema apical, hastes e
frutos); quando a fase pupal ocorre no solo, pode ser encontrada em detritos
vegetais. A duração desta fase varia de 7 a 10 dias.
Os adultos (Figura 6) são pequenas mariposas de 11 mm de
comprimento, com coloração cinza-prateada, sendo suas asas franjadas.
Acasalam-se poucas horas após a emergência, podendo colocar uma média
de 50 ovos. A longevidade dos adultos pode chegar a 15 dias. Possuem hábito
de voo nos crepúsculos do dia e abrigam-se durante o dia sob as folhas do
tomateiro. Seu ciclo biológico completo pode chegar a 38 dias.

Descrição
Esta é uma espécie cujas infestações podem ser fortemente influencia-
das pelas condições climáticas. A proliferação dessa praga tem sido favorecida
quando ocorrem períodos de baixa precipitação, com temperaturas elevadas
e veranicos na época chuvosa.
Em sua fase de lagarta possui grande capacidade de causar danos,
independente da idade das mesmas. Nos folíolos, penetram no parênquima
foliar, de onde passam a se alimentar, provocando minas. A maior concentração
de ataque pode ser verificada no terço médio das plantas. Nos ponteiros
(Figura 7), penetram na gema apical, onde, ao se alimentarem, fazem uma
galeria no sentido descendente, provocando a morte da mesma. No interior
das galerias, as lagartas, ao completarem seu ciclo larval, perfuram o colmo,
por onde saem. Penetram nos frutos, onde se alimentam da polpa, fazendo
galerias que apresentam uma coloração escura pela deposição de fezes em
seu interior.
Esta espécie tem grande preferência alimentar pelo tomateiro, porém
pode ocorrer em outras solanáceas de importância econômica, como berinjela,
batata e pimentão. Pode, entretanto, utilizar-se de hospedeiros alternativos,
como outras solanáceas silvestres.

195
Capítulo 9

Sintomas/Danos
Os sintomas da presença dessa praga na cultura podem ser observados
através das minas deixadas nos folíolos (Figura 8A). Nas vistorias de campo
deve-se observar inicialmente as folhas do terço superior. Nos ponteiros,
a constatação de sua presença é através das fezes escuras deixadas junto
aos folíolos da gema apical. Nos frutos (Figuras 8A e 8B) deve-se observar
pequenas perfurações de aspecto escuro, próximas às sépalas.
Os danos podem ser de característica quantitativa ou qualitativa, pela
redução da área foliar, o que irá interferir na taxa fotossintética da planta; pela
morte da gema, impedindo assim a formação de novos cachos de frutos e
atrasando o desenvolvimento da planta; e pela perfuração da polpa dos frutos,
tornando-os imprestáveis à comercialização. Os critérios para monitoramento
de sua população são descritos na Tabela 1.

Foto: DPratissoli

Figura 6 - Forma adulta da traça do tomateiro.


Foto: DPratissoli

Figura 7 - Sintomas da infestação da lagarta da traça do tomateiro no ponteiro da


planta.

196
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Foto: DPratissoli
Foto: MJFornazier
A B
Figura 8 - Sintoma da incidência de ataque da lagarta da traça do tomateiro em folhas
e frutos de tomate (A). Sintoma da infestação e dano da lagarta da traça do
tomateiro em frutos jovens e em frutos mais desenvolvidos (B).

3.2 Mosca-minadora, larva-minadora


Ordem: Diptera
Família: Agromyzidae
Nome científico: Liriomyza spp.

Biologia
Apresenta um desenvolvimento holometabólico.
As posturas são feitas isoladamente, sendo os ovos depositados
endofiticamente através da introdução do ovipositor no interior do
parênquima foliar. O período de incubação pode variar de 2 a 4 dias.
As larvas, ao eclodirem, passam a se alimentar do parênquima foliar,
através do qual fazem galerias (Figura 9A). Inicialmente apresentam uma
coloração branco-hialina, e com o desenvolvimento tornam-se amareladas.
Esta fase possui uma duração que varia de 6 a 10 dias.
Foto: HCosta
Foto: DPratissoli

Foto: MJFornazier

A B C
Figura 9 - Galeria provocada no mesófilo foliar pela alimentação da larva de Liriomyza
spp. (A). Ataque severo da minadora das folhas em tomateiro (B). Infecção
de Pseudomonas seringae pv. tomato favorecida pela alta infestação da
larva minadora do tomateiro (C).

197
Capítulo 9

A fase pupal pode ocorrer no solo ou fixada na face inferior das folhas
mais velhas. Esta fase pode ter uma duração variando de 5 a 12 dias.
Os adultos são moscas de tamanho reduzido, medindo cerca de 2 mm
de comprimento, tendo seu corpo de coloração escura, porém com manchas
amareladas no tórax e na face superior da cabeça. Suas asas são transparentes.
Cada fêmea pode colocar de 500 a 700 ovos, cuja longevidade dura cerca de
26 dias.
O ciclo biológico tem uma duração de 17 a 30 dias, dependendo das
condições climáticas.

Descrição
As galerias deixadas pelas larvas são translúcidas, devido à destruição
do tecido parenquimatoso dos folíolos. O sentido de orientação das galerias é
aleatório, de forma irregular, podendo, algumas vezes, apresentar ramificações.
As larvas, quando bem desenvolvidas, podem ser visíveis no interior das
galerias pela tonalidade amarelada.
As pupas, quando aderidas na face inferior da folha, apresentam um
formato de barril, por serem do tipo denominado de coarctada.
Os adultos apresentam o hábito diurno e, por serem pequenos, são
facilmente dispersados pelo vento, podendo atingir longas distâncias. As
fêmeas fazem dois tipos de puncturas com seu ovipositor nas folhas. Cerca
de um quinto são feitas para oviposição e o restante, para alimentarem-se do
líquido extravasado.
No Brasil podem ocorrer várias espécies, sendo as mais comuns
Liriomyza huidobrensis, L. sativa e L. trifolii. Além do tomateiro, podem atacar
outras culturas, tais como batata, feijão, berinjela, couve, cucurbitáceas, feijão-
vagem, beterraba, fumo, pimentão, girassol, maracujá, couve-flor, algodão,
quiabo e alface, bem como podem utilizar inúmeras outras plantas silvestres
como hospedeiros alternativos.

Sintomas/Danos
A ocorrência dessa praga pode ser constatada pela observação das
galerias nos folíolos, que são visíveis ao olho humano. A maior incidência
do ataque ocorre nos folíolos do terço mediano da planta (Figura 9B). Outra
forma para a percepção da ocorrência dessa praga na cultura é a presença dos
adultos pousados sobre as folhas.

198
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

A destruição do limbo foliar afeta diretamente a taxa de fotossíntese


da planta. O prejuízo advém do estresse fisiológico da planta, que se reflete,
principalmente, na qualidade dos frutos. Pode favorecer sensivelmente a
infecção de doenças foliares (Figura 9C). Os critérios para monitoramento de
sua população são descritos na Tabela 1.

3.3 Broca-pequena, Broca-pequena-do-tomateiro, Broca-


pequena-do-fruto
Ordem: Lepidoptera
Família: Crambidae
Nome científico: Neoleucinodes elegantalis (Guenée, 1854)

Biologia
O ciclo de desenvolvimento dessa praga é do tipo holometabólico e
pode chegar a 50 dias.
A fase de ovo apresenta uma duração média de 3 dias, podendo chegar
a 5 dias. As posturas são feitas no pericarpo do frutos, junto ao cálice ou nas
sépalas, sendo os ovos depositados em grupos, que normalmente são em
número de três, no entanto podem chegar a 10 ovos. Estes, apresentam um
formato globular, de coloração esbranquiçada, os quais mudam a coloração
para um amarelo-creme na medida em que avança o seu desenvolvimento.
As larvas, ao eclodirem, possuem, inicialmente, uma coloração cremosa,
porém quando mais desenvolvidas tornam-se rosadas, com o primeiro
segmento torácico amarelado, podendo medir de 11 a 13 mm. O ciclo larval
dura em média 30 dias.
As pupas possuem coloração marrom-clara, sendo que esta fase ocorre
no solo sob os detritos vegetais. O ciclo pupal dura em média 17 dias.

Descrição
Os adultos são mariposas, medindo cerca
de 25 mm de envergadura, e possuem o corpo de
coloração marrom, com as asas esbranquiçadas,
Foto: DPratissoli

semi-transparentes, tendo as anteriores manchas


marrom-avermelhadas na base e na lateral e,
nas posteriores, pequenas manchas esparsas de
Figura10 - Adulto da broca-
coloração marrom (Figura 10). pequena.

199
Capítulo 9

A ocorrência dessa praga pode ser durante todo o período do ano, no


entanto dois picos populacionais podem ser registrados, um antes do inverno
(março a maio) e o outro antes do período das chuvas (agosto a setembro). O
clima quente e úmido favorece sua dispersão e reprodução.
As posturas são feitas somente quando os frutos atingem 25 mm de
diâmetro, prolongando-se até próximo à maturação (Figura 11A).

Fotos: MJFornazier
A B
Figura 11 - Constatação de ovos da broca-pequena em frutos de tomateiro em dife-
rentes fases de desenvolvimento (A). Sintoma de entrada da lagarta da
broca-pequena no fruto de tomate - cicatriz deixada no pericarpo após
sua entrada (B).

As lagartas, ao penetrarem nos frutos, deixam uma cicatriz característica


(Figura 11B) e passam a se alimentar da polpa que envolve as sementes (Figura
12). Ao final do ciclo larval perfuram o endocarpo, por onde saem, deixando
um orifício característico de que o fruto foi atacado (Figura 13) e por onde
penetram os fungos saprófitos que propiciaram a decomposição do mesmo.
Os adultos possuem o hábito de voar nos crepúsculos do dia, porém
durante o dia raramente permanecem dentro da cultura do tomateiro.
A preferência de alimentação é pelo tomateiro, no entanto podem
ocorrer em outras culturas como berinjela, pimentão-doce, jiló, ou em outras
solanáceas silvestres.

200
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Sintomas/Danos
Os sintomas da ocorrência dessa praga podem ser observados através
de um exame minucioso da presença de ovos ou da cicatriz de coloração
escura, deixada no pericarpo do fruto quando da penetração das lagartas.
Pelo fato do ataque ocorrer somente nos frutos, a broca-pequena tem
se tornado nociva, pois os prejuízos são sempre quantitativos, tornando-
os inaproveitáveis, tanto para o consumo in natura quanto para a indústria
de processamento. Os critérios para monitoramento de sua população são
descritos na Tabela 1.

Foto: DPratissoli

Figura 12 - Presença da lagarta da broca-pequena e dano em frutos de tomateiro.


Foto: DPratissoli

Foto: MJFornazier

Figura 13 - Orifício deixado pela saída da lagarta da broca-pequena em fruto de


tomate verde e maduro, após completar seu desenvolvimento larval.

201
Capítulo 9

3.4 Lagarta da espiga-do-milho, Broca-grande-do-tomate,


Broca-grande-do-fruto, Brocão
Ordem: Lepidoptera
Família: Noctuidae
Nome científico: Helicoverpa zea (Boddie, 1850)
Sinonímias: Heliothis zea (Boddie, 1859);
H. obsoleta (Fabricius, 1793);
H. armigera (Hubner, 1805);
Noctua armigera (Hubner, 1805);
H. peltigera (Denis e Schiffermüller, 1775);
H. umbrosus (Grote, 1862)

Biologia
Apresenta um desenvolvimento holometabólico, cujo ciclo biológico
varia de 35 a 45 dias.
Os ovos apresentam formato hemisférico, de coloração esbranquiçada,
tornando-se escuros próximos à eclosão das larvas. As posturas são feitas de
forma isolada, tendo os ovos um período de incubação que dura de 3 a 5 dias
(Figura 14).
O ciclo larval apresenta uma duração que varia de 13 a 25 dias, e nesse
período passa por cinco ínstares. As lagartas apresentam cápsula cefálica
marrom e corpo de coloração esbranquiçada, que pode variar até verde-
escuro, com faixas longitudinais escuras e manchas pretas (Figura 15). Uma
lagarta, quando completamente desenvolvida, pode medir até 50 mm de
comprimento.
Foto: DPratissoli

Figura 14 - Postura da broca-grande-do- Figura 15 - Forma jovem da broca-grande-


tomateiro, Helicoverpa zea. do-tomateiro e seu dano ao
fruto.

202
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

As pupas sempre ocorrem no solo, próximo às plantas e enterradas


sob os restos culturais. Possuem uma coloração marrom brilhante, com uma
duração de 13 a 15 dias.
O adulto é uma mariposa que mede de 30 a 40 mm de envergadura,
tendo suas asas anteriores de coloração que varia do amarelo ao verde-
amarelo, apresentando, próximo ao centro da asa, uma mancha marrom-
escura. As asas posteriores são mais claras, tendo uma faixa escura na borda
lateral da mesma. Uma fêmea pode colocar cerca de 1.000 ovos por um
período de vida que pode variar de 12 a 15 dias.

Descrição
A ocorrência dessa praga na cultura do tomateiro pode ser constatada
durante todo o ano. As maiores incidências ocorrem quando coincide com o
período de cultivo de milho.
Por terem o hábito de voo noturno, os adultos passam o dia escondidos
sob as folhas das plantas. As posturas são feitas em qualquer parte da planta.
As lagartas recém-eclodidas raspam as folhas e posteriormente
deslocam-se para os frutos, onde, inicialmente, raspam o pericarpo e conse-
cutivamente alimentam-se da polpa, provocando grandes deformações.
A preferência alimentar é pela cultura do milho; no entanto, o tomateiro
tem-se tornado um alimento alternativo. Pode também ocorrer em outras
culturas, como a de sorgo, algodão, cucurbitáceas, alho, berinjela, cebola,
chuchu, feijão, fumo, girassol, pimenta, trigo e soja.

Sintomas/Danos
Os primeiros sintomas podem ser percebidos através das cicatrizes
deixadas quando esses insetos raspam a epiderme do fruto (Figura 16). Um
outro sintoma mais avançado é constatado quando percebe-se nos frutos
grandes perfurações irregulares na polpa.
Por causarem um dano direto nos frutos, o prejuízo advém da perda dos
mesmos para a comercialização (Figura 17). Os critérios para monitoramento
de sua população são descritos na Tabela 1.

203
Capítulo 9

Foto: MJFornazier
Foto: DPratissoli
Figura 16 - Dano externo ao fruto de Figura 17 - Descarte de frutos de tomate
tomate causado pelo ataque devido à infestação da broca-
de lagartas da broca-grande. pequena e da traça-do-toma-
teiro, ocasionando perda de
produtividade.

4. MÉTODOS DE AMOSTRAGEM DAS PRINCIPAIS PRAGAS

Unidade amostral: Deve-se dividir a área em talhões de cerca de 2.000


plantas, sendo que em cada um, amostrar 1% das plantas. Dar preferência para
as divisões naturais já realizadas pelo tomaticultor quando do estaqueamento
da lavoura.
Pontos de amostragem: A amostragem deve ser realizada aleatoria-
mente, e em cada ponto amostral inspecionar cinco plantas consecutivas.
Forma de caminha-
mento para a inspeção:
Para se ter uma amostragem
representativa, dentro de
cada talhão, deve-se cami-
nhar em forma de zig-zag
(Figura 18).
Intervalo de amostra-
gem: As amostragens devem
ser efetuadas durante todo o
Foto: MJFornazier

ciclo da cultura, tendo o iní-


cio no 15o dia após o trans-
plantio. O intervalo entre as
amostragens deve ser de, no Figura18 - Monitoramento da lavoura de tomate
para constatação da incidência de
máximo, 4 dias. pragas.

204
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Tabela 1 - Modelo de amostragem para as pragas chave do tomateiro estaqueado na


região das montanhas do Espírito Santo. 2008.

Praga chave Sistema de amostragem Nível de controle


Vetores de Tripes; Agitar o ponteiro sobre uma 1 vetor por
viroses Pulgões; caixa plástica com + 8 cm de ponteiro.
(até 60 dias após o Moscas-brancas. altura.
transplantio)

Ponteiro: semelhante ao dos 25% dos ponteiros


vetores. com presença de
lagartas vivas.

Folha: examinar a 1a folha do 25% de folhas


Traça Tuta terço superior. com lagartas vivas.
(todo o ciclo) absoluta
Frutos: examinar 1 por 5% de pencas
penca por planta (frutos com ovos ou
maiores que 2,5 cm O) sintomas iniciais
(presença de ovos ou de ataque.
sintomas iniciais de ataque).

Broca- Neoleucinodes Examinar 1 penca (frutos 5% de pencas


pequena elegantalis > 2 cm) por planta. com ovos.

Broca- Ovos nas folhas do terço 4% de folhas


grande Helicoverpa zea superior. com ovos.

Examinar 1 folha no terço 25% de folhas


Mosca-
Liriomyza spp. inferior. com presença de
minadora
larvas vivas.

5. PRAGAS QUE OCORREM EM SURTOS

5.1 COLEÓPTEROS

5.1.1 Desfolhadores

5.1.1.1 Larva alfinete, Vaquinha verde-amarela, Brasileirinho, Patriota


Ordem: Coleoptera
Família: Chrysomelidae
Nome científico: Diabrotica speciosa (Germar, 1824)
Sinonímias: Galceuca speciosa (Germar, 1824); D. vigens (Erichson, 1847); D.
amabilis (Baly, 1886); D. simulans (Baly, 1886); D. hexaspilota (Baly, 1886); D.
simoni (Jacoby, 1889)

205
Capítulo 9

Sintomas/Danos
Os insetos adultos, quando em alta população, perfuram as folhas
provocando redução da área foliar, com diminuição da taxa fotossintética,
causando perda de produção. As larvas, por possuírem hábito subterrâneo
alimentam-se das raízes, porém em tomateiro, não têm sido constatado
prejuízos.

5.1.1.2 Vaquinha da batatinha, Burrinho da batatinha, Vaquinha das solanáceas,


Burrinho das solanáceas
Ordem: Coleoptera
Família: Meloidae
Nome científico: Epicauta atomaria (Germar, 1821)

Sintomas/Danos
Os adultos desses insetos são desfolhadores, causando grandes
prejuízos às várias culturas, por perfurarem intensamente as folhas.

5.1.2 Broqueadores de caule e raízes

5.1.2.1 Bicho-de-tromba-de-elefante
Ordem: Coleoptera
Família: Curculionidae
Nome científico: Phyrdenus sp.

Sintomas/Danos
Folhas e frutos são destruídos pelo ataque dos adultos enquanto que as
larvas danificam as raízes, podendo levar a planta à morte.

5.1.2.2 Broca-do-caule-do-tomateiro, Bicho-de-tromba-de-elefante


Ordem: Coleoptera
Família: Curculionidae
Nome científico: Faustinus cubae (Boheman, 1884)
Sinonímia: Collabismodes tabaci (Marshall, 1925)

Sintomas/Danos
A alimentação dos adultos ocorre em plântulas e ramos mais tenros

206
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

da planta. As larvas por apresentarem uma característica broqueadora,


abrem galeria na base do caule e raízes, inclusive secundárias, destruindo-as
totalmente.

5.2 LEPIDÓPTEROS

5.2.1 Pragas Iniciais

5.2.1.1 Lagarta rosca


Ordem: Lepidoptera
Família: Noctuidae
Nome científico: Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1776)
Sinonímia: A. ypisilon (Rottemburg, 1776)

Sintomas/Danos
Tanto nos viveiros ou quando as plantas transplantadas encontram-se
com até 20 dias, as larvas seccionam as mesmas próximos ao solo, favorecendo
o tombamento. Uma lagarta pode atacar várias plantas durante uma visita
noturna à cultura.

5.2.2 Desfolhadores

5.2.2.1 Lagarta das solanáceas


Ordem: Lepidoptera
Família: Nymphalidae
Nome científico: Mechanitis lysimnia (Fabr., 1793)

Sintomas/Danos: Por serem desfolhadoras e vorazes, comprometem a


fotossíntese da planta e conseqüentemente com reflexos na produção.

5.2.3 Brocas dos frutos

5.2.3.1 Lagarta-da-maçã-do-algodoeiro
Ordem: Lepidoptera
Família: Noctuidae
Nome científico: Heliothis virescens (Fabr., 1781)

207
Capítulo 9

Sinonímia: Chloridea virescens (Fabr., 1781)

Sintomas/Danos
Perfuram os frutos quando estão nos primeiros ínstares e posteriormente
passam a alimentar-se da polpa deixando grandes orifícios nos mesmos
(Figura 19).

Foto: DPratissoli
Foto 19 - Lagarta de H. virescens em tomateiro.

5.2.3.2 Brocão
Ordem: Lepidoptera
Família: Noctuidae
Nome científico: Spodoptera eridania (Cramer, 1782)
Sinonímia: Prodenia eridania (Cramer, 1782); Xylomyges eridania (Cramer,
1782)

Sintomas/Danos
As lagartas quando novas raspam as folhas deixando-as rendilhadas.
Nos últimos ínstares atacam os frutos, de preferência os maiores, alimentando-
se do pericarpo e endocarpo, deixando grandes orifícios (Figura 20).

5.2.3.3 Falsa-medideira-da-couve
Ordem: Lepidoptera
Família: Noctuidae
Nome científico: Trichoplusia ni (Hüeb., 1802)

208
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Foto: DPratissoli
B C
Figura 20 - Postura (A), lagarta (B) e dano foliar (C) de S. eridania em tomateiro.

Sintomas/Danos
As lagartas alimentam-se de todo o limbo foliar quando estão nos
primeiros ínstares. Posteriormente migram para os frutos, de preferências
os mais novos, perfurando-os e destruindo grande parte do pericarpo e
endocarpo (Figura 21).
Foto: DPratissoli

A B
Figura 21 - Lagartas de T. ni e danos em frutos novos (A) e mais desenvolvidos (B) de
tomateiro.

209
Capítulo 9

5.2.3.4 Traça-da-batatinha
Ordem: Lepidoptera
Família: Gelechiidae
Nome científico: Phthorimaea operculella (Zeller, 1983)
Sinonímia: Gnorimoschema operculella (Zeller, 1873)

Sintomas/Danos
Os danos causados por esta praga provêm da abertura de galerias
superficiais nos frutos e na região de inserção do pedúnculo, ocorrendo
principalmente na fase de maturação. Eventualmente ocorrem em folhas.

5.3 ORTÓPTEROS

5.3.1 Pragas iniciais

5.3.1.1 Grilo preto


Ordem: Orthoptera
Família: Gryllidae
Nome científico: Grillus assimilis (Fabricius, 1775)
Sinonímia: Acheta assimilis (Fabricius, 1775)

Sintomas/Danos
Tanto a fase ninfal como a adulta pode se alimentar de plântulas
recém-transplantadas no campo, onde seccionam o colmo provocando o
tombamento das mesmas, além de destruir as raízes, causando a morte das
plantas.

5.3.1.2 Cachorrinho d’água, Grilo toupeira, Paquinha


Ordem: Orthoptera
Família: Gryllotalpidae
Nome científico: Scapteriscus didactylus (Latreille, 1802)
Neocurtilla hexadactyla (Perty, 1832)

Sintomas/danos
Tanto as ninfas quanto os adultos podem se alimentar de raízes,
através de galerias escavadas pelos mesmos, ou quando na superfície podem

210
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

seccionar plântulas nas sementeiras e as recém-transplantadas ao campo


causando o tombamento das mesmas e posterior morte.

5.4 HEMÍPTEROS/HETERÓPTEROS

5.4.1 Percevejo

5.4.1.1 Percevejo-do-tomate, Chupador-do-tomate


Ordem: Hemiptera
Família: Coreidae
Nome científico: Phthia picta (Drury, 1770)

Sintomas/Danos
As ninfas e adultos sugam os frutos, promovendo murchamento,
apodrecimento e a presença de áreas endurecidas internamente. Externamente
ocorrem pontuações esbranquiçadas em forma de mosaico em função das
suas picadas.

5.4.1.2 Percevejo-de-renda, Mosquito-do-tomateiro


Ordem: Hemiptera
Família: Tingidae
Nome científico: Corythaica cyathicollis (Costa, 1864)
Sinonímia: C. planaris (Uhler, 1893); C. passiflorae (Berg, 1884); Typonotus
planaris (Uhler, 1893); Tingis cyathicollis (Costa, 1864); Leptobyrsa passiflorae
(Berg, 1884)

Sintomas/Danos
As ninfas e adultos sugam a seiva, preferencialmente, na face inferior
das folhas, promovendo a ocorrência de manchas cloróticas visíveis na parte
superior destas, com subsequente secamento foliar.

5.5 ÁCAROS

5.5.1 Ácaro

5.5.1.1 Ácaro rajado

211
Capítulo 9

Ordem: Acari
Família: Tetranychidae
Nome científico: Tetranychus urticae (Koch, 1836)
Sinonímia: T. althaeae (Hanst.); Acarus telarius (L., 1758); T. cucumeris (Boisduval,
1867); T. cinnabarinus (Boisduval, 1867); T. bimaculatus (Harvey, 1839)

Sintomas/Danos
As colônias deste ácaro desenvolvem-se preferencialmente na face
inferior das folhas onde surgem pontuações cloróticas em função da
alimentação causando seu secamento e queda.

5.5.1.2 Ácaro branco, Ácaro tropical, Ácaro da rasgadura, Ácaro da queda do


chapéu do mamoeiro
Ordem: Acari
Família: Tarsonemidae
Nome científico: Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904)
Sinonímia: Hemitarsonemus latus (Banks, 1904); Tarsonemus phaseoli (Bondar);
T. latus (Banks, 1904); Neotarsonemus latus (Banks, 1904)

Sintomas/Danos
O ataque ocorre na região inferior das folhas onde o ácaro raspa as
células epidérmicas tornando-as verde-brilhantes, bronzeadas e com a
margem voltada para baixo.

5.5.1.3 Microácaro, Ácaro do bronzeamento


Ordem: Acari
Família: Eriophyidae
Nome científico: Aculops lycopersici (Massee, 1937)

Sintomas/Danos
Os principais sintomas são a produção exagerada de eríneos,
amarelecimento e bronzeamento de folhas que evoluem para um secamento
sem murcha; a região basal das hastes mostra bronzeamento com posterior
secamento e os frutos não se desenvolvam adequadamente; sua casca
apresenta textura áspera e queimada pela exposição ao sol.

212
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

6. CONTROLE DE VETORES
(tripes, moscas-brancas, pulgões)

Controle cultural
Restos culturais de tomateiro, bem como de plantas hospedeiras,
nativas ou cultivadas, devem ser eliminados sistematicamente, pois podem
servir de foco para a disseminação de vetores adultos para as lavouras novas.
As sementeiras devem ser feitas em locais mais isolados e, preferencial-
mente, em bandejas dentro de telados protegidos por telas anti-afídeos.
Dentro das lavouras de tomate, as plantas daninhas hospedeiras da
praga devem ser eliminadas. As plantas de tomateiro doentes, com sintomas
de viroses devem ser pulverizadas e em seguida eliminadas assim que os
mesmos sejam constatados, visando o controle dos vetores.
Em lavouras com histórico de ocorrência dessas pragas, deve-se
evitar o plantio de novas lavouras, próximos às mais velhas e/ou de lavouras
hospedeiras das pragas.
A rotação de cultura deve ser realizada evitando-se a sucessão de
plantios, uma vez que estes permitem significativo incremento populacional
dos vetores.
O uso de barreiras físicas por meio de plantios de culturas como sorgo
ou milheto, diminui a incidência da população dos vetores. O uso de cultivares
resistentes a viroses diminui o uso de agrotóxicos na lavoura.

Controle químico
O controle preventivo deve ser priorizado na etapa da produção de
mudas, para se evitar a presença dos vetores e de plantas com sintomas
de virose no tomateiro. São recomendados produtos químicos de baixa
toxicidade, podendo-se optar pelo grupo dos neonicotinóides, através
de duas aplicações nessa fase. O mesmo grupo químico pode ser utilizado
em aplicação de cova logo após o transplantio das mudas para o campo
comercial.
A aplicação de produtos químicos via foliar somente deverá ser realizada
se observado índice populacional em amostragem (Tabela 1), que justifique
a intervenção. Deve-se observar a rotação de grupos químicos e modos de
ação diferentes quando da necessidade de reaplicações para controle dos
vetores (Tabela 2).

213
Capítulo 9

7. CONTROLE DE TRAÇAS E BROCAS

Controle cultural
Um dos principais problemas do aumento dos índices populacionais
de traças e brocas dos frutos do tomateiro na região de montanha do
Espírito Santo está na concentração das áreas cultivadas por um só produtor
e no plantio seqüencial de lavouras durante a época de produção. Estes
fatos permitem a migração dos insetos adultos de uma lavoura para outra
durante toda a estação, tornando o controle dessas pragas difícil e oneroso,
principalmente nos últimos plantios, exigindo um número muito maior de
pulverizações.
Medidas como a interrupção desses plantios sequenciais de tomate em
áreas adjacentes e a destruição dos restos culturais logo após o término da
colheita comercial, devem ser práticas usuais entre os tomaticultores.
A implantação de barreiras físicas recomendadas para os vetores, com
antecedência mínima de 30 dias antes do plantio das lavouras de tomate
auxiliam na redução das populações de adultos, diminuindo sensivelmente
o fluxo entre plantios.
A limpeza das caixas e dos veículos utilizados na colheita e o
recolhimento e retirada sistemática das lavouras dos frutos brocados caídos
no chão ou descartados quando da colheita, devem ser realizados visando a
redução da fonte de infestação das traças e brocas.

Controle biológico
O controle biológico dessas pragas é realizado por um grande número
de vespas predadoras e por micro-himenópteros de ocorrência natural nas
lavouras de tomate, que agem sobre ovos e lagartas. O principal desses
inimigos naturais é um parasitóide denominado Trichogramma pretiosum
Riley, 1879 (Hymenoptera:Trichogrammatidae) já utilizado em liberações
inundativas para o parasitismo de ovos. Têm sido observadas eficiências de
controle, somente com o uso desse parasitóide, superiores a 80% para a traça
do tomateiro (T. absoluta).

Controle químico
Deve-se proceder à amostragem (Tabela 1) desses insetos para se
determinar o momento para a intervenção química, pois, são muitos os

214
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

agrotóxicos registrados para essas pragas para a cultura do tomateiro


(Tabela 2). As características de arquitetura das folhas em grande parte dos
novos híbridos comerciais presentes no mercado nacional propiciam um
menor molhamento interno das plantas, com menor cobertura dos frutos,
pela calda, nas pulverizações para controle das brocas.
A seleção de produtos menos agressivos aos inimigos naturais,
principalmente a T. pretiosum, deve ser observada. O manejo da resistência
dos insetos a inseticidas deve ser criteriosamente seguido através da rotação
de grupos químicos e modo de ação dos agrotóxicos utilizados.

8. CONTROLE DA MOSCA-MINADORA

Controle cultural
Evitar proximidade de plantios mais velhos e de lavouras hospedeiras,
eliminar plantas hospedeiras alternativas nativas como maria-pretinha, picão
e serralha, destruir os restos culturais e, em lavouras mais infestadas, promover
uma limpeza das folhas mais velhas à medida que sejam colhidas as primeiras
pencas de tomate.

Controle químico
Optar pela utilização de produtos fisiológicos e/ou biológicos. O uso de
inseticidas para controle da traça-do-tomateiro e da broca pequena, controla
eficientemente a mosca minadora. Proceder à amostragem da população de
larvas para tomada de decisão de intervenção química, antes da utilização de
agrotóxicos.
Isca atrativa alimentar misturada a inseticidas também podem
ser utilizadas para controle dos adultos, em caso de altas infestações,
principalmente em períodos secos prolongados.

215
216
Capítulo 9

Tabela 2 - Agrotóxicos registrados para a cultura do tomateiro. Agrofit - 2010

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Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

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Capítulo 9

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Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

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224
Capítulo 9

Continua...
Conclusão

sr = sem restrições; nd = não determinado devido ao modo de aplicação; # Em adequação a lei nº 7.802/89

225
região das montanhas do espírito santo
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
Capítulo 9

9. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS

agrofit. http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_consult. Acesso em 15


mar. 2010.

ALTIERI, M. A.; SILVA, E. N.; NICHOLLS, C. I. O papel da biodiversidade no


manejo de pragas. Ribeirão Preto, SP: Holos, 2003. 226p.

ALVARENGA, M. A. R. Tomate: produção em campo, em casa-de-vegetação e


em hidroponia. Lavras, MG: Editora UFLA, 2004. p. 309-366.

GIÚDICE, M. P. Avanços tecnológicos na área de fitossanidade. Viçosa, MG:


UFV, 2000. 285p.

GRAVENA, S.; BENVENGA, S. R. Manual prático para manejo de pragas do


tomate. Jaboticabal,SP, 2003. 143p.

LACERDA V. Tomate para mesa. Informe Agropecuário, v. 24, n. 219, p. 5-


136, 2003.

OLIVEIRA, J.S.; MAIA, J.R.S.; QUEIROZ, M.E.L.R.; MOREIRA, L.F.; PASCHOAL, A.D.
Pragas praguicidas e a crise ambiental. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1979. 102p.

SILVA, A. C.; CARVALHO, G. A. Manejo integrado de pragas. In: SILVA, J. B. C.;


GIORDANO, L. B. Tomate para processamento industrial. Brasília: Embrapa
para transferência de tecnologia/ Embrapa Hortaliças, 2000. 168p.

SINIGAGLIA, C.; RODRIGUES NETO, N.; COLARICCIO, A.; VICENTE, M.; GROPPO,
G.A.; GRAVENA, S.; LEITE, D. Manejo integrado de pragas e doenças do
tomateiro. São Paulo: Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 2000. 66p.

SOUZA, J. C.; REIS, P.R. Pragas da batata em Minas Gerais.


Belo Horizonte, MG: Epamig, 1999. 63p.

SOUZA, J. C.; REIS, P. R. Principais pragas do tomate para mesa: bioecologia,


dano e controle. Informe Agropecuário. v. 24, n. 219. p. 79 a 92, 2003.

VILELA, E. F.; ZUCCHI, R. A.; CANTOR, F. Histórico e impacto das pragas


introduzidas no Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2000. 173p.

ZUCCHI, R. A.; SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O. Guia de identificação de


pragas agrícolas. Piracicaba: FEALQ, 1993. 139p.
226
Principais pragas da cultura do tomateiro estaqueado na
região das montanhas do espírito santo

Capítulo 10
DOENÇAS DO TOMATEIRO
NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO:
RECONHECIMENTO E MANEJO
Hélcio Costa
José Aires Ventura

1. introdução

O tomate de mesa ocupa posição de importância no cenário da


olericultura capixaba, e na safra de 2009/2010 atingiu uma área de cerca de
1.780 hectares, com uma produtividade média estimada de 68,3 toneladas.
Os principais municípios produtores são Santa Teresa, Laranja da Terra, Venda
Nova do Imigrante, Afonso Claudio, Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá,
Castelo e Alfredo Chaves.
Dentre os vários fatores que limitam a produtividade, as doenças
ocupam uma posição de destaque, pois podem levar a perdas elevadas se

227
Capítulo 10

medidas de manejo não forem tomadas a tempo. São várias as doenças


que ocorrem na cultura no Estado do Espírito Santo, com intensidade e
frequência variável em função da região, época de plantio, cultivar e/ou
híbridos plantados e, principalmente, das condições climáticas que ocorrem
durante o desenvolvimento da lavoura. Assim, visando proporcionar um
reconhecimento adequado destas doenças a todos os envolvidos com esta
hortaliça, são descritas as principais que ocorrem no tomateiro.
Procurou-se usar uma linguagem simples, dando ênfase ao reconheci-
mento da doença, à maneira como ela se dissemina (propaga), às condições
mais favoráveis e às medidas de manejo que devem ser adotadas para cada
uma, especificamente. No final, são descritas as medidas integradas de mane-
jo que devem ser observadas para todas as doenças em geral. A intenção des-
ta publicação é proporcionar ao produtor de tomate redução nos custos de
controle, preservação da sua saúde, menor contaminação do meio ambiente
e maior sustentabilidade à sua propriedade e, como consequência, a toda a
sua família, visando atender aos princípios gerais da produção integrada.

2. DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS

2.1 FUNGOS DA PARTE AÉREA

2.1.1 Mela ou requeima


Phytophthora infestans

É a doença mais limitante à cultura, e em poucos dias pode levar a


perdas enormes se as condições ambientais forem altamente favoráveis,
como normalmente ocorre nas regiões serranas do Estado do Espírito Santo,
principalmente entre os meses de fevereiro a abril, quando as temperaturas
são mais baixas e a umidade relativa do ar muito alta, o que proporciona
condições muito favoráveis ao fungo, podendo ocorrer perdas de 60 a
100%, como já verificado em diversas lavouras (COSTA et al., 2007). A doença
geralmente ocorre nas lavouras, com maior intensidade, entre os 40 a 60 dias
após o transplantio das mudas, atentando-se para as mudanças climáticas que
são comuns na região serrana e favorecem a ocorrência da doença em outras
fases da cultura, bem como em outros meses de plantio, como se verifica
frequentemente. No site do Incaper, encontram-se as condições climáticas

228
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

que ocorrem nos principais municípios do Estado (www.incaper.es.gov.br).

Como reconhecer a doença

A doença manifesta-se nas plantas em qualquer idade, desde as mudas


recém- plantadas, e evolui rapidamente sob condições favoráveis. Em poucos
dias, as perdas na produção podem ser totais se medidas não forem tomadas,
como se verifica em algumas áreas (Figura 1). Os sintomas mais característicos
da doença são manchas escuras de formato irregular e de tamanho variável
em todos os órgãos da parte aérea do tomateiro, notadamente nas folhas,
hastes, caule, pecíolos, brotações novas e frutos (Figuras 2 e 3). Em condições
favoráveis (alta umidade e temperaturas amenas), observa-se a presença de
micélio de cor branca sobre os órgãos atacados, com maior frequência na
parte de baixo das folhas atacadas (Figura 4). Os frutos infectados apresentam
coloração cinza-escura e adquirem uma consistência dura, sendo que no seu
interior verifica-se a presença de micélio branco, característico do fungo.
A doença também ocorre nos viveiros, causando a morte das mudas, pela
presença do fungo no caule (Figura 5). Esta ocorrência é muito comum devido
ao uso de irrigação por aspersão em alta frequência. Outro fator que favorece
a doença é a produção em escala, pelo fato de se ter mudas de diferentes
idades no mesmo viveiro.

Figura 1 - Lavoura com perda total causada por requeima.

Como a doença se dissemina

A disseminação da doença ocorre por meio de esporos produzidos

229
Capítulo 10

pelo fungo nas plantas doentes, os quais são transportados e disseminados


pelo vento, respingos de chuva ou água de irrigação por aspersão. O fungo
sobrevive em restos culturais de tomateiros deixados nas lavouras.

Figura 2 - Lesão no caule e nas brotações causada pela requeima.

Condições que favorecem a doença

A doença ocorre com maior intensidade quando temos as seguintes


condições ambientais:
• Temperatura variando de 12o a 18oC (ótimo 15oC); umidade relativa do
ar maior que 90%; e chuvas finas e frequentes associadas a ventos frios e em
regiões sujeitas a nevoeiro. Se estas condições favoráveis prevalecerem por
dois a quatro dias, normalmente a doença pode estabelecer-se, e as perdas
na produção podem ser totais. Contudo, nos meses mais quentes do ano no
Espírito Santo, ou seja, de novembro a janeiro, a doença também pode surgir
na lavoura, desde que a temperatura atinja de 15o a 20oC, principalmente à
noite, associada à alta umidade relativa do ar (maior que 90%) e a chuvas
leves/finas seguidas por alguns dias, como é comum verificar-se na região
serrana do Estado. Assim, o produtor deve ficar atento às mudanças climáticas
e tomar os cuidados necessários para o controle da doença (VALE et al., 2007).

230
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Lavouras adubadas com excesso de nitrogênio são altamente propensas


a maior severidade da doença, o que frequentemente ainda ocorre nessas
condições.

Figura 3 - Frutos com sintomas de requeima.

Manejo da doença

O manejo deve ser feito adotando-se medidas preventivas, pois,


devido à rápida evolução da doença na cultura, torna-se muito difícil evitar os
prejuízos. As principais medidas são:
• Evitar o plantio em locais sujeitos a nevoeiro, ou seja, em baixadas e
em solos mal drenados.
• Utilizar mudas sadias e bem nutridas, principalmente com equilíbrio
em relação ao potássio e ao cálcio, e ter cuidado com mudas produzidas em

231
Capítulo 10

viveiros muito sombreados.


• Evitar irrigação por aspersão (utilizar preferencialmente irrigação
por sulco ou através do uso da mangueira), principalmente no final de tarde,
como é comum verificar-se em algumas propriedades.
• Pulverizar a lavoura com fungicidas protetores preventivamente.
Quando as condições não são favoráveis à doença, atentar para proteger
as brotações mais novas, que são muito suscetíveis ao fungo; em condições
muito favoráveis à doença, fazer alternância de fungicidas protetores com
sistêmicos específicos, e evitar utilizar somente um fungicida sistêmico
durante todo o ciclo da cultura. Pesquisas com sistema de previsão para esta
doença estão sendo conduzidas, visando ao uso de produtos no momento
certo (ZAMBOLIM et al., 2007). Observar o princípio ativo dos fungicidas e não
o nome comercial, pois é muito comum verificar-se o uso de nomes comerciais
diferentes, mas que possuem o mesmo princípio ativo, o que ocasiona, muitas
vezes, o insucesso no controle desta doença no Estado.
• Fazer o plantio de modo a permitir uma maior ventilação no interior
da lavoura, o que proporciona a secagem rápida das folhas, ou seja, na direção
do vento predominante na propriedade.
• Evitar plantio adensado e excesso de adubação nitrogenada, seja no
plantio, seja em cobertura. Fazer a adubação equilibrada com base na análise
de solo e atentar para os nutrientes cálcio, potássio e boro.
• É muito importante que todos os produtores com áreas de grande
concentração de plantios efetuem a eliminação dos restos culturais.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz
ou pastagem, por no mínimo um ano. Evitar ao máximo o plantio escalonado
na mesma propriedade, ou seja, lavouras novas próximas de lavouras ainda
em produção, bem como próximas de lavouras abandonadas.
• Evitar o plantio de tomate em áreas anteriormente cultivadas com
batata por no mínimo um ano.
• Com relaçao à resistência a esta doença, em ensaios conduzidos, em
2007, no Estado do Espírito Santo, com 14 híbridos em dois locais de cultivo
(Caxixe e Fazenda Guandu), verificou-se que os híbridos de crescimento
determinado Donatto e Nanda apresentaram alta suscetibilidade em
comparação aos demais. Os híbridos do tipo Italiano têm apresentado, em
condições de campo no Estado, maior suscetibilidade a esta doença.

232
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 4 - Lesão nas folhas causadas por requeima e presença de esporulação na


parte inferior do folíolo.

Figura 5 - Morte de mudas devido à infecção por Phytophthora infestans.

2.1.2 Pinta-preta
Alternaria solani

A pinta-preta é uma doença que geralmente ocorre com baixa


severidade nas lavouras cultivadas na região serrana do Estado, e, quando
se faz presente, a maior frequência é verificada entre os meses de janeiro a
fevereiro, quando se observam os primeiros sintomas nas plantas a partir
de 40 a 60 dias após o transplantio. Contudo, nas lavouras cultivadas entre
os meses de abril a setembro, nos municípios com altitude inferior a 400
metros, a doença ocorre com maior frequência e maior severidade onde as
temperaturas são mais favoráveis ao fungo, e perdas de 20 a 30% da produção
podem ocorrer. Entretanto, estas perdas estão diretamente ligadas aos
fatores nutricionais da lavoura e ao manejo adotado na cultura. As perdas são
quantitativas e qualitativas, pois em condições de alta severidade da doença
ocorre uma desfolha precoce das plantas, expondo os frutos, principalmente
nos primeiros cachos, que são afetados pela queima de sol, ficando estes
frutos sem valor comercial.

233
Capítulo 10

Como reconhecer a doença



A doença caracteriza-se pela formação de manchas circulares
escuras nas folhas, de tamanho variável, rodeadas por um anel amarelo.
Nestas manchas, geralmente ocorrem anéis concêntricos, que são os sinais
característicos da doença (Figura 6). As manchas podem ocorrer também nas
hastes, pecíolos que apresentam lesões deprimidas e que podem ocasionar a
sua quebra (Figura 7). Em casos de alta severidade da doença, os frutos podem
ser infectados, principalmente na parte superior, próximo ao pedúnculo dos
mesmos (Figura 8). Os primeiros sintomas da doença iniciam-se nas folhas
mais velhas, avançando para as mais novas (Figura 9). Em ataque severo,
pode ocorrer o amarelecimento, seca e morte de todas as folhas da planta
e com isto ocorrer uma queima dos frutos pelo sol. Em condições de viveiro
conduzido de maneira inadequada ocorrem lesões na base das mudas, o que
pode ocasionar a sua morte, como muitas vezes já verificado no Estado.

Como a doença se dissemina

A propagação da doença ocorre por meio de esporos produzidos


nas folhas e em outros órgãos das plantas doentes, que são disseminados
pelo vento, bem como por respingos de água da chuva ou de irrigação por
aspersão. O fungo sobrevive em restos culturais deixados na área.

Condições que favorecem a doença

As seguintes condições são altamente favoráveis à ocorrência da


doença:
• Temperatura variando de 22o a 30oC, com um ótimo a 26oC, associada
à alta umidade relativa do ar (>90%) e chuvas frequentes.
• Plantas com desequilíbrios nutricionais, notadamente a deficiência
de nitrogênio, déficit hídrico, pouco vigorosas, com muito sombreamento
são mais predispostas à doença, bem como lavouras estabelecidas em solos
fracos, compactados e com baixo teor de matéria orgânica.

234
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 6 - Folhas apresentando lesões com anéis concêntricos característicos da


pinta-preta.

Manejo da doença

O manejo deve ser feito adotando-se as seguintes medidas:


• Utilizar cultivares/híbridos com maior resistência, mas que já foram
testados na região.
• Empregar mudas sadias, vigorosas e adubadas com equilíbrio de
nutrientes; atentar para os níveis de potássio e nitrogênio.
• Efetuar a calagem com antecedência necessária visando efetuar uma

235
Capítulo 10

adubação equilibrada do solo e para o fornecimento adequado de cálcio e


magnésio.
• Empregar composto orgânico nas covas de plantio.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz
ou pastagem, por no mínimo um ano e evitar ao máximo o plantio escalonado
na mesma propriedade, ou seja, lavouras novas próximas de lavouras em
produção ou abandonadas. Proceder à imediata eliminação das lavouras após
o fim da colheita.

Figura 7 - Lesões de pinta-preta no caule.

Figura 8 - Fruto com sintomas de pinta- Figura 9 - Folíolo com sintomas de pinta-
preta. preta nas folhas baixeiras.

• Evitar o plantio de tomate em áreas anteriormente cultivadas com


batata por no mínimo um ano.
• Evitar a formação de mato nos primeiros 30 dias de idade após o
transplantio, porém ter o cuidado com a utilização de herbicidas, pois se
verifica com frequência fitotoxidez.
• Usar cobertura morta entre e dentre as linhas de plantio.
• Efetuar pulverizações com fungicidas protetores, normalmente

236
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

utilizados para o controle da requeima, por serem adequados para o


controle da pinta-preta. Em condições muito favoráveis à doença, quando as
temperaturas estão próximas a 25°C durante vários dias, pode ser necessário
o uso de fungicidas específicos. Atentar para atingir as folhas baixeiras
(próximas ao solo), onde a doença se inicia.
• Utilizar mistura de nutrientes (calda-viçosa, seja pré-fabricada, seja
preparada pelo produtor) em pulverizações preventivas, isoladamente ou
em alternância com fungicidas protetores, por apresentar excelente controle
da doença com aumento da produtividade e produção de frutos de alta
qualidade comercial.

2.1.3 Septoriose
Septoria lycopersici

A doença tem ocorrência nas lavouras situadas na região serrana do


Estado do Espírito Santo muito esporadicamente, e a maior intensidade
é verificada nos meses de outubro e novembro. As maiores perdas são
observadas quando a doença ocorre na fase inicial da cultura, 25 a 40 dias
após o transplantio no campo, provocando uma desfolha precoce das plantas.
É importante nesta fase um diagnóstico correto para evitar erros no uso de
produtos químicos, comum nessas condições.

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas são observados nas folhas baixeiras (folhas


mais velhas), onde se verifica a formação de lesões pequenas de cor parda,
centro cinza com ou sem halo clorótico (Figura 10). Contudo, o diagnóstico
característico da doença nas folhas atacadas é a presença de pequenos
pontos negros (picnídios) no centro da lesão, que geralmente tornam-se
branco/acinzentados. Os produtores e técnicos devem ter cuidado para não
confundi-la com outras doenças foliares.

Como a doença se dissemina

A disseminação da doença ocorre por meio dos esporos do fungo,


produzidos nos picnídios (pequenos pontinhos pretos nas folhas atacadas),

237
Capítulo 10

que são levados por respingos de chuva ou água de irrigação, principalmente


por aspersão, das folhas atacadas para as outras folhas. O fungo sobrevive
também nos restos culturais.

Figura 10 - Folhas com sintomas de septoriose, observando-se a formação de picnídios


no centro das lesões.

Condições que favorecem a doença

O aparecimento e a disseminação da doença são favorecidos por


temperatura entre 19o e 24oC, alta umidade relativa (> 90%) e chuvas
frequentes. Em períodos de muita chuva, a doença dissemina-se com muita
rapidez nas lavouras.

Manejo da doença

Para o manejo desta doença é importante evitar condições que


favoreçam a presença de alta umidade na lavoura, tais como, espaçamento
muito próximo entre as plantas e irrigações por aspersão, principalmente no
período da tarde. Outras medidas a serem utilizadas:
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz ou
pastagem, por no mínimo um ano, e evitar ao máximo o plantio escalonado
de lavouras novas próximas de lavouras em produção.
• Evitar excesso de adubação nitrogenada, observando os níveis de
potássio e cálcio. A adubação equilibrada com fósforo é importante para uma
menor intensidade da doença.
• Eliminar os restos culturais contaminados.
• Somente aplicar fungicidas específicos em condições de alta

238
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

severidade da doença, uma vez que os fungicidas normalmente utilizados


para controlar outras doenças apresentam efeito sobre a septoriose.

2.1.4 Mancha de estenfílio


Stemphylium solani

Em épocas passadas, a doença era de ocorrência generalizada nas


condições do Espírito Santo. Entretanto, com a utilização de cultivares/
híbridos com maior resistência à doença diminuiu sua importância, mas nos
últimos anos (2008-2009), ela novamente ocorreu em maior intensidade, com
destaque em alguns híbridos que têm tolerância ao geminivírus, observando-
se altas perdas na produção, pois a doença causa uma desfolha precoce das
plantas. A maior incidência da doença nas lavouras ocorre entre os meses
de janeiro e fevereiro na região serrana. A doença pode também ocorrer em
viveiros mal conduzidos, notadamente com problemas de nutrição e mudas
passadas. É importante não confundir com outras doenças (ex.: bactérias),
que se verificam frequentemente nas lavouras.

Como reconhecer a doença

Em condições de campo, a doença geralmente se inicia nas folhas


baixeiras. Nestas folhas, observam-se manchas necróticas irregulares, um
pouco deprimidas, com ou sem halo clorótico (dependendo da cultivar/
híbrido) (Figura 11). Um sintoma característico é que as folhas doentes
normalmente rasgam-se (rompem-se) na área lesionada. As lesões causadas
por este fungo, sejam nas mudas (Figura 12), sejam em condições de campo,
geralmente não são encharcadas, o que ajuda a diferenciar das lesões causadas
por bacterioses. Em condições de alta severidade da doença observa-se a
queima dos ponteiros (Figura 13), formação de lesões no caule das plantas
(Figura 14) e uma desfolha generalizada da lavoura (Figura 15). Erros são
comumente observados na região serrana no diagnóstico desta doença,
tanto em condições de campo como em mudas e no uso de produtos sem
qualquer necessidade.

239
Capítulo 10

Como a doença se dissemina

O vento é o principal agente de disseminação do fungo, mas os


respingos de chuva e da água de irrigação, principalmente a efetuada por
aspersão, auxiliam na sua disseminação para outras plantas.

Figura 11 - Lesões de estenfílio em folíolos de tomateiro.

Figura 12 - Mudas com sintomas de estenfílio nas folhas.

Condições que favorecem a doença

As condições ideais para o desenvolvimento da doença são temperaturas


entre 24o e 27oC, alta umidade relativa (> 90%) e chuvas frequentes.

240
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 13 - Alta severidade de estenfílio nas folhas do tomateiro.

Figura 14 - Lesões de estenfílio no caule de plantas de tomateiro.

Figura 15 - Plantas com desfolha acentuada causada por estenfílio.

Manejo da doença

A principal medida a ser adotada é a utilização de cultivares/híbridos

241
Capítulo 10

resistentes, que possuem o gene sm, mas recomenda-se sempre o uso daqueles
já testados na região. Em ensaios conduzidos, em 2007, no Estado do Espírito
Santo, com 14 híbridos em dois locais de cultivo (Caxixe e Fazenda Guandu),
observou-se uma variação muito grande com relação a suscetibilidade a esta
doença. O híbrido Dominador foi que apresentou a maior resistência, seguido
dos híbridos Donatto, Itaiba, Ty-75 e Nanda. Os híbridos Polyana, Styllus e
Império comportaram-se como muito suscetíveis. Os híbridos Forty, Thaty, TY
Fanny e Alambra apresentaram comportamento intermediário (COSTA et al.,
2007). Outras medidas importantes:
• Fazer a rotação de culturas por pelo menos um ano, e evitar o plantio
de pimentão e jiló nessas áreas.
• Evitar irrigação por aspersão, principalmente no período da tarde.
• Com relação ao controle químico, os fungicidas normalmente utilizados
para outras doenças na cultura do tomateiro no Estado são eficientes no
controle desta doença; contudo, em condições de alta severidade da doença,
se faz necessário o uso de produtos específicos complementares.

2.1.5 Oídio e mancha de oidiopsis


Oidiopsis taurica e Oidium spp

Estas doenças ocorrem em condições de campo nas lavouras, sendo


que o Oidium spp aparece com maior frequência entre os meses de fevereiro a
abril, nas regiões serranas, quando a umidade relativa é menor que 80%. Mas
surtos podem ser observados em outras épocas também, como já verificado
em algumas lavouras nos últimos anos, notadamente naquelas cultivadas em
altitudes entre 900 a 1.100 m.
Em lavouras situadas em locais com altitude inferior a 400 m, a doença
que ocorre com mais frequência é a mancha de oidiopsis, como se verifica em
lavouras nos municípios de Santa Teresa, Itarana, Laranja da Terra, Itaguaçu e
Linhares. Contudo, sua importância é maior em lavouras sob cultivo protegido
(estufas), onde em algumas estufas, nos anos de 1999/2001, as perdas na
produção foram altas (30 a 40%), devido à desfolha precoce que essa doença
causa nas plantas.

242
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como reconhecer a doença

O sintoma característico de oídio é a presença de um micélio de cor


branca (pó de giz) sobre os órgãos atacados, principalmente na parte superior
das folhas; mas em determinadas situações, a parte inferior das folhas pode
apresentar também os sinais do patógeno (Figuras 16 e 17). Em condições
de alta severidade da doença, o fungo pode atacar os frutos, os pecíolos e as
hastes (Figura 18) e provocar um amarelecimento generalizado das plantas e
uma desfolha precoce, ocasionando, às vezes, queima dos frutos pelos raios
solares (Figura 19).

Figura 16 - Sintomas característicos de oídio na parte superior das folhas.

Figura 17 - Sintomas de oídio na parte inferior das folhas e no caule.

No caso da mancha de oidiopsis, tem-se a formação de um micélio


de cor branca/acinzentada, sempre na parte de baixo das folhas, sendo que
na parte de cima ocorre a formação de uma lesão de cor amarelada (Figura
20). Não se deve confundir o amarelecimento das folhas, que às vezes ocorre
devido à alta severidade destas doenças, com as causadas por outros fatores

243
Capítulo 10

(ex.: infestação de ácaro ou deficiência de nitrogênio), como já observado em


várias lavouras do Estado. Na dúvida, encaminhar as folhas para um laboratório
para evitar usar produtos errados e muitas vezes desnecessários.

Figura 18 - Sintomas de oídio nas sépalas dos frutos.

Figura 19 - Desfolha causada pelo oídio. Figura 20 - Folhas com sintomas


característicos de
Oidiopsis taurica.

Condições favoráveis à doença

As doenças são favorecidas por temperaturas entre 18o e 27oC e baixa


umidade relativa, entre 50 e 80% (períodos secos), bem como por baixa
luminosidade. Geralmente, solos com deficit hídrico e lavouras com excesso
de adubação nitrogenada são mais propensos ao ataque destas doenças.

244
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como a doença se dissemina

Os patógenos disseminam-se pelo vento, sendo com maior intensidade


em condições de baixa umidade relativa do ar, ou seja, em períodos secos
que normalmente ocorrem entre os meses de maio a setembro no Estado do
Espírito Santo. O fungo sobrevive em restos culturais de tomate e em outros
hospedeiros alternativos.

Manejo da doença

Para o manejo destas doenças, as seguintes medidas devem ser


adotadas:
• Realizar rotação de cultura por pelo menos um ano.
• Utilizar irrigação por aspersão, uma vez que esta diminui a severidade
de oídio.
• Evitar plantios escalonados de tomate na mesma propriedade e
eliminar as lavouras velhas, abandonadas.
• Em lavouras implantadas em locais de baixa altitude, observar a época
de plantio para evitar ataques muito intensos destas doenças em condições
de campo. Neste caso, pode ser necessária a pulverização com fungicidas
específicos.
• Identificar corretamente a doença para evitar gastos inúteis, como se
verifica com frequência em algumas áreas do Estado.
• Evitar lavouras muito sombreadas, pois, nesse caso, a luminosidade é
menor, e com isto as plantas estão mais predispostas à ocorrência de oídio.
• Existem híbridos com diferentes graus de resistência. Na região serrana
do Espírito Santo, os tomateiros do grupo tipo Italiano têm apresentando
maior severidade.

2.1.6 Mancha de cladosporium


Fulvia fulva (Sin.: Cladosporium fulva)

Doença que ocorre em diversos municípios do Estado. Alta intensidade


da doença ocorreu em 1977, nos municípios de Santa Teresa e Viana, e nos
anos de 1989 a 1992, em Linhares, onde as perdas foram altas, devido à
intensa desfolha que ocorreu nas lavouras. Recentemente, ela foi constatada

245
Capítulo 10

em Castelo, Cachoeiro do Itapemirim, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra e São


Roque do Canaã, principalmente nos plantios efetuados entre os meses de
maio a setembro.

Como reconhecer a doença

Os sintomas característicos da doença são observados nas folhas.


Inicialmente, na parte superior da folha ocorrem manchas amareladas que
correspondem, na parte inferior, a um micélio de cor verde-oliva a púrpura
(Figura 21). Em condições de alta severidade da doença, essas lesões podem
ocorrer também no pecíolo.

Figura 21 - Folha apresentando na parte inferior sinal característico de cladosporium.

Condições favoráveis à doença

A doença é favorecida por umidade relativa maior que 80% e


temperaturas entre 20o e 25oC. A baixa luminosidade e o excesso de adubação
nitrogenada são fatores que predispõem as plantas ao maior ataque do
patógeno.

Como a doença se dissemina

A doença se dissemina principalmente pelo vento, e o fungo sobrevive


em restos culturais.

246
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Manejo da doença

As seguintes medidas são recomendadas:


• Utilizar cultivares/híbridos que apresentem resistência à doença, mas
que já foram testados na região, pois o fungo apresenta diversas raças.
• Evitar excesso de sombreamento entre as plantas, bem como de
adubação nitrogenada, principalmente em cobertura nas lavouras.
• Evitar irrigação por aspersão, principalmente ao final do dia.
• Em lavouras situadas em locais de altitude inferior a 400 metros
tomar maiores cuidados na implantação da lavoura, notadamente entre os
meses de maio a setembro, podendo ser necessário recorrer a pulverizações
com fungicidas específicos. Identificar corretamente a doença antes de usar
produtos químicos.

2.2 FUNGOS DE SOLO

2.2.1 Murcha de fusarium


Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici

A murcha de fusarium é uma doença causada por um fungo habitante do


solo e que aí sobrevive por vários anos. A doença foi importante no Estado do
Espírito Santo até os anos de 1993/94, quando perdas de até 80% na produção
foram registradas em algumas áreas. Nos últimos anos, com a introdução de
cultivares e/ou híbridos resistentes, sua importância no Estado foi mínima,
com alguns danos em áreas restritas onde ainda se realizava o plantio de
materiais sem resistência às raças 1 e 2. Contudo, em 2003, constatou-se,
em lavouras da região serrana do Estado, no município de Venda Nova do
Imigrante, a ocorrência da raça 3, a qual vem ocasionando perdas acentuadas
em algumas lavouras (COSTA et al., 2007). Em janeiro de 2005, estas perdas
alcançaram, em algumas lavouras, valores superiores a 50%, uma vez que
todos os híbridos são suscetíveis a esta nova raça, o que pode levar a perdas
enormes na região se cuidados não forem tomados para evitar a disseminação
do fungo para novas áreas (REIS et al., 2005). Atualmente, o patógeno está
presente em todas as áreas onde se cultivam tomate no Estado, e, nas safras
subsequentes, perdas muito altas foram verificadas nos municípios de Afonso
Cláudio, Santa Teresa, Itaguaçu, Itarana, Laranja da Terra, Castelo, Conceição

247
Capítulo 10

do Castelo e Domingos Martins.


O patógeno é introduzido em áreas novas, geralmente por sementes
e mudas infectadas. A infecção do fungo inicia-se nas plantas em reboleiras
(pequenas áreas do terreno) e dificilmente atinge todas as plantas da cultura
de uma só vez. O solo contaminado com este fungo, que forma estruturas de
resistência (clamidósporos), torna-se inviável para o plantio de cultivares e/ou
híbridos suscetíveis.

Como reconhecer a doença

As plantas começam a mostrar os primeiros sintomas da doença


geralmente na época da frutificação, em pequenas reboleiras (focos) (Figura
22), mas em algumas lavouras do Estado, a doença tem ocorrido em plantas
com 20 a 30 dias de campo (Figura 23). Os primeiros sintomas são observados
nas folhas baixeiras, ocorrendo inicialmente amarelecimento intenso dos
folíolos de um dos lados do ramo; a seguir com o avanço da doença, todos
os folíolos da folha amarelecem, murcham, secam e morrem (Figura 24). Os
sintomas iniciais ficam confinados em um dos lados da planta, mas, logo após,
toda ela pode amarelecer (Figura 25).
Entretanto, um sinal característico da doença pode ser obtido
procedendo-se a um corte longitudinal no caule, próximo à linha do solo,
onde se observa que a região do xilema (vasos condutores de água da planta)
apresenta uma coloração marrom-escura (Figura 26). Muitas vezes, somente
com exame detalhado em laboratório é possível identificar corretamente
esta doença, pois na lavoura outros fatores podem apresentar o sintoma de
amarelecimento da folha (murcha de verticilium, talo oco, cancro bacteriano,
deficiência nutricional etc.), o que tem levado a diagnósticos errôneos.

Como a doença se dissemina

A doença se dissemina por meio de sementes (Figura 27) e mudas


infectadas. No campo, a disseminação ocorre por água de enxurrada, pelos
solos contaminados com o fungo, que fica aderido aos implementos agrícolas,
e pela água de irrigação no sulco. O fungo sobrevive no solo por vários anos,
devido à formação de clamidósporos, que são estruturas de resistência deste
fungo (ZAMBOLIM et al., 2005).

248
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 22 - Lavouras com focos de murcha de fusarium.

Figura 23 - Plantas novas com sintomas da murcha de fusarium.

249
Capítulo 10

Figura 24 - Folhas baixeiras com sintomas iniciais de fusarium.

Figura 25 - Plantas com amarelecimento intenso das folhas e início de seca das folhas
baixeiras.

250
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 26 - Escurecimento do caule e do xilema devido à infecção por fusarium.

Figura 27 - Semente infectada por fusarium.

Condições que favorecem a doença

A doença é favorecida pelas seguintes condições:

251
Capítulo 10

• Solos com pH entre 5,0 e 5,5, arenosos e mal drenados.


• Solos com desequilíbrio nutricional, principalmente cálcio, e baixo
teor de matéria orgânica.
• Temperatura de 25o a 28oC e alta umidade no solo.
• Presença de nematoides das galhas, favorecendo a penetração do
patógeno.

Manejo da doença

A medida principal no manejo desta doença é o plantio de cultivares


e/ou híbridos resistentes, mas que já foram testados na região. A maioria das
cultivares e/ou híbridos comercializados atualmente apresenta resistência às
raças 1 e 2 do fungo (REIS et al., 2004 e 2005). Com a constatação da raça 3 em
lavouras do Estado, cuidados maiores devem ser tomados, pois a maioria dos
cultivares/hibridos atualmente comercializados no país são suscetíveis a esta
raça, e, assim, as áreas onde a doença ocorreu devem ser isoladas para evitar
que o fungo alcance outras áreas, principalmente pelo uso de implementos
agrícolas contaminados. Algumas linhagens com resistência à raça 3 foram
avaliadas nas condições de casa de vegetação do Incaper e em condições de
campo no Espírito Santo, e foram recomendadas em 2009 no Estado, para o
cultivo em áreas contaminadas.
Não havendo disponibilidade ou interesse comercial de plantio de
cultivares e/ou híbridos resistentes, as outras medidas recomendadas são:
• Plantar mudas sadias e vigorosas, lembrando-se de que o fungo é
transmitido pela semente. Exigir nota fiscal das sementes é importante, e ao
adquirir muda de viveristas, pedir o Certificado Fitossanitário de Origem (CFO)
é imprescindível.
• Fazer calagem do solo visando ao aumento de pH para 6,5 a 7,0.
• Usar compostos orgânicos no plantio e adubação equilibrada,
principalmente com relação aos nutrientes potássio, cálcio e magnésio.
• Evitar o plantio de cultivares/hibridos suscetíveis em local onde a
doença tenha ocorrido.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como o milho, por três a
cinco anos.
• Evitar o uso de implementos agrícolas contaminados no momento

252
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

de preparação de novas áreas, pois isto é uma das causas principais da


disseminação do fungo no Estado.

2.2.2 Murcha de verticillium


Verticillium dahliae

A murcha de verticillium ocorria na cultura de tomate no Espírito Santo


de maneira esporádica, uma vez que a maioria das cultivares e/ou híbridos
plantados são resistentes à raça 1 nas condições do Estado. Entretanto,
em 2006, sua incidência passou a aumentar em algumas áreas, devido ao
surgimento no Estado de uma nova raça, a raça 2 (REIS et al., 2007), o que tem
causado perdas significativas em várias lavouras, seja nos municípios da região
serrana, seja naqueles da região baixa que fazem o cultivo de inverno. Na
região serrana sua maior ocorrência é verificada nos plantios efetuados entre
os meses de fevereiro a março, quando as temperaturas são mais favoráveis
ao patógeno. O fungo infecta outras plantas, tais como quiabo, berinjela, jiló,
batata e morango, sendo que nesta cultura do tomate, as perdas têm sido
cada vez maiores, pois todos as cultivares atualmente plantadas são muito
suscetíveis à doença. O solo, uma vez contaminado com o fungo, pode se
tornar inviável ao plantio de cultivares e/ou híbridos suscetíveis, e o controle
químico não tem eficiência.

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas em condições de campo geralmente são


observados no início da frutificação da cultura. A doença causa amarelecimento
das folhas, em forma de V, com o vértice voltado para a nervura principal da
folha, iniciando pelas folhas mais velhas (Figuras 28, 29, 30 e 31). A murcha
da planta pode ser acentuada ou muito lenta, dependendo da infestação e do
tipo de solo, bem como das condições climáticas. É comum verificar a perda
total das lavouras. Um sinal característico da doença pode ser observado após
a realização de um corte no sentido longitudinal, na região basal do caule,
onde se verifica que os vasos apresentam uma coloração escura/parda típica.
Muitas vezes, somente com exame em laboratório é possível a confirmação
correta do fungo, pois os sintomas acima descritos podem também ser
causados por outros fatores, como é comum em condições do Espírito Santo.

253
Capítulo 10

Figura 28 - Sintomas de verticillium em tomate de crescimento determinado.

Figura 29 - Folhas com sintomas característicos de verticillium.

Condições que favorecem a doença

A doença é favorecida por solos com pH entre 6,5 e 7,0, com


desequilíbrio nutricional e baixo teor de matéria orgânica (ZAMBOLIM et

254
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

al., 2007). Temperaturas entre 20o e 24oC e alta umidade do solo são muito
favoráveis ao desenvolvimento da doença.

Figura 30 - Lavouras com início de sintomas de verticillium nas folhas baixeiras.

Como a doença se dissemina

O fungo se propaga por meio de sementes e mudas contaminadas. No


campo, a água de irrigação e o solo contaminado aderido aos implementos
agrícolas (arados, grades) são os principais fatores que levam o patógeno de
uma área para outra e dentro da própria lavoura. O fungo sobrevive no solo
por vários anos, pela formação de microescleródios.

Manejo da doença

A principal medida para o manejo desta doença é o plantio de


cultivares/híbridos resistentes, mas já testados na região. A maioria dos

255
Capítulo 10

híbridos atualmente plantados no Estado apresenta resistência somente à


raça 1, e, com o surgimento da raça 2, cuidados adicionais devem ser tomados
para evitar a sua introdução em novas áreas da propriedade, notadamente via
implementos agrícolas contaminados. Algumas linhagens com resistência à
raça 2 já estão sendo avaliadas no Estado. Outras medidas importantes são:
• Plantar mudas sadias e certificadas.
• Efetuar, com antecedência, a análise do solo, visando corrigir o pH
do solo para valores que desfavoreçam a ocorrência da doença em alta
intensidade.
• Usar compostos orgânicos no plantio e adubação equilibrada
(atentar para os nutrientes cálcio e magnésio) e evitar excesso de adubação
nitrogenada.
• Evitar o plantio de cultivares e/ou híbridos suscetíveis em locais onde
a doença já tenha ocorrido.
• Efetuar a rotação de cultura por vários anos, evitando plantios da
família das solanáceas, principalmente, e de morango.
• Evitar ferimentos nas raízes das plantas no momento dos tratos
culturais.
• Evitar o uso de implementos agrícolas contaminados no momento
de preparação de novas áreas, pois esta é uma das causas principais da
disseminaçao do fungo no Estado.

Figura 31 - Lavoura com alta severidade da doença.

256
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

2.2.3 Mofo cinzento


Botrytis cinerea

Doença que vem aumentando sua frequência de ocorrência em


condições de campo na região serrana do Estado, com maior incidência
nos meses de dezembro a fevereiro, quando as chuvas constantes e as
temperaturas amenas, por alguns dias, associadas a lavouras muito enfolhadas,
com excesso de adubação nitrogenada, favorecem a sua ocorrência com
danos significativos, notadamente nos frutos. O fungo sobrevive no solo por
vários anos, devido à formação de escleródios, e infecta diversas culturas no
Estado, tais como pimentão, berinjela, uva e rosa, com maior intensidade em
lavouras de morango (COSTA et al., 2007; VENTURA; COSTA, 2005).

Como reconhecer a doença

Os sintomas podem se manifestar nas folhas, no pecíolo, no caule e


nos frutos. Em todos os casos encontra-se o sinal característico do fungo e a
presença de um micélio de cor cinza que se forma sobre estes órgãos atacados
logo após a sua infecção, daí o nome comum da doença (Figura 32). Nos
pecíolos e ramos atacados ocorre a formação de uma lesão de cor cinza clara
e deprimida (Figura 33). Em alguns casos, pode-se observar, na fase de campo
(30 a 40 dias), após o transplantio, o ataque do fungo no caule das plantas,
próximo ao solo, o que pode ocasionar a queda da planta, mas sempre tem-se
no caule afetado a presença do micélio cinza. Os frutos atacados apresentam
inicialmente uma podridão de cor branca, com a formação, logo em seguida,
do micélio cinza do fungo, e caem precocemente (Figura 34). É comum
observar nas folhas amareladas e secas a presença de grande esporulação do
fungo. A formação de escleródios do fungo em frutos pode ser observada em
lavouras muito enfolhadas, notadamente nos meses de maio e junho.

Condições favoráveis à doença

Temperaturas entre 13o e 20oC, sempre associadas à alta umidade


relativa e presença de água líquida, são muito favoráveis à doença. Plantas
muito enfolhadas, nas quais se utiliza excesso de adubação nitrogenada, são
mais propícias ao ataque do fungo. Devem-se evitar espaçamentos muito

257
Capítulo 10

próximos entre as plantas, pois isto diminui o arejamento da lavoura. O


sistema de cultivo em cerca cruzada, cada vez mais raro na região, favorece
a doença, o qual vem sendo substituído pela condução individual da planta
com uso de fitilhos (Figura 35).

Figura 32 - Sintomas de Botrytis nas folhas.

Como a doença se dissemina

A disseminação da doença ocorre pelo vento, além dos respingos


da água de chuva e da irrigação por aspersão. O fungo sobrevive no solo

258
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

por muitos anos, devido à formação de escleródios, bem como nos restos
culturais.

Figura 33 - Sinais característicos no pecíolo com esporulação do fungo.

Figura 34 - Frutos com sintomas de botrytis.

259
Capítulo 10

Figura 35 - Lavouras com condução em cerca cruzada e com fitilhos.

Manejo da doença

O principal manejo da doença é evitar o excesso de umidade no interior


da planta, não utilizando a irrigação por aspersão, principalmente no período
da tarde. Outras medidas a serem adotadas são:
• Retirar os restos culturais contaminados da lavoura, principalmente
as folhas mortas e/ou secas, onde o fungo esporula em alta intensidade.
• Evitar o desenvolvimento exagerado das folhas, devido ao uso
excessivo de adubos nitrogenados em cobertura. Fazer adubação equilibrada
e atentar para os níveis de potássio, cálcio e fósforo.
• Evitar o cultivo em cerca cruzada, que favorece a doença
(sombreamento maior e baixa luminosidade).
• Evitar o plantio adensado que diminui o arejamento e favorece a
doença.
• Os híbridos que apresentam um crescimento muito vigoroso e
com excesso de folhas devem ser plantados em espaçamentos maiores,
notadamente em solos com alto teor de matéria orgânica, comum de serem

260
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

encontrados na região serrana.


• Efetuar rotação de culturas por pelo menos um ano.
• Em caso de alta incidência da doença, retirar as folhas baixeiras
(toalete da planta).
• Os fungicidas normalmente utilizados na lavoura têm eficiência
para este fungo. Em casos especiais, pode-se usar um fungicida com ação
específica, mas antes deve-se ter a certeza de que é mesmo o mofo cinzento.

2.2.4 Podridão ou mofo de esclerotínia


Sclerotinia sclerotiorum

A doença vem aumentando a sua ocorrência na cultura do tomate, na


região serrana do Estado, onde ocorre com maior intensidade entre os meses
de fevereiro a março. Lavouras com excesso de folhas, muito adensadas e
sombreadas são mais propícias à doença, particularmente aquelas onde se
utiliza ainda o sistema de condução em “cerca cruzada” e, nestes casos, as
perdas podem ser altas, como verificado no ano de 1999 em algumas lavouras
conduzidas nesse sistema. Na safra de 2006, na região do Caxixe, município de
Venda Nova do Imigrante, a doença ocorreu com alta incidência em algumas
lavouras, com perdas superiores a 60% em duas delas, devido, em parte, à
rotação que foi efetuada na área, ou seja, o cultivo de feijão e alface, duas
importantes culturas que são altamente suscetíveis a este patógeno. O fungo
ataca mais de 420 espécies de plantas (REIS et al., 2007), e no Estado ocorre
com frequência em repolho, pimentão, batata-baroa, batata e morango. A
doença causa perdas muito grandes em tomate industrial em vários estados
do Brasil (LOPES et al., 2004).

Como reconhecer a doença

A doença, geralmente, inicia-se em algumas plantas (reboleiras) na


lavoura em locais mais úmidos. Os sintomas podem ser observados em
todos os órgãos aéreos da planta, mas em geral os primeiros sintomas são
verificados no caule e/ou pecíolo. Inicialmente, os sintomas apresentam-se
como uma mancha encharcada de cor parda/escura, de consistência mole,
e onde posteriormente tem-se a presença de um micélio branco de aspecto
cotonoso e a seca da base das plantas (Figura 36). Em seguida, são formados

261
Capítulo 10

corpos duros e negros de formato irregular e tamanho variável, que são os


escleródios (sinal característico desta doença em nível de campo) do fungo.
Os escleródios podem estar presentes tanto dentro (no interior) como fora do
caule/pecíolo (Figura 37). Os frutos infectados apresentam, inicialmente, uma
podridão mole e, posteriormente, ocorre a formação de um micélio branco
cotonoso, seguida de escleródios sobre os mesmos (Figura 38). A formação
de apotécios, a partir destes escleródios, pode ser verificada em algumas
lavouras (Figura 39).

Figura 36 - Plantas com sintomas de mofo branco.

Como a doença se dissemina

Através de escleródios presentes no solo e em restos culturais, o


fungo é levado para outras áreas pelos implementos agrícolas e pela água
de enxurrada. Dentro da lavoura, o fungo se dissemina através de esporos
produzidos nos apotécios, que são levados pelo vento e respingos de chuva
e de água de irrigação por aspersão, principalmente. O fungo sobrevive em
restos culturais e no solo, podendo permanecer por mais de 10 anos.

262
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 37 - Formação de escleródios no caule do tomateiro.

Figura 38 - Formação de escleródios em frutos.

263
Capítulo 10

Figura 39 - Formação de apotécios do fungo no solo.

Condições favoráveis à doença

As condições de alta umidade relativa do ar (> 90%), temperaturas


de 15 a 22oC e chuvas frequentes são muito favoráveis à doença. Solos
o

muito úmidos, compactados e com baixo teor de matéria orgânica são mais
propensos à doença.

Manejo da doença

As seguintes medidas devem ser utilizadas em conjunto para minimizar


a sua ocorrência:
• Eliminar imediatamente da lavoura as plantas que apresentarem a
doença, para evitar a formação dos escleródios.
• Em áreas com histórico da doença, efetuar a rotação com gramíneas,
tais como milho, arroz e/ou pastagem, por três a cinco anos.
• Utilizar maiores espaçamentos entre as plantas, visando proporcionar
maior arejamento da lavoura. Cuidados especiais devem ser adotados nas
lavouras com condução em cerca cruzada, que hoje é minoria no Estado.

264
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Evitar irrigação por aspersão.


• Evitar instalar lavouras em solos muito úmidos e já contaminados com
o fungo.
• Evitar o uso em excesso de nitrogênio, principalmente em cobertura.
• Evitar o plantio de tomate próximo a lavouras de feijão, alface e
repolho muito atacadas.

2.2.5 Murcha de escleródio ou podridão do colo


Sclerotium rolfsii

Este patógeno ocorre de maneira esporádica na cultura de tomate no


Espírito Santo, com maior ocorrência entre os meses de dezembro a fevereiro
na região serrana. Sua presença é mais comum na cultura do feijão e pimentão
nas condições do Estado (LIBERATO et al., 1996). Lavouras conduzidas em
solos muito compactados são mais predispostas a este fungo.

Como reconhecer a doença

A doença geralmente inicia-se em algumas plantas (reboleiras) na


lavoura, em locais mais úmidos e compactados. Os sintomas iniciam-se por um
murchamento da planta, devido ao apodrecimento causado na base do caule
e das raízes (Figura 40). A base da planta infectada apresenta, inicialmente,
um micélio branco, de aspecto cotonoso e, posteriormente, são formados os
escleródios (estrutura de resistência), primeiramente na cor branca e depois
marrom-escuro (Figura 41). Os escleródios são pequenos e redondos, o que
os diferencia daqueles que sofrem ataque de esclerotínia, que podem estar
presentes tanto dentro (no interior) como fora do caule/pecíolo. Em tomate
rasteiro, os frutos podem ser atacados pelo fungo, e há formação de um
micélio branco cotonoso no início com posterior formação dos escleródios.

Como a doença se dissemina

Através de escleródios presentes no solo e nos restos culturais. O


fungo é levado de uma lavoura ou de uma área para outra pelos implementos
agrícolas e pela água de enxurrada. O fungo sobrevive em restos culturais e
no solo por alguns anos.

265
Capítulo 10

Figura 40 - Lesões no caule causado por Sclerotium rolfsii.

Condições favoráveis à doença

As condições favoráveis são a alta umidade relativa do ar (> 90%) e as


temperaturas de 20o a 26oC. Solos muito compactados, com baixo teor de
matéria orgânica, também são mais propensos à doença.

Manejo da doença

As seguintes medidas devem ser utilizadas:


• Eliminar imediatamente da lavoura as plantas que apresentarem a
doença, para evitar a formação dos escleródios.
• Efetuar rotação com gramíneas, tais como milho, arroz e/ou pastagem,
por dois a três anos.
• Evitar instalar lavouras em solos muito trabalhados, compactados e
com baixo teor de matéria orgânica.
• Evitar o uso em excesso de nitrogênio, principalmente em cobertura.
• Evitar utilizar matéria orgânica não totalmente decomposta.

266
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 41 - Detalhe dos escleródios do fungo.

3. DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS

3.1 MURCHADEIRA
Ralstonia solanacearum

A doença é causada por uma bactéria que infecta plantas da família


das solanáceas, como tomate, batata, berinjela, jiló, pimentão e pimenta. A
doença é muito severa em algumas áreas, notadamente na região serrana
do Estado do Espírito Santo, e causa grandes perdas nas lavouras de tomate,
principalmente nos meses de dezembro a janeiro, quando as temperaturas
alcançadas no solo são muito favoráveis à bactéria, observando-se perdas de
20 a 60%. Em algumas lavouras têm sido verificadas plantas com sintomas da
doença, com 15 a 25 dias de idade, notadamente em áreas onde se faz o cultivo
intensivamente. A doença geralmente inicia-se em reboleiras (pequenas
áreas) na lavouras (Figura 42). Solos contaminados com a bactéria tornam-
se impróprios para o plantio de solanáceas por longos períodos, porque ela
sobrevive no solo por vários anos (VALE et al., 2007).

Como reconhecer a doença

O principal sintoma da doença é a murcha repentina das plantas


(murcha-verde), que geralmente se observa no início da frutificação e nas
horas mais quentes do dia, e, com o desenvolvimento da doença, prolongam-
se para as horas mais frescas, quando as folhas ainda encontram-se com
coloração verde-intenso e vigorosas (Figura 43). Entretanto, em várias lavouras

267
Capítulo 10

da região serrana do Estado, a doença muitas vezes ocorre de 15 a 25 dias


após o transplantio, devido à alta infestação do solo pela bactéria (Figura 44).
As plantas infectadas apresentam internamente uma descoloração marrom-
escura. Contudo, o diagnóstico mais seguro da doença, em nível de campo, é
feito através do teste do copo: após um corte em bisel no caule, a uns 10 cm
do solo, o pedaço do caule é colocado em um copo de vidro transparente, com
água muito limpa, cristalina e normalmente após 10 a 15 segundos, observa-
se a presença de um filete de cor branca, o “pus bacteriano”, que desce do
caule para a água do copo, confirmando, assim, que a bactéria é quem está
causando a murcha da planta (Figura 45). É importante destacar que, na fase
inicial dos sintomas, é comum não se verificar esta exsudação, notadamente
quando não se usa água bem limpa, como comumente se verifica. O caule
das plantas infectadas após um corte longitudinal apresenta também um pus
bacteriano característico desta doença (Figura 46).

Figura 42 - Lavouras com focos de murchadeira.

Condições que favorecem a doença

As condições que favorecem a murcha são:


• Temperaturas entre 25o e 30oC e alta umidade do solo.
• Solos arenosos e com baixo teor de matéria orgânica, bem como
aqueles onde se cultivam de modo sucessivo plantas da família das solanáceas,
como pimentão, jiló e batata.
• A presença de nematoides das galhas no solo pode facilitar a infecção
da bactéria.

Como a doença se dissemina

A disseminação da doença de uma região para outra ocorre por meio

268
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

de sementes e mudas contaminadas. Na lavoura e dentro da propriedade, a


bactéria se dissemina por água de enxurrada e pela irrigação nos sulcos. A
bactéria se dissemina pelo solo que vai aderido aos implementos agrícolas
(arados, discos etc.), nos pneus dos tratores e de tobatas e também pelos
calçados dos trabalhadores. Assim, o produtor rural, antes de emprestar
o seu trator ou tobata para vizinhos e outros produtores, deve verificar se
esses terrenos não têm a murcha bacteriana. É prática comum em algumas
comunidades da região serrana do Estado, onde muitas áreas estão altamente
contaminadas com a bactéria, o livre trânsito desses maquinários, o que
contribui para a grande disseminação da bactéria entre as áreas de plantio.

Figura 43 - Plantas adultas com sintomas de murcha.

Figura 44 - Plantas jovens com sintomas da doença.

269
Capítulo 10

Figura 45 - Teste do copo para diagnóstico da murchadeira em ramos.

Figura 46 - Caule apresentando pús bacteriano.

Manejo da doença

As medidas de controle da murcha devem ser preventivas, pois uma


vez contaminada a área de plantio, torna-se muito difícil eliminá-la. Portanto,
recomendam-se:
• Empregar sementes e mudas sadias (cuidado com as mudas adquiridas
de outros produtores).
• Não plantar tomate em áreas onde outras solanáceas foram cultivadas
e que apresentaram a doença.
• Arrancar imediatamente as plantas doentes com raiz e solo, colocá-las
em sacos plásticos e levá-las para fora da lavoura. Adicionar cal no local onde
se retirou a planta doente.
• Não voltar a utilizar plantas da família das solanáceas na área infestada
por vários anos.
• Fazer rotação com gramíneas, como milho, sorgo, arroz e pastagem,

270
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

por muitos anos.


• Efetuar adubações orgânicas.
• Não utilizar, em novas áreas, os implementos agrícolas trazidos de
áreas onde a doença ocorreu sem antes fazer uma desinfestação rigorosa
destes implementos e do próprio trator ou tobata.
• Não utilizar os tutores (bambus, mourões etc.) de áreas contaminadas
com a bactéria, como se verifica em algumas propriedades. O ideal é a
eliminação total desses materiais, através de sua queima.
• Estão sendo realizados trabalhos de pesquisa visando obter materias
resistentes.

3.2 TALO-OCO
Pectobacterium (sin.: Erwinia) spp.

O talo-oco, ou podridão-mole, é de ocorrência generalizada nas


condições do Estado do Espírito Santo, sendo que a maior intensidade
verifica-se nos meses de novembro a fevereiro, quando as temperaturas e as
chuvas frequentes são muito favoráveis à bactéria. As perdas neste período
têm sido muito altas e podem alcançar valores superiores a 30%, como se
verifica em algumas lavouras. É comum observar-se em várias delas que, ao
final do ciclo da cultura, quase todas as plantas estão com sintomas da doença
ou mortas, notadamente onde cuidados não são observados no momento
certo das desbrotas e/ou capinas das lavouras. A planta pode ser atacada em
qualquer fase desde os 20 a 30 dias após o transplantio. Entretanto, é no início
da fase de frutificação que se observam os sintomas com maior intensidade
nas condições do Espírito Santo. A bactéria, no Estado, ocorre também em
alta intensidade nas culturas de batata, pimentão, repolho e alface. A planta
infectada inicialmente por murchadeira pode apresentar sintomas de talo oco,
o que precisa ser diagnosticado com cuidado, pois é comum se verificar isto
em algumas lavouras, levando ao uso de produtos químicos sem qualquer
necessidade e sem nenhuma eficiência.

Como reconhecer a doença

O primeiro sintoma geralmente se inicia em plantas ao acaso na lavoura


e ocorre após as primeiras desbrotas axilares feitas próximas ao solo. Os

271
Capítulo 10

folíolos envolvidos na área que sofreu a desbrota ou injúria mecânica, perdem


o brilho e ficam murchos. A brotação axilar, que emerge nestas áreas, murcha
e necrosa, e a planta infectada “tomba” por falta de apoio do caule e fica
pendente na estaca ou fio de sustentação. Mas o sintoma mais característico
da doença aparece quando se realiza um corte longitudinal do caule, ou
então quando se o pressiona com o dedo. Nesta área da planta, verifica-se
uma desintegração da parte interna do caule, e esta adquire um cheiro fétido
(podre), ou seja, tem-se uma podridão-mole, característica desta doença
(Figura 47). Em alguns casos, a planta reage tentando formar, acima da região
atacada, novas raízes. A doença, em certas situações, também pode atacar
a base das plantas jovens, causando-lhes podridão-mole, principalmente
quando se faz uma capina sem os devidos cuidados. Os frutos também podem
ser atacados, notadamente quando sofrem ferimentos ou são atacados por
brocas ou traças, ficando moles, com cheiro fétido muito forte e sem valor
comercial (Figura 48).

Figura 47 - Plantas com sintomas típicos de talo oco mostrando a desintegração da


medula central.

Figura 48 - Sintomas da bactéria nos frutos.

272
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como a doença se dissemina

A disseminação da bactéria dentro da lavoura ocorre por meio de gotas


d’água de chuva ou de irrigação por aspersão, principalmente. O canivete,
faca e/ou tesoura de poda também levam a bactéria de uma planta a outra.
A água do sulco de irrigação também conduz a bactéria a longas distâncias.
Cuidados especiais devem ser tomados na região com as águas residuárias
de lavadores de cenoura e gengibre, que normalmente são depositadas nos
cursos d’água e utilizadas para a irrigação de tomate, o que pode acarretar
sérios problemas devido à presença de células bacterianas sem qualquer
tratamento.

Condições que favorecem a doença

As condições mais favoráveis para o desenvolvimento da doença são


temperaturas de 23o a 30oC, alta umidade do solo e presença de filme d’água
sobre os tecidos que sofreram desbrotas ou injúrias mecânicas. A doença
torna-se mais severa em períodos chuvosos e em solos compactados e
naqueles onde se tem excesso de nitrogênio e baixo nível de potássio, cálcio
e magnésio. A bactéria sobrevive no solo e em restos de cultura de várias
outras hortaliças.

Manejo da doença

As medidas que devem ser adotadas para o manejo da doença são:


• Evitar os solos com alta umidade, encharcados e, sobretudo, aqueles
muito compactados e argilosos. Procurar aumentar o intervalo de irrigação
quando a doença surgir na cultura. Não deixar água empoçar (parada) entre
as linhas de plantio.
• Evitar irrigação por aspersão, principalmente em períodos do dia
muito quentes.
• Evitar fazer as desbrotas em períodos de alta umidade quando as
plantas estão muito molhadas.
• Após a desbrota dos ramos axilares ou após chuvas muito intensas
pulverizar imediatamente a cultura com fungicidas cúpricos e/ou em misturas
com ditiocarbamatos.

273
Capítulo 10

• Evitar quaisquer injúrias mecânicas no caule e na parte aérea


principalmente em períodos chuvosos; ter cuidado com as primeiras capinas
na lavoura.
• Proceder imediatamente ao arranquio das plantas doentes, pois elas
só servem para disseminar a bactéria para outras plantas que ainda não estão
doentes.
• Em lavouras novas, evitar utilizar tutores (bambus, mourões etc.) de
lavouras onde a doença ocorreu.
• Evitar excesso de adubação nitrogenada. É importante observar os
níveis de potássio e cálcio no solo (realizar calagem com a devida antecedência)
e na planta, bem como o teor de boro.
• Não fazer a desbrota muito rente ao caule.
• Fazer controle de insetos (ex.: lagartas, brocas, traças) que fazem
ferimentos no caule e nos frutos.
• Efetuar a rotação de cultura com gramíneas, como milho, arroz ou
pastagem, por no mínimo um ano, e evitar, ao máximo, o plantio escalonado,
na mesma propriedade, de lavouras novas próximas daquelas em produção.

3.3 MANCHA BACTERIANA


Xanthomonas campestris pv. vesicatoria

A mancha bacteriana ocorre de maneira generalizada, mas a sua


intensidade é baixa na maioria das lavouras do Estado do Espírito Santo. Em
plantios efetuados nos meses de novembro a janeiro, na região serrana do
Estado, em condições de temperatura e chuvas frequentes, a doença ocorre
com maior frequência. Em geral, as perdas são maiores quando a doença
aparece logo no início do transplantio, ou seja, de 15 a 30 dias, alcançando
valores superiores a 20%, pois há uma desfolha precoce das plantas. Cuidados
devem ser tomados no momento de adquirir as mudas, sendo comum já
estarem infectadas nos viveiros. Além do mais, a doença afeta diretamente
os frutos, tornando-os impróprios para a comercialização. A bactéria também
ocorre em outras culturas no Estado, como a berinjela e o jiló, mas com maior
intensidade na cultura do pimentão.

274
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas são observados nas folhas baixeiras, onde


tem-se manchas diminutas escuras, úmidas, que aumentam e tornam-se
irregularmente circulares, com o centro marrom a negro, envolvidas ou não
por um ligeiro bordo amarelado (Figura 49). As lesões nas folhas, com o
tempo, coalescem formando áreas maiores (1 a 5 mm de diâmetro), e podem
atingir o tecido ao longo das nervuras, tornando-os escuros. As bordas das
folhas secam e se tornam quebradiças. Em condições altamente favoráveis à
doença, observa-se a presença de cor escura no pecíolo e caule das plantas.
Nos frutos atacados, tem-se a formação de lesões de 1 a 4 mm de tamanho,
com os bordos ligeiramente elevados, e sua superfície torna-se corticosa,
irregular e com o centro deprimido, lembrando “crateras” escurecidas,
depreciando-os completamente para o comércio (Figura 50). Não confundir
com os sintomas causados pelo cancro-bacteriano, como frequentemente se
verifica no Estado.

Figura 49 - Sintomas da mancha bacteriana nas folhas.

275
Capítulo 10

Figura 50 - Sintomas da mancha bacteriana nos frutos.

Como a doença se dissemina

A doença se dissemina a longas distâncias por meio de sementes


contaminadas, e sobrevive nelas por muitos anos. Na lavoura, a bactéria
espalha-se pelos respingos de chuvas ou água de irrigação, principalmente
por aspersão. O vento também leva a bactéria presente nas gotas de água
(aerossóis). Ela sobrevive em restos culturais e no solo.

Condições que favorecem a doença

As condições ambientais favoráveis à doença são temperaturas entre


24 e 28oC, alta umidade relativa (>90%), presença de chuvas frequentes,
o

irrigação por aspersão e lavouras situadas em locais sujeitos a ventos intensos.


A alta infestação de traças e de mosca minadora nas lavouras predispõe as
plantas a uma maior intensidade da doença.

Manejo da doença

Para um manejo mais eficiente da doença as seguintes medidas em


conjunto devem ser realizadas:
• Utilizar cultivares e/ou híbridos resistentes, quando disponíveis e que
já tenham sido testados na região. A bactéria apresenta raças. Os híbridos
atualmente cultivados no Estado são todos suscetíveis à doença, mas é
comum verificar variações de intensidade dos sintomas em função do manejo
adotado na lavoura.

276
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Usar sementes sadias (o produtor deve exigir a nota fiscal no


momento da compra das sementes e guardar a embalagem por pelo menos
um ano) e mudas certificadas (ao adquirir mudas de viveristas, observá-las
detalhadamente, pois é comum encontrar viveiros com mudas infectadas).
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz ou
pastagem, por no mínimo um ano; evitar ao máximo o plantio escalonado.
• Evitar plantio de pimentão próximo a áreas de tomate.
• Evitar irrigação por aspersão, pois favorece muito a bactéria,
notadamente no período da tarde. Quando possível utilizar irrigação por
infiltração (sulco).
• Em locais com histórico de ocorrência da bactéria, pulverizar
preventivamente as plantas com fungicidas cúpricos e/ou em mistura com
ditiocarbamatos.
• Procurar não fazer os tratos culturais na lavoura com a planta muito
úmida (folha muito molhada).
• Evitar o excesso de adubação nitrogenada e baixo teor de potássio,
pois isto favorece a doença; é importante fazer o equilíbrio nutricional com
potássio, cálcio e magnésio.
• Fazer um controle de insetos (ex.: larva minadora e traça).
• Em locais sujeitos a ventos frequentes, fazer o uso de quebra-ventos,
pois, no geral, as plantas mais predispostas a doenças são aquelas localizadas
nas primeiras linhas de plantio.

3.4 PINTA BACTERIANA


Pseudomonas syringae pv. tomato

Esta é a principal bacteriose nas lavouras de tomate da região serrana,


sendo que, às vezes, encontram-se sintomas desta doença e da mancha
bacteriana na mesma folha. A doença ataca o tomateiro em todos os estádios
de desenvolvimento da planta, sendo que, em nível de campo, os primeiros
sintomas são observados a partir de 10 a 25 dias de idade, o que pode levar
a perdas de 20 a 25% na produção, pois tem-se uma desfolha precoce e uma
queda grande de frutos novos. Sua ocorrência se faz presente em praticamente
todos os meses de cultivo na região serrana, onde as temperaturas são sempre
favoráveis.

277
Capítulo 10

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas da doença são observados nas folhas da parte


inferior das plantas, onde se verificam lesões circulares, de coloração marrom-
escura a negra, as quais, posteriormente, se tornam necróticas, geralmente
envolvidas por um halo amarelado (Figura 51). Em condições de alta
intensidade de ataque da doença, as folhas apresentam, ao longo dos bordos,
uma coloração escura, como verificado em diversas lavouras nas condições
do Espírito Santo. Nos frutos ainda verdes, os sintomas são pequenas pintas
pretas (cabeça de um alfinete), facilmente removidas da casca dos frutos
(Figura 52). As lesões em número muito alto depreciam os frutos para a
comercialização. É comum, em determinadas lavouras da região serrana, sob
condições de alta umidade, ocorrer lesões nos caules, pecíolos, pedúnculos e
sépalas, que normalmente são alongadas e escuras (Figura 53). As lesões nos
pedúnculos e nas sépalas geralmente ocasionam a queda de flores e de frutos
novos (Figura 54). Em mudas, a doença ocorre em determinadas épocas e em
viveiros mal conduzidos (Figura 55).

Figura 51 - Sintomas de pinta bacteriana em folíolos de folhas de tomateiro.

278
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 52 - Sintomas de pinta bacteriana nos frutos.

Como a doença se dissemina

A bactéria é disseminada a longa distância por sementes contaminadas


externamente. Na lavoura, a disseminação ocorre por gotículas de água de
chuva, irrigação por aspersão e pelo vento. A bactéria penetra pelos estômatos
ou por ferimentos ocasionados pelos tratos culturais ou por insetos. A
sobrevivência da bactéria ocorre em restos culturais de plantio, em plantas
daninhas e no solo.

Figura 53 - Lesões na parte inferior dos folíolos de folha de tomateiro causados pela
pinta bacteriana.

279
Capítulo 10

Figura 54 - Sintomas da pinta bacteriana nas sépalas.

Condições que favorecem a doença

As condições mais favoráveis à doença são temperatura entre 18o e


24oC, alta umidade relativa do ar e lavouras plantadas em locais sujeitos a
ventos. A presença da larva minadora e da traça nas lavouras favorece a maior
intensidade da doença.

Manejo da doença

As medidas de manejo para esta doença devem ser adotadas em


conjunto e são:
• Utilizar cultivares e/ou híbridos resistentes, mas que já foram testados
na região. Lembre-se de que a bactéria apresenta raças. Por exemplo, o
híbrido San Vito, desenvolvido pela Embrapa Hortaliças, é resistente. Em
ensaios conduzidos em 2007 no Estado do Espírito Santo com 14 híbridos em
dois locais de cultivo (Caxixe e Fazenda Guandu), observou-se que os híbridos
Donatto, Império, Nanda e Styllus foram os mais suscetíveis. Os híbridos Ellen,
TY-75 e TY Fanny apresentaram a menor severidade nestes ensaios.
• Empregar sementes e mudas sadias e certificadas; exigir nota fiscal
de compra, porque a semente pode estar contaminada com a bactéria e este
documento pode ser a garantia para futuros problemas no viveiro ou no
campo.
• Ter cuidado no momento de adquirir as mudas de viveiristas, pois elas
podem estar infectadas nos próprios viveiros.

280
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Efetuar pulverização preventiva com fungicidas cúpricos isoladamente


ou em mistura com fungicidas ditiocarbamatos. Estes produtos auxiliam no
controle de outras doenças foliares.
• Usar cobertura morta na lavoura (carreadores), para evitar a abrasão
de partículas de areia e solo carregadas pelo vento sobre as plantas.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz
ou pastagem, por no mínimo um ano.
• Evitar irrigação por aspersão, principalmente no final da tarde, como
às vezes se verifica na região.
• Não reutilizar tutores (bambus, mourões etc.) de lavouras velhas onde
a doença ocorreu.
• Evitar fazer os tratos culturais na lavoura com a planta muito úmida
(folha muito molhada).
• Não utilizar adubação nitrogenada em excesso, principalmente em
cobertura, como se verifica em lavouras da região. É importante o equilíbrio
nutricional com potássio e cálcio.
• Fazer um controle adequado de insetos (ex.: larva minadora e traça).
• Evitar plantio em áreas muito expostas a ventos.

Figura 55 - Lesões da pinta bacteriana em mudas de tomateiro.

281
Capítulo 10

3.5 CANCRO BACTERIANO


Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis

No Estado do Espírito Santo, a doença ocorre com grande intensidade


em diversas lavouras, com maiores danos nos meses de dezembro a janeiro
quando se tem alta umidade relativa, temperaturas altas e chuvas em maior
intensidade. As perdas nos últimos anos têm sido enormes, e é comum verificar-
se algumas lavouras muito atacadas antes da colheita do segundo cacho, com
perda superior a 75%. A doença, além de provocar uma queda muito grande
dos frutos, torna-os impróprios à comercialização, devido às lesões que são
formadas sobre a superfície dos mesmos. Geralmente, a doença inicia-se em
pequenos focos na lavoura e, caso haja um diagnóstico errado em sua fase
inicial, ela pode se disseminar de maneira muito rápida dentro das fileiras e
depois para outras partes da lavoura. Desta forma, após duas a três desbrotas,
várias partes da lavoura se tornam doentes. Com o uso da irrigação localizada,
associada ou não à adubação, o produtor, muitas vezes, volta a plantar tomate
na mesma área depois de três a cinco meses, o que tem favorecido a presença
da doença em plantas muito novas no campo.

Como reconhecer a doença

A bactéria pode infectar as plantas na fase de mudas (sementeira e/ou


viveiro), onde se observa, nas folhas cotiledonares, lesões esbranquiçadas e
elevadas. No campo, geralmente os primeiros sintomas são observados entre
os 30 a 40 dias, e se caracterizam por uma murcha da brotação axilar ou murcha
unilateral dos folíolos de uma folha, isto é, abrangendo somente os folíolos de
um dos lados da folha. Mas em áreas com histórico da doença, os sintomas
podem aparecer no período de 15 a 25 dias de campo, como se verifica no
Estado (Figura 56). Um corte no caule de uma planta com tais sintomas, no
sentido longitudinal, revelará a presença de uma descoloração amarelada dos
vasos (invasão sistêmica) (Figura 57). No pecíolo e nas nervuras dos folíolos
afetados, observam-se, às vezes, pequenos fendilhamentos (microcancros)
com exsudação pouco perceptível. Ainda nesta fase poderão ser observados
outros sintomas, como a queima dos bordos dos folíolos com a formação de
um halo amarelado, o seu acanoamento e a formação de pequenas pústulas
em todos os órgãos aéreos do tomateiro (Figuras 58 e 59). Em alguns casos,

282
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

ocorre a rachadura do folíolo (Figura 60). Nos frutos verdes e/ou maduros
podem surgir pequenas manchas arredondadas, que passam de um verde-
escuro para o branco e vão necrosando do centro para a periferia (mancha
de “olho de perdiz” ou olho de passarinho) (Figura 61). O cálice dos frutos
também apresenta sintomas (microcancros) característicos em condições
de alta intensidade de doença. Uma necrose dos bordos dos folíolos é
comumente observada após a operação de desbrota. Contudo, cuidados
devem ser tomados para não confundir estes sintomas com fitotoxidez de
agrotóxicos, deficiências nutricionais ou outras bacterioses. Quando se inicia
a frutificação, a bactéria movimenta-se pelos vasos da planta, penetra nos
frutos e pode infectar as sementes, tanto externa quanto internamente. As
plantas infectadas, quando balançadas na fase de frutificação, apresentam
uma queda acentuada de frutos (Figura 62), e assim tem-se uma perda muito
grande nas lavouras (Figura 63).

Figura 56 - Plantas com sintomas iniciais de cancro bacteriano.

283
Capítulo 10

Figura 57 - Sintomas de descoloração vascular do caule devido à infecção da


bactéria causadora do cancro.

Figura 58- Sintomas de cancro no pedúnculo.

284
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como a doença se dissemina

A bactéria se dissemina pelas sementes infectadas e pela água de


irrigação contaminada. À longa distância, a bactéria é introduzida por
sementes, onde sobrevive por muito tempo. À curta distância, ela se dissemina
por ocasião da desbrota (ex.: canivete, faca e mãos), amarração e poda, que a
levam de uma planta doente para uma sadia. A água de chuva ou de irrigação
por aspersão são importantes disseminadores da bactéria de uma folha ou
planta a outra. A bactéria, uma vez introduzida na área de plantio, poderá
permanecer no solo por até três anos, e em restos culturais, plantas daninhas
e em tutores (ex.: estacas/bambus) pode permanecer por pelo menos dois
anos.

Figura 59 - Folha com sintomas caraterísticos de cancro.

Figura 60- Rachadura do caule devido à infecção da bactéria causadora de cancro.

Condições que favorecem a doença

As condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença são


temperaturas de 23o a 28oC, alta umidade relativa do ar, alta umidade do solo,
excesso de adubação nitrogenada e irrigação por aspersão. A presença de
insetos, como broca, traça e larva minadora, na lavoura favorece a doença.

285
Capítulo 10

Figura 61 - Sintomas de cancro bacteriano nos frutos.

Figura 62 - Plantas com queda de frutos devido ao cancro.

Manejo da doença

Para o manejo do cancro bacteriano várias medidas devem ser adotadas


de maneira integrada, uma vez que os híbridos atualmente cultivados no
Estado têm apresentando alta suscetibilidade à doença:
• Empregar sementes sadias e exigir a nota fiscal de compra. Guardar as
embalagens por pelo menos um ano.
• Ao adquirir muda de viveiristas, exigir o Certificado Fitossanitário de
Origem (CFO).
• Evitar irrigação por aspersão, notadamente no período da tarde.
• Não usar água contaminada com a bactéria para irrigação de
sementeiras, viveiros e plantas no campo.

286
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Em locais com histórico da doença, utilizar as cultivares e/ou híbridos


resistentes é importante, mas que já tenham sido testados na região.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz ou
pastagem, por no mínimo três anos; evitar ao máximo o plantio escalonado
na mesma propriedade, ou seja, lavouras novas próximas de lavouras em
produção.

Figura 63 - Lavouras com alta severidade de cancro.

• Evitar rotação com pimentão, que também é hospedeiro da bactéria.


• Não reutilizar tutores (bambus, mourões) empregados em lavouras
onde a doença ocorreu na safra anterior. Proceder à queima dos mesmos
como fazem vários produtores da região serrana. A utilização cada vez maior
de fitilhos nas lavouras do Estado é importante para diminuir esta doença.
• Efetuar pulverizações preventivas com fungicidas cúpricos e/ou em
mistura com ditiocarbamatos no campo definitivo como em sementeiras e/
ou viveiros; é importante a pulverização logo após o transplantio em áreas
com histórico de ocorrência da doença, como observado na região serrana.
• Se no início da lavoura existirem poucas plantas com sintomas da
doença, proceder ao seu arranquio.
• Não efetuar desbrota em plantas com sintomas da doença e, quando
necessário, efetuar uma desinfestação das ferramentas utilizadas (ex.: água

287
Capítulo 10

sanitária); aplicar fungicidas cúpricos e/ou em misturas com ditiocarbamatos


após as desbrotas.
• Evitar adubação nitrogenada em excesso e atentar para os níveis de
potássio e cálcio.
• Fazer controle adequado de insetos (traças, brocas etc.).

4. DOENÇAS CAUSADAS POR NEMATOIDES

4.1 NEMATOIDES DAS GALHAS


Meloidogyne spp.

Doença de ocorrência esporádica, em condições de campo, nas lavouras


da região serrana devido ao fato de que a maioria das cultivares/híbridos
atualmente plantados apresenta resistência. Em determinadas áreas, a doença
ainda ocorre quando se utilizam híbridos suscetíveis, associados à falta de
rotação de culturas, e os solos apresentam baixo teor de matéria orgânica.
Contudo, no Estado do Espírito Santo, a doença apresentou importância em
cultivo de tomate em estufas, entre os anos de 1999-2003, quando, após
dois a três plantios, verificou-se a inviabilização total da atividade nas áreas
infectadas com consequente abandono da produção devido à alta infestação
destes nematoides. As duas espécies predominantes são Meloidogyne javanica
e Meloidogyne incógnita.

Como reconhecer a doença

As plantas atacadas apresentam, na sua parte área, um amarelecimento,


redução de crescimento e, em certos casos, tem-se uma murcha temporária das
plantas, notadamente sobre condições de deficit hídrico, e nos períodos mais
quentes do dia. Entretanto, os sintomas característicos desses nematoides são
observados nas raízes que apresentam galhas (engrossamento) de tamanho
e número variável em função do nível de infestação do solo (Figuras 64 e 65).

Condições que favorecem a doença

Solos arenosos e aqueles com baixo teor de matéria orgânica e alta


umidade são mais favoráveis aos nematoides. Temperaturas entre 24o e 28oC

288
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 64 - Plantas com formação de galhas nas raízes.

Figura 65 - Plantas novas (muda) apresentando galhas no sistema radicular.


são altamente favoráveis à doença.

Como a doença se dissemina

A disseminação a longas distâncias é feita por meio de partículas de solo


infestado que vai aderido aos implementos agrícolas e máquinas. Dentro da
mesma lavoura ocorre, principalmente, pela água de irrigação e de chuvas. As
mudas doentes do viveiro e/ou sementeiras também são importantes meios
de condução dos nematoides para novas áreas.

Condições que favorecem a doença

Solos arenosos e aqueles com baixo teor de matéria orgânica e alta


umidade são mais favoráveis aos nematoides. Temperaturas entre 24o e 28oC
são altamente favoráveis à doença.

289
Capítulo 10

Como a doença se dissemina

A disseminação a longas distâncias é feita por meio de partículas de solo


infestado que vai aderido aos implementos agrícolas e máquinas. Dentro da
mesma lavoura ocorre, principalmente, pela água de irrigação e de chuvas. As
mudas doentes do viveiro e/ou sementeiras também são importantes meios
de condução dos nematoides para novas áreas.

Manejo da doença

As medidas que devem ser utilizadas são:


• Utilizar mudas livres (isentas) de nematoides, para evitar a disseminação
para novas áreas da propriedade.
• Utilizar somente substrato com garantia, ou seja, aquele isento de
nematoides, bem como dar atenção especial à qualidade da água utilizada
nas sementeiras e/ou viveiros.
• Efetuar um programa de rotação de culturas, que deve necessariamente
incluir a utilização de crotalárias, mucunas e/ou tagetes (cravo de defunto),
que diminuem a população dos nematoides e ainda são importantes para
a melhoria da estrutura química e física dos solos. A rotação com gramíneas
(milho, sorgo e pastagem), por pelo menos um ano, é importante para o
manejo destes nematoides.
• Após a colheita em áreas muito infestadas, é essencial efetuar aração e
gradagem, bem como deixá-las sem qualquer espécie de planta e/ou plantas
daninhas (alqueive do solo/pousio) por vários dias.
• Utilizar sempre composto orgânico no momento do plantio e até
mesmo em cobertura. O composto de palha de café apresenta excelente
resultado no manejo destes nematoides (ZAMBOLIM et al., 1997). Deve-se
ter o cuidado com a fonte de esterco, notadamente de bovino (problema
com herbicida). A adubação com base na análise do solo é importante para
a recomendação de nutrientes, pois uma planta com adubação equilibrada
(especialmente potássio e cálcio) é mais resistente às injúrias causadas por
esses nematoides.
• A maioria das cultivares/híbridos atualmente cultivados no Estado
apresenta resistência aos nematoides das galhas.

290
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

5. DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS E FITOPLASMAS

5.1 MOSAICO-AMARELO
Pepper Yellow Mosaic Virus - PepYMV

A doença foi inicialmente diagnosticada em fevereiro de 2002, ocorrendo


em poucas lavouras na região do Caxixe, no município de Venda Nova do
Imigrante (COSTA et al., 2003; 2004). Atualmente, a doença está disseminada
em todos os municípios da região serrana que produzem tomate, contudo
nas lavouras conduzidas na região quente do Estado, entre os meses de maio
a setembro, a incidência da doença é ainda pequena. A variação destas perdas
ocorre em função do híbrido utilizado e da idade em que as plantas se tornam
infectadas. Plantas atacadas na fase inicial de desenvolvimento, 20 a 30 dias
de cultivo, têm os sintomas muito severos, e as perdas podem ser totais.
Naquelas que ainda produzem frutos, estes não apresentam valor comercial.
Isto se verifica com frequência quando se utiliza o plantio escalonado na
mesma propriedade ou na região, principalmente quando as lavouras são
cultivadas nos meses de janeiro e fevereiro.
Outro fator que favorece o aumento da doença na região é a não
eliminação das lavouras velhas, onde geralmente as brotações apresentam
sintomas característicos da doença (AVILA et al., 2004). O vírus infecta outras
culturas, como o pimentão, e algumas plantas daninhas. Em maio de 2007, em
diversas lavouras de pimentão, nos municípios de Venda Nova do Imigrante e
Domingos Martins, o vírus causou perdas superiores a 50%, devido à infecção
na fase inicial desta cultura.

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas normalmente ocorrem no campo durante os


15 a 30 dias após o transplantio, em partes isoladas, sendo comum observar
plantas com sintomas ao longo da fileira, notadamente aquelas situadas
na parte mais externa da lavoura (Figuras 66 e 67). As plantas infectadas
apresentam folíolos com um mosaico característico (Figura 68). Os sintomas
podem ser variáveis entre as cultivares/híbridos, e muitos apresentam apenas
um mosaico muito suave, o que dificulta o diagnóstico na fase inicial, levando
muitos agricultores a associar os sintomas com deficiência nutricional e a

291
Capítulo 10

utilizar adubações foliares sem a mínima necessidade. Os frutos das plantas


muito infectadas se tornam endurecidos e sem valor comercial. Em pimentão,
o vírus causa um amarelecimento intenso (Figura 69).

Figura 66 - Lavouras com sintomas de Pepper Yellow Mosaic Virus.

Como a doença se dissemina

A doença se dissemina de uma lavoura ou de uma planta para outra por


meio de pulgões/afídeos, que são os insetos vetores. Este vírus é transmitido

292
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

pelos pulgões de maneira não persistente.

Figura 67 - Plantas novas com sintomas de Pepper Yellow Mosaic Virus.

Condições favoráveis à doença

A doença ocorre com maior intensidade em condições de temperatura


de 20 a 24oC associadas à alta umidade relativa.
o

Manejo da doença

As seguintes medidas devem ser adotadas para o seu manejo e em


conjunto por todos os produtores da região:

293
Capítulo 10

• Evitar a formação de mudas em campo aberto e nas proximidades de


lavouras de tomate e de outras olerícolas suscetíveis, como alguns híbridos
de pimentão. As mudas devem ser produzidas em ambiente protegido, como
é normalmente utlizado no Estado.
• A utilização de inseticidas para evitar a disseminação do vírus pelos
pulgões em nível de campo não tem eficiência.
• Fazer rotação de culturas por pelo menos um ano, evitando plantios
escalonados na mesma propriedade, principalmente com o mesmo híbrido
ou cultivar, o que às vezes é comum se verificar em algumas propriedades,
sendo geralmente as perdas ainda maiores.
• Eliminar, na fase inicial das lavouras, as plantas com sintomas da
doença, se o número de plantas doentes for pequeno.
• Alguns híbridos atualmente cultivados apresentam maior tolerância
ao vírus, mas todos são suscetíveis em maior ou menor intensidade, sendo
que alguns deles são extremamente suscetíveis nas condições do Espírito
Santo. Ainda não existem híbridos comerciais de tomate com resistência. É
importante para a região serrana, onde o vírus é extremamente importante,
o plantio de cultivares/híbridos de pimentão com resistência a este vírus para
diminuir a fonte de inóculo, sendo que existem atualmente vários híbridos de
pimentão com esta característica.

Figura 68 - Sintomas de mosaico nas folhas.

294
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Figura 69 - Planta de pimentão com sintomas característicos de Pepper Yellow Mosaic


Virus.

5.2 VIRA-CABEÇA DO TOMATEIRO


Tomato Spotted Wilt Virus - TSWV

A doença ocorre de maneira esporádica na maioria das lavouras de


tomate no Espírito Santo, sendo que a maior intensidade é verificada nos
meses de dezembro a fevereiro, notadamente na região serrana. Atualmente,
um dos fatores responsáveis pela menor incidência da doença no Estado é a
produção de mudas em ambiente protegido (estufas, estufins etc.). As plantas
atacadas geralmente não produzem frutos comercializáveis.

Como reconhecer a doença

Os primeiros sintomas da doença normalmente ocorrem no campo


durante os 20 a 40 dias após o transplantio, em partes isoladas da lavoura.
Inicialmente, as plantas apresentam paralisação no crescimento, com perda
do brilho da cor verde das folhas dos ponteiros (aspecto de ferrugem) (Figuras
70 e 71). A seguir, observa-se escurecimento das folhas e o seu arqueamento
para baixo. É comum se observar a presença de anéis concêntricos nas folhas
atacadas pelo vírus. Geralmente, o ponteiro da planta se curva para o lado, o
que originou o nome da doença. Nos frutos infectados, verifica-se a presença

295
Capítulo 10

característica de manchas circulares escuras em forma de anéis concêntricos.

Figura 70 - Plantas com sintomas de vira-cabeça.

Figura 71 - Detalhe das folhas com sintomas de vira-cabeça.

Como a doença se dissemina

A doença se dissemina de uma lavoura ou de uma planta para outra por


meio de um inseto vetor chamado tripes.

296
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Condições favoráveis à doença

A doença ocorre com maior intensidade em condições de temperatura


de 25 a 30oC, e alta umidade relativa, a qual favorece a população de tripes.
o

Manejo da doença

Para o manejo desta doença pode-se adotar as seguintes medidas:


• Evitar a formação de mudas em campo aberto nas proximidades de
lavouras de tomate e de outras olerícolas.
• Produzir as mudas em ambiente protegido (ex.: estufas, estufins).
• Fazer rotação de culturas por pelo menos um ano e evitar plantios
escalonados de tomate na mesma propriedade.
• Em áreas com alta incidência do vetor, evitar o plantio em épocas de
temperatura alta.
• Fazer um controle adequado de tripes, principalmente na fase inicial
de transplantio no campo, e utilizar armadilhas de cor azul, que atrai os
tripes.
• Eliminar imediatamente as plantas atacadas da lavoura em qualquer
fase da cultura.
• Alguns híbridos são resistentes ao vírus, mas antes de plantá-los,
verificar se já foram testados na região.

5.3 MOSAICO COMUM


Tomato Mosaic Virus - ToMV

Essa doença ocorria de maneira comum na maioria das lavouras no


Estado do Espírito Santo, pelo fato de o vírus ser transmitido por operações
culturais (desbrotas, transplante e amarração). No final do ciclo da cultura,
podia se observar os sintomas da doença em até 100% das plantas,
notadamente entre os meses de outubro a fevereiro. Atualmente, pelo cultivo
de híbridos com resistência ao vírus ToMV, a importância da doença tem
diminuído drasticamente no Estado.

297
Capítulo 10

Como reconhecer a doença

Os sintomas aparecem nas folhas superiores, onde pode ser observada


a presença de mosaico, compreendido por áreas verde-claras, entremeadas
com áreas verdes, má formação e enrugamento. Nos frutos atacados, surgem
manchas escura-amareladas na parte externa e manchas escuras necróticas
na parte interna. Plantas infectadas na fase inicial apresentam redução no seu
desenvolvimento.

Como a doença se dissemina

O vírus se propaga facilmente por meio de ferramentas ou instrumentos


utilizados durante as operações culturais e através das próprias mãos do
trabalhador, quando este faz o transplantio, amarração e desbrota. Além
disto, o vírus pode ser transmitido pelas sementes.

Condições que favorecem a doença

A doença é favorecida por temperaturas entre 25o e 30oC, associadas à


alta umidade relativa do ar.

Manejo da doença

Visando ao manejo do vírus do mosaico comum, as seguintes medidas


devem ser utilizadas:
• Plantar cultivares e/ou híbridos resistentes, que são atualmente
a maioria dos cultivos; mas atentar se estes materiais já foram testados na
região.
• Evitar fumar cigarro de palha ou cachimbo dentro da lavoura de
tomate.
• Os operadores devem lavar as mãos com detergente líquido, na
dosagem de 100 ml por litro d’água ou álcool a 70%. O operador deve
mergulhar as mãos com frequência nessa solução, procurando mantê-
las sempre molhadas durante o período em que estiver trabalhando. As
ferramentas, tais como facas, canivetes, tesouras, usadas na cultura também
devem ser desinfetadas nesta solução.

298
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Eliminar quaisquer mudas com sintoma de mosaico na sementeira e


no viveiro.
• Produzir as mudas em ambiente protegido.
• Efetuar rotação com outras culturas, por pelo menos um ano; evitar
plantios escalonados na mesma propriedade e fazer os tratos culturais
primeiro nas lavouras mais novas.

5.4 RISCA OU MOSAICO Y


Potato Virus Y - PVY

Virose que ocorre em baixa frequência na região serrana do Estado,


sendo que sua intensidade é maior nas lavouras cultivadas de março a abril.
As plantas atacadas apresentam redução de crescimento.

Como reconhecer a doença

As plantas infectadas apresentam folhas com áreas de coloração verde-


amareladas (mosaico) e arqueadas para baixo. Na face inferior da folha,
observa-se a presença de riscas e anéis concêntricos.

Como a doença se dissemina

O vírus é transmitido por várias espécies de pulgões, destacando-se


Myzus persicae e Macrosiphum solanifolii.

Condições que favorecem a doença

Temperaturas entre 21o e 24oC e a alta umidade relativa do ar são as


condições mais favoráveis à doença.

Como controlar a doença

A doença pode ser controlada adotando-se as seguintes medidas:


• Não efetuar o plantio de tomate próximo a culturas hospedeiras de
pulgões.

299
Capítulo 10

• Realizar controle de pulgões, que são vetores do vírus.


• Produzir as mudas em ambiente protegido.
• Sementeiras e viveiros devem estar localizados distantes de lavouras
em produção.
• Eliminar imediatamente da lavoura as plantas atacadas, e evitar
quaisquer tratos culturais (ex.: desbrota) nestas plantas.
• Evitar plantio de tomate próximo a outras solanáceas.
• Efetuar a eliminação de plantas daninhas hospedeiras, tais como
maria-pretinha e carrapicho-de-carneiro.

5.5 BROTO-CRESPO
Geminivirus

O broto-crespo é uma doença causada por um complexo de vírus e


que ocorre de maneira esporádica nas lavouras da região serrana do Estado.
Entretanto, na safra 2006/2007, ocorreram, em algumas áreas, perdas
significativas, pois a virose surgiu em plantas com 20 a 40 dias de idade. A
maior intensidade da doença nesta região ocorre entre os meses de janeiro a
março. Geralmente as plantas atacadas não apresentam produção comercial.

Como reconhecer a doença

O sintoma característico da doença é o enrolamento dos bordos


dos folíolos para cima, tornando-se espessos, com nervuras salientes, que
adquirem uma coloração arroxeada a púrpura. Com o desenvolvimento da
doença, a planta se torna enfezada, coriácea, com superbrotamento e folhas
voltadas para baixo (Figura 72).

Figura 72 - Plantas com sintomas de broto-crespo.

300
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como a doença se dissemina

Os vírus causadores do broto-crespo são transmitidos por várias


espécies de cigarrinhas, destacando-se a Agallia albidula, Agaliana ensigera e
Angaliana sticticola.

Condições que favorecem a doença

A doença é mais severa quando a temperatura é de 17o a 24oC e a


umidade relativa do ar alta.

Manejo da doença

No manejo do broto-crespo, as seguintes medidas são indicadas:


• Não efetuar o plantio de tomate próximo a culturas hospedeiras de
cigarrinhas.
• Realizar controle das cigarrinhas, que são vetores do vírus.
• Produzir as mudas em ambiente protegido.
• Eliminar imediatamente da lavoura as plantas atacadas, e evitar
quaisquer tratos culturais (ex.: desbrota) nestas plantas.
• Efetuar a eliminação de plantas daninhas hospedeiras, tais como
maria-pretinha e carrapicho-de-carneiro.

5.6 TOPO-AMARELO E AMARELO-BAIXEIRO


Tomato Yellow Top Virus – TOYTV e Tomato Bottom Yellow Leaf Virus – TBYLV

Estas viroses são causadas por vírus pertencentes ao complexo do


enrolamento da folha da batata. Sua ocorrência no Estado é muito baixa.
Alguns híbridos cultivados na região serrana apresentam maior incidência de
topo amarelo. A maior intensidade da doença acontece nos meses de janeiro
a março.

Como reconhecer a doença

No caso do topo-amarelo, as plantas doentes apresentam tamanho


reduzido e clorose marginal superior, com os ponteiros apresentando um

301
Capítulo 10

amarelecimento generalizado. O desenvolvimento da planta é retardado. As


folhas superiores atacadas adquirem uma coloração verde-amarelo, ao passo
que as folhas baixeiras apresentam-se cloróticas. Deve-se ter cuidado para
não confundir a doença com deficiência de nutrientes, especialmente com
boro, ou fitotoxidez de produtos, como se verifica em algumas lavouras do
Estado.
O amarelo-baixeiro ataca as folhas inferiores da planta, surgindo,
dessa forma, o nome da doença. Esta geralmente manifesta os primeiros
sintomas com 25 a 50 dias após o transplantio. Nessa fase, surge nas folhas
basais da planta amarelecimento localizado entre as nervuras secundárias
dos folíolos. Com o tempo, todo o folíolo torna-se clorótico, permanecendo
apenas pequenas bordas verdes ao longo das nervuras. Outro sintoma é o
arroxeamento ou necrose na epiderme superior das folhas atacadas. Deve-se
ter cuidado para não confundir com deficiência de magnésio.

Como a doença se dissemina

Os vírus causadores do topo-amarelo e amarelo-baixeiro são


transmitidos por pulgões, e, dentre estes, a espécie Myzus persicae é a mais
importante e mais comum na região serrana. O vírus não é transmitido por
sementes e nem por tratos culturais.

Condições favoráveis à doença

A doença ocorre com maior intensidade em temperaturas entre 21o e


25oC e alta umidade relativa.

Manejo da doença

Visando ao manejo do topo-amarelo e amarelo-baixeiro, as seguintes


medidas são indicadas:
• Evitar o plantio nas proximidades de outras culturas doentes de
tomate, ou seja, evitar o plantio escalonado na área.
• Proteger as sementeiras e viveiros com telas para evitar o inseto vetor,
o pulgão.
• Fazer rotação de cultura por no mínimo um ano.

302
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Em casos de baixa incidência de plantas com sintomas da doença,


efetuar o arranquio destas plantas.

5.7 MOSAICO - Geminivirus (complexo de espécies)


Mosaico Dourado

Doença que tem causado grandes prejuízos para os produtores de tomate


de mesa ou industrial em vários estados do Brasil, tais como Pernambuco,
Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Santa Catarina, São Paulo
e Rio de Janeiro, onde perdas totais ocorrem se a doença incide nos estágios
iniciais do desenvolvimento da cultura. No Estado do Espírito Santo, a doença
ocorreu em alta severidade em janeiro de 2006, nos municípios de Afonso
Cláudio e Alfredo Chaves, com perdas praticamente totais, pois as cultivares
e híbridos utilizados eram suscetíveis à doença e, posteriormente, nos meses
seguintes deste mesmo ano, em vários outros municípios, como Laranja da
Terra, Itarana e Santa Teresa. Na região serrana, a ocorrência da doença é ainda
baixa, apesar de a maioria dos agricultores ainda cultivar híbridos suscetíveis,
que apresentam maior produtividade. Porém, cuidados devem ser tomados
com esta doença nesta região nas safras subsequentes a sua ocorrência, uma
vez que a infestação de mosca-branca está cada vez maior. A principal espécie
identificada até o momento no Estado foi “Tomato chlorotic mottle virus”
(ToCMoV), mas outras estão em processo de identificação, uma vez que no
país existem inúmeras espécies já relatadas.

Como reconhecer a doença

Existe uma grande variação de sintomas em função das diferentes


espécies de geminivírus e o cultivar/híbrido infectado. Assim, somente um
diagnóstico preciso pode definir corretamente a espécie do vírus responsável
pelo sintoma. O sintoma típico em plantas doentes é a presença de folhas
com mosaico e um amarelecimento intenso e que posteriormente tornam-
se encarquilhadas (Figura 73). As plantas infectadas na fase inicial de cultivo
geralmente não apresentam produção comercial, pois adquirem um aspecto
de enfezamento, e as folhas do ponteiro não se desenvolvem (Figura 74).
Em híbridos tolerantes à sintomatologia é diferente, com ausência de
encarquilhamento da planta. Na safra de 2006 foi observada a presença do

303
Capítulo 10

Tomato Chlorosis virus - ToCV do gênero crinivirus (Figura 75). Deve-se ter
atenção para não se confundir o sintoma causado por este novo virus com os
provocados por deficiência de magnésio.

Figura 73 - Folhas com sintomas de geminivírus.

Figura 74 - Lavoura com plantas apresentando sintomas de geminivírus.

304
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como a doença se dissemina

O vírus se propaga de uma lavoura a outra ou dentro da mesma lavoura


por meio da mosca-branca (Bemisia tabaci biotipo B), a qual se acha presente
em todo o Estado em alta infestação (Figura 76). Na região serrana, o inseto se
encontra presente desde 1999, mas somente na safra de 2007/2008, algumas
lavouras desta região apresentaram sintomas da doença. O vírus tem sido
encontrado associado a diversas plantas daninhas e silvestres, próximas ou
dentro das plantações de tomate.

Figura 75 - Plantas com sintomas de crinivírus.

Figura 76 - Mosca-branca nos frutos e nas folhas.

Condições favoráveis à doença

Temperaturas entre 24o e 30oC, associada à alta umidade relativa,


favorecem a doença.

305
Capítulo 10

Manejo da doença

As seguintes medidas devem ser utilizadas em conjunto por todos os


produtores da região onde a doença ocorre em alta intensidade:
• Utilizar cultivares e/ou híbridos tolerantes é a principal medida de
manejo em áreas com histórico da doença. Estes materiais devem, contudo,
ser testados na região, pois podem apresentar menores produtividades em
relação aos não resistentes.
• Produzir mudas em locais protegidos (estufas/estufins).
• Utilizar plantas quebra-vento próximo à lavoura, uma vez que esta
medida diminui a doença.
• Utilizar armadilhas amarelas contendo substâncias adesivas (graxa ou
cola), visando à redução da população de adultos.
• Controlar o inseto vetor notadamente na fase inicial de transplantio a
campo, ou seja, nos estágios iniciais de desenvovimento, 20 a 35 dias de campo,
pois esta é uma época crítica para a incidência deste vírus, principalmente em
áreas onde a doença ocorre em alta intensidade, como se verifica nas lavouras
do Estado localizadas nas regiões quentes.
• Retirar imediatamente da lavoura as plantas com sintomas da doença
em áreas onde a ocorrência é ainda muito baixa, como na região serrana do
Estado.
• Fazer a rotação de cultura com gramíneas, como milho, sorgo, arroz
ou pastagem, por no mínimo um ano.
• Evitar ao máximo o plantio escalonado na mesma propriedade, ou
seja, lavouras novas próximas das em produção, fato ainda muito comum nas
lavouras do Estado.

5.8 Cálice Gigante


Phytoplasma - 1GSr

Esta doença, causada por um fitoplasma, foi diagnosticada pela primeira


vez no Estado em março de 2007, em uma lavoura localizada no município
de Domingos Martins, na cultivar Itapitan, de crescimento determinado. O
fitoplasma identificado no Estado pertence ao grupo 16SrIII (ECKSTEIN et al.,
2007).

306
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Como reconhecer a doença

O sintoma característico da doença é superbrotamento dos ramos, com


as plantas adquirindo um enfezamento generalizado (Figura 77). Neste caso
específico tem-se também uma deformação acentuada dos órgãos florais,
com formação de frutos sem quaisquer valor comercial (Figura 78).

Como a doença se dissemina

Figura 77 - Plantas com superbrotamento.

Figura 78 - Abortamento dos frutos.

O fitoplasma é transmitido por várias espécies de cigarrinhas.

Condições que favorecem a doença

A doença é mais severa quando a temperatura é de 19o a 24oC e a


umidade relativa do ar alta.

307
Capítulo 10

Manejo da doença

No manejo desta doença, as medidas a serem adotadas são:


• Eliminar imediatamente da lavoura as plantas atacadas.
• Produzir as mudas em ambiente protegido.
• Evitar o plantio de tomate próximo a culturas hospedeiras de
cigarrinhas.
• Realizar controle das cigarrinhas, que são vetores deste fitoplasma.

Medidas gerais que devem ser adotadas para o manejo das doenças do
tomateiro visando a uma maior sustentabilidade da cultura no Estado são:
• Ter conhecimento do histórico da área onde vai se fazer o plantio,
evitando, desta forma, solos contaminados com bactéria (ex.: Ralstonia
solanacearum), fungos (verticillium, fusarium, sclerotinia) e nematoides.
Fungos habitantes do solo, como fusarium e verticillium, têm como medida
de controle o uso de cultivares/híbridos resistentes. O uso de fungicidas em
aplicações, seja no solo, seja no colo da planta, é ineficiente.
• Evitar irrigação por aspersão que favorece a maioria das doenças
foliares, tais como bacterioses (pinta, cancro e mancha), septoriose, requeima,
mancha de estenfílio e pinta-preta, bem como a irrigação em períodos muito
quentes do dia. Lembrar-se de que quanto mais tempo a planta (folhas, hastes,
pecíolos, frutos) ficar molhada, mais chance de ocorrer as doenças.
• Não cultivar tomate onde outras solanáceas (batata, pimentão,
berinjela e jiló) tenham sido plantadas anteriormente, por pelo menos dois
anos. Fazer rotação com outras espécies, como inhame, cenoura, beterraba,
repolho, couve-flor etc. O produtor deve conhecer o seu terreno, ou seja, ter o
seu histórico (cuidado com solos contaminados com patógenos que causam
murcha).
• Utilizar cultivares e/ou híbridos resistentes às doenças predominantes
na área de plantio (ex.: murcha de fusarium e de verticillium, mancha de
estenfílio, pinta bacteriana e nematoide das galhas), mas que já tenham
sido testados na região. Consultar um agrônomo. Lembrar-se de que os
fungos e bactérias apresentam raças que atacam outros híbridos/cultivares.
Em função da constatação da raça 3 de fusarium no Estado, e uma vez que
todos os materiais até então são suscetíveis, cuidados devem ser tomados
nas áreas onde este fungo ocorreu. Deve-se evitar o trânsito de máquinas

308
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

nestas áreas para diminuir a disseminação dos fungos para novas áreas. Em
relação à ocorrência da raça 2 de verticillium em algumas lavouras, o mesmo
procedimento deve ser adotado.
• Não plantar lavoura nova próxima das velhas ou abandonadas sem
antes eliminá-las. Enterrar e/ou queimar os restos culturais dessas lavouras,
que são responsáveis pela alta incidência de várias doenças na fase inicial de
cultivo, como é comum se verificar em diversas propriedades no Estado.
• Evitar ao máximo o plantio de tomate escalonado na mesma
propriedade e mesmo na própria lavoura.
• Proceder sempre à rotação de culturas com gramíneas (ex.: milho,
sorgo, arroz e/ou pastagens) e/ou leguminosas (ex.: mucunas e crotalárias),
por no mínimo um a dois anos, que são importantes para solos contaminados
com nematoides.
• Não fazer viveiros e/ou sementeiras abertas próximas de lavouras em
produção e abandonadas.
• Não reutilizar os bambus/estacas de lavouras onde ocorreram doenças
causadas por bactérias, principalmente a murchadeira e cancro bacteriano.
• Deve-se fazer o tratamento das estacas/bambus com hipoclorito
de sódio, água sanitária a 20%, amônia quaternária ou sulfato de cobre, por
imersão em caixas de amianto por duas a três horas, e deixar secar ao sol por
pelo menos dois a quatro dias.
• Evitar plantios em solos muito compactados, argilosos, esgotados,
encharcados e mal drenados; atentar para o uso de adubos verdes (ex.:
mucunas e crotalárias) nestes solos.
• Adicionar sempre matéria orgânica (composto orgânico, húmus) nas
áreas de plantio e nas covas.
• Dar atenção especial à utilização de esterco fresco e à origem do
mesmo, notadamente o de bovinos (resíduo de herbicidas).
• Empregar sempre sementes certificadas e mudas sadias. O produtor
deve exigir sempre a nota fiscal de compra para evitar possíveis problemas no
futuro (ex.: sementes com bactéria, fungos). Guardar um pouco de sementes,
bem como a embalagem por pelo menos um ano. Isto é muito importante para
um laudo que possa necessitar no futuro se qualquer problema de doenças
aparecer na lavoura. As sementes são importantes agentes de disseminação
e de introdução de novas doenças na propriedade. A produção de mudas em
estufas, cada vez mais frequente no Estado, tem contribuído para a diminuição

309
Capítulo 10

em nível de campo do tombamento causado pelo fungo Rhizoctonia solani.


• Fazer controle de insetos que atacam as folhas, frutos, caule e raízes.
Eles promovem ferimentos que são porta de entrada para fungos e bactérias
(ex.: brocas, traças). Ter cuidado com insetos sugadores (ex.: pulgões, tripes e
cigarrinhas), que são vetores de vários vírus que atacam as lavouras. Procure
efetuar uma amostragem de insetos e usar somente inseticidas seletivos.
• Efetuar análise do solo, com antecedência devida, para fazer a
calagem e a adubação química com base nesta análise, e evitar o uso em
excesso de nutrientes, principalmente o nitrogênio que favorece a maioria das
doenças que ocorrem em lavoura de tomate (ex.: mela e talo-oco). Problemas
fisiológicos na planta podem ocorrer pelo desequilíbro de outros nutrientes,
como potássio, cálcio, magnésio, zinco e boro, que são importantes na
resistência à maioria das doenças. As plantas com adubação equilibrada de
macro e micronutrientes são muito mais resistentes às doenças, e com isto
pode-se diminuir, ou mesmo eliminar, o uso de fungicidas para algumas delas.
Atenção ao uso de adubos foliares, os quais vêm sendo usados de maneira
abusiva nas lavouras do Estado, e de modo especial os que possuem nitrogênio
nas formulações que normalmente em excesso favorece as doenças, como a
requeima e o talo-oco.
• Planejar com antecedência o espaçamento, o número de plantas por
área, o número de hastes e de pencas de frutos por planta para evitar que
a lavoura fique muito fechada, favorecendo, principalmente, as doenças do
mofo-cinzento e da podridão de sclerotínia.
• Cuidados especiais devem ser tomados no momento da colheita e
no processo de classificação e embalagens dos frutos para evitar danos em
pós-colheita que favorece a ocorrência de patógenos, tais como Rhizopus
e Geotrichum. A desinfestação das caixas de plástico é recomendada, bem
como atenção à manutenção adequada das máquinas de embalagens
(packing-house) cada vez mais frequentes na região serrana e que têm sido
um diferencial para o Estado.
• Evitar plantios em locais muito expostos a ventos intensos; deve-
se, nestas áreas, instalar quebra-vento com a devida antecedência. Nelas, o
ataque de bactérias ocorre com maior frequência.
• Quando possível utilizar uma cobertura morta no solo entre as plantas,
bem como nos “carreadores”, para evitar respingos de solo contaminado com
fungo e/ou bactéria para as folhas, caule, pecíolo e frutos.

310
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Atenção com as capinas e uso de implementos agrícolas, para evitar


ferimentos nas raízes.
• Efetuar as pulverizações de acordo com as condições climáticas
predominantes na região, (disponíveis no site do Incaper), associadas
ao manejo da lavoura e idade das plantas, pois estas condições é que
determinam quais as doenças que podem ocorrer. O produtor deve evitar
o uso de calendários prefixados de pulverização que já trazem os produtos
definidos. Lembrar-se de que a ocorrência das doenças é função de diversos
fatores, dentre eles histórico da área, condições climáticas, espaçamento,
adubações e cultivares/híbridos que são utilizados. Conhecer antes a doença
para usar este ou aquele fungicida, no momento certo, e, assim, evitar o uso
de pulverizações inúteis e muitas vezes desnecessárias. Ao utilizar produtos
sistêmicos, não usar unicamente o mesmo produto em todo o ciclo da cultura.
É muito importante o uso de produtos com princípios ativos diferentes.
Existem várias marcas comerciais com nomes diferentes, mas que têm o
mesmo princípio ativo. Atenção para isto, pois é ainda comum observar-se,
nas lavouras do Estado, os produtores usando marcas comercias diferentes,
achando que é outro princípio ativo, ocasionando, com isto, problemas de
controle das doenças, especialmente com a mela/requeima.
• Usar somente os fungicidas oficialmente cadastrados para a cultura do
tomate no Estado do Espírito Santo. Exija sempre o receituário agronômico,
pois é a garantia para problemas futuros. Verifique a carência dos produtos
utilizados. Leia com atenção a bula do produto para verificar se ele tem
eficiência para a doença em questão. Procure identificar corretamente a
doença que está ocorrendo na lavoura. O diagnóstico incorreto leva a grandes
perdas na plantação, além de aumentar o custo com produtos inadequados
para o controle da doença, como se verifica comumente. Na dúvida, envie
uma amostra ou leve a um laboratório de fitopatologia para a análise, pois só
se tem a ganhar.
• Ter cuidado com as misturas de fungicidas, inseticidas ou adubos
foliares para pulverizar a cultura, pois são muito frequentes a queima e a
fitotoxidez, notadamente de plantas com 10 a 30 dias de transplantio. Use
somente as misturas recomendadas pelo fabricante ou aquelas indicadas
com base em resultados de pesquisa.
• Nas operações de desbrota, que devem ser feitas em períodos
secos, deixar um corte de no mínimo 3-5 cm de altura. Desinfetar a

311
Capítulo 10

tesoura, lâmina de canivete e facas usadas nas operações de desbrota.


• Não fazer a desbrota com as unhas, nem logo após a irrigação por
aspersão. Não se esqueça de que, após as desbrotas, é importante pulverizar
as plantas com fungicidas cúpricos, isoladamente ou em mistura com
ditiocarbamatos, principalmente quando a umidade relativa estiver muito
alta, como se verifica com frequência na região serrana do Estado.
• Evitar ao máximo fazer os tratos culturais, principalmente desbrotas
e podas com a planta/folha muito molhada/úmida, pois isso favorece a
disseminação das doenças, principalmente as causadas por bactérias.
• Proceder ao roguing (ou seja arranquio das plantas), o mais rápido
possível, das lavouras ao verificarem sintomas de murcha, cancro bacteriano,
talo-oco e de viroses, como vira-cabeça e broto-crespo. Lembrar-se de que
estas plantas geralmente são improdutivas e são focos de disseminação de
doenças para outras plantas.
• Não empregar pulverizadores e bicos utilizados na aplicação de
herbicidas para pulverizar o tomateiro. Ter cuidado com a fitotoxidez em
mudas em bandejas, como é comum de se observar nas condições do
Espírito Santo, e também na fase inicial de campo. Não utilizar herbicidas não
registrados, pois eles podem causar injúrias nas plantas e ainda predispô-las a
um maior ataque das doenças, principalmente as causadas por bactérias. Com
o uso crescente de herbicidas no campo é comum se observar, nas lavouras,
a queima dos bordos e manchas nas folhas baixeiras, e que são muitas vezes
confundidos com sintomas de bacterioses; ter cuidado para não usar produtos
sem necessidade; identificar a causa do problema com certeza.
• O uso de doses maiores, desrespeito ao intervalo de aplicação e
misturas de produtos não recomendados pelo fabricante podem deixar
resíduos nos frutos acima dos limites de tolerância, tornando-os impróprios
para o consumo. Além disso, pode ocorrer fitotoxidez das plantas e,
principalmente, das mudas, como comumente é observado.
• Utilizar sempre equipamento de proteção individual (EPI) adequado
ao tipo de operação a ser executada; não pulverizar sem estas proteções, pois
esta medida ajuda a preservar sua saúde e a de sua família.
• Lembrar-se de que as embalagens de defensivos devem sofrer a
tríplice lavagem (lavagem por três vezes) antes de eliminá-las, e que a água
desta tríplice lavagem deve ser pulverizada nas lavouras. Encaminhar as
embalagens vazias aos postos de recolhimento da sua região.

312
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

• Cada produto químico tem seu período de carência e cada cultura


tem tolerância de resíduo conforme o produto químico. Assim, é importante
evitar, após o início da colheita, o uso de fungicidas com período de carência
superior a três dias. Procurar respeitar este período, para que sejam produzidos
frutos sem resíduos acima dos limites permitidos na legislação.
• Todos os produtos químicos têm um período de reentrada na lavoura
após sua aplicação. Verificar sempre isto ao comprar ou optar por este ou
aquele produto. Lembrar-se de que sua família, ao trabalhar na lavoura, pode,
dessa forma, ser contaminada ao fazer uma desbrota ou colher frutos.
• Procure utilizar sempre produtos menos tóxicos, ou seja, aqueles de
classe toxicológica 4 (faixa verde).
• A calda-viçosa (preparada ou pré-fabricada) pode ser usada no controle
de algumas doenças fúngicas e bacterianas em intervalos variáveis de acordo
com a condição da lavoura. Ela é formada por uma mistura de nutrientes
essenciais ao tomateiro, tais como o sulfato de cobre, sulfato de zinco, sulfato
de magnésio, ácido bórico, cloreto de potássio e hidróxido de cálcio. Para
o seu preparo, deve-se dissolver os sais num recipiente de plástico (balde
e/ou caixa de amianto) e o hidróxido de cálcio em outro. Depois misturar,
colocando os sais sobre o leite de cal. O pH final da mistura deve estar entre
6,0 a 7,0, e a calda deve apresentar uma coloração azul-celeste característica.
Sua aplicação deve ser feita isoladamente. Quando utilizada em misturas com
outros produtos, deve-se proceder à consulta com antecipação.
• Na Figura 79, encontra-se um resumo das práticas de manejo que
devem ser usadas para reduzir as perdas causadas pelas doenças e assim
viabilizar cada vez mais a produção integrada desta importante cultura.

313
Capítulo 10

Figura 79 - Representação esquemática das principais táticas usadas no manejo


integrado das doenças do tomateiro.

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Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

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316
Doenças do tomateiro no Estado do Espírito Santo:
reconhecimento e manejo

Capítulo 11
MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NA
CULTURA DO TOMATEIRO
Cláudio Pagotto Ronchi
Antônio Alberto da Silva

1. introdução

Assim como para a maioria das hortaliças, as práticas culturais empre-


gadas nas lavouras de tomate diferem daquelas normalmente utilizadas nas
grandes culturas. Destaca-se, neste caso, o intenso distúrbio no solo provocado
pelo uso de arado, grade, enxada rotativa e sulcadores, em cultivos sucessivos,
na mesma área, com diferentes espécies hortícolas. Além disso, o uso de níveis
de adubações químicas e orgânicas elevados, associado a irrigações diárias,
contribui para o aparecimento e desenvolvimento de populações de plantas
daninhas de difícil controle que exercem forte interferência negativa na cultura
(PEREIRA, 2004). Outro fator a ser considerado é o espaçamento utilizado

317
Capítulo 11

no cultivo do tomateiro (superior a 1,0 m entre fileiras), que, associado ao


seu crescimento inicial lento nas primeiras semanas após o plantio, favorece
o desenvolvimento de espécies infestantes que podem comprometer o
desenvolvimento e a produtividade da cultura.
De modo geral, tem-se observado que a presença de plantas daninhas
no tomatal tem resultado em redução significativa na produtividade da cultura,
sendo, portanto, imprescindível o manejo (integrado) dessas plantas para
se obter elevadas produtividades. Nesse sentido, serão apresentadas, neste
capítulo, dentro da visão do Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD),
as principais causas e consequências da competição que as plantas daninhas
exercem com o tomateiro e, consequentemente, os prejuízos causados por
essas plantas, além de aspectos relacionados à época de controle das plantas
daninhas durante o ciclo da cultura, ou seja, ao período crítico de competição.
Serão apresentados, ainda, alguns métodos de controle de plantas daninhas
comumente empregados na cultura do tomateiro, particularmente o método
químico.

2. MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS

Para um leigo, o controle de plantas daninhas, usando métodos


manuais, mecânicos ou químicos, é extremamente simples, pois acredita-
se que o melhor tratamento é aquele que associa eficiência e menor preço.
Normalmente, não se leva em consideração que um bom programa de manejo
de plantas daninhas deve permitir a máxima produção no menor espaço de
tempo, a máxima sustentabilidade de produção e o mínimo risco econômico
e ambiental. Portanto, para se fazer MIPD são necessários conhecimentos
em botânica, fisiologia vegetal, solos, climatologia, fitotecnia e técnicas de
biologia molecular (SILVA, 2006).
É fundamental que se conheça a capacidade da espécie infestante,
em relação à cultura, de competir por água, luz e nutrientes, que são os
fatores responsáveis pela redução da produtividade. Além disso, não se pode
desprezar a capacidade que determinadas espécies de plantas daninhas têm
de dificultar ou impedir a colheita, reduzir a qualidade do produto a ser colhido
e hospedar pragas e vetores de doenças e de inimigos naturais. Por outro lado,
torna-se necessário conhecer quais os tipos de relacionamentos entre plantas
cultivadas e infestantes que permitem sua convivência passiva. Nesse sentido,

318
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

é fator determinante, também no MIPD, conhecer a densidade e a distribuição


das plantas daninhas na área, bem como o momento da emergência dessas
plantas em relação à cultura. Normalmente, plantas daninhas que emergem
após a cobertura do solo pela cultura não causam dano econômico para o
agricultor durante o desenvolvimento da espécie cultivada. Todavia, algumas
espécies, mesmo germinando após esse período em algumas culturas, podem
inviabilizar a colheita ou depreciar o produto colhido.
É mais compreensível a ideia de manejo integrado quando as plantas
daninhas são tratadas não como um alvo direto que deve ser “exterminado”,
mas sim como parte integrante de um ecossistema no qual estão diretamente
envolvidas à ciclagem de nutrientes no solo. Elas ainda formam complexas
interações com micro-organismos e, através dessas associações, garantem
as características agronômicas que conferem ao ambiente solo maior
capacidade para suportar um cultivo sustentável. À exceção de algumas
poucas espécies que necessitam ser erradicadas da área, grande parte da
comunidade vegetal infestante comanda no solo a dinâmica de nutrientes,
além de ser componente-chave no processo de formação e mineralização da
matéria orgânica, principalmente pelo papel que a rizosfera tem no estímulo
à atividade microbiana (SILVA, 2006).
São necessários, portanto, cuidados técnicos para se atingir a máxima
eficiência com o mínimo impacto negativo ao solo, à água e aos organismos
não-alvos. Deve-se ressaltar que no MIPD o herbicida é considerado apenas
uma ferramenta a mais na obtenção do controle que seja eficiente e
econômico, preservando a qualidade do produto colhido, o meio ambiente
e a saúde do homem. Para isso, é necessário associar os diversos métodos
de controle disponíveis (preventivo, mecânico, físico, cultural, biológico e
químico), levando-se em consideração as espécies infestantes, o tipo de
solo, a topografia da área, os equipamentos disponíveis na propriedade, as
condições ambientais e o nível cultural do proprietário.

3. CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS DANINHAS E SEUS PREJUÍZOS AO


TOMATEIRO

Um dos principais atributos das plantas daninhas que determina seu
sucesso notável no ambiente é o fato de elas serem plantas ruderais, ou seja,
plantas muito bem adaptadas a condições de elevado distúrbio no solo,

319
Capítulo 11

como revolvimentos, irrigações e fertilizações (BRIDGES, 2000). Essas plantas


apresentam esforço reprodutivo total relativamente alto, com produção de
elevado número de sementes, porém com baixo investimento de carbono por
semente. Além dessas, outras vantagens competitivas das plantas daninhas
podem ser citadas: germinação descontínua, fácil dispersão de sementes,
habilidade de germinar em solos que apresentem ampla faixa de variação de
temperatura e de potenciais hídricos, existência de elevada heterogeneidade
dentro de sua população, habilidade de explorar rapidamente os recursos
do meio (propiciando-lhes alta taxa de crescimento relativo no início da fase
vegetativa), rápido crescimento do sistema radicular, maior taxa de expansão
foliar e elongação do caule. Não obstante, as plantas daninhas apresentam
grande plasticidade e alto grau de especialização em seus ciclos de vidas,
morfologia e fisiologia, propriedades que lhes permite tolerar diversas
condições edafoclimáticas, garantindo-lhes disseminação e sobrevivência
(BRIDGES, 2000). Tomadas em conjunto, todas essas características evidenciam
a capacidade dessas plantas em competir com as culturas por espaço, água,
luz e nutrientes. Essa capacidade competitiva, associada à liberação no solo
de substância alelopáticas pelas plantas daninhas, resulta em interferência
negativa no crescimento, desenvolvimento e produtividade das culturas.
Devido aos efeitos diretos da interferência das plantas daninhas, grandes
reduções de produtividade do tomateiro foram observadas para culturas
transplantadas, como, por exemplo: 53%, em lavouras infestadas por Cyperus
rotundus (1.600 plantas m-2) (WILLIAM; WARREN, 1975); 77%, sob infestação
de Chenopodium album, Ambrosia artemisiifolia, Amaranthus spp., Digitaria
sanguinalis etc. (WEAVER; TAN, 1983); 80%, em tomatais infestados por C.
album, A. artemisiifolia e Cenchrus longispinus (~180 plantas m-2) (FRIESEN,
1979); 34% (SAJJAPONGSE; SELLECK; ROAN, 1983); 84%, média de três anos,
considerando-se densa infestação por Chenopodium album, Amaranthus
spp., Ambrosia artemisiifolia, Solanum ptycanthum, Digitaria sanguinalis e
Setaria viridis (WEAVER; TAN, 1987); 76%, média de dois anos, sob infestação
de Amaranthus spp. (QASEM, 1992); 77%, sob competição de Solanum
americanum – 6 plantas m-2 (HERNANDEZ, 2004). Apesar dessas reduções
de produtividade e da redução nas classes (ou tamanho) dos frutos (STALL;
MORALES-PAYAN, 2006), a interferência das plantas daninhas não afetou a
qualidade do suco de frutos de tomate, avaliada pela cor, consistência e sabor
(FRIESEN, 1979).

320
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

Stall e Morales-Payan (2006) verificaram quedas na produtividade do


tomateiro transplantado de 50 a 81%, devido à infestação de Cyperus esculentus
(50 plantas m-2) e Cyperus rotundus (100 plantas m-2), respectivamente; todavia,
perdas de 10% foram observadas na densidade de 25 plantas m-2, para ambas
essas espécies de tiririca. Stall e Morales-Payan (2006) observaram, também,
que a produção de frutos de tomate de tamanho médio foi a que sofreu maior
redução: a competição de C. rotundus reduziu a produção em 43%, 52% e
98%, para frutos de classes extra-grande, grande e média, respectivamente,
enquanto àquela de C. esculentus promoveu quedas de produção de 40%, 50%
e 75%, para frutos daquelas mesmas classes, respectivamente. De qualquer
forma, a magnitude da redução na produtividade devido à competição das
plantas daninhas depende, dentre outros fatores, das espécies insfestantes
presentes na área, como demonstrado por Nascente et al. (1998b) e Stall e
Morales-Payan (2006): estes autores verificaram que as perdas na produção de
tomate pela interferência de C. esculentum foram inferiores àquelas causadas
por C. rotundus; enquanto verificaram reduções de produtividade de 39%,
devido aos efeitos de Galinsoga parviflora, e de 93%, devido à competição de
Brachiaria plantaginea.
Perdas superiores foram observadas em lavouras de tomate em
semeadura direta (80-90%) do que naquelas transplantadas (20-25%) devido
à interferência de Solanum spp. (5-10 plantas m-2) (WEAVER; SMITS; TAN, 1987).
De forma semelhante, maiores reduções da produção foram observadas para
tomateiros originados de semeadura direta (99%); (NASCENTE et al., 1998b) que
pelo transplantio de mudas (75%); (NASCENTE; PEREIRA; MEDEIROS, 1998a).
Em parte, isso pode ser atribuído à maior densidade de plantas daninhas na
cultura do tomate implantada por semeadura direta (965 plantas m-2), que
naquela implantada pelo transplante de mudas (515 plantas m-2). Todavia,
outos fatores, como por exemplo, maior período crítico de competição das
plantas daninhas quando se utiliza o sistema de plantio direto (Figura 1),
como será discutido a seguir (item 4), também podem ter contribuído para
maior redução na produvidade nesse sistema de plantio em comparação ao
que foi verificado no sistema de transplantio. Além de redução de 34% na
produtividade do tomateiro em semeadura direta, devido à competição de
plantas daninhas, Ferrreira (1981) constatou reduções de 76% (ensaio 1), 82%
(ensaio 2) e 59% (ensaio 3) no crescimento das plantas, avaliado pelo acúmulo
de matéria fresca aos 52, 90 e 42 dias após a semeadura, respectivamente,

321
Capítulo 11

para três diferentes ensaios, em diferentes localidades, cuja infestação era de


Galinsoga parviflora, Lepidium pseudo-didymum, Sonchrus oleraceus, Cyperus
rotundus e Oxalis oxyptera (ensaio 1); G. parviflora, Digitaria sanguinalis,
Brachiaria plantaginea e O. oxyptera (ensaio 2); e G. parviflora, B. plantaginea,
Lepidium pseudo-didymum, Bidens pilosa, C. rotundus e O. oxyptera (ensaio 3),
respectivamente.
Weaver, Smits e Tan, (1987) verificaram que, em plantios menos
adensados, a redução na produtividade causada por Solanum spp. (5-10
plantas m-1) foi aproximadamente 23% superior que em plantios mais densos,
para tomate em semeadura direta, evidenciando, portanto, que a adequação
do espaçamento (redução) ou da densidade de plantio (aumento) pode
alterar o balanço da competição em favor da cultura. Segundo Pereira (2000),
o espaçamento e a densidade de plantio são fatores importantes no balanço
competitivo, pois influenciam a precocidade e a intensidade do sombreamento
promovido pela cultura. Plantios mais densos dificultam o desenvolvimento
das plantas daninhas, as quais têm que competir mais intensamente com a
cultura na utilização dos fatores de produção.
Outra forma de as plantas daninhas interferirem diretamente na cultura
é por meio da liberação de substâncias aleloquímicas que podem afetar a
germinação de sementes, crescimento, desenvolvimento e produtividade da
cultura, como observado por Castro et al. (1983) e discutido por Pereira (2000),
Silva, Ferreira e Ferreira, (2003a) e Pereira (2004). Indiretamente, as plantas
daninhas podem, ainda, atuar como hospedeiras de pragas e de patógenos
que atacam o tomateiro, podendo até inviabilizar a cultura em determinadas
situações (PEREIRA, 2000; SILVA; FERREIRA; FERREIRA, 2003).

4. ASPECTOS DA COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS



Interferência, termo genérico que caracteriza as interações entre
espécies ou populações de plantas, é definido como sendo o efeito que a
presença de uma planta exerce no crescimento e desenvolvimento da
planta vizinha. Dentre as várias formas possíveis de interferência que as
plantas daninhas causam à cultura, três representam os efeitos negativos da
interação: competição, amensalismo e parasitismo, sendo a primeira a forma
mais estudada (RADOSEVICH; HOLT; GHERSA,1996). Competição pode ser
definida como a interação biológica que ocorre entre dois ou mais indivíduos

322
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

quando os recursos do ambiente (água, luz e nutrientes) são limitados, ou sua


qualidade varia, e a demanda é dependente da qualidade (McNAUGHTON;
WOLF, 1973); ou, simplesmente, como sendo o efeito mutualmente adverso de
plantas que utilizam um recurso escasso (RADOSEVICH; HOLT; GHERSA, 1996).
A limitação de recursos à cultura pode ser causada pela sua indisponibilidade,
suprimento deficiente ou pela presença de plantas daninhas. Uma vez que o
crescimento tanto da cultura como das plantas daninhas, após a germinação,
depende da habilidade dessas plantas em extrair os recursos existentes no
ambiente em que vivem, e que na maioria das vezes o suprimento desses
recursos é limitado, até mesmo para o próprio desenvolvimento da cultura,
estabelece-se, a partir de então, a competição. Na realidade, a competição
entre a planta daninha e a cultivada afeta ambas as espécies, porém aquela
quase sempre supera a cultivada (PITELLI, 1985). Com isso, o resultado final da
competição das plantas daninhas com a cultura é a redução da produtividade
(RADOSEVICH; HOLT; GHERSA, 1996), que, no caso do tomateiro, como
apresentado anteriormente, pode ser muito alta.
Os estudos de interferência e de competição das plantas daninhas
com as culturas são de extrema importância, pois permitem que se decida
sobre os níveis aceitáveis de plantas daninhas na cultura, sobre o potencial
de competição e agressividade de cada espécie, sobre práticas culturais
que potencialmente otimizem a utilização dos recursos pela cultura e,
consequentemente, promovam incremento na produção e redução nos
custos. Ademais, é importante não apenas conhecer mas quantificar os
efeitos dos fatores que influenciam o grau de interferência, que, grosso
modo, pode ser definido como a redução percentual da produção econômica
de determinada cultura provocada pela comunidade infestante (PITELLI,
1985). Dessa forma, o homem poderá interferir no equilíbrio da competição
(interferência) adotando estratégias adequadas de controle (manejo
integrado), em momento oportuno, permitindo, assim, que a planta cultivada
seja beneficiada (BLANCO; OLIVEIRA, 1978).

5. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DAS PLANTAS DANINHAS

Segundo Blanco, Oliveira e Pupo (1982), o modo correto de se interferir


na competição seria neutralizá-la apenas nas épocas adequadas, ou seja, nos
períodos em que as plantas daninhas competem efetivamente e prejudicam

323
Capítulo 11

a produção; mesmo porque, sob certas condições, a cultura e as plantas


daninhas podem conviver, por pelo menos um período, sem que ocorram
prejuízos significativos à produção (BUCHANAN; MURRAY; HAUSER, 1982).
Nesse contexto, merece destaque o conhecimento do período crítico de
competição das plantas daninhas, uma vez que é apenas nesse período que
as espécies invasoras competem efetivamente com as plantas cultivadas
pelos fatores de crescimento (BLANCO, 1972). Ademais, o período crítico de
competição dá ideia clara do momento, da época do ciclo da cultura, em que
se estabelece a competição (PITELLI, 1985). Isso permite a otimização das
práticas de manejo das plantas daninhas. Todavia, a determinação do período
crítico de competição não é simples e requer métodos específicos, porém
clássicos, de pesquisas com plantas daninhas.
O período crítico de interferência das plantas daninhas refere-se ao
menor período de tempo durante o qual a cultura deve ser mantida livre
de plantas daninhas para se evitar reduções na produção (NIETO; BRONDO;
GONZALES, 1968). Ele representa um intervalo de tempo compreendido
entre dois diferentes componentes: (i) a menor extensão de tempo
(geralmente medida em dias ou semanas), após o semeio ou transplantio,
que uma cultura deve ser mantida livre de plantas daninhas, de forma que
plantas daninhas que emergirem após este período não mais causarão
redução na produtividade; e (ii) a maior extensão de tempo que as plantas
daninhas que emergirem simultaneamente à cultura podem permanecer
na área antes que se desenvolvam suficientemente para competir pelos
recursos do ambiente (Figura 1) (FRIESEN, 1979; WEAVER; SMITS; TAN, 1987).
Portanto, plantas daninhas presentes antes ou após esse intervalo de tempo
não afetam o rendimento da cultura, ao passo que aquelas presentes no
interior (durante) desse intervalo devem ser controladas. Esses conceitos têm
grande validade prática, pois verificou-se, para grande número de culturas,
(i) que sua produção não foi afetada pela presença de plantas daninhas até
um determinado estádio após a emergência, desde que a cultura tenha sido
mantida no limpo após esta época (Figura 1) e (ii) que mantendo-se a cultura
livre de plantas daninhas até um determinado período após a emergência,
as plantas daninhas que emergiram subsequentemente não mais afetaram
a produção (Figura 1) (FRIESEN, 1979; WEAVER; TAN, 1983; WEAVER; TAN,
1987).
O período crítico de competição, além de indicar a época (período) em

324
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

que as plantas daninhas não podem permanecer na lavoura, também indica


o momento limite para que seja realizado o controle de plantas daninhas
em pós-emergência, o que não significa dizer que este é o momento ideal
para se realizar a operação de controle. Muitas vezes esse controle deve
ser realizado um pouco antes, visando-se à redução da dose do herbicida e
de danos mecânicos ao sistema radicular das culturas, além da redução de
custos. Outra informação também prática que o período crítico fornece é a de
que o seu limite superior refere-se à duração mínima do período em que um
herbicida aplicado ao solo deve apresentar atividade residual.

Figura 1 - Produtividade do tomateiro, expressa em porcentagem em relação àquela


obtida nas parcelas com controle durante todo o ciclo da cultura, em
parcelas mantidas com controle ou com convivência de plantas daninhas
durante diferentes períodos após o transplantio (A) ou semeio (B).
Fonte: Adaptado de Friesen (1979) e Weaver; Smits e Tan (1987). PCC: período crítico de competição.

Apesar de variar com as condições ambientais (de solo e clima), os


materiais genéticos, a composição da comunidade infestante, dentre outros,

325
Capítulo 11

o período crítico de competição foi estabelecido para tomateiros tanto em


cultivos a partir do transplantio de mudas (Figura 1 A) como em semeadura
direta (Figura 1 B). No caso da cultura transplantada (Figura 1 A), enquanto
no grupo “com controle” a cultura permaneceu livre da competição de
plantas daninhas do transplantio até diferentes períodos do seu ciclo de
desenvolvimento, no grupo “com convivência” a cultura permaneceu infestada
com as plantas daninhas pelos mesmos diferentes períodos do seu ciclo de
vida (FRIESEN, 1979). Verificou-se, portanto, que tomateiros mantidos livres
de plantas daninhas por 36 dias após o transplantio, ou sob competição por
24 dias a partir do transplantio, produziram semelhantemente àqueles que
foram mantidos completamente no limpo durante todo o ciclo da cultura
(Figura 1 A). Diferentemente, quando as plantas daninhas permaneceram por
mais de 24 dias após o transplantio, a produtividade foi progressivamente se
reduzindo. consequentemente, o período crítico de competição das plantas
daninhas no tomateiro situou-se entre o 24o e 36o dias após o transplantio.
Raciocínio semelhante pode ser feito para tomateiros em semeadura direta
(Figura 1 B) (WEAVER; SMITS; TAN, 1987).
Além daqueles mencionados no parágrafo anterior, vários períodos
críticos de competição de plantas daninhas foram encontrados para toma-
teiros cultivados sob diferentes condições: 28 e 42 (SAJJAPONGSE; SELLECK;
ROAN, 1983), 28 e 35 (WEAVER; TAN, 1983; QASEM, 1992), 17 e 78 (NASCENTE;
PEREIRA; MEDEIROS, 1998a), 21 e 35 (WILLIAM; WARREN, 1975) e 26 e 46
(HERNANDEZ, 2004) dias após o transplantio, para aqueles transplantados.
Considerando-se uma perda de 5% na produção, Stall e Morales-Payan (2006)
estimaram o período crítico entre 14 e 70 dias após o transplantio para ambas
as espécies, C. rotundus e C. esculentus; entretanto, admitindo-se perdas
de 10% na produção, o período crítico situou-se entre 18 e 42 dias, para C.
rotundus, e entre 28 e 63 dias após o transplantio para C. esculentum.
Para aqueles tomateiros cultivados em semeadura direta, os períodos
críticos de competição situaram-se entre 21 e 97 (NASCENTE et al., 1998), 35 e
63 (WEAVER, 1984; WEAVER; SMITS; TAN, 1987), 42 e 49 (WEAVER; SMITS; TAN,
1987), 42 e 56 (WEAVER; SMITS; TAN, 1987) dias após o semeio. É importante
ressaltar que o período crítico de competição de plantas daninhas em cultivos
formados a partir da semeadura direta, além de iniciar-se mais tardiamente
no ciclo da cultura, estende-se por maior número de dias (ou seja, é maior)
do que quando a lavoura é formada a partir de mudas transplantadas (Figura

326
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

1). Isso ocorre devido à menor taxa de crescimento inicial da cultura quando
comparada a da planta daninha (WEAVER, 1984) e à elevada competição por
luz, ou seja, ao sombreamento causado à cultura pela planta daninha, além
da competição por água (WEAVER; SMITS; TAN, 1987). Segundo Weaver e Tan
(1983), os efeitos nocivos da competição sobre a produtividade do tomateiro
foram primariamente resultado do sombreamento e não da competição por
água. De qualquer forma, esses valores de períodos críticos de competição
não são fixos e variam com inúmeros fatores, devendo, portanto, serem
determinados para cada situação ou propriedade.
Num programa de manejo de plantas daninhas, é preciso ajustar o balanço
da interferência entre as plantas de modo a favorecer o desenvolvimento das
hortaliças e reduzir o crescimento das plantas daninhas e o banco de suas
sementes no solo. Dessa forma, em novos plantios na mesma área, o nível de
infestação ocorrerá em menor intensidade. Essas metas podem ser alcançadas
por meio do manejo integrado de plantas daninhas (SILVA, 2006)

6. MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

O manejo integrado de plantas daninhas visa à utilização conjunta


de vários métodos de controle para minimizar a interferência das mesmas
à cultura e manter as populações dessas plantas em níveis abaixo daqueles
passíveis de causar danos econômicos, além de buscar reduções dos danos
ao meio ambiente. A seguir, serão detalhados os principais métodos de
controle de plantas daninhas: preventivo, cultural, mecânico e químico,
apresentando-se as vantagens e limitações de cada método, com ênfase
na cultura do tomateiro, apesar de a maioria desses métodos aplicarem-se,
também, ao controle de plantas daninhas em outras hortaliças e culturas
anuais e perenes.

6.1 CONTROLE PREVENTIVO



O controle preventivo de plantas daninhas consiste do uso de práticas
que visem prevenir a introdução, o estabelecimento e/ou a disseminação de
determinadas espécies em áreas de plantio de tomateiro ainda não infestadas
por elas, sendo o elemento humano a chave do controle preventivo (EPAGRI,
1997; LORENZI, 2000).

327
Capítulo 11

Como na tomaticultura formada a partir de mudas transplantadas


estas são produzidas com torrão, por isso certos cuidados são necessários
no preparo do substrato para enchimento dos recipientes ou mesmo na
aquisição de mudas de terceiros, a fim de se evitar a introdução de espécies
de plantas daninhas em áreas que não as possuem. O solo para enchimento
dos recipientes deve ser proveniente do subsolo (solo de barranco), isento
da camada orgânica superficial. Como o banco de sementes é menor nesse
solo, menor será a quantidade de plantas daninhas presentes no substrato. O
uso de produtos fumigantes para esterilização do solo é uma prática muito
perigosa e deve ser empregada apenas se acompanhada de orientação
técnica, uma vez que tais produtos são geralmente voláteis (após aplicados) e
extremamente tóxicos e letais se inalados.
Para produção de mudas de qualidade, é necessário que se utilize
matéria orgânica (esterco de gado, aves, suínos etc.) curtida, pois, devido à
sua origem, principalmente a do esterco bovino, pode ser grande a presença
de sementes de plantas daninhas. Uma vez preparadas as mudas, durante a
fase de viveiro e, principalmente, antes de serem levadas ao campo, deve-
se proceder à capina manual das plantas daninhas que eventualmente
emergirem nessa fase. Para os agricultores que optarem por adquirir mudas
com torrão de viveiristas, recomenda-se atentar para a sua qualidade sanitária,
pois estas constituem excelente fonte de disseminação de espécies daninhas.
Não obstante, a produção de mudas em bandejas com substrato apropriado
é uma medida preventiva eficaz no manejo de plantas daninhas.
Outras práticas de controle preventivo também devem ser adotadas,
como limpar máquinas e implementos agrícolas, fazer o controle de plantas
daninhas nos carreadores e inspecionar cuidadosamente toda a matéria
orgânica proveniente de outras áreas. Além disso, é importante salientar
que algumas plantas daninhas, como Bidens pilosa (picão-preto) e Cenchrus
echinatus (capim-carrapicho), podem ainda se espalhar por novas áreas, por
meio de roupas de pessoas envolvidas no processo de produção, pelos de
animais etc.
Existem algumas espécies de plantas daninhas (Solanum americanum –
maria-pretinha, Nicandra physaloides – joá-de-capote, Solanum sissymbrifolium
– joá e outras) pertencentes à mesma família botânica do tomateiro
(Solanaceae), cuja introdução na área a ser cultivada com tomate deve ser
indiscutivelmente evitada. Além de hospedeiras de patógenos (nematoides

328
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

do gênero Melodoigyne) e de produzirem grande quantidade de sementes de


fácil disseminação, possuem hábitos de crescimento e fisiologia semelhantes
aos do tomateiro, o que dificulta, senão torna impossível, seu controle com
herbicidas seletivos para solanáceas (WEAVER; SMITS; TAN, 1987). Além disso,
o cuidado em se prevenir a introdução de espécies de plantas daninhas na
área é particularmente importante para outras espécies de plantas daninhas
dicotiledôneas (folhas largas), uma vez que são poucos os herbicidas
disponíveis para uso nessa cultura que são eficientes no controle de plantas
dicotiledôneas; quase todos são exclusivamente graminicidas (ver item
6.4.1). Ademais, o manejo inadequado das áreas cultivadas com hortaliças
pode promover a disseminação ou até mesmo a introdução de espécies de
plantas daninhas perenes de difícil controle, como, por exemplo, a Artemisia
verlotorum (losna-brava) e Cyperus rotundus (tiririca).

6.2 CONTROLE CULTURAL

Consiste em usar as próprias características ecológicas das culturas e


plantas daninhas visando beneficiar o estabelecimento e desenvolvimento
da cultura e dificultar o crescimento pleno das plantas daninhas, ou seja,
utilizar-se das melhores práticas culturais para que a cultura leve vantagem
sobre plantas daninhas (FERREIRA; FERREIRA; SILVA, 1994; EPAGRI, 1997).
Essas práticas podem ser plantio de variedades adaptadas às condições de
clima e solo; uso de sementes de boa qualidade e devidamente tratadas;
mudas formadas em recipientes adequados, com sistema radicular bem
desenvolvido; plantio em época certa, utilizando-se de espaçamentos e
arranjos de plantas adequados para as diferentes variedades; bom preparo
do solo; e adubações de plantio e formação balanceadas. Com o uso dessas
práticas culturais, consegue-se direta ou indiretamente eliminar ou reduzir a
infestação por plantas daninhas.
A prática do “amontoo”, comumente realizada aproximadamente três
semanas após o transplantio, constitui-se numa operação indireta de controle
de plantas daninhas, tanto na entrelinha (local de retirada da terra) como na
linha de plantio (local de deposição da terra e consequente “abafamento” das
plantas daninhas ali presentes). Como a época em que a prática do “amontoo”
é realizada coincide ou inclui-se no período crítico de competição, tal prática
é muito oportuna do ponto de vista do controle de plantas daninhas.

329
Capítulo 11

Além das práticas acima descritas, a rotação de culturas e também de


métodos de cultivos constituem importantes métodos culturais de controle
de plantas daninhas. As culturas em rotação com a cultura do tomate numa
mesma área devem obrigatoriamente pertencerem a famílias botânicas
diferentes da do tomate, ou pertencerem a uma classe diferente, para que se
reduza o banco de sementes do solo e facilite o manejo das plantas daninhas.
Com a rotação de culturas, a dinâmica das plantas daninhas se altera, e com ela
alteram-se também os métodos de controle e, principalmente, os herbicidas
com diferentes espectros de ação. Nesse contexto, acredita-se que o milho
seja uma boa opção de cultura para compor um sistema de rotação com a do
tomate (PEREIRA et al., 1995; 1999). O uso de espécies de plantas inadequadas
para rotação de culturas pode agravar os problemas causados pelas plantas
daninhas, uma vez que podem propiciar a proliferação de determinadas
espécies de difícil controle, principalmente pela produção exarcebada de
sementes e consequente aumento do banco de sementes no solo.
Para que se obtenha sucesso com o sistema de rotação de culturas, é
preciso conhecer detalhadamente o histórico da área cultivada, qual a espécie
de planta daninha dominante e principalmente sobre os herbicidas utilizados
na cultura anterior a do tomate, suas doses e efeitos residuais no solo, para
que a lavoura de tomate em sucessão não seja intoxicada por herbicidas
ainda presentes no solo, principalmente se a lavoura for implantada em áreas
de pastagens (Ver item 7). Um exemplo de sucesso de rotação de culturas
tem sido o cultivo de milho ou de feijão em áreas anteriormente cultivadas
com tomate e que apresentam alto grau de infestação por Cyperus rotundus.
O cultivo nessas áreas do milho seguido de feijão em sistema de plantio
direto por dois anos seguidos tem reduzido em mais de 90% a infestação da
tiririca (Cyperus sp.), tornando viável o cultivo de olerícolas após a rotação
(JAKELAITIS et al., 2003a; JAKELAITIS et al., 2003b).

6.3 CONTROLE MECÂNICO

O controle mecânico consiste no uso de práticas de eliminação de


plantas daninhas por meio de efeito físico-mecânico (LORENZI, 2000), seja por
tração humana, animal ou tratorizada, e envolve o preparo adequado do solo,
com o enterrio das plantas daninhas existentes na área através de aração e
gradagem, as capinas com enxada manual e/ou rotativa, o uso de roçadeiras

330
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

e cultivadores (EPAGRI, 1997).


O controle mecânico realizado pelo homem resume-se ao arranquio
e à capina manual com enxadas. O arranquio geralmente é praticado no
início do processo produtivo, ou seja, na fase de viveiro, e consiste na retirada
de todas as plantas daninhas que emergirem junto às mudas de tomate
no viveiro. A capina manual, feita com enxada, é muito eficaz no controle
de plantas daninhas e largamente empregada por pequenos e médios
agricultores, principalmente em regiões montanhosas. Contudo, seu baixo
rendimento, a necessidade de grande quantidade de mão de obra e seu alto
custo são as principais desvantagens desse método, tornando-o, em certas
condições, apenas complementar de outros métodos. Além disso, para
que as capinas sejam eficientes, é necessário que o solo não esteja muito
úmido, principalmente se na área predominam espécies que se propagam
vegetativamente.
As plantas de tomate possuem sistema radicular muito ramificado, com
grande quantidade de raízes situadas próximo à superfície do solo. Ademais, as
constantes adubações de cobertura tendem a concentrar ainda mais as raízes
para a parte superficial do solo (EPAGRI, 1997). Dessa forma, e considerando-
se que as capinas são feitas numa frequência elevada e muito próxima ao
caule das plantas e às suas raízes, elas podem prejudicar o tomateiro tanto
diretamente, causando danos mecânicos ao caule, como indiretamente,
criando portas de entrada para micro-organismos fitopatogênicos, ou
mesmo estimulando a ocorrência da podridão estilar (deficiência de Ca), uma
vez que a absorção desse cátion pelas raízes cortadas do tomateiro pode ser
prejudicada (MINAMI; HAAG, 1989). Por isso, as plantas daninhas devem ser
eliminadas com muito cuidado, sem provocar danos ao delicado sistema
radicular do tomateiro nem às hastes, cujas feridas ficariam expostas às
enfermidades (MARANCA, 1988; EPAGRI, 1997).
O número de capinas necessárias numa lavoura depende do grau de
infestação de plantas daninhas durante o período de cultivo, que, por sua vez,
é função do banco de sementes, da capacidade de rebrota da planta daninha
caso ela se propague também por meio vegetativo e das condições de clima,
fertilidade do solo etc. É imprescindível, tecnicamente, realizar as capinas
antes que as plantas daninhas estejam muito desenvolvidas, para evitar as
fortes competições, a produção de sementes pelas plantas daninhas e os
custos altos de controle. Todavia, mais importante que o número de capinas

331
Capítulo 11

ou sua frequência, é procurar sempre manter a cultura livre da competição e


interferência das plantas daninhas durante o período crítico de competição,
como discutido no item 4.
O controle mecânico de plantas daninhas ainda jovens nas entrelinhas
de plantio, utilizando-se de tração animal, pode ser feito com cultivadores
(EMBRATER, 1979; MARANCA, 1988). Segundo Lorenzi (2000), esse equipa-
mento é mais eficiente no controle de espécies daninhas anuais e em
condições de calor e solo seco, apresentando como desvantagem principal
a incapacidade de controlar plantas daninhas na linha de plantio. Logo, deve
ser usado em associação com outro método de controle. Segundo Fernandes
(1981), ainda que os cultivadores de tração animal apresentem bom
rendimento e não exigem mão de obra especializada e equipamentos caros,
eles expõem mais o terreno à erosão, comparativamente às capinas manuais,
e, às vezes, não controlam todas as plantas daninhas, necessitando-se, então,
fazer o repasse. Sua eficiência será maior se usado em plantas daninhas mais
jovens.
É preciso adequar/planejar, na medida do possível, o espaçamento
da cultura ao tipo de operação de mecanização que se pretende utilizar. O
controle mecânico de plantas daninhas utilizando-se de trator como fonte de
tração e implementos como roçadeiras, grades, cultivadores etc. necessita de
amplos espaçamentos entre fileiras, não se adequando, portanto, à cultura do
tomate. Todavia, o controle das plantas daninhas na entrelinha do tomateiro
pode ser feito com cultivadores acoplados a microtratores (EMBRATER, 1979;
MARANCA, 1988).
O manejo das plantas daninhas deve iniciar-se antes mesmo da
implantação da cultura, ou seja, durante o preparo do solo/área. Neste caso,
após a aração e calagem feitas antecipadamente ao plantio, a ocorrência de
chuva, ou mesmo da irrigação, estimula intensamente a germinação de grande
parte do banco de sementes (de plantas daninhas) do solo, que podem ser
eliminadas pela segunda gradagem, por ocasião do preparo definitivo do solo
(EMBRATER, 1979). Além disso, quando a área a ser implantada pela cultura
está infestada por plantas que se reproduzem também por parte vegetativa
(capim-braquiária – Brachiaria sp., grama-seda – Cynodon dactylon, losna-
brava – Artemisia verlotorum, trapoeraba – Commelina sp.), estas precisam
ser eliminadas, antes do preparo do solo, por meio de herbicidas de ação
sistêmica que não deixam resíduo no solo. Caso isso não seja feito, o controle

332
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

dessas espécies se tornará inviável pelo método químico.

6.4 CONTROLE QUÍMICO

Como a utilização dos métodos mecânicos de controle de plantas


daninhas, seja por meio de capinas manuais, seja pelo uso de cultivadores,
pode prejudicar as raízes superficiais e o caule do tomateiro, e considerando-se
os custos elevados da mão de obra para as capinas e a necessidade de melhor
controle das plantas daninhas na linha de plantio, o emprego de herbicidas é
uma importante ferramenta nas lavouras de tomate mais tecnificadas.
As vantagens do emprego do herbicida são várias: controla em pré-
emergência, eliminando as plantas daninhas precocemente; atinge alvos que
a enxada ou o cultivador não alcançariam, como plantas daninhas na linha de
plantio; reduz ou elimina os riscos de danos às raízes e às plantas novas; não
destrói a estrutura do solo e, portanto, reduz o risco pela erosão; controla mais
eficientemente as plantas daninhas perenes; reduz a necessidade de mão de
obra; aumenta a rapidez e a eficiência da operação de controle por unidade de
área, reduzindo o custo por área tratada; controla as plantas daninhas por um
período mais longo, quando a utilização de cultivador é impossível, haja vista
o crescimento da cultura; e podem ser usados em períodos chuvosos, quando
o controle mecânico não é eficiente e quando a mão de obra é requerida para
outras atividades (MINAMI; HAAG, 1989). Contudo, apresenta a desvantagem
de necessitar de mão de obra especializada, pois, se mal usado, pode intoxicar
a lavoura, o meio ambiente e o próprio aplicador.
Para a utilização de herbicidas, alguns aspectos devem ser considerados:
(i) a identificação das principais espécies de plantas daninhas presentes na
área, seu estádio de desenvolvimento e grau de infestação; (ii) o estádio de
desenvolvimento das plantas de tomateiro; (iii) o custo da aplicação; (iv) as
análises física, química e do teor de matéria orgânica do solo, para a adequação
das doses; (v) as condições climáticas previstas para o momento da aplicação,
principalmente de ventos; (vi) a adequação de equipamentos (pontas de
pulverização, bicos, barras etc.) e das condições de trabalho (volume de calda,
pressão, altura de barra, ou seja, a calibração do pulverizador) para obter-se
boa distribuição da calda e boa cobertura do alvo, potencializando a eficiência
do herbicida e mitigando os efeitos prejudiciais da deriva; (vii) a seletividade
do herbicida à cultura e seu efeito residual para as culturas subsequentes,

333
Capítulo 11

dentre outras.

6.4.1. Principais herbicidas recomendados para a cultura do tomateiro

A seguir serão apresentadas informações sobre alguns herbicidas


(clethodim, fluazifop-p-butil, metribuzin e trifluralin) utilizados para controle
de plantas daninhas na cultura do tomate (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005).
Dentre esses herbicidas, à exceção do metribuzin, os demais são utilizados
para o controle de plantas daninhas gramíneas. Portanto, é possível inferir
que plantas daninhas gramíneas são facilmente controladas em tomateiro
pelo método químico, enquanto para as dicotiledôneas esse controle nem
sempre é possível, sendo, muitas vezes, necessária a integração do método
químico ao método mecânico para se manter o tomatal livre da concorrência
das plantas daninhas.

6.4.1.1 Clethodim

Figura 2 - Molécula de clethodim.

O (E,E)-(+/-)-2-[1-[[(-cloro-2-propenil)oxi]imino]propil]-5-[2-(etiltio)propil]-
3-hidroxi-2-ciclohexeno-1-ona (clethodim) (Figura 2) apresenta solubilidade em
água de 5.520 mg L-1, kow: 15.000 e persistência muito curta no solo, dois a
três dias (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). É um herbicida graminicida, sistêmico,
altamente seletivo para culturas dicotiledôneas, como tomate, algodão,
amendoim, feijão, ervilha, cebola, cenoura, soja, tabaco, café, eucalipto, citros,
pinho e outras. Destaca-se pelo seu amplo espectro de ação no controle
de gramíneas anuais, perenes e tiguera de culturas gramíneas, comuns em
rotação de culturas. É recomendado para uso em pós-emergência, devendo
ser aplicado no início do desenvolvimento das plantas daninhas (quatro folhas
até seis perfilhos, quando provenientes de sementes). Deve ser aplicado com
as plantas daninhas em bom vigor vegetativo, evitando períodos de estiagem,

334
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

horas de muito calor e umidade relativa do ar inferior a 60%.


O clethodim é um herbicida inibidor da ACCase. Inibe a atividade
da enzima Carboxilase da Acetil Coenzima-A (ACCase), responsável pela
biossíntese de ácidos graxos, constituintes básicos da membrana celular,
causando a inibição da divisão celular, formação de cloroplastos e diminuição
da respiração. Com isso ocorre imediata paralisação do crescimento
das gramíneas. Após três dias verificam-se cloroses e morte dos tecidos
meristemáticos dos nós e brotos e gradual murchamento e morte da planta
como um todo num prazo de sete a 14 dias.
As principais espécies controladas são Brachiaria plantaginea (capim-
marmelada), Cenchrus echinatus (capim-carrapicho), Digitaria horizontalis
(capim-colchão), Digitaria insularis (capim-amargoso), Echinochloa crusgalli
(capim-arroz), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Eragrostis ciliaris (capim-
mimoso), Oryza sativa (arroz-voluntário), Penisetum setosum (capim-custódio),
Pennisetum americanum (milheto voluntário), Rottboelia exaltada (capim-
camalote), Setaria geniculata (capim-rabo-de-raposa), Triticum aestivum
(trigo-voluntário) e Zea mays (milho-voluntário). Controla muito bem
Sorghum arundinaceum (falso-massambará), mas não com muita eficiência
o Sorghum halepense (capim-massambará), Panicum maximum (capim-
colonião), Brachiaria decumbens (capim-braquiária) e Branchiaria brizantha
(capim-braquiária).

6.4.1.2 Fluazifop-p-butil

Figura 3 - Molécula de fluazifop-p-butil.

O ácido (R)-2-[4-[[5-(trifuorometil)-2-piridinil]oxi]fenoxi] propanoico


(fluazifop-p-butil) (Figura 3) apresenta solubilidade em água de 1,1 mg L-1; pka:
3,1, kow: 4,5; e koc médio de 5.700 mg g-1 de solo. Não apresenta mobilidade
no solo, tendo persistência média de 30 dias (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). É
registrado no Brasil para as culturas de tomate, alface, algodão, cebola, cenoura,
soja, feijão, tabaco, café, eucalipto, citros, pinho, roseira e crisântemo. Controla
grande número de espécies de gramíneas anuais no estádio de até quatro
perfilhos e algumas perenes, dependendo do estádio de desenvolvimento. É

335
Capítulo 11

recomendado para uso em pós-emergência, devendo ser aplicado no início


do desenvolvimento das plantas daninhas. Deve ser aplicado com as plantas
em bom estado de vigor vegetativo, evitando-se períodos de estiagem, horas
de muito calor e umidade relativa do ar inferior a 70%.
Assim como o clethodim, o fluazifop-p-butil é um herbicida inibidor
da ACCase. As principais espécies controladas são Avena strigosa (aveia-
voluntária), Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), Cenchrus echinatus
(capim-carrapicho), Digitaria horizontalis (capim-colchão), Digitaria sanguinalis
(capim-colchão), Echinochloa crusgalli (capim-arroz), Eleusine indica (capim-
pé-de-galinha), Oryza sativa (arroz-vermelho), Penisetum setosum (capim-
custódio), Saccharum officinarum (cana-de-açúcar), Triticum aestivum (trigo-
voluntário) e Zea mays (milho-voluntário).

6.4.1.3 Metribuzin

Figura 4 - Molécula de metribuzin.

O 4-amino-6-(1,1-dimetiletil)-metiltio-1,2,4-triazina-5-(4H)-ona (metribuzin)
(Figura 4) apresenta solubilidade em água de 1.100 mg L-1; kow: 44,7; curta
persistência no solo (aproximadamente 30 dias) e koc médio de 60 mg g-1
de solo (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). É muito adsorvido em solos com alto
teor de matéria orgânica e/ou argila. É um herbicida muito dependente das
condições edafoclimáticas para seu bom funcionamento. Quando aplicado na
superfície de solo seco e persistir nesta condição por sete dias, é desativado por
fotodegradação (SILVA, 1989). O metribuzin é também facilmente lixiviado no
solo, não sendo recomendado seu uso em solo arenoso e/ou com baixo teor de
matéria orgânica. É absorvido tanto pelas folhas quanto pelas raízes. Controla
diversas espécies de dicotiledôneas e algumas gramíneas. É recomendado
para aplicação em pré-emergência nas culturas de tomate, batata, soja, café,
cana-de-açúcar e mandioca para o controle de diversas plantas daninhas
dicotiledôneas. Não apresenta nenhum controle sobre Euphorbia heterophylla
e espécies de plantas daninhas solanáceas (Solanum americanum – maria-

336
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

pretinha, Nicandra physaloides – joá-de-capote). Na cultura do tomate


conduzida em semeadura direta, deve ser usado exclusivamente em pré-
emergência, logo após a semeadura. No tomate transplantado, poderá ser
usado também em pós-emergência, até dez dias após o transplante das
mudas. Na cultura do tomate, pode ser utilizado em misturas com o trifluralin,
devendo, neste caso, ser aplicado em PPI (pré-plantio e incorporado ao solo).
O metribuzin é um herbicida inibidor do fotossistema II. Inibe o
transporte de elétrons do fotossistema (FS) II para o FS I impedindo a
formação de ATP e NADPH nas espécies suscetíveis. Além disso, promove
reações secundárias devido ao bloqueio do transporte dos elétrons entre os
FS durante o processo fotossintético e induz a formação de radicais tóxicos,
que se acumulam, causando a peroxidação das membranas e a destruição
das células. As plantas daninhas suscetíveis, alguns dias após sua emergência,
tornam-se cloróticas, posteriormente necróticas e morrem. Quando usado em
pós-emergência no tomate transplantado, a ação do produto é muito rápida
e eficiente.
As principais espécies controladas são Ageratum conyzoides (mentrasto),
Alternanthera tenella (apaga-fogo), Amaranthus hybridus (caruru-roxo),
Amaranthus viridis (caruru-de-mancha), Bidens pilosa (picão-preto), Brassica
rapa (mostarda), Coronopus didymus (mentruz), Desmodium tortuosoum
(desmódio), Emilia sonchifolia (falsa-serralha), Galinsoga parviflora (botão-de-
ouro), Hyptis lophanta (catirina), Ipomoea aristolochiaefolia (corda-de-viola),
Phyllanthus tenellus (quebra-pedra), Polygonum convolvulus (cipó-de-viado),
Portulaca oleracea (beldroega), Raphanus raphanistrum (nabiça), Richardia
brasiliensis (poaia-branca), Senecio brasiliensis (maria-mole), Sida rhombifolia
(guanxuma), Sonchrus oleraceus (serralha), Spermacoce latilolia (erva-quente).

6.4.1.4 Trifuralin

Figura 5 - Molécula de trifluralin.

337
Capítulo 11

O 2,6-dinitro-N-N-dipropil-4-(trifluorometil) benzoamina (trifluralin)


(Figura 5) é um herbicida que apresenta excelente ação sobre as gramíneas
anuais e perenes oriundas de sementes, sendo recomendado para as culturas
de tomate, soja, algodão, feijão, ervilha, alfafa, quiabo, cucurbitáceas, brássicas,
pimentão, alho, cebola, beterraba e outras. Por ser um produto volátil
(pressão de vapor de 1,1x10-4 mm Hg a 25oC), sensível à luz e de solubilidade
em água extremamente baixa (0,3 mg L-1 a 25oC), necessita ser incorporado
mecanicamente ao solo logo após a sua aplicação (RODRIGUES; ALMEIDA,
2005). É fortemente adsorvido pelos coloides da matéria orgânica e pouco
pelos coloides da argila. Em solos ricos em matéria orgânica, a forte adsorção
pode impedir a absorção do trifluralin pelas raízes das plantas, motivo pelo
qual não é aconselhável seu uso nestas condições. A lixiviação, assim como
o movimento lateral no solo, é muito reduzida. Apresenta pka: zero; kow:
118.000; e koc médio de 7.000 mg g-1 de solo. É absorvido principalmente
pela radícula e praticamente não se transloca na planta. A dose recomendada
varia de acordo com as características fisico-químicas do solo. Apresenta
degradação lenta no solo, podendo, em alguns casos de rotação de culturas
(feijão/milho) em áreas de baixa fertilidade e mal manejadas, causar danos
à cultura sucessora, pela inibição do crescimento radicular (SILVA; OLIVEIRA
JUNIOR; CASTRO FILHO, 1998).
O trifluralin é um herbicida inibidor da formação de microtúbulos. Nas
plantas suscetíveis não há formação da proteína tubulina, ocorrendo divisão
anormal de células e a inibição do crescimento de raízes; algumas sementes,
inclusive, não emergem. Este herbicida somente deve ser recomendado
para a cultura do tomate quando em mistura com metribuzin, devendo ser
aplicado em PPI. Quando o tomatal estiver infestado apenas por gramíneas,
é muito mais seguro ambientalmente, além da alta eficiência, utilizar em pós-
emergência alguns dos herbicidas graminicidas listados anteriormente
As principais espécies controladas com aplicação em PPI são Brachiaria
brizantha (braquiarão), Brachiaria decumbens (capim-braquiária), Brachiaria
plantaginea (capim-marmelada), Cenchrus echinatus (capim-carrapicho),
Chenopodium album (erva-de-santa-maria), Digitaria horizontalis (capim-
colchão), Digitaria insularis (capim-amargoso), Digitaria sanguinalis (capim-
colchão), Echinochloa colonum (capim-arroz), Echinochloa crusgalli (capim-
arroz), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Eragrostis pilosa (capim-peludo),
Lolium multiflorum (azevém), Panicum maximum (capim-colonião), Penisetum

338
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

setosum (capim-custódio), Portulaca oleracea (beldroega), Rhynchelytrum


repens (capim-favorito), Richardia brasiliensis (poaia-branca), Setaria geniculata
(capim-rabo-de-raposa), Sorghum halepense (capim-massambará), Spergula
arvensis (gorga) e Urtica urens (urtiga).
Em resumo, o controle químico deve ser feito juntamente com outras
práticas de controle, sendo a de maior importância o controle cultural,
uma vez que este possibilita as melhores condições de desenvolvimento
e a permanência da cultura, cabendo ao controle químico apenas auxiliar
quando necessário. Portanto, um programa eficiente de manejo de plantas
daninhas deve integrar todos os métodos aqui abordados, os quais devem ser
escolhidos em função das condições individuais de cada lavoura e dos recursos
disponíveis, uma vez que todos apresentam vantagens e desvantagens
(Quadro 1).

Quadro 1 - Algumas vantagens e desvantagens dos principais métodos de controle


de plantas daninhas

Fonte: Silva e Ronchi (2003; 2004).

339
Capítulo 11

7. DICAS PARA DETECÇÃO DE RESÍDUOS DE HERBICIDAS EM ESTERCO


BOVINO

Na tomaticultura, assim como no cultivo da maioria das hortaliças,


empregam-se grandes quantidades de matéria orgânica (esterco), seja para
adubação diretamente na cova ou sulco de plantio, seja para a composição de
substrato para o preparo das mudas. De qualquer forma, independentemente
da finalidade e fase da lavoura em que se vai utilizar o esterco, é importante
que este, além de bem curtido, não apresente resíduos de herbicidas aos
quais o tomateiro apresenta alta sensibilidade, uma vez que o esterco bovino
pode conter resíduos de herbicidas empregados para o controle de plantas
daninhas nas pastagens (principalmente de picloram).
Devido à sua elevada eficiência no controle de espécies de plantas
daninhas dicotiledôneas anuais e perenes, a mistura comercial de 2,4-D +
picloram é amplamente utilizada nas pastagens (RODRIGUES; ALMEIDA,
2005) e seus resíduos, principalmente os de picloram, são comumente
encontrados em esterco bovino, uma vez que a persistência do picloram no
solo pode ser superior a dois anos dependendo das condições no ambiente
(LIEBL; THILL, 2000). Já que a planta de tomate, assim como toda solanácea,
é altamente suscetível aos herbicidas auxínicos, é possível que a lavoura seja
intoxicada caso se faça uso de esterco que contenha resíduos dos herbicidas
mencionados, até mesmo em níveis muito baixos. Entretanto, é possível
detectar-se a presença de resíduos de herbicidas em esterco. Para isso, um
método simples, rápido, de baixo custo, e que pode ser feito na própria
propriedade é a utilização de bioensaios, no qual se utiliza uma planta-teste
para indicar a presença do herbicida num determinado meio de cultivo. Esta
planta indicadora deve ser altamente sensível aos herbicidas apresentando
sintomas de intoxicação característicos. Para detecção de resíduos de picloram
e 2,4-D, as plantas-teste devem ser obviamente dicotiledôneas; geralmente
utilizam-se do próprio tomate ou do pepino, mas o pimentão, o algodão, o
fumo, o feijão e a soja também são muito sensíveis. É um teste simples, porém
de grande importância prática, cujos passos são descritos a seguir:
• peneirar o esterco que se pretende testar;
• providenciar alguns recipientes (pequenos vasos, copos ou sacolas
plásticas ~300 mL); estes não devem ser perfurados para evitar a lixiviação do
herbicida;

340
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

• preparar uma mistura de solo (terra de subsolo) e esterco na proporção


3:1 (v/v), formando um substrato;
• encher alguns recipientes (seis) com esse substrato e alguns somente
com o solo, sem o esterco-problema, ou com esterco conhecidamente isento
de resíduos de herbicidas;
• semear o pepino ou o tomate a 0,5 cm de profundidade (quatro
sementes por vaso);
• irrigar diariamente, porém sem excesso;
• após a emergência das plântulas (uma a duas semanas após o semeio,
no máximo), caso o esterco contenha resíduos de herbicidas, será possível
visualizar os sintomas característicos de toxidez de 2,4-D ou picloram nas
folhas da planta-teste, cultivada com o substrato preparado com o esterco
contaminado, sintomas estes que devem estar ausentes nas plantas cultivadas
sem o esterco-problema (Figura 6).

Figura 6 - Sintomas de intoxicação de plantas de pepino por picloram ou 2,4-D.


Planta à esquerda: cultivada em substrato livre de resíduos; planta à direita:
cultivada em substrato contendo resíduos de herbicida originados do
esterco.

Devido ao intenso crescimento celular desordenado, provocado


tipicamente por esses reguladores de crescimento (LIEBL; THILL, 2000), os
sintomas característicos de leve toxidez são o retorcimento da plântula e a
epinastia, ou seja, o crescimento acelerado da borda da lâmina foliar e seu
consequente encurvamento (encarquilhamento) no sentido da superfície

341
Capítulo 11

adaxial da folha, de forma que a mesma adquire conformação de uma concha


(Figura 6). A ausência de sintomas não assegura a ausência de resíduos
de herbicidas no esterco, mas evidencia que, se presentes (porém não-
detectáveis), seus níveis estão abaixo daqueles necessários para prejudicar o
crescimento das plantas. Caso se constate presença de resíduos dos referidos
herbicidas no esterco, este não poderá ser utilizado no tomatal, tampouco
em outras culturas dicotiledôneas; todavia, poderá ser aplicado em qualquer
cultura gramínea, como por exemplo, o milho.

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346
9. APÊNDICE

Quadro 1 - Ingrediente ativo ou nome comum, marca comercial, formulação, concentração em ingrediente ativo, empresa registrante e
mecanismo de ação dos herbicidas utilizados na cultura do tomate

Fontes: Rodrigues e Almeida (2005).

347
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro
Capítulo 11

348
Manejo de plantas daninhas na cultura do tomateiro

Capítulo 12
APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS NA
CULTURA DO TOMATE
Francisco Cláudio Lopes de Freitas
Lino Roberto Ferreira
Luís Henrique Lopes de Freitas
Hélcio Costa

1. introdução

Os insetos-praga, as doenças e as plantas daninhas causam grandes


perdas na produção do tomateiro e na qualidade do produto comercializado.
Para minimizar essas perdas, frequentemente adotam-se medidas químicas
de controle, que, quando usadas sem levar em conta os níveis de danos
econômicos, elevam o custo de produção, podendo, também, poluir o
ambiente e causar intoxicações ao homem. Segundo Picanço et al., (1996)
e Suinaga et al., (2004), é comum lavouras de tomate serem pulverizadas
duas a três vezes por semana muitas vezes sem as prévias amostragens das

349
Capítulo 12

populações de pragas ou conhecimento do agrotóxico utilizado.


O sistema de manejo integrado de pragas (MIP), de doenças e de plantas
daninhas preconiza que as medidas de controle somente serão implementadas
quando se atinge o nível de ação, que corresponde à intensidade de ataque
do agente biológico, quando se deve adotar medidas de controle, prevenindo
os danos econômicos.
Uma vez constatada a necessidade do uso de defensivos agrícolas, estes
devem ser aplicados de forma correta, visando à eficácia biológica máxima
e ao mínimo dano às culturas vizinhas, ao meio ambiente e ao homem.
Entretanto, as perdas do defensivo na aplicação são elevadas. De todo o
defensivo agrícola aplicado, boa parte vai diretamente para o solo, outra é
perdida por deriva e evaporação, e somente uma pequena quantidade é
depositada direta ou indiretamente sobre o alvo biológico. Na deposição
direta, o produto entra em contato com o alvo no momento da aplicação; na
indireta, o contato ocorre por meio de processos de redistribuição, seja por
translocação sistêmica, seja pelo deslocamento superficial do depósito inicial
do produto, através do espalhamento da gota pulverizada.
A eficiência da aplicação (EA) do defensivo agrícola é a relação entre
a dose teoricamente requerida (dt) para o controle e a dose efetivamente
empregada (dr), geralmente expressa em porcentagem, como mostra a
Equação 1.

EA = (dt/dr)100 Equação 1
Em que, EA = eficiência de aplicação (%); dt = dose teórica requerida e dr = dose real empregada.

Quando o alvo é de dimensões grandes e a coleta do defensivo é


favorável, a EA é relativamente alta, como é o caso da aplicação de um
herbicida sistêmico, em pós-emergência, numa área com boa cobertura de
plantas daninhas, sob condições climáticas favoráveis à aplicação. Por outro
lado, quando se aplica, por exemplo, um inseticida de contato, visando obter
controle de lagartas no fruto do tomateiro, a EA pode atingir valores muito
baixos, devido à dificuldade de se atingir o alvo.
A melhoria na EA poderá ser alcançada por meio do aprimoramento no
processo, nos seus mais variados aspectos. O melhor treinamento do homem
que opera o equipamento de aplicação é, sem dúvida, um dos pontos mais
importantes. No entanto, deve-se desenvolver novos equipamentos para

350
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

aplicação de defensivos agrícolas capazes de melhorar a EA. É importante


salientar que os investimentos efetuados até hoje têm sido muito aquém
das necessidades, embora nos últimos anos muitos avanços tenham sido
verificados para aplicações mecanizadas em grandes áreas, como o uso do
sistema GPS e o sistema de injeção direta. Entretanto, é preciso desenvolver
equipamentos e técnicas para serem empregados em pequenas áreas de
cultivo, como é o caso do tomateiro, e ainda fazer com que esses avanços
possam se tornar realidade no campo.
O uso correto e seguro dos defensivos agrícolas passa por diversas etapas,
desde sua aquisição, até a colheita do produto comercializado, respeitando-
se o período de carência, a fim de se preservar o meio ambiente e a saúde
dos trabalhadores e consumidores. Sua aquisição somente pode ser feita
mediante o receituário agronômico, emitido por um profissional legalmente
habilitado, valendo-se dos princípios de uma agricultura sustentável, que
procura produzir alimentos para a atual população, sem comprometer a
produção e a alimentação de futuras gerações.
No receituário, devem constar informações sobre o agrotóxico (dose,
finalidade, período de carência etc.), sobre a destinação de sobras dos
produtos e embalagens vazias, precauções de uso, equipamentos de proteção
individual (EPIs) e primeiros socorros em casos de acidentes.

2. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Nas atividades realizadas com qualquer agrotóxico, existe um


determinado risco de intoxicação do trabalhador (MACHADO NETO, 1997). De
acordo com a legislação atual, a norma regulamentadora nº. 31 (BRASIL, 2007)
preconiza que, se existe risco de intoxicação, há a necessidade da realização da
avaliação do risco e, se necessário, utilizar medidas de segurança do trabalho.
Esta norma determina que cabe ao empregador rural ou equiparado, entre
outras, garantir adequadas condições de trabalho, higiene, conforto e saúde
para todos os trabalhadores, segundo as especificidades de cada atividade.
Dentre as medidas de segurança, merece destaque o uso de
equipamentos de proteção individual (EPIs), que devem ser utilizados para
preservar a saúde do trabalhador que manuseia os defensivos agrícolas, a fim
de reduzir sua exposição e o risco de intoxicação.
O risco de intoxicação do trabalhador é definido como a probabilidade

351
Capítulo 12

de uma substância química causar-lhe efeito tóxico, considerando a toxidez


do produto e o tempo de exposição. A toxidez é a capacidade potencial de
uma substância causar efeitos adversos à saúde e depende, basicamente, da
dose e da sensibilidade do organismo exposto. Assim, quanto menor for a
dose de um produto que cause um efeito adverso, maior é a sua toxidez. Esta
característica é intrínseca ao produto e não há como alterá-la. Portanto, para
diminuir o risco, deve-se diminuir a exposição.
As vias de exposição no corpo humano são dérmica, inalatória, oral e
ocular. Segundo a organização mundial de saúde, mais de 99% da exposição
é via dérmica. Na cultura do tomateiro, os pés é a parte do corpo com maior
exposição dérmica em pulverizações com pulverizador costal (Tabela 1)
(MACHADO NETO 1990). Grande parte das contaminações pode ocorrer
também pelas mãos dos usuários de produtos químicos durante o preparo da
calda, quando se manipula o produto concentrado.

Tabela 1 - Exposição dérmica nas diversas partes do corpo em pulverização na cultura


do tomate, com pulverizador costal manual

Fonte: Adaptado de Machado Neto (1990).

Os EPIs são desenvolvidos baseados nas vias de exposição do


trabalhador ao produto, recebendo atestado de qualidade do Ministério do
Trabalho (Certificado de Aprovação), o que permite a comercialização deles.
A seguir, são apresentados os EPIs com suas respectivas recomendações de
uso.

2.1 LUVAS

Estão entre os equipamentos de proteção individual mais importantes


devido à alta exposição das mãos aos produtos. As luvas devem ser
impermeáveis aos defensivos. Os concentrados emulsionáveis devem ser

352
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

manipulados com luvas de borracha nítrica ou neoprene, impermeáveis aos


solventes orgânicos. Luvas de látex ou PVC podem ser usadas para aplicação de
defensivos agrícolas de formulações que não contenham solventes orgânicos.
De modo geral, recomenda-se a aquisição de luvas de borracha nítrica ou
neoprene, que podem ser utilizadas com qualquer tipo de formulação. As
luvas deverão ser vestidas sob as mangas da camisa nas aplicações dirigidas
para baixo (Figura 1) e sobre as mangas da camisa quando a aplicação for
dirigida para cima.

A B
Figura 1 - Aplicador de defensivos agrícolas usando adequadamente os equipamentos
de proteção individual para aplicação de agrotóxicos na cultura do tomateiro,
posicionado de frente (A) e de costas (B).

2.2 BOTAS IMPERMEÁVEIS

As botas são o EPI mais importante, uma vez que os pés são a parte do
corpo com maior exposição dérmica durante a aplicação de defensivos na
cultura do tomate (Tabela 1). Devem ser de cano alto e, preferencialmente,
de cor branca, devido ao maior conforto térmico para o aplicador, e
confeccionadas com material resistente aos solventes orgânicos.

353
Capítulo 12

As botas devem ser vestidas sempre por dentro das pernas das calças,
a fim de evitar respingos e/ou escorrimento de defensivos para dentro das
mesmas, que podem causar intoxicação severa no aplicador.

2.3 JALECO E CALÇAS

Quando confeccionados com tecidos hidrorrepelentes, evitam


o molhamento e a passagem do agrotóxico para o corpo do aplicador,
sem, contudo, impedir a transpiração, tornando o equipamento mais
confortável. São apropriados para proteger o corpo dos respingos e não
para conter exposições acentuadas aos jatos dirigidos. Os tecidos devem ser
preferencialmente claros, para reduzir a absorção de calor.

2.4 BONÉ ÁRABE

Tem como função a proteção do couro cabeludo e do pescoço contra


os respingos da pulverização e dos raios solares. Assim como as calças e o
jaleco, deve ser confeccionado em tecido hidrorrepelente.

2.5 VISEIRA FACIAL

A finalidade da viseira é proteger os olhos e o rosto contra respingos


durante o manuseio e aplicação do agrotóxico. Deve ser transparente
e proporcionar conforto ao usuário, permitindo o uso simultâneo do
respirador.

2.6 RESPIRADORES (MÁSCARAS)



Têm como função evitar a inalação de vapores orgânicos, névoas
e partículas finas. Existem no mercado, dois tipos de respiradores: sem
manutenção (chamados descartáveis), que possuem vida útil curta, e de
baixa manutenção, que possuem filtros especiais para reposição; portanto,
normalmente, apresentam maior vida útil.
Os respiradores devem estar sempre limpos, higienizados, e os seus
filtros jamais podem estar saturados. Se usados de forma inadequada,
tornam-se desconfortáveis e podem transformar-se numa verdadeira fonte

354
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

de contaminação para o operador.


Erroneamente, os respiradores são tratados como sendo o principal
EPI a ser usado durante a aplicação de produtos fitossanitários, quando na
realidade a maioria desses produtos não apresenta vapores orgânicos quando
usados à temperatura ambiente. Muitas vezes, uma máscara mais simples dá
melhor proteção e conforto ao aplicador. Quando não houver presença ou
emissão de vapores ou presença de partículas sólidas ou gotas suspensas no
ar, o uso da viseira e do boné árabe pode dispensar o uso do respirador, com
maior conforto para o usuário.

2.7 AVENTAL

Deve ser confeccionado em material resistente aos solventes orgânicos,
visando aumentar a proteção do aplicador contra respingos de produtos
concentrados durante o preparo da calda ou contra eventuais vazamentos de
pulverizadores costais.
A Figura 1 ilustra o aplicador usando adequadamente os EPIs, para a
pulverizações com defensivos agrícolas na cultura do tomate, posicionado de
frente (A) e de costas (B).

2.8 LIMPEZA DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Após o uso, as vestimentas (calças, jaleco e boné árabe) devem ser


lavadas em água corrente e colocadas para secar à sombra, conforme
recomendação do fabricante contida na embalagem. Luvas, botas e avental
devem ser lavados com água e sabão. Os respiradores de baixa manutenção,
com exceção dos filtros, também devem ser lavados ao fim das atividades.
Antes de usar qualquer produto de limpeza, certifique-se de que ele mesmo
não vá provocar nenhum dano aos diversos materiais que constituem o EPI.
Após a limpeza, os EPIs devem ser guardados em local apropriado,
lembrando-se de que os respiradores devem ser acondicionados em sacos de
plástico, para evitar a contaminação.

3. APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

Os métodos de aplicação de defensivos agrícolas podem ser

355
Capítulo 12

agrupados, basicamente, em aplicação via sólida, via líquida ou via gasosa, de


acordo com o estado físico do material aplicado. Neste texto, será abordada
a aplicação via líquida, com o emprego de água como diluente, comumente
usada na cultura do tomateiro. Nesta modalidade, a formulação é diluída em
água, recebendo o nome de calda, que deve ter a concentração adequada
para aplicação. A concentração varia em função da dose recomendada para o
defensivo e do volume de calda aplicado.
A distribuição da calda é realizada, normalmente, por meio de
pulverização hidráulica, que é definida como “processo mecânico de geração
de gotas” (CORDEIRO, 2001; MATUO; PIO; RAMOS, 2001). As gotas são
produzidas pelas pontas de pulverização que também determinam a vazão
e a distribuição do líquido pulverizado, sendo, portanto, o equipamento mais
importante do pulverizador (BAUER; RAETANO, 2004).
É comum dar-se muita importância ao defensivo a ser aplicado e
pouca à técnica de aplicação. É preciso garantir que o produto atinja o alvo
de forma eficiente, minimizando-se as perdas, ou seja, aumentar a eficiência
de aplicação. Para isso, é necessário uniformidade de aplicação e espectro de
gotas adequado.

4. EQUIPAMENTOS PARA APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NO
TOMATEIRO

Existem vários tipos de pulverizadores hidráulicos, desde os mais


simples, como os pulverizadores costais, utilizados em pequenas áreas, até os
mais sofisticados, como os pulverizadores de barra autopropelidos. Em cultivos
de tomateiro tipo salada, com espaldeiramento, os pulverizadores mais
utilizados são os costais manuais e os pulverizadores estacionários manuais
ou motorizados. Na produção de tomate industrial, sem espaldeiramento, e
na aplicação de herbicidas, é comum o uso de pulverizadores de barra.

4.1 PULVERIZADOR COSTAL MANUAL

O pulverizador costal (Figuras 2A e 2B) é composto por um tanque,


normalmente com capacidade para 20 L de calda, e uma bomba de pistão ou
êmbolo, acionada manualmente por meio de uma alavanca. Pode apresentar
um único bico ou barra com dois ou mais bicos. Para aplicações de inseticidas e

356
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

fungicidas em lavouras de tomate espaldeirado, tem sido comum a utilização


de dois ou três bicos para melhorar a cobertura e aumentar o rendimento da
aplicação (Figura 2C e 2D). Entretanto, o uso desse tipo de barra deve ser feito
com cautela, pois, dependendo da vazão das pontas utilizadas, pode ocorrer
aumento excessivo no volume da calda aplicado, causando escorrimento e
consequentemente, perda de defensivo e redução da eficiência de aplicação.

A B

Figura 2 - Pulverizador costal manual (A


e B); barras de dois bicos para
melhorar a cobertura do alvo
(C e D).

Um dos maiores problemas verificados em aplicações realizadas com


o pulverizador costal manual é a falta de uniformidade da pressão, levando a
variações na dose do defensivo agrícola. Este problema pode ser contornado
mediante o uso de controladores de vazão ou de pressão, também conhecidos
como válvulas reguladoras de pressão.
Existem no mercado dois tipos de reguladores de pressão: as válvulas
reguladoras e os reguladores do tipo registro. As válvulas reguladoras (Figura

357
Capítulo 12

3) consistem em uma válvula de diafragma que se abre à pressão pré-


estabelecida e um pistão que restringe o fluxo quando a pressão excede à
pré-estabelecida. Funciona, também, como sistema antigotejante, evitando
a saída de calda após o fechamento da válvula do gatilho do pulverizador,
ou quando, por qualquer outro motivo, a pressão do sistema caia abaixo da
desejada. Essas válvulas são fixadas, normalmente, na extremidade da lança,
junto à ponta de pulverização. Esse sistema permite ao operador manter a
pressão constante durante toda a aplicação, evitando-se variações na dose
e também oscilações que ocorrem nos diferentes ciclos do pistão. A válvula
independe da vontade do operador. Portanto, não é o operador quem mantém
a pressão constante, mas sim a válvula.
As pressões de trabalho das válvulas reguladoras são pré-estabelecidas
pelo fabricante, devendo-se selecionar a mais adequada para cada tipo de
pulverização. A escolha da pressão deve ser feita em função da recomendação
do fabricante da ponta de pulverização utilizada e da cobertura do alvo
desejada. Para facilitar a identificação, elas apresentam um código de cores:
• amarelo – 1 bar ou 100 kPa ou 15 psi;
• azul – 2 bar ou 200 kPa ou 30 psi.

Figura 3 - Válvula reguladora de pressão com molas amarela (1 bar) e azul (2 bar).

358
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

Os reguladores do tipo registro (Figura 4) são formados por um


registro montado, normalmente próximo à válvula do gatilho, que funciona
restringindo ou aumentando o fluxo de líquido da ponta de pulverização.
Atualmente, esses registros estão sendo comercializados com um manômetro
acoplado ao sistema, de modo a se observar a pressão de trabalho. Apresentam
a vantagem de permitir selecionar, em um único dispositivo, diferentes
pressões de trabalho. No entanto, possibilita a alteração acidental da pressão
por meio de alterações no registro e a limita apenas a vazão máxima, isto é,
pode-se aplicar o defensivo abaixo da pressão recomendada. Além disso, são
mais caros e pesados que as válvulas reguladoras.

Figura 4 - Reguladores de pressão do tipo registro, com manômetro.

4.2 PULVERIZADOR COSTAL MOTORIZADO



Os pulverizadores costais motorizados são equipamentos de uso
restrito, utilizados em condições especiais, como, por exemplo, para obter
cobertura em plantações altas ou em áreas de difícil caminhamento, que
requerem jato de maior alcance. No entanto, é um equipamento de custo
inicial alto e requer mais manutenção que os pulverizadores manuais, devido
à sua complexidade. Além disso, produz uma proporção relativamente alta
de gotas pequenas, mais propensas a perdas por deriva. São pouco utilizados
em plantações de tomate.

4.3 PULVERIZADOR ACOPLADO SOBRE RODAS

Trata-se de um pulverizador costal manual adaptado sobre uma ou


duas rodas, que acionam a bomba de pistão, gerando a pressão (Figuras

359
Capítulo 12

5A e 5B). Esse equipamento reduz o esforço do operador, pois este não


precisa carregar o pulverizador nas costas, além de realizar a operação com
maior rendimento operacional. No entanto, as maiores vantagens desse
equipamento são a redução da exposição do operador, que caminha cerca
de três metros adiante da barra de pulverização, e a manutenção do volume
de calda aplicado, mesmo com a alteração da velocidade. Por isso, a variação
da velocidade apresenta relação direta com a pressão, como consequência da
variação dos giros da roda, fazendo com que o volume de calda pulverizado
não sofra grandes variações (FREITAS; FERREIRA; NASCIMENTO 2008).

A B

Figura 5 - Pulverizador acoplado sobre rodas, para aplicação em área total (A) e com
barra vertical (B) (Foto B: Knapik).

Para aplicação de agrotóxicos, como inseticidas e fungicidas, na cultura


do tomateiro conduzido em sistema de tutoramento têm sido empregados
pulverizadores desta natureza, com barras adaptadas na vertical ou
ligeiramente inclinadas, com bicos distribuídos ao longo das mesmas (Figura
5A).

4.4 PULVERIZADOR ESTACIONÁRIO



Os pulverizadores estacionários são compostos por uma bomba,
normalmente de pistão, que pode ser acionada manualmente (pulverizador
capeta), ou por motores elétricos ou à gasolina (Figuras 6A e 6B), que
succionam a calda a ser pulverizada do depósito. A distribuição da calda na

360
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

lavoura é realizada por meio de mangueira com comprimento que varia de 20


a 50 m, na qual é acoplado um sistema com gatilho e lança de pulverização.
A lança é a parte extrema do pulverizador e serve de suporte às
pontas de pulverização. As lanças comumente utilizadas para pulverizações
na cultura do tomate têm 50 cm de comprimento; entretanto, deve-se dar
preferência a lanças mais longas, para direcionar o fluxo de calda para longe
do corpo do operador, minimizando sua exposição (Figuras 6C e 6D). Alguns
fabricantes fornecem lança extensível de diversos tamanhos, para possibilitar
a pulverização com maior segurança. Na extremidade da lança, pode-se
adicionar uma pequena barra, com número variável de bicos (Figuras 2B e
2C).

A B

C D

Figura 6 - Pulverizadores estacionários com acionamento manual (A) e motorizado


(B); lança com extensor para reduzir a exposição do aplicador (C e D).

361
Capítulo 12

Recomenda-se que as mangueiras acopladas ao pulverizador sejam


feitas de elastômero reforçado, resistente a agentes químicos. Mangueiras de
má qualidade podem amolecer pelo efeito das altas temperaturas, comuns
em climas tropicais, e não devem ser utilizadas. Por outro lado, mesmo as
mangueiras de boa qualidade se degradam com o tempo pela ação da luz
ultravioleta, ou podem descolar-se ou fragilizar-se devido à absorção de
produtos fitossanitários ou dos solventes de algumas formulações e, portanto,
devem ser examinadas regularmente.
À medida que se aumenta o comprimento da mangueira, aumenta
também a perda de pressão entre a bomba e a extremidade da mangueira,
onde está sendo feita a aplicação. Portanto, o local correto para se instalar o
manômetro é próximo à lança do pulverizador e não perto da bomba. Essa
diferença de pressão, dependendo do tamanho da mangueira e da pressão
utilizada, pode comprometer a qualidade da aplicação.
Os pulverizadores estacionários são bastante utilizados pelos
tomaticultores, para aplicação de inseticidas e fungicidas, pois permitem a
utilização de depósitos com maior capacidade de calda, requerendo menos
paradas para reabastecimento. Além disso, exigem menor esforço físico do
operador, que necessita carregar a calda na lavoura. Por outro lado, seu uso é
restrito a cultivos em áreas pequenas, devido à dificuldade de deslocamento
do equipamento e condução da mangueira dentro da lavoura.

4.5 PULVERIZADOR DE BARRA ACOPLADO AO TRATOR

Os modelos mais comuns possuem capacidade do tanque variando


entre 400 a 2.000 L. O tamanho da barra deve ser planejado de acordo com
a topografia e uniformidade da área. Em terreno declivoso ou ondulado, é
aconselhável trabalhar com barras menores, no sentido de reduzir oscilações
nas extremidades (Figura 7).
O número de bicos varia de acordo com o tamanho da barra e a distância
entre eles, que, na maioria dos pulverizadores, é fixada em 0,5 m.
Esse equipamento não é usado na cultura do tomate tipo salada, que
é conduzido em esquema de tutoramento ou espaldeiramento, uma vez
que a entrada de máquinas na área é impossibilitada. Pode ser utilizado em
pulverizações antes do tutoramento ou no cultivo do tomate industrial sem
tutoramento, para qualquer tipo de aplicação.

362
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

Figura 7 - Pulverizador de barra acoplado ao trator.

5. PONTAS DE PULVERIZAÇÃO

Habitualmente, o termo “bico de pulverização” é utilizado como


sinônimo de “ponta de pulverização”; entretanto, correspondem a estruturas
diferentes. O bico é composto por todo o conjunto, com suas estruturas de
fixação na barra (corpo, filtro, ponta e capa), conforme ilustrado na Figura
8, enquanto a ponta de pulverização corresponde ao componente do bico
responsável pela formação e distribuição das gotas. Esta, portanto, é a parte
mais importante do pulverizador.
O uso de pontas de pulverização inadequadas, desgastadas ou
danificadas é uma das principais causas da eficiência baixa na aplicação dos
defensivos agrícolas, pois elas determinam o tamanho da gota, a vazão e a
distribuição da calda pulverizada.

Figura 8 - Componentes de um bico de pulverização.

Existem vários modelos de pontas disponíveis no mercado. Cada uma


produz tamanho de gotas e padrão de deposição diferente. Portanto, é muito

363
Capítulo 12

importante escolher a ponta mais adequada a cada tipo de pulverização. Cada


modelo de ponta de pulverização apresenta algumas características peculiares
que os diferencia, devendo ser selecionado em função do defensivo que se
deseja aplicar, da superfície a ser tratada e do volume necessário de calda.
Os principais modelos de pontas para pulverização hidráulica são descritos
a seguir:

5.1 PONTAS DE JATO PLANO: que podem ser “de impacto” ou do tipo “leque”,
produzem jato em um só plano e o seu uso é mais indicado para alvos planos.

Nas pontas de impacto, conhecidas como TK, o líquido bate em um


plano inclinado e se abre na forma de leque. O padrão de deposição dos
bicos de impactos convencionais é muito irregular. Podem trabalhar em baixa
pressão e têm ângulos grandes (130o). São mais adequadas para aplicação
de herbicidas em pré-emergência ou sistêmicos em pós-emergência.
Recentemente, a Spraying Systems lançou dois novos modelos: Turbo
Floodjet – TF-VS (Figura 9 A) e Turbo Teejet – TT (Figura 9 B), que produzem
gotas maiores que as defletoras normais, formando ângulo de até 145o, sendo
adequados para compor barras de aplicação em área total, com excelente
distribuição da calda ao longo da barra.

A B

Figura 9 - Pontas de jato leque de impacto: turbo Floodjet - TF (A) e turbo Teejet - TT (B).

As pontas de jato leque produzem jato em um só plano (Figura 10), e


seu uso é mais indicado para alvos planos, como solo e culturas (soja, trigo,
milho etc.).
Os bicos do tipo leque podem ser de deposição contínua ou descontínua.
A ponta com deposição contínua (“Even”) pulveriza uma faixa uniforme,
sendo indicado para pulverização em faixas, sem haver sobreposição com os
bicos vizinhos. As pontas de deposição descontínua produzem um padrão

364
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

de deposição desuniforme, também chamado de distribuição normal,


decrescendo do centro para as extremidades. São recomendadas para
trabalhar em barras, com sobreposição. Deve-se observar não somente o
padrão de deposição de um bico isolado, mas o somatório da aplicação. O
coeficiente de variação da distribuição da pulverização da calda ao longo da
barra não deve exceder a 10%.

A B C

Figura 10 - Pontas de jato leque (A) e leque duplo (B) e leque com indução de ar (C).

As pontas do tipo leque são comercializadas com diferentes tipos de


ângulos, sendo mais comuns os de 80o e 110o. Essas pontas são padronizadas
pela cor: a cor laranja indica vazão de 0,10 galão por minuto; a verde, 0,15
galão por minuto; a amarela, 0,20 galão por minuto; a azul, 0,30 galão por
minuto; e a vermelha, 0,4 galão por minuto, isto se estiverem trabalhando a
40 lb pol-2. Cada galão equivale a 3,785 litros.
Os tamanhos de gotas produzidas pelas pontas de pulverização são
variáveis e dependentes do tamanho do orifício, da pressão de trabalho e da
característica do líquido. Como já foi discutido, o tamanho da gota tem relação
direta com a deriva, evaporação e cobertura do alvo. Portanto, escolher uma
ponta que produza uma gota de tamanho adequado ao produto a ser utilizado
e ao alvo a ser atingido é de fundamental importância.
As pontas de jato plano “leque” podem ainda apresentar outras
características como:
• leque duplo: possui dois orifícios idênticos produzindo um leque
voltado para frente e outro para trás, ambos com inclinação de 30o em relação
à vertical (Figura 10B), visando aumentar a cobertura do alvo, o que viabiliza
sua utilização na cultura do tomateiro;
• injeção de ar: possui uma câmara onde a calda é misturada ao ar
succionado por um sistema venturi, proporcionando gotas com maior
diâmetro e reduzindo o número de gotas pequenas (Figura 10C). Este tipo de
ponta é mais adequado para produtos com alta capacidade de redistribuição
na planta, como os herbicidas sistêmicos, principalmente em aplicações

365
Capítulo 12

dirigidas, por evitar a deriva.

5.2 PONTAS DE JATO CÔNICO: são tipicamente compostas por apenas dois
componentes denominados de ponta (disco) e núcleo (difusor, caracol, espiral
ou core). São mais frequentemente encontradas como peças separadas, mas
também podem ser encontradas incorporadas em uma única peça. O núcleo
possui um ou mais orifícios em ângulo, que fazem com que o líquido, ao
passar por eles, adquira um movimento circular ou espiral. Após tomar esse
movimento, o líquido passa através do orifício circular do disco, abrindo-se,
então, em um cone.

Taxas variadas de vazão, de ângulos de deposição e de tamanhos


de gotas podem ser obtidas através de combinações entre o tamanho do
orifício do disco, número e tamanho dos orifícios do núcleo, tamanho da
câmara formada entre o disco e o núcleo e a pressão do líquido. Em geral,
pressões mais elevadas com orifícios menores no núcleo e maiores no disco
proporcionam ângulos de deposição mais amplos e gotas menores.
As pontas de pulverização do tipo cone são classificadas em dois tipos:
“cone vazio” e “cone cheio” (Figuras 11A e 11B).

A B

Figura 11 - Pontas de jato cônico vazio (A) e cone cheio (B).

A formação de gotas no bico cone vazio somente ocorre na periferia


do cone, proporcionando perfil de deposição contínuo. No cone cheio, o
núcleo possui também um orifício central, que preenche com gotas o centro
do cone, proporcionando um perfil de deposição descontínuo, com maior
acúmulo de volume aplicado no centro do bico, sendo mais recomendado
em pulverizações com barras.
As pontas de jato cônico são utilizadas na pulverização de alvos
irregulares, como, por exemplo, as plantas do tomateiro, pois como as gotas

366
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

se aproximam do alvo de diferentes ângulos, proporcionam uma melhor


cobertura das superfícies e penetração no dossel da planta.

6. TAMANHO DAS GOTAS

O tamanho das gotas produzidas varia em função da ponta de


pulverização e da pressão utilizada, podendo ser classificadas em muito finas,
finas, médias, grossas, muito grossas e extremamente grossas. Essa distribuição
se baseia no diâmetro da gota que divide o volume pulverizado em duas
partes iguais, denominado de Diâmetro Mediano Volumétrico (DMV).
Existem duas classificações de tamanhos de gotas: uma realizada pelo
Conselho Britânico de Proteção de Culturas (British Crop Protection Council –
BCPC) e outra pela Associação dos Engenheiros Agrícolas Americanos (ASAE).
Esta última, mais simples e prática, tem sido utilizada por vários fabricantes
de bicos para descrever os diferentes tamanhos de gotas de pulverização
e facilitar a escolha certa do tipo de ponta por parte do usuário. Algumas
empresas fabricantes de defensivos introduziram a classificação da ASAE de
recomendação de classe de tamanho de gotas a serem produzidas em seus
rótulos. Na Tabela 2, encontram-se as classes de tamanho de gotas proposta
pela ASAE e os respectivos códigos de cores.

Tabela 2 - Classes de gotas propostas segundo norma da ASAE e suas aplicações na


pulverização agrícola

Fonte: Spraying Systems CO (2006).

367
Capítulo 12

Há algumas diferenças fundamentais entre as classificações BCPC


e ASAE. Ambas fornecem um código de cores e uma letra para indicar o
tamanho das gotas. No entanto, o foco da norma BCPC, desenvolvida por
Doble et al. (1985), foi baseado na pulverização necessária para maior eficácia
dos produtos fitossanitários, determinada por onde a maioria do espectro de
gota é depositada. A norma ASAE tem como foco o potencial de deriva, com
a eficiência sendo um conceito secundário. Essa norma estabelece o limite
de uma classe como a curva do diâmetro acumulado da ponta de referência
mais o desvio-padrão; o BCPC não considera o desvio-padrão. Com isso, como
resultados gerais, as pontas tendem a ser classificadas como (gotas) mais finas
na norma ASAE.
As gotas com diâmetros maiores são menos arrastadas pelo vento e
apresentam menores problemas com a evaporação no trajeto da ponta ao
alvo. Por outro lado, proporcionam menor cobertura da superfície a ser tratada,
possuem baixa capacidade de penetração no dossel da cultura e elevam
a possibilidade de escorrimento, enquanto as gotas de menor diâmetro
são mais facilmente arrastadas pelo vento e com maior probabilidade de
evaporação durante a aplicação. Porém, sob condições climáticas adequadas,
proporcionam melhor cobertura do alvo, maior capacidade de penetração no
dossel da cultura e reduzem a possibilidade de escorrimento.
O tamanho das gotas tem relação direta com a deriva, evaporação e
cobertura do alvo. Portanto, escolher a ponta que produza gotas de tamanho
adequado ao produto a ser utilizado e ao alvo a ser atingido é fundamental.
É importante salientar também que para uma mesma ponta o tamanho
das gotas diminui à medida que a pressão aumenta (por exemplo, qualquer
ponta produzirá gotas maiores à pressão de 2 bar do que a 4 bar), e que para
uma mesma pressão e tipo de ponta o tamanho de gotas aumenta com o
diâmetro de abertura da ponta (por exemplo, numa dada pressão, uma ponta
com vazão de 0,2 L/min. produzirá gotas menores que outra de mesmo
modelo com vazão de 0,4 L/min.).
Normalmente, os fabricantes informam o tipo de gota gerado pelas
pontas (muito fina, fina, média, grossa, muito grossa) nas diferentes pressões
recomendadas, para permitir a avaliação da cobertura do alvo, do risco de
deriva e evaporação, conforme ilustrado na Tabela 3.

368
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

Tabela 3 - Classificação da pulverização, segundo tamanho de gotas, em grossa (G),


média (M), fina (F) e muito fina (MF) para pontas de pulverização de jato
plano duplo Twinjet®, trabalhando em diferentes pressões

Fonte: Spraying Systems CO (2006).

7. COBERTURA DO ALVO

A cobertura do alvo está relacionada à proporção da superfície coberta


pela calda pulverizada. É calculada pela fórmula de Courshee (1967):

C = 15(VRK2)/AD Equação 2

Onde:
C = cobertura (% da área);
V = volume aplicado (L/ha);
R = taxa de recuperação (% do volume aplicado captado pelo alvo);
K = fator de espalhamento de gotas;
A = superfície vegetal existente por hectare e
D = diâmetro de gotas.

Segundo essa fórmula, para se conseguir elevadas coberturas, devem-


se manter altos os valores do numerador ou baixos os do denominador. Em
aplicações a alto volume se consegue elevada cobertura, mesmo com gotas
grandes. O aumento da taxa de recuperação (R) se consegue utilizando-se de
pontas de pulverização e pressões que promovam tamanho de gotas mais
eficientemente coletadas pelo alvo. O aumento do fator de espalhamento
de gotas (K) pode ser conseguido com adição de agentes tensoativos
(surfatantes), que diminuem a tensão superficial entre a água e a superfície

369
Capítulo 12

pulverizada, permitindo melhor espalhamento da gota. Quanto aos fatores


do denominador, observa-se que o aumento da área foliar (A) implica em
redução da cobertura, caso os demais fatores permaneçam constantes. Em
áreas foliares grandes, normalmente aumenta-se o volume pulverizado.
O tamanho da gota (D) também é fator importantíssimo – gotas menores
proporcionam maior cobertura, porém apresentam também tempo de vida
menor e maior capacidade de deriva, o que vai implicar na redução da taxa
de recuperação (R).
Diante do exposto, verifica-se que, para manter boa cobertura foliar
com o crescimento do tomateiro e consequente aumento da área foliar, é
necessário usar alguns artifícios, como o uso de surfatantes, que aumentam
o espalhamento da gota na superfície pulverizada, sem ter que aumentar
exageradamente o volume de calda ou usar gotas com diâmetros menores,
portanto mais propensas à deriva.

8. USO DE SURFATANTES

Os surfatantes são adjuvantes adicionados à calda com o objetivo de


reduzir a tensão superficial, melhorando o espalhamento e molhamento na
superfície pulverizada. Analisando a fórmula para calcular a cobertura do alvo
(Equação 2) é possível verificar sua importância.
A tensão superficial é responsável pela força de coesão entre as molé-
culas da superfície de um líquido e varia de acordo com a substância. Assim, o
etanol, por exemplo, apresenta tensão superficial de 22,5 dinas cm-1 e a água de
72 dinas cm-1, a 25oC. Ao se adicionar surfatantes à água, sua tensão pode cair
a valores de 30 a 35 dinas cm-1, dependendo do surfatante, aumentando seu
espalhamento na superfície.
O surfatante adicionado à calda para pulverizações na cultura do
tomateiro facilita o uso de gotas maiores, reduzindo perdas por deriva e,
ainda, obtendo-se boa cobertura, devido ao maior espalhamento das gotas,
conforme ilustrado na Figura 12. É imprescindível em pulverizações que têm
como alvo superfícies cerosas, com tensão superficial elevada, como é o caso
dos frutos de tomate. Nesse caso, o surfatante, além de promover a adesão da
calda à superfície, melhora a cobertura do alvo pulverizado. Todavia, o uso de
surfatantes pode aumentar o escorrimento da calda na folha, se usado com
volume de calda muito alto.

370
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

Figura 12 - Área de contato da gota na superfície pulverizada, sem (esquerda) e com


(direita) uso de surfatante.

Picanço et al. (1996), avaliando a adição de óleo mineral, que atua como
surfatante, à calda inseticida para o controle da traça e da broca-grande em
tomateiro, verificaram redução do número de minas nas folhas e de frutos
broqueados quando se adicionou óleo mineral (Tabela 4), por possibilitar
maior adesão da calda a órgãos cuja superfície é mais cerosa, como os frutos, e
maior translocação do produto para o interior das minas, no caso das folhas.

Tabela 4 - Efeito da adição de óleo mineral aos inseticidas triflomuron e fentoato no


número de folhas minadas pela traça do tomateiro e de frutos broqueados
pela traça e pela broca do tomateiro

Fonte: Adaptada de Picanço et al. (1996).

9. SISTEMA DE CONDUÇÃO DA CULTURA

Segundo Fontes e Silva (2002), o tomateiro para consumo in natura pode


ser conduzido sob diversas formas de tutoramento, sendo mais utilizados o
sistema de tutoramento em cerca cruzada, tutoramento vertical individual
com estaca e tutoramento vertical individual com fitilho. Os sistemas de
condução vertical apresentam como principal vantagem melhores condições
para pulverizações, permitindo melhor cobertura da calda na planta. Avaliando
o efeito de controle químico da traça do tomateiro em diferentes sistemas
de tutoramento, Picanço et al. (1995) verificaram que no sistema vertical o
ataque desta praga foi menor em frutos, folhas e caules.

371
Capítulo 12

10. VOLUME DE CALDA

O volume de calda ou volume de aplicação depende da pressão,


velocidade de caminhamento, tipo de ponta de pulverização e faixa de
pulverização. Segundo Freitas et al. (2005), pequenas alterações no volume
de calda podem ser alcançadas através de alterações na velocidade
de deslocamento e na pressão de trabalho, ou mesmo alterando-se o
espaçamento entre bicos. Entretanto, para se obter maiores variações é
necessário substituir a(s) ponta(s) de pulverização por outra(s) de vazão maior
ou menor em função da variação desejada
Na escolha do volume de calda, deve-se considerar vários fatores
interligados, como a cobertura desejada, tamanho de gotas e extensão da
superfície a ser pulverizada. Assim, com crescimento da planta e maior área
foliar, há necessidade de aumentar-se o volume de aplicação. Na pulverização
do tomateiro, deve-se molhar todas as folhas, atentando para que não haja
escorrimento, porque a eficiência dos produtos depende da boa cobertura
foliar.
Quando a dose do agrotóxico for indicada em função do volume
de calda, não podemos modificar essa concentração. Entretanto, deve-se
tomar todas as providências para evitar perdas por deriva, evaporação e
escorrimento.
A tendência atual é a utilização de volume de calda menor, devido ao
alto custo do transporte de água ao campo e a perda do tempo representada
pelas constantes paradas para reabastecimento do pulverizador. Também o
menor volume de calda é importante quando a qualidade da água não é boa
(presença de sais minerais). Todavia, é importante verificar a recomendação
do fabricante se a dose é em porcentagem do volume de calda ou em kg
ou L ha-1. Na cultura do tomateiro, para aplicação de inseticidas e fungicidas
em uma aplicação bem conduzida, sem perdas por escorrimento ou por
deriva, o volume de calda normalmente varia de 200 a 600 L ha-1, podendo
alcançar valores inferiores ou superiores, dependendo do porte da planta e
da cobertura desejada.
Para defensivos sistêmicos, que não necessitam de grande cobertura, o
uso de pontas de pulverização de baixa vazão, que produzem gotas médias
ou grossas, é uma alternativa para a redução do volume aplicado, reduzindo
perdas por deriva e aumentando o rendimento, através da redução do número

372
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

de reabastecimentos. Já os defensivos de ação de contato, que necessitam de


maior cobertura, por não haver redistribuição na planta, o volume de calda
tende a ser maior; entretanto, pode-se usar pontas que produzem gotas finas,
propensas à deriva, ou fazer uso de gotas maiores, com adição de surfatantes
à calda, melhorando o espalhamento. O importante é ficar atento para evitar
a deriva.
A quantidade de defensivo a ser colocada no tanque do pulverizador
deverá ser em função da dose recomendada pelo técnico que prescreveu a
receita e do volume de calda aplicado, que é definido através da calibração
do pulverizador.

11. CALIBRAÇÃO DO PULVERIZADOR

A calibração consiste em determinar o volume de calda que o


pulverizador aplica por unidade de área. No caso do tomate para salada, que
é cultivado no sistema de espaldeiramento ou tutoramento, a calibração pode
ser feita através da pulverização em uma área com dimensões estabelecidas,
conforme os procedimentos a seguir.
1. verificar o funcionamento do pulverizador (filtros, mangueiras,
bomba, manômetros etc.);
2. colocar o depósito do pulverizador em uma superfície plana e fazer
uma marca para definir o volume inicial do depósito;
3. retirar todo o ar das mangueiras e completar o depósito com água
limpa, até a marca feita anteriormente;
4. marcar uma área de 100 m2 (4 fileiras de 25 m se o espaçamento entre
fileiras for de 1 metro);
5. pulverizar a área demarcada;
6. medir o volume de água gasto para reabastecer o depósito do
pulverizador até atingir o volume inicial, no item 3 (exemplo: 5,30 litros);
7. repetir essa operação por mais duas vezes;
8. calcular o volume de calda através da fórmula:

volume de calda em L ha-1= volume gasto x 100;

volume de calda em L ha-1= 5,3 x 100 = 530 L ha-1

373
Capítulo 12

Supondo a aplicação de um determinado defensivo na dose de 1,5 L


ha do produto comercial, e que o volume de calda preparado no depósito
-1

será de 20 litros, a quantidade de defensivo a ser colocada no tanque será


calculada pela fórmula:

12. AVALIAÇÃO DOS PULVERIZADORES ANTES DO INÍCIO DAS OPERAÇÕES

Antes de iniciar a pulverização, os pulverizadores devem ser avaliados,


visando identificar todos os componentes que não estejam atendendo
às condições adequadas para operação, como pontas de pulverização
desgastadas ou danificadas, mangueiras furadas, dobradas ou localizadas entre
a projeção do jato de pulverização e o alvo, filtros danificados, funcionamento
do regulador de pressão, precisão do manômetro e outros componentes.

13. CONDIÇÕES AMBIENTAIS NA APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

Muitos são os fatores que podem contribuir para o sucesso ou fracasso


na aplicação dos defensivos agrícolas. Dentre esses fatores, a observação das
condições climáticas é fundamental para a decisão de se iniciar ou se paralisar
uma pulverização.
A ocorrência de chuva logo após a aplicação pode comprometer a
eficácia de alguns defensivos. O intervalo necessário entre a aplicação e
ocorrência de chuvas varia de um produto para outro, podendo, inclusive,
variar entre formulações de um mesmo ingrediente ativo. Assim, antes de
iniciar uma aplicação, deve-se verificar na bula do produto se há alguma
recomendação com referência à ocorrência de chuvas.
O vento é o fator meteorológico mais importante na aplicação de
defensivos agrícolas. O aumento da velocidade do vento aumenta a deriva,
portanto as pulverizações devem ser, preferencialmente, realizadas em
horários com menos vento, geralmente no início da manhã e final da tarde.
A condição mais segura para pulverização é com o vento de 3,2 a 6,5 km/h,

374
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

que corresponde a uma brisa leve, capaz de movimentar apenas levemente


as folhas. A direção do vento deve ser considerada mesmo se a velocidade
estiver dentro do aceitável, de modo a evitar danos a culturas vizinhas, ao
meio ambiente e ao operador.
A temperatura e umidade do ar também influenciam a qualidade das
pulverizações. Em condições de temperaturas acima de 25oC, com baixa
umidade relativa, as gotas pequenas são propensas à deriva, devido ao efeito
da volatilização. Nestas circunstâncias, deve-se aumentar o tamanho da gota
ou suspender a aplicação.
A rápida evaporação da água afeta em muito a qualidade da pulverização.
O tempo de “vida” de uma gota depende do seu tamanho e das condições
ambientais (Tabela 5) e pode ser estimado pela fórmula abaixo:

T = d2/80 ∆T Equação. 3
Em que,
T = tempo de “vida” da gota (s); d = diâmetro inicial da gota (μm); ∆T = diferença
de temperatura (oC) entre os termômetros de bulbo seco e bulbo úmido do
psicrômetro.

Tabela 5 – Tempo de “vida” e distância percorrida pela gota de água na queda em


duas condições de temperatura e umidade relativa

Fonte: Matuo, Pio e Ramos (2002).

De modo geral, os períodos da manhã, bem cedo, no final da tarde


e início da noite são os mais indicados para a aplicação de defensivos,
apresentando condições satisfatórias de ventos, temperatura e umidade
relativa do ar. No entanto, não é a hora que influi na eficiência da aplicação,
mas sim as condições ambientais.

375
Capítulo 12

14. PRESSÃO DE TRABALHO



A pressão de trabalho usada na pulverização deve ser adotada em
função da recomendação do fabricante da ponta de pulverização utilizada,
que normalmente varia de 2 a 4 bar, embora algumas pontas possam trabalhar
a pressões menores ou maiores. O aumento da pressão de trabalho resulta no
aumento da vazão, porém reduz o tamanho das gotas. Entretanto, essa não
é uma boa estratégia para aumentar o volume de calda aplicado, pois para
dobrar a vazão de uma ponta de pulverização é necessário quadruplicar a
pressão, o que significa reduzir muito o tamanho da gota, tornando-a mais
propensa à deriva e à evaporação.
Para a aplicação de herbicidas, normalmente são usadas pressões entre
1 e 3 bar, sendo as pressões mais baixas usadas para produtos sistêmicos
ou aplicados em pré-emergência, que demandam menor cobertura. Para
a aplicação de inseticidas e fungicidas, é comum o uso de pressões mais
altas, principalmente quando se trata de produtos de ação por contato, que
requerem maior cobertura na pulverização. Entretanto, têm-se observado que
essa pressão, na maioria das vezes, excede à necessária, causando perdas por
deriva e evaporação e danos ao meio ambiente e à saúde do homem. É comum
encontrar em lavouras de tomate pulverizadores sem sistemas reguladores e
medidores de pressão; outras vezes, o pulverizador tem o manômetro, mas
ele não funciona.
A pressão de pulverização deve ser a especificada no catálogo do
fabricante da ponta de pulverização, exceto se houver alguma indicação
complementar por trabalho de pesquisa.

15. MISTURA DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NO TANQUE DO PULVERIZADOR

Este é um ponto de grande preocupação, tendo em vista que os produtores


misturam fungicidas, inseticidas, herbicidas e micronutrientes para o controle
de pragas, doenças, plantas daninhas e deficiências nutricionais. Entretanto, a
mistura de produtos pode formar resíduos de grande complexidade química,
podendo, também, causar toxidez à cultura. Hoje, só é permitido a mistura
de produtos químicos que estejam registrados no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Não há em disponibilidade para consulta nenhuma
tabela de compatibilidade de produtos químicos para uso na agricultura.

376
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

16. DESTINO FINAL DAS EMBALAGENS VAZIAS

A legislação brasileira obriga o agricultor a devolver todas as


embalagens vazias dos produtos na unidade de recebimento de embalagens
indicada pelo revendedor (Lei Federal n.º 9.974 de 06/06/00 e Decreto
n.º 4.074 de 04/01/2002). Antes de devolver, o agricultor deverá preparar
as embalagens, ou seja, separar as embalagens lavadas das embalagens
contaminadas. O agricultor que não devolver as embalagens ou não prepará-
las adequadamente poderá ser multado, além de ser enquadrado na Lei de
Crimes Ambientais.
A lavagem das embalagens vazias poderá ser feita de duas formas:
tríplice lavagem ou lavagem sob pressão. A tríplice lavagem deve ser feita
logo após o esvaziamento completo do conteúdo da embalagem no tanque
do pulverizador, adotando-se os seguintes procedimentos:
1 - adicione água limpa à embalagem até ¼ do seu volume;
2 - tampe bem a embalagem e agite-a por 30 segundos;
3 - despeje a água de lavagem no tanque do pulverizador;
4 - faça esta operação três vezes;
5 - inutilize a embalagem, perfurando o fundo.
A lavagem sobre pressão somente pode ser realizada em pulverizadores
com acessórios adaptados para esta finalidade, pouco usados na cultura do
tomateiro.
As embalagens de produtos cuja formulação é granulada ou em pó
geralmente são sacos de plástico, de papel ou mistas. Estas embalagens são
flexíveis e não podem ser lavadas. Nesse caso, as embalagens devem ser
completamente esvaziadas na ocasião do uso e depois guardadas dentro de
um saco de plástico padronizado, que deverá ser adquirido no revendedor.
O agricultor tem o prazo de até um ano depois da compra ou do uso
do produto para devolver as embalagens vazias na unidade de recebimento
licenciada mais próxima da sua propriedade. Enquanto isto, as embalagens
podem ser guardadas de forma organizada no mesmo depósito onde se
armazena as embalagens cheias. O revendedor deverá informar, na nota fiscal,
o endereço da unidade de recebimento.

377
Capítulo 12

17. REFERÊNCIAS

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pelas pontas de pulverização XR, TP e TJ sob diferentes condições
operacionais. Planta Daninha, v. 22, n. 2, p. 275-284, 2004.

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2005. Anexo I – Norma Regulamentadora 31. Disponível em < http://
www.mte.gov.br/legislacao/ portarias/2005/p20050303 86.pdf > Acesso em:
12 jul 2007.

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junho 2004.

379
Capítulo 12

380
Aplicação de defensivos na cultura do tomate

Capítulo 13
MANEJO NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA
José Mauro de Sousa Balbino
Cláudio Pagotto Ronchi
Celso Luiz Moretti
Eveline Monteiro Cordeiro de Andrade

1. introdução

Encerrada a fase de produção dos frutos do tomateiro, o grande desafio


é manter o padrão de qualidade desse produto. Para tanto, é necessário
minimizar os danos provocados pelo manuseio e interferir favoravelmente
no metabolismo natural dos frutos. Nesse contexto, alguns aspectos
importantes desse manuseio devem ser considerados, como, por exemplo,
evitar que durante e após a colheita os frutos sejam submetidos a danos
mecânicos provocados por compressão, abrasão ou queda e a condições que
permitam sua contaminação por patógenos. Além disso, é imprescindível
adotar conjuntamente todas as medidas necessárias para que o metabolismo

381
Capítulo 13

do tomate, principalmente o processo respiratório, seja desacelerado.


Neste capítulo, apresenta-se um conjunto de informações relativas
tanto às fases de colheita e pós-colheita do tomate, como às principais
ações tecnológicas e não-tecnológicas, que permitam orientar os agentes
desse segmento da cadeia produtiva a atuarem com mais conhecimento
e segurança na busca da preservação do padrão de qualidade desse fruto.
Consequentemente, será possível agregar valor ao produto colhido e valorizar
todo o esforço empregado na sua produção.

2. PADRÃO DE QUALIDADE DO TOMATE

Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA,


1986), qualidade é a propriedade, atributo ou condição de coisas ou das
pessoas capaz de distingui-las das outras e de lhes determinar a natureza.
No conceito tradicional, significa grau ou nível de excelência. Segundo as
normas da Internacional Organization for Standardization (ISO), qualidade
é a totalidade das características de um produto, processo ou serviço que
incidem na capacidade de satisfazer as necessidades regulamentadas ou
implícitas. Na cadeia agroindustrial, qualidade é a combinação de atributos
de um alimento que determina o grau de aceitabilidade do produto pelo
consumidor e condiciona seu valor comercial (SERRA; ESCRICHE, 1997, apud
CANTILLANO; MADAIL; MATTOS, 2001).
Uma vez que o conceito de qualidade envolve muitos aspectos
simultaneamente, justifica-se, então, o termo padrão de qualidade, que
considera as peculiaridades demandadas pelos consumidores. Todavia, o
padrão de qualidade não pode ser uma ficção, mas uma busca constante
no sentido de se obter um produto que atenda aos requisitos alimentares,
de satisfação e de segurança do consumidor. A busca desses objetivos deve
perdurar por todo o ciclo de vida do produto, visando tornar o empreendimento
uma atividade sustentável. Dessa forma, a colheita e o manejo pós-colheita do
tomate devem visar à preservação das características dos frutos, dentro dos
limites das tecnologias disponíveis, com os rigores da segurança do alimento
e impacto reduzido sobre o ambiente.
Considerando-se apenas o produto, as características intrínsecas que
se espera obter estão associadas, principalmente, aos requisitos como sabor,
componentes nutricionais, consistência, padrão de maturação, ausência de

382
Manejo na colheita e pós-colheita

organismos patogênicos ao homem e/ou de suas toxinas, ausência de resíduos


de defensivos não permitidos e daqueles permitidos que estejam em níveis
abaixo do tolerado pelas legislações vigentes. Finalmente, associada a essas
características, é fundamental a aparência do produto, fator que impulsiona o
consumidor, o qual, muitas vezes, através dessa característica externa, tem a
sensação de agradabilidade do produto.
O padrão de qualidade do produto que chega ao consumidor determina
o seu valor econômico e é consequência do tratamento recebido durante toda
a sua cadeia produtiva, culminando com o manejo adotado durante e após
a colheita. Por isso, os cuidados visando à sua preservação por um máximo
período de tempo é importante para a satisfação do consumidor. Embora
grandes avanços tenham ocorrido na fase de produção do tomate, ainda falta
muito para que esse ganho seja usufruído integralmente pelo consumidor,
uma vez que, após a colheita, parte do trabalho empregado na produção vem
sendo perdida nos vários centros de produção ou distribuição pelo manejo
inadequado dos frutos.
Em pesquisa realizada em supermercados de Campinas-SP,
considerando-se os consumidores de tomate como público-alvo, constatou-se
a insatisfação de 95,6% dos entrevistados quanto ao padrão de qualidade do
produto ofertado, em particular, devido à presença de danos físicos externos
e à ausência de padronização. Analisando-se essas causas da insatisfação, a
presença de danos físicos levou os frutos a serem classificados como ruim
e péssimo por 68,9% e 25,6% dos consumidores, respectivamente. Já para
o item padronização, tal classificação foi adotada por 65,6% e 27,8% dos
consumidores, respectivamente. Essa abordagem, em supermercados, foi
importante, pois constatou-se que cerca de 58% dos consumidores compram
tomates nesses estabelecimentos comerciais devido à comodidade, seguidos
por mais de 24% que realizam as compras em supermercado/varejão (FERREIRA,
2005a). Assim sendo, verifica-se que muitos esforços ainda precisam ser feitos
por todos os agentes do agronegócio tomate, visando atender à satisfação do
elo final (e principal) da cadeia produtiva dessa hortaliça.
A insistência com os cuidados iniciais visando à preservação do padrão
de qualidade do tomate está intimamente associada à sua característica de
perecibilidade, comum à maioria dos produtos olerícolas. O tomate é um
produto que se caracteriza por uma vida pós-colheita relativamente curta,
estando sujeito, nesta fase, a perdas por danos mecânicos, por patógenos ou

383
Capítulo 13

por fatores abióticos. Esses fatores podem se manifestar nos frutos, de forma
isolada ou em conjunto, proporcionando perdas quantitativas ou qualitativas,
nas diferentes fases da cadeia pós-colheita. Essas perdas podem ser parciais
ou totais e, neste caso, podem levar ao descarte do produto por falta de
alternativas de uso, alimentando o ciclo do desperdício.

3. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA PERDA DO PADRÃO DE QUALIDADE

A perda do padrão de qualidade dos produtos perecíveis é fato que


tem merecido constantes relatos e ações de esforços, visando evitar a perda
do valor comercial do produto e o seu desperdício. As perdas na cadeia
produtiva do tomate normalmente iniciam-se no campo e estão quase sempre
relacionadas diretamente aos diversos tratos inadequados recebidos pela
cultura. Já no momento da colheita, geralmente ocorrem danos físicos que
são acumulativos durante o processo (FERREIRA, 2005a). Além do manuseio
inadequado dos frutos na colheita e na fase de pós-colheita, as condições
climáticas adversas, meios de transporte, embalagens para transporte,
comercialização inadequadas e as infecções por patógenos são os principais
fatores diretos responsáveis pelas perdas de padrão e, consequentemente,
pelo desperdício desse produto na cadeia pós-colheita.
Embora seja difícil o método para a quantificação de perdas pós-colheita
de produtos perecíveis, percebe-se facilmente que os danos e o desperdício
desses produtos são elevados, mesmo considerando-se os equívocos que
podem ser cometidos nos levantamentos com análises subjetivas. Resende
(1979) e Almeida (1995) apontaram perdas de cerca de 34% do volume de
tomates comercializados. Mukai e Kimura (1986) verificaram perdas pós-
colheita diferenciadas em função da época de colheita. Neste caso, as perdas
variaram de 0 a 50% e de 15 a 50% no atacado e no varejo, respectivamente,
para tomates colhidos e comercializados na época chuvosa, e de 15 a 50% e
de 0 a 30% no atacado e no varejo, respectivamente, na época seca.
O manuseio incorreto dos produtos olerícolas durante a comercialização,
somado à utilização de embalagens impróprias para o acondicionamento,
eleva os níveis de perdas pós-colheita. A classificação do tomate de mesa
também interfere na qualidade final, uma vez que durante esse processo o
fruto fica suscetível a danos físicos, seja a classificação realizada manual, seja
mecanicamente (ANDREUCCETTI et al., 2004). Castro, Cortez e Jorge (2001),

384
Manejo na colheita e pós-colheita

pesquisando o efeito de embalagens para transporte e comercialização de


frutos de tomate, constataram que a caixa tipo K sozinha foi responsável por
aproximadamente 26% dos frutos apresentarem danos que comprometiam a
sua comercialização.
Embora várias das causas associadas ao desperdício de tomate estejam
associadas aos fatos citados anteriormente, é importante considerar o
planejamento inadequado da produção, gerando excedentes e redução no
preço do produto e, consequentemente, o desestímulo com o empreendimento.
Esses aspectos, associados à característica de perecibilidade do produto, são
fatores preponderantes para os diversos tipos de perdas e contribuem para
reduzir ainda mais o retorno econômico do tomate.
Em relação aos aspectos tecnológicos, as perdas podem ser minimizadas
com a adoção de práticas pós-colheita que envolvem desde o manuseio
adequado do fruto durante a colheita, a classificação e a embalagem, ao uso da
refrigeração e da infraestrutura dos galpões de embalagem e comercialização.
Tais práticas empregadas individualmente ou em conjunto vão, certamente,
contribuir para a redução das perdas.
Outro aspecto a considerar é o conhecimento das tecnologias a serem
empregadas por aqueles que administram e atuam no manuseio do produto,
ou seja, é imprescindível o treinamento dos envolvidos para o sucesso do
agronegócio em questão.

4. FISIOLOGIA DO AMADURECIMENTO DO TOMATE

O conhecimento da fisiologia do amadurecimento do fruto é de extrema


importância para a compreensão e aplicação de técnicas, visando propiciar o
manejo adequado do seu amadurecimento, obtendo-se, assim, o melhor de
suas características comerciais (MCGLASSON, 1985).
Dentre as características fisiológicas dos frutos, o padrão respiratório
é um aspecto importante na definição do ponto de colheita e na aplicação
das técnicas de conservação pós-colheita. O tomate é classificado como
fruto climatérico, sendo que a sua curva respiratória inicia-se com uma
pequena liberação na quantidade de CO2, com o fruto no estádio “verde
maduro”, ocorrendo, em seguida, ascensão acelerada da respiração,
denominada de ascensão climatérica, até atingir a taxa respiratória máxima,
quando o fruto apresenta, geralmente, 30% da cor da casca característica

385
Capítulo 13

de seu amadurecimento. Simultaneamente e de forma similar à liberação


de CO2, ocorre a biossíntese de etileno. A partir daí, há uma queda na taxa
respiratória, acentuando-se quando o fruto passa a ter mais de 60% da casca
com a coloração característica de fruto em amadurecimento. A biossíntese
de etileno, nesta fase final do amadurecimento, permanece estável até que
o fruto atinja a completa coloração vermelha da casca (AUTIO; BRAMLAGE,
1986). Esse período de ascensão climatérica e produção autocatalítica de
etileno dá início a uma série de transformações bioquímicas nos frutos,
como alterações na firmeza da polpa e no seu conteúdo de açúcar e acidez;
mudanças das cores da casca e da polpa etc. Dentre essas características,
a mudança na pigmentação externa do fruto é de extrema importância na
prática, pois indicará o momento de se planejar o início da colheita do fruto.
A atividade respiratória dos frutos está intimamente relacionada com a
temperatura e com a composição atmosférica do meio (Tabela 1).
O tomate produz quantidades moderadas de etileno, variando entre
1 e 10 μL kg-1 h-1 a 20°C (KADER, 2002) e é sensível à exposição a este fito-
hormônio. Quantidades mínimas como 0,05 μL L-1 são suficientes para
desencadear o amadurecimento e outros processos metabólicos associados
(ABELES; MORGAN; SATVEIT, 1992). Para o amadurecimento artificial de
tomates, em condições comerciais, preconiza-se que os frutos devam ser
armazenados entre 20o e 22oC e umidade relativa ao redor de 90%, sendo
aplicadas quantidades de etileno ao redor de 50 μL L-1. Após atingirem o
estádio de amadurecimento conhecido como breaker, os frutos produzem
quantidade suficientes de etileno e não precisam mais de uma fonte exógena
desse fito-hormônio para amadurecerem.

Tabela 1 - Atividade respiratória (mg CO2.kg-1.h-1) de tomates armazenados a diferentes


temperaturas e composições atmosféricas
Temperatura (oC) Composição atmosférica
Ar 3% O2 / 97% N2
10a 13 a 16 6
15 16 a 28 -
20 28 a 41 12
25 35 a 51 -
a. Armazenamento a 10oC somente deve ser feito para tomates maduros (vermelhos).
Fonte: Sargent e Moretti (2004).

386
Manejo na colheita e pós-colheita

As condições do fruto na época da colheita determinam seu


comportamento e, consequentemente, seu padrão de qualidade final e valor
na comercialização. Tomates colhidos precocemente, antes de completarem
a pigmentação da casca, apresentam maior predisposição à desidratação,
podendo até mesmo não amadurecerem se não estiverem no estádio fisiológico
adequado. Da mesma forma, frutos colhidos tardiamente apresentam
encurtamento do período de armazenamento devido à aproximação da fase
de senescência e, consequentemente, aumentam o índice de desperdícios
pós-colheita.

4.1 DESORDENS FISIOLÓGICAS

Tomates apresentam algumas desordens fisiológicas que podem


comprometer significativamente sua qualidade pós-colheita.
Amadurecimento manchado (Blotchy ripening): é caracterizado pelo
aparecimento de manchas de coloração verde ou verde-amareladas na
superfície do fruto vermelho. Aparentemente, o surgimento dessa desordem
está associado à disponibilidade de potássio e nitrogênio no sistema solo.
Áreas do fruto que apresentam essa desordem possuem menores teores de
sólidos solúveis totais, ácidos orgânicos e amido (MORETTI; CALBO; HENZ,
2000).
Queimadura de sol: desordem associada à excessiva exposição
a condições solar durante o processo de desenvolvimento do fruto,
prejudicando a biossíntese de licopeno, o que contribui para o aparecimento
de áreas amareladas nos tecidos afetados, que perduram durante o processo
de amadurecimento.
Fundo preto: esta desordem está associada à deficiência de cálcio
que ocorre ou devido à reduzida absorção desse cátion, por sua baixa
disponibilidade no solo, ou devido a problemas de translocação desse íon no
fruto. Os sintomas iniciam-se no fruto verde como uma pequena descoloração
transparente na região distal do fruto, a qual aumenta de tamanho e torna-se
de aspecto ressecado e de coloração marrom. A ocorrência dessa desordem
aumenta dramaticamente quando a concentração de cálcio nos solos cai
abaixo de 0,08% (MORETTI CALBO; HENZ, 2000). Eventualmente, organismos
secundários colonizam os tecidos causando doenças.
Amadurecimento irregular: é caracterizado pelo amadurecimento

387
Capítulo 13

desuniforme e aspecto esbranquiçado dos tecidos internos. Tem sido


associado ao ataque de mosca-branca (Bemisisa argentifolii) (HANIF-KHAN et
al., 1997).
Injúria interna de impacto: desordem fisiológica associada à ocorrência
de danos mecânicos, sobretudo de impacto, nos frutos. O tecido locular assume
coloração amarelada. As alterações fisiológicas observadas são devido a uma
ruptura no processo normal de amadurecimento, sendo os frutos nos estádios
verde-maduro e breaker os mais suscetíveis ao distúrbio (MCLEOD; KADER;
MORRIS,1976). Frutos com essa desordem apresentam reduzidos teores de
vitamina C, carotenoides totais, acidez titulável e maior viscosidade do tecido
locular (MORETTI et al., 1998). Além de alterar a qualidade química e física dos
frutos, a injúria interna de impacto altera o sabor dos frutos (MORETTI et al.,
2002).

5. PONTO DE COLHEITA

O ponto de colheita do tomate depende da exigência do mercado, da


distância entre esse mercado e a área de produção e do meio de transporte a
ser utilizado.
Há centros consumidores que exigem o fruto com a coloração da
casca praticamente verde para a comercialização e há mercados em que a
preferência é por frutos vermelhos, como, por exemplo, o Rio de Janeiro. Assim
sendo, é necessário um planejamento adequado visando atender a esses
padrões mercadológicos, devendo-se considerar o tempo que decorre para o
transporte do fruto entre o local de produção e a comercialização. O tipo e as
condições de transporte disponível, a rapidez do deslocamento e o controle
das condições de temperatura e umidade do ambiente são fundamentais que
sejam considerados na definição do ponto de colheita do tomate. No Brasil,
onde, até então, o meio de transporte adotado para o tomate é normalmente
pelo uso de caminhões abertos, ou seja, sem controle do ambiente de
armazenamento, o ponto de colheita tem se constituído no principal manejo
para se atender ao padrão mercadológico deste produto, colhendo-se o fruto
no estádio inicial do amadurecimento para mercados mais distantes.

388
Manejo na colheita e pós-colheita

6. CUIDADOS NA COLHEITA E PÓS-COLHEITA

O método de colheita do tomate para consumo in natura tem sido


manual, sendo que os cuidados nessa operação são fundamentais para a
manutenção do padrão de qualidade, redução do desperdício e valorização
do produto em razão da sua aparência atrativa para o consumidor. Na fase
de pós-colheita do tomate, o fruto passa por diversas etapas que também
podem ocasionar danos físicos aos frutos e, consequentemente, perdas do
produto. Portanto, os cuidados empregados a partir da colheita também são
fundamentais para a menor perda do padrão de qualidade dos frutos.
Os tomates colhidos devem ser colocados cuidadosamente em caixas
plásticas limpas, em bom estado de conservação, sem trincas ou riscos
internos e higienizadas (Figura 1). Isso porque as caixas plásticas podem
provocar injúrias ao fruto, em sua maior parte, na forma de abrasões e cortes,
caso não estejam adequadas ao uso. Nesse tipo de recipiente, as ranhuras
e aberturas, particularmente na base, podem provocar também um efeito-
carimbo, deixando marcas profundas nos tomates (CASTRO; CORTEZ; JORGE,
2001).
Os danos mecânicos podem
ser definidos como deformações
plásticas, rupturas superficiais
e, em casos mais extremos,
destruição de tecidos vegetais
provocada por forças externas, e
causam modificações físicas (danos
físicos) e/ou alterações fisiológicas,
químicas e bioquímicas na cor,
aroma, sabor e textura do fruto
(CALBO; NERY; HERMANN, 1995).
Os danos mecânicos no tomate,
normalmente verificados na
colheita e nas etapas subsequentes,
podem originar-se da compressão,
de arranhões e de impacto por
quedas. Figura 1 - Colheita e acondicionamento do
tomate em caixas plásticas, no
campo.

389
Capítulo 13

As diferentes injúrias mecânicas podem causar efeitos distintos sobre


os produtos olerícolas. A ocorrência da injúria mecânica de impacto pode
não causar sintomas externos prontamente observáveis; no entanto, o efeito
acaba repercutindo posteriormente, devido a danos causados aos tecidos
internos do fruto (SARGENT; BRECHT; ZOELLNER, 1992).
Os danos mecânicos, principalmente aqueles provocados por quedas
e arranhões, em quaisquer etapas da vida do fruto, serão também porta de
entrada para micro-organismos promotores de deterioração, bem como
fatores responsáveis pela aceleração da biossíntese de etileno.
A injúria por compressão ocorre devido à imposição de uma pressão
variável contra a superfície externa do fruto, seja por um fruto adjacente,
seja pela própria parede da embalagem em que se acondiciona o produto
(MORETTI, 1998; MORETTI et al., 1998). Tal injúria pode ser fator significante
em embalagens com carga acima de sua capacidade ou, ainda, em cargas
transportadas a granel. Por isso, é inconcebível que em embalagens utilizadas
na colheita e no transporte se acondicionem frutos acima do seu limite
superior, uma vez que o empilhamento das caixas acarretará a compressão e
danificação dos frutos (Figura 2).
Alguns produtos são mais suscetíveis à compressão que ao impacto
ou vibração, e o tomate é um exemplo clássico de grandes perdas,
ocorrendo quando são colocadas várias camadas de frutos em contentores
(OLORUNDA; TUNG, 1985). Observou-se que a deformação em frutos de
tomate ‘Kada’ aumentou com os níveis crescentes da pressão que receberam
durante o armazenamento, havendo, ainda, como consequência atraso no
desenvolvimento da cor e redução na taxa de evolução de CO2. A compressão
causa a formação de áreas de contato entre os frutos na embalagem, podendo,
eventualmente, acarretar a formação de pequenos ferimentos devido à
presença de impurezas tais como grãos de areia. Essas áreas de contato são,
possivelmente, os pontos mais próprios para o surgimento de infecções
(SILVA; CALBO, 1992).
A injúria de impacto é, geralmente, provocada pela colisão do fruto
contra superfícies sólidas ou contra outros frutos durante as etapas de colheita,
manuseio e transporte. Danos externos são facilmente visualizados na
superfície do produto, podendo resultar na ruptura da epiderme, na formação
de lesões aquosas translúcidas e no amolecimento precoce (HONÓRIO;
MORETTI, 2002), sendo a região do tecido locular a mais afetada no fruto

390
Manejo na colheita e pós-colheita

(MORETTI et al., 1998). A intensidade e o dano interno no fruto, causados pelo


impacto, são influenciados pela cultivar, pela altura de queda, pela repetição
do impacto e pelo estádio de amadurecimento (SARGENT, 1992).

Figura 2 - Causa de danos nos frutos devido à compressão contra as paredes laterais
e superior da embalagem.

Segundo revisão sobre os efeitos de injúrias mecânicas em tomate


(MORETTI, 1998), há vários estudos comprovando que impacto, vibração e
compressão levam a uma série de alterações metabólicas e fisiológicas no
fruto, ocasionando o aparecimento de sintomas externos e internos típicos. As
alterações mais marcantes ocorrem no metabolismo respiratório e na taxa de
evolução de etileno, no metabolismo de ácidos orgânicos, nas características
organolépticas, na síntese de pigmentos, no metabolismo enzimático, na
firmeza da polpa, no escurecimento enzimático e na capacidade fosforilativa.
Os distúrbios fisiológicos causados pelos impactos sofridos pelos frutos
de tomate (queda de 40 cm de altura) podem provocar alterações de sabor e
aroma durante o amadurecimento, perceptível pelo consumidor, reduzindo
de maneira potencial a aceitação desse produto (MORETTI; SARGENT, 2000)
em razão da alteração na concentração de compostos voláteis-chave na
constituição dessas características. A destruição de estruturas celulares, o
vazamento de solutos e a maior atividade de enzimas decorrentes do impacto
parecem relacionarem-se com as mudanças observadas na constituição
de vários compostos voláteis (MORETTI et al., 1997). Além disso, os tecidos
injuriados apresentam menores teores de vitamina C total, de carotenoides e
de vários ácidos orgânicos que os tecidos não-injuriados.
Visando minimizar danos como os descritos anteriormente, a
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), através

391
Capítulo 13

do seu Centro de Qualidade em Hortaliças, juntamente com a Associação


Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), vem propagando algumas regras
visando justificar e possibilitar a proposta do manuseio mínimo dos produtos
perecíveis. Para tanto, algumas estratégias que são indicadas é a classificação
adequada dos frutos por tamanho, cor e qualidade, reduzindo assim a escolha
pelo consumidor e propiciando o planejamento da demanda, evitando o
armazenamento prolongado e a exposição de produtos deteriorados no
ponto de venda.

7. PROCEDIMENTOS E MANEJO EM PÓS-COLHEITA DOS FRUTOS

Durante e imediatamente após a colheita do tomate, as caixas com


os frutos devem ser acondicionas em locais sombreados, evitando-se a
incidência direta de raios solares e, portanto, o aquecimento de sua polpa.
Esse cuidado torna-se mais importante quanto maior for a preocupação com
a preservação da longevidade pós-colheita do fruto. Quanto mais rápidos
forem os procedimentos pós-colheita e quanto mais eficientes forem os
processos para se evitar o aumento do “calor de campo” dos frutos, menor
será o tempo para o equilíbrio da temperatura na câmara fria, ou seja, para o
resfriamento do produto, e maior será o ganho de vida pós-colheita do fruto.
Esses cuidados preliminares são fundamentais para se construir um padrão
de qualidade melhor e para se obter um maior tempo de conservação do
tomate. Aliadas a esses cuidados, outras tecnologias de pós-colheita terão a
finalidade de controlar os processos metabólicos que conduzem os frutos à
senescência.
É importante também que após a colheita os frutos sejam levados o
mais rápido possível para o galpão de processamento pós-colheita. Nesse
local, devem-se tomar todas as medidas para o manuseio adequado e rápido
dos frutos, seja no que se refere a evitar danos mecânicos e contaminação
por micro-organismos, ou à agilidade nas etapas de seleção, eliminando-
se os frutos que apresentem defeitos leves ou graves (Figura 3), seguindo a
classificação e embalagem.

7.1 SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

Deve-se aproveitar a etapa de classificação para eliminar frutos

392
Manejo na colheita e pós-colheita

impróprios para a comercialização, tomando-se o cuidado de retirá-los da


área de pós-colheita, prevenindo-se, assim, possíveis focos de contaminação.
Mesmo para os frutos sadios, a seleção e a classificação reduzem injúrias
mecânicas, uma vez que tomates com maior uniformidade de tamanho e
formato acomodam-se melhor dentro das caixas, diminuindo as possibilidades
de ferimentos por vibração, impacto ou choque (CASTRO; CORTEZ; JORGE,
2001).
A classificação e o beneficiamento do tomate podem ser feitos
manualmente ou utilizando-se máquinas. Embora o uso das máquinas per-
mita uma melhor padronização, independentemente da tecnologia adotada,
essa etapa também tem que ser bem acompanhada, pois pesquisas têm
demonstrado que danos físicos e, consequentemente, as perdas, aumentam
tanto em situações em que ocorre o beneficiamento e a classificação manual,
como em máquinas beneficiadoras, que não estejam devidamente reguladas
para a utilização (FERREIRA, 2005a).
A classificação por meio da normatização e definição de regras tem a
finalidade de unificar a linguagem em toda a cadeia de produção, organizar os
produtores, proporcionar transparência e confiabilidade na comercialização,
permitir preços justos para os agricultores e consumidores, diferenciar preços
para o melhor produto, reduzir as perdas, melhorar e garantir o padrão de
qualidade e estimular o consumo.
Para o consumidor final, a padronização foi apontada como uma das
suas principais insatisfações no ato da compra do tomate em supermercados.
Em Campinas-SP, 65,6% dos entrevistados consideraram a padronização
ruim, enquanto 27,8% consideram-na péssima. Os consumidores procuram
comodidade na compra, e a mistura de padrões (seja de coloração, tamanho,
variedade) faz com eles tenham de realizar uma seleção pessoal quanto aos
atributos desejados (FERREIRA, 2005a).
Para o tomate, é a Portaria Nº 553, de 15 de setembro de 1995, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, (MAPA) (MAPA, 2006a),
que contém as normas de identidade, qualidade, acondicionamento,
embalagem e apresentação desse produto. Além disso, existe o regulamento
técnico de identidade e qualidade para a classificação do tomate, publicado
como anexo XVII da Portaria (SARC) Nº 085, de 06 de março de 2002 (MAPA,
2006b). Segundo essas legislações, o tomate é classificado em grupos (de
acordo com o formato do fruto), subgrupos (de acordo com a coloração do

393
Capítulo 13

fruto), classes ou calibres (de acordo com o tamanho do fruto), tipos ou graus
de seleção ou categorias (de acordo com o padrão de qualidade do fruto).

7.1.1 Grupos

De acordo com o formato do fruto, o tomate é classificado em


dois grupos: oblongo – quando o diâmetro longitudinal for maior que o
transversal; redondo – quando o diâmetro longitudinal for menor ou igual
ao transversal.

7.1.2 Subgrupos

De acordo com a coloração do fruto, em função do seu estágio de


maturação, o tomate é classificado em cinco subgrupos: subgrupo 1: verde
maduro – quando se evidencia o início de amarelecimento na região apical
do fruto; subgrupo 2: pintado (de vez) – quando as cores amarela, rosa ou
vermelha cobrem entre 10 e 30% da superfície do fruto; subgrupo 3: rosado
– quando 30 a 60% da superfície do fruto encontra-se vermelha; subgrupo
4: vermelho – quando o fruto apresenta entre 60 e 90% da sua superfície
vermelha; subgrupo 5: vermelho maduro – quando mais de 90% da superfície
do fruto encontra-se vermelha.
Permite-se, numa mesma embalagem, até três subgrupos (colorações)
consecutivos. Admite-se até 20% de embalagens que excedam aos três
subgrupos (colorações) consecutivos.

7.1.3 Classes ou calibres

De acordo com o maior diâmetro transversal do fruto, o tomate do grupo


oblongo será classificado em três classes e o do grupo redondo, com exceção
do Solanum lycopersicum L., variedade ceraciforme (cereja), em quatro classes
(Tabela 2).
Tolera-se a mistura de tomates pertencentes a classes diferentes,
desde que o somatório das unidades não supere a 10% e pertençam à classe
imediatamente superior e/ou inferior. O número de embalagens que superar
a tolerância para a mistura de classes não poderá exceder a 20% das unidades
amostradas.

394
Manejo na colheita e pós-colheita

7.1.4 Tipos ou graus de seleção ou categoria

De acordo com os índices de ocorrência de defeitos graves e/ou leves


na amostra, o tomate será classificado nos tipos ou categorias especificados
na Tabela 3. São considerados defeitos graves nos frutos: podridão, passado,
queimado, dano por geada e/ou baixas temperaturas e podridão apical. São
considerados defeitos leves: dano superficial, manchas, ocado, deformado e
imaturo (Figura 3).

Tabela 2 - Classificação de frutos de tomate dos grupos oblongo e redondo, em


classes ou calibres, segundo o seu maior diâmetro transversal (f)
Classes ou calibres f (mm)
Fruto oblongo Fruto redondo
Gigante - f > 100
Grande f > 60 80 < f < 100
Médio 50 < f < 60 65 < f < 80
Pequeno 40 < f < 50 50 < f < 65
Nota: Em ambos os grupos, a diferença entre o diâmetro do maior fruto e o menor não poderá exceder a
15 mm, em cada embalagem.

Tabela 3 - Limites máximos de defeitos por tipo, expressos em porcentagem de


unidades da amostra

7.1.5 Requisitos Gerais

Os tomates devem apresentar as características da variedade bem


definidas: serem sãos, inteiros, limpos e livres de umidade externa anormal.
Segundo a Portaria Nº 553, citada anteriormente, será desclassificado e
proibida sua comercialização todo o tomate que apresentar uma ou mais
características a seguir descriminadas: (a) resíduos de substâncias nocivas à
saúde acima dos limites de tolerância admitidos no âmbito do MERCOSUL; (b)
mau estado de conservação, sabor e/ou odor estranho ao produto.

395
Capítulo 13

Defeitos graves

Podridão Passado Dano por geada

Podridão apical Queimado Dano profundo

Defeitos leves

Dano Manchado Ocado Deformado Imaturo


Figura 3 - Classificação de frutos de tomate em diferentes tipos, em função dos
defeitos.
Fonte: Horti & Fruti – Padrão – Programa Paulista para a Melhoria dos Padrões Comerciais e Embalagens
de Hortigranjeiros, s.d.

7.2 LAVAGEM DOS FRUTOS

A lavagem do tomate (Figura 4) após a colheita visa à retirada de


sujidades e de possíveis resíduos de agroquímicos utilizados durante a fase
de produção e que ficaram aderidos externamente aos frutos e também à
desinfestação contra organismos prejudiciais à saúde humana. Assim sendo,
a lavagem, também conhecida como tratamento superficial, pode reduzir
o potencial total de riscos microbianos em alimentos. Esta é uma medida
importante, haja vista que a maior parte da contaminação microbiana ocorre
nas superfícies dos produtos. Se os patógenos não são removidos, desativados
ou, de outra forma, controlados, eles podem se espalhar e contaminar uma
percentagem maior de produtos (FDA, 1998).
A água é também utilizada para remover o calor dos frutos
imediatamente após a colheita no campo, contribuindo para manter por um
maior período o padrão de qualidade dos produtos perecíveis. Entretanto,
para alguns produtos, como, por exemplo, o tomate, a temperatura da água
de lavagem deve ser superior à temperatura dos produtos. Caso contrário,

396
Manejo na colheita e pós-colheita

pode ocorrer um diferencial de pressão que causará a entrada de água no


fruto e com ela patógenos presentes na sua superfície ou na própria água de
lavagem. Se isso ocorrer é improvável que a lavagem reduza os patógenos.
Além disso, a entrada de água pela cicatriz do pedúnculo pode bloquear
as trocas gasosas do fruto (MORETTI, 2003; FERREIRA, 2005b). Nesse caso, o
diferencial de temperatura pode ser atingido com o aquecimento da água ou
a pré-refrigeração a ar dos frutos antes da imersão (FDA, 1998). Entretanto,
deve-se mesmo assim monitorar a temperatura da água de modo que ela
fique ligeiramente superior àquela do fruto.
Dois processos podem ser adotados para a lavagem do tomate: imersão
dos frutos em água ou aspersão. Em ambos os casos a água deverá apresentar
padrão de qualidade para essa finalidade.

A B C

Figura 4 - Etapas do processo de pós-colheita do tomate – lavagem (A), secagem (B),


polimento (C) e classificação do fruto por tamanho (D).

7.2.1 Qualidade da água

A exigência pelo padrão de qualidade da água depende da etapa do

397
Capítulo 13

beneficiamento no qual ela está sendo usada e se um determinado processo é


seguido de processos de limpeza adicional. Por exemplo, há a necessidade de
se usar água de melhor qualidade no enxágue final, antes da embalagem do
que nos tanques de descarga, onde é comum constatar-se terra proveniente
da área de cultivo aderida ao fruto (FDA, 1998).
A utilização de água de qualidade inadequada pode ser fonte direta de
contaminação e um veículo para disseminar essa contaminação nas diferentes
etapas de uso. Sempre que a água entra em contato com produtos olerícolas
frescos, sua qualidade dita o potencial de contaminação patogênica. Se os
patógenos sobrevivem no produto, isto pode causar doenças alimentares
(FDA, 1998).
A qualidade da água em uma linha de beneficiamento e classificação
deve sempre ser monitorada. A capitação de água deve estar sempre distante
de redes de esgoto ou de qualquer outra fonte de contaminação em potencial.
Aves podem contaminar a água através de dejetos (FERREIRA, 2005b).
A água pode ser portadora de diversos micro-organismos, inclusive
linhagens patogênicas de Echerichia coli, Salmonela sp., Vibrio cholerae,
Shigella sp., Cryptosporidium parvum, Giardia lambia, Cyclospora cayetanensis,
Toxiplasma gondii, e os vírus Norwalk e hepatite A. Mesmo pequenos níveis
de contaminação com esses organismos podem resultar em infecções
alimentares. Em 1990 e 1993, dois surtos envolvendo pelo menos 300 casos,
em quatro estados americanos, atribuídos à espécie Salmonela sp., foram
associados ao consumo de tomates frescos. Em ambos os surtos, os tomates
foram rastreados, chegando-se a uma única embaladora, na qual a água
de lavagem foi aparentemente a fonte de contaminação. Recomenda-se,
portanto, que os produtores e embaladores estabeleçam práticas visando
minimizar riscos microbianos passíveis de algum controle (FDA, 1998).
Embora a água seja uma ferramenta útil para reduzir a possível
contaminação, também pode servir de fonte de contaminação ou
contaminação cruzada. A reutilização de água de beneficiamento pode
resultar no acúmulo de cargas microbianas. Assim sendo, os agricultores e
beneficiadores devem estabelecer práticas no sentido de garantir que a
qualidade da água seja adequada para o uso desejado, tanto no início como
no fim de todos os processos após a colheita (FDA, 1998).

398
Manejo na colheita e pós-colheita

7.2.2 Agentes químicos antimicrobianos

A prevenção da contaminação é preferível à aplicação de agentes


químicos antimicrobianos após a ocorrência da contaminação. Entretanto, os
agentes químicos utilizados na água de beneficiamento são, frequentemente,
úteis para reduzir a carga microbiana presente na água e, consequentemente,
na superfície dos produtos. Podem, portanto, proporcionar certa garantia na
minimização de possibilidade de contaminação microbiana. As lavagens com
agentes químicos geralmente reduzem as populações microbianas entre 10 e
100 vezes (FDA, 1998).
A eficácia de um agente antimicrobiano depende do seu estado físico
e químico das condições do tratamento (por exemplo, temperatura e pH da
água e tempo de contato), da resistência contra patógenos e da natureza da
superfície do produto, além disso, do teor de matéria orgânica presente na
água e da carga microbiana. À medida que se aumentam os níveis de matéria
orgânica e carga microbiana na água de lavagem, a eficácia dos agentes
químicos antimicrobianos diminui, tornando-os inativos contra micro-
organismos (FDA, 1998).

7.2.3 Saúde e higiene dos trabalhadores

Colaboradores mal higienizados que trabalham com frutos ou hortaliças


aumentam o risco de transmissão de infecções alimentícias. É fundamental
que todos os funcionários sejam treinados para que possam seguir as boas
práticas higiênicas. Assim sendo, algumas práticas, como estabelecimento de
um programa de treinamento incluindo todos os funcionários, inclusive os
supervisores, devem ser adotadas no sistema. Esse treinamento deverá ter
como meta básica o incentivo à prática da boa higiene, familiarizando todos os
envolvidos no trabalho com as noções básicas de higiene pessoal, os sinais e
sintomas típicos de doenças infecciosas e os seus perigos. Além disso, é mister
orientá-los acerca dos cuidados a serem tomados para evitar a contaminação
das pessoas no ambiente de trabalho, dos produtos manipulados, dos
equipamentos, dos utensílios e, consequentemente, garantir a segurança do
alimento para o consumidor (FDA, 1998).

399
Capítulo 13

7.3 INFRAESTRUTURA DA CASA DE EMBALAGEM

Para o adequado procedimento de todas as etapas de manejo pós-


colheita é fundamental o planejamento e a construção de uma infraestrutura
básica, ou seja, uma casa de embalagem (galpão ou barracão de embalagem
ou packing-house). Sempre que possível, e para a potencialização de seu uso,
essa estrutura deve ser planejada visando à sua utilização para um produto
específico ou vários. A improvisação desse tipo de infraestrutura pode implicar
em gastos futuros para adequá-la ou, em maiores custos operacionais e
prejuízos com o produto. Essa infraestrutura é necessária, pois, segundo a
Portaria Nº 553 (MAPA, 2006a), os tomates deverão ser embalados em locais
cobertos, secos, limpos, ventilados, com dimensões de acordo com os volumes
a serem acondicionados e de fácil higienização, a fim de se evitarem efeitos
prejudiciais à qualidade e conservação dos mesmos.
Na casa de embalagem é preciso manter condições de higiene. A
infraestrutura deve oferecer condições que facilitem o desempenho das
atividades por parte dos funcionários e também auxiliar no rápido manuseio
dos frutos, para não favorecer as condições que acelerem o seu metabolismo
e a sua perecibilidade. A casa de embalagem deve ser próxima da área de
produção, de fácil acesso para os veículos que transportam o produto a partir
do campo e dela para a distribuição, devendo também facilitar os processos
de embarque e desembarque das embalagens.
Outro fator fundamental para a redução do desperdício, acarretado
pela infecção por patógenos, é a higienização dos equipamentos das caixas
de transporte dos frutos e do ambiente de trabalho. Nesse caso, deve-se
proceder à limpeza diária, retirando-se do ambiente frutos descartados na
seleção e procedendo-se à limpeza das superfícies no interior da casa de
embalagem e dos equipamentos e utensílios com produtos recomendados
para essa finalidade.
É também fundamental proteger os recipientes e embalagens limpos que
não foram usados e os novos contra contaminação, durante o armazenamento,
seja contra terra, poeira, ou mesmo contra pragas (ex. roedores). Os
recipientes e as embalagens que não forem usados imediatamente devem
ser armazenados de tal forma que sejam protegidos contra contaminação. Se
esses componentes forem guardados fora da instalação de embalagem, eles
devem ser limpos antes de serem usados (FDA, 1998).

400
Manejo na colheita e pós-colheita

É importante manter as instalações físicas e o seu entorno em boas


condições, visando-se reduzir o potencial de contaminação microbiana dos
frutos. Todos os animais, inclusive mamíferos, aves, répteis e insetos, são
fontes potenciais de contaminação nos ambientes de produção de frutos e
hortaliças, pois são portadores ou podem ser vetores de uma série de agentes
patogênicos, inclusive Salmonella. Em função disso, medidas preventivas
devem ser adotadas para minimizar ou eliminar tais problemas, são elas; (i)
estabelecer um sistema de controle de pragas para a instalação; (ii) manter
os terrenos adjacentes às áreas de embalagem sem resíduos e restos de
lixo guardados inadequadamente, além de se evitar condições favoráveis à
reprodução, abrigo e alimentação de pragas, como roedores e répteis; e (iii)
bloquear o acesso das pragas às instalações internas, como, por exemplos,
os buracos nas paredes, portas, pisos etc., considerando-se, ainda, quando
pertinente, o uso de telas, cortinas contra ventos e armadilhas (FDA, 1998).

7.4 EMBALAGEM

De modo geral, a embalagem é considerada o envoltório, recipiente ou


caixa na qual o produto é acondicionado. É destinada a proteger e assegurar
a sua conservação, bem como facilitar o transporte e movimentação dos
produtos.
Segundo a Portaria Nº 553 (MAPA, 2006a), os tomates devem ser
acondicionados em embalagens novas, limpas, secas e que não transmitam
odor ou sabor estranhos ao produto; devem conter até 22 kg de frutos, exceção
feita àquelas destinadas ao acondicionamento do tomate cereja, que deverão
ter capacidade para até 4 kg. Admite-se até 8% a mais e 2% a menos no peso
indicado na embalagem, e permite-se até 20% de embalagens que excedam
a tolerância estabelecida para peso. As embalagens devem também ser
resistentes para suportarem o manuseio do tomate durante o carregamento e
descarregamento, a compressão pelo empilhamento, o impacto e a vibração
durante o transporte e a alta umidade durante o armazenamento e transporte
(CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
Diversos tipos de embalagem podem ser usadas, variando desde caixas
de madeiras até embalagens plásticas ou de papelão. Nos últimos anos, muitas
alterações aconteceram nas embalagens, mas ainda há predominância da
caixa de madeira tipo K (FERREIRA, 2005b).

401
Capítulo 13

Não são recomendadas embalagens muito profundas, pois o peso


excessivo pode causar danos mecânicos ao produto próximo ao fundo
da embalagem. Deve-se também evitar o uso de caixas que apresentem a
superfície em contato com o fruto com alta rugosidade e abrasiva ou, então,
deve-se utilizar acessórios internos, como bandejas plásticas ou de papelão,
para reduzir a formação de ferimentos no produto. Os danos mecânicos, como
discutidos anteriormente, além de comprometerem a aparência do tomate,
também podem levar a uma alteração do sabor característico e perda de peso.
Segundo recomendações americanas, como, por exemplo, aquelas propostas
pela Modularization, Unitization and Mechanization (MUM), uma embalagem
adequada a tomates deve ter como dimensões externas 500 x 300 x 230 mm
(comprimento, largura, altura) (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
desenvolveu, em 1999, uma embalagem plástica, com as mesmas
dimensões especificadas pela MUM, para acondicionar tomates e pimentões,
apresentando volume interno de 26.000 cm3 e tendo em média a capacidade
para 13 kg de tomate (VILELA; LUENGO, 2002). Por ser menor do que a caixa
tipo K, que possui volume interno de 45.138 cm3, a caixa Embrapa evita o
excesso de pressão interna, preservando o fruto de impactos físicos. Por
ser construída com material de textura lisa e com cantos arredondados, ela
evita danos mecânicos aos frutos. Nesse caso, constatou-se redução de 17%
de perdas com o uso dessa embalagem. Além disso, existem dispositivos de
encaixe para empilhamento que dão maior segurança na movimentação de
carga; é paletizável, facilitando as operações de carga e descarga em grandes
quantidades; é lavável, reduzindo a transmissão de doenças; e autoexpositiva,
isto é, a mesma embalagem pode ser utilizada na colheita e seguir direto
para os pontos de distribuição, reduzindo o manuseio do produto. Embora
apresente valor inicial superior ao da caixa tipo K, estudos comprovaram que,
considerando-se a sua vida útil de cinco anos, além da viabilidade técnica, a
caixa Embrapa é, no entanto, mais viável economicamente (VILELA; LUENGO,
2002).
Para tomates do grupo caqui, de maior valor unitário, mas de textura
menos firme e, portanto, mais sensíveis a cargas de compressão, são
recomendadas caixas de altura menor, em que possa ser disposta apenas
uma camada de produto. Os tomates cereja e pera são normalmente
acondicionados em contentores plásticos individuais, que são posteriormente

402
Manejo na colheita e pós-colheita

arranjados em grupos de quatro (ou múltiplos de quatro), em embalagens de


papelão (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
Estudos com o uso de embalagens de madeira (caixas tipo K), de plástico
e de papelão ondulado revelaram que todas as embalagens contribuem com
algum tipo de injúria aos frutos de tomate, variando o tipo e a intensidade.
Todavia, a maior proporção de frutos danificados e as injúrias mais graves estão
presentes nos tomates acondicionados nas caixas tipo K (CASTRO; CORTEZ;
VIGNEAULT, 2001), indicando serem impróprias à proteção do produto (Figura
2).
Observa-se, entretanto, para a maioria das hortaliças e em particular
para o tomate, que os cuidados na escolha e adequação da embalagem
são pouco considerados, permitindo, assim, que as embalagens também
contribuam para a perda do padrão de qualidade desse fruto.
Pesquisa realizada com os principais atacadistas da Ceagesp mostrou que
a caixa de madeira, com todos os seus inconvenientes, ainda continua sendo
adotada por 100% desses distribuidores, sendo que 20,8% também utilizam
a caixa plástica, e apenas 16,7% utilizam a de papelão ondulado (FERREIRA,
2005a). Embora tanto as embalagens plásticas como as de papelão possam
provocar algum tipo de dano mecânico, patológico ou fisiológico ao tomate,
as injúrias mais graves estão presentes nos frutos das caixas tipo K, devido,
principalmente, à superfície extremamente áspera da madeira e à presença
de nós. Nessa embalagem, os tomates mais prejudicados foram aqueles
localizados na base da caixa, que sofreram a maior carga de compressão,
principalmente os frutos acondicionados entre as ripas de madeira. Os frutos
situados na parte superior da caixa também sofreram sérios problemas de
amassamento, devido à alta resistência mecânica da madeira e ao fato de que,
no geral, a carga ultrapassa a capacidade máxima da caixa tipo K, e a tampa
é pressionada sobre o fruto. Os tomates em contato com a tampa, laterais ou
base da caixa tipo K foram os que sofreram mais abrasões (47% a mais) que
aqueles localizados no meio da caixa (CASTRO; CORTEZ; JORGE, 2001).
Devido à falta de padronização, as caixas tipo K são empilhadas de forma
desordenada. Essa condição pode acarretar compressão e produzir danos
irreparáveis aos frutos, entre eles, cortes profundos, furos (devido a pregos)
e amassamento. Os defeitos criados tornam-se fontes de inoculação para
patógenos, proporcionando a formação de podridões. Tomados em conjunto,
esses aspectos depreciam o valor comercial do tomate, prejudicando o lucro

403
Capítulo 13

do agricultor e do comerciante (ANDREUCCETTI; FERREIRA; HONÓRIO, 2004;


CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005)
Há relatos de agricultores de que caixas não preenchidas até sua
capacidade máxima provocam maiores danos no tomate devido à excessiva
vibração dos frutos durante o transporte. Todavia, para o transporte num
percurso de 100 km, em estrada asfaltada, observou-se que preenchendo
a caixa com tomates até sua capacidade máxima obteve-se 26% de frutos
danificados; quando se excedeu a capacidade máxima, as perdas foram
de 36%; quando os tomates foram acondicionados em caixas de papelão
ondulado, as perdas foram de apenas 16% (MADI, 1977, apud CASTRO;
CORTEZ; JORGE, 2001).
Como as caixas plásticas normalmente utilizadas são também
causadoras de danos mecânicos em tomates, recomenda-se utilizar aquelas
que apresentam fundo liso, ou, então, de embalagens de papelão ondulado,
que, de modo geral, protegem melhor os tomates e produzem menos injúrias
mecânicas (CASTRO; CORTEZ; JORGE, 2001). Além das características de sua
superfície, a embalagem de papelão é normalmente projetada para uma menor
carga de frutos. O principal inconveniente das caixas de papelão ondulado
é a redução de sua resistência estrutural quando expostas a ambientes de
alta umidade. Para resolver tal problema, recomendam-se as embalagens
de papelão desenvolvidas com tecnologia que barram a umidade. Dessa
forma, mantêm sua integridade mesmo após longos períodos de exposição a
condições climáticas adversas (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
Existe, no mercado, o sistema modular de embalagens de papelão
ondulado (Common Footprint Standart), que estabelece dimensões
padronizadas de largura e comprimento das embalagens de papelão ondulado
a serem utilizadas e determina também o dimensionamento e posicionamento
exato das travas de empilhamento, para que tais embalagens tenham a
possibilidade de serem intercambiáveis em qualquer parte do mundo. A
altura das embalagens varia de acordo com as características e o peso do
produto olerícola a ser acondicionado, o que permite ampla versatilidade às
embalagens (ABPO, 2006). Esse sistema, padronizado internacionalmente,
oferece como vantagens: (i) a preservação da qualidade, da integridade e
da aparência dos produtos transportados, desde a colheita até o consumo
final; (ii) a proteção contra choques e avarias mecânicas; (iii) a redução
de perdas devido à redução do manuseio; (iv) a otimização da ventilação

404
Manejo na colheita e pós-colheita

e do resfriamento do produto; (v) a plena estabilidade à paletização e alta


resistência ao empilhamento; (vi) a possibilidade de formação de carga mista
atendendo às necessidades dos produtores, atacadistas e varejistas; (vii) a
redução da área necessária ao armazenamento; e (viii) evita a propagação
de pragas entre lavouras, pela não reutilização de suas embalagens; dentre
outras (ABPO, 2006).
Além da proteção, a embalagem deve também possuir boa
apresentação para estimular a comercialização, trazer informações sobre
o produto e a sua origem (rotulagem). Isso permite a rastreabilidade do
produto e oferece maior transparência e segurança para o consumidor. Além
disso, as embalagens devem ser paletizáveis. A paletização tem o objetivo de
agrupar as embalagens de determinado produto em unidades para agilizar
as operações de carregamento e descarregamento, otimizar o transporte
e economizar espaços em galpões de armazenamento. Nessa operação,
as embalagens são empilhadas sobre o palete, geralmente de madeira,
descartável ou reutilizável, formando uma unidade. Por isso, as dimensões das
embalagens usadas no acondicionamento do tomate devem ser compatíveis
com aquelas dos paletes (1,0 x 1,20 m; 1,0 x 1,0 m, dentre outras) (CASTRO;
CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).

7.5 ARMAZENAMENTO REFRIGERADO

O uso da refrigeração é importante para reduzir a velocidade


de amadurecimento e senescência do produto (devido à redução no
metabolismo respiratório e biossíntese de etileno), a taxa de crescimento dos
organismos deterioradores, e assim diminuir o desenvolvimento da podridão
e enrugamento dos frutos (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005). Embora a
refrigeração, quando utilizada adequadamente, seja um meio eficiente para
desacelerar o processo de senescência dos frutos de tomate e aumentar a sua
vida pós-colheita, ela é usada apenas por uma minoria de distribuidores, que
alegam alto custo do investimento, dificuldade de manutenção adequada
e consumo elevado de energia (FERREIRA, 2005a). Todavia, é altamente
recomendável a utilização de alguma tecnologia de retirada de calor dos
frutos o mais rápido possível após a colheita, bem como do ambiente em que
esse fruto se encontra. Isso permitirá maior flexibilidade para se competir no
mercado.

405
Capítulo 13

A importância em se retirar calor dos frutos justifica-se pelo efeito da


temperatura no metabolismo do fruto durante seu amadurecimento. Quando
o calor aumenta, a taxa respiratória também aumenta. Dentro da faixa de
temperatura entre 0º e 30ºC, a cada 10ºC de aumento da temperatura, a
taxa respiratória pode duplicar, triplicar ou mesmo quadruplicar (HONÓRIO;
MORETTI, 2002). O aumento da atividade respiratória provoca modificações
profundas nos constituintes químicos, principalmente em condições não
controladas, levando ao consumo de matéria seca e à rápida senescência
dos frutos, interferindo, assim, na qualidade dos mesmos (WILLS et al., 1981).
Assim sendo, recomenda-se que se realize a colheita do tomate nas primeiras
horas do trabalho diário, período em que as temperaturas são menos elevadas
e, também, que tanto o transporte das caixas para o local de classificação e
embalagem como o resfriamento dos frutos ocorram rapidamente.
De um modo geral, o meio a ser utilizado para se reduzir calor do
fruto varia com o tipo de fruto, pois cada um ou grupos com características
semelhantes têm comportamentos distintos. Alguns são mais tolerantes ao
resfriamento, ao passo que outros são bastante sensíveis quando expostos a
temperaturas mais baixas, inferiores a 10oC ou mesmo 15oC. O fruto do tomate
é classificado como sensível ao frio (HONÓRIO; MORETTI, 2002).
Recomenda-se o resfriamento rápido do tomate vermelho logo após
a colheita, antes ou após ser introduzido nas embalagens, e antes de ser
armazenado ou transportado, para prolongar a vida de prateleira do produto.
Dentre os métodos de resfriamento, o ar-forçado é o mais indicado para
tomates vermelhos. Os tomates verdes, que não demandam resfriamento
rápido, podem ser levados após a colheita diretamente para a armazenagem
em câmara fria (método conhecido como room cooling) (CASTRO; CORTEZ;
VIGNEAULT, 2005).
Para o tomate, recomenda-se que os frutos sejam levados para
câmara fria regulada para uma faixa de temperatura apropriada ao estádio
de amadurecimento em que se encontra. Isso porque a temperatura a qual
os tomates são submetidos assim como o seu estádio de amadurecimento
influenciam no tempo de conservação dos frutos. Os tomates com mais de
50% de sua superfície com coloração vermelha podem ser armazenados entre
7º e 10ºC, em câmara fria com umidade relativa de 85 a 90%. Tomates verdes
devem ser armazenados a temperaturas de 13º a 16ºC e mesmos níveis de
umidade especificados anteriormente. Dessa forma, o produto apresentará

406
Manejo na colheita e pós-colheita

amadurecimento lento e gradual, sem problemas de deterioração (CASTRO;


CORTEZ; VIGNEAULT, 2005). Os frutos com 30% de amadurecimento podem
ser armazenados à temperatura entre 10º e 12oC (GAYET et al., 1995).
Manter a umidade entre 85 e 90% dentro das câmaras de armazenamento
é essencial para minimizar a perda de água dos tomates. Aqueles com perda
de peso de apenas 3% apresentam sintomas visíveis de enrugamento, que
afeta o padrão de qualidade e, consequentemente, o valor do tomate no
mercado e a possibilidade de comercialização do produto. Ademais, a perda
de peso do produto também representa perda direta de peso comercializável.
Tomates mantidos sob condições ambientes, com temperaturas entre 24º e
27ºC e umidade relativa de aproximadamente 60% podem perder mais de
0,40% de peso diariamente. Deve-se estar atento, também, à armazenagem
de tomates a umidades muito altas, acima de 90%, condição esta que pode
favorecer a incidência de doenças (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
O tomate é um fruto suscetível ao frio, por isso a redução da temperatura
poderá, dependendo do tempo de exposição, acarretar distúrbios fisiológicos
e predisposição ao ataque de patógenos. Armazenamento sob temperaturas
mais baixas que as das faixas de segurança descritas anteriormente pode
promover os sintomas conhecidos como injúria por frio (chilling injury) (WILLS
et al., 1981).
É comum observar que frutas e hortaliças com injúria por frio são
mais facilmente atacadas por micro-organismos fitopatogênicos, pois a
desordem fisiológica causa ruptura e consequente liberação de compostos,
como açúcares, ácidos orgânicos e aminoácidos, que dão origem a um meio
de cultura propício ao desenvolvimento de micro-organismos (HONÓRIO;
MORETTI, 2002). Além disso, a injúria por frio em tomate pode levar a
lesões na superfície dos frutos e à formação de polpa aguada; alterações na
ultraestrutura e biofísica da membrana plasmática, na composição de lipídeos
de membranas, inclusive promovendo efeito deletério em cloroplastos, que
afeta processos associados à transformação de pigmentos no pericarpo do
fruto (WHITAKER, 1994).
Para frutos com a coloração verde, na maioria das vezes não se observam
a perda de clorofila, a hidrólise das substâncias pécticas e a síntese de licopeno.
Porém, constatam-se danos fisiológicos causados pelo frio, sob a forma de
enfraquecimento dos tecidos e de manchas marrons que se convertem em
pontos vulneráveis à podridão por Alternaria, à podridão mole bacteriana e à

407
Capítulo 13

necrose bacteriana (GAYET et al., 1995).


A gravidade da injúria por frio é diretamente proporcional à temperatura
de armazenamento e ao tempo de exposição às condições inadequadas:
quanto mais abaixo da temperatura crítica estiver armazenado o produto,
mais rapidamente irá surgir e mais grave será a injúria, bem como quanto
maior o tempo de exposição, maior será a gravidade da desordem (HOBSON,
1987). No entanto, tais sintomas só se tornam visíveis quando os frutos são
expostos a temperaturas mais elevadas (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005)
e são mais graves em frutos “verde-maduro” que em frutos em estádios mais
avançados de amadurecimento (AUTIO; BRAMLAGE, 1986).
Outro aspecto importante que deve ser respeitado no interior das
câmaras frias é a velocidade de circulação do ar, que deve ser suficiente
somente para a retirada do calor produzido no processo de respiração dos
frutos. A exposição dos frutos a correntes de ar muito intensas facilita a
transpiração e acelera o processo de desidratação. Nesse sentido, a orientação
do empilhamento das caixas deve ser observado. O empilhamento deve ser
adequado para o movimento do ar, facilitando a remoção do calor do fruto
recém-colhido no campo e, portanto, seu resfriamento rápido (CASTRO;
CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).
Os tomates devem ser mantidos continuamente refrigerados às
temperaturas recomendadas até serem comercializados. Se ocorrer o
reaquecimento, interrompendo a “cadeia do frio”, muitos dos benefícios
obtidos no resfriamento imediato podem ser perdidos. A quebra da cadeia
do frio é mais prejudicial ao tomate verde que o atraso no seu resfriamento.
Quando o tomate é removido da câmara fria, ocorre condensação de água
em sua superfície que, associada à elevação de temperatura, pode acelerar
a atividade de micro-organismos e, consequentemente, a deterioração do
produto. Em geral, o tomate verde que sofre quebra da “cadeia do frio”, seja
no transporte, seja no mercado, adquire coloração amarelada, textura menos
firme e apresenta grande incidência de fungos. Se por um lado armazenar
os tomates a temperaturas superiores a 21ºC acelera seu amadurecimento e
deterioração, mantê-los a temperaturas entre 0º e 7ºC (frutos vermelhos) ou
de 0º a 12,5ºC (frutos verdes) pode igualmente comprometer sua qualidade
(CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT, 2005).

408
Manejo na colheita e pós-colheita

7.6 TRANSPORTE

No transporte, prolonga-se o ambiente da casa de embalagem e


de armazenamento (Figura 5). Portanto, devem ser considerados vários
dos cuidados adotados anteriormente naqueles locais. Por exemplo, a
compatibilidade entre os produtos no caso de cargas mistas, a manutenção
da cadeia de frio, os cuidados com a higiene e contra danos aos frutos, a
adequação das embalagens etc.
Segundo a Portaria Nº 553 (MAPA, 2006a), o transporte deve assegurar
a conservação adequada dos produtos, para manutenção do seu padrão de
qualidade. Condições de transporte inadequadas afetam em muito o padrão
de qualidade. Estudos demonstram que a porcentagem de danos físicos pode
aumentar em até oito vezes, comparando-se o produto retirado diretamente
da planta até a chegada ao galpão de beneficiamento e classificação (FERREIRA,
2005b). Isso porque os tomates transportados a longas distâncias estão
frequentemente sujeitos a condições que podem gerar o desenvolvimento
de danos mecânicos (por impacto, compressão, cortes e abrasões). O uso de
acessórios internos, como bandejas divisórias de polpa de celulose moldada,
poderá reduzir os danos sofridos pela carga (CASTRO; CORTEZ; VIGNEAULT,
2005).

Figura 5 - Transporte refrigerado do tomate.

409
Capítulo 13

Evitar os riscos de contaminação cruzada de outros alimentos ou outras


fontes que não sejam alimentos é importante durante o carregamento,
descarregamento, armazenamento e operações de transporte. Além disso,
os agricultores, embaladores, varejistas e atacadistas envolvidos com o
transporte dos produtos perecíveis devem garantir que as exigências sanitárias
referentes a caminhões e outros veículos sejam atendidas nas diferentes fases
da cadeia de transporte. Para tanto, os veículos devem ser inspecionados,
visando verificar se estão limpos, se apresentam odores indesejáveis e se
têm sujeira ou entulho antes de começar o processo de carregamento, para
evitar a contaminação microbiana. Deve-se acompanhar, também, em todas
as etapas, a manutenção da temperatura adequada (FDA, 1998). O transporte
refrigerado é essencial para evitar desperdício dos benefícios ganhos com a
armazenagem refrigerada e assegurar que a qualidade do tomate colhido
seja preservada até sua comercialização, contribuindo para o fornecimento
de frutos de maior aceitabilidade no mercado consumidor (CASTRO; CASTRO;
VIGNEAULT, 2005).

8. RASTREABILIDADE

A rastreabilidade é um sistema estruturado que permite resgatar


a origem do produto e todas as etapas de processos produtivos adotados
no campo e nas casas de embalagem (ANDRIGUETO, 2002). Ou seja, é a
capacidade de rastrear produtos alimentícios, inclusive frutas e hortaliças
frescas, de volta à sua fonte (produtores, embaladores etc.).
Um sistema de identificação da fonte de um produto não pode impedir
a ocorrência de um risco microbiológico que pode levar a um surto inicial
de doença alimentar. Entretanto, a capacidade de identificar a fonte de
um produto através do rastreamento pode servir como um complemento
importante para boas práticas agrícolas e administrativas que visam impedir
a ocorrência de problemas relacionados à segurança do alimento. As
informações obtidas através de uma investigação de rastreamento podem ser
úteis para a identificação e eliminação de trilhas de riscos (FDA, 1998).
Atualmente, a legislação exige a marcação ou rotulagem dos produtos
vegetais. As embalagens devem ser rotuladas ou etiquetadas em lugar de
fácil visualização e de difícil remoção, contendo no mínimo as seguintes
informações em caso de exportação (MAPA, 2006a): nome do produto,

410
Manejo na colheita e pós-colheita

cultivar, grupo, classe, tipos, peso líquido, país de origem e zona de produção.
De acordo com os regulamentos de cada país, devem constar ainda nome e
domicílio do importador, nome e domicílio do embalador e do exportador e
a data do acondicionamento.
Em se tratando de produto para a comercialização no mercado interno,
as informações obrigatórias são as seguintes: identificação do responsável
pelo produto (nome, razão social e endereço), número do registro do
estabelecimento no MAPA, origem do produto, grupo, classe, tipo, peso
líquido e data do acondicionamento.

9. POSSIBILIDADE DE USO COMO PRODUTO MINIMAMENTE PROCESSADO

A comercialização de tomates na forma minimamente processada é


uma realidade em alguns países desenvolvidos. Entretanto, é ainda bastante
limitada a oferta do produto. Sua utilização tem sido mais ampla no setor
de alimentação coletiva (food service). Após o fatiamento, um dos principais
problemas está relacionado com a perda do tecido locular, desidratação
das fatias, formação de áreas de aspecto encharcado (watersoaked areas) e
desenvolvimento de doenças. Trabalhos conduzidos na Embrapa Hortaliças
(dados não publicados) demonstraram que o enxágue individual de fatias
para a retirada do suco celular pode ser uma saída para o problema de áreas
encharcadas. Um dos grandes desafios é a escolha da cultivar ou híbrido
mais adequado, notadamente em função do elevado teor de água dos
mesmos. Hong e Gross (2001) verificaram que tomates vermelhos fatiados e
armazenados sob atmosfera modificada mantiveram-se com boa qualidade
por períodos de até 14 dias.

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414
Manejo na colheita e pós-colheita

Foto: Evair Vieira de Melo.


Capítulo 14
COMERCIALIZAÇÃO DO TOMATE
Gustavo Costa de Almeida
Tarcísio da Silva

1. introdução

O tomate comercializado para consumo in natura é quase totalmente


do grupo Santa Cruz. Esse tipo de tomate se caracteriza por apresentar dois a
três lóculos, sendo que os frutos das cultivares atualmente plantadas pesam
entre 160 e 200 gramas. Os frutos se caracterizam ainda por apresentarem
notável resistência ao manuseio inadequado que ainda é comumente
visto nos diversos mercados devido principalmente ao uso de embalagens
impróprias durante o transporte e comercialização. Nesse sentido, destaca-
se para o uso quase generalizada da caixa “K”, que responde por parte dos
danos causados nessa olerícola. As duas Centrais de Abastecimento pioneiras
no Brasil foram construídas na década de 60, sendo uma na capital paulista e
outra em Recife. A maioria das outras Centrais de Abastecimentos S.A. (Ceasas)

415
Capítulo 14

existentes no país foram criadas a partir de iniciativa do governo federal ao


longo da década de 70, visando principalmente regularizar o abastecimento
de produtos alimentícios (principalmente hortícolas) nos grandes centros
urbanos. Atualmente, as Ceasas estão presentes em 22 estados da Federação,
localizadas principalmente em cidades de médio e grande porte.
Inicialmente, a Ceasa foi concebida de modo a dar prioridade na
comercialização de hortigranjeiros. Atualmente, aqueles entrepostos criados
em meados da década de 70 sofreram influência da modernização e mudaram
bastante a sua linha de atuação, no sentido de optarem pela diversificação de
seus produtos, isso sem abandonar seu objetivo inicial (de cunho social). A
logística envolvida nesse tipo de organização traz consigo inúmeros resultados
positivos no processo. Na comercialização de hortigranjeiros (um dos pilares
deste mercado), a concentração em um só ponto favorece a diminuição de
custos com o transporte, torna as transações comerciais mais rápidas (o que
contribui com a manutenção da qualidade do produto em função de sua alta
perecibilidade) e facilita a formação do preço, assim como a aproximação
entre os vários elos da cadeia produtiva.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a comercialização do
tomate do grupo Santa Cruz nas principais Centrais de Abastecimento da
região Sudeste, Companhias de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
(Ceagesp), Ceasa Espírito Santo, Ceasa Grande Rio e CeasaMinas (Unidade
Grande Belo Horizonte) e descrever importantes pontos que devem ser
trabalhados nesse processo de comercialização (legislação específica,
rotulagem e marketing). Essa descrição visa propiciar aos agentes da cadeia
produtiva a estarem aptos para avaliar o comportamento da comercialização
desta hortaliça nas principais Ceasas da região Sudeste, observando o
comportamento dos preços e a oferta do produto ao longo do ano.

2. COMERCIALIZAÇÃO DE TOMATE SANTA CRUZ NAS CEASAS DA REGIÃO


SUDESTE

Uma vez que as Ceasas possuem um sistema eficiente de acompanha-


mento de preços, possibilita fornecer excelentes informações que podem
subsidiar o planejamento da oferta, principalmente pelos agricultores. Os
dados do comportamento da comercialização do tomate do grupo Santa Cruz
nas principais Centrais de Abastecimento da região Sudeste mostram que na

416
Comercialização do tomate

Ceagesp houve um considerável aumento na oferta de tomate a partir de


2004, enquanto nos entrepostos da Ceasa Minas e do Espírito Santo a oferta
vem se mantendo praticamente estável, com um decréscimo neste indicador,
a partir do referido ano na Central do Rio de Janeiro seguido de um aumento
a partir de 2006 (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Oferta (t.) total entre os anos de 2002 e 2007.

No Gráfico 2, observa-se situações distintas entre as Ceasas. Os preços


são uma média dos últimos quatro anos corrigidos para o mês de novembro
de 2007, através do IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas. Nas séries de valores,
não se observa homogeneidade ou alguma tendência de crescimento/
decrescimento, com exceção dos valores praticados no Rio de Janeiro, que
apresenta indicação de crescimento nos valores de comercialização. Isso
pode ser explicado, em parte, por uma possível diminuição da oferta dessa
solanácea nos últimos anos.
Dentre as Centrais de Abastecimento da região Sudeste, a Ceagesp
possui a maior oferta de tomate em todos os meses do ano, ocorrendo uma
diminuição no período compreendido entre os meses de fevereiro a setembro.
Já as Ceasas dos Estados de Minas Gerias e Espírito Santo possuem uma oferta
mais regular durante todo o ano (Gráfico 3).

417
Capítulo 14

A tomaticultura desenvolveu-se e disseminou-se por várias áreas da


região Sudeste. Esta característica proporciona uma excelente elasticidade de
oferta, em diferentes épocas do ano, resultando, assim, numa boa regularidade
de fornecimento do produto aos entrepostos sem grandes e indesejáveis
oscilações.

Gráfico 2 - Preço médio de comercialização no atacado.

O mercado paulista, mesmo tendo a maior oferta de tomate, tem


apresentado, também, o maior preço pago ao fornecedor desse fruto nos
últimos anos, exceto no mês de janeiro, quando o preço se equiparou ao
obtido no Espírito Santo, que no mês de fevereiro possibilitou um valor médio
ainda maior.
A Ceasa do Espírito Santo vem apresentando o segundo melhor preço
médio para o tomate na região Sudeste entre os meses de março, mês que se
aproxima do preço do quilo na Ceagesp, e outubro. No Rio de Janeiro e em
Minas Gerais vem ocorrendo de forma alternada, sendo que a Ceasa de Belo
Horizonte possui uma estabilidade maior no preço pago ao quilo do produto
(Gráfico 4).

418
Comercialização do tomate

Gráfico 3 - Media mensal ofertada entre os anos de 2002 a 2007.

Gráfico 4 - Media mensal do preço (kg/R$) entre os anos de 2002 a 2007.

419
Capítulo 14

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2002-2003 (Tabela


1), a região Sudeste, maior produtora de tomate do Brasil, apresenta também
o maior consumo per capita dessa hortaliça no país, não havendo, nesse
estudo, distinção entre variedades adquiridas. Por outro lado, a região Norte
apresenta o menor consumo per capita, não havendo grandes diferenças
entre as regiões Nordeste, Sul e Centro Oeste (AGRIANUAL, 2005).
Considerando o consumo de tomate entre os estados da região
Sudeste, observa-se uma similaridade no comportamento per capita, com
exceção de São Paulo, que apresenta um consumo ligeiramente superior aos
demais estados.

Tabela 1 - Consumo de tomate, observado para Brasil e grandes regiões

Fonte: IBGE – POF (2002/2003).

Tabela 2 – Consumo de tomate, observado para região sudeste e seus estados

Fonte: IBGE – POF (2002/2003).

3. LEGISLAÇÃO NA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS HORTÍCOLAS



A legislação para a comercialização de produtos hortícolas no Brasil
vem se modernizando com vistas a acompanhar as tendências mundiais nesse
segmento da cadeia produtividade, que tem enfatizado a importância da
comercialização de um alimento seguro e de alta qualidade. As informações
legais sobre padronização, classificação, embalagens e rotulagem a seguir não
estão na íntegra, sendo dado o destaque para a comercialização de produtos
hortícolas.

420
Comercialização do tomate

3.1 A CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS HORTÍCOLAS

A Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000, institui a classificação de


produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico (BRASIL,
2000). Segundo essa lei, entende-se por classificação o ato de determinar as
qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto vegetal, seus subprodutos
e resíduos de valor econômico, com base nos padrões oficiais, físicos e/ou
descritos. A lei em questão está sujeita à organização normativa, à supervisão
técnica, ao controle e à fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA). A sua aplicação é adotada em todo o território
nacional, sendo a classificação obrigatória para os produtos vegetais, seus
subprodutos e resíduos de valor econômico, quando destinados diretamente
à alimentação humana, nas operações de compra e venda do poder Público
e nos portos, aeroportos e postos de fronteiras, quando da importação. A
classificação será realizada uma única vez desde que o produto mantenha
sua identidade e qualidade.
O MAPA, mediante o credenciamento, pode autorizar a exercer a
classificação:
1 - os Estados e o Distrito federal, diretamente ou por intermédio de
órgãos ou empresas especializadas;
2 - as cooperativas agrícolas e as empresas ou entidades especializadas
na atividade;
3 - as bolsas de mercadoria, as universidades dos institutos de pesquisa.
A lei 9.972 é regulamentada pelo decreto nº 6.268, de 22 de novembro
de 2007, com informações detalhadas sobre o processo de classificação,
padronização, cadastro geral de classificação e fiscalização (BRASIL, 2000).

3.1.1 Embalagem

A Instrução Normativa Conjunta SARC/ANVISA/INMETRO nº 009, de


12 de novembro de 2002, estabeleceu que as embalagens destinadas ao
acondicionamento de produtos hortícolas in natura devem atender aos
seguintes requisitos (BRASIL, 2002):
1 - as dimensões externas devem permitir empilhamento, preferencial-
mente, em palete com medidas de 1,00 m (um metro) por 1,20 (um metro e
vinte centímetros);
2 - devem ser mantidas íntegras e higienizadas;
421
Capítulo 14

3 - podem ser descartáveis ou retornáveis, as retornáveis devem ser


resistentes ao manuseio a que se destinam, às operações de higienização e
não devem se constituir em veículos de contaminação;
4 - devem estar de acordo com as disposições específicas referentes
às Boas Práticas de Fabricação, ao uso apropriado e às normas higiênico-
sanitárias relativas a alimentos;
5 - as informações obrigatórias de marcação ou rotulagem, referentes
às indicações quantitativas, qualitativas e a outras exigidas para o produto,
devem estar de acordo com as legislações específicas estabelecidas pelos
órgãos oficiais envolvidos.
A Instrução ainda diz que o fabricante ou fornecedor de embalagens
de produtos hortícolas deve estar identificado nas mesmas, constando no
mínimo a sua razão social, o número do CNPJ e o endereço.
O cumprimento do disposto nesta Instrução Normativa Conjunta, no
que diz respeito à verificação das informações relativas à classificação do
produto constantes dos rótulos das embalagens, é de competência do órgão
técnico competente do MAPA. A verificação do cumprimento dos aspectos
higiênicos-sanitários compete ao Ministério da Saúde e ao Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e por parte do Inmetro,
aqueles atinentes à indicação quantitativa das embalagens.

3.1.2 Rotulagem

Através do Inmetro foi aprovada a portaria nº 157, de 19 de agosto de


2002, que estabelece a forma de expressar o conteúdo líquido disponível para
comercialização. Portanto, pré-medido é aquele embalado e medido sem a
presença do consumidor e em condições de comercialização (BRASIL, 2002).
O conteúdo líquido é expresso através de rotulagem, que é toda
inscrição, legenda, imagem ou toda matéria descritiva ou gráfica que seja
escrita, impressa, estampada, gravada em relevo ou litografada ou colocada
sobre a embalagem na vista principal. A indicação quantitativa do conteúdo
líquido dos produtos pré-medidos deve constar na rotulagem da embalagem,
ou no corpo dos produtos, na vista principal, e deve ser de cor contrastante
com o fundo onde estiver impressa, de modo a transmitir ao consumidor
uma fácil, fiel e satisfatória informação da quantidade comercializada. Para
produtos pré-medidos comercializados em unidades de massa ou volume, a

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Comercialização do tomate

altura mínima dos algarismos da indicação quantitativa do conteúdo líquido


deverá obedecer à Tabela 3.

Tabela 3 - Altura mínima dos algarismos da indicação quantitativa do conteúdo


líquido

A altura mínima da unidade de medida (g ou kg) deverá ser 2/3 da


altura dos algarismos.
Em complementação ao processo de modernização e normatização do
mercado de produtos hortícolas, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Regulamento Técnico sobre a
rotulagem de alimentos embalados, que ficou estabelecida como Resolução
– RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002 (BRASIL, 2002). Esse regulamento se
aplica à rotulagem de todo alimento que seja comercializado, independente
da sua origem, embalado na ausência do cliente, e pronto para oferta ao
consumidor.
A RDC nº 259 relata que não é exigida a indicação do prazo de validade
para frutas e hortaliças frescas, incluindo as batatas não descascadas, cortadas
ou tratadas de outra forma análoga. Porém, a data de embalamento deve ser
registrada no rótulo. Devem constar no painel principal a denominação de
venda do alimento, sua qualidade, pureza ou mistura, quando regulamentada,
e a quantidade nominal do conteúdo do produto em sua forma mais relevante
em contraste de cores que assegure sua correta visibilidade.
O processo de rotulagem é simples e barato, garantindo transparência
na comercialização de produtos hortícolas. Identificar é dar o nome ao
produto vegetal, processo que premia o bom produtor e garante segurança
ao consumidor. As informações mínimas necessárias para a rotulagem são:

a) Identificação do responsável
• Nome do produtor/Atacadista/Associação/Cooperativa
• Endereço completo

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Capítulo 14

• Inscrição de Produtor na Receita Estadual (se pessoa física)


• CNPJ da Receita Federal (se pessoa jurídica)

b) Informações sobre o produto


• Nome e variedade
• Data de embalamento

c) Quantidade do produto
• Peso líquido

Vários modelos de rótulos podem ser utilizados no processo de


rotulagem:

Figura 1 - Produtor pessoa física. Figura 2 - Produtor pessoa jurídica.

Figura 3 - O rótulo é do atacadista que Figura 4 - O rótulo é de um grupo de


comprou do produtor e quer produtores e identifica o
colocar a sua marca no produto. produtor que emitiu a nota
fiscal de produtor.

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Comercialização do tomate

Figura 5 - O rótulo é da cooperativa ou


associação dos produtores.

Figura 6 - O rótulo é do produtor e seu


representante comercial quer
ser identificado.
Obs.: Os exemplos de rótulos foram criados pelo Centro de Qualidade em Horticultura da Ceagesp.

4. UTILIZAÇÃO DO MARKETING NA COMERCILIZAÇÃO DE FRUTAS E


HORTALIÇAS

A palavra “marketing” é amplamente difundida no meio comercial.


Praticar marketing é saber o que e a quem atingir com as ações. A partir do
momento que se conhece o que e a quem atingir, parte-se para a segunda
etapa, que é conhecer os desejos dos clientes. A empresa, no caso o produtor,
deve investir na identificação das demandas, na realização de pesquisas de
mercado, no monitoramento pós-venda, além do constante aprimoramento
das técnicas de venda.
Atualmente, tem-se um novo tipo de consumidor, logo entender as
mudanças nos desejos deste consumidor, que altera gradativamente seu hábito
alimentar, é fundamental para compreender como as empresas ao longo das
cadeias agroalimentares devem trabalhar para ter sucesso. Segundo Neves
e Castro (2003), os fatores mais importantes para o consumidor na escolha
de alimentos no momento da compra são frescor, nutrição, sabor, segurança,
preço e conveniência. Os consumidores atuais têm uma preocupação especial
com os itens segurança e qualidade do que é consumido. Além disso, na
medida em que o consumidor fica sujeito a um número maior de doenças do
tipo cardiovasculares, diabetes, câncer, obesidade e osteoporose, muda-se os
hábitos alimentares.
Num plano de marketing é fundamental que o agricultor considere
os diferentes tipos de clientes, visando ter o melhor sucesso possível nas

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Capítulo 14

transações. Nesse contexto, no comércio o produtor pode ter três clientes: o


atacadista, o varejista e, recentemente, a venda direta para os consumidores,
comum na comercialização de produtos orgânicos. Logo, o produtor deve
conhecer o que cada cliente deseja em relação ao produto. Um atacadista,
por exemplo, pode ter o interesse em um tomate mais verde para que se
prolongue o tempo da comercialização, enquanto uma dona de casa, num
final de semana, pode preferir por um tomate mais vermelho para que possa
ser feito um molho no dia. Também é importante ter conhecimento se o
cliente quer trabalhar com quantidade ou qualidade.
Para o sucesso do empreendimento, que consiste em melhor
atendimento do cliente, o agricultor e/ou fornecedor deve buscar aproximar-
se e conhecer melhor as expectativas do cliente. É interessante que o produtor
adote a estratégia de levar o cliente na sua propriedade para que ele conheça
o sistema de produção. É necessário também que o próprio produtor conheça
o local de venda de sua mercadoria, obtendo assim subsídios para interferir
no seu sistema produtivo, melhorando o padrão de qualidade de seu produto.
Essas ações permitirão que o agricultor amplie o conhecimento do processo
de comercialização, objetivando maior poder de negociação e, dessa forma,
facilitando a fidelização entre o comprador e o fornecedor.
Realizar campanhas com informações sobre a safra do produto,
qualidade nutricional e degustação pode, às vezes, ser inviável para um
produtor. Porém, nessa situação existe o “marketing institucional”, que é o
agrupamento de vários produtores que realizarão a campanha de promoção
do produto. Vale a pena lembrar que a promoção, nesse caso, estimula o
produto e não a marca. Segundo cálculos de Ronald Muraro, pesquisador
da Universidade da Flórida, a cada US$ 1,00 investido pelos produtores para
promover o suco de laranja no país, US$ 6 retornam para o setor (VICENTINI;
SARDELLA; VIDAL, 2004).
Algumas estratégias de marketing, já utilizadas por empresas do
ramo, podem fazer a diferença na hora de conquistar o cliente, tais como
degustação nos pontos de venda, participação em feiras, distribuição
de folders explicativos sobre o produto, controle de qualidade, produtos
etiquetados de forma individual, embalagens diferenciadas e manutenção
do bom relacionamento com os clientes.
Para concretizar o processo de fidelização com o cliente, quatro pontos
são fundamentais:

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Comercialização do tomate

• regularidade na oferta;
• quantidade adequada;
• qualidade;
• preço compatível com o mercado.
Pode-se observar que para atingir esses quatros pontos fundamentais,
o ideal é que os produtores se associem. A cooperativa é uma organização
capaz de comercializar os produtos de seus cooperados em condições mais
vantajosas, a médio e longo prazo, do que aqueles que agem de forma
individual. Além disso, o poder de barganha é maior para comprar insumos,
pagar assistência técnica e vender o produto, alcançando melhores preços ao
longo de um ano agrícola.
Na França, essa profissionalização surgiu com um grupo de 80 produtores
de kiwi que se associaram e criaram a marca “Oscar”. Essa associação cresceu de
tal forma que o fruto está sendo distribuído para vários países do mundo. Para
atingir essa maturidade profissional, a associação conta com eficiente processo
de armazenamento que disponibiliza a distribuição de kiwi ao longo do ano,
além de receber parte da produção do Chile na época da entressafra francesa.
A associação garante ao consumidor que o fruto adquirido possui qualidade,
ou seja, é um fruto imaturo (azedo) ou com resíduos de agrotóxicos. Outro
exemplo de criação de marca própria foi a associação da marca da cebola
“Vidalia”. Um grupo de produtores de cebola do interior do Estado da Geórgia
(EUA), numa região denominada Vidalia, resolveu associar ao seu produto
a marca de origem. Em função de trabalhos de marketing e de gestão da
qualidade bem conduzidos, as cebolas com a marca Vidalia atingem cotações
até 30% superiores às demais existentes no mercado americano (CORTEZ;
HONORIO; MORETTI, 2002).

5. REFERÊNCIAS

AGRIANUAL, 2005. BRASIL, Instrução Normativa Conjunta SARC/ANVISA/


INMETRO nº 009, de 12 de novembro de 2002. Dispõe informações sobre
embalagens utilizadas na comercialização de produtos hortícolas, assim
como informações sobre a classificação do produto e a indicação qualitativa
e quantitativa exposta na embalagem.

BRASIL, Lei nº 9.972, de 25 de maio de 2000. Dispõe sobre classificação de


produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico.

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Capítulo 14

BRASIL, Decreto nº 3.664, de 17 de novembro de 2000. Regulamenta a Lei


nº 9.972 com informações detalhadas sobre o processo de classificação,
padronização, cadastro geral de classificação e fiscalização.

BRASIL, Portaria nº 157, de 19 de agosto de 2002. Dispõe sobre a aprovação


do Regulamento Técnico Metrológico que estabelece a forma de expressar o
conteúdo líquido a ser utilizado nos produtos pré-medidos.

BRASIL, Resolução – RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. Dispõe sobre


o Regulamento Técnico sobre a rotulagem de alimentos embalados.

CORTEZ, L. A.B.; HONORIO, S. L.; MORETTI, C. L. Resfriamento de frutas e


hortaliças. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 428 p.

NEVES, M. F.; CASTRO, L. T. Marketing e estratégia em agronegócios e


alimentos. São Paulo: Editora Atlas, 2003. 365 p.

VICENTINI, C. A.; SARDELLA, I. N.; VIDAL, A. J. Hortifruti Brasil. Eu vendo, tu
vendes, eles compram.. Piracicaba, ano 3, nº30, p. 10-14, nov. 2004.

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Impressão
Departamento de Imprensa Oficial do Espírito Santo (DIO)

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Capítulo 14

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