Exegese de Joao
Exegese de Joao
Exegese de Joao
Walyson Santos1
Luiz Felipe Xavier 2
Tarcisio Caixeta de Araujo3
RESUMO
ABSTRACT
The Prologue of John's Gospel (1:1-18) is at the same time, an introduction to the
Book and a summary of its contents. This article aims
to analyze exegetically this passage. Beyond the exegetical method, the researchers
made use of bibliography research or literature review. The first topic will cover
the introductory elements. The second topic will address the historical context. The
third topic will cover the definition and structure of the Prologue. Finally, the fourth
and last address the exegetical analysis of the Prologue.
Keywords:
Keywords: Fourth Gospel, Prologue, the Word of God.
1
Walyson Santos é recém formado em Teologia pela Faculdade Batista de Minas Gerais. Fez parte da primeira
turma da Faculdade formada com reconhecimento do MEC.
2
Mestre em Teologia Dogmática, mestrando em Filosofia da Religião, especialista em Estudo da Bíblia,
especialista em Teologia Sistemática e graduado em Teologia. É professor da Faculdade Batista de Minas
Gerais, no curso de Teologia, e do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, nos cursos de Teologia e
Direito.
3
Mestre em Teologia pela University of Wales, South Wales Baptist College. Licenciado em Português e I nglês
pela UNI-BH. Professor da Faculdade Batista de Minas Gerais, no curso de T eologia.
2
INTRODUÇÃO
Por tudo o que já foi escrito sobre o Evangelho de João, que também é
conhecido como o "Quarto Evangelho", percebe-se que este evangelho difere dos
Sinóticos, não só por sua conotação teológica, o estilo da escrita, a ênfase do
ministério de Jesus no sul da Judéia e em Samaria; e uma grande quantidade de
material que os Sinóticos não mencionam e outras diferenças que o leitor atento irá
identificar. Talvez o Evangelho de João, dentre os quatro Evangelhos, seja o mais
usado pelos cristãos de todos os tempos, e com propósitos variados 4. O Quarto
Evangelho é tido como o evangelho da Vida (Cf. Jo. 6.35; 8.12; 11.25), da grande
revelação do amor de Deus. Este evangelho contém várias oposições, ou dualismos,
mais fortes que nos Sinóticos: vida e morte, de cima e de baixo, luz e trevas,
verdade e mentira, visão e cegueira e outras mais5. A preocupação de João é menos
cronológica do que teológica dos eventos ligados a Jesus.
Esta análise exegética não tem a intenção de contrapor ideias, mas seguir o
consenso geral da ortodoxia. Entende-se por ortodoxia, a crença correta, em
contraste com as heresias. São declarações que sintetizam com exatidão o
conteúdo do cristianismo às verdades reveladas e, portanto, são por sua própria
natureza, normativas para a igreja. Sobre as questões relativas ao Quarto
Evangelho, não se discutirá cada ponto, mas sintetizará os tópicos.
Tratar-se-á, neste artigo, da autoria, data e propósito do quarto Evangelho,
seu contexto histórico e da delimitação e estrutura da perícope a ser analisada, ou
seja, João 1:1-18.
4
CARSON, 2007, p. 23.
5
CARSON, 2007, p. 24.
3
A tradição diz que o Quarto Evangelho foi escrito pelo Apóstolo João, o filho
de Zebedeu. Mesmo não levando o nome de seu autor; conforme os Sinóticos, o
Quarto Evangelho é formalmente anônimo. Até onde se sabe o título Segundo João
foi anexado, tão logo os quatro evangelhos canônicos começaram a circular juntos,
como uma só obra, e isto sem dúvida foi para distingui-lo dos demais6. Para que se
configure a autoria do Quarto Evangelho ao Apóstolo João, é necessário que
tenhamos bem claro as evidências externas e internas.
As evidências externas são muito importantes, para afirmar que o Apóstolo
João é o autor do Quarto Evangelho. Conquanto existam diversos documentos
antigos, dentro do cristianismo que aludem ao Quarto Evangelho ou citam-no, o
primeiro escritor a fazer claras citações do Quarto Evangelho e atribuir esta obra a
João é Teófilo de Antioquia (cerca de 181 d.C.). Mas, já antes dessa data, vários
escritores, inclusive Taciano (um aluno de Justino Mártir), Cláudio Apolinário (bispo
de Hierápolis) e Atenágoro, fazem claras citações do Quarto Evangelho, tratando-o
como fonte com autoridade. Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano fornecem
também sólidas evidências no século II em favor da convicção de que o Apóstolo
João escreveu esse evangelho, pois não há motivo para negar a veracidade das
afirmações de que ele se relacionou com os Apóstolos João, André e Filipe na Ásia.7
Para que se configure e reafirme a autoria do Quarto Evangelho ao Apóstolo
João, temos também as evidências internas, pois são aquilo que o evangelho diz
respeito a si mesmo8. E a leitura do quarto evangelho nos leva a identificar conforme
suas evidências internas algumas características do autor, como seguem: era um
judeu da Palestina, foi testemunha ocular dos fatos narrados, era um apóstolo, ou
seja, um dos doze. Conforme a tradição, o discípulo amado não é outro senão João,
e ele deliberadamente evita citar seu próprio nome. Isso se torna mais provável
quando nos lembramos que o discípulo amado está constantemente na companhia
de Pedro, enquanto tanto os sinóticos (Cf. Mc 5.37; 9.2; 14.33; par.) como Atos (Cf.
3.1 – 4.23; 8.15-25), sem mencionar Paulo (Cf. Gl 2.9), unem Pedro e João pela
6
CARSON, 2007, p. 69.
7
Cf. CARSON, MOO E MORRIS, 1997, pp. 155-157.
8
Cf. CARSON 2007, p. 71.
4
9
CARSON, 2007, p. 73.
10
Cf. CARSON 2007, p. 86.
11
WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 191.
12
CARSON 2007, p. 87.
13
Cf. CARSON 2007, p. 91.
14
Cf. CARSON, 2007, pp. 91-95.
5
15
Cf. VASCONCELOS, P. L. Impressões sobre os caminhos na leitura mais recentes do Evangelho (e cartas)
de João. In Revista e Cultura Teológica, n. 15, 1996, pp. 77-84.
16
CULLMANN, 1976, p. 124.
17
BROWN, 2003, p. 68.
18
LADD, 2003, pp. 327-328.
19
Cf. LADD, 2003 pp. 382-385.
6
25
CARSON, 2007, p. 111.
8
26
Perícope: é um texto que constitui uma unidade autônoma quando seu conteúdo possui uma mensagem
própria e característica, distinta da mensagem dos textos an teriores ou subseqüentes. (WEGNER, 1998, p. 86).
27
WEGNER, 1998, p. 85.
28
WEGNER, 1998, pp. 87-88.
29
CARSON, 2007, p. 113.
9
30
Estrutura Quiástica: processo estilístico que consiste em formar uma antítese, dispondo em ordem inversa e
cruzada os elementos que a constituem. (KOOGAN & HOUAISS, 1999, p. 1331).
31
WEGNER, 1998, p. 92.
32
Cf. CARSON, 2007. p. 113.
10
33
CARSON, 2007, p. 114.
34
CARSON, 2007, p. 118.
35
XAVIER, Luiz Felipe. Apostila de Exegese do Novo Testamento . Material didático, não publicado, utilizado
no curso de Teologia do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Versão 2010.
36
Cf. CARSON, 2007, p. 119.
11
tanto física quanto ética, a segunda pessoa da Trindade que se fez carne para
proporcionar ao homem a sua salvação 37.
O versículo 5 é uma obra prima de ambiguidade planejada. Luz e trevas não
são simplesmente opostos. Trevas nada mais são que ausência de luz. Na primeira
criação, "trevas cobriam a face do abismo" (Gn 1.2) até que Deus disse: "Haja luz"
(Gn 1.3). Em nenhuma outra ocasião, a não ser a da criação, poderia ser mais
apropriadamente dito: A luz brilha nas trevas . Precisamente porque João está
falando de criação, e não está descrevendo um universo dualístico no qual luz e
trevas, bem e mal, são opostos emparelhados, ele pode descrever a vitória da luz: e
as trevas não a derrotaram (como o verbo katelaben pode ser traduzido)38. Mas Luz
(phos ), metaforicamente, refere-se à verdade e ao conhecimento de Deus, junto com
a pureza espiritual associada a eles; assim também como trevas ( skotia ),
metaforicamente, refere-se à ignorância quanto às coisas divinas, quanto as suas
abominações e a resultante miséria no inferno 39.
Nos versículos 6-8 do Prólogo , como nos Evangelhos Sinóticos, relata o
início do ministério público de Jesus com o testemunho de João Batista. Assim, "a
Palavra, em quem é inerente à vida que é a luz dos homens, foi primeiro
manifestada na arena pública da história quando um homem enviado por Deus deu
testemunho dela. O nome daquele homem era João "40.
O evangelista declara ser João Batista uma testemunha importante,
"enviado de Deus", mas não deveria ocupar o lugar da luz. Isto fica claro nas
palavras do evangelista ao dizer que João Batista não era a luz. O propósito do
testemunho de João Batista era que "todos os homens pudessem crer ". Este
testemunho foi frutífero em seu resultado, pois é isto que podemos ver (Cf. 1.35-
37)41.
No versículo 9, João declara que: Hλ η ὸ θῶο η ὸ ἀ ιλόλ, (a luz que veio ao
mundo, a verdadeira luz) ὃ θωη ίε π άληα ἄλξωπνλ (ilumina a todo homem). Percebe-
se que a característica intrínseca ao Verbo que estava no mundo Kosmos (os
habitantes da terra, os homens, a raça humana); é alêthinos, (verdadeira), que em
João carrega algo do significado grego de 'real', mas é o real porque é a plena
37
XAVIER, 2010.
38
CARSON, 2007, p. 119.
39
XAVIER, 2010.
40
CARSON, 2007, p. 120.
41
Cf. CARSON, 2007. p. 121.
12
revelação da verdade de Deus42. Assim, Cristo é a única verdadeira luz que Deus
deu ao mundo, e, portanto, a luz para todo homem 43. O significado do verbo phôtizei
(ilumina, dar luz, brilhar), metaforicamente, significa iluminar espiritualmente, imbuir
com conhecimento salvífico, ou lançar luz sobre, fazer visível 44. Assim, esta luz
brilha sobre todo homem e divide a espécie: aqueles que odeiam a luz reagem como
o mundo faz (Cf. 1.10): eles fogem para que suas obras não sejam expostas por
essa luz (Cf. 3.19-21). Mas alguns recebem essa revelação (Cf. 1.12,13), e assim
fazendo testemunham que suas obras são feitas por meio de Deus (Cf. 3.21)45.
No versículo 10, a Palavra, portanto, estava no mundo , como resultado de
sua vinda especial, e este mundo que foi feito por intermédio dele , não o conheceu.
Pode-se pensar que nada do que existe teria sido feito, senão pela Palavra, e isso
inclui o kosmos , que tem o mesmo sentido citado no versículo 946. É importante
entender o significado do verbo ginosko (conheceu) que é: aprender, vir a conhecer.
Adquirir um conhecimento, perceber, sentir. Essa palavra é utilizada no idioma
hebraico para se referir ao intercurso sexual entre um homem e uma mulher, o que
indica um relacionamento íntimo. Esse é o sentido mais apropriado para a palavra
nesse texto47.
No versículo 11, acontece a rejeição dos homens ao verbo, εἰο η ὰ ἴ δα ἦ ιελ,
αὶ νἱ ἴ δν αὐη ὸλ νὐ παξέ ιαβνλ (veio para o que era seu, e os seus não o receberam).
Destaca-se a palavra ἴ δνο (seu, que pertence à pessoa, pessoal). Descreve a terra e
o povo de Israel como lar e família de Deus. E a palavra παξαιακβάλω (receber, levar
ao lado de), verbo comum para dar as boas-vindas48.
Mas os versículos 12 e 13 suavizam imediatamente a rejeição total da
Palavra. Portanto, ὅζνο (todos quantos), outra forma de descrever essas pessoas é
dizer que eles creram em seu nome . O nome é mais que um rótulo, é o caráter da
pessoa, ou até a própria pessoa49. Os homens não são pela natureza filhos de Deus;
somente por meio de receberam a Cristo obtêm o direito de se tornarem filhos de
Deus. A outra metáfora para descrever "filhos de Deus", é que são filhos nascidos
42
LADD, 2003, p. 167.
43
CARSON, 2007, p. 124.
44
XAVIER, 2010.
45
CARSON, 2007, p. 124.
46
Cf. CARSON, 2007, p. 124.
47
XAVIER, 2010.
48
RIENECKER, ROGERS, 1995, p. 161.
49
CARSON, 2007, p. 126.
13
50
Cf. CARSON, 2007, p. 126.
51
Cf. CARSON, 2007, PP. 127-128.
52
RIENECKER, ROGERS, 1995, p. 162.
53
Parentético: relativo a parêntese; posto entre parênteses. (KOOGAN & HOUAISS, 1999, p. 1210).
54
Cf. CARSON, 2007, p. 131.
55
CARSON, 2007, p. 132.
14
antiga aliança é substituída pela nova aliança, a vida total é pela graça à medida em
que percebe que, uma graça é trocada somente por outra56. Diante disso, parece
que a graça e a verdade que vieram por meio de Jesus são o que substitui a Lei,
que foi dada por intermédio de Moisés. Ambas igualmente surgiram da plenitude da
Palavra, seja em sua unicidade preexistente com o Pai, seja em seu status como a
Palavra que se tornou carne. Portanto, tudo o que foi começado ou prescrito pela Lei
estaria, agora, sendo consumado e realizado em Jesus. É dessa plenitude que se
recebe uma graça substituindo a outra 57.
No versículo 18, João escreve: "ninguém jamais viu a Deus" , esta
pressuposição consistente do AT é que Deus não pode ser visto, ou mais
precisamente, se um ser humano pecador o visse, este morreria (Cf. Ex 33.20; Dt
4.12; Sl 97,2). Mas, João acrescenta o monogenês (Unigênito, muito amado, único
do seu gênero) Deus o tornou conhecido. Isto significa que o Filho amado, a Palavra
encarnada, o próprio Deus, enquanto estando ao lado do Pai conforme o (v.1),
quebrou a barreira que tornava impossível para seres humanos ver a Deus e o
tornou conhecido 58. O Verbo que está no "seio do Pai" é o que tornou Deus
ἐμγήζαην (conhecido). Exegese deriva desse termo grego: assim podemos dizer que
Jesus é a exegese de Deus. Neste sentido, quer dizer que Jesus é a narração de
Deus. Da mesma forma que Jesus dá vida e é a vida, Ele ressuscita os mortos e é a
ressurreição, dá pão e é o pão, fala a verdade e é a verdade, assim quando Ele fala
a palavra. Ele é a Palavra59.
56
RIENECKER, ROGERS, 1995, p. 162.
57
Cf. CARSON, 2007, p. 134.
58
CARSON, 2007, p. 135.
59
CARSON, 2007, pp. 135-136.
15
CONCLUSÃO
60
CARSON, 2007, p. 136.
61
XAVIER, 2010.
62
STUART, FEE, 2008, p. 25.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS