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ELAS CONTAM CONTOS: Contos de Grandes Escritoras do Mundo
ELAS CONTAM CONTOS: Contos de Grandes Escritoras do Mundo
ELAS CONTAM CONTOS: Contos de Grandes Escritoras do Mundo
E-book195 páginas4 horas

ELAS CONTAM CONTOS: Contos de Grandes Escritoras do Mundo

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Sobre este e-book

Num passado não tão distante era raridade encontrar uma mulher que se destacava como escritora, não porque elas não tinham "dom" ou talento para isso, mas simplesmente porque as normas sociais da época tolhiam qualquer iniciativa feminina que ultrapassasse a soleira da porta da casa. Como prova disso temos vários casos de mulheres que, mesmo naqueles tempos, escreveram, e fizeram sucesso, utilizando um pseudônimo masculino, como é o caso da escritora Amandine Dupin que utilizava o pseudônimo de George Sand entre várias outras. Elas Contam Contos é uma homenagem às mulheres escritoras. É também uma grande oportunidade para um encontro com um seleto grupos de quinze grandes escritoras contistas, de várias épocas e de várias nacionalidades como: Virginia Woolf, Collette, George Sand, Selma Lagerlof, Katherine Mansfield... entre outras grandes escritoras.  Prepare-se para se emocionar com contos maravilhosos, escritos com admirável talento e sensibilidade artística. Elas Contam Contos faz parte da Série: Escritoras do Mundo da Editora LeBooks.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de set. de 2020
ISBN9786586079852
ELAS CONTAM CONTOS: Contos de Grandes Escritoras do Mundo

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    ELAS CONTAM CONTOS - Diversas

    cover.jpg

    Edições LeBooks

    Elas Contam

    CONTOS

    1a edição

    img1.jpg

    Isbn: 9786586079852

    LeBooks.com.br

    Prefácio

    Prezado Leitor, prezada leitora,

    Em tempos idos, felizmente já bem idos, pensava-se que a literatura de alto nível fosse uma seara dominada exclusivamente por homens.

    De fato, no passado distante era muito raro encontrar-se uma mulher que se destacava como escritora, mas não porque elas não tinham dom ou talento para isso, simplesmente porque as normas sociais da época tolhiam qualquer iniciativa feminina que ultrapassasse a soleira da porta da casa. Como prova disso temos vários casos de mulheres que, mesmo naqueles tempos, escreveram, e fizeram sucesso, utilizando um pseudônimo masculino, como é o caso da escritora Amandine Aurore Lucile Dupin que utilizava o pseudônimo de George Sand. Amandine que, aliás, faz parte da presente coletânea.

    Elas Contam Contos é uma grande oportunidade para um encontro com um seleto grupos de quinze grandes escritoras de várias épocas e de várias nacionalidades, inclusive duas delas, brasileiras: Júlia Lopes de Almeida, abolicionista e uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras e Lygia Fagundes Telles, vibrante e talentosa escritora que dispensa maiores apresentações.

    Prepare-se para se emocionar com contos maravilhosos, escritos com admirável talento e sensibilidade artística por grandes escritoras.

    Uma excelente leitura

    LeBooks Editora

    Sumário

    HISTÓRIA DE VIVIEN

    Annie Vivanti

    O ACIDENTE

    Agatha Christie

    O SEU DIREITO

    Ada Negri

    O ASSASSINO

    Collette

    SUSPEITA

    Dorothy L. Sayers

    A NUVEM ROSADA

    George Sand

    VENHA VER O POR DO SOL

    Lygia Fagundes Telles

    O DIVÓRCIO DE MADAME CÉLESTIN

    Kate Chopin

    FELICIDADE

    Katherine Mansfield

    AS ROSAS

    Júlia Lopes de Almeida

    ANTEPASSADOS

    Margarida Bethlem

    A VISÃO DE VASILE

    Maria, Rainha da Romênia

    NOIVA SEM BELEZA

    Santa Devi

    O BALÃO

    Selma Lagerlof

    O LEGADO

    Virginia Woolf

    Notas de referências

    HISTÓRIA DE VIVIEN

    Annie Vivanti

    HÁ MUITOS anos fui ouvir no Queen’s Hall, de Londres, um jovem violinista polaco. O menino surgiu, pálido e inspirado; o negro cabelo caía-lhe, liso como água, em torno do rosto. Ergueu o violino. E eis que, de seus dedos convulsos, jorraram notas, nítidas, rápidas, enquanto o arco, ora voava como uma pluma, ora premia, grave, a vibrante corda do sol. Senti pela grácil criança grande tristeza e piedade.

    Apenas cheguei em casa, dirigi-me na ponta dos pés ao berço onde dormia a minha filhinha toda rósea, com os louros cabelos encaracolados em volta da testa. E disse baixinho à sua alma adormecida:

    — "Oh tu, criança feliz, que ternamente crescerás amparada pelos braços maternos, não conhecerás a tortura do gênio precoce, as angústias da glória prematura. Não! Tu não deves ser, tu não serás, nunca, um enfant prodige!"

    Recordo-me que nesse instante a pequenina, torcendo a boca no acostumado e temido jeito que precede sempre os choros, deu um soluço; depois desatou a gritar desesperadamente. Lembro-me também de que pensei: Que estranha coincidência! Disse-lhe que não será um enfant prodige, e ela chora. Preciso ir contar isso imediatamente ao John.

    Encontrei meu marido no escritório, mergulhado em um artigo político que estava escrevendo para o Times. Contei-lhe o que acontecera, mas ele pareceu não compreender.

    — Naturalmente teve uma indigestão — disse.

    — Como?! Indigestão! — exclamei indignada. — Mas você não percebe que foi a sua alma que me respondeu?

    John tornou a inclinar-se, apressadamente, sobre o seu artigo político.

    — Que fazes?... Que pensas? — perguntei-lhe.

    — Penso — disse sorrindo e afagando-me o rosto, — penso como são engraçadas as pequenas tolas!

    Retirei-me ofendida. Sempre é verdade que os homens não possuem intuição, nem inspiração, nem fantasia.

    Os anos passaram. Vivien cresceu, suave e traquinas. Já tinha esquecido completamente o misterioso anúncio da sua futura vocação, quando um dia fomos visitados por um senhor barbudo e escuro, com um estojo de violino debaixo do braço. Era um italiano que tencionava dar concertos em Londres, e trazia uma carta de recomendação para nós. Ofereceu-se para tocar um pouco para mim e para o meu marido; e imediatamente, de pé no meio da sala, sem acompanhamento, principiou a Zingaresca de Sarasate.

    Tocou com bravura, de cabeça baixa, batendo o arco nas cordas, agitando-se, com a cabeleira em tumulto e as barbas a esvoaçar. John contemplava-o, britanicamente espantado. A porta abriu-se e eis que entra Vivien, loura e com o seu olhar glauco, sobraçando a boneca. Estacou no limiar e ficou imóvel, a fitar o violinista. Ao último acorde, deixou cair a boneca e desatou a chorar. Chorou demoradamente, em um pranto ruidoso, com as mãos no rosto. Quando lhe perguntamos a razão daquelas lágrimas, respondeu entre soluços:

    — Não sei... não sei... tantas coisas!

    O violinista estava sobremaneira lisonjeado e comovido.

    — Esta menina deve ter talento — declarou. — Por que não a fazem estudar violino?

    — Para lhe dizer a verdade, nunca pensamos nisso — respondi eu.

    — Conhece música? Sabe ler as notas? — perguntou o músico.

    — Não — disse meu marido. — Vivemos sempre no campo; a pequena só entende de cavalos e de vacas.

    — E de cobras cascavéis — acrescentou Vivien, limpando os olhos com a mão.

    — Neste caso, se permitirem, poderei ensiná-la — declarou o artista.

    E realmente, no dia seguinte voltou, trazendo um minúsculo violino envolto em papel. Achamo-lo muito lindo, recém-envernizado e duma linda cor de chocolate. O Maestro disse que era um Guarnérius, e pediu-me por ele duzentas liras, o que, para um Guarnérius, é muito pouco. Vivien, a princípio, queria servir-se dele como de um cofre, mas contei-lhe que dentro de todos os violinos vive uma fada, O Espírito da Música, e a pequena ficou deliciosamente comovida. Um dia a encontrei tentando introduzir na abertura do violino uma sopa de pão e leite, a fim de alimentar a fada. E, pouco depois, de acordo com um pequeno primo, Teddy, despedaçaram a caixa harmônica com um martelo para a fada poder sair. Mas ela já tinha fugido.

    O professor trouxe um novo violino que me custou bem mais barato. Disse que não era um Guarnérius, mas eu o achei muito parecido com o outro. Vivien não queria estudar se não houvesse fada naquele violino, e, para se certificar, quis escrever-lhe uma carta, que colocamos nem uma das aberturas da caixa. A fada, naquela mesma noite, retirou a carta e, na manhã seguinte, encontramos a resposta, em papel azul. Ela escrevia em tom amável e com tinta dourada, pedindo à menina que estudasse:

     "Querida Vivien,

    Se estudares bastante, um dia me verás. Lembra-te de que todas as vezes que fizeres um exercício, nascerá uma pena nas minhas asas; e quando todas tiverem rebentado, poderei voar para fora e então nos veremos".

    Quando a pequena encontrou a carta e o pai a leu, alguém sentiu, ao vê-la empalidecer de alegria e de espanto, uma angústia no coração.

    No dia seguinte, de manhã muito cedo, o violino de Vivien nos acordou. A pequena já estudava: notas, escalas, exercícios... Depois, de vez em quando, silêncio. Levantei-me — ainda não eram seis horas — e fui para o seu quarto. Estava de pé, descalça, envolta na longa camisa de noite, com o ouvido encostado ao instrumento, à escuta. Acenou-me com a mão para que não fizesse barulho.

    — Pareceu-me... — segredou, com os olhos vagos e aterrados — pareceu-me... ouvir a fada mexendo.

    E mais uma vez senti na consciência um profundo remorso. Mas como confessar o engano? Como dizer-lhe: É mentira; não há fadas. O Espírito da Música não existe: só existem Professores de Conservatório e métodos Kreutzer. Isto é, um mundo cinzento e sem fadas.

    Não tive coragem. Que o deus das mães me perdoe.

    Depois disto, a criança escrevia todas as noites à fada; e, se ela não respondia, eram horas de choro... A correspondência com a fada durou muito tempo. Durou anos, A celebridade já lhe cingia de louros a cândida fronte, e a pequena Vivien, na véspera de cada concerto, continuava a pôr no violino uma carta:

     "A Querida Fada,

    Me ajuda a tocar bem amanhã. Um grande beijo.

    Vivien".

    E a fada respondia:

     "Tocarás muitíssimo bem. Tomarei todas as providências para isso.

    Um grande abraço,

    Fada".

    As lições do barbudo professor duraram seis meses. No fim daquele período, fomos convidados por um tio de meu marido a passar um mês em Paris. O Maestro despediu-se de Vivien, com os olhos marejados de lágrimas.

    — Aprendeste mais em seis meses, do que outros em seis anos — disse.

    E não quis receber nada pelas lições.

    Quando, em Paris, o tio Grenville ouviu a pequena tocar, disse-lhe:

    — Bravo! Agora, vai passear com a nurse, e compra tudo o que te agradar.

    E, depois dela sair, saltitante e feliz, ele virou-se para mim:

    — É excepcional — disse. — É preciso que o Professor Sevcik, o grande mestre boêmio, a ouça.

    Telegrafamos para Praga ao ilustre mestre, pedindo uma entrevista. A resposta chegou naquele mesmo dia:

     "Quinta-feira. Às dez horas. Conservatório. Sevcik.

    Estávamos na terça-feira. Pusemo-nos a caminho para Praga, imediatamente — Vivien, eu, a nurse e o violino, e mais as inúmeras coisas que Vivien comprara: uma grande boneca em traje alsaciano, um balão chinês, um elefante que mexia com a cabeça, e (odioso além de todas as descrições) um rato branco fechado nem uma caixinha de papelão. Tínhamos também queijo para o rato (de cheiro desagradável) e duas salsichas que Vivien teimara em comprar em um Automático da estação.

    Eu, de tão atrapalhada que estava, me esqueci de pagar ao cocheiro. Só no trem é que me lembrei. Depois, perdemos a mala dos chapéus. E o rato, o violino e as salsichas nos davam uma aparência tão desordenada, que todos foram malcriados conosco. Chegamos, como Deus quis, ao "Hotel da Estrela Azul’’, em Praga. Vínhamos cansadas e indispostas. Enquanto desci para pedir na portaria do hotel já nem sei que informação, a nurse deixou Vivien sozinha durante uns instantes. Quando voltei a subir, fiquei atônita, ao ver que, na água quente preparada para o seu banho, Vivien mergulhara o violino e o arco, e que os lavava com muita energia e muito sabão.

    — Assim estará tudo limpinho para o Sevcik ver — disse com um sorriso adorável.

    Fomos para a cama, esgotados. Mas durante toda a noite o horrível rato branco roeu a caixa de papelão impedindo-nos de dormir. Quando de manhã Vivien quis experimentar o violino, achou-o mudo! A tampa estava descolada e o arco grudara-se nas cordas. Vivien chorou e gritou, dizendo que a fada morrera. Não se lembrara da fada ao dar o banho no instrumento! Por fim, com grande atraso e profundamente desanimados partimos para o Conservatório.

    Entramos em um grande salão, vazio e sonoro. Havia, ao fundo, um palco onde pousavam majestosamente dois pianos de cauda, e algumas estantes. A ideia de que Vivien teria de subir lá para cima causou-me arrepios. Abriu-se uma porta e o célebre mestre entrou, muito apressado. Era seguido por um rapaz com uma grande cabeleira encaracolada e escura, que trazia um estojo de violino.

    O mestre veio ao nosso encontro e nos cumprimentou. Tinha uma expressão séria e falava pouco. Sentia-me confusa diante dele. Trêmula, expliquei-lhe a história do violino lavado, e ele, sem comentários, disse ao rapaz que estava silencioso ao seu lado:

    — Marescalchi, dê-me o Gagliano.

    O rapaz apressou-se a apresentar-lhe o estojo, e o professor tirou um instrumento gigantesco, em comparação ao nosso pseudo-Guarnérius. Entregou-o à pequena. Vivien encostou-o ao ombro, correu os dedos nas cordas e depois, pegando no arco que o professor estendia, foi, franca e desembaraçada, colocar-se no palco. Parecia minúscula, entre os dois pianos enormes. E todas as estantes eram mais altas do que ela.

    — Quem te acompanha? perguntou o mestre.

    — Ninguém — fez ela. — Toco sozinha.

    O professor sorriu.

    — Está muito bem — disse. — Pode começar.

    E Vivien começou. Tocou primeiro um exercício de Ferrara, depois uma Berceuse de Grieg; depois a Romance de Svend-son. Sevcik fitava-a, com o rosto impenetrável. Quando o violino se calou, ele exclamou:

    — Com esta criança podemos começar pelo fim.

    E virando-se para o fundo da sala: — Então, que tal acha, Marescalchi?

    O jovem italiano aproximou-se, muito comovido:

    — É uma maravilha — disse. — Para se compreender uma coisa destas, seria preciso acreditar na transmigração das almas...

    Sevcik concordou. Depois dirigiu-se a Vivien e tirou-lhe o violino das mãos. Vi, com imensa surpresa, que tirava uma corda após outra. Quando só ficou uma -— a corda de sol — devolveu-lho; depois, puxando para si uma estante, colocou diante dos olhos dela uma folha de música. Disse:

    — Experimenta tocar isto agora.

    Eram as variações de Paganini sobre a Preghiera di Mosé, escritas para uma só corda. E Vivien... tocou. Quando acabou, houve um curto silêncio; depois Sevcik pousando-lhe a mão na cabeça disse:

    — Está bem. Volta hoje às duas horas.

    As duas horas voltamos, e o professor Sevcik deu-lhe a primeira lição. Ou melhor, quem dava a lição era Marescalchi, que lhe explicava o que queria que a pequena fizesse. Vivien estava entre os dois, com o violino ao ombro, olhando, ora um, ora outro, com os olhos vivos, inspirados. Depois de uma hora, Sevcik disse:

    — Adeus. Dentro de dez dias voltarás, e tocarás para mim o Concerto de Wieniawsky, de cor.

    — Está bem — respondeu Vivien.

    O professor e Marescalchi sorriram.

    Depois disto, três vezes por mês, Vivien estudava durante uma hora com o Professor Sevcik. Nos dez dias de intervalo entre uma lição e outra, era Marescalchi quem a fazia estudar. Vinha todas as horas. Bem depressa a habitação na Praga Alta, onde nós tínhamos instalado, ressoou de Czardas e de Ciaconnes, de Prelúdios e de Fugas, e eu aprendi a distinguir Wieniawsky de Vieuxtemps, Bach de Beethoven, Saint-Saens de Tchaikowsky. Dez meses depois, Vivien apresentava-se no palco do Rudolphium, diante de três mil pessoas e acompanhada pela Orquestra da Sociedade Filarmônica. Tocava o grande concerto em sol de Max Bruch. O velho compositor, vindo de propósito de Berlim, dirigia a orquestra.

    E eis que sou mãe duma menina prodígio.

    A suave cabecinha loura que embalei sobre o meu peito está cercada pela deslumbrante auréola da celebridade. Os pequenos dedos que eu juntei, ao ensinar-lhe a primeira oração, escrevem agora autógrafos para

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