Nome Próprio e Psicanálise
Nome Próprio e Psicanálise
Nome Próprio e Psicanálise
NO NOME PRÓPRIO1
RESUMO
Convém então percorrer esse livro familiar, seguir seus movimentos, revelar
seus caracteres, reconhecer esse manuscrito de letras cursivas ligadas por laços que
atravessam várias gerações, para permitir à criança fazer seu o nome próprio.
Revitalizar nosso próprio nome é sempre uma tarefa inacabada.
A escolha do nome marca a distancia entre a procriação biológica e a filiação.
O ato de conferir um nome à criança sanciona o fato de que a filiação não é um
acontecimento biológico, mas simbólico. Trata-se de uma escolha que a situa num
dispositivo institucional no qual cada um tem seu lugar na estrutura familiar.
A família na qual a criança se inscreve tem um passado, um tecido
reticular inter-relacional, uma rede transgeracional, que alberga a criança
que vem ao mundo no seu seio. A família oferece à criança um espaço, uma
estrutura significante que opera como pré-forma. A criança recebe, assim,
ainda antes de nascer, uma mensagem emitida pelos significantes parentais.
Atribui-se um nome a uma criança – em contrapartida, às vezes, atribui-se
uma criança a um nome.
Prefiguraria então o nome um destino inexorável? Seria verdade, como
questiona Diderot, por meio da voz de Jacques, o fatalista, que “tudo o que nos acontece
de bom e de mau aqui embaixo, estava escrito lá em cima?”. Acrescentando: “Ah,
Senhor, é aqui que o Senhor verá quão pouco somos donos de nossos destinos, e
quantas coisas há escritas no grande pergaminho!” (citado por Starobinsky, 1984, p.
19). Veremos, mais adiante, quais são as vias que nos permitem afastar dessa
perspectiva determinista.
No pensamento grego, três aspectos da figura composta do destino podem ser
destacados:
a) Moira, inflexível predeterminação de uma existência, palavras pronunciadas
de antemão, às quais deverá a história toda ceder;
b) Tykhe, o encontro (bom ou mau), o acaso;
c) Dáimon, a instância, ou seja, o personagem interno do sujeito, ignorado dele
mesmo e guiando seus passos, independentemente de sua vontade.
O nome reúne os três aspectos, faz uma condensação da necessidade e do
acaso, deixando ao sujeito a possibilidade de se reapropriar de seu prenome, que será
sempre seu nome, mas enriquecido pela incerteza do acaso, numa reescrita permanen-
te. Em certas culturas, essa possibilidade pauta-se por uma mudança do prenome na
idade adulta ou de acordo com os diferentes ciclos da vida.
Na escolha do prenome, sempre há uma poiética, ou seja, um ato de criação
poético que se recria constantemente, na medida em que a criança poderá fazer seu
o seu nome. Somente no decorrer desse processo o nome se converterá realmente em
nome próprio.
Na escolha de seu nome, a criança é anunciada pelos pais. Para seu devir, o
sujeito da enunciação terá que fazer seu o nome que lhe foi dado. É o que Françoise
Zonabend (1977) denomina “a constante dissociação entre a identidade recebida e
identidade vivida”.
As razões que motivam a escolha do prenome podem parecer relativamente
claras à primeira vista. Isso não impede que a verdadeira encruzilhada permaneça
inconsciente; contudo, resulta ele em uma condensação, uma sobredeterminação
significante que o enche de sentido.
Tinta indelével, transgeracional, que impregna e desenha os traços do nome.
Se em algum momento a criança tivesse um sintoma, o prenome poderia ser
tomado como um criptograma, e decifrá-lo talvez se revelasse útil para libertar a
criança de um ponto de clivagem – necessário, sem dúvida, para sua filiação, mas que
pode às vezes amarrá-lo a uma patologia.
Desse ponto de vista, é importante que o prenome não permaneça aderido aos
desejos dos pais, mas que se abra para outras significações possíveis. A escolha do
nome da criança pode ser o ponto de convergência das linhagens maternas e paternas,
sob a condição de que esse ponto de entrecruzamento seja descentrado. Tanto em
respeito às linhas diretoras dos desejos dos pais como de si mesmo e da assunção de
seu próprio inconsciente como outro.
“...ne pensant pas aux noms comme à un ideal inaccessible, mais comme à une
ambiance réelle dans laquelle j’irais me plonger.”
M. Proust
Du côté de chez Swann
nos discursos alusivos é que seu estatuto imanente persiste para além de sua existência
real.
“Sediento de saber lo que Dios sabe,/ Judá León se dio a permutaciones/ de letras y a
complejas variaciones/ Y al fin pronunció el Nombre que es la Clave”.
J. L. Borges
El otro, el mismo
Não é meu propósito abordar a problemática gemelar, que nos conduziria por
outros caminhos. Cito esta vinheta clínica porque ela nos brinda com uma
contraexemplificação do que significa o ato da nomear. Os assistentes sociais,
Funções do nome
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Utilizo o termo parentalidade para designar as funções que cumprem à mãe e ao pai.
Admitindo que o nome de uma pessoa não seja indiferente, a tal ponto que a
pessoa possa se identificar com seu valor semântico, pensamos que atualmente
convém relativizar o valor semântico do sobrenome que, na nossa cultura, não tem a
mesma carga que na antiguidade e ao qual não pode se atribuir hoje um peso
semelhante.
A transmissão patri ou matrilinear do sobrenome, que se tornou mais ou menos
automática, tira-lhe, em nossa opinião, essa força determinante de que Abraham fala.
Se bem que o sobrenome consiga dar indícios que nos orientam a respeito da
origem étnica, cultural ou estratificação social, tais possibilidades – que diríamos
metonímicas – não nos ajudam a compreender o desejo parental.
Sua transmissão obedece, em todo caso, a mecanismos de organização social
e sua regulação depende exclusivamente de regras comunitárias.
Se o ato de nomear pudesse se separar da transmissão do sobrenome e da
escolha do prenome, não seria fundamentalmente através deste último que o desejo
parental se expressaria?
Se há uma força “determinante” (nós diríamos significante), acaso não se
patenteia ela nas razões inconscientes de tal escolha?
Como vimos na primeira parte deste nosso trabalho, na antiguidade e nos povos
de tradição oral, os fantasmas e os desejos parentais aparecem de uma maneira mais
transparente, já que o nome resulta de um ato de criação inédito, único e significante.
O nome, na sua semantização, transcreve, então, os desejos parentais em relação ao
filho.
Um nome nunca é indiferente, implica uma série de relações entre quem o detém
e a fonte do qual procede. Nesse sentido, o prenome somente é um nome “próprio”
caso se insira numa historia simbólica familiar e social. É o ponto de convergência das
linhagens materna e paterna.
Atualmente, em nossa cultura ocidental, isso já não é possível porque o prenome
se escolhe numa lista previamente estabelecida. No entanto, trate-se do uso, anódino
somente em aparência, dos santos do calendário ou dos nomes dos avôs ou dos
padrinhos, seja através da simples escolha por similaridade fonética ou do uso de um
nome na moda, sempre há uma escolha singular – singularidade que carimba o nome
da criança com o brasão familiar. O caráter inconsciente dos motivos que impulsionam
essa escolha não impede que o carimbo familiar estampe caracteres indeléveis na
grafia de tal nome.
Com frequência, o nome impõe-se no lugar de ser escolhido conscientemente
e, sem que bem se conheça os motivos, determina a nossa escolha. Talvez seja
precisamente nesse caso que o ato de nomear seja ainda mais significativo.
Que o prenome esteja desprovido de significado (de sentido explícito) não quer
dizer que careça de efeito significante, dado que se situa na encruzilhada do desejo
parental com relação à criança.
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Durante muito tempo pensou-se que o palimpsesto era um pergaminho manuscrito no qual tinha sido
apagada, por razões de economia, uma primeira escrita – por conseguinte, perdida –, para que ali se pudesse
escrever um novo texto. As técnicas atuais de escanear documentos antigos demonstram que é possível
reconhecer os traços do primeiro texto, que na realidade somente tinham desaparecido para nossa percepção
visual.
Um pai que tinha sido condenado pela justiça francesa por maus tratos aos quatro filhos,
ante a nossa pergunta do porquê da escolha de seus prenomes, explica que buscara para
cada um deles um denominador comum. Os nomes Catherine, Ghislaine, Hubert e Josephine
tinham sido escolhidos por conterem a letra “h”, que em francês pronuncia-se “hache”. A
mesma palavra que serve para designar a letra “hache” utiliza-se para designar, em
castelhano, a ferramenta “hache” (machado): cuja imagem é suscetível de expressar a
violência inaudita que tal pai tinha descarregado sobre seus filhos. No seu critério para
escolher aqueles nomes, não se prefiguraria através da “hache”, intercalada em cada um,
a violência que exerceria mais tarde sobre eles, a tal ponto que suscitou a intervenção da
justiça como medida extrema de proteção dos mesmos diante de tão particular “lenhador”?
A escrita que o sujeito fará de seu próprio texto não se soma ao antetexto que
o precede, como uma página de agenda. Na verdade, ele permanentemente o
reescreve, modificando seu sentido inicial.
A história mítica familiar permanece ancorada, ao menos parcialmente, no
nome do nascimento. As capas de inscrições, no entanto, não constituem capas
geológicas facilmente reconhecíveis numa estratificação detectável, em que a sequência
do tempo projeta-se verticalmente no espaço. São capas dotadas de dinamismo próprio
e em constante interação.
Acaso não foi a partir dos nomes de Cleópatra e Ptolomeu que Champollion
pôde decifrar os hieróglifos e articular, interpretar, textos até então impossíveis de
traduzir? A genealogia serve para fabricar o sujeito, afirma Legendre (2000). A
linhagem, a genealogia, se traduz por um nome que marca o limite, como uma pele que
embala o sujeito e o diferencia do outro. As forças dos ordenamentos genealógicos
provêm, continua Legendre, de um princípio de refutação do magma familiar, princípio
que introduz a divisão dos lugares e a sucessão do sujeito em ditos lugares. A
subjetividade encontra-se pré-fabricada com anterioridade ao nascimento. Segundo o
autor, para que exista Édipo, necessita-se uma reprodução genealógica, o principio
genealógico – ou seja, sem discurso fundador não há vida humana.
Constitui-se por desejos que não são seus e que, no entanto, serão o andaime da
estrutura de sua futura identidade: permanecendo em filigranas, aguardam que possa
ela se apropriar de seu nome e de seus próprios desejos.
No momento em que os fantasmas dos pais encontram ancoragem no nome da
criança, ainda antes de seu nascimento, desenham com tinta indelével um esboço de
subjetividade do mesmo. O nome tem um efeito pré-formador e indutor dessa
identidade, necessária como um pedestal para sua identidade. O que os pais desejam,
se faz corpo no nome da criança. Violência certamente pré-formada, fora da
identidade da criança, mas que resulta necessária como originária e constituinte
essencial de seu psiquismo. É o início de uma significância, ou seja, de uma busca de
sentido que nunca permanecerá obliterada, na medida em que a criança a retome como
própria, mais adiante, numa incessante busca. No século 16, relembra Barthes (1981),
Montaigne disse: “Isto sou eu” e não: “E sou isto”, o que é perfeitamente legítimo, uma
vez que o sujeito compõe-se de tudo o que lhe vem e de tudo o que faz. O sujeito não
é realmente ele mesmo, senão ao final, como produto, afirma Barthes.
Somente na fantasia psicótica do autogeração, a cena primária do coito parental
é denegada; como consequência, o nome não pode ser vivido como produto dessa
união, por sua vez biológica do casal e fantasmática das linhagens parentais.
Sublinhamos, então, que a criança é, em primeira instância, falada; em seguida,
nomeada na fantasmatização que precede seu nascimento; e, finalmente, após seu
nascimento – e às vezes antes dele –, chamada numa interlocução, no interjogo da
demanda recíproca. O nome, envoltório sonoro do ego, rodeia a criança protegendo seu
ego de sua fragilidade inicial, espelho sonoro que antecipa uma unidade buscada. É no
olhar da mãe que a criança se reconhece.
Que vê o bebê quando volta seu olhar para o rosto da mãe? Geralmente se vê
a si mesmo, responde Winnicott (1971/1975). À importância que tem o sentido da vista
no intercâmbio entre a mãe e seu filho, podemos acrescentar o sentido auditivo.
Realmente, a enunciação do nome, numa função interpeladora, intervém como espelho
sonoro. As capacidades mentais se exercem primeiro sobre material acústico, o ego
se forma como um envoltório sonoro na experiência do banho de sons, concomitante-
mente à amamentação (Anzieu, 1976). É na enunciação de meu nome que existo
enquanto sujeito. Existo no reflexo, por sua vez visual do olhar de minha mãe – e sonoro,
de sua voz que me chama. Isso sucede igualmente nas crianças que têm algum déficit
sensorial, em quem a carência visual ou auditiva se vê compensada pela sensorialidade
tátil e olfativa.
Nos casos em que na infância seja registrado um sintoma psicopatológico, o
nome pode adquirir um valor particular. Opera ele como na margem de uma
encruzilhada de caminhos, onde o enigma do sintoma se impõe e nos interroga.
mas também no consumo de cocaína. Assim, Gilles, aos 18 anos, numa dramática
identificação com seu pai biológico, transformou-se num jogador e toxicômano como
ele e com ele.
Por outro lado, o pai pressionara Gilles a tornar-se seu cúmplice em delitos
comerciais. Certa oportunidade, fora compelido por seu pai a assinar cheques sem
fundos, o que lhe acarretaria mais tarde uma condenação penal e a inibição comercial
assinalada no início deste relato clínico. Condenado: sensação que percorria a
juventude de Gilles. Condenado à carência de um pai, condenado a seguir na sua busca
desesperada de identificação masculina, identificando-se a um pai que nunca tinha
ocupado o lugar de um pai simbólico. Gilles tinha buscado um pai e não se dera conta
de que somente tinha encontrado a seu genitor biológico, estelionatário profissional,
mas, sobretudo, estelionatário dos afetos filiais.
No momento da consulta inicial, Gilles mantinha uma relação de desconfiança
com seu pai, não ignorava que o melhor para ele era se afastar, mas não tinha
conseguido. Continuava escutando os mortíferos cantos de sereia de seu genitor.
Não é meu propósito dar conta da psicoterapia de Gilles no seu conjunto
nem da variedade de seus movimentos transferenciais. Somente destacarei um
aspecto ligado a seu nome, que me pareceu eloquente em razão de ter adquirido
um particular valor em seu processo terapêutico. Trouxe-me ele um dia o relato
do acontecido quando se apresentara para renovar seu documento de identidade.
Ao completar o formulário, dera-se conta de que escrevera Gilles Luc e não Gilles
Roger, como realmente se chamava. Roger era o nome do seu pai e seu segundo
nome. No lugar de escrever Roger, nome compartilhado com o pai, escrevera
Luc, primeiro nome de seu avô materno. Gilles não tinha conhecido esse avô,
falecido antes de seu nascimento, mas do qual e de forma muito vívida tinham
ficado em sua lembrança os relatos que ouvia quando criança. Guardara a imagem
de alguém muito direito, com valores tradicionais, especialmente o gosto pelo
trabalho e o apego à honestidade. Através de tal ato falho, Gilles deu-me a
impressão que tentava encontrar outra referência masculina próxima, que lhe
oferecesse uma possibilidade identitária mais protetora ou, ao menos, que não o
colocasse em risco. Descobre então que seu avô materno podia incorporar uma
figura que funcionasse no seu imaginário como uma ascendência de identificação
diferente de seu próprio genitor, uma referência tutelar que o protegesse da
destruição de seu pai e da sua própria. Esse momento da terapia e todo o trabalho
realizado em torno dos nomes tiveram um efeito de mutação em Gilles.
Paulatinamente, conseguiu resolver sua situação legal e comercial. Pagou
as dívidas que tinham motivado sua interdição e pôde finalmente se converter
legalmente em sócio da empresa. Já não necessitava que outro o representasse,
que seu próprio nome desaparecesse por trás do nome de outro. Seu lapso dos
nomes familiares, a irrefreável corrida em uma letal identificação com um genitor
biológico, que nunca assumira uma verdadeira função paterna, foram muito
elucidadoras daquilo que se jogava em sua própria dinâmica psíquica ao longo de
sua psicoterapia.
No momento em que entrevê outra possibilidade de identificação masculina, que
não a de se parecer com seu genitor, toma consciência de sua qualidade de órfão
simbólico e da necessidade de passar pelo luto de um pai. Consegue se desidentificar
de um genitor mortífero e fazer o luto pelo pai a quem, finalmente, nunca tinha
encontrado. O genitor biológico não tinha lhe oferecido uma função paterna, mas tão
só um simulacro. A transmutação dos nomes que Gilles realiza de maneira inconsciente
foi reveladora de seu desejo de se desidentificar de um genitor destrutivo em essência.
Através do vínculo transferencial, descobre outros modelos possíveis de identificação
masculina. O ato falho referente ao seu nome, na ocasião de incluí-lo no formulário de
renovação de seu falido documento de identificação, no qual revela seu desejo de se
chamar como seu progenitor materno, se inscreve num movimento de identificação
masculina em harmonia com o respeito à lei. Antes de mais nada, no entanto, tratava-
se de seu desejo de integrar uma lei simbólica, fonte de interdição e, por sua vez,
habilitação de sua identidade masculina. Dito de outro modo, vestir novas roupas de
homem, outros envoltórios possíveis para sua vacilante identidade, materializados no
fato de que as roupas para homens que vende levam inscritas seu próprio nome,
incluído na assinatura que as comercializa. Ou seja, que sua assinatura se inscreve
numa vestimenta masculina, que ele pode habitar sem se destruir.
REFERÊNCIAS
Carroll, L. (2005). A través del espejo y qué encontró Alicia allí. Buenos Aires:
Longseller. (Trabalho original publicado em 1871.)
Freud, S. (1996). Carta 52 a Fliess del 6-12-96. In S. Freud, Obras completas, (Vol.
1, pp. 274-280). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1896.)
Green A. (1976). Un, autre, neutre: valeurs narcissiques du même. Nouvelle Revue
de Psychanalyse, 13, 37-80.
Jarrasé, C. (1901). Essai historique sur le nom en droit romain et dans le très
ancien droit français. Thèse de Droit, Poitiers.
Ouaknin, M-A., & Rotnemer, D. (1993). Le grand livre des prénoms bibliques et
hébraïques. Paris: Albin Michel.
Pariente, J.-C. (1982). Le nom propre et la prédication dans les langues naturelles.
Langages, Paris, 66, 37-65.
SUMMARY
In the choice of the child’s first name – first symbolic inscription of the human
being – the parents desire appears as a watermark. At birth, the child is not a tabula
rasa, he is not free from any inscription. A fore-text precedes him, which is also a parental
inter-text where the first name becomes the written mark of the parental desire at stake.
On this pre-text, the child will have to inscribe his own text, to appropriate his own name
through the singularity of his marks.
The writing of the first name remains the indelible mark of a symbolic familial
story, a group palimpsest in which several generations often participate. It is sometimes
necessary to look through this family book, to follow its movements, to note its
characters, to recognize this manuscript of linked up letters, these links which have
crossed generations, enabling the child to take possession of his own name. The first
name should be taken up again as a cryptogram, the deciphering of which may prove
useful to free the child from an anchoring point certainly necessary for his filiation, but
which moored him to a symptom.
RESUMEN
En la elección del nombre de pila – primera inscripción simbólica del ser humano
– aparece en filigrana el deseo de los padres. Cuando nace, el niño no es una tábula
rasa, no está virgen de toda inscripción. Un ante-texto le precede que también es inter-
texto parental en el cual el nombre de pila es la huella escrita del deseo parental. Sobre
este pre-texto, el niño tendrá que inscribir su propio texto, apropiarse por la singularidad
de sus huellas su propio nombre.
La escritura del nombre de pila se convierte en la huella imborrable de una
historia simbólica familiar, palimpsesto grupal en el que confluyen varias generaciones.
A veces es necesario hojear este libro familiar, seguir sus movimientos, observar sus
caracteres, reconocer en este manuscrito las letras ligadas; vínculos que atraviesan las
generaciones, para permitir al niño de hacer suyo su nombre propio. Cuando se produce
un síntoma, el nombre podría ser considerado como un criptograma, cuyo desciframien-
to sería útil para liberar al niño de un punto de anclaje cierto necesario para su filiación,
pero que a veces puede amarrarlo a un síntoma.