Kyriale - Alphonsus Guimaraens - IBA MENDES
Kyriale - Alphonsus Guimaraens - IBA MENDES
Kyriale - Alphonsus Guimaraens - IBA MENDES
Alphonsus de Guimaraens
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É isso!
Iba Mendes
ÍNDICE
Initium................................................................................................. 6
A cabeça do corvo............................................................................ 7
O cachimbo........................................................................................ 8
O leito............................................................................................ 8
Luar sobre a cruz da tua cova......................................................... 9
O lago............................................................................................ 10
Sete damas........................................................................................ 11
Presságios........................................................................................ 11
Meia-noite........................................................................................ 12
Canção............................................................................................ 13
Ocaso.............................................................................................. 14
Saudade........................................................................................ 16
O campanário.................................................................................... 17
Ladainha dos quatro santos......................................................... 18
Náufrago........................................................................................ 19
Poeiras medievais............................................................................. 19
Visão dos solitários........................................................................... 20
Vedeta............................................................................................ 21
Espírito mau..................................................................................... 21
Sucubus.......................................................................................... 22
Serpes............................................................................................ 22
Spectrum........................................................................................ 23
Santo Graal........................................................................................ 24
Recordando-se................................................................................... 25
Pobres sonhos.................................................................................... 25
In hoc signo... ..................................................................................... 26
Ascetas........................................................................................... 27
Mors.................................................................................................. 28
São Bom Jesus de Matosinhos...................................................... 28
A catedral........................................................................................ 31
Ossa mea........................................................................................ 33
Dies irae......................................................................................... 37
ALPHONSUS DE GUIMARAENS E UMA FAMÍLIA DE
ESCRITORES
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ALPHONSUS DE GUIMARAENS
De sua vida, como pai de família exemplar, e de sua vida de juiz não
há melhor depoimento do que o prefácio de João Alphonsus, às
"Poesias", editadas pelo Ministério da Educação. Conhecera o poeta
em Conceição aquela com quem se casou e que lhe sobrevive, D.
Zenaide de Guimaraens.
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2
Este aspecto do autor de "Kyriale", entretanto, é quase que
inteiramente desconhecido.
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Dos filhos do poeta autor de "D. Mística", o que mais conviveu com
o pai foi João Alphonsus, que gravou as suas impressões no prefácio
que fez às "Poesias". Nasceu em Conceição do Serro, em 1901. Em
1930 bacharelou-se em Direito, trabalhando seguidamente como
auxiliar jurídico da Procuradoria Geral do Estado. Como não podia
deixar de ser, dada a maior convivência com o poeta, João
Alphonsus começou a escrever muito cedo. A princípio escrevia
poesias, mas logo descobriu a sua verdadeira vocação: a prosa.
Formou no número dos que fizeram o movimento modernista em
Minas. Os seus livros até agora publicados são: "Galinha Cega" e
"Eis a Noite" (contos), "Totônio Pacheco" e "Rola Moça" (romances).
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A TRADIÇÃO NA FAMÍLIA
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Revista “Vamos Ler!”, 6 de maio de 1941.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2019)
5
KYRIALE
INITIUM
(Ao meu primo Horácio Bernardo Guimarães)
6
E os pesadelos fogem agora...
Talvez me escute quem se levanta:
É a lua... e a lua é Nossa Senhora,
São dela aquelas cores de Santa!
A CABEÇA DO CORVO
(Ao Dr. Edmundo Luís)
7
O CACHIMBO
(A Joaquim Soares Maciel Júnior)
O LEITO
8
Mas é que ia de modo tal curvado
Para o chão, e ao falar tão baixo e tanto,
Que, manso e manso, e trêmulo de espanto,
Fui seguindo a seu lado.
O LAGO
10
SETE DAMAS
PRESSÁGIOS
MEIA-NOITE
(A Augusto de Viana do Castelo)
CANÇÃO
OCASO
(Impressões de véspera de finados)
SAUDADE
16
O CAMPANÁRIO
(A Augusto Inácio de Araújo Lima)
NÁUFRAGO
POEIRAS MEDIEVAIS
20
VEDETA
ESPÍRITO MAU
(A Coelho Neto)
SUCUBUS
SERPES
22
Tantos monstros, que enfim os meus rudes olhares
(Dizem que os Anjos têm os mais excelsos dotes).
Tiveram de rezar à som brados altares,
Suplicando a verdade à voz dos sacerdotes.
SPECTRUM
I
Vestido de ouro o Sol, bom padre, canta a missa
Da luz no altar do céu. Véus de celestes damas,
As nuvens voam: cantam pássaros: e viça
Mais do que nunca o olhar de Flora pelas ramas.
23
II
E o Espectro, que era um anjo espiritual, esvoaça
Pelo ar tranquilo, e sobe ao céu. Noite silente.
Toda de branco, a lua, ancila triste, passa
Pelo mosteiro celestial, celestialmente.
SANTO GRAAL
24
Se a tempestade vier, e eu cair, nesse dia
Piedosamente irei pela terra em demanda
De ti, ó Santo Graal, Vaso da Eucaristia!
RECORDANDO-SE
POBRES SONHOS
IN HOC SIGNO...
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ASCETAS
I
Ascetas imortais da Idade Média, os joelhos
Sangraram-vos de tanto orar: o olhar contrito,
Seguindo o olhar de Deus nos ocasos vermelhos,
Fugiu-vos para o céu, sedento de infinito.
II
Pudesse eu, pudesse eu viver acima disto,
Onde... não sei, e nem me importa a mim sabê-lo.
Em um lugar em que de ninguém fosse visto,
Envolta a fronte num fulgor de sete-estrelo.
MORS
(A Álvaro Viana)
Fica bem longe o meu principado,
Entre montanhas que não têm verdura.
(Meu dolorido coração, cuidado!
Há muito tempo o temporal perdura).
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A CATEDRAL
(Lenda do báltico, transplantada para Portugal)
31
Foram palavras céu arriba,
Clamaram no mar profundo...
Ouviu-las Deus, e um velho escriba
Anotou-as cá no mundo.
OSSA MEA
I
Desesperanças! réquiem tumultuário
Na abandonada igreja sem altares...
A noite é branca, o esquife é solitário,
33
E a cova, ao longe, espreita os meus pesares.
II
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
De tons marfíneos, de ossatura rica.
Pairando no ar, num -gesto brando e leve,
Que parece ordenar mas que suplica...
III
Quero crer, olhos meus em penitência.
Que na mágoa da eterna despedida
34
Vos terei transformadas na áurea essência
De dois astros de luz amortecida...
IV
Oh lábios que sereis de lodo e poeira.
Que intangível desejo vos abate?
Que ânsia suprema, na hora derradeira.
Em silêncio vos livra esse combate?
35
V
Braços abertos, uma Cruz... Basta isto,
Meu Deus, na cova abandonada e estreita
Onde repouse quem te for benquisto,
Corpo de uma Alma que te seja afeita.
VI
Ah! tantas ilusões, para as perdermos,
E os sonhos onde iremos enterrá-los!
E sempre o luar na solidão sem termos,
E estes corpos a encher covas e valos...
DIES IRAE
(Sequência do Dia dos Finados)
37
A morte e a natureza, pasmas,
Veem, ante Deus que os julga, a imensa
Ressurreição desses fantasmas.
39